Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação ORGANIZAÇÃO DA ESTRUTURA DE CUSTOS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E DE IDT No âmbito CONTABILIDADE ANALÍTICA PAPEL NUMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Texto de apoio elaborado por José Azevedo Rodrigues, tendo por base a obra “Contabilidade e Finanças para a Gestão” de António Borges, Azevedo Rodrigues e José Morgado Áreas Editora (3ª Edição no prelo) Documento elaborado exclusivamente para suporte às acções de formação promovidas por: ORDEM DOS REVISORES OFICIAIS DE CONTAS Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação O SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTABILÍSTICO 1. Características gerais A contabilidade pode identificar-se como um subsistema de informação financeiro que, tendo por base as operações realizadas pelas entidades, as regista em suportes próprios, por forma a produzir um conjunto de quadros e outros elementos que nos permitam conhecer a sua situação financeira e apurar os resultados da sua actividade. A contabilidade surge, desta forma, como um sistema natural das organizações, na medida em que são os factos e as transacções que nelas ocorrem, que constituem a sua matéria prima. A escassez de recursos exige o seu controlo e a sua boa utilização, independentemente dos seus fins (lucrativos ou não), pelo que a contabilidade constitui um instrumento indispensável numa sociedade moderna que se pretende de rigor, de conhecimento e de saber. Na figura seguinte pretende representar-se de forma esquemática e simples o papel do sistema de informação contabilístico. Papel da Contabilidade Factos, documentos ... O P E R A Ç Õ E S “INPUTS” “OUTPUTS” DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS •Conhecer a situação PROCESSAMENTO patrimonial: BALANÇO •Saber se perde ou ganha: DEMONSTAÇÕES dos RESULTADOS •Saber como se obteve e se gastou o dinheiro; FLUXOS MONETÁRIOS Contas, Lançamentos, Diários, Balancetes, ... Desenvolver instrumentos de registo próprio que ajudem ao rigor e melhor gestão e utilização da informação. O suporte de todo o processo contabilístico, são as operações (ou os documentos que a elas se referem) realizadas pelas empresas e demais entidades. Estas operações têm por base as transacções efectivamente realizadas (as compras, as vendas, o processamento duma remuneração, o aluguer duma viatura, etc..), bem como a determinados factos que, ainda não correspondam a transacções efectivas, mas que possam afectar ou vir afectar a situação financeira ou os resultados presentes ou futuros (um contrato de futuros, um juro vincendo, etc.). O papel da contabilidade consiste no registo, por ordem cronológica, dessas situações em suportes próprios (diários de movimentos, ou diários auxiliares), por forma a que venham a reflectir-se em contas (de acordo com um plano próprio) em que, a partir destas, se elaborem um conjunto de mapas e relatórios Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação com vista à prestação de informação aos seus múltiplos utilizadores. Este processo de registo poderá variar de entidade para entidade, de acordo com a sua gestão e organização, bem assim com o seu sistema informático mas, em todas elas, o processo pode assemelhar-se ao seguinte: Classificação dos documentos Diários de movimentos Introdução de dados LANÇAMENTO Processamento Bases de dados Comunicação Quadros de informação O grau de sofisticação do processo contabilístico depende não só dos recursos tecnológicos ao dispor da entidade, como também dos objectivos que se pretendam atingir com a informação contabilística. Nas entidades onde o objectivo da contabilidade se limita exclusivamente à prestação de contas para fins legais e fiscais, ou seja, onde contabilidade não é entendida como instrumento de informação de gestão e apoio à tomada de decisão, o processo é bastante elementar, limitando-se apenas a registar os documentos disponíveis e a observar as normas legais e fiscais. Pelo contrário, nas entidades onde a contabilidade é considerada como importante instrumento de gestão, de conhecimento da sua performances económica e financeira, de suporte a relatórios financeiros elaborados para entidades externas e de apoio à tomada de decisão, o processo torna-se mais sofisticado, porque os utilizadores são mais exigentes no tipo de informação que lhes é proporcionada, em particular na sua fiabilidade. Também a dimensão das entidades, a sua estrutura, forma de gestão e as actividades desenvolvidas, podem influenciar de forma significativa a organização do processo contabilístico. Contudo, o que é importante é a correcta classificação do documento ou facto (clara identificação da operação, dos valores envolvidos, das contas a serem movimentadas, de outros segmentos de análise a serem afectados) e o seu consequente processamento (lançamento ou registo em suportes - actualmente informáticos). Recorrendo às actuais tecnologias de informação, muitos destes procedimentos podem ser automatizados (classificação automática das receitas, das aquisições, das operações de caixa, das aquisições de imobilizados, etc.), pelo que o grande esforço dos responsáveis da contabilidade deverá cada vez mais centrar-se na concepção e organização do modelo e sistema contabilístico, na sua ligação com os restantes subsistemas de informação (gestão das compras, da tesouraria, do pessoal, etc.) e, em particular, Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação na conferência e controlo das contas, por forma a garantir uma imagem fiel e verdadeira da situação financeira da entidade e dos resultados da sua actividade. A fiabilidade e a relevância da informação contabilística muito depende da forma como está organizada a recolha e tratamento da informação, daí que para se obter informação oportuna haja necessidade de implementar continuamente novas formas de trabalho (códigos de barras, ligações automáticas, simuladores, etc.), apostando fundamentalmente na recolha de dados descentralizada e no tratamento centralizado do seu conjunto. Aliás, a contabilidade constitui o principal instrumento de informação financeira com credibilidade e segurança, porque: • é um sistema global que abrange todas as áreas da empresa; • é um sistema que assenta em normas, critérios e princípios definidos a nível internacional e globalmente aceites; • é um sistema estruturado e organizado, onde os dados não podem ser tratados de forma dispersa e isolada, mas sim global e coerente; • é um sistema que exige especialistas tanto na sua concepção e realização, como na sua conferência e controlo, pelo que as informações que dele resultam, devem transmitir segurança ao seu utilizador. Como a maioria das decisões de gestão têm repercussões financeiras (nas receitas, nos custos, nos activos ou nos passivos), nenhum responsável se deve alhear da informação proporcionada pela contabilidade. A descentralização e a responsabilização pelo cumprimento de determinados objectivos exige daqueles um mais profundo conhecimento e saber no domínio da contabilidade, não apenas para melhor interpretar as informações contabilísticas, mas também para ter consciência dos factores que estão por detrás dos seus bons ou maus desempenhos financeiros. Este último facto, muito tem contribuído para o aperfeiçoamento dos métodos e processos contabilísticos, não apenas para que a informação chegue a tempo (oportuna), mas também para que não distorça a realidade das operações (fiabilidade), tendo-se desenvolvido, em particular, o conceito de contabilidade de gestão (analítica) e colocado esforços na concepção e elaboração de relatórios financeiros em substituição dos tradicionais balancetes ou outros quadros contabilísticos normalizados. Sendo a contabilidade um instrumento que nos relata a situação financeira, económica e monetária das organizações, e caso se pretenda obter esta mesma informação, mas por determinadas áreas da entidade, tais como por departamento, por projecto, por programa ou curso, por área de actividade, etc., ou seja, aquilo que de forma simplificada iremos designar por segmento, então a resposta já será dada pela Contabilidade Analítica (por vezes chamada de Contabilidade de Gestão). 2. A contabilidade analítica ou de gestão 2.1- Missão da contabilidade analítica Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação Atendendo que a informação proporcionada pela contabilidade geral (ou financeira) se restringe aos valores globais da entidade, constata-se que estes elementos se tornam insuficientes para o acompanhamento das actividades descentralizadas e, consequentemente, elaboração dos respectivos relatórios financeiros. Queremos com isto dizer que conhecer o Balanço, a Demonstração dos resultados, a Demonstração dos fluxos de caixa de uma entidade no seu todo, apenas constitui uma vaga referência para conhecimentos da forma como se realizaram actividades mais descentralizados (projectos, cursos, etc.), pelo que se torna necessário que a contabilidade seja capaz de proporcionar informação a níveis mais elementares e mais orientada para o conhecimento da execução financeira de cada uma dessas actividades. Para responder a este tipo de necessidade desenvolveu-se um ramo do sistema contabilístico designado por contabilidade analítica ou contabilidade de gestão. A contabilidade analítica surge nas organizações, como um desenvolvimento da tradicional contabilidade industrial e, em fase posterior, contabilidade de custos. De facto, enquanto esta última se preocupa fundamentalmente com a afectação de custos, a determinados objectos, v. g. centros de custo, produtos, etc., a primeira, tem perspectiva mais globalizante da informação financeira, traduzida não apenas em custos, mas também no tratamento dos proveitos, activos e passivos, como elementos fundamentais de informação para a gestão e relato financeiro descentralizado. Desta forma, constitui objecto da contabilidade analítica a atribuição financeira a determinados “objectos de custeio” (projectos, cursos, departamentos, etc.) seleccionados pela entidade para efeitos do conhecimento dos valores financeiros resultantes dos seus níveis de utilização dos recursos e das execuções (de bens ou serviços) por si realizadas. Sendo assim, contrariamente à contabilidade geral ou financeira, que pode ser aplicada de forma quase estandardizada à generalidade das entidades, para modelar o sistema de contabilidade analítica à realidade de cada uma, deve ter-se em conta: a) A própria organização: as actividades desenvolvidas, as gamas de serviços (programas, cursos, etc.), a estrutura organizativa definida, a delegação de poderes, os recursos afectos e as políticas definidas; b) Os modelos de apuramento dos resultados, que se prendem com a lógica e características de gestão e, consequentemente, com a forma como os dirigentes os analisam e interpretam; c) A escolha dos segmentos-alvo (objectos de valor) em termos de apuramento dos resultados, os quais estão dependentes, quer da estratégia, quer dos compromissos assumidos, quer ainda dos próprios responsáveis. No que respeita ao conhecimento da organização poderá ser realizado através do levantamento da: • Missão e objectivos; Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação • Estrutura organizativa e delegação de autoridade; • Actividades desenvolvidas. • Recursos utilizados e níveis de autoridade cada centro sobre o seu uso. • Documentos utilizados, circuitos de informação e meios informáticos disponíveis (hardware e software). • Tradição da entidade nos domínios dos sistemas de informação contabilística e, em particular, na contabilidade analítica, bem como os pontos fortes e fracos das experiências anteriormente vividas. • Motivação dos responsáveis para o uso das informações que venham a ser proporcionadas pela contabilidade analítica. Relação entre os valores financeiros apurados e o sistema de avaliação do desempenho, nomeadamente quanto à atribuição de prémios, incentivos ou outras formas retributivas. Quanto aos modelos de apuramento dos resultados, deverá decidir-se, quer a forma, quer a abrangência da atribuição dos factores (recursos, produções, etc.) a segmentos da contabilidade analítica (produtos, serviços, projectos, centros, canais de distribuição, mercados, etc. ). No que respeita à forma, várias são as metodologias que podem ser utilizadas na determinação dos resultados por cada um dos segmentos. Contudo, pela sua actualidade iremos desenvolver o conceito de contabilidade por segmentos e o correspondente apuramento dos resultados numa lógica de contribuição, abandonando a tradicional lógica da absorção de custos, assente no modelo de custeio total, em que todos os custos quer directos quer indirectos são afectos aos objectos, independentemente das relações causaefeito que possam existir. 2.2- Segmentos da entidade: noção e escolha Relativamente aos segmentos-alvo1, os modelos mais tradicionais preocupam-se sobretudo com a afectação dos custos (consumo de recursos) aos produtos, enquanto a tendência mais actual é para a análise do valor gerado por outros segmentos mais orientados para o exterior da empresa, isto é, quanto “rende” operar no mercado nórdico ou numa determinada área de negócios, ou em certos clientes ou canais de distribuição ou realizar determinados projectos, etc.. Desta forma, não é suficiente a afectação apenas dos custos, mas também de outros elementos económicos e financeiros, como sejam os proveitos gerados e os activos e passivos utilizados e que possam ser identificados com esses segmentos. Esta tendência leva a que os modernos sistemas de contabilidade analítica procurem organizar informação económica e financeira em torno de segmentos (custos, proveitos, activos e passivos) por forma a proporcionar uma informação mais globalizante e fidedigna para conhecimento dos gestores e apoio à tomada de decisão. Esta característica diferencia-a da contabilidade de custos, na medida em que esta última se preocupa com a afectação apenas dos custos a determinados objectos, em regra centros de custo ou produtos. 1 No ponto 3, “Contributo para o modelo de CA num estabelecimento do ensino superior” apresentam-se exemplos do que poderão ser segmentos neste tipo de entidades. Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação O segmento constitui um subconjunto do todo onde a empresa opera e que interessa acompanhar em termos económicos e financeiros. Assim, poderá ser: • Externo, tal como um mercado, um canal de distribuição, um cliente, uma fonte de abastecimento, uma região, um país, etc.; • Interno, tal como um projecto, uma actividade, um centro de responsabilidade (departamento), uma unidade de negócios (curso), etc. O que se torna de facto relevante é a escolha do segmento ou segmentos que irão ser acompanhados em termos económicos e financeiros (contabilidade analítica). Para além das habituais razões estratégicas, a natureza das actividades da entidade e a forma como é financiada, ou sensibilidade e interesse do gestor, a escolha de um segmento deve, em nosso entender, estar estritamente relacionada com os “objectos” geradores de valor para a entidade e sobretudo se o seu financiamento assenta nas despesas incorridas e devidamente justificadas para os executar. Ou seja, é útil a informação proporcionada pela contabilidade analítica se, com os valores dela decorrentes, o responsável for capaz de tomar decisões e entidade melhorar a sua situação financeira. 3.3.3 – Contabilidade analítica por segmentos A economia do mercado substituiu a economia da produção, pelo que o sistema de apuramento de custos e de resultados deve reflectir essa tendência. Daí a crescente relevância do conceito de segmento e o progressivo declínio da informação contabilística por funções (custos industriais, custos comerciais, administrativos, etc.). A análise por segmentos implica que todos factores relacionados com determinado segmento escolhido pela entidade (por ex. um projecto, um departamento, um produto (curso)) lhe devem ser atribuídos económica e financeiramente, independentemente da função. Da mesma forma, os factores que não se relacionam com determinado segmento não lhes devem ser atribuídos, sob pena de se distorcer o conhecimento sobre o seu verdadeiro contributo para os resultados. Trata-se, desta forma, do denominado sistema de custeio directo, ou seja, o resultado de um determinado segmento só deve ser afectado pelos factores que inequivocamente contribuíram para a sua formação, não esquecendo nenhum. Eliminam-se, assim, quaisquer formas de repartição (imputação) de custos que, como facilmente se tem vindo a demonstrar, distorcem os resultados e com ele o conhecimento e consequente efeito no saber e tomada de decisão. Sendo assim, é mais defensável a inexistência de qualquer sistema de contabilidade analítica do que um sistema que pode levar os gestores a tomar decisões que ponham em risco os verdadeiros interesses da empresa. Nesta perspectiva, admite-se que os segmentos: Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação a) Geram valor, na medida em que proporcionam um determinado nível de receitas (volume de serviços, subsídios, etc). b) Consomem e utilizam recursos e, como tal, deve-lhe ser atribuído a correspondente tradução financeira: custo. c) Proporcionam margens, ou seja, diferenciais entre os proveitos gerados e os custos dos recursos utilizados, mesmo que tais margens tenham como objectivo ser nulas. A avaliação dos resultados por segmentos obriga à adopção de uma contabilidade analítica pró-activa e orientada para o apoio ao conhecimento dos resultados e apoio à tomada de decisão, na medida em que: a) Obriga os responsáveis a definirem o segmento (ou segmentos) de análise, em função das suas necessidades de informação; b) Apresenta uma perspectiva multidimensional da organização e não unidimensional, como é habitual nos sistemas mais orientados para o apuramento do custo dos produtos, ou dos tradicionais centros de custo; c) Atribui os custos aos vários segmentos tendo uma perspectiva de causa-efeito (tracing). Isto é, o custo será atribuído ao segmento na exacta medida de utilização do recurso que lhe está associado, pelo que se torna necessário definir à priori o custo destes recursos, logo, alguns têm de ser custos standard; d) A análise das contribuições obriga à atribuição de proveitos, custos, activos e passivos relacionados com o segmento (independentemente da sua natureza ou função onde se realizam), por forma a determinar a sua verdadeira contribuição de valor; e) Facilita a definição de padrões e uma adequada valorização dos recursos e, consequentemente, o seu posterior acompanhamento; f) Torna os modelos de contabilidade mais flexíveis e orientados para os responsáveis, na medida em que os segmentos serão influenciados pelas opções estratégicas, pelas actividades e pela própria visão dos responsáveis; g) Melhora o conhecimento dos responsáveis não apenas dos níveis de consumos de recursos (custos) mas também das contribuições geradas (margens). Custos baixos não são sinónimos de bons desempenhos, assim como custos elevados não provocam obrigatoriamente maus desempenhos. Este sistema de apuramento de resultados leva à sua apresentação numa forma de escada, partindo de segmentos mais elementares que se vão integrando sucessivamente em segmentos mais globalizantes. Por exemplo, pode partir-se da análise de contribuição de cada produto (por exemplo, “curso de gestão pessoal”), que poderá ser agrupado em contribuições por famílias de produtos (por exemplo, “área de Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação gestão”) e estes em áreas de negócios (por exemplo, “actividades de ensino”e assim sucessivamente até chegar ao resultado da entidade no seu todo. Em síntese, mais do que determinar o resultado por segmento, a organização dos resultados em torno da determinação das margens de contribuição (por segmento) tem como finalidade determinar os níveis de contribuição dos segmentos, bem como os custos comuns (“overheads”), permitindo determinar as formas de os imputar a cada um dos múltiplos segmentos com critérios objectivos e sustentados, caso essa imputação se considere relevante para a prestação de contas e financiamento da entidade. 3.3.4- Relato financeiro por segmentos A contabilidade analítica deve proporcionar informações que permitam ter o conhecimento do nível de contribuição de cada segmento para os resultados da entidade. Assim, não é suficiente relevar apenas os custos por segmento, mas também os proveitos por si gerados, bem como o nível de investimento necessário, ou utilizado, para a obtenção deses resultados. A título de exemplo, a demonstração económica e financeira de um determinado tipo de segmento, v.g. licenciaturas, poderia ser estruturada da seguinte forma, as quais poderiam, no seu conjunto, constituir uma grande área de actividade como, por exemplo, “Ensino” e, dentro desta, uma sub-area de actividade “Formação Graduada”. Rubricas de Resultados CURSO A CURSO B …... 1. PROVEITOS ESPECÍFICOS Propinas xxx xxx Outros proveitos (taxas, multas, etc.) xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx TOTAL DOS PROVEITOS 2. CUSTOS DIRECTOS Custos Externos Custos com serviços contratados no exterior Custos com equipamentos adquiridos no exterior Custos Internos Docentes Instalações Fotocópias TOTAL DOS CUSTOS DIRECTOS 3. CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS (1-2) Como se referiu, para além dos custos directos, identificáveis por cada segmento, poderão existir custos indirectos que terão de ser financiados quer pelas margens geradas pelos segmentos, que por outra fonte de receitas. Daí que o seu apuramento e forma de imputação deve ter em conta a especificidade de cada entidade e da forma como obtém os recursos para garantir a sua sustentabilidade. Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação 2.5- Contabilidade analítica e gestão do valor A elaboração do relato financeiro por segmento, tal como apresentado no ponto anterior, servirá para avaliação da sua performance financeira, bem como da sua contribuição para o equilíbrio da entidade. A estrutura da informação poderá ser a seguinte: Rubricas A – Proveitos directos Valor P B – Custos directos: B.1 Custos Variáveis Cv B.2 Custos Fixos Cf Resultado Directo B.3 Custos indirectos imputados Resultado do segmento RD = P – (Cv+Cf) Ci R = P – (Cv+Cf+Ci) PROVEITOS DIRECTOS: Dizem respeito a montantes de proveitos identificáveis por segmento, tais como prestações de serviços, juros, propinas, taxas, etc.. CUSTOS DIRECTOS Correspondem ao valor dos recursos consumidos ou utilizados pelo segmento, isto é, que possam ser claramente identificáveis como estando afectos ao exercício da sua actividade. Custos Variáveis Dizem respeito a todos os custos cujo montante está correlacionado com o nível de actividade do segmento. Por exemplo, o consumo de fotocópias em relação ao volume de relatórios, as despesas com transporte em função das deslocações, o consumo de energia em função do tempos de utilização dos equipamentos, o custo de subcontratos em função do nível de actividades subcontratadas, etc. Normalmente são classificados em três categorias: Proporcionais (Cp) – variam na mesma proporção que o nível de actividade do segmento, como é o caso das fotocópias suportadas sobre o nº de exemplares de relatórios, sempre que o seu custo unitário não varie; Degressivos (Cd) – variam menos que proporcionalmente ao nível de actividade do segmento, como é o caso do custo de materiais quando existam descontos sobre as quantidades compradas. Este tipo de custos contribuem para as denominadas “economias de escala”. Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação Progressivos (Cg).- variam mais que proporcionalmente ao nível de actividade do segmento, como é o caso do custo das horas extraordinárias não apenas em resultado da subida da taxa horária, como também da baixa de produtividade provocada pelo cansaço. Em termos esquemáticos podem representar-se da seguinte forma: Cg Cp Cd Custo Actividade Custos Fixos Consideram-se como custos fixos os consumos de recursos que apresentam alguma estabilidade, isto é, cujo valor que não depende totalmente do nível de actividade do segmento, variando em função dos vários “graus” de capacidade pretendido. Como exemplo refira-se, os custos com o pessoal, as amortizações dos equipamentos, as rendas de instalações, os custos com promoção e publicidade, etc.. Em termos esquemáticos podem representar-se da seguinte forma: Custo Cf3 Cf2 Cf1 A1 A2 A3 Actividade Resultado Directo do Segmento Corresponde, em regra, ao resultado operacional gerado pelo segmento. A título de exemplo, representa o valor liberto (se positivo) por um determinado projecto e que contribuirá para cobrir custos de outras áreas da entidade ou o défice (se negativo) que dever ser coberto por qualquer fonte de financiamento, interna ou externa à entidade. Custos Indirectos do Segmento Trata-se de um conjunto de custos não directamente identificáveis por cada um dos segmentos, mas que lhe poderão ser imputados mediante determinada chave de repartição. Esta imputação não tem qualquer Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação sentido para efeitos de análise do valor gerado por cada segmento, dado que não tem nenhuma relação directa com o seu nível da actividade, mas sim quando o financiamento dos segmentos (v.g. projectos) for aceite não apenas com os seu custos directos, mas também com os indirectos imputados. 3. Contabilidade analítica – modelo possível em estabelecimento de ensino superior 3.1. Segmentos de análise Em estabelecimentos de ensino, será útil estruturar a sua informação contabilística, ao nível da contabilidade analítica em duas dimensões de análise2, de acordo com o seguinte esquema: RUBRICAS FINANCEIRAS Proveitos Custos das operações externas Proveitos e Custos das atribuições internas DIMENSÕES DE ANÁLISE E S T R U T U R A O R G A N I Z A T I V A A C T I V I D A D E S A estrutura organizativa depende da forma como a entidade se encontra organizada (departamentos, escolas, centros, direcções, etc.) As actividades relacionam-se com os produtos ou serviços proporcionados (ensino e, dentro deste por tipo; investigação; prestações de serviços, etc.). Para que o modelo de contabilidade analítica permita apurar resultados por mais de uma dimensão de análise (cursos, projectos, departamentos), será necessário: 2 Criação de planos de contas alternativos para a contabilidade analítica, organizados por estrutura organizativa (v.g. departamentos) e por natureza de actividade (apresenta-se modelo possível no anexo 1); Utilização duma classe de contas (recomenda-se a classe 9), não para a definição de centros de custo, mas sim para a contabilização das operações internas (salas, horas de docência ou de investigação, economato, “overheds” imputados, etc.), evitando critérios de repartição arbitrária Embora seja possível identificar mais dimensões de análise recomenda-se, numa primeira fase e com o intuito de manter o modelo facilmente gerível, o uso de apenas duas dimensões. Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação de custos, mas afectando os custos com algum significado quer de acordo com a utilização dos recursos, quer de acordo com metodologias previamente definidas, validadas e aprovadas; Criação de um sistema de valorizações internas para afectação dos recursos aos segmentos de análise, nomeadamente: Docentes/investigadores; Instalações; Economato; Trabalho de reprografia; Encargos comuns. Valorização dos recursos internos através de critérios simples, objectivos e transparentes sugerindo-se, a título de exemplo, os seguintes critérios: Docentes/investigadores:custo standard, por hora docente/investigador Instalações: preço de custo standard (hora/mês), por sala, ou tipo de sala Economato: custo real por artigo Trabalho de reprografia: preço de custo, por tipo de serviço Criar condições para que a informação produzida pela contabilidade analítica seja encarada como verdadeira informação de gestão e de apoio à decisão: Construção de relatórios demonstrativos dos resultados ou custos gerados por cada segmento de análise; Disponibilização sistemática desta informação aos interessados (órgãos de gestão e responsáveis de segmentos, v.g. projectos, cursos, departamentos, etc.); Promoção de acções de monitorização e tomada de acções correctivas, face aos resultados gerados; por exemplo, criar mecanismos para que os responsáveis de projectos, mestrados, possam avaliar e discutir com os órgãos de gestão a posição financeira dos centros de pelos quais são responsáveis; Agilizar o instrumento de gestão contabilidade analítica de forma a facilitar a leitura da informação (vg eliminar “centros de custo” que não são utilizados, como por exemplo edições anteriores de programas ou projectos encerrados). Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação ANEXO 1: EXEMPLO DE PLANO DE CONTAS PELA ESTRUTURA ORGANIZATIVA) Código Designação OOC Afectação ÓRGÃOS CENTRAIS OOC 01 Assembleia de Escola OOC 02 Presidente de Escola OOC 03 Conselho Pedagógico OOC 04 Conselho Científico OOC 05 Administrador OOC 06 Secretariado OOC 07 Serviços de apoio aos órgãos centrais OEX De todos os custos relacionados com os órgãos centrais ESCOLA XIS OEX 01 Estrutura da Escola X OEX 01 1 Secretariado Dos custos de secretariado OEX 01 2 Custos específicos – EX Custos da Escola, v.g. economato e das instalações. OEX 02 OEX OEX 02 02 DEPARTAMENTOS da EX 1 1 ODE ODE ODE Departamento A 0 Docentes do departamento 1 A desdobrar como nos restantes departamentos Dos custos de processamento de vencimentos; Dos “proveitos” que resultam da afectação dos docentes aos vários cursos/actividades DEPARTAMENTOS 01 01 1 DEPARTAMENTO K Docentes do Departamento Dos custos de processamento de vencimentos; Dos “proveitos” que resultam da afectação dos docentes aos vários cursos/actividades. Idem para restantes departamentos. Código OSA Designação Afectação SECÇÕES AUTÓNOMAS OSA 01 OSA 01 1 Estrutura da secção OSA 01 1 01 Secretariado Dos custos de secretariado OSA 01 1 02 Custos específicos da Secção Deve incluir os custos com economato. OSA 01 2 Docentes da Secção Dos custos de processamento de vencimentos; Dos “proveitos” que resultam da afectação dos docentes aos vários cursos/actividades. Secção Autónoma A Idem para restantes secções autónomas Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação OSE 01 OSE 01 1 Biblioteca OSE 01 2 Centro de Documentação OSE 01 3 Outros OSE 02 OSE 02 1 Direcção OSE 02 2 Divisão de Gestão de RH OSE 02 3 Secção de Pessoal OSE 02 4 Secção de Vencimentos OSE 02 5 Secção ….. OSE 02 6 Núcleo ……. OSE 03 OSE 03 OSE 04 OSE 04 OSE 05 OSE 05 Dir Serv Biblioteca Dos custos relacionados com a actividade destas áreas, nomeadamente, custos com pessoal, economato e outros. Dir Serv Rec Humanos Idem anterior. Centro de Informática 1 (de acordo com a estrutura) Dir Administrativa Financeira 1 Idem anterior. e (de acordo com a estrutura) Idem anterior. Dir Serv Académicos 1 (de acordo com a estrutura) Idem anterior. Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação ANEXO 2: EXEMPLO DE PLANO DE CONTAS PELAS ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS Código Designação ACTIVIDADES DE ENSINO AE AED PROGRAMA DOUTORAL AED 01 PD em …… AED 02 PD em …….. AED 03 ............................ AEL Dos proveitos (propinas, outras receitas) Dos custos suportados com o curso (docentes, salas, outros custos específicos) LICENCIATURAS AEL 01 ELI 01 1 AEM Da Escola …….. Do conjunto dos proveitos das licenciaturas da Escola… Da soma de todos os custos suportados com as licenciaturas da Escola… Licenciatura L1 Dos proveitos (propinas, outras receitas) da licenciatura L1 Dos custos suportados com a licenciatura L1 (docentes, salas, outros custos específicos) MESTRADOS AEM 01 AEM 01 1 AEM 01 2 Da Escola …….. Mestrado M1 Idem, tal como referido nos programas anteriores. ACTIVIDADES DE INVESTIGAÇÃO AI AIK 01 AIK 01 INVESTIGAÇÃO KAPA 1 Projecto P1 Dos proveitos e custos relacionados com os projectos de investigação, nomeadamente, investigadores, instalações, economato, etc. PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS AS ASP 01 ASP 01 SERVIÇO DO TIPO P 1 Projecto SP1 Dos proveitos e custos relacionados com projectos de prestação de serviços, nomeadamente, investigadores, docentes, consultores, instalações, subcontratos, etc. COMUNS ÀS ACTIVIDADES AC AC Afectação 01 1 Instalações AC 2 Actividades administrativos Custos e proveitos que, pela sua natureza não sejam AC AC AC … AC 3 4 5 …. 99 Actividades segurança Actividades higiene e limpeza Actividades ……. ……. Outros custos comuns identificáveis por cada uma das actividades supra, mas que lhes podem vir a ser imputados mediante certos critérios de imputação Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão Contabilidade Analítica – Tópicos para a sua implementação ANEXO 3: EXEMPLO DE PLANO DE CONTAS PARA REGISTO DAS OPERAÇÕES INTERNAS – CLASSE 9 CÓDIGO DESIGNAÇÃO U.. DE MEDIDA FORMA DE VALORIZAÇÃO “CLIENTE” INTERNO “FORNECEDOR” INTERNO 91 91.01 CUSTOS INTERNOS Custos com Horas Custo-hora standard Cursos / outras por categoria activ Horas Preço-hr standard** Utilizadores* Materiais Custo standard Depart, S Autón, docentes 91.02 Custos com instalações 91.03 Custos com economato 91.04 Custos com Serviços Nº fotocópias Preço de custo Utilizadores* Horas Custo-hora standard Departamentos por categoria e ???. Horas Preço-standard Direcção ??? Materiais Custo standard Serviços fotocópias 95 95.01 PROVEITOS INTERNOS Atribuição da activ. docente 95.02 Proveitos com instalações 95.03 Proveitos com economato 95.04 Proveitos com Administrat. Nº fotocópias Preço de mercado Direcção ??? fotocópias * Cursos, serviços, departamentos, centros ou outras actividades. ** Sugere-se que sejam identificados os preços de mercado por tipologia de sala: sala normal; sala com aparelhos audiovisuais; sala com hardware e software; auditório tipo A, B, C, etc.. Conceitos chave sobre contabilidade analítica para a gestão