| 50 | Geral > ZERO HORA > SEXTA | 19 | JUNHO | 2009 Educação SEC desaconselha leitura de livros que abordam assuntos polêmicos O que eles disseram MARCELO GONZATTO As escolas de Ensino Médio da rede estadual gaúcha deverão avaliar nos próximos dias se temas como pedofilia, estupro, adultério e violência doméstica devem ou não estar presentes nas suas bibliotecas. A recomendação da Secretaria Estadual da Educação (SEC), enviada ontem às coordenadorias regionais é de remover das estantes três livros do autor norte-americano Will Eisner por serem “inadequados” para adolescentes. As obras fazem parte do acervo distribuído a colégios de todo o país pelo Ministério da Educação (MEC) e já provocaram polêmica em outros Estados. O s livros Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço, O Nome do Jogo e O Sonhador fazem parte do Programa Nacional de Bibliotecas nas Escolas (PNBE) do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação do governo federal. Por meio desse programa, o Ministério da Educação seleciona e distribui às escolas brasileiras centenas de títulos. Esta semana, quando chegou uma nova remessa ao Estado, uma escola de Alvorada relatou à SEC que considerava as obras de Eisner impróprias. Na quarta-feira, a secretária Mariza Abreu verificou o conteúdo dos livros e determinou o envio de uma recomendação a todas as coordenadorias regionais para que orientem as escolas a banir as publicações. Até o momento, não se trata de uma proibição. – Consideramos até que proibir poderia gerar uma reação negativa, então mandamos uma recomendação, uma orientação. Mas vamos es- tudar que medidas podemos tomar em conjunto para retirar esse material, porque não é adequado para adolescentes – sustenta a secretária. O norte-americano Eisner, falecido em 2005 aos 87 anos, é um dos quadrinistas mais respeitados de todos os tempos pela crítica especializada. Em Um Contrato com Deus, lançou o conceito de romance gráfico (graphic novel) ao abordar de forma crua o submundo de uma Nova York embrutecida pela crise econômica dos anos 30. Temas como a violência, o sexo promíscuo e a pedofilia fazem parte desse cenário. Passagens como a de uma menina que ganha dinheiro de um adulto para exibir o corpo, um bêbado que bate na mulher e joga um bebê sobre um sofá e a prática de adultério por uma mulher com um adolescente de 15 anos estão entre as consideradas mais impróprias pelo governo gaúcho A mesma polêmica estremeceu, este mês, escolas paulistas e paranaenses. No Paraná, um vereador de União da Vitória recorreu ao Ministério Público para retirar Um Contrato com Deus das bibliotecas. Em São Paulo, educadores questionaram o MEC sobre a seleção dos títulos. Agora, o governo gaúcho não descarta recorrer a uma medida judicial para impedir a distribuição do material. Os detalhes da ação deverão ser definidos nos próximos dias, mas podem pedir a punição dos responsáveis pela escolha. A SEC informou que não tinha dados sobre o número de livros já enviados para colégios. ± [email protected] Pela manhã, o grupo visitou o Pioneiro. Depois, fez um ato em frente ao Fórum (foto) e, à tarde, participou da sessão na Câmara de Vereadores. A diretora do Centro de Ciências da Comunicação da UCS, Marliva Vanti Gonçalves, comentou que a derrubada do diploma deve acelerar mudanças no curso de Comunicação Social, com uma maior integração entre as três habilitações (Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas), além do fortalecimento de especializações em áreas afins. Contraponto O que diz o Ministério da Educação (MEC) O MEC divulgou a seguinte nota: 1) Os livros citados tiveram seu conteúdo avaliado pela Universidade Federal de Minas Gerais. 2) Tratam-se de livros que compõem o Programa Nacional de Bibliotecas nas Escolas (PNBE). Ou seja, são livros da biblioteca escolar, cuja cessão deve ser intermediada pelo professor ou pelo bibliotecário e destina-se à comunidade escolar: dirigentes, professores, pais e estudantes. 3) Não se trata de livros didáticos, que são distribuídos aos estudantes. 4) O PNBE distribui livros para as bibliotecas sem intermediação das secretarias estaduais e municipais desde 1997. E nunca houve oposição a isso. Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor “Não vi esses livros, isso é importante deixar claro. Contudo, não me parece interessante uma simples retirada sem haver uma discussão interna, entre os professores, para ver se de fato convém ou não permanecerem. Uma autoridade não deve ter poder de censura, isso deve ser compartilhado com os professores e os estudantes.” Fernando Becker, professor da Faculdade de Educação da UFRGS “Quando a gente compra livros, compra livros adequados. Quando se trata dessas temáticas, elas sempre têm de ser bem encaminhadas, pedagogicamente consideradas, porque não podemos abordar qualquer assunto de qualquer forma. Crianças e adolescentes devem ter informações mínimas a respeito, até porque isso está presente em muitos lugares, na internet, mas com adequação pedagógica.” Alice Peres Duarte, psicóloga que trabalha com acompanhamento escolar “Hoje em dia, temas como pedofilia e adultério são encontrados na internet, nas novelas, nos filmes, na TV em geral. O que tem no livro Contrato com Deus, por exemplo, tu vais encontrar em muito livro de história sobre o início da organização social, quando havia promiscuidade, todos dormiam juntos. Will Eisner é um profissional com história, com grande destaque no mundo dos quadrinhos. Não deveria ser banido das escolas, mas justamente motivar uma discussão sobre esses assuntos.” RICARDO WOLFFENBÜTTEL studantes de Jornalismo e professores de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul (UCS) realizaram um movimento ontem em repúdio à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou quarta-feira a exigência de diploma para jornalistas trabalharem. O professor Paulo Ribeiro, coordenador do curso de Jornalismo, manifestou preocupação com a ética e a responsabilidade das informações a partir do momento em que pessoas sem formação acadêmica passam a exercer a profissão. Entre as passagens consideradas impróprias pelo governo gaúcho estão a de uma menina que ganha dinheiro de um adulto para exibir o corpo (acima), a de sexo explícito (ao lado) e de um bêbado que bate na mulher e joga um bebê em prantos sobre um sofá (abaixo) SEC poderá recorrer à Justiça contra publicações Protesto por diploma E Mariza Abreu, secretária estadual da Educação “Esse material é inadequado para os adolescentes, para ser usado como material nas escolas, porque acredito que estimula a erotização, o comportamento agressivo, uma percepção inadequada das relações afetivo-sexuais entre essa faixa etária. Por isso, não proibimos, recomendamos que não seja usado, e vamos ver que medidas podemos tomar a partir de agora.” REPRODUÇÕES Pedofilia, estupro e adultério são temas para estudante?