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Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
Ardor em firme coração nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Tu, que em um peito abrasas escondido,
Tu, que em um rosto corres desatado,
Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.
Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai! Que andou Amor em ti prudente.
Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.
Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu, parecesse a chama fria.
Luís de Camões
Gregório de Matos Guerra
Luís Vaz de Camões e Gregório de Matos Guerra são autores separados no tempo (o primeiro é do século XVI e o
segundo, do século XVII), mas que partilham uma tradição poética que por vezes os aproxima. Leia os sonetos
anteriores e reponda.
a) Os dois sonetos fazem referência à experiência amorosa de maneira geral e pode-se perceber que há afinidades
entre eles quando descrevem as reações que o amor provoca. Aponte essas afinidades com um (1) trecho de cada
soneto. (2 pontos)
b) Gregório de Matos Guerra, poeta baiano do século XVII, retoma uma imagem do soneto camoniano. Transcreva
essa imagem. (1,5 pontos)
c) Explique o sentido do verso 11 do soneto de Gregório de Matos Guerra. (1,5 pontos)
RESOLUÇÃO ESPERADA
a) A afinidade dos sonetos está no jogo semântico das palavras, que mostram a contadição do amor. O conflito desses
sentimentos, percebe-se noa trechos: “Que em vivo ardor tremento estou de frio / sem causa, juntamente choro e rio”,
“Quando fogo em restais aprisionado / Quando cristal em chamas derretido”.
b) Gregório de Matos retoma dois elementos que são comparados ao amor: fogo (associado a ardor, incêndio, chama...) e água (frio, rio, pranto, neve...). Essa imagem do soneto aminiano fica claro no trecho: “Rio de neve em fogo
convertido.”
c) No verso citado, Gregório de Matos “conversa com o amor, visto que o ‘A’ maiúsculo da palavra foi usado para
personificar tal sentimento. O autor questiona-o valando-se da razão, e não emoção, e tenta buscar entendê-lo com
prudência.
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