Ao Pé da Cruz
Página de Espiritualidade Passionista
FPB – Ano IX – Número 88
VIRGEM DAS DORES, RAINHA DOS MÀRTIRES.
O amado do Pai associou sua Mãe, a todas as suas glórias e grandezas e por isso fez também
companheira de todos os seus sofrimentos. Jesus Cristo quis que Sua Mãe
fosse Rainha dos Mártires. Foi Rainha da dor e do martírio. E seu martírio
durou toda a sua vida. Maria sentia muito bem pelas santas profecias do
Velho Testamento a respeito do Messias, que era o seu Filho. Quanto sofreu
com a ingratidão, a traição, o abandono, o desamor de que foi alvo o seu
filho. Uma espada de dor transpassará a tua alma (Lc 2, 35).
A devoção a Nossa Senhora das Dores possui fundamentos bíblicos,
pois é na Palavra de Deus que encontramos as sete dores de Maria: o velho
Simeão, que profetiza a lança que transpassaria (de dor) o seu Coração
Imaculado; a fuga para o Egito; a perda do Menino Jesus; a Paixão do
Senhor; crucifixão, morte e sepultura de Jesus Cristo. São lugares onde o
seu coração se despedaçou tantas vezes!
A dor corresponde ao amor. Em outras palavras: onde há mais amor, maior a dor. O amor de
Maria Santíssima era um amor de Mãe. Caríssimo com isto está tudo dito! Amor de mãe é o amor mais
puro, mais nobre, menos egoísta que na terra existe. Por isso Deus não quis que tivéssemos mais do
que uma; ela só basta para encher toda a nossa existência de carinhos inefáveis.
Nós Passionistas, como, a Igreja, não recordamos as dores de Nossa Senhora somente pelo
sofrimento em si, mas sim, porque também, pelas dores oferecidas, a Santíssima Virgem participou
ativamente da Redenção de Cristo. Desta forma, Maria, imagem da Igreja, está nos apontando para
uma Nova Vida, que não significa ausência de sofrimentos, mas sim, oblação de si para uma civilização
do Amor.
“Maria minha terna mãe, gravai meu coração, nas chagas de Jesus Crucificado”.
Sandoval Dias, CP.
Experiência de vida
Maria junto à Cruz de Jesus: inspiradora de ternura e misericórdia
Neste ano dedicado à Vida Consagrada somos convidadas (os) a
reavivar nossos sonhos, fortalecer nossa esperança e abrir nossos corações
para o Novo de Deus que nos convoca a uma “revolução da ternura” para que
nosso ser Passionista possa ser manifestação do amor misericordioso de
Deus.
Maria junto a Cruz de Jesus nos revela a ternura de seu coração
misericordioso que acolhe no discípulo amado as dores e misérias de toda a
humanidade que se afasta do amor de Deus, buscando caminhos contrários ao seu Plano de Salvação.
“Mulher, aí tens a teu filho” (Jo 19,26).
Pensemos em tantos filhos (as) que não experimentam esse amor de Deus por estarem feridos
em sua humanidade, em sua dignidade. Contemplemos a dor, a solidão, o vazio de tantas pessoas que
nunca sentiram essa presença materna, como também o abraço, a proximidade, o afeto que aquece o
coração, que dá sentido à vida. Como acolho essa realidade? Minhas atitudes são expressão de
ternura, proximidade, fraternidade?
Papa Francisco em sua convocação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia nos recorda que,
como Igreja, temos a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração palpitante do Evangelho, que
deve alcançar a mente e o coração de toda pessoa. Nos tempos atuais, o tema da misericórdia exige
ser proposto uma vez mais com novo entusiasmo e com uma renovada ação pastoral. Sua linguagem e
seus gestos devem transmitir misericórdia para penetrar o coração das pessoas e motiva-las para
reencontrar o caminho de volta ao Pai (MV 12).
Só podemos ser anunciadores de misericórdia, se estamos abertos ao amor misericordioso de
Deus que nos torna capazes de acolher com serenidade nossas fraquezas e limitações, tomando
consciência de que Deus nos chama a um processo permanente de conversão, de cura, de integração.
Somos conscientes de que o caminho do discipulado está marcado por tentações, omissões, medos,
infidelidades... trazemos em nosso coração as marcas da história que nem sempre são gloriosas. “Ai
está tua Mãe” (Cf. Jo 19,27). Acolhamos com humildade nossa humanidade necessitada de
compreensão, de acolhida, de apoio. Deixemo-nos abraçar pela ternura dessa Mãe para que nossa vida
seja anuncio de misericórdia, de fortaleza, de esperança.
Contemplando Maria junto à Cruz de Jesus nos sentimos interpelados ao cuidado, à vigilância
no cultivo das relações com Deus e com os irmãos, aspecto fundamental para um testemunho
qualificado de nossa pertença a Deus. Que nos inspira essa contemplação?
Na relação com Deus somos convocados a renovar a nossa entrega oblativa, com os olhos fixos
no Senhor que nos amou por primeiro, nos consagrou e nos envia a servir o seu povo. Ofertar a nossa
vida, os nossos dons, associando-nos à oferta Redentora de Jesus e de Maria. Acolher agradecidos
essa possibilidade que Deus nos oferece para sermos instrumentos de seu amor que cura, liberta e
salva. Levar salvação, consolação e paz a tantos corações necessitados, marcados pelo abandono,
pela desesperança, pela falta de sentido da vida. Renovemos nossa fé e nos alegremos porque Deus
nos dá essa graça de sermos co-redentores.
A atitude serena, firme e confiante de Maria junto a Cruz de Jesus nos impulsiona a reavivar
nossa vocação de anunciadores da esperança, da vitória que brota da Cruz de Cristo. Somos
conscientes de que somos afetados pela dura realidade social e muitas vezes nos deixamos abater
pelos acontecimentos marcados pela corrupção, pela violência, pelo desrespeito à vida, pelos sinais da
morte que parecem mais fortes que a vida.
Papa Francisco nos recorda que uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia
é a sensação de derrota que nos transforma em pessoas pessimistas e desencantadas. Ninguém pode
empreender uma luta, se de antemão não está plenamente confiado no triunfo. Quem começa sem
confiança, perdeu de antemão metade da batalha e enterra os seus talentos. A Cruz é nosso estandarte
de vitória, de triunfo. Da cruz de Jesus emana esta força que necessitamos para batalhar com ternura
contra as investidas do mal. (Cf. EG 85). Como estou comunicando minha paixão pela vida, paixão por
Jesus, paixão pela humanidade? Sou presença de esperança?
O tema das relações humanas é também um elemento essencial para dar visibilidade à nossa
opção por Jesus Cristo. Como Passionistas somos convidados a contemplar a comunidade de Betânia,
para sermos casa de encontro, comunidade de amor e coração de humanidade. Contemplemos essa
acolhida recíproca da Mãe e do Discípulo. Ambos estão afetados pela dor, pela perda e se unem na
compaixão, na solidariedade com toda a humanidade.
Constatamos muito sofrimento e limitações nas relações familiares, sociais, em nível de Igreja e
em nossas comunidades religiosas. O mau uso dos meios de comunicação social, muitas vezes nos
torna pessoas indiferentes, insensíveis, pobres de afeto, de ternura e de humanização. A qualidade no
mundo das relações humanas deixa muito a desejar e causa muita dor.
O mundo atual nos impõe atitudes defensivas. A vivência do Evangelho sempre nos desafia a
superar a desconfiança permanente, o medo de sermos invadidos. Muitas vezes somos tentados a
escapar dos outros fechando-nos em nossa privacidade confortável ou no círculo reduzido dos mais
íntimos. Entretanto o Evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do
outro, com a sua presença física que interpela, com os seus sofrimentos e suas reivindicações, com a
sua alegria contagiosa permanecendo lado a lado (Cf. EG 88).
“E desde aquele momento o discípulo a levou para a sua casa”. Maria é nossa inspiradora no
cultivo de novas relações e na vivência da misericórdia. A humanidade tem sede de experimentar
acolhida nesta casa de encontro, nesta comunidade de amor e coração de humanidade, que por
vocação e graça de Deus somos chamados a ser. Como Passionistas somos enviados ao encontro com
tantas pessoas que necessitam nossa proximidade, nosso abraço, nossa escuta, nossa ternura.
Ir. Célia Aparecida Bahú, CP.
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