II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
Manipulação da qualidade da carne produzida pelo uso de beta-agonistas na
dieta de bovinos de corte.
Pedro Veiga Rodrigues Paulino¹, Ivan França Smith Maciel²
¹Zootecnista; Gerente Global de Tecnnologia de Bovinos de Corte – Nutron /
Cargill. [email protected], ²Graduando em Zootecnia – Universidade
Federal de Viçosa
Situações e perspectivas no uso de Beta-Agonistas
Os sistemas de produção de carne bovina têm buscado investir em
novas tecnologias para aprimorar a obtenção de um produto de melhor
qualidade, em menor tempo e de forma economicamente viável, sem
desrespeitar as normas ambientais vigentes. Nos últimos anos, importantes
avanços tecnológicos foram obtidos pela cadeia produtiva da carne bovina,
tanto dentro quanto fora da porteira. Considerando-se tecnologias na área de
nutrição animal, pode-se destacar o desenvolvimento da prática da
suplementação proteica na época seca do ano, garantindo crescimento
contínuo dos animais. O uso do confinamento estratégico também representa
um salto tecnológico no sentido de buscar intensificação da produção,
aproveitando o grande potencial de produção de carne em pastagem no
período mais favorável do ano (águas), com terminação dos animais no
período seco, além de contribuir com liberação de áreas para outras
categorias, aumento da taxa de desfrute do rebanho e otimização da produção
em pastagens.
Segundo projeções do Anualpec, em 2012, 9,4% dos animais abatidos
no Brasil foram terminados em sistema de confinamento, tendo um aumento de
12,9% em relação ao ano anterior, indicando, assim, aumento em adoção de
tecnologias na cadeia produtiva.
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II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
A adoção do confinamento traz consigo a busca por eficiência produtiva,
com o objetivo de otimizar o ganho de carcaça dos animais, de forma que a
arroba produzida dentro da engorda intensiva tenha custo competitivo. Para a
formulação de dietas de confinamento, diversas tecnologias estão disponíveis,
como os ionóforos e outros promotores do crescimento, com grande destaque,
pelo menos nos últimos anos, para os beta-agonistas.
Os beta-agonistas(BA) são compostos sintéticos, muito semelhantes do
ponto de vista farmacológico e estrutural as catecolaminas endógenas, ou seja,
produzidas pelo organismo animal, como a epinefrina e noraepinefrina, que se
ligam a receptores β desencadeando reações que resultam em alterações
fisiológicas importantes. São compostos bastante estudados nas espécies
zootécnicas nos últimos anos por seus efeitos proporcionarem maior ganho e
rendimento de carcaça dos animais.
Esses substâncias são usadas na medicina humana há muitos anos
como bronquio-dilatadores, muito eficazes para o tratamento de asma. Na
produção animal já vem sendo estudados por décadas suas ações como
promotores de crescimento de massa muscular magra, sendo os mais
estudados: ractopamina, zilpaterol, cimaterol, clenbuterol, L-644-969 e
salbutamol.
Essa estratégia vem sendo utilizada nos EUA desde 2003 quando o FDA
(Food and Drug Administration) liberou a sua utilização em dietas de bovinos
em confinamento. No Brasil, os BA já fazem parte da dieta de suínos desde
1996, porém a sua utilização em dietas para bovinos só foi liberado em junho
de 2012. Outros países que aprovaram a utilização dos BA são: África do Sul
(desde 1995), Canadá (desde 2009), Colômbia (desde 2008), Costa Rica
(desde 2007), Coréia do Sul (desde 2010), Equador (desde 2006), Guatemala
(desde 2004), Honduras (desde 2007), México (desde 2005) e Nicarágua
(desde 2004) (MAPA, 2012).
De acordo com a Instrução Normativa 55/2011 do MAPA, de 1º de
dezembro de 2011 [Brasil, 2011], estão proibidas a importação, a produção, a
comercialização e uso de substâncias naturais ou artificiais, com atividade
anabolizante hormonal, para bovinos de abate. Esta IN revogou a IN 10/2001
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[Brasil, 2001] que incluía na proibição as substâncias com atividade
anabolizante, ainda que desprovidas de caráter hormonal. Desse modo, ficou
liberada a possibilidade de registro dos beta-agonistas, o que ocorreu
recentemente. Nos dias 25 e 27 de junho de 2012, respectivamente, foi
efetivada a aprovação da venda de dois produtos comerciais, cujos princípios
ativos são, respectivamente, o zilpaterol (Zilmax® da MSD) e a ractopamina
(Optaflexx® da Elanco) (S.B.Pflanzer e P.E.Felício; FEA-UNICAMP).
Entretanto, em 5 de julho de 2012 a União Européia enviou uma carta ao
secretário de defesa Agropecuária informando que sua legislação interna não
permite o uso de beta-agonistas em bovinos, solicitando assim informações a
respeito do sistema de segregação (“split system”) a ser utilizado na produção
de bovinos destinados ao abate para exportação de carnes para os países da
UE (MAPA,2012). Diante disso foi suspensa a comercialização dos betaagonistas no Brasil, até que um sistema de segregação seja desenvolvido e
aplicado. Rússia e Iran, outros dois importantes países importadores de carne
bovina brasileira também não aceitam comprar carne de animais alimentados
com beta-agonistas.
Mecanismo de ação dos Beta-Agonistas
Pode-se apontar como dois principais efeitos dos beta-agonistas,
aumento do crescimento muscular e uma redução da deposição de gordura na
carcaça. Os BA conseguem, por meio de sinais metabólicos desviarem os
nutrientes de tecidos de menor prioridade para o crescimento de tecidos de
maior prioridade. No entanto, esse processo não é privilégio dos betaagonistas. Na verdade, é normal no corpo de animais esse desvio de nutrientes
para certos processos, dependendo do seu estágio fisiológico. Como exemplo,
pode-se citar a deposição de gordura, principalmente a subcutânea, que
começa a ser mais evidente após os animais atingirem a maturidade. A ligação
dos beta-agonistas a receptores adrenergéticos do músculo e da gordura
desencadeia sinais que diminuem a velocidade da deposição de gordura e
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aumentam a deposição muscular, favorecendo assim a massa magra do
animal.
Esses receptores são divididos em três diferentes subtipos, β1, β2 e β3,
presentes na maioria das células dos mamíferos variando a sua distribuição de
proporção nos tecidos e nas espécies (Mersmann, 1998). Por isso, os
diferentes tipos de BA podem variar sua eficiência dentro de uma mesma
espécie. Nos bovinos, a predominância nos tecidos muscular e adiposo é do
β2. Segundo alguns autores, nas células adiposas a prevalência chega a ser
de 75% (Sillence e Matthews, 1994; Van Liefde et al., 1994), ou superior a 90%
(Johnson et al., 2011). Nas fibras musculares a proporção de β2 é de
aproximadamente 99% (Jhonson et al., 2011).
Como o gasto de energia para deposição de músculo é a metade da
gasta para deposição de gordura, o animal se torna mais eficiente em termos
de utilização da energia da dieta consumida. Mais especificamente, os BA ao
se ligarem a um receptor β-adrenégico localizado na membrana plasmática da
célula, ativa a proteína G da membrana celular, que então estimula a
adenilciclase (AC) que é responsável para transformação do ATP (adenosina
trifosfato) em AMPc (adenosina monofosfato cíclico). O AMPc, por sua fez, se
liga as subunidades reguladoras da proteina quinase, que control a atividade
de enzimas via fosforilização. O padrão de sinais emitidos a partir da ligação do
beta-agonista com o seu receptor da proteína G diminui a taxa de ativação das
enzimas responsáveis pela lipogênese, diminuindo assim a deposição de
gordura.
No músculo, a ação resulta em um aumento da abundância de RNA e
RNAm nas fibras musculares, o que reflete na taxa de síntese proteica
muscular. Para alguns autores, além do aumento da síntese há também uma
diminuição na degradação proteica no tecido muscular esquelético, devido ao
aumento da atividade da calpastatina causando inibição das calpainas
(enzimas responsáveis pela degradação das proteínas miofibrilares). Portanto,
maior síntese associada a menor degradação protéica resulta em aumento da
deposição de proteína muscular, o que explica, em grande parte, o maior
desempenho apresentado pelos animais que consomem os beta-agonistas.
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Utilização de Beta-Agonistas como ferramenta para aumentar o desempenho
dos animais
A grande vantagem em se utilizar os beta-agonistas está relacionada ao
incremento no ganho de peso e de carcaça, com conseqüente melhoria da
eficiência alimentar, justamente em uma fase da engorda em que o animal está
ficando menos eficiente. Alguns autores destacam que animais submetidos a
dietas com BA têm melhoria na eficiência alimentar, sendo igual ou menor a
ingestão de matéria seca total (Mersmann, 2002; Schroeder et al., 2004).
É valido salientar que a principal medida a ser avaliada por pecuaristas
produtores de carcaça e carne, deve ser o ganho de carcaça e não
simplesmente o ganho de peso vivo. Afinal, o principal item da receita advinda
da atividade pecuária é a venda de carcaça e o pecuarista é remunerado por
quanto de carcaça ele produz. Assim, avaliar o ganho de carcaça, bem como a
eficiência biológica (quanto de alimento o animal precisou consumir para
ganhar carcaça), torna-se imperativo para tomar decisão sobre a eficiência do
sistema de produção.
Uma compilação de 14 estudos realizados nos Estados Unidos,
envolvendo mais de 26 mil animais, mostrou que o ganho adicional de peso
vivo após 20 dias de fornecimento de zilpaterol foi de 8,6 kg/animal, enquanto o
ganho de carcaça adicional no mesmo período foi de 15 kg, ou seja, uma
arroba. No caso da ractopamina, os ganhos adicionais de peso vivo e peso de
carcaça observados durante o período de 28-42 dias de fornecimento foram da
ordem de 6,6 a 8,3 kg e 2,9 – 6,9 kg, respectivamente. Além do ganho de peso
vivo e de carcaça, outro aspecto positivo é o maior rendimento de carne à
desossa da carcaça de animais alimentados com beta-agonistas. Em um
trabalho envolvendo a ractopamina, a carcaça dos animais tratados foi 6,5 kg
mais pesada em relação aos animais controle, e o rendimento de cortes
nobres, expresso em porcentagem da carcaça, foi 1,9 % maior, resultando,
dessa forma, em 4,6 kg a mais de cortes nobres para comercialização.
Outro trabalho interessante realizado no México por Scramlin et. al.
(2009), em que foram avaliados 300 animais, distribuídos em três tratamentos,
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controle,
zilpaterol(ZH)
e
ractopamina(RAC)
demonstrou
aumento
no
desempenho dos animais tratados tanto com RAC quanto com ZH. Porém, a
RAC mostrou-se ainda mais eficiente do que o ZH tanto no ganho médio diário
como no peso de abate. No entanto o CMS (consumo de matéria seca) foi
menor para ZH seguido da RAC e dieta controle. Resultados esses similares a
estudos anteriores (Avendano-Reyes et al., 2006b; Abneyet al., 2007; Gruber et
al., 2008), nos quais a adição de ZH e RAC também aumentou o desempenho
dos animais. A tabela a seguir (Tabela 1), mostra os resultados encontrados no
trabalho;
Tabela 1 - Media dos mínimos quadrados para o desempenho dos animais
alimentados com beta-agonistas nos últimos 33 dias do período de terminação
Tratamentos1
PVinicial,kg
Controle
RAC
ZH
EPM
Valor P
10
10
10
-
-
515.73
513.92
515.83
8.21
0.70
z
x
y
1.45
<0.01
PVfinal,kg
546.62
GMD, kg/d
0.95z
1.18x
1.05y
0.05
<0.01
CMS, kg/d
8.98x
9.07x
8.21y
0.12
<0.01
Ef.Alimentar
0.107y
0.131x
0.128x
0.005
<0.01
x-z
554.15
549.75
Dentro da mesma linha as letras sobrescritas diferem entre os tratamentos
(P≤0.05)
1
controle = sem beta-agonista; RAC = 200 mg de ractopamina (Optaflexx,
Elanco), 33 dias fase final de terminação; ZH = 75 mg de zilpaterol (Zilmax) 30
dias fase final, 3 dias período de carência.
Adaptado de Scramlin et. al. 2009
Os autores analisaram o peso e rendimento de carcaça e a a área de
olho de lombo animais estudados e o resultado foi que os animais que
receberam ZH obtiverem elevação do peso, do rendimento e da área de olho
de lombro em relação aos animais do tratamento controle (Tabela 2). Os
animais que receberam RAC, por sua vez, somente foram diferentes em
relação aos animais controle no item peso de carcaça, que foi 5,27 kg mais
pesada, enquanto dos animais do tratamento que continha ZH, essa diferencça
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foi de 12,89 kg. Importante destacar, também, que a espessura de gordura
subcutânea (EGS) foi inferior na carcaça dos animais que receberem ZH, ao
passo que os alimentados com RAC obtiverem o mesmo valor dos animais
controle.
Tabela 2 - Media dos mínimos quadrados para as características de carcaça de
animais alimentados com beta-agonistas nos últimos 33 dias da fase de
terminação
Tratamentos1
Controle
RAC
ZH
EPM
P trat.
PVfinal,kg
546.62z
554.15x
549.75y
1.45
<0.01
PCQ, kg
357.79z
363.06y
370.68x
y
67.42
1.36
<0.01
x
0.18
<0.01
Rend. Carc. %
65.49
AOL – cm2
34.19y
34.21y
37.95x
0.43
<0.01
EGS, cm
1.24x
1.22x
1.07y
0.05
0.02
x-z
65.52
y
Dentro da mesma linha as letras sobrescritas diferem entre os tratamentos
(P≤0.05)
1
controle = sem beta-agonista; RAC = 200 mg de ractopamina (Optaflexx,
Elanco), 33 dias fase final de terminação; ZH = 75 mg de Zilpaterol (Zilmax) 30
dias fase final, 3 dias período de carência.
Adaptado de Scramlin et. al. 2009
Forma de administração dos beta-agonistas
Os beta-agonistas são utilizados na fase final de terminação, geralmente
entre 28 a 42dias, sendo que no inicio da utilização (10 a 12 primeiros dias)
promovem aumento da síntese de proteínas miofibrilares e em uma segunda
etapa (12 a 14º dia em diante) ocorre redução da degradação protéica.
Segundo
recomendações
dos
fornecedores
dos
dois
produtos
disponíveis para utilização no Brasil - ractopamina e zilpaterol - cujos nomes
comerciais são Optaflexx e Zilmax, respectivamente, o Optaflexx deve ser
fornecido 25 a 35 dias na fase final de terminação em dose de 200 miligramas
cab/dia, sendo que não há período de carência. Já o Zilmax deve ser fornecido
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nos
20
dias
finais
da
fase
final
de
terminação,
utilizando-se
7,6
gramas/tonelada de MS da dieta, respeitando um período de carência de três
dias.
Um ponto importante é conciliar o período de fornecimento dos betaagonista com a escala de abate dos lotes. No caso do zilpaterol, deve-se
respeitar o período de carência, uma vez que o ganho adicional proporcionado
pela utilização dos BA é perdido ao longo do tempo. Ou seja, se os BA forem
utilizados durante a fase final de terminação e se por algum motivo esses
animais não forem abatidos todo o ganho adicional pode ser perdido, o que
implicará em custos a mais de diárias e perda de ganho de carcaça. Trabalho
de Holland et al. (2010) mostrou, no entanto, que o ganho de carcaça adicional
obtido com o fornecimento de zilpaterol se mantém por cerca de 10 dias após
sua retirada da dieta. Portanto, o bom planejamento da utilização da tecnologia
aliado a atividade como um todo, é um ponto crucial para a obtenção de bons
resultados.
Outro fator está relacionado com o período de utilização, que deve ser
respeitado, sendo que o uso prolongado dos BA não significa efeitos
acumulativos do ganho de peso, e sim acarreta perda de efeito, uma vez que
as células musculares se tornam insensíveis, levando a prejuízo financeiro e
risco de resíduos na carne.
A qualidade da mistura e distribuição da dieta é outro ponto de muita
importância. Garantir que a dieta formulada e as quantidades corretas de cada
ingrediente cheguem ao cocho é um ponto crucial para a atividade do
confinamento. No caso dos BA, em que as dosagens são muito pequenas em
relação ao volume total da dieta, a atenção deve ser ainda maior, para garantir
o real consumo de cada animal.
Efeito dos beta-agonistas na qualidade e maciez da carne
Ao se falar sobre os efeitos dos BA, uma preocupação é a alteração na
maciez da carne. Os trabalhos mostram que ocorre redução da gordura na
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carcaça tanto subcutânea quanto de marmoreio, características relacionadas
aos fatores organolépticos da carne, alem de ocorrer elevação nos valores da
força de cisalhamento, medida laboratorial que indica o grau de maciez da
carne, ou seja, essa carne é mais dura do que a dos animais não submetidos a
tratamentos contendo BA.
O estudo analisado abaixo (Tabela 3), mostrou uma diferença de até
2,23 kg na força de cisalhamento para animais tratados com ZH e RAC (tempo
3), sendo que estudos anteriores mostraram que uma diferença de 0,5 kg pode
ser suficiente para que alguns consumidores percebam uma diferença na
maciez do produto final (Roeber et al., 2000; Platter etal., 2003). A Tabela 3 a
seguir mostra os resultados obtidos no estudo ao se analisar a carne dos
animais num período de 3 a 21dias de maturação pós- mortem. Após 21 dias
de maturação, no entanto, a diferença máxima de força de cisalhamento
reduziu para 1,24 kg, mantendo-se a diferença entre os animais que receberam
zilpaterol e os controle, que, por sua vez, não diferiram dos alimentados com
ractopamina.
Tabela 3 - Media dos mínimos quadrados para força de cisalhamento (kg) da
carne de animais alimentados com beta-agonistas nos últimos 33 dias da fase
de terminação
Tratamentos
x-z
Dias2
Controle
RAC
ZH
EPM
3
4.66u
5.36t
6.89r
0.20
7
4.15vw
4.63u
6.30s
0.20
14
3.55xy
3.78wx
5.28t
0.20
21
3.05z
3.28yz
4.29uv
0.20
Dentro da mesma linha as letras sobrescritas diferem entre os tratamentos
(P≤0.05)
1
controle = sem beta-agonista; RAC = 200 mg de ractopamina (Optaflexx,
Elanco), 33 dias fase final de terminação; ZH = 75 mg de Zilpaterol (Zilmax) 30
dias fase final, 3 dias período de carência.
2
Tratamento por dias de maturação, P<0.01
Adaptado de Scramlin et. al. 2009
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Mercado e entraves para a carne produzida com uso de beta-agonistas
Alguns
aspectos
negativos
estão
relacionados
ao
uso
desses
promotores de crescimento. O primeiro seria de ordem mercadológica. A carne
proveniente
de
animais
alimentados
com
os
beta-agonistas,
muito
provavelmente, não será habilitada a exportação para o mercado europeu, uma
vez que a UE não aceita o uso desses promotores de crescimento. Neste
cenário pode-se encontrar barreiras para dificultar a exportação para outros
países devido ao fato de nosso sistema de rastreabilidade ainda não ser tão
eficiente.
Além disso, um dos mecanismos de ação dos beta-agonistas é diminuir
a degradação proteica, o que é atingido através do aumento da expressão e da
atividade da enzima calpastatina, que está diretamente ligada à maciez de
carne. Diversos estudos têm demonstrado que a carne de animais tratados
tanto com ractopamina quanto com zilpaterol apresenta elevação dos valores
da força de cisalhamento. Entretanto, quando se realizaram testes sensoriais,
com pessoas treinadas, na maioria das situações essa elevação da força de
cisalhamento não foi perceptível. Deve-se destacar, todavia, que a maioria dos
trabalhos foram realizados nos EUA, em que a carne americana é produzida a
partir de animais bastante jovens, muito bem acabados e com destacada
marmorização da carne, todos os fatores que favorecem a obtenção de uma
carne bastante macia. Em condições Brasileiras, em que a predominância de
animais zebuínos, inteiros, confinados com idade um pouco mais avançada,
fica a pergunta de qual seria a magnitude da resposta aos beta-agonistas. O
impacto sobre a maciez da carne seria significativo? E na cadeia produtiva em
geral?
Bem,
somente
trabalhos
de
pesquisas
bem
fundamentados,
experiências a serem adquiridas por confinadores e o tempo serão capazes de
responder a essas e outras perguntas que irão surgir.
Pontos como estes devem ser levados em consideração já que ainda
não há pesquisas para comprovar tais fatos, e que muitas vezes o poder de
decisão para utilizar ou não BA na visão do produtor vai depender do resultado
final do ganho e rendimento de carcaça, viabilidade econômica e lucratividade.
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II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
Sustentabilidade econômica e ambiental
A atividade de pecuária se torna sustentável quando passar a ser mais
eficientes na forma de utilizar e otimizar os resultados disponíveis obtendo
resultados positivos.
Nota-se que animais suplementados com beta–agonistas apresentam
maior incremento em ganho de carcaça e melhoria na eficiência alimentar,
comparados com animais não suplementados. Diante disso, percebe-se que
para alcançar os resultados que os BA proporcionam, sem a sua utilização,
seria necessário um maior tempo de confinamento, ou seja, mais dias de cocho
para o animal obter o mesmo peso de carcaça, o que implicaria em maior gasto
de insumos e recursos renováveis, e conseqüentemente maior emissão de
gases, como o CH4.
Um
fator
importante
dentro
da
industria
frigorífica
ligado
ao
processamento, é que a desossa de uma carcaça mais pesada demanda
praticamente o mesmo montante de mão de obra, equipamentos, estrutura
física, etc., do que uma carcaça leve. Além disso, com carcaças mais pesada é
possível adicionar valor aos cortes produzidos, em função do tamanho, peso e
grau de acabamento das peças. Assim, a carne proveniente de carcaças mais
pesadas permite que o frigorífico dilua os seus custos fixos e adicione valor,
gerando maior receita líquida. Portanto, os beta-agonistas representam uma
tecnologia capaz de trazer benefícios para toda a cadeia de produção de carne
bovina.
Considerações Finais
A
utilização
dos
beta-agonistas
pode
contribuir
com
a
intensificação de forma eficiente da bovinocultura de corte brasileira,
produzindo produtos finais de qualidade satisfatória e em quantidade
para atender a crescente demanda mundial.
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II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
Porém, como se trata de uma tecnologia relativamente nova em
nosso país, em que não se conhece exatamente qual o real beneficio
em
termos
de
ganho
e
qualidade
de
carne
em
animais
predominantemente zebuínos, muitos estudos ainda terão que ser feitos
para que se tenha maior segurança na utilização desse aditivo.
Deve-se, então, fazer proveito da técnica com muito cuidado,
seguindo sempre as indicações dos fabricantes, buscando saber os
reais efeitos, e observar como os animais estão reagindo, não só na
produção em si, mas também nas características organolépticas da
carne.
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