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A PALAVRA DA CRUZ
TEXTO BÁSICO: Mc 15.22-41
TEXTOS PARALELOS: Mt 27.33-56; Lc 23.33-49; Jo 19.17-37
INTRODUÇÃO:
Como resultado ator de uma sociedade materialista, o crente tem se tornado
insensível a muitas coisas. Antigamente, cenas chocantes de pessoas mutiladas eram
evitadas, pois causavam náuseas nos expectadores. Hoje em dia, se não tiver
“sangue escorrendo” um filme é tachado de parado, ou, como se diz: “água com
açúcar”. A insensibilidade também atinge a alma, fazendo com que eles crentes se
tornem espiritualmente cauterizados não só em relação às necessidades e
sofrimentos do próximo, mas também, se a qualquer tipo de comoção espiritual
procedente do nosso íntimo, como resultado da percepção daquilo que Deus
realizou em Cristo ao nosso favor. Não é possível que o crente não seja impactado
intimamente, não seja levado à contrição, à reverência, diante da morte de alguém,
no seu lugar. É certo que toda aquela agrura mostra a intensidade da nossa miséria e
a terrível condenação que pairava sobre nós. Existe muito a se aprender com o
testemunho de Jesus na cruz, através das sete frases proferidas quando ele já estava
pregado ao madeiro. Vamos a elas ...
O Rei Imolado
“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34)
Logo que Jesus foi pregado à cruz, levantado à vista de todos os que assistiam
ao cruel espetáculo, proferiu a frase: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem.” Tal expressão é revestida de profundidade muito grande, pois aponta para a
expiação dos nossos pecados que acontece na crucificação. Não devemos entender
estas palavras de Jesus como sendo um lamento de simples tristeza, ou, até mesmo,
de frustração, como se aquilo que ele veio realizar tivesse, de alguma forma,
fracassado.1 Embora os judeus tenham desprezado o próprio Messias prometido
quando crucificaram e mataram Jesus, não podemos nos esquecer que foi para este
fim que ele veio. Portanto, o teor principal desta petição de Cristo não é o lamento
ou a frustração com o seu povo, mas é exatamente o que vemos: uma súplica, um
pedido - “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”
Isso é básico para podermos entender a profundidade da frase. Jesus aqui se
apresenta como a vítima imolada, o único sacrifício aceitável a Deus em toda a
História, pois os sacrifícios do Antigo Testamento não têm nenhum valor em si
mesmos. Eles só se revestem de significado como figuras do único holocausto
aceitável a Deus, que é a morte do Cordeiro de Deus que ira o pecado do mundo:
Cristo (Jo 1.29).2 Entretanto, além de vítima, Jesus também assume o papel de
sacerdote, entregando-se a si mesmo para o sacrifício. Cristo deixou-se morrer pelos
nossos pecados, pois sendo Deus, jamais poderia ser submetido pelos homens, a não
2
ser que ele se entregasse para este fim (Jo 10.17-18).3 Com isso, a frase se torna a
súplica de um sacerdote que pede ao Pai para que a culpa do pecado praticado pelo
povo não recaia sobre aqueles que a merecem. O sacrifício de Cristo é muito maior
do que qualquer pecado, capaz de perdoar até mesmo o grande erro de ter matado
o próprio Cristo (At 2.36-41).4 Uma última consideração deve ser feita: a vontade do
Filho, embora seja independente da do Pai, jamais a contraria, e vice-versa. Isso quer
dizer que toda súplica do Filho corresponde exatamente à vontade do Pai, ou seja,
toda súplica do Filho é atendida pelo Pai. Assim, temos a expiação dos pecados de
todos aqueles que crêem, pois não haveria pecado maior do que matar o próprio
Cristo. Ora, sendo este perdoado pelo pedido do próprio Jesus, todos os demais
pecados são obviamente perdoados por este sacrifício inigualável (Hb 10.11-18). Está
aqui destacado o princípio do pecado na exclamação de Cristo: a ignorância quanto a
Deus, sua vontade e seu propósito - “eles não sabem o que fazem”.5 Esta primeira
frase que expressa a expiação dos nossos pecados na cruz, é também uma
declaração de amor de Jesus para com os seus escolhidos.
A Honra do Rei
“Mulher, eis aí teu filho ... Eis aí tua mãe” (Jo 19.26, 27)
A maravilha da Cruz de Cristo aponta para várias verdades. Agora, vemos
Jesus se dirigindo à sua mãe, Maria. É magnífico imaginar esta cena: mesmo pregado
à cruz, em profunda dor física e agonia de espírito, Jesus baixa seus olhos e considera
o sofrimento de outra pessoa, alguém a quem ele muito amava, sua mãe.6 Prevendo
certo desamparo de Maria, percebendo que o apóstolo João, o discípulo amado, a
amparava, entregou os cuidados de sua mãe a quem, por ter convivido com ele
durante todo o seu ministério, lhe era muito chegado. Sabemos que Jesus tinha meio
irmãos e irmãs (Jo 7.5; At 1.14; Mt 12.50) que, entretanto, inicialmente não creram
nele (Jo 7.1-9). Vemos o registro deles que foram mais tarde convertidos e
integraram a liderança da igreja (Judas e Tiago, autores das epístolas que levam seus
nomes). O pai José provavelmente já era morto, pois não se encontra registro dele
após a apresentação de Jesus no templo, como uma espécie de treinamento para
assumir a maioridade aos treze anos (Lc 2.41-52). Assim, naquele momento de dor e
ainda por algum tempo, Maria estaria desamparada, o que levou Jesus a tomar esta
atitude, lembrando-se da sua mãe mesmo na hora de sua dor, agonia e morte.7
Vemos aqui Cristo cumprindo o quinto mandamento, honrando sua mãe
mesmo naquele momento tão terrível. Reconhecia a sua dívida como filho, em sua
humanidade, à Maria. Ela sofreu as dores de parto ao dar à luz a Jesus, o amamentou
e cuidou. Circuncidou-o, conforme a lei. Proveu-lhe, enquanto criança e adolescente,
de tudo o que era necessário para o seu crescimento e desenvolvimento,
exatamente como toda mãe faz com seus filhos, sem contar aquilo de mais
importante: o amor. Não podemos nos esquecer que Jesus era verdadeiramente
homem também, ou seja, sua divindade não anulava as necessidades da sua
humanidade. Pode-se dizer que a encarnação de Jesus foi uma situação anômala,
incomum, quando Deus cuidou do Deus encarnado, pela instrumentalidade de
homens: José e Maria.8 Mesmo sendo Deus homem, Jesus não desprezou os seus
pais, antes, os honrou e os dignificou, demonstrando através desta expressão
3
pendurado no madeiro, seu carinho, consideração e honra por aquela que foi sua
mãe.
O Rei se Compadece
“Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc
23.43)
Novamente, vemos Jesus se preocupando com os homens, a despeito da sua
própria situação de dor e sofrimento: preocupou-se com os seus, depois com sua
mãe, e agora, responde ao clamor de alguém que se dirigiu a ele com profunda
angústia de espírito.9 Cristo estava literalmente no “meio” de uma discussão a seu
respeito, crucificado entre dois ladrões: um a sua direita e outro à sua esquerda (Lc
23.33). A figura destes dois ladrões são exemplos do homem natural e do homem
atingido pela graça divina. Embora os dois estivessem maldizendo Cristo no início
(Mc 15.32), um deles repentinamente mudou de atitude, alcançado pela graça. O
primeiro blasfemava de Cristo, dizendo para que salvasse a si mesmo e também a
eles. Vê-se claramente o estado de revolta contra Deus, de tentar descontar no
Senhor a revolta causada pelos sofrimentos decorrentes dos próprios atos.10 Do
outro lado, a repreensão sincera, fruto da consciência da verdade: “Nem ao menos
temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós na verdade com justiça, porque
recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez” (Lc
23.40-41). Este reconhece a divindade de Jesus, afirmando estar sob igual sentença,
bem como, admite a sua própria culpa, e suplica pelo auxílio divino. Esses são os
elementos de uma verdadeira conversão!11
Com a resposta de Cristo, percebemos algumas coisas: 1) um eleito pode ser
chamado até nos últimos momentos da sua vida, no leito de morte, mesmo que não
tenha tido a oportunidade de experimentar a administração de qualquer dos
sacramentos. Também, 2) a realidade da vida eterna imediata. Jesus é enfático
afirmando que ainda naquele mesmo dia aquele ladrão convertido estaria com ele
no paraíso. Não há interrupção de consciência, como se aqueles que já morreram
estivessem em um profundo sono, até o dia do juízo. Também, não há um estágio de
purificação, um purgatório, onde vários pecadores haveriam de ser purgados
(eliminados) para ser admitido ao céu. Aquele ladrão adentraria à morada celestial
ainda naquele dia, e encontraria o próprio Cristo lá.12 Este ladrão “penitente”
experimentou os benefícios dos mesmos sofrimentos que ele estava enfrentando, só
que de uma vítima inocente, perfeita e sem pecado, o próprio Deus encarnado
crucificado ao seu lado.
O Rei no Inferno
“Eli, Eli, lemá sabactâni, que quer dizer: Deus meu, Deus meu,
por que me desamparaste?” (Mt 27.46)
Este, sem dúvida, é o topo do episódio da crucificação. Ele clama aqui, se
dirigindo a Deus em Hebraico (Eli, Eli), prosseguindo a frase em aramaico (Mc 15.34
traz toda a sentença em aramaico - Eloi, Eloi...). Curiosamente, ao clamar Eli, Eli (ou
4
Eloi) num grito de dor e angústia, o momento de maior aflição que Jesus
experimentou em sua existência humana, aqueles que estavam por perto
confundiram o seu clamor. Entenderam que estava chamando por Elias, devido à
semelhança fonética de Eli com Elias (Mt 27.47). Acreditando que Jesus clamava por
Elias, logo correram para embeber uma esponja com um tipo de vinagre, que
funcionava como anestésico, para que Jesus “demorasse” mais a morrer, para dar
um tempo maior a Elias para atendê-lo (vs. 48, 49). Longe de ser um ato de
misericórdia, foi um ato de cruel divertimento.13 Não é o mesmo momento de
quando Jesus diz “tenho sede”, já próximo do momento de expirar.
Neste momento da crucificação, Jesus experimenta o objetivo mais profundo
da sua obra sacrificial. Ele recebe no madeiro todo o peso do pecado daqueles que
creram no passado, que criam na sua época, e que haveriam de crer nele. Com todo
o peso da culpa do pecado do seu povo de todas as épocas sobre si, Deus o
abandonou por alguns instantes na cruz. O pecado faz separação entre Deus e os
homens e Jesus experimentou a extrema severidade desta verdade neste momento
ao ser desamparado por Deus. A presença abençoadora de Deus o deixou para dar
lugar à ira de Deus contra o pecado. Jesus estava agora enfrentado o juízo de Deus
contra o nosso pecado. Assumiu aquilo que era devido a cada um dos seus, ser
abandonado da presença benéfica de Deus. É certo dizer que Jesus experimentou ali
na cruz, durante estes momentos, o inferno, pois “inferno” nada mais é do que estar
completamente ausente da presença benéfica e abençoadora de Deus tendo como
única realidade a ira e do juízo constantes de Deus. Este é o verdadeiro Senhor do
inferno, o lugar preparado para o seu juízo eterno sobre aqueles que rejeitaram a
vontade soberana.14 Assim, o inferno que era devido a nós por causa do nosso
pecado, Jesus assumiu nestes momentos nos quais o Pai se ausentou dele. A
consciência disso foi a principal razão da angústia de Jesus no Getsêmani (Mt 26.3646), pois muito pior do que o sofrimento físico da cruz, era a agonia de espírito que
lhe estava preparada.
O Rei em Sua Humanidade
“Tenho sede” (Jo 19.28)
A primeira vez que lhe deram a beber um tipo de vinagre, haviam misturado
mirra, um tipo de entorpecente (como já vimos anteriormente), fato que provocou a
recusa por parte de Jesus Cristo. Ele haveria de sofrer toda a intensidade do
sofrimento de nossa condenação sem nenhum atenuante. Agora, faz menção a uma
bebida simples, não misturada, e esta Jesus aceita. O “vinagre” era, na verdade, um
vinho de péssima qualidade utilizado pelos soldados para “matar a sede”.
Lembremo-nos que em época quando não se utilizava cloro, armazenar água em
cantis nas longas marchas das legiões romanas tornava-se um criadouro de todos os
tipo de bactérias. A bebida alcoólica, por sua vez, é “autoesterilizante”, uma bebida
segura. Era de baixa qualidade por ser feita em grande quantidade para os soldados.
Essas duas ocorrências, a do anestésico e a do simples vinagre, cumprem o Salmo
69.21: “Por alimento me deram fel, e na minha sede me deram a beber vinagre.”
Aqui, vemos Jesus expressando a sua grande humilhação. Já havia sido julgado e
condenado injustamente; foi esbofeteado, cuspido, crucificado, e agora estava já
5
quase sem forças, pois a morte já se avizinhava. Aquele que se apresentou como
fonte de águas que saciam definitivamente (Jo 4.14) e como fonte que produz
abundância (Jo 7.37-38), agora pede por algo que venha saciar a sua própria sede.15
Ainda, vemos também destacada aqui a humanidade de Jesus, algo muito
próprio para ser enfatizado já nos tempos do Novo Testamento e até os dias de hoje.
Já os apóstolos enfrentaram um ambiente gnóstico, embora o gnosticismo viesse a
se manifestar claramente mais tarde. Os gnósticos começaram a ensinar que Jesus
não tinha se manifestado em corpo, mas era como um espírito, uma entidade
angelical, essencialmente diferente de nós. Entretanto, somente alguém físico,
humano, poderia ter sede.16 Sendo o extremo da agonia espiritual o abandono por
Deus, agora, demonstrando ter sede, é o prenúncio de que seu corpo estava no
limite da resistência física, à beira da morte.
O Rei Completa Sua Obra
“Está consumado!” (Jo 19.30).
Neste momento Jesus tem a clara convicção e certeza que aquilo que devia
fazer em favor de seu povo, em obediência a seu Pai, já estava completo. Toda a
obra que lhe havia sido confiada foi cabalmente cumprida. Ele sofreu tudo aquilo
que era devido ao seu povo, aqueles que o Pai lhe havia dado. Tudo o que era
necessário para que a ira de Deus contra o pecado dos homens fosse aplacada,
Cristo consumou, assumindo ele mesmo a inteira condenação e culpa, de forma que
seu povo agora via concretizada, de uma vez por todas, a remissão, a expiação, a
justificação, todos os aspectos da obra vicária (substitutiva) de Cristo.17
A palavra utilizada por Cristo merece nossa atenção em uma breve análise.
No grego (língua original do N.T.) a expressão “está consumado” traduz uma única
palavra: Τετέλεσται (tetélestai) que é uma declinação do verbo teléo. A idéia deste
verbo é a de “levar até o fim”, “cumprir” ou “consumar”. O que deve ser destacado é
o tempo verbal que é colocado no grego, que não encontra similar em Português.
Estando no tempo perfeito, dá a idéia de algo que veio sendo realizado, até alcançar
um cumprimento total e definitivo. Especificamente, quando Jesus proferiu aquele
termo no grego (frase no Português), ele quis dizer que tudo o que ele vinha
realizando em seu ministério, seu ensinamento, sua vida perfeita vencendo a
oposição do mundo e do diabo, a preparação dos seus apóstolos, até sua morte
sacrificial, tudo que era para ser feito por ele, havia sido cumprido. Portanto, não diz
respeito somente ao seu sacrifício, mas a todo o seu ministério nesta terra. Em um
sentido mais amplo, pode-se dizer que a história da salvação foi cumprida. A
condução da História por Deus, convergindo todas as coisas para o cumprimento do
seu propósito de salvação em Cristo, desde Adão (Gn 3.15), passando por Noé, os
patriarcas, a formação do povo, até João Batista, o último personagem do Antigo
Testamento, todas as profecias sobre Cristo e sua salvação, se concretizaram.18 Em
Cristo, tudo alcança seu cumprimento máximo e absoluto!
6
A Morte do Rei
“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lc 23.46)
Após ter declarado o cumprimento de todas as coisas, Jesus entrega o seu
espírito, morrendo afinal. A agonia de Jesus sobre a cruz foi mais breve do que a dos
dois malfeitores que com ele foram crucificados. Isso por causa do desgaste que
sofreu durante toda a madrugada, nas várias fases de julgamento e condenação a
que foi submetido, bem como aos açoites e outras agressões físicas sofridas.19 Era
necessário que Jesus morresse antes do cair da tarde, pois pela lei de Moisés, isso
contaminaria a terra (Dt 21.23). Assim, para acelerar a morte, era prática comum dos
romanos quebrar as pernas do crucificado. Uma vez pregado à cruz, havia uma
espécie de degrau sob os pés do crucificado, para sustentar o peso do corpo.
Quebrando-se as pernas, o corpo ficaria pendurado pelos braços, o que fazia com
que a respiração fosse extremamente difícil e dolorosa, levando a pessoa a morrer
rapidamente. Os dois malfeitores tiveram suas pernas quebradas (Jo 19.32). Porém,
quando os soldados foram quebrar as pernas de Jesus perceberam que ele já estava
morto, fato confirmado pelo ferimento em seu lado. Ao morrer antes do cair da
tarde, cumpriu perfeitamente a analogia com o cordeiro pascal que deveria ser
comido sem quebrar nenhum osso, pois Jesus ressuscitaria e assumiria este mesmo
corpo, conservando as marcas da cruz (Jo 20.27). Entregou voluntariamente a sua
vida para realizar a salvação dos escolhidos. Ele entregou seu espírito nas mãos do
Pai, mas como algo de sua própria iniciativa (Jo 10.17-18).
Por fim, mais uma vez a humanidade de Jesus é destacada. Jesus não era um
corpo humano “possuído” pela divindade da Segunda Pessoa da Trindade. Jesus era
a natureza humana da Segunda Pessoa da Trindade. A Trindade jamais ficou sem a
Segunda Pessoa, pois mesmo durante a encarnação o Filho continuou como Deus,
compondo o Deus Trino. A humanidade do Filho foi somada (não misturada) à
divindade, de forma que ele continuou presente em toda parte do universo,
sustentando todas as coisas, e ao mesmo tempo, experimentando uma existência
humana, como Jesus. Desta forma, quando Cristo rende o seu espírito, ele está
entregando o seu espírito humano, parte integrante da sua natureza humana.
Sabemos que o homem foi criado corpo e alma (ou espírito). Para assumir a natureza
humana, Jesus tinha além do seu corpo físico, um espírito humano, habitado pelo
Espírito Santo (como nós hoje), mas ligado indissoluvelmente à sua natureza divina.
Jesus entregou soberanamente seu espírito humano ao Pai, pois tinha a clara
consciência que sua obra estava completa.
CONCLUSÃO:
Pudemos perceber claramente que a atitude de Cristo mesmo pendurado no
madeiro é para nós grande lição, ensinamento e testemunho. O cristão precisa ter
sempre viva em sua mente a memória deste horrível, mas também, maravilhoso
acontecimento. Aprender com a Cruz a ser alguém diferente! Nenhum eleito de
Deus pode passar despercebido pela cruz, ou mesmo, se acostumar com este
acontecimento por causa do tanto falar. A Cruz é o cumprimento máximo e absoluto
da nossa salvação. Toda a riqueza da graça de Deus para nós encontra-se em Cristo,
7
em sua vida, obra e sacrifício. Que todos nós aprendamos a ir constantemente ao
Calvário, contemplar aquele espetáculo cruel, admitindo que aquilo aconteceu por
nossa causa e culpa. Resignados e contritos, ofereçamos nossa vida a Deus, tendo a
consciência que nada pode pagar tamanho feito em nosso favor.
Rev. Jair de Almeida Júnior.
1
Muitas vezes se destaca apenas o aspecto sofredor de Jesus na cruz, como se ele tivesse fracassado
na sua missão. Exatamente o contrário: ele foi vitorioso na cruz, e esta exclamação não pode ser
entendida como simples lamento, mas uma súplica.
2
Isso é muito claro já nas páginas do Antigo Testamento. Quando o povo era infiel de alguma forma,
os sacrifícios perdiam seu significado, pois passariam a ser realizados sem fé, ou com um tipo de fé
errada. Veja os exemplos em Is 1.10-17; Os 6.5-7.
3
Jesus na cruz é tanto a vítima quanto o sacerdote do sacrifício. É um ensinamento valioso da
doutrina quanto à salvação.
4
Todo pecado é perdoado em Cristo. O único pecado não perdoado é o pecado contra o Espírito
Santo, entendido como a rejeição ao toque do Espírito para a conversão. Rejeitando o oferecimento
da salvação por parte do Espírito de Deus, a pessoa vai para o inferno. Por isso, este é o único pecado
que não pode ser perdoado (Mt 12.31).
5
Esta súplica de Jesus mostra o caráter expiatório do seu sacrifício. Tal súplica olhada de forma mais
ampla abarca todos os pecados dos eleitos, destacando igualmente o grande amor de Deus para
conosco por nos salvar ainda como pecadores.
6
Perceba a sensibilidade e a consideração de Jesus para com aqueles que ama: após ter suplicado em
favor do povo, de uma forma genérica, agora atenta especificamente para alguém que muito sofria:
Maria. Mesmo sob terríveis dores foi capaz de deixar de lado seu próprio sofrimento, para considerar
o de outra pessoa.
7
Certamente, Maria se sentia desamparada, “forçada” a presenciar a morte do seu filho primogênito
e sem contar com a presença dos outros filhos neste momento de dor e sofrimento indizíveis para
uma mãe.
8
Jesus cumpriu toda lei perfeitamente. Aqui vemos a consideração quanto ao quinto mandamento,
honrando aquela que foi sua mãe na humanidade. Destaque que, mesmo na infância de sua
humanidade, Deus era quem cuidava de Jesus, mesmo através dos seus pais humanos.
9
É espantoso vermos que Jesus sempre atende a suplica do aflito, até sob sofrimentos imensos.
10
Vê-se claramente o estado de revolta contra Deus do homem caído. Ataca a Jesus mesmo às portas
do inferno.
11
Este ladrão confessa crer na divindade de Cristo, bem como, expõe a justiça de sua culpa e
condenação. Mostra depender de Cristo para ir ao paraíso.
12
Embora em um estado de salvação ainda incompleto, os santos de Deus já habitam o céu. É ainda
incompleto, pois estão sem seus corpos. A salvação de Deus é integral: salva o corpo e a alma. Assim,
só após o juízo final que experimentaremos a salvação plena.
13
Por se confundirem, achando que Jesus clamava por Elias, queriam prolongar o tempo de vida de
Jesus através de algum anestésico, concedendo um tempo maior de resposta a Elias. A atitude deles é
compreensível, se lembrarmos que Elias era personagem destacado do A.T., sendo tido como o maior
profeta que já houve em Israel (Mt 16.14; Mc 8.28; Lc 9.8). Juntamente com Moisés, eram os
expoentes máximos do A.T. para o judaísmo.
14
Muitos crentes são influenciados pelos filmes e desenhos que assistem, onde se dá a ideia que o
diabo está no inferno e comanda de lá suas atividades neste mundo, como se fosse seu Q.G.. No
entanto, se ele estivesse no inferno, não nos tentaria, pois do inferno ninguém pode sair. O inferno é
a “masmorra” de Deus, lugar de prisão e tormentos eternos. Deus é o seu Senhor absoluto, como o é
sobre todas as coisas.
15
Essa extrema humilhação é vista quando os homens tem a oportunidade de pensar estar realizando
um ato como resultado de pena e dó, tentando aliviar o sofrimento de um moribundo. A cena aqui é
de uma demonstração de superioridade do homem sobre o Messias, que estava humilhado, sedento,
8
dependendo do favor humano. Essa humilhação completa já havia sido predita nas Escrituras, e
comprova a rejeição completa do Messias por parte dos judeus.
16
Numa época quando seitas panteístas e gnósticas estão alcançando cada vez maior espaço na nossa
sociedade, vale apena reafirmar a completa humanidade de Jesus, junto com sua divindade.
17
Este cumprimento diz respeito às obras de Jesus até o seu sacrifício.
18
Duas aplicações da frase: do ponto de vista objetivo, destaca o cumprimento cabal do ministério de
Jesus. Do ponto de vista mais amplo, o propósito salvador de Deus em Cristo, formulado desde antes
da fundação do mundo (Ef 1.4).
19
Não há relato de que os dois ladrões haviam sido presos e julgados naquela mesma noite, como foi
Jesus. Portanto, eles não estavam exaustos daquela terrível noite, livres do desgaste físico decorrente
dos ferimentos resultantes de açoites e pancadas. Esta foi a razão “humana” que explica a morte mais
rápida de Jesus.
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