Geral O Estado do Maranhão - São Luís, 10 de novembro de 2011 - quinta-feira 5 Senado aprova projeto que exige teor zero de álcool para motorista Hoje, é permitido dirigir com até 6 decigramas de álcool por litro de sangue; projeto aprovado em caráter terminativo na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, ontem, torna mais rigoroso o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) B RASÍLIA - A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado aprovou ontem, em caráter terminativo (sem necessidade de ir a plenário), um projeto de lei que torna mais rigoroso o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) contra os motoristas que dirigirem alcoolizados. O projeto segue para análise da Câmara dos Deputados. A justificativa do projeto, de autoria do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), diz que o texto é inspirado em proposta do Detran-ES, que prevê "tolerância zero" de álcool para condutores de veículos. O texto aprovado na comissão do Senado torna crime a condução de veículos "sob influência de álcool ou substância psicoativa". Atualmente, é permitido dirigir com até 6 decigramas de álcool por litro de sangue. O texto original previa punição no caso de "qualquer concentração de álcool ou substância psicoativa" no sangue. Emenda de redação apresentada pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO) retirou do texto a expressão "qualquer concentração". O senador disse que apresentou a emenda para "facilitar a Agência Brasil aprovação do projeto" . Mesmo assim, segundo a intepretação de Torres, o texto mantém a proibição de álcool no sangue para motoristas. Segundo ele, como o texto não determina um nível específico de álcool no sangue, nenhum teor é permitido. Para o senador, a expressão "qualquer concentração" era "só um capricho" e foi removida depois que a senadora Marta Suplicy (PT-SP) questionou se um bombom com recheio de licor poderia prejudicar um motorista. "A palavra 'qualquer' era um capricho, mas fica a mesma coisa", declarou o senador. Autor do projeto, Renato Ferraço afirmou, por meio de sua assessoria, que a mudança não altera a intenção do projeto, que é de proibir qualquer quantidade de álcool. Álcool - No começo de novembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que dirigir com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 decigramas é crime, sujeito à detenção, mesmo que o motorista não provoque risco a outras pessoas. O entendimento está em decisão da 2ª Turma que reafir- “ Essa prova testemunhal, de ver o motorista bêbado, substitui a prova que ele se negou a fazer" O senador Demóstenes Torres apresentou emenda ao projeto mou, em setembro deste ano, a validade da lei que tornou crime, em 2008, dirigir alcoolizado. Pela lei, a pena para quem dirige embriagado varia de seis meses a três anos de detenção, multa, e suspensão ou proibição de obter a permissão ou habilitação para dirigir. Mas ainda há discordância sobre se dirigir alcoolizado pode ser considerado crime no caso de o motorista não ter provocado risco a terceiros. Outra novidade no texto aprovado no Senado diz respeito às punições aplicadas aos conduto- Passeata clama por justiça para vítimas de acidente Demóstenes Torres, senador do DEM-GO res alcoolizados. Agora, a partir de nova emenda do senador Demóstenes Torres, – também aprovada pela Comissão, no caso do condutor causar morte de terceiros, a pena subirá para 16 anos, com prescrição em 20 anos. Atualmente, o Código de Trânsito prevê que praticar homicídio culposo (quando não dá intenção de matar) na direção de veículo automotor pode causar "detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor". Já no caso de lesão gravíssima, diz o senador, "que resultou em aborto ou uma deformidade permanente, como a perda de um membro, isso tudo vai levar a uma pena de até 12 anos". Nos casos de lesão grave, a pena passa a ser de 8 anos. Bafômetro - Conforme o projeto aprovado ontem no Senado, caso o motorista se recuse a fazer o teste de bafômetro, a prova pode ser obtida por testemunho, imagens ou outros documentos admitidos na legislação brasileira. O relator Pedro Taques (PDTMT) afirmou que o projeto não obriga a realização do bafômetro. "O cidadão não é obrigado a fazer o exame de bafômetro. Não é obrigado a fazer exame de sangue, e aí a comprovação do teor alcoólico, daquela situação concreta, vai ser feita através de comprovação indireta", disse. Fotos/De Jesus Maria Cruz Coelho e Ubiraci Filho, vítimas de atropelamento com morte na Avenida Litorânea, sábado, foram lembrados na noite de ontem por familiares e amigos Luto marcado por indignação e sede de justiça. Esse foi o cenário da passeata de protesto realizada ontem na Avenida Litorânea pelos familiares e amigos de Solange Maria Cruz Coelho e o sobrinho dela, de 13 anos, Ubiraci Silva Nascimento Filho, mortos por atropelaamento na noite de sábado (5). O motorista Rodrigo Araújo Lima, 22 anos, que dirigia o Toyota Corolla Prata, placa HPT2549, em alta velocidade, foi solto após pagar fiança de R$ 6 mil. Mais de 500 pessoas se concentraram no ponto exato do acidente. Amigos da escola de Ubiraci Filho e professores rabiscaram no asfalto mensagens de carinho e solidariedade. “É o momento de chamar atenção para o descaso da Justiça, que libertou um assassino”, declarou indignado Ubiraci Silva Nascimento, que perdeu o filho. O marido da outra vítima, Oswaldo Coelho de Souza, disse que o responsável pelo atropelamento nem deveria dirigir, de acordo com a lei. “O veículo não era dele, tem sete multas e há três anos que o IPVA não é pago. Por isso, peço justiça”, disse. Faixas e cartazes com palavras de paz mobilizavam quem passava pela Avenida Litorânea. “É impossível a sociedade se calar diante de tamanha brutalidade. Temos que levantar a bandeira da justiça e de um trânsito seguro”, disse Maria do Carmo Lima, amiga de uma das vítimas. Ubiraci Silva Nascimento disse que é importante que a Mensagens foram escritas por colegas de Ubiraci na Litorânea Colegas homenageiam o estudante Ubiraci Silva Nascimento Filho, uma das vítimas do acidente mobilização de combate a violência no trânsito seja permanente. “Agradeço a solidariedade dos parentes de outras vítimas de trânsito e insisto para que possamos unir forças contra a irresponsabilidade e imprudência que leva vidas inocentes”, ressaltou o pai de Ubiraci Filho. Outras vítimas – Na caminhada por justiça e paz, outras pessoas que já perderam familiares vítimas de trânsito mostraram solidariedade e indignação com a liberdade do autor do atropelamento, o estudante Rodrigo Araújo Lima. “Perdi a minha irmã há 15 anos, quando chegava em casa. O motorista que a matou dirigia a mais de 140km/h e até hoje a Justiça não deferiu nenhum resultado das investigações. Ele [ o condutor] continua solto”, denunciou a empresária Rosa Maria Carvalhal. Também muito emocionado, o comerciante Jorge Cunha, com fotos do filho de 4 anos João Victor da Cunha, morto há um ano, pedia por justiça. “Há um ano meu filho foi atropelado na praia do Araçagi, e o juiz da Comarca de São José de Ribamar nunca deferiu o laudo inicial para definir se o acidente foi culposo ou doloso. Enquanto isso, nós, familiares, sofremos indignados”, protestou Jorge Cunha. Muito emocionados e com apitos para chamar atenção da população, amigos de escola de Ubiraci Filho cantavam músicas religiosas durante a passea- ta. “Sem dúvida, ele vai deixar uma saudade grande, mas sempre vamos lembrar dele com carinho e alegria”, disse Pedro Henrique Santos, amigo de escola da vítima. Acidente – Segundo informações de testemunhas e do inquérito policial, o acidente ocorreu por volta das 20h40 de sábado (5), quando Solange Maria Cruz Coelho e o sobrinho Ubiraci Silva Nascimento Filho atravessavam a Avenida Litorânea. Um Toyota Corolla Prata, placa, em alta velocidade, avançou sobre o canteiro central, atingindo-os. O carro também derrubou um poste. A população, revoltada, ainda depredou o veículo. Acusado se apresenta na delegacia de trânsito O estudante universitário Rodrigo Araújo Lima, acusado de ter atropelado e matado duas pessoas da mesma família no sábado (5), na Avenida Litorânea, em São Luís, se apresentou na manhã de ontem na Delegacia Especial de Trânsito, na Beira-Mar, para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido. Ele foi posto em liberdade logo após ter pago uma fiança no valor de R$ 6 mil depois do acidente daquela noite. Segundo Frederico Carneiro, advogado do estudante, Rodrigo Araújo contou em seu depoimento que no dia do acidente passou a manhã toda em casa. Por volta das 20h, o universitário foi até a Avenida Litorânea na companhia de um amigo para fazer um lanche. Já voltando para a casa, ele passou por uma barreira eletrônica onde foi registrado uma velocidade de 60km/h. Depois disso, acelerou um pouco mais, chegando próximo aos 80km/h. Foi nesse momento que o estudante avistou duas pessoas atravessando a pista e, na tentativa de desviar delas, perdeu o controle do carro, subiu no canteiro central e colidiu violentamente com o poste de energia. De acordo com o advogado, o es- tudante não soube dizer se colidiu primeiramente com o poste ou com as duas pessoas. “O Rodrigo disse que tudo aconteceu muito rápido, em uma fração de segundos. Por isso, ele não soube dizer precisamente se colidiu primeiro com o carro ou com as duas pessoas”, afirmou Frederico Carneiro. Faróis desligados – Com relação às acusações de que o estudante estaria conduzindo o veículo com os faróis desligados, Carneiro afirmou que tais denúncias não têm fundamento. “Era impossível que ele estivesse com os fa- róis do carro desligados. O Rodrigo fez um longo percurso, de sua casa até a Litorânea, com todos os faróis do veículo acesos”, disse. O advogado contestou também as acusações de que Rodrigo Araújo estaria conduzindo o carro sob o efeito de álcool. Segundo o advogado, logo após o acidente, já na delegacia, o estudante realizou os testes de reflexo e o resultado foi negativo para a embriaguez. “Foi por esse motivo que a delegada concedeu a liberdade para o meu cliente mediante o pagamento de fiança”, disse.