Relatório 3 – Óleos lubrificantes
Este trabalho foi realizado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos do BNDES
(FEP), no âmbito da Chamada Pública BNDES/FEP No. 03/2011.
Disponível com mais detalhes em <http://www.bndes.gov.br>.
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refletindo, necessariamente, a opinião do BNDES. É permitida a reprodução total ou
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Autoria e Edição de Bain & Company
1ª Edição
Janeiro 2014
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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Índice
Óleos Lubrificantes .............................................................................................................................. 4
1.
Escopo ............................................................................................................................................ 4
2.
Condições de demanda ............................................................................................................... 6
3.
4.
2.1.
Mercado mundial ................................................................................................................. 6
2.2.
Mercado brasileiro ............................................................................................................... 9
2.3.
Balança comercial ............................................................................................................... 11
Fatores de produção .................................................................................................................. 14
3.1.
Rotas tecnológicas .............................................................................................................. 14
3.2.
Matérias-primas e infraestrutura ..................................................................................... 15
3.3.
Capital.................................................................................................................................. 18
3.4.
Recursos humanos e equipe de gestão............................................................................ 19
3.5.
Ambiente regulatório ........................................................................................................ 19
Dinâmica da indústria ............................................................................................................... 20
4.1.
Estratégia de atuação dos players no mundo .................................................................. 20
4.2.
Estratégia de atuação dos players no Brasil..................................................................... 23
4.3.
Escala de plantas e investimentos.................................................................................... 26
4.4.
Situação econômica das empresas atuantes no Brasil................................................... 27
4.5.
Rede de distribuição .......................................................................................................... 27
4.6.
Acessibilidade ao mercado externo ................................................................................. 28
5.
Indústrias relacionadas ............................................................................................................. 29
6.
Diagnóstico e plano de ação ..................................................................................................... 29
6.1.
Rota renovável .................................................................................................................... 31
6.2.
Rerrefino .............................................................................................................................. 31
6.3.
Processo GTL ...................................................................................................................... 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 33
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Óleos Lubrificantes
1. Escopo
Os óleos lubrificantes são produtos utilizados para reduzir atritos, refrigerar e manter
limpos componentes móveis de motores e equipamentos. São compostos de óleos básicos e
aditivos.
Cadeia de valor
A cadeia de valor dos lubrificantes pode ser dividida em quatro elos, que são representados
na Figura 1. A cadeia se inicia com os óleos básicos (também chamados de bases), principal
matéria-prima para a produção dos diversos tipos de lubrificantes. As bases são combinadas
com aditivos que conferem propriedades físicas e/ou químicas especiais aos lubrificantes,
que são utilizados e descartados. Óleos usados podem ser reciclados, voltando à cadeia de
valor.
Figura 1: Cadeia de valor do segmento de lubrificantes
Elo 1: Produção dos óleos básicos
Os óleos básicos compõem o primeiro elo da cadeia e podem ter diversas origens:
• Óleos renováveis: de origem animal ou vegetal, procedentes da oleoquímica;
• Óleos minerais: derivados de petróleo, procedentes da cadeia de refino;
• Óleos sintéticos: produzidos a partir de óleos industrialmente sintetizados provenientes
da cadeia petroquímica;
• Óleos compostos: constituídos pela mistura de dois ou mais tipos;
• Óleo usado ou contaminado (OLUC): após o uso, o óleo pode ser reciclado através de
um processo de rerrefino. O rerrefino compreende a remoção de contaminantes, de
4
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
produtos de degradação e de aditivos dos OLUCs, conferindo a estes características de
óleos básicos que atendam às especificações em vigor1.
Os óleos básicos são usualmente classificados em cinco grupos, denominados Grupos API, de
acordo com o American Petroleum Institute (API)2. A classificação nestes grupos é ditada pela
qualidade e pela composição química dos óleos básicos. Os cinco grupos são:
• Grupo I: óleos básicos provenientes da destilação fracionada do petróleo na refinaria,
seguida de um processo de extração por solvente, destinado a melhorar propriedades
como a estabilidade à oxidação e para remoção de ceras;
• Grupo II: óleos básicos provenientes da destilação fracionada do petróleo, seguida de um
processo de hidro tratamento (hidrogenação e remoção de impurezas);
• Grupo III: óleos básicos do Grupo II submetidos a um processo adicional de hidro
tratamento, visando obtenção de melhores índices de viscosidade;
• Grupo IV: óleos compostos por polialfaolefinas (PAO) obtidas normalmente pela
trimerização catalítica do deceno-1;
• Grupo V: todos os demais óleos básicos não inclusos nos grupos de I a IV. São exemplos
deste grupo os óleos naftênicos e os ésteres.
Os óleos dos Grupos I e II são conhecidos como minerais e os óleos dos grupos IV e V como
sintéticos. Os óleos do Grupo III são designados como sintéticos na maioria dos países, mas
como minerais em outros por derivarem do refino do petróleo. No Estudo, os óleos do
grupo III são tratados como minerais.
A qualidade do óleo básico determina a qualidade final do lubrificante. Óleos básicos do
Grupo IV normalmente geram os lubrificantes de melhor qualidade, seguidos,
respectivamente, dos Grupos III, II e I. O Grupo V, de forma geral, possui qualidade
superior, porém há exceções devido à grande diversidade de óleos contida no grupo. Apesar
disso, o uso de aditivos pode conferir propriedades semelhantes a lubrificantes de diferentes
bases.
Elo 2: Aditivação
Os aditivos são compostos químicos que, quando adicionados aos óleos básicos,
reforçam algumas qualidades ou eliminam propriedades indesejáveis destes. É possível
classificá-los segundo as propriedades adicionadas aos óleos base: aditivos
detergentes, dispersantes, anti-desgaste etc.
Elo 3: Formulação dos lubrificantes
Lubrificantes acabados contêm, em volume, aproximadamente 10% de aditivos e 90% de
óleos básicos, de acordo com especialistas. Os lubrificantes possuem uma ampla gama de
classificações segundo sua qualidade e suas propriedades, sendo uma delas a classificação
1
2
Agência Nacional do Petróleo (ANP)
Existem classificações definidas por outras agências.
5
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
API3. Uma categoria de especial interesse no Estudo é a dos biolubrificantes (derivados de
insumos renováveis), devido principalmente à vantagem competitiva que o Brasil apresenta
no setor agrícola e às perspectivas de crescimento desse mercado no Brasil e no mundo.
Elo 4: Consumo
Por fim, o lubrificante é utilizado em diversas aplicações. O setor automotivo, por exemplo,
é o maior consumidor de lubrificantes, sendo responsável por 60% do consumo total de
lubrificantes no Brasil em 20124. Em seguida vem o setor industrial, que representou 30% do
mercado brasileiro de lubrificantes no mesmo ano. Os demais setores como o naval,
ferroviário e aéreo somaram os 10% restantes.
2. Condições de demanda
2.1.
Mercado mundial
A demanda global de lubrificantes foi de 39,2 milhões de toneladas em 2012 e cresceu a uma
taxa aproximada de 1,0% ao ano entre 2007 e 2012, como mostra a Figura 2. Para o período
de 2012 a 2017 espera-se um crescimento mais acelerado em função, principalmente, de um
reaquecimento das economias da América do Norte e da Europa. Espera-se que as demais
regiões do mundo mantenham para o período de 2012 a 2017 um ritmo de crescimento
semelhante ao apresentado entre 2007 a 2012.
Nota-se que a projeção de crescimento da demanda global por lubrificantes de 2,3% ao ano
para o período de 2012 a 2017 é inferior à projeção de crescimento do PIB mundial para o
mesmo período, que é de 3,9%5 ao ano. Dentre os motivos para tal diferença destacam-se o
aumento da eficácia dos lubrificantes, que proporcionam maiores períodos entre as trocas, e
a utilização de motores mais modernos e cada vez menores, exigindo quantidades cada vez
menores de lubrificantes e evitando perdas em uso.
A Society of Automotive Engineers (SAE) também classifica os lubrificantes automotivos, além de
algumas montadoras de automóveis que possuem classificações próprias.
4 Entrevista com Sindicom
5 LCA Consultores, 2014.
3
6
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Figura 2: Demanda de lubrificantes no mundo
Há outras duas tendências relevantes no mercado de lubrificantes que merecem destaque: o
aumento da demanda por lubrificantes obtidos a partir de fontes renováveis, os
biolubrificantes, e a maior exigência do mercado por lubrificantes de maior qualidade.
De acordo com uma empresa que atua também no segmento de biolubrificantes, os produtos
desse segmento atualmente já representam aproximadamente 1% da demanda global de
lubrificantes e o segmento possui boas perspectivas de crescimento. A empresa acredita que
em 2017 este percentual aumente para aproximadamente 3%. Um dos principais fatores que
suportam esta tendência é a política ambiental europeia EN13432, que criou exigências para
o descarte de lubrificantes. O descarte de biolubrificantes tende a ter um menor custo,
tornando o produto mais competitivo sob a ótica de custo total.
A tendência por lubrificantes de maior qualidade é resultado, principalmente, do
desenvolvimento tecnológico. Novos equipamentos demandam lubrificantes de maior
qualidade para garantir a proteção dos equipamentos contra, por exemplo,
superaquecimento e desgaste excessivo das peças, em novas condições de operação.
7
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
As tendências observadas no mercado de lubrificantes afetam diretamente o mercado de
óleos básicos. Para produção de lubrificantes de maior qualidade é necessária à utilização de
óleos básicos também de melhor qualidade. Com isso, espera-se uma mudança no mix de
consumo dos diferentes Grupos API de óleos básicos de origem mineral (Grupos I, II e III).
Os óleos do Grupo I, de menor qualidade, tendem a perder participação no consumo total
de óleos básicos para os óleos dos Grupos II e III, de maior qualidade. Estima-se que o share
dos óleos do Grupo I caia de 53% em 2012 para 30% em 2018, enquanto o Share dos Grupos
II e III aumente de 37% em 2012 para 59% em 20186.
Os desbalanceamentos entre a oferta e a demanda e, consequentemente, de preços, também
tendem a influenciar o intercâmbio entre os grupos de óleos básicos. Mesmo sendo mais
sofisticados, alguns dos óleos pertencentes ao Grupo II podem ser mais baratos que os do
Grupo I, principalmente devido ao excesso de oferta de óleo do Grupo II7. Em 2013, os
preços de óleos básicos do Grupo I, no mercado brasileiro, por exemplo, variaram entre
aproximadamente 1.110 e 1.200 dólares por tonelada, enquanto óleos do Grupo II estavam
precificados entre aproximadamente 1.090 e 1.260 dólares por tonelada8,9.
Outra mudança esperada no share de óleos básicos diz respeito ao aumento da participação
de óleos sintéticos (Grupos IV e V, incluindo os biolubrificantes), que passou de 10% em
2012 para 11% em 2018. Apesar de possuírem maior qualidade e de haver uma tendência de
aumento no consumo de biolubrificantes, o elevado custo dos óleos sintéticos em
comparação com os minerais impede um crescimento mais acelerado.
Dados sobre a rentabilidade das empresas nesse segmento são de difícil acesso. As
maiores empresas do setor atuam, em geral, em diversos segmentos, dentre os quais o
segmento de lubrificantes não é o mais relevante. Normalmente as produtoras de óleos
básicos ou de lubrificantes também atuam no segmento de combustíveis, que
representa a maior parte de suas operações.
As empresas produtoras de aditivos para lubrificantes possuem capital fechado e não
disponibilizam suas informações financeiras ao mercado. Especialistas afirmam que no
segmento de lubrificantes as maiores margens são aproveitadas pelos detentores das
tecnologias mais avançadas, como os produtores de aditivos para lubrificantes.
Agência Virtual e consórcio Bain / Gas Energy.
Agência Virtual.
8 Referentes aos óleos básicos com índice de viscosidade igual a 100
9 Revista Lubes’N’Greases
6
7
8
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
2.2.
Mercado brasileiro
O mercado brasileiro de lubrificantes foi de 1,26 milhões de toneladas em 201210 segundo o
Sindicom (o mesmo mercado é estimado em 1,24 milhões de toneladas pela Freedonia, fonte
do histórico e das projeções de crescimento utilizadas na Figura 3). Estima-se que esse
mercado tenha atingido um valor de 4,5 bilhões de dólares no mesmo ano11. Este mercado é
avaliado a seguir sob três aspectos: crescimento dos volumes físicos, demanda por
lubrificantes de maior qualidade e regulamentação.
Crescimento dos volumes físicos
O mercado brasileiro de lubrificantes apresentou uma taxa média de crescimento de 2,6% ao
ano entre 2002 e 2012 (Figura 3). Para o período de 2012 a 2022, projeta-se para esse mercado
um crescimento de 2,8% ao ano.
Figura 3: Demanda de lubrificantes no Brasil
A expansão do mercado automotivo nacional e o crescimento da indústria brasileira tendem
a impulsionar o consumo brasileiro de lubrificantes, enquanto motores mais modernos e
maior eficiência dos lubrificantes atuais tendem a segurar o aumento do volume de
lubrificantes consumidos.
10Especialistas
consideram que este volume é composto por 90% (1,13 milhões de toneladas) de óleos
básicos e 10% (0,13 milhões de toneladas) de aditivos.
11 Valor estimado a partir do preço médio de venda dos lubrificantes e óleos básicos (Relatório de
resultados 4T13 da Cosan), do volume de venda de lubrificantes (Sindicom) e pela relação dos preços
médios de importação de lubrificantes e óleos básicos (Aliceweb).
9
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
O mercado automotivo avançou de forma expressiva nos últimos anos. O número de
automóveis em circulação no Brasil cresceu de 30 milhões, em janeiro de 2008, para 42,6
milhões, em dezembro de 201212. Além disso, especialistas afirmam que a distância média
percorrida pelos automóveis também tem crescido e essa tendência deve ser mantida.
A produção industrial brasileira, indicada pelo PIB industrial, possui perspectiva de
crescimento. Com previsão de crescimento médio anual de 3,6%1 até 2025, o aumento do PIB
industrial brasileiro deve estimular a demanda local por lubrificantes industriais.
Já o aumento da eficácia dos lubrificantes e a utilização de motores mais modernos, duas
tendências esperadas também para o mercado brasileiro, tendem a reduzir a demanda
local por lubrificantes.
Demanda por lubrificantes de maior qualidade
Em comparação com os países desenvolvidos, os lubrificantes consumidos localmente
possuem qualidade inferior, tanto no mercado automotivo quanto no industrial.
Especialistas afirmam que a defasagem tecnológica dos veículos que circulam no Brasil em
relação àqueles dos países desenvolvidos é o principal fator que explica a utilização de
lubrificantes com qualidade inferior no subsegmento dos lubrificantes automotivos no
Brasil.
Entretanto, a baixa sofisticação do consumo brasileiro é percebida por especialistas como
temporária. Acredita-se em uma evolução no perfil da demanda no médio prazo,
principalmente no segmento automotivo, conforme tendência global.
Com o programa Inovar-Auto13, diversas montadoras anunciaram a instalação de unidades
produtivas no Brasil com início de operação a partir de 2015. Espera-se que a maior presença
de fábricas de automóveis estimule o desenvolvimento local do segmento, melhorando a
qualidade dos veículos em circulação no território nacional. Além disso, existem também
novas regulações sobre emissões de poluentes veiculares que podem aumentar a demanda
por lubrificantes de melhor qualidade14. Espera-se, portanto, uma redução no consumo
nacional de óleos básicos do Grupo I, óleos de menor qualidade.
Regulamentação
Regulações mais rígidas nos campos ambiental e de saúde têm impactado a demanda de
lubrificantes no mundo e no Brasil. Dentre os maiores impactos provenientes destas
regulamentações no mundo estão: adoção de lubrificantes de grau alimentício15 em maquinários
da indústria alimentícia e utilização de lubrificantes biodegradáveis em transformadores.
Anfavea.
Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos
Automotores
14 A regulação está detalhada no tópico referente ao “Ambiente regulatório”.
15 Lubrificantes classificados como de grau alimentício não podem possuir substâncias tóxicas aos
seres humanos. Esta restrição é importante no caso de contato com algum alimento durante o
processo produtivo da indústria alimentícia.
12
13
10
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Segundo especialistas, a exigência do uso de lubrificantes de grau alimentício para aplicação
na indústria alimentícia, observada em alguns países desenvolvidos, gerou um aumento da
demanda global por biolubrificantes para este fim. O Brasil ainda não possui uma
regulamentação específica para lubrificantes de grau alimentício.
Os óleos vegetais para transformadores de potência já estão ganhando mercado no
exterior. Segundo uma empresa do setor, aproximadamente 20% dos óleos utilizados em
transformadores nos Estados Unidos em 2012 foram óleos vegetais, enquanto no Brasil os óleos
vegetais corresponderam a apenas 3% do total de óleo utilizado em transformadores. Esta
tendência de aumento da utilização de óleos vegetais em transformadores decorre, dentre outros
fatos, do alto custo para remediação de áreas onde ocorre vazamento de óleo mineral dos
transformadores.
Com o desenvolvimento destas e de outras aplicações baseadas em biolubrificantes,
especialistas acreditam que o mercado local de óleos com origem renovável, apesar de ainda
pequeno, deva crescer nos próximos anos. Em 2012, o consumo de biolubrificantes no Brasil
foi de 1,4 mil toneladas. Este valor representa apenas 0,1% do volume total de lubrificantes
do mercado local, enquanto a parcela dos biolubrificantes no mercado global já é de 1%16.
2.3.
Balança comercial
O crescimento da demanda brasileira por lubrificantes tem se convertido em aumento das
importações desse segmento. De 2008 a 2012 houve um crescimento de 30% do volume de
importações (Figura 4), levando o déficit do segmento a quase 1 bilhão de dólares em 2012
(importações de 1.127 milhões de dólares e exportações de 209 milhões de dólares). Os óleos
básicos foram responsáveis por aproximadamente 60% desse déficit, enquanto os
lubrificantes acabados representaram 23% e os aditivos, 17%.
16
Entrevista com especialistas do setor.
11
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Figura 4: Balança comercial de lubrificantes do Brasil
As importações líquidas de 437 mil toneladas de óleos básicos (importações de 502 mil
toneladas e exportações de 65 mil toneladas) representaram aproximadamente 36% do
consumo local em 2012. O restante do mercado local foi atendido pela produção das
refinarias brasileiras (45%) e pelo rerrefino local17 (19%), como explicitado na Figura 5.
Apesar do crescimento da demanda brasileira por lubrificantes, a produção local de óleos
básicos manteve-se constante nos últimos cinco anos18.
Os dados fornecidos em volume foram convertidos para toneladas usando-se uma densidade média
de 0,9 kg/l, sugerida por especialistas do segmento.
18 Devido à estratégia da Petrobras, fora do escopo do Estudo.
17
12
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Figura 5: Oferta de óleos básicos no Brasil
No mercado de lubrificantes acabados, o saldo do comércio exterior brasileiro foi, em 2012,
de 95 mil toneladas (importações de 136 mil toneladas e exportações de 41 mil toneladas).
Esse saldo representou, em volume, aproximadamente 8% da demanda local em 2012.
Já, para atender a demanda local de lubrificantes, foram utilizados principalmente aditivos
importados. Apesar de 2 dos 4 principais players globais de aditivos para lubrificantes
possuírem plantas no Brasil, a importação de aditivos para lubrificantes entre 2008 e 2012
cresceu a uma taxa de 14% ao ano. Em 2008, as importações líquidas desses aditivos
supriram, em volume, 16% da demanda local. Em 2012, essa parcela passou para 40%.
13
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
3. Fatores de produção
A fim de identificar as principais causas do elevado déficit comercial no segmento, foram
avaliadas as condições dos fatores de produção local das principais rotas tecnológicas para a
obtenção dos óleos básicos19. Esses fatores foram organizados em cinco blocos:
•
•
•
•
•
Rotas tecnológicas
Matéria-prima e infraestrutura;
Capital para financiamento;
Disponibilidade de recursos humanos e qualificação dos profissionais;
Ambiente regulatório.
3.1.
Rotas tecnológicas
As quatro principais rotas para obtenção dos óleos básicos são a rota convencional (refino), o
rerrefino, a rota renovável e a rota XTL (conversão de carvão, gás ou biomassa em óleo
básico). Estas rotas são abordadas a seguir.
Rota convencional (refino)
Essa é a rota que parte do refino do petróleo e é responsável por quase a totalidade da produção
global de óleos básicos. Dependendo do Grupo API20 desejado, o petróleo passa por um
processo de destilação fracionada e até dois processos de hidro tratamento. Óleos do Grupo I são
produzidos a partir da destilação fracionada. O processo de hidro refino produz óleos do Grupo
II, enquanto aplicando-se também o hidro craqueamento são fabricados óleos do Grupo III.
Rerrefino
É o processo através do qual se obtém óleos básicos por meio do refino de lubrificantes
usados ou contaminados (OLUC). O óleo básico obtido através do rerrefino pode ter
diferentes graus de qualidade de acordo com a tecnologia empregada. A tecnologia
empregada também está associada à eficiência do processo (% de óleo básico obtido a partir
do OLUC).
A principal tecnologia empregada no Brasil é o processo Meiken melhorado (ou
ácido/argila), que contempla a neutralização da borra ácida produzida no processo
convencional. Se comparada a outras tecnologias disponíveis21, o processo Meiken
melhorado requer menor investimento e possui menor custo de manutenção22. No entanto,
19 As rotas para obtenção dos aditivos não serão abordadas por haver consenso entre os especialistas
consultados sobre a falta de oportunidade neste subsegmento e pelo fato dos aditivos possuírem
pequena relevância na balança comercial de lubrificantes.
20 Classificação dos óleos básicos em cinco grupos, de acordo com a qualidade e com a estrutura
química.
21 Destilação/evaporação pelicular, extração a propano e hidrogenação.
22 Segundo especialistas do setor.
14
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
este processo possui uma menor eficiência e obtém produtos finais com qualidades
inferiores.
Rota renovável
As matérias primas básicas utilizadas na rota renovável provem de plantas oleaginosas. As
oleaginosas são processadas em biorrefinarias, onde são obtidos produtos intermediários,
dentre os quais, aqueles utilizados na produção de óleos básicos (ex.: as polialfaolefinas e os
ésteres). Por fim, cada um destes produtos intermediários passa por um processo químico
específico para a obtenção dos óleos básicos.
Os lubrificantes obtidos por esta rota (biolubrificantes), ainda são pouco competitivos em
custo quando comparados aos lubrificantes obtidos pela rota convencional. Porém, com a
expectativa de crescimento da demanda por biolubrificantes, observam-se muitos
investimentos direcionados para a rota renovável, além do efeito do ganho de produtividade
através do aumento da experiência acumulada (curva de experiência)23. Com isso, o custo de
produção através desta rota tende a diminuir nos próximos anos.
Rota XTL
A rota XTL é constituída por processos que transformam o gás (por meio do processo gas-toliquids – GTL), o carvão (por meio do coal-to-liquids – CTL) e a biomassa (por meio do
biomass-to-liquids – BTL) em óleos básicos.
GTL e o CTL são tecnologias já comprovadas e utilizadas em larga escala em diferentes
partes do mundo. O CTL é amplamente empregado na China, onde há grande oferta de
carvão. No Qatar há uma planta de escala mundial que utiliza a rota GTL. Já pode ser
observada nos Estados Unidos uma mobilização das companhias de petróleo na direção do
GTL24. Este movimento pode ser explicado, em parte, devido à disponibilidade de gás não
convencional de baixo custo (shale gas).
Já o BTL, segundo especialistas do setor, ainda não é economicamente viável. A dificuldade
tecnológica do BTL consiste na separação eficiente e econômica do óleo complexo produzido
durante a gaseificação da biomassa.
3.2.
Matérias-primas e infraestrutura
Rota convencional (refino)
A rota convencional gera óleo básico a partir do refino do Petróleo. No Brasil a produção de
óleo básico por esta rota está concentrada na Petrobras.
Este Estudo não aborda a estratégia de refino do petróleo brasileiro, atribuição da Petrobras
no âmbito do Governo Federal.
23
24
Segundo especialistas do setor.
Segundo especialistas do setor.
15
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Rerrefino
A matéria-prima do rerrefino são os óleos lubrificantes usados ou contaminados (OLUCs),
gerados a partir do consumo de lubrificantes a uma taxa de aproximadamente 45% (Figura
6). A disponibilidade de matéria-prima para o rerrefino depende, portanto, do consumo de
lubrificantes e da eficiência de coleta destes OLUCs (percentual da geração de OLUCs que é
coletado e direcionado ao rerrefino).
Figura 6: Divisão da coleta de óleo no Brasil25
Apesar do elevado percentual de lubrificantes não aproveitados (199 de 573 mil toneladas),
o indicador de coleta de 2012, calculado a partir da base de cálculo (consumo de
lubrificantes menos atividades dispensadas da coleta) está em linha com a meta definida
pelo Ministério do Meio Ambiente através da Portaria Interministerial MMA/MME nº 59 de
2012, conforme demonstra a Figura 7.
Dispensados de coleta: o CONAMA, pela resolução 362, admite que alguns tipos de óleos
lubrificantes estejam dispensados de coleta, dependendo da sua aplicação; Perdas: perdas inerentes
aos processos industriais e à evaporação.
25
16
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Figura 7: Percentual de coleta de óleo no Brasil
Rota renovável
A viabilidade da rota renovável depende da segurança de suprimento de sua principal
matéria-prima básica, as plantas oleaginosas, e de sua matéria-prima direta, os óleos
vegetais.
No elo de produção de oleaginosas, o Brasil possui vantagem competitiva em diferentes
dimensões: clima favorável, grande extensão de terras cultiváveis, variada disponibilidade
de oleaginosas e detenção de tecnologia empregada à lavoura. A infraestrutura logística
local pode representar um obstáculo, mas este obstáculo pode ser minimizado ao aproximar
a produção do óleo e as áreas de cultivo.
A competitividade das oleaginosas no País é abordada com maior detalhe no Relatório sobre
oleoquímicos.
Rota XTL
O Brasil possui diferentes cenários de competitividade para os insumos base das rotas BTL,
CTL e GTL.
A matéria-prima da rota BTL é biomassa. A disponibilidade desta matéria-prima e a alta
produtividade da agricultura brasileira colocam o Brasil em uma posição privilegiada de
competitividade nesta rota.
17
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
O País não apresenta um cenário muito favorável para o desenvolvimento da rota CTL. As
principais limitações estão na baixa disponibilidade e qualidade da matéria-prima local. A
disponibilidade de carvão no território brasileiro é limitada. Em 2008, o País possuía apenas
0,1% das reservas mundiais de carvão26. Além disso, a qualidade do carvão nacional é baixa:
apresenta baixo conteúdo energético e elevado teor de impurezas27.
Apesar de não ser viável no curto prazo devido à deficiência no fornecimento de gás
natural, a rota GTL pode ser uma alternativa possível no longo prazo. A partir de 2020 é
esperado um aumento na oferta brasileira de gás natural28, o qual poderia ser utilizado
para abastecer uma planta de GTL.
A rota GTL requer uma infraestrutura de gasodutos que permita o suprimento da planta a
partir dos locais de produção do gás natural. É esperado que, com o aumento da produção
de gás, previsto para 2020, a estrutura atual de gasodutos não atenda o maior volume e
capilaridade da produção. A correta localização da planta de GTL é fundamental para
minimizar a necessidade de investimentos em gasodutos. Ao localizar uma planta GTL
próximo à produção de gás natural é possível minimizar a necessidade de dutos para escoar
a produção de gás. Este benefício não se aplica apenas ao segmento de lubrificantes, mas
também a todas as demais utilizações do gás natural.
3.3.
Capital
Rota convencional (refino)
A avaliação do custo e disponibilidade de capital assim como o perfil de risco associado aos
investimentos não é abordado para a rota do refino por se tratar de uma atribuição da
Petrobras no âmbito do Governo Federal.
Rerrefino
Recentemente o Grupo Lwart recebeu financiamento do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a produção de uma unidade de
rerrefino. Cobrindo 60% do investimento de 230 milhões de reais, este investimento
demonstra a economicidade desse negócio e abre um leque de possibilidades para novos
investimentos em rerrefino.
Rota renovável
A rota renovável ainda é incipiente no Brasil e depende de investimentos em P&D. Isto
caracteriza a necessidade de capital de risco.
Rota XTL
Não foram obtidas informações sobre custo e disponibilidade de capital para a rota XTL no Brasil.
Aneel.
Aneel.
28 Ministério de Minas e Energias; Plano Decenal de Expansão de Energia 2020.
26
27
18
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
3.4.
Recursos humanos e equipe de gestão
Outro ponto relevante é a disponibilidade de recursos humanos e a capacitação da equipe de
gestão. No Brasil, a oferta de profissionais qualificados não foi identificada pelos
especialistas do setor como uma ameaça ao crescimento do mercado local de lubrificantes.
Porém, alguns especialistas do setor ressaltaram que há deficiência de recursos humanos em
áreas técnicas voltadas para testes de qualidade e P&D.
3.5.
Ambiente regulatório
Rota convencional (refino)
O ambiente regulatório relacionado ao refino não é abordado neste Estudo.
Rerrefino
Atualmente, apesar da pouco fiscalizado, o segmento do rerrefino já possui regulação bem
definida. A Portaria Interministerial nº 59/2012, por exemplo, define que um dos requisitos
para se registrar como produtor ou importador de lubrificantes é ter contrato com uma
empresa coletora de OLUC cadastrada na ANP29. Além disso, tal norma também define
percentuais mínimos de rerrefino para cada Estado conforme o grau de dificuldade de
coletar os óleos usados. Em 2012, o índice de rerrefino teve média de 36,9%30 no Brasil. Já
para 2015, a exigência mínima será de 38,5%.
Além da norma citada anteriormente, a Resolução 362 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), indica o rerrefino como destino prioritário de
todo o óleo usado ou contaminado que tenha sido coletado. Devido à falta de fiscalização, ainda
existem desvios dos óleos lubrificantes usados. Segundo especialista, isso ocorre,
principalmente, porque o valor que os rerrefinadores oferecem pelos OLUCs é inferior ao preço
pago nos usos alternativos, como por exemplo: queima, reutilização fora das normas, etc.
Rota renovável
A regulamentação do uso de lubrificantes a partir de rotas renováveis no Brasil ainda é
pouco desenvolvida. Existem lacunas de regulamentação, por exemplo, no subsegmento de
lubrificantes de grau alimentício31. No Brasil não existem regras específicas para estes
lubrificantes e os dois agentes envolvidos parecem não possuir condições suficientes para
fiscalizar esse setor. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) define apenas
que as indústrias alimentícias devem seguir “boas práticas”. Já a Agência Nacional do
Petróleo (ANP), para registrar um lubrificante de grau alimentício, solicita o registro do
29A
exigência consta na Portaria Interministerial nº 59/2012, que envolve o Ministério do Meio
Ambiente (MMA) e o Ministério de Minas e Energia (MME).
30 Sindirrefino.
31 Lubrificantes food grade, utilizados na indústria alimentícia, que podem entrar em contato acidental
com alimentos.
19
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
produto na organização sanitária dos Estados Unidos, a National Sanitization Foundation
(NSF).
O resultado desta lacuna regulatória é, de acordo com especialistas, que muitas fábricas
brasileiras de alimentos não obedecem à determinação internacional de utilizar lubrificantes
específicos food grade. Com regras mais claras e fiscalização mais rigorosa, as empresas que
operam no ramo alimentício teriam de se adequar, abrindo oportunidade, por exemplo, para
os fabricantes de biolubrificantes de grau alimentício.
Rota XTL
O ambiente regulatório é de grande relevância também no uso da tecnologia XTL. As
normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) seguem uma tendência de
redução na emissão de gases poluentes nos veículos, principalmente de enxofre. Os
produtos (combustíveis e lubrificantes) derivados do XTL são livres de enxofre e podem ser
misturados com produtos das rotas convencionais. Com isso, o teor de enxofre nos produtos
finais é reduzido, atendendo às metas exigidas.
4. Dinâmica da indústria
Este capítulo aborda a estrutura da indústria de óleos lubrificantes por meio da análise dos
principais participantes globais e locais. São avaliados os diferentes posicionamentos e as
estratégias de distribuição desses players para atendimento aos mercados.
4.1.
Estratégia de atuação dos players no mundo
Os players, tanto no mundo quanto no Brasil, podem ser divididos de acordo com a cadeia de valor
da indústria. Esta divisão será utilizada para descrever a estratégia de atuação dos mesmos.
Óleos Básicos
O ambiente competitivo é bastante heterogêneo nos diferentes segmentos de óleos básicos. A
concentração do mercado de óleos básicos sintéticos (Grupos IV e V), por exemplo, é maior
do que a do mercado de óleos minerais (Grupos I, II e III), conforme demonstrado na Figura
8. No mercado dos Grupos IV (polialfaolefinas) e V (naftênicos32) os três maiores produtores
dominam aproximadamente 80% e 55% do mercado global, respectivamente. Para os
Grupos II e III, esta concentração é de 43%, e analisando o mercado de óleos básicos de
forma holística, o valor cai para aproximadamente 27%.
32
Naftênicos são um subsegmento dos óleos básicos do Grupo V.
20
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Figura 8: Principais players globais de óleos básicos
Dentre os fatores que explicam as diferentes concentrações de mercado observadas nos
subsegmentos de óleos básicos, três merecem destaque: tecnologia empregada, acesso à
matéria-prima e tamanho do mercado. O fato de o mercado ser menos fragmentado no
subsegmento dos Grupos II e III do que no subsegmento do Grupo I pode ser justificado,
por exemplo, pela crescente necessidade de investimentos nas plantas de refino para a
obtenção dos óleos de maior qualidade (Grupos II e III).
A menor dimensão dos mercados e a maior dificuldade de acesso à matéria-prima
contribuem para a menor fragmentação observada nos mercados dos Grupos IV e V
(naftênicos). O grupo IV atualmente representa 1% do mercado global33 de óleos básicos em
volume enquanto os naftênicos possuem participação inferior a 5%. De acordo com
especialista do setor, as alfaoleofinas, principal insumo dos óleos do grupo IV, são pouco
abundantes no mercado mundial, assim como o tipo de petróleo necessário para a produção
dos básicos naftênicos.
Outra característica interessante dos players globais de óleos básicos é a frequente integração
vertical a jusante. Muitos desses produtores fabricam também os lubrificantes, adquirindo
de terceiros os aditivos necessários para sua formulação. Esta integração vertical não ocorre
com o elo de produção de aditivos para lubrificantes.
Aditivos
O subsegmento de aditivos para lubrificantes é dominado por quatro produtores globais:
Lubrizol, Infineum, Chevron Oronite e Afton Chemicals. De acordo com especialistas do setor,
essas empresas detêm praticamente todo o ativo tecnológico existente para produção de aditivos
e dominam aproximadamente 90% das vendas globais para o mercado de lubrificantes.
33
Agência Virtual.
21
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
A produção desses aditivos está migrando para países asiáticos em busca de melhores
posições de custo. A Afton Chemicals, por exemplo, anunciou em 2013 a abertura de uma
nova planta na Ilha de Jurong, em Cingapura, um dos maiores polos químicos do mundo. O
anúncio aconteceu após as concorrentes Chevron Oronite e Infineum terem anunciado, em
2012, planos de expansão de suas unidades no mesmo polo. Em 2013, a Lubrizol também
apresentou planos de instalação de uma planta de aditivos na Ásia, neste caso na província
de Guangdong, na China.
O subsegmento dos aditivos para lubrificantes apresenta uma série de barreiras tecnológicas
para o desenvolvimento de produtos, limitando, assim, a entrada de novos players. Isto
ocorre devido à complexidade das exigências para o atendimento do mercado automotivo,
além da alta variabilidade da qualidade dos óleos básicos produzidos no mundo.
A indústria automobilística é caracterizada pelo rigor no controle das especificações dos
lubrificantes. Para atingir o desempenho anunciado e assegurar a garantia aos usuários dos
veículos, os lubrificantes utilizados devem estar de acordo com a classificação exigida pela
montadora. De acordo com especialistas, estas classificações costumam valer por
aproximadamente cinco anos. Ao fim deste prazo, os novos veículos fabricados passam a
exigir lubrificantes de qualidade superior, limitando os lubrificantes do nível anterior ao
mercado de automóveis já em circulação. Este ciclo de vida relativamente curto exige altos
investimentos em P&D e grande escala de venda para diluir estes investimentos, como
ocorre neste mercado com apenas quatro players globais.
Lubrificantes
No mercado dos lubrificantes acabados, as empresas normalmente possuem atuação global,
seguindo a tendência do mercado de seus insumos (óleos básicos e aditivos) e do principal
mercado consumidor (automotivo).
Segundo especialistas, o fornecimento de lubrificantes é regionalizado. A produção do
lubrificante é um processo simples, no qual apenas se misturam os óleos básicos e os aditivos,
portanto não exigem equipamentos avançados. Com isso, as empresas de lubrificantes tendem a
aproximar a produção do mercado consumidor, porém sem abrir mão das economias de escala.
As empresas, portanto, possuem uma ou poucas fábricas para cada região.
O mercado de lubrificantes industriais apresenta algumas particularidades dependendo da
tecnologia envolvida nos equipamentos industriais. Os equipamentos mais especializados
normalmente exigem lubrificantes especiais. Muitas vezes, para atender às especificações
exatas exigidas pelas máquinas, os próprios fabricantes dos equipamentos produzem
lubrificantes com suas marcas. Nestes casos, tanto a produção das máquinas industriais
quanto a produção de seus lubrificantes são centralizadas em plantas globais.
Por outro lado, equipamentos industriais genéricos aceitam lubrificantes menos específicos
sem comprometer seu funcionamento. Isso contribui para a criação de mercados locais em
que pequenos produtores desenvolvem seus lubrificantes e fornecem para as empresas
próximas, sem incorrer em custos elevados de distribuição.
22
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Em suma, a estratégia de atuação das empresas do segmento dos lubrificantes é planejada
de forma global para o segmento dos lubrificantes automotivos e de forma global ou local,
dependendo do grau de sofisticação, para o segmento de lubrificantes industriais. A relação
entre formuladores de lubrificantes e produtores de aditivos é regida pelos altos
investimentos em P&D e qualificação, que geram grandes custos de troca de fornecedores.
Assim, essa parceria costuma valer durante um ciclo de vida completo de um produto, em
torno de cinco anos. Com isso, formuladores de lubrificantes podem possuir contratos de
aquisição com diversos fornecedores de aditivos, de acordo com sua linha de produtos.
4.2.
Estratégia de atuação dos players no Brasil
Óleos básicos
No elo de produção de óleos básicos, somente a Petrobras atua a partir da rota do refino no
Brasil34. Além dela, também existem as empresas que produzem óleos básicos a partir do
rerrefino.
Existem no Brasil 19 rerrefinadores em operação. O líder do segmento é a Lwart, que
detém cerca de 50% do mercado de rerrefino em território nacional (2012), de acordo
com pesquisa realizada pela Agência Virtual35. O restante do mercado está dividido
entre as pequenas empresas. A atuação no mercado de rerrefino depende de uma
operação eficiente de logística reversa de coleta dos OLUCs que garanta o
fornecimento da matéria-prima do rerrefino a custos competitivos.
Segundo especialistas do setor, a maior parte dos rerrefinadores está localizada na região
Sudeste. Esta concentração ocorre devido ao maior consumo de lubrificantes nesta região
(54% do consumo nacional), conforme demonstrado na Figura 9. Apesar disso, alguns players
preferem ambientes menos competitivos, como é o caso da Eternal. É a única empresa de
rerrefino que atua no Norte do Brasil, conforme publicado em seu website.
Apenas a Petrobras possui refinarias para processar o petróleo bruto, e somente três das onze
refinarias são produzem óleos básicos: a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, a Refinaria
Duque de Caxias (REDUC), no Rio de Janeiro, (somente óleos do Grupo I) e a Lubrificantes e
Derivados de Petróleo do Nordeste (LUBNOR), no Ceará.
35Agência Virtual é composta por um grupo de especialistas do segmento de lubrificantes e aditivos,
editora da revista Lubes em Foco e com um membro do Instituto Brasileiro de Petróleo.
34
23
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Figura 9: Coleta para o rerrefino no Brasil
Aditivos
Especialistas afirmam que a produção local de aditivos para lubrificantes não é bem
desenvolvida no Brasil. As poucas plantas existentes, como a da Lubrizol, no Rio de Janeiro, e a
da Chevron Oronite, em São Paulo, costumam ter atuação limitada e em nichos do mercado
local.
Em geral, após o desenvolvimento de um produto, as empresas de aditivos atendem o
mercado brasileiro com importações de suas matrizes. Quando estes produtos se consolidam
no mercado local, as empresas verificam a possibilidade de produzir localmente de forma
econômica. Caso a viabilidade se confirme, o produto específico passa a ser produzido
localmente para atender a demanda interna.
Lubrificantes
O mercado nacional de lubrificantes é bem distribuído entre os players sem ampla vantagem
de qualquer um deles, como mostra a Figura 10Figura 10. A Petrobras Distribuidora (BR),
líder de mercado, possuía pouco mais de 20% do volume de lubrificantes vendidos no país
em 2012.
Apesar da forte presença de multinacionais que alavancam sua marca e operação globais
para entrar no mercado brasileiro de lubrificantes, esse mercado está equilibrado entre
empresas nacionais e internacionais. Vale destacar que apesar deste equilíbrio, as líderes em
market share de volume são três empresas nacionais: Petrobras, Ipiranga e Cosan.
24
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Figura 10: Participação das empresas ligadas ao Sindicom no Brasil
A Cosan obteve esta posição de relevância através da aquisição dos direitos de comercialização
da marca Mobil no mercado interno. Desta forma a Cosan se beneficia da escala mundial das
operações da ExxonMobil, principalmente no que diz respeito à marca e P&D.
Ipiranga e Petrobras se beneficiam da grande rede de distribuição de seus postos de gasolina
para manter a liderança neste mercado. A Petrobras também possui a vantagem de ser a
única empresa com integração vertical no mercado interno. Isto ocorre pelo fato da
Petrobras ser a única produtora de óleos básicos provenientes do refino.
As empresas de menor porte representam aproximadamente 15% do mercado brasileiro.
Elas atuam, normalmente, no mercado de lubrificantes industriais, que inclui também os
biolubrificantes. As fábricas brasileiras, de forma geral, utilizam equipamentos pouco
sofisticados que aceitam lubrificantes com especificações menos restritivas. Isso resulta em
uma menor barreira de entrada para os pequenos produtores locais de lubrificantes, uma
vez que há uma menor necessidade de investimento em P&D. Desta maneira, os pequenos
produtores conquistam pequenas fatias do mercado local.
No caso dos biolubrificantes, existem poucos players atuando no Brasil. Apesar das
incertezas técnicas e econômicas, algumas empresas estão se estabelecendo no País
apostando nesse potencial. Por enquanto, porém, são plantas de escala pequena, sendo
utilizadas para testar o mercado. Como exemplos, destacam-se a empresa nacional VGBio e
as norte-americanas Amyres, Elevance e Solazyme.
Em 2012 a VGBio informou possuir capacidade de produção de aproximadamente 150
toneladas de lubrificantes de origem vegetal por ano e que pretendia investir cerca de 5
milhões de dólares na construção de uma nova unidade de produção.
25
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
A Amyris, que fez uma previsão de multiplicar de cinco a sete vezes sua produção mundial
de biolubrificantes no prazo de três anos, está associada à Cosan e vem realizando
investimentos no Brasil, sem detalhar suas operações.
A Elevance, que em 2013 investiu cerca de 30 milhões de dólares em uma biorrefinaria no
estado americano do Mississipi, tem demonstrado interesse em novos investimentos ao
redor do mundo, inclusive no Brasil.
Por fim, a Solazyme, que fabrica óleos renováveis a partir de açúcar, anunciou em 2012
investimentos da ordem de 100 milhões de dólares em uma joint venture com a Bungee
Brasil (empresa do setor sucroalcooleiro) para a construção de uma planta de óleos
renováveis no Brasil. A planta terá capacidade de 100 mil toneladas anuais, das quais parte
será destinada à produção de biolubrificantes.
4.3.
Escala de plantas e investimentos
Rota convencional (refino)
As características do investimento em refino não são abordadas neste Estudo.
Rerrefino
O investimento necessário para se construir uma planta de rerrefino de porte médio depende da
tecnologia empregada. O investimento em uma unidade de porte médio (16 mil toneladas de
capacidade) para produção de óleos básicos do Grupo I, por exemplo, varia de 5 milhões de
dólares, se a tecnologia empregada for a Meiken melhorado, a até 20 milhões de dólares, se
forem empregadas as tecnologias de evaporação pelicular ou de extração a propano (Figura 11).
É importante destacar que o volume de OLUCs não coletados em 2012 foi de 199 mil
toneladas, equivalente a aproximadamente 12 plantas com capacidade de 16 mil toneladas.
Figura 11: Estimativa de investimento para rerrefino
Recentemente o Grupo Lwart investiu aproximadamente 230 milhões de reais para ampliar
a capacidade da empresa em 45 mil toneladas de óleos rerrefinados por ano. O investimento
inclui também um processo de hidrogenação que produz óleos básicos do Grupo II.
Rota renovável
Não foram obtidas estimativas do investimento necessário para a rota renovável.
26
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Rota XTL
Na rota GTL, uma planta modular pode se tornar economicamente viável com volume de
produção a partir de aproximadamente 50 mil toneladas por ano de derivados de GTL36,37. O
investimento em uma planta deste porte é da ordem de 2 mil dólares para cada tonelada por ano
de capacidade. Ou seja, uma unidade que produz 50 mil toneladas por ano terá um custo de
aproximadamente 100 milhões de dólares. De acordo com especialistas, o Brasil poderia
comportar uma planta com volumes superiores a 600 mil toneladas por ano de derivados de
GTL. Já o tempo de implementação pode durar até cinco anos, dependendo do porte do
projeto38.
Não foram obtidos dados sobre as rotas CTL e BTL.
4.4.
Situação econômica das empresas atuantes no Brasil
As informações sobre a situação econômica das grandes empresas no Brasil são de difícil
acesso, tanto nas empresas de capital fechado quanto nas listadas em bolsas de valores. As
empresas de capital fechado, principalmente no segmento dos aditivos, não possuem dados
abertos sobre sua situação financeira.
No caso das empresas listadas em bolsas de valores, os dados disponíveis não são exclusivos
para o segmento de lubrificantes. O resultado costuma compreender outros segmentos de
atuação com maior representatividade no resultado da empresa como, por exemplo,
combustíveis. A única exceção é a Cosan, que separou o resultado da operação de
lubrificantes do resultado da operação de combustíveis. Recentemente a empresa passou a
disponibilizar os dados da sua operação de lubrificantes junto com outras divisões39 de
menor relevância. De acordo com o relatório do quarto trimestre de 2013 da empresa, o
EBITDA deste grupo, em que lubrificantes é predominante, foi de 6,5% para o ano fiscal de
2013 (concluído em março de 2013) e 4,6% em 2012.
4.5.
Rede de distribuição
A distribuição de lubrificantes automotivos é feita tanto por canais diretos como indiretos.
Uma parte da produção é vendida direto às montadoras, que os insere nos veículos que
produzem. No entanto, a maior parte da produção alcança o consumidor final através,
principalmente, concessionárias autorizadas, oficinas mecânicas e postos de gasolina.
Devido à alta pulverização desta rede de distribuição é comum a utilização de revendedores.
Os principais derivados de GTL são nafta, combustíveis, parafinas e óleos básicos para lubrificantes.
Estudos realizados pelas empresas inglesas Oxford Catalysts Group e Compact GTL.
38 A Shell Pearl, maior planta de GTL do mundo, demorou cinco anos para ser construída, de acordo
com o site da empresa.
39 A unidade de negócio inclui lubrificantes, especialidades e estrutura corporativa, com
predominância dos lubrificantes.
36
37
27
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Nos mercados de lubrificantes industriais (produtores de lubrificantes industriais vendendo
às indústrias consumidoras) e de aditivos (produtores de aditivos vendendo a fabricantes de
lubrificantes), a rede de distribuição varia de acordo com o porte do consumidor e também o
porte do produtor.
Transações com compradores de grande porte são realizadas sem intermediários, assim como
aquelas entre produtores e empresas de pequeno porte. Por outro lado, o fornecimento dos
grandes produtores de lubrificantes para as pequenas fábricas é feito por distribuidores. Estes
distribuidores adquirem grandes lotes dos fabricantes e os disponibilizam em lotes menores às
empresas de pequeno porte cobrando uma margem de prêmio. De acordo com especialistas,
esse prêmio proporciona, em muitos casos, margens superiores às dos produtores.
4.6.
Acessibilidade ao mercado externo
O principal entrave para a exportação a partir da produção local é a estrutura do mercado.
Os grandes players globais de lubrificantes presentes no Brasil atendem, por meio de suas
plantas de escala global, países onde não possuem produção local. Essas plantas de escala
global costumam ser localizadas em países cujos fatores de produção são mais competitivos
do que aqueles encontrados no Brasil, por exemplo, países do sudeste asiático. Não existe
interesse primário em exportar globalmente a partir do Brasil, uma vez que a
disponibilidade de matéria-prima local, seja de óleos básicos ou de aditivos, é insuficiente
inclusive para suprir a demanda brasileira, situação sem perspectiva de mudança no curto
prazo.
A baixa competitividade do Brasil na produção de lubrificantes também inibe o interesse
dos produtores nacionais, como Cosan, Ipiranga e Petrobras Distribuidora em acessar o
mercado externo. No caso da Cosan, existe também a limitação dos mercados onde ela pode
utilizar a marca Mobil, marca sob a qual comercializa seus lubrificantes no mercado interno,
uma vez que sua licença de utilização é válida apenas na América Latina.
Além da baixa competitividade do país em função da insuficiência de matéria-prima
local (óleos básicos e aditivos), Ipiranga e Petrobras também enfrentam desafios
tecnológicos para atender mercados com demanda mais sofisticada. Como a demanda
local é pouco sofisticada, os produtores nacionais não consolidaram sua capacidade de
desenvolver produtos mais especializados.
Especificamente para a produção de lubrificantes de origem renovável, o Brasil apresenta
maior competitividade das matérias-primas locais. Apesar disso, a rota tecnológica ainda
está no início de seu desenvolvimento, de forma que alguns elos da cadeia produtiva não se
provaram economicamente viáveis. Através de entrevista com empresas do setor foi
constatado que diversos players demonstraram interesse na realização de parcerias de longo
prazo, a fim de viabilizar a produção local de biolubrificantes.
28
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
5. Indústrias relacionadas
O setor de embalagem é de grande importância para o segmento de lubrificantes. As
embalagens representam entre 10% e 20% do custo de produção, de acordo com especialistas
do setor. Além de possuir representatividade no custo total do lubrificante, a embalagem
também influencia a percepção que o consumidor final possui pela marca. Grande parte da
margem obtida pelas empresas desse setor é resultante do reconhecimento de suas marcas,
principalmente no segmento automotivo. Com isso, produtores de lubrificantes automotivos
investem em embalagens mais elaboradas para atrair os consumidores. Em diversas plantas
localizadas no Brasil e no mundo é comum encontrar fábricas de embalagens integradas às
de lubrificante, gerando benefícios para ambas as empresas.
De acordo com especialistas, a indústria de embalagens local não representa nenhum
gargalo que possa limitar investimentos no segmento de lubrificantes no Brasil.
6. Diagnóstico e plano de ação
A balança comercial brasileira de óleos lubrificantes é deficitária em todos os subsegmentos
da cadeia de valor: lubrificantes acabados, óleos básicos e aditivos para lubrificantes. Este
déficit vem aumentando nos últimos anos devido ao aumento na demanda por lubrificantes,
que não foi acompanhado pelo aumento da produção interna de óleos básicos e aditivos.
Em lubrificantes acabados, a maior parte do mercado interno é atendida pela produção
local40. Com isso, as oportunidades poderiam se voltar para a exportação. Porém, não parece
haver interesse das multinacionais instaladas no país em tornar o Brasil um polo exportador
de lubrificantes. Na visão destas empresas, o Brasil não oferece matéria-prima competitiva
(36% do consumo interno de óleos básicos e 43% do de aditivos é suprido por importação)
para a fabricação dos lubrificantes. Para empresas nacionais como Petrobras e Ipiranga, além
da falta de competitividade dos insumos, há desafios tecnológicos para atender mercados
com demanda sofisticada. Como a demanda local ainda é pouco sofisticada, os produtores
nacionais não consolidaram sua capacidade de desenvolver produtos mais especializados.
As oportunidades para incentivar a produção local de aditivos para lubrificante e
reverter o déficit da balança comercial no segmento de óleos lubrificantes não se
mostram promissoras. O mercado mundial é concentrado em quatro empresas que não
possuem muitos incentivos para investir no País. Estas empresas centralizam seus
esforços em P&D e vêm migrando suas capacidades produtivas para países da Ásia. Nos
últimos dois anos todas as quatro grandes empresas anunciaram abertura de unidade ou
intenção de investimento em capacidade produtiva na Ásia.
Em 2012, as importações líquidas de lubrificantes representaram apenas 8% do mercado local, em
volume.
40
29
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
Óleos básicos concentraram os maiores déficits da balança comercial do segmento de óleos
lubrificantes nos últimos 5 anos. A produção nacional de óleos básicos depende da Petrobras
através da rota convencional do refino, que não é escopo deste Estudo por se tratar de uma
atribuição da Petrobras no âmbito do Governo Federal. Entretanto, o óleo básico também
pode ser obtido através de três rotas tecnológicas não convencionais. Estas rotas se
encontram em estágios diferentes do ciclo de vida e têm impactos e oportunidades distintas.
•
Rota renovável (biolubrificantes): o Brasil possui matéria-prima local competitiva
para a obtenção de óleos básicos por esta rota. Falta, no entanto, uma rota tecnológica
capaz de produzir óleos básicos a custos competitivos e no volume necessário para
ter maior representatividade no mercado nacional;
•
Rerrefino: a reutilização de lubrificantes usados e/ou contaminados supre
atualmente 19% da demanda por óleos básicos para lubrificantes. Um dos fatores que
impede um crescimento deste mercado diz respeito à falta de fiscalização por parte
dos órgãos públicos quanto ao descarte irregular de lubrificantes usados e/ou
contaminados;
•
Rota XTL: esta rota apresenta diferentes desafios para se tornar uma rota
representativa de produção de óleos básicos. O CTL possui uma restrição de
disponibilidade e qualidade de matéria-prima local, carvão, que compromete seu
desenvolvimento no Brasil. Comparativamente às demais tecnologias XTL, o BTL
apresenta um maior grau de incerteza sobre viabilidade e prazo para se tornar
operacional. O GTL possui um entrave relativo ao prazo de início do fornecimento
de gás em larga escala para esta finalidade. No entanto, é esperado que este
fornecimento se torne uma vantagem competitiva do país nesta rota tecnológica no
longo prazo.
Dessa forma, as oportunidades mais promissoras, de investimento no Brasil, estão
concentradas no mercado de óleos básicos: rota renovável, rerrefino e GTL. No entanto,
é importante ressaltar que as três oportunidades destacadas possuem diferentes
impactos (ganho financeiro e prazo de captura) na balança comercial e no
desenvolvimento da indústria química.
Em biolubrificantes, apesar de a oportunidade ser relativamente pequena, seja em volumes
ou valores financeiros, os produtos desse subsegmento possuem maior valor agregado
quando comparados aos demais produtos desse setor e apresenta perspectivas de
crescimento mais acelerado. O país possui competitividade de alguns fatores de produção,
principalmente com a matéria-prima local, que pode torná-lo um exportador e uma
referência tecnológica. O rerrefino tem potencial restrito pela baixa diferenciação dos
produtos finais e pela limitação na disponibilidade de OLUCs ainda não aproveitados pelo
rerrefino. Apesar disso, é uma oportunidade com impacto no curto prazo e que afeta
diretamente a balança comercial de óleos básicos. O GTL representa a maior oportunidade
em termos absolutos, mas depende de um suprimento de gás previsto apenas após 2020.
30
Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
6.1.
Rota renovável
O mercado de biolubrificantes é ainda incipiente no Brasil, porém promissor. A
representatividade dos biolubrificantes no mercado global indica que há um grande
potencial de crescimento do mercado interno. Além disso, a vantagem competitiva que o
Brasil possui para produção de matéria-prima (principalmente plantas oleaginosas) coloca o
país em posição privilegiada para se tornar um player competitivo no mercado global.
Um dos principais entraves para o desenvolvimento desta indústria é a baixa coordenação
entre os diferentes elos da cadeia. Para viabilizar o investimento em uma biorrefinaria, é
necessário haver segurança de que existirá um mercado a jusante. Da mesma forma, um
produtor de óleos lubrificantes a partir de insumos renováveis deve ter garantia de
fornecimento de matérias primas. Desta forma, iniciativas governamentais para incentivar a
coordenação dos investimentos entre os diferentes players (por exemplo, criação de polos de
químicos renováveis) poderiam contribuir com essa oportunidade.
Um dos riscos deste investimento está associado ao suprimento de oleaginosas no primeiro
elo da cadeia. No Brasil, enquanto algumas culturas de oleaginosas não possuem escala de
produção suficiente para atender o mercado potencial, outras, como a de soja, competem
com as demais indústrias, como a dos biocombustíveis e a alimentícia.
Medidas regulatórias podem incentivar os investimentos no País em duas vertentes:
demanda de lubrificantes e fornecimento de matéria-prima. Regulamentações mais rígidas
sobre a utilização dos lubrificantes em algumas indústrias; por exemplo, a alimentícia;
podem representar um aumento na demanda por biolubrificantes. Além disso,
regulamentações que proporcionem uma maior segurança no fornecimento de matérias
primas vegetais podem incentivar a entrada de investidores no subsegmento de
biolubrificantes.
6.2.
Rerrefino
O rerrefino já tem uma importante contribuição na redução do déficit comercial brasileiro do
segmento de óleos lubrificantes. Entretanto, esta contribuição pode ser potencializada.
Apesar do baixo valor agregado do produto final (óleos básicos do Grupo I), o investimento
em rerrefino pode ter impacto na redução do déficit da balança comercial. Operando no
potencial máximo, ou seja, aproveitando 100% do OLUC disponível e empregando
tecnologias com eficiência de 80% (eficiência atual é de aproximadamente 60%), a produção
de óleos básicos a partir do rerrefino pode dobrar. Isto representaria um impacto de 285
milhões de dólares na balança comercial, o equivalente a uma redução de aproximadamente
30% no déficit comercial do segmento de lubrificantes em 2012.
A oportunidade de rerrefino apresenta poucos riscos, uma vez que já existe domínio da
tecnologia. O limitante para a expansão desta atividade é o fornecimento de matériaprima. Este fornecimento é garantido por lei, mas não é praticado pela falta de uma
fiscalização mais rígida. O incentivo para este setor passa por uma estrutura de
fiscalização mais efetiva que garanta o cumprimento das leis que regem a disposição
final dos lubrificantes usados e contaminados.
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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
6.3.
Processo GTL
O Consórcio acredita que a disponibilidade de gás natural a partir de 2020 torna o
desenvolvimento da rota GTL uma oportunidade, no longo prazo, não apenas para a
substituição da importação de óleos básicos, mas também para outros segmentos da
indústria química. Associam-se a isso as condições de demanda apresentadas,
principalmente relativas às exigências ambientais (ex.: redução da concentração de enxofre
nos derivados de GTL).
A segurança de suprimento de gás natural a custo competitivo é o principal desafio para o
desenvolvimento da rota GTL. Esta segurança pode ser obtida pelo descasamento de preço
do gás natural como matéria-prima, acompanhado por uma garantia de suprimento. Este é
um tópico em estudo que vem sendo conduzido pelo Governo Federal em conjunto com o
BNDES e associações da indústria química.
Outro fator importante para viabilizar essa oportunidade é a existência de
infraestrutura dutoviária que possibilite o suprimento de gás às plantas de GTL. Neste
sentido é importante um planejamento integrado da logística de suprimento e
distribuição de gás que considere a tecnologia GTL. Como o processo transforma gás
em líquido, ele viabiliza seu transporte por meios convencionais.
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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Bongardt, 2008.
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Relatório 3 – Óleos lubrificantes