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E RIZOMAS
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PROGRAMA EDUCATIVO - MUSEU DAS TELECOMUNICAÇÕES
COORDENAÇÃO GERAL Bia Jabor | COORDENAÇÃO EXECUTIVA Tatiana Assumpção Richard
PROGRAMAS PARA MULTIPLICADORES Adriana Fontes | ARTE EDUCADORES Ana Rondon,
Eduardo Machado, Hugo Richard, Keyna Mendonça e Roberta Condeixa
ESTAGIÁRIOS Anita Sobreira, Carolina Cambará e Rosana da Silva
ESTAGIÁRIO DE PRODUÇÃO Pablo Matos | ASSISTENTE Carolina Prestes
CADERNOS EDUCATIVOS
EQUIPE EDITORIAL Adriana Fontes, Alexandre Guarnieri, Analu Cunha e Bia Jabor
CONSULTORES Ethevaldo Siqueira, Francisco Régis Lopes Ramos, João Fonseca, João Modé
e Luiz Guilherme Vergara | REVISÃO DE TEXTO Roseane Luz
PROJETO GRÁFICO 32Bits™ CRIAÇÕES DIGITAIS
Museu das Telecomunicações / Oi Futuro
Direção/Curadoria Maria Arlete Gonçalves | Museologia Tatiana Laura
Infra-estrutura/tecnologia Taissa Thiry | Centro de Pesquisa Bruna Queiroz
Coordenação editorial Shirley Fioretti | Web Fernanda Sarmento
MUSEU DAS TELECOMUNICAÇÕES
RUA DOIS DE DEZEMBRO, 63 - FLAMENGO
WWW.OIFUTURO.ORG.BR/MUSEU
TEL: 3131-3050
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“infotenimento”
Espaço da memória, da experimentação e da contemporaneidade, no Museu das
Telecomunicações o visitante constrói seu próprio tempo. Para contar a aventura
da comunicação humana, nosso programa educativo, ao mesmo tempo em que
aprofunda informações técnico-científicas, não perde de vista seu caráter de
educação informal. Aqui, se aprende brincando.
Assim, o Museu se destaca como espaço de diversão e conhecimento, onde a
tecnologia da comunicação vai além de si mesma, expandindo-se como ferramenta
para transformação do pensamento humano.
Numa visita customizada como esta, feita sob medida para estabelecer uma relação
pessoal com a história, com os objetos e documentos expostos, cada visitante é, ao
mesmo tempo, espectador e protagonista.
Prepare-se para selar um pacto com outro tempo, marcado logo na entrada por sua
própria imagem refletida num jogo de espelhos. Na saída, o ciclo se fecha com uma
última passagem que nos remete diretamente ao útero materno, sincopado pelo
mais primitivo dos sons: a nada tecnológica batida do coração.
Conheça. Interaja. Pergunte. Experimente. Emocione-se. Divirta-se.
E faça dessa visita de hoje, aquele momento inesquecível do futuro.
Maria Arlete Gonçalves
Diretora Oi Futuro
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Caro educador/multiplicador,
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Os museus e centros culturais são hoje, antes de qualquer coisa, espaços para o
desenvolvimento da experiência e da educação. Um lugar para se pensar, fazer, discutir,
interagir e aprender através da arte e dos objetos que compõem o seu acervo. O programa
educativo do Museu das Telecomunicações, no espaço cultural Oi Futuro, elaborou este
material especialmente para os professores, educadores e responsáveis pelos grupos que
tenham interesse em visitar o museu e aprofundar seus conteúdos, assim como multiplicar
sua abrangência pedagógica.
Mais do que nunca, professores e educadores buscam novas ferramentas de ensino, com
o objetivo de dinamizar suas aulas e trazer outras formas de aquisição do conhecimento
para seus alunos. O museu pode ser uma dessas ferramentas; e o professor/educador, um de
seus mais importantes elos comunicativos. Por isso, elaboramos estes cadernos educativos
que servirão de apoio e aprofundamento de conteúdos do museu e uma forma de dar
continuidade à sua visita e criar desdobramentos futuros, pois é através de vocês que o
Museu das Telecomunicações irá se transformar em material de ensino-aprendizagem.
O Museu das Telecomunicações é pequeno, se considerarmos seu espaço físico, mas enorme
em termos de conteúdo. É um espaço cultural que não se esgota em uma única visita e pode
ser trabalhado a partir de diversos caminhos. E esta é, justamente, a proposta do museu:
um museu em forma de hipertexto — ou seja, com muitas entradas e possibilidades
de “conexões” –, onde você escolhe o que quer ver, tornando-se, ao mesmo tempo,
espectador e protagonista.
O programa educativo identificou quatro principais eixos temáticos que podem ser
trabalhados a partir do museu:
A História das Telecomunicações | Traça uma linha do tempo das telecomunicações,
apresentando seus principais acontecimentos, inventos, descobertas e personagens.
A Comunicação Humana | Apresenta o desenvolvimento da comunicação humana na
história da humanidade e seus impactos no desenvolvimento das sociedades.
Industrialização e Design | Focado na relação do homem e seus objetos, traçando o
desenvolvimento do design no mundo e no Brasil.
Redes e Rizomas | Discute sobre o conceito de redes e rizomas em diversos âmbitos da
sociedade contemporânea, as relações com o hipertexto e a aplicação deste conceito
na educação.
Cada eixo temático pode ser trabalhado separadamente, de acordo com o interesse
do multiplicador e com diferentes objetivos. Ao mesmo tempo, os eixos temáticos se
intercomunicam, ampliando ainda mais as possibilidades de leitura e entradas educativas
no museu.
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multiplicadores >>>>>>>>>
>>>>> aos
Para cada eixo temático, convidamos um consultor especial que vai contribuir, com sua
visão e experiência profissional, para um melhor entendimento do tema em questão. Os
textos de cada caderno (eixo temático) foram organizados sob a forma de hipertexto, tendo
em vista o objetivo de seguir a mesma linha de pensamento do museu, trabalhando a
idéia de página de internet, redes, rizomas, simultaneidade e convergência, questões tão
presentes em nossa sociedade contemporânea.
“Tudo ao mesmo tempo, agora. Em um único lugar.”
A idéia de hipertextos é trazer informações complementares, glossário de termos e
conceitos, diálogos com o acervo, vídeos e conteúdos do museu, referências bibliográficas e
de pesquisa, sugestões de desdobramentos futuros em sala de aula, tópicos para reflexão e
debate, além de instigações e curiosidades sobre o tema em questão.
O objetivo de separar os conteúdos em eixos temáticos é uma forma de oferecer, ao
multiplicador, uma pesquisa mais aprofundada sobre os principais temas que compõem o
museu e que sirva de apoio para que você possa programar diversas visitas a este espaço,
ao longo do ano e de acordo com os diferentes focos de interesse e objetivos a serem
alcançados. A cada visita, um novo museu se abrirá para o grupo.
É importante que o professor/educador tenha em mente que, apesar deste material
educativo poder ser utilizado por todos os profissionais interessados em trabalhar com
os conteúdos do museu (sejam professores da rede formal de ensino ou de universidades,
educadores e profissionais de projetos sociais, professores de cursos profissionalizantes
e de formação continuada), as adaptações para o perfil, faixa etária e interesse do grupo
ficam a critério do próprio multiplicador responsável.
Além deste material, oferecemos encontros especiais para professores e educadores, em
que apresentamos cada um dos eixos temáticos, discutindo as diferentes possibilidades
de leitura e entradas educativas. Esta é uma oportunidade para se discutir não só
com os profissionais do projeto educativo, mas também com outros profissionais que
fizerem parte do grupo, as formas de se trabalhar o museu a partir das especificidades e
interesses de cada grupo. Não pretendemos ensinar receitas nem esgotar esses assuntos,
mas sim apontar caminhos possíveis para se elaborar, refletir e debater sobre o mundo
das telecomunicações, bem como as formas de conhecê-lo, interpretá-lo e, sobretudo,
compreender a sua essência: promover o encontro com o outro.
Bia Jabor
Coordenação Geral | Programa Educativo
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projeto rede
joão modé
Artista com diversas exposições no Brasil e no exterior. Mestre em Linguagens Visuais pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
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CONEXÕES SENSÍVEIS, EM PARALELO COM
SISTEMAS DE REDE BOTTOM-UP
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Rede é um projeto itinerante e interativo. Envolve a confecção de uma trama,
com a utilização de diversos procedimentos e materiais, além da participação direta
das pessoas.
Rede é um projeto de arte que não é feito por um único artista – o artista, no caso,
só propõe o trabalho, quem o executa é o próprio público. Na verdade, apesar de toda
a beleza plástica que lhe é inerente e a tradição da obra de arte ser feita para ser fruída
no campo da visualidade, a Rede não é para ser admirada, e sim, vivenciada.
É um organismo vivo que está sempre em mutação. A partir de colaborações individuais,
a complexidade de relações cresce. O trabalho é sobre a relação entre as pessoas, sobre
a idéia de comunicabilidade. A partir de um embrião – um pequeno emaranhado de
cordas diversas – instalado num determinado lugar, o público começa a participar
e a rede vai se formando, crescendo, tomando corpo.
O projeto, com as características básicas do que se vê hoje, surgiu depois de eu ter
feito algumas instalações com cordas estendidas no espaço – algumas vezes, passando
inclusive de um espaço para o outro [Extensores, 2001-2004]. Em exposição coletiva
(maio/2002) no Hotel Love’s House, no Bairro da Lapa - RJ, além de descascar as paredes
do cômodo, revelando através das camadas de tinta toda a história contida naquele
espaço, amarrei uma corda que vinha pelo corredor, adentrava o quarto – dando um nó
com outra corda que saía pela janela e percorria uma extensão de 100 metros no espaço
da rua, sobre áreas de estacionamento. A partir dessa instalação, comecei a pensar estes
nós como relações entre as pessoas. Depois de diversos trabalhos – juntando cordas e
fios diferentes com laços e diversos tipos de nós, desfazendo cordas e, assim, criando
outras –, propus que as pessoas fizessem suas conexões.
O “fazer” da Rede é bastante simples, não exige nenhuma habilidade técnica. Talvez
o fato de, enquanto participante, a pessoa estar se conectando àquela malha de relações,
fazendo com que se comuniquem entre si, ou de forma verbal ou com a troca de olhares,
gestos, sorrisos, enfim, troquem experiências e vivências.
O projeto que já foi montado em muitas cidades, dentro de instituições comunitárias
(diversas sedes do Sesc, nos estados e subúrbios do Rio de Janeiro e de São Paulo),
em praças públicas (Praça da Alfândega, Florianópolis, St. Elisabeth Kirche, Berlim,
Marienplatz, em Stuttgart, Alemanha) e áreas de livre acesso em museus (MAM-Rio
de Janeiro e MAC-Niterói), já contou com a participação de mais de 3 mil pessoas dos
mais diversos tipos e backgrounds. De comunidades de catadores de lixo a diretores
de grandes instituições, a participação no projeto se dá de forma espontânea e sem
hierarquias.
É importante ressaltar que, em cada lugar onde a rede é montada, ela ganha forma diferente
e mesmo a malha, em si, é transformada, pois é permitido ao público o acesso a toda a
rede, para que possa escolher aonde quer participar. Vale também lembrar, que apesar de o
material para a execução da obra ser oferecido numa diversidade grande de tipos para que
o participante faça a escolha de qual corda quer usar, ele é também estimulado a trazer suas
próprias cordas, cadarços, pedaços de fios e barbantes, de casa. Dessa forma, a participação
fica mais pessoal, o que para algumas pessoas é de importância relevante.
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Torna-se curioso como é possível fazer analogias entre o projeto Rede e outros
sistemas. Em um sistema urbano de uma cidade, por exemplo, é sabido que se
criarmos vias para as áreas mais afastadas e projetarmos uma malha urbana,
o desenvolvimento da cidade andará nesta direção, como aconteceu – e ainda
acontece – na Barra da Tijuca e no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro
dos anos 1970.
Na Rede, quando uma nova corda é puxada, logo ela passa a servir de base para
diversas outras que, por sua vez, servirão de apoio para outras e assim por
diante.
Assim como temos o urbanismo com planejamento, existe um outro que
acontece de forma espontânea (exemplificado pelas favelas, que são sistemas
complexos, formados por uma ocupação não racional do espaço).
Podemos perceber que as redes estão em toda parte. O cérebro é uma rede
de células nervosas conectadas por axônios; e as próprias células são redes
de moléculas ligadas por reações bioquímicas. As sociedades também são
redes, constituídas por pessoas unidas pela amizade, por laços familiares e
profissionais. Em uma escala mais ampla, redes alimentares e ecossistemas
podem ser representados como redes de espécies.
E as redes permeiam a tecnologia: a Internet, as redes de energia elétrica e
os sistemas de transporte são apenas alguns exemplos. A própria linguagem
que usamos para transmitir essas idéias é uma rede, formada por palavras
conectadas por padrões sintáticos. Daí, a contemporaneidade do projeto.
O desenvolvimento do pensamento em rede cresceu enormemente nos últimos
anos. Exemplo disso é que, em 1990, a World Wide Web (www) tinha apenas
uma página e, hoje, tem mais de 3 bilhões delas. A idéia de “rede” está tão
difundida atualmente, que se for feita uma busca no Yahoo com esta palavra,
encontraremos 8,84 milhões de sites.
Sistemas bottom-up
Assim como no projeto Rede, alguns sistemas partem de um princípio de autoorganização, no qual se dispensa a presença de um controle centralizado para
haver ação. Além disso, são sistemas “emergentes” ou bottom-up, isto é, surgem
de um nível de elementos relativamente simples, em direção a formas de
comportamento mais sofisticadas e complexas.
Estes sistemas de interconectividade inteligente vêm sendo intensamente
estudados nos últimos anos. Do mercado de seda da Florença medieval ao
nascimento da indústria de softwares, estudiosos prevêem que o poder da autoorganização, junto com a tecnologia da conectividade da Internet, irá promover
uma revolução tão significativa quanto o advento da eletricidade.
Se pensarmos como as formigas aprendem a colher forragem e construir ninhos,
o porquê das comunidades industriais se organizarem em divisões de classes ou,
ainda, como as nossas mentes são capazes de reconhecer rostos, veremos que
todos esses sistemas compartilham de um padrão comum.
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Segundo Steven Johnson (2003), um dos grandes pensadores do cyberespaço, o
conceito de “emergência” que dá título ao seu livro seria: “Em termos simples,
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podemos dizer que todos estes sistemas resolvem problemas com o auxílio de
massas de elementos relativamente simplórios, em vez de contar com uma única
divisão executiva inteligente. São sistemas bottom-up, e não top-down. Pegam
seus conhecimentos a partir de baixo. Em uma linguagem mais técnica, são
complexos sistemas adaptativos que mostram comportamento emergente. Neles,
os agentes que residem em uma escala começam a produzir comportamento
que reside em uma escala acima deles: formigas criam colônias; cidadãos criam
comunidades; um software simples de reconhecimento de padrões aprende
como recomendar novos livros. O movimento das regras de nível baixo para a
sofisticação do nível mais alto é o que chamamos de emergência.”
Podemos observar que cada participante que se junta ao projeto Rede, para dar
sua contribuição, age de forma parecida. Podemos pensar o desenvolvimento
deste sistema dentro de um pensamento bottom-up. A Rede é um sistema
bastante complexo, mas formado de ações muito simples.
Poderia, aqui, me estender para diversos outros sistemas, como o financeiro, de
capitais; ou o movimento dos meninos e meninas de rua, na Zona Sul carioca; ou,
ainda, sobre uma colônia de caramujos típicos do arquipélago de Fernando de
Noronha... Mas procurei me deter nas relações mais imediatas, entre os sistemas
complexos e a resposta plástica que o projeto Rede nos dá.
Pode-se analisar que, apesar de algumas conexões bastante plausíveis entre
os diversos sistemas e o citado projeto, existem motivações internas de cada
sistema que os fazem únicos.
É evidente a semelhança quando colocamos, lado a lado, um gráfico de sistema de
rede e uma foto, seja de um detalhe ou de um campo aberto do projeto Rede, mas
na Rede, as motivações partem de uma ordem poética, e não de uma lógica.
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redes e
rizomas
BIA JABOR
Artista plástica e arte-educadora. Diretora da Divisão de Arte Educação do MAC/Niterói e coordenadora geral
do programa educativo do Museu das Telecomunicações.
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REDES E RIZOMAS
linha do tempo: 1972
Quando pensamos em Rede que imagem vem a cabeça? Quando usamos a palavra rede
a quais coisas podemos estar nos referindo? De quantas redes você faz parte? Como
se forma uma rede? Você já parou para pensar sobre as profundas transformações que
estamos vivendo a partir do surgimento da internet, essa grande rede mundial (w.w.w.
– world wide web)?
Primeira demonstração pública da Arpanet,
que originou a Internet.
Surge o primeiro programa de e-mail que
permite ler seletivamente, responder e
arquivar mensagens. Ele foi batizado de RD.
É criado o símbolo @, que significa “em” (at,
em inglês) e foi selecionado entre os sinais de
um teletipo chamado Tomlinson.
linha do tempo: 1989
Estas são apenas algumas questões que estaremos abordando neste texto/hipertexto,
cuja proposta é criar elos e conexões entre os diversos caminhos possíveis que um tema
tão complexo e, ao mesmo tempo, tão simples e atual – mesmo sendo tão antigo – possa
estabelecer. A partir dele, você terá de criar seus próprios elos e conexões, multiplicando
esse conhecimento em sua prática pedagógica e desdobramentos da sua visita ao Museu
das Telecomunicações.
Ao ler este texto, você vai observar que seu pensamento irá te levar a outros caminhos
e conexões que vão além do que está escrito. Idéias irão surgir, lembranças virão à tona,
outros textos que tenha lido ou mesmo seu pensamento começará a vagar por caminhos
completamente distantes do que se está lendo. “A imensa rede associativa que constitui
nosso universo mental encontra-se em metamorfose permanente.” (LÉVY, 2006:24) Na
realidade, isso acontece sempre que lemos um texto, um livro, ouvimos uma música
e conversamos com alguém, ou seja, quando pensamos. Pois o próprio pensamento é
descentralizado, mesmo tendo um órgão, o cérebro, agindo como centralizador.
“O pensamento não é arborescente e o cérebro não é uma matéria enraizada nem ramificada.
Aquilo a que chamamos, injustamente, ‘dendritos’ não assegura uma conexão dos neurônios
num tecido contínuo. A descontinuidade das células, o papel dos axônios, o funcionamento
das sinapses, a existência de microfendas sinápticas, o salto de cada mensagem por cima
destas fendas fazem do cérebro uma multiplicidade que, no seu plano de consistência ou em
sua articulação, banha todo um sistema probabilístico incerto, ‘uncertain nervous system’ [...] o
próprio cérebro é muito mais uma erva do que uma árvore.”
>>> DELEUZE & GUATTARI , 2007:25
Tradicionalmente compara-se a estrutura do pensamento e do conhecimento ao de uma
árvore, com raízes fincadas em solo firme (as premissas verdadeiras), com um tronco
sólido que se ramifica em galhos e mais galhos, a “árvore do saber”. Esta metáfora
propõe uma “concepção mecânica do conhecimento e da realidade, reproduzindo a
fragmentação cartesiana do saber, resultado das concepções científicas modernas.
(...) O paradigma arborescente implica uma hierarquização do saber, como forma de
mediatizar e regular o fluxo de informações pelos caminhos internos da árvore do
conhecimento” em SILVIO GALLO, 2003: 89.
Os pesquisadores Tim Berners-Lee e
Robert Caillau, do Centro Europeu para
a Investigação Nuclear (CERN), na Suíça,
criam a world wide web (www), projeto
global que permite a navegação em páginas
de conteúdo, por meio do hipertexto, bem
como interligar diferentes documentos.
A www permitiu o acesso do grande público
à Internet.
Para Ted Nelson, criador do termo em
1965, o hipertexto possibilita novas formas
de ler e escrever, um estilo não linear e
associativo, onde a noção de texto primeiro,
segundo, original e referência cai por
terra. Poderiamos adotar como noção de
hipertexto assim, o conjunto de informações
textuais, podendo estar combinadas
com imagens (animadas ou fixas) e sons,
organizadas de forma a permitir uma
leitura ( ou navegação) não linear, baseada
em indexações e associações de idéias e
conceitos, sob a forma de links. Os links agem
como portas virtuais que abrem caminhos
para outras informações.
Dendritos e axônios
O cérebro humano é formado por
aproximadamente 100 bilhões de neurônios
interconectados. Cada neurônio é uma célula
que usa reações bioquímicas para receber,
processar e transmitir informações. Estas
células nervosas, que podem variar em forma
e tamanho, são basicamente compostas de
três partes: um corpo celular, que contém
o núcleo; os dendritos, ramificações que
recebem a informação de uma outra célula e
a transmite para o corpo celular; e os axônios,
que conduzem a mensagem do núcleo para
os outros neurônios.
sinapse
Ponto onde o estímulo passa de um neurônio
para o outro, por meio de mediadores
químicos, os neurotransmissores.
“Os sistemas arborescentes são sistemas hierárquicos que comportam centros de significação
e de subjetivação, autômatos centrais como memórias organizadas. Acontece que os modelos
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Paradigma
Paradigma é a representação do padrão
de modelos a serem seguidos. É um
pressuposto filosófico matriz, ou seja,
uma teoria, um conhecimento que origina
o estudo de um campo científico; uma
realização científica, com métodos e valores
que são concebidos como modelo; uma
referência inicial, como base de modelo para
estudos e pesquisas.
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Italo Calvino (1990, pp. 117-138) reconhecia,
dentre as principais características da arte
que deveria marcar a virada do milênio, a
multiplicidade como um dos seus traços
mais fundamentais. A multiplicidade é
definida por Calvino como um conjunto de
“redes de conexões entre os fatos, entre as
pessoas, entre as coisas do mundo”.
>>> ARLINDO MACHADO, 1997:237 (p.121)
correspondentes são tais que um elemento só recebe suas informações de uma unidade
superior e uma atribuição subjetiva de ligações preestabelecidas.”
>>> DELEUZE e GUATTARI, 2007: 26
Deleuze e Guattari vão buscar um termo da botânica (rizoma), para traduzir o
conceito de multiplicidade, muito mais próximo da nossa forma de pensar e adquirir
conhecimento, visto que o fundamento do rizoma é a própria multiplicidade. Vejamos a
definição dada pela botânica:
“Em Botânica, chama-se de rizoma um tipo de caule que algumas plantas verdes possuem, que
cresce horizontalmente, muitas vezes subterrâneo, mas podendo também ter porções aéreas.
O caule do lírio e da bananeira são totalmente subterrâneos, mas certos fetos desenvolvem
rizomas parcialmente aéreos. Alguns rizomas servem como órgãos de reprodução vegetativa
ou assexuada, desenvolvendo raízes e caules aéreos nos seus nós. Noutros casos, o rizoma pode
servir como órgão de reserva de energia, tornando-se tuberoso, mas com estrutura diferente de
um tubérculo.”
Gilles Deleuze (Paris,1925-1995)
filósofo francês, entre 1944 e 1948 cursou
Filosofia na Universidade de Sorbonne.
Concluído o curso, dedicou-se à História da
Filosofia. Em 1969, Deleuze conheceria Félix
Guattari e desse encontro resultaria uma
longa e frutuosa colaboração. Lecionou na
Universidade de Vincennnes, até 1987. “Um
dia, talvez, o século será deleuziano” – tal foi
o sentimento de Michel Foucault em relação
a este filósofo, que marcou profundamente o
pensamento do fim século XX. Para Deleuze,
“a filosofia é a arte de formar, inventar,
fabricar conceitos”.
Félix Guattari (1930-1992)
é considerado um dos maiores expoentes da
Filosofia contemporânea francesa. Intelectual
e militante revolucionário, colaborou
durante muitos anos com Gilles Deleuze
e com ele escreveu, entre outros, os livros
Anti-Édipo, Capitalismo e esquizofrenia e O
que é Filosofia?. Dotado de estilo literário
incomparável, Félix Guattari é, de longe,
um dos maiores inventores conceituais do
final do século XX. Coloca o problema da
subjetividade – em um sentido bastante
diferente da tradição filosófica – no centro das
questões políticas e sociais contemporâneas.
Dicotomia
Divisão em dois; bifurcação; divisão de uma
célula apical em duas, cada uma das quais
origina outras. Diferenças, divergências
entre coisas opostas.
semiótica
Semiótica (do grego semeion, que quer dizer
signo) é a ciência que estuda os signos, é a
ciência de toda e qualquer linguagem que
estuda e investiga o modo de constituição
dos fenômenos de significação e de sentido.
Ver proposta de atividade: criando mapas e
caminhos para formar redes/rizomas
“O mapa é aberto, é conectável em todas as
suas dimensões, desmontável, reversível,
suscetível de receber modificações
constantemente. Ele pode ser rasgado,
revertido, adaptar-se a montagens de
qualquer natureza, ser preparado por um
indivíduo, um grupo, uma formação social.
Pode-se desenhá-lo numa parede, concebêlo como obra de arte, construí-lo como uma
ação política ou como uma meditação.”
>>> DELEUZE & GUATTARI, 2007:22
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O rizoma, de acordo com Deleuze e Guattari (DELEUZE & GUATTARI, 2007:15-21.), é regido
por seis princípios básicos:
1º e 2º - Princípios de conexão e de heterogeneidade: “Qualquer ponto do rizoma pode ser
conectado com qualquer outro e deve sê-lo. Isso não sucede com a árvore nem com a raiz,
que sempre se fixam a um ponto, uma ordem. Enquanto a árvore funciona por dicotomias, no
rizoma, pelo contrário, cada quebra não remete necessariamente para uma quebra lingüística:
elos semióticos de qualquer natureza ligam-se nele com formas de codificação muito diversas,
elos biológicos, políticos, econômicos etc., pondo em jogo não apenas regimes de signos muito
distintos, mas também os estatutos das coisas.”
3º - Princípio da multiplicidade: “Só quando o múltiplo é tratado efetivamente como
substantivo, multiplicidade, ele deixa de ter relação com o Uno, como sujeito ou como
objeto, como realidade natural ou espiritual, como imagem e mundo. As multiplicidades são
rizomáticas e denunciam as pseudomultiplicidades arborescentes. Uma multiplicidade não
tem nem sujeito nem objeto, mas unicamente determinações, tamanhos, dimensões que não
podem aumentar sem que ela mude de natureza — as leis de combinação aumentam, pois, com
a multiplicidade.”
4º - Princípio da ruptura a-significante: “Aparece por oposição aos cortes excessivamente
significantes que separam as estruturas ou as atravessam. Um rizoma pode ser rompido,
interrompido em qualquer parte, mas sempre recomeça segundo esta ou aquela das suas
linhas, e ainda segundo outras.” É por isso que os autores afirmam ser impossível acabar com as
formigas, posto que formam um rizoma animal que, mesmo destruído na sua maior parte, não
cessa de se reconstituir.
5º e 6º - Princípio da cartografia e da decalcomania: “Um rizoma não responde a nenhum
modelo estrutural ou generativo. É alheio a toda idéia de eixo genético, como também de
estrutura profunda. Os sistemas em árvore funcionam por decalque da realidade, limitam-se
a descrever algo que se dá por feito. De forma distinta, o rizoma funciona como um mapa. Se
o mapa se opõe ao decalque, é precisamente porque está totalmente orientado para uma
experimentação que atua sobre o real. O mapa não reproduz um inconsciente fechado sobre si
mesmo, o constrói. [...] Uma das características mais importantes do rizoma talvez seja a de ter
sempre múltiplas entradas…”
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>13
O Rizoma e o Ciberespaço
Podemos perceber como o conceito de rizoma apresenta uma complexidade que muito
se assemelha também ao novo paradigma tecnológico do espaço cibernético,
o ciberespaço. Curioso pensar que Deleuze e Guattari vão falar do conceito do rizoma
muito antes de surgir a internet. A internet (a rede de redes), assim como o rizoma, é
descentralizada, se forma e se transforma a cada momento, cada nó, cada ponto tem em
si a capacidade de criar uma nova conexão, crescendo de forma imprevisível.
“Muitas são as semelhanças entre as estruturas rizomáticas e o Território Cibernético.
Ambos são descentralizados, conectando pontos ordinários, criando territorialização
e desterritorialização sucessivas. O ciberespaço não tem um controle centralizado,
multiplicando-se de forma anárquica e extensa, sem que se estabeleça uma ordem, a partir de
conexões múltiplas e diferenciadas”.
>>> LEMOS, 1996
Segundo Levy , quando apresenta o Princípio da Mobilidade dos Centros:
“A rede não tem centro, ou melhor, possui permanentemente diversos centros que são como
pontas luminosas perpetuamente móveis, saltando de um nó a outro, trazendo ao redor de si
uma ramificação infinita de pequenas raízes, de rizomas, finas linhas brancas esboçando por
um instante um mapa qualquer com detalhes delicados, e depois correndo para desenhar mais
à frente outras paisagens de sentido.”
>>> LÉVY, 2006:25-26
O termo “cyberspace” foi inventado pelo
escritor “cyberpunk” de ficção científica
William Gibson no seu monumental
“Neuromancer” de 1984 (2). Para Gibson,
o cyberespaço é um espaço não físico ou
territorial, que se compõe de um conjunto
de redes de computadores através das
quais todas as informações (sob as suas
mais diversas formas) circulam. Hoje
entendemos o cyberespaço à luz de duas
perspectivas: como o lugar onde estamos
quando entramos num ambiente virtual
(realidade virtual), e como o conjunto de
redes de computadores, interligadas ou
não, em todo o planeta (BBS, videotextos,
Internet...). (...) O cyberespaço é assim uma
entidade real, parte vital da cybercultura
planetária que está crescendo sob os
nossos olhos.” (LEMOS, André L.M. As
Estruturas Antropológicas do Cyberespaço.
>>> http://www.facom.ufba.br/pesq/
cyber/lemos/estrcy1.html
linha do tempo: 1984
O número de servidores da Internet já
ultrapassa mil. William Gibson cria o
termo cyberspace, no livro Neuromancer.
andré lemos
é Doutor em Sociologia, pela Université
René Descartes, Paris V, Sorbonne (1995);
professor associado da Faculdade de
Comunicação da UFBa; e pesquisador
1 do CNPq <http://www.facom.ufba.
br/ciberpesquisa/lemos/artigos.html>
Pierre Lévy (1956)
é um filósofo da informação que se
ocupa em estudar as interações entre
a Internet e a sociedade. Fez mestrado
em História da Ciência e doutorado em
Sociologia e Ciência da Informação e
da Comunicação, na Universidade de
Sorbonne, França. Trabalha desde 2002
como titular da cadeira de Pesquisa em
Inteligência Coletiva, na Universidade
de Ottawa, Canadá. É membro da
Sociedade Real do Canadá (Academia
Canadense de Ciências e Humanidades).
linha do tempo: 1967
Imagem de um rizoma | Detalhe de uma trama em rede | Mapa/gráfico da Internet criada pelo “The Opte Project” >>> http://www.opte.org/maps/
Seria a internet uma conseqüência natural do desenvolvimento das telecomunicações?
Quando poderíamos imaginar que uma rede de transferência de informação via rede
telefônica (Arpanet), que servia para transmitir informações estratégicas de Guerra
poderia vir a se transformar no que é hoje a internet, essa grande rede mundial, que vem
crescendo exponencialmente criando novas formas e canais de comunicação, moldando
a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldadas por ela? (CASTELLS, 2000:22)
De acordo com Castells em seu livro “A Sociedade em Rede” estamos vivendo a era da
informação ou a era do conhecimento, caracterizada pela mudança na maneira de
06_06_cad_REDES.indd 13
O Departamento de Defesa nortemericano começa a organizar a rede
de computadores que daria origem
à Internet, com o nome de Advanced
Research Projects Agency Network,
a Arpanet. Resultado do esforço de
militares e civis, ela tinha como objetivo
manter a superioridade tecnológica
americana durante a Guerra Fria, período
posterior à Segunda Guerra, que criou no
mundo dois blocos antagônicos liderados
pelos Estados Unidos e pela União
Soviética.
Um ano depois, em janeiro de 1970,
quatro campus universitários são
conectados pela primeira vez, com
a finalidade de realizar o primeiro
experimento com a rede computacional
Arpanet. Além da comunidade acadêmica,
a rede original atendia também à
comunidade militar americana.
6/6/07 4:25:36 PM
>14
Trecho do Cordel do Computador
Congelado – áudio 20
Museu das Telecomunicações
(Ver proposta de atividade: crie, você, o
seu cordel para o século XXI)
E hoje pela Internet / Vai-se até o fim do
mundo / Sem mesmo sair de casa / No
decorrer de um segundo / Você pode se
casar / Ou até mesmo juntar / Com a filha
do seu Raimundo
Na Internet você pode / Encontrar o seu
parceiro / E com a mulher que pula cerca /
Ter o seu encontro primeiro / Mas não caia
na esparrela / Não deixe que o marido dela
/ Bote terra em seu tempero
Muita gente se conhece / E se casa pela
Internet / E casamento desse jeito / Bom
futuro não promete / É um carro velho
encostado / Motor sem óleo e trancado /
E na praça não ganha frete
E tudo que há de bonito / Na Internet pra
gente ver / Mulher de sainha curta / Com
o umbiguinho a aparecer / Deixando os
velhos malucos / Que são gagás e caduco /
E com queixo a tremer
E tem tralha de toda espécie / Na Internet
pra vender / Em utilidades doméstica /
Tem de tudo, podes crer / Bons artigos de
butique / Que bota as velhinhas chique /
Com o astral a crescer [...]
comunicar da sociedade e pela valorização crescente da informação, à medida que a
circulação de informações flui a velocidades e em quantidades até então inimagináveis.
“A Internet é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui na realidade
a base material de nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e de
comunicação. O que a Internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa
realidade, constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos.”
(Castells apud CORRÊA, 2004)
Estamos passando por um processo de transformação social que não tem mais volta;
hoje, temos uma nova forma de trocarmos saberes e de desenvolver conhecimento.
Muitos vão dizer que no Brasil, assim como em outras partes do mundo, a maioria das
pessoas não tem acesso a tudo isso, e é verdade. “Mas a sociedade, evoluindo como um
todo, influenciará na realidade de cada indivíduo.” (PELLANDA, 2000:145) Como disse o
proprietário de uma livraria on-line, a Booknet, em entrevista à revista Exame:
“Algumas pessoas minimizam o impacto da internet em nossa vida. Não se iludam a situação
já mudou. Nada do que fazemos hoje é igual ao que fazíamos. Há uma ilusão engraçada das
pessoas que dizem o seguinte: eu não estou na internet, portanto ela não me afeta. Que
interesse tem um camponês pobre do interior da Paraíba. Interessa muito. A vida do camponês
já mudou. É como se você dissesse que a vida de analfabeto não muda com um livro que traz
uma teoria econômica nova”.
>>> Jack London apud PELLANDA, 2000:145.
Para compreendermos o comportamento social de uma determinada época precisamos
ter consciência que existe sempre uma relação simbiótica entre o homem, a natureza
Veja outros depoimentos, sobre o
impacto da Internet, no vídeo 27: “Com a
Internet, o fim das distâncias”, no Museu
das Telecomunicações.
Tópicos para reflexão e debate sobre a
Internet:
- O que é a Internet para vocês?
- Como ela se insere em suas vidas?
- Como vocês acham que era o mundo sem
Internet?
- O que será que mudou depois da Internet?
- E no futuro, o que nos espera? Internet
hoje, e depois?
- O que mudou na forma de as pessoas se
relacionarem?
- Hoje, as pessoas se encontram mais ou se
vêem menos?
- E o tempo, hoje, será que temos a mesma
noção de tempo que no passado?
Assista aos vídeos “Profetas do futuro” e
descubra o que esses pensadores falaram
sobre o tempo.
e a sociedade, sendo que em cada período da história da humanidade prevalece uma
cultura técnica particular. A cultura contemporânea passa a ser caracterizada pelo uso
crescente das tecnologias digitais, estabelecendo uma nova relação entre a técnica e a
vida social e, ao mesmo tempo, proporciona o surgimento de novas formas de agregação
social de maneira espontânea no ambiente virtual, com práticas culturais específicas que
constitui a chamada cibercultura.
O Ciberespaço e o Hipertexto
Antes de continuarmos a falar sobre cibercultura, é importante compreendermos como
funciona o ciberespaço. Esse novo lugar, ou melhor, não-lugar, apesar de ser um espaço
imaginário, virtual, está totalmente conectado com a realidade, pois as relações sociais
criadas no ciberespaço tendem a repercutir ou a se concretizar no mundo real. É um
espaço imaterial, onde podemos nos mover, trabalhar, construir, criar, investir, namorar,
enfim, criar relações sociais. Podemos comparar o ciberespaço com a idéia de hipertexto,
TEMPO
>>> Para pensar e refletir
“O tempo é relativo e não pode ser
medido exatamente do mesmo modo e
por toda a parte.”
>>> Albert Einstein
“A diferença entre o passado, o presente e
o futuro é apenas uma ilusão persistente.”
>>> Albert Einstein
“Canto, e canto o presente, e também o
passado e o futuro. Porque o presente é
todo o passado e o futuro.”
>>> Fernando Pessoa
“O tempo é infinitamente longo e cada
dia é um vaso em que se pode derramar
muita coisa, quando se deseja realmente
enchê-lo.”
>>> Goethe
06_06_cad_REDES.indd 14
como um enorme hipertexto mundial interativo, em que qualquer um pode adicionar,
retirar e modificar partes desse texto vivo. O hipertexto é um texto aberto a múltiplas
conexões, um conjunto de hipertextos interligados. O internauta ou “‘netsurfista’
não é mais um simples leitor, mas um ator, um autor e um agente de interação com
as interfaces do ciberespaço”. (LEMOS,1996) No hipertexto ciberespaço, algo muda
radicalmente nos nossos conceitos sobre como ler, escrever e conhecer. Na realidade,
todo texto escrito é, de certa forma, um hipertexto, “o leitor se engaja num processo
também hipermidiático, pois a leitura é feita de interconexões à memória do leitor, às
referências do texto, aos índices e ao índex que remetem o leitor para fora da linearidade
do texto”. (LEMOS,1996)
6/6/07 4:25:37 PM
>15
De acordo com Lévy, em seu livro As tecnologias da inteligência – o futuro do
pensamento na era da informática, o hipertexto é um conjunto de nós ligados por
conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos, seqüências sonoras,
documentos complexos que podem, por sua vez, ser hipertexto. O hipertexto é, talvez,
uma metáfora válida para todas as esferas da realidade, em que significações estejam em
jogo. Para caracterizar o hipertexto, Lévy recorre a seis princípios abstratos:
Princípio de metamorfose
A rede hipertextual está em constante construção e renegociação.
Princípio de heterogeneidade
Os nós e as conexões de uma rede hipertextual são heterogêneos.
Princípio de multiplicidade e de encaixe das escalas
Cibercultura
A cibercultura é um termo utilizado na
definição dos agenciamentos sociais
das comunidades, no espaço eletrônico
virtual. Estas comunidades estão
ampliando e popularizando a utilização
da Internet e outras tecnologias de
comunicação, possibilitando, assim,
maior aproximação entre as pessoas
em todo o mundo. Este termo se
relaciona diretamente com a dinâmica
política, antropossocial, econômica e
filosófica dos indivíduos conectados
em rede, bem como a tentativa de
englobar os desdobramentos que este
comportamento requisita.
>>> http://pt.wikipedia.org/wiki/
Cibercultura#_note-1
Princípio de multiplicidade e de encaixe das escalas – O hipertexto se organiza em um
modo “fractal”, ou seja, qualquer nó ou conexão, quando analisado, pode revelar-se
linha do tempo: 1979
como sendo composto por toda a rede, assim por diante, indefinidamente, ao longo da
São estabelecidos os primeiros grupos
de discussão, com usuários de todo o
planeta.
Nascem os “emoticons/smiles”: ;-) :-) :- (
:>) :>o @@@ : - )
escala dos graus de precisão.
linha do tempo: 1990/1991
Inventado o WAIS (Wide Area
Information Servers), serviço que dá
acesso a bases de dados na Internet e
efetua buscas através de palavras-chave.
Lançamento do Gopher, navegador
que permite, pela primeira vez, que os
usuários “surfem” na rede.
Fractais (do latim fractus: fração, quebrado) são figuras da Geometria não-Euclidiana. O fractal (anteriormente conhecido como curvamonstro) é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objeto original. Diz-se que os
fractais têm infinitos detalhes, são geralmente auto-similares e independem de escala. Em muitos casos, o fractal pode ser gerado por
interface
Uma interface, em ciência da
computação, é a fronteira que define
a forma de comunicação entre duas
entidades. Ela pode ser entendida
como uma abstração que estabelece a
forma de interação da entidade com o
mundo exterior, através da separação
dos métodos de comunicação externa
dos detalhes internos da operação,
permitindo que esta entidade seja
modificada sem afetar as entidades
externas que interagem com ela. Uma
interface também pode promover um
serviço de tradução para entidades que
não falam a mesma linguagem, como no
caso de humanos e computadores.
>>> http://pt.wikipedia.org/wiki/Interface
um padrão repetido, tipicamente um processo recorrente ou interativo >>> Fractal criado por Cory Ench
Princípio de exterioridade
A rede não possui unidade orgânica, nem motor interno. Seu crescimento e sua
diminuição, sua composição e sua recomposição permanente dependem de um exterior
indeterminado.
Princípio de topologia
Nos hipertextos, tudo funciona por proximidade, por vizinhança. Neles, o curso dos
acontecimentos é uma questão de topologia, de caminhos.
Princípio de mobilidade dos centros
A rede não tem centro, ou melhor possui permanentemente diversos centros (...).
06_06_cad_REDES.indd 15
Assista ao vídeo 19, “Espaço Virtual”,
no Museu das Telecomunicações,
e converse com seus alunos sobre
como eles convivem com a Internet,
se fazem parte de algum blog. Como
vivem no ciberespaço? Será que têm
consciência de que fazem parte de uma
cibercultura?
Leonardo da Vinci (1452-1519),
um dos “profetas” do Museu das
Telecomunicações, se utilizava da
escrita hipertextual; ele realizava
anotações nas margens das páginas de
seus escritos, permitindo outras leituras
e conexões entre os mesmos. Escrevia
como o seu pensamento, com múltiplas
entradas e associações, assim como o
hipertexto.
6/6/07 4:25:37 PM
>16
O Museu das Telecomunicações foi
construído sobre o conceito de hipertexto,
como camadas de informação que o
visitante vai descobrindo e “navegando”
da forma como desejar. Um museu onde o
visitante é, ao mesmo tempo, espectador
e protagonista.
A idéia de hipertexto foi enunciada pela primeira vez, em 1945, por Vannevar Bush, no
célebre ensaio As we may think (Assim como nós pensamos). Neste ensaio, Bush esboça
o “Memex” que, de alguma maneira, representa hoje o nosso computador pessoal.
Bush era Matemático e responsável por uma agência de Desenvolvimento e Pesquisa
Científica do governo norte-americano, além de coordenar o trabalho de mais de 6 mil
cientistas. Uma das questões enfrentadas por Bush era o volume crescente de dados
que deviam ser armazenados e organizados de tal forma, que permitisse a outros
pesquisadores a utilização dessas informações de maneira rápida e eficiente. Ele estava
Navegante
Arlindo Machado, ao falar sobre
a complexidade dos ambientes
hipertextuais, define: “O ‘navegante’
está sempre a um passo da vertigem,
permanentemente arriscado a se perder
no mar de textos.” (MACHADO,1997:189)
Ou, ainda: “O processo de leitura é
designado pela metáfora bastante
pertinente de navegação, pois se trata
realmente de ‘navegar’ ao longo de um
imenso mar de textos que se superpõem
e se tangenciam.”
>>> MACHADO,1997:183
convencido de que nossa forma de armazenar, sistematizar e tornar acessível – de forma
simples e direta – as informações, estabeleceria uma nova era para o conhecimento
humano.
Mas por que intitular o artigo de As we may think? Segundo Bush, a maior parte dos
sistemas de indexação e organização de informações em uso na comunidade científica
é artificial. Cada item é classificado apenas sob uma única rubrica e a ordenação é
puramente hierárquica (lembra da árvore?). Só que a mente humana não funciona dessa
forma, mas através de associações. Ela pula de uma representação para outra, ao longo
de uma rede intrincada; desenha trilhas que se bifurcam; tece uma trama infinitamente
mais complicada do que os bancos de dados atuais ou os sistemas de informação de
linha do tempo: 1946
É finalizado o primeiro computador
eletrônico do mundo, o Eniac (Eletronic
Numerical and Calculator). Em 30
segundos, ele era capaz de realizar
cálculos balísticos que, até então,
consumiam 12 horas. Servindo ao
Exército, foi utilizado também para a
previsão do tempo e estudos dos raios
cósmicos.
fichas perfuradas, existentes em 1945, mas que muito lembra o princípio da Internet.
Educação, hipertexto e as novas tecnologias
Para nós, educadores, é importante pensar no uso do hipertexto e das novas tecnologias
para a educação. É impossível se falar hoje em conhecimento, informação, pesquisa,
linha do tempo: 1981
sem pensar em Internet. Ela já é uma realidade há mais de dez anos nos lares brasileiros;
A IBM lança o seu PC (personal
computer).
mas como qualquer novidade, demora a ser assimilada e pode também ter seus efeitos
negativos. Como evitar o famoso “corta e cola” (copy/paste) que os alunos realizam
em suas pesquisas, sem nem ler o conteúdo ou realmente aprofundar o tema da sua
A Escola da Ponte, em Portugal, há
30 anos vem propondo e realizando
uma nova forma de pensar a escola
e a educação. Lá, são os alunos que
decidem o que e como vão estudar.
Através do programa fornecido pelo
Ministério da Educação, os alunos
preparam seus planos de estudo,
determinando o que vão aprender e
quais os objetivos para a quinzena. O
objetivo é promover a autonomia e
a solidariedade. Cada aluno tem um
professor-tutor que o supervisiona
na construção dos objetivos. A Ponte
provou que a utopia é realizável e que
é uma forma – e não uma fórmula – de
tornar todos os alunos pessoas mais
sábias e mais felizes. Muitas escolas e
professores no Brasil se inspiram no
programa da escola lusitana, buscando
novas formas para a educação.
Entrevista com José Pacheco,
coordenador da Escola da Ponte:
>>> http://novaescola.abril.uol.com.
br/ed/171_abr04/html/falamestre.htm
Site da Escola da Ponte:
>>> http://www.eb1-ponte-n1.rcts.pt/
pesquisa? Aí é que entra o papel do educador.
Ao educador cabe, hoje, a função de possibilitar o conhecimento usando as múltiplas e
variadas modalidades de informação disponíveis e orientando os estudos. O educador
deve ser aquele que orienta o processo de aprendizagem, estimulando a pesquisa e o
saber. O aluno é o agente dessa aprendizagem, tornando-se um estudioso autônomo,
capaz de buscar por si mesmo os conhecimentos.
É importante entender e mostrar aos alunos que o processo de criação e troca de saber,
no mundo virtual, constitui-se num trabalho conjunto, em que educadores e alunos
trabalham cooperativamente, sem abandonar cada um o seu papel. O ciberespaço
oferece a oportunidade da conexão entre as inteligências; e o mundo virtual permite
o crescimento do potencial dos indivíduos, sendo que cada habitante desse mundo
virtual pode ir tateando experimentalmente esse universo, aprendendo a exercer a
liberdade de expressão, a cooperação, o espírito crítico, o gosto pela criação e a iniciativa
própria. A ação educativa na rede deve se apoiar na solidariedade e ajuda mútua, e não
na concorrência e na competição. Um lugar onde as pessoas possam aprender que a
responsabilidade é de todos, não existindo espaço para a submissão, a cooperação deve
prevalecer para se regular os conflitos e não deve existir submissão ou hierarquização do
saber. Vamos lembrar novamente do conceito/imagem de rizoma e rede. Podemos pensar
em uma dinâmica rizomática de ensinar/aprender/conhecer, que propõe novos links,
novos caminhos na busca do conhecimento.
06_06_cad_REDES.indd 16
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O objetivo desta metodologia é explorar um pensar sistêmico, um pensar que cria e
costura relações, gerando um aprendizado para além da informação. Uma costura
feita por cada um, entre situações e elementos aparentemente isolados que passam a
fazer parte de um sistema interligado, em que o elo é o próprio aluno, buscando formar
sujeitos conscientes e criadores, com uma visão mais crítica do tempo presente.
Lévy fala do papel da multimídia interativa para a educação:
“O hipertexto ou a multimídia interativa adequa-se particularmente aos usos educativos.
É bem conhecido o papel fundamental do envolvimento pessoal do aluno no processo
de aprendizagem. Quanto mais ativamente uma pessoa participar da aquisição de um
conhecimento, mais ela irá integrar e reter aquilo que aprender. Ora, a multimídia interativa,
graças à sua dimensão reticular ou não-linear, favorece uma atitude exploratória, ou mesmo
lúdica, face ao material a ser assimilado. É, portanto, um instrumento bem adaptado a uma
pedagogia ativa.”
>>> LÉVY, 2006:40
Será tudo isso possível ou parece utopia? Na própria Internet, encontram-se diversos
sites que mostram caminhos e experiências que deram certo a partir do uso das novas
tecnologias interativas na educação.
Tópicos para reflexão e debate: alguns
impactos da Internet nos indivíduos
Este é um momento especial, em que revisões nos âmbi-
de 10 a 15 anos. Para a coleta de dados foi utilizado um
tos psicológicos e educacionais se fazem necessárias, a
questionário composto de perguntas abertas, enviado
fim de melhor compreendermos e lidarmos com os con-
por e-mail. Chegaram a algumas conclusões:
ceitos e valores que as novas tecnologias trazem para
.
nossas vidas e para os jovens e crianças que nasceram na
Era da Internet.
De acordo com pesquisa realizada pelas psicólogas Carla
Faria Leitão e Ana Maria Nicolaci-da-Costa, algumas características dos usuários contemporâneos da Internet
são apontadas:
Nossos jovens sujeitos atribuem ao computador ca-
racterísticas específicas da rede, como, por exemplo, a de
ser um meio de comunicação;
.
Crianças e adolescentes demonstraram grande fa-
cilidade ao lidar com o computador e com a Internet.
Isso talvez ocorra por conta de terem tido contato, desde
. São sujeitos que têm enorme prazer em usar um novo
muito cedo, com a tecnologia digital. Para essas crianças,
espaço de vida (o espaço virtual);
– passam a ser tratadas como algo “natural”;
as novas tecnologias – como aponta Dan Tapscott (1998)
. No ciberespaço, sentem-se onipotentes e munidos de . A gramática e a ortografia dessas crianças deixam muito
um superpoder pessoal, superior ao que experimenta-
a desejar. Esse talvez seja um aspecto bastante negativo
vam nos espaços ditos reais;
do uso da rede. Nesta, tudo acontece rápido demais. Não
.
há tempo para acentuar, abreviações são necessárias e a
Operam mudanças na forma de perceber seu corpo,
seja por meio da invenção de um corpo virtual, seja pela
sensação de expansão de seu corpo real;
.
São sujeitos que desbravam um espaço ainda muito
novo e sem limites claros, por isso se expõem a vários
tipos de excesso e são lançados a novos desafios: o de
transformar um grande volume de informações dispersas
impressão que se tem é a de que a língua que eles falam
não é o Português dos livros de gramática;
.
Alguns dizem que detestam escrever, mas gostam
muito de teclar! Talvez as aulas de Português, assim
como várias outras, estejam se tornando lentas demais e
enfadonhas para uma geração que aprende brincando;
em conhecimento pessoal e coerente, o de administrar
. Teclar nada tem a ver com escrever. Para essas crianças
o tempo que passam nos espaços real e virtual e, final-
e adolescentes, escrever à mão é algo “chato”, sendo mui-
mente, o de construir novas defesas para sua intimidade
tas vezes associado a tarefas escolares que consideram
no mundo da Internet.
entediantes. Além disso, também ficou claro o quanto
Através de outro estudo realizado pelos psicólogos Raphael
Sacchi Zaremba, Daniela Romão-Dias e Ana Maria Nicolaci-
Existem muitas opções para desenvolver
projetos nas áreas de artes, língua
portuguesa e/ ou estrangeira, ciências
biológicas, exatas ou sociais. Alguns destes
projetos nacionais e internacionais, estão
relacionados abaixo:
Biblioteca Virtual de Educação à Distância
>>> http://www.prossiga.br/edistancia
Universidade Nacional Autônoma do
México
>>> http://distancia.dgsca.unam.mx/home.
html
Ministério da Educação e Cultura
>>> http://www.mec.gov.br
EduTecNet: Rede de Tecnologia na
Educação
>>> http:// www.edutecnet.com.br/
A EduTecNet é uma rede de pessoas
interessadas em usar a tecnologia para
discutir qualquer aspecto da educação
-- inclusive, e especialmente, o uso da
tecnologia na educação.
Projeto Gutenberg
>>> http://www.promo.net/pg
Uma grande biblioteca virtual, com livros
em todas as línguas, mas principalmente
em Inglês.
Tecnologia Educativa
>>> http:// edutec.rediris.es/
Um site de referencia com projetos listas e
discussão, biblioteca virtual e textos sobre
as novas tecnologias e a educação.
EDUDIST
>>> [email protected] (subscribe
Edulist)
Lista de discussão da Universidad de
Murcia, Espanha.
Projeto Kidlink
>>> http://venus.rdc.puc-rio.br/
Freinet
>>> http://www.freinet.org
Site da pedagogia Freinet, mostrando
projetos realizados na Rede LEIA
– Laboratório de Educação
e Informática Aplicada
>>> http://www.leia.fae.unicamp.br
Página do Laboratório de Informática
Aplicada da Faculdade de Educação da
Unicamp. Disponibiliza links para produtos,
projetos, cursos, congressos, pesquisas,
publicações entre outros.
Grupo Temático em Educação a Distância.
GT-EAD
>>> http://www.mat.unb.br/edu
Política Nacional de Informática do
Ministério da Ciência e Tecnologia
>>> http://www.mct.gov.br/sepin/PNI/PNI.
htm
Projeto Lunar da UFRGS
http://penta.ufrgs.br/edu/inter-agir/
Projeto OVINI (Oficina Virtual na Internet)
>>> http://www.pop-rs.rnp.br/ovini/
ovnires.htm
consideram mais fácil, rápido e esteticamente melhor
teclar do que escrever;
da-Costa, com o objetivo de investigar a forma como crian-
. a possibilidade de estar em contato com outras pes-
ças e adolescentes lidam com a inserção do computador e
soas, de se comunicar, parece ter tornado o teclar algo
da Internet em seu cotidiano, foi realizado um estudo ex-
muito diferente do antigo datilografar. Isso seria sufici-
ploratório com sujeitos de ambos os sexos, na faixa etária
ente para explicar porque é mais divertido mandar um
06_06_cad_REDES.indd 17
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>18
continuação
e-mail do que escrever uma redação. Entretanto, por
que é mais divertido simplesmente digitar um trabalho
escolar do que escrevê-lo à mão?
Depoimentos de alguns professores entrevistados:
“Até onde você pode confiar a coisa da Educação a uma
. Escrever, quando é no computador – e não à mão –,
tecnologia dessas, sem que haja a necessidade da pre-
parece tornar-se algo divertido.
putador] se basta, que não precisa de alguém ensinan-
De acordo com pesquisa realizada pelas psicólogas
Carla Faria Leitão e Ana Maria Nicolaci-Da-Costa, e
pela pedagoga Rosane dos Santos Abreu, o impacto
sença de alguém ali junto? Tem horas que ele [o comdo. Mas, peraí, tudo o que eu entendo por gente precisa
da presença. Essas coisas me assustam um pouco, mas
me atraem.”
da Internet não atinge apenas os usuários, mas vem
“Primeiro: tudo o que é novo é assustador; tudo o que
gerando transformações profundas nas práticas pro-
é novo precisa de um preparo especial. Segundo: esse
fissionais contemporâneas, especialmente nos educa-
“novo” é dominado com o máximo de facilidade pelas
dores, pois lidam diretamente com seres humanos que
crianças e jovens. Na frente do computador, eles não
deles esperam orientação e auxílio. De um modo ou
têm esse tipo de bloqueio, porque estão conhecendo
de outro, a Internet vem introduzindo novas e impor-
o mundo; e conhecer o mundo significa conhecer o
tantes alterações no trabalho cotidiano desses profis-
computador, também. O professor, por ser um sujeito
sionais. Este “novo” está impondo transformações nas
formado, que já ultrapassou esse período de conhecer
antigas práticas profissionais, as experiências on-line
o mundo dessa forma, fica em desvantagem em relação
de alunos parecem desorganizar e colocar em xeque
ao próprio aluno. O que acontece? Historicamente, a
os modelos docentes tradicionais. Por essas razões,
gente tem o professor, que sabe; e o aluno, que “não”
apesar de motivados a enfrentar os novos desafios, os
sabe. Como vai reverter isso? Um aluno que sabe e um
educadores mostram-se preocupados e, às vezes, até
professor que não sabe? Isso é complicado! Administrar
mesmo assustados. Inseguros, os professores parecem
uma coisa dessas é complicadíssimo.”
não ter dúvidas de que estão diante de um instigante
e complexo desafio: o de construir novos referenciais
“Quem é esse professor, agora? O que ele vai ensinar?”
para a compreensão de suas práticas educacionais.
Mas não é apenas através das novas tecnologias da informação que se pode pensar uma
educação rizomática.
“A aplicação do conceito de rizoma na organização curricular da escola significaria uma
revolução no processo educacional, pois substituiria um acesso arquivístico estanque ao
conhecimento que poderia, no máximo, ser intensificado pelos verticais e horizontais de uma
ação interdisciplinar que fosse capaz de vencer todas as resistências, mas sem conseguir
vencer, de fato, a compartimentalização, por um acesso transversal que elevaria ao infinito as
possibilidades de trânsito por entre os saberes. [...] Pensar uma educação e um currículo nãodisciplinares, articulados em torno de um paradigma transversal e rizomático do conhecimento
soa, hoje, como uma utopia . Nossa escola é de tal maneira disciplinar, que nos parece
impossível pensar um currículo tão caótico, anárquico e singular. Mas já houve momentos da
história da humanidade em que parecia loucura jogar-se aos mares, em busca de terra firme
para além do continente europeu, ou então se lançar ao espaço, almejando a Lua e as estrelas...”
>>> GALLO, 2003:97-99
Outras redes
Todos nós fazemos parte de diferentes redes, estamos conectados a pessoas e
linha do tempo: 1973
A Arpanet tem um novo computador
conectado a cada 20 dias. São feitas conexões
internacionais e a criação de uma rede
mundial começa a ser discutida abertamente
lugares formando nossas redes familiares e sociais. Se pensarmos no nosso dia-a-dia,
observando as relações que marcam nossas rotinas, veremos emergir conjuntos de
redes. Pense na teia de relações que tecemos diariamente em nossa rotina: as pessoas
do seu bairro ou edifício, o trocador do ônibus ou metrô, colegas de trabalho, o porteiro
Ver proposta de atividade: costurando nossas
redes familiares e sociais.
da escola etc. Pense na rede de relações que você estabelece para abastecer sua casa, no
mercado e na feira, ao comprar roupas e objetos, na sua vida profissional. Sua rede de
afetos: as pessoas que você ama, seus amigos e familiares. Perceba como todas as suas
atividades dão origem a redes de relações. São chamadas redes espontâneas e derivam
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da sociabilidade humana. Estão à nossa volta o tempo todo, apenas não estamos
acostumados a visualizá-las ou percebê-las, como um sistema vivo e dinâmico, mas são
elas que dão sustentação às novas vidas e as produzem diariamente. Essas redes fazem
parte da nossa identidade e de como seremos no futuro.
Um outro conceito importante de rede é a rede de saberes. Pensar o conhecimento
linha do tempo: 1992
Lançada a Multi Rede Digital, que permite a
integração de voz, dados, textos - inclusive
fac-símile e videoconferência.
como uma rede de saberes é perceber como o conhecimento é algo vivo e dinâmico
– e não, algo compartimentado e separado, como muitas vezes nos é ensinado na escola.
Quando o aluno percebe como os saberes estão integrados e fazem parte da vida,
Ver proposta de atividade: Construindo
relicários.
aprender se torna muito mais interessante e dinâmico, ganha um sentido bem mais
amplo, além de trabalhar no aluno uma percepção mais crítica e consciente do mundo
linha do tempo: 2004
à sua volta. Isto, lembrando sempre da importância de estimular a participação e o
É lançado o Orkut, rede que reúne milhões
de pessoas de todo o mundo, em torno de
comunidades temáticas.
compartilhamento do conhecimento, porque o aluno não é uma mala vazia, mas sim,
uma mala cheia de experiências e conhecimentos que não podem ser desmerecidos na
rede de saberes de cada um.
“Educar é ensinar a pensar e não apenas ensinar a ter conhecimentos.”
>>> Leonardo Boff
Em seu livro Pedagogia da autonomia, Paulo Freire reafirma a necessidade de os
educadores criarem condições para a construção do conhecimento pelos educandos,
como parte de um processo em que professor e aluno não se reduzam à condição
de objeto um do outro, porque “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua própria produção ou construção”. Segundo o autor, essa linha
de raciocínio existe por sermos seres humanos e, dessa maneira, termos consciência
de que somos inacabados. E é essa consciência que nos instiga a pesquisar, perceber
criticamente e modificar o que está condicionado, mas não determinado, passando,
então, a sermos sujeitos e não apenas objetos da nossa história. Freire ressalta o quanto
um determinado gesto do educador pode repercutir na vida de um aluno (afetividade e
postura); e a necessidade de reflexão sobre o assunto, pois, segundo ele, ensinar exige
respeito aos saberes do educando. A prática educativa é um constante exercício em
favor da construção e do desenvolvimento da autonomia de professores e alunos; não
obstante, transmitindo saberes, mas dando significados, construindo e redescobrindo
os mesmos, por termos sido programados não só para aprender, como também para
ensinar, intervir e conhecer.
Autopoieses
(do grego auto = próprio + poiesis = criação)
foi o termo cunhado na década de 1970,
pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco
Varela e Humberto Maturana, para nomear
a complementaridade fundamental entre
estrutura e função.
http://www.humanitates.ucb.br/2/
maturana.htm#sistema%20fechado
[...] Maturana inaugura a concepção de
autonomia do ser vivo, a autopoiese.
Pensar o conhecimento a partir da
autopoiese só é possível se entendermos
cada vivente como sistema fechado,
auto-organizado e auto-organizável.
Para Maturana, isso só é possível porque
cada ser é em relação. O que determina,
em última análise, a organização do
vivo é sua própria autopoiese. Mas o
que desencadeia é a relação que se
estabelece entre vivo-meio-vivo. O
organismo se autogere, mas só o faz na
relação com outros organismos. Isso
quer dizer que não é possível determinar
quais as ações subseqüentes num
processo autopoiético. Mas é possível
saber que o vivo age e reage diante das
circunstâncias, já que vai organizando
seu conhecer a partir do próprio ato
de viver.
Outras redes que fazem parte de nossas vidas são as redes urbanas. Cada um de nós
constrói sua própria rede urbana dos locais onde vive, trabalha e circula. Nossas
pequenas redes urbanas fazem parte das redes urbanas do sistema integrado que vai
dos bairros às pequenas cidades e metrópoles. Quando pensamos em nossas próprias
redes urbanas, é importante observarmos como, quando ampliamos nossa rede urbana,
circulando por novos lugares, expandimos também duas outras redes: de saberes e
de relações. As redes que criamos para nós mesmos estão todas conectadas e sempre
prontas para criarem novas conexões.
A metáfora de rede está em toda parte. Humberto Maturana, biólogo e filósofo chileno,
através do conceito de autopoieses, afirma que o que caracteriza os seres vivos é a
capacidade de contínua produção de si mesmos através da interação; e nós vivemos em
uma rede de conversas, onde cada comunidade é uma rede de conversação; e a cultura,
uma rede complexa de conversas.
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“O conversar é um fluir na convivência, no entrelaçamento do ‘linguagear’ e do emocionar.
[...] Por isso é que digo que tudo o que é humano se constitui pela conversa, o fluxo de
coordenações de fazeres e emoções.”
>>> MATURANA, 2004
“Um ser vivo ocorre e consiste na dinâmica de realização de uma rede de transformações e de
produções moleculares, de tal forma que todas as moléculas produzidas e transformadas no
operar desta rede formam parte da rede [...] com suas interações.”
>>> Maturana e Varela apud PELLANDA, 2000:121
O fenômeno rede, de acordo com pensadores como Maturana e Lévy, nos coloca duas
questões fundamentais: a interação e as emoções.
“Quanto mais um ser estiver interconectado em seu interior, mais vasto será seu campo de
interação, mais rica será sua experiência, melhor será sua capacidade de aprender.”
>>> Lévy e Labrosse apud PELLANDA, 2000:124
O modelo rede parece ser o padrão de tudo o que existe: vivo e não-vivo.
“O modelo do vivo é a rede. Parece existir um padrão de organização para todos os organismos
vivos, que é um padrão de rede. A urdidura desta rede é a linguagem; e a trama seriam as
interações. A energia que perpassa toda a rede e que garante sua existência é o amor.”
>>> PELLANDA, 2000:121
Encerro estes pensamentos com um trecho do vídeo “A Rede”, do Museu das
Telecomunicações:
“Você é uma rede. Cada ser vivo neste planeta é uma rede de redes que se conecta a outras
redes de redes [...] Se o instinto do homem é criar redes, nunca houve tanto espaço para que a
humanidade realize a sua maior vocação. [...] Para que estamos tecendo esta imensa rede? Para
romper de vez a barreira da distância entre os homens? Para ampliar, como nunca, os limites da
expressão da individualidade?
São infinitas as perguntas, e as respostas já estão escritas em algum lugar deste céu de estrelas.
Cabe a cada um de nós encontrá-las.”
Visita com grupo de alunos no Museu das Telecomunicações
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Bibliografia
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Propostas de Atividades
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01.
Criando mapas e caminhos para formar redes/rizomas.
Faixa etária: a partir de 7 anos
Aula 1
Converse com seus alunos sobre o conceito/idéia de mapa. O que é um mapa? Para que serve? Como são feitos?
Como será que foram desenhados os primeiros mapas? Quais as diferenças entre estes mapas?
.........................................................................................................................................
Um pouco da história dos mapas...
A arte de traçar mapas começou com os gregos que, no século VI a C., devido a expedições militares
e de navegação, criaram o principal centro de conhecimento geográfico do mundo ocidental. O mais
antigo mapa, confeccionado na Suméria em uma pequena tábua de argila, representa um Estado.
As representações de uma área incluíam sobreposições de diversas informações – como, por exemplo,
símbolos e cores.
A cartografia que data da Pré-História visava delimitar territórios de caça e pesca. Na Babilônia, os mapas
do mundo eram impressos em madeira, num disco liso, mas foram Eratosthenes, de Cirene, e Hiparco (século
III a C.) que construíram as bases da moderna cartografia, usando um globo como forma e um sistema de
longitudes e latitudes. Ptolomeu desenhava mapas em papel, com o mundo dentro de um círculo, e foi
imitado na maioria dos mapas feitos até a Idade Média. Na era dos descobri-mentos, os dados coletados
durante as viagens tornaram os mapas mais exatos.
Atualmente, com a fotogrametria e o sensoriamento remoto (imagens por satélite), consegue-se ótima
precisão. Com a ajuda de computadores, mais informações podem ser visualizadas e analisadas pelos
geógrafos, o que sinaliza um grande avanço na cartografia. [http://www8.pr.gov.br/portals/portal/mapas/
mapas_info.php]
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>24
.........................................................................................................................................
Peça para cada aluno construir um mapa do seu bairro ou cidade. O desenho não precisa ser fiel quanto
a distâncias e espaços. O importante é que seja delineado de memória, a partir da vivência de cada um
e de sua relação com esses espaços; seria muito mais um mapa vivencial do que real. Peça para os alunos
incluírem os elementos que eles julguem mais importantes e que mais gostem, criando símbolos, escolhendo
diferentes cores e desenhos para representá-los. Podem, inclusive, fazer uma legenda dos símbolos para que
outros possam ler o seu mapa. Estimule os alunos a criar seus próprios mapas, evitando padronizações
ou cópia de mapas existentes.
Aula 2
Peça que comparem os mapas entre si, percebendo individualidades e diferenças entre eles. Discuta com o
grupo essa idéia de mapa vivencial. Ou seja, a maneira como utilizamos os espaços e caminhos de uma cidade,
bem como as relações de afeto que criamos com estes, influenciam diretamente na imagem que concebemos
do nosso bairro ou cidade.
Depois, os alunos deverão traçar sobre seus respectivos mapas sua rede de caminhos, sua pequena rede
urbana dos locais onde circulam. Reúna novamente o grupo e peça para compararem as redes de caminhos
de cada um. Todos circulam pelos mesmos lugares? Qual o tamanho de sua rede urbana? Compare-a com o
tamanho do bairro
e da cidade.
Para finalizar, mostre aos alunos um mapa da Cidade/Município do Rio de Janeiro e peça para encontrarem
suas redes urbanas na grande rede que é o mapa da sua cidade. Quais os locais mais distantes e distintos
por onde passam suas redes? Essas redes, os locais e caminhos por onde alguém circula tem a ver com sua
identidade? O que acontece quando ampliamos nossas redes urbanas? Mudamos a imagem que temos da
cidade? Mudamos nossa relação com ela? O que significa a expressão “ampliar os horizontes”?
Converse com o grupo sobre a importância de ampliar nossos mapas urbanos, pois ao expandirmos nossas
rotas de circulação, ampliamos também nossas redes de relações
e saberes.
......................................................................................................................................
Material necessário: lápis preto e lápis de cor, papel branco A3 ou cartolina branca.
Mapa do Município do Rio de Janeiro.
02.
Crie, você, o seu cordel para o século XXI
Faixa etária: a partir de 12 anos
A partir do “Cordel do computador congelado”, que faz parte dos vídeos do Museu das Telecomunicações,
proponha aos seus alunos criarem um cordel para o século XXI. Converse com o grupo sobre a literatura
de cordel e, se possível, mostre exemplos através dos livretos que podem ser adquiridos em feiras e lojas
nordestinas. Divida a turma em grupos e peça para cada grupo escolher um tema bastante atual e do
nosso dia-a-dia no século XXI. Depois de conversarem e trocarem opiniões, peça para anotarem episódios,
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curiosidades e personagens da história por eles criada, aproveitando suas próprias vivências e memórias.
Este material servirá para compor o cordel que deve ser recheado de “causos”, histórias e brincadeiras,
>25
com um vocabulário bem popular e cotidiano.
Explique para o grupo as diferentes métricas do cordel [http://www.ablc.com.br/index.htm], para que
escolham a maneira de como vão trabalhar o texto.
.........................................................................................................................................
Literatura de cordel
A literatura de cordel é um tipo de poesia popular, originalmente oral e depois impressa em folhetos rústicos
expostos para venda, pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome. Escritos de forma
rimada, alguns poemas são ilustrados
com xilogravuras, o mesmo estilo usado nas capas. As estrofes mais
comuns são de dez, oito ou seis versos. Os autores ou cordelistas recitam esses versos de forma melodiosa e
cadenciada, acompanhados de viola. [...] Os temas incluem fatos do cotidiano, episódios históricos, lendas
e assuntos religiosos. As façanhas do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1900-1938) e o suicídio
do presidente Getúlio Vargas (1883-1954) são alguns dos temas de cordéis de maior tiragem. É comum os
autores criarem versos de improviso, diante de um acontecimento ou alguém que queiram homenagear.
As formas variaram pouco, ao longo do tempo. [...] Pelo fato de ser literatura distribuída nas ruas, feiras e
botequins; pelo tipo de literatura a que se dedica (essencialmente, poesia popular, mas também romances
sentimentais); e pelo tipo de linguagem em que circula (bastante simples, com os traços da fala coloquial
e próxima do modo de falar do povo do sertão), a literatura de cordel foi, durante muito tempo, pouco
apreciada. [...] Costuma ser vendida em mercados e feiras, pelos próprios autores. Em outros estados, como
Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, é encontrada em feiras de produtos nordestinos. [http://www.
wikipedia.org]
Mais informações podem ser encontradas no site oficial da Academia Brasileira de Literatura de Cordel
[http://www.ablc.com.br/index.htm]
.........................................................................................................................................
Quando terminarem, cada grupo deve apresentar seu cordel recitando os versos de forma melodiosa
e cadenciada, como se estivessem cantando com a viola. Se preferirem, podem inclusive se vestir a caráter.
03.
Costurando nossas redes familiares e sociais.
Faixa etária: a partir de 10 anos
Converse com o grupo sobre as diferentes redes que fazem parte de nossas vidas – nossas redes sociais
e familiares – e como elas nos identificam e falam sobre quem somos, de onde viemos, nossas origens
e relações. Conhecer nossas redes é uma forma de conhecer a si próprio.
Proponha aos alunos que escrevam, em uma folha de papel, que pessoas fazem parte da sua rede familiar,
sua rede de amigos, rede de colegas da escola, rede de conhecidos do bairro, rede de lugares etc. Depois eles
devem criar, para cada uma dessas redes, um desenho/esquema que ilustre o grupo. Peça para imaginarem um
formato de rede, colocando os nomes em cada um dos nós (pessoas, situações e lugares) que se interconectem.
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Primeiro, devem fazer as redes separadas, cada uma de uma cor (rede de familiares, rede de amigos, rede de
colegas, redes de conhecidos, rede de lugares etc.); e, em seguida, juntá-las no ponto em que se conectam,
construindo a grande rede que identifica cada um de nós. É importante que os alunos percebam como essas
redes não são estáticas, mas estão vivas, em constante crescimento e mutação. E, principalmente, que a
cada dia novos nós e elos vão sendo adicionados a ela. O grupo pode, inclusive, continuar o trabalho sempre
acrescentando novas ligações.
......................................................................................................................................
Material necessário: lápis preto e lápis de cor, papel branco A3 ou cartolina branca e cola.
>>
04.
Construindo um relicário coletivo
Faixa etária: a partir de 10 anos
Converse com o grupo sobre como as redes das quais fazemos parte estão ligadas não apenas pelas
pessoas, mas também pelas histórias, objetos e memórias que guardamos e vamos passando de um a outro,
construindo redes de memórias, nosso patrimônio imaterial, que podemos chamar de redes-relicários.
Mas por que relicário? O que é um relicário? O que é uma relíquia? Qual a diferença entre um simples objeto e
uma relíquia? Algum de vocês guarda alguma coisa que considere muito especial? Alguma coisa que tenha uma
história particular, um objeto único para você? O que, por exemplo? E para outra pessoa, será que esse objeto
é uma relíquia também? E as relíquias de um grupo de pessoas ou de uma sociedade, por exemplo, o que pode
ser uma relíquia para a nossa família? Será que os critérios que definem o que são e o que não são relíquias
serão diferentes para cada família ou grupo?
A diferença está no fato de que uma relíquia é um objeto muito especial, pois guarda uma memória de suma
importância para alguém, uma memória para o futuro. Uma relíquia é a extensão de nossa identidade – capaz
de contar, um pouco, de quem nós somos e de onde viemos. É importante deixar claro para seus alunos que
uma relíquia nada tem a ver com valor monetário, mas sim, com valor afetivo e de memória. Peça para cada
aluno levar, na próxima aula, alguma coisa que represente uma relíquia pessoal. Pode ser uma foto ou objeto,
história, receita, desenho, carta etc. Além da relíquia pessoal, peça que levem também alguma coisa que
considerem uma relíquia relacionada ao universo escolar, aos colegas, a algum professor ou memória que
ache importante para essa comunidade (sua escola).
......................................................................................................................................
Para refletir e discutir com o grupo
Quais são as histórias individuais e coletivas, contadas por diferentes vozes, que devem ser preservadas para
o futuro de um lugar/comunidade? Como guardar/preservar essas memórias para o futuro? Cada aluno traz
um futuro para a sua escola/comunidade. A construção de um relicário consiste em experiências coletivas que
buscam construir uma trama de relacionamentos de confiança e afeto entre indivíduos, com um lugar e seus
objetos, a partir de memórias compartilhadas de vidas que vão se cruzando e formando a identidade de uma
comunidade.Faça um grande círculo com seus alunos e peça para que cada um mostre o que trouxe, conte sua
história e por que considera uma relíquia. Só que, para fazer isso, deverá ser costurada uma rede e os objetos
colocados dentro de sacos transparentes, com a história de cada objeto escrita em um papel. Como será feito
isso? Eleja ou sorteie uma pessoa para começar: depois de contar sua história, ela irá colocar os objetos dentro
de um saco plástico transparente – a sua história, previamente escrita – e passar uma linha (barbante, cadarço
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ou fita colorida) para alguém do outro lado da roda e assim por diante; aos poucos, estará sendo trançada uma
rede, um relicário coletivo, com os objetos e histórias daquele grupo/comunidade. Se possível, utilize mais de
>27
uma linha com diferentes cores, para criar uma rede colorida. Cada um fica segurando o seu pedaço da rede,
marcando sua conexão, seu elo neste grande relicário coletivo de memórias para o futuro. Quando todos já
tiverem contado a sua história, a rede estará formada e o grupo deverá então decidir, coletivamente, o que
fazer com a rede-relicário.
......................................................................................................................................
Material necessário: fitas ou cadarço coloridos; saco plástico transparente, cristal, tamanho A4
(tipo de colocar em pasta/arquivo); papel e lápis.
>>>> guardar >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
Antonio Cicero
Guardar uma coisa não é escondê-la ou
trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela
iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é,
fazer vigília por ela,
isto é, velar por ela, isto é, estar acordado
por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se
publica,
por isso se declara e declama um poema:
para guardá-lo:
para que ele, por sua vez, guarde o que
guarda:
guarde o que quer que guarde um poema:
por isso o lance do poema:
por guardar-se o que se quer guardar.
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RUA DOIS DE DEZEMBRO, 63 - FLAMENGO
WWW.OIFUTURO.ORG.BR/MUSEU
TEL: 3131-3050
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