Opinião
Enfoque | São Leopoldo | Maio/Junho de 2009
Os dois lados da defesa
- Mariana Scherrer
Andando pelas ruas
da Brás me deparo com
dois meninos carregados
de cadernos. Tamanha
é minha surpresa com
o fato de dois garotos
em pleno sábado de
manhã, ensolarado,
estarem sentadinhos,
concentrados e, ainda
mais, envolvidos com
cadernos, que pergunto:
“Estão estudando?”. O
mais novo se apressa em
responder que não, estão
desenhando. Me aproximo
para conhecer um pouco
mais do universo deles.
Isamo Nick Rodrigues
Dias tem 10 anos e estuda
no Colégio João Goulart.
Já Eliseu Cruz dos Santos
é estudante da Escola
Arnaldo Grin, no bairro
Santo Afonso de Novo
Hamburgo e tem 14 anos.
Ambos estão no 5º ano do
Ensino Fundamental.
Isamo inicialmente
fica tímido, mas responde
às minhas perguntas
e dá vazão aos seus
planos para o futuro.
Ele quer ser advogado.
Na verdade quer mais:
quer ser advogado
internacional para
poder viajar bastante. O
estudante gosta muito de
inglês e tem facilidade
de aprender a língua
estrangeira. Eliseu está
mais concentrado e fala
com convicção daquilo que
quer ser quando crescer:
policial. Ele quer proteger
as pessoas.
As duas profissões
têm como objetivo
O novo Enfoque
defender as pessoas.
Com o brilho e a
vontade de contribuírem
para um mundo melhor,
Isamo e Eliseu, com
certeza, são bons
exemplos a serem
seguidos: aproveitam a
infância e a inocência do
momento, não deixando
jamais de sonhar.
Eles começam desde
já com as ferramentas
necessárias: cadernos
e imaginação, para
plantarem as sementes
dos frutos que virão.
Contraste sob o sol
- Márcia Lima
Sábado pela manhã.
Dezenas de crianças na
saída da escola. Contentes
como todas as crianças
daquela idade escolar. Ou
melhor, como deveriam ser
as crianças daquela idade.
Parada na esquina, com
um grupo de colegas da
Unisinos, observo o fluxo
de meninos e meninas
risonhos que se despediam
dos amiguinhos. O sol forte
e o colorido das roupas
prometem fotos bonitas.
Mas não é a beleza
daquele sábado que
fica marcado em minha
memória. É o menino de
oito anos e olhar triste.
Olhos de um senhor idoso
que já viu o bastante deste
mundo.
O menino estava
junto àquelas dezenas
de crianças felizes, mas
não parecia contente. Seu
rumo não era a casa dos
pais, onde um almoço
preparado com carinho o
esperava. Naquela esquina,
juntava papéis. Apenas ele
e seu carrinho, recolhendo
tudo o que encontrava na
avenida principal. Pegou
nosso jornal – papel para
ele é dinheiro – mas não
adicionou ao carro. Folheou
com atenção enquanto
puxávamos papo com ele.
Talvez por interesse. Ou
talvez pelo desejo de mudar
o rumo da prosa.
Afinal queríamos saber
sobre a vida dele. E a vida
deste menino não é um
conto de fadas. Não chega
nem perto disto. Filho de
papeleiro, mora com o pai e
sete irmãos. Diz que estuda
na segunda série e que
gostaria de ter mais tempo
para jogar futebol e assistir
ao desenho do Pica-Pau.
Mas ele sabe que
obrigação vem em primeiro
lugar e sábado é dia de
ajudar os pais, recolhendo
os papéis de uma Brás
que, sim, tem muitas
crianças na escola, mas que
ainda não tem estrutura
suficiente para permitir
que cada uma delas possa
comparecer às aulas.
Para o futuro, o
gurizinho de olhos tristes,
não quer tempo para
estudar: quer trabalhar.
De preferência em uma
loja. Ele não sabe explicar
o motivo, mas deve ser
porque o balcão de uma
loja representa o extremo
oposto de seu trabalho
atual: local fixo, contato
de igual para igual com as
pessoas, salário digno.
Personagens da Vila
- Marcelo Gomes
Quando andamos
pelas ruas da Brás,
convivemos com pessoas
muito peculiares. São
tipos interessantes, que,
de relance, parecem
personagens de ficção.
Não por serem exóticos
demais, apesar de alguns
serem mesmo, mas pela
postura, pela atitude
que é característica dos
moradores. Na Vila, o tempo
parece passar em um ritmo
diferente. A pressa, marca
da metrópole pulsante,
dá lugar à tranqüilidade,
sobretudo nas expressões
dos mais velhos e das
crianças. Percebemos estas
peculiaridades quando
paramos, pelo menos por
alguns minutos, nossa
rotina caótica. Uma manhã
de sol na Brás é uma
excelente oportunidade
para conhecermos a riqueza
humana que ali se encontra.
Figuras como o casal de
idosos que chegou antes de
todo mundo na inauguração
da nova sede da Associação
- talvez porque a experiência
os alertava que o evento ia
ser disputado e em pouco
tempo não haveria lugar
para sentar. Ou o homem
que conserta bicicletas e
fogões do outro lado da
avenida e que assiste tudo
de camarote da porta de
sua oficina, sem a menor
preocupação com a muvuca
na calçada. Em pouco tempo,
muitos outros personagens
aparecem. Se eu fosse um
romancista, com certeza
não faltaria inspiração. O
figurino, as falas, os trejeitos,
o ambiente, tudo está
harmoniosamente montado.
O meu gosto por fotografia
me leva a registrar algumas
dessas personalidades. Um
senhor de boina e bicicleta
que não se cansa de elogiar o
prefeito, o padre que abençoa
a nova sede fervorosamente
3
com a Bíblia na mão, Seu
Emílio com sua belíssima
camisa estampada, a
menina tímida do grupo de
dança, Luiz posando para
foto. Todos parecem ter
saído das páginas de um
dos livros de Machado de
Assis. Com certeza, se eu
ficasse por mais tempo, essa
galeria enriqueceria cada
vez mais. Podemos notar
que há uma autenticidade
nesses tipos. A forma de se
comunicarem, de se vestirem
e de se relacionarem com a
realidade é própria, o que
me faz concluir que o nosso
mundo é tão fascinante por
causa da diversidade.
Erramos: a Associação de Moradores foi fundada em 1981 e não 1982, como o informado na edição 114, página 2.
Alem disso, os porcos abatidos para a inauguração da nova sede não pesavam 400 quilos.
A edição 115 do Enfoque Vila Brás está repleta
de novidades. Agora, o jornal tem 12 páginas, o que
significa maior espaço para
notícias e opiniões. Aliás,
você, leitor, poderá contribuir com o nosso trabalho.
Basta enviar o seu comentário, crítica ou sugestão
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já fez o seu pedido: “Gostaria de ver no jornal uma
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andando na rua”. Ou ainda,
envie sua reclamação, como
fez Marcos de Lima, 26
anos, que pede explicações
sobre o que ele entende por
descaso do Semae (Serviço
Municipal de Água e Esgoto) com o bairro.
A gurizada também será
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edição: com o nascimento do
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