1A teologia da criação: Deus criador do Céu e da Terra
1.1 Deus criou os céus: o mundo invisível e os anjos (angeologia1)
No tratado sobre antropologia e criação do mundo convém abordar o assunto da criação
do mundo invisível. A criação do céu e das criaturas celestes, os anjos e os demônios e
sua influencia sobre a vida das pessoas. Tratar desse assunto auxilia o ser humano a
compreender que existe uma historia da salvação e da perdição que está além da nossa
realidade física. A história da salvação ou da perdição está além da história humana. A
civilização moderna questiona a existência de anjos e demônios pelo racionalismo e
necessidade de provas cientificas para comprova a existência de seres angelicais.
Existem nos povos a tendência a explicar o que não entendem mediante a intervenção
de seres de outro mundo. A presença das ninfas, sátiros, bruxas e demais seres
legendários não deixa de ser parecido com as atividades dos anjos.2
Os anjos extrabíblicos:
As diversas religiões politeístas da antiguidade, na China, Corrêa, Índia, Pérsia, México,
Perú, Egito, Grécia, Roma, na Mesopotâmia acreditam na existência de seres
intermediários entre os deuses e os seres humanos. Nos povos primitivos se admite a
existência de seres supramundanos para explicar fenômenos naturais ordinários ou
extraordinários. As coisas vão tendo uma alma semelhante a humana que pode ser
benévola ou maléfica. As enfermidades, as loucuras são originarias desses seres.
No Egito suas divindades são rodeadas de seres inferiores que formam sua corte.
Alguns são os achu, seres de luz, bondosos. A maior parte tem a missão de causar
enfermidades aos seres humano e torturar os doentes. Resquícios dos antigos estão na
Bíblia com os querubins colocados na arca da aliança (Ex 37), de inspiração babilônica,
que servem para guardar os símbolos da divindade. Na Babilônia, é grande a quantidade
de demônios que causam mal ao ser humano. Os demônios não estão submetidos as
divindades superiores. Assim nos gregos, romanos, no Irã, difunde esses seres
intermediários.3
1
Uma obra muito importante na angeologia, é Sam Dinis, o aeropagita, que escreve sobre a hierarquia
dos anjos. O livro a hierarquia celeste.
2
MARTINEZ, SIERRA, Alejandro. Antropologia, p. 143-145.
3
MARTINEZ, SIERRA, Alejandro. Antropologia, p. 147-149.
Os anjos no judaísmo:
Os nomes: o termo hebraico malak e a tradução grega aggelos não indica a natureza da
pessoa, mas seu exercício. Santo Agostinho observa que o nome dos anjos é o nome do
oficio, não de sua natureza. A natureza dos anjos é espiritual. O anjo pode ser um
mensageiro, um profeta, um sacerdote, o precursor do senhor. Aqui a palavra anjo pode
ser considerado como pessoas enviadas por Deus para ajudar. Na vulgata, somente o
termo ângelus indica propriamente o sentido de anjo, criaturas espirituais.
Número dos anjos: Dn 7,10: Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de
milhares o serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e abriramse os livros.
A existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama de
anjos é uma verdade de fé. O anjo é uma designação de um encargo a cumprir. São
servidores e mensageiros de Deus. Enquanto criaturas espirituais, são dotadas de
inteligência e de vontade: são criaturas pessoais e imortais. Os anjos são mensageiros,
protetores e adoram a Deus todo instante.
A subordinação dos bons anjos é atestada pelo seu papel de executores da vontade
divina. No Gn, existe sentinelas a entrada do paraíso para Adão e Eva não voltarem ao
paraíso; intervém no sacrifício de Isaac, também fazem parte da corte de Deus e alguns
são chamados de serafins, ardentes, conforme Is 6,2: No ano em que morreu o rei Uzias, eu
vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o
templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus
rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros,
dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.
No judaísmo se desenvolve a angeologia na ideia do anjo de Javé. No grupo de Qmrãm
existe uma angeologia mais desenvolvida: existe uma hierarquia dos anjos, possuem
nomes próprios como Gabriel, Miguel, Rafael, de acordo com a missão que
desempenham. Os anjos presidem os movimentos dos astros, a atmosfera, as estações,
os produtos da terra e o cuidado do ser humano.
A literatura bíblica fala de querubins e serafins. Querubins eram as sentinelas que
protegiam a arvore da vida no jardim do éden. Os serafins são citados em Is 6, 2-6, tem
6 asas, assistem ao trono de Javé nos céus e cantam louvores. O anjo de javé ou o anjo
do senhor se associa a uma ação especial na qual o próprio Deus está empenhado, é uma
espécie de anteparo a presença de Deus porque sua santidade destruiria os humanos.
A sua ocupação é formar a corte de Deus para gloria-lo e servi-lo. Encomendam-se
funções cósmicas dirigir os astros, as chuvas, as intervenções na historia. Pouco a pouco
se formou a ideia dos anjos da guarda, conforme os salmos 34,8: O anjo de Yahweh
acampa ao redor dos que o temem, e os liberta. E no sl 91,11: a desgraça jamais de
atingira e praga nenhuma chegará a tua tenda. Pois em teu favor ele ordenou aos seus
anjos que te guardem em teus caminhos todos. Os anjos possuem a missão de
acompanhar os passos humanos e de revelar a vontade de Deus. O anjo do senhor porta
a salvação nos perigos e alivio nas angustias. O anjo opera salvação do povo no Egito,
no mar vermelho e no deserto.
O testemunho bíblico ensina que os seres angélicos possuem distintos significados: são
mensageiros de Javé, transmitem para as pessoas notícias boas. Por meio dos anjos,
Deus intervém na história, salva nas dificuldades. Os anjos possuem nomes que revelam
sua função. Rafael significa Deus sarou; Miguel significa quem como Deus; Miguel é o
príncipe dos anjos (Dn 10,13 Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e
eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da
Pérsia.) que vence a luta contra o dragão, que se revela como satanás, sedutor do mundo
inteiro. Gabriel significa o poder de Deus.
No livro apócrifo de Enoc apresenta os arcanjos: Miguel, Gabriel, Rafael, Uriel. Gabriel
é um anjo guerreiro, o chefe dos exércitos divinos que guerreia na defesa do povo de
Israel contra todos os que o ameaçam, sobretudo satanás. Miguel realiza a guerra
escatológica na qual ocorre a salvação dos eleitos e a derrota do inimigo. Miguel é o
libertador escatológico, o agente da intervenção divina. Miguel é o príncipe da luz em
oposição a lúcifer o portador da luz. No livro do apocalipse (Ap 12,7-9) aparece a luta
escatológica de Miguel contra satanás. E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos
batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; Mas não prevaleceram,
nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente,
chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus
anjos foram lançados com ele.
No livro de Tobias aparece o nome do anjo Rafael: Tobias saiu em busca de alguém que
conhece o caminho e que fosse com ele a media. As sair, encontrou Rafael, o anjo, de
pé diante deles; mas não sabia que era um anjo de Deus.
No inicio do judaísmo os anjos de Deus realizam castigos em nome de Javé
Ex 12, 23: Porque o Senhor passará para ferir aos egípcios, porém quando vir o
sangue na verga da porta, e em ambas as ombreiras, o Senhor passará aquela porta, e
não deixará o exterminador entrar em vossas casas, para vos ferir.
Sl 35,5: Sejam confundidos e envergonhados os que buscam a minha vida; voltem atrás
e envergonhem-se os que contra mim tentam mal. Sejam como a moinha perante o
vento; o anjo do Senhor os faça fugir. Seja o seu caminho tenebroso e escorregadio, e o
anjo do Senhor os persiga.
No antigo testamento a angeologia dividi-se entre antes e depois do exílio. Na
angeologia pré-exilio se fala de anjos de uma forma generalizada. Fala-se desse
mal’akim, uma palavra de origem arábica la’aka, que significa qualquer um que possui
uma missão e que o livro dos LXX traduziu por mensageiro, sobretudo mensageiro de
javé. Temos uma serie de anjos no plural e genéricos, como nos textos de Gn 18 e 19:
são anjos que acompanham Deus a Mambré e para salvar Lot da destruição de Sodoma.
Jacó sonha com anjos que sobem e descem do céu.
Gn 28, 12: E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis
que os anjos de Deus subiam e desciam por ela;
1 Rs 22,19: Então ele disse: Ouve, pois, a palavra do Senhor: Vi ao Senhor assentado
sobre o seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua mão direita e à sua
esquerda.
Nessa etapa do bíblia, não há distinção entre anjos bons e maus. Os anjos são ajudas de
Deus que podem também castigar para o bem do povo.4
Após o exílio: a figura do anjo de javé aparece mais distinto do próprio Javé e se
multiplica o numero de anjos. No livro de Daniel (Dn 10,13) aparece o nome do anjo
Gabriel: E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos
filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação
4
MARTINEZ, SIERRA, Alejandro. Antropologia, p. 154-156.
até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito
no livro.
Após o exílio ocorre uma mudança na angeologia: passou-se a acreditar num exercito
celeste que luta contra forças malignas e na batalha cósmica contra os inimigos de Deus.
Nessa guerra o inimigo também é um anjo, satã, o chefe do anjo hostil.
É na apocalíptica judaica que aparece a presença do anjo decaído e de todos os que o
arrastaram ao pecado. A explicação do mal feita pelos autores, levados a imaginação,
criam narrações para explicar o pecado dos anjos e a influencia do mal que padece as
pessoas.5
Novo testamento:
O novo testamento segue a linha do antigo testamento. Jesus na sua vida fala
constantemente da presença dos anjos. Estão presentes na anunciação/ encarnação, nas
tentações onde Jesus é servido por anjos, na paixão e no anuncio da ressurreição.
Na historia da teologia foi Dionísio que hierarquizou a existência dos anjos. São três
grupos de hierarquia:1) anjos, arcanjos e principados; 2)potencias, virtudes,
dominações, tronos, querubins e serafins. Sua função é garantir a salvação dos seus
fieis. Na arte da Renascença, foram representados os anjos em forma humana, mulheres
e crianças. Isso não tem nada a ver com a sexualidade, mas com o ideal de vida que
deveria ser a semelhança dos anjos. Os anjos não tem desejo sexual e isso atrapalha o
fiel de seguir o ideal cristão.
O catecismo da Igreja Católica desenvolve nos parágrafos nº 325-335, sua doutrina
sobre os anjos.
5
MARTINEZ, SIERRA, Alejandro. Antropologia, p. 149-151.
A malicidade do demônio: o anjo decaído
Influência extra bíblica:
Na mesopotâmia aqueles males da vida que não constituíam grandes catástrofes naturais
eram atribuídos a más influencias dos demônios. O numero de demônios era quase
ilimitado. Para combater a maldade o bruxo devia conhecer o nome do demônio, razão
pela qual a literatura mesopotâmica contem muitos nomes de demônios. O nome do
demônio mal era utukku. Quando atacavam o ser humano- ashakku: para doenças da
cabeça; namtaru, a garganta; utukku, o pescoço; alu, o peito; etimmu, as mãos; o gallu,
os pés. A maior parte dos demônios tinha forma meio humana: cabeça de leão, corpo de
mulher, dentes de cão e garras de águia. Os demônios frequentavam os túmulos e
lugares desertos. Nem todos os demônios eram maus, havia os demônios bons, o shedu
e o lamassu que são invocados para expulsar os demônios maus. Na literatura grega
havia seres intermediários entres os deuses e os humanos, os daimones. O judaísmo
herda essa influencia dos povos vizinhos especialmente para explicar as doenças e
desgraças. Nos livros apócrifos, os demônios são descritos como anjos decaídos. 6
Antigo testamento:
A demonologia no AT não chega a chamar a atenção como em outras culturas. Isso
porque havia a soberania absoluta de Deus sobre a vida humana. Israel atribuía as
bênçãos e também a maldição e desgraça ao seu único Deus. Até mesmo os espíritos
maus são tidos como enviados por Deus. Os anjos exterminadores não são demônios ou
satanás por trazerem a desgraça, mas agentes de catástrofe a mando divino. O antigo
testamento também ainda não contem referencias diretas ao diabo. A vinculação de
textos como Gn 3, a serpente, Is 14, lúcifer, e Ez 28, como sendo o diabo é feita
posteriormente nos apócrifos e no novo testamento. Satan, que aparece no prólogo de Jô
está a serviço de Deus na função de acusador. Somente posteriormente, os males
deixaram de ser atribuídos a Deus, mas ao seu opositor. O novo testamento chega ao
auge essa concepção.
6
MCKENZIE, John. Dicionário bíblico, verbete demônio, p. 225.
A figura de Satãn: é uma expressão própria do pós-exílio, que significa adversário,
inimigo. Na tradução dos LXX é traduzido por diábolos, que é caluniador, acusador,
sedutor. No antigo testamento aparece 26 vezes, se referindo a diversas personalidades:
Nm 22,23-23: E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia; e o anjo do Senhor pôs-se-lhe no
caminho por adversário; e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos
com ele.
Após o exílio, o termo começa a ganhar mais uma característica negativa no confronto
com o ser humano. Temos três textos que mostram a evolução na oposição de satan com
o ser humano. O primeiro texto de Zc 3,1-5: E ele mostrou-me o sumo sacerdote Josué, o
qual estava diante do anjo do SENHOR, e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe opor.
Mas o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreenda, ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu
Jerusalém,
te
repreenda;
não
é
este
um
tição
tirado
do
fogo?
Josué, vestido de vestes sujas, estava diante do anjo.
Aqui satanás é um anjo que cumpre a função de acusador publico do grande sacerdote.
Não se mostra malvado, mas como adversário de Deus no sentido de uma preferência
contraria a sua.
No segundo texto de Jó 1,6-12: E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se
perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então o Senhor disse a Satanás: Donde
vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela. E disse o
Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a
ele,
homem
íntegro
e
reto,
temente
a
Deus,
e
que
se
desvia
do
mal.
Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura teme Jó a Deus debalde?
Porventura tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas
mãos
abençoaste
e
o
seu
gado
se
tem
aumentado
na
terra.
Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua
face.E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra
ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor.
Aqui mais que um acusador, satanás é um tentador. É um anjo a serviço de Deus que
percorre a terra para observar o comportamento das pessoas em relação a Deus. É
alguém que testa a fidelidade da pessoa com Deus. Longe se ser um perverso que incuti
ódio contra Deus, é um bom servidor que prova os interesses do ser humano na relação
com Deus.
Na terceira etapa satanás ganha seu nome próprio como o anjo malvado que induz o rei
Davi ao pecado contra seu povo, 2 Cr 21,1: Então Satanás se levantou contra Israel, e
incitou Davi a numerar a Israel.
Assim nas três figuras de Satanás há uma evolução que vê passar de um acusador, a
tentador e ao anjo maligno que induz o ser humano ao pecado. No livro da sabedoria é
atribuído a satanás a entrada da morte no mundo, Sb 2,24: Deus criou o homem para a
incorruptibilidade e o fez imagem de sua própria natureza; foi por inveja do diabo que
a morte entrou no mundo, experimentam-na quantos são de seu partido.
Lúcifer: a começar pelos santos padres para ilustrar a queda dos anjos serve o texto base
de Isaias 14, 12-15: como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por
terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das
estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do
norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.
O mito que se refere à origem do demônio vale-se do modelo fenício e explica que
Lúcifer era um anjo da primeira grandeza, muito belo, que se perverteu, quis ocupar o
lugar de Deus e por isso foi derrotado junto com o seu séquito. Há, portanto, um acento
sobre a perversão da beleza para explicar a origem do mal no mundo. O anjo da luz se
perverte e torna-se o mensageiro das trevas. A questão que se impõe é sobre a existência
do mal personificado e sobre a sua potência em relação à obra criada e ao próprio
Criador. Neste caso conjetura-se sobre o sentido da permissão da existência do mal no
mundo se o Criador é essencialmente o Sumo Bem.7
O texto descreve a queda do rei da babilônia. A derivação do nome lúcifer ao diabo se
deve pela pretensão de ser igual a Deus. É também utilizado o texto de Ezequiel 28,1219: Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o
Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura.
Estiveste no Éden, jardim de Deus; de toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônia,
topázio, diamante, turquesa, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam
os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados.
7
Texto de teologia, a serpente intrusa.
Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no
meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste
criado,
até
que
se
achou
iniquidade
em
ti.
Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te
lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras
afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria
por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti.
Pela multidão das tuas iniquidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus
santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a
terra, aos olhos de todos os que te veem. Todos os que te conhecem entre os povos estão
espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais subsistirá.
Concluindo: o ensinamento do Antigo Testamento a respeito de Satanás afirma que ele
existe como um ser pessoal sob o domínio de Deus e tenta levar o homem à ruína de
uma forma nefasta, incitando-o a se rebelar contra Deus e instigando-o a se afastar de
Deus. Apesar disso, contudo, com a ajuda de Deus, o homem pode resistir a Satanás e
permanecer fiel a Deus.
Enfim, não encontramos na Bíblia a menor referência de um primeiro princípio
autônomo em oposição a Deus. Isso é especialmente importante, em vista do fato de que
o mundo pagão era penetrado por um dualismo num sentido de tentar resolver o
problema da maldade mortal.
Novo testamento:
São Pedro dedica uma linha ao assunto: “Deus lançou nos abismos do inferno os anjos
que haviam pecado” (2 Pd 2,4);
O diabo relatado no Antigo Testamento é o mesmo que se faz presente no Novo
Testamento. Os diferentes nomes usados são sempre para o mesmo ser. Por exemplo,
lemos no Livro do Apocalipse (12,9): “Foi então precipitado o grande Dragão, a
primitiva Serpente, chamada Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi
precipitado na terra, e com ele os seus anjos”.
Há pelo menos 300 referências ao demônio no Novo Testamento, com uma variedade
de nomes que denotam a sua natureza e a sua maldade. A razão para tantas referências é
o fato de que o Messias veio, e que significou a derrota de Satanás e a destruição de seu
reino. Numerosas passagens referem-se a isso, mas duas serão suficientes. A Primeira
Carta de João (3,8) declara: “Eis porque o Filho de Deus se manifestou: para destruir as
obras do demônio” Marcos registra em seu Evangelho que, enquanto Jesus estava
pregando na sinagoga, um homem possesso por um demônio gritou: “Que tens tu
conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!” (1,24).
Precisamente por causa dessa confrontação e conflito entre Jesus, o Redentor da
humanidade, e o diabo, “o príncipe deste mundo”, o ensinamento do Novo Testamento
sobre o demônio “não seja isolado; mas sofre uma redução cristológica porque
constantemente faz uma referência ao Salvador. O demônio encontra em Cristo e sua
ação redentora a base para a sua avaliação”.
Jesus nos pôs de guarda contra o diabo em seu Sermão da Montanha (Mt 5,37) e no PaiNosso (Mt 6,13). Ele aponta o diabo como um obstáculo à sua pregação (Mt 13, 19; 39;
Lc 8,12); Ele menciona o diabo, quando confere a primazia a Pedro (Mt 16,19), na
Última Ceia (Jo 16,11) e no Jardim do Getsêmani (Lc 22,53). Mas exatamente quando
parecia Satanás vitorioso, o triunfo de Cristo estava para começar – o triunfo da cruz. A
luta na tentação de Cristo pelo diabo foi, o prólogo de sua missão messiânica. E a luta
continuou através da vida pública do Salvador.
A luta entre Jesus e Satanás e a antítese entre o reino da luz de Cristo e o reinado de
Satanás das trevas são salientadas, com frequência no Novo Testamento e especialmente
por São João e São Paulo. O que está em risco é a salvação da raça humana.
A derrota de Satanás foi em definitivo concluída pela morte de Cristo. Anteriormente,
em seu ensinamento sobre o Reino de Deus, Jesus tinha dito: “Vi Satanás cair do céu
como um raio” (Lc 10,18); e, na véspera de sua morte, Ele disse: “Agora é o juízo deste
mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo. E, quando eu for levantado,
atrairei todos a mim” (Jo 12, 1-32). Podemos ler na carta aos Hebreus que, por sua
morte, Jesus despojou o diabo de seu poder e libertou aqueles que tinham sido escravos
a vida inteira. Assim, o domínio sobre o mundo, que Satanás ousou oferecer a Jesus, na
tríplice tentação, pertence agora a Cristo ressuscitado. Ele proclamou isto, quando
apareceu aos discípulos na Galileia, após a ressurreição dentre os mortos: “Toda
autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28,18).
A expulsão de demônios é uma prova evidente de que o “Reino de Deus chegou até
vós” (Mt 12,28; Lc 11,20; e de que o poder de Satanás foi abalado (cf. Mc 3,27; Lc
10,18). Os demônios sabiam que Jesus é o Messias (cf. Mc 1,24; 34; Lc 4,24) e que o
tempo de sua derrota havia chegado (cf Mc 5,7; Lc 8,28). Além disso, Cristo deu aos
discípulos poder sobre os demônios (cf. Mc 10,1; Mc 6,7; Lc 9,1) e eles fizeram uso
desse poder (Mc 6,12-13; Lc 10,17;20). Mas sempre que ordenavam que um demônio
deixasse uma pessoa, eles o faziam em nome de Jesus (cf. Mc 7,22; 9,38-39).
Segundo os testamentos, os anjos foram condenados imediatamente após cometer o
pecado, e de novo serão condenados definitivamente no dia do juízo universal. Também
São João (8,44: ) atesta o pecado e o castigo dos anjos.
Judas 1,6: E quando os anjos que não conservaram o seu principado, mas
abandonaram a sua morada, guardo-os presos em cadeias eternas, sob as trevas, para
o dia do grande julgamento”.
Patrística
Nesse período a Igreja começou a afirmar que Deus criou os anjos bons. Alguns, usando
equivocadamente sua liberdade, e pelo pecado da soberba, rebelaram-se, sendo
expulsos do céu. Deus não criou os anjos bons e os demônios maus. Criou a todos anjos
e bons. Os demônios tornaram-se maus por decisão própria e pessoal.
Imediatamente após terem pecado, os anjos decaídos foram condenados ao “fogo
eterno preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25,41). E o fato de esta ser uma
punição eterna é afirmado várias vezes no Novo Testamento. Por exemplo, “castigo
eterno” (Mt 25,46); “fogo inextinguível” (Mc 9,43); “fogo que não se apaga” (Mc 9,48);
“a fumaça do seu tormento subirá pelos séculos dos séculos” (Ap 14,11); “onde serão
atormentados dia e noite, pelos séculos dos séculos” (Ap 20,10).
A maioria dos teólogos tem sido fiel ao ensinamento tradicional, embora Didimus de
Alexandria e São Gregório de Nissa preferissem o termo técnico usado por Orígenes
apokatástasis, que significa renovação ou restauração. Mas esse ensinamento, entre
outros erros de Orígenes, foi condenado pelo Sínodo de Constantinopla (543 d.C.) e a
promulgação da condenação feita pelo Papa Virgílio.
Concílios da Igreja
“As três pessoas divinas são um princípio único de todas as coisas, criador de todos os
seres visíveis e invisíveis, espirituais e corporais. Por sua força todo-poderosa, desde o
início do tempo, criou simultaneamente, a partir do nada, uma e outra criatura, a
espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre; depois criou a criatura
humana, que consta de espírito e corpo. O diabo e os outros demônios foram por Deus
criados naturalmente bons, mas por si mesmos se tornaram maus”. (IV Concílio
Lateranense – 1215).
Declarações a respeito do diabo foram também emitidas pelo concílio Ecumênico de
Florença8 (1431-1437) e pelo Concílio de Trento9 (1545-1563).
O Concílio Vaticano II (1962-1965) Se refere ao demônio 18 vezes.
A primeira referência é encontrada no documento sobre liturgia Sacrosanctum Concílio
“ (...) Cristo libertou-nos do poder do Satanás e da morte. Também na Lumen Gentium
existe referência ao diabo “Os milagres de Jesus também demonstram que o reino já
está nomeio de nós:’ Mas se expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é
chegado a vós o Reino de Deus”.
Ensinamento da igreja
Embora a queda dos anjos seja certa, não está claro qual foi a causa. A Igreja
nunca fez qualquer pronunciamento oficial a respeito. Temos nada mais do que
hipóteses, das quais podemos enumerar três.
1- A teoria mais aceita – os anjos decaídos pecaram por orgulho. O orgulho
consiste em não se submeter a um superior, quando a submissão lhe é devida.
2- Segunda hipótese – o pecado dos anjos decaídos foi seu ciúme e inveja acerca do
gênero humano. Dentre os proponentes dessa doutrina estão São Justino,
Tertuliano, São Cipriano, São Ireneu e São Gregório de Nissa. De acordo com
essa teoria, os anjos que governam a esfera terrestre não podiam aceitar o fato de
que os seres humanos, criados após os anjos, seriam feitos à imagem de Deus e,
além disso, de que Deus colocaria todas as criaturas na Terra sob seu domínio.
3- A terceira hipótese, sustentada no século XVI
pelo dominicano Ambrósio
Catarino e pelo jesuíta Francisco Suarez, também afirma que a queda dos anjos
8
9
cf. DS. 1347, 1349.
cf DS. 15,21, 1523 e 1668
foram ciúmes e inveja. Contudo, a razão precisa era o fato de que o Filho de
Deus assumiria a natureza humana; em outras palavras, sua inveja e ciúmes
foram resultados do mistério da Encarnação.
Orígenes nomeou o orgulho como o pecado dos anjos decaídos. Lúcifer desempenhou
um papel importante na queda dos anjos. As palavras do profeta Isaías (14,12) a
respeito do rei da Babilônia foram atribuídas a Lúcifer. “Então! Caíste dos céus, astro
brilhante, filho da aurora!”
Os teólogos estão geralmente de acordo, ao dizer que a queda dos anjos ocorreu logo
após sua criação, porque, como Tomás de Aquino ensina, para os anjos decaídos a
obtenção da perfeita felicidade no céu através de atos meritórios era incerta.
São Tomás de Aquino afirma também que o pecado de um anjo em particular foi a
causa do pecado de todos os outros, não como uma causa determinante, mas como
motivadora10. Isto é verdade, muito embora todos tenham pecado no mesmo instante,
uma vez que, como seres exclusivamente espirituais, não estavam, portanto, sujeitos à
medida do tempo.
Finalmente podemos presumir que os anjos, que permaneceram fiéis, eram maiores em
número do que os que pecaram, porque, ao contrário de nós, o pecado é mais
improvável em seres puramente espirituais e, portanto, deve ser considerado como algo
excepcional .
O Catecismo
Conforme o Catecismo, antes da opção de pecados dos primeiros pais há uma voz
sedutora que se opõe a Deus. A Escritura e a Tradição da Igreja veem neste ser um anjo
decaído chamado Satanás ou diabo. A Igreja ensina que era um anjo bom criado por
Deus, mas por opção revoltou-se contra o Criador. Por contemplarem a Deus no Céu, o
pecado dos anjos não pode ser perdoado. Não existe arrependimento depois da queda
dos anjos. A permissão divina para a atividade diabólica na criação é um mistério.
(Existem teorias teológicas que ainda ensinam que no fim dos tempos haverá a
conversão de todos, mesmo do anjo decaído, exemplo Origines). Cristo é o centro do
mundo angélico. São seus mensageiros do projeto de salvação. Na liturgia, a Igreja se
reúne com os santos para adorar o Deus três vezes santo e invocar sua assistência. Da
10
Cf. TOMÁS DE AQUINO. S.Theol. 1,63,9.
infância até a morte, a vida humana é protegida pelos anjos. O catecismo retoma São
Basílio: cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo á vida
(cat 329).
“É o caráter irrevogável da sua opção, e não uma deficiência da infinita misericórdia
divina, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado. “Não existe
arrependimento para eles depois da queda, como não existe arrependimento para os
homens a romper com Deus” Catecismo, n. 393
Magistério
Sobre a realidade ontológica do demônio, assim se expressou o Papa Paulo VI: “ O
diabo é uma força atuante, um ser espiritual vivo, perverso e pervertedor; uma
realidade assustadora, misteriosa e amedrontadora. Ele é o chefe de muitos seres
espirituais que são, como ele, originariamente boas criaturas de Deus, mas que se
afastam porque se revoltaram e foram condenadas ao inferno. Quem nega a existência
dessa realidade coloca-se fora da doutrina bíblica e eclesiástica”. 11
No domingo de Ramos, 31 de março de 1985, o Papa João Paulo II discursou para
300 mil jovens que foram a Roma. Sobre o diabo ele falou o seguinte: “Ser homem
significa manter uma proporção certa entre a criatura e a imagem de Deus. Manter o
equilíbrio. O homem perdeu este equilíbrio. Ele o deixou que fosse tirado dele.
Consciente e deliberadamente ele seguiu a voz do tentador que disse tanto à mulher
quanto ao homem: ‘Vocês serão como deuses, conhecedores do bem e do mal’ (Gn 3,5).
Naquele momento o homem rejeitou a vontade de Deus, destruiu a proporção entre a
imagem de Deus e a criatura de Deus”.12
A natureza e a quantidade de demônios
Os demônios ainda têm uma natureza angélica, porque o pecado não muda a natureza
deles. Eles são seres puramente espirituais, mas o que é um ser dessa condição
ultrapassa nossa compreensão e imaginação .
11
12
PAULO VI. Osservatore Romano, 24.11.1972.
JOÃO PAULO II Osservatore Romano, 9 .4. 1985.
O Apocalipse fala que o número dos anjos é de “miríades de miríades e de milhares de
milhares” (5,11) e, um pouco mais adiante, lemos que o Dragão “varria com sua cauda
uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. “Há um consenso de que o
número dos demônios é muito grande de fato”.
São Tomás questiona se o número dos anjos decaídos era igual ao número dos que
permaneceram fiéis a Deus.13 Ele contesta que, enquanto os seres humanos são
influenciados, em suas escolhas, por sua dependência dos sentidos, isto não ocorre com
os anjos porque são seres meramente espirituais. Além disso, desde que o pecado é
“inatural”, no sentido de ser contrário à natureza, e o que é natural ocorre na minoria
dos casos, segue-se que a maioria dos anjos permaneceu fiel a Deus .
Existem hierarquias entre os demônios?
O Novo Testamento deixa margem para que se conclua haver hierarquia. “Em
Mateus lemos: “Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele
expulsa os demônios”. Em outra passagem, diz outra vez: “É por Belzebul, príncipe dos
demônios, que ele os expulsa”. Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos disse:
“Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa dividida
contra si mesma não pode subsistir. Se Satanás expele Satanás, está dividido contra si
mesmo. Como, pois, subsistirá o seu reino?” (Mc 12,24-26).
Jesus também se referiu a uma hierarquia de anjos decaídos, quando falou do
“fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos” (Mt 25,41). Lemos no livro do
Apocalipse (12,7-9): Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de
combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E
já não houve lugar no céu para eles. Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva
Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na
terra, e com ele os seus anjos”.
Um argumento em favor da existência da hierarquia de anjos decaídos pode ser
baseado no fato de que anjos foram criados como anjos e, portanto, devem ter
pertencido à hierarquia de anjos a qual possui uma melhor fundamentação nas Sagradas
Escrituras.
13
Cf. TOMÁS DE AQUINO. S.Theol. 1,63,9.
Cada ser meramente espiritual, seja um anjo decaído ou um anjo bom, é um ser
único e, por isso, possui características específicas que manifestam sua individualidade
e que o distinguem de todos os outros espíritos.
Em última análise, os demônios estão todos unidos na mesma malícia do mal,
que consiste num ódio intenso a Deus, aos anjos bons e aos seres humanos.
Os demônios têm nome?
Existem nomes genéricos e nomes específicos. Nomes genéricos indicam as
características comuns a uma categoria ou a um grupo em particular, enquanto nomes
específicos referem-se a um indivíduo e possibilitam a distinção entre um indivíduo e
outro.
A respeito dos nomes específicos, não há razão para darmos nomes para os
demônios individualmente do mesmo modo que damos nomes a seres humanos para os
distinguirmos uns dos outros. Todos os anjos, bons e maus, estão num mundo espiritual
diferente do nosso.
Nomes são úteis para nós e, teoricamente, os demônios poderiam identificar-se a
si mesmos por nomes, a fim de se comunicarem conosco, mas qual garantia teríamos da
verdade, se os demônios são mentirosos?
De modo diferente dos nomes dados a seres humanos, o nome de um demônio
teria de designar algum aspecto de seu poder diabólico, de sua atividade ou algo
pertencente à sua própria natureza diabólica.
Designação mais freqüente usada no Novo Testamento:
“Espírito mau” – 76 vezes
“demônio” – 63 vezes (usualmente no plural)
“Satanás” e “Diabo” – 36 vezes – no hebraico significa adversário, opressor,
acusador, caluniador. A palavra diabo vem do grego e significa separar ou dividir, uma
vez que o diabo tenta nos separar de Deus. Esses são os nomes genéricos mais
frequentemente usados (211 vezes),
no Novo Testamento, para designar os anjos
decaídos.
Há também um total de 21 outros nomes empregados várias vezes: acusador, o
deus deste mundo, o inimigo, o tentador, o malvado, o assassino desde o princípio, o pai
da mentira, o pecador desde o princípio, o príncipe deste mundo, a serpente, o espírito
do mal, o espírito imundo, espírito impuro. Esses nomes aparecem num total de 300
vezes, no Novo Testamento, e são usados indiscriminadamente para descrever a
influência do mal e a atividade maliciosa dos espíritos maus.
Síntese
O diabo existe. Isto é afirmado frequentemente.
O diabo é um ser pessoal. Ele não é um conceito abstrato, mas um ser espiritual
real com personalidade própria (cf. Catecismo 2851).
O diabo (ou Satanás) não é simplesmente um outro nome para o pecado. São
João diz: “O diabo é pecador desde o princípio” (1Jo 3,8) Ele é, portanto, uma entidade
distinta do pecado, tendo sua própria existência e personalidade.
Seres humanos são livres para consentir ou não ao diabo e ao pecado. A
mensagem de redenção e salvação do Evangelho não faria senso algum, se não
fôssemos dotados de livre-arbítrio. Por isso, Jesus diz: “É do coração que procedem más
intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e
difamações” (Mt 15,19); e S. Tiago assevera: “Cada um é tentado pela própria
concupiscência, que o atrai e o alicia” (1,14).
O diabo, contudo, pode exercer influência sobre o pecador. Os escritores
sagrados, e especialmente São Paulo, veem o pecado pelo que realmente é: uma escolha
pessoal livre de uma pessoa em particular. Segundo, eles eram capazes de distinguir os
graus de culpabilidade em relação à influência que o diabo pode ter sobre um indivíduo.
Em termos bíblicos, não se consegue afirmar a existência de uma individualidade
chamada Satanás ou Diabo. É a afirmação teológica e doutrinal que afirma que existe
uma pessoa, individual que é a personificação do mal.
A Bíblia também discursa sobre os demônios. O primeiro discurso negativo contra os
demônios se refere a Asmodeu no livro de Tobias, 3,8. Jesus exercita uma atividade
missionária de vencer o poder dos demônios, age como exorcista para livrar as pessoas
dos males espirituais e físicos. Os exorcismos são explicados na dinâmica da
instauração do Reino de Deus no mundo, como sinal da vitória definitiva de Jesus sobre
o mal. Nos relatos bíblicos, Jesus nega que seu poder provém de Belzebu, mas é obra do
Espírito de Deus.
Os documentos ensinam: o diabo é uma criatura de Deus, não é um princípio incriado;
O Papa Leão I escreve: a substância de todas as criaturas é boa e que não há nenhuma
natureza do mal, pois Deus fez tudo bom. Daí segue que o diabo seria bom se
permanecesse na verdade, mas porque usou mal sua excelência passou para uma
substância contrária. O Papa João III: se alguém diz que o diabo não foi anteriormente
um anjo bom feito por Deus e que a sua natureza não foi obra de Deus, mas diz que ele
saiu do caos e das trevas e não há quem o tenha criado, sendo ele mesmo e o princípio e
também a substância do mal, seja anátema. O IV Concílio de Latrão confirma os
enunciados da bondade inicial do demônio e sua condenação eterna. O Catecismo
ensina a queda dos anjos, na sua liberdade rejeitaram a Deus, e por isso não podem ser
perdoados de sua rebeldia (cat 391-395).
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