XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004
Gestão da informação no contexto da administração pública municipal
Paulo Sergio Ceretta (UFSM) – [email protected]
Antonio Marcos Coelho da Rocha (UFSM) – [email protected]
Igor Bernardi Sonza (UFSM) – [email protected]
Sidarta Ruthes Lima (UFSM) – [email protected]
Resumo
Nas administrações públicas, muitas vezes, caracterizadas pela ineficácia e ineficiência no
desenvolvimento dos processos internos e na tomada de decisão, os SI surgem como forma de
mudar tal concepção e adaptar as administrações aos novos tempos. Mas a efetividade de um
SI está diretamente relacionada a eficiência no processo de desenvolvimento do sistema e,
principalmente, na eficácia do processo de implantação. O presente estudo apresenta um
relato de como se desenvolveu o processo de implantação do Sistema de Informação
Municipal – SIM na Prefeitura Municipal de Pelotas/RS. Conclui-se, através dos resultados
do estudo, que o processo de implantação está deixando a desejar e como sugestões salientase a necessidade de maiores investimentos em aspectos relacionados a: i) capacitação da
equipe de implantação no que tange ao negócio; ii) resistência frente à mudança
organizacional; iii) falta de um trabalho motivacional; iv) defasagem tecnológica; e, v)
influência da política nas organizações públicas; todos estes fatores elevam o grau de
complexidade do processo de implantação.
Palavras chave: Administração Pública, Processo de Implantação, Sistema de Informação
Municipal.
1. Introdução
Hoje em dia é intensa a utilização de Sistemas de Informações – SI como ferramenta auxiliar
no processo de tomada de decisão e no aperfeiçoamento das atividades operacionais das
organizações. A efetividade de um SI esta diretamente relacionada a eficiência no processo de
desenvolvimento do sistema e, principalmente, na eficácia do processo de implantação. Em
relação as administrações públicas, que, muitas vezes, são caracterizadas pela ineficácia e
ineficiência no desenvolvimento dos processos internos e na tomada de decisão, os SI surgem
como forma de mudar tal concepção e adaptar as administrações aos novos tempos.
De acordo com McGee e Prusak (1994), informação pode ser entendida como dados
coletados, organizados e ordenados, aos quais são atribuídos significados e contexto, nesse
sentido, para que os dados tornem-se úteis como informações é preciso que sejam
apresentados de tal forma que se possa relacioná-los e interpretá-los. Portanto, informação é o
dado trabalhado que se torna útil na tomada de decisão.
Chiavegatto (1999) discute, em seu artigo, a importância dos processos de gerenciamento da
informação e o uso apropriado da informação processada pela tecnologia na administração
municipal. A autora propõe que há uma relação estreita entre a gestão da informação como
um recurso e a qualidade dos processos decisórios da administração. Chiavegatto (1999)
sugere, ainda, que o mais importante é a necessidade de que os administradores tornem-se
mais conscientes da importância da estratégia e do direcionamento informacional, e que a
gestão e o uso da informação convertam-se em ações e práticas transformadoras.
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O presente estudo visa investigar a problemática no desenvolvimento do processo de
implantação de um Sistema de Informação dentro de um ambiente específico da
Administração Pública Municipal. O objetivo principal é, através de uma análise consistente,
identificar aspectos problemáticos que ocorreram ou deixaram de ocorrer e que estão
impactando no bom desenvolvimento do sistema. Mais precisamente, objetiva-se investicar o
caso da implantação do SIM (Sistema de Informação Municipal) no município de Pelotas,
cidade de médio porte localizada no estado do Rio Grande do Sul.
2. Sistemas de informação e os aspectos que envolvem o seu processo de implantação
Segundo Laudon e Laudon (1999), SI é um conjunto de componentes inter-relacionados que
coleta, recupera, processa, armazena e distribui informação e têm a finalidade de facilitar a
gestão das organizações através do suporte aos processos de planejamento, controle,
coordenação, análise e decisão. Conforme os autores, os SI são amplos em seu escopo, pois
envolvem as tecnologias, os procedimentos organizacionais, as práticas e as políticas que
geram informação, e as pessoas que trabalham com essa informação.
De acordo com Oliveira (2002) o objetivo principal de um SI é dar subsídios para que cada
funcionário tenha a informação necessária para melhorar a qualidade de seu trabalho,
buscando, assim, a maximização do uso das informações dentro da organização e favorecendo
o trabalho cooperativo entre os departamentos. Oliveira (2002) enfatiza que para se atingir o
objetivo principal é preciso observar os seguintes aspectos: i) verificar o que a organização
produz, para quem ela produz e quais seus objetivos; ii) o trabalho e a aplicação da
informação gerada, o mais rápido possível; iii) a avaliação contínua do uso da informação
gerada pelo SI; iv) o processo de qualidade de software para facilitar a manutenção; e, v)
profissionais qualificados, aliando conhecimento técnico e do negócio.
Para Chiavegatto (1999), no contexto de revolução tecnológica e organizacional, o que
caracteriza grande parte do setor público é a ineficiência, a ineficácia, os custos excessivos e a
estagnação. Assim sendo, sugere às administrações que desejem mudar esse perfil que
utilizem sistemas de informação que permitam a formulação de políticas e a avaliação
sistemática dos resultados. A mesma autora pressupõem que, a dimensão cultural pode
influenciar nas inovações técnica, pois as pessoas influenciam no processo de obtenção,
análise e compartilhamento da informação.
Stoner e Freeman (1999) conceituam cultura organizacional como sendo o conjunto de
valores, crenças, atitudes e normas compartilhadas que moldam o comportamento e as
expectativas de cada membro da organização. Tachizawa et. al (2001) afirmam que a cultura
organizacional se mantém durante toda a existência de uma empresa ou, pelo menos, durante
uma parte, e que ela é responsável por apontar os caminhos a serem seguidos em
determinadas etapas, já o clima organizacional se modifica conjunturalmente. Tachizawa et.
al (2001) definem clima organizacional como sendo o grau de satisfação demonstrado pelos
membros de uma organização na qual a motivação é fator fundamental para a realização dos
trabalhos tanto em termos individuais quando grupais.
Alguns estudos abordam a questão das supostas resistências à mudança organizacional, dentre
eles, destaca-se o de Silva e Vergara (2003), que desenvolveram um estudo com foco nos
significados que os indivíduos atribuem as mudanças e as chances que se constituam como
sujeitos no contexto da mudança organizacional. Segundo Silva e Vergara (2003) é preciso
que a mudança organizacional seja vista além da tradição funcionalista e também, como uma
mudança de relações na organização. Silva e Vergara (2003) concluem que não se pode
esperar atingir um senso absolutamente comum, mas também que a criação de sentido sobre a
mudança está longe de ser um processo solitário, individual e isolado; pois é através da
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possibilidade de se situar no contexto organizacional e de compartilhar com os outros que o
sentido da mudança se realiza e, ao se realizar, possibilita aos indivíduos sua constituição
como sujeito e atores conscientes e a reconstituição de suas identidades.
Cargnelutti (2004) abordou a análise dos aspectos comportamentais envolvidos na
implantação do SIM, o estudo comprovou que a função que os SI exercem nas organizações é
essencial, mas que o processo de implantação causa impactos na estrutura organizacional,
influenciando a cultura, as filosofias, as políticas, os processos e os modelos de gestão. Assim
sendo, a função da gestão da mudança num processo de implantação de novas tecnologias ou
novas realidades organizacionais é essencial para atingir plenamente os benefícios almejados
pelo processo e não pode ser negligenciado.
Segundo Oliveira (2002), a informatização de uma organização apenas poderá auxiliá-la caso
haja pessoal adequado para fazer uso da informação gerada pelos sistemas informatizados,
criando um conhecimento que extrapole o indivíduo e que possa ser armazenado como
conhecimento institucional. Para Rezende e Abreu (2001), o desenvolvimento do sistema
deve ser elaborado em equipe, sendo que a mesma poderá ser reestruturada no decorrer de
cada fase. Rezende e Abreu (2001), destacam, ainda, que a equipe deve ser multidisciplinar e
adequada para cada projeto, respeitando a cultura, filosofia e políticas da organização.
Em seu estudo, Trzeciak et. al (2003), afirmam que uma das causas freqüentes da falta de
integração de dados nas organizações advém da diferenciação conceitual sobre dimensõeschave do negócio entre áreas funcionais das organizações. A proposta de Trzeciak et. al
(2003), a respeito da modelagem da informação, é a definição dos conceitos-chave da
organização, antecedendo a modelagem de dados dos SI. Assim sendo, pode-se concluir que a
integração de dados implica em administrá-los com: i) visão organizacional ampla; ii)
orientação voltada à visão de negócio; iii) um dicionário de dados; e, iv) mecanismos
adequados de armazenamento, controle e divulgação do acervo.
Para Ozaki e Vidal (2001), o sistema ERP (Enterprise Resources Planing), por ser integrado e
pelas informações serem compartilhadas, exige que a empresa se reorganize, tendo como foco
o processo do negócio como um todo. Ainda, segundo Ozaki e Vidal (2001), a implantação de
sistemas integrados de gestão empresarial é complexa e exige uma série de cuidados para que
não sejam ultrapassados prazos nem orçamentos e para que sejam alcançados os resultados
esperados. Além disso, a qualidade da informação que será gerada pelo sistema depende
diretamente da qualidade com que foi executada esta de implantação.
Alguns estudos realçam os fatores críticos de sucesso da implementação de sistema ERP,
dentre eles, o estudo comparativo de Gama (2003), tal estudo defini os seguintes fatores
críticos: i) comprometimento da alta administração – por se tratar de uma mudança profunda
na organização a participação da administração é fundamental; ii) recursos e capacitação em
ERP – durante a implementação é necessário pessoal especializado aliado a uma equipe
multidisciplinar e a um programa de treinamento intensivo; e, iii) cultura da organização –
durante a implantação é necessário um gerenciamento efetivo do processo mudança.
A avaliação de um sistema, dentro de uma abordagem sociotécnica, na perspectiva de
Rezende e Abreu (2001), deve ser feita observando-se duas perspectivas: a) verificando-se a
qualidade técnica; e, b) seu ajuste ao contexto organizacional. Rezende e Abreu (2001)
destacam que a análise do resultado da implantação de um SI, baseia-se em quatro fatores
básicos: i) envolvimento do usuário; ii) suporte da gestão; iii) o nível de risco e complexidade
do projeto; e, iv) a qualidade do gerenciamento do processo de implantação.
No que tange os recursos financeiros necessários para a implantação de soluções em TI,
destaca-se: i) o Programa Nacional de Apoio à Gestão Administrativa e Fiscal dos Municípios
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Brasileiros – PNAFM (2002), coordenado pela Unidade de Coordenação de Programas –
UCP do Ministério da Fazenda, e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID; e,
ii) o Programa de Modernização da Administração Tributária e da Gestão dos Setores Sociais
Básicos – PMAT (2004), coordenado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social – BNDES.
3. Metodologia
O presente estudo pode ser classificado como uma pesquisa descritiva, na qual foi
utilizado o método de estudo de caso. Os dados primários foram obtidos através de
questionários aplicados junto ao Centro de Processamento de Dados – CPD da Universidade
Federal de Santa Maria – UFSM, órgão responsável pela criação, desenvolvimento e
implantação do SIM; e junto a Empresa Municipal de Informática de Pelotas – COINPEL,
órgão co-responsável pela implantação do SIM. Os dados coletados referem-se ao processo de
implantação do SIM na Prefeitura Municipal de Pelotas/RS – PMP e correspondem ao
período de 2001 a 2004. Foram utilizados, neste estudo, dados secundários extraídos: i) da
internet; ii) de pesquisa bibliográfica; e, iii) de pesquisa documental.
5. Sistema de informação municipal
A FATEC está vinculada à UFSM há mais de 30 anos e vem atuando, através de uma equipe
que integra o Curso de Informática e o CPD, no desenvolvimento de projetos de soluções de
informática para a área institucional. O estudo analisa o processo de implantação do SIM,
sistema que foi idealizado na perspectiva de reverter potencial tecnológico em excelência de
serviços e surge com a finalidade de adequar a administração municipal aos novos tempos.
Algumas características do SIM são: i) estruturado e integrado num ambiente totalmente
gráfico agradável e de fácil utilização; ii) projetado para operar em multicamadas; iii) melhor
relação custo-benefício, pois viabiliza o uso de máquinas de pequeno porte; iv) Banco de
Dados único (DB 2 ou Oracle) mantém os módulos integrados e monitorados a cada
alteração; v) sistema foi desenvolvido em ambiente de programação orientada a objetivos; vi)
documentos e ações do sistema estão dentro de um workflow que permite a adequação aos
fluxos de trabalho dentro da Prefeitura; e, vii) sistema se adapta às rotinas de serviço.
Fonte: (Home Page do Centro Processamento de Dados da UFSM. Disponível em: <www.ufsm.br/cpd/sim>)
Figura 1 – Os módulos do sistema de informação municipal – SIM
A Figura 1 ilustra como os módulos do SIM estão integrados. No centro está o Sistema de
Gerenciamento e Controle de Acesso – SGCA, que é circundado pelo Sistema de Tramitações
(responsável pela integração de todos os módulos). No terceiro disco, do centro para fora,
estão os oitos módulos do sistema e no disco externo o Sistema de Informação Gerencial –
SIG, que abrange todos os módulos do SIM. Assim sendo, o SIM está dividido, basicamente,
em 10 sistemas aplicativos (módulos), dentre eles: i) Sistema de Administração Tributária; ii)
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Sistema de Administração Orçamentária e Financeira; iii) Sistema de Atendimento e
Ouvidoria; iv) Sistema de Administração de Recursos Humanos; v) Sistema de Serviços
Gerais; vi) Sistema de Protocolo e Controle de Processos; vii) Sistema de Informação
Gerencial – SIG; viii) Sistema de Legislação; ix) Sistema de Gerenciamento e Controle de
Acesso – SGCA; e, x) Sistema de Cálculo.
5.1. A Metodologia de implantação do SIM
A metodologia recomendada pela FATEC, para implantação do SIM, é dividida em fases,
eventos e atividades. As fases e seus respectivos objetivos gerais, são: I – Planejamento da
implantação; II – Levantamento de requisitos; III – Preparação de ambientes de trabalho; IV –
Treinamento e capacitação dos usuários; e, V – Migração de sistemas. Os eventos que
compõem cada fase do processo podem ser observados na Figura 2.
1. Reunião com Instituição
Evento I-1
2. Reunião com Equipe de
Implantação / Evento I-2
3. Levantamento Estrutura de
Informática / Evento II-1
4. Levantamento Software
Aplicativos / Evento II-2
5. Emissão Parecer Técnico
Evento II-3
6. Apresentação Parecer
Técnico / Evento I-3
7. Aprovação Cronogramas
Execução / Evento I-4
8. Apresentação Solene SI
Evento I-5
9. Levantamento Organograma
Instituição / Evento II-4
13. Certificação Estrutura
Informática / Evento III-1
21. Detalhamento Conversão
Dados / Evento V-1
10. Levantamento Fluxograma
Instituição / Evento II-5
14. Criação Ambientes de
Trabalho / Evento III-2
22. Ferramenta Conversão
Dados / Evento V-2
11. Treinamento Gerencial
Evento IV-1
15. Início Operacional SI
Evento III-3
23. Conversão Ambiental
Treinamento / Evento V-3
12. Preparação Treinamento
Operacional / Evento IV-2
16. Disponibilização Ambiente
Treinamento / Evento III-4
17. Treinamento Operacional
Evento IV-3
18. Apresentação Atual do
Projeto / Evento V-4
19. Retreinamento Operacional
Evento IV-4
20. Migração de Sistemas
Evento V-5
Fonte: (Adaptado de Sistema de Informações SIM/SIE/SAI: Metodologia de Implantação, 2003).
Figura 2 – O fluxo sugerido para implantação do SIM
A Figura 2 ilustra o fluxo sugerido para a implantação do SIM – que foi seguido no processo
de implantação na PMP. O fluxo apresenta as fases e os eventos do processo, bem como, o
objetivo principal de cada evento. Na metodologia de implantação recomendada pela FATEC
(2003), fase 1, consta a composição ideal da Equipe de Implantação: gerente do projeto;
responsável pelo CPD da instituição; equipe de suporte de hardware, software básico, banco
de dados e comunicações; equipe de suporte à análise e programação de sistemas; clientes
internos (usuários âncoras e responsáveis por setor). Esta fase destina-se ao planejamento da
implantação, envolvendo aspectos como: metodologia, cronogramas, recursos necessários e
apresentação solene do sistema.
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Os eventos da fase II destinam-se aos levantamentos necessários da estrutura tecnológica,
organizacional e funcional da instituição, bem como, a atividades que abrangem a idéia de
grupo de usuários e de levantamento do grau de satisfação, com a finalidade de levantar
subsídios para direcionar o treinamento dos usuários. A fase III envolve a criação de ambiente
de treinamento e produção e a operacionalização inicial do sistema, na qual intensifica-se a
customização e parametrização do sistema. Na fase IV é preparado e executado o treinamento
a nível gerencial e operacional, sendo que há um atenção especial destinada ao treinamento a
nível operacional, através da ênfase na necessidade de envolvimento dos usuários e no
treinamento prático. No que tange a migração para o SIM, a fase V apresenta as atividades
para a conversão dos dados para o SIM.
6. Análise dos resultados
Observa-se que a Prefeitura Municipal de Pelotas – PMP desenvolve um Programa de
Modernização da Gestão Municipal – PROGEM, o qual tem por finalidade dotar a
administração municipal de recursos e meios para a implantação de uma gestão eficiente e
eficaz e, cujo o SIM é um dos componentes. Dentre as etapas deste programa, destaca-se: i)
criação e amadurecimento de estrutura funcional, tem a finalidade de apoiar e estabelecer
diretrizes para o processo de modernização; ii) estabelecimento de plano emergencial para as
demandas mais urgentes de TI; iii) a capacitação de pessoal; iv) captação de recursos; v)
aquisição do sistema (SIM); vi) estabelecimento de padrões e políticas de informática; e, vii)
parceria com instituições de ensino. O PROGEM foi impulsionado por recursos do Programa
de Modernização da Administração Tributária e da Gestão de Setores Sociais Básicos –
PMAT e o processo de implantação do SIM teve início no mês de agosto de 2001 e ainda
encontra-se em andamento, sendo que 70% do sistema está implantado e operando.
Na perspectiva da Empresa Municipal de Informática de Pelotas – COINPEL, órgão coresponsável pela implantação, a adoção de um SI surgiu da necessidade de possuir um sistema
integrado de gestão pública e da necessidade de automatização e agilidade no trâmite dos
processos administrativos. Relata-se que a opção pelo SIM foi devido: i) ao quadro de pessoal
limitado da COINPEL; ii) a falta de processos de capacitação e formação para os servidores
públicos; iii) as características técnicas e funcionais do SIM; e, iv) a forma de implantação.
No que tange a metodologia de implantação percebe-se que foi desenvolvida em parceria pela
COINPEL, FATEC, Instituto de Organização Racional do Trabalho – IDORT e consultorias
contratadas, foram estipuladas as seguintes fases: i) levantamento e racionalização de
processos; ii) treinamento motivacional; iii) identificação de pontos de carência e nãoconformidade do sistema; iv) adequação; v) treinamento; e, vi) implantação. A equipe que
executou a implantação é composta por profissionais da COINPEL, da FATEC, do
Município, da Universidade Católica de Pelotas – UCPel, IDORT e consultorias contratadas.
Os módulos que compõem o SIM e a seqüência da implantação, para a PMP, foi: i)
Gerenciamento e Controle de Acesso – SGCA; ii) Protocolo e Controle de Processos; iii)
Recursos Humanos; iv) Tributário; v) Saúde; vi) Administração Orçamentária e Financeira;
vii) Central de Atendimento; viii) Materiais, Licitações e Compras; ix) Legislação; x)
Patrimônio e Frotas; e, xi) Educação.
Observa-se que os procedimentos e rotinas foram analisados e reestruturados, principalmente,
os fluxos operacionais e administrativos que estavam em desacordo com legislação ou
continham procedimentos desnecessários, tendo como resultado adequação e otimização dos
processos de trabalho. No que tange a questão da cultura organizacional, observa-se que
houve resistência dos funcionários, o que influenciou negativamente o processo, segundo a
COINPEL, a resistência deve-se, principalmente, ao desconhecimento do uso dos recursos de
informática e a falta de processos de capacitação e formação dos servidores públicos ao longo
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da sua trajetória profissional; assim sendo, destaca que a adesão ao processo de implantação
se deu de forma gradativa, através do reconhecimento das vantagens da inovação na prática.
Constata-se uma certa ênfase na fase de capacitação (treinamento) dos funcionários e dos
usuários-chave, através de cursos de informática básica e de uso do sistema, estes cursos
foram ministrados por consultores da FATEC em laboratórios de treinamento, capacitando
mais de 1.000 servidores públicos. Segundo a COINPEL o processo de motivação se deu
durante o processo de capacitação, através de reuniões envolvendo secretários, assessores e
seus funcionários, ou seja, através do envolvimento dos funcionários no processo, e durante
os treinamentos realizados em laboratório.
Sabe-se que um sistema deve se adaptar aos objetivos da organização, assim sendo, destaca-se
que o SIM foi projetado nos moldes do PNAFM, que contempla a maioria das áreas de gestão
municipal, apresentando, apenas, alguns desacordos devidos as legislações de particularidades
regionais, mas que são facilmente adaptadas. Observa-se a falta de alguns aspectos no
processo de implantação do SIM, dentre eles: i) a falta de um sistema de avaliação da
qualidade da informação gerada; ii) não considera os conceitos-chave da organização, mas é
desenvolvido nos moldes da PNAFM; iii) a questão de aplicações funcionalmente orientadas
apresenta algumas limitações, por exemplo, nos módulos de saúde e educação.
Segundo a COINPEL, as principais causas do atraso na implantação do SIM foram
decorrentes de situações conjunturais, como: i) a resistência a mudança; ii) a falta de domínio
da tecnologia; iii) o perfil da equipe técnica da FATEC (mais desenvolvedores do que
implantadores); iv) a falta de visão estratégia da FATEC (ampliação da participação no
mercado sem um estrutura de implantação); e, v) a complexidade do processo de implantação.
Destaca-se a constante participação da alta gerência e a sua atuação através de um conjunto de
ações dirigidas a objetivos estratégicos predeterminados, com foco na atividade-fim de cada
setor da administração. Na opinião da COINPEL, o SIM é um sistema de gestão bem
elaborado, no que se refere a sua arquitetura, características e funcionalidades. Se bem
implantado e explorado, pode-se converter num referencial na área de gestão pública, e que
sua principal vantagem para a PMP é proporcionar um tratamento adequado às informações.
7. Conclusões e limitações
Analisando-se o processo de implantação do SIM, no caso da PMP, observa-se que há uma
profunda mudança na estrutura organizacional e funcional, bem como, mudança paradigmas
da administração municipal, no que rege o aumento da eficiência e eficácia dos serviços
públicos. Os aspectos técnicos do SIM, como modelagem dos dados e arquitetura do sistema,
são essenciais, mas é impossível tornar um SI efetivo, sem a intensa colaboração dos usuários
e de um processo efetivo de implantação.
No que tange a gestão do processo de implantação, contata-se que: i) houve intensa
participação da alta gerência no PROGEM e especialmente com o SIM, tanto na capacitação
de recursos como no processo de implantação; ii) a equipe de implantação é multidisciplinar,
mas apresentou ineficiência no gerenciamento da implantação, pois a execução da
implantação foi destinada exclusivamente aos técnicos do CPD – possivelmente, o problema
esteja na comunicação entre a equipe de implantação; iii) uma fase destinada unicamente ao
treinamento gerencial e operacional – tanto de nível básico de informática como de uso do
sistema; e, iv) a falta de visão estratégica da FATEC (a FATEC já está selecionando e
capacitando profissionais para atuar especificamente no processo de implantação).
Com relação a mudança na estrutura organizacional e funcional, pode-se afirmar que o nível
de complexidade do processo de implantação é alta, pois há alteração nos fluxos operacionais
e administrativos em cada setor; alta resistência a mudança, com amenização após a
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verificação dos benefícios do SIM na prática; e, pela falta de um programa de motivação
predeterminado, que poderia facilitar a assimilação. Sugere-se a melhor utilização das
reuniões com integrantes da PMP e nos treinamento para desenvolvimento de um programa
de motivação, principalmente, através da comunicação efetiva com toda a organização.
No que tange os aspectos técnicos do SIM observa-se que, apesar do sistema não ser
desenvolvido especialmente para a PMP, ele considera critérios e padrões genéricos sobre
administração pública e há um trabalho intenso de customização e parametrização, sendo que
pode-se considerar o levantamento e o envolvimento do pessoal com conhecimento do
negócio essenciais para determinar o sucesso ou fracasso da atividade.
O presente estudo demonstra como se desenvolveu o processo de implantação do SIM na
PMP, mas pretende-se evoluir ainda mais executando um estudo de campo na PMP
procurando diagnosticar, aspectos como: i) a cultura organizacional; ii) o clima da
organização frente a inovação; iii) o nível de satisfação com o processo de implantação; e, iv)
o nível de otimização dos processos administrativos; dentre outros.
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Centro de Processamento de Dados da UFSM. Relatório de Estágio (Curso de Administração) – Universidade
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