1 A PALAVRA DA CRUZ TEXTO BÁSICO: Mc 15.22-41 TEXTOS PARALELOS: Mt 27.33-56; Lc 23.33-49; Jo 19.17-37 INTRODUÇÃO: Como resultado ator de uma sociedade materialista, o crente tem se tornado insensível a muitas coisas. Antigamente, cenas chocantes de pessoas mutiladas eram evitadas, pois causavam náuseas nos expectadores. Hoje em dia, se não tiver “sangue escorrendo” um filme é tachado de parado, ou, como se diz: “água com açúcar”. A insensibilidade também atinge a alma, fazendo com que eles crentes se tornem espiritualmente cauterizados não só em relação às necessidades e sofrimentos do próximo, mas também, se a qualquer tipo de comoção espiritual procedente do nosso íntimo, como resultado da percepção daquilo que Deus realizou em Cristo ao nosso favor. Não é possível que o crente não seja impactado intimamente, não seja levado à contrição, à reverência, diante da morte de alguém, no seu lugar. É certo que toda aquela agrura mostra a intensidade da nossa miséria e a terrível condenação que pairava sobre nós. Existe muito a se aprender com o testemunho de Jesus na cruz, através das sete frases proferidas quando ele já estava pregado ao madeiro. Vamos a elas ... O Rei Imolado “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34) Logo que Jesus foi pregado à cruz, levantado à vista de todos os que assistiam ao cruel espetáculo, proferiu a frase: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Tal expressão é revestida de profundidade muito grande, pois aponta para a expiação dos nossos pecados que acontece na crucificação. Não devemos entender estas palavras de Jesus como sendo um lamento de simples tristeza, ou, até mesmo, de frustração, como se aquilo que ele veio realizar tivesse, de alguma forma, fracassado.1 Embora os judeus tenham desprezado o próprio Messias prometido quando crucificaram e mataram Jesus, não podemos nos esquecer que foi para este fim que ele veio. Portanto, o teor principal desta petição de Cristo não é o lamento ou a frustração com o seu povo, mas é exatamente o que vemos: uma súplica, um pedido - “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Isso é básico para podermos entender a profundidade da frase. Jesus aqui se apresenta como a vítima imolada, o único sacrifício aceitável a Deus em toda a História, pois os sacrifícios do Antigo Testamento não têm nenhum valor em si mesmos. Eles só se revestem de significado como figuras do único holocausto aceitável a Deus, que é a morte do Cordeiro de Deus que ira o pecado do mundo: Cristo (Jo 1.29).2 Entretanto, além de vítima, Jesus também assume o papel de sacerdote, entregando-se a si mesmo para o sacrifício. Cristo deixou-se morrer pelos nossos pecados, pois sendo Deus, jamais poderia ser submetido pelos homens, a não 2 ser que ele se entregasse para este fim (Jo 10.17-18).3 Com isso, a frase se torna a súplica de um sacerdote que pede ao Pai para que a culpa do pecado praticado pelo povo não recaia sobre aqueles que a merecem. O sacrifício de Cristo é muito maior do que qualquer pecado, capaz de perdoar até mesmo o grande erro de ter matado o próprio Cristo (At 2.36-41).4 Uma última consideração deve ser feita: a vontade do Filho, embora seja independente da do Pai, jamais a contraria, e vice-versa. Isso quer dizer que toda súplica do Filho corresponde exatamente à vontade do Pai, ou seja, toda súplica do Filho é atendida pelo Pai. Assim, temos a expiação dos pecados de todos aqueles que crêem, pois não haveria pecado maior do que matar o próprio Cristo. Ora, sendo este perdoado pelo pedido do próprio Jesus, todos os demais pecados são obviamente perdoados por este sacrifício inigualável (Hb 10.11-18). Está aqui destacado o princípio do pecado na exclamação de Cristo: a ignorância quanto a Deus, sua vontade e seu propósito - “eles não sabem o que fazem”.5 Esta primeira frase que expressa a expiação dos nossos pecados na cruz, é também uma declaração de amor de Jesus para com os seus escolhidos. A Honra do Rei “Mulher, eis aí teu filho ... Eis aí tua mãe” (Jo 19.26, 27) A maravilha da Cruz de Cristo aponta para várias verdades. Agora, vemos Jesus se dirigindo à sua mãe, Maria. É magnífico imaginar esta cena: mesmo pregado à cruz, em profunda dor física e agonia de espírito, Jesus baixa seus olhos e considera o sofrimento de outra pessoa, alguém a quem ele muito amava, sua mãe.6 Prevendo certo desamparo de Maria, percebendo que o apóstolo João, o discípulo amado, a amparava, entregou os cuidados de sua mãe a quem, por ter convivido com ele durante todo o seu ministério, lhe era muito chegado. Sabemos que Jesus tinha meio irmãos e irmãs (Jo 7.5; At 1.14; Mt 12.50) que, entretanto, inicialmente não creram nele (Jo 7.1-9). Vemos o registro deles que foram mais tarde convertidos e integraram a liderança da igreja (Judas e Tiago, autores das epístolas que levam seus nomes). O pai José provavelmente já era morto, pois não se encontra registro dele após a apresentação de Jesus no templo, como uma espécie de treinamento para assumir a maioridade aos treze anos (Lc 2.41-52). Assim, naquele momento de dor e ainda por algum tempo, Maria estaria desamparada, o que levou Jesus a tomar esta atitude, lembrando-se da sua mãe mesmo na hora de sua dor, agonia e morte.7 Vemos aqui Cristo cumprindo o quinto mandamento, honrando sua mãe mesmo naquele momento tão terrível. Reconhecia a sua dívida como filho, em sua humanidade, à Maria. Ela sofreu as dores de parto ao dar à luz a Jesus, o amamentou e cuidou. Circuncidou-o, conforme a lei. Proveu-lhe, enquanto criança e adolescente, de tudo o que era necessário para o seu crescimento e desenvolvimento, exatamente como toda mãe faz com seus filhos, sem contar aquilo de mais importante: o amor. Não podemos nos esquecer que Jesus era verdadeiramente homem também, ou seja, sua divindade não anulava as necessidades da sua humanidade. Pode-se dizer que a encarnação de Jesus foi uma situação anômala, incomum, quando Deus cuidou do Deus encarnado, pela instrumentalidade de homens: José e Maria.8 Mesmo sendo Deus homem, Jesus não desprezou os seus pais, antes, os honrou e os dignificou, demonstrando através desta expressão 3 pendurado no madeiro, seu carinho, consideração e honra por aquela que foi sua mãe. O Rei se Compadece “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43) Novamente, vemos Jesus se preocupando com os homens, a despeito da sua própria situação de dor e sofrimento: preocupou-se com os seus, depois com sua mãe, e agora, responde ao clamor de alguém que se dirigiu a ele com profunda angústia de espírito.9 Cristo estava literalmente no “meio” de uma discussão a seu respeito, crucificado entre dois ladrões: um a sua direita e outro à sua esquerda (Lc 23.33). A figura destes dois ladrões são exemplos do homem natural e do homem atingido pela graça divina. Embora os dois estivessem maldizendo Cristo no início (Mc 15.32), um deles repentinamente mudou de atitude, alcançado pela graça. O primeiro blasfemava de Cristo, dizendo para que salvasse a si mesmo e também a eles. Vê-se claramente o estado de revolta contra Deus, de tentar descontar no Senhor a revolta causada pelos sofrimentos decorrentes dos próprios atos.10 Do outro lado, a repreensão sincera, fruto da consciência da verdade: “Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós na verdade com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez” (Lc 23.40-41). Este reconhece a divindade de Jesus, afirmando estar sob igual sentença, bem como, admite a sua própria culpa, e suplica pelo auxílio divino. Esses são os elementos de uma verdadeira conversão!11 Com a resposta de Cristo, percebemos algumas coisas: 1) um eleito pode ser chamado até nos últimos momentos da sua vida, no leito de morte, mesmo que não tenha tido a oportunidade de experimentar a administração de qualquer dos sacramentos. Também, 2) a realidade da vida eterna imediata. Jesus é enfático afirmando que ainda naquele mesmo dia aquele ladrão convertido estaria com ele no paraíso. Não há interrupção de consciência, como se aqueles que já morreram estivessem em um profundo sono, até o dia do juízo. Também, não há um estágio de purificação, um purgatório, onde vários pecadores haveriam de ser purgados (eliminados) para ser admitido ao céu. Aquele ladrão adentraria à morada celestial ainda naquele dia, e encontraria o próprio Cristo lá.12 Este ladrão “penitente” experimentou os benefícios dos mesmos sofrimentos que ele estava enfrentando, só que de uma vítima inocente, perfeita e sem pecado, o próprio Deus encarnado crucificado ao seu lado. O Rei no Inferno “Eli, Eli, lemá sabactâni, que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46) Este, sem dúvida, é o topo do episódio da crucificação. Ele clama aqui, se dirigindo a Deus em Hebraico (Eli, Eli), prosseguindo a frase em aramaico (Mc 15.34 traz toda a sentença em aramaico - Eloi, Eloi...). Curiosamente, ao clamar Eli, Eli (ou 4 Eloi) num grito de dor e angústia, o momento de maior aflição que Jesus experimentou em sua existência humana, aqueles que estavam por perto confundiram o seu clamor. Entenderam que estava chamando por Elias, devido à semelhança fonética de Eli com Elias (Mt 27.47). Acreditando que Jesus clamava por Elias, logo correram para embeber uma esponja com um tipo de vinagre, que funcionava como anestésico, para que Jesus “demorasse” mais a morrer, para dar um tempo maior a Elias para atendê-lo (vs. 48, 49). Longe de ser um ato de misericórdia, foi um ato de cruel divertimento.13 Não é o mesmo momento de quando Jesus diz “tenho sede”, já próximo do momento de expirar. Neste momento da crucificação, Jesus experimenta o objetivo mais profundo da sua obra sacrificial. Ele recebe no madeiro todo o peso do pecado daqueles que creram no passado, que criam na sua época, e que haveriam de crer nele. Com todo o peso da culpa do pecado do seu povo de todas as épocas sobre si, Deus o abandonou por alguns instantes na cruz. O pecado faz separação entre Deus e os homens e Jesus experimentou a extrema severidade desta verdade neste momento ao ser desamparado por Deus. A presença abençoadora de Deus o deixou para dar lugar à ira de Deus contra o pecado. Jesus estava agora enfrentado o juízo de Deus contra o nosso pecado. Assumiu aquilo que era devido a cada um dos seus, ser abandonado da presença benéfica de Deus. É certo dizer que Jesus experimentou ali na cruz, durante estes momentos, o inferno, pois “inferno” nada mais é do que estar completamente ausente da presença benéfica e abençoadora de Deus tendo como única realidade a ira e do juízo constantes de Deus. Este é o verdadeiro Senhor do inferno, o lugar preparado para o seu juízo eterno sobre aqueles que rejeitaram a vontade soberana.14 Assim, o inferno que era devido a nós por causa do nosso pecado, Jesus assumiu nestes momentos nos quais o Pai se ausentou dele. A consciência disso foi a principal razão da angústia de Jesus no Getsêmani (Mt 26.3646), pois muito pior do que o sofrimento físico da cruz, era a agonia de espírito que lhe estava preparada. O Rei em Sua Humanidade “Tenho sede” (Jo 19.28) A primeira vez que lhe deram a beber um tipo de vinagre, haviam misturado mirra, um tipo de entorpecente (como já vimos anteriormente), fato que provocou a recusa por parte de Jesus Cristo. Ele haveria de sofrer toda a intensidade do sofrimento de nossa condenação sem nenhum atenuante. Agora, faz menção a uma bebida simples, não misturada, e esta Jesus aceita. O “vinagre” era, na verdade, um vinho de péssima qualidade utilizado pelos soldados para “matar a sede”. Lembremo-nos que em época quando não se utilizava cloro, armazenar água em cantis nas longas marchas das legiões romanas tornava-se um criadouro de todos os tipo de bactérias. A bebida alcoólica, por sua vez, é “autoesterilizante”, uma bebida segura. Era de baixa qualidade por ser feita em grande quantidade para os soldados. Essas duas ocorrências, a do anestésico e a do simples vinagre, cumprem o Salmo 69.21: “Por alimento me deram fel, e na minha sede me deram a beber vinagre.” Aqui, vemos Jesus expressando a sua grande humilhação. Já havia sido julgado e condenado injustamente; foi esbofeteado, cuspido, crucificado, e agora estava já 5 quase sem forças, pois a morte já se avizinhava. Aquele que se apresentou como fonte de águas que saciam definitivamente (Jo 4.14) e como fonte que produz abundância (Jo 7.37-38), agora pede por algo que venha saciar a sua própria sede.15 Ainda, vemos também destacada aqui a humanidade de Jesus, algo muito próprio para ser enfatizado já nos tempos do Novo Testamento e até os dias de hoje. Já os apóstolos enfrentaram um ambiente gnóstico, embora o gnosticismo viesse a se manifestar claramente mais tarde. Os gnósticos começaram a ensinar que Jesus não tinha se manifestado em corpo, mas era como um espírito, uma entidade angelical, essencialmente diferente de nós. Entretanto, somente alguém físico, humano, poderia ter sede.16 Sendo o extremo da agonia espiritual o abandono por Deus, agora, demonstrando ter sede, é o prenúncio de que seu corpo estava no limite da resistência física, à beira da morte. O Rei Completa Sua Obra “Está consumado!” (Jo 19.30). Neste momento Jesus tem a clara convicção e certeza que aquilo que devia fazer em favor de seu povo, em obediência a seu Pai, já estava completo. Toda a obra que lhe havia sido confiada foi cabalmente cumprida. Ele sofreu tudo aquilo que era devido ao seu povo, aqueles que o Pai lhe havia dado. Tudo o que era necessário para que a ira de Deus contra o pecado dos homens fosse aplacada, Cristo consumou, assumindo ele mesmo a inteira condenação e culpa, de forma que seu povo agora via concretizada, de uma vez por todas, a remissão, a expiação, a justificação, todos os aspectos da obra vicária (substitutiva) de Cristo.17 A palavra utilizada por Cristo merece nossa atenção em uma breve análise. No grego (língua original do N.T.) a expressão “está consumado” traduz uma única palavra: Τετέλεσται (tetélestai) que é uma declinação do verbo teléo. A idéia deste verbo é a de “levar até o fim”, “cumprir” ou “consumar”. O que deve ser destacado é o tempo verbal que é colocado no grego, que não encontra similar em Português. Estando no tempo perfeito, dá a idéia de algo que veio sendo realizado, até alcançar um cumprimento total e definitivo. Especificamente, quando Jesus proferiu aquele termo no grego (frase no Português), ele quis dizer que tudo o que ele vinha realizando em seu ministério, seu ensinamento, sua vida perfeita vencendo a oposição do mundo e do diabo, a preparação dos seus apóstolos, até sua morte sacrificial, tudo que era para ser feito por ele, havia sido cumprido. Portanto, não diz respeito somente ao seu sacrifício, mas a todo o seu ministério nesta terra. Em um sentido mais amplo, pode-se dizer que a história da salvação foi cumprida. A condução da História por Deus, convergindo todas as coisas para o cumprimento do seu propósito de salvação em Cristo, desde Adão (Gn 3.15), passando por Noé, os patriarcas, a formação do povo, até João Batista, o último personagem do Antigo Testamento, todas as profecias sobre Cristo e sua salvação, se concretizaram.18 Em Cristo, tudo alcança seu cumprimento máximo e absoluto! 6 A Morte do Rei “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lc 23.46) Após ter declarado o cumprimento de todas as coisas, Jesus entrega o seu espírito, morrendo afinal. A agonia de Jesus sobre a cruz foi mais breve do que a dos dois malfeitores que com ele foram crucificados. Isso por causa do desgaste que sofreu durante toda a madrugada, nas várias fases de julgamento e condenação a que foi submetido, bem como aos açoites e outras agressões físicas sofridas.19 Era necessário que Jesus morresse antes do cair da tarde, pois pela lei de Moisés, isso contaminaria a terra (Dt 21.23). Assim, para acelerar a morte, era prática comum dos romanos quebrar as pernas do crucificado. Uma vez pregado à cruz, havia uma espécie de degrau sob os pés do crucificado, para sustentar o peso do corpo. Quebrando-se as pernas, o corpo ficaria pendurado pelos braços, o que fazia com que a respiração fosse extremamente difícil e dolorosa, levando a pessoa a morrer rapidamente. Os dois malfeitores tiveram suas pernas quebradas (Jo 19.32). Porém, quando os soldados foram quebrar as pernas de Jesus perceberam que ele já estava morto, fato confirmado pelo ferimento em seu lado. Ao morrer antes do cair da tarde, cumpriu perfeitamente a analogia com o cordeiro pascal que deveria ser comido sem quebrar nenhum osso, pois Jesus ressuscitaria e assumiria este mesmo corpo, conservando as marcas da cruz (Jo 20.27). Entregou voluntariamente a sua vida para realizar a salvação dos escolhidos. Ele entregou seu espírito nas mãos do Pai, mas como algo de sua própria iniciativa (Jo 10.17-18). Por fim, mais uma vez a humanidade de Jesus é destacada. Jesus não era um corpo humano “possuído” pela divindade da Segunda Pessoa da Trindade. Jesus era a natureza humana da Segunda Pessoa da Trindade. A Trindade jamais ficou sem a Segunda Pessoa, pois mesmo durante a encarnação o Filho continuou como Deus, compondo o Deus Trino. A humanidade do Filho foi somada (não misturada) à divindade, de forma que ele continuou presente em toda parte do universo, sustentando todas as coisas, e ao mesmo tempo, experimentando uma existência humana, como Jesus. Desta forma, quando Cristo rende o seu espírito, ele está entregando o seu espírito humano, parte integrante da sua natureza humana. Sabemos que o homem foi criado corpo e alma (ou espírito). Para assumir a natureza humana, Jesus tinha além do seu corpo físico, um espírito humano, habitado pelo Espírito Santo (como nós hoje), mas ligado indissoluvelmente à sua natureza divina. Jesus entregou soberanamente seu espírito humano ao Pai, pois tinha a clara consciência que sua obra estava completa. CONCLUSÃO: Pudemos perceber claramente que a atitude de Cristo mesmo pendurado no madeiro é para nós grande lição, ensinamento e testemunho. O cristão precisa ter sempre viva em sua mente a memória deste horrível, mas também, maravilhoso acontecimento. Aprender com a Cruz a ser alguém diferente! Nenhum eleito de Deus pode passar despercebido pela cruz, ou mesmo, se acostumar com este acontecimento por causa do tanto falar. A Cruz é o cumprimento máximo e absoluto da nossa salvação. Toda a riqueza da graça de Deus para nós encontra-se em Cristo, 7 em sua vida, obra e sacrifício. Que todos nós aprendamos a ir constantemente ao Calvário, contemplar aquele espetáculo cruel, admitindo que aquilo aconteceu por nossa causa e culpa. Resignados e contritos, ofereçamos nossa vida a Deus, tendo a consciência que nada pode pagar tamanho feito em nosso favor. Rev. Jair de Almeida Júnior. 1 Muitas vezes se destaca apenas o aspecto sofredor de Jesus na cruz, como se ele tivesse fracassado na sua missão. Exatamente o contrário: ele foi vitorioso na cruz, e esta exclamação não pode ser entendida como simples lamento, mas uma súplica. 2 Isso é muito claro já nas páginas do Antigo Testamento. Quando o povo era infiel de alguma forma, os sacrifícios perdiam seu significado, pois passariam a ser realizados sem fé, ou com um tipo de fé errada. Veja os exemplos em Is 1.10-17; Os 6.5-7. 3 Jesus na cruz é tanto a vítima quanto o sacerdote do sacrifício. É um ensinamento valioso da doutrina quanto à salvação. 4 Todo pecado é perdoado em Cristo. O único pecado não perdoado é o pecado contra o Espírito Santo, entendido como a rejeição ao toque do Espírito para a conversão. Rejeitando o oferecimento da salvação por parte do Espírito de Deus, a pessoa vai para o inferno. Por isso, este é o único pecado que não pode ser perdoado (Mt 12.31). 5 Esta súplica de Jesus mostra o caráter expiatório do seu sacrifício. Tal súplica olhada de forma mais ampla abarca todos os pecados dos eleitos, destacando igualmente o grande amor de Deus para conosco por nos salvar ainda como pecadores. 6 Perceba a sensibilidade e a consideração de Jesus para com aqueles que ama: após ter suplicado em favor do povo, de uma forma genérica, agora atenta especificamente para alguém que muito sofria: Maria. Mesmo sob terríveis dores foi capaz de deixar de lado seu próprio sofrimento, para considerar o de outra pessoa. 7 Certamente, Maria se sentia desamparada, “forçada” a presenciar a morte do seu filho primogênito e sem contar com a presença dos outros filhos neste momento de dor e sofrimento indizíveis para uma mãe. 8 Jesus cumpriu toda lei perfeitamente. Aqui vemos a consideração quanto ao quinto mandamento, honrando aquela que foi sua mãe na humanidade. Destaque que, mesmo na infância de sua humanidade, Deus era quem cuidava de Jesus, mesmo através dos seus pais humanos. 9 É espantoso vermos que Jesus sempre atende a suplica do aflito, até sob sofrimentos imensos. 10 Vê-se claramente o estado de revolta contra Deus do homem caído. Ataca a Jesus mesmo às portas do inferno. 11 Este ladrão confessa crer na divindade de Cristo, bem como, expõe a justiça de sua culpa e condenação. Mostra depender de Cristo para ir ao paraíso. 12 Embora em um estado de salvação ainda incompleto, os santos de Deus já habitam o céu. É ainda incompleto, pois estão sem seus corpos. A salvação de Deus é integral: salva o corpo e a alma. Assim, só após o juízo final que experimentaremos a salvação plena. 13 Por se confundirem, achando que Jesus clamava por Elias, queriam prolongar o tempo de vida de Jesus através de algum anestésico, concedendo um tempo maior de resposta a Elias. A atitude deles é compreensível, se lembrarmos que Elias era personagem destacado do A.T., sendo tido como o maior profeta que já houve em Israel (Mt 16.14; Mc 8.28; Lc 9.8). Juntamente com Moisés, eram os expoentes máximos do A.T. para o judaísmo. 14 Muitos crentes são influenciados pelos filmes e desenhos que assistem, onde se dá a ideia que o diabo está no inferno e comanda de lá suas atividades neste mundo, como se fosse seu Q.G.. No entanto, se ele estivesse no inferno, não nos tentaria, pois do inferno ninguém pode sair. O inferno é a “masmorra” de Deus, lugar de prisão e tormentos eternos. Deus é o seu Senhor absoluto, como o é sobre todas as coisas. 15 Essa extrema humilhação é vista quando os homens tem a oportunidade de pensar estar realizando um ato como resultado de pena e dó, tentando aliviar o sofrimento de um moribundo. A cena aqui é de uma demonstração de superioridade do homem sobre o Messias, que estava humilhado, sedento, 8 dependendo do favor humano. Essa humilhação completa já havia sido predita nas Escrituras, e comprova a rejeição completa do Messias por parte dos judeus. 16 Numa época quando seitas panteístas e gnósticas estão alcançando cada vez maior espaço na nossa sociedade, vale apena reafirmar a completa humanidade de Jesus, junto com sua divindade. 17 Este cumprimento diz respeito às obras de Jesus até o seu sacrifício. 18 Duas aplicações da frase: do ponto de vista objetivo, destaca o cumprimento cabal do ministério de Jesus. Do ponto de vista mais amplo, o propósito salvador de Deus em Cristo, formulado desde antes da fundação do mundo (Ef 1.4). 19 Não há relato de que os dois ladrões haviam sido presos e julgados naquela mesma noite, como foi Jesus. Portanto, eles não estavam exaustos daquela terrível noite, livres do desgaste físico decorrente dos ferimentos resultantes de açoites e pancadas. Esta foi a razão “humana” que explica a morte mais rápida de Jesus.