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CONCEPÇÕES DE CIÊNCIAS PRESENTES NA LITERATURA INFANTIL:
UMCAMINHO DE POSSIBILIDADES
Antônia Aurélio Pinto1
Janaina Farias de Ornellas2
Paulo César de Almeida Raboni3
Introdução
Este artigo tem como objeto de estudo conceitos científicos e concepções de
ciência presentes na literatura infantil, disponível aos alunos do ensino fundamental (4º
e 5º ano). Propõe-se a realização de um levantamento seguido de análise, dos títulos
disponíveis nas bibliotecas das escolas, bibliotecas públicas, acervos particulares,
internet, e outras,sobre ciência e cientista bem como de alguns conceitos científicos e,
por fim, tentar estabelecer relações entre essas duas esferas propondo um trabalho
alternativo com a literatura infantil para o ensino de ciências.
Existe hoje no Brasil uma grande população de leitores que consomem uma
grande variedade de textos, desde gibis até livros de divulgação científica, passando por
jornais, romances, auto-ajuda e culinária, dentre outros. É possível dizer que o Brasil é um
país de leitores (COLE, 1999). No entanto, é válido considerar o resultado da pesquisa
nacional feita com pessoas de 15 a 64 anos, pelo Instituto Ação Educativa/Ibope, apontando
que apenas 25% dos brasileiros têm "habilidades mais refinadas" para ler um texto e
compreendê-lo. Este resultado foi discutido no 15° Congresso de Leitura (COLE, 2005),
por Marina Colasanti:
Poderíamos dizer que o brasileiro está lendo pior. Ou seja, está lendo um
número considerável de livros absolutamente lineares, de texto
elementar, ao alcance de qualquer pessoa minimamente letrada.
( COLASANTI, p.23, 2005)
1e 2
Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Ciências e
Tecnologia, campus de Presidente Prudente, Universidade Estadual Paulista – UNESP.
3
Professor do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação,
Faculdade de Ciências e Tecnologia, campus de Presidente Prudente, Universidade Estadual
Paulista – UNESP.
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Desta forma, pode-se concluir que o Brasil é sim um país onde as pessoas lêem
muito, mas o que precisa ser verificado é a qualidade desta leitura. Conforme Colasanti
(2005) é necessário saber exatamente a qualidade do que se edita e quanto se consome de
cada faixa, ressaltando ainda que boa parte do crescimento se deve às compras de livros
distribuídas pelo governo nas escolas, e também a projetos de leitura como o programa
“Um livro em sua casa", dando uma coleção de cinco livrinhos para as crianças.
De todos os lugares onde a leitura pode ser incentivada e ocorrer,
sistematicamente ou não, a escola reúne particularidades que merecem um destaque
especial. As bibliotecas das escolas, mesmo que em condições precárias, continuam sendo
um dos poucos lugares de acesso à leitura, e para muitos alunos, talvez o único local para
essa atividade. Além disso, a leitura possível nas bibliotecas das escolas ocorre
paralelamente ao ensino sistemático de conceitos e linguagens, e mesmo que de forma
desvinculada, nosso interesse especifico são as influências que essas duas esferas
“Ciências e Literatura Infantil” podem exercer uma sobre a outra.
Por outro lado, a aprendizagem de conceitos científicos pela criança e o
desenvolvimento de concepções sobre ciência e cientista, não ocorre exclusivamente na
escola, sendo até possível inferir que destas últimas (concepções de ciência e de cientista) a
maior influência não seja a escolar, mas sim das várias fontes de informação às quais a
criança fica exposta ou tem acesso (televisão, gibis, revistas infantis e literatura infantil).
Pretende-se, nesta pesquisa conhecer umpouco mais destes textos de literatura
infantil lidos por crianças do ensino fundamental (4º e 5º ano), focalizando as obras
infantis com temas científicos, e a partir desse conhecimento, reunir elementos que
permitam um uso efetivo desse gênero literário para estimular o interesse e dar suporte à
aprendizagem em ciências naturais na escola, bem como desenvolver outras formas de
leitura.
O foco desta pesquisa é a presença de elementos das ciências naturais –
conceitos e concepções de ciência e cientista – na literatura infantil. Tais transposições
podem a nosso ver ser vistas como apropriação entre gêneros do discurso, como são
compreendidos por Mikhail Bakhtin, autor que tomamos como referência para essa
pesquisa.
Os gêneros do discurso são entendidos por Bakhtin como tipos realtivamente
estáveis de enunciados, dentro de esferas da utilização da língua. As esferas de utilização
3
da língua, por sua vez estão ligadas a atividade humana, nas quais os enunciados ocorrem e
ganham seus sentidos específicos. Como a atividade humana é inesgotável em sua
variedade e complexidade, não há limites para o desenvolvimento e a delimitação de
generos do discurso. Essa característica dispersa, porém, não retira dos gêneros sua
importância para análise do funcionamento da língua. Segundo Bakhtin,
Uma dada função (científica, técnica, ideológica, oficial, cotidiana) e
dadas condições, específicasm para cada uma das esferas da
comunicação verbal, geram um dado gênero, ou seja, um dado tipo de
enunciado, relativamente estável do ponto de vista temático,
composicional e estilístico. (BAKHTIN,1997, p.284)
Bakhtin analisa as transformações que sofrem os gêneros primários (enunciados
cotidianos) quando apropriados pelos gêneros secundários (romance, teatro, discurso
cienntífico, discurso ideológico). Também ocorem apropriações entre gêneros secundários
do discurso, nas quais são impostas transformações aos objetos apropriados. Os critérios
para a análise dos livros infantis, serão sustentados pela teoria dos gêneros do discurso de
Bakhtin onde o autor analisa a apropriação dos gêneros secundários, interessando a esta
pesquisa a apropriação de objetos e conceitos das ciências naturais pela literatura infantil.
Desta forma, Bakhtin (1992), discute os gêneros do discurso abrindo
possibilidades, para o entendimento da apropriação que a literatura infantil faz com temas
gerados no contexto das ciências naturais, sendo, portanto interpretada segundo o
referencial bakhtiniano, como transição entre gêneros.
Conforme nos mostra Lajolo (1980), a literatura infantil no Brasil, desde as
primeiras produções, é marcada pela finalidade pedagógica, imprimindo na criança os
valores de cada período. Os laços existentes entre a literatura infantil e a escola começam
desde a habilitação da criança para o consumo de obras impressas, sendo essa, certamente,
uma das principais funções dessa instituição.
Assumimos como uma das mais importantes funções da escola, apontada por
Ricon e Almeida (1991), formar o bom leitor. Segundo esses autores:
Bom leitor, o estudante continuará mais tarde, já fora da escola, a
buscar informações necessárias à vida de um cidadão, a checar
notícias, a estudar, a se aprofundar num tema, ou, simplesmente, a se
dedicar à leitura pelo prazer de ler. (RICON e ALMEIDA, p.9,1991)
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Observa-se, porém, uma carência de vínculos entre o uso da literatura infantil
nas escolas e o desenvolvimento de conceitos em algumas disciplinas, em especial as
ciências naturais. Sendo a literatura um dos mais importantes formadores do imaginário da
criança, responsável pela sua iniciação no universo letrado, ao lado dos manuais didáticos,
cabe, portanto, um aprofundamento das possibilidades de uso em sala de aula de livros de
ficção destinados às crianças.
As crianças chegam à escola já com algumas idéias (concepções prévias,
alternativas, espontâneas), muitas vezes equivocadas, sobre o funcionamento das coisas do
dia a dia e sobre os fenômenos (DRIVER, 1992). Na escola, essas idéias entram em conflito
com os conceitos científicos das ciências naturais, exigindo, para a aprendizagem, um
abandono de antigas estruturas de pensamento.
Paralelamente ao ensino sistemático de conceitos, um universo de fantasia se
apresenta à criança, pela via da literatura infantil, e se soma à fantasia proveniente de outras
fontes (televisão, gibis etc.).
Nessa interação, é possível supor que conceitos
equivocados de ciências e imagens distorcidas do cientista e da atividade científica vão se
sobrepor aos conceitos escolares e gerar obstáculos difíceis de serem removidos
futuramente.
O ensino de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental apresenta
dificuldades históricas, desde a inclusão dessa disciplina no currículo. Conforme mostra
Raboni (2002), não há por parte dos professores uma definição clara sobre o que deve se
ensinado, e os projetos de ensino e as propostas oficiais, muitas vezes, aprofundam o
drama vivido pelos professores sobre o quee comoensinar nas aulas de ciências. O
tratamento dado aos temas é superficial e desconexo de outros temas, mesmo entre os de
ciências, contrariando as novas propostas (Proposta Curricular e Parâmetros Curriculares
Nacionais - SÃO PAULO, 1989; BRASIL, 1997) quando estas sugerem um
tratamento interdisciplinar reforçado pelos temas transversais e pela proposição do
ambiente como tema gerador. O ensino de ciências é fragmentado e essa característica
tem desmotivado alunos e professores, provocando um quase abandono das aulas de
ciências nos dois primeiros ciclos da escolaridade (1º a 5º ano). A ênfase dada e a quase
totalidade do tempo das aulas é destinado à Matemática e Português.
Entre os problemas apontados por estudiosos do ensino de ciências, está a má
qualidade dos livros didáticos, que contém erros conceituais e uma forma de apresentação
fragmentada que direcionam uma forma igualmente fragmentada de uso pelo professor e
pelo aluno. Além dos erros conceituais, encontramos nos livros didáticos concepções de
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ciência e de cientista distantes da realidade, que mistificam o trabalho nessa área de
conhecimento, afastando ainda mais as crianças do universo da ciência, destruindo um
interesse quase natural que elas demonstram no início da escolaridade. Amaral (1997)
aponta que, entre os equívocos encontrados nos livros didáticos, muito mais graves que os
erros conceituais são os de concepção de ciência e de cientista, sendo esses últimos muito
mais difíceis de remover e que marcam profundamente a atitude dos indivíduos diante da
produção do conhecimento e, conseqüentemente, da compreensão da realidade.
Algumas questões podem agora ser colocadas. Da mesma forma que nos livros
didáticos, é possível encontrar na literatura infantil erros conceituais e concepções
equivocadas de ciência e de cientista? Em caso afirmativo, de que forma esses equívocos e
erros interferem na formação das crianças nos temas científicos?
O desconhecimento é equivalente se a questão se refere a livros infantis que
tratam de maneira adequada os conceitos e que constroem uma imagem menos
deformada da atividade científica.
São poucas as pesquisas sobre literatura infantil ou educação com objeto ou
abordagem semelhante a esta proposta. Conforme a pesquisa realizada por Lisingen
(2008), “Aparentemente, muito pouco são os trabalhos que relacionam a Literatura
Infantil com o Ensino de Ciências”. Considerando o fato de que a autora mencionada
chegou a esta conclusão ao observar que dentre os 2315 trabalhos apresentados nos
anais dos Encontros Nacionais de Pesquisa em Ensino de Ciências (ENPEC), de 1997 a
2007, apenas sete discutiam sobre o uso da Literatura Infantil em ambiente escolar na
disciplina de Ciências. Este resultado ainda que restrito ao um único evento comprova a
carência de pesquisas que abordem as relações da Literatura Infantil com o Ensino de
Ciências.
Desta forma, torna-se relevante realizar um rastreamento dos títulos
disponíveis nas escolas, em busca de conceitos e concepções de ciências,
parafundamentar epossibilitarum aproveitamento dessa literatura como instrumento de
aprendizagem das crianças e do desenvolvimento da leitura em todas as suas dimensões.
Inicialmente será definido um período de 20 anos (1999 a 2010) para a
pesquisa nas publicações de literatura infantil, que poderá ser alterado durante o
percurso. Esse período se justifica pela existência nas prateleiras das escolas de livros
publicados já há mais de uma década, considerando também o fato de ter sido feito na
pesquisa de iniciação cientifica um levantamento através do Dicionário Crítico
(COELHO, 1995), encontrado aproximadamente 100 livros que tratam de temas das
ciências naturais publicados entre 1985 e 1990.
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Estão excluídos das análises os livros didáticos e paradidáticos. Nos dois casos
há uma clara intenção do autor de transmitir algo, uma informação, um conhecimento.
Neles o objetivo é ensinar. Ainda que para isso, em alguns livros sejam utilizados
recursos literários próprios dos livros de ficção, contendo um enredo, personagens etc.,
o objetivo continua sendo o de ensinar conceitos.
Na abordagem aqui proposta, o conhecimento, quando presente, é transmitido
nas entrelinhas, quase como um efeito colateral do texto. E para um leitor ainda em
formação, que não faz distinção entre ciência e ficção, o texto escrito pode ser assumido
como verdade, conscientemente, ou produzir inconscientemente obstáculos à construção
de conhecimentos científicos. É válido deixar claro que não se trata de didatizar o uso
da literatura infantil, mas sim o de evitar a didatização e formar o leitor que transita
livre e conscientemente em cada gênero literário e constrói os sentidos possíveis para
cada um. Num texto científico busca-se a restrição dos sentidos (SILVA e ALMEIDA,
1998, p.136) e, no limite, a redução a um sentido único. Num texto de ficção, busca-se
justamente o oposto disso. O leitor deve ser formado para estar atento a essas
diferenças, desde muito cedo.
Pretende-se, nesta pesquisa conhecer um pouco mais destes textos de literatura
infantil lidos por crianças do ensino fundamental. Especificamente as obras infantis com
temas científicos, diponiveis aos alunos do (4º e 5º ano). E a partir desse
conhecimento, reunir elementos que permitam um uso efetivo desse gênero literário para
estimular o interesse e dar suporte à aprendizagem em ciências naturais na escola, bem
como desenvolver outras formas de leitura.
Muitos dados têm revelado que o Brasil é um país de leitores (COLE, 1999),
contudo, ao retratar a qualidade dessa leitura, nota-se que o brasileiro lê mal. As
evidencias destas leituras são os resultados de avaliações oficiais como as do SAEB
(Sistema de Avaliação da Educação Básica) e ENEM (Exame Nacional do Ensino
Médio), que apontam para o grande problema revelando que as maiorias dos estudantes
não atingem níveis mínimos de interpretação e produção textual.
A leitura em sala de aula tem sido tema de muitos estudos (RINCON e
ALMEIDA, 1991, ZILBERMAN e LAJOLO, 1986), tanto pela importância da leitura
em si no que se refere à formação de leitores, quanto pela necessidade de compreender
melhor o espaço escolar para o desenvolvimento de práticas educativas mais
consistentes.
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Nas séries iniciais, a partir da nossa observação na sala de aula pesquisada
durante o trabalho de iniciação científica e em outras situações presenciadas durante o
estágio das práticas de ensino do curso de Pedagogia, a leitura costuma ser desvinculada
das atividadades de ensino. Os alunos são autorizados a ler os livros infantis diponíveis
na própria sala de aula ou na sala de leitura após o término das lições, como uma forma
de prêmio. Não houve durante estas observações um direcionamento pela professora
sobre qual livro ou de que forma os alunos poderiam ler, nem uma interação entre as
leituras realizadas pelas crianças nesses momentos e as outras leituras e atividades, e
nem discussões após as leituras realizadas pelos alunos. Apesar da necessidade da leitura
livre pelas crianças e do incentivo para que elas leiam, acreditamos que um maior
direcionamento pela professora poderia auxiliar na formação dos leitores.
Em sintese o problema, portanto, desta pesquisa será tentar demonstrar, sem a
intenção de retirar da literatura o seu caráter de fantasia, essencial para a finalidade a
que é elaborada, apenas, argumentamos que os conceitos e as imagens de ciência por ela
veiculada, necessitam aprofundamento e discussão na escola.
1.
Desenvolvimento
A aproximação pretendida entre Literatura Infantil e o ensino de Ciências
implica,basicamente, a seleção e análise de livros infantis que se apropriam de conteúdos
das ciências naturais. Para atingir esse propósito, a metodologia que melhor se aplica é a
pesquisa comabordagem qualitativa. Nesta perspectiva, desenvolveremos uma pesquisa do
tipo documental.
Segundo Lüdke e André (1986), a análise documental constitui-se em uma
técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, pois complementa as informações
obtidas por outras técnicas e pode revelar novos aspectos de um tema ou problema. Na
pesquisa
documental,
de
acordo
com
essas
autoras,
“são
considerados
documentos‘quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de
informação sobre o comportamento humano’.” Nesse tipo de pesquisa, busca-se
identificar informações factuais nos documentos a partir das perguntas de pesquisa. (op.
cit., p. 38)
Sendo assim, as perguntas norteadoras da presente pesquisa são:
a) Da mesma forma que nos livros didáticos, é possível encontrar na literatura
infantil erros conceituais e concepções equivocadas de ciência e de cientista?
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b) É possivel inferir o sentido proposto pelo autor desses conceitos e concepções?
Ou seja, o uso é deliberadamente distorcido ou pode ser um equívoco?
c) Em caso afirmativo, de que forma esses equívocos podem interferir na
formação das crianças nos temas científicos?
Para verificação dessas questões, serão tomadas para análise algumas obras de
literatua infantil que serão criteriosamente selecionadas e analisadas por meio do
referencial teorico Bakhtiniano no qual o autor explica as transições entre gêneros do
discurso. É válido ressaltar que no trabalho de iniciação científica já realizamos a
elaboração de classes de análise. Sendo assim, temos também como meta retomarmos as
classificações já elaboradas para melhor aprimorá-las.
A seguir serão descritas o plano de trabalho, com um grau de detalhamento que
permita entender cada ação no contexto geral da pesquisa.

Primeira fase: cumprimento das disciplinas da Pós-graduação em
Educação.

Segunda fase: busca de complementação das referências teóricas e
metodológicas para a pesquisa. O objetivo dessa fase é aprimorar os referenciais e refinar
o olhar sobre a literatura infantil e o ensino de ciências, buscando critérios para uma
análise segundo os objetivos mais gerais da pesquisa.

Terceira fase: considerando a carência ou mesmo ausência de
levantamentos da literatura infantil no que se refere a conceitos de ciências naturais e
concepções de ciência, e considerada a riqueza dessa literatura para a constituição do
imaginário da criança e a construção de conceitos, será realizado um levantamento dos
títulos de Literatura Infantil. Nela buscaremos, a partir dos dados do primeiro
levantamento, as obras disponíveis que façam algum tratamento de temas de ciências
naturais, contendo desenvolvimento de conceitos e concepções de ciência e de cientista.

Quarta fase: será realizado o exame de qualificação.

Quintafase: serão utilizados os critérios estabelecidos na segunda fase para
proceder a uma análise cuidadosa dos títulos disponíveis nas escolas. Nessa análise serão
levados em conta alguns fatores:
1.
Presença de temas relacionados às ciências naturais;
2.
Adequação dotratamento de conceitos - busca de erros e acertos
conceituais na obra;
3.
Adequação da conceitualização de ciência e de atividade científica,
comênfase na imagem de cientista veiculada pela obra.
9

Sexta fase: será elaborado o texto final da dissertação.
3.
Considerações finais
Diante deste contexto, a literatura Infatil exerce uma importante influência na
formação do leitor. Presente na sala de aula e nas bibliotecas das escolas, este gênero
literario propicia ao pequeno leitor caminhos para que ele se capacite a torna-se um
leitor com habilidades para dialogar de forma compreensiva com a leitura
transformando-se em um leitor autônomo.
Para uma melhor compreensão, extraímos de um livro infantil, uma citação
que ajuda a compreender a amplitude da questão levantada. Todo esse cuidado é porque
nesse castelo mora um cientista louco, que tem projetos secretos guardados a sete chaves.
(CHAMLIAM, 1994).Imagens de cientistas loucos, laboratórios repletos de instrumentos
de pesquisa em meio a livros e objetos excêntricos, ajudam a formar na criança uma idéia
equivocada da atividade científica, que precisa ser questionada em todas as suas
manifestações. Isso implica, no mínimo, em conhecimento e cuidado por parte do
professor na seleção e no uso de livros infantis. Portanto, é importante compreender
melhor como esses erros interferem na formação das crianças em temas científicos.
Nas análises dos livros realizados na iniciação científica, uma das dificuldades
é a de perceber se o autor usou conscientemente uma explicação equivocada ou fez por
descuido. Quando o tom é de explicação, há indícios de uso descuidado. Quando o
autor exagera, fazendo uma caricatura, há indícios de uso consciente. Pode haver casos
de impossibilidade de determinação de uso consciente ou de descuido e
desconhecimento de conceitos pelo autor. Cabe-nos a tarefa de orientar a leitura pelas
crianças, que ainda são leitores em formação, para evitar a construção de sentidos
equivocados e colaborar na formação de um leitor conhecedor do gênero que está
lendo.
Tendo obtidos estas conclusões, acredita-se ser este apenas um começo,
apontando direcionamentos para caminhos interessantes de investigação e conclusões mais
precisas. Considerando também que a partir das análises dos livros infantis já realizadas,
abriu-se um grande leque de possibilidades, pois, observou-se que os números de títulos
foram grandes, considerando a busca em apenas algumas escolas com acervos de tamanho
reduzido.
Sendo assim, verifica-se que o uso de elementos da ciências naturais e temas
científicos fazem-se presentes no livros infantis e necessitam de um aprofundamento,
10
considerando a existência de erros conceituais e também a distorção da compreensão
equivocada do trabalho científico proporcionando deslocamentos de sentidos.
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