Energia Solar Fotovoltaica – Uma opção para eletrificação rural no semi-árido nordestino
Kleber Marcelo Braz Carvalho, Genivaldo Barbosa dos Santos e Pollyanna Ferreira
UNIFACS – Universidade Salvador
Mestrado em Regulação da Indústria de Energia
O semi-árido nordestino ocupa 841.260,9 km2 de área da Região Nordeste, assolada por diversos
problemas geopolíticos, dentre estes, podemos destacar a falta de energia elétrica na zona rural.
Segundo o Censo 2000 o total de pessoas sem energia elétrica dos estados que fazem parte do
semi-árido nordestino (excluindo o estado do Maranhão) é de cerca de seis milhões de pessoas.
Atingindo com maior intensidade a zona rural que de acordo com o IBGE, o País possui 29,4%
dos domicílios rurais sem os serviços de energia elétrica, contra 2,6% da zona urbana.
O acesso à energia elétrica não deve ser visto apenas sob os aspectos técnicos e/ou econômico e
sim como questão de natureza social e política, isto porque a solução deste problema proporciona
maiores oportunidades e variedade de alternativas para os indivíduos, possibilitando o acesso a
diversos serviços essenciais, a melhoria da qualidade de vida, a educação, abastecimento de água,
iluminação, comunicação e informação, entretenimento e saúde, condições de direito que todo
cidadão deve ter acesso.
É grande o impacto para esta parcela da população excluída do processo de eletrificação e, as
conseqüências disto geraram grandes custos sociais ao Estado. Doenças respiratórias associadas a
gases liberados pela queima de combustíveis para iluminação, redução da renda familiar, devido
a altos custos de combustíveis de queima, pilhas, baterias automotivas e outras formas
alternativas arcaicas que venha suprir as necessidades energéticas e de iluminação, são alguns dos
fatores causadores deste impacto.
Entre as formas alternativas para solução deste impasse social, os sistemas descentralizados de
geração de energia elétrica, via energia solar fotovoltaica (FV), representa uma das opções para o
semi-árido nordestino quando se trata de satisfazer às necessidades energéticas de populações
dispersas, de difícil acesso, de baixa renda familiar e baixo consumo energético.
A tecnologia fotovoltaica tem provado sua viabilidade também no bombeamento de água e
dessalinização de água salobra. Iniciativas neste sentido foram realizadas pelo PRODEEM
(Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios), programa do Ministério
das Mimas e Energia, tem propiciado a instalação de sistemas fotovoltaicos para bombeamento
de água no semi-árido. Na Bahia já foram instalados 195 sistemas deste tipo, sendo 134 pelo
PRODEEM e 31 com recursos do governo do Estado. O uso de dessalinizador implantado no
interior do estado do Ceara, no município de Caucaia, é um exemplo o sistema de dessalinização
utilizando a tecnologia de osmose reversa acionada por painéis fotovoltaicos que beneficia 150
famílias.
O uso energia da FV no semi-árido nordestino é tecnicamente viável, pois possuímos uma grande
incidência de raios solares. Segundo estudos da CHESF (Companhia Hidroelétrica do São
Francisco), o índice de radiação solar do Nordeste é de 11.400 MW (megawatts) por ano, valor
próximo da potência instalada da Usina Hidrelétrica de Itaipu de 12.600 MW (megawatts).
Além de satisfazer a necessidade de energia elétrica de locais remotos, distantes das redes de
eletricidade convencionais, o uso do sistema fotovoltaico é importante para formação de uma
consciência ecológica para o consumo energias limpas.
Utilização de multimeios na realização de reforço escolar –
uma ação de voluntariado
Rosana Lucia Machado Sampaio Santos
Marizélia Silva Santos
Gidalte Nascimento da Silva
Escola Agrotécnica Dr. Francisco Martins da Silva
Introdução
A
visão
do
processo
educativo
tem
sofrido
modificações através dos tempos. E isso se faz necessário por
estar a mesma atrelada as mudanças sociais, servindo muitas
vezes como espelho destas. A procura, por parte dos
elementos constituintes do sistema educativo, em busca de
uma ação mais efetiva junto à comunidade escolar nos
transporta a tentativas de acertos, tantas vezes resumidas em
erros, os quais leva-nos a um novo aprendizado.
A “revolução informática” causou mudanças na área
do conhecimento, pondo em xeque o papel da escola.
Segundo Marques et al (1986), a relação de ensino é
uma relação de comunicação por excelência, que visa a
formar e informar; e instrumentos que possam se encaixar
nesta dinâmica têm sempre a possibilidade de servir ao
ensino. Livro, vídeo, fotografia, computadores e outros são
formas de comunicar conhecimentos e, como tais, interessam
à educação. É justamente por serem instrumentos de
comunicação que seu uso torna-se problemático. São
problemáticos porque chegam à escola desligados de uma
necessidade claramente expressa por ela, e chegam também
desligados de uma matéria específica. E são problemáticos,
ainda, porque oferecem uma nova forma de comunicar o
conhecimento, forma essa que influi diretamente sobre a
metodologia de ensino e a modifica no seu aspecto técnico,
podendo até fazê-la rever as suas bases teóricas e filosóficas.
Empregar um livro, um vídeo ou até uma simples fotografia
significa modificar a relação aluno-conhecimento, a relação
aluno-professor e a relação escola-sociedade.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(9394/96)
dá
ao
Ensino
Médio
a
característica
de
terminalidade, o que significa assegurar a todos os cidadãos a
oportunidade de consolidar e aprofundar os conhecimentos
adquiridos no Ensino Fundamental; aprimorar o educando
como pessoa humana;
possibilitar o prosseguimento de
estudos; garantir a preparação básica para o trabalho e a
cidadania; dotar o educando dos instrumentos que o permitam
“continuar aprendendo”, tendo em vista o desenvolvimento da
compreensão dos “fundamentos científicos e tecnológicos dos
processos produtivos”.
Segundo a Comissão Internacional sobre Educação
para o século XXI, da UNESCO, a educação deve cumprir um
triplo papel: econômico, científico e cultural, devendo ser
estruturada em quatro alicerces: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser.
Ao ampliarmos nosso entendimento de que a escola
não se resume a quatro paredes já que esta encontra-se
inserida em um contexto social, e que a procura do
conhecimento deve partir do próprio educando, numa
afirmativa da sua posição como cidadão atuante e crítico, o
qual futuramente terá que posicionar-se e buscar o seu espaço
como indivíduo ativo, profissionalmente, traçamos um esboço
de trabalho o qual serviu como ponto de partida e estágio
preparatório vislumbrando estes fins.
Este trabalho teve como objetivos:
-
Incentivar a participação cooperativa e solidária de alunos e
alunas da 3ª série do ensino médio junto a comunidade escolar
numa mostra de sua capacidade intelectual e cidadã;
-
Elevar a auto-estima dos alunos e alunas;
-
Trabalhar as dificuldades de aprendizagem dos alunos e
alunas utilizando como elementos facilitadores instrumentos
tecnológicos, familiarizando-os com os mesmos.
Metodologia
O trabalho surgiu das necessidades acadêmicas
apresentadas pelos alunos do curso de regularização do fluxo
escolar (segmento A) nas diferentes disciplinas estudadas, o
que incentivou a atuação dos alunos da 3ª série do curso
médio, num trabalho de voluntariado de ministração de aulas
junto a turma.
A realização da atividade se deu na Escola
Agrotécnica Dr. Francisco Martins da Silva, situada na cidade
de Feira de Santana-BA, tendo esta a maioria do seu alunado
oriundo da zona rural.
O trabalho foi desenvolvido durante 2 meses, sendo as
aulas ministradas em turno oposto ao freqüentado pelos
alunos. Para tanto o mesmo apresentou as seguintes fases:
1ª) Indicação, pelos professores pertencentes ao quadro do
programa de regularização do fluxo escolar, dos alunos que
precisavam de reforço escolar, bem como os assuntos a serem
abordados durante o período do projeto;
2ª ) Divisão dos alunos monitores em grupos por disciplina:
Português, Matemática, História e Geografia; Ciências;
3º)
Formulação, junto com os grupos, de cronograma de
trabalho, no qual se estabeleceu os dias de reunião dentro dos
grupos e entre os grupos para programação das aulas e
avaliação do projeto;
4º) Acompanhamento dos alunos monitores na preparação
das atividades e tira-dúvidas pelos professores.
Foram disponibilizados para os alunos monitores
projetor
de
slides,
vídeo
e
computadores,
materiais
necessários para a ministração das suas aulas. Um maior
aprofundamento dos mesmos nas matérias lecionadas foi
realizado por meio de livros e consultas a internet.
Durante o projeto os alunos monitores puderam
colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo de
seus estudos, ligando a teoria o seu uso, trazendo para o seu
dia-a-dia o que haviam aprendido enquanto estudantes.
A eles foi dada a oportunidade de se colocarem no
lugar do professor e praticarem a cidadania, agindo como
cidadãos participantes de uma sociedade e sujeitos de
mudança.
A avaliação dos alunos do fluxo escolar foi realizada
através dos resultados obtidos pelos mesmos nas disciplinas
citadas. Vale salientar que, além de ser observado o
crescimento do aluno em relação aos conteúdos trabalhados,
foi principalmente observado o crescimento do mesmo como
pessoa crítica e participativa. Os alunos monitores foram
avaliados quanto a capacidade dos mesmos de reflexão e uso
do que foi aprendido, mudança de comportamento e
posicionamento.
Resultados e Conclusões
Ao final do projeto foi aberta uma discussão com a
participação de todos os envolvidos como também da direção
da escola, onde foi dado espaço para a colocação de opiniões
quanto ao trabalho realizado. Nela concluímos que:
-
O projeto deveria ter sido realizado logo no início do ano
letivo, quando então teríamos um maior tempo para
trabalharmos as dificuldades de aprendizagem apresentadas
pelos alunos;
-
Colocar-se no lugar do professor fez com que os alunos
monitores tivessem uma melhor visão do papel exercido pelos
educadores tanto em sala de aula quanto na vida dos seus
alunos;
-
Tal atividade pode ser realizada não só pelos alunos de séries
mais adiantadas como também entre os próprios colegas em
uma turma, em forma de monitoria;
-
O uso de instrumentos tecnológicos surtiu um ótimo efeito no
aprendizado e interesse dos alunos, estimulando as aulas;
-
A auto-estima tem que ser trabalhada em primeiro plano
dentro de uma escola, sendo que nessa etapa todos os
componentes do processo educativo devem se engajar.
Quanto a isso observamos que os alunos que participaram do
reforço possuíam uma baixa estima a qual dificultava o seu
aprendizado.
-
Oferecer aos alunos diferentes metodologias de trabalho
engajando-os no processo facilitou em muito a sua
aprendizagem por prender
sua atenção e direcionar seus
esforços.
-
Os alunos trabalhados, em sua totalidade, necessitavam de
uma maior atenção em relação ao fator afetivo, apresentando
um comportamento diferenciado no final do projeto do que o
apresentado no início, sendo que muitas vezes isto na foi
demonstrado em sala de aula normal.
-
Os alunos monitores apresentaram, durante o transcorrer do
trabalho, mudanças visíveis em seus comportamentos
tornando-se
estes
mais
seguros
quanto
aos
seus
conhecimentos.
-
Houve uma boa aceitação dos alunos monitorados em relação
ao projeto, podendo o mesmo ser observado através da
frequência e participação destes.
Todas as atividades realizadas pelos alunos durante o
projeto foram guardadas em pastas individuais, as quais eram
frequentemente analisadas pelos alunos monitores, sendo que
estes a cada aula anotavam suas observações quanto as aulas e
os alunos, discutindo-as posteriormente.
Os alunos monitores utilizaram durante todo o projeto
e nas diversas disciplinas o computador como instrumento
complementar em suas aulas, assim como o vídeo e o projetor
de slides, pondo em prática os conhecimentos adquiridos.
Ao finalizarmos este projeto, percebemos que todos
ganhamos muito e perdemos pontos negativos, então, ainda
presentes em nós. Nos tornamos mais gente, por nos
sentirmos úteis, por termos dado um maior sentido as nossas
vidas através das realizações de outras pessoas. Notamos que
nunca é tarde para nada, e não nos cabe julgarmos aos outros
e querermos determinar-lhes um fim. Cada um possui dentro
de si um mundo, e nos é muito mais interessante e
enriquecedor quando o dividimos, pois ele se expande, cresce
tanto que atinge os que encontram-se ao nosso redor, mostrase, renova-se e nos liberta. O que todos nós tivemos certeza
absoluta após esta caminhada é que deveríamos tê-la
começado antes e sempre.
Referências Bibliográficas
Marques, C. P. C.; Mattos, M. I. L. de; la Taille, Y. de.
Computador e Ensino: uma aplicação à língua portuguesa.
Série Princípios. Ed. Ática, São Paulo, 1986. 96 p.
Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais:
ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999.
Valdez, Daniel. As relações interpessoais e a Teoria da Mente
no contexto educativo. Pátio Revista Pedagógica. Ano VI,
N.º 23, Setembro/Outubro, 2002. Ed. Artmed. p. 24-26.
Badejo, M. L. Ensinando é que se aprende. Pátio Revista
Pedagógica. Ano VI, N.º 23, Setembro/Outubro, 2002. Ed.
Artmed. p. 44 – 48.
Silva, M. Sala de Aula Interativa. Rio de Janeiro. Ed. Quartet.
2ª ed. 2001. 219 p.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA - UEFS
I FEIRA DO SEMI-ÁRIDO
RESUMO EXPANDIDO
TÍTULO: PROJETO NASCENTES DO PARAGUAÇU
NOME: JÚLIA MARIA SANTANA SALOMÃO et al. Coordenadora do Projeto.
INSTITUIÇÃO: CENTRO DE RECURSOS AMBIENTIAIS – CRA (Coordenador do Projeto)
CESAT / CONDER / CAR/ DIVISA / EBDA / SFC / SRH (Co-executores)
INTRODUÇÃO
A gestão dos recursos hídricos se coloca como prioridade para a melhoria da qualidade de vida de
uma região, requerendo ações contínuas e compartilhadas, que possibilitem o aproveitamento do
potencial natural e a promoção do desenvolvimento regional em bases sustentáveis, contando
com a participação das comunidades locais.
Em 24 de dezembro de 2002, o Governo do Estado da Bahia, por meio do CRA – Centro de
Recursos Ambientais; DDF – Diretoria de Desenvolvimento Florestal (atual Superintendência de
Desenvolvimento Florestal e Recursos Hídricos – SFC); SRH – Superintendência de Recursos
Hídricos; EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola; CESAT – Centro de Estudos
da Saúde do Trabalhador; DIVISA – Diretoria de Vigilância e Controle Sanitário; CONDER –
Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia; CAR – Companhia de
Desenvolvimento e ação Regional, firmou convênio com o Ministério do Meio Ambiente –
MMA, com o objetivo de implementar as atividades inerentes ao Programa Nacional de Meio
Ambiente – PNMA II, Componente Gestão Integrada de Ativos Ambientais, por intermédio do
Projeto Nascentes do Paraguaçu, buscando o envolvimento dos atores sociais locais, na gestão
participativa e compartilhada dos recursos ambientais da região do Alto Curso do Rio Paraguaçu.
O Alto Curso da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu compreende 22 (vinte e dois) municípios
pertencentes às Microrregiões Homogêneas denominadas, segundo o IBGE, de Chapada
Diamantina (quatorze municípios, ocupam 83,8 % da área), Chapada Diamantina Meridional,
(cinco municípios ocupam 9,7 % da área) e Piemonte da Diamantina (três municípios, ocupando
6,5 % da área).
A área definida para a execução do projeto, envolve 16 municípios: Andaraí, Barra da Estiva,
Boninal, Bonito, Iraquara, Ibicoara, Lajedinho, Lençóis, Morro do Chapéu, Mucugê, Palmeiras,
Piatã, Seabra, Nova Redenção, Utinga e Wagner.
Com o intuito de minimizar os impactos ambientais existentes nos municípios da área de
abrangência do projeto, protegendo-se os mananciais, as nascentes e matas ciliares, o projeto
pretende desenvolver ações, com vistas a reduzir o uso em 20 % de agrotóxicos e fertilizantes;
estimular nas pequenas propriedades rurais ribeirinhas a redução de 15 % do consumo de água
para irrigação; reduzir em 20 % a área de incêndios florestais; recuperar 800 hectares de matas
ciliares e 200 hectares da cobertura vegetal nas nascentes do Alto Curso do Rio Paraguaçu;
reduzir o extrativismo vegetal predatório através da implantação de 600 hectares de “roças de
madeira” orgânica; promover a gestão adequada de 100 % dos resíduos sólidos.
Estas ações foram priorizadas com a participação das lideranças comunitárias locais em
seminário realizado para discussão do pré-projeto, ocasião em que foram confirmados os
principais problemas ambientais existentes na área, quais sejam: intoxicação de trabalhadores
rurais e seus familiares pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, principalmente na olericultura
irrigada, o uso excessivo da água para irrigação, a supressão vegetal das nascentes e matas
ciliares, as queimadas não controladas, a erosão dos solos, o assoreamento e poluição dos
recursos hídricos superficiais e subterrâneos por esgotos e resíduos sólidos domésticos e a
contaminação por agrotóxicos e fertilizantes químicos.
Os objetivos do projeto são:
•
Melhorar a qualidade e garantir a disponibilidade hídrica do Alto Curso da Bacia do Rio
Paraguaçu, contribuindo para o desenvolvimento regional sustentável e a melhoria da
qualidade de vida.
•
Promover o uso de técnicas agropecuárias ambientalmente sustentáveis e desenvolver
ações de vigilância ambiental em saúde com ênfase em agrotóxicos, fertilizantes e água
para consumo humano;
•
Proteger as áreas de nascentes e preservar e/ou recuperar as áreas de matas ciliares nas
pequenas propriedades rurais ribeirinhas;
•
Promover a gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos, atuando sobre o planejamento,
a operação dos serviços e a destinação final adequadas de 13 municípios distribuídos nas
sub-bacias do Rio Cocho, Rio Bonito, Rio Utinga, Rio Santo Antônio, Rio São José, Rio
Preto e na Calha Principal do Rio Paraguaçu.
Para tanto, o projeto fundamenta-se na concepção sistêmica, tendo como unidade de
planejamento o Alto Curso da Bacia do Rio Paraguaçu, entendido como um conjunto de
elementos interdependentes. Para efeito de análise dos problemas ambientais e das propostas de
intervenção dividiu-se a área em setores ou Sub-Bacias, de acordo com a importância
socioambiental dos seus principais tributários, sem perder de vista o peculiar interesse dos
municípios na gestão do território.
METODOLOGIA
Diante da grande extensão territorial do Alto Curso do Paraguaçu que abrange 22 municípios,
optou-se em concentrar as atividades nas mesmas áreas, de forma a solucionar os problemas
ambientais identificados, evitando-se a pulverização espacial e temporal das ações.
Desse modo, para intervenção do projeto, foram priorizados 16 municípios tomando como base
os seguintes critérios: a) presença de nascentes e mananciais relevantes; b) os impactos
ambientais (uso de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, destinação final inadequada dos resíduos
sólidos - lixões, uso excessivo da água na irrigação, queimadas, desmatamentos); c) apresentar
aproximadamente 80% do território municipal inserido no Alto Curso da Bacia do Paraguaçu; d)
nível e grau de organização social (associativismo); e) existência expressiva de pequenos
produtores rurais; f) grau de interesse em participar do projeto.
As ações de intervenção para o primeiro ano, Fase 1, iniciarão a partir da nascente - calha
principal do Alto Curso da Bacia do Rio Paraguaçu – composto pelos municípios de Barra da
Estiva, Ibicoara, Mucugê, Andaraí e Nova Redenção.
As ações de apoio e planejamento serão desenvolvidas, neste mesmo período, em toda a área de
abrangência do projeto.
As ações de intervenção para o primeiro ano, Fase 1, iniciarão a partir da nascente - calha
principal do Alto Curso da Bacia do Rio Paraguaçu – composto pelos municípios de Barra da
Estiva, Ibicoara, Mucugê, Andaraí e Nova Redenção.
Considerando-se que os impactos ambientais locais decorrem da forma como os recursos naturais
são apropriados pelos diferentes segmentos econômicos e sociais, a estratégia de execução
basear-se-á nas seguintes premissas:
-
Articulação e integração com os projetos do Componente Desenvolvimento Institucional
do PNMA II ( Licenciamento Ambiental e Monitoramento da Qualidade da Água);
-
Articulação intersetorial nas esferas federal, estadual e municipal para estimular a
potencialização das ações convergentes já existente, de forma a promover a maximização
dos benefícios e a redução de custos envolvidos no projeto;
-
Participação dos diversos atores sociais (órgãos governamentais, ONG’s, universidades,
instituições de pesquisa, associações comunitárias, setores produtivos) na elaboração e
execução do projeto.
As intervenções do projeto se darão a partir da atuação integrada dos órgãos co-executores e
demais parceiros, adotando-se as seguintes linhas de ação:
a) Adoção de técnicas agroecológicas, de irrigação sustentável e de sistemas agroflorestais,
junto aos pequenos produtores rurais localizados em áreas ribeirinhas.
Para a mudança do atual modelo agrícola, com vistas a sustentabilidade ambiental no Alto Curso
do Rio Paraguaçu, serão realizados cursos de capacitação, implantados Centros de Difusão
(CEDAIS) e Unidades Agroecológicas de Produção (UPAIS, UPSAFs), ações de fortalecimento
da cadeia produtiva orgânica e da organização social dos pequenos produtores rurais e prestação
de assistência técnica.
Serão realizados cursos de capacitação para pequenos agricultores e técnicos de órgãos públicos,
com o objetivo de transferir tecnologias agropecuárias sustentáveis (agroecologia, irrigação e
sistemas agroflorestais), como forma de disseminação do conhecimento.
As UPAIS, serão implantadas em áreas de pequenos produtores rurais, com vínculos associativos
e que cultivam olerícolas, envolvendo 450 pequenos produtores com área média de 1 hectare. A
cada ano serão selecionados e capacitados 150 agricultores. As UPAIS estarão localizadas nas
Sub-Bacias do Rio Utinga (municípios de Utinga, Wagner); do Rio Santo Antonio (município de
Iraquara); do Rio Cochó (municípios de Seabra e Boninal) e na calha principal do Paraguaçu
(município de Mucugê), possibilitando a formação de agentes multiplicadores, que estarão
comprovando a viabilidade econômica e as vantagens da produção agroecológica para a saúde
pública e para o meio ambiente.
As áreas, objeto de intervenção, serão selecionadas a partir de um diagnóstico elaborado com a
participação das associações de pequenos produtores rurais.
Para a operação das UPAIS serão distribuídos kits de irrigação, constituídos de adutoras,
mangueiras, canalizações, nos sistemas de gotejamento e micro aspersão e demais insumos
necessários, a serem adquiridos pelo projeto e entregues aos pequenos produtores selecionados.
Estes assinarão um Termo de Compromisso, implicando em responsabilidades dos beneficiários
com o projeto.
As UPSAFs, serão implantadas nas áreas de pequenos produtores de café irrigado ou não, que
tenham vínculos associativos, situadas nas margens dos rios.
As áreas objeto dessas intervenções serão: a calha principal do rio Paraguaçu (Barra da Estiva,
Ibicoara e Mucugê); a sub-bacia do Cochó (Piatã, Boninal); a sub-bacia do Bonito (Bonito,
Wagner).
Para a implantação das UPSAFs, será realizado um levantamento das áreas críticas utilizando-se
de interpretação das imagens de satélites que cobrem a região, complementando-se com visitas
''in loco", para diagnóstico, registro fotográfico e georreferenciamento das áreas.
Os equipamentos e demais insumos necessários a essa prática serão adquiridos pelo projeto e
doados aos produtores selecionados, que assinarão um Termo de Compromisso.
Assim, os CEDAIS, as UPAIS e as UPSAF deverão constituir-se, também, em áreas de
demonstração de técnicas agroecológicas, para o público interessado.
Por meio de um estudo de mercado, estímulo a parcerias entre organizações governamentais e
não governamentais para apoio e intercâmbio técnico, propõe-se estimular o associativismo dos
pequenos produtores, objetivando a diminuição de custos, agregação de valor na produção
(certificação de produto diferenciado no mercado) com a eliminação da intermediação na
comercialização. Para os produtos oriundos da olericultura irrigada serão implantadas unidades
municipais de comercialização (feiras-verdes) composta de boxes para os associados que se
disponham a produzir dentro dos princípios e práticas da agroecologia. Este espaço comunitário
deverá localizar-se próximo a feira livre local.
Nas UPAIS e UPSAFs, a assistência técnica será prestada por profissionais vinculados aos órgãos
públicos da extensão rural, capacitados pelo projeto, e, complementarmente, por empresas e/ou
ONGs com comprovada experiência em agroecologia e irrigação sustentável.
b) Descentralização das ações de vigilância ambiental em saúde, com ênfase em agrotóxicos,
fertilizantes e água para o consumo humano
Dos 16 municípios que integram o projeto foram selecionados 12, levando-se em conta os
seguintes critérios de elegibilidade:
a) municípios onde predominam as culturas que utilizam agrotóxicos;
b) cultivos próximos a nascentes e mananciais;
c) municípios onde existe cobertura do Programa de Saúde da Família - PSF.
Assim, foram selecionados os seguintes municípios: Barra da Estiva, Ibicoara, Mucugê, Andaraí
(Calha principal do Rio Paraguaçu); Bonito (Sub-bacia do Rio Bonito); Wagner, Utinga, Lençóis
(Sub-bacia do Rio Utinga); Iraquara, (Sub-bacia do Rio Santo Antônio); Piatã, Boninal, Seabra,
(Sub-bacia do Rio Cochó).
Para a vigilância ambiental da qualidade da água para o consumo humano os municípios
precisam ter acesso à internet e equipe de vigilância sanitária.
Serão realizados cursos de formação de agentes multiplicadores para a vigilância ambiental em
saúde, com ênfase em agrotóxicos, fertilizantes e água para o consumo humano junto aos
professores, agentes comunitários de saúde, técnicos de instituições públicas, membros de ONG`s
e dos sindicatos dos trabalhadores e produtores rurais.
Para os profissionais de saúde serão realizados cursos básicos de vigilância ambiental em
agrotóxicos, visando a municipalização das ações de saúde ambiental e do trabalhador.
As Comissões Municipais de Vigilância Ambiental em Agrotóxicos serão criadas nos 12
municípios escolhidos, com representação de órgãos afins e da sociedade civil organizada, com
vistas ao estabelecimento de estratégias locais de planejamento e intervenção para o
enfrentamento conjunto da problemática do uso de agrotóxico. Serão realizados cursos de
capacitação avançada para os membros das Comissões.
Para a recuperação de 200 hectares em áreas de nascentes e 800 hectares de matas ciliares será
realizado um levantamento das áreas críticas, por meio da aquisição e interpretação das cinco
imagens de satélites que cobrem toda a região do projeto, complementando-se com visitas ''in
loco" para diagnóstico, registro fotográfico e georreferenciamento das áreas. Será realizada a
identificação e o mapeamento para atualização de SIG já existente na DDF e o quantitativo das
áreas a serem recuperadas por propriedade. Com a participação das associações e sindicatos de
pequenos, médios e grandes produtores rurais será realizado o cadastramento dos proprietários a
serem envolvidos no projeto.
Serão produzidas mudas de espécies nativas e frutíferas, através da adequação do viveiro florestal
do município de Iraquara e implantação de dois viveiros florestais nos municípios de Utinga e
Ibicoara, nos CEDAIS. Esses viveiros devem apresentar um plano de sustentabilidade pós
projeto. Serão adquiridas mudas de espécies nativas e frutíferas junto aos produtores rurais locais.
c) Estímulo às alternativas sustentáveis de geração de renda para pequenos produtores,
através da implantação de florestas produtivas com espécies de rápido crescimento,
Programa Roças de Madeira - PRM
Para diminuir a pressão sobre cerca de 600 hectares da vegetação nativa serão identificadas as
áreas prioritárias, por meio da aquisição e interpretação das cinco imagens de satélites que
cobrem toda a região do projeto, complementando-se com visitas ''in loco" para diagnóstico,
registro fotográfico e georreferenciamento das áreas. Será realizado o mapeamento através de
SIG e levantado o quantitativo das áreas a serem implantadas as florestas produtivas. Com a
participação das associações de produtores rurais será realizado o cadastramento dos pequenos
proprietários rurais que serão envolvidos no projeto.
Como forma de sensibilizar e mobilizar os produtores rurais para a implantação de 600 hectares
das "roças de madeira" serão realizadas reuniões de divulgação dessa atividade, envolvendo a
DDF, a EBDA, os sindicatos rurais, as associações de produtores rurais e dos assentados de
reforma agrária, as prefeituras municipais e ONGs.
Serão também realizados cursos para capacitação de pequenos produtores rurais na implantação e
manutenção da floresta nas sub-bacias e na calha principal, como também a promoção de
palestras de educação ambiental voltada às comunidades locais.
d) Minimização de resíduos sólidos e adequação da destinação final
A estratégia de desenvolvimento do trabalho deverá ocorrer de forma integrada, envolvendo o
corpo técnico do órgão responsável pelos serviços de limpeza urbana das prefeituras municipais,
a sociedade civil organizada e o cidadão. Deverão ser realizadas sucessivas reuniões utilizando-se
metodologia que incluam dinâmicas educativas a partir de uma pedagogia cognitiva, valorizando
o conhecimento dos participantes. O trabalho de educação ambiental deverá ser executado por
sub-bacias, de forma regionalizada, difundindo uma cultura de preservação da área, tomando por
eixo temático o lixo.
De acordo com o que seja definido nos estudos dos PGIRS para a destinação final do lixo de cada
município deverá ser fomentada a
seletividade de resíduos domiciliares, considerando a
possibilidade de incentivar a gestão dos bioresíduos, onde se incluem os resíduos verdes, de
feiras livres, restaurantes, hotéis.
Deverá ser fomentada a implantação de unidades de triagem e compostagem, considerando uma
geração estimada de 70 % de resíduos orgânicos.
As soluções para destinação final deverão prever uma abrangência temporal para 15 anos e para
os PGIRS 5 anos
Com relação ao planejamento para operação dos serviços que compõem um sistema de limpeza
urbana dos municípios onde ocorrerão intervenções, apenas o município de Seabra apresenta
Plano de Gerenciamento que está em fase de elaboração pela Prefeitura, com apoio financeiro da
CAR. Doze municípios serão contemplados com a elaboração do PGIRS.
Para a destinação final deverão ser encontradas soluções adequadas para doze municípios e
ampliada a solução existente no município de Mucugê.Os municípios de Barra da Estiva,
Lajedinho e Morro do Chapéu, embora com parte do seu território dentro da bacia, não terão
intervenção em resíduos sólidos devido às áreas dos seus respectivos lixões encontrarem-se fora
dos limites da área de abrangência do projeto.
Serão formalizados Termos de Compromisso com as prefeituras municipais, responsabilizandoas pela operação e manutenção dos Sistemas de Limpeza Urbana - SLU e de destinação final que
serão implementados. Além disso, as prefeituras deverão se responsabilizar pela execução da
recuperação dos “lixões” existentes.
Serão elaborados PGIRS, para os municípios de: Utinga, Wagner (Sub-bacia do Utinga); Lençóis,
(Sub-bacia do Rio São José); Palmeiras (Sub-bacia do Rio Preto); Bonito (Sub-bacia do Bonito);
Piatã, Boninal (Sub-bacia do Cochó); Iraquara (Sub-bacia do Santo Antônio), Mucugê, Andaraí,
Ibicoara, Nova Redenção (Calha principal do Rio Paraguaçu).
Esses PGIRS considerarão na sua concepção as peculiaridades de cada localidade e
o
planejamento deverá estar associado a sua implementação, à capacitação do pessoal operacional
do sistema, a um programa de educação ambiental que atinja a comunidade e à seleção de área
para solução do destino final do lixo.
Os PGIRS serão implementados junto ao setor responsável pelo sistema de limpeza urbana
das prefeituras municipais. A implementação do PGIRS de Seabra ocorrerá, desde que o plano
seja finalizado pela CAR.
Deverá ser elaborado um programa de treinamento para o pessoal operacional, contemplando
uma visão sistêmica da limpeza urbana, da higiene, segurança e saúde do trabalhador.
O Programa será realizado nos 13 municípios inserindo a temática lixo, buscando relacioná-la
com a saúde pública e o meio ambiente. Em cada município deverá ser incentivada e promovida a
criação de núcleos de educação ambiental, a implantação da coleta seletiva, a criação de hortas
comunitárias e a compostagem doméstica.
Será elaborado o Plano Social de reintegração dos catadores e seus familiares, através do
cadastramento e de alternativas construídas em conjunto com as Prefeituras, cujo município
apresente esse tipo de atividade.
Deverão ser implantados sistemas de destinação final e revisado/ampliado o sistema que vem
sendo utilizado no município de Mucugê.
O modelo tecnológico a ser adotado deverá prever a redução do resíduo a ser aterrado. Deverão
ser elaborados projetos básicos e executivos incluindo elementos construtivos. Deverá ser
prevista a transferência de tecnologia operacional dos sistemas às prefeituras através de
treinamento, capacitação e do acompanhamento da pré-operação durante três meses.
Serão escolhidas duas áreas para a destinação final adequada de lixo com a implantação de aterro
simplificado nos municípios de Utinga e Palmeiras, devido a poluição dos recursos hídricos que
vem ocorrendo nestes municípios.
e) Fortalecimento das brigadas de combate às queimadas não controladas
Serão realizadas atividades voltadas para o fornecimento de equipamentos para as brigadas de
combate a incêndios existentes na região, mantidas por Organizações Não Governamentais ONGs, localizadas nos municípios de Palmeiras (sede, Vale do Capão, Vale do Cercado, Campo
de São João), Lençóis, Andaraí, Mucugê e Ibicoara.
OBSERVAÇÕES FINAIS
O projeto pretende desenvolver atividades que permitam a mudança do atual modelo agrícola
utilizado na região e no uso dos recursos naturais. Para tanto, propõe tecnologias sustentáveis, a
exemplo da agroecologia, sistemas de irrigação poupadora de água e sistemas agroflorestais,
tendo em vista o desenvolvimento sustentável, bem como a replicabilidade após o término do
mesmo. A articulação, integração e participação constituem-se as premissas básicas do projeto. O
envolvimento do poder público e da sociedade do Alto Curso da Bacia do Rio Paraguaçu
permitiu a construção desse projeto, expressa no atendimento ao convite de participação,
registrando no seminário regional de discussão do pré-projeto a presença de 120 lideranças
sociais (setores do governo federal, estadual, prefeituras, associações comunitárias, grupos
ambientalistas, ONGs, sindicatos de trabalhadores rurais, universidades, empresas de consultoria,
setores produtivos, federação dos trabalhadores na agricultura, escolas) que de forma
compartilhada e organizada impulsionarão aspectos produtivos e potencializarão as dimensões
socioambientais e político-institucional previsto no projeto.
Desde sua elaboração o projeto vem dando ênfase ao aspecto de ação social (ação comunitária),
relacionando-o à construção da cidadania e da melhoria das condições de vida da região,
buscando estabelecer compromissos de todos com os processos estratégicos de desenvolvimento.
Esta prática vem permitindo o exercício da participação com responsabilidade social e de diálogo
entre os diversos atores sociais envolvidos.
REFERÊNCIAS
SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS. Centro de Recursos
Ambientais. Projeto Nascentes do Paraguaçu. Salvador: CRA, 2002. 106 p.
Universidade Estadual de Feira de Santana
I Feira do Semi – Árido: Troca de Idéias e de Produtos
Seção de Comunicações Coordenadas
TÍTULO: CAT – Conhecer, Analisar e
Transformar a História da Ralidade Rural no Semi-árido.
AUTORA: Alexandra Vieira de Carvalho Santana
NOME: Alexandra Vieira de Carvalho Santana
FILIAÇÃO INSTITUCIONAL: estudante de História da
UEFS
TITULAÇÃO : bolsista da PROEX
E-MAIL: [email protected]
ENDEREÇO: Feira de Santana - BA. Av. Maria Quitéria,
Conjunto João Paulo II, n5.580, Bairro cidade nova.
Cep:44034-470. Tel. 3483-89 83
ORIENTADORA: Nacelice Barbosa Freitas \ Professora de
Geografia – Dep. CHF -UEFS.
O projeto de Educação Rural CAT, atua em parceria entre a
Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, o
Movimento de Organização comunitária - MOC e nove
municípios (Araci, Cansanção, Capim Grosso, Conceição do
Coité, Retirolândia, Valente, Riachão do Jacuipe, Santo
Estevão, Santa Luz ) do semi-árido baiano. Busca-se, através
da metodologia aplicada a transformação da educação, como
forma de ampliar o exercício da cidadania. O projeto CAT
resulta da discussão sobre a educação no meio Rural, iniciada
num encontro sobre educação rural promovido pelo MOC e
coordenado pelo Serviço de Tecnologias Alternativas SETRA em 1993. A partir daí a área de história tem como
objetivo fundamental buscar o desenvolvimento do senso
crítico do aluno/aluna, bem como do/a professor/professora,
no que diz respeito a história do lugar, e as formas da inserção
deste, no mundo. Com base no método de Paulo Freire de
ação-reflexão-ação, propõe-se, Conhecer a história e a
realidade
do homem e da mulher
do campo, além de
Analisar os elementos que compõem esta realidade, com o
intuito de Transformá-la, mediante uma postura políticopedagógica desenvolvida através de um
aprendizado
recíproco entre estes sujeitos. Isto ocorre de forma processual
e contínua e se inicia na percepção de que a práxis histórica
rural, resulta do verdadeiro conhecimento
da realidade
estudada.
Palavras chaves: Conhecer. Analisar. Transformar.
Realidade Rural.
O HOMEM, SUJEITO ATIVO DE SUA HISTÓRIA E SEU DESTINO.
Sueli Miranda Lima São Bernardo*
Reinaldo Freitas Sobrinho**
O Município de Antônio Cardoso, que abriga uma população de 11.621 habitantes, assim
distribuídos: 2.317 na zona urbana e 9.304 na zona rural, banhado no lado sul pelo lago- barragem
Pedra do Cavalo, localizado na região Semi- árida do Estado da Bahia, guarda semelhanças dos
municípios carentes que existem em todo o Brasil, sob o aspecto de disponibilidade de água para o
consumo humano e produção; condições de moradia da população de baixa renda; transporte; nível
de escolaridade e de saúde.
É um município que vive uma história de luta por uma organização da sociedade civil e suas
entidades, buscando saídas para o estado de sofrimento e empobrecimento constante, que o
classifica entre os 100 mais pobres da Bahia.
O início de sua luta se deu através de grupos de produtores rurais nas comunidades onde apenas
uma Associação formalizada existia que era a de Santo Estevão Velho. Esse processo de
organização foi incentivado pela antiga Emater-Ba, e neste período o que mais dificultava o
andamento dos trabalhos era a ausência de lideranças capacitadas, para dirigir as entidades, e
ausência de planejamento. A partir daí, o Município foi convocado para viver a primeira
experiência na questão pública participativa, via processo de capacitação, na construção do Plano
de Desenvolvimento Rural Sustentável - PMDRS, onde estavam incluídas definições claras de
valores e visão de futuro.
Depois da experiência vivida na construção do PMDRS, as comunidades mais uma vez foram
convocadas a assumir o processo de construção de seu desenvolvimento de forma participativa,
através do Programa Faz Cidadão, programa este que conta com o assessoramento e execução da
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S/A – EBDA, que através dos seus técnicos,
realizou as etapas de mobilização, sensibilização e capacitação, promovendo a gestão participativa,
visando um salto qualitativo no desenvolvimento das organizações no sentido da melhoria da
qualidade de vida das suas famílias, e o sentimento de co-criadores deste processo e dos seus
resultados, seguindo a metodologia do Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável – DLIS.
A participação ativa do Poder público local, comunidades, associações, grupos organizados,
ONGS, igrejas, sindicatos, conselhos, tem sido de fundamental importância para o alcance dos
objetivos propostos..
Entre os resultados visíveis está o processo organizacional, ainda que de forma não linear, pois
nem sempre todos os resultados aparecem no curto ou médio prazo. A visão de futuro, consciência
da cidadania e espírito de participação e de co-responsabilidade, com inserção do cidadão no
desenvolvimento auto-sustentável vem sendo construído. Já temos entretanto como produto, o
resgate da feira livre que possibilitou o escoamento da produção e geração de ocupação e renda,
não só deste município como também de seus vizinhos, promovendo a integração com o município
de Cabaceiras do Paraguaçu.
O principal desafio é promover, em nós mesmos e nos grupos, as mudanças culturais necessárias
para repensar a sustentabilidade e organizar processos educativos que favoreçam essas mudanças;
pensar num mundo rural sustentável com atividades de diversas naturezas, que contemplem a
busca e a construção da qualidade de vida; integrar o desenvolvimento do município numa
perspectiva regional; fazer com que o poder público assuma efetivamente seu papel representativo
das comunidades e multiplicar de maneira crítica e criativa as experiências mais bem sucedidas no
processo de organização social.
Caminhamos com a intenção de os munícipes sentirem-se capazes de promover mudanças na
direção desejada, integrando e influenciando o poder público na elaboração das políticas públicas.
*Sueli Miranda Lima São Bernardo é Técnica Agrícola da EBDA de Santo Estevão-BA.
**Reinaldo Freitas Sobrinho é Eng.º Agrônomo do Centro de Profissionalização de Apicultores e
Floricultores da EBDA Regional de Feira de Santana-BA.
Universidade Estadual de Feira de Santana
I Feira do Semi-Árido : Troca de Idéias e de Produtos
Seção de Comunicação Coordenadas
TÍTULO: Educação Rural e Geografia
Outora : Janaina Novaes Sobrinho
Nome: Janaina Novaes Sobrinho
Filiação Institucional: Estudante de Geografia – UEFS
Titulação: Bolsista da PROEX
E-mail: [email protected]
Endereço: Conjunto Feira VI, Rua E, Caminho 17, Nº16
Cep: 44021-00-Feira de Santana. Fone: 224-0913 ou
(75)9995-3032
Orientadora: Nacelice Barbosa Freitas. Departamento de
Ciências Humanas e Filosofia – UEFS. Área de Geografia.
O Projeto CAT ( Conhecer, Analisar e Transformar a
realidade rural) atua em parceria com o Movimento de
Organização Comunitária - MOC , Universidade Estadual
de Feira de Santana - UEFS
e nove municípios (Araci,
Valente, Cansanção, Capim Grosso, Riachão do Jacuipe,
Conceição do Coité, Retirolândia, Santa Luz, Santo
Estevão) da região do semi-árido baiano. O projeto surgiu
como resultado de discussões e análises referentes
a
forma como é desenvolvida a educação do meio rural. O
proposta principal, centra-se na aplicação de metodologia
específica para educação do meio rural, especificamente
nas séries iniciais do ensino
fundamental. Atua na
formação continuada de professores, visando contribuir
para um desenvolvimento local, integrado e sustentável,
da comunidade em que se insere. Sendo assim, parte da
realidade e à ela volta-se, ou seja, ação-reflexão-ação,
conforme a proposta de Paulo Freire. É importante
ressaltar que ensinar e aprender não são atribuições de
diferentes sujeitos, mas momentos indissociáveis de ação
interativa entre professor/professora, o/a aluno/aluna a
família e a comunidade, reunidos na prática coletiva de
“compreender e ler o mundo”(Paulo Freire). E nesta
perspectiva, diversas são as atividades desenvolvidas
buscando ampliação do conhecimento geográfico do lugar
em relação ao mundo, tendo por objetivo
analisar o
espaço social, construído e em construção. Propõem-se
portanto, orientar o aluno para compreender o mesmo em
todas as suas dimensões, isto é, política, social, cultural,
histórica e econômica, encaminhando para situar-se de
forma crítica e pensando-o numa perspectiva futura. Desta
forma, a interação dos saberes produzem uma relação
homem-natureza mais coerente, especificamente no
campo.
Palavras-Chaves: Educação Rural - Geografia
DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO: UMA EXPERIÊNCIA EXITOSA
NA COMUNIDADE DE BOA VISTA, MUNICÍPIO DE SANTA BÁRBARA
Daniel Rebouças Dourado
O processo de planejamento rural, historicamente, se deu de forma descendente, sem que os
agricultores pudessem contribuir. Em sentido contrário a este modelo, a EBDA/Prorenda,
vem desenvolvendo na comunidade de Boa Vista, a metodologia DRP – Diagnóstico Rural
Participativo.
Esta metodologia, oportuniza a plena participação do agricultor familiar no planejamento do
desenvolvimento, passando este, de mero absorvedor de pacotes tecnológicos, a formador de
propostas, de acordo com a sua ótica e lógica, onde o mesmos atua como agente propositivo e
não como mero espectador.
Esta metodologia participativa tem a pretensão de oferecer subsídios, firmemente alicerçados,
aos administradores públicos das esferas, municipal e estadual, para que as verdadeiras
aspirações comunitárias transformem-se em planos, programas e metas de governo,
invertendo completamente o fluxo de planejamento rural.
Faz-se necessária a consolidação de uma rede de parcerias, envolvendo organizações públicas
e privadas, comprometidas com a agricultura familiar, que contribua na dinamização de
propostas orientadas ao real desenvolvimento rural, que deve ser sustentável, estável, garantir
a produtividade, a equidade e a qualidade de vida ao agricultor familiar, interagindo de
maneira eficaz entre as áreas econômicas, sócio-cultural e ambiental, de forma a maximizar o
emprego, gerando renda desconcentrada, promovendo a biodiversidade, a diversidade
cultural, o incremento da oferta de ¨produtos limpos¨, com vistas a soberania alimentar e a
permanência digna do agricultor familiar no campo.
Daniel Rebouças Dourado é Engº Agrônomo, Chefe do Escritório de Santa Bárbara, Regional
de Feira de Santana.
PORTAL DO ALVORADA: CONSTRUINDO A CIDADANIA
Bernizzeth Zorthéa
Rosentina Zallio Coelho
Durante os oito últimos meses, um projeto mobilizou todos os colaboradores do
CETEAD. Trata-se do Projeto Alvorada, que através do Portal do Alvorada, um núcleo criado
pelo Governo Federal, em uma tentativa de diminuir As desigualdades sociais dos municípios
mais pobres do país, conscientiza a população sobre sua condição dentro da sociedade e sobre
a importância da participação comunitária para a melhoria das condições de vida.
A coordenadora técnica do Portal do Alvorada no CETEAD, Edelzuita Anjos Silva,
esclarece que de acordo com a proposta do Governo Federal o Portal é um meio de acesso aos
benefícios do projeto Alvorada. Para que os 15 programas do projeto – presentes nas áreas de
Educação, Saúde , Geração de renda – chegassem à população, cumprindo seus objetivos, era
necessário ter um intermediário que servisse como ponte entre o Projeto e a população,
difundindo as informações necessárioas para que se tivesse acesso aos benefícios, e
acompanhando a realidade de cada comunidade, além de desenvolver atividades sócioeducativas, culturais, esportivas e de lazer de acordo com as especificidades e interesse de
cada ,município.
Dos 399 municípios contemplados pelo projeto Alvorada, no Estado da Bahia 255
estão sob a supervisão, orientação e responsabilidade do CETEAD – encarregado pela
implantação desses 255 portais, que devem existir em cada município contemplado pelo
Projeto. É cumprido o seu papel de viabilizador das ações do projeto Alvorada, que o Portal
cadastra as famílias, identifica suas carências, reúne informações e busca os recursos
necessários para que as condições de vida da população dos municípios que possuem IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano) inferior ou igual a 0.5 melhore.
O Processo
Para implantar os portais, foi necessário fazer um recrutamento, seleção e capacitação
de supervisores regionais para que estes atuassem nas 19 microregiões, divididas para a
implantação do projeto – conta a coordenadora do portal. A participação do poder municipal é
muito importante para que o Projeto tenha os resultados esperados. Porém o fato de implantar
o Portal no município não garante que os recursos disponibilizados pelo Projeto Alvorada
sejam liberados para o município. O Portal é apenas um facilitador do processo.
Todo o trabalho de implantação dos Portais foi feito pela Secretaria de Estado e
Assistência Social, vinculada ao Ministério da previdência e Assistência Social.
O Portal é implantado no município após a disponibilização, por parte de Prefeitura
Municipal, de um espaço físico, e da formação de uma equipe composta por 7 pessoas,
responsáveis pelo Portal do município.
O Acompanhamento
Os supervisores selecionados pelo CETEAD, responsáveis pelas microrregiões, vêm
mensalmente ao CETEAD para prestar informes das diferentes realidades encontradas.
Segundo Rosentina Zalio Coelho, coordenadora adjunta do portal no CETEAD, 90,19% da
meta de implantação dos portais foi cumprida, motivo de orgulho para as coordenadoras.
É preciso esclarecer que o trabalho de implantação dos Portais no município é um
trabalho contínuo e envolve toda a comunidade. A partir de dezembro, os equipamentos de
TV, vídeo e de informática foram 230 Portais implantados até o memento.
Novos Horizontes
Outro Projeto, interligado ao projeto Alvorada, está sendo desenvolvido pelo
CETEAD, em parceria com o Cenafoco, buscando formar agentes sociais, capazes de liderar a
partir da criação de valores comunitários e de cidadania.
Dentro deste Projeto, 5 cursos devem ser ministrados às populações dos municípios
que têm o Portal implantado: Gestão Social, Empreendedor Social, Meio Ambiente,
Voluntariado e direitos Humanos.
Cinqüenta cursos de Gestão Social foram ministrados em municípios-sede, além de
outros como o Meio Ambiente, Direitos Humanos e o Voluntariado. Os dois Projetos se
integram e têm o mesmo fim: promover os direitos humanos e melhorar as condições de vida
das famílias mais pobres.
Os Frutos
Não é só isso, graças à conquista de um termo aditivo que prorroga até o dia 31 de
março o convênio firmado entre o CETEAD, Setras e Secomp, estas ações continuarão
trazendo mecanismos que possibilitem diminuir as desigualdades sociais existentes, nos
municípios. ‘E deste modo que os gestores municipais, preocupados com a melhoria da
qualidade de vida dos moradores, participarão dos seminários regionais organizados através
deste convênio.
Temas como Delis, Protagonismo Juvenil, Direito e Cidadania e Fortalecimento, estão
sendo abordados nos seminários sobre de Desenvolvimento de Territórios Construindo
Estratégias, realizadas em 19 regiões empreendendo 407 municípios. Para a realização destes
seminários, o CETEAD firmou uma parceria com o Ides e Ambus, e contará com a
participação do Winrock Internacional do brasil e da Ceasb.
A Educação Física no meio rural:
(re)valorizando nosso conhecimento
Vamberto Ferreira Miranda Filho
Acadêmico do curso de licenciatura em Educação Física – UEFS
Luís Vitor Castro Júnior
Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana
Nós educadores andarilhos da boca do sertão baiano, na região do semi-árido,
contemplando a natureza, cultivando a sensibilidade ensinada por Paulo Freire e valorizando os
conceitos que as culturas dominadas ou as culturas de resistência produzem, desenvolvemos um
projeto de extensão denominado CAT (Conhecer – Analisar – Transformar). Este acontece em
parceria entre a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), o Movimento de
Organização Comunitária (MOC) e as Prefeituras Municipais das cidades de Araci, Capim
Grosso, Conceicão do Coité, Retirolândia, Riachão do Jacuípe, Santa Luz, Santo Estevão e
Valente. O trabalho consiste em construir coletivamente uma metodologia específica que atenda
concretamente a realidade do meio rural. Para tanto, os sujeitos desse processo são aprendizes:
alunos, professores, coordenadores e assessoria. A elaboração do fazer pedagógico é fruto dos
encontros intermunicipais entre educadores, os quais ocorrem numa perspectiva dialógica. Em
nossa convivência temos observado que há uma melhoria do ensino por meio da qualificação
permanente do professor, pela aplicação duma metodologia baseada na análise da realidade, pelo
envolvimento da família e pelo favorecimento da permanência do aluno na escola. Contudo, o
CAT não traz soluções para todos os problemas de educação no semi-árido, mas dá uma
significativa contribuição no sentido de afirmar a identidade dum povo sofrido em busca da
transcendência e da justiça social. Na área específica da Educação Física valorizamos os jogos e
as brincadeiras da cultura local enquanto patrimônio cultural, portanto, deve ser incorporado ao
espaço escolar de modo a vivenciarmos, analisarmos e transformarmos num ciclo de aquisição e
produção de conhecimento.
ASSOCIATIVISMO RURAL E URBANO: UMA ALTERNATIVA DE
DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO
Edivaldo Pacheco de Oliveira
A partir do Convênio de Cooperação Técnica, firmado entre a EBDA e a Prefeitura Municipal de
Várzea da Roça, em janeiro/93, foi possível a execução de um projeto de desenvolvimento sócioeconômico do meio rural e urbano, utilizando na prática o sistema de trabalho associativo, tendo
como base a organização comunitária e a participação de trabalhadores de todas as regiões do
município de Várzea da Roça.
Na primeira etapa, efetuou-se um diagnóstico superficial do município, caracterizando-se as
principais comunidades rurais e urbanas, ao tempo em que foram sendo identificados seus maiores
problemas, bem como analisadas as alternativas viáveis de soluções, que viessem promover a
melhoria das condições de vida dos habitantes.
Na segunda etapa, atendeu-se prioritariamente às associações legalizadas, em número de quatro,
revigorando-se e colocando em atividade plena, já que haviam sido criadas a partir de grupos de
produtores rurais, na década de oitenta, por técnicos da EMATER-BA, mas que se encontravam
pouco estimuladas na forma de entidades representativas organizadas.
Na terceira etapa, baseado no conhecimento da realidade do município, especialmente do
zoneamento agrícola e da densidade populacional, atendeu-se à demanda de comunidades rurais e
urbanas, para organizarem-se legalmente e participar do processo produtivo, sendo fundadas,
organizadas e legalizadas várias associações comunitárias.
Com a fundação da UNAVAR – União das Associações de Várzea da Roça, em 20 de abril de
1995, e apoio técnico da EBDA, essa Entidade Civil, resultante das ações do Convênio de
Cooperação Técnica, passou a coordenar o trabalho associativista do município, congregando 29
Associações filiadas e aproximadamente 2.000 produtores associados, representando os diversos
segmentos da economia local.
Como resultados alcançados, pode-se destacar os convênios firmados entre Associações, Prefeitura
e CAR – Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional, Órgão da Secretaria do Planejamento
Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia, através do Programa Produzir: construção de dois
moinhos comunitários para produção de fubá de milho; construção de três casas de farinha
comunitárias; instalação de um sistema simplificado de abastecimento de água para dois povoados e
comunidades rurais; abertura de quatro aguadas públicas no meio rural; instalação de uma rede de
energia elétrica para dois povoados; complementação da rede de energia elétrica da sede do
município; dois tratores agrícolas (de pneus); construção de uma oficina de costura e artesanato;
duas batedeiras de cereais; dois postos telefônicos.
O Comitê Municipal do Programa de Geração de Emprego e Renda do Banco do Nordeste foi
constituído em 1994, já tendo sido contratadas 735 operações de crédito (individual e coletivo),
totalizando 2.771.000,00 aplicados no município de Várzea da Roça, em benefício dos produtores
rurais principalmente, mas também do meio urbano. O Agente de Desenvolvimento do Banco do
Nordeste atende aos produtores rurais desse município, na sede da UNAVAR, toda quinta-feira e na
primeira sexta-feira de cada mês, quando se realiza a Reunião Ordinária da Assembléia Geral da
UNAVAR.
Através da SEAGRI/CORA-Secretaria da Agricultura/Coordenação de Reforma Agrária e
Associativismo foram repassados recursos financeiros para aquisição de silos metálicos,
ferramentas agrícolas, pulverizadores, e distribuídas sementes de hortaliças, feijão e milho; foi
recebido apoio técnico constante nas Associações.
Edvaldo Pacheco de Oliveira é Engo Agrônomo, M.Sc. do Centro de Profissionalização de Apicultores e Floricultores
da EBDA Regional de Feira de Santana-BA.
Entre a EBDA e a Prefeitura, foi firmado convênio para instalação do Posto Avançado, na sede do
município de Várzea da Roça, viabilizando, assim, as atividades de elaboração de projetos
produtivos, como também a transferência de tecnologias a produtores diversos, funcionando na sede
da UNAVAR.
O Posto da ADAB-Agência Estadual de Defesa Agropecuária, foi instalado no ano de 1998, na sede
da UNAVAR, com apoio da Prefeitura ao trabalho associativista e aos produtores rurais
(especialmente aos criadores).
O bom estágio de organização e desenvolvimento comunitário em que se encontra o município de
Várzea da Roça, foi fator decisivo para aprovação e implantação do Projeto de Irrigação do Jacuipe,
que beneficiará centenas de produtores rurais do município.
Em razão da existência, funcionamento e reivindicação de Associações Comunitárias do município
de Várzea da Roça, o K F W está implantando um sistema de abastecimento de água de 13 km, em
substituição ao já existente, com maior capacidade de suprimento de água à população adjacente.
Está em vigor convênio firmado entre a Universidade Solidária, Prefeitura e UNAVAR, que
permite a visita de estudantes universitários, para desenvolver ações no município, com base no
trabalho associativista, já tendo recebido três grupos de 20 estudantes, nos últimos 03 anos.
O projeto de elevação do nível social e econômico do município de Várzea da Roça, baseado na
terceira via de desenvolvimento, é coordenado pela UNAVAR, uma Entidade Civil, que
juntamente com as Associações filiadas, e apoio técnico da EBDA, define as prioridades de ação,
para as microrregiões do município sendo realizadas pelos esforços mútuos dos associados, mas
também, buscando a parceria com Instituições governamentais e não governamentais.
Acredita-se que o maior benefício com a continuidade desse trabalho associativo e participativo é a
prática da organização e convivência comunitária, o que certamente resultará em mais união,
parceria, integração, trabalho e desenvolvimento, proporcionando assim melhorias nas condições
de vida da população desse município.
ARTIGO TÉCNICO-ACADÊMICO
Área Temática: Ambiente
ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NA GESTÃO AMBIENTAL DO SEMIÁRIDO BAIANO: APRECIAÇÃO EM FEIRA DE SANTANA.
Ana Cacilda Reis Conceição
Acadêmica do 9º semestre do Curso de Direito da UEFS-BA ( bolsista da Pesquisa Direito
Ambiental e Participação Popular no Semi-Árido Baiano- PROBIC/UEFS). Orientador Prof. Dr.
Julio Cesar de Sá da Rocha ( DCIS-UEFS).
O conceito de participação popular só poderá ser compreendido se inter-relacionado a outros,
como democracia, cidadania e poder. A princípio, a participação popular pressupõe um
redirecionamento da democracia representativa, na medida em que estabelece uma redistribuição
do poder, que não mais fica adstrito àqueles entes estatais, mas repartido entre eles e membros da
sociedade civil, até então alijados das esferas decisórias estatais. O escopo da participação
popular é o de facilitar e tornar efetiva a troca de informações e experiências entre cidadãos e
Estado, para que estas sejam consideradas nos processos decisórios. Desta forma, o conceito de
participação popular aqui trabalhado dirá respeito à forma de interlocução entre o Estado e os
atores sociais e à formulação de políticas públicas ambientais que atendam às demandas
apresentadas pela coletividade. Para que a participação popular não se restrinja ao plano teórico,
fazem-se necessárias medidas que a impulsionem, uma vez que a cultura individualista enraizada
na sociedade capitalista impõe à participação uma série de obstáculos. Dentre os mecanismos de
participação com o poder público demandados pelos movimentos sociais e sociedade civil
organizada a partir da década de 1970, ressalta-se a participação em conselhos municipais de
diferentes características, que é considerada uma das formas de atuação dos cidadãos alternativas
ao sistema político tradicional. Para contemplar a participação da sociedade civil na gestão dos
recursos ambientais, o arcabouço normativo brasileiro prevê, dentre outras medidas, a instalação
de Conselhos Municipais de Meio Ambiente, que deverão estar interligados à Política Nacional
do Meio Ambiente (PNMA). Estes Conselhos são compostos por membros representativos do
poder público e da sociedade civil que, em conjunto e no âmbito municipal, deverão deliberar
sobre normas e padrões de qualidade ambiental, bem como sobre o licenciamento para
localização e funcionamento de atividades potencialmente impactantes ao meio ambiente;
formular a política ambiental; orientar a educação ambiental; fornecer subsídios técnicos
relacionados à proteção do meio ambiente, às indústrias, empresas comercias , produtores rurais
etc. Em Feira de Santana, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente – CONDEMA –
foi instituído e regulamentado, respectivamente, pelas Leis nº 1515/1991 e 1612/1992. Ocorre
que este espaço originariamente pensado como possibilidade de interação entre poder público e
sociedade civil, com funções consultivas e deliberativas, não vem sendo adequadamente
utilizado. O CONDEMA não se reúne desde outubro de 2000.Neste período, pode-se perceber
uma degradação da situação ambiental de Feira de Santana, que apresenta problemas sérios de
poluição sonora, de poluição do solo, relativos ao lixo produzido, às diversas lagoas existentes
etc. Desta forma, entende-se que a efetiva atuação de um órgão colegiado, capaz de se mostrar
enquanto lócus privilegiado para a interlocução entre a sociedade civil e o poder público, nas
questões ligadas ao meio ambiente, seria de fundamental importância para a criação de um
ambiente equilibrado que pudesse ser usufruído, de forma mais adequada, pelas presentes e
futuras gerações.Mas para isso exige-se a necessidade de organização da sociedade; uma
mudança de postura dos gestores públicos por uma concepção partilhada de poder; e demandas
de participação das várias comunidades.
A ASSOCIAÇÃO DOS PEQUENOS AGRICULTORES DO MUNICÍPIO DE VALENTE
(APAEB) E O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO SISALEIRA DA BAHIA
Edinusia Moreira C. Santos 1
INTRODUÇÃO - A APAEB é uma Associação de pequenos agricultores com sede no município
de Valente mas que atua em 17 municípios da Região Sisaleira, todos localizados no semi-árido
baiano (figura 01). O semi-árido baiano, e por conseqüência a Região Sisaleira, são analisados,
na maioria das vezes, somente a partir dos problemas que apresentam, ora tratados pelo viés das
estiagens, ora pelo viés da cultura
sisaleira. Esse trabalho é de suma
importância pois analisa a forma como
uma
Associação
Agricultores
de
promove
Pequenos
o
Desenvolvimento com a utilização dos
próprios elementos regionais, ou seja, é
importante porque além de apresentar
as potencialidade de uma região tratada
geralmente como problemática, analisa
o
processo
de
Desenvolvimento
Regional impulsionado a partir de ações
da sociedade civil organizada, o que
serve para demonstrar a força que a
sociedade tem e pode utilizar para não
ficar apenas na dependência do poder
público institucionalizado.
DESCRIÇÃO DO PROCESSO - Esse trabalho é parte de uma pesquisa mais ampla desenvolvida
no Mestrado em Geografia da Universidade Federal da Bahia, onde além de trabalhar a questão
1
Professora Substituta do DCHF/UEFS, Mestre em Geografia - UFBA e Doutoranda pela Universidade Federal de
Sergipe.
do Desenvolvimento Regional foi analisada a reorganização espacial impulsionada pelo trabalho
da APAEB na Região Sisaleira da Bahia. Para o tratamento específico do Desenvolvimento
Regional, após a revisão de literatura onde buscou-se agregar concepções de desenvolvimento
que ultrapassassem a concepção economicista, adotou-se a concepção do economista Sérgio
Boisier. Segundo esse autor para analisar o processo de Desenvolvimento Regional é necessário
identificar a existência de alguns princípios que são característicos de um autêntico
desenvolvimento regional:
i)Um creciente proceso de autonomia regional de decisión, que significa capacidades
regionales cada vez mayores para definir su próprio estilo de desarrollo y para usar
instrumentos de política congruentes com tal decisión
ii) Uma creciente capacidad regional para apropiar parte del excedente económico alli
generado a fin de reivertirlo en la propia región y así, diversificar su base económica y
conferir sustentabilidad de largo plazo a su crecimento.
iii) Un creciente movimiento de inclusión social, concepto que denota simultáneamente,
una mejoría sistemática en la repartición del ingreso regional entre las personas y una
permanente posibilidad de partcipación de la población en las decisiones de competencia
de la región.
iv) Un creciente proceso de concientización y movilización social en torno de la
protección ambiental y del manejo racional de los recursos naturales de la región.
v) una creciente autopercepción colectiva de “pertenencia” regional, es decir, de
identificación de la población con su región (BOISIER, 1996, p. 35).
Assim, realizou-se uma caracterização minuciosa das atividades desenvolvidas
pela APAEB na Região Sisaleira, para que fosse possível analisar a existência dos princípios
supracitados no processo desencadeado por essa Associação. Ou seja, caracterizou-se as
atividades desencadeadas pela associação, avaliando a existência desses princípios.
RESULTADOS - “Promover o desenvolvimento social e econômico da região sisaleira
buscando a elevação da qualidade de vida de sua população” (APAEB, 2000b, p. 01) é
finalidade definida pelo Novo Estatuto Social da APAEB que demonstra que o direcionamento
das atividades dessa associação já se orienta para uma promoção do Desenvolvimento Regional,
essa associação de pequenos agricultores passou a vislumbrar algo maior que o trabalho em prol
da coletividade que representa.
Sabendo, no entanto, que promover o desenvolvimento de uma região não é algo
simples e rápido; que é necessário desencadear um processo demorado, quando se deseja,
realmente, realizar mudanças estruturais, embora alguns elementos regionais possam ser
modificados rapidamente, chama-se a atenção para esse processo porque se acredita que a
autenticidade do desenvolvimento será alcançada com a observância dos princípios apontados por
Boisier(1996).
Mesmo sendo o Estado o agente teoricamente responsável pelo desenvolvimento
regional, a ação governamental, nessa região, é apenas marcada por atividades paliativas e que,
ao invés de desenvolver a autonomia regional, cria sempre mais laços de dependência. Ou seja,
essa ação materializa-se, tanto a nível estadual quanto federal, através de ações emergenciais,
como as frentes de serviço. A respeito dessa problemática, Silva (1999) afirma que existem
“ridículas frentes de serviço que só servem mesmo para colocar mais dinheiro no bolso dos
exploradores e assassinar a auto-estima do trabalhador” (p 12). É perceptível a forma como a
autonomia é deixada de lado, pois essas frentes de serviço são ações desenvolvidas, apenas, nos
períodos mais trágicos da seca. A inexistência de políticas públicas, que objetivem resolver de
uma vez esse problema regional, deixa a maioria dos trabalhadores rurais à mercê da sorte.
Mas, em se tratando especificamente do desenvolvimento, o discurso estatal atual
afirma que o Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável “(...) tem seu marco teórico
apoiado no enfoque de desenvolvimento sustentável - caracterizado pela continuidade das ações
ao longo do tempo, revalorização da base física e territorial e compromisso com as gerações
atuais e futuras, principalmente em relação ao uso racional dos recursos naturais - na busca de
ser economicamente eficiente, socialmente justo, ambientalmente responsável e politicamente
fundamentado na participação da sociedade” (CAR, 1999, p. 9).
O que não se pode esquecer é que se trata de discurso, vez que as ações continuam
as mesmas e não há nem sinal de autonomia como elemento inspirador.
Além de tudo isso, para ratificar a importância regional da ação da APAEB, a
mesma publicação estatal afirma, sobre essa, que “(...) suas propostas e sua experiência como
modelo de intervenção não governamental (...) deve ser estimulado e incorporado ao Programa”
(ibid, p. 12).
Assim, a APAEB, em todas as suas atividades, tem como princípio basilar a
autonomia, a liberdade através da melhoria das condições de vida, da aquisição de novos
conhecimentos e tecnologia. Segundo Boisier (1996), atrelado à questão da crescente autonomia,
para decidir o estilo de desenvolvimento, está a utilização de políticas coerentes com essa
decisão. A política adotada pelo atual Governo do Estado da Bahia não condiz com o discurso,
nem com relação ao desenvolvimento, nem aos aspectos de participação da sociedade e muito
menos aos aspectos relacionados à revalorização da base física e territorial. Só se essa
revalorização for para uso de agentes externos à região, como no caso da construção de
infraestrutura para as indústrias, que estão sendo instaladas nos municípios de Conceição do
Coité, a VIA UNO e a COTESI.
A APAEB desenvolve o seu trabalho sempre na busca de tecnologias adaptáveis
ao semi-árido, como a perfuração de poços artesianos, a utilização e disseminação do uso da
energia solar, além do trabalho de reorganização da propriedade e valorização dos elementos
regionais como o sisal, o ariri e o caroá.
O trabalho com o sisal é uma das atividades mais marcantes de geração de
autonomia, pois, enquanto o governo estadual atrai para a região empresas de outros países para a
exploração do sisal, garantindo apenas o emprego para a população regional como, por exemplo,
uma Indústria de Fiação Portuguesa que será implantada em Conceição do Coité, a APAEB,
mesmo enfrentando muitas dificuldades, vai conseguindo agregar cada vez mais valor para o
sisal, produzindo várias mercadorias com essa fibra (tapetes, carpetes, jogos de banheiro, portacanetas, entre outros) e com a mão-de-obra regional. Significa dizer que todo o conjunto regional
se beneficia com a ação da APAEB. Através da industrialização do sisal e da produção de peças
artesanais com fibras regionais, ganham os funcionários que estão diretamente ligados à
produção; os produtores, porque acontece a valorização do produto; a economia regional, porque
passa a circular mais dinheiro e o lucro não sai da região.
Essa autonomia gerada pelas atividades econômicas favorece a tomada de
decisões, que objetivam a estruturação de uma conjuntura política regional mais participativa,
através dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento, Fórum da Cidadania (Valente), cursos
sobre Políticas Públicas, como busca de participação mais efetiva na definição dos rumos
regionais.
Esses elementos apontados como geradores de autonomia econômica e política
para uma decisão consciente podem ser ratificados pelos dados abaixo relacionados, que mostram
a repercussão da ação da APAEB no Desenvolvimento Regional, no ano de 2001: 207
agricultores participantes de intercâmbio para conhecer outras experiências bem sucedidas de
convivência com a seca no Nordeste; 2.114 agricultores treinados em 93 cursos; 28 poços
perfurados na região; 280 famílias acompanhadas por assistência técnica; 65 artesãs tirando o
sustento do trabalho com fibras de sisal, ariri e caroá; 288 pessoas treinadas em 10 cursos de
formação em Políticas Públicas (APAEB, 2002b).
Associado à geração de autonomia está a apropriação de parte do excedente
econômico gerado regionalmente que tem garantido uma diversificação da base produtiva
regional, isso porque a APAEB extrapolando as atividades “comumente“ atribuídas a uma
associação e envolvendo-se em atividades econômicas como a Batedeira Comunitária, o Posto de
Vendas, a Indústria de Tapetes e Carpetes, passou a deixar na região parte do excedente
econômico: salários acima da média regional; impostos; comercialização no Posto de Vendas de
produtos regionais; financiamentos de outras atividades. Além disso, cresceram também as
atividades que não possuem dimensão econômica, ou seja, além da Escola Família Agrícola
Avani de Lima Cunha (EFA) que já existia, em 1993, a APAEB possui hoje um clube social, a
escola de informática e cidadania e atividades direcionadas diretamente para seus associados.
O crescimento das atividades desenvolvidas pela APAEB, além do apoio recebido
das entidades parceiras nacionais e internacionais, é garantido pela apropriação do excedente
econômico gerado por suas atividades produtivas. Os dados a seguir apresentam alguns números
da apropriação regional do excedente econômico, em 2001: 2,8 milhões pagos em salários; 1,3
milhões pagos em serviços prestados; 4 milhões em matéria-prima comprada dos agricultores;
932 mil pagos de INSS e FGTS; 619 mil pagos de ICMS e PIS; 4,2 milhões em depósitos à vista
e a prazo no SICOOB-COOPERE (Cooperativa Valentense de Crédito Rural Ltda.) (APAEB,
2002b).
Não se pode deixar de mencionar que o excedente econômico fica também nas
mãos dos agricultores, pequenos criadores e pequenos empresários, quando a APAEB compra
com preços mais altos as peles de ovinos e caprinos, o leite para o laticínio, os diversos produtos
para a comercialização no Posto de Vendas.
Atuar numa região onde a pobreza da maioria da população é uma realidade
centenária e conseguir um crescente movimento de inclusão social não é uma tarefa fácil. O
processo que precisa ser desencadeado é muito difícil, e se torna ainda mais em função da parca
tradição do povo brasileiro em cooperar, em se associar. Na estrutura desigual da sociedade
brasileira, baiana e do sertão a tarefa é ainda pior em função dos baixos índices de escolarização e
politização social.
A luta pela inclusão social foi buscada inicialmente para os associados, contudo,
com o crescente número de atividades e possibilidade de desenvolvimento da autonomia, diversas
ações passaram a beneficiar outros indivíduos da comunidade regional, através da COOPERE,
diversos agricultores tiveram acesso a financiamentos, que lhes possibilitaram uma melhoria nas
condições de vida e, por conseqüência, uma maior inclusão social.
A promoção social, é uma das linhas básicas de atuação. Em 1999, essa entidade
realizou uma pesquisa, buscando diagnosticar as melhorias que tinham sido proporcionadas a
seus funcionários e associados. Constatou-se que as melhorias vão desde a compra de uma
bicicleta, importante meio de transporte para quem vive na zona rural, até a aquisição de imóvel
urbano.
A população de Valente, assim como grande parte da população brasileira,
enfrenta o problema da habitação e, por isso, a APAEB estruturou três loteamentos para serem
comercializados junto a seus funcionários. “A primeira experiência foi há três anos e o sucesso
da idéia motivou a nova empreitada. A associação comprou o terreno e vai vender os lotes
parceladamente aos funcionários” (FOLHA DO SISAL, nº72, 2001, p. 04), facilitando o acesso a
um bem tão desejado e concentrando esforços em torno da inclusão social.
Outras atividades possibilitam a inclusão social de forma indireta, pois fornecem
elementos que provocam o desenvolvimento do indivíduo, o crescimento pessoal, nos mais
diversos aspectos, e a participação consciente na sociedade, como a EFA, a Escola de Informática
e Cidadania e o Projeto Descobrir que trabalha a questão da socialização através da educação
física e a valorização da cultura regional, com o patrocínio das mais variadas atividades culturais
da Região, como o Movimento da Quixabeira, o São João de Maio, as Festas de Vaqueiros, entre
outras. Em dados absolutos, pode-se apresentar alguns resultados de 2001: 120 crianças e
adolescentes participando da Educação Física através do projeto Descobrir; 120 alunos
capacitados na nova escola de informática e cidadania; 96% de aprovação e 0 % de evasão
escolar na EFA (APAEB, 2002b).
Além dessas formas de inclusão social, é necessário que se analise o elemento que
regionalmente possui maior valor visível: a geração de empregos (figura 03). São, atualmente,
811 empregos diretos para trabalhadores que passaram a possuir salários acima da média regional
e todos os direitos trabalhistas. Embora pareça um escândalo ressaltar esse aspecto,
regionalmente, essa garantia é considerada um milagre. Com relação ao pagamento de salários
acima da média regional, nossa pesquisa contatou que a Batedeira Comunitária paga melhor do
que outras batedeiras nos municípios de Valente e Retirolândia. Ressalta-se também que, nas
duas
batedeiras,
utilizadas
como
FIGURA 03
VALENT E: EMP REGOS DIRET OS GERADOS P ELA
AP AEB - 1993-2001
parâmetro, não se verificou nenhum
trabalhador com carteira assinada.
1000
Com relação à indústria, é
790
804
811
800
possível fazer uma comparação entre a
Indústria de Tapetes e Carpetes Valente e
a Indústria de Calçados VIA UNO, tão
400
vangloriada
público.
200
Enquanto a primeira paga um salário
0
pelo
poder
mínimo a apenas 6,2 % dos funcionários
a segunda paga o salário mínimo a 95%
dos seus funcionários. .
552
600
492
320
120
84
1993
162
1994 1995
1996 1997 1998
Ano
1999 2000
2001
Em pregos Gerados
FONTE: APAEB, Relatórios Anuais – 1994- 2001.
ELABORAÇÃO: Edinusia Moreira C. Santos.
O lazer, promovido pelo Clube Social construído pela APAEB, é uma outra forma
encontrada por essa associação para a inclusão social. O clube possui salão de dança, piscinas,
bar, campo de futebol, quadra poliesportiva, onde são oferecidas possibilidades efetivas de
socialização.
Atrelado a todo esse processo de promoção e inclusão social com autonomia está a
preocupação com a conscientização e mobilização em torno da preservação ambiental, podendo
ser destacadas algumas atividades:
•
A Campanha de Replantio do Sisal: Durante a Década de 80 e início da
Década de 90, grande parte dos sisalais foi destruída e os espaços passaram a ser utilizados para o
desenvolvimento de outras atividades produtivas como a pecuária extensiva. Além da diminuição
da área ocupada pela cultura sustentáculo regional, a destruição dos sisalais origina uma área
maior sem vegetação, ocasionando uma maior aridez, e, além disso, as áreas que possuem sisal
plantado são consideradas como reflorestadas, embora o sisal não seja uma planta nativa. A
APAEB, com essa campanha enfatizou o quanto o sisal é necessário, tanto para a economia
regional quanto para o meio ambiente.
•
O Reflorestamento da Região: Por realizar as suas atividades sempre de
forma integrada, além de utilizar plantas nativas, a APAEB utiliza também plantas frutíferas e
forrageiras. Isso garante o reflorestamento, a alimentação para os animais e uma alimentação
mais rica em frutas para os agricultores. A APAEB trabalha, também, com outras estratégias,
como a campanha “Plante e Ganhe”, em que o agricultor que consegue manter vivo o maior
número de plantas é premiado com aparelhos de TV, de rádio, entre outros.
•
A utilização da Energia Solar: A energia solar, tanto para uso doméstico
quanto para a eletrificação das cercas e criação de ovinos e caprinos, é incentivada e viabilizada
pela APAEB. Motiva-se a utilização de uma fonte energética abundante na região, porque
aproveita o sol que está presente, praticamente todos os dias do ano, no semi-árido. Essa energia,
além de ser abundante, não provoca nenhum impacto ambiental mas, mesmo assim, o governo
atual prefere investir na eletrificação rural, mesmo sendo conhecido o grandioso impacto causado
ao ambiente pelas barragens necessárias para a produção de energia elétrica, além do custo mais
elevado. Essa escolha estatal é demonstrada em propagandas televisivas, mostrando o Programa
Luz no Campo, que realiza a eletrificação rural e já garantiu mais de 100.000 ligações. Além dos
benefícios comparativos com relação à energia hidroelétrica, a utilização da energia solar na
Região Sisaleira substitui os antigos candeeiros, alimentados por óleo diesel ou querosene,
combustíveis altamente poluentes.
Para fortalecer todo o processo de desenvolvimento caracterizado é necessário
desenvolver a consciência e a valorização do pertencimento regional. O próprio nome da região
mostra a alternativa para a valorização regional: o sisal. Sua melhor utilização e crescente
aceitação dos produtos fabricados com sua fibra tem orgulhado muitos trabalhadores rurais que
estavam com a sua auto-estima muito baixa. No entanto, o sisal não é o bastante, afinal esse
vegetal se adaptou bem ao que hoje se chama Região Sisaleira, por esse espaço possuir um clima
semi-árido, ou seja, é preciso fazer a comunidade regional perceber que, embora o discurso
predominante alardeado sobre este espaço nordestino seja o da terra da seca, da miséria, da fome,
as possibilidades oferecidas podem ser utilizadas para a construção de uma região mais forte,
afinal, como afirma Euclides da Cunha em sua obra Os Sertões: “o sertanejo é antes de tudo um
forte”.
Essa luta de valorização regional, com as possibilidades oferecidas, pode ser
percebida através do Programa de Convivência com a Seca, no trabalho de preparação dos filhos
dos agricultores realizado na EFA, nos diversos cursos e palestras realizados para a comunidade
regional sobre a viabilidade da região, desde que utilizando as técnicas e culturas adequadas. Essa
busca pela valorização do que é regional, esse sentir-se orgulhoso por pertencer a essa região é
ratificada quando analisamos um dos slogans utilizado pela associação: ”O Sertão tem tudo que
se precisa. Se faltar, a gente inventa”.
Quando os indivíduos que constituem a Região Sisaleira ganharem consciência da gama
de possibilidades oferecidas e da forma como utilizá-las, na estruturação dessa região, poderá
ocorrer, realmente, um processo de mudança. Haverá, então, uma comunidade consciente e aberta
para possibilidades, já que todo o trabalho da APAEB tem buscado a estruturação de uma região
mais autônoma, o fortalecimento regional para a participação dos indivíduos na definição das
mudanças e no rumo do seu próprio desenvolvimento.
OBSERVAÇÕES FINAIS: “No semi-árido, cidadania e convivência com a seca são quase
sinônimos. Porque é devido às difíceis condições de sobrevivência na região que a pobreza
campeia e os poderosos aproveitam para negar e desrespeitar os direitos dos pobres” (APAEB,
2001, p. 31). É justamente em função da percepção dessa situação que as atividades
impulsionadas pela APAEB buscam desenvolver a autonomia dos pequenos agricultores e da
população regional, para que eles não fiquem à margem do processo de desenvolvimento; ao
contrário, sejam os responsáveis pela busca e implementação do próprio desenvolvimento.
Mesmo sabendo que existem entraves políticos regionais que dificultam o
processo de desenvolvimento é necessário que sejam reconhecidas as mudanças efetivadas na
região, a partir da atuação da APAEB.
Assim, o exemplo da APAEB é emblemático para ratificar os efeitos do
desenvolvimento regional endógeno. No entanto, esse processo de desenvolvimento será mais
sólido e fácil à medida que novos agentes dele participarem, trazendo modificações regionais.
Acreditando nessa possibilidade é de se esperar que o trabalho da APAEB possa congregar outros
grupos da sociedade civil.
REFERÊNCIA
APAEB. Relatório Anual-2000. Valente: APAEB, 2001.
APAEB. Relatório Anual-2001. Valente: APAEB, 2002a.
APAEB. Alguns números da contribuição da APAEB para o desenvolvimento regional em 2002.
Folheto Informativo. Valente: APAEB, 2002b.
BOISIER, S. Modernidad y Territorio. In: Cadernos del Instituto Latinoamericano y del Caribe
de Planificacion Econômica y Social,nº 42. Santiago do Chile:ILPES, 1996.
COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL - CAR (BA). Alternativas
sócio-econômicas para o desenvolvimento da Região Sisaleira. Salvador: CAR, 1994.
COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL - CAR (BA). Programa de
Desenvolvimento Regional Sustentável – PDRS - Nordeste da Bahia. Salvador: CAR, 1999.
JORNAL FOLHA DO SISAL [Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente].
Valente. n. 72, out, 2001.
OLIVEIRA, I. F. de et al. Avaliação de uma caminhada de luta e resistência. Valente:
APAEB, 2000.
SANTOS, E. M. C. A Sociedade Civil Organizada e a (Re) Organização Espacial no SemiÁrido Baiano: O Caso da APAEB – Valente. Feira de Santana: UEFS, 2000. (Monografia de
Especialização).
SANTOS, E. M. C.; SILVA, O. A. Educação e Cidadania: Escola Rural é Exemplo Para Bahia.
Jornal Tema Livre. Ano V, n. 57, set, Salvador, IAT/SEC, 2002.
SANTOS, E. M. C. Reorganização Espacial e Desenvolvimento da Região Sisaleira da
Bahia: O papel da Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente. Salvador:
UFBA, 2002. (Dissertação de Mestrado).
SILVA, A. L. et al. APAEB: uma história de fibra, luta e subsistência. Valente: APAEB, 1993.
SILVA, O. A. da. A Geografia e a Imagem do Nordeste Brasileiro: Construção ou
Desconstrução no Espaço Escolar? Feira de Santana: UEFS, 1999. (Monografia de
Especialização).
SILVA, S. C. B. de M. e; SILVA, B. C. N. Reinventando o Território: Tradição e Mudança na
Região do Sisal-Bahia. In: Revista de Desenvolvimento Econômico. Ano III. n. 05. Salvador:
DCSA2/UNIFACS, 2001.
ARTIGO TÉCNICO-ACADÊMICO
Área Temática: Ambiente
AÇÃO POPULAR: UMA SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA AMBIENTAL NO SEMI-ÁRIDO.
Manoela Franco.
Estudante de Direito da UEFS-BA (bolsista da Pesquisa Direito Ambiental e Participação
Popular no Semi-Àrido Baiano- PROBIC/UEFS). Orientador Prof. Dr. Júlio Cesar de Sá da
Rocha (DCIS-UEFS).
A crise ambiental que vive hoje o mundo decorre do constante conflito entre a lógica do lucro e a
necessidade de pensar e agir em prol da qualidade de vida, do meio ambiente. A superação dessa
crise perpassa pela implantação de uma economia ambiental e pela efetivação do
desenvolvimento sustentável. Contudo, a viabilização desses meios de superação não se dá
somente pela ação do poder público, imprescindível é a participação da sociedade civil por meio
das vias que lhe são oferecidas ou por quaisquer outras que atinjam o fim colimado, a tutela
ambiental.
Dentre os meios ofertados na esfera constitucional para a tutela de bens ambientais, está a ação
popular. Essa é um instituto de democracia direta, através do qual o cidadão que a intenta age em
nome próprio amparando direito próprio do povo, atingindo a plenitude da cidadania.
A ação popular é um instituto antigo, presente nos ditames jurídicos desde o Direito Romano. No
Brasil, ela encontrou assento constitucional a partir da Carta de 1934. Contudo, sua regulação e a
possibilidade de tutelar bens ambientais através dela aconteceu somente em 1965 com a Lei
4.717. A Carta de 1988, no inciso LXXIII do art. 5o, deixou mais clara a utilização da ação
popular para proteção do meio ambiente e, a partir daí, a interpretação que tem sido dada para seu
uso relativo à proteção ambiental é a mais dilatada possível, fazendo-se ressalvas apenas para o
objeto da ação, o qual deve ser ato lesivo em curso de prática, ainda não consumado, pois aí
caberia a reparação do dano, situação em que incidiria a ação civil pública.
Contudo, não se observa a utilização desse instrumento para a proteção ambiental. Prova disto, é
o resultado obtido pelo Núcleo de Pesquisa do Curso de Direito que constatou a ausência de
propositura da ação popular ambiental na comarca de Feira de Santana.
Sendo diversas as possibilidades de utilização da ação popular, por que não trazê-la para a
realidade do semi-árido como forma de instrumentalizar a atuação da população local na luta
diária contra os problemas ambientais de que sofre essa região?
O semi-árido ocupa um quinto do território nacional, abrangendo nove Estados (Maranhão, Piauí,
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia) e totalizando quase
um terço da população do país. É uma região de ecossistemas frágeis e que não tem tido o devido
gerenciamento de seus recursos naturais, sendo perceptível a supremacia da lógica do lucro e de
medidas paliativas que não implementam o desenvolvimento da área.
Assim como na crise ambiental global, os problemas do semi-árido não serão resolvidos por meio
de políticas públicas tão somente. A participação de atores que vivenciam a realidade é
indispensável.
O semi-árido e qualquer outro espaço é viável quando existe vontade individual, coletiva, política
e preocupação com a sustentabilidade e a ação popular é um instrumento acessível, é uma
maneira eficaz de participação e pode ser uma forma sertaneja de buscar a vida.
ARTIGO TÉCNICO-ACADÊMICO
Área Temática: Ambiente
O
PROJETO
DE
TRANSPOSIÇÃO
DO
RIO
FRANCISCO E A LEI Nº 9433/1997: IMPLICAÇÕES
JURÍDICO-AMBIENTAIS PARA O SEMI-ÁRIDO
Carla Santa Bárbara Vitório
Estudante de Direito da UEFS-BA( monitora da disciplina de
Direito Ambiental, orientada pelo Prof. Dr. Julio César de Sá
da Rocha - DCIS-UEFS).
O presente resumo se propõe a identificar e expor as
principais análises que norteiam a construção do artigo O
PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO DO RIO FRANCISCO
E A LEI Nº 9433/1997: IMPLICAÇÕES JURÍDICOAMBIENTAIS PARA O SEMI-ÁRIDO.Este terá como
fundamento central fazer um paralelo entre o projeto do rio
São Francisco e a Lei nº 9433/1997 que institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos, e as possíveis implicações
para a região Semi-Árida.Por meio de uma análise que
prezará sobretudo os aspectos jurídicos, serão discutidas
questões em torno do surgimento, das características,
polêmicas e viabilidade do mencionado projeto, em confronto
com os princípios, fundamentos e instrumentos do Direito
Ambiental.
Utilizando-se
o
método
analítico,
propõem-se
abordagens, principalmente sob o enfoque jurídico, de
questões em torno dos motivos que levaram a não
implantação
do
projeto
de
transposição,
suas
reais
possibilidades de concretização, e se ele é ou não uma boa
alternativa para driblar a seca nordestina; bem como, em fazer
recortes com o diploma legal, em especial a Lei nº 9433/1997,
ressaltando aspectos relevantes de que trata a norma, como
planejamento e gerenciamento das bacias para a implantação
e implementação de políticas públicas relativas aos recursos
hídricos.
Serão ressaltados outros aspectos no desenrolar da
mencionada análise, como o andamento de ações no
Judiciário em torno do projeto, a necessidade de participação
da sociedade civil e as implicações desse em questões
relativas à seca no Nordeste e à escassez de água, e de outros
relacionados a problemáticas da região Semi-Árida.
A seca nordestina será discutida além de aspectos
relativos à irregularidade climática, ganhando dimensões mais
complexas,
tanto
históricas,
políticas,
sociais
quanto
econômicas, que ultrapassam questões meramente técnicas,
para que os resultados auferidos possam se adequar à idéia de
uma transposição que não deva ser tida como a solução
imediata para o fim dos problemas ocasionados por àquela.
O problema da escassez de água será tratado em
correlação com a seca no Nordeste e o atual projeto de
transposição, por meio de análises em torno das causas,
conseqüências e alternativas propostas. O problema da
escassez será abordado de forma a engendrar questões que
ultrapassem o simples aumento da oferta de água para
relacionar-se com outras ligadas ao gerenciamento da
demanda.
E por fim, serão feitas algumas considerações sobre as
possibilidades atuais de concretização do projeto, em especial
sob aspectos jurídicos, e se a transposição é um caminho
encontrado para o Semi-Árido, como também quais seriam as
possíveis implicações dela para as comunidades mais carentes
da região.
ARTIGO TÉCNICO-ACADÊMICO
Área Temática: Ambiente
AS LAGOAS FEIRENSES E O DIREITO AMBIENTAL: UMA PROBLEMÁTICA DO
SEMI-ÁRIDO BAIANO.
Gilsely Barbara Barreto Santana.
Estudante de Direito da UEFS-BA (bolsista da Pesquisa Direito Ambiental e Participação
Popular no Semi-Àrido Baiano- PIBIC/CNPQ). Orientador Prof. Dr. Julio Cesar de Sá da Rocha
(DCIS-UEFS).
(INTRODUÇÃO) O trabalho investiga a relação entre a proteção legal aos recursos hídricos
(lagoas feirenses) e as especificidades destes no e para o semi-árido, assim sendo, indaga-se a
eficácia e efetividade da proteção legal aos recursos hídricos frente à manutenção da vida
(dignidade e qualidade) em contextos sociais distintos, marcados por desequilíbrios e exclusões.
O município de Feira de Santana está localizado no agreste baiano (zona intermediária entre o
litoral e o sertão), com 80% de sua área inscrita na definição geopolítica do Polígono das Secas,
constituindo-se enquanto o maior entroncamento rodoviário do norte-nordeste. Tais
características se relacionam com a singularidade geográfica do município - a abundância de
recursos hídricos, advindos da existência de três bacias hidrográficas que são alimentadas pelas
múltiplas nascentes, lagoas e rios do município. Os processos de formação, povoamento e
ocupação do município de Feira de Santana revelam diversas problemáticas referentes à
importância dos recursos hídricos no semi-árido, requerendo uma compreensão que interrelacione a singularidade e diversidade do ecossistema com as esferas social, histórica e
econômica das áreas e dos sujeitos sociais envolvidos. (METODOLOGIA) O objeto desse
trabalho é a análise das lagoas feirenses e a proteção legal destinada, mediante o instrumento
jurídico dos espaços ambientais (proteção a porções parciais e ou totais de territórios com fins
de preservação), dessa maneira, utilizando o método sociológico, isto é, empírico e analítico,
inter-relaciona-se o objeto com a problemática dos recursos hídricos no semi-árido.
(RESULTADOS E CONCLUSÕES) A existência humana no planeta perpassa por interferências
e modificações na natureza, assim, tal interferência tem gerado a degradação ambiental, que
relativamente aos recursos hídricos explicita-se numa série de problemáticas: escassez, poluição,
destruição, mercadorização etc. Relativamente à degradação ambiental das lagoas feirenses, a
ação antrópica manifesta-se em edificações comerciais e residenciais irregulares, lançamentos de
esgotos residenciais e detritos industriais, ao assoreamento e processos de lixiviação. Face às
problemáticas, a proteção jurídica as lagoas feirenses não é efetiva, apontando reflexões em torno
da Eficácia e Legitimidade da Proteção Legal. Por fim, a importância das lagoas feirenses na
formação sócio-histórica do município relaciona-se com a questão dos recursos hídricos no semiárido e suas implicações sociais, econômicas e políticas. Logo, a proteção ambiental tem um
caráter simbólico frente à garantia do direito ao meio ambiente equilibrado, revelando os limites
da tutela ambiental em contextos capitalistas de produção, bem como, uma necessidade de
(re)avaliação da participação popular.
O SEMI-ÁRIDO E AS IMAGENS DO NORDESTE BRASILEIRO. 1
Onildo Araujo Da Silva 2
INTRODUÇÃO - Esse trabalho foca as imagens do Nordeste brasileiro a partir de uma análise da
representação social da seca, em municípios do Semi-Árido Baiano.
A seca no semi-árido nordestino, sempre foi utilizada como elemento de
justificativa da miséria. Na construção do discurso das elites, usa-se o fenômeno natural,
invertem-se papéis, confunde-se o real com o mitológico e legitima-se a instituição da mentira;
constroem-se máscaras sociais, reeditadas nas mais diversas escalas e com rebatimentos
diferenciados nos vários setores da sociedade.
Nesta perspectiva, a questão central deste trabalho analisa como a escola, e
particularmente a matéria Geografia, contribui para (re) construir ou (des) construir o mito da
seca, através da formulação de conceitos fundamentais para a leitura das imagens do Nordeste
Brasileiro. Para tanto, delimitamos nosso objeto
de pesquisa a três escolas públicas dos
municípios de São Domingos, Retirolândia e
Valente, localizados no semi-árido baiano.
Os municípios envolvidos na
pesquisa fazem parte do semi-árido baiano que,
segundo a Companhia de Desenvolvimento e
Ação Regional – CAR – Ba. (1995), é aquela
região cuja área coincide com a área de domínio
da caatinga; embora se admita que os limites não
sejam os mesmos, possuindo a caatinga limites
exclusivamente naturais, enquanto os do semiárido constituem-se num misto de limites
naturais e políticos. (figura 01). Devido às
1
Artigo resumo da monografia de conclusão do Curso de Especialização em Geografia do Semi-Árido Brasileiro,
realizado na Universidade Estadual de Feira de Santana – Bahia.
2
Professor de Geografia – UEFS, Mestre em Engenharia de Produção.
características da nossa problemática, os municípios são significativos, uma vez que estão
situados no semi-árido, em uma região das mais tradicionais – a região do sisal.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS - A pesquisa, da qual resultou a monografia aqui
sintetizada, pretendeu entender a contribuição do ensino de geografia para a (re) construção da
imagem do Nordeste Brasileiro, enfatizando posicionamentos de professores e alunos. Neste
sentido, selecionamos as escolas envolvidas neste estudo considerando o número de alunos
matriculados. Levando-se em consideração que os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997)
objetivam que ao final do ensino fundamental o aluno esteja apto a exercer a cidadania,
decidimos trabalhar com alunos que estão completando esta etapa – 8ª série, de sorte que
aplicamos 196 questionários para os alunos das três escolas, de forma aleatória e em todos os
turnos de funcionamento. Após esta etapa, os dados dos questionários foram tabulados e
resultaram em tabelas ou foram organizados na forma de relato; buscando-se inserir elementos
qualitativos de análise. Em seguida, realizamos entrevistas com todos os 05 professores, que
ensinam geografia de 5a a 8a série nas três escolas pesquisadas. Os dados obtidos foram
organizados na forma de relato de depoimentos.
Entendendo que os dados primários podem ser enriquecidos com outros dados
escolares mais amplos, realizamos uma análise dos projetos pedagógicos das escolas. Estes dados
foram organizados em pequenos relatórios analíticos e contextualizados com os dados primários.
Para uma análise mais detalhada desses dados recomendamos a leitura completa do trabalho
monográfico, aqui referenciado.
RESULTADOS - As principais imagens do Nordeste aparecem tanto em argumentações
científicas, onde se esboça preocupações com sua gênese e comunicação, quanto diretamente na
grande mídia.
A primeira e mais efetiva imagem do Nordeste Brasileiro é aquela da caatinga
ressequida [...] “a indefectível carcaça de um boi e os retirantes, magros, com seus poucos
pertences entrouxados e equilibrados sobre a cabeça. Eram as “vidas secas” de Graciliano
Ramos, cujo protesto contra a ordem social injusta era apropriada e usada politicamente”
(CASTRO, 1992. p. 59)
Portanto, é difícil, na maioria das vezes, negar o que o olho vê, ou seja, realmente
em alguns períodos, a caatinga se ressente da água, mas seu ciclo natural lhe permite sobreviver
na condição climática predominante. O gado, porém, morre. Algumas pessoas migram outras
passam fome. A situação de seca generalizada é apenas um momento da dinâmica total, ou seja, é
apenas um aspecto da dinâmica da paisagem semi-árida. Na presença da água tudo se refaz.
Porém, esse dado momento (o da seca) projeta-se como se fosse a dinâmica total.
Com o tempo, mudou um pouco o enfoque das discussões e à imagem da seca
soma-se a imagem da exploração onde “o Nordeste passou de vítima de condições climáticas, do
mercado internacional e de tarifas cambiais, a vítima, também, da superexploração capitalista,
imposta pelos centros de acumulação mundiais através de seus aliados, no caso, os centros de
acumulação nacionais” (ibid, p. 65).
Temos agora então, um Nordeste pobre, seco, miserável e ao mesmo tempo
explorado. As elites internas estão sempre isentas de qualquer “culpa”. O que conta é a imagem,
mesmo que essa não corresponda aos fatos reais em sua totalidade. Assim, resta saber quem
constrói este nordeste e sua imagem. Quem a projeta? Como difunde e faz ser aceita como
verdade? “No Nordeste, o papel da sua elite é inequívoco, tanto na definição do caráter regional
como na projeção de sua imagem” (ibid, p. 36.).
Nesse trabalho, partimos do princípio de que a imagem é produto de uma
representação social que, além de ser criada precisa ser comunicada; fazer-se impor como
verdade. O nosso princípio assim se esclarece: no Nordeste brasileiro a representação social é
produzida pela elite que dela se beneficia. A imagem entendida como vinculada diretamente ao
plano das percepções, é imposta via instituições dispares aos indivíduos membros do quadro
regional. Uma vez legitimada como imagem social, essa é projetada no cenário nacional e
internacional mais amplo, como forma de reivindicações de intervenções espaciais, ou ainda, o
caminho inverso permite legitimar a imagem no plano nacional e internacional e depois impor
aos membros do quadro regional como verdade absoluta. Para isso serviu, e serve até hoje, a
imagem social do Nordeste brasileiro.
Mesmo estando clara a imagem mais efetiva do Nordeste, Castro (1996), chama
atenção para o redimensionamento da estrutura produtiva regional, via fruticultura irrigada, e a
conseqüente formulação de novos discursos para legitimar novos interesses. Esse aspecto
provoca um redimensionamento, fruto de modificações espaciais localizadas (mas efetivas) que
começam a difundir um novo discurso, principalmente a respeito do fenômeno seca.
Acrescentaríamos a isso, o fato desse novo discurso só se transformar em imagem projetada, se
passar a fazer parte de uma nova representação social. Daí o seu caráter incipiente.
Observa-se hoje na região um duplo discurso, ou um discurso contraditório, sobre a
natureza semi-árida, e esta dualidade deve ser objeto de investigação pelos novos níveis
de conflito que ela pode conter. Quanto aos termos do discurso, resumidamente temos:
um, mais antigo e mais ubíquo, que atribui à natureza dificuldades que explicam os
problemas socio-econômicos da região. Mesmo que a base explicativa recorra a teorias
econômicas bem elaboradas, uma leitura mais atenta da documentação produzida na e
sobre a região, não terá dificuldades em encontrar inúmeras referências às dificuldades
impostas pelo clima, ou ao clima, como uma das causas dos problemas vividos na
região; outro, mais recente, que vê na escassez pluviométrica, que dificulta a
reprodução de pragas, e na fertilidade de grandes extensões de solos um enorme
potencial para a agricultura irrigada de caráter empresarial, ou o agrobusiness. O clima
aqui é um recurso inestimável, redentor, capaz de fazer surgir uma nova Califórnia, com
mais vantagens que a outra, por que não tem uma estação com temperaturas baixas”
(CASTRO, 1996, p.297-298).
A autora chama atenção para os agentes construtores desses discursos ao afirmar:
“Os responsáveis por estes discursos são atores regionais, porém de tipos e interesses bem
diferentes: o primeiro é elaborado por segmentos importantes da elite política, com enorme
poder de assimilação e reprodução; o segundo é mais restrito a uma parcela pequena do meio
empresarial e da administração pública, que encontra no sol uma matéria-prima essencial, seja
para a fruticultura irrigada, seja para o turismo. (ibid, p. 298)
Ainda com referência ao “Nordeste do turismo”, a perspectiva atual apresenta
enfoque particular, gestando uma nova imagem, que se associa à imagem do “Nordeste da
fruticultura irrigada”, no que se refere ao sol como matéria-prima fundamental.
Temos então a reafirmação da nossa questão. À medida que o espaço geográfico se
(re) constrói ou se (re) organiza, sujeitos sociais criam novas identidades ao qual vão
corresponder novas representações sociais. Dessas, o que efetivamente se generaliza é a nova
imagem. Assim, temos no Nordeste Brasileiro uma imagem “antiga” e a gestação de uma “nova
representação social” que ainda não conseguiu generalizar a imagem que a ela se associa. O
interessante é que ambas usam a mesma matéria-prima: o clima semi-árido como elemento
central das imagens projetadas.
A imagem de Nordeste predominante na grande mídia e na maioria dos discursos
dos políticos nordestinos, como argumentamos anteriormente, é marcada pela influência dos
elementos da natureza semi-árida. Ou seja, a área de clima semi-árido (que abrange cerca de 61
% do território da região) possui uma dinâmica que define períodos longos de estiagem (ciclos de
2 anos, podendo chegar a até 4 anos em algumas áreas), exigindo uma interação humana com a
natureza que considere o fator chuva como limitante. Sabemos que a água existe. No entanto, sua
disponibilidade generalizada depende da organização da sociedade para seu uso “racional”. Além
disso, esse aspecto é característico apenas da área semi-árida, não podemos esquecer do outro
Nordeste do litoral, “úmido e sombreado”, onde se projeta a “imagem do turismo”.
A grande questão é que a imagem da terra da seca e da miséria foi produzida e
generalizada de forma que um dado momento da paisagem (o da seca, pois a imagem
desconsidera os “anos bons” – de chuva) se generaliza como imagem total. Nordeste passa a ser
sinônimo de seca, miséria, sofrimento, etc.
Essa é uma imagem que precisa ser lida. Para interagir com uma representação
social o sujeito precisa de instrumentos no plano dos conceitos que lhe permita “ver” uma
interface entre imagem e realidade, já que a primeira define-se como uma analogia com o real
que representa. Daí a função da escola, e da Geografia escolar, para fornecer ao estudante
conceitos básicos.
Representação social e espaço se articulam, na medida que afirmamos existir uma
representação social de determinados espaços. Essa é construída por várias vias, coletivas e
individuais, tornando-se efetivamente social à medida que passa a condicionar a percepção da
maioria dos indivíduos, socialmente organizados. Segundo Penin (1994) Moscovic define as
representações sociais como sistemas de preconcepções, imagens e valores que têm significado
cultural próprio e persistem independentemente das experiências individuais (grifo nosso).
Ao construir espaço e fazer parte desse, identificando-se com ele, o indivíduo
atribui individual e coletivamente, valores aos elementos espaciais. Esses valores resultam em
imagens apropriadas a partir da representação social.
A representação social do espaço geográfico, como veremos posteriormente, tende
a generalizar a imagem. É justamente a partir da obtenção dos códigos específicos da geografia,
que o aluno poderá ler essas imagens projetadas.
Assim, em função de sua amplitude, esse trabalho não objetiva discutir
diretamente a elaboração deste instrumental na escola mas sim captar qual a mais efetiva imagem
de Nordeste para alunos e professores.
Para captar a imagem de Nordeste apreendida pelos alunos, solicitamos que esses
identificassem uma palavra que se relaciona diretamente com o Nordeste Brasileiro, elaborassem
um desenho e um comentário sobre o mesmo. Para os professores pedimos que também fizessem
um comentário e um desenho sobre a Região Nordeste do Brasil.
Quando os alunos foram questionados sobre qual palavra vem imediatamente à
cabeça, ao ouvirem a expressão Região Nordeste do Brasil, as respostas predominantes foram:
seca – 46.3 %; fome – 9.1 %; desemprego – 6.6 %; miséria – 5.1 % ; pobreza – 4.5 %; sisal - 3.0
%. Outras palavras aparecem sempre abaixo de 2 % como: paz, morte e felicidade.
No que se refere aos desenhos, a análise dos seus componentes nos indicou que os
alunos representam o Nordeste, a partir das seguintes temáticas predominantes: Seca – 64.0 % do
total de alunos entrevistados; Sisal – 13.8 % do total de alunos, e; Agricultura – 3.0 % do total de
alunos envolvidos neste estudo. Verificamos que as outras temáticas aparecem de forma muito
restrita como, por exemplo, as desigualdades sociais que aparecem nos desenhos de apenas 0.5 %
dos alunos entrevistados.
A seca, na análise dos desenhos é ratificada como a imagem predominante. No
entanto, aparece um dado novo – o destaque determinado para o sisal. Essa planta (conhecida
também como agave) é uma cactácea que contém em sua palha (uma espécie de folha de sisal),
uma fibra utilizada para a produção de fios, cordas, tapetes, etc. É típica de áreas semi-áridas,
pois se adaptam muito bem às condições ambientais. As grandes plantações de sisal constituem a
base da economia da região, na qual as escolas envolvidas neste estudo estão inseridas.
É natural, que não conhecendo bem a totalidade que constitui o Nordeste
Brasileiro, boa parte dos alunos empreste à região as características do lugar onde eles vivem.
Além disso, seca e sisal se relacionam diretamente, pois esta última é sempre responsabilizada
pelas crises na economia sisaleira regional.
Com referência à temática dos comentários, percebe-se que mais uma vez o
fenômeno seca predomina. No entanto, os percentuais caem um pouco e começam a aparecer
outras relações. No que se refere ao número total de alunos, temos como predominantes
comentários que articulam a região Nordeste aos seguintes fenômenos: Seca – 45.3 %; Seca e
governo – 10.2 %; Pobreza – 10.1 %; Trabalho e desemprego – 8.1 %, e; Boa região para se viver
– 4.1 %.
Esses dados indicam uma relação interessante entre nossos três procedimentos. No
primeiro, a imagem imediata predominante é a da seca. No segundo (desenho), os alunos
começaram a relacionar a seca a outros elementos – principalmente políticos e sociais. Chegando
finalmente no terceiro procedimento (comentário), há uma tentativa de explicação da imagem que
representaram. Isso significa que na tentativa de explicação, ocorre também uma imediata
tentativa de leitura da imagem. Esse fenômeno ficou evidente na "demora" dos alunos para
fazerem os comentários e até mesmo, no grande percentual (14.2 %) que não conseguiu fazê-lo.
Argumentamos então que a diminuição gradativa do número de alunos que
associaram Nordeste e seca deve-se a essa tentativa "incompleta" de decodificar uma imagem, já
há muito internalizada. Faltou a estes alunos o instrumental conceitual que permitiria entender a
natureza e a sociedade como relativamente “autônomas”.
Os elementos apresentados nos permitem constatar que a maioria dos alunos
acreditam na imagem do Nordeste como terra da miséria e da seca. Apenas um grupo restrito,
principalmente na Escola Valente, tenta criticar a própria imagem que expressa, num passo inicial
para a sua superação. Claro está, que a imagem de mais de 70 % dos alunos é aquela imortalizada
na obra “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. A partir desta constatação, trataremos a seguir, de
caracterizar as imagens dos professores de geografia das escolas envolvidas neste estudo.
Buscamos identificar essas imagens/representações, através de desenhos e
comentários elaborados pelos docentes. A partir dos dados tabulados podemos delimitar dois
grupos: 1) Professores que acreditam no mito da seca, ressaltando o uso político do “problema”:
neste conjunto os professores representam o Nordeste como região problema do Brasil,
principalmente em função da seca. Só aparecendo a possibilidade da irrigação. Não aparecem
outras imagens como a do Nordeste do turismo, por exemplo. Além disso, Nordeste e coisas boas
não se articulam diretamente nestas imagens. 2) Professores que afirmaram existir a seca
apresentando uma visão crítica das imagens projetadas sobre o Nordeste: diferente do grupo
anterior estes professores possuem uma imagem onde aparece a contradição entre o bom e o
ruim. O quadro natural não é esquecido, porém se insere o político como fundamental. A região é
vista na diversidade que possui, como um conjunto complexo e contraditório.
Podemos afirmar então, a partir dos dados coletados, que na Escola São
Domingos, os professores de geografia possuem uma imagem idêntica a dos seus alunos, ou seja,
o nordeste é a terra da seca – da miséria. Já na Escola Retirolândia, um professor acredita no mito
da seca e outro tem um posicionamento mais crítico. Foi justamente nesta escola, que os alunos
apresentaram maior heterogeneidade de opiniões. Finalmente na Escola Valente, o único
professor de Geografia, possui uma visão que não permite dizer que acredita no mito da seca.
Nesta Escola existe um grupo significativo de alunos que se destacam na leitura das imagens
projetadas.
Seria o professor capaz de influenciar na obtenção dos instrumentos básicos para a
leitura das imagens projetadas? Acreditamos que sim, desde que esse seja capaz de produzir o
saber escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS - Constatamos que a mais efetiva imagem do Nordeste Brasileiro
para os alunos envolvidos neste estudo é aquela associada à seca, ou seja, aquela que é projetada
a partir de um momento da dinâmica da paisagem do semi-árido nordestino.
Ora, para entender que a seca provoca uma (entre as varias possíveis) imagem é
necessário partir de uma abordagem conceitual – plano das pré – concepções. Verifica-se que
para a grande maioria dos alunos, a seca é causa dos problemas do Nordeste. Está claro que
durante os anos de escola (oito no mínimo), conceitos fundamentais como os de natureza,
sociedade, lugar, espaço geográfico, região, etc., não foram trabalhados de forma que os alunos
os aprendessem significativamente. Se esses conceitos tivessem sidos internalizados, os alunos
possuiriam instrumentos para ler as imagens projetadas. Poderiam então caracterizar o Nordeste,
não como a “terra da miséria”, provocada pela determinação natural. Isso é fundamental na
medida em que esses alunos constroem e poderão reconstruir o espaço onde vivem. Ter
consciência da possibilidade de mudança é pré-requisito tão básico para essa, quanto à própria
ação de mudar. Acreditar no mito significa podar sua própria ação para a mudança antes mesmo
que ela seja projetada.
Mas, por que nas escolas pesquisadas, a intervenção não é adequada, para fornecer
os instrumentos que permitam aos alunos ler as imagens projetadas sobre determinados espaços
geográficos?
Defendemos aqui que o professor é o sujeito intencional e fundamental no
processo ensino-aprendizagem. Em primeiro lugar, esse precisa estar qualificado e comprometido
com a educação em geral e com o ensino de Geografia em particular; em segundo lugar, a
qualificação deve ser atualizada e deve fornecer a autonomia necessária, para que ele transforme
o saber científico em saber escolar, atentando para as peculiaridades dos elementos didáticos,
psicopedagógicos, sociais, econômicos e culturais, no qual está envolvido juntamente com os
seus alunos (cf. Cavalcanti, 1998).
Entretanto, não podemos querer que a intervenção pedagógica adequada se
responsabilize por toda a função social da escola. Ela é uma instituição social e em seu contexto
se faz e se refaz contradições inerentes ao contexto social da comunidade na qual se insere.
O professor e a escola devem fornecer elementos essenciais (no plano dos
conceitos), sem esquecer que a vida cotidiana é também procedimentos e atitudes muitas vezes
formulados em outros contextos: igreja, sindicatos, etc., de forma que a definição de dada
representação social deve considerar o papel de quem a elabora e a comunica. Neste estudo
consideramos que no Nordeste o papel das elites, principalmente política, é fundamental.
Assim, queremos observar que no município de São Domingos, há 10 anos (desde
1989 quando o município foi criado), apenas um grupo político (e um partido) está no poder; em
Valente e Retirolândia um mesmo grupo mantém-se no poder há mais de 30 anos (famílias
Ramos/Mota e Martins respectivamente). Estes grupos aliam-se aos grupos ditos “tradicionais”
do Estado da Bahia, onde é comum o uso da seca como “fábrica de votos”. Ao mesmo tempo,
verificou-se na estrutura das escolas estaduais baianas nomeação para cargos de direção e vicediração, onde o diretor era nomeado pelos grupos políticos dominantes, de forma que a mudança
foi relativamente dificultada. Não estamos dizendo que a culpa da “ineficiência da escola” é do
governo, como geralmente se afirma. Queremos sim, reafirmar que o projeto político-pedagógico
da escola pode ser transformador ou conservador, dependendo da dinâmica social, na qual a
escola está inserida.
Ora, numa escola onde se confirma a não existência (caso das escolas Retirolândia
e São Domingos) de profissionais qualificados adequadamente, onde o Estado ou Município não
provocam mecanismo para essa qualificação, onde a sociedade (principalmente pais de alunos)
não cobra uma nova dinâmica, não podemos querer que os alunos obtenham conhecimento
suficiente para se formarem cidadãos.
Ao acreditar no mito da seca, o aluno passa a acreditar no discurso das elites,
tornando-se então vulnerável à exploração. Ao mesmo tempo, esses alunos serão considerados os
indivíduos “instruídos” da comunidade, formadores de opinião. Alguns até passam a ser
professores antes mesmo de concluir o ensino médio. Isso provoca uma inércia, uma vez que a
maioria da população não exerce seus direitos e deveres, a estrutura social desemboca para o
famoso paternalismo político que caracteriza a maior parte do Nordeste Brasileiro há várias
décadas. O mito da seca legitima a miséria e isenta as elites de qualquer “culpa”; a resposta de
hoje ainda é a mesma de 15 anos atrás: Deus quer assim...
REFERÊNCIA
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: história e
geografia. Brasília: MEC/SEF,1997.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: e
geografia. Brasília: MEC/SEF,1998.
CASTRO, I. E. O Mito da Necessidade. Discurso e Prática do Regionalismo Nordestino. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992.
____________ Seca Versus Seca. Novos Interesses, Novos Territórios, Novos Discurso no
Nordeste. In: Brasil: Questões Atuais da Reorganização do Território. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1996.
CAVALCANTI, L. de S. .Geografia, Escola e Construção de Conhecimentos. Campinas:
Papirus, 1998.
COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL – CAR (BA). Qualidade
Ambiental no Semi-Árido da Bahia. Salvador, 1995.
GERARDI, L. H. de O. & SILVA, B. C. N. S. Quantificação em Geografia. São Paulo: Difel,
1981.
JOLY, .M. Introdução a Análise da Imagem. Campinas: Papirus,.1996.
LACOSTE, Y. A Geografia – Isso Serve, em Primeiro Lugar, Para Fazer a guerra.
Campinas: Papirus, 1997.
PENIN, S. T. de S. A Aula: Espaço de Conhecimento, Lugar de Cultura. Campinas: Papirus,
1994.
PEREIRA, D.A.C. Geografia escolar: conteúdos e/ou objetivos? In: Caderno prudentino de
geografia: geografia e ensino. No. 17, Presidente Prudente: AGB, 1995.
VIGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo; Martins Fontes, 1996.
CARACTERIZAÇÃO DO MEIO FÍSICO E ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS DO
DISTRITO DE JAGUARA, FEIRA DE SANTANA – BAHIA
Marilda SANTOS-PINTO 1, Angela Cardoso SOUZA 2, Jane Claúdia Teixeira FRANÇA 2, Maria José Marinho
REGO 3
1- Departamento de Ciências Exatas, UEFS
2- Programa de iniciação científica PROBIC-UEFS, Licenciatura em Geografia – UEFS
3- Departamento de Geoquímica, Instituto de Geociências – UFBA
INTRODUÇÃO
A caracterização ambiental e sócio-econômica de uma região
importante para a gestão, de modo sustentável,
é uma ferramenta
de seus recursos naturais respeitando as
fragilidades de cada ambiente e as necessidades de seus habitantes. Neste contexto, o Distrito de
Jaguara, situado na parte noroeste do município de Feira de Santana, a porta de entrada do semiárido baiano, é o alvo deste trabalho. O objetivo é descrever o meio físico, ter um panorama
geral das atividades econômicas desenvolvidas e suas consequências sobre o meio ambiente
contribuindo assim para o aumento das informações já existentes sobre o distrito (Lima et al.,
1999; Santos et al., 1999; Silva et al., 1999; Barbosa, 2000).
Com uma área aproximada de 344 Km2, o distrito de Jaguara limita-se à norte com os
municípios de Tanquinho e Candeal, à oeste e sudoeste com o município de Anguera, à leste com
o Distrito de Maria Quitéria e ao sul com o distrito de Governador João Durval Carneiro. O
acesso, a partir de Feira de Santana, é feito pela BR-116 norte em direção à estrada do Feijão,
BA-052. Depois de se trafegar 12,7 km por esta última, dobra-se à direita numa estrada de terra
que vai cortar todo o distrito longitudinalmente. A sede, Jaguara, encontra-se a 11 quilometros, às
margens do Rio Jacuípe. Outros povoados importantes são Barra, Sete Portas, Lagoa d’água e
Rio do Peixe, ao norte, e Morrinhos ao sul. O distrito é banhado pelos rios perenes Jacuípe e do
Peixe e vários tributários intermitentes que, devido a irregularidade do regime de chuvas, passam
a maior parte do tempo secos.
METODOLOGIA
As bases cartográficas utilizadas para o desenvolvimento desta pesquisa foram o Mapa de
Feira de Santana e seus Distritos (IBGE 2000), as cartas topográficas de Santo Estevão (Folha
SD-24-V-BIII) e Serrinha (Folha SC-24-Y-D-VI), escala 1: 100 000 (SUDENE, 1977),
ampliadas para a escala 1:50 000, e fotografias aéreas na escala 1:60 000. Para o estudo do
clima, foram utilizados dados da estação meteorológica de Jaguara (1964-1983). Um
questionário, aplicado junto a 20 familias em fazendas, povoados e em Jaguara, forneceu
informações sobre aspectos sócio-econômicos, fauna e flora (Souza, 2002; França, 2003). Estes
dois últimos dados, acrescidos àqueles fornecidos pelo herbáreo da UEFS,
permitiram
caracterizar a vegetação da área. A identificação dos tipos de solos foi baseada na descrição
física de perfis pedológicos em barrancos de estrada e trincheiras além de tradagens com
profundidade de até 150 cm e na classificação do solo da EMBRAPA (1999).
CLIMA
De acordo com os dados metereológicos da estação de Jaguara (latitude 12º 07’,
longitude 39º 07’, altitude 190m) para o período 1964-1983 (SEI, 1999), o clima do distrito e'
tipo Dd A' a' (semi-árido) na classificação de Thornthwaite & Matter. O período mais chuvoso
ocorre nos meses de janeiro à março com precipitação entre 84,9 e 95,6 mm. A precipitação
média anual foi de 822,8 mm, tendo os meses de agosto, setembro e outubro seus menores
índices (38,7 à 47,0 mm). Essa distribuição gera deficiência hídrica em todos os meses do ano. A
temperatura média anual foi de 24,7°C, com máxima de 26,5°C e mínima de 22,0°C.
FLORA E FAUNA
O inventário da flora no distrito de Jaguara realizado através de entrevistas e visualização,
juntamente com dados do Herbário da UEFS, conforme as classificações do RADAM BRASIL
(1981), indicam que as espécies vegetais encontradas são compatíveis com os domínios de
Floresta Estacional Decidual e Estepe (caatinga) (Souza & França, 2002). Os representantes do
primeiro domínio são: amargoso (Aspidosperma aff), aroeira (Astronium urunduva), angico
(Piptadenia), calumbi (Mimosa Hostillis), barriguda (Cavanillisia sp), umburana-de-cambão
(Busera leplophleos), caatinga-de-porco (Caesalpinia pyramidalis), incó (Capparis yco), pauroxo (Peltogyne sp),
tingui (Picramnia sp), barauna (Shinopsis brasiliensis), pau-d’arco
(Tabebuia chrystriche), cajazeira (Spondias lutea), itapicurú (Goniorrha chis marginata),
quixabeira (Bromélia sartoum). Como representante da vegetação do tipo Estepe as espécies
encontradas são: gravatá
(Honhen-bergia aff. Catingae),
mandacaru (Cereus jamacaru),
licorizeiro (Syagrus coronata),
palmatória-de-espinho (Opuntia palmadora), umbuzeiro
(Spondias tuberosa), calumbi (Mimosa Hostillis), mulungu (Erythrina velutina), pau-ferro
(caesalpina ferrea), velame (Croton campestris), quixabeira (bromélia sartoum ), carrancudo
(Poecilanthe ulei), cansanção (Cnidoscolus urens) e jurema ( Mimosa melacocentra).
Os animais mencionados pelos moradores foram: gavião, garça, rolinha, urubu, marreca,
canário, periquito, papagaio, jacú, pássaro-preto, bem-te-vi, sofrer, cardeal, quero-quero, pomba,
coleiro, coelho, preá, raposa, tatú, cachorro-do-mato, mocó, sussuarana (citada pela população,
mas nunca vista pessoalmente), veado, sariguê, rato, gambá, camaleão, calango, teiú e as cobras
jibóia, cascavél, papa-pinto, cainana, jaracuçú, cobra verde e coral.
A ação antrópica, através de queimadas, desmatamentos e destoca da vegetação rasteira
para a formação de pastagens para a criação de gado e o preparo do solo para a agricultura de
subsistência, é responsável pela destruição da vegetação primária e, em consequência, o
diminuição da ocorrência de diversos animais que têm seus habitats destruídos a exemplo do
veado, tatu e cachorro do mato.
.
GEOMORFOLOGIA
Os compartimentos regionais do relevo representados no distrito são o das Depressões
Periféricas e Interplanálticas e o dos Planaltos Pré-litorâneos (CEPLAB, 1980). Localmente,
considerando o Rio Jacuípe, na altura da cidade de Jaguara, como limite, duas duas zonas podem
ser consideradas: norte e sul. Ao norte, o relevo apresenta-se suave ondulado, com cotas entre
160 e 200m, a forte ondulado pela presença de morros testemunhos agrupados com cotas que
variam de 436 a 544m e que se alinham na direção NW/SE, de forma paralela as drenagens,
evidenciando um forte controle geológico. Ao sul, o relevo é suavemente ondulado com cotas
médias de 160 metros. No limite sudeste, pela presença do início da Serra de São José, o relevo
passa a ser ondulado com cotas de 240 a 369m.
SOLOS
Rego (1998, 1999) agrupou os solos da região de Feira de Santana conforme a sua
ocorrência sobre os tabuleiros ou embasamento cristalino. Para as áreas do embasamento, onde se
encontra a a área de estudo (Barbosa & Dominguez, 1996), foram citados os bruno não cálcicos,
cambissolos eutróficos, litólicos e litossolos.
O mapeamento preliminar dos solos do distrito de Jaguara na escala 1: 50 000 (Santos
Pinto, 2002), indicou a presença dos seguintes tipos de solo:
PLANOSSOLO HÁPLICO arênico - ocorrendo na porção noroeste do Distrito de Jaguara,
associa-se ao relevo plano a suave ondulado. São solos pouco profundos a profundos, de cores
escuras (bruno oliváceo escuro, bruno escuro, bruno acinzentado muito escuro), imperfeitamente
drenados e com sequência de horizontes A-Bt-C. Apresenta um horizonte A moderado, de
textura arenosa e média que contrasta abruptamente com um horizonte Bt muito adensado, de
textura argilosa e muito argilosa, estrutura moderada ou forte em blocos angulares ocorrendo,
também, prismática e colunar. O caráter vértico pode estar associado. O teor salino, constatado
em campo por pontos esbranquiçados e gosto salgado, evidencia que localmente eles podem ser
considerados solódicos. Embora as cores escuras sejam indicadoras de boa fertilidade, o
horizonte B endurecido e a concentração elevada de sais localmente, restringem parcialmente, ou
totalmente, o seu uso na agricultura.
LUVISSOLO HIPOCRÔMICO Órtico - solos que variam de pouco profundos a profundos (70 a
148 cm) que ocorrem nos relevos suaves ondulados e ondulados sempre
nas partes mais
abaciadas. São solos argilosos, com gradiente textural, estrutura em blocos angulares e cores
escuras que variam do bruno acinzentado podendo chegar ate’ o preto. Eles ocorrem em
associação com os cambissolos e neossolos.
CAMBISSOLO HAPLICO - associados ao relevo suave ondulado, são solos rasos, com
profundidade em torno de 40cm, bem drenados, com cores variando de bruno amarelado escuro a
bruno acinzentado muito escuro. A sequência de horizontes é A-Bi-C ou A-Bi-C-R. O horizonte
A moderado apresenta textura argilosa, média e siltosa. O horizonte Bi possui textura argila a
média e estrutura forte pequena/média em blocos angulares. Os perfis argilosos, ocasionalmente,
apresentam caráter vértico. Naqueles de textura média, o perfil pode tender a um neossolo com o
desaparecimento de Bi. A baixa profundidade do perfil é um fator limitante para a produção
agrícola.
NEOSSOLOS LITÓLICOS - classe de solo de maior representatividade no distrito, são rasos (<
50 cm de profundidade) e estão geralmente associados às partes altas dos relevos suave ondulado
a ondulado. Na parte sudeste da área estudada, encontra-se diretamente ligado ao relevo ondulado
e forte ondulado. A sequência de horizontes é: A-C, A-C-R e A-R. O horizonte A é moderado,
apresenta espessura média de 20cm e cores escuras (bruno escuro, bruno amarelado escuro, bruno
acinzentado escuro). A frequente associação com
afloramentos de rocha, aliada a pouca
profundidade, dificulta o preparo do solo restringindo o seu agrícola.
ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS
A população do distrito de Jaguara é de 6.434 habitantes dos quais 732 residem na sede
(IBGE 2000). Os entrevistados e suas famílias estudaram até a 4ª série do primeiro grau exceto
uma pessoa que concluiu o 2º grau. A maioria dos jovens sai para outras localidades em busca
de melhores oportunidades de estudo e emprego. A população rural trabalha como lavradores,
vaqueiros, domésticos e na extração de areia nos leitos do rio Jacuípe e Peixe.
Na região predomina a criação de gado leiteiro e de corte sendo pé-duro, nelore,
holandês, mestiço, guezá, in brasil, xuíte e quianinho (importada da Itália) as raças encontradas.
Em epóca de seca, é comum a população encontrar dificuldades para alimentação do gado. Para
amenizar a situação, as alternativas são a utilização de rações com mandacarú, palma, palha de
licorizeiro, cana e, mais raramente, o aluguel de pastos em outras regiões. O abate é feito em um
matadouro em Jaguara, que lança seus resíduos diretamente nas águas do rio Jacuípe. As quintasfeiras, em condições precárias de higiene, mulheres reunem-se no leito do rio para fazer o
tratamento das vísceras de boi. A produção do leite é destinada a fabricos locais de queijo e
venda em Feira de Santana. Também existe a criação em pequena escala de caprinos e ovinos. A
agricultura desenvolvida é somente de subsistência com plantações de feijão, milho e mandioca.
A extração de areia nos leitos dos rios Jacuípe e do Peixe é outra atividade econômica importante
na região (Lima et al., 1999; Silva et al., 1999).
A água, principal fator limitante do desenvolvimento das regiões semi-áridas, na zona
rural, é captada através de cisternas de cimento, aguadas e perfuração de poços artesianos. Na
sede, a distribuição é feita de forma irregular pela EMBASA (Empresa Baiana de Abastecimento
de Água) além da existência de uma barragem no rio Jacuípe. Nesta, visando aumentar a renda da
população local, a Prefeitura Municipal de Feira de Santana, em convênio com o Governo do
Estado, colocou 15.000 peixes.
CONCLUSÕES
Apesar do distrito de Jaguara estar inserido na zona do semi-árido baiano, a presença de
dois rios perenes é responsável pelo desenvolvimento da região. A atividade econômica principal
é a pecuária que encontra dificuldades nos períodos secos. As características climáticas,
geomorfológicas e pedológicas restringem a agricultura a de subsistencia. A extração de areia
dos rios é uma alternativa principalmente nos períodos de estiagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, L. M. (cord).Recursos Naturais e um Painel Didático: rochas, minerais, fósseis,
sedimentos e solos. Relatório atividades de pesquisa (1998-2000)-UEFS, Feira de Santana,2000.
134p.
BARBOSA, J.S.F.; DOMINGUEZ, J.M.L. (coord). Mapa geológico do Estado da Bahia, escala
1:1.000.000. Salvador. SME, Coordenação de Produção Mineral. 1996.
EMBRAPA.. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Centro Nacional De Pesquisas De
Solos, Rio de Janeiro. 1999. 412 p.
FRANÇA, J.C.T. Caracterização do meio físico da parte sul do Distrito de Jaguara. Relatório
final de iniciação científica PROBIC/UEFS. 2003
IBGE. Mapa do Município de Feira de Santana e seus distritos, escala 1: 100 000. 2000
IBGE. Censo 2000.
LIMA, A. M.S.; SOUZA; G.B.; SANTANA, J.C.B. Ensaios técnicos e qualidade das substâncias
minerais classe II no distrito de Jaguara, Feira de Santana, Bahia. In: JORNADA
UNIVERSITÁRIA
DA UEFS ,14, 1999, Feira de Santana. Anais... Feira de Santana:
UEFS,1999.p112
PROJETO RADAMBRASIL. Levantamento dos recursos naturais. Folha SD.24 - Salvador,
MME, Rio de Janeiro. 1981. 620 p.
REGO, M.J.M. Os solos do município de Feira de Santana. In: PROJETOS NASCENTES: UM
OLHAR SOBRE FEIRA DE SANTANA. 1º ed. Feira de Santana, UEFS. 1998. Cd-rom
REGO, M.J.M. Os solos da Bahia com ênfase nos solos da região de Feira de Santana. In:
Semana de Geociências, 2, 1999, Feira de Santana. Anais...Feira de Santana, UEFS, 1999, p.4248.
SANTOS, V.S.; SANTANA, N. O.; VITÓRIA, G.F.; SOUZA, G.B. Descrição do meio fisíco e
caracterização do distrito de Jaguara, Feira de Santana, Bahia. In: JORNADA UNIVERSITÁRIA
DA UEFS,14, 1999, Feira de Santana. Anais... Feira de Santana: UEFS, 1999. p105
SANTOS PINTO, M. Caracterização dos solos do Distrito de Jaguara - Feira de Santana –
Bahia. Relatório de licença Sabática – UEFS/UFBa. 2002
SEI. 1999. Balanço Hídrico do Estado da Bahia.
SILVA, C.J.S.; SOUZA, G.B.; BARBOSA, L.M. Caracterização da atividade de extração de
areias no distrito de Jaguara, Feira de Santana, Bahia. In: JORNADA UNIVERSITÁRIA DA
UEFS,14, 1999, Feira de Santana. Anais... Feira de Santana: UEFS, 1999. p106
SOUZA, A.C. Caracterização do meio físico da parte norte do Distrito de Jaguara. Relatório final
de iniciação científica PROBIC/UEFS. 2002
SOUZA, A.C. & FRANÇA, J.C.T. Indicadores sócio-econômicos-ambientais
a partir da
aplicação de questionários: o caso do Distrito de Jaguara, Feira de Santana-Ba. In: EREGENE,
19, 2002, São Luís, Boletim de resumos, cd-rom. 2002.
SUDENE . Folha topográfica SD-24-V-BIII, Santo Estevão, escala 1: 100 000, 1º impressão.
1977.
SUDENE . Folha topográfica SC-24-Y-D-VI, Serrinha, escala 1: 100 000, 1º impressão. 1977.
MERCADO E PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
Lívia Dias de Azevedo - Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS
Luciene Gomes Matos - Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS
Sidélia Castro de Oliveira 1 - Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS
No período de 02 a 10 de setembro do ano de 2000, realizou-se uma pesquisa de campo
nos municípios de Coração de Maria e Conceição do Jacuípe, os quais fazem parte da microregião homogênea de Feira de Santana, com o objetivo de estudar o mercado e a produção
agropecuária nestas referidas cidades.
Na cidade de Coração de Maria, o estudo foi direcionado basicamente para o cultivo da
mandioca, cujo produto final pode ser a farinha, beijú, biscoito de goma, tapioca, dentre vários
outros. E para que fosse necessário realizar este estudo, visitou-se uma propriedade na qual se
plantava a mandioca, que nos forneceu todas as informações que serviram de embasamento para
a realização deste trabalho. No entanto, é importante ressaltar que o produtor visitado, Sr. José da
Silva, não é detentor dos meios de produção, o mesmo era funcionário a muitos anos dessa
propriedade, e o dono da fazenda, “permitiu” que ele plantasse em suas terras (3 hectares), sob a
condição de meeiro. Essa mesma fazenda possui 200 tarefas ou 88 hectares, mas somente 22
tarefas são destinadas ao cultivo da mandioca, as demais, são destinadas a pastagens, plantas
frutíferas e cultivo de milho, que em muitas vezes é plantado junto à mandioca, ou seja,
intercalando o plantio do milho em relação a mandioca.
Segundo o agricultor, Sr. José, o ciclo da mandioca, ou seja, desde o plantio até a colheita,
leva em média doze meses. E esse cultivo começa pela limpeza da área a ser cultivada, em
seguida, o solo que no caso da propriedade em voga é arenoso, é arado utilizando-se uma
tecnologia rudimentar (a própria enxada, ou o arado feito por tração animal), e adubado com
esterco de gado. Com o terreno já preparado, este é dividido em leras com espaçamento de 2 m
1
Graduandas do curso Licenciatura em Geografia.
entre uma lera e outra, e então se planta a maniva 2 com uma distância de 50 cm entre uma cova e
outra.
Percebemos ainda, que o grande problema para se plantar mandioca, é que como esta
possui um ciclo produtivo relativamente longo (um ano aproximadamente), é muito vulnerável às
condições do clima, ou seja, a estiagem prolongada ou muita chuva é um problema para esse tipo
de cultura, além das pragas como lagartos e ratos que comem a mandiocas ou suas folhas. Para
combater os lagartos, o produtor utiliza uma técnica natural, para não comprometer o plantio, que
é a utilização de mel nas folhas, porém é importante ressaltar, que essa praga não chega a
acarretar a perda total da safra.
Para a realização dessa cultura, constatou-se a não utilização de implementos agrícolas
(tratores, sistema de irrigação) e insumos (agrotóxicos, fertilizantes) e que os possíveis custos
neste cultivo eram provenientes da transformação da mandioca em outro produto, uma vez que a
mesma não é colocada no mercado in natura,ou seja, nem nenhum tipo de beneficiamento. Dessa
forma, o ônus dessa cultura é em função do combustível para movimentar o motor da moedeira 3 ,
sacos para acondicionar a farinha, transporte do produto da propriedade até o mercado onde a
farinha será comercializada, alimentação (lanche/almoço) do produtor quando o mesmo se dirige
ao mercado e a pedra (imposto pago pelo produtor para que sua mercadoria possa ser
comercializada num espaço definido dentro do mercado).
No entanto, para que a mandioca chegue até o mercado deverá impreterivelmente passar
pela “casa de farinha”, onde se dá sua transformação que acontece da seguinte maneira: a
principio, a mandioca é limpa e descascada, logo após é triturada na moedeira, em seguida a
massa triturada é colocada em sacos de náilon, uns sobre os outros, numa prensa (peça artesanal,
confeccionada de madeira, que compreende uma “caixa” com vários furos com uma tampa) para
que seja retirado todo excesso de água da mandioca.
Após este estágio a massa fica sólida (petrificada), tendo a necessidade de ser passada
novamente na moedeira. Posteriormente esta massa é peneirada e levada ao forno (com
aproximadamente 50°C) para torração. Uma vez torrada, é novamente peneirada e ensacada,
estando então, pronta para ser inserida no mercado consumidor. No entanto, é importante
2
3
Tolete do caule da mandioca, cortado para plantio; muda de mandioca.
Instrumento de moer a mandioca.
salientar que todo esse processo que ocorre na “casa de farinha” é manual, com exceção do motor
que move a moedeira, e a mão-de-obra empregada nesse processo e essencialmente familiar.
Depois que a mandioca passa por todas essas etapas (plantio, colheita e beneficiamento), o
produtor só consegue vender um saco de farinha de mandioca contendo 50 kg apenas por R$ 8,00
(oito reais). Fato esse que vem desestimulando muitos produtores, principalmente os pequenos
que muitas vezes têm deixado a mandioca estragar no pé, preferem não colher, deixando o mato
tomar conta da plantação, em razão do baixo preço de mercado da farinha.
Assim, podemos auferir como razão desse desestímulo, a falta de acesso dos pequenos
produtores a créditos nos bancos, para que possam investir em máquinas mais modernas para a
casa de farinha, tratores para a plantação, compra de terra, implementos agrícolas, etc. Além
disso, sofrem com a marginalização da cultura de subsistência, pois não existe uma política
agrícola, por parte do governo, para assegurar o preço mínimo da produção da mandioca, a fim de
garantir ao produtor um pouco de lucro. Muito pelo contrário, o que se verifica é o total descaso
com o pequeno agricultor, com créditos negados, preço do seu produto em baixa, dentre outros
fatores que contribuem para tirar/afastar o homem do campo daquilo que ele sabe fazer, plantar.
E em conseqüência dos fatores acima mencionados, muitos agricultores acabam por se
arriscar num mundo desconhecido e competitivo das cidades grandes, em busca de um possível
emprego que lhe assegure um salário para sustentar sua família, salário esse, que muitas vezes
não conseguem para atender as necessidades básicas de sobrevivência.
A outra propriedade visitada foi em Conceição do Jacuípe a 27 Km de Feira de Santana,
mas desta vez com objetivo de buscar informações sobre o cultivo de hortaliças. A plantação de
hortaliças foi inserida na cidade de Conceição do Jacuípe pioneiramente por japonês,
posteriormente um sergipano resolveu plantar, e vendo que estava “dava certo”, os moradores da
referida cidade resolveram plantar também.
E hoje já existe uma cooperativa com
aproximadamente 50 produtores (que pagam uma taxa de adesão de R$ 300,00 para terem direito
a sementes mais baratas, orientação de um agrônomo e mercado garantido), além dos produtores
particulares que se dedicam exclusivamente ao cultivo de hortaliças.
Para a realização desse estudo visitamos a propriedade do Sr. Elieser, conhecido na região
como “Sr. Dunga”. O Sr. Elieser é um pequeno agricultor que se dedica exclusivamente à
plantação hortaliças. Sua propriedade (particular) possui 4 tarefas de terras, os quais são
utilizados quase que totalmente para essa cultura.
Segundo o Sr. Dunga, a grande vantagem desse tipo de cultivo é o seu ciclo produtivo que
varia entre 35 dias (inverno) até 45 (verão), ou seja, o tempo que leva entre a plantação e a
colheita é muito curto, fato esse que favorece a obtenção mais rápida do que foi investido pelo
produtor.
A plantação de hortaliças se faz da seguinte maneira: com o auxílio de um trator, o
produtor limpa/prepara a terra a ser cultivada, e em seguida aduba a mesma com esterco de gado,
pois o solo desta propriedade é arenoso. O passo seguinte é abrir as leras 4 . Após este estágio, é
feito o plantio obedecendo a um espaçamento de 20 cm entre uma planta e outra.
São vários os tipos de hortaliças cultivadas, uma delas é o coentro, que é plantado através
de sementes (cada lata de 100 gramas de sementes dá para plantar em média 30 leras). Essa lata
de sementes, custa em torno de R$ 7,00 para os cooperados, e R$ 10,00 para os não cooperados.
A alface também cultivada na propriedade é adquirida através da muda, assim como a
cebolinha, foto esse que praticamente anula o custo/investimento por parte do produtor, pois uma
vez que os mesmos não são vendidos, esses são replantados e vendidos posteriormente, anulando
assim, os gastos com sementes, e o prejuízo causado pela perda do produto já que as hortaliças
são muito perecíveis.
Entre os pontos culminantes do ciclo produtivo das hortaliças estão o rabanete com 25 dias
e a salsa que tem o ciclo mais longo em torno de 60 dias. Esta última é muito sensível as
mudanças climáticas, e requer um maior cuidado por parte do agricultor, como cobrir toda a lera
durante os dias de sol muito forte até que as mudas brotem. Por isso, tem um preço diferenciado
no mercado.
Estima-se que a margem de lucro obtido pelo Sr. Dunga com as suas hortaliças é bastante
considerável em termos relativos, ficando em torno de R $ 350,00 a R$ 400,00 por semana. Além
de que foi observado que alguns tipos de cultura tinham uma maior procura durante determinada
época do ano, como no inverno a demanda por hortelã aumenta, em função da sua utilização para
a confecção de xarope caseiro para amenizar os sintomas do resfriado.
Como o Sr. Dunga faz parte da cooperativa dos Trabalhadores Rurais da Cidade de
Conceição do Jacuípe, ele tem a sua disposição auxilia técnico de um agrônomo, sementes mais
baratas, acesso facilitado a créditos bancários, e principalmente um mercado certo para sua
produção, motivos esses que viabilizam a continuação da plantação de hortaliças, uma vez que o
4
Colunas de terra com espaçamento de 1 metro entre uma e outra.
custo de investimento é relativamente baixo e o retorno é compensatório e rápido, levando-se em
consideração basicamente o ciclo produtivo das hortaliças.
Diante dessas duas situações abordadas, percebemos que se trata de realidades e culturas
diferentes, e, portanto, existem diferenças contundentes que separam o cultivo da mandioca e das
hortaliças. Em outras palavras, o ônus empregado pelo produtor, levando-se em consideração ao
ciclo produtivo dessas culturas, e o retorno que essa mercadoria oferece ao produtor é de uma
diferença muito grande, inclusive em se tratando de padrões de vida.
De um lado temos um pequeno produtor, sem crédito, sem terra, cultivando um produto
com ciclo produtivo longo, incerteza da produção (em função das condições do tempo)
dificuldade na transformação do produto, gasto com transporte para escoar a mercadoria,
mercado incerto e restrito, além do baixo preço dessa mercadoria no mercado. Do outro lado
temos um pequeno produtor também, mas dessa vez com crédito facilitado, com propriedade
privada, com auxílio de um técnico agrônomo, com baixo custo de investimento, com sementes
mais baratas, sem despesas de transformação e transporte da mercadoria, produto valorizado e
mercado consumidor garantido.
Inferimos, dessa forma, que a falta de apoio, suporte e de incentivos à produção para os
trabalhadores rurais por conta dos órgãos governamentais ainda é muito grande e preocupante,
visto que a maioria desses trabalhadores são desprovidos dos meios necessários tanto para a
produção, como para beneficiamento e venda de seus produtos. Assim, como pudemos observar a
organização social, seja ela representada por sindicatos ou cooperativas é a melhor maneira de se
produzir com confiabilidade.
BIBLIOGRAFIA
CARNEIRO & HURST, Marlene Araújo. A Bahia e os fluxos mundializados. In:
SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAS DA BAHIA. A
Bahia no Mercosul. Salvador: SEI, 1996. p. 11-28.
_____________. A agroindústria processadora de laranja na Bahia e em Sergipe:
situação e perspectivas. Salvador: CEP, 1993.
_____________.Leite e laticínios: tendências e impactos sobre a Bahia. Salvador:
CPE,1994.
_____________. a produção de hortaliças no Estado da Bahia, Salvador: CPE, 1994.
_____________. Uma proposta de ação estatal para a agroindústria. Salvador: CPE,
1994.
COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL –CAR. Agropecuária
no semi-árido da Bahia. Salvador, 1995, v.19
COUTO FILHO, Vitor de Athayde. O Brasil e o paradigma tecnológico emergente para
a agricultura. In: Conjuntura e Planjamento. Salvador, SEI, n.34, mar. 1997. p.15-19.
FUNDAÇÃO CENTRO DE PROJETOS E ESTUDOS – CPE (BA). Conquistas e
desafios para a produção de frutas na Bahia. Salvador, 1993.
_____________. Uma alternativa agroindustrial para o Oeste baiano. Salvador: CPE,
1993.
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA –IBGE.
Produção agrícola municipal: culturas temporárias e permanentes. v.20. Rio de
Janeiro: IBGE, 1993.
SILVA, José Graziano da. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas, São
Paulo: UNICAMP, 1996.
SILVEIRA, José Dantas da. Estudos sobre agroindústria no Nordeste: análise
macroestatística da agroindústria. Fortaleza: Secretaria Naciona de Irrigação/BNB. Reimp.
ETENE, v.3, 1992.
SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. O
Nordeste e a nova realidade econômica. Salvador: 1995. n.25.
_______________. Os “novos mundos rurais” baianos. Salvador: SEI, 1999.
UDERMAN, Simone. A agroindústria processadora de frutas e hortaliças no Estado da
Bahia. Salvador: CPE, 1994.
BENEFICIAMENTO ARTESANAL DE CARNE DE CAPRINO E/OU OVINO
PERNIL DEFUMADO
Antonio Gonçalves Serafim da Silva*
Juvêncio Antonio Magalhães Xavier **
O recurso tecnológico apresentado destina-se ao pequeno produtor que deseja agregar valor a
produtos cárneos de caprinos e ovinos com a produção pernil defumado, obtendo maior valor de
revenda com a comercialização de produtos de alta qualidade higiênica e gustativa. Com o uso de
mão-de-obra familiar, há geração de ocupação remunerada. Na comercialização para atacadista, o
retorno econômico é no mínimo de 100% sobre o custo da carne utilizada. A defumação é um
processo de conservação de alimentos bastante antigo. Consiste em submeter o alimento a um
processo de cura e exposição à fumaça, proveniente da queima de serragem umedecida, onde os
agentes conservantes liberados agregam sabor característico e aumentam o tempo de conservação
do alimento. Os métodos de processamento são de fácil entendimento, mas é necessário que o
produtor atente para algumas exigências sanitárias dos órgãos legais de vigilância sanitária de
cada Estado ou Município onde reside, tais como normas de higiene, instalações adequadas,e
boas práticas de obtenção da matéria prima e de processamento. Processo de produção: Pernil de
caprino ou ovino 10kg(100%). Ingredientes que devem ser misturados na mesma ordem descrita
a seguir para preparo de uma solução a ser injetada nas peças: água gelada, um litro (10%); sal,
180g (1,8%); condimento de presunto Califórnia, 100g (1%); agente de cura pó húngaro, 15g
(0,15%); krakoline, 20g (0,20%) e Fixador A 80, 20g (0,20%). Injetar em vários pontos da peça
de forma que fique uniformemente distribuído. Acomodar as peças injetadas em um recipiente
plástico ou de inox para imersão na solução seguinte: água com 2% de sal (aproximadamente 6
litros) mais condimento de presunto Califórnia, 100g; agente de cura pó húngaro, 15g; krakoline,
20g e Fixador A 80, 20g. Manter em geladeira, de 2 a 7 0C, ou similar, por um período mínimo
de 24 horas. Retirar as peças e pendurar para escorrer a salmoura por 1:30 a 2:00h. Colocar no
forno (alvenaria ou tonel adaptado) aquecido com fonte de calor, à base de carvão vegetal a 60
0
C, por duas horas. Em seguida, elevar a temperatura do forno para 80 0C, fechar a chaminé e
colocar um recipiente com brasas e serragem ou maralhava de maçaranduba, mantendo com
intensa produção de fumaça, durante quatro horas ou até atingir a cor amarela desejada. Retirar a
fonte de fumaça e manter a chaminé aberta com o forno ainda a 80 0C, até o pernil atingir a
temperatura interna de 70 0C (ponto de cozimento). Retirar a peça do forno, lavar em água
corrente (tratada) e banhar com solução de urucum k 400, para manter a cor amarela mais
atrativa. Deixar as peças descansando ao ambiente até esfriar. Embalar em filme de PVC ou em
sacos de nylon a vácuo. Conservar ao ambiente ventilado por 15 dias, ambiente resfriado por 90
dias e congelado por 6 meses. O pernil defumado pode ser consumido frio ou aquecido. Caprinos
e ovinos jovens produzem cortes mais tenros e menores com maior facilidade de
comercialização. Outros cortes da carcaça podem ser utilizados na produção de lingüiça (fresca
ou defumada), hambúrguer ou patê. Divulgue bem o seu produto e promova degustação para
formar mercado.
* Antonio Gonçalves Serafim da Silva é Médico Veterinário MS, da EBDA de Juazeiro-BA*
** Juvêncio Antonio Magalhães Xavier é Engenheiro de Alimentos.
Educação Ambiental junto à comunidade impactada pelo
projeto de irrigação Jacuípe: os saberes populares e a
construção de um espaço sustentável.
A Educação Ambiental é um processo de aprendizagem que visa organizar
a
sociedade local em torno de suas vocações econômicas, sociais e culturais ,na forma
de uma visão compartilhada e de desejabilidade ,empregando tecnologias
apropriadas para o aumento das potencialidades evitando os danos ambientais,
conhecendo e utilizando novas oportunidades, experiências, comportamentos e
reflexões, assim, como desenvolver habilidades coerentes com a realidade local. O
presente trabalho foi realizado junto à comunidade de agricultores familiares,
produtores do empreendimento de irrigação , Jacuípe, desenvolvido pelo governo do
Estado da Bahia , instalado no município de Várzea da Roça localizado na região
semi-árida do estado , onde a economia é baseada na pecuária e na agricultura
familiar , sendo o feijão e mandioca o principal cultivo. A comunidade local é
organizada através da associação comunitária LameroII ; buscando conhecê-la em
relação a sustentabilidade econômica , com conservação da natureza, visando
refletir sobre o aspecto sócio-ambiental da localidade , o trabalho retrata uma
pesquisa cuja a coleta de dados feita a partir da história de vida, diálogo com a
comunidade para a realização de diagnóstico, dentro de metodologia participativas;
observação direta, questionário, oficinas coletivas onde foram discutidos os seguinte
temas: geração de renda, meio ambiente, políticas públicas de educação e saúde, no
propósito de analisar os problemas locais. Buscou-se perceber as convergências e
divergências existentes entre os sistemas agrícolas tradicionais locais e o sistema
agrícola produtivo.As conclusões centrais do trabalho evidenciaram que a
tecnologia utilizada pela agricultura irrigada provocou transformações bastantes
significativas para essas famílias agrícolas , aonde se observava através do
desmatamento de várias espécies nativas, como ,o ouricuri, e as relações sociais
modificadas para atender a uma produção em maior escala. A convivência estreita
do agricultor familiar com a irrigação levanta a questão e gera o desafio de
promover um desenvolvimento respeitando a diversidade e a capacidade produtiva
dos ambientes naturais, assim, como a utilização adequada dos recursos hídricos. O
caso estudado aponta a Educação Ambiental como uma proposta capaz de estimular
a revalorização o saber popular, reintegrar o homem à natureza e viabilizar a
produção agrícola em bases sustentáveis, discutindo as possibilidades e limites do
saber científico.
Reijane Almeida Santos – Estudante de Especialização em Educação Ambiental
para a Sustentabilidade – UEFS
Jerônimo Rodrigues Souza – Orientador; Professor do DCIS-UEFS, Mestre em
Desenvolvimento Rural UFBA.
DESENVOLVIMENTO
RURAL
SUSTENTÁVEL:
UMA
ANÁLISE
SOBRE
A
ATUAÇÃO DOS CMDRS
ANA MARTA GONÇALVES SOARES E SIMONE DA SILVA SANTOS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA - UEFS / PRÓ-REITORIA DE
EXTENSÃO
A gestão pública no Brasil tende cada vez mais, ao envolvimento e a participação dos diversos
atores e segmentos da sociedade, tendo como eixo central os interesses coletivos de espaços
como comunidade, município e região. Constituindo-se assim em desafio que ainda não está
muito claro para o poder público local e para a sociedade civil organizada , no caso, os CMDRS Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável.
Fruto de um projeto criado em parceria da UEFS, com a Federação dos Trabalhadores para
Agricultura – FETAG, e o Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA e apoiado pelos
parceiros locais (prefeitura, sindicato e associações), esta proposta visa melhorar o nível de
informação sobre os CMDRS, a partir do processo de formação de seus conselheiros.
Os municípios nos quais os conselheiros foram capacitados, têm um perfil eminentemente
voltado para agricultura familiar de caráter periférico, ou seja, sem ou com uma mínima estrutura
para viabilizar as condições de produção. Nesse sentido, as linhas de atuação da política agrícola
do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF vêm contribuindo
sensivelmente para propiciar uma melhoria da qualidade de vida, uma vez que possibilita
condições para o aumento da capacidade produtiva.
A intenção do nosso trabalho é de analisar o desenvolvimento e a atuação dos CMDRS como
agentes de uma proposta participativa de gestão social. Uma vez que há visões distintas quanto ao
seu papel:
¬ A concepção mais tradicional vê o CMDRS apenas como instrumento a partir do que os
agricultores fazem a fiscalização dos investimentos do PRONAF/Infra-estrutura e serviços.
Seu papel aqui seria fazer com que os recursos chegassem ao seu fim sem desvios e com
algum grau de envolvimento da comunidade.
¬ De outro lado, algumas concepções mais recentes têm destacado que o processo de
desenvolvimento precisa incorporar outras dimensões que não só as linhas de
financiamento para agricultura, porque o meio rural não é somente um meio de produção
agrícola. As regiões mais dinâmicas são justamente as que conseguem alcançar maior grau
de diversificação das economias locais, integrando diferentes setores, fortalecendo as
relações sociais.
O projeto efetiva-se a partir de uma metodologia qualitativa, voltada à abordagem do
Desenvolvimento Local Sustentável, com atividades diversificadas, a fim de permitir maior
participação do grupo. Através da análise dos resultados, evidencia-se que a noção dos
conselheiros acerca da atuação do CMDRS restringe-se à concepção voltada para as linhas de
financiamento, por isso, a necessidade da construção de uma identidade que desvincule de
“Conselho do PRONAF” para agente promotor do Desenvolvimento Rural Sustentável.
Atuar nesse processo permite observar limites conceituais que a dinâmica social e a conjuntura
histórica trazem à tona e a necessidade de buscar re-significações para esses conceitos, repensando a formação acadêmica numa perspectiva democrática de reflexão sobre a realidade
brasileira.
Diante do perfil apresentado pelos CMDRS, há evidência de que onde permanecem reflexos da
cultura política de centralização, a atuação dos Conselhos na gestão social é prejudicada - visto
que o desenvolvimento sustentável precisa ser também entendido como desenvolvimento
político, no que se refere a permitir uma melhor representação dos diverso atores, especialmente
daqueles segmentos majoritários e que sempre são excluídos do processo pelas elites locais assim como a falta de uma estrutura mínima de recursos logísticos e informações básicas.
Convivência do homem com a seca e a produção pecuária.
Jorge de Almeida: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A – EBDA.
E-mail: [email protected]
O brasileiro talvez até tenha se acostumado e não mais estranhe, ao ver quase todos os
anos nas manchetes dos jornais e programas de radio e televisão, notícias estarrecedoras dos
efeitos causados pelas secas prolongadas no Nordeste do Brasil. Quem nunca presenciou ou
conviveu com comunidades onde esse fenômeno se fez presente, possivelmente não faça idéia do
que ela representa para a população humana, rebanhos, meio ambiente e conseqüentemente para
o país. A seca provoca uma série de efeitos negativos como por exemplo perdas expressivas nos
principais rebanhos (bovino, caprino e ovino) e nas lavouras, principalmente as de subsistência
como feijão, milho e mandioca; secam as fontes de água para o consumo humano e animal;
aumenta o desemprego no campo e nas cidades; diminui a arrecadação de impostos; reduz o nível
de crescimento da região; causa aumento da mortalidade infantil devido à desnutrição, provoca o
êxodo rural e o inchaço das grandes cidades.
A região semi-árida do nordeste brasileiro ocupa aproximadamente de 75 % das áreas dos
Estados do Maranhão, Ceará, Piauí, R. G. do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e
Bahia, que estão localizados no chamado Polígono das Secas.
Existe uma série de tecnologias e práticas para a produção pecuária na região semi-árida
como exemplos podemos citar: a) o Sistema C B L (caatinga, buffel e leucena), o qual é um
sistema alternativo para alimentação de bovinos, caprino e ovinos, utilizando basicamente a
vegetação nativa da caatinga, com o capim buffel e a leucena ou outra leguminosa formadora de
banco de proteína, associados a outros recursos forrageiros, tais como: palma, sorgo, milheto,
maniçoba, melancia de cavalo, ensilagem, fenação, amonização de palhas e restos de cultura, etc.;
b) o manejo da caatinga (manipulação da vegetação lenhosa), prática que consiste
na
modificação da estrutura da vegetação lenhosa, com a finalidade de se obter um incremento na
produção de forragem na caatinga, pelo aumento da disponibilidade de folhas de árvores e
arbustos, e pela maior produção de fitomassa do estrato herbáceo ; c) produção e conservação de
forragens como ensilagem, fenação e amonização de palhas e restos de culturas; d) diversificação
das criações adaptadas à região semi-árida como caprinos, ovinos deslanados, galinha caipira e
bovinos adaptados às condições desta região; e) melhoramento genético dos animais; f) profilaxia
dos rebanhos e redução dos mesmos através do descarte de matrizes e de animais pouco
desenvolvidos; g) produção de mel silvestre.
Esta série de tecnologias e práticas são acessíveis e coerentes com a realidade do nosso
homem do campo. Devem ser aplicadas e de maneira devida, pois assim contribuirão
decisivamente para a convivência do homem com as estiagens prolongadas, obtenção de índices
expressivos na produção e produtividade pecuária e fixação da população na zona rural.
DEFENSIVO NATURAL: uma alternativa para o semi-árido
Edilza dos Reis Silva *
Dinorah Lobo dos Santos Souza **
Romualdo de Almeida ***
Um grupo de técnicos da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, visando
contribuir com um novo modelo de desenvolvimento agroecológico sustentável, que utilize os
recursos naturais de forma harmoniosa, promova equilíbrio ambiental e torne a vida no planeta
mais saudável, resolveu catalogar a utilização de alguns defensivos agrícolas naturais como
alternativa
ao
modelo
de
desenvolvimento
agrícola
convencional,
que
beneficiou
preferencialmente a grande indústria química e mecânica, promovendo desastre ecológico,
contaminação dos rios, mortes de milhares de trabalhadores, contribuindo, também, para a
migração do homem do campo para as grandes cidades.
Considerando que a agricultura orgânica se apresenta, neste contexto, como uma alternativa
sócio-econômica viável em face da sua grande e crescente aceitação pelo mercado consumidor, a
catalogação destas tecnologias alternativas propiciará a divulgação de técnicas mais simples, de
baixo custo e ecologicamente corretas.
O sistema alternativo de produção realiza o manejo fitossanitário através do combate integrado
de pragas e doenças, identificando a espécie de praga e/ou doença presente nas plantas,
verificando se realmente o ataque é intenso e justifica uma intervenção. É importante lembrar
que toda praga tem pelo menos um inimigo natural.
A agricultura orgânica tem contribuído para a redução do uso de agrotóxico em todo o mundo.
*
Enga Agrônoma, MSc , Responsável Técnico do Laboratório Oficial de Análise de Sementes
da EBDA Regional de Feira de Santana.
**
Socióloga Esp. em Saúde Pública, Coordenadora do Núcleo de Comunicação da EBDA
Regional de Feira de Santana.
***
Técnico Agrícola da EBDA Regional de Feira de Santana.
PRESERVAÇÃO E AVALIAÇÃO IN SITU E EX SITU DE
CAPRINOS NATIVOS DO TIPO REPARTIDA
Antonio Gonçalves Serafim da Silva*
Frederico Medeiro Rodrigues**
Farouk Zacharias***
José Hugo Félix Borges****
O efetivo caprino nacional está em torno de 12 milhões de cabeças, cabendo ao Nordeste 91% do
total e à Bahia 33%, representando 4 milhões. No Estado há significativa concentração desses
pequenos ruminantes nos municípios de Juazeiro, Casa Nova, Sento Sé, Uauá, Curaçá, Jaguarari
e Senhor do Bonfim, onde se detém cerca de 60% desse efetivo, com predominância de animais
do tipo Sem Raça Definida (SRD) e algumas representações de raças nativas como a Marota,
Moxotó e os tipos Canindé, Gurguéia e Repartida, além de se contar com raças introduzidas
como Mambrina, Anglonubiana e Bhuj e de seus mestiços, proporcionando redução da presença
de indivíduos dos tipos nativos, considerados adaptados às condições do semi-árido. O objetivo
do subprojeto é a recomposição do rebanho de caprinos do tipo Repartida, da EBDA, a avaliação,
a seleção de animais superiores, para preservação do ecotipo e para futuros trabalhos de
melhoramento genético, tornando-os disponíveis aos rebanhos do Nordeste por meio da
crioconservação a ser conduzida pelo CNPCaprinos. O trabalho está sendo conduzido na Estação
Experimental de Caraíba, no distrito de Pilar – Município de Jaguarari-BA, com duração de três
anos consecutivos, a partir de 2001, iniciado com um rebanho de 56 matrizes e dois reprodutores,
sendo 26 matrizes remanescentes do rebanho da EBDA e os demais foram adquiridos de
criadores da região. O acasalamento é controlado de forma que aleatoriamente cada reprodutor
cubra 28 matrizes, durante a estação de monta de 60 dias/ano. O desmame ocorre aos 112 dias de
idade. O acompanhamento ponderal das crias será avaliado no nascimento, e aos 28, 56, 84, 112,
168 e 365 dias de idade. Serão registrados intervalos entre partos, prolificidade e peso das
matrizes ao desmame das crias, idade e peso à primeira cobrição. Os machos e fêmeas são
avaliados quanto às características de ganho em peso diário, do nascimento à desmama e, desta,
ao primeiro ano idade. A análise estatística será realizada pelo programa SAS (1990) para dados
descritivos, por meio do método de quadrados mínimos para repetições nas subclasses (Harvey,
1990).
* Antonio Gonçalves Serafim da Silva é Médico Veterinário, MS da EBDA Regional de Juazeiro
** Frederico Medeiro Rodrigues é Médico Veterinário MS da EBDA de Salvador
*** Farouk Zacharias, Médico Veterinário da SEAGRI
**** José Hugo Félix Borges é Engº Agrônomo da EBDA Regional de Juazeiro-Ba
EFEITO DO ESTRESSE SALINO SOBRE A PRODUÇÃO
DE BIOMASSA EM PLÂNTULAS DE UMBUZEIRO
(Spondias
tuberosa)
CULTIVADAS
EM
SOLUÇÃO
NUTRITIVA. Magnólia Góes Silva¹, Solange Maria Costa de
Amorim².
²Laboratório
¹Aluna
Pós-Graduação
de
em
Ecofisiologia
Botânica/UEFS;
Vegetal/UEFS.
([email protected])
RESUMO: o umbuzeiro (Spondias tuberosa) é uma planta
nativa do semi-árido do Nordeste brasileiro, que apresenta
uma produção significativa, possibilitando o extrativismo de
seu fruto por pequenos agricultores, constituindo-se em fonte
complementar de renda e, muitas vezes, como única renda
para algumas famílias rurais. Um dos fatores ecológicos que
provoca sérios problemas na produção agrícola, em especial
no Nordeste brasileiro é a salinidade dos solos. Com o
objetivo de avaliar a produção de biomassa da parte aérea e da
raiz em plântulas de umbuzeiro submetidas ao estresse salino,
realizou-se um experimento na Unidade Experimental Horto
Florestal, UEFS, em
indivíduos
micorrizados
e
não
micorrizados, cultivados em solução nutritiva de Hoagland,
com três níveis de NaCl (0, 100 e 150 mM) durante nove dias.
O delineamento estatístico foi inteiramente casualisado com
quatro repetições. O aumento dos níveis de sal resultou em
um decréscimo na produção de biomassa tanto da parte aérea
quanto das raízes nos dois grupos de plântulas, não havendo
diferença estatística entre os indivíduos micorrizados e não
micorrizados. O efeito depressivo da salinidade sugere que o
umbuzeiro apresenta baixa produção limitada em solos
salinos.
TÍTULO: ESTUDO ETNOBOTÂNICO COMO SUBSÍDIO PARA RESGATE DE CULTURA
POPULAR
Ana Carolina da Cunha Rodrigues
Mestranda do curso de Botânica da Universidade Estadual de Feira de Santana.
INTRODUÇÃO
Plantas sempre foram usadas como meio eficaz para curar diversas doenças, desde que o
homem começou a entender sua participação no meio ambiente e que este fornecia os elementos
essenciais para sua vida.
Os métodos de cura eram baseados no empirismo, buscando um aproveitamento ou não
dos princípios ativos (VAN DEN BERG, 1982). O que mais tarde, no final da Idade Média, seria
o que os alquimistas chamavam de quintessência, “o princípio portador das propriedades
curativas” (RODRIGUES, 2001).
Com o passar do tempo o homem dito “civilizado” perdeu a raiz de sua existência e
começou a dar maior valor aos medicamentos industrializados. Atuavam com eficácia, apesar dos
efeitos colaterais, mas foram surgindo doenças graves e muito difíceis de se chegar a uma cura. A
partir daí se iniciou um resgate das culturas populares e a busca desse conhecimento empírico
passou a ser uma corrida para a descoberta de novas substâncias e a validação de novos remédios.
Segundo AMOROZO (1996) há muitos exemplos de drogas com ação farmacodinâmica
derivadas de plantas que são usadas na chamada medicina popular e que foram incorporadas à
farmacopéia, dois deles são os curares e os digitálicos. ELISABETSKY (1991) ainda reforça a
importância da etnobotânica para a procura de novas drogas, e AMOROZO (1996) explica que
isso pode trazer uma gama de informações úteis como base para estudos fitoquímicos,
agronômicos e farmacológicos, economizando tempo e investimentos.
Enfim, a etnobotânica faz com que se planeje a pesquisa em cima do conhecimento
empírico e a partir daí testar essa informação cientificamente.
Quando se faz um estudo etnobotânico, não se está apenas buscando o conhecimento do
indivíduo mas a experiência acumulada ao longo da história que foi transmitida pelas várias
gerações além de novas experiências compartilhadas pela geração atual. Não se torna um
conhecimento estagnado no tempo, mas progressivamente adaptado às novas realidades, dentro
dos seus dois modelos: da ciência e do senso comum, respectivamente do saber e do conhecer
(TOLEDO, 1992).
A maior dificuldade do pesquisador está em extrair as informações sem interferir na
resposta e nas atitudes do entrevistado, em ser apenas um agente passivo da entrevista. Mas
quando se fala com os verdadeiros atores sociais, que são os indivíduos das comunidades rurais,
das tribos e de culturas tradicionais, há um certo receio e introspecção. Por isso, tem que se tomar
cuidado para que não haja omissão de algumas informações. Então, como poderia haver
credibilidade nas respostas? Os chamados “agentes da ciência moderna” têm que mudar a
concepção de que são apenas agentes transmissores de conhecimento, aquele conhecimento que
acham ser unicamente correto, ainda arraigado, para serem alunos de uma prática que tem uma
longa história de interação com o ecossistema, e que se mostra mais adequada e até mesmo mais
eficiente em alguns casos.
TOLEDO (1992) ainda diz que a moderna civilização se desenvolveu em cima da
destruição da natureza e do ambiente rural e que esse desenvolvimento se baseia em apenas dois
pressupostos. O primeiro seria a falsa idéia da inferioridade das culturas rurais com relação aos
agentes da ciência moderna; e o segundo seria a tese central do cientificismo, de que a ciência é a
única forma válida de conhecimento, capaz de resolver os problemas associados ao manejo dos
recursos naturais.
Com a tomada de consciência do conceito e do objetivo da etnoecologia, e de todas as
suas correntes precursoras, que está justamente na busca de um conhecimento e experiências
alternativas, começou a ocorrer uma destruição do monopólio epistemológico imposto pela
ciência.
Mas como fazer um estudo etnobotânico sem a interferência do pesquisador nos
resultados e sem omissão de informações por parte do entrevistado? Em um estudo realizado por
RODRIGUES (2001) no Povoado Sapucaia, área rural localizada no município de Cruz das
Almas – Bahia, foram obtidas informações sócio-econômicas e também quanto ao uso das
plantas para fins medicinais. Este estudo serviu para diagnosticar a comunidade local com relação
ao poder aquisitivo X uso de plantas, além das doenças mais comuns e quais as espécies mais
indicadas, e com isso pôde-se perceber e reafirmar a importância do conhecimento popular como
base e servindo de subsídio para outros estudos científicos.
METODOLOGIA
AMOROZO (1996) comenta que para uma pesquisa em etnobotânica, deve-se se basear
em dois pontos: a coleta das plantas e a coleta de informações sobre as mesmas.
Para início da pesquisa foi feito um contato prévio com a enfermeira e duas agentes
comunitárias, todas também moradoras do povoado. Esse primeiro contato foi para explicar a elas
os objetivos do trabalho e para que intercedessem junto aos outros moradores, de uma maneira
que não houvesse desconfiança da verdadeira finalidade da pesquisa e se acostumassem com a
participação na mesma.
Foram feitas entrevistas semi-estruturadas, através de um questionário sócio-econômico
(figura 1), com os membros de 75 famílias, escolhidas ao acaso com o intuito de ratificar o baixo
poder aquisitivo dessas famílias, verificar a incidência de doenças, e o crescente uso de plantas
medicinais para cura das enfermidades ou abrandamento de seus sintomas.
Figura 1 – Questionário utilizado durante as entrevistas.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE BIOLOGIA
TRABALHO DE MONOGRAFIA
QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO
Rua:____________________________________________________________ Casa n.º_________
1- Quantas pessoas moram na residência?
__________________________________
2- Qual a renda total da família?
__________________________________
3- Alguém faz uso constante de remédios? Quais?
_______________________________________________________________________________
4- Quais os casos de doenças na família?
_____________________________________________________________________________________
5- Alguém já utilizou alguma planta medicinal por conta própria? Quais e para quê?
______________________________________________________________________________
6- Tem alguma plantada no quintal ou jardim? Quais? Ou, se adquiriu na feira, quanto custou?
_____________________________________________________________________________________
7- De onde vem esse conhecimento sobre ervas?
( ) pais e avós ( ) tv ( ) revistas ( ) vizinhos ( ) outros__________________________________
AMOROZO (1996) diz que em sociedades tradicionais, como é o caso de comunidades
rurais, a transmissão do conhecimento é feita oralmente e passado dentro do próprio grupo
doméstico e de parentesco, sempre os mais jovens acompanhando os mais velhos nas coletas,
trabalhos nas lavouras e no cuidado com os doentes. É uma transmissão teórico-prática onde
ocorre a absorção de todas as codificações, nomenclaturas, crenças, etc. Além disso, geralmente
os remédios para os problemas que ocorrem nas mulheres são mais conhecidos pelas mulheres e
também as plantas que estão distribuídas próximo à residência. Já para os homens, a tendência é
conhecer melhor os ambientes mais distantes, mas isso não é regra.
Então, para o registro dos dados foi utilizada a linguagem do indivíduo e foram anotados
da mesma maneira que foram apresentados, sem nenhum tipo de alteração ou interpretação, e não
houve escolha de quem responderia as perguntas, se um ou mais membros, se jovens ou idosos.
As plantas que se encontravam em condições fenológicas foram coletadas e à cada uma
foi anexada uma ficha de identificação que continha, entre outros dados, hábito, cor da
inflorescência e nome popular. Elas foram preparadas para prensagem de acordo com a
metodologia usual e levadas à estufa a 60ºC. Para a identificação forma usadas chaves e
bibliografias específicas como Freire (1943), Martius (1840/1906), Lewis (1987) e Bonnier &
Layens (1993), e ainda consultados os acervos dos Herbários Alexandre Leal Costa (ALCB) do
Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia e Antônio Nonato Marques (BAH) da
EBDA, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola.
O sistema de classificação utilizado foi o de Cronquist (1986) e o material está depositado
no ALCB.
RESULTADOS
Por se tratar de um povoado tipicamente rural, foi constatado que os moradores conviviam
com dois tipos de ambientes: são encontradas áreas regularmente manejadas, que são as terras
produtivas (fazendas e sítios), os jardins e os quintais; e as áreas improdutivas, que são os
terrenos que foram abandonados.
As famílias eram tradicionalmente rurais, mas o baixo preço dos produtos, fazia com que
eles mudassem suas culturas, algumas fazendas implantavam a pecuária, ou abandonavam as
terras e o serviço no campo para procurar emprego na cidade.
O questionário reafirmou principalmente o baixo poder aquisitivo da população, com 84%
das famílias tendo um salário mínimo, naquele período, como renda mensal, cerca de R$150,00,
sendo que haviam residências com apenas 1 morador enquanto outras abrigavam 16 pessoas.
7,6% dessas residências tinham algum morador com doença que necessitava de algum tipo de
assistência médica e uso de medicamentos (figura 3).
Figura 3 - Percentagens de cada doença dos moradores do Povoado
Sapucaia - Cruz das Almas - Bahia - 2000/2001
1,6%
4,9% 1,6%
3,3%
1,6%
1,6%
39,3%
13,1%
3,3%
4,9%
1,6%
1,6%
1,6%
11,5%
Hipertensão- 39.3%
Epilepsia-1.6%
Coração-8.2%
Diabete-11.5%
Tireóide-1.6%
Coluna-1.6%
Doença mental-4.9%
Alcoolismo-3.3%
Garganta-13.1%
Deficiência B-1.6%
Próstata-1.6%
Hemorróida-1.6%
Sinusite-3.3%
Alergia-4.9%
Colesterol alto-1.6%
8,2%
A hipertensão despontava em primeiro lugar, com 39,3% e isso pode demonstrar dois
problemas principais: pode ser uma expressão genotípica ou: os problemas os quais se pensava
existirem apenas nas grandes cidades, como estresse e problemas financeiros, estão se
expressando com relativa rapidez e intensidade nos moradores, que tinham uma vida simples e
saudável, típica de interior. Segue-se problemas de garganta, com 13,1%, diabete, com 11,5%, e
problemas de coração, com 8,2%.
Mesmo com esses problemas de saúde, 62,7% desses moradores doentes não utilizavam
os medicamentos alopáticos, recorriam às propriedades curativas encontradas nas plantas e,
segundo eles, com a mesma eficiência ou até melhor, pois não descreviam sintomas de efeitos
colaterais.
As plantas e os seus usos se encontram na tabela abaixo (tabela1).
Tabela 1 – Plantas citadas pelos moradores do Povoado Sapucaia
Nome vulgar
Mentrasto
Água-de-elefante
Carambola
Pata-de-vaca
Picão
Coerana
Mastruz
Maria-milagrosa
Cabeça-de-formiga
Suspiro-branco
Crista-de-galo
Rosedá
Cordão-de-são-francisco
Erva-cidreira
Alfazema
Quioiô
Anador
Quebra-pedra
Tranchagem
Alfavaquinha-de-cobra
Geratataca
Brilhantina
Hortelã-grosso
Nome científico
Uso popular
Acalypha ambiodonta Muell. Dores em geral
Arg. ALCB049708
Alpinia speciosa K. Schum. Pressão alta, problemas do
ALCB049723
coração, calmante, pós-parto,
problemas menstruais, dores
em geral
Averrhoa
carambola
Linn. Pressão alta e diabete
ALCB049707
Bauhinia
monandra
Kurz. Diabete
ALCB049716
Bidens
pilosa
Linn. Inflamação,
problemas
de
ALCB049711
pressão e renais
Cestrum
laevigatum
Schl. Emoliente
ALCB049714
Chenopodium ambrosioides L. Vermes e gripe
ALCB049726
Cordia curassavica (Jacq.) Tontura
Roem & Schult. ALCB049717
Croton lobatus L. ALCB049702 Inflamações
Gomphrena desertorum Mart. Calmante,
problemas
de
ALCB049701
pressão e coração
Heliotropium
indicum
Linn. Hematomas nos olhos
ALCB049710
Lawsonia
inermis
L. Unheiro
ALCB049721
Leonotis nepetifolia (L.) R. Br. Dores em geral
ALCB049704
Lippia alba N. E. Brown Pressão
alta,
calmante,
ALCB049722
flatulência, dores em geral, malestar
Lippia
lycioides
Steud. Dor de cabeça
ALCB049712
Ocimum campechianum Mill Dores em geral, problemas de
ALCB049709
estômago, flatulência, evitar
derrame cerebral
Pfaffia
glomerata
(Spreng) Dores em geral
Pedersen ALCB049719
Phyllanthus niruri (L. em.) Müll. Cálculos renais, problemas de
Arg. ALCB049728
fígado
Plantago major L. ALCB049725 Controlar pressão, inflamação e
problemas de garganta
Peperomia pellucida Kunt. et Dor de barriga, gripe e
H.B.K. ALCB049713
problemas de pressão
Petiveria
alliaceae
L. Sudorífica e diurética
ALCB049705
Pilea
microphylla
Liebm. Dor de barriga
ALCB049727
Plectranthus amboinicus (Lour.) Calmante
Spreng. ALCB049718
Tabela 1 - Plantas citadas pelos moradores do Povoado Sapucaia (continuação)
Nome vulgar
Capeba
Sabugueiro
Gerebão
Cravo-de-defunto
Alumã
Nome científico
Pothomorphe umbellata Miq.
ALCB049715
Sambucus
nigra
L.
ALCB049706
Stachytarpheta dichotoma Vahl.
ALCB049703
Tagetes patula L. ALCB049720
Vernonia condensata Baker.
ALCB049724
Uso popular
Dor de barriga, problemas de
fígado e rim
Gripe,
sarampo,
catapora,
induzir vômito
Dor de barriga, problemas de
fígado
Gripe
Dores em geral, problemas
causados por bebidas
CONCLUSÃO
Apesar do crescimento no número de estudos, principalmente etnobotânicos e
etnofarmacológicos, ainda existe muito trabalho a ser feito, pois em um país como o Brasil a
maior parte da flora ainda é quimicamente desconhecida, confirma-se pelas grandes extensões de
florestas sem nenhum tipo de pesquisa, apesar do acelerado processo de degradação ambiental.
O trabalho com plantas medicinais é continuado e não se finda com o estudo
etnobotânico. Ele mesmo comprova sua grande importância na busca de novas drogas com
potencial para combater não só os sintomas, mas que possam anular sua causa. Ele não reflete
apenas um resgate de uma cultura popular tradicional, mas com ele se inicia um criterioso estudo
interdisciplinar em busca da cura de doenças que afetam a humanidade, esperando-se com isso
melhorar a qualidade de vida do indivíduo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMOROZO, MARIA CHRISTINA DE MELLO. A abordagem etnobotânica na pesquisa de
plantas medicinais. In: Di Stasi, Luiz Claudio (org.). Plantas Medicinais: arte e ciência. Um
guia de estudo interdisciplinar. São Paulo: UNESP, 1996. 230p.
BONNIER, GASTON; LAYENS, GEORGES DE. Claves para la Determinatión de Plantas
Vasculares. Barcelona: Ediciones Omega S.A.. 1993. 398 p.:il.
ELISABETSKY, E. Sociopolitical, economical and ethical issues in medicinal plant research.
Journal of Ethnopharmacology. V. 32, p. 235 – 239. 1991.
FREIRE, CARLOS VIANA. Chaves Analíticas. 3ª edição. Rio de Janeiro: Oficina Gráfica do
Jornal do Brasil. 1943. Apostilas.
LEWIS, G. P. Legumes of Bahia. Royal Botanic Gardens Kew. 1987. 323 p.:il.
MARTIUS, C. F. P. von et al. Flora Brasiliensis. Mônaco, Lipsiai apud Frid. Fleischer in
Comm. 1840/1906.
RODRIGUES, ANA CAROLINA DA CUNHA. Levantamento das Plantas Medicinais
Utilizadas no Povoado Sapucaia – Cruz das Almas – Bahia. Salvador, 2001, 75 p.:il.
Monografia (Bacharelado em Ciências Biológicas) – Instituto de Biologia , Universidade Federal
da Bahia – UFBA.
TOLEDO, M. P. What is ethnoecology? Origins, scope and implications of a rising discipline.
Etnoecológica. 1(1): 5 – 21. 1992.
VAN DEN BERG, MARIA ELISABETH. Plantas Medicinais na Amazônia – Contribuição
ao seu conhecimento sistemático. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico. 1982. 223 p.:il.
O papel das ONG´s (Organizações Não Governamentais) e associações no Meio Rural de Irecê –
BA: o caso da Cáritas
Carlos Ney Nascimento de Oliveira, Rita de Cássia Coelho da Silva – graduandos de Geografia –
UEFS.
O município de Irecê está localizado no noroeste da Bahia, numa região semi – árida, possuindo
como principal base econômica a agricultura ,predominando as culturas de sequeiro (feijão,
milho e mamona) extremamente dependentes das condições naturais. O que também torna a
população rural (cerca de 10.000 pessoas, SEI.94) subordinados ao clima, principalmente, devido
aos baixos investimentos por parte do Estado. Neste contexto, a sociedade civil e a própria
população rural organizam-se na busca de soluções para os principais problemas. Partindo deste
pressuposto, o presente trabalho objetiva analisar o papel das ONG´s e associações, e
especificamente a ação da Cáritas no Meio Rural de Irecê. Por isso realizou-se levantamento
bibliográfico a respeito do município, entrevista semi – estruturada e análise de campo.
Verificou-se que as principais entidades atuantes são: GARRA (Grupo de Apoio e de Resistência
Rural e Ambiental), Sindicato dos Produtores Rurais, COPIRECÊ (Cooperativa de Irecê),
Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Cáritas. A Cáritas constitui-se num programa de ação
social da Igreja Católica, existente no município há pouco mais de 3 anos, tem como objetivo
melhorar a qualidade de vida das comunidades rurais, e atua, principalmente em 2 linhas de ação:
oficinas e capacitações, e a construção de cisternas, totalizando 200 já construídas e beneficiando
7 comunidades extrapolando a zona rural de Irecê. Assim, observa-se que as ONG´s e
associações, ressaltando-se a Cáritas, despontam como agentes de grande relevância social e
econômica para a população de Irecê.
Análise do período “chuvoso” principal de Feira de Santana, como subsidio para a
agricultura.
Carlos Ney Nascimento de Oliveira – graduando de Geografia – pesquisador / bolsista
Estação Climatológica 83221 – UEFS / INMET. Gildarte Barbosa da Silva (orientador)
Prof. Ms Detec. Coordenador da Estação Climatológica 83221 – UEFS / INMET.
As atividades agrícolas na região de Feira de Santana são extremamente dependente das
condições climáticas, e por ser uma área semi – árida as precipitações pluviométricas
adquirem importância fundamental sendo o fator mais influenciador das condições
ambientais, pois alem do efeito direto que determina sobre o balanço da água, influencia
outras variáveis (independentes) como temperatura do ar e do solo, umidade evaporação
e radiação solar. Desta forma a quantidade e intensidade da mesma pode determinar o
sucesso ou o fracasso da atividade agrícola. Partindo deste pressuposto o presente
trabalho objetiva analisar climaticamente o período “chuvoso” principal, época em que
ocorre o ápice das atividades agrícolas em Feira de Santana.Para tanto realizou-se
análise estatística dos dados coletados diariamente na Estação Climatológica da UEFS,
durante 1993 – 2002. Calculou-se os desvios em relação à normal climatológica, o
Índice de Variabilidade Temporal de Precipitação, o SPI (Índice de Precipitação
Padronizada), Índice de seca anual para estação chuvosa, e a variabilidade de
precipitação do período chuvoso principal. Observou-se que o período chuvoso
“principal” da Normal Climatológica (a media do período 1945 – 1983) corresponde a 5
meses, indo de Março a Julho, nos últimos 10 anos restringiu-se a 3 meses, Abril a
Julho devido aos menores índices de precipitação anual, 11% menores que a Normal
Climatológica, porém representa em média 34,4% do total anual. Dos 10 anos em
estudo, a freqüência do período “chuvoso” principal ser realmente o de maior índice
pluviométrico foi de 70%. Por outro lado pelo calculo do SPI, o período apresentou 1
seca severa, 2 secas moderadas, 3 secas suaves, 3 vezes foi chuvoso moderado e 1 muito
chuvoso; freqüência de 60% para qualquer tipo de seca. Diante disso, verifica-se que o
período chuvoso é regular, porém o total de precipitação é irregular confirmado pelo
índice de variabilidade igual a 0,35 considerado alto; o que é muito prejudicial para a
agricultura.
Palavras- Chave: Precipitação Pluviométrica, Normal Climatológica – agricultura.
PERÍODO DE DEFICIÊNCIAS E EXCEDENTES HÍDRICOS EM FEIRA DE
SANTANA – BA
Carlos
Ney
Nascimento
de
Oliveira
–
Pesquisador/Bolsista
Estação
Climatológica 83221/UEFS Gildarte Barbosa da Silva (orientador) Prof.Ms.
DETEC Coordenador da Estação Climatológica 83221/UEFS
A Universidade Estadual de Feira de Santana através do Departamento de Tecnologia
empenhada no estudo e monitoramento dos elementos climáticos tomou como meta a utilização
da Estação Climatológica para prover benefícios ao homem do campo da região semi-árida da
Bahia, tentando, juntos, solucionar problemas de ordem agroclimática. Diante disto, o presente
trabalho objetiva analisar e caracterizar os períodos de deficiência e excedentes hídricos, para
subsidiar os agricultores a melhor investirem na produção. Realizou-se análise estatística dos
dados de precipitação, temperaturas, umidade, evaporação e insolação coletados diariamente na
Estação Climatológica da UEFS durante 1993-2002, e os dados da normal climatológica (média
do período: 1945-1983) fornecidos pela SUDENE. Calculou-se a evapotranspiração diária,
mensal e anual segundo o método de Thorntwaite (1962), foram elaborados balanços hídricos
mensais, e anuais segundo Thorthwaite e Matther (1958) e determinados os períodos úmidos,
subúumidos, subsecos e secos. Observou-se, que a média de precipitação do período (769,3 mm)
foi 11% menor que a normal climatológica (869,9 mm) demonstrando pequena tendência da
diminuição dos excedentes hídricos, e logicamente aumento da deficiência hídrica anual, a qual
passou de 380,7 mm, na média histórica a 562,3 no período 1993-2002. Para a média dos 10
anos, o balanço hídrico demonstrou deficiência hídrica em 11 meses, com uma leve reposição em
junho, enquanto que na normal climatológica há 4 meses com excedente (abril, maio, junho e
julho) 1 com reposição (março) e 1 com retirada (agosto) e 6 com deficiência. Em relação a
freqüência, para 1993-2002, janeiro, fevereiro e setembro apresentaram 100% de déficit, e maio e
junho apresentaram 60% e 50% de excedentes. Diante disso, verifica-se que os meses mais
regulares em deficiência são os de primavera/verão, e os de excedente os meses de
outono/inverno.
GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE LICURI (Syagrus coronata (Mart.) Becc.): EFEITO
DO ARMAZENAMENTO E TRATAMENTOS PRÉ-GERMINATIVOS. Manuela Oliveira
de Souza Rodrigues1, Noeli Oliveira Santana Carvalho1, Iara Cândido Crepaldi2 e Claudinéia
Regina Pelacani2. 1Pós-graduação em Botânica – UEFS;
2
Departamento de Ciências
Biológicas – UEFS.
O licuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc.) é uma palmeira que possui diversas utilidades, no
entanto a exploração não planejada tem colocado a espécie em risco. Estudos que possam
esclarecer sobre o conhecimento da espécie são fundamentais para a preservação. Esse
trabalho objetiva avaliar o efeito da idade pós-colheita na germinação sob diferentes
condições de armazenamento das sementes de licuri; examinar o efeito da embebição e do
ácido giberélico na aceleração e uniformização desse processo e acompanhar o crescimento e
desenvolvimento inicial de plântulas. Sementes recém-colhidas foram armazenadas em:
temperatura ambiente (29 ± 2 ºC), câmara fria (5 ± 2 ºC), ambiente saturado e ambiente com
baixa umidade, durante 30, 60 e 90 dias consecutivos, exceto o controle (idade 0), que era
imediatamente semeado em terra e areia (2:1). Para avaliar o efeito da embebição na
germinação, sementes com e sem endocarpo foram mantidas em água destilada por 0 a 96
horas. Solução de ácido giberélico nas concentrações de 0 a 1000ppm foram fornecidas as
sementes durante 0 a 48 horas. As sementes foram arranjadas sobre papel germitest e
mantidas em câmara de germinação a 30°C, com fotoperíodo de 12 horas. Utilizou-se lotes de
100 sementes divididas em 5 repetições de 20 sementes para cada tratamento. Diâmetro do
colo, altura e número de folhas foram avaliadas mensalmente em plântulas de licuri com 5
meses de idade cultivadas em terra, terra + adubo orgânico e terra + NPK, mantidas sob 50%
de luminosidade e luz plena. Os resultados quanto ao armazenamento indicaram que as
sementes em todas as idades apresentaram menores taxas de germinação quando comparadas
ao controle (61%). Em termos de temperatura ambiente, em todas as idades, as sementes
mostraram comportamento semelhante, sendo elevada a taxa de germinação em temperatura
ambiente (53%). Para baixa temperatura, a relação idade/taxa de germinação foi inversamente
proporcional, mas em todos os casos o desempenho da germinação é significativamente
menor quando comparada com a temperatura ambiente. O parâmetro umidade (alta e baixa)
parece não interferir na taxa de germinação. Quanto ao efeito da embebição a germinação
iniciou-se no 2º e 16º dia após a semeadura para as sementes sem endocarpo e com
endocarpo, respectivamente. As maiores taxas de germinação nas sementes com endocarpo
ocorreram quando embebidas por 24 h (49%) e 96 h (36%). Já nas sementes sem endocarpo,
observou-se que exposição superior a 48h promoveu a deterioração dos tecidos. Soluções de
ácido giberélico parece não ter efeito expressivo na germinação quando comparados com o
controle (31%), no entanto a maior concentração (1000 ppm) promoveu uma germinação de
52% e 50%, quando exposta a 12 e 48 h, respectivamente. Em relação ao desenvolvimento de
plântulas evidenciou-se um maior crescimento, para todos os parâmetros avaliados, quando
mantidas sob cultivo de 50% de luz.
Potencialidades de frutos de quixabeira (Sideroxylon obtusifolium Penn.) no Semi-Árido
Nordestino, determinados através das características físico-química dos frutos e correlação
entre caracteres da produção.
Marlon da Silva Garrido1 Luciene do Nascimento Mendes1 Ruberval Leone Azevedo2
1
Estudantes de Pós-graduação do Mestrado em Ciências Agrárias da Universidade Federal da
Bahia (UFBA). Cruz das Almas - BA. (E-mail: [email protected]).
2
Estudante da Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia. Cruz das Almas - BA.
INTRODUÇÃO
A quixabeira é uma espécie que ocorre na região da caatinga no Nordeste, na restinga da
costa litorânea do Ceará e do Rio Grande do Sul, no Pantanal Mato-Grossense, sendo muito
freqüente no Vale do São Francisco. É característica das várzeas úmidas e da beira de rios da
caatinga arbórea, das restingas litorâneas e da mata chaquenha do Pantanal Mato-Grossense.
Ocorre preferencialmente em solo argilosos e ricos em cálcio e apresenta uma distribuição
predominantemente descontínua ao longo da área que ocupa. A árvore é perenifolia e possui copa
densa e elegante, sendo utilizada com sucesso na arborização rural em fazendas, tanto no
Pantanal Mato-Grossense como na região Nordeste. A madeira também é usada em carpintaria e
no artesanato, como na modelagem de esculturas (carrancas). Os frutos, denominados de
quixabas, são comestíveis e avidamente procurados por pássaros e outros animais silvestres. A
casca tem aplicações medicinais. A espécie floresce durante os meses de outubro e novembro,
quando há o surgimento de nova folhagem. Os frutos amadurecem nos meses de janeiro e
fevereiro. Produz anualmente uma abundante quantidade de sementes viáveis, que são
disseminadas normalmente pela avifauna (Lorenzi, 1998).
Considerando as dificuldades impostas pelo clima da região Semi-Árida aos produtores
rurais, é de crucial importância a busca de alternativas que não incorram em custos elevados de
implantação e risco de adaptação, comuns nas culturas tradicionais (milho, feijão, mandioca),
mas que possam influenciar positivamente na renda dos produtores, de modo a colaborar para sua
fixação, evitando os conhecidos problemas provenientes do êxodo rural (Ramos, 19--).
No presente trabalho, apresentamos a quixabeira como uma alternativa potencial, que
pode ajudar a diminuir os problemas relacionados acima, graças as características próprias da
espécie. Desta forma, foram realizadas avaliações físico-químicas dos frutos de quixaba e estudo
de correlação entre caracteres da produção de frutos da safra 2000/2001 provenientes do
município de Santa Terezinha – BA, no intuito de gerar dados que possam servir de base para
estudos futuros de produtos derivados do fruto da quixabeira, como licores, vinhos, doces e
geléias, ou mesmo que permitam ações governamentais que venham a trazer alternativas
potenciais que supram a necessidade de geração de renda aos pequenos produtores da região.
MATERIAL E MÉTODOS
Os frutos coletados para as análises físico-químicas, foram provenientes do município de
Santa Terezinha, localizado a 12º 46’de latitude Sul e 39º 32’ de longitude Oeste de Greenwich.
O clima característico é semi-árido com temperatura média anual de 24,3º C e pluviosidade
média anual de 582 milímetros, concentrada de novembro a janeiro. A altitude é de 240 metros.
Os dados foram coletados em 80 frutos colhidos totalmente ao acaso de algumas plantas
da população mencionada. As análises físico-químicas, foram realizadas no Laboratório de
Fisiologia Vegetal da Embrapa Mandioca e Fruticultura, localizado na cidade de Cruz das Almas,
Bahia. Para a determinação do pH foi utilizado um potenciômetro de leitura direta no aparelho
(Digimed, modelo DM 20). Os Sólido Solúveis Totais (SST) foram determinados usando-se um
refratômetro fixo (ABBE modelo MARK II), com as amostras a uma temperatura de 20ºC
(Método refrattométrico, 1973). A acidez foi analisada pelo método de titulação com solução
padronizada de NaOH 0,1N e a fenolftaleína como indicador (Método acidimétrico, 1980) e o
resultado expresso em g/100g (com ácido cítrico). O rendimento aproximado foi calculado
através do peso de polpa dividido pelo peso total dos frutos e expresso em percentagem. A
densidade foi estabelecida utilizando-se a fórmula de peso sobre volume (g/cm3). O diâmetro e o
comprimento foram obtidos por meio de paquímetro, sendo suas unidades expressas em mm. O
peso determinou-se pelo uso de balança analítica digital, com precisão de quatro dígitos.
Os frutos utilizados para o trabalho de correlação, também foram coletados de população
de quixaba no município de Santa Terezinha-BA. O conhecimento das relações entre os
caracteres vinculados à produção reveste-se de uma importância fundamental nos projetos de
melhoramento genético, uma vez que sugere a determinação da alteração em um fator quando o
processo de seleção é praticado em outro. Os objetivos deste trabalho foram: 1) Quantificar as
correlações fenotípicas entre três caracteres relacionados à produção e 2) Efetuar estudos de
regressão linear entre eles. Os caracteres abordados foram o peso do fruto, medido em gramas, o
comprimento do fruto, medido em milímetros, e o diâmetro do fruto, também medido em
milímetros. Os dados foram coletados em 40 frutos colhidos totalmente ao acaso de algumas
plantas da população mencionada. As análises estatísticas (testes de média, análise de variância,
estudo de correlação e regressão) foram realizadas através do programa SAEG-5.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com relação às características físico-químicas analisadas, foram obtidos valores de 24,13
o
Brix para os frutos de quixaba (Tabela 1). Devido a ausência de informações sobre a cultura, e a
impossibilidade de se comparar este valor com frutos de outras regiões ou colheitas, comparou-se
o resultado com os valores obtidos para a uva, a qual apresenta 15 oBrix (Gorgatti Neto et al.,
1993). Nota-se que o fruto da quixabeira possui grande potencialidade para a produção de doces,
compotas, vinhos e licores.
Tabela 1. Resultados médios obtidos através de análises químicas de frutos de quixaba da
safra 2000/2001
MÉDIAS
DESVIO PADRÃO
PH
4,35
0,229
SST (ºBrix)
24,13
0,057
Acidez (em g de ácido cítrico/100g de amostra)
0,40
0,000
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS
O baixo rendimento de polpa (Tabela 2) é compensado pela elevada produtividade por
planta, segundo informação dos produtores que convivem na região onde a planta é abundante.
Acredita-se que a produção de uma única planta pode chegar a 60kg de frutos por safra.
Por se tratar de uma árvore adaptada a região do Semi-Árido, tal como o umbuzeiro, a quixabeira
pode vir a ter um aumento expressivo em sua produtividade, se for condicionada a adubação e
técnicas adequadas de irrigação e manejo, a exemplo do que vem sendo feito com o umbuzeiro.
Adicionalmente, uma seleção de plantas com características superiores certamente aumentará a
produtividade e qualidade da produção.
Tabela 2. Resultados médios obtidos através de análises físicas de frutos de quixaba
da safra 2000/2001
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS
MÉDIAS
DESVIO PADRÃO
Rendimento de polpa (%)
20,89
*
Comprimento (mm)
13,50
0,889
Diâmetro (mm)
10,47
0,797
Densidade (g/cm3)
0,814
0,008
Peso (g)
0,971
0,162
*O rendimento foi mensurado utilizando-se 450g de frutos, tendo um rendimento de polpa de 94g.
Em relação ao estudo das correlações obtidas, foram positivas e significativas, o que é
um indício de que fatores genéticos podem estar envolvidos nas três associações consideradas. Os
valores referentes à correlação entre o peso do fruto e o comprimento do fruto, à correlação entre
o peso do fruto e o diâmetro do fruto e à correlação entre o comprimento do fruto e o diâmetro do
fruto foram, respectivamente, 0,72, 0,90 e 0,52 (Tabela 3).
Tabela 3. Correlações fenotípicas entre os caracteres peso do fruto, comprimento
do fruto e diâmetro do fruto, em quixabeira.
CORRELAÇÕES FENOTÍPICAS 1
PF x CF
PF x DF
CF x DF
1
VALORES
0,72 *
0,90 *
0,52 *
PF: peso do fruto (gramas); CF: comprimento do fruto (milímetros); DF: diâmetro do fruto.
* Significativo a 1 % pelo Teste T.
As análises de regressão linear visando estabelecer as relações entre os três caracteres
revelaram equações com diferentes coeficientes de determinação. A equação que estabelece o
peso do fruto em função do diâmetro do fruto apresenta o maior coeficiente de determinação
(Tabela 4).
Tabela 4. Equações de regressão linear entre os três caracteres considerados com os
respectivos coeficientes de determinação (R2) e os respectivos testes de significância (F).
VARIÁVEIS1
EQUAÇÕES
R2
F
INDEPENDENTES
DEPENDENTES
CF
PF
Y = 0,13 x – 0,84
0,52
41,15*
DF
PF
Y = 0,18 x – 0,99
0,82
169,03*
CF
DF
Y = 0,47 x + 4,15 0,27
1
14,25*
PF: peso do fruto (gramas); CF: comprimento do fruto (milímetros); DF: diâmetro do fruto (milímetros).
* Significativo a 1 %.
De acordo com os resultados obtidos neste trabalho, e sendo a cultura adaptada a região
Semi-árida, podemos considerar a quixaba como uma fonte alternativa de renda aos pequenos
produtores rurais da região, pois, seus frutos apresentam características adequadas ao
processamento e fabrico de licores, doces e geléias. Nota-se entretanto, que existe a necessidade
de estudos que desenvolvam técnicas de aproveitamento dos frutos e trabalhos no sentido de
divulgar tais técnicas aos produtores. Cabe neste sentido, a inserção de ações governamentais,
que impulsionem o desenvolvimento destas tecnologias.
Tais ações permitiriam, a inclusão dos produtores no setor agroindustrial, pelo
processamento dos frutos, via cooperativa (por exemplo), agregando valor ao produto, gerando
oportunidades de emprego, contribuindo com a elevação da renda familiar e valorização do
pequeno produtor rural, criando incentivos à permanência deste na região.
CONCLUSÕES
•
Os frutos de quixaba analisados físico-quimicamente, evidenciaram seu potencial para
produção de doces, compotas, vinhos e licores pelo seu elevado grau Brix e baixa acidez.
•
Necessita-se entretanto, de estudos posteriores para o melhor aproveitamento da quixaba,
possibilitando mais uma alternativa para o desenvolvimento da comunidade rural da
região Semi-Árida.
•
Os resultados obtidos do estudo correlação, permitem concluir que tanto o comprimento
como o diâmetro está positivamente correlacionado com o peso do fruto e que o diâmetro
é mais determinante que o comprimento na manifestação do peso.
•
A cultura apresenta excelente potencial de utilização para geração de renda aos pequenos
produtores rurais do Semi-árido, para tanto, faz-se necessária a atuação de órgãos
governamentais e universidades no intuito de dar suporte técnico ao planejamento e
desenvolvimento de futuras ações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GORGATTI NETTO, A.; et al. Uva para exportação: procedimentos de colheita e pós
colheita. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1993. p.40. (Série publicações técnicas FRUPEX; 2).
LORENZI, H. Árvores brasileiras: Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas
nativas do Brasil. Editora Plantarum, Nova Odessa - SP, ed. 2. 1998.
MÉTODO refrattométrico. London. Laboratory thechniques in food analysis. Lond.,
Butterworths, London. 1973. p. 58-60.
MÉTODO acidimétrico, The Association of Official Analytical Chemists, D.C. 12 th ed. 1980,
1018p.
RAMOS, S. Problemas na difusão de tecnologias aos pequenos produtores do Nordeste
Semi-Árido. Brasília, Revista de Economia e Sociologia Rural, ed. especial 1979 a 1998 (CDROM) .
PRESERVAÇÃO E FOMENTO DE SUÍNOS DA RAÇA PIAU
PARA O ESTADO DA BAHIA
Alberto de Almeida Alves*
No Nordeste, especialmente no Estado da Bahia, apesar do maior retorno econômico de se
produzir o suíno do tipo carne (raças exóticas), observa-se grande número de pequenos
produtores com a criação de suínos de raças nacionais (90% do rebanho existente),
caracterizando este tipo de exploração por baixos índices de produtividade, animais com grande
porcentagem de gordura e abatidos tradicionalmente após prolongado período de recria e
engorda. A produção final obtida destina-se ao consumo familiar e à comercialização em feiras
livres, através de intermediários. Nessa situação, é raro o produtor atender às reais necessidades
do mercado e/ou use alguma técnica aprimorada de manejo.
Visando interferir nesta realidade, instalou-se na Unidade de Execução de Pesquisa do Paraguaçu
da Gerência Regional de Itaberaba – EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, a
criação de suínos puros da raça Piau, para preservar a raça e fomentar a atividade da suinocultura
através da distribuição de matrizes e reprodutores aos criadores de todo o Estado. Aliado a este
trabalho de melhoramento dos índices de produtividade e zootécnicos, com a introdução de uma
raça nacional de reconhecida prolificidade, rusticidade e precocidade, estamos realizando práticas
de manejo racional e científico, socialmente apropriados à pequena produção.
O plantel existente de suínos da raça Piau, na Unidade Experimental de Pesquisa do Paraguaçu,
encontra-se estabilizado em 3 reprodutores, 20 matrizes e 5 fêmeas nulíparas que produzirão 250
bacuris/ano para distribuição a 73 pequenos produtores, previamente selecionados por
extensionistas dos escritórios locais da EBDA.
Os resultados, quanto aos índices zootécnicos alcançados, nos trabalhos realizados na Estação
Experimental, são: Leitões nascidos vivos/parto/porca 8,6; leitões desmamados/parto/porca 6,47;
peso dos animais ao nascer 1,26; peso dos animais apartados com 40 dias 6,7. Estes índices são
inferiores aos preconizados para uma suinocultura tecnificada de raças exóticas, mas muito
superiores aos
índices zootécnicos obtidos na suinocultura de manejo tradicional, com a
utilização de raças nacionais.
* Alberto de Almeida Alves é Engº Agrônomo, Subgerente de Pesquisa da EBDA, Itaberaba-BA
ASPECTOS DA INFECÇÃO NATURAL DE OVINOS POR
GASTRINTESTINAIS NO MUNICÍPIO DE SERRA PRETA – BA.
HELMINTOS
JOSÉ ROBERTO MORAIS DE MELLO1
1
MÉDICO VETERINÁRIO - PREFEITURA MUNICIPAL DE SERRA PRETA
Um dos fatores limitantes da ovinocultura são as verminoses gastrintestinais, consideradas como
a principal causa de mortalidade nesta espécie. O objetivo deste trabalho é estudar as variações
estacionais da infecção natural de ovinos por helmintos gastrintestinais no município de Serra
Preta – Bahia. Foram utilizados 32 animais, dos quais mensalmente, em datas pré estabelecidas,
no período de abril de 2002 a janeiro de 2003, coletou-se amostras para realização da contagem
de ovos por grama de fezes (OPG), através da técnica de GORDON e WHITLOCK (1939).
Dosificações estratégicas foram realizadas na dependência do resultado do OPG e das condições
climáticas observadas. Nos resultados obtidos, a positividade foi de 57,33%, sendo que para ovos
do tipo Strongyloidea, o grau de infecção variou de leve a pesado, com predominância de
infecção moderada. O número de OPG de fezes apresentou aumento nos meses do período
chuvoso do ano, com pico no mês de maio/2002. Gêneros Haemonchus e Trichostrongylus foram
observados na coprocultura com significativo aumento do número de larvas por grama de fezes
(LPG) nos meses de maio e agosto/2002. Não foram observadas infecções por Cestódeos.
MORTALIDADE DE OVINOS
MUNICÍPIO DE ARACI – BA.
JOVENS
EM
PROPRIEDADES
RURAIS
NO
JOSÉ ROBERTO M. DE MELLO1.
1
ESCRITÓRIO MUNICIPAL DE ARACI – GERÊNCIA REGIONAL DE SERRINHA
EMPRESA BAIANA DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA – EBDA.
A ovinocultura é uma atividade de grande importância sócio-econômica na região do semi-árido
baiano, porém é nítida a baixa produtividade pela não adoção de tecnologias de baixo-custo,
causando diversos prejuízos como alta mortalidade de animais jovens. Realizou-se inquérito em
06 propriedades rurais analisando-se registros e apontamentos feitos pelos produtores rurais. Os
dados foram tabulados e transformados em gráficos e tabelas. Observou-se que a média da taxa
de mortalidade nas propriedades estudadas foi de 47,60 e 52,08 nos anos de 2001 e 2002,
respectivamente. Os animais nascidos durante a época seca – julho a dezembro – tiveram uma
taxa de mortalidade 40,20% maior que os animais nascidos entre janeiro a junho, época das
chuvas. Conclui-se que dentre outras medidas, é necessário evitar os nascimentos na época seca,
pois isto compromete a sobrevivência dos cordeiros e a produção leiteira das ovelhas, fornecer
alimentos de boa qualidade, principalmente na fase do desmame, adotar medidas sanitárias e de
controle de reprodução – período de cobertura – e, desta maneira, reduzir a taxa de mortalidade.
IMPLANTAÇÃO DO CURSO BÁSICO DE MANEJO
CAPRINOVINOCULTURA NO MUNICÍPIO DE ARACI – BA.
SANITÁRIO
EM
JOSÉ ROBERTO M. DE MELLO1.
1
ESCRITÓRIO MUNICIPAL DE ARACI – GERÊNCIA REGIONAL DE SERRINHA
EMPRESA BAIANA DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA – EBDA.
A caprinovinocultura tem se tornado uma atividade relevante no semi-árido baiano tendo sua
importância sócio-econômica traduzida na sobrevivência das populações rurais. Porém, muitas
dificuldades são enfrentadas pelos produtores devido a problemas de manejo sanitário e
nutricional. Com relação ao manejo sanitário, o Escritório Municipal da EBDA em Araci – BA,
tem realizado um Curso Básico de Manejo Sanitário - CBMS, no qual os produtores obtêm
informações sobre controle de doenças – bacterianas, virais e parasitárias, uso de fichas de
controle individual, vacinas, cuidados com a fêmea e o recém-nascido, desinfecção de instalações
no total de 16 horas aula. Nas aulas teóricas, são expostos problemas enfrentados no dia-a-dia,
onde a troca de experiências entre o instrutor e o instruendo ajudam a encurtar a distância entre as
técnicas a serem utilizadas. Já as aulas práticas são realizadas em currais das propriedades
selecionadas sendo que na última sessão são distribuídos questionários objetivos para avaliação
do grau de entendimento do curso proposto. O acompanhamento aos produtores após realização
do curso é de fundamental importância para obtenção de bons índices de produtividade e
diminuição das doenças que afetam a caprinovinocultura.
Pôster I Feira do Semi-Árido
RESUMO
Besouros em Licuri: potenciais polinizadores ou predadores?
Leila Mara Cruz Nascimento e Priscila Paixão Lopes
Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Biológicas,
Laboratório de Entomologia
Syagrus coronata (MARTIUS) Becari é uma Arecaceae arbórea com caule tipo estipe, tem
distribuição tropical, e floração contínua durante praticamente o ano todo. Apresenta
inflorescências monóicas, onde se concentra uma grande quantidade de recursos alimentares para
os curculionídeos, como flores masculinas e femininas, pólen, endocarpo, tecidos reprodutivos,
espata e epiderme. A abertura das flores masculinas e femininas ocorre em períodos distintos. As
flores masculinas permanecem abertas por aproximadamente quatro dias, caindo após este
período, e em seguida as flores femininas abrem-se e permanecem abertas por sete dias. Planta
típica da caatinga, o licurizeiro é uma das espécies vegetais mais importantes para a população
nordestina, apresentando uma variedade de formas de uso como fonte de alimentos e para o
artesanato. Desta forma, o consumo de flores pelos curculionídeos poderia comprometer sua
reprodução (esterilização das flores masculinas), e conseqüentemente o crescimento das
populações. Por outro lado, alguns curculionídeos são citados como polinizadores de palmeiras,
se utilizando de partes de flores, mas simultaneamente, promovendo a formação de frutos. O
presente trabalho teve como objetivo principal determinar quais espécies de Curculionidae
utilizam o licuri como recurso, a fim de posteriormente determinar o efeito dessas espécies sobre
a produção de sementes, e assim permitir tanto o manejo de espécies potencialmente danosas,
como a conservação de espécies que apresentem impacto positivo sobre as populações naturais de
licuri. Fizemos um levantamento das espécies de Curculionidae encontradas nas inflorescências
masculinas e respectivas espatas em Licuris de duas áreas da região de Feira de Santana, BA
(Campus da UEFS e Matinha dos Pretos). As inflorescências com flores masculinas recém
abertas foram ensacadas e cortadas, no laboratório submetidas a agitação (insetos se soltam das
flores) e choque térmico (entorpece e facilita o manuseio), e posteriormente foi feita a triagem.
Os curculionídeos coletados foram enviados para o Prof. Sérgio Vanin para identificação. Foram
amostradas 9 inflorescências no Campus da UEFS e 14 na Matinha dos Pretos, sendo que foram
encontradas treze e oito morfoespécies, respectivamente, sendo sete espécies em comum
(Microstates ypsilon, Andrantobius bondari, Ancylorrhinchus trapezicollis e quatro espécies não
identificadas), totalizando quatorze espécies. Todas essas foram amplamente distribuídas, mas as
espécies mais abundantes foram M. ypsilon e A. bondari. Bondar menciona o registro de 12
espécies em Licuri. Nem todas as morfoespécies foram positivamente identificadas a ponto de
confirmarmos quais das espécies citadas por Bondar foram re-amostradas, no entanto, em nossa
amostragem essa riqueza já foi suplantada, com coletas em apenas 2 localidades. Apesar de, em
estudo prévio, ter sido detectado um certo grau de dano aos grãos de pólen por curculionídeos,
não há como afirmarmos ainda que todas as espécies impõem dano ou mesmo são efetivas
polinizadoras, pois as flores femininas não foram amostradas abertas, de forma que não sabemos
se as mesmas espécies transitam pelas flores masculinas e femininas. O presente estudo é
preliminar quanto à determinação do papel dos insetos no ciclo do Licuri, mas é positivo na
demonstração da importância do Licuri como fonte de recursos para a fauna nativa, suportando
até 7 espécies por inflorescência.
A
FAMÍLIA
POLYGALACEAE
NA REGIÃO DE
CATOLÉS, CHAPADA DIAMANTINA, BAHIA, BRASIL
Elaine Barbosa Miranda-Silva & Luciano Paganucci de Queiroz. Universidade Estadual de Feira
de Santana. ([email protected]).
O presente trabalho apresenta o levantamento das espécies de Polygalaceae da região de Catolés,
localizada na Chapada Diamantina (BA). A família Polygalaceae é composta por 16-18 gêneros e
1300 espécies com ampla distribuição, porém sem representação na Nova Zelândia e regiões
ártica e antártica. Para o Brasil são referidas ca. 200 espécies das quais 48 ocorrem na Bahia. As
espécies foram identificadas a partir da análise do material coletado pelo Projeto Flora de
Catolés, no período de 1991 - 1993 e por coletas recentes, além da consulta às obras clássicas,
tipos depositados em herbários e fotos de tipos obtidas em herbários do exterior. São
apresentadas chaves de identificação para gêneros e espécies, descrições, ilustrações e
comentários sobre caracteres morfológicos, fenologia e distribuição geográfica das espécies. A
família está representada na área por 26 táxons: B. barbeyana Chodat, B. brevifolia (Benth.)
Klotzch ex A. W. Benn., B. martiana A. W. Benn., B. velutina A. W. Benn., Polygala sp1, P.
glochidiata Kunth, P. harleyi Marques var. harleyi, P. harleyi Marques var. intermedia Marques,
P. hebeclada DC., P. hygrophila Kunth, P. multiceps Mart. ex A. W. Benn., P. oxyphylla DC., P.
paniculata L., P. poaya Mart., P. pseudosericea Chodat, P. trichosperma Lineu, P. sericea A. W.
Benn., P. sincorensis Chodat, P. spectabilis DC., P. tenuis DC., P. timoutou Aubl., P. urbanii
Chodat, Polygala sp., Pteromonnina exalata (A. W. Benn.) Eriksen, Securidaca diversifolia (L.)
S. F. Blake e S. tomentosa A. St.-Hil. et Moq.
Painel:
Semi-Árido Baiano. Características Demográficas Gerais: 1980-2000
Autoras:
Diva Maria Ferlin Lopes - socióloga, mestranda em geografia da UFBA e
técnica da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia.
[email protected].
Patricia Chame Dias - Especialista em educação, mestranda em Geografia da
UFBA e técnica da Superintendência De Estudos Econômicos e Sociais da
Bahia. [email protected].
Resumo:
Com base nos dados dos censos Demográficos de 1980, 1991 e 2000, esse trabalho
analisou algumas das principais características demográficas das três Grandes Áreas da
Bahia: o Litoral, Semi-Árido e Cerrado. Tal divisão partiu da delimitação oficial de semiárido (SUDENE), da divisão da Bahia em Regiões Econômicas (SEPLAN) e do perfil geral
de ocupação e desenvolvimento das diferentes partes do território estadual. Comparou-se
o Semi-Árido às demais Grandes Áreas em relação ao volume populacional, densidade
demográfica e ritmos de crescimento total, urbano e rural e evidenciou-se que essa porção
da Bahia, a maior em termos territoriais, ao longo das últimas décadas detinha a maior
parte do contingente demográfico do Estado, embora apresentando sucessivas quedas do
seu peso relativo em relação ao conjunto estadual. Quanto ao ritmo de crescimento total,
revelou taxas inferiores ás das demais Áreas em 1980-1991 e em 1991-2000, e nesse
segundo período observou perdas demográficas líquidas. Para as áreas urbanas e rurais,
nas três Grandes Áreas ocorreu retração das taxas de crescimento. Contudo, dadas as
alterações de perímetros urbanos e rurais ocorridas no último período, não se pode avaliar
o significado das mesmas ou da evolução do grau de urbanização. Em termos de peso
populacional, o Semi-Árido contava com a segunda maior população urbana e mais da
metade da população rural da Bahia.
1
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS PARA A PRODUÇÃO
ORGÂNICA SUSTENTÁVEL DE ABACAXI NO SEMI-ÁRIDO BAIANO.
Alberto de Almeida Alves*
Domingo Haroldo Rudolfo Conrado Reinhardt**
Na Bahia, quarto produtor nacional de abacaxi, com mais de 90 milhões de frutos colhidos, em
cerca de 4.000 ha, no ano de 2000 (IBGE, 2001), o município de Itaberaba respondia por cerca de
25% desta produção. Nesta região do semi-árido baiano, onde a produção agropecuária é
freqüentemente afetada ou até inviabilizada por períodos longos de deficiência hídrica no solo, a
cultura do abacaxi se tornou o principal sustentáculo sócio-econômico a partir dos trabalhos de
pesquisa e extensão rural desenvolvidos em parceria da EBDA e Embrapa. No final da década de
80, no município de Itaberaba, existiam 20 produtores que cultivavam aproximadamente 40 ha de
abacaxi, representando menos de 2% da produção estadual. Em 2002, a EBDA e diversos
parceiros realizaram um censo agrícola no município de Itaberaba que confirmou a existência de
700 produtores de abacaxi em 1400 hectares com a cultura, gerando cerca de 4.000 empregos
diretos e indiretos e colocando em circulação mais de 10 milhões de reais por ano.
O fruto produzido é de boa qualidade, tendo, em geral, boa aceitação nos mercados regionais e de
outros estados. A produtividade está acima da média nacional de 23.000 frutos/ha, tendo crescido
acentuadamente nos últimos anos, em resposta à aplicação de tecnologias geradas ou adaptadas e
transferidas pela EBDA – Gerência Regional de Itaberaba e Embrapa - Mandioca e Fruticultura.
No entanto, o custo ambiental da atividade tem sido preocupante, e a sua sustentabilidade a
médio e longo prazo, praticamente impossível, se ajustes não forem realizados no sistema atual
de produção, que é tipicamente baseado no modelo convencional, com o uso de adubos químicos,
indutores florais artificiais e do controle predominante químico das principais doenças e pragas.
Tem sido observado que os ótimos resultados obtidos nos plantios, em áreas virgens, declinam
rapidamente nos cultivos subseqüentes, nas mesmas áreas, com a redução do crescimento, vigor e
produtividade das plantas, o que leva os produtores a cada vez mais avançarem na destruição da
vegetação natural da caatinga para a instalação de novos abacaxizais. Estima-se que dentro de
poucos anos parte da vegetação natural terá desaparecido, o que, além dos prejuízos ambientais,
levará à diminuição da produtividade e, sobretudo, da qualidade dos frutos obtidos na região,
podendo afetar decisivamente no agronegócio regional de abacaxi, com reflexos altamente
negativos sobre grande parcela da população desta região.
* Alberto de Almeida Alves, Engº Agrônomo, Subgerente de Pesquisa da EBDA de Itaberaba
** Domingo Haroldo Rudolfo Conrado Reinhardt, Eng. Agrônomo M.Sc da Embrapa Mandioca
EFEITO DA IDADE PÓS-COLHEITA NA QUEBRA DE DORMÊNCIA DE Melocactus
glaucescens Buining & Brederoo (CACTACEAE)
Rosineide Braz Santos FONSECA,Camila Almeida Figueiredo SILVA, Claudinéia Regina
PELACANI, Iara Cândido CREPALDI, Ligia Silveira FUNCH
Universidade Estadual de Feira de Santana
Melocactus glaucescens é uma espécie endêmica do município de Morro de Chapéu-Bahia.
Possui características morfológicas peculiares como, cladódio azulado quando jovem e
cefálio branco que atraem colecionadores de todo o mundo. Devido ao extrativismo e
comércio ilegal para fins ornamentais essa espécie encontra-se criticamente ameaçada de
extinção (Red List da IUCN). Apesar disso pouco se conhece sobre a espécie,
principalmente com relação à germinação. Este trabalho objetivo averiguar o efeito da
idade pós-colheita na quebra de dormência de M. glaucescens, contribuindo para o manejo
e cultivo da espécie, em horto, para comercialização. Em um delineamento inteiramente ao
acaso, sementes de seis idades diferentes foram colocadas para germinar em placas de petri
forradas com papel germitest, sob fotoperíodo de 12 horas, em câmara de germinação a
30ºC. Utilizou-se lotes de 50 sementes por repetição (5). O número de sementes
germinadas foi registrado diariamente, durante quinze dias, sendo a protusão da radícula o
critério adotado para considerar a semente como germinada. As taxas de germinação
transformadas em arcoseno apresentaram diferenças ao nível de significância de 1%
(F=124,65; CV=27,81). Sementes recém-colhidas de M. glaucescens e com até 108 dias de
idade mostraram um grau de dormência bastante acentuado. A germinação começou a se
elevar após 134 dias de idade pós-colheita, sendo significativamente maior após 308 dias de
idade, alcançando 68% de sementes germinadas. A quebra de endodormência com ácidos,
nas condições estabelecidas acima, está também sendo investigada.
A Ocupação Urbana da Lagoa grande no Município de Feira de Santana.
Autoria: Antonia dos Reis Salustiana Evangelista
Universidade Estadual de Feira de Santana
Introdução
O município de Feira de Santana constitui-se num importante entreposto
comercial do norte nordeste. Apesar de pertencer a região semi-árida, o município já
possui dezenas de lagoas, o que lhe confere clima de transição sub-úmido, porém essa
classificação climática, apresenta alterações ao longo dos anos devido a degradação das
lagoas as quais possuem importância histórica, pois a origem do município está
associada a tais ecossistemas.
No entanto, a partir da década de setenta, com o desenvolvimento industrial,
vivenciado pelo município, favoreceu o aumento da migração de pessoas para a cidade,
devido ainda a sua privilegiada posição geográfica. Porém, essa população não foi
absorvida totalmente pelas industrias, por diversos fatores, o que possibilitou a
ocupação de áreas inóspitas da cidade, evidenciada pela ocupação e degradação das
lagoas em particular a lagoa grande, localizada na área periférica do centro da cidade.
Portanto a importância desse trabalho reside na possibilidade de alertar a
população e as autoridades competentes a respeito das condições da lagoa grande, afim
que providencias sejam tomadas para recuperação e conservação desse manancial de
valor histórico. Outro fator a considerar é o aspecto estético, pois essa lagoa está situada
numa área nobre da cidade, além das questões sanitárias, devido a proliferação de
doenças, como conseqüências da população da lagoa.
Objetivos:
⇒ Relacionar a ocupação urbana com processo de degradação ambiental na Lagoa
grande.
⇒ Analisar o uso que a população faz da lagoa.
⇒ Analisar o tipo de impacto ambiental sofrido pela lagoa.
Metodologia:
•
Levantamento bibliográfico
•
Levantamento cartográfico dos mapas temáticos: rodoviário, climático e dos bairros
do município.
•
Análise através de uma tabela dos impactos sofridos pela lagoa (diretos, indiretos,
reversíveis e irreversíveis).
•
Trabalho de campo e realização de entrevista informal.
Observações finais ou conclusões
•
A lagoa é ocupada por pessoas de baixa renda, as quais na maioria trabalham no
mercado informal.
•
Devido a falta de esgotamento sanitário, há ocorrência de verminose e doenças de
pele.
•
Deposição de esgoto doméstico na lagoa, causando impacto direto na mesma.
Referências bibliográficas
FREITAS, Nacelice Barbosa. Urbanização em Feira de Santana: Influencia da
Industrialização 1970 – 1996. Tese: professor da UEFS.
NUNES MAIA, Maria de Fátima da Silva. Lixo: Soluções Alternativas – projeções a
partir da experiência – Universidade Estadual de Feira de Santana, 1997.
ROSSI, O. L. S. Geomorfologia Aplicada as EIAs RIMAs. Cap. 6, In: GUERRA, J. A.
T. e CUNHA, S. B. Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Betrand Brasil,
1994.
ADSORÇÃO DE ÁCIDOS ORGÂNICOS EM SOLUÇÃO AQUOSA SOBRE
CARVÃO ATIVADO
Kelle Oliveira Silvaa e Suzana Modesto de Oliveira Britob
Departamento de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Feira de Santana
Km 03, BR 116 Campus Universitário, Feira de Santana, BA, 44031-460
a
Aluna de Iniciação Científica, Graduanda em Ciências Farmacêuticas.
b
Doutor em Química Analítica, Prof. Adjunto.
A remoção de substâncias orgânicas naturais em efluentes aquosos tem sido objeto de
estudo em diversos centros de pesquisa, para produção de água dentro dos padrões de
potabilidade. Métodos de clarificação primária, incluindo flotação e sedimentação, não são
efetivos para remoção dessas substâncias sem um tratamento químico simultâneo.
Processos baseados na separação com membranas, coagulação e troca iônica também são
usados para este fim, mas o alto custo é sua principal desvantagem. As técnicas de
tratamento fundamentadas em processos de coagulação, seguidas de separação por flotação
ou sedimentação, apresentam uma elevada eficiência na remoção de material particulado.
No entanto, na remoção de cor e compostos orgânicos dissolvidos, mostram-se ineficientes.
O carvão ativado tem a capacidade de adsorver a maioria dos poluentes orgânicos em
efluentes, mas o desempenho de um processo de tratamento com carvão ativado depende do
tipo de carvão e das características do efluente, além das condições de operação. Os
processos de adsorção em carvão ativado apresentam uma eficiência significativamente
maior eu outros processos. Uma das maneiras de caraterizar a natureza do carvão ativado é
a obtenção da isoterma de adsorção, que é uma medida da quantidade adsorvida por grama
de adsorvente a uma temperatura constante. Existem cinco tipos de isoterma mais comuns,
que descrevem a adsorção de moléculas em diversos tipos de superfícies. Para descrever
essas isotermas, são usadas várias equações (Langmuir, Freundlich e DubininRaduskevich). Para determinar o grau de adsorção de um material sobre o carvão
trabalhamos com soluções de adsorbato em diferentes concentrações, mantendo a massa de
adsorvente constante. Três diferentes tipos de carvão ativado foram utilizados nessa
investigaçào: o carvão ativado presente nos filtros de água POZZANI; o carvão ativado
marca REAGEM e uma terceira marca com nome comercial SYNTH. Como adsorbatos
utilizou-se ácido acético, ácido salicílico, ácido cítrico e ácido ascórbico. O ácido acético
que é um adsorbato conhecido para estimativas de capacidade de adsorção de carvões
ativados. Os resultados obtidos estão descritos na forma de isotermas de adsorção obtidas a
partir da equação de Langmuir. As isotermas dos carvões dos filtros Pozzani e SYNTH
indicam uma alta capacidade de adsorção para os ácidos testados, obedecendo a isoterma de
Langmuir, característica de sólidos microporosos. O carvão Reagem não obedece a
isoterma de Langmuir e novos experimentos serão realizados para verificar o tipo de
adsorção que ocorre sobre esse carvão. A capacidade de adsorção, embora seja
significativa, não pode ser determinada com os dados obtidos.
AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE ORAL AGUDA DOS FRUTOS DA ALGAROBA
(Prosopis juloflora DC) PARA ANIMAIS DE LABORATÓRIO
Ana Rita Pedreira Lapa Bautista *
Eduardo Luiz Trindade Moreira**
Samuel Araújo da Silva***
Maria José Moreira Batatinha****
A algaroba é uma leguminosa arbórea xerófita muito resistente à seca, de rápido
crescimento, tendo início de produção econômica dos frutos aos cinco anos, podendo
atingir, em média, 15 t/ha/ano, por planta. As vagens contêm, aproximadamente, 15% de
proteína bruta na MS, amadurecem entre setembro e dezembro, época em que há déficit
forrageiro, sendo utilizada em muitas regiões do semi-árido como principal e, muitas vezes,
única alternativa para a alimentação animal.
Na Paraíba e Rio Grande do Norte, a enfermidade denominada “cara-torta” acometeu
bovinos intoxicados naturalmente com uma dieta à base de vagens de algaroba. Figueredo e
colaboradores, em 1995/96, e Menezes, em 1998, reproduziram experimentalmente em
bovinos o quadro observado no campo, ou seja, desvio lateral da cabeça durante a
mastigação, ptose mandibular, atrofia dos masseteres e profusão parcial da língua.
Alguns pesquisadores sugerem que o efeito tóxico das vagens pode estar relacionado, direta
ou indiretamente, à ação dos alcalóides piperidínicos (juliprosopina e juliprosina). A
avaliação da toxicidade aguda dos frutos da algaroba e da mistura de alcalóides teve como
objetivo identificar o potencial tóxico e o modo de ação bem como estabelecer o regime de
doses que deverão ser utilizadas em estudos subagudos posteriores. A farinha de algaroba
(EMEPA, dezembro 2001) foi desengordurada com éter de petróleo e posteriormente
extraída com metanol para obtenção do extrato metanólico (EM). Parte do extrato foi, por
sua vez, submetido à marcha (acidificação/alcalinização/extração com clorofórmio) para
obtenção da fração alcalóidica (FA).
Para avaliação da toxicidade, foi adotado o protocolo da OECD para testes agudos,
utilizando seis ratos Wistar, adultos, por sexo e por dose. Um grupo de animais recebeu, por
via oral (gavagem) a farinha de algaroba (FAL), veiculada à carboximetil celulose 0,5%
(CMC) e, outro, o EM, em água destilada, ambos na dose de 2000 mg/kg. Tanto o ganho de
peso dos animais quanto o peso relativo dos órgãos (fígado, rins, baço, adrenais e testículos)
estiveram dentro das faixas de normalidade estabelecidas pelo controle histórico. Não foram
observadas alterações clínicas e necroscópicas, exceto o aumento na diurese de alguns
animais, especialmente fêmeas (03/12). FAL e EM apresentaram baixa toxicidade, ou seja,
DL50 de 2000 mg/kg.
No teste com FA, veiculada em CMC, foram utilizadas as doses de 1000, 625 e 390 mg/kg.
Foram observadas as seguintes alterações clínicas e comportamentais: redução na atividade
geral, no tono muscular e marcha anormal, com tempo de aparecimento/reversibilidade e
intensidade relacionados à dose, e aumento na diurese de alguns animais (04/18). Não
foram registradas alterações à necropsia. Embora a DL50 encontrada tenha sido
relativamente alta, ou seja, superior a 1000 mg/kg, pôde-se observar que o quadro em ratos
é sugestivo, também, da ação dos alcalóides sobre o sistema motor.
* Bióloga, MS, da Central de Laboratórios da Agropecuária da EBDA.
** Médico Veterinário, Dr., da Escola de Medicina Veterinária da UFBA.
***Acadêmico de Medicina Veterinária da UFBa, estagiário da EBDA.
****Médica Veterinária, Dra., da Escola de Medicina Veterinária da UFBA.
O GÊNERO CATTLEYA LINDL. (ORCHIDACEAE) NO ESTADO DABAHIA. Cruz, Daiane
Trabuco1, Borba, Eduardo Leite2, vanden Berg, Cássio2. 1Iniciação Científica, Universidade
Estadual
de
Feira
de
Santana;
2Professor
Depto.
CiênciasBiológicas
UEFS.([email protected]).
Cattleya (Orchidaceae) é um gênero exclusivamente Neotropical, com cerca de 50 espécies
reconhecidas. Este gênero é um dos mais importantes da família pelo valor ornamental de suas
espécies. Todas as espécies têm sido bastante coletadas na natureza para comercialização, e a
freqüência com a qual ocorre esta procura tem levado a uma redução e desaparecimento de várias
populações e conseqüentemente ameaça de extinção de algumas espécies. Porém, as espécies do
gênero são muito pobremente representadas em coleções de herbário. O Brasil é o país com o
maior número de espécies (28), das quais 23 são endêmicas. O objetivo deste trabalho é a
realização do levantamento das espécies ocorrentes no estado da Bahia, e melhorar o
conhecimento da distribuição geográfica, bem como levantar informações ecológicas e
fenológicas das espécies no estado, através de coleções de herbário, coletas e bibliografia. Até o
momento foram encontradas nove espécies no estado da Bahia. Destas, cinco ocorrem
exclusivamente na Mata Atlântica (C. granulosa, C.kerrii, C. schilleriana, C. tigrina, C.
warneri), uma exclusivamente na caatinga (C. tenuis), uma exclusivamente em campos rupestres
(C. elongata) e duas na Mata Atlântica e caatinga (C. aclandiae, C.amethystoglossa). Destas
espécies, quatro são endêmicas do estado: C. aclandiae, C. amethystoglossa, C. kerrii e C. tenuis.
Além destas, existe uma espécie (C. guttata)que embora citada para alguns autores não foi
encontrada no estado até o momento. Cattleya elongata, a única espécie rupícola do gênero, é a
espécie mais abundante no estado, ocorrendo ao longo de toda a Chapada Diamantina, e a mais
bem representada em coleções de herbário.
METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE GUIAS DE CAMPO DE BIODIVERSIDADE DE
1
2
1
LEGUMINOSAS DA CAATINGA NA BAHIA. Nunes, T.S. ; Stradmann, M.T.S. ; Costa, J.A.S. ;
Queiroz, L.P.de1; Allkin, B.3; Lawrence5, A. Ferreira, A.P.L.2, Lima, M.4 & Carneiro, A.S.1. 1
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS); 2 Serviço de Assessoria a Organizações
Populares Rurais (SASOP); 3 Centro Nordestino de Informações sobre Plantas (CNIP); 4
Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa; 5Universidade de Oxford.
([email protected])
O Projeto Guias de Campo de Biodiversidade é um projeto integrado com participação de três
países: Brasil (UEFS, SASOP, CNIP, AS-PTA, APNE), Bolívia (FAN, FRP) e Inglaterra
(Green College-Oxford, RGB-KEW, DFID). No Brasil, foi detectado que o uso de plantas da
caatinga na alimentação animal, como uma forma de subsistência, demanda uma
sistematização de diversas informações e sua difusão nos meios técnicos, gerando assim, uma
grande necessidade de reunir informações sobre plantas forrageiras encontradas neste
ambiente, visando auxiliar no uso racional dos recursos naturais do semi-árido. Diante desse
panorama, este projeto tem como objetivo a elaboração de dois guias de campo voltados para
diferentes públicos. O primeiro Guia trata de 21 espécies de leguminosas forrageiras e atende
a técnicos que assessoram comunidades rurais. O outro Guia possui cerca de 250 espécies de
leguminosas e tem como público, naturalistas (ecologistas, zoólogos, biólogos, agrônomos,
etc.), ambos visando a valorização da biodiversidade da caatinga, através do fomento do uso
de espécies nativas deste bioma. Para o desenvolvimento do Projeto, as etapas metodológicas
seguidas foram: a) coleta e identificação das espécies a serem trabalhadas; b) fotografia e
ilustração das espécies; c) descrição das espécies e entrada das informações em um banco de
dados; d) realização de testes com o público alvo para definição de conteúdo e apresentação;
e) editoração e impressão dos guias. Os resultados obtidos derivam de um processo de
construção participativa com naturalistas, técnicos e agricultores das comunidades
trabalhadas, e servirão de subsídios para elaboração de um Manual Metodológico sobre Guias
de Campo de Biodiversidade. O primeiro produto do Projeto Guias é o guia para técnicos
agrícolas, contendo informações de uso, manejo e descrições de espécies de leguminosas da
caatinga de maior importância para agricultores de comunidades rurais na Bahia, e que
ocorrem em vários Estados do Nordeste. (CNPq).
LEVANTAMENTO DA FAMÍLIA LEGUMINOSAE NA CAATINGA DO MUNICÍPIO DE
ITIÚBA-BAHIA. Janaina Gelma Alves do Nascimento & Luciano Paganucci de Queiroz..
Universidade Estadual de Feira de Santana – Bahia ([email protected]).
A Família Leguminosae possui aproximadamente 18.000 espécies distribuídas em cerca de 670
gêneros, classificadas em três subfamílias: Caesalpinioideae, Mimosoideae, Papilionoideae.
Destaca-se por apresentar-se como a família com maior riqueza de espécies na caatinga. São
plantas de hábito muito variado, desde grandes árvores a ervas anuais ou perenes. As folhas são
sempre de disposição alternas, pari ou imparipinadas, com estípulas ou não. As flores apresentam
simetria apresenta simetria radial a fortemente zigomorfa com ovário súpero, unicarpelar e
unilocular; o fruto pode ser do tipo lomento, legume ou folículo, dentre outros. A área amostrada
está localizada no município de Itiúba distando cerca de 377km, ao norte, da capital do estado
baiano. Duas áreas de amostragem foram selecionadas: a encosta da Serra de Itiúba, que se
apresenta revestida por floresta estacional decidual e o pediplano sertanejo, formado por uma
vegetação caatinga arbórea. Este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento da família
Leguminosae na caatinga de Itiúba, elaborar um checklist das espécies encontradas com
preparação de chaves de identificação para as espécies e analisar padrões de distribuição de
algumas espécies. Levantamentos para a caatinga do Nordeste do Brasil consta de 309 espécies,
destas foram encontradas 35 espécies, distribuídas em 10 tribos, sendo 10 espécies de
Caesalpinioideae, 10 espécies de Mimosoideae e 15 de Papilionoideae. Estas espécies foram
agrupadas quanto a distribuição, em três tipos: 3 espécies distribuídas no arco pleistocênico,
como Anadenathera colubrina var. cebil; (Vell.) Brenan, 8 espécies endêmicas de caatinga, como
Caesalpinia pyramidalis var. pyramidalis Tul. e Mimosa ophthalmocentra Mart. ex Benth., e 17
espécies com ampla distribuição, como Senna spectabilis (DC.) H.S. Irwin & Barneby. Foram
encontradas 7 espécies ruderais ou invasoras, como Chamaecrista serpens (L.) Greene e
Crotalaria incana L.
Palavras chaves: leguminosae, levantamento, caatinga
1. Bolsiata Probic-Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana. 2. Professor
orientador do Departamento de Ciencias Biológicas da UEFS.
A FAMÍLIA ANACARDIACEAE NA CHAPADA DIAMANTINA, BAHIA, BRASIL
Cosme Correia dos Santos, Teonildes Sacramento Nunes & Luciano Paganucci de
Queiroz. Universidade Estadual de Feira de Santana ([email protected]).
A Chapada Diamantina está localizada no centro do território baiano e constitui a porção
setentrional da Cadeia do Espinhaço. Está constituída por um conjunto de montanhas
disjuntas. Inícia-se na Serra de Jacobina, Bahia (10º 00’S) e estende-se em direção sul até
a Serra do Ouro Branco no município de Ouro Preto, Minas Gerais (21º 25, 5’S).
Apresenta grande variedade de tipos vegetacionais, predominando os campos rupestres
mas ocorrem também campos cerrados (“gerais”), cerrados de altitude e diferentes tipos
de florestas como as pluvio-nebulares, ciliares e as de grotão. A família Anacardiaceae
inclui cerca de 80 gêneros
e 600 espécies, com distribuição predominantimente
pantropical, com alguns gêneros ocorrendo nas regiões temperadas, da Ásia, Europa e
América do Norte. Caracteriza-se por apresentar folhas inteiras ou compostas, de
diposição alterna, sem estípulas ou estas são decíduas. Flores pequenas, incospícuas,
brancas ou
amarelo-esverdeadas, hermafroditas, ou de sexo separados, às vezes em
plantas dióicas, de simetria radial. A família está representada na Chapada Diamantina
por 11 espécies distribuidas em 8 gêneros: Anacardium humile St. Hil., Apterokarpus
gardneri (Engl.) Rizzine, Astronium graveolens Jacq., Lithraea molleoides (Vell.) Engl.,
Myracroduon urundeuva Engl., Schinopsis brasiliensis Engl., Spodias tuberosa Arr. Cam.,
Tapirira guianensis Aubl., T. marchandii Engl., T. obtusa (Benth.) Mitchell. e T.
peckoltiana Engl.
A FAMÍLIA PASSIFLORACEAE NAS CAATINGAS DA BAHIA. Teonildes
Sacramento Nunes1,2 & Luciano Paganucci de Queiroz2. 1. Programa de Pós-Graduação
em Botânica/UEFS, 2. Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana
([email protected]).
A família Passifloraceae é predominantemente tropical e subtropical e possui cerca de 20
gêneros distribuídos em 650 espécies, pertencentes a 21 subgêneros. Caracteriza-se pelo
hábito de trepadeiras herbáceas, raramente ervas, arbustos ou árvores, estípulas foliáceas,
algumas vezes decíduas, gavinhas axilares, folhas alternas, com glândulas sésseis ou
estipitadas no pecíolo, lâmina foliar simples ou lobada a partida, brácteas 3 na, verticiladas
ou dispersas na base do botão floral, algumas vezes decíduas, hipanto tubular,
campanulado ou cilíndrico, sépalas e pétalas em número de 5, geralmente coloridas, coroa
de filamentos de 2 a várias séries, androginóforo, opérculo, límen e anel nectarífero
presentes, anteras 5, dorsifixas, ovário com placentação parietal, estigmas 3, fruto baga,
indeiscente, sementes alveoladas, foveoladas ou reticuladas, envolvidas por um arilo
mucilaginoso. Na Bahia, a família está representada nos diversos ecossistemas, sendo
encontradas desde áreas de mata atlântica até caatinga, passando por cerrado e campo
rupestre e regiões brejosas. A caatinga constitui o bioma mais característico do Nordeste
do Brasil, predominando uma fisionomia dominada por arbustos espinhosos, pequenas
árvores decíduas e cactáceas. Na caatinga a família está representada por 7 espécies:
Passiflora cincinnata Mast., P. foetida L., P. luetzelburgii Harms, P. kermesina Link &
Otto, P. misera Kunth, P. recurva Mast. e P. setacea DC. todas de ampla distribuição
geográfica.
USO DA URINA DE VACA COMO FONTE ALTERNATIVA DE NITROGÊNIO E
POTÁSSIO PARA A CULTURA DO AMENDOIM (Arachis hipogea L.)
Carla da Silva Sousa¹; Bruno de Oliveira Dias¹; Cássia da Silva Sousa¹; Demóstenes Vieira de
Almeida¹; José Carlos Ribeiro Carvalho²; João Albany Costa²
INTRODUÇÃO
De acordo com Silva (1985), o amendoim (Arachis hypogea L.) é nativa da América do
Sul (Brasil) levado ao velho mundo no período colonial, é hoje, cultivada por todos os países
tropicais e subtropicais. Em nosso país, o Arachis hypogea L. é uma das mais importantes
culturas de sua economia agrícola. Apesar de ser produzido em quase todo o território
nacional está concentrado praticamente na Região Sul, especialmente no Estado de São Paulo,
que responde por mais de 80% da produção brasileira. O principal mercado consumidor é a
indústria de óleos alimentícios.
Conforme Bennema (1970), o amendoim pode ser cultivado com êxito em uma larga
faixa de tipos de solos. Entretanto, pelo modo peculiar de frutificação, devem-se observar as
condições agrícolas do solo que influenciam na produção, principalmente aquelas
relacionadas com a maturação, qualidade e colheita do amendoim. Para cultura, são mais
favoráveis os solos de textura média, de coloração clara, friáveis, bem supridos de cálcio e
com moderada quantidade de matéria orgânica. Os solos com suficiente provisão de cálcio
produzem frutos com maior percentagem de sementes.
A planta de amendoim é capaz de associar-se com bactérias do gênero Bradyrhizobium
sp. formando nódulos nas raízes. Nos nódulos infectados pela bactéria eficiente, o nitrogênio
atmosférico (N) é reduzido e transferido para a planta a qual pode desenvolver-se
independentemente da adição de adubo nitrogenado. Estas bactérias fixam o nitrogênio do ar,
fornecendo à planta sob a forma de sais nitrogenados, em troca de outros compostos
nutrientes dados pelas leguminosas, esse processo é intensificado e mais eficiente quando as
sementes são previamente inoculadas. A inoculação das sementes de amendoim em solos
contendo população autotóctone é recomendada pelo Instituto Agronômico de Campinas para
aumentar a eficiência do processo (Giardini, 1980)
__________________________
1
Acadêmicos de Agronomia - Escola de Agronomia da UFBA. Cruz das Almas-BA. . CEP: 44380000. [email protected]
2
Professores da Escola de Agronomia – UFBA. Cruz das Almas-BA. CEP: 44380-000.
Para Ernani e Gianello (1983), os sucessivos aumentos verificados ultimamente no
preço dos adubos minerais fizeram com que os técnicos brasileiros, dedicassem maior atenção
à obtenção de fontes fertilizantes mais baratas que as tradicionais. Muitos estudos começaram
e outros foram intensificados com fosfatos naturais, rochas potássicas, fixação biológica de
nitrogênio e, mais recentemente, adubos verdes e materiais orgânicos.
O cloreto de potássio denominado comercialmente nos Estados Unidos muriato de
potassa, é o fertilizante potássico mais empregado no mundo. Este adubo contém 60% de
K2O, é solúvel em água e pode ser aplicado juntamente com outros adubos nitrogenados e
fosfatados, sem causar qualquer reação desfavorável. Este fertilizante contém 96% de KCl e
3,5% de NaCl.
A uréia, CO(CH2)2, é um fertilizante nitrogenado de uso relativamente recente e apenas
nas últimas décadas ela vem se firmado de forma incontestável como uma das melhores
opções. As restrições ao uso do produto diziam respeito a propriedades físicas indesejáveis;
devido à higroscopicidade do produto, a possíveis perdas de nitrogênio por volatilização
quando usado na superfície de solos e a toxidez para as plantas de biureto, que ocorre como
impureza na uréia. Porém, esse fertilizante nitrogenado apresenta a vantagem de ser
concentrado, contendo 42% do elemento. No solo, a uréia é hidrolizada pela ação de enzimas
(urease), transformando-se em amônia, que é facilmente absorvida pelas raízes. Esta
transformação, em condições propícias de umidade e temperatura, pode processar-se em
questão de horas (Raij, 1991).
Para a Comissão Estadual de Fertilidade do Solo (1989), a adubação nitrogenada não é
recomendada na cultura do amendoim, em virtude das raças de Rhizobium, atualmente
disponíveis, serem eficientes na fixação do nitrogênio atmosférico.
Segundo Lopes et al (1976), os resultados de alguns
ensaios sobre a adubação
nitrogenada dessa cultura são contraditórios, sendo que, na maioria dos casos, não há
respostas convenientes para indicar uma norma de adubação nitrogenada para a cultura do
amendoim. Por outro lado são praticamente inexistentes os estudos sobre a fixação simbiótica
do nitrogênio através de sua cultura.
Em relação aos adubos fosfatados Malavolta (1979), descreve que existem diversos
adubos fosfatados no comércio. Eles diferem na sua concentração em fósforo e solubilidade,
ou seja, varia a riqueza em fósforo pelo adubo, e também seu aproveitamento pelas plantas,
podendo-se dizer que de modo geral quanto mais solúvel o adubo, maior seu aproveitamento.
Para Kiehl (1985), a vermicompostagem como adubação orgânica, é uma tecnologia na
qual se utilizam as minhocas para digerir a matéria orgânica, provocando sua degradação. As
minhocas podem produzir composto em curto espaço de tempo, se as condições forem
favoráveis, contendo nutrientes em maior concentração que o solo onde se encontram,
promovendo assimilação mais fácil pelas raízes.
Os técnicos da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro
(Pesagro), assim como agricultores do município de Morrinhos – RJ, fizeram testes com a
urina de bovinos e concluíram que o produto é um excelente nutriente e muito eficaz no
controle de pragas e doenças dos vegetais. Os estudos começaram em 1992, numa tentativa
bem sucedida de recuperar plantas de abacaxi atacadas pela fusariose, doença fungica até
então considerada incurável, que causa danos de até 70% na produção final. Ao analisar a
urina bovina no laboratório, os técnicos da Pesagro confirmaram não só o controle da
fusariose do abacaxi, mas também de outras doenças provocadas por fungos. A provável
substância responsável pela recuperação das plantas, é denominada catecol – aminoácido já
pesquisado em Israel e caracterizado por aumentar a resistência das plantas. Por causa desses
estudos, produtores de cacau do Sul da Bahia, decidiram testar a urina bovina no controle de
vassoura de bruxa, doença que vem devastando as lavouras da região. Os primeiros
resultados, indicaram a redução de até 95% na incidência da doença e aumento de 40% no
número de frutos colhidos por planta. Para evitar reações químicas indesejáveis, a urina não
deve entrar em contato com materiais metálicos e, antes de ser misturada com a água deve
ficar em repouso, em recipiente fechado, por três dias (Pereira, 2001).
A urina de vaca é um produto organo-mineral, o que lhe confere fácil absorção via foliar
graças a organização complexa dos minerais em condições orgânicas (quelatos). A análise da
urina bovina, fermentada por oito dias, apresentou 14 tipos de nutrientes (Urina, 2001).
Gadelha (2000), descreve que a urina de vaca contém substâncias que, reunidas,
melhoram a saúde das plantas. Dentre elas, o potássio, que é o elemento químico de maior
quantidade na urina de vaca, atua na planta aumentando o aproveitamento de água,
tornando
as paredes dos tecidos mais duras, com maior resistência de colheita à
armazenagem e no transporte, diminuindo as perdas, acentuando a eficiência da adubação
nitrogenada e eliminando o excesso de nitrogênio nas folhas, o que, consequentemente
diminui o efeito atrativo para a incidência de pragas e doenças. Já o enxofre, aumenta a
produção de proteínas, tornando os produtos mais nutritivos e o sódio aumenta o teor
caroteno, tornando os produtos mais atrativos para o comércio. Os fenóis aumentam a reação
das plantas ao ataque de doenças, sendo o catecol, o mais importante na urina enquanto que o
ácido indolacético, é um hormônio de crescimento, que existe naturalmente em todas as
plantas, sendo também encontrado na urina, de acordo com a concentração aumenta a
velocidade de crescimento das plantas e favorece a formação de raízes, podendo proporcionar
colheitas mais precoces.
Além disso, os testes realizados revelaram vantagens na utilização do produto como:
não é tóxico, diminui o uso de agrotóxicos, praticamente não tem custo; substitui em parte o
adubo químico, aumenta a produção; melhora a qualidade e o padrão dos frutos. O uso da
urina de vaca na agricultura é uma tecnologia inédita no Brasil e poderá mudar o perfil da
pequena produção rural regional, já que o produtor certamente diminuirá a dependência de
produtos químicos de fora da produtividade, contribuindo para o aumento do padrão de vida
familiar e não promovendo risco à saúde do produtor e do consumidor (Gadelha 2000).
A urina de vaca deve ser misturada com água na proporção correta para cada cultura.
Quantidades maiores que as indicadas pelo teste de campo podem causar danos às plantas. A
aplicação da mistura poderá ser feita no solo ou em pulverizações sobre as plantas. A
aplicação no solo é feita principalmente em fruteiras, por ocasião da primeira aplicação,
visando ao desenvolvimento de raízes. Em pulverização, a urina é aplicada da mesma maneira
que o produtor utiliza para aplicar produtos químicos. Os intervalos de aplicação deverão ser
respeitados para cada cultura, de acordo com os teste de campo (Gadelha, 2000).
Acredita-se que a urina de vaca resolve duas questões básicas para o produtor rural:
inibe o uso de defensivos químicos, reduzindo o custo da produção agrícola, bem como
efeitos prejudiciais causados ao meio ambiente. Além disso, a urina de vaca é um produto
natural, não causa riscos à saúde do produtor e do consumidor, reduzindo assim, os riscos de
contaminação do solo e água, provocados pelos adubos químicos. Também, verificou-se outra
vantagem na utilização da urina de vaca, como o atraso na maturação dos frutos tratados,
aumento no número de brotações, folhas e frutos.
Dessa forma, essa tecnologia poderá mudar o perfil da pequena produção rural, pois o
produtor certamente diminuirá a dependência de produtos químicos, que aumenta o custo de
produção. Objetivou-se com esta pesquisa avaliar a influência de diferentes dosagens de
urina de vaca na nodulação e produtividade da cultura do amendoim (Arachis hipogaea L.),
bem como, avaliar a utilização como fonte de nitrogênio e potássio, em substituição aos
adubos minerais.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Escola de Agronomia da Universidade Federal da
Bahia, no município de Cruz das Almas –Ba; em Latossolo Amarelo álico coeso dos
Tabuleiros Costeiros, sob condições de casa de vegetação, empregando como planta resposta
o amendoim (Arachis hypogae,L).
O delineamento experimental adotado foi de blocos inteiramente casualizados,
constando de 6 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos constantes da pesquisa foram: T1 –
adubação NPK; T2 – adubação NPK + vermicomposto; T3 – vermicomposto + adubação
fosfatada; T4 – vermicomposto + adubação fosfatada + 3mL de urina de vaca de 3 em 3 dias;
T5 – vermicomposto + adubação fosfatada + 3mL de urina de vaca de 6 em 6 dias; e T6 –
vermicomposto + adubação fosfatada + 3mL de urina de vaca de 9 em 9 dias. Conforme
análise química do solo e Manual de adubação e calagem para o Estado da Bahia (Comissão
Estadual de Fertilidade do Solo, 1989), foram
usados 100kg/ha (0,50g/vaso) de uréia,
100kg/ha (2 g/vaso) de superfosfato simples e 100kg/ha (0,50g/vaso) de cloreto de potássio,
como fontes NPK respectivamente. Os adubos fosfatados, potássico e o vermicomposto
usados na proporção de 20.000kg/ha, foram incorporados ao solo no momento do plantio.
Enquanto, que o adubo nitrogenado foi aplicado em solução 15 dias pós-plantio. Como
parcela experimental, foram utilizados vasos de cerâmica com capacidade de 6 kg de
substrato.
Aos 10 dias pós plantio o desbaste foi
realizado, onde foram plantadas 3
sementes/vaso, e posteriormente retirou-se 2 plântulas, permanecendo a mais vigorosa. A
urina de vaca foi aplicada semanalmente no substrato a partir do 12º dia pós-plantio, como
fonte de nitrogênio e potássio, nos tratamentos citados, diluída em 300 mL de água/vaso. Aos
60 dias pós plantio foi feita a coleta de dados. Para análise das variáveis estudadas: peso da
produção, massa seca da raiz e massa seca da parte aérea. Foi utilizado o teste de Duncan, na
análise da variância da comparação entre as médias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
MATERIA SECA (g)
R A IZ
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
T1
T2
T3
T4
T5
T6
T1
T2
T3
T4
T5
T6
TRA T AM ENTO S
Fig.1 – Influência da aplicação de urina de vaca sobre a produção de massa seca
da parte aérea em relação ao uso de adubação mineral na cultura do amendoim.
Podemos observar na Fig. 1 e 2, que os resultados obtidos nos tratamentos T1 e T2
eqüivaleram aos rendimentos proporcionados pelo T4, de modo que na freqüência de
aplicação de 3 em 3 dias supriu as necessidades de nitrogênio e potássio da cultura. Pesquisas
realizadas pela PESAGRO, comprovaram que a urina de vaca de acordo com a concentração
aumenta a velocidade de crescimento das plantas e favorece a produção de raízes, podendo até
a proporcionar colheitas precoces, isso porque a urina de vaca é composta também de algumas
substâncias orgânicas, entre elas catecol e ácido indolacético e outras, o que lhes confere
características fungicidas, fungistáticos e indutores de desenvolvimento vegetativo.
MATERIA SECA (g)
PARTE AEREA
12
10
8
6
4
2
0
T1
T2
T3
T4
T5
T6
T1
T2
T3
T4
T5
T6
TRATAMENTOS
Fig.2 – Efeito da freqüência de aplicação de urina de vaca na produção de massa
seca da raiz comparada com o uso de adubação mineral na cultura do amendoim.
PESO DA PRODUÇÃO
PESO EM (g)
10
8
T1
T2
T3
T4
T5
T6
6
4
2
0
T1
T2
T3
T4
T5
T6
TRATAM ENTO S
Fig.3 – Efeito da freqüência de aplicação de urina de vaca sobre o peso da
produção de grãos de amendoim quando comparada com a adubação mineral.
No caso da figura 3, analisando o peso da produção, é possível observar que o T5, foi
superior aos demais onde a adubação fosfatada, juntamente com outros nutrientes presentes na
urina proporcionaram maior desenvolvimento das sementes. De acordo com o “Inventário
Tecnológico do Amendoim”, elaborado pela Embrapa (1976), o amendoim extrai quantidades
grandes de nutrientes. É altamente exigente em disponibilidade de fósforo, e a presença deste
elemento nas fórmulas de adubação tem promovido aumentos de produtividade até na ordem
de 54%.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENNEMA, J.;BEEK, K. J.; CAMARGO, M.N. Interpretação de levantamento de solos no
Brasil, primeiro esboço; um sistema de classificação de aptidão de uso da terra para
levantamento de reconhecimento de solos. Rio de Janeiro, Div. de Pedologia e Fertilidade do
Solo, 1970. v.3
COMISSÃO ESTADUAL DE FERTILIDADE DO SOLO. Manual de adubação e
calagem
para
o
Estado
da
Bahia.
2.
Ed.
Salvador,
CEPLAC/EMATERBA/EPABA/NITROFERTIL, 1989.
ERNANI, R. R. & GIANELLO, C. Revista Brasileira de Ciência do Solo. v.6, n.2 maio/ago
1983, p. 119-124
GADELHA, R.S.S. Informações sobre a utilização da urina de vaca nas lavouras. Rio de
Janeiro: PESAGRO, 2000 3p.
GIADINI, A. R. Efeito na população natural de Rhizobium sp., estirpes selecionadas, e
épocas de aplicação de nitrogênio, na produção de amendoim (Arachis hypogea L.)
Piracicaba, 1980. 62p. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiróz, Universidade de São Paulo.
KIEL. Edmar José. Fertilizantes Orgânicos. Piracicaba: Ed. Agronômica “Ceres” Ltda., 1985.
492 p.
LOPES, E.S.; et al. Observações da nodulação natural em cultivares de amendoim. Bragantia,
35 (20): XI-XIII, 1976.
MALAVOLTA, Eurípedes. Manual de química agrícola: adubos e adubação.3.ed. São Paulo:
Ed. Agrônomica Ceres, 1981. 602 p.
PEREIRA, S.R. Urina de vaca, adubo e defensivo natural. [S.l.]: Sociedade Brasileira de
Zootecnia,
2001.
Disponível
em:
<http:www.sbz.org.br/scrips/noticias/ler.asp?Cod_Not=161>. Acesso 13 de abril de 2001.
RAIJ, B.V. Fertilidade do solo e adubação. São Paulo: Ed. Agronômica “Ceres” Ltda., 1991.
343 p.
SILVA, O. Manual prático e técnico de agricultura. 2ª ed. São Paulo: Ed. Instituto
Campineiro de Ensino Agrícola, 1985, 524 p.
URINA
de
vaca
no
coco
e
abacaxi.
Disponível
<http:www.geocities.com/jersey2a/urinavaca.html>. Acesso 13 de abril de 2001
em:
INFLUÊNCIA DA APLICAÇÃO DE URINA DE VACA NA NODULAÇÃO E
PRODUTIVIDADE DA CULTURA DO FEIJÃO (Vigna unguiculata)
Cássia da Silva Sousa¹; Gabriel Barreto Macêdo¹; Carla da Silva Sousa¹; Marcos Fernandes Pinto
da Cunha¹; João Albany Costa²; José Carlos Ribeiro de Carvalho²
INTRODUÇÃO
O feijão caupi [Vigna unguiculata (L) Walp.] também conhecido por feijão de corda ou
feijão macassar é considerado alimento de capital importância na Região Nordeste do Brasil,
suprindo parcialmente as deficiências protéicas da população. É muito utilizado em pratos típicos
da culinária Nordestina, sendo, pois, apreciado pelo seu sabor e cozimento fácil (Vieira, 1988;
Oliveira et al, 2001). Na Bahia, esta leguminosa responde por aproximadamente produzido no
país, correspondendo a cerca de 305.000 toneladas (Vieira, 1988).
A planta pode ser cultivada em locais com temperatura variando entre 20 e 35 0C, sendo
muito sensível a variações extremas na umidade do solo, temperatura do ar, ventos, sendo
também muito susceptível a doenças e pragas (Abril, 1990; Portes, 1988).
O feijão caupi, embora exigente em nutrientes, pode ser cultivado em solos com regular
teor de matéria orgânica e razoável fertilidade. Nestes casos, adubações minerais e orgânicas são
necessárias, devendo-se antes observar a viabilidade econômica da aplicação do adubo. Em suma,
o uso de fertilizantes orgânicos tem proporcionado bom rendimento das culturas, além de
melhorar os aspectos físicos e biológicos do solo (Mello et al., 1988). Dentre os adubos orgânicos
mais utilizados na produção agrícola citam-se os estercos bovino, caprino, ovino, de galinha,
composto de lixo, de biodigestores e adubos verdes (Kiehl, 1985).
Atualmente, novos produtos orgânicos têm sido utilizados na produção agrícola com o
objetivo quer de otimizar a produção, quer combater pragas e doenças. Dentre estes citam-se o
vermicomposto e a urina de vaca, este último objeto de analise da viabilidade técnico-científica
do seu uso por produtores rurais, principalmente olericultores.
A urina de vaca é um produto organo-mineral, o que lhe confere fácil absorção via foliar
graças a organização complexa dos minerais em condições orgânicas (quelatos). A análise da
__________________________
1
Acadêmicos de Agronomia - Escola de Agronomia da UFBA. Cruz das Almas-BA. . CEP: 44380-000.
[email protected]
2
Professores da Escola de Agronomia – UFBA. Cruz das Almas-BA. CEP: 44380-000.
urina bovina, fermentada por oito dias, apresentou 14 (quatorze) tipos de nutrientes (macro e
micro). Além desses nutrientes, segundo pesquisas da Pesagro, a urina é composta também de
algumas substâncias orgânicas, entre elas o catecol, o ácido indol acético e outras, o que lhes
confere características fungicidas, fungistáticas e indutores de desenvolvimento vegetativo. “In
vitro” mostrou-se eficiente no controle de fungos e bactérias, como fusartose sp, xanthomona,
erwinia e outras (Urina, 2001)
Gadelha (1999), descreve que a urina de vaca contém substâncias que, reunidas, melhoram
a saúde das plantas, tornando-as mais resistentes às pragas e doenças. Dentre elas o potássio que
é o elemento químico de maior quantidade na urina de vaca que atua na planta aumentando o
aproveitamento de água, tornando as paredes dos tecidos mais duras, com maior resistência de
colheita à armazenagem e no transporte, diminuindo as perdas, acentuando a eficiência da
adubação nitrogenada e eliminando o excesso de nitrogênio nas folhas, o que, consequentemente,
diminui o efeito atrativo para a incidência de pragas e doenças. Já o enxofre, aumenta a produção
de proteínas, tornando os produtos mais nutritivos e o sódio aumenta o teor caroteno, tornando
os produtos mais atrativos para o comércio. Os fenóis aumentam a reação das plantas ao ataque
de doenças, sendo o catecol o mais importante na urina enquanto que o ácido indolacético é um
hormônio de crescimento que existe naturalmente em todas as plantas, sendo também encontrado
na urina, de acordo com a concentração aumenta a velocidade de crescimento das plantas e
favorece a formação de raízes, podendo proporcionar colheitas mais precoces. Para Guimarães
(1999), dosagens de urina elevadas podem causar danos às plantas.
Além disso, os testes realizados revelaram vantagens na utilização do produto como: não é
tóxico, diminui o uso de agrotóxicos, praticamente não tem custo; substitui em parte o adubo
químico, aumenta a produção; melhora a qualidade e o padrão dos frutos. Em hortaliças o uso da
urina de vaca é recomendado em pulverizações foliares semanais, na concentração de 0,5%,
para: tomateiro, pimentão, pepino, feijão, vagem e couve; já para o quiabo, jiló e beringela, o
melhor resultado foi obtido, com mistura de 1 L de urina de vaca em 100 L de água pulverizada
nas plantas de 15 em 15 dias e para tomate, pepino, feijão de vagem, alface e couve, a mesma
proporção, sendo a pulverização semanal. O uso da urina de vaca
na agricultura é uma
tecnologia inédita no Brasil e poderá mudar o perfil da pequena produção rural regional, já que o
produtor certamente diminuirá a dependência de produtos químicos de fora da produtividade,
contribuindo para o aumento do padrão de vida familiar e não promovendo risco à saúde do
produtor e do consumidor (Gadelha 1999).
Portanto, o objetivo deste estudo é analisar a resposta do uso de diferentes épocas de
aplicação da urina de vaca no feijoeiro (Vigna unguiculata) em relação a matéria seca da raiz e
parte aérea.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi conduzido na casa de vegetação em Latossolo Amarelo álico coeso dos
Tabuleiros Costeiros do Departamento de Química Agrícola e Solos da Escola de Agronomia da
Universidade Federal da Bahia, no município de Cruz das Almas, Estado da Bahia, que se
encontra a 12º 40'39'' de latitude Sul, 39º06'23'' de longitude Oeste de Greenwich, a 220 metros
de altitude, clima do tipo Aws de transição entre Af e Aw. A temperatura média anual é de 24,5º
C, com umidade relativa média anual de 80% e precipitação pluvial média anual de 1,197 mm
(EMBRAPA, 1991).
O delineamento experimental adotado foi de blocos inteiramente casualizados, constando
de cinco (05) tratamentos e cinco (05) repetições. O solo coletado fora submetido a secagem em
temperatura ambiente, peneirada – terra fina seca ao ar (TFSA) – e posteriormente
acondicionadas em vasos de cerâmica com capacidade de
três (03) kg de substrato. Os
tratamentos constantes da pesquisa foram: T1 – TFSA; T2 – TFSA + vermicomposto +adubação
fosfatada; T3 – TFSA + vermicomposto + adubação fosfatada + 3mL de urina de vaca de 3 em 3
dias (08 doses); T4 – TFSA + vermicomposto + adubação fosfatada + 3mL de urina de vaca de 6
em 6 dias (04 doses); e T5 – TFSA + vermicomposto + adubação fosfatada + 3mL de urina de
vaca de 9 em 9 dias (03 doses). Foram usados 100kg/ha (2 g/vaso) de superfosfato simples (P2O5)
e vermicomposto na proporção de 20.000kg/ha, sendo incorporados ao solo no momento do
plantio (Comissão Estadual de Fertilidade do Solo, 1989).
Aos 10 dias pós plantio o desbaste foi realizado, onde foram plantadas 3 sementes/vaso, e
posteriormente retirou-se
2 plântulas, permanecendo a mais vigorosa. A urina de vaca foi
aplicada semanalmente no substrato a partir do 15º dia pós-plantio, como fonte de nitrogênio e
potássio, nos tratamentos citados, diluída em 300 mL de água/vaso. Aos 36 dias pós plantio foi
feita a coleta de dados. As variáveis estudadas no trabalho foram: peso da produção, massa seca
da raiz, massa seca da parte aérea e número de nódulos, que foram submetidos a teste F e análise
de regressão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados na análise física da matéria seca da parte aérea, sistema radicular e
nodulação do feijoeiro estão representados nas tabelas 1, 2 e 3.
Os valores encontrados para o rendimento de matéria seca do sistema radicular, da parte
aérea e do número de nódulos nas raízes permitem concluir que o uso de urina de vaca favorece o
desenvolvimento mais acelerado dos parâmetros fisiológicos supracitados. Isto pode ser
explicado pela existência do hormônio de crescimento – ácido indolacético - na urina, o que, em
concentrações elevadas, favoreceria a formação de vasto sistema radicular e maior velocidade de
desenvolvimento da parte aérea (Gadelha, 2000).
TABELA 1 – Peso de matéria seca da parte aérea do feijoeiro (Vigna unguiculata) cultivado em
casa de vegetação em Cruz das Almas, Bahia
Tratamento
Matéria seca (g/pl)
R1
R2
R3
R4
R5
T1
---
0,96
1,05
1,12
1,20
T2
1,41
1,63
1,31
1,72
1,51
T3
4,32
4,71
5,09
4,77
5,01
T4
2,89
2,19
3,21
3,51
2,98
T5
1,80
1,72
1,50
2,00
1,83
TABELA 2 – Peso de matéria seca do sistema radicular do feijoeiro (Vigna unguiculata)
cultivado em casa de vegetação em Cruz das Almas, Bahia
Tratamento
Matéria seca (g/pl)
R1
R2
R3
R4
R5
T1
---
0,1
0,1
0,1
0,1
T2
0,2
0,3
0,2
0,3
0,2
T3
0,8
1,0
0,7
0,8
0,7
T4
0,4
0,3
0,3
0,3
0,4
T5
0,2
0,3
0,2
0,3
0,4
TABELA 3 – Quantidade de nódulos no sistema radicular do feijoeiro (Vigna unguiculata)
cultivado em casa de vegetação em Cruz das Almas, Bahia
n.º de nódulos/raiz
Tratamento
R1
R2
R3
R4
R5
T1
---
22
25
17
18
T2
26
32
36
20
31
T3
52
60
45
50
52
T4
31
33
40
42
30
T527
27
29
31
30
35
Houve significância na freqüência de aplicação do produto tanto em nível de 5% quanto
de 1% de probabilidade (Tabela 04). Isto sugere dizer que o uso de urina de vaca utilizado na
freqüência de 3 em 3 dias garante um desenvolvimento mais uniforme e garante colheitas mais
precoces (Guimarães, 2001).
TABELA 4 – Média dos tratamentos para peso matéria seca do sistema radicular, parte aérea e
nodulação das raízes no feijoeiro (Vigna unguiculata) – Tukey (0,05)
Tratamento
Raiz (g/pl)
Parte Aérea (g/pl)
Nodulação
T3
0,80 a
4,78 a
51,8 a
T4
0,34 b
2,96 b
35,2 b
T5
0,28 b
1,77 c
30,4 b,c
T2
0,20 b,c
1,52 c,d
29 b,c
T1
0,10 c
1,08 d
20,5 c
(1) Os valores que apresentam as mesmas letras são estatisticamente iguais.
A maior dificuldade de se trabalhar com insumos orgânicos é a não homogeneidade de
nutrientes em sua composição, ficando dependente, principalmente, da manejo sanitário e
alimentar dado aos animais e da qualidade do material original. Entretanto, sabe-se que o insumo
em questão possui uma razoável de potássio e nitrogênio. Segundo Oliveira & Thung (1988), não
se conhece nenhum caso de deficiência de potássio em feijão ou aumento da produção de vagens
pela adição deste nutriente, visto os solos brasileiros terem razoáveis teores do mesmo. Porém,
Haag et. al. (1967) citado por Oliveira & Thung (1988), estudando seleção de absorção de
nutrientes pelo feijoeiro (Phaseolus vulgaris) em casa de vegetação, perceberam que o potássio é
o pela sua função de ativador de enzimas, contribuindo diretamente para a fotossíntese. Sua
deficiência causaria uma necrose internerval das folhas. No ensaio, notou-se que as plantas não
apresentaram tal característica, sendo a urina de vaca adequado supridor de potássio (K).
Quanto ao nitrogênio, por ser uma leguminosa, o feijão consegue absorver este elemento
do meio por meio das bactérias do gênero Rhizobium. Porém, com a adição de nitrogênio no
substrato, há depleção da ação deste microseres, o que acarreta uma menor nodulação nos sistema
radicular das plantas hospedeiras. Na literatura consultada, não houve referência á adição de
quaisquer fertilizantes orgânicos e nodulação de raízes, por isso, não se pôde afirmar com
segurança seu real efeito sobre a atividade das bactérias Rhizobium.
Pelas figuras 1, 2 e 3, abaixo, percebe-se claramente a influência positiva da urina de vaca
sobre o peso da matéria seca dos parâmetros fisiológicos estudados. Porém, notou-se que as retas
apresentam crescimento indeterminado, não apresentando ponto de máximo, o que não é
condizente com o uso de insumos agrícolas, pois após um determinado nível de uso (quantidade),
há a tendência de estabilização e até inflexão da curva. Este resultado pode ser conseguido talvez
MASSA SECA DA RAIS (g/pl)
com uma maior freqüência de aplicação da urina de vaca.
y = 0,186x - 0,06
R2 = 0,7939
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0
3
4
8
FREQUÊNCIA DE APLICAÇÕES
Figura 1 – Efeito linear entre freqüência de aplicações e rendimento de matéria seca do sistema
radicular do feijoeiro (Vigna unguiculata).
MASSA SECA DA PARTE
AÉREA (g/pl)
6
y = 1,0982x + 0,011
2
R = 0,9071
5
4
3
2
1
0
0
3
4
8
FREQUÊNCIA DE APLICAÇÕES
Figura 2 – Efeito linear entre freqüência de aplicações e rendimento de matéria seca da
NODULAÇÃO
parte aérea do feijoeiro (Vigna unguiculata).
y = 7,12x + 21,1
R2 = 0,9735
60
50
40
30
20
10
0
0
3
4
8
FREQUÊNCIA DE APLICAÇÃO
Figura 3 – Efeito linear entre freqüência de aplicações e número de nódulos no sistema radicular
do feijoeiro (Vigna unguiculata).
CONCLUSÃO
¾ uso de urina de vaca na dose de 3mL no feijão-caupi (Vigna unguiculata) é recomendado no
intervalo de 03 (três) em 03 (três) dias; e
¾ Há a necessidade de se aumentar a freqüência de aplicação da urina de vaca para saber o
ponto de máximo rendimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COMISSÃO ESTADUAL DE FERTILIDADE DO SOLO. Manual de adubação e calagem
para o Estado da Bahia. 2.Ed. Salvador, CEPLAC/EMATERBA/EPABA/NITROFERTIL, 1989.
EMBRAPA.
Centro
Nacional
de
Pesquisa
de
Mandioca
e
Fruticultura.
Boletim
agrometeorológico – 1986/1989. –Cruz das Almas, 1991, 10p.
GADELHA, R.S.S. Informações sobre a utilização da urina de vaca nas lavouras. Rio de Janeiro:
PESAGRO, 2000, 3p.
GUIMARÃES, N. Urina de vaca como fungicida. Disponível em: http://www.widesoft.com.br.
Acesso 13 de abril de 2001
KIEHL, E. J. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba, SP: Agronômica Ceres Ltda., 1985, 492p.
MELLO, A. F. et al. Fertilidade do solo. São Paulo: Nobel, 1983.
OLIVEIRA, A. P. et al. Rendimento de feijão-caupi cultivado com esterco bovino e adubo
mineral. Horticultura brasileira, Brasília, v.19, n.01, p.81-84, março 2001.
OLIVEIRA, I. P. de; THUNG, M. D. T. Nutrição mineral. [In]: Cultura do feijoeiro – fatores
que afetam a produtividade. Piracicaba, SP: POTAFOS, 1988, p.175-212.
PORTES, T. de A. Ecofisiologia. [In]: Cultura do feijoeiro – fatores que afetam a produtividade.
Piracicaba, SP: POTAFOS, 1988, p.125-156.
URINA
de
vaca
no
coco
e
abacaxi.
Disponível
http:www.geocities.com.br/jersey2a/urinadevaca.html. Acesso 13 de abril de 2001.
em:
VIEIRA, C. Perspectiva da cultura do feijão e de outras leguminosas de grão no país e no
mundo. [In]: Cultura do feijoeiro – fatores que afetam a produtividade. Piracicaba, SP:
POTAFOS, 1988, p.3-19.
VIEIRA, J. L. T. M. Produção e comercialização no Brasil. [In]: Cultura do feijoeiro – fatores
que afetam a produtividade. Piracicaba, SP: POTAFOS, 1988, p.21-35.
AVALIAÇÃO DO ÍNDICE SALINO DE DIFERENTES MATERIAS FERTILIZANTES
NA QUALIDADE FISIOLÓGICA DO FEIJÃO CAUPI (VIGNA SINENSIS).
Cassia da Silva Sousa¹; Carla da Silva Sousa¹; José Carlos Ribeiro de Carvalho²
INTRODUÇÃO
Os fertilizantes podem deixar no solo um resíduo ácido, neutro, ou alcalino, dependendo de
sua composição. Além disso, sendo sais, eles aumentam a pressão osmótica da solução em que se
dissolvem (Raij, 1991).
A formação de solos salinos ou sódicos ocorrem em climas semi-áridos de lixiviação
pronunciada possibilita acúmulo de sais no solo. A situação pode ser muito agravada com a
irrigação, já que a água utilizada sempre carreia sais para o solo (Raij, 1991).
A salinidade afeta o crescimento das plantas, principalmente pelo aumento da pressão
osmótica do meio, reduzindo a disponibilidade de água. O efeito sobre as plantas afetam as
produções muito antes dos sintomas visuais tornarem-se aparentes. Além do efeito na pressão
osmótica, alguns componentes que podem ocorrer em solos salinos carbonato de sódio ou borax,
prejudicando diretamente as plantas. Os efeitos da salinidade sobre as plantas variam para
espécies e cultivares (Raij, 1991).
A concentração de fertilizantes, junto ou próximo às sementes ocasiona prejuízos à
germinação e “queima” das plantas germinadas. É sempre recomendável a colocação de
fertilizantes, abaixo e ao lado das sementes, pois além de evitar a queima, propicia melhor
aproveitamento dos nutrientes (Coelho, 1973).
O excesso de sais na zona radicular prejudica a germinação, desenvolvimento e
produtividade das plantas. Isso porque a maior concentração da solução irá exigir da planta mais
energia para conseguir absorver água, uma energia que será desviada dos processos metabólicos
essenciais (Tomé Jr., 1997).
Lima (1999), trabalhando com uréia, calcário, superfosfato simples, e cloreto de potássio,
verificou que independente do índice salino (maior ou menor), qualquer material fertilizante
manufaturado quando em contacto direto com a semente, prejudica sobremodo o percentual de
germinação das sementes; e que os fertilizantes uréia e cloreto de potássio independente do modo
de aplicação são mais danosos a germinação do feijão (Phaseolus vulgaris L.).
__________________________
1
Acadêmicos de Agronomia - Escola de Agronomia da UFBA. Cruz das Almas-BA. . CEP: 44380-000.
[email protected]
2
Professor da Escola de Agronomia – UFBA. Cruz das Almas-BA. CEP: 44380-000.
A uréia é um fertilizante nitrogenado de uso relativamente recente e apenas nas últimas
décadas ela vem se firmado de forma incontestável como uma das melhores opções. As restrições
ao uso dos produtos diziam respeito a propriedades físicas indesejáveis; devido a
higroscopicidade do produto, a possíveis perdas de nitrogênio por volatização quando usado na
superfície de solos e a toxidez para as plantas de biureto, que ocorre como impurezas na uréia.
Outro aspecto importante é em relação ao elevado índice salino (75), o que denota em uma
preocupação redobrada, já que formas incorretas de utilização levará a danos na germinação e
desenvolvimento das culturas (Raij, 1991).
O fosfato de Araxá ou Apatita de Araxá é proveniente de Minas Gerais, apresentando 31%
de óxido de fósforo dos quais 6% são solúveis em ácido cítrico à 2% (Malavolta, 1967).
Em relação a adubos fosfatados Malavolta, (1967) descreve que existem diversos adubos
fosfatados no comércio. Eles diferem na sua concentração em fósforo e solubilidade.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi conduzido em um latossolo amarelo, no Campo Experimental II (Politeno), da
Escola de Agronomia da UFBA, no município de Cruz das Almas-BA.
O delineamento experimental casualizado, com parcelas subdivididas constando de quatro
tratamentos: fosfato de Araxá; superfosfato triplo; uréia; e a testemunha (sem fertilizante); e
cinco subtratamentos sendo as diferentes localizações dos fertilizantes no solo: no sulco de
plantio separado da semente por uma camada de solo (L1); no sulco de plantio em contato direto
com as sementes (L2); colocado a lanço com incorporação (L3); a lanço sem incorporação (L4);
em sulco lateral em relação ao de plantio (L5). As parcelas foram construídas de 5 m², com dois
blocos.
O material de propagação foram sementes de feijão (Vigna sinensis), o espaçamento foi de
0,2X 0,5m. Foram empregados 50g de cada material fertilizante por metro linear de sulco.
Analisou-se o índice de germinação de feijão. As análises estatísticas foram realizadas pelo teste
de Duncam a 5% de probabilidade, mediante o programa SAS-institute
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As adubações visam devolver ao solo elementos nutritivos que foram absorvidos pelas
culturas ou perdidos por diferentes formas. Embora pareça uma prática fácil, as respostas das
culturas às adubações tem indicado o contrário. Para se obter resposta satisfatória as adubações
deve-se atentar para alguns pontos, tais como, quantidade a ser aplicada, época e modo de
aplicação, além de seu comportamento no solo.
Os melhores índices de germinação foram verificados, na fig.01, para as localizações L3 e
L5 sem diferença estatística à 5%, onde as sementes não tiveram contacto direto com os materiais
fertilizantes, resultados estes semelhantes ao de Coelho (1973) que retrata o prejuízo a
germinação de sementes quando colocados juntos ou muito próximos às sementes.
% de germinação
100
BA
80
BC
BC
C
60
A
L1
L2
L3
40
L4
20
L5
0
L1
L2
L3
L4
L5
Localizações dos Fertilizantes
Fig.01 – Efeitos das diferentes localizações dos materiais fertilizantes (L1-Fundo do sulco sem contacto com
as sementes; L2- Fundo do sulco com as sementes em contacto; L3- a lanço sem contacto com as sementes; L4- a
lanço com as sementes em contacto; L5- em sulco paralelo ao de plantio) na germinação do feijoeiro ( Vigna
sinensis), 2002
Efeitos da aplicação, em diferentes localizações de materiais fertilizantes na germinação de
plantas de feijão caupi são apresentados na tabela – 1. Nos tratamentos com o fosfato de Araxá o
melhor índice de germinação (95 a 90%) se obteve aplicando o fertilizante no fundo do sulco e a
lanço sem prévia cobertura e incorporação deste material, respectivamente, ficando em contacto
com as sementes. Já nos tratamentos com o superfosfato simples verifica-se os melhores índices
(95; 80 e 80%) se obteve, quando não foram semeadas em contacto direto com o fertilizante,
sendo que o tratamento com uréia a melhor resposta (40%) foi obtida quando semeadas em sulco
lateral ao de adubação, resultados estes semelhantes ao trabalho de Lima (1999), que demonstra
que independente da localização a uréia é o fertilizante mais danoso a germinação de sementes.
FERTILIZANTES
Sem fertilizante
Fosfato de Araxá
Superfosfato
Uréia
triplo
¾
L1
85 A
65 B
80 A
05 B
L2
85 A
95 A
25 B
00 B
L3
90 A
85 AB
80 A
15 B
L4
85 A
90 A
50 BA
00 B
L5
90 A
65 B
95 A
40 A
Letras iguais em colunas demonstram que as médiass não diferiram estatísticamente, e letras diferentes em
colunas demosntraram diferença estatística a nível 5% de probabilidade.
Quanto ao material fertilizante o que apresentou melhor resultado para a variável estudada,
foi o fosfato de Araxá (80%), não diferindo estatisticamente a 5%, com os resultados referentes a
testemunha (87%).
% de germinação
100
A
A
80
B
SF
60
FA
40
ST
UR
C
20
0
SF
FA
ST
UR
Fertilizantes
Fig.02 – Efeitos de diferentes materiais fertilizantes (SF – Sem aplicação de fertilizante; FA – fosfato de
Araxá; ST – Superfosfato triplo; UR – Uréia ) na germinação do feijoeiro ( Vigna sinensis)
CONCLUSÕES
O fosfato de Araxá em contacto direto com a semente, não exerceu influência na
germinação do feijão ( Vigna sinensis), já o superfosfato triplo e a úreia, exerceram efeitos
negativos.
Independente do modo de localização, quanto maior for os índices salinos dos fertilizantes,
maiores são os danos a germinação das sementes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
¾ LIMA, G.S.; CARVALHO, J.C.R. Influência do índice salino de adubos na germinação
de sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.)In: SEMINÁRIO ESTUDANTIL DE
PESQUISA, 18., 1999, Salvador, Livro de resumos. PRPPG-UFBA, 1999.
¾ MALAVOLTA, E. Manual de Química Agrícola: adubos e adubação. 2 ed. São Paulo: Ceres,
1967. 606p.
¾ RAIJ, B. V. Fertilidade do solo e adubação. Piracicaba: Ceres, 1991. 343p.
¾ TOMÉ Jr., J.B. Manual para interpretação de análise de solo. Guaíba: Agropecuária,
1997. 247p.
INVESTIGAÇÃO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO RIZOMA DE SPIRANTHERA
ODORATISSIMA
Fabrício Souza Silva, Angélica Maria Lucchese
Laboratório de Química de Produtos Naturais e Bioativos - Departamento de Ciências Exatas Universidade Estadual de Feira de Santana - Ba
A utilização de plantas no tratamento e cura de enfermidades é muito difundida, especialmente
em regiões com indicadores econômicos adversos, se constituindo por vezes na única alternativa
de tratamento terapêutico empregada. A observação sobre o uso popular de plantas medicinais
pode auxiliar estudos de investigação química que têm como objetivo a descoberta de novas
substâncias bioativas. As folhas e raízes da espécie S. odoratissima, objeto de estudo deste
trabalho, são empregadas pela população na forma de decocto, no vinho ou aguardente, contra
reumatismo, gota, infecção do rim e inflamações em geral. Esta planta é conhecida pela ação
diurética e depurativa, mas seu uso em grande quantidade causa coceira, diarréia e vômito. É
espécie que pertence a família Rutaceae e pode ser encontrada na Bolívia e no Brasil. No Brasil
ela ocorre naturalmente desde o estado de Mato Grosso até a Bahia, onde está presente na
Chapada Diamantina, em matas de transição entre cerrado e caatinga. É um arbusto de 2 a 3 m
de altura com folhas, flores, frutos e caule subterrâneo aromáticos, sendo conhecida
popularmente como "acabadeira" ou "sarrinha" na Bahia. Sua importância como objeto de
investigação está ligada, não somente ao seu uso medicinal, como ao fato de ser uma espécie
vulnerável, estando incluida na lista de espécies ameaçadas de extinção por fatores como
destruição do habitat, distribuição restrita e com populações em declínio e isoladas. Os estudos
realizados até o momento levaram a identificação de substâncias pertencentes as classes de
terpenos e fenil-propanóides, tanto na casca da raiz quanto na parte interna. Outras classes de
substâncias, como alcalóides, flavonas, flavonóis, resinas e taninos catéquicos também foram
detectados e estão em fase de isolamento e purificação.
Agradecimentos: FINEP, PIBIC/CNPQ, PROBIC/UEFS
A CRIAÇÃO DE ABELHAS SEM FERRÃO (APOIDEA; APIDAE; MELIPONINA)
COMO ATIVIDADE ECOSSUSTENTÁVEL NO POVOADO DE JEQUITIBÁ, MUNDO
NOVO – BAHIA,
DIAS, C.S. 1,2, SOUZA, B.A. 2 , MACHADO, C. S.2, SANTOS, U. S1,3 . ALVES, R. M. de O.2,4
& I. F.SANTANA1,5
Palavras-Chaves: Meliponicultura; abelhas sem ferrão; desenvolvimento sustentado
As abelhas pertencentes à subtribo Meliponina (Apoidea; Apidae; Apini) são insetos eussociais
com ampla distribuição tropical, e que, devido ao alto valor de mercado de seu mel, são alvo da
ação extrativista de “meleiros”. Para evitar a extinção dessas abelhas torna-se necessário o
desenvolvimento de uma consciência ecológica na população e a adoção de métodos racionais de
criação (Meliponicultura). Localizado no município de Mundo Novo – BA (40º28´23”W;
11º51´34”S), o Povoado de Jequitibá por muito tempo foi referência na criação empírica de
abelhas sem ferrão. No entanto, desde a introdução das abelhas africanizadas (Apis mellifera
scutellata) muitos produtores abandonaram a criação de meliponíneos, partindo para a prática de
uma apicultura de subsistência ou ainda para o extrativismo. Embora ainda possua o status de
produtora de mel de abelhas sem ferrão, raramente se encontra na região tal produto, estando um
pequeno número de enxames acomodados em cortiços e manejados com baixo nível tecnológico,
além da inexistência de pessoal capacitado para a aplicação de técnicas de manejo relacionadas
com a criação racional. Com o projeto “Meliponicultura no Vale” a ASAMEL - Associação de
Apicultores e Meliponicultores do Vale do Paraguaçu, juntamente com órgãos parceiros (EBDA,
EA-UFBA, EAF – Catu, EFA – Ruy Barbosa) tem promovido a restauração/implantação da
criação de abelhas sem ferrão para evitar que a atividade se extinga nessa e em outras localidades
pertencentes ao vale do Paraguaçu. Estão sendo utilizados diversos recursos técnicos, que vão
desde entrevistas até a capacitação dos produtores locais através de cursos, palestras e reuniões
periódicas abrangendo quatro etapas quadrimestrais: 1.ª - restauração/implantação da atividade;
2ª - condução; 3.ª - conclusão e 4.ª - apresentação dos resultados. Atualmente estão sendo
capacitados 30 produtores para trabalhar com as abelhas uruçu (Melipona scutellaris), mandaçaia
(M. quadrifasciata anthidioides) e jataí (Tetragonisca angustula), que são as espécies mais
adaptadas ao micro-clima do Povoado. As avaliações são feitas a cada dois meses, através de
cursos, reuniões e de visitas técnicas. Este trabalho também serve de suporte para outros,
relacionados com mercado de produtos, índice tecnológico, educação ambiental, perspectivas
mercadológicas e preservação de espécies. Paralelamente também estão sendo executadas
atividades de levantamento da melissofauna e melissoflora local, caracterização da produtividade
e construção de um meliponário-modelo.
1
ASAMEL - Associação de Apicultores e Meliponicultores do Vale do Paraguaçu / UNEB –
Campus XII - Itaberaba – BA
E-mail: [email protected]
2
Departamento de Fitotecnia, Escola de Agronomia – UFBA – Cruz das Almas – BA
3
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – Gerência Itaberaba - BA
4
Escola Agrotécnica Federal de Catu - BA
5
UNEB – Campus II - Alagoinhas – Ba / Escola Família Agrícola – Ruy Babosa - BA
ADSORÇÃO DE METAIS EM SOLUÇÃO AQUOSA SOBRE CARVÃO ATIVADO
Nathaly de Souza Batistaa, Suzana Modesto de Oliveira Britob
Departamento de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Feira de Santana
Km 03, BR 116 Campus Universitário, Feira de Santana, BA, 44031-460
a
Aluna de Iniciação Científica, Graduanda em Ciências Farmacêuticas
b
Doutor em Química Analítica, Prof. Adjunto
Uma das principais causas de contaminação da água é a presença de metais tóxicos. Estes são
provenientes de agrotóxicos, indústrias ou de fontes naturais e tem provocado a degradação de
muitos corpos d'água. Uma alternativa atraente para descontaminação de água é a utilização de
processos de adsorção, visto que se trata de um método prático e de baixo custo. Nesse contexto o
projeto "Obtenção de Carvão Ativado a partir do Ouricuri", com o subprojeto "Adsorção de
Metais em Solução Aquosa sobre Carvão Ativado" está sendo desenvolvido no Laboratório de
Catálise e adsorção da UEFS. O objetivo geral do projeto é desenvolver procedimentos para
viabilizar a montagem de sistemas de purificação utilizando adsorventes de baixo custo e alta
eficiência. O resíduo sólido da produçào de óleo de licuri parece ser adequado para produção de
carvão ativado e esse carvão pode ser usado em sistemas de purificação de água, com remoçào de
metais. Este resumo apresenta os primeiros resultados obtidos nos testes de remoção de cobre,
ferro e zinco em solução aquosa. Para avaliar a adsorçào de metias, utilizamos um carvào
presente em filtros de água, que era colocado em contato com soluções de diferentes
concentrações dos metais estudados à temperatura constante. As isotermas de adsorçào foram
então construídas utilizando-se a equação de Langmuir. Os resultados encontrados mostram que o
íon Fe(II) apresenta os melhores parâmetros de adsorção sobre o carvão ativado, seguido pelo
Zn(II) e pelo Cu(II). Esses resultados podem ser entendidos com base na relação carga/raio
desses íons. O íon com maior relação carga/raio é o Cu II. Como a superfície do carvão é apolar,
quanto menos polarizante for o íon (menor relação carga/raio) melhor a adsorção sobre o carvão
ativado. Assim, espera-se que o Fe II seja mais adsorvido, seguido pelo Zn II e Cu II, o que foi
confirmado nos experimentos. A proximidade entre as capacidades de sorção do Zn II e Cu II é
atribuída a diferença entre os raios iônicos desses íons. Embora seja menos polarizante, o Zn tem
maior raio que o Cu, o que diminui a adsorção pela saturação dos sítios devido ao impedimento
estérico. Esse fator justifica também a diferença entre a adsorção do Zn e do Fe, embora suas
relações carga/raio sejam próximas. O pH da solução não parece ter influência sobre a capacidade
de adsorção dos íons Cu II, Fe II e Zn II. No entanto,para outros íons, ainda não testados, o pH
pode ser um fator determinante da adsorção. A influência do raio iônico e da relação carga/raio
na adsorção ficou comprovada nos experimentos. Observa-se que esses efeitos são concorrentes,
ou seja, íons com alta relação carga/raio (Cu2+) podem apresentar capacidades semelhantes a íons
de menor relação carga/raio (Zn2+), apenas pelo fato de que quanto maior o raio iônico maior o
bloqueio dos sítios de adsorção (impedimento estérico) e menor a capacidade de sorção. O
comportamento de adsorção dos íons testados obedece a isoterma de Langmuir, apresentando
uma curva característica de adsorção sobre sólidos microporosos (Isoterma Tipo I).
MANDIOCA:
POTENCIALIDADE ECONÔMICA E ALTERNATIVA PARA A FOME
Rui Caldas Brandão *
Produto básico para a agricultura familiar, a mandioca (Manihot esculenta Crantz) é cultivada
em regiões tropicais e tem como característica a fácil adaptação a diferentes condições de
clima e solo. Aliada à sua rusticidade e utilizada de várias formas, merece a atenção especial
de nossos planejadores, pesquisadores, agricultores e do setor agroindustrial brasileiro.
Utilizada pelos indígenas antes dos europeus desembarcarem nestas terras, a mandioca é
considerada a mais brasileira das plantas econômicas. Atualmente é difundida em todos os
Estados, sendo o Paraná, a Bahia e o Pará os principais produtores. É o sexto produto agrícola
nacional e tem o Nordeste como a principal região produtora.
Além da farinha de mesa, principal destino do beneficiamento da mandioca, mais de
cinqüenta subprodutos são conhecidos, indo desde a utilização do amido (fécula) em diversos
tipos de beijus, na panificação como aditivo à farinha de trigo, até a produção de álcool
combustível, fonte de energia renovável.
O objetivo deste artigo é divulgar as potencialidades da cultura da mandioca (raiz e parte
aérea) e a sua participação econômico-social para o país, contribuindo na mobilização da
sociedade civil organizada na busca de alternativas para a macroregião do semi-árido
brasileiro, fazendo coro aos diversos estudos e experiências positivas de entidades e ONGs e
em especial ao trabalho que a equipe de extensionistas da EBDA da Região de Feira de
Santana vem desenvolvendo, denominado “Programa de Revitalização da Cultura da
Mandioca para o Município de Feira de Santana”. É um Projeto em fase de elaboração, em
parceria com a EMBRAPA- Mandioca e Fruticultura e APAEB, tendo como intento o
melhoramento de cultivares, o aperfeiçoamento do sistema de produção, garantindo o
aumento da produtividade, além do aspecto de verticalização da produção com a
modernização das casas de farinha comunitária, implantação de fecularias no município e a
divulgação da utilização de raiz e parte aérea da mandioca na alimentação humana e animal.
* Economista, Esp. em Economia e Gestão Pública – Extensionista da EBDA, Regional de
Feira de Santana- BA.
AVALIAÇÃO DO IMPACTO SÓCIO-CULTURAL DO PROGRAMA SAÚDE DA
FAMÍLIA (PSF) NO MUNICÍPIO DE SERRA PRETA-BAHIA.
CRUZ, M.F.A.1, MELLO, J.R.M1.
1
Secretaria Municipal de Saúde – Serra Preta - Bahia
Introdução: Segundo o Ministério da Saúde, 1997, o Programa Saúde da Família (PSF) possui
como objetivos gerais: reorientação do modelo assistencial, ênfase na atenção básica, definição
de responsabilidades entre os Sistemas de Saúde e a população. O Programa segue a política da
complementaridade, não existindo como um atendimento isolado, devendo ser a porta de entrada
dos usuários (SESAB, 1996; BECH, 2000). Ao focalizar nas interações, nas práticas discursivas a
construção das realidades sociais, abrem-se caminhos para se organizar a Saúde Coletiva sob uma
perspectiva mais democrática, já que suas ações podem ser constantemente construídas e
reconstruídas na organização da saúde local (CAMPOS, 1997; COHN, 1999). Objeto:
Entendendo que a proposta do PSF não opera num vácuo social, mas no interior de práticas
cotidianas que historicamente vêm construindo a assistência em saúde (PUSTAI, 1994;
VASCONCELOS, 2000), detectou-se a necessidade de uma avaliação integrada e
multidisciplinar do impacto sócio-cultural após sua implantação no município de Serra Preta–
Bahia. Objetivos: Descrever as mudanças comportamentais e culturais em torno do processo
saúde/doença, desde representações e práticas culturais relevantes para tal processo, a estratégias
utilizadas pela família no enfrentamento de problemas de saúde, proporcionando um espaço,
entre a comunidade e as equipes de saúde, no qual se possa ativamente (re)construir as ações do
PSF, adequando-as às suas necessidades. Metodologia: O referencial metodológico insere-se na
perspectiva da metodologia qualitativa descritiva de investigação, envolvendo recursos
diversificados, focalizando famílias, agentes de saúde e intercâmbio entre eles. O local de estudo
e aquisição de dados são duas áreas onde foram implantadas 02 equipes do PSF através da
Secretaria Municipal de Saúde do município de Serra Preta, a partir de fevereiro de 2001. A
coleta de dados foi feita através da constituição de um diário de campo, entrevistas
audiogravadas, aplicação de questionários, aliando abordagens intensivas, de cunho etnográfico e
avaliações extensivas, de natureza epidemiológica. Conclusões: A análise pré-liminar dos
resultados, apontam a necessidade de se considerar as diferentes racionalidades e interesses e
atores que compõem o objeto em questão. Trata-se, sobretudo, de reconhecer a família como
espaço privilegiado de constituição, desenvolvimento, crise e resolução dos problemas de saúde
individuais e coletivos.
REFERÊNCIAS:
BECH, J. (2000). Polêmica com PSF: contradições e novos desafios. In: Conferência Nacional de
Saúde – [online] disponível na Internet http://www.datasus.gov.br/cns.
Brasil/ Ministério da Saúde (1997). Saúde da Família: uma estratégia para a reorganização
do modelo assistencial. Secretaria de assistência à saúde. Coordenação de Saúde na
Comunidade. Brasília-DF, o autor.
CAMPOS, G.W. de S., (1997). Reforma da reforma: repensando a saúde. 2ª edição, São
Paulo: HUCITEC
COHN, A. (1999) A saúde na Previdência Social e na Seguridade Social: antigos estigmas e
novos desafios. In: COHN, A. & ELIAS, P.E. Saúde no Brasil. Políticas e organização dos
serviços. (pp 67-94) São Paulo: Cortez.
PUSTAI, O.J. (1994). Apontamentos para uma avaliação crítica do Programa de saúde da
Família. Revista Saúde Unijuí. Ano II, n 04, julho/dezembro. Inijuí: Editora Unijuí.
SESAB (Secretaria de Saúde do Estado da Bahia), 1996. Atenção à Saúde da família no Estado
da Bahia. Salvador: SESAB – Grupo de Trabalho Modelo Assistencial (documento interno)
VASCONCELOS, E.M., (2000) Os movimentos sociais no setor de saúde: um esvaziamento ou
uma nova configuração? In: Valla, V.V. (org) Saúde e Educação. RJ: DP&A. pp 33-59.
A PRÉ-HISTÓRIA E O SEMI-ÁRIDO
Profa. Dra. Marjorie Cseko Nolasco, Profa. Msc. Glaúcia Trinchão, Ada Ravana Costa Moura1,
Hermilino Danilo de Carvalho2, Carlon Castro Cruz3.
Oliveira dos Brejinhos encontra-se a 610km de Salvador - BA, dentro do semi- árido baiano,
mais especificamente na bacia hidrográfica do rio Paramirim, guarda parte da pré-história da
América do Sul, em dezenas de sítios rupestres espalhados nas serras que limitam o vale do
citado rio. Dentre estes sítios, dezessete já foram cadastrados e descritos, apresentando-se em
dois circuitos preferenciais, que induzem caminhos pré-históricos, possivelmente ligados a sítios
de caça, visto que foi encontrado um sítio paleontológico, provavelmente de mega-fauna
mamífera pleistocênica. Os sítios estudados apresentam uma técnica de execução de pintura à
tinta, exceto um sítio de desenhos incisos; com dominância de cor vermelha, podendo ser até
tricromático; e de motivos geométricos, apesar de não ser incomum a mistura com temática
naturalista de todos os tipos exceto armas. Os pigmentos parecem ter origem vegetal, a saber: o
pigmento vermelho origina- se de um fungo de cactácea, o pigmento amarelo da raiz de açafrão e
o abóbora do fruto Buriti; hipotéses em estudo. Para o pigmento preto ainda não foi encontrada
fonte provável. A pesquisa intitulada Mapeamento de Sítios Rupestres de Oliveira dos Brejinhos4
, encerrou seu primeiro ano em março/2003. Sua continuidade prevê para o segundo ano o
levantamento de mais 17 sítios rupestres, a identificação de novos sítios paleontológicos, e os
estudos sobre: a origem dos pigmentos e da hipótese de trilhas pré-históricas no semi-árido
baiano, informações e pesquisas que em muito contribuiriam para o entendimento da circulação
dos povos primitivos no Brasil e na América do Sul.
1
Bolsista PROBIC;
2
Voluntário;3 Técnico - Responsável em Oliveira dos Brejinhos;4 Projeto de Pesquisa
desenvolvido com o apoio do PROINPE e do Convênio UEFS/CRA - Base Caatinga. Grupo de Pesquisa CNPq
Geociências e Recursos Naturais, linha de pesquisa Reconstrução ambiental e tecnogênese.
RESUMO
ALTERNATIVA DE CONVIVENCIA COM O SEMI-ARIDO
Autores - Idvandro Nery de Brito e Maicon Leopoldino de Andrade
Instituição – MOC – Movimento de Organização Comunitária
O MOC - Movimento de Organização Comunitária nos seus 35 anos de existência
vêm desempenhando ao longo de sua história, juntamente com agricultores e agricultoras,
universidades, sindicatos, associações, cooperativas e demais organizações da sociedade
civil, trabalhos que propiciam o desenvolvimento humano com qualidade de vida e geração
de renda, e é justamente nesta pluralidade de indivíduos e troca de idéias que esses
trabalhos se sustentam tanto logisticamente quanto operacionalmente.
A convivência com o semi-árido têm sido o sustentáculo de todas essas ações,
visto que a assistência técnica, gerenciamento e armazenamento de água e crédito se
encontram em todos os projetos executados, abrangendo temas como: gênero e segurança
alimentar. Contudo todos os trabalhos executados são gerenciados e administrados por
organizações da sociedade civil, onde as mesmas fiscalizam e participam de todo processo
metodológico e operacional, caracterizando assim, em projetos de emancipação popular.
Uma assistência técnica de qualidade é o que se busca para poder realmente
conviver com o semi-árido, com técnicas acessíveis a agricultura familiar e juntamente com
a prática de ação - reflexão - ação, o planejamento da propriedade torna-se uma atividade
de interação entre o técnico e a família, projetando em conjunto todas as ações que possam
garantir a sustentabilidade da propriedade, onde o ponto de partida é um diagnóstico para
conhecer in locu a propriedade e como se comporta a gestão familiar , para só a partir daí
tomar conhecimento ( técnico e família ) da viabilidade de um projeto.
No que diz respeito ao crédito, as cooperativas tem sido o instrumento de viabilização das
propostas dos(as) agricultores(as) para obtenção dos financiamentos, tendo como produto o
fundo rotativo para a potencialização de novos projetos para novas famílias. No entanto
para o fomento destas atividades, o MOC, conta com o apoio de entidades governamentais
e não governamentais que apoiam estas iniciativas, tanto custeando o corpo técnico, como
para financiamentos de projetos. Como exemplo disto, foi protagonizado o projeto
prosperar, que conta com a participação de 19 técnicos agrícolas e 6 agrônomos, atuando
em 31 municípios do semi-árido baiano, atingindo cerca de 4660 famílias do Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil e 81 comunidades com assistência técnica permanente,
onde a Secretaria do Trabalho e Ação Social do Estado, Comissão de Erradicação do
Trabalho Infantil e a Secretaria de Ação Social do Governo Federal são os principais
financiadores do projeto, daí então, são projetos que possibilitam a oportunidade de
construção, desde o ano de 2001, de uma proposta de assistência técnica, onde a sociedade
organizada possa visualizar os resultados e propor novas alternativas.
Aí então entra o papel das cooperativas de crédito que são instituições financeiras
com grande importância para a promoção do desenvolvimento local sustentável e entidades
que estão diretamente ligadas aos diversos programas do MOC. a gestão das finanças locais
e de serviços financeiros pelas cooperativas de crédito, é componente fundamental da
economia solidária, onde no Estado da Bahia até o final de 2002 possuía 31 postos de
atendimento, com 16500 associados em 41 municípios baianos.
Com estas ações, espera-se uma sensibilidade de outros atores, que as possam levar
para um patamar de discussões em uma esfera maior, onde através do endosso
destas alternativas, o semi-árido seja palco de um novo incremento com ênfase no
desenvolvimento local, e os agricultores possam ter uma melhor qualidade de vida.
PROGRAMA DE PROFISSIONALIZAÇÃO DE PRODUTORES RURAIS DA EBDA.
Heitor Lima Ribeiro Filho *
Edivaldo Pacheco de Oliveira**
Procurando contribuir na busca do desenvolvimento do pequeno produtor rural, a Empresa
Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA tem buscado formas que incorporem novos
componentes educativos, metodológicos, técnicos, gerenciais e analíticos, que proporcionem a
melhoria da sua qualidade de vida. Nesse sentido, teve início, em 1996, um conjunto de ações
visando à implantação do Programa de Profissionalização de Produtores Rurais, buscando
corrigir a baixa capacitação dos produtores e da mão-de-obra utilizada no setor. Esta proposta
baseou-se na experiência exitosa do Estado de Santa Catarina, desenvolvida pela sua Empresa de
Pesquisa Agropecuária, Epagri.
Foram inicialmente implantados dois centros de treinamento, um em Palmas de Monte Alto e
outro em Aramari, para capacitação de produtores de algodão e leite, respectivamente.
Posteriormente implantaram-se mais seis centros: Jaguarari (caprinos e ovinos), Feira de Santana
(pecuária), Amélia Rodrigues (apicultura e floricultura), Conceição do Almeida (fruticultura),
Itambé (bovinocultura de corte), Utinga (Irrigação). Estas estruturas recebem produtores de todo
o estado, dispondo de alojamento, cozinha, salas de aula, unidades didáticas e de todos os
recursos necessários para a capacitação dos agricultores.
Uma seqüência progressiva de módulos, didaticamente classificados como básicos, técnicos,
agro-industriais e artesanais, compõe a estruturação dos cursos, que em alguns casos tem carga
horária superior a 200 horas.
Foram capacitados mais de uma centena de instrutores, no aspecto metodológico de ensino para
adultos, na área de administração rural básica, como também no conhecimento técnico específico
para cada produto.
Os cursos têm como proposta “aprender fazendo e fazer compreendendo”, por isso mais de 75%
da sua carga horária é composta por demonstrações práticas e dinâmicas de grupo que tornam o
aprendizado um processo atrativo e gratificante.
O produtor profissionalizado tem um papel importante na sua comunidade, o de multiplicador de
tecnologias, sendo um forte auxiliar no trabalho do extensionista, principalmente quando estas
tecnologias dão resultados econômicos satisfatórios.
Utilizando-se de conhecimentos teóricos e práticos que possibilitem uma intervenção eficiente
sobre os recursos naturais das suas propriedades, sem agredir o meio ambiente, os produtores
aperfeiçoam seus processos produtivos e desenvolvem produtos de melhor qualidade com
agregação de valor.
Este trabalho conta principalmente com recursos do Programa Nacional da Agricultura Familiar
– Pronaf, recursos do Estado e de diversos parceiros, entre estes, prefeituras municipais, escolas
técnicas, cooperativas, ONG´s etc. Possui interface com outros programas de desenvolvimento
e/ou capacitação; entre estes, destacamos o Programa de Modernização da Pecuária – Procamp e
o Prorenda.
*Heitor Lima Ribeiro Filho é Médico Veterinário, MSc. do Centro de Profissionalização de
Pecuaristas da EBDA Regional de Feira de Santana-BA.
**Edvaldo Pacheco de Oliveira é Engº Agrônomo, M.Sc. do Centro de Profissionalização de
Apicultores e Floricultores da EBDA Regional de Feira de Santana-BA.
REALIDADE RURAL – OBJETO DE PESQUISA NO ENSINO DE CIÊNCIAS DENTRO DA
PROPOSTA DO CAT (CONHECER, ANALISAR, TRANSFORMAR).
Elizângela Alves Lubarino, estagiária bolsista extensão; Maria Aparecida Paim de Cerqueira,
orientadora;UEFS;Escola Básica. [email protected]
O projeto CAT (Conhecer, Analisar, Transformar) visa uma formação continuada para
professores que atuam na zona rural que queiram basear sua ação na realidade rural onde a Escola
está inserida, buscando valorizar o meio ambiente, o homem do campo, sua cultura e seu trabalho
nas diversas disciplinas, dentre estas, a de Ciências.A característica marcante deste projeto com
citado anteriormente é a valorização da realidade do trabalho e da cultura do homem do campo
tendo o calendário agrícola como base para elaboração do seu planejamento, neste sentido o
material escolar de que dispõe-se não é apenas canetas, cadernos, papel e livros. Nesta disciplina
especialmente, aproveita-se mais: a imensa riqueza da natureza (solo, adubo orgânico,
plantio,sementes, folhas,gravetos, colheita, chuvas, água, animais,etc.); a riqueza incomensurável
dos grupos humanos que compõem a comunidade, com seus valores( a solidariedade, a justiça, a
simplicidade, o partilhar) próprios do povo do campo; a riqueza das festas, das manifestações
culturais, comemorações, comidas, lutas, conquistas, etc., não apenas datas oficiais, mas da vida
da própria comunidade;o relato de sua origem, suas peculiaridades, sua história. Todos estes
subsídios tornam-se então instrumento de pesquisa e transforma a vida do estudante em objeto
de conhecimento o que proporciona maior interesse e participação não só do aluno, mas também
da família dele e de sua comunidade. Assim constrói-se e amplia-se o conhecimento e ao mesmo
tempo utiliza-o como ferramenta de transformação para melhoria da educação bem como da vida
campesina. Neste processo não há apenas um que ensina e os outros que aprendem, todos os
envolvidos são agentes multiplicadores do bem estar no campo. O referencial teórico desta
investigação está fundamentado na educação problematizadora, libertadora e promotora da
transformação social de Freire e no ensino de ciências contextualizado, problematizado, integrado
e interdisciplinar. Enfim é possível perceber que, partindo da realidade do aluno, tendo como
âncora o enfoque acima, existe a possibilidade de promover o ensino de ciências na escola rural,
torná-lo significativo, assim como, concluiu-se que a “ invasão cultural” inibe o processo de
aprendizagem de ciências e termina por afastar o aluno rural e a família da escola. Reforça-se
também a idéia de que a interação construtiva entre o ensino de ciências e o cotidiano do aluno
contribui para uma melhor qualidade de vida dos educandos rurais. Este processo se concretiza de
forma participava e integrada entre o professor, o aluno e a família. Busca-se assim também,
oferecer uma educação de qualidade e que contribua para a implementação de políticas públicas
educacionais que atendam às características e necessidades da população rural como nos orienta a
LDB no artigo 28.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
NÚCLEO DE ALFABETIZAÇÃO
RESUMO DO TRABALHO: Leitura e significado: a interação de crianças de alfabetização
com textos narrativos - histórias e contos
Um dos objetivos mais importantes da escola, desde o início da aprendizagem, é formar o
leitor competente. Espera-se com isso que, ao final do Ensino Fundamental, os alunos saibam
utilizar estratégias de leitura que lhes possibilitem tornar-se leitores capazes de ler para além
das letras, compreender o texto lido atribuindo-lhe significado mediante sua interação autorleitor.
Com base nessas afirmações é que se colocou o nosso interesse de estudo no Projeto de
Alfabetização: formação continuada de professores de zona rural, com a seguinte questão: Como
crianças de alfabetização, na faixa etária de 07 a 11 anos, de escolas municipais, do município de
Aramari, compreendem textos narrativos - histórias e contos.
Para a realização do estudo usamos como procedimentos metodológicos: 1. Entrevista com
os professores para analisar o que compreendem e como trabalham histórias e contos. 2. Leitura
de histórias e contos; reconto, pausas protocoladas, partindo de categorias de análise como
conhecimentos prévios e lingüísticos e habilidades cognitivas.
Casos e causos: a experiência da contação de histórias na alfabetização de jovens e adultos
Jurema Cintra Barreto
Universidade Estadual de Santa Cruz
A contação de histórias foi o instrumento utilizado no processo de letramento de
jovens e adultos participantes do Programa Alfabetização Solidária no Município de Santa
Terezinha (BA), região com vegetação intermediária, oscilando entre caatinga, mata, e alguns
trechos de clima influenciado pela altitude.
Neste ato de valorização do saber-fazer dos educando estavam envolvidos 250 alunos,
1 coordenadora municipal, 1 monitora pedagógica, equipe que conseguiu por em prática este
projeto, sobre nossa coordenação setorial. Romper com os modelos tradicionais de alfabetização,
valorizando os textos de conhecimento popular das comunidades rurais ou produzidos pelos
próprios educandos, a fim de resgatar a memória cultural através da oralidade, formando uma
sólida ponte entre o processo oral e o escrito. Fugir do mecanicismo e da alienação, criando
situação de aprendizado onde os alunos não são objetos de cognição, mas sujeitos deste, são
contadores de histórias e futuros leitores. Introduzir a narrativa para a aquisição dos novos
conhecimentos de forma menos ansiosa e fazer com que estes textos sejam o material de trabalho
para as cópias (exercício motor), as discussões e para a retirada das palavras geradoras que darão
início ao estudo das famílias silábicas e por fim das letras: esta é a inversão cognitiva que
trabalhamos nas aulas de capacitação dos alfabetizadores realizadas na UESC.
E, por fim também é objetivo: formar em casa um grande ciclo de leitura, pois quando
a criança voltar da escola, ela encontrará pessoas tão motivados quanto elas, pessoas que
valorizaram o aprender e querem agora aprender com outras. Os primeiros cadernos de histórias,
contadas e escritas pelos educandos, foram resgatados em dezembro de 2002 com o fim do
módulo então vigente, e pretendemos continuar esta atuação com a continuidade destas atividades
e a divulgação posterior deste material como símbolo cultural daquelas nove localidades rurais
envolvidas.
A ATUAÇÃO DO PROGRAMA ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA NOS MUNICÍPIOS
DO SEMI-ÁRIDO BAIANO
Vanda Almeida da Cunha1, Sonia Maria Freitas de Cerqueira2 (orientadora)
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS
Pró-reitoria de Extensão1,2
Introdução
O Programa Alfabetização Solidária (PAS) na UEFS, atua em 25 municípios no Estado da Bahia,
desses 84% encontram-se na região semi-árida. Sabendo-se das dificuldades pelas quais os
trabalhadores rurais enfrentam devido às peculiaridades climáticas das faixas semi-áridas, onde
existem municípios em que a precipitação varia entre 150mm a 250mm/ano, faz-se necessário
que as instituições e a própria sociedade civil, possam planejar e implementar trabalhos que
venham a diminuir as mazelas que as comunidades dessas áreas enfrentam. Assim, o
analfabetismo é um dos mais graves problemas enfrentados pela população residentes nessas
áreas, pois a não inserção ao mundo letrado tem provocado uma série de entraves na vida de
tantas famílias do semi-árido, de forma que a diminuição e/ou erradicação do analfabetismo
torna-se uma necessidade urgente.
METODOLOGIA
A metodologia adotada pela equipe de trabalho do PAS na UEFS é pautada em fundamentos
teóricos-metodológicos que subsidia o aluno para a aquisição da lecto-escrita , no sentido de
torná-lo mais independente na busca por soluções de problemas. Assim, é realizada uma
capacitação com os alfabetizadores que atuarão nas classes, havendo ainda, uma capacitação
continuada ao longo do módulo de 5 meses. O trabalho de sensibilização, baseado em aulas,
palestras, discussões, dinâmicas de grupo, é voltado para a valorização das capacidades
individuais e coletivas de cada comunidade, seus costumes, sua cultura, potencialidades naturais
e econômicas, pois entendemos que dessa forma o aprendizado da leitura e da escrita, tão
importante para essas pessoas, fica mais próximo, já que sua realidade é vivenciada em sala aula.
Resultados
O trabalho com a alfabetização de jovens e adultos tem promovido mudanças significativas na
vida dos alfabetizandos atendidos pelo Programa, os principais resultados são:
•
Busca pela aquisição da leitura e escrita como fonte de saber que liberta;
•
Autonomia dos alfabetizandos da cidade e do campo na administração e comercialização
de sua força de trabalho;
•
Maior interação entre a comunidade e o poder público na conquista de melhorias para as
comunidades;
•
Conscientização dos alfabetizandos da necessidade de uma atuação mais participativa
nas associações e cooperativas existentes nas comunidades rurais;
•
Organização dos alunos trabalhadores rurais visando discutir coletivamente saídas para
melhor convivência com a falta d`água no semi-árido.
CONCLUSÕES
O analfabetismo é um empecilho que se traduz em significativa dificuldade no momento em que
o agricultor necessitar de financiamentos nas instituições bancárias, na assinatura de contratos e
até na comercialização de seus produtos. Dessa forma, aprender ler, escrever, exercer com mais
autonomia sua cidadania é uma batalha a ser vencida por todos aqueles que compõe a sociedade
nas mais diversas instâncias. Dessa maneira, o PAS tem contribuído de forma significativa, pois
tem oportunizado a muitos trabalhadores outros caminhos para viver e ver a vida. Assim, essas
pessoas podem atuar de forma mais participativa na construção de uma vida com melhores
oportunidades e perspectivas de crescimento individual e coletivo.
A EXPERIÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA E BENEFICENTE DE BELA
VISTA DE VÁRZEA DO MEIO – VARZEA DA ROÇA/BA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS
Vanda Almeida da Cunha
INTRODUÇÃO
As regiões Semi-Àridas são marcadas pela falta de chuvas, sol forte, altas temperaturas, que
acabam por provocar uma série de dificuldades para os agricultores que retiram da terra o
sustento das suas famílias. Diante desses entraves, o associativismo vem se caracterizando como
uma das alternativas que pode vir a proporcionar melhor convivência com a seca. Seguindo essa
perspectiva, foi criada em 12 de fevereiro de 2002, a Associação Comunitária e Beneficente Bela
Vista de Várzea do Meio, distrito de Várzea de Roça/BA. A associação é uma das alternativas
que os agricultores possuem para, coletivamente, angariar idéias e recursos para a comunidade,
aumentando a produção e melhorando a qualidade dos produtos oriundos da região.
METODOLOGIA
O trabalho está pautado em visitas a reuniões dos associados, que ocorrem no último sábado de
cada mês, onde observou-se a dinâmica de trabalho dos associados, pautada em discussões dos
temas que estejam relacionados aos interesses dos agricultores. Foram realizadas ainda,
entrevistas com o presidente da associação e outros membros, no sentido de identificar quais as
principais conquistas e as metas a serem implementadas para 2003. Realizou-se também visitas
aos plantios dos agricultores.
RESULTADOS
Apesar do pouco tempo de existência, a associação já possui os seguintes resultados:
•
Busca junto aos órgãos competentes para a à aquisição de sementes para o plantio na
época do inverno e trovoada;
•
Aquisição de um trator, que é usado na comunidade como um todo, onde os associados
possuem 70% de desconto a cada hora trabalhada pela máquina;
•
A associação atende ao maior números de solicitações feita pelo trabalhadores no que se
refere a utilização do trator;
•
Está sendo viabilizado uma sede para as reuniões mensais, pois o salão utilizado
ultimamente é emprestado;
•
Os trabalhadores estão implementado um projeto de plantio comunitário para este ano,
com a participação de mais de 40 famílias;
•
Realização de mutirões para trabalhos na propriedade de cada associado.
CONCLUSÕES
As ações desenvolvidas pela Associação Comunitária de Bela Vista de Várzea do Meio, é
uma tentativa de união da comunidade, tendo o associativismo como uma das saídas viáveis
para a minimização dos problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais das regiões semiáridos. É notório o comprometimento dos trabalhadores na administração da associação, e a
consciência de ajuda mútua. Dessa forma, apesar do pouco tempo de criação, essa associação
possui muitos êxitos, pois já conseguiu engajar boa parte dos agricultores e a comunidade no
processo de valorização das potencialidades locais. O trabalho desenvolvido por essa
organização vem oportunizando aos membros e à comunidade uma outra perspectiva de
convivência com a seca, e uma nova visão sobre a possibilidade produtiva de suas pequenas
propriedades.
Utilização de multimeios na realização de reforço escolar –
uma ação de voluntariado
Rosana Lucia Machado Sampaio Santos
Marizélia Silva Santos
Gidalte Nascimento da Silva
Escola Agrotécnica Dr. Francisco Martins da Silva
Introdução
A
visão
do
processo
educativo
tem
sofrido
modificações através dos tempos. E isso se faz necessário por
estar a mesma atrelada as mudanças sociais, servindo muitas
vezes como espelho destas. A procura, por parte dos
elementos constituintes do sistema educativo, em busca de
uma ação mais efetiva junto à comunidade escolar nos
transporta a tentativas de acertos, tantas vezes resumidas em
erros, os quais leva-nos a um novo aprendizado.
A “revolução informática” causou mudanças na área
do conhecimento, pondo em xeque o papel da escola.
Segundo Marques et al (1986), a relação de ensino é
uma relação de comunicação por excelência, que visa a
formar e informar; e instrumentos que possam se encaixar
nesta dinâmica têm sempre a possibilidade de servir ao
ensino. Livro, vídeo, fotografia, computadores e outros são
formas de comunicar conhecimentos e, como tais, interessam
à educação. É justamente por serem instrumentos de
comunicação que seu uso torna-se problemático. São
problemáticos porque chegam à escola desligados de uma
necessidade claramente expressa por ela, e chegam também
desligados de uma matéria específica. E são problemáticos,
ainda, porque oferecem uma nova forma de comunicar o
conhecimento, forma essa que influi diretamente sobre a
metodologia de ensino e a modifica no seu aspecto técnico,
podendo até fazê-la rever as suas bases teóricas e filosóficas.
Empregar um livro, um vídeo ou até uma simples fotografia
significa modificar a relação aluno-conhecimento, a relação
aluno-professor e a relação escola-sociedade.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(9394/96)
dá
ao
Ensino
Médio
a
característica
de
terminalidade, o que significa assegurar a todos os cidadãos a
oportunidade de consolidar e aprofundar os conhecimentos
adquiridos no Ensino Fundamental; aprimorar o educando
como pessoa humana;
possibilitar o prosseguimento de
estudos; garantir a preparação básica para o trabalho e a
cidadania; dotar o educando dos instrumentos que o permitam
“continuar aprendendo”, tendo em vista o desenvolvimento da
compreensão dos “fundamentos científicos e tecnológicos dos
processos produtivos”.
Segundo a Comissão Internacional sobre Educação
para o século XXI, da UNESCO, a educação deve cumprir um
triplo papel: econômico, científico e cultural, devendo ser
estruturada em quatro alicerces: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser.
Ao ampliarmos nosso entendimento de que a escola
não se resume a quatro paredes já que esta encontra-se
inserida em um contexto social, e que a procura do
conhecimento deve partir do próprio educando, numa
afirmativa da sua posição como cidadão atuante e crítico, o
qual futuramente terá que posicionar-se e buscar o seu espaço
como indivíduo ativo, profissionalmente, traçamos um esboço
de trabalho o qual serviu como ponto de partida e estágio
preparatório vislumbrando estes fins.
Este trabalho teve como objetivos:
-
Incentivar a participação cooperativa e solidária de alunos e
alunas da 3ª série do ensino médio junto a comunidade escolar
numa mostra de sua capacidade intelectual e cidadã;
-
Elevar a auto-estima dos alunos e alunas;
-
Trabalhar as dificuldades de aprendizagem dos alunos e
alunas utilizando como elementos facilitadores instrumentos
tecnológicos, familiarizando-os com os mesmos.
Metodologia
O trabalho surgiu das necessidades acadêmicas
apresentadas pelos alunos do curso de regularização do fluxo
escolar (segmento A) nas diferentes disciplinas estudadas, o
que incentivou a atuação dos alunos da 3ª série do curso
médio, num trabalho de voluntariado de ministração de aulas
junto a turma.
A realização da atividade se deu na Escola
Agrotécnica Dr. Francisco Martins da Silva, situada na cidade
de Feira de Santana-BA, tendo esta a maioria do seu alunado
oriundo da zona rural.
O trabalho foi desenvolvido durante 2 meses, sendo as
aulas ministradas em turno oposto ao freqüentado pelos
alunos. Para tanto o mesmo apresentou as seguintes fases:
1ª) Indicação, pelos professores pertencentes ao quadro do
programa de regularização do fluxo escolar, dos alunos que
precisavam de reforço escolar, bem como os assuntos a serem
abordados durante o período do projeto;
2ª ) Divisão dos alunos monitores em grupos por disciplina:
Português, Matemática, História e Geografia; Ciências;
3º)
Formulação, junto com os grupos, de cronograma de
trabalho, no qual se estabeleceu os dias de reunião dentro dos
grupos e entre os grupos para programação das aulas e
avaliação do projeto;
4º) Acompanhamento dos alunos monitores na preparação
das atividades e tira-dúvidas pelos professores.
Foram disponibilizados para os alunos monitores
projetor
de
slides,
vídeo
e
computadores,
materiais
necessários para a ministração das suas aulas. Um maior
aprofundamento dos mesmos nas matérias lecionadas foi
realizado por meio de livros e consultas a internet.
Durante o projeto os alunos monitores puderam
colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo de
seus estudos, ligando a teoria o seu uso, trazendo para o seu
dia-a-dia o que haviam aprendido enquanto estudantes.
A eles foi dada a oportunidade de se colocarem no
lugar do professor e praticarem a cidadania, agindo como
cidadãos participantes de uma sociedade e sujeitos de
mudança.
A avaliação dos alunos do fluxo escolar foi realizada
através dos resultados obtidos pelos mesmos nas disciplinas
citadas. Vale salientar que, além de ser observado o
crescimento do aluno em relação aos conteúdos trabalhados,
foi principalmente observado o crescimento do mesmo como
pessoa crítica e participativa. Os alunos monitores foram
avaliados quanto a capacidade dos mesmos de reflexão e uso
do que foi aprendido, mudança de comportamento e
posicionamento.
Resultados e Conclusões
Ao final do projeto foi aberta uma discussão com a
participação de todos os envolvidos como também da direção
da escola, onde foi dado espaço para a colocação de opiniões
quanto ao trabalho realizado. Nela concluímos que:
-
O projeto deveria ter sido realizado logo no início do ano
letivo, quando então teríamos um maior tempo para
trabalharmos as dificuldades de aprendizagem apresentadas
pelos alunos;
-
Colocar-se no lugar do professor fez com que os alunos
monitores tivessem uma melhor visão do papel exercido pelos
educadores tanto em sala de aula quanto na vida dos seus
alunos;
-
Tal atividade pode ser realizada não só pelos alunos de séries
mais adiantadas como também entre os próprios colegas em
uma turma, em forma de monitoria;
-
O uso de instrumentos tecnológicos surtiu um ótimo efeito no
aprendizado e interesse dos alunos, estimulando as aulas;
-
A auto-estima tem que ser trabalhada em primeiro plano
dentro de uma escola, sendo que nessa etapa todos os
componentes do processo educativo devem se engajar.
Quanto a isso observamos que os alunos que participaram do
reforço possuíam uma baixa estima a qual dificultava o seu
aprendizado.
-
Oferecer aos alunos diferentes metodologias de trabalho
engajando-os no processo facilitou em muito a sua
aprendizagem por prender
sua atenção e direcionar seus
esforços.
-
Os alunos trabalhados, em sua totalidade, necessitavam de
uma maior atenção em relação ao fator afetivo, apresentando
um comportamento diferenciado no final do projeto do que o
apresentado no início, sendo que muitas vezes isto na foi
demonstrado em sala de aula normal.
-
Os alunos monitores apresentaram, durante o transcorrer do
trabalho, mudanças visíveis em seus comportamentos
tornando-se
estes
mais
seguros
quanto
aos
seus
conhecimentos.
-
Houve uma boa aceitação dos alunos monitorados em relação
ao projeto, podendo o mesmo ser observado através da
frequência e participação destes.
Todas as atividades realizadas pelos alunos durante o
projeto foram guardadas em pastas individuais, as quais eram
frequentemente analisadas pelos alunos monitores, sendo que
estes a cada aula anotavam suas observações quanto as aulas e
os alunos, discutindo-as posteriormente.
Os alunos monitores utilizaram durante todo o projeto
e nas diversas disciplinas o computador como instrumento
complementar em suas aulas, assim como o vídeo e o projetor
de slides, pondo em prática os conhecimentos adquiridos.
Ao finalizarmos este projeto, percebemos que todos
ganhamos muito e perdemos pontos negativos, então, ainda
presentes em nós. Nos tornamos mais gente, por nos
sentirmos úteis, por termos dado um maior sentido as nossas
vidas através das realizações de outras pessoas. Notamos que
nunca é tarde para nada, e não nos cabe julgarmos aos outros
e querermos determinar-lhes um fim. Cada um possui dentro
de si um mundo, e nos é muito mais interessante e
enriquecedor quando o dividimos, pois ele se expande, cresce
tanto que atinge os que encontram-se ao nosso redor, mostrase, renova-se e nos liberta. O que todos nós tivemos certeza
absoluta após esta caminhada é que deveríamos tê-la
começado antes e sempre.
Referências Bibliográficas
Badejo, M. L. Ensinando é que se aprende. Pátio Revista
Pedagógica. Ano VI, N.º 23, Setembro/Outubro, 2002. Ed.
Artmed. p. 44 – 48.
Marques, C. P. C.; Mattos, M. I. L. de; la Taille, Y. de.
Computador e Ensino: uma aplicação à língua portuguesa.
Série Princípios. Ed. Ática, São Paulo, 1986. 96 p.
Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais:
ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999.
Seed/MEC/Unirede. TV na escola e os desafios de hoje.
Módulo 2: usos da televisão e do vídeo na escola. 2ª ed..
Silva, M. Sala de Aula Interativa. Rio de Janeiro. Ed. Quartet.
2ª ed. 2001. 219 p.
Valdez, Daniel. As relações interpessoais e a Teoria da Mente
no contexto educativo. Pátio Revista Pedagógica. Ano VI,
N.º 23, Setembro/Outubro, 2002. Ed. Artmed. p. 24-26.
Utilização de multimeios na realização de reforço escolar –
uma ação de voluntariado
Rosana Lucia Machado Sampaio Santos
Marizélia Silva Santos
Gidalte Nascimento da Silva
Escola Agrotécnica Dr. Francisco Martins da Silva
A
visão
do
processo
educativo
tem
sofrido
modificações através dos tempos e a “revolução informática”
causou mudanças na área do conhecimento, pondo em xeque
o papel da escola.
Segundo a Comissão Internacional sobre Educação
para o século XXI, da UNESCO, a educação deve cumprir um
triplo papel: econômico, científico e cultural, devendo ser
estruturada em quatro alicerces: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser.
Ao ampliarmos nosso entendimento de que a escola
não se resume a quatro paredes já que esta encontra-se
inserida em um contexto social, e que a procura do
conhecimento deve partir do próprio educando, iniciamos este
trabalho
tendo como objetivos: incentivar a participação
cooperativa e solidária de alunos e alunas da 3ª série do
ensino médio junto a comunidade escolar numa mostra de sua
capacidade intelectual e cidadã; elevar a auto-estima dos
alunos e alunas; trabalhar as dificuldades de aprendizagem
dos alunos e alunas utilizando como elementos facilitadores
instrumentos tecnológicos, familiarizando-os com os mesmos.
O trabalho surgiu das necessidades acadêmicas
apresentadas pelos alunos e alunas do curso de regularização
do fluxo escolar, o que incentivou a atuação dos alunos e
alunas da 3ª série do curso médio, num trabalho de
voluntariado de ministração de aulas.
A realização da atividade se deu na Escola
Agrotécnica de Feira de Santana-BA, com duração de dois
meses.
Após a seleção dos alunos que apresentavam maiores
dificuldades de aprendizado e os assuntos a serem
trabalhados,
foi
feito
um
cronograma
de
trabalho
estabelecendo os dias de reunião para avaliação contínua do
projeto e acompanhamento dos monitores.
Para os alunos monitores foram disponibilizados
projetor
de
slides,
vídeo
e
computadores,
materiais
necessários para a ministração das suas aulas.
Na avaliação dos alunos vale salientar que, além de
ser observado o crescimento do mesmo em relação aos
conteúdos trabalhados, foi principalmente observado o
crescimento deste como pessoa crítica e participativa. Os
alunos monitores foram avaliados quanto a sua capacidade de
reflexão e uso do que foi aprendido, mudança de
comportamento e posicionamento.
Ao final do projeto concluímos que: o projeto deveria
ter sido realizado logo no início do ano letivo; o uso de
instrumentos tecnológicos serviu como um facilitador de
aprendizagem,
estimulando
as
aulas;
os
alunos
que
participaram do reforço escolar possuíam uma baixa estima a
qual dificultava o seu aprendizado e, em sua totalidade,
necessitavam de uma maior
atenção em relação ao fator
afetivo, apresentando um comportamento diferenciado no
final do projeto; os alunos monitores demonstraram mudanças
visíveis em seus comportamentos, tornando-se estes mais
seguros quanto aos seus conhecimentos.
Percebemos que todos ganhamos muito e perdemos
pontos negativos, então, ainda presentes em nós. O que todos
tivemos certeza, após esta caminhada, é que deveríamos tê-la
começado antes e sempre.
ARTIGO DE OPINIÃO
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE
CONSCIENTIZAÇÃO PARA A PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS
HÍDRICOS
MARISA OLIVEIRA DE ALMEIDA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
PROFESSORA DE QUÍMICA
DEPARTAMENTO DE EXATAS
Feira de Santana
2003
1. INTRODUÇÃO
Superar a escassez de água e a má qualidade da água para o abastecimento público é o
grande desafio da sociedade do século XXI.
Nos últimos cinqüenta anos, a população mundial triplicou e o consumo de água
aumentou seis vezes. Em paralelo a esse fato, 30% das reservas hídricas já foram detonadas pelo
mau uso do ambiente, como a destruição das matas ciliares, a contaminação por esgotos
domésticos e dejetos industriais, a salinização de lençóis e aterros e o assoreamento dos rios.
Previsões estimam que 1/3 da população mundial sofrerá com a escassez de água potável
nos próximos 25 anos, perspectiva que antecipa tensões internacionais e graves problemas
internos.
Acabar com o desperdício, evitar a poluição e preservar com maior rigor as bacias
hidrográficas está se tornando, em todos os países, uma preocupação comum.
No caso específico do Brasil, é lamentável observar que no país, detentor das maiores
reservas de água doce do planeta, existe ainda, por parte dos governos e da população, um certo
desinteresse pela conservação dos ecossistemas aquáticos. Isso se traduz, principalmente, na
quase ausência de programas de educação ambiental que abordem a questão do uso e proteção da
água, contribuindo assim, para um cenário onde a destruição dos ecossistemas aquáticos é um dos
graves problemas ambientais nacionais.
Apesar de em alguns lugares já haver falta de água no aspecto de quantidade, a qualidade
ainda é o maior problema de água no Brasil. Temos cerca de 100 mil cursos d’água, todos
poluídos em algum grau.
Menos de 40 % dos brasileiros pobres dispõe de água tratada adequadamente e apenas 25
% deles utilizam serviço de esgoto.A água acaba se transformando em veículo de doenças que
sangram U$ 400 milhões anuais do SUS. 72 % dos leitos hospitalares são ocupados por pacientes
vítimas de doenças transmitidas através da água. A combinação de água potável e esgotamento
sanitário poderia reduzir 25 % dos casos de diarréia e 55 % da mortalidade infantil em geral.
Ao lado da má qualidade da água, nosso país formou em 5 séculos uma população
especializada em desperdícios. Somos campeões mundiais do gasto desnecessário de água:
índices de perdas assustadores nas companhias de água e um desperdício inconcebível por parte
da população. Tira-se mais água por dia do que os rios e barragens conseguem repor.
Mudar os hábitos da população no Brasil, onde prevalece o equivocado conceito de que
temos água em abundância, é apenas um dos desafios que se apresenta; outros desafios são
reduzir o nível de degradação da água, através de medidas como conservação, melhoria do
saneamento básico, redução da utilização de pesticidas, produção industrial mais limpa e
gerenciamento do consumo.
É preciso que o governo dê exemplo e comece a agir, porém também é importante que o
cidadão participe através de programas de educação ambiental que abordem a questão do uso e
proteção da água.
A participação da população é um componente fundamental para o sucesso de qualquer
política nas áreas de Saneamento e Meio Ambiente. Afinal de contas será ela a grande
beneficiada ou a grande vítima de tudo o quer vier a ser feito.
2. PANORAMA BRASILEIRO
O Brasil é no contexto mundial, um país considerado como sendo privilegiado pelas
reservas importantes de recursos hídricos que possui: detém cerca de 12% de toda água doce
superficial do planeta. Temos ao mesmo tempo o maior rio, o rio Amazonas, e o maior aqüífero
do mundo, o aqüífero Guarani. Talvez por isso, o Brasil nunca se preocupou em economizar
água, pois este recurso sempre foi considerado inesgotável pela população.
Apesar de dispormos do maior potencial hídrico do planeta, convivemos também com
uma distribuição desigual dos recursos hídricos. Isso porque 80% do volume total dessas águas
estão concentradas na região Norte, que tem a menor densidade populacional do país – apenas
5% dos brasileiros. Portanto, 95% da população brasileira têm de dividir os 20% das águas
restantes. Na região Nordeste, onde vivem 29% dos brasileiros, a água disponível dos rios
corresponde a menos de 2,5%, o que acarreta uma escassez crônica.
A Bahia é um dos estados brasileiros atingidos pela escassez hídrica. Cerca de 69% do
território baiano está no semi-árido, região povoada por mais de seis milhões de habitantes. A
quantidade de água proveniente da chuva no estado é grande. A dificuldade reside no processo de
acúmulo devido às barragens ociosas. Temos recursos naturais, mas não nos lugares certos.
O crescimento e a urbanização do país nos últimos 30 anos, as estiagens cíclicas que têm
castigado o Sul e o Sudeste e a deterioração dos grandes rios brasileiros deixaram evidente que a
falta de água não afeta somente o Nordeste, onde metade dos 1.785 municípios já está
enfrentando as primeiras secas do século XXI.
Apesar de em alguns lugares já haver falta de água, no aspecto de quantidade, a qualidade
ainda é o maior problema de água no Brasil.
Nas regiões Norte e Centro-Oeste, jogam-se metais tóxicos, como o mercúrio do garimpo,
nos rios. No Sul, a ameaça está nos produtos químicos dos pesticidas agrícolas. No Sudeste, o
volume de esgoto aumenta com a concentração urbana. Represas e mananciais agonizam diante
da depredação ambiental, das ligações clandestinas, de esgoto, do lançamento de detritos
químicos, da ocupação de áreas próximas aos reservatórios.
A dependência de reservas subterrâneas pode trazer problemas no futuro, se a produção
não ocorrer de forma auto-sustentável ou se as águas forem poluídas. E, nesse caso, tornarem-se
praticamente impossíveis de ser aproveitadas, tendo em vista que as reservas subterrâneas
demoram milhares de ano para serem despoluídas.
Ao lado da má qualidade da água nosso país formou em cinco séculos uma população
especializada em desperdício. Somos campeões mundiais de gasto desnecessário de água: índices
de perdas assustadores nas companhias de água e um desperdício inconcebível por parte da
população.
A cada dia é maior a quantidade de água retirada dos rios e maior e mais diversa a
poluição neles descarregada. Os atuais índices de desperdício são alarmantes. Na agricultura, por
exemplo, 60% da água utilizada são desperdiçados pela quantidade excessiva empregada, pela
aplicação fora do período de necessidade das plantações, pela irrigação em horários impróprios –
como nos de maior evaporação -, pelo uso de técnicas inadequadas ou falta de sistemas de
irrigação.
Megaprojetos de irrigação, voltados para o mercado exportador, ameaçam as águas do rio
São Francisco, já ocorrendo, nessa região, destruição das matas nativas, problemas de salinização
dos solos, uso excessivo de adubos químicos e pesticidas, além de um grave quadro de
exploração e exclusão social das populações ribeirinhas.
O Brasil segue a tendência mundial de gastar maior percentual de água na agricultura,
mas, diferentemente dos outros países, aqui se gasta mais água no abastecimento doméstico que
no industrial. Segundo o IBGE o país consome 59% na agricultura, 18,6% na indústria e 22,4%
no abastecimento doméstico.
No Brasil um dos aspectos mais críticos é o excessivo consumo e desperdício no uso
residencial. Além do uso de tecnologias inadequadas também temos um grave problema de
perdas no processo de distribuição. Entre 30% a 70% da água tratada são perdidos no sistema de
distribuição. Esse valor representa em média, um volume de água suficiente para abastecer uma
população de 36 milhões de pessoas durante um ano.
Mas o problema do desperdício torna-se ainda mais grave quando o semi-árido nordestino
sofre problemas crônicos de abastecimento de água, acarretando graves conseqüências sociais, a
exemplo do êxodo rural e da explosão demográfica nas cidades.
Embora castigado pela seca, o sertão nordestino abriga 22% dos 58 trilhões de metros
cúbicos das águas subterrâneas existentes no Brasil. Os especialistas garantem que, a cada ano
pelo menos 65 bilhões de metros cúbicos poderiam ser retirados do subsolo sem comprometer as
reservas do subsolo. Infelizmente, a estrutura de captação instalada, via poços e bombas, é
suficiente para captar apenas 4,3 bilhões de metros cúbicos por ano.
As águas subterrâneas poderiam ser mais bem aproveitadas, não fosse o elevado
desperdício. Entre 30% e 40% dos poços artesianos abertos no sertão nordestino estão
desativados.
Responsável por mais de 50% da água disponível no Nordeste, o rio São Francisco
atravessa os estados de Minas Gerais e Bahia, passando por Pernambuco, Alagoas e Sergipe,
banhando 446 municípios. Tem na piscicultura e navegação a fonte de renda da população
ribeirinha. Em toda a bacia, vivem 14 milhões de pessoas, numa área de 630 mil quilômetros
quadrados. É o único rio perene do semi-árido. Do seu curso de 2.700 quilômetros, 58% atravessa
o polígono das secas. A água é utilizada para o consumo humano, abastecimento industrial e
agrícola.
A falta de uma política séria de recuperação e preservação ambiental e, os investimentos
sem critérios técnicos transformaram o rio São Francisco nos últimos quinze anos numa artéria
fluvial em rápido processo de degradação, deixando marcas irreparáveis de destruição ao longo
do rio – nos aspectos hídricos e ambientais.
As grandes barragens alteraram o curso natural da cheia e vazante, o desmatamento dos
cerrados e matas ciliares para implantação de monoculturas, provocaram a secagem das nascentes
e o assoreamento do rio.
Os grandes projetos de irrigação desestruturaram a produção do mercado local e
aumentaram os bolsões da miséria. A ação de agropecuaristas, de indústrias e o lixo das cidades
ribeirinhas causaram a poluição, inviabilizando o transporte fluvial.
3. A ÁGUA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A educação ambiental como forma de preservar e demonstrar a importância dos recursos
hídricos é um assunto que somente começou a ser abordado no final da década de 70. Até hoje,
em pleno século XXI, não é difícil encontrar pessoas que não consideram a importância do
problema da escassez da água potável.
No Brasil, a questão que se coloca diante da população não é da disponibilidade ou falta
de água, mas sim da maneira como esse recurso está sendo utilizado, provocando uma acelerada
perda de qualidade, em especial nas regiões urbanizadas ou industrializadas.
A conservação dos mananciais está intrinsecamente ligada a condições de preservação
ambiental, educação e saúde além, é claro, de uma gestão de recursos hídricos que envolvam não
só a classe governante como também, e principalmente as comunidades, órgãos ambientais e
instituição de ensino e pesquisa.
Uma característica fundamental para uma boa política de meio ambiente é o alto grau de
participação popular.
Mas do que em qualquer outro aspecto de nossa vida, as decisões sobre os assuntos
ligados à ecologia e ao meio ambiente necessitam, além das informações científicas, de uma
grande participação da população, que afinal de contas será a grande beneficiada ou a grande
vítima de tudo o que vier a ser feito.
A participação das pessoas é importante e elas precisam ser formadas para exercer seu
papel, seja como técnicos, políticos, economistas, formadores de opinião e líderes de quaisquer
grupos organizados.
E tudo começa através da sensibilização e da informação. Trata-se de uma educação
informal adquirida através da leitura de jornais, da participação em seminários, nos programas de
televisão e rádio, nos partidos políticos, nos sindicatos, nas igrejas e em todos os meios que
permitam às pessoas exercitarem o aprendizado e a consciência das mudanças e dos problemas
do presente e do futuro.
Quando se trata de educar para o uso racional da água, metodologias e processos devem
se juntar a tecnologias e técnicas na tentativa de reunir um problema que é físico, econômico,
mas também social e ecológico.
A conscientização da necessidade de conservação e recuperação dos recursos naturais,
que possui sua base na Educação Ambiental, pode ser mais bem desenvolvida quando se aplicam
os conceitos de educação em situações reais, que permitem inter-relacionar o cotidiano das
pessoas, e suas atividades, com o ambiente ao seu redor.
Situação em que as pessoas envolvidas no processo utilizam a realidade à sua volta como
instrumento de aprendizado, proporcionando maior entendimento e imediata aplicação do
conhecimento.
Disciplinar o uso da água, principalmente nas regiões críticas, é a melhor alternativa, além
de se mostrar o perigo da contaminação dos mananciais. A sociedade e os órgãos públicos devem
estar juntos em projetos voltados para a proteção das nascentes e contra os depósitos aleatórios de
resíduos sólidos.
Simples ações, na maioria das vezes, são o caminho para atingirmos grandes objetivos, e
devemos, sempre que possível, empregá-las em nossa luta pela conservação da vida.
É preciso reconhecer o papel crucial das mulheres na questão do uso e da conservação da
água. Em algumas comunidades, sua participação é fundamental para o abastecimento doméstico,
já que chegam a percorrer a pé alguns quilômetros acompanhadas de seus filhos para
encontrarem e trazerem sobre suas cabeças potes de barro cheios de água, o que normalmente
significará a única cota de água diária disponível para toda sua família.
Qualquer política de educação ambiental para proteção dos recursos hídricos deve passar
por uma “alfabetização ecológica” dessas mulheres, pois são elas na verdade que gerenciam o uso
da água, determinando o quanto vai ser gasto para beber, lavar e preparar a comida.
A “Declaração de Dublin sobre água e Desenvolvimento Sustentável” (1992) reconhece
em seu 3º princípio que a mulher desempenha um papel central no abastecimento, gestão e
proteção da água.
Isso se torna particularmente mais acentuada na região do semi-árido, onde muitas
famílias são chefiadas por mulheres, já que os homens partiram em direção as grandes cidades a
procura de melhores condições de trabalho, deixando a mercê das mulheres o papel de cuidar dos
filhos e do pedaço de terra onde moram.
Governo e instituições não-governamentais, associados ou não, devem trabalhar na
criação de programas e projetos de Educação Ambiental que procurem abordar a questão dos
recursos hídricos de forma global a partir de uma visão integrada da bacia hidrográfica e
mecanismos de funcionamento dos sistemas aquáticos.
Para isso devemos criar mecanismos eficientes de informação, através de programas
educacionais formais e não-formais, para as ONGs, governos, instituições internacionais e o
público, sobre a importância da água doce para a nossa saúde, bem-estar e economia; sobre a
escassez dos recursos hídricos, sobre o impacto das várias práticas de utilização de água e a
necessidade de proteger e conservar nossos recursos hídricos finitos.
São necessários programas educacionais, que paralelamente à formação e capacitação de
pessoal técnico especializado, sejam capazes de formar o cidadão apto a compreender e colaborar
nas ações de preservação, recuperação e manutenção das nossas reservas de água.
Devemos estimular ações de educação ambiental para evitar que os recursos hídricos
sejam usados de maneira criminosa e imprópria, dificultando a própria sobrevivência das
espécies.
4. CONCLUSÃO
Superar a escassez e a má qualidade da água para o abastecimento público é o grande
desafio da sociedade mundial do século XXI.
A gestão da água, como de todo planeta, precisa ser vista dentro de uma “nova ética”, de
respeito e integração à natureza.
Precisamos urgentemente redirecionar nossa sociedade para um novo modelo que internalize
conceitos como eqüidade, sustentabilidade e solidariedade.
Sem efetivas mudanças comportamentais na sociedade moderna e uma correta aplicação
de diretrizes de proteção ambiental, o sistema aquático mundial experimentará em poucas
décadas um verdadeiro colapso ecológico.
Neste contexto, o Brasil vive o paradoxo de ser uma das maiores potências em água doce
no mundo e ao mesmo tempo conviver com situações de seca comparáveis aos países com
escassez hídrica, já que nunca se preocupou em economizar água, pois este recurso sempre foi
considerado inesgotável pela população.
O governo deve fazer a sua parte e começar a agir, através de uma política de gestão de
recursos hídricos, que invista na melhoria do saneamento básico, reduzindo o nível de degradação
da água, o índice de perdas, diminuindo a utilização de pesticidas e buscando uma produção
industrial mais limpa, mas é preciso que a população participe.
As pessoas devem incorporar no seu dia-a-dia os conceitos de preservação e isto só se
consegue através da educação e da participação dos meios de comunicação. É importante que os
temas ambientais estejam presentes nos meios de comunicação, não só em campanhas
gigantescas em momento de escassez, mas continuamente com o sentido de melhor informar e
orientar a população.
Temos que cuidar da “alfabetização ecológica” de nossa gente, partindo das palavras
geradoras de sentido, ou seja, dos problemas ambientais que integram o cotidiano de cada um.
As comunidades devem participar de campanhas de educação sanitária e ambiental sobre
a importância da preservação e do uso racional da água. Essas intervenções são fundamentais no
desenvolvimento da gestão participativa dos recursos hídricos. Não devendo se esquecer que a
mulher desempenha um papel central no abastecimento, gestão e proteção da água.
Os usuários devem formar associações comunitárias que assumam as ações de operação e
manutenção dos sistemas de abastecimento.
Para isso é necessário desenvolver atividades de educação ambiental e formação de
recursos humanos a partir de uma visão integrada da bacia hidrográfica e dos mecanismos de
funcionamento dos sistemas aquáticos.
REFERÊNCIAS ∗
1. ASSUMPÇÃO FILHO, M M. O dilema das águas. Ambiente Global, São Paulo, Out.
2002.
2. BROWN, L. R. Qualidade de vida. Salve o planeta. São Paulo: Editora Globo, 1993.
3. CAPOBIANCO, J. P. R. Ética no uso da água. Banas Ambiental, São Paulo, Ago.
1999.
4. CRESPO, T. Planeta água: um guia de educação ambiental para conservação dos
recursos hídricos. Rio de Janeiro: Papel Virtual, 1998.
5. GUIMARÃES, M. Educação Ambiental: solução para os problemas do meio ambiente?
Disponível em: http://www.jorplast.com.br . Ed. Jun 2002.Capturado em 16/10/2002.
6. GUISSÉ, H. ONU diz que água não se regula por lei de mercado.
Disponível em:
http://www.aguaonline.com.br . Ed. 121.Capturado em 16/10/2002.
7. JORNAL A TARDE, 25/03/2001, Caderno local, p.4.
8. JORNAL CREATIVO, julho/2000.
9. LIMA, E. Monografia sobre água. Disponível em: www.folhadomeio.com.br Capturado em
16/10/2002.
∗
De acordo com ABNT NBR-6023: 2000. Abreviatura de periódicos segundo Bases de Dados MEDLINE.
10. MARQUES, F. Água recurso natural limitado, de valor inestimável. Disponível em
www.vit-nj.net/cep/artigofern Capturado em 22/09/02
11. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Política de recursos hídricos. Disponível em:
www.mma.gov.br/port/srh/acervo/DOCREF/Dublin .html. Capturado em 01/10/2002.
12. MULLER,
S.
Gestão
ambiental
de
recursos
hídricos.
Disponível
em:
http://www.ecolatina.com.br/artigo/água. Capturado em 10/09/2002.
13. REBOUÇAS, A. Águas Doces do Brasil: Capital ecológico, Uso e Conservação.
Institutos Avançados da USP. São Paulo 1999.
14. REGNIER, E. M. P. Ética no uso da água. Boletim Técnico do SENAC, v. 22, n. 3, P.
10, Set/dez. 1996.
15. ROCHA, J. E. Vítimas da sede. Disponível em http://www.aguaonline.com.br/projeto
Capturado em 16/10/02.
16. SANTOS, A. S. R. A biodiversidade da terra e o desenvolvimento sustentável. Diadema
Jornal. Revista dos Tribunais nº 716, p.7, 1991.
17. TEIXEIRA, J. L. Recursos hídricos. Futuro ameaçado. Problemas Brasileiros, São
Paulo, n. 338, p. 36-38, mar/abr. 2000.
18. WAEHNELDT, A. B. A. O SENAC e a educação ambiental. Boletim Técnico do
SENAC, v. 22, n. 3, P. 10, Set/dez. 1996.
19. ZINATO, M. C. A complexa tarefa de sensibilizar, informar e formar pessoas para uma
gestão sustentável da água.
Disponível em: http://www.ces.fau.edu. Capturado em
12/09/2002.
20. ZINATO, M. C. A disponibilidade, a escassez e o desperdício da água. Disponível em:
http://www.ces.fau.edu. Capturado em 13/08/2002.
CONSERVAÇÃO DA POLPA DO FRUTO DO IMBUZEIRO (Spondias tuberosa
Arruda) EM TEMPERATURA AMBIENTE
Nilton de Brito Cavalcanti 1 ; Soraia Vilela Borges2; José Barbosa dos Anjos1;
Geraldo Milanez Resende1; Luiza Teixeira de Lima Brito1
RESUMO: O objetivo deste trabalho foi obter a polpa do fruto do fruto do imbuzeiro
(Spondias tuberosa Arruda)
e testar a sua conservação em temperatura ambiente na
entressafra para a produção de doce em massa por pequenos agricultores, visando a
possibilidade do aproveitamento deste fruto como alternativa alimentar e fonte de
complementação da renda.
PALAVRAS-CHAVE: processamento, doce, imbu, Nordeste
CONSERVATION THE PULP FRUIT THE IMBU TREE (Spondias tuberosa Arruda)
IN TEMPERATURE AMBIENT
ABSTRACT: The objective of this study was to produce and test the conservation of pulp of
fruit the imbu trees (Spondias tuberosa Arruda) in temperature ambient for production of the
sweet paste for small farmers, seeking the possibility of utilization this fruit as food
alternative source of complementation of income.
KEYWORDS: processing, sweet, imbu tree, Northeast
INTRODUÇÃO: O imbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) é uma importante fruteira nativa
da região semi-árida do Nordeste, cuja produção estimada em mais de 300 kg de frutos por
planta/ano, torna-se a principal fonte de renda para maioria das famílias de pequenos
agricultores que fazem seu extrativismo. Do fruto pode-se obter diversos produtos, com
destaque para o suco, o doce em massa, a imbuzada, o licor, o xarope, entre outros
(CAVALCANTI et al., 2000).
No período da safra do imbuzeiro que ocorre, geralmente de dezembro a março, os
agricultores colhem os frutos e os vende nas margens das rodovias, nos centros urbanos da
região e para atravessadores que levam grande quantidade de frutos para as capitais do
1
Pesquisadores da Embrapa Semi-Árido. Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido. Caixa Postal 23. 56300970. Petrolina, PE. E-mail: [email protected]
2 Departamento de Tecnologia de Alimentos/UFRRJ. CEP 23851-970 Seropédica – RJ.
Nordeste, principalmente, Salvador onde é comercializada e consumida “in natura” mais de
90% da produção brasileira de imbu.
A sazonalidade e perecibilidade do fruto do imbuzeiro, que uma vez colhido, e em condições
ambientais de preservação dura entre dois a três dias, leva a uma grande perda da safra devido
à falta de uma infra-estrutura para o aproveitamento do mesmo (MAIA et al., 1998).
Para evitar perdas da produção de frutos, o pre-resfriamento que proporciona a remoção do
calor da matéria-prima após a colheita, antes do transporte, armazenamento e processamento
da produção é uma alternativa para redução dos desperdícios. No caso do fruto do imbuzeiro
cujo maior volume de produção é consumido “in natura” este procedimento para conservação
pode ser aplicado para o aproveitamento do excedente da produção que se perde no campo,
possibilitando o seu aproveitamento na entressafra.
Por outro lado, no meio rural nordestino não existe condições para que os pequenos
agricultores que fazem o extrativismo do fruto do imbuzeiro possam utilizar as técnicas de
conservação de resfriamento. Daí há necessidade de desenvolver-se e/ou adaptar-se
alternativas que possam contribuir para o aproveitamento racional do fruto do imbuzeiro nas
condições destes agricultores.
MATERIAL E MÉTODOS: O trabalho visando a conservação da polpa de imbu em
temperatura ambiente foi realizado de fevereiro a novembro de 2002 com frutos de imbuzeiro
colhidos em diversas plantas de ocorrência espontânea na área de caatinga da Embrapa SemiArido em Petrolina - PE. O trabalho foi realizado em três etapas. 1) na primeira etapa, foram
colhidos nas plantas os frutos de imbu inchado (estágio entre o imbu verde e o maduro) e os
frutos maduros (frutos após a maturação plena) colhidos após a queda em baixo das plantas.
Na segunda etapa que ocorreu após a colheita, os frutos foram lavados em água potável de
forma manual por imersão em recipiente plástico contendo solução de hipoclorito de sódio em
concentração de 10 ppm, por 10 minutos, seguida de lavagem em água corrente. Após a
lavagem os frutos foram submetidos a cozimento em água a 80° C por 3 minutos para retirada
da polpa e em seguida foi escorrida a água e passados os frutos em peneira com tela de 1,0
mm para obtenção da polpa. A polpa foi acondicionada em vidros com tampa de metal com
capacidade para 500 ml. Depois do envasamento os vidros foram levados ao banho-maria a
uma temperatura de 80°C por 20 segundos, seguido de resfriamento rápido em água corrente
para inativa as reações químicas e ezimáticas que podem causar deterioração da polpa. Após o
resfriamento os vidros com a polpa foram acondicionados em caixas de papelão fechadas e
identificadas e estocados em sala com temperatura ambiente (28°C) por 30, 60, 90 e 180 dias.
Na terceira etapa foram realizadas as análises físico-química de composição das polpas
(umidade, acidez, açúcares redutores não redutores, sólidos solúveis e pH em amostras das
polpas no Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFRRJ e microbiológicas
(ocorrência de bolores e leveduras) no Instituto Adolfo Lutz. Posteriormente, foi processado
doce em massa com a polpa de cada tratamento utilizando-se 500 g de polpa para 250 g de
açúcar. Os tratamentos consistiram em: 1) polpa de frutos inchados e; 2) polpa de frutos
maduros. Para avaliação da aceitação dos doces foi realizada análise sensorial com 56
provadores não-treinados, com o objetivo de se determinar qual tipo de doce que apresentaria
as melhores características organolépticas (aparência, sabor e acidez), utilizando-se o método
para análise sensorial proposto por MORAES (1985) com o uso de uma escala hedônica (1desgostei muitíssimo, 2- desgostei muito, 3- desgostei regularmente, 4- desgostei
ligeiramente, 5- indiferente, 6- gostei ligeiramente, 7- gostei regularmente, 8- gostei muito, 9gostei muitíssimo).
RESULTADOS E DISCUSSÕES: As características físico-químicas e microbiológicas da
polpa de frutos do imbuzeiro tipo inchado preservada em temperatura ambiente no período
dos 30 aos 180 dias estão apresentadas na Tabela 1. Verifica-se que houve pouca variação
entre os valores obtidos no dia da armazenagem e no final do período de avaliação. O valor
do teor de umidade da polpa aos 180 dias foi de 89,93%, próximo ao encontrado por BISPO
(1989), FERREIRA (2000) e PINTO et al. (1999) para polpa do imbu inchado.
TABELA 1. Caracterização físico-química e microbiológica da polpa de imbu inchado
preservada em temperatura ambiente, durante o período de 180 dias de
armazenamento.
Tempo de armazenamento (dias)
Composição da polpa de
frutos de imbu inchados
0¹
30
60
90
120
180
Umidade (%)
87,94
88,24
87,94
87,94
88,97
89,93
Acidez (%)
1,36
1,38
1,40
1,41
1,41
1,42
Açúcares redutores (%)
5,34
5,33
5,36
5,36
5,37
5,27
Açúcares não redutores (%)
1,28
1,29
1,28
1,27
1,28
1,27
Sólidos solúveis (°Brix)
9,76
9,78
9,96
10,06
10,06
10,10
pH
2,78
2,79
2,78
2,78
2,78
2,78
Bolores e leveduras
102 FC/g 102UFC/g 103UFC/g 103UFC/g 103UFC/g 103UFC/g
(¹) Polpa analisada após o processamento.
A acidez total da polpa de 1,42 aos 180 dias foi maior que os valores encontrados por PINTO
et al. (1999) que foi de 1,3 para polpa do imbu inchado e abaixo dos valores obtidos por
BISPO (1989) e FERREIRA (2000) que foram de 1,66 e 1,45, respectivamente. A análise
microbiológica da polpa apresentou valores de 102UFC/g no dia do processamento e uma
pequena elevação a partir dos 60 dias com valores de 103 UFC/g, embora estes valores
permaneçam dentro dos padrões estabelecidos (máximo de 103 ) e semelhantes ao encontrados
por PINTO et al. (1999) que foi de 102UFC/g.
Na Tabela 2, pode-se observar que as características físico-químicas e microbiológicas da
polpa de frutos do imbuzeiro tipo maduro preservado em temperatura ambiente no período
dos 30 aos 180 dias, apresentaram pouca variabilidade em função do período de
armazenamento. Os valores obtidos para acidez e pH aos 180 dias que foram de 1,42 e 2,78,
respectivamente, estão próximos dos obtidos por PINTO et al. (1999; 2000). Essa mesma
tendência ocorreu para bolores e leveduras com uma pequena elevação aos 60 dias
permanecendo constante até o final da avaliação.
TABELA 2. Caracterização físico-química e microbiológica da polpa de imbu maduro
preservada em temperatura ambiente, durante o período de 180 dias de
armazenamento.
Tempo de armazenamento (dias)
Composição da polpa de
frutos de imbu maduros
0¹
30
60
90
120
180
Umidade (%)
89,16
89,28
89,45
90,04
90,19
90,54
Acidez (%)
1,72
1,73
1,73
1,74
1,74
1,76
Açúcares redutores (%)
5,83
5,88
5,89
5,90
5,91
5,92
Açúcares não redutores
1,36
1,35
1,36
1,34
1,36
1,35
Sólidos solúveis (°Brix)
11,36
11,36
11,56
11,68
11,76
11,88
pH
2,72
2,73
2,74
2,73
2,74
2,72
(%)
Bolores e leveduras
103 UFC/g 103 UFC/g 103 UFC/g 103 UFC/g 103UFC/g 103UFC/g
(¹) Polpa analisada após o processamento.
A preferência dos provadores, em termos de aparência, sabor e acidez do doce processado
com a polpa do imbu inchado armazenada aos 180 dias é apresentado na Figura 1, onde se
pode observar que 48,21 e 39,29% dos provadores indicaram o atributo "gostei muito" para
aparência e o sabor, respectivamente. Em relação à acidez, 41,07% dos provadores indicaram
o atributo "desgostei regularmente". Esses resultados são semelhantes aos obtidos por PINTO
et al. (1999).
Aparência
% de provadores
60
Sabor
Escala hedônica
1- Desgostei muitíssimo
2- Desgostei muito
3- Desgostei
regularmente
4- Desgostei
ligeiramente
5- Indiferente
6- Gostei ligeiramente
7- Gostei regularmente
Acidez
50
40
30
20
10
0
1
2
3
4
6
7
8
9
Escala hedônica
FIGURA 1. Teste de degustação para aparência, sabor e acidez do doce processado com
polpa de imbu inchado aos 180 dias de armazenamento.
Na análise sensorial do doce processado com a polpa do imbu maduro (Figura 2) aos
180 dias após o armazenamento, pode-se observar que 41,07 e 48,21% dos provadores
indicaram o atributo "gostei muito" para aparência e o sabor, respectivamente. Para a acidez
deste tipo de doce, 50% dos provadores indicaram o atributo "gostei muitíssimo". Esse
atributo indicado para a acidez, deve-se principalmente, ao fato de que, a polpa obtida dos
frutos do imbu maduro, apresenta um pH menor do que a polpa do imbu inchado. PINTO et
al. (1999; 2000) também encontraram resultados semelhante na análise sensorial do doce
processado com polpa de imbu maduro.
Aparência
% de provadores
60
Sabor
Acidez
50
40
30
20
10
0
1
2
3
4
6
7
8
9
Escala hedônica
FIGURA 2. Teste de degustação para aparência, sabor e acidez do doce processado com
polpa do imbu maduro aos 180 dias de armazenamento.
CONCLUSÕES: A polpa do fruto do imbuzeiro inchado e maduro armazenadas em
temperatura ambiente, conservam suas características físico-química e microbiológicas
podendo ser uma alternativa para o aproveitamento do fruto na entressafra. O doce
processado com a polpa dos frutos do imbuzeiro inchados e maduros armazenadas em
temperatura ambiente preserva as características organolépticas dos frutos e podem ser uma
fonte de renda alternativa para os agricultores que fazem o extrativismo desta espécie.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BISPO, E. S. Estudo de produtos industrializáveis do umbu (Spondias tuberosa Arr. Câmera).
Fortaleza, CE: UFC, 1989. 119p. (Dissertação de Mestrado).
CAVALCANTI, N. B.; RESENDE, G. M.; BRITO, L. T. L. Processamento do fruto do
imbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) Ciênc. agrotec., Lavras, v. 24, n. 1, p. 252-259,
jan./mar., 2000.
FERREIRA, J. C. Efeitos do congelamento ultra-rápido sobre as características físicoquímicas e sensoriais de polpa de umbu (Spondias tuberosa Arruda Câmera) durante a
armazenagem frigorificada. Campina Grande, PB: UFPB, 2000. 112p. (Dissertação de
Mestrado).
MAIA, G. A.; OLIVEIRA, G. S. F. de.; GUIMARÃES, A. C. L. Curso de especialização em
tecnologia e processamento de secos e polpas tropicais: processamento industrial. Brasília –
DF: ABEAS, 1998. V. 8. 60p.
MORAES, M. A. C. Métodos para avaliação sensorial dos alimentos. 5. ed. Campinas:
UNICAMP, 1985. 89p.
PINTO, P. R.; BORGES, S. V.; CAVALCANTI, N. B. ANÁLISE Química e sensorial de
doce em massa de umbu verde e maduro. In.: JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA
UFRRJ, 9. Rio de Janeiro, 1999. Anais… UFRRJ. p. 424-425.
PINTO, P. R.; BORGES, S. V.; CAVALCANTI, N. B.; OLIVEIRA, V. M.; DELIZA, R.
Efeito de variáveis do processamento de doce em massa de umbu verde e maduro sobre sua
qualidade e aceitação. In.: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE
ALIMENTOS, 17. Fortaleza, 2000. Fortaleza: SBCTA/UFC, 2000. V.1.
APROVEITAMENTO DAS RAÍZES DO IMBUZEIRO
(Spondias tuberosa Arruda)
Nilton de Brito Cavalcanti1; Geraldo Milanez Resende1; Carlos Antônio Fernandes Santos1; José
Barbosa dos Anjos1; Luiza Teixeira de Lima Brito1
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo produzir e testar à aceitação de três formas de
utilização do xilopódio do imbuzeiro, obtidos de plantas aos 120 dias de crescimento visando
a possibilidade do seu aproveitamento como alternativa alimentar e fonte de complementação
da renda dos pequenos agricultores da região semi-árida do Nordeste. O trabalho foi realizado
no período de janeiro a dezembro de 2002, em uma área sob tela sombrite com redução de luz
de 50%, em temperatura ambiente na Embrapa Semi-Árido em Petrolina - PE. Utilizou-se o
delineamento experimental em blocos ao acaso, com três tratamentos e quatro repetições. Os
picles do xilopódio do imbuzeiro obtido de plantas aos 120 dias de crescimento, processado
com salmoura de 2,5% de sal comum e 0,5% de ácido ascórbico foi o mais preferido pelos
provadores, seguido dos picles processado com a salmoura de 2,5% de sal e 0,5% de ácido
cítrico. O xilopódio in natura não obteve boa aceitação quanto à textura.
PALAVRAS-CHAVE: imbuzeiro, renda, extrativismo, Nordeste.
USE OF THE ROOTSES THE IMBU TREE (Spondias Tuberosa ARRUDA)
ABSTRACT: The objective of this study was to produce and test acceptance of three types of
pickles of the truffle obtained imbu trees (Spondias tuberosa Arr. Cam.) of plants from 120
days of growth, in order to find and alternative source of food and income for the small
farmers of the semi-arid region Northeast Brazilian. The work was accomplished in the period
of January to December of 2002, in an area under screen sombrite with reduction of light of
50%, in temperature it sets in Semi-arid Embrapa in Petrolina - PE. The experimental
delineamento was maybe used in blocks to the, with three treatments and four repetitions. The
pickles of the truffle the obtained imbu tree of plants to the 120 days of growth, processed
with salmoura of 2.5% of common salt and 0.5% of ascorbic acid was it more preferred by the
fitting room, followed by the pickles processed with the salmoura of 2.5% of salt and 0.5% of
citric acid. The truffle in natura did not obtain good acceptance as the texture.
KEYWORDS: imbu tree, income, extraction, Northeast.
________________________
1
Pesquisadores da Embrapa Semi-Árido. Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido. Caixa Postal 23. 56300970. Petrolina, PE. E-mail: [email protected]
2
INTRODUÇÃO: Uma das principais fontes de renda dos pequenos agricultores no Nordeste
é o extrativismo vegetal. Entre as plantas que proporcionam esta atividade, o imbuzeiro
(Spondias tuberosa Arruda) é a que mais se destaca devido a possibilidade do seu
aproveitamento em diversas formas, tais como, suco, doce, imbuzada, licor, xarope etc.
Diversos trabalhos constatam a capacidade que esta planta tem para contribuir com o
desenvolvimento da região, de forma especial, com a sua industrialização caseira (ANJOS,
1999; CAVALCANTI et al. 2000; MENDES, 1990).
O crescente interesse dos consumidores por frutos tropicais, aliado ao número cada vez maior
de pequenas indústrias de processamento de frutas para produção de polpa, poderá tornar os
produtos derivados do imbuzeiro, um rentável negócio agrícola. Nas plântulas de imbuzeiro,
aos 30 dias de idade a raiz principal atinge um comprimento em torno de 12 cm e um
diâmetro na porção tuberculada de 20 mm (LIMA, 1994). A partir desta fase, o xilopódio já
pode ser utilizado para o processamento de picles, tornando-se assim, mais uma alternativa de
aproveitamento do imbuzeiro, contribuindo para sua preservação e para melhoria das
condições de vida dos agricultores, através da renda obtida com esta atividade.
MATERIAL E MÉTODOS: Foram plantadas 3600 sementes de imbu em canteiros com
área de 3 x 1 m com 30 cm de profundidade com substrato de areia lavada em 3 repetições
com sementes provenientes da mesma planta. O trabalho foi realizado no período de janeiro a
dezembro de 2002 em uma área sob tela sombrite com redução de luz de 50%, em
temperatura ambiente na Embrapa Semi-Árido em Petrolina – PE. Os canteiros foram
irrigados diariamente com uma lâmina de água de 0,75 mm durante o período de
desenvolvimento das mudas. Aos 120 dias de crescimento, foram colhidas as plântulas e
retirado os xilopódios para o processamento dos picles com o seguinte fluxograma: colheita
das plantas; lavagem em água corrente por 5 minutos; corte do xilopódio; retirada da casca do
xilopódio; lavagem do xilopódio em água clorada por 30 minutos; classificação;
acondicionamento em vidros; adição da salmoura; branqueamento em água (80°C) por 30
minutos e; tratamento térmico por 40 minutos em banho Maria a 96°C. Para o processamento
do picles, utilizou-se uma salmoura preparada com 50 g de sal, 10 g de ácido cítrico e 10 g de
ácido ascórbico, adicionados a 2000 ml de água. Os picles foram acondicionados em vidros
com capacidade de 500 ml, contendo em média 333,33 g de salmoura e 166,67 g de xilopódio
e armazenado em temperatura ambiente por trinta dias.
A análise sensorial foi realizada através de testes de degustação por um painel de 84
degustadores não treinados, para avaliação da aparência, sabor e textura, utilizando-se uma
3
escala hedônica de 9 pontos recomendada por MORAES (1990). Os tratamentos se
constituíram por três diferentes formas de apertização: 1) xilopódio in natura; 2) picles com
ácido cítrico (C6H8C7) e; 3) picles com ácido ascórbico (C6H8O6). Para análise dos dados,
utilizou-se o delineamento experimental em blocos ao acaso, com três tratamentos e quatro
repetições.
RESULTADOS E DISCUSSÕES: Na Figura 1, pode-se observar os aspectos das plantas do
imbuzeiro utilizadas para o processamento de picles. A altura média das plântulas aos 120
dias de crescimento foi de 77,86 cm, com um diâmetro basal do caule de 0,88 cm. Os
xilopódios apresentaram um tamanho médio de 15,26 cm, com diâmetro variando entre 2,98 a
3,83 cm. O peso médio dos xilopódios foi de 47,27 g. Esses valores referentes às dimensões
das plântulas são semelhantes aos encontrados por MENDES (1990) e LIMA (1994).
Figura 1. Plantas de imbuzeiro com xilopódios aos 120 dias de crescimento.
A preferência dos provadores para o xilopódio in natura é apresentado na Figura 2, onde se
pode observar que 42,27% dos provadores indicaram o atributo "gostei muito" para a
aparência e 22,53% foram indiferentes em relação ao sabor. A textura do xilopódio in natura
apresentou maior dureza, o que dificultou sua mastigabilidade pelos degustadores, dos quais,
52,86% indicaram o atributo "desgostei muitíssimo". Esses resultados são semelhantes aos
encontrados por ISEPON et al. (1997) em relação à textura dos picles de couve-flor.
4
% de provadores
Aparência
Sabor
Textura
Escala Hedônica
1- Desgostei muitíssimo
2- Desgostei muito
3- Desgostei regularmente
4- Desgostei ligeiramente
5- Indiferente
6- Gostei ligeiramente
7- Gostei regularmente
8- Gostei muito
9- Gostei muitíssimo
60
50
40
30
20
10
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Escala hedônica
Figura 2. Teste de degustação para aparência, sabor e
textura do xilopódio do imbuzeiro in natura.
O picles com ácido cítrico (Figura 3), obteve a maior pontuação para a textura, com 51,25%
dos provadores indicando o atributo "gostei regularmente". Para a aparência e o sabor,
23,47% dos provadores indicaram o atributo "gostei muito". Esses resultados indicam que o
processamento dos picles altera de forma positiva as suas características organolépticas, com
destaque para a textura, onde o processamento proporcionou uma menor dureza dos picles,
que possibilitou melhor mastigabilidade pelos degustadores. Esses atributos, também foram
encontrados por MONTEIRO (1984) e LARMOND (1987) quando avaliaram à aceitação de
produtos utilizando a escala hedônica.
% de provadores
Aparência
Sabor
Textura
60
50
40
30
20
10
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Escala hedônica
Figura 3. Teste de degustação para aparência, sabor e textura do picles
do xilopódio do imbuzeiro processado com ácido cítrico.
5
O picles do xilopódio processado com ácido ascórbico (Figura 4), obteve a maior pontuação
para a textura, com 41.56% dos provadores indicando o atributo "gostei muito". Para a
aparência e o sabor, 37,33 e 39,25% dos provadores, respectivamente, indicaram o atributo
"gostei regularmente". Outros 8,33% dos degustadores indicaram o atributo "gostei
muitíssimo" para o sabor.
Aparência
Sabor
Textura
% de provadores
50
40
30
20
10
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Escala hedônica
Figura 4. Teste de degustação para aparência, sabor e textura do picles
do xilopódio do imbuzeiro processado com ácido ascórbico.
A análise de variância dos dados obtidos indicou que, em relação à aparência, não houve
diferença significativa entre as formas de utilização do xilopódio do imbuzeiro, mesmo que, o
xilopódio in natura tenha obtido a maior média. Quanto ao sabor, o picles processados com
ácido cítrico e ascórbico, obtiveram as maiores médias, sendo o picles processados com ácido
ascórbico o mais preferido pelos degustadores. O picles processados com ácido ascórbico
proporcionaram um sabor mais salgado, o que obteve a maior preferência dos provadores. Já
o sabor do picles processado com ácido cítrico, apresentou um sabor ligeiramente salgado.
Por outro lado, o xilopódio in natura apresentou um sabor mais adocicado, para qual os
degustadores apresentaram certa indiferença. Em relação à textura, foram detectadas
diferenças significativas entre o xilopódio in natura e os processados com os ácidos, quanto à
dureza e mastigabilidade, embora essas diferenças sejam pequenas estatisticamente, na
avaliação sensorial, a textura do xilopódio in natura foi determinante para a não aceitação do
mesmo pelos degustadores.
6
CONCLUSÕES: O picles do xilopódio do imbuzeiro obtido de plantas aos 120 dias de crescimento,
processado com salmoura de 2,5% de sal comum e 0,5% de ácido ascórbico foi o mais preferido pelos
provadores, seguido do picles processado com a salmoura de 2,5% de sal e 0,5% de ácido cítrico;
O xilopódio in natura não obteve boa aceitação quanto à textura. Nesta forma de apresentação
a consistência do xilopódio não permite uma boa mastigabilidade. No entanto, houve um
percentual significativo de provadores que gostaram da aparência e do sabor desta forma de
utilização do xilopódio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ANJOS, J. B. Extrator de sucos vegetais a vapor. Petrolina: Embrapa-CPATSA. 1999. 3p.
(Embrapa-CPATSA. Comunicado Técnico, 85)
CAVALCANTI, N. B.; RESENDE, G. M.; BRITO, L. T. L. Processamento do fruto do
imbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.). Ciênc. Agrotec., Lavras, v. 24, n. 1, p.252-259,
jan./mar., 2000.
ISEPON, J. S.; CAMPOS, S. C. B.; SENO, S.; SEIXAS, E. S. Avaliação sensorial de picles
de couve-flor (Brassica oleracea var. Botrytis): diferentes cultivares. In II Simpósio Latino
Americano de Ciências de Alimentos, Campinas,. Resumos. Campinas. 1997. 178p.
LARMOND, E. Laboratory methods for sensory evaluation of food. Ontario, Agriculture
Canada. 1987. 74p.
LIMA, R. S. Estudo Morfo-anatômico do sistema radicular de cinco espécies arbóreas de uma
área de Caatinga do município de Alagoinha-PE. Tese Mestrado. Recife, UFRPE. 1994.
103 p.
MENDES, B. V. 1990. Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.): importante fruteira do
semi-árido. Mossoró. ESAM. 66p. il. (ESAM. Coleção Mossoroense, Série C - v. 554).
MONTEIRO, C. L. B. Técnicas de avaliação sensorial. 2ed. Curitiba, UFPR/CEPPA. 1984.
101p.
MORAES, M. A. C. Métodos para avaliação sensorial dos alimentos. 7 ed. Campinas:
UNICAMP. 1990. 93p.
Energia solar para aquecimento, secagem e refrigeração
Denis Gilbert Francis David
Departamento de Física – Universidade Estadual de Feira de Santana
e-mail : [email protected]
tel: (75) 225-9933
Alem de ser uma fonte de energia gratuita, a energia solar tem também a propriedade de ser
uma energia limpa. Em primeiro lugar porque não emite nenhuma poluição, ao contrário da
queima dos combustíveis químicos (lenha, carvão, petróleo, gás, etc.), ou nucleares (urânio,
plutônio). Em segundo lugar porque, se for bem utilizada, ela não modifica globalmente o
balanço térmico do Planeta: ela só faz emprestar uma parcela da energia solar incidente, e
restitui-la em seguida. Ela não modifica então nem a composição da atmosfera, nem a
composição do subsolo, nem o aspecto do solo. Ela pode ser integrada de modo harmonioso
com o ambiente natural.
No caso do Interior da Bahia, existem condições excepcionalmente boas para a utilização da
energia solar. O tipo de clima, o semi-árido, com uma presença quase permanente de sol, com
poucas nuvens, e de forte intensidade (cerca de 700 a 800 W/m² ao meio dia, de inverno a
verão), é muito favorável. A utilização da energia solar por comunidades com recursos
limitados pode representar então para elas um fator de desenvolvimento significativo.
Um dos objetivos maiores de nosso projeto é desenvolver e aplicar sistemas movidos à
energia solar para a região do semi-árido, colocando essa energia a serviço das populações,
para aquecer a água necessária a transformação de gêneros alimentícios, para secar frutas,
ervas e grãos, enfim para refrigerar e conservar produtos leiteiros e carnes.
Alguns projetos já foram realizados: aquecimento de leite no processo de pasteurização
(Fazenda Guanabara – Serrinha), aquecimento de água para a preparação de frangos
(FrigoFrango – Feira de Santana). Um projeto de secador de frutas está começando, em
colaboração com o Movimento de Organização Comunitário (MOC). Enfim, uma geladeira
solar, funcionando sobre o principio de adsorção / desorção de vapor por um material poroso
está sendo desenvolvida no Departamento de Física da UEFS. Esses projetos serão
apresentados em um pôster.
BENEFICIAMENTO ARTESANAL DO LEITE DE CABRA
LICOR DE LEITE DE CABRA
Geraldo Magalhães*
Antonio Gonçalves Serafim da Silva**
O licor de leite de cabra é uma bebida nova, porém já conhecida em outros estados do Nordeste.
A tecnologia é difundida pela EBDA - Centro de Profissionalização de Caprinocultores, no
distrito do Pilar, Município de Jaguarari-BA. A exemplo de outros produtos, procurou-se adaptar
uma tecnologia que correspondesse às reais condições da caprinocultura brasileira, adotando
tecnologia simples que pudesse chegar ao produtor de leite sem causar grande impacto na
estrutura já existente em sua propriedade. A geração de produtos simples para produção artesanal
de laticínios, como o licor de leite de cabra, motivará o produtor rural para produzir gerando
ocupação de mão-de-obra e fortalecendo economicamente a sua exploração de caprinos pois o
retorno econômico é da ordem de 240% sobre o custo de produção. Os objetivos dessa
tecnologia buscam contribuir para verticalizar a exploração de caprinos, agregar qualidade aos
produtos derivados do leite. Os métodos de processamento são de fácil entendimento, mas é
necessário que o produtor atente para as exigências sanitárias dos órgãos legais de vigilância do
município onde reside, a exemplo de ordenha higiênica, instalações higiênicas e pasteurização do
leite.
È uma bebida nova, porém já conhecida em outros estados do Nordeste, tendo boa aceitação no
mercado.
Ingredientes: Leite de Cabra pasteurizado com aquecimento a 65 0C, por 30 minutos e
resfriamento brusco até 15 0C (1.000ml), aguardente de cana (800 ml), água (1.000 ml), açúcar
(500 g) e essência de morango (2 ml).
Preparo do mel: ferver um litro de água com 500g de açúcar até o ponto de caramelização. Após
esfriar, colocar o mel, o leite, a aguardente e a essência em um liquidificador e bater por dois
minutos. Utilizar um coador de tecido (morim) previamente esterilizado (fervura de 20 minutos)
para coar a mistura. Envasar em recipiente esterilizado (garrafas de vidro ou plástica). O produto
final terá cor rósea e sua conservação é de 30 dias, em prateleira (ambiente ventilado) e de 90
dias quando mantido sob refrigeração, 2 a 7 0C (geladeira).
* Geraldo Magalhães é Engº Agrônomo, Chefe de Campo do Centro de Profissionalização de
Caprinocultores da EBDA do Regional de Juazeiro-BA.
** Antonio Gonçalves Serafim da Silva é Médico Veterinário, MSc. da EBDA do Regional
de Juazeiro -Ba
INFORMATIZAÇÃO
DO
HERBÁRIO
HUEFS-
HERBÁRIO
DA
UNIVERSIDADE
ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA - BAHIA. Teonildes Sacramento Nunes, Kelly Regina
Batista Leite, Maria José Sampaio Lemos Costa, Elaine Barbosa Miranda, Reyjane Patrícia de
Oliveira & Luciano Paganucci de Queiroz. Universidade Estadual de Feira de Santana.
O Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana, foi cirando em março de 1980, como
requisito básico para o reconhecimento do Curso de Licenciatura em Ciências Habilitação em
Biologia, tendo como primeiro registro Zornia myriadena Benth. (Leguminosae). Encontra-se
indexado no Index Herbariorum com a sigla HUEFS, e conta atualmente com 70.000 espécimes,
totalmente informatizado, sendo o terceiro maior herbário do Nordeste brasileiro e o segundo do
Estado da Bahia. O presente trabalho pretende divulgar o método de informatização adotado pelo
HUEFS. O sistema de gerenciamento de dados utilizado é o Herbário 2.0 desenvolvido pelo
professor Dr. Luciano Paganucci de Queiroz, gerenciado pelo Access 7.0, uma ferramenta do
Microsoft Office. Este software está baseado em amostras (espécimes), permitindo a entrada de
dados por número de amostra, número de tombo ou outro parâmetro. Este permite armazenar
dados específicos, sendo adequado para consultas diversas, confecção de rótulos, relatórios,
"checklist", guias de remessa, etc. O banco de dados está organizado pelo número de tombo do
herbário HUEFS (material de referência), e sua estrutura baseia-se numa tabela geral com os
dados obtidos pelos coletores, dados de nomenclatura e fenologia. As maiores vantagens da
implantação desse software como gerenciador do banco de dados são: a) linguagem simples para
a entrada das informações por técnicos não especializados; b) permitir a realização de consultas
específicas de acordo com a necessidade do pesquisador; c) menos trabalho é requerido para
utilização dos dados e respostas às consultas; d) fornecer garantia na integridade do banco de
dados; e) possibilitar o intercâmbio com outros programas da área da botânica, utilizados em
outras instituições , como o DBASE, BRAHMS, FOXBASE, entre outros. O processo de
informatização do acervo (no início com 17.000 espécimes), durou três anos, contando com dois
funcionários
computadores.
(tempo integral), quatro estagiários (20 horas semanais), trabalhando em dois
OS VINTES ANOS DO HERBÁRIO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE
SANTANA (HUEFS). Milene Maria da Silva, Maria José Sampaio Lemos Costa & Reyjane
Patrícia de Oliveira. Universidade Estadual de Feira de Santana – Bahia ([email protected]).
O Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana (HUEFS), foi criado em março de
1980, pelo Dr. Larry R. Noblick, como requisito básico para o reconhecimento do Curso de
Licenciatura em Ciências Habilitação em Biologia, tendo como primeiro registro Zornia
myriadena Benth. (Leguminosae). O HUEFS está indexado no Index Herbariorum e inclui hoje
cerca de 70.000 números, considerado o terceiro maior herbário do Nordeste. Com o objetivo de
conhecer a flora brasileira, muitas coletas têm sido realizadas ao longo dos anos, estando os
materiais depositados nos herbários do Brasil e do exterior. Para um conhecimento participado
desta flora, torna-se imprescindível o uso de um sistema de informações que facilite a consulta os
pesquisadores. Todas as amostras que chegam ao HUEFS, passam pelo processo de herborização,
sendo logo após cadastradas no banco de dados, montadas em exsicatas e inseridas na coleção.
Além do cadastramento das novas amostras, também é realizada a atualização dos dados
existentes, efetivando uma maior agilidade na troca de informações entre herbários. São ainda
realizadas inúmeras consultas para atender às necessidade dos pesquisadores e bolsistas dos
diversos projetos. Possibilita também o intercâmbio com vários herbários nacionais e
internacionais visando a identificação do material por especialistas, a manutenção do sistema de
permuta, servindo no futuro como material comparativo para confirmar identificações.
A FAMÍLIA ARISTOLOCHIACEAE NA CHAPADA DIAMANTINA,
BAHIA,
BRASIL Maria José Sampaio Lemos Costa, Teonildes Sacramento Nunes & Luciano
Paganucci de Queiroz. Universidade Estadual de Feira de Santana ([email protected]).
O presente trabalho é o resultado do levantamento da família Aristolochiaceae na Chapada
Diamantina (Bahia), contribuindo para o conhecimento da flora desta região. A Chapada
Diamantina localiza-se no centro do território baiano e constitui a porção setentrional da
Cadeia do Espinhaço. Caracteriza-se por áreas planálticas e serranas intercaladas pelas
depressões periféricas e interplanálticas, com altitude alcançando mais de 2.000 metros no
Pico do Barbado. Os estudos foram baseados em materiais de herbário e bibliografia
especializada. A família Aristolochiaceae compreende 7 gêneros com ca. de 450 espécies
distribuídas nos trópicos e regiões de clima temperado, sendo o gênero Aristolochia o
mais representativo, com ca. de 350 espécies. É um grupo monofilético sustentado pelo
ovário ínfero e flores sintépalas. Caracteriza-se pelo hábito de ervas, lianas ou arbustos,
folhas e alternas simples, algumas vezes lobadas, inteiras, estípulas foliáceas, flor
bissexual, radiada a bilateral com três pétalas, tubular ou em forma de S, estames
usualmente seis a doze. Frutos capsulares septicidas. No Brasil ocorrem cerca de 62
espécies. Para a região foram levantadas cerca de 7 espécies, encontradas em áreas de
mata, campo rupestre e carrasco: A. brasiliensis Mart ex Zucc., apresenta lábio superior
dilatado em lâmina ondulada, base cordada e ápice emarginado, com venação e manchas
vermelho-clara, sobre fundo verde-amarelado. A. birostris Duch., apresenta folhas ovalcordada, perianto com lobos labiais estipitados sobre a fauce, obovais ou oblongados, com
pequena cauda aguçada. A. gigantea Mart. ex Zucc., apresenta folhas delto-cordiforme,
largamente cordadas na base. A. papillaris Mast., apresenta lábios com papilas
verruciformes no disco, margens lisas, ramos e folhas com tricomas esparsos. A. pohliana
Duch., apresenta lábio superior prolongado em longa cauda linear, lábio inferior largo,
agudo e folhas orbiculares-ovaladas. A. pubescens Willd., apresenta folhas menores e
lábios ovalados. A. trilobata L., apresenta folhas glabras, base do .lábio obcordada, e
cauda linear, torcida.
CHECKLIST DAS ESPÉCIES DE CACTACEAE DO MORRO DO AGENOR –
MILAGRES, BAHIA. Andrade, Cassia Tatiana1; Ferraro, Anapaula S.D. 1; Jardim, Jomar
Gomes 1; Nunes, Teonildes Sacramento 1; Silva-Pereira, Viviane. 1; Smidt, Eric C. 1 &
Zappi, Daniela C. 1 1. Alunos de Pós-graduação em Botânica – Universidade Estadual de
Feira de Santana. 2. Royal Botanic Gardens – Kew. ([email protected])
Os inselbergs são formas de relevo isoladas sobre pediplanos. As formas de relevo presentes
no pediplano de Milagres podem ser consideradas um exemplo de inselbergs dispostos em
grupo. A área de estudo abrangeu o Morro do Agenor, situado no Município de Itatim, na
região de Milagres, Bahia (12º 42´S e 39º 46´W), ca. 400 m.s.m. Esta região é caracterizada
por apresentar uma vegetação predominante arbórea e semicaducifólia na base do morro, e
mais diversificada na encosta, coberta por uma vegetação arbustiva com poucas arvoretas
desenvolvendo-se sobre solo arenoso, com muitos seixos e pedregulhos desprendidos, menos
espessos e mais arenoso que aquele encontrado na mata da base. No ápice o solo é
praticamente ausente, restringindo-se a pequenas depressões ou fissuras. A família Cactaceae
é caracterizada botanicamente pela presença de caules especializados, com aréolas onde
desenvolvem-se os espinhos e a parte reprodutiva. É uma família endêmica do Novo Mundo,
com várias importâncias econômicas. Nas Américas elas ocorrem do Canadá à Patagônia,
mais freqüentemente em regiões de clima seco. Algumas espécies estão incluídas na lista de
espécies vulneráveis e criticamente ameaçadas de extinção da CITES (Convention on
International Trade in Endangered Species), por isso um dos problemas da família no Brasil
está na ocorrência restrita de unidades de conservação, que possam proteger as espécies
terrestres que ocorrem em caatinga e campos rupestres das regiões Nordeste e Sudeste.
Foram encontradas oito espécies: Arrojadoa penicillata (Gürcke) Britt. & Rose, Cereus
jamacaru DC., Melocactus oreas Miquel, M. salvadorensis Wedermann, Pilosocereus
gounellei (Weber) Byl. & Row., P. pentaedrophorus (Cels) Byl. & Row., Tacinga inamoena
(K.Schum) N.P.Taylor e T. palmadora (Britton & Rose) N.P.Taylor. São apresentados
ilustrações, chaves para identificação das espécies e descrição das espécies. Uma melhor
investigação da área se justifica para complementar a lista e melhor observar a ecologia das
espécies.
A FAMÍLIA PASSIFLORACEAE A.L.JUSS. NO ESTADO DA BAHIA, BRASIL
Nunes, T.S.1 & Queiroz, L.P. de
2
1 – Aluna de Mestrado em Botânica, 2 – Professor
Orientador/Universidade Estadual de Feira de Santana Departamento de Ciências Biológicas –
Herbário HUEFS - Av. Universitária, s/n. 44031-460 – Feira de Santana, Bahia, Brasil
([email protected]).
O Estado da Bahia está localizado na região Nordeste e ocupa uma área de 567.295,3 Km2, o que
representa 6,64% do território do Brasil e 36,34% do Nordeste. A possui grande diversidade de
climas regionais que, de um modo geral, podem ser considerados como tropicais megatérmicos,
com diferenças marcantes no regime pluviométrico. De acordo com o levantamento do
Radambrasil (1981), encontram-se climas úmido a superúmido, com mais de 2.000 mm anuais e
elevado excedente hídrico durante a maior parte do ano, clima úmido, com 1.750 a 2.000 mm
anuais, clima subúmido, com 800 a 1.500 mm anuais, e clima semi-árido, com 500 a 800 mm
anuais e deficiência hídrica durante a maior parte do ano. Associada a esta diversidade climática
e topográfica, encontram-se vários tipos vegetacionais e praticamente todos os grandes biomas
brasileiros estão representados no Estado. Assim, são encontradas formações de mata atlântica,
restinga, vegetação de dunas e manguezais, matas mesófilas, cerrados, caatinga e campos
rupestres. Além destas grandes formações, há ainda grande número de formações locais, como
inselbergs, dunas interioranas, matas de grotão, matas de encosta etc. A família Passifloraceae é
predominantemente tropical e subtropical e possui cerca de 20 gêneros e 650 espécies. No Brasil
ocorrem 4 gêneros, Mitostemma, Dilkea, Tetrastylis e Passiflora com cerca de 120 espécies, a
maioria subordinada ao gênero Passiflora L., com cerca de 400 espécies de lianas descritas,
predominantemente neotropicais. Ocorre nas áreas mais quentes da América com algumas
espécies na Ásia e Austrália e uma espécie em Madagascar. Caracteriza-se por apresentar plantas
trepadeiras com gavinhas, folhas simples ou lobadas, com estípulas, flores vistosas, solitárias,
raramente em inflorescências. Foram encontradas para o Estado, 31 espécies e 5 variedades
pertencentes a dois gêneros: Passiflora (6 subgêneros), com 30 espécies e 5 variedades, incluindo
uma espécie nova encontrada no municípios de Mucugê e Ibicoara, e Tetrastylis, com apenas
uma espécie T. ovalis (Vell.) Killip. Apresentamos como resultado final um levantamento das
espécies da família Passifloraceae no Estado da Bahia, chaves de identificação, descrição,
ilustração e mapas de distribuição geográfica no Estado das espécies encontradas, bem como a
diagnose da nova espécie.
PORTULACACEAE DO ESTADO DA BAHIA,BRASIL
Alexa Araujo de Oliveira1
Ana Maria Giulietti2
As Portulacaceae representam um importante componente da Flora da Bahia, sendo
freqüentemente citada em vegetações como caatinga, campos rupestres, restinga e cerrado.
A família caracteriza-se por serem ervas anuais ou perenes, suculentas com ramificações
eretas ou prostradas incluindo cerca de 30 gêneros e aproximadamente 500 espécies com
distribuição cosmopolita, predominando nas regiões tropicais e subtropicais. Este trabalho
teve como objetivo realizar o levantamento das espécies de Portulacaceae do Estado da
Bahia, contribuindo para o Projeto Flora da Bahia. Foram realizadas análises de espécimes
1
coletados no estado da Bahia e depositados nos herbários: ALCB, CEPEC, BAH, HRB,
HUEFS, IPA e PEUFR e das coletas realizadas durante o desenvolvimento deste trabalho.
As identificações foram feitas com base na literatura específica e nas determinações de
especialistas encontradas nos herbários estudados. No Brasil ocorrem dois gêneros e 16
espécies com ampla distribuição Talinum Adans. possui ovário súpero, enquanto que
Portulaca L. possui ovário ínfero. Foram reconhecidas nove espécies de Portulaca: P.
elatior Mart., P. halimoides L., P. hirsutissima Camb., P. mucronata Link., P. oleracea L.,
P. umbraticola Kunth e P. werdermannii Poelln. E duas espécies de Talinum: T.
paniculatum (Jacq.)Gaertn. e T. triangulare (Jacq.)Willd.. Dentre as espécies estudadas
Portulaca werdermannii foi referida como possivelmente endêmica para a Bahia.
1
2
Aluna de Doutorado do PPGBot-UEFS, Bolsista FAPESB.([email protected])
Departamento de Ciências Biológicas- UEFS.
BIOLOGIA REPRODUTIVA E ASPECTOS FENOLÓGICOS DE Byrsonima
microphylla ADR. JUSS. (MALPIGHIACEAE) NA RESTINGA DA APA DO
ABAETÉ, BAHIA. Costa, Cristiana Barros Nascimento1; Costa, Jorge Antonio Silva1.
1.
Doutorado PPGBot-UEFS, bolsistas FAPESB ([email protected] ) e CAPES
([email protected])
A família Malpighiaceae apresenta 65 gêneros com maior número de espécies ocorrentes
no Novo Mundo, cuja principal característica é produção de óleo floral através de
elaióforos epitelias presentes no cálice. Byrsonima microphylla é uma espécie arbustiva,
endêmica da restinga da Bahia. A biologia floral, o sistema reprodutivo, fenologia e
polinizadores desta espécie foram estudadas na restinga da APA do Abaeté, Salvador
(12o56’S e 38o20’O), durante o período de julho de 2000 a janeiro de 2002. Foram
marcados 20 indivíduos para acompanhamento da fenologia. O estudo do sistema
reprodutivo foi realizado através de testes de polinização cruzada, auto-polinização manual,
espontânea e geitonogamia em flores previamente ensacadas. A produção natural de frutos
foi avaliada através de grupo controle. A razão pólen-óvulo foi também analisada para
comparação dos resultados. A viabilidade polínica foi realizada através do teste com
carmim acético. Observações dos visitantes florais foram realizadas entre 06:00h e 18:00h.
Esta espécie apresenta padrão contínuo de floração em nível de comunidade. As flores são
pentâmeras, andróginas, apresentam cálice com dez elaióforos e suas pétalas são alvo-rosas,
sendo a pétala superior amarela, que funciona como guia de orientação para o pouso de
abelhas da tribo Centridini. B. microphylla possui antese diurna ocorrendo em diferentes
horários da manhã. A viabilidade polínica é alta, apresentando 97,59% de pólens viáveis.
Os tratamentos de polinização manual sugerem que a espécie seja xenógama facultativa
com maior formação de frutos por polinização cruzada (74%) do que por auto polinização
manual (20%). O grupo controle apresentou 56% de formação de frutos. Os resultados de
campo demonstram a não aplicabilidade da análise da razão pólen-óvulo para esta espécie.
Os principais visitantes florais são abelhas do gênero Centris, especialistas na coleta de
óleo floral, com destaque para Centris leprieuri como principal polinizadora devido a sua
alta freqüência de visitas.
COLEÇÃO DE TIPOS DO HERBÁRIO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA
DE SANTANA. Teonildes Sacramento Nunes, Maria José Sampaio Lemos Costa , Reyjane
Patrícia de Oliveira, Elaine Barbosa Miranda, Milene Maria da Silva, Kelly Regina Batista
Leite & Luciano Paganucci de Queiroz. UEFS. ([email protected]).
O Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana foi criado em março de 1980,
como requisito básico para o reconhecimento do curso de Licenciatura em Ciências
Habilitação em Biologia, tendo como primeiro registro Zornia myriadena Benth.
(Leguminosae). O primeiro curador foi o Dr. Larry R. Noblick e atualmente é o Dr.
Luciano P. de Queiroz. Encontra-se indexado ao Index Herbariorum com a sigla HUEFS,
com cerca de 52.000 espécimes, sendo o terceiro maior herbário do Nordeste brasileiro. O
presente trabalho pretende contribuir para a divulgação dos tipos nomenclaturais existentes
no HUEFS. Os tipos nomenclaturais incluem a exsicata e cópia da obra princeps. Além de
exsicatas, a coleção de tipos compreende também, cibachromes (imagens de alta resolução)
provenientes do Herbário do Royal Botanic Gardens – Kew, adquiridas através do Projeto
de Repatriamento de dados do Herbário de Kew para a Flora da Bahia, com a aquisição de
550 fotótipos, totalizando 962 tipos, correspondentes a 595 espécies, 162 gêneros
pertencentes a 35 famílias. A distribuição de tipos por famílias é: na forma de cibachromes
Gramineae (212), Passifloraceae (177), Myrtaceae (149), Rubiaceae (86), Verbenaceae
(83), Leguminosae (55), Loranthaceae (25), Cactaceae (19), Turneraceae (9),
Euphorbiaceae (6), Vochysiaceae (4), e na forma de exsicatas: Leguminosae (5),
Compositae (3), Melastomataceae (3), Eriocaulaceae (3), Turneraceae (2), Sterculiaceae
(2), Bromeliaceae (1), Lamiaceae (1), Solanaceae (1), Sterculiaceae (1), Vochysiaceae (1),
Solanaceae (1), Simaroubaceae (1), Rutaceae (1) e Cyperaceae (1). Neste trabalho
apresentamos um Checklist por família, gênero e espécie, incluindo dados de coletor,
número, data, local de coleta e a respectiva categoria do tipo, de acordo com o Código
Internacional de Nomenclatura Botânica, além da bibliografia de referência.
EFEITO DE DIFERENTES DOSES DO HERBICIDA TRIFLURALINA NA
QUALIDADE FISIOLÓGICA DE PLANTAS DE AMENDOIM (Arachis hypogaea L.)
Carla da Silva Sousa ¹; Cássia da Silva Sousa ¹; Gean Carlo Soares Capinan¹; Paulo Wanderley
de Sousa Pereira¹; Maria de Fátima da Silva Pinto Peixoto²
INTRODUÇÃO
O amendoim é uma planta dicotiledônea da família Leguminosea, subfamília
Papilionoideae, gênero Arachis, sendo as espécies mais importantes do gênero: A. hypogaea L.,
A. prostata Benth e A. nhambiquarea Hoehne, onde as variedades cultivadas pertencem a
primeira espécie (Passos et al, 1973).
Um dos fatores que aumentam o custo da produção, é a competição das plantas daninhas,
com a cultura nas primeiras semanas após a emergência. Na cultura do amendoim ocorrem dois
períodos críticos da atuação de plantas daninhas: primeiro quando as plantas são muito pequenas
e segundo após o início da frutificação. (Woodroof 1973, citado por Laca-Buendia, 1981).
O uso de herbicidas na cultura do amendoim tem sido grande devido a praticidade e
eficiência de modo geral. Podem ser usados herbicidas em pré-emergência ou pós-emergência,
dependendo da infestação da área, produtos disponíveis e equipamentos.
A trifluralina é um herbicida pré-emergente usado para controlar gramas e ervas daninhas
de folhas largas e é comumente usado nas lavouras dos Estados Unidos (Ace, 2001).
A trifluralina não é muito móvel no solo. É altamente absorvido pelo solo e quase insolúvel
em água. Apesar de não ser muito suscetível ao movimento em água a trifluralina pode mover-se
juntamente com partículas do solo e assim torna-se associada aos sedimentos flutuantes em água.
Entretanto contaminação por trifluralina não é esperada que ocorra no lençol freático (Hertwig,
1983).
O cultivo do amendoim (Arachis hypogeae L.) é uma atividade agrícola especialmente
indicada para regiões de solos arenosos, principalmente no Nordeste, e de particular importância
para a renovação de pastagens e reforma de canaviais. Com o aumento da área cultivada, que
caracteriza a agricultura moderna, tem-se observado o uso intensivo de produtos químicos como
__________________________
1
Acadêmicos de Agronomia - Escola de Agronomia da UFBA. Cruz das Almas-BA. . CEP: 44380-000.
[email protected]
2
Professores da Escola de Agronomia – UFBA. Cruz das Almas-BA. CEP: 44380-000.
herbicidas, se tornando uma necessidade primordial a intensificação de estudos visando conhecer
o comportamento e destino dos pesticidas nos diversos ecossistemas.
Um dos problemas mais limitantes da produção das culturas é a competição exercida pelas
plantas invasoras. Quando não há o controle a tempo, por qualquer motivo, a produção é
prejudicada, pois elas interferem na colheita e são hospedeiros intermediários de pragas e
doenças. O controle de plantas daninhas constitui-se uma prática indispensável para obtenção de
maior produtividade.
A dosagem do produto a ser aplicada varia de acordo ao tipo de solo: solos arenosos leves
1,2 L.ha-1 solos areno-argilosos (médio) 1,8 L.ha-1; e solos argilosos (pesados) 2,4 L.ha–1
(Hertwig, 1983). Em solos com muita matéria orgânica ou argilosos é necessário maior
quantidade aplicada para maior efetividade na aplicação (Fedlink, 2001).
Segundo Gelmine e Trani (1996), a trifluralina é essencialmente adsorvida pelo caulículo e
secundariamente pelas radículas das plantas em início de germinação. Sua translocação é
insignificante e tem como principal mecanismo de ação a capacidade de afetar a divisão celular
nos tecidos meristemáticos, inibindo a germinação de sementes bem como a formação de novas
células na radícula e caulículo. Em culturas instaladas em locais onde o solo foi tratado com esse
herbicida foram observados resíduos apenas na região das raízes que se encontravam em contato
com o mesmo por outro lado, nessas condições não foram detectados resíduos nas folhas frutos e
sementes em análises realizadas onde a sensibilidade foi de até 5 ppb.
Peixoto (2002), testando doses de trifluralina (0,0; 1,5; 2,0; 4,0 L. ha–1), verificou um
decréscimo no peso da massa seca da parte aérea e da raiz, no índice de velocidade de
emergência, número e massa seca dos nódulos com o aumento das doses aplicadas.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi conduzido na casa de vegetação do Departamento de Química Agrícola e
Solos da Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia, no município de Cruz das
Almas – Bahia Brasil, que se encontra a 12º 40'39'' de latitude Sul, 39º06'23'' de longitude Oeste
de Greenwich, a 220 metros de altitude, clima do tipo Aws de transição entre Af e Aw. A
temperatura média anual é de 24,5º C, com umidade relativa média anual de 80% e precipitação
pluvial média anual de 1,197 mm.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com quatro tratamentos
(testemunha dose zero; 1,5 L. ha-1; 2,0 L. ha-1 e 4,0 L.ha-1 do produto comercial) e 3(três)
repetições. As doses 1,5 e 2,0 L. ha-1 são indicadas para a cultura do amendoim segundo
Rodrigues & Almeida (1998).
Para cada repetição utilizaram-se bandejas de plásticos de 50cm x 70cm x 10cm, tendo
como substrato o solo Latossolo Amarelo álico coeso, representativo da região do Recôncavo
Baiano, pertencente à zona dos tabuleiros costeiros. O solo foi regado e aplicado as doses de
trifluralina, recomendado para a cultura do amendoim nas dosagens de 0 L.ha-1; 1,5 L.ha-1; 2,0
L.ha-1 e 4,0 L.ha-1, sendo a aplicação feita em pré-plantio incorporado com um regador manual
com capacidade de 2 litros, antes da semeadura.
O plantio foi feito distribuindo-se as sementes nas bandejas, em 5 linhas, perfazendo um
total de 50 sementes/bandeja.
Após 30 dias da semeadura, as plantas foram retiradas das bandejas, colocadas em sacos
plásticos e imediatamente transportadas ao laboratório para determinação dos seguintes
parâmetros: comprimento da planta, massa seca da parte aérea, massa seca da raiz.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo coma Figura 1, constatou-se que o herbicida quando foi utilizado em pequenas
dosagens (1,5 e 2,0 L. ha-1) favoreceu a germinação. Entretanto, a utilizar a dose de 4,0 L. ha-1,
verificou-se que o aumento da dosagem do herbicida provocou um decréscimo nesse índice, o
que também foi constatado por Rodrigues & Almeida (1995), que explicam esse fato devido ao
comprometimento do processo de divisão celular.
% de germinação
100
95
90
85
Y=-1,713x² + 5,3621x + 89,974
R²=0,9992
80
75
0
1,5
2
Doses (L.ha-1)
Figura 1 – Percentagens de germinação de amendoim
submetidas a diferentes doses de trifluralina.
4
Quanto a altura, observou-se que, independente da dosagem aplicada, o uso do herbicida
Trifluralina promove uma redução do crescimento da planta, sendo este um fator negativo.
Notou-se, de acordo com a Figura 2, que as dosagens de 1,5 e 2,0L.ha-1 tiveram um efeito menos
deletério em relação à dosagem de 4,0 L.ha-1, quando houve um decréscimo de aproximadamente
Altura das plantas (cm)
50% na altura.
60
50
40
30
20
Y = 0,7204x² -9,955x + 60,108
R² = 0,9337
10
0
0
1,5
2
4
-1
Doses (L. ha )
Figura 2 – Acúmulo de massa seca na parte aérea de plantas de
amendoim submetidas a diferentes doses de trifluralina.
Verificou-se que crescentes concentrações do herbicida promoveram uma diminuição no
peso da massa seca tanto da parte aérea quanto das raízes das plantas analisadas. Isso ocorreu
principalmente em decorrência da capacidade do herbicida inibir os processos metabólicos nos
cotilédones do amendoim reduzindo a utilização das reservas cotiledonais.
Quanto a massa seca da parte aérea (MSPA), notou-se, conforme Figura 3, que as dosagens
de 2,0 e 4,0 L.ha-1, foram as que mais provocaram redução nesse índice. Provavelmente, isso se
deveu à ação do herbicida sobre o metabolismo da planta, interferindo na translocação de
Massa seca da parte
aérea (g)
nutrientes da parte aérea, retardando o seu desenvolvimento.
0,8
0,6
Y = 0,8367x² - 5,7046x + 34,51
R² = 0,9589
0,4
0,2
0
0
1,5
2
-1
Dose s (L.ha )
Figura 3 – Altura de plantas de amendoim submetidas a
diferentes doses de trifluralina.
4
Os efeitos também foram evidentes sobre a massa seca da raiz (MSR) – Figura 4. As
dosagens de 2,0 e 4,0 L.ha-1, foram as que promoveram maiores reduções nessa variável. A
Massa seca da raiz (g)
dosagem de 1,5 L.ha-1, promoveu um decréscimo menor na produção de matéria seca.
0,2
0,15
0,1
Y = 0,1305x² + 0,0147x + 6,6535
R² = 0,9438
0,05
0
0
1,5
2
4
-1
Doses (L.ha )
Figura 4 – Acúmulo de massa seca das raízes de plantas de
amendoim submetidas a diferentes doses de trifluralina.
CONCLUSÕES
¾ A utilização de Trifluralina na cultura do amendoim com dosagem de 4,0 L.ha-1, promoveu
um decréscimo na germinação;
¾ Independente da dosagem utilizada, a Trifluralina promoveu redução na altura das plantas e
no acúmulo de matéria seca tanto da parte aérea quanto de raízes; e
¾ A dosagem mais recomendada é de 1,5L.ha-1, por apresentar efeito menos deletério sobre as
variáveis analisadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACE. Disponível: Site ACE (2003). URL://ace.ace.orst.edu/info/extoxnet/pips/triflura.htm
(consultado em 08/02/2003).
BCG. Disponível: Site URL: www.bcg.org.au/trial98/trial%202.06.htm. (consultado em
05/02/2003).
FEDLINK.
Disponível:
Site
FEDLINK
(1998).
www.fedlink.com/library/epalib/haps/triflural.html. (consultado em 05/02/2003).
URL:
GELMINI, G. A.; TRANI, P. E. Herbicidas – Brócolis. Indicações básicas. Manual 66, CATI.
São Paulo, 1996.
HERTWIG, K. V. Manual de herbicidas – desfolhantes, dessecantes, fitoreguladores e bio
estimulantes. São Paulo: Agronômica Ceres, 2 ed., 1983, 669p.
LACA-BUENDIA, J. P. de C. Controle das plantas daninhas em amendoim. Informe
Agropecuário, v.7, n.82, p.55-58, 1981.
NALUSDA.
Disponível:
Site
nalusda.
URL:
www.nalusda.gov/ttic/tektran/data/000009/43/0000094394.html. (consultado em 04/01/2001).
PASSOS, S. M. G.; CANICHIO FILHO, V. Principais culturais. Campinas, SP: Instituto
Campineiro de ensino Agrícola, 2 ed., 1973, 427p.
PEIXOTO, M. F. S.; SAMPAIO, L. S. V.; PEIXOTO, C. P.; SAMPAIO, H. S. V.; ABREU, K.
C. L. M.; SILVA, T. O. Doses de Tifluralina na nodulação e qualidade fisiológica de plantas de
soja. MAGISTRA: Cruz das Almas. UFBA, v. 14, n.1, p.9-17, jan/jun, 2002.
RODRIGUES, B. N.; ALMEIDA, F. S. de. Guia de herbicidas. Edição dos autores: Londrina, 4.ª
edição, 648p, 1998.
RODRIGUES, B. N.; ALMEIDA, F. S. de. Guia de herbicidas. 3.ª edição, Londrina: 1995,
675p.
ROSA, I de.; HABER, O.; WILLIANS, C.; MARGULIS, L. Inhibitory effects of the herbicid
Trifluralinon establishment of the clover root nodule symbiosis. Citobios, 21:37-43, 1978.
INVESTIGAÇÃO BIOLÓGICA DOS EXTRATOS DE Hypenia salzmanni
José Carlos Rodrigues Filho1, Olavo Souza Rodrigues1, Angélica Maria Lucchese1, Aníbal
de Freitas Santos Júnior2
1- Laboratório de Química de Produtos Naturais e Bioativos – Departamento de Ciências
Exatas - UEFS.
2- Laboratório de Toxicologia - Departamento de Saúde – UEFS.
O trabalho desenvolvido faz parte do projeto “Estudo da composição química de óleos
voláteis extraídas de plantas do semi-árido”, que entre outros objetivos visa estabelecer
protocolos de investigação para a realização de testes biológicos utilizando os extratos de
plantas da família Labiatae. A família Labiatae possui cerca de 5000 espécies no mundo,
das quais cerca de 394 estão localizadas no Brasil. O gênero Hypenia pertence a tribo
Ocimeae, que possui várias espécies com relato de uso na medicina popular. A espécie H.
salzmannii foi coletada no campus da UEFS e separada em caule e folhas. Das folhas foram
obtidos os extratos hexânico e metanólico por maceração. A abordagem fitoquímica desses
extratos foi realizada, com detecção de flavonóis, flavononas, flavononóis, fenóis, bases
quaternárias e xantonas no extrato hexânico e de esteroides, triterpenoides, flavonóis,
flavononas, flavononóis, taninos, antocianinas, catequinas, xantonas e antocianidinas no
extrato metanólico. Estes extratos foram também submetidos aos ensaios de toxicidade
utilizando a Artemia salina LEACH, que é um microcrustáceo bastante utilizado nos teste
de citotoxicidade e fracionamento de compostos bioativos de produtos naturais. Os dois
extratos apresentaram citotoxicidade frente ao organismo teste nas concentrações entre 500
e 1000 ppm, indicando a presença de substâncias com atividade biológica. Este ensaio de
toxicidade será utilizado para monitorar as próximas etapas de isolamento e purificação
dessas substâncias.
Agradecimentos: FINEP, PROBIC/UEFS.
ÓLEO ESSENCIAL DE HYPTIS LEUCOCEPHALA
Luciano Nascimento Freitas1, Luciano Paganucci de Queiroz2, Angélica Maria Lucchese1
1 - Laboratório de Química de Produtos Naturais e Bioativos - Departamento de Ciências Exatas,
2 - Departamento de Ciências Biológicas - Universidade Estadual de Feira de Santana - Ba
O trabalho desenvolvido faz parte do projeto "Estudo da composição química de óleos voláteis
extraídos de plantas da região do semi-árido", que está investigando plantas aromáticas do semiárido pertencentes as famílias Rutaceae, Leguminosae e Labiatae. A família Labiatae no Brasil
está representada por 20 gêneros nativos e cerca de 394 espécies, dos quais 6 gêneros e 19
espécies podem ser encontradas na caatinga. O gênero Hyptis, que compreende cerca de 300
espécies, possui vários representantes na caatinga sem relatos de estudos químicos na literatura.
As espécies pertencentes a este gênero são aromáticas, algumas recomendadas pela medicina
folclórica no tratamento de infecções gastrointestinais, dores e em infecções de pele. Esta
utilização popular pode estar relacionada a presença de metabólitos secundários como
terpenóides e fenilpropanóides, substâncias normalmente encontradas em óleos voláteis. A
espécie H. leucocephala foi coletada no campus da UEFS e separada em caule, folha e flores.
Destes materiais foram obtidos os óleos essenciais por hidrodestilação (3 h), em um aparelho do
tipo Clevenger. A composição química foi determinada por cromatografia gasosa acoplada a um
espectrômetro de massas, detectando-se que os óleos obtidos são compostos por misturas de
monoterpenos e sesquiterpenos, com a presença majoritária de borneol, acetato de isobornila,
cariofileno, germacreno D, germacreno B, γ-elemeno e caudinol.
Agradecimentos: FINEP, PROBIC/UEFS
DESENVOLVIMENTO DO FITOTERÁPICO ALBIEXPEC
Fabrício Souza Silva1; Luciano Nascimento Freitas1, Luciano Paganucci de Queiroz2,
Angélica Maria Lucchese1, Sandra Virgínia Alves Hohlemwergwe3
1.
Laboratório de Química de Produtos Naturais e Bioativos – LPQNBio – UEFS
2.
Departamento de Ciências Biológicas - UEFS
3.
Departamento de Saúde - UEFS
O gênero Albizia (Leguminosae) compreende cerca de 100 espécies, encontradas
principalmente nos países tropicais, possuindo vários estudos químicos relatados na
literatura. Dentro desse gênero encontra-se a espécie Albizia lebbeck que é comumente
chamada de “siris” no Quênia e “fava” na região Nordeste do Brasil, caracterizando-se
por ser uma árvore de médio a grande porte e por possuir uma casca de caule áspera, de
cor parda e avermelhada no interior. Tal espécie vem sendo utilizada na medicina
popular como expectorante. O material vegetal (casca do caule) foi coletado no
município de Riachão do Jacuípe (Ba), sendo que a espécie foi identificada e depositada
uma exsicata no herbário da UEFS (HUEFS) com o número 64928. O material vegetal
foi reduzido a pequenos pedaços e submetido ao processo de maceração com uma
mistura de água e etanol 1:1 para obtenção do extrato seco. Este foi obtido com
rendimento de 20% e no mesmo detectou-se a presença de saponinas e taninos
catéquicos.
O xarope simples foi preparado com açúcar refinado e água sob
aquecimento e agitação; 2 g do extrato seco foram incorporadas ao xarope simples para
obtenção do fitoterápico ALBIEXPEC.
A tribo Mutisieae Cass. (Compositae) no município de Mucugê, Bahia. Edlaine Carvalho de
Oliveira1, Nádia Roque2 1Laboratório de Taxonomia Vegetal, Labio sala-01, Km 03, Av.
Universitária s/n, Universidade Estadual de Feira de Santana ([email protected]),
2
Universidade Federal da Bahia, Instituto de Biologia, Campus Universitário de Ondina,
Salvador.
O município de Mucugê localiza-se na Chapada Diamantina, 13º00’05’’S e 41º22’19’’W, com
altitude de 984m, e vegetação predominante de campos rupestres. Compositae é representada por
ca. 1535 gêneros e aproximadamente 23000 espécies, arranjadas em 17 tribos. A tribo Mutisieae,
com ca. 76 gêneros e 1000 espécies, caracteriza-se pelos ramos do estilete sem pilosidade abaixo
da bifurcação, e anteras com apêndices basais caudiformes. O presente trabalho consiste no
levantamento florístico e estudo taxonômico das espécies da tribo Mutisieae no município de
Mucugê. Foram realizadas coletas de material botânico na região e visitas aos principais
herbários do estado (ALCB, CEPEC, HRB, HUEFS). Na área de estudo, a tribo está representada
por quatro gêneros e seis espécies: Chaptalia (C. integerrima (Vell.) Burkart), Gochnatia (G.
blanchetiana (DC.) Cabrera; G. paniculata (Less.) Cabrera), Richterago (R. discoidea (Less.)
Kuntze.) e Trixis (T. pruskii D. J. N. Hind; T. vauthieri DC.). Gochnatia é o maior gênero da
tribo, com ca. 67 espécies, e é considerado um táxon crucial para o entendimento da filogenia de
Mutisieae. Richterago é um gênero endêmico do Brasil e das 17 espécies descritas, R. discoidea é
a única que ocorre no estado da Bahia. Trixis é um gênero neotropical e das espécies presentes
em Mucugê, T. vauthieri estende sua distribuição para os campos rupestres de Minas Gerais e T.
pruskii, que foi recentemente descrita como endêmica para o município. Chaptalia integerrima é
uma espécie amplamente distribuída em território nacional. São apresentados chaves de
identificação, ilustrações e comentários para cada espécie.
PROJETO INSTITUTO DO MILÊNIO DO SEMI-ÁRIDO: BIODIVERSIDADE,
BIOPROSPECÇÃO E CONSERVAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS. Ana Maria
Giulietti & Everton Fabiano da Silva. Universidade Estadual de Feira de Santana
([email protected]).
O semi-árido ocupa 11,5% do território nacional mas sua população apresenta os
piores indicadores sociais do país. Tentando oferecer soluções para melhoria das
condições de vida destas pessoas, instituições de pesquisa e ensino da região
tem buscado desenvolver infra-estrutura e atrair profissionais qualificados e
participado de projetos cooperativos, mas o conhecimento produzido ainda é
incipiente merecendo ações imediatas para fortalecê-las. Nesse contexto, foi
proposto o Projeto Instituto do Milênio do Semi-Árido, unindo estas instituições em
uma rede de efetiva interação. Partindo do conhecimento publicado sobre a
biodiversidade regional, foram realizadas coletas intensivas em vários Estados do
Nordeste, visando a produção de uma lista da flora e fauna nativos do semi-árido.
Este produto é a base para pesquisa sobre a composição química de produtos
naturais e suas substâncias farmacologicamente ativas, visando desenvolver
novos produtos a serem usados contra as principais doenças endêmicas. As
espécies promissores estão sendo estudadas em relação às estratégias de
propagação e conservação ex-situ. Ao mesmo tempo, estudos sobre recursos
hídricos em realização, serão combinados com dados de biodiversidade para
construir modelos para uso e manejo dos mananciais bem como projetos de
recuperação das áreas mais seriamente danificadas. Este programa envolve o
desenvolvimento de quatro linhas de pesquisa: Biodiversidade, Bioprospecção,
Conservação de Recursos Genéticos e Conservação de Recursos Hídricos. Estes
são integrados através de linhas virtuais para maximizar uso de equipamento,
informação e recursos humanos, bem como formação e fixação de profissionais
na região. A meta final deste projeto é assegurar o uso racional dos recursos
naturais e a melhoria da qualidade de vida da população local.
O gênero Cambessedesia DC. (MELASTOMATACEAE),
em Rio de Contas - Chapada
Diamantina, Bahia, Brasil. Santos, Andrea K.A.1Giulietti, Ana M. 2, Silva, Tânia R.S.
1.Graduanda em Ciências Biológicas, PIBIC/CNPq-UEFS; Professora do Departamento de
Ciências Biológicas-UEFS. E-mail: [email protected]
O município de Rio de Contas, localiza-se a aproximadamente 13º34'S e 41º57'O e possui uma
área de 895 Km2 com altitudes variando entre 600 e 1900 m. De 600-900 m, encontram-se as
áreas de caatinga e mata seca, entre 900-1100 m os cerrados e entre 1100-1900 os campos
rupestres. Melastomataceae é uma família pantropical com cerca de 150 gêneros e
aproximadamente 4500 espécies, sendo que no Brasil ocorrem 63 gêneros com 1500 espécies.
Este trabalho é parte do levantamento florístico do município de Rio de Contas, iniciado pela
Flora do Pico das Almas. Nos últimos seis anos foram realizadas intensivas coletas cobrindo
todos os tipos de vegetação. As amostras foram observadas sob estereomicroscópio, feitas
descrições, pranchas e chave de identificação. O gênero Cambessedesia (DC.) é endêmico do
Brasil, representado por 22 espécies, geralmente restritas aos campos rupestres da Bahia, Minas
Gerais e Goiás. Em Rio de Contas ocorrem 7 espécies: Cambessedesia hermogenesii
A.B.Martins, possui folhas e ramos glabros, folhas oval-elípticas, flores vermelhas com a base
amarela, C. gracilis Wurdack, apresenta a folha linear, glabra, uma nervura, pétalas amarelas; C.
hilariana
(St.
Hil.
Ex
Bompland)
DC.
apresenta
folhas
glabras,
linear-oblongas
pseudofasciculadas, pétalas vermelhas com a base amarela, C. membranacea Gardn. subsp.
Bahiana A.B.Martins, possui folhas levementes buladas na face superior e tricomas dendróides
na face inferior, pétalas vermelhas com a base amarela; C. purpurata Schrack & Mart. possui
folhas glabras, com 7 nervuras, pétalas amarelas; C. rupestris A.B. Martins, possui folhas com 5
nervuras não decorrentes do pecíolo, apêndice dorsal, semelhante a um calcar no conectivo e C.
tenuis Markgraf apresenta folhas pecioladas, com 3 nervuras e pétalas vermelhas com a base
amarela.
Título: SERTÃO SOFRIDO
Rita de Cássia Ferreira Hagge
Mestre em Geoquímica e Meio Ambiente - UFBA
Professora da Universidade Estadual de Feira de Santana - Ba
e-mail: rehagge @ig.com.br
Telefone: 99285469
1. INTRODUÇÃO
Como cidadã nordestina, cujas raízes provém do semi-árido baiano, neta de vaqueiro das caatingas do
município de Araci, situado ao norte de Feira de Santana, e como geógrafa e educadora, tenho a
satisfação de contribuir com a I Feira do Semi-Árido, através de uma troca de idéias, que se torna
urgente face à existência de grande leque de temas a respeito dessa região, os quais necessitam de
discussão.
O presente artigo tem como objetivo comunicar sobre problemas ambientais verificados ao longo do
tempo de experiências como professora e pesquisadora.
Alguns problemas ambientais foram constatados na pesquisa de mestrado, sobre geomorfologia e meio
ambiente em Araci-Ba, que resultou em dissertação, outros foram observados por ocasião de pesquisas
com trabalhos de campo, sobre bacias hidrográficas e municípios do semi-árido, realizadas em
disciplinas ministradas na UFBA, e UNEB e UEFS nos anos de 2000 a 2003.
2. METODOLOGIA
Tais estudos seguiram metodologias e fundamentações teóricas que buscam a análise da paisagem
geográfica, sobretudo no aspecto ambiental, e que constam de coleta de dados bibliográficos e
cartográficos, interpretação de mapas, descrições de campo, mapeamentos e relatórios técnicos com
registros fotográficos.
3. PROBLEMAS AMBIENTAIS DO SEMI-ÁRIDO
Percebe-se ainda hoje o “determinismo” que se estabeleceu para justificar a pobreza do Nordeste
brasileiro, agravada pelo fato de 75% dessa região de planejamento estar em área de clima tropical
semi-árido.
O Nordeste semi-árido ocupa uma área global de aproximadamente 10% do território brasileiro. Com
base na extensão geral do ecossistema de caatinga, e independentemente das variações de semi-aridez,
essa sub-região abrange uma área em torno de 800.000 km2 (Ab’Saber, 1974).
A respeito do significado de região semi-árida, estabeleceu-se que ela abrange toda área limitada pela
isoieta de 800 mm/ano e que inclui municípios cujas precipitações são inferiores a esta. Vale salientar
que em sua área mais central as precipitações estão em torno de 400mm, sobretudo ao norte da Bahia,
Pernambuco e Paraíba.
Dentro do semi-árido encontram-se ilhas de umidade definidas geograficamente como “brejos”, que
apresentam condições hídricas condicionadas por chuvas orográficas ou por solos úmidos, de boa
permeabilidade onde afloram lençóis freáticos.
3.1. Destruição do Ecossistema de Caatinga
Caatinga significa, na língua Tupi-Guarani, mata rala, às vezes denominada mata branca. Trata-se de
uma vegetação xerófita, própria de climas quentes com escassa pluviosidade, e que se adapta a solos
pedregosos e fracas condições edáficas.
A caatinga da região semi-árida nordestina, estando condicionada à tal ambiente morfoclimático e
pedológico, é constituída de vegetais xeromórficos e lenhosos monofoliados e deciduais e apresenta
grande biodiversidade florística.
Essa cobertura vegetal cobria originalmente toda a área semi-árida, com diferenciações decorrentes das
variações climáticas, topográficas e pedológicas, que resultam em caatingas predominantemente
arbórea, arbóreo-arbustiva ou arbustivo-herbácea, com cactáceas de alto ou baixo porte.
Como exemplos de espécies arbóreas temos juazeiro, umbuzeiro, baraúna, de espécies arbustivas temos
e como cactáceas de alto porte o mandacaru e o facheiro.
Estudos realizados detectaram a degradação do ecossistema de caatinga no Nordeste através da
exploração da vegetação nativa pelo uso de forrageiras e da produção de lenha e carvão. Segundo
Mendes, B. V. (1995), práticas anti-ecológicas como exemplo atear fogo nas forrageiras para queimar
os espinhos, tem contribuído para a crescente diminuição de muitos vegetais.
Ainda segundo este estudioso do semi-árido, a agricultura de sequeiro (fevereiro a julho) é considerada
de alto risco (seca) e de baixa produtividade e assim a agricultura intensiva, consumidora de insumos
modernos só é aconselhável nas áreas irrigadas. Exemplo disso foi verificado em Araci, no ano de 94,
com o prejuízo na lavoura de milho.
Outro fator que tem contribuído para a destruição da caatinga no Nordeste é a pecuária extensiva
tradicional, sem controle, que tem exercido uma pressão muito grande sobre as forrageiras, afetando a
biodiversidade local, tanto pela eliminação lenta das plantas mais palatáveis, como pela desestruturação
do solo pelo pisoteio excessivo. A pecuária tem afetado o ecossistema de quase toda a região visto que
ela alterou a biodiversidade pelas mudanças provocadas nas populações de herbívoros nativos, por ter
mudado a composição florística da vegetação nativa usada para pastoreio e pela substituição por
espécies introduzidas.
O extrativismo também tem atuado como um fator que vem prejudicando o ecossistema de caatinga,
sobretudo pela coleta de madeira para cercas, carpintaria, lenha e carvão (para uso doméstico e olarias).
No município de Araci observou-se grandes áreas desmatadas, sobretudo nos períodos secos, em que,
não havendo produção agrícola, o que se vê são terrenos com solos nus, expostos à erosão.
3.2. Poluição dos Rios
Os rios da região semi-árida apresentam regime hídrico irregular em função das condições de
irregularidade no regime pluviométrico e dos solos arenosos que retém água, o que resulta em
diminuição do escoamento dos rios tributários. A maioria dos rios e riachos possuem caráter
intermitente já que encontram-se na maior parte do ano secos.
Estudos realizados sobre as Bacias dos rios Itapicuru e Pojuca constataram que, mesmo com a
existência dos Planos Diretores de Bacias Hidrográficas, elaborados pela Secretaria de Recursos
Hídricos, a situação dos rios baianos reflete a total ausência de atenção e fiscalização ao cumprimento
da legislação que rege a utilização e conservação dos recursos hídricos.
Na bacia do Itapicuru, rio baiano de médio porte, foram detectados vários problemas ambientais, tais
como a destruição de nascentes em Jacobina por antigas minerações, a poluição das águas, causada por
dejetos das cidades em seu curso, como exemplo Caldas de Jorro e Jorrinho, e até a presença de
curtumes tradicionais como verificado em Tucano (Hagge,2001).
No balneário de Jorrinho, o rio Itapicuru é utilizado para evacuação dos esgotos dos bares e hotéis, e
nas suas margens são tratados os bodes servidos nos bares, além de ser depositado lixo local. Essa
poluição é bem visível à montante, na cidade de Cipó.
A degradação que o curtume de Pedra Branca (Tucano) causa ao rio Itapicuru, decorre do processo de
lavagem das peles de animais (bois, vacas, carneiros) no rio e posterior embebecimento em vários
cochos contendo água e soda cáustica, que á trocada retornando ao rio. Ao processo acrescenta-se o uso
do angico (vegetal em extinção) em grande quantidade, para amenizar o odor do couro. O resultado
dessa prática é o assoreamento do rio, a poluição química e orgânica e a destruição da mata ciliar.
Verificou-se que tal atividade só beneficia poucos moradores, os donos do curtume, ficando o resto da
comunidade relegada ao sustento por outras atividades.
Presenciou-se também a degradação de nascentes durante os estudos realizados na bacia do rio Pojuca,
que embora esteja na sua maior parte situada no Recôncavo norte, possui nascentes no semi-árido, na
região de Santa Bárbara e Feira de Santana. Constatou-se córregos de nascentes, cortados por
barramento em fazendas e pela rodovia, nas imediações da estrada para Tanquinho, que aparecem
desprovidos de mata ciliar e com acúmulo de lixo.
Outro fato de destaque observado nestas andanças é a poluição dos brejos no município de Ribeira do
Pombal. Trata-se de poluição por esgotos lançada pela cidade em córregos que escoam nas áreas de
brejos das fazendas, degradando áreas produtivas, de pastos, agricultura e pomares.
3.3. Poluição Urbana
A respeito desse problema é notória a ausência de aterros sanitários na maioria das cidades do interior
baiano, e a presença dos lixões, geralmente à margem de estradas, colmatados por moscas, que levam a
conseqüências negativas à saúde da população, vistos nas cidades de Araci e Teofilândia.
A ausência também de rede de esgotamento sanitário é mais um problema, além do fato de que muitas
casas na zona rural não possuírem sanitários. O abastecimento de água também é precário (controlado),
e geralmente não atendem aos bairros mais carentes, as casas por exemplo, que possuem reservatórios
pequenos, sofrem da falta de água.
CONCLUSÃO
Quem percorre hoje a região semi-árida baiana, pode perceber que a maioria dos municípios necessita
da implantação de uma eficaz política de combate à seca, ou seja, de ações que implementam
alternativas e técnicas de como obter um melhor aproveitamento dos recursos do semi-árido, tais como
os vegetais medicinais, os frutos nativos, as forrageiras, as plantas fibrosas entre outros.
Percebe-se que a agricultura de subsistência (milho e feijão) nos anos de seca é economicamente
inviável, daí a necessidade de atividades econômicas complementares, que venham dar sustento às
populações, já que o desemprego é elevado nesta região.
Em municípios mais carentes, um fenômeno social vem acontecendo nos períodos de seca crítica: com
a ausência de produção na lavoura, as famílias muitas vezes são sustentadas pelos salários dos
aposentados e pensionistas.
Atenção deve ser dada à questão da degradação dos recursos hídricos, que ocorre com a poluição e
com a destruição de nascentes e matas ciliares, problemas que também devem estar vinculados à
administração municipal.
Por fim, é de fundamental importância a implantação de planos de manejo da caatinga, criação de
reservas particulares e públicas para a conservação e replantio de áreas. Tornam-se urgentes ações que
objetivem minimizar a destruição que tem sido efetuada, ao longo de décadas, sobre este ecossistema,
cuja biodiversidade é extremamente singular e complexa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB’SABER, A N. O Domínio Morfoclimático das Caatingas Brasileiras. Revista Geomorfologia 43.
Universidade de São Paulo: São Paulo, 1974.
HAGGE, R.C.F. Meio Ambiente, Desenvolvimento e Qualidade de Vida em Araci-Bahia. Anais do II
Congresso Nacional de meio Ambiente na Bahia. Salvador, 2000.
___________ Contribuição da Geomorfologia aos Estudos Ambientais do Semi-árido Nordestino.
Araci-Bahia-Brasil. 8o Encuentro de Geógrafos de América Latina. Chile, 2001.
__________ Aplicação da Geografia Física ao Estudo de Bacia Hidrográfica, com Utilização de
Trabalho de Campo, Bacia do Rio Itapicuru-Bahia. Simpósio de geografia Física Aplicada - UFPE.
Recife, 2001.
MENDES, B. V. Curso Desenvolvimento Sustentável do Semi-árido. Universidade Aberta do
Nordeste. Fundação Demócrito Rocha.Fortaleza, 1995.
SILVA, D. D. da S. et alli. Gestão de Recursos Hídricos – Aspectos Legais, Econômicos e Sociais.
Editores Brasília, DF, 2000.
Download

I Feira do Semi-Árido