O TRIUNFO
Mauro Sérgio Tomaz
Coragem é a palavra que define esse filme. É o que transforma o professor Ron Clark em um verdadeiro
educador. Coragem diante da escolha de se mudar de uma escola onde já tinha feito sua reputação e partir para
uma desconhecida num dos piores bairros de Nova Iorque. Para escolher a sala considerada “pior”. Para encarar
a burocracia e a autoridade repressora do diretor. Para renovar a sala e seus próprios ânimos quando tudo
parecia perdido.
Ele, sim, pode dizer de boca cheia que é um professor de verdade. Aproximou-se dos seus alunos (que o
detestavam!) e conseguiu atingi-los onde mais doía: na falta de amor e atenção que lhe eram dedicados.
Conseguir o que Ron Clark conseguiu talvez seja a coisa mais difícil de fazer, já que tudo dependia de
variáveis que ele não controlava e nem poderia se quisesse: as famílias, a escola, o tráfico, o roubo e mais outras
tantas que poderiam ser levadas ao infinito. Mas, isso só foi possível quando ele se disponibilizou e se
comprometeu verdadeiramente com seus alunos. Eram seus alunos e, portanto, sua inteira responsabilidade.
Dentro e fora da escola. É irônico pensar que para conseguir atingir seus alunos foi preciso entrar em suas vidas,
penetrar em suas armaduras, quando muitos professores têm medo dos próprios alunos e de seus pais.
Embora seja um filme educacional repleto de clichês, isso não muda o fato de que ele nos faz pensar
muito na educação hodierna. Os que o assistem e que já tem uma carga de filmes nessa linha (Escritores da
Liberdade, Sociedade dos poetas mortos, Ao mestre com carinho etc) percebem que nada há de diferente no
decorrer da história. Exatamente isso é o que me chama mais a atenção.
Por mais que esses filmes sigam uma linha praticamente idêntica, sempre existem os comentários tais
como: na teoria tudo é muito bonito e filme é filme. Quase nunca há pessoas que pensam que está realmente na
hora de mudar, que já chega de assistir a vida de outras pessoas e fazer da sua própria uma história digna de
filme. Essas pessoas, por mais doutas e inteligentes que sejam nunca parecem perceber que há ainda muita coisa
para se mudar, como se a sua vida e a sua maneira de liderar algumas pessoas (pois o que é o bom professor
senão um líder?) fossem as únicas maneiras de agir a serem adotadas por todos, numa inversão irônica do
pensamento moral kantiano, um imperativo categórico às avessas.
O que falta a esses profissionais é justamente a coragem que havia e ainda deve haver de sobra em Ron
Clark e em muitos outros “Rons Clarks” ao redor do mundo, que saem da acomodação pacata de suas vidas
insossas e buscam constantemente atingir a perfeição em cada ato, em cada palavra, em cada aula.
Coragem para enfrentar a burocracia ameaçadora das escolas, para enfrentar as visões infundadas,
individualistas e caolhas do senso comum, para enfrentar inclusive as responsabilidades sobre suas próprias
escolhas. O que a meu ver é o mais abjeto nessas pessoas e em suas carreiras.
Creio que o mais importante a ser retirado desse filme é, justamente, como já mencionei, a coragem. E
tentar, mesmo que pouco e vagarosamente, aplicá-la no dia a dia, na vida individual que refletiria na vida
coletiva.
Coragem para ter coragem. E no fim, quem sabe, o Triunfo.
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O TRIUNFO Mauro Sérgio Tomaz Coragem é a palavra