Muito boa noite, senhores passageiros, este voo terá uma duração de 14 anos,
8 meses e 27 dias, com início a 11 de setembro de 2001 e terminará a três de
junho de 2016.
Foi no dia 11 de setembro de 2001 que fomos convidadas a iniciar a viagem
dos lápis e cadernos, vulgarmente chamada “entrada para a escola”.
Tínhamos nós três singelos anos.
De entre as várias companhias aéreas, os nossos pais optaram pelo Mira Rio,
pois acharam, e com razão, que esta transportadora reunia melhor tripulação,
bem como as condições mais propícias à nossa segurança e ao bom sucesso
da viagem.
Vamos agora dar início à descolagem. Por favor, apertem os cintos.
Informamos que a temperatura interior variará ao longo do trajecto.
Estamos neste momento a atravessar os céus da infantil do Planaltinho e do
Mira Rio. Bom tempo. Pode ouvir-se o som de música clássica do ilustre Iohan
Sebastian Bach, que nos acompanhava enquanto, sentados nos quadrinhos
desenhados no chão, nos dedicávamos à realização de verdadeiras obras de
arte em plasticina: aquelas que precederam os fantásticos trabalhos em K-line
das futuras aulas de Educação Tecnológica.
Se olharem pelas janelas, poderão ver-nos a brincar aos pais e às mães, aos
jogos do polícia e ladrão e assistir às aulas de ballet com a professora Sara, nas
quais participavam todas as meninas.
Cruzamos agora os ares do 1º ciclo (primária, para quem não sabe o que são
os ciclos). As meninas que vieram da infantil do Planaltinho juntaram-se às do
Mira Rio originando duas alegres turmas, acompanhadas pelas professoras
Filipa Melchior e Teresa Nunes. Para além das professoras titulares, aprendemos
música com a professora Cristina Fontoura, que tentou corrigir pacientemente,
com mais ou menos sucesso, os nossos gorjeios pouco afinados, e religião,
com a professora Margarida Boavida, que nos animava a pintar as ilustrações
dos clássicos livros de argolas prateadas. No 2º ano, as aulas de religião
passaram a ser com Professora Luísa Xavier, mais conhecida como professora
Icha, que tão bem nos preparou para a primeira confissão e para a primeira
comunhão. Além disso, deu-nos as primeiras lições sobre a arte de bem
negociar, ao trocar notas de monopólio por boas atitudes e boas notas.
Continuámos as nossas brincadeiras de recreio, mas, desta vez, de uma
maneira mais metódica e com maior técnica, graças à ajuda das professoras
Conceição Morão e Ana Oliveira, que nos ensinaram a jogar ao dragão, ao
muro do chinês e futebol humano.
-. Estamos agora a sobrevoar as aulas de inglês que, no 1º e 2º anos, foram
dadas pela professora Filomena Anacleto e no 3º e 4º pela professora Ana do
Vale. Todas recordamos as músicas cujas melodias eram sempre mais
apelativas do que a letra e o conteúdo. A juntar-se às melodias, ouviam-se por
vezes os apitos dos Tamagochis esfomeados. Nunca percebemos bem porque
foram tantas vezes confiscados…
A partir do segundo ano juntaram-se as duas turmas e ficámos a cargo da
professora Teresa, que dirigiu o rumo do nosso avião com cerca de 30
passageiras difíceis de manter sossegadas nos lugares e que deu origem ao
famoso "CA-LEM-SE" e ao “BAIXA O VOLUME”, bem como à técnica de apagar
a luz. A nossa tendência para o mundo dos negócios, incentivada pelas notas
de monopólio da professora Icha, continuou. Mas agora no comboio de
madeira do recreio, em que a moeda de troca era a "pedrinha" apanhada no
chão (mas atenção, pedras de cimento não contavam). Após a entrada da
passageira Rita Novais, que trouxe o seu álbum de fotografias recheado de
autocolantes irresistíveis, as trocas comerciais chegaram ao rubro, ao som das
nossas vozes que alegremente cantavam músicas do High School Musical ou
da saudosa Floribela.
Certifiquem-se, por favor, de que têm os cintos apertados. Aproxima-se
alguma turbulência. No quarto ano, após o nascimento da Maria, a primeira
filha da professora Teresa, tivemos de nos despedir dela no meio de uma
chuva de lágrimas. Cantámos pela última vez em turma a música dos Radio
Macau, “O Anzol”, a favorita da professora. Tempos duros estes…
Passada a turbulência, eis-nos de novo em céu azul. No 5.º ano, foi a
professora Ana do Vale a assumir o controlo do nosso avião. Neste ano
vulgarizou-se o uso do quadro eletrónico (ou Magic Board), que constituiu
suporte não só para as aulas, mas também para o exaspero de algumas
professoras, que não dominavam o dito com a facilidade esperada. Escusado
será dizer que as alunas rejubilavam cada vez que a caneta eletrónica se
recusava a responder aos insistentes “cliques” das docentes.
Há que referir que fomos as primeiras alunas do 6.º ano a ter aulas no edifício
do Mira Rio II. Até então, a passagem do Mira Rio I para o II só se dava no 7º
ano. Este facto inédito encheu-nos de orgulho e júbilo, tendo tido grande
impacto no colégio (principalmente no que diz respeito aos níveis de consumo
de gomas e pastilhas do bar do 11.º ano desse ano). Destacámo-nos
rapidamente também nos recreios, em concreto no jogo do "Pepe rápido" e
do "Mata", já para não falar nas nossas coreografias imbatíveis nos carnavais.
Foi neste ano inesquecível que conhecemos uma professora que gostou tanto
de nós, que nos tem acompanhado desde então nesta viagem: a ilustre
professora Susana Otero. Nunca percebemos como detetava de imediato o
consumo, por mais discreto, silencioso e longínquo que fosse, de pastilhas
elásticas. Aliás os seus “ouvidos de tísica” e o seu “excelente golpe de vista”
(nas suas próprias palavras) nunca deixaram os seus créditos por mãos alheias.
A mais pequena tentativa de sussurrar à colega do lado um “Não entendi” era
logo apanhada. Demorava um microssegundo para ouvirmos a preocupada
pergunta: “O que é que não entendeste? Não quero ninguém a sair das aulas
com dúvidas.” Temos muito a agradecer a esta professora, que não só nos
ensinou a trabalhar com números e incógnitas, mas também nos deu a
conhecer inúmeras expressões, entre as quais “Tudo e mais um par de botas”,
“Cada macaco no seu galho”, “Vamos dar uma pincelada na matéria”, “É a
lógica da batata e a teoria da cebola”, entre outras. Trata-se de uma pessoa
muito completa que, apesar de ter de fazer de “má da fita”, dizendo “Isso que
trazes vestido é muito giro mas não faz parte da indumentária da casa”, foi
também quem nos alisou os cabelos para o desfile de carnaval do 8º ano e
com quem celebrámos todos os anos o dia internacional do pi e tivemos várias
conversas que dificilmente esqueceremos. Com ela, somos a turma que
funciona como um jogo de xadrez, analogia que muito nos ajudou.
- Passageiros, pedimos-vos que retomem os vossos lugares e apertem os cintos
de segurança, pois estamos prestes a entrar numa zona de especial
turbulência: o 3º ciclo, em que as temperaturas vão ser especialmente
variáveis. Três anos em que deixámos claramente a marca da nossa presença
no colégio!
O leque de disciplinas aumentou. No entanto, o mesmo não aconteceu com
a maturidade que era suposto ter acompanhado este crescimento.
Professora de físico-química, a professora Pilar Portela deu-nos a conhecer
realidades cuja existência nunca havíamos suspeitado sequer, indo estas
desde o domínio do indivisível, como o eletrão, até ao igualmente
inimaginável universo. Foram aulas divertidíssimas e igualmente produtivas, nas
quais nos foi possível testar, por exemplo, a força gravítica de um corpo em
queda atirado de uma janela do 3º andar, aquando da montagem do
projetor (projetor este, aliás, que teimava em não funcionar devidamente
enquanto não tivessem decorrido, no mínimo, os 20 minutos da praxe).
E agora o francês. Uma língua tão chique e requintada não poderia ser
aprendida sem que lhe déssemos um pequeno toque. A nossa querida
professora Luísa Moreira Braga insistia em utilizar técnicas didácticas que
promovessem o nosso interesse pela disciplina, o que pareceu resultar. Pelo
menos não foram poupadas as gargalhadas perante o empenho, tanto no
vestuário como nas expressões utilizados durante os teatros (até cantámos
músicas francesas sobre a arrumação da casa, ou melhor, sobre “Faire le
ménage”!) Afinal, é às aulas de francês que as nossas mães têm a agradecer
a nossa prestação doméstica. A professora Luísa Moreira Braga também nos
deu aulas de Português tão entusiasmantes como as de Francês, em que
fazíamos teatros nos quais ficaram para a história diálogos marcantes, como:
Diz
o
esparguete:
Ora
bolas,
que
maçada!
Responde o queijo: E eu ralado!
Foi neste período das nossas vidas que conhecemos a “Menina Geografia”,
com a professora Assunção Rolim, que nos obrigava a saber o nome de todos
os países e capitais europeias, bem como as datas da sua adesão à União
Europeia. Dado o nosso gosto e talento em manter conversas paralelas
durante estas aulas, muitos foram os “shh” que ouvimos e, apesar de nos ser
interdita a utilização, em qualquer altura, de um X-ato ou mesmo ser impossível
termos um tique nervoso sem ouvir um “Ohhh… pára lá com isso que me estás
a distrair”. Foi com muita pena que nos despedimos desta tão fantástica
professora no final do 7º ano (apenas voltou a ensinar alguns membros da
nossa turma, em aulas de Geografia A no secundário, que certamente lhe irão
financiar um curso de desenho no próximo verão, pois os quadros das salas de
aulas testemunham que há ali potencial artístico).
É certo que quando se fecha uma porta, abre-se uma janela. É verdade,
estamos a falar da professora Cristina Peixinho, que veio continuar o trabalho
da professora Assunção, fazendo lembrar, pelo modo como circulava pela
sala, um desfile na passerelle. Perante as acusações (a nosso ver, injustas) de
sermos “uma turma barulhenta, agitada e difícil de trabalhar”, a professora
Cristina aventava a hipótese de não se estar a falar das mesmas alunas, pois
com ela “As alunas portavam-se muitíssimo bem”
Dizer que as professoras Inês Cruz Gonçalves e Inês Ângelo (mais conhecidas
como Inês Alta e Inês Baixa, respetivamente) marcaram a nossa vida
académica não é suficiente. Foram professoras que se tornaram muito
próximas, trabalhando tanto em conjunto como separadas. Tratava-se de
aulas de EVT e de ET nas quais podíamos, durante quatro horas semanais,
expressar a nossa criatividade. Conhecemos de perto a paixão da professora
Inês Ângelo por burros e por recortar e a forma como a professora Inês Cruz
Gonçalves abominava a utilização da borracha: “Um risco feito, está feito. É
para ficar”. O que nos obrigou rapidamente a adotar uma borracha secreta e
colectiva que denominamos por XICA, a borracha.
No início do 8º ano, esta turma tão inquieta e agitada conheceu uma
professora cuja exigência não deixava ninguém baixar os braços. Trata-se da
professora Mercês Moita: uma professora que conseguia compilar numa aula
de português componentes de disciplinas diversas como matemática, filosofia,
história mundial, cultura geral e, mais importante, grandes lições de vida. A
cultura era tanta, que até os seus gatos tinham nomes alusivos à mitologia
romana, como o famoso Baco, que, sendo o nome do deus do vinho e da
festa, morreu de bebedeira. Ora com a ajuda de cafezinho, ora com água
gaseificada, vestindo sempre um cachecol desnivelado, chegava às aulas
pronta a fazer de nós pessoas mais cultas. Entre sh sh sh, era raro o dia em que
não ouvíamos o típico “Mandei-te um mail”, este nunca se ficando por menos
de 20 páginas de leitura atenta e minuciosa, sobre a qual seríamos
questionadas. Não nos deixou indiferente. Isso é certo. Promoveu o nosso
trabalho árduo e a invenção de novos métodos de estudo, como o ilustre
“Lusiquiz”. Um obrigada muito sincero da nossa parte.
Não podemos deixar de referir o ano em que tivemos como comandante do
nosso avião a professora Leonor Silva Santos, que nos proporcionou aquele
que terá sido, certamente, um dos melhores convívios (em Braga), já para não
falar no ano em geral, que decorreu da melhor forma, diminuindo
significativamente o número de queixas da nossa turma e conseguindo que
participássemos em pleno em atividades escolares, como a 1ª venda de Natal
do Mira Rio.
Decerto foi uma época em que nos demos a conhecer. Há a reportar um ou
outro percalço, como uma mesa da Direção que se partiu sem querer,
alguma arte mural não devidamente apreciada. Nada de mais…
As passageiras do avião desta turma têm tido ao longo do tempo uma
característica que se mantém: a inspiração, a energia para realizar grandes
feitos só chega muito perto do fim dos prazos que nos dão. Não se percebe
porquê. Mas decerto nada tem a ver com preguiça… e há que referir que
tudo correu geralmente bem na arte do improviso. Foi assim que nos tornámos
excelentes estilistas em tempo record, criando numa tarde livre três vestidos de
carnaval originais e dignos de uma semana da moda em Milão: um de folhas
de árvore, outro de baralhos de cartas e o terceiro de jornal. Se a moda era
um talento, as artes musicais não ficaram para trás. Foram compostos vários
êxitos cuja compilação resultaria, inevitavelmente, num disco de platina,
sendo estas músicas dedicadas ao falecido peixe Benny, ao também ele
falecido pássaro Gilberto e à famosa e perdida borracha Xica. Cantámos
ainda sobre chocolate e dançámos ao som do “Guiado pela mão...”
Imaginação não nos faltava.
Nesta viagem
pelo final
do 3º ciclo, destaca-se
também
a nossa
inquestionável capacidade de questionar, contestar e reclamar acerca de
tudo o que nos era oferecido, desde as salas, a nosso ver, com piores
condições, ao uso uniforme em dias de festa, especialmente no que se refere
ao comprimento da saia, à comida do refeitório... E claro, tínhamos também
de manifestar a típica revolta contra o “saber não de experiências feito”: para
que é que tenho de aprender o número atómico do estrôncio, ou o que
comia D. Afonso Henriques ao jantar, e porque é que Fernando Pessoa era um
ator na sua poesia? Se até Sócrates “só sabia que nada sabia”, por que razão
éramos nós instadas a decorar que o limite de um número a dividir por zero é
igual a mais infinito, e que todas as proteínas são produzidas com apenas 20
tipos de aminoácidos?
Os ares cobrem-se de nuvens cinzentas escuras no final do 9º ano. Foi com
tristeza que nos despedimos de muitas colegas e das suas idiossincrasias: como
o prato de frango apetitoso que a Teresa Ullan trazia semanalmente e que
abandonou o nosso refeitório, ou a colocação de guardanapos debaixo dos
braços para evitar a moda galinácea ( levava invariavelmente à questão: “o
teu pai é aviador?” - o pai da Catarina Campos era mesmo aviador, o que
legitimava a utilização das asas). Difícil não recordar também as fotografias
tiradas sorrateiramente pela Teresa Metello nos intervalos, o talento para a
escrita da nossa “Sophia de Mello Teiga”, que declamava como ninguém o
"Adamastor", e que contrastava com a resistência da Mariana Anacleto às
composições.
- A viagem já vai longa. Alguns passageiros já passaram pelas brasas. Toca a
acordar, que estamos agora prestes a sobrevoar o secundário. Há que referir
que fizemos uma paragem num aeroporto, no qual várias passageiras deste
avião mudaram de companhia aérea. Mas se umas saíram, outras entraram.
Demos então as boas vindas à Mariana, uma jovem pacífica e muito sensata,
que vê sempre o copo meio cheio, não sendo dada a grandes filosofias – aliás
semicerrava os olhos nas aulas desta disciplina para grande pena da
professora Maria, ; A Bia, a exploradora, que adora portas abertas e falar
baixo, uma ótima gestora e sem ela nunca teríamos conseguido fazer a
viagem de finalistas a Praga. A Matilde, que “nunca está a aguentar”, adora o
sa-sa e os D.A.M.A e que tem uma piada descomunal, trazendo sempre
alegria à turma. A Bibas, com o seu à vontade, confiança e boa disposição,
sempre sorridente e muito verdadeira. A Inês Costa, que, apesar de ter ficado
connosco apenas um ano, foi obrigada a utilizar um rabo-de-cavalo nas aulas
de matemática graças ao seu tique de enrolar o cabelo e o lançar para trás,
o que não minorou a nossa opinião elevada sobre a sua pessoa. A Nina, uma
rapariga cheia de talentos artísticos, como o pôde provar na sua atuação no
MR Night Out. A Patrícia, a Miss Dior, que alegra todas as nossas manhãs, em
conjunto com a Catarina, a personagem, com o seu estridente “BOM DIA,
AMIGAS!!!” e que veio fazer sair da casca a nossa tímida Inês Santos,
conhecida como “Santinha”, que apenas compra pão em Paris e só corta o
cabelo no Japão, e cujos cadernos não dispensam desenhos de cavalos. A
Yaritza, uma verdadeira heroína, de sorriso permanente, que serve de exemplo
para todos, e que veio fazer companhia à Catarina com as suas danças
coreanas. E a Madalena, que conhecemos só há um mês, e que teve o azar
(ou a grande sorte) de, vinda da Bélgica, aterrar na nossa turma. Claro que já
faz parte da família.
A professora Sofia Quintana passou a ser a comandante do nosso avião,
jamais utilizando o piloto automático pois foi necessário fazer rotas para
reflexão, para dar asas à criatividade, para escrever tanto sobre jihadistas e
“Bárbaras cativas”, como sobre liberdade e educação. Mostrou-nos, ainda,
numa rota percorrida de modo peculiar do colégio
à Makro, onde fomos
abastecer para o bar da nossa turma, como a Catarina via mal: o vermelho
de um semáforo afinal era cor-de-rosa escuro. Ensinou-nos a fazer mousse de
oreo, deu-nos inúmeras ideias para realização de eventos, ofereceu-nos casa
e comida, sendo uma verdadeira mãe da nossa turma. Em todas as suas aulas,
não aprendemos apenas as conjunções e orações, mas aprendemos algo
sobre a vida. Recebemos dela conselhos que nos animam a viver, não a
sobreviver. Sempre com as suas imitações e teatralidades, foi impossível, ao
longo destes anos, passar uma única aula sem uma saudável gargalhada.
Nesta viagem sobre os céus do secundário, não podemos deixar de falar
também na professora Isabel Vargas Pinto. Já tinha sido nossa diretora de
turma do 9º ano, mas foram as 6 horas semanais de Física e Química no 10º
ano e as 7 do 11º que nos fizeram conhecer melhor esta tão talentosa e
querida professora! Foram tantas as aulas, que celebrámos a centésima lição
e a ducentésima, nas quais nos contou excelentes histórias da sua infância e
adolescência, referindo quedas de nariz ao chão, computadores não
funcionais, gatos sozinhos em casa, entre outras. Não poderemos esquecer a
famosa “galinha-despertador “, que teimava em nos relembrar a rapidez com
que o tempo passava aquando a realização de divertidos exercícios de físicoquímica. A verdade é que se não fosse todo o trabalho e dedicação desta
professora não teríamos tido as valentes notas que tivemos no exame.
Passámos a culpar as nossas colegas que falhavam o caixote do lixo pois não
calculavam o alcance máximo através das equações do movimento e nunca
mais utilizámos amaciador sem pensar no cálcio da água que estávamos a
dissolver. Foram bons momentos, dos quais já temos saudades.
Uma outra disciplina que fez parte da viagem no secundário foi Biologia &
Geologia, graças à qual nos tornámos muito próximas da professora Isabel
Carmo Pedro. Se no terceiro ciclo nos acusavam de ser uma turma barulhenta,
esta professora tinha contra nós algo inédito: acusava-nos de sermos uma
turma silenciosa e pouco interativa. Isto resultou na nossa nova mascote nas
aulas de B.G: o famoso papagaio de nome Calado, inspector calado. A
exigência sempre foi tanta, que chegámos a temer transformarmo-nos em
rochas metamórficas, durante os testes, devido ao excesso de pressão. Fazer
um bolo nunca mais foi o mesmo: imaginar a desnaturação das proteínas das
claras, ou os ácidos gordos saturados da manteiga (já não se tratava apenas
da confeção de uma fantástica sobremesa). A professora Isabel sempre
acreditou nas nossas capacidades, ainda que fosse preciso muita fé para tal
quando, por exemplo, lhe perguntámos se a área metropolitana era a área
por onde passava o metro. Foram aulas que passaram sempre velozmente e
com todo o gosto. Teremos imenso carinho ao recordar esta professora.
Na outra fila do avião, começámos as aulas de Economia com a inesquecível
professora Felicidade Lopes. Ao longo destes três anos ouvimos as piadas tão
subtis da professora, as quais numa turma de sete, só uma aluna entendia.
Não esqueceremos a sua constante admiração pelo Professor César das
Neves, nem a crise do petróleo e muito menos o crash da bolsa. E porque
“não há almoços grátis”, temos de revelar que a professora nos multava em
moedas de cêntimos, sempre que usávamos nas suas aulas vocábulos menos
eruditos, como “cena”, “tipo” ou “lixado”. A verdade é que as multas
permitiram confraternizar alegremente num almoço. Infelizmente, professora,
continuamos a dizer “tipo”, mas lembramo-nos sempre do mealheiro.
Falar no secundário é, neste início do 12º ano, sinónimo de referir a
maravilhosa, indescritível, inolvidável viagem de finalistas a Praga.
Para a
concretizar realizámos inúmeras atividades de angariação de fundo que
ficarão para a história, como o bar, no qual pontificavam as tostas mistas (com
ou sem orégãos), de aroma inconfundível, e o famoso evento do MR Night
Out, que, contra tudo e todos, foi um sucesso que nos uniu como turma e
trouxe ao de cima as qualidades e talentos de cada uma.
Viajámos, de avião propriamente dito, até à capital da Republica Checa
durante 5 dias. A professora Maria de la Fuente e a professora Conceição
Morão foram além de nossas professoras, nossas amigas, passando por cima
de atrasos e outros contratempos com serenidade e bom humor. A professora
Conceição, habituada a pôr-nos a marchar pelas ruas de Lisboa, imprimiu um
ritmo acelerado aos nossos passeios, o que nos permitiu conhecer quase todos
os edifícios, ruas, ruelas e pontes desta belíssima cidade.
Quanto à
professora Maria, com o seu indisfarçável “Eh, meninas” com
acento castelhano, foi uma excelente companhia. Nem sequer se queixou
quando cantávamos nas ruas, ou andávamos aos encontrões nos eléctricos.
Quem pensava que durante a viagem ia aproveitar para debater assuntos
filosóficos enganou-se redondamente. A professora tem imensa piada. Riu-se
connosco e, pior, riu-se de nós. Que o diga a Catarina quando caiu
desamparada no eléctrico.
E estamos a aproximar-nos da aterragem. Nesta viagem é claro que nem
tudo correu sempre da forma mais desejada, houve alguns desentendimentos
entre os passageiros, queixas da tripulação ao comandante, algumas
refeições de que não gostámos tanto e também alguma turbulência. No
entanto, nenhum destes percalços nos impediu de estar a terminar tão
importante etapa da nossa vida nesta companhia aérea, que é o Mira Rio, e à
qual nos atrevemos a chamar a nossa segunda casa. Pelas nossas mentes
desfilam rapidamente imagens de professoras atentas e próximas, a ajuda que
todas as funcionárias nos dão, o doce “bom dia” que a Dona Luísa dirige a
cada uma de nós todas as manhãs, as inúmeras visitas de estudo, convívios,
conferências a que assistimos (como a do Frederico Fezas Vital), atividades
que realizámos (lembram-se do workshop sobre trabalho em equipa na
AESE?). E, especialmente, guardam-se as fortíssimas amizades que aqui
formámos e que esperamos serem para toda a vida.
As passageiras que vão chegar ao fim desta viagem não são as mesmas que
a iniciaram. Mas cada uma teve o seu papel e deixou a sua marca indelével.
As passageiras que chegaram ao fim desta viagem foram-se moldando e
apoiando mutuamente, construindo a sua identidade como turma. Se foram
bem-sucedidas nesta missão?
Pilar: Cabe-me a mim responder à questão, enquanto passageira mais antiga
desta viagem, pois estou na companhia do Mira Rio desde os dois anos. Para
nós, que vamos receber hoje as faixas do colégio, esta turma será sempre a
nossa. Com mais ou menos virtudes ou defeitos, somos nós. Conseguimos fazer
deste grupo um belíssimo trabalho em patchwork, aproveitando cada bocado
de tecido, por mais diferente que seja, e que, em conjunto, forma um todo
harmonioso, um todo que vale muito a pena construir. E contamos também
com a ajuda do Senhor Padre Miguel Cabral, um grande amigo do 12º ano,
que nos faz “olhar para cima”.
Senhores passageiros, acabámos de aterrar. Obrigada por terem partilhado
esta viagem na nossa companhia.
As alunas finalistas do ano letivo 2015 2016
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discurso académico 2015 2016