http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/12/111201_entrevistaheinz_jc.shtml
Segurança na Copa deve treinar policiais
amigáveis, diz especialista
Júlia Dias Carneiro
Da BBC Brasil no Rio de Janeiro
Atualizado em 2 de dezembro, 2011 - 06:29 (Brasília) 08:29 GMT
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Torcidas na África do Sul, em 2010; para consultor, equipes que os atendem devem ser bem
treinadas
Assaltos e furtos são o maior risco para o Brasil na Copa, mas o país deve
buscar não apenas prevenir crimes, mas também treinar policiais e monitores
para lidar com torcedores de maneira amigável, diz Heinz Palme, do Centro
Internacional para Segurança no Esporte (ICSS).
Coordenador-geral do Comitê Organizador da Alemanha durante a Copa de 2006, Palme afirma
que o planejamento de segurança para o mundial no Brasil envolverá desafios como treinar
milhares de monitores para os estádios, transmitir uma filosofia do evento para a polícia e reduzir
índices criminais.
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"A segurança também deve ser um legado. Ter a Copa do Mundo dentro do país significa que você
cria um ambiente positivo, e isso deve permanecer durante os anos seguintes", disse Palme em
entrevista à BBC Brasil durante a Soccerex, a Feira de Negócios do Futebol.
O austríaco é diretor de desenvolvimento de negócios do ICSS, organização sem fins lucrativos
criada em março deste ano para reunir informações e experiências sobre a segurança em grandes
eventos esportivos e prestar consultoria na área.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Quando se pensa no planejamento de segurança, quais os desafios específicos de uma Copa
do Mundo?
São a dimensão do evento. Vocês terão 12 cidades-sede espalhadas por todo o país que
precisarão desenvolver um conceito que se encaixe em todas as áreas. Nunca antes o Brasil teve
tantos estádios modernos, e é preciso criar um conceito de segurança para administrar todos eles,
durante e depois da Copa do Mundo, levando em conta as regulações da Fifa e as necessidades de
segurança das autoridades nacionais.
Por outro lado, há muitas exigências com relação a pessoal. Vocês precisarão de stewards bemtreinados (espécie de monitor treinado para zelar pela segurança), e isso é uma indústria separada.
Pode-se calcular que para cada estádio vocês precisarão de mil stewards. Se não há essa mão de
obra, é preciso criar um programa de recrutamento e de treinamento. Isso leva tempo e envolve
transmitir uma filosofia.
Na Alemanha, quantas pessoas foram envolvidas nas operações de segurança?
"A segurança também deve ser um legado. Ter a Copa do Mundo dentro do país significa que você
cria um ambiente positivo, e isso deve permanecer durante os anos seguintes"
Heinz Palme, coordenador-geral do Comitê Organizador da Alemanha durante a Copa de 2006
Tivemos cerca de 40 mil stewards e 5 mil voluntários trabalhando na área de segurança para
receber os torcedores. E mais ou menos 25 mil policiais.
E o Exército, também participou?
Não tínhamos ninguém do Exército.
Vocês ofereceram algum treinamento especial para preparar os policiais para o contato com
torcedores estrangeiros?
Sim, ao longo de dois anos promovemos treinamentos. Cada policial era treinado por cerca de seis
meses, sob o slogan a time to make friends (uma época para fazer amigos). Explicávamos essa
filosofia e que os policiais, seguranças e stewards tinham a chance de fazer uma diferença, de
surpreender os torcedores. Especialmente na Alemanha, onde todos têm a fama se serem rígidos e
muito bem organizados.
Policiais no Rio; segurança deve ser de responsabilidade pública e privada na Copa, diz Heinz
Palme
Os torcedores se surpreendiam se eles estavam sorrindo, se também atuavam como guias
turísticos. Alguns policiais falavam diferentes línguas, e uma bandeirinha indicava isso no uniforme
deles. Acho que isso foi uma grande contribuição para o sucesso.
É importante conceber uma filosofia para o evento, como foi feito na Alemanha?
É muito importante ter uma visão, uma missão que perpasse todos os setores e pessoas
envolvidas, e pensar em qual deve ser o resultado da Copa do Mundo. Na Alemanha, o objetivo era
dar boas-vindas aos turistas, ser bons anfitriões, desenvolver bons serviços etc. Mas para o Brasil
acho que é fácil pensar em um conceito. Vocês têm todo esse clima, são tão festivos... Convidem o
mundo para celebrar.
Cada país sofre mais com determinado tipo de risco. Na Europa há sempre a preocupação
com o terrorismo, na África do Sul se temiam agressões corporais contra mulheres. Qual é o
maior risco que você vê no Brasil?
Acho que o maior risco aqui seria haver muitos incidentes criminais como assaltos, furtos e ataques
durante o campeonato. A imagem do Brasil certamente sofreria. A mídia está sempre coletando
informações e expondo os fatos negativos, então eu diria que esse é um risco. Não diria que
terrorismo é um grande risco, mas é algo que você nunca deve descartar.
Mas em um grande evento como a Copa, em que medida a segurança é uma
responsabilidade pública ou privada?
Dentro dos estádios, é responsabilidade da Fifa e do COL (o Comitê Organizador Local). A Fifa não
quer policiais dentro dos estádios. Do lado de fora, claro que você precisa de polícia, aí a
responsabilidade é toda das autoridades nacionais. Mas a partir de determinado perímetro do
estádio há uma zona de acolhimento onde você não deve nem perceber que há um esquema de
segurança, deve ser uma operação muito calma, suave.
No Brasil, temos polícias nos âmbitos federal, estadual e municipal. Na Copa do Mundo, há o
COL, o governo e a Fifa. Como integrar tudo?
Para analista, polícias devem participar dos esforços de organização da Copa
A polícia e as autoridades devem sempre participar da organização com o COL e a Fifa. Quando
você começa a se preparar, elas precisam ser informadas desde o início, deve haver uma
cooperação muito próxima. Caso contrário você corre um risco, ou cria um risco, e isso deve ser
evitado ao máximo.
Em países como o Brasil e a África do Sul, onde a violência é um problema maior, o
planejamento de segurança em torno da Copa pode ser uma forma de reduzir os índices
criminais no longo prazo?
Sim, mas o interessante é que, durante esses grandes eventos, os índices criminais têm diminuído.
Isso aconteceu na África do Sul, na Alemanha e também na Áustria e na Suíça, durante a Eurocopa
de 2008. É até bastante lógico: as pessoas sabem que os esquemas de segurança estão
fortíssimos e que nunca houve tantos policiais e seguranças bem treinados nas ruas. Por que
criminosos agiriam exatamente neste período? Isso já ajuda o evento em si.
Mas a outra coisa, claro, é que você tem que se precaver para o longo prazo. A segurança também
deve ser um legado. Ter a Copa do Mundo dentro do país-sede significa que você cria um ambiente
positivo, e isso deve permanecer durante os anos seguintes. As pessoas vão falar sobre essa Copa
do Mundo durante os próximos 50 anos no Brasil. Cada pessoa vai lembrar, vai contar para seus
filhos, seus netos. E isso também pode ajudar o país a se desenvolver.
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