O ADOLESCENTE NO MUNDO GLOBALIZADO: EXPERIÊNCIAS E
EXPECTATIVAS DE UM GRUPO PAULISTANO1
Fabiana Correa
Mestre em Educação, Administração e Comunicação
Sandra Farto Botelho Trufem
Doutora em Biologia pela USP e professora da Universidade São Marcos
1
Parte da Dissertação dd Mestrado da primeira Autora
Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
ISSN 1808-978X
O ADOLESCENTE NO MUNDO GLOBALIZADO: EXPERIÊNCIAS E EXPECTATIVAS DE UM
GRUPO PAULISTANO
Fabiana Correa, Sandra Farto Botelho Trufem
Resumo
Esta pesquisa trata da experiência da geração adolescente no início do século XXI,
envolvida pela cultura globalizada e pelos inúmeros recursos tecnológicos e digitais.
Para isso, contextualiza a adolescência investigando suas reconfigurações através dos
tempos e ressaltando a aproximação entre seu entendimento e os avanços tecnológicos
da sociedade. A realidade desse contexto é explorada mediante a entrevista com 65
adolescentes entre 13 e 14 anos de idade, de uma escola particular na cidade de São
Paulo, onde seus conhecimentos, utilização e anseios da tecnologia da informação são
investigados.
Palavras chaves: adolescentes, tecnologia da informação, globalização
Abstract
This research deals with the experience of the teenage generation in the early nineteenth
century, steeped in culture and vast global resources and digital technology. For that,
contextualizes adolescence investigating its reconfigurations over time and noting the
rapprochement between their understanding and technological advances of society. The
reality of this context is explored through interviews with 65 adolescents between 13
and 14 years of age, in a private school at the city of Sao Paulo, where their knowledge,
use and concerns of information technology are investigated.
Keywords: adolescents, information technology, globalization
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Pesquisa em Debate, edição especial, 2009
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Introdução
Nos últimos anos muito se tem discutido nos campos científico e jornalístico
sobre a interação do adolescente com os mais variados recursos tecnológicos e sua
representatividade na rotina e nas relações familiares. Um exemplo é a pesquisa
Playground Digital, realizada pelo canal de TV por assinatura Nickelodeon e divulgada
pelo Jornal Folha de São Paulo em 27 de outubro de 2007.
A pesquisa entrevistou mais de sete mil crianças em doze países - Austrália,
Nova Zelândia, Inglaterra, Holanda, Itália, Suécia, Alemanha, Índia, México, Japão,
China e Brasil – com idades entre oito e quatorze anos e com acesso à tecnologia
independente da classe social. Para participar desta pesquisa utilizou-se como critério de
inclusão o acesso a pelo menos dois dos seguintes aparelhos: câmera digital, vídeogame, MP3 ou I-Pod, internet, celular e ser membro de algum site de relacionamento
(como o Orkut). No total foram mais de trezentas horas de discussões em grupo,
pesquisa etnográfica e entrevistas quantitativas que objetivaram entender como cada
país utiliza a tecnologia. Como demonstrou o uso do celular, que no México representa
um item de segurança e no Brasil (a amostra brasileira foi de 600 crianças) um símbolo
de sociabilidade.
Dentre as crianças entrevistadas 86% acessam internet, 81% usam celular de 3 a
4 vezes por semana (41% tem celular próprio) e 67% visitam sites de relacionamento. A
pesquisa indica ainda que as crianças brasileiras são as que mais utilizam tais recursos:
entre todas as crianças entrevistadas nos doze países, 70% delas utilizam a internet, em
contraste com os 86% brasileiros.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2006, realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que 98,1% da população brasileira
têm acesso à energia elétrica e destes, 38% possuem, por exemplo, máquina de lavar
roupas. No entanto, os celulares representam 64%, sendo que cinco anos antes o índice
era de apenas 31%. Esta clara predileção por um meio de comunicação portátil é
perceptível quando se analisa a co-existência, ou não, do celular com a telefonia fixa nas
residências da população brasileira. Dentre os 64% que possuem o telefone celular há o
percentual considerável de 27%, que o possuem como único meio de telefonia, portanto,
não possui telefone fixo. Apenas 11% da população possuem apenas o telefone fixo em
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suas residências. Quanto ao computador, 22% da população o possui em casa. A
televisão detém o percentual mais próximo ao da energia elétrica: 93,5% da população a
possui. Novamente, a preferência pelos meios de comunicação é bastante evidente.
É este o contexto que a atual geração adolescente vivencia. Um contexto de
espaços de produção de conhecimento cada vez mais ampliados e diversificados. Um
cenário que se destaca pela velocidade e sincronicidade na socialização dos
conhecimentos produzidos. E, justamente por estas características, organiza-se numa
contínua interação que não está sujeita a fronteiras e, portanto, é transdisciplinar.
Assim, esta pesquisa pretendeu primeiro, contextualizar a atual experiência de
ser adolescente, investigando suas reconfigurações através dos tempos; em seguida,
refletir sobre a cultura globalizada na qual estão hoje inseridos; verificar sua
familiaridade com a abordagem transdisciplinar; e por fim, caracterizar o
comportamento tecnológico do adolescente pós-moderno.
Para tanto, os procedimentos metodológicos utilizados contemplam a pesquisa
bibliográfica acerca da adolescência, pós-modernidade e transdisciplinaridade, no
Banco de Dados de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), e da Scientific Eletronic Library OnLine (Scielo),
artigos científicos de Revistas Qualis e livros publicados.
A metodologia contempla ainda a aplicação de questionários em um grupo de 65
adolescentes entre 13 e 14 anos de idade, em duas salas de 8ª série do Ensino
Fundamental em alunos de Escola particular, situada na Zona Sul da cidade de São
Paulo, que possuem computador com acesso à internet e celular próprio. Os
questionários foram aplicados no mês de abril de 2009 e tal grupo foi escolhido porque
representa idade intermediária entre os adolescentes. A aplicação dos questionários
realizou-se simultaneamente nas duas salas, durante o período de aula, em horário
cedido por dois professores. As orientações aos respondentes foram passadas no início
da aplicação dos questionários, estando a pesquisadora presente durante todo o tempo
de aplicação. Os alunos foram informados sobre os objetivos desta pesquisa e uma
solicitação por escrito (Termo de Consentimento e Esclarecido - TCLE) foi
encaminhada aos respectivos pais ou responsáveis, que assinaram o documento, caso
anuíssem com os procedimentos.
A tabulação dos questionários foi realizada com a ajuda do software Microsoft
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Excel, considerando a amostra composta pelos 65 respondentes.
Configurações da adolescência: história e construção
Para alguns autores, a adolescência existe somente na cultura ocidental, pois
nas demais culturas é comum a passagem direta da infância para a fase adulta e,
fundamentalmente as controversas acerca desta passagem se referem basicamente à
relevância de seus aspectos sociais e psicológicos. Tal fato impulsiona a reflexão
acerca de como esta idéia de adolescência vem sendo construída historicamente,
destacando-se que seu conceito é relativamente recente. Da mesma maneira,
entender a construção não só dos conceitos, mas dos significados acerca da
adolescência, se faz importante. Assim como compreender a influência social, ou
dos aspectos culturais, na formação da identidade do adolescente.
Nas últimas décadas a adolescência tem representado tema de grande
interesse para os estudiosos, motivando inúmeras publicações que contribuem para
sua compreensão.
A adolescência tem sido tomada, em quase toda a produção sobre o assunto,
na psicologia, como uma fase natural do desenvolvimento, isto é, todos os
seres humanos, na medida em que superam a infância, passam
necessariamente por uma nova fase, intermediária à vida adulta, que é a
adolescência. Inúmeros estudos dedicaram-se à caracterização dessa fase e a
sociedade apropriou-se desses conhecimentos, tornando a adolescência algo
familiar e esperado. Junto com os primeiros pêlos no corpo, com o
crescimento repentino e o desenvolvimento das características sexuais,
surgem as rebeldias, as insatisfações, a onipotência, as crises geracionais,
enfim tudo aquilo que a psicologia, tão cuidadosamente, registrou e
denominou de adolescência.2
Foi Erikson quem cuidou de denominar a adolescência, apresentando-a sob a
óptica
da
moratória
e
caracterizando-a
como
uma
fase
específica
do
desenvolvimento, na qual a confusão de papéis, as dificuldades no estabelecimento
2
BOCK, Ana Mercês Bahia. A perspectiva sócio-histórica de Leontiev e a crítica à naturalização da
formação do ser humano: a adolescência em questão. Caderno A psicologia de A. N. Leontiev e a
educação na sociedade contemporânea. Campinas: Cedes, 2004, vol. 24, n. 62, p. 32.
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de uma identidade própria a marcam como ―um modo de vida entre a infância e a
vida adulta‖ 3.
Posteriormente,
outros
autores
contribuíram
para
a
compreensão
da
adolescência. Uma destas contribuições é a síndrome normal da adolescência, proposta
por Knobel. O autor entende que o caminho percorrido pelo adolescente na direção de
uma vida adulta manifesta-se através de uma conduta psicológica dita normal. E
enfatiza, não é preciso estabelecer o conceito de normalidade, pois está intimamente
ligado ao ―meio cultural, político e sócio-econômico em que se encontra o jovem‖. 4
A palavra adolescência origina-se no termo em latim adolescere, que
significa etimologicamente, amadurecer, crescer e desabrochar, mas também,
adoecer.
A própria semântica da adolescência significa, portanto, uma tarefa
ambígua: o desenvolvimento do corpo biológico e psicológico mergulhados em
crises que os reconfiguram. Trata-se de ―um período de contradições, confuso,
ambivalente, doloroso, caracterizado por fricções com o meio familiar e social.‖ 5
Esta criação humana denominada adolescência é, portanto, relativamente jovem,
própria da sociedade moderna. Mas resulta de um longo caminho percorrido através
dos tempos. Um caminho que coincide com a própria história do homem e suas
concepções sociais. Assim, antes de alcançar o conceito de adolescência aceito
atualmente faz-se necessário o entendimento do como se tem representado
socialmente o cuidado de crianças e jovens ao longo da história.
É de consenso que entre povos primitivos crianças e jovens eram
essencialmente cuidados por seus progenitores ou familiares, um formato que
passou a modificar-se com a evolução dos agrupamentos sociais.
Em Roma, meninos e meninas substituíam as vestes habituais da infância e
ganhavam o direito de fazer o que mais gostassem, e aos 17 anos podia m, a
exemplo dos gregos, dedicarem-se às artes militares. No entanto não havia uma
maioridade oficial, o rito de passagem traduzia-se na troca das vestes. O que ocorria
a tempos diferentes para meninos e meninas, os primeiros a trocavam à época do
primeiro corte do bigode, e as meninas por volta dos 12 anos, quando eram
consideradas hábeis (férteis) para o casamento.
3
ERIKSON, Erik. Identidade, Juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1976, p. 128.
FERREIRA, Berta Weil; RIES, Bruno Edgar (orgs). Psicologia e Educação: desenvolvimento humano
adolescência e vida adulta. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003, vol .II, p. 22.
5
ibidem, p. 13.
4
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Ao longo do século II uma nova moralidade surge. A transição para a
maioridade deixa de ser um ato físico, como um direito inato e habitual, e passa a
ser uma condição. Um rapaz permanecia sob a autoridade paterna até a morte do
pai, quando então ele próprio torna-se o pai da família. Isso se explica no fato de
que a sociedade medieval organizava-se através da família e sua linhagem, daí a
necessidade de manter os filhos sob a autoridade paterna. Os filhos eram treinados
para ―a glória do poder heráldico de sua linhagem‖ 6.
O Renascimento ilumina uma preocupação: a formação integral do homem.
E para isso instituiu-se a educação dos jovens. Victorino da Feltre dizia: ―Quero
ensinar os jovens a pensar, não a delirar.‖ 7
É aqui que a figura do adolescente torna-se mais precisa, entre o
Renascimento e a Idade Moderna, com o advento da industrialização. A
adolescência passa então a ser reconhecida como um momento crítico na vida dos
indivíduos, tornando-se objeto de estudo das ciências humanas e da saúde. Neste
período aumentam estudos acerca das modificações físicas durante esta fase do
desenvolvimento humano, assim como também acerca das decorrentes mudanças no
comportamento dos indivíduos.
A adolescência passou a representar um período de latência social suportada pela
sociedade industrial/capitalista e apoiada pelas exigências do mercado de trabalho.
Podemos pensar que, a partir dessa nova situação social [...], os jovens
passaram a estar colocados em uma nova condição: [...] apesar de possuir
todas as condições cognitivas, afetivas e fisiológicas para participar do
mundo adulto, estava desautorizado a isso, devendo permanecer em um
compasso de espera para esse ingresso; vai ficando distante do mundo do
trabalho e, com isso, vai ficando distante das possibilidades de obter
autonomia e condições de sustento. Vai aumentando o vínculo de
dependência do adulto, apesar de já possuir todas as condições para estar na
sociedade de outro modo. Essa contradição vivida pelos jovens foi
responsável pelo desenvolvimento das características que refletem a nova
condição social na qual se encontram. 8
6
OSORIO, Luiz Carlos. Família Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, p.41.
PILETTI, Claudino; PILETTI, Nelson. Filosofia e História da Educação. São Paulo: Ática, 1988, p.96.
8
BOCK, Ana Mercês Bahia. A perspectiva sócio-histórica de Leontiev e a crítica à naturalização da
formação do ser humano: a adolescência em questão. Caderno A psicologia de A. N. Leontiev e a
7
8
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A sociedade moderna desperta para a necessidade de uma educação
especializada que possa dar conta deste desafio. O que ocorre à época é que a
educação desenhou-se como controladora e cerceadora, tentando reduzir os
indivíduos a um único padrão de comportamento, adequando-os a uma futura vida
de trabalho. A resposta dos adolescentes a esta educação foi a busca pela sua
individualidade e privacidade. Talvez aqui encontremos as primeiras manifestações
de agrupamentos juvenis da história.
O ano de 1968 é um marco nesta década. Um momento de grande
efervescência. Muitos foram os movimentos jovens que promoveram mudanças,
como a liberação feminina, o black power, o paz e amor. No Brasil os festivais de
TV Record estavam no auge e agitavam a juventude num forte movimento
nacionalista. Assim como a geração de 1960 esta, de 1970, caracteriza-se pelo
idealismo associando criatividade e comprometimento perante a mudança social.
Observa-se que a geração da década seguinte – de 1980 – se mostra menos
comprometida com os ideais sociais. Ou, segundo Abramo, mais ―individualista,
consumista, conservadora e indiferente aos problemas públicos, apática‖ 9. Os
adolescentes de 1980 vivenciaram uma grande crise nos modelos de sociedade e de
intervenção política, e demonstraram profunda descrença nas instituições de poder.
A geração dos anos 1990 se atualiza como sendo mais realista, mas também
mais individualista. E seu discurso pode ser entendido como uma expressão da falta
de credibilidade na política e em mudanças sociais significativas. Esta geração
retorna à expressividade de rebeldia da geração de 1950, claro com novas
problemáticas.
É fruto de uma situação anômala, da falência das instituições de
socialização, da profunda cisão entre integrados e excluídos, de uma
cultura que estimula o hedonismo e leva a um extremo individualismo,
os jovens aparecem como vítimas e promotores de uma dissolução
social.10
educação na sociedade contemporânea. Campinas: Cedes, 2004, vol. 24, n. 62, p. 41-42.
9
ABRAMO apud MATHEUS, Tiago Corbisier. Ideais na adolescência: falta (d)e perspectivas na virada
do século. São Paulo: Annablume, 2002, p. 98.
10
idem.
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Nesta primeira década do século XXI observa-se que os adolescentes
dispõem de maior acesso ao conhecimento e de mais neutralidade moral. Não há,
por exemplo, uma clara definição do que é certo ou errado. O que é certo para um,
pode não o ser para outro. É o espaço do relativo. Depende do ângulo em que se
observa...
É neste século, também, que se observa com maior maturidade o
protagonismo juvenil.
Protagonismo é a atuação de adolescentes e jovens, através de uma
participação construtiva. Envolvendo-se com as questões da própria
adolescência/juventude, assim como, com as questões sociais do mundo,
da comunidade... Pensando global (O planeta) e atuando localmente (em
casa, na escola, na comunidade...) o adolescente pode contribuir para a
assegurar os seus direitos, para a resolução de problemas da sua
comunidade, da sua escola... 11
É fato, também, que não há um consenso quanto ao início ou término desta
passagem demarcada pelos rituais socialmente reconhecidos.
O Estatuto da Criança e da Adolescência (ECA) inscreve a adolescência
entre 12 e 18 nos. Já em relação à Organização Mundial de Saúde,
diferentes documentos a circunscrevem no período que vai dos 10 aos 24
anos, intervalo que atesta a dilatação que essa fase do desenvolvimento
vem sofrendo em diferentes contextos culturais e que sirva de referência
comum entre eles, de modo a fundamentar a formulação de políticas
públicas e ações sociais no setor, locais e/ou internacionais. Mas os
diferentes limites definidos nos dois casos indicam, sobretudo, que a
adolescência é uma produção social. Cada contexto sociocultural define
sua pauta de expectativas e representações sobre os adolescentes e a
adolescência, nela incluindo aspectos fisiológicos, sexuais, afetivos,
sociais, políticos e institucionais, de forma a definir o papel dos
adolescentes nos grupos. A circunscrição sócio-histórica da adolescência
leva em conta, ainda, aspectos relativos à religião, ao gênero, à posição
11
RABÊLLO, Maria Eleonora D. Lemos. O que é protagonismo juvenil. Disponível em
[http://www.cedeca.org.br/PDF/protagonismo_juvenil_eleonora_rabello.pdf]. Acesso em 23 de abril de
2009.
10
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na família, na classe social, etc., para definir limites para o término da
infância e a entrada na vida adulta.
12
Posto que os conceitos sobre a adolescência atualizam-se, é importante verificar
a rápida mudança na forma como se constrói seus significados na vida dos indivíduos.
Sabe-se que a puberdade corresponde a processos biológicos enquanto a adolescência a
fenômenos psicossociais. O que chama a atenção, do ponto de vista cronológico, é a
rápida mudança na leitura que se faz de ambos. Por exemplo, nos anos 1970 a criança se
tornava púbere e somente depois ela adolescia, já nos anos 1980 a puberdade e a
adolescência ocorriam paralelamente. Nos anos 1990 observaram-se condutas
adolescentes, como namoro ou a contestação, em indivíduos ainda não-púberes, antes
dos dez anos. Nos últimos anos, percebe-se que este tempo mostra-se ainda menor...
Verifica-se que o fenômeno da adolescência estende-se, inclusive tomando a
forma de uma pseudo adultescência em alguns indivíduos, em que o ideal da eterna
adolescência impregna os comportamentos adultos.
É comum encontrar adultos entre e como os adolescentes, acatando seu
vocabulário, seu modo de vestir e de se divertir. A própria mídia tem divulgado este
comportamento adultescente13 ao qual inúmeros indivíduos tem se identificado. Isso
porque a adolescência tornou-se um ideal, tanto para crianças, quanto para adultos. E
empurrados pela admiração das crianças e também dos adultos, os adolescentes
reproduzem tal expectativa social.
Preocupados com a questão da adultescência alguns autores desenvolveram
pesquisas visando explicar as questões que provocam o fenômeno. Entre eles
Zagury, que o associa ―a falta de limites e superproteção dos pais‖14.
12
OLIVEIRA, Maria Cláudia Santos Lopes de. A adolescência como objeto de investigação
psicológica e os desafios do desenvolvimento humano na contemporaneidade. Disponível em
[http://aprender.unb.br]. Acesso em 08/09/2008.
13
Em 20 de setembro de 1998 o Jornal Folha de São Paulo publicou um caderno sobre o fenômeno. A
publicação anunciou o reconhecimento do termo adultescent nos dicionários da editora britânica Oxford
University. O verbete associava o adultescente à ―pessoa imbuída de cultura jovem, mas com idade
suficiente para não o ser. Geralmente entre os 35 e 45 anos, os adultescentes não conseguem aceitar o fato
de estarem deixando de ser jovens.‖(New Oxford Dictionary of English). Desde esta publicação o termo
vem sendo utilizado inúmeras vezes, inclusive por outros jornais, revistas e demais veículos de
comunicação. Em 5 de setembro de 2007 a Revista Veja publicou a matéria ―Adolescência espichada‖,
destacando justamente o comportamento adultescente.
14
LOPES, Claudio Fragata. A doce vida dos filhos-cangurus. Revista Galileu. São Paulo, 1999, n. 95.
Disponível em [http://galileu.globo.com/edic/95/comportamento1.htm]. Acesso em 20/01/2009.
11
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A construção da identidade é uma das tarefas mais importantes da vida do
indivíduo. Em especial, na do adolescente, pois é nesta fase da vida que o indivíduo,
suportado pelas experiências anteriores elabora uma identidade que será complementada
nos anos posteriores, durante a fase adulta.
Construir uma identidade significa definir quem a pessoa é, quais são seus
valores e as direções a seguir na vida. ―Um forte sentido de identidade é essencial para a
verdadeira maturidade atingida posteriormente pelo indivíduo. [...] É somente no final
da adolescência que emerge tal sentido de identidade‖ 15. Em suma, a identidade é a
concepção de si mesmo, pautada nos valores, crenças e objetivos com os quais o
indivíduo se compromete.
A reunião de iguais num ambiente de diferentes é a característica mais presente
nos grupos adolescentes, e é a partir deles que o indivíduo se expressa livremente e
reestrutura a personalidade, mesmo que esta por um determinado período ainda precise
ser mais coletiva do que individual. Portanto, não se pode negar que esta tarefa receba
influência de variáveis intrapessoais, interpessoais e culturais.
Neste contexto, Stuart Hall discute a questão da identidade cultural avaliando a
existência ou não de uma crise de identidade; em que ela consiste e quais as suas
conseqüências. Para isso apresenta uma mudança do conceito de sujeito e de identidade
no século XX.
Descartes postulou: ―Cogito, ergo sum‖. Ora, se para existir a condição essencial
é o pensar então, o sujeito está numa posição indiscutivelmente central. Nesta mesma
linha ―a identidade da pessoa alcança a exata extensão em que sua consciência pode ir
para trás, para qualquer ação ou pensamento passado‖16, evidenciando sua condição de
indivíduo soberano. Este indivíduo soberano permaneceu como figura central na
economia e lei moderna.
Outra importante contribuição teórica para que o sujeito cartesiano fosse
descentrado é a de Freud, com sua descoberta do inconsciente. Segundo Freud nossa
identidade, nossa sexualidade e a estrutura de nossos desejos são formadas com base em
processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona de acordo com uma
15
ERIKSON, Erik apud GALLATIN, Judith. Adolescência e Individualidade. São Paulo: Haper & Row,
1978, p. 211.
16
LOCKE apud HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006,
p. 28.
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lógica muito diferente daquela da razão iluminista. Para a psicanálise, identificação é o
processo psicológico através do qual o sujeito assimila um aspecto, uma propriedade ou
um atributo do outro e a partir destes, se transforma total ou parcialmente. Assim, nossa
personalidade forma-se e diferencia-se por variadas identificações.
Em complemento, os estudos do lingüista Saussure são de destacada valia. Para
Saussure os significados das palavras não são fixos. Correspondem de maneira variada
às palavras, produzindo ecos. O significado de uma palavra é inerentemente instável,
procura pela identidade para fazer sentido.
As análises de Foucault e a contribuição de vários movimentos da década de 60,
em especial, o feminismo, são também importantes contributivos na descentralização do
sujeito cartesiano. É interessante lembrar que o sujeito cartesiano era compreendido
como indivíduo unicamente masculino.
É diante de toda esta crescente mudança do mundo moderno e da compreensão
que a autonomia deste sujeito não era exatamente como estava concebida – pois ele
também é formado na relação com outras pessoas –, que se desenvolveu a concepção do
sujeito sociológico. Uma concepção caracterizada por uma identidade em busca de uma
estabilização entre o interior e o exterior, o mundo pessoal e o mundo público,
internalizando sentimentos subjetivos em lugares objetivos (mundo social e cultural).
Aqui, a identidade ‗costura‘ o indivíduo à estrutura. E indivíduo e cultura atualizam-se
mutuamente.
E como considerar a modernidade e tais conseqüências sem considerar sua
característica globalizante? Ora, é evidente que não se pode mais entender o local sem
considerar o global. Não se pode deixar escapar ao olhar o nível de distanciamento
tempo-espaço e as relações que dele resultam. Modernidade pressupõe globalização, e
globalização, essencialmente, se refere a esta relação de distância entre tempo-espaço.
A globalização pode ser definida como uma intensificação das relações sociais
em escala mundial17, ligando localidades distintas de tal maneira que acontecimentos
locais modelam-se a partir de eventos muito distantes. Muitas vezes numa direção
diferente daquela conhecida e esperada. Tais transformações são influenciadas pela
globalização em si, mas também pelas conexões sociais estabelecidas a partir dela.
17
GIDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Ed. Unesp, 1991.
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Assim, quem quer que estude as cidades hoje em dia, em qualquer parte do
mundo, está ciente de que o que ocorre numa vizinhança local tende a ser
influenciado por fatores — tais como dinheiro mundial e mercados de bens
— operando a uma distância indefinida da vizinhança em questão. 18
A globalização exerceu função de contestar e deslocar identidades centradas e
fechadas da cultura nacional, produzindo efeito pluralizador sobre as identidades. Este
efeito possibilitou novas posições de identificações, mais políticas, plurais e diversas,
menos fixas e unificadas. Entretanto, há alguns esforços em busca de recuperar as
unidades, as certezas e a pureza anterior, ou seja, de se manter as identidades ao redor
do que Hall chama de Tradição. Ao mesmo tempo, outros aceitam que as identidades
estão sujeitas as mudanças da história, da política, da representação, e assim seria
improvável que elas sejam novamente ―puras‖ ou unitárias, pertencendo assim ao
universo da Tradução.
Hall afirma que tanto o capitalismo quanto o marxismo, apostavam de diferentes
formas, na ascensão de valores e identidades mais universalistas. Entretanto entende que
a globalização não está promovendo nem o triunfo do global, nem a persistência do
nacionalismo local, mas o deslocamento e desvios de forma mais variada e
contraditória.
Chega-se então a uma questão: a atual geração adolescente, imersa em um
mundo tecnológico, apóia-se na manutenção de seu status como marca de sua
identidade.
O status quo da geração adolescente na primeira década do século xxi
Christiano German afirma que uma das poucas descobertas empiricamente
fundamentadas de forma transdisciplinar sobre os efeitos das atuais tecnologias de
informação e comunicação na economia, na política e na sociedade de países
industrializados ou em desenvolvimento é a de que somente estes, que possuem acesso
à estas tecnologias e que aproveitam suas possibilidades estarão à altura dos desafios do
século XXI.19
18
19
GIDENS Sibidem, p. 61.
GERMAN, Christiano. O caminho do Brasil rumo à era da informação. São Paulo: Fundação Konrad
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É importante observar que segundo estimativas em áreas das ciências naturais o
conhecimento se duplica em 10 anos. Mas isso leva à obsolescência do conhecimento já
existente.
É visível o caráter informacional e global de nossa sociedade descrito
detalhadamente por Castells em sua trilogia Era da Informação - Economia, Sociedade e
Cultura, composta pelos volumes Sociedade em rede, Poder da Identidade e Fim de
Milênio. 20
Assim, não é rara a identificação de um novo modo de segregação que expande
o padrão tradicional do limite espacial. Um indivíduo da periferia, hoje, compartilha
com a elite os padrões de consumo, vida e trabalho. O exemplo disto está no largo
consumo de celulares e sua freqüentemente atualização, independentemente da classe
social a qual os indivíduos pertencem. Em análise feita pelo Instituto LatinPanel21 2
milhões de novas linhas são habilitadas por mês. O Instituto aponta que as classes A e B
são as que mais possuem os aparelhos. 84% dos brasileiros no topo da pirâmide social
possuem pelo menos um telefone móvel. No entanto, dos brasileiros pertencentes à
classe C, a camada mais populosa da pirâmide, 70% possui celular. E entre os mais
pobres (classes D e E) o celular atinge a marca de 53% (o estudo considerou a compra
de aparelhos novos e usados).
Na primeira metade do século XX, o rádio e o cinema tiveram grande
importância na descrição das identidades culturais. Agregaram nas epopéias dos heróis e
aos grandes acontecimentos coletivos a crônica cotidiana: hábitos, costumes, modos de
falar e vestir. Enfim, elementos que diferenciam uns povos de outros. A comunicação
por rádio ajudou para que grupos de diversas regiões de um mesmo país, antes distantes
e desconectados, se reconhecessem como parte de uma totalidade. Os noticiários que
ligaram zonas distantes, assim como os filmes que ensinaram às massas a maneira de
viver numa determinada sociedade, propunham novas sínteses possíveis das identidades
culturais em transformação.
A criação de editoras dentre 1940 e 1970 no Brasil, Argentina, México e, em
menor escala, na Colômbia, Chile, Peru, Uruguai e Venezuela significou uma
importante mudança no volume de importação cultural, no campo das letras. A
Adenauer, 2000, p13.
20
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 108.
21
ZMOGINSKI, Felipe. Maioria dos pobres tem celular. [http://info.abril.com.br], acessado em
27/03/2008.
15
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educação então ganhou condições para se desenvolver, ampliando as possibilidades de
formação de cidadãos conscientes e, conseqüentemente, de nações mais democráticas.
No entanto, nas últimas três décadas muitas destas editoras faliram ou foram
compradas por empresas espanholas, francesas, italianas e alemãs 22. No Brasil, as
maiores editoras de livros didáticos para a educação básica, por exemplo, não são mais
de propriedade nacional. A Editora Moderna pertence à espanhola Santillana desde
2001. Já as Editoras Ática e Scipione, hoje pertencentes à Abril, tiveram as negociações
suspensas (mas não encerradas) em outubro de 2008 por conta da crise no mercado
mundial, mas entre os possíveis compradores estão a britânica Pearson e a americana
McGrawHill.23
Desde a década de 1990 apenas seis empresas são as responsáveis por 96% do
mercado mundial da música: EMI, Warner, BMG, Sony, Polygram e Phillips. Os
resultados não são animadores. Um exemplo: ―toda a obra de Milton Nascimento
gravada na década de 1970 pela Arlequim, pertence agora à EMI‖24, assim sua célebre
música Travessia passou a chamar-se Bridges e seus autores agora são Milton
Nascimento e Give Lee, que a traduziu.
Júlia Falivene Alves inicia seu livro A invasão cultural norte-americana com um
excelente exemplo do jovem brasileiro imerso neste modismo cultural. A autora faz
uma breve crônica: ―Um dia na vida de Rogério‖25.
... Olha pro relógio: 20 minutos atrasado em relação ao previsto. Azar dele,
que resolveu para no petshop para comprar ração para o Happy e o Smart.
Agora, só vai dar pra traçar um Big Mc e uma coca e passar no Cyber Caffe
do Ton para descolar uma grana. Talvez até ele queira ir junto assistir ao O
demolidor, embora não seja lá muito chegado em heróis em quadrinhos da
Marvel...[...] Faz uma curva à direita para sair da Paulista e por pouco não
raspa no bus. Mais adiante, em frente da Fitness Academy, avista Baby
conversando com um colega. Provavelmente esperando sua pickup...[...] Ela
26
está linda em seu top azul.
22
ibidem, p.158.
Dados da Associação Brasileira de Editores Livros. Disponível em [http://www.abrelivros.org.br]
24
CANCLINI, Nestor García. Diferentes, Desiguais e Desconectados. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2005, p.
245.
25
ALVES, Júlia Falivene. A invasão cultural norte-americana. São Paulo: Moderna: 2004, p. 17.
26
ibidem, p. 19-20.
23
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Um deles foi a rápida disseminação da série escrita por Stephenie Meyer,
iniciada pelo livro Crepúsculo, lançado em 2008. O grande sucesso foi seguido pelo
segundo livro da série, Lua Nova, também de 2008. Em janeiro de 2009 o terceiro livro,
Eclipse, já estava disponível. Neste ínterim Hollywood produziu o filme sobre o
primeiro livro, ainda em 2008 e iniciou a produção do segundo, Lua Nova, em março de
2009. Enquanto o quarto livro da série, Amanhecer, é escrito. Tudo acompanhado de
perto, e com euforia, pelos adolescentes. Numa simples busca do verbete Crepúsculo no
Google, realizada em maio de 2009, foi possível verificar quase sete milhões de
páginas.
Considerando a confluência dos fluxos com a cultura local, e neste caso, a
cultura brasileira, as atitudes definem a função que a tecnologia possui nas camadas
sociais. O indivíduo das classes D e E, por exemplo, encontra na tecnologia, do celular
ao acesso à internet, um indicador de status social. A atitude massiva dos brasileiros
quanto aos fluxos é, portanto, evidentemente dispersiva.
De acordo com o Ibope/NetRatings, em junho de 2008, dos 41,5 milhões de
brasileiros que declararam ter acesso à internet em qualquer ambiente (casa, trabalho,
escola, ambientes públicos), 35,5 milhões informaram ter acesso residencial à internet e
destes, 29,9 milhões declaram serem ativos. A média mensal de navegação do
internauta residencial brasileiro, em junho (2008), foi de 23 horas e 12 minutos. O que,
no mês, representa praticamente um dia inteiro de navegação. Com isso, os brasileiros
lideram o ranking de navegação entre os 10 países que utilizam a mesma metodologia
estatística: Alemanha, Austrália, Brasil, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão,
Reino Unido e Suíça. Em segundo lugar nesse ranking está a Alemanha (20 horas e
11minutos), seguida pelos Estados Unidos (19 horas e 52 minutos), França (19 horas e
50 minutos), e Japão (19 horas e 31 minutos).27
Já no período de um ano, enquanto a internet residencial ativa cresceu 26,9% em
número de usuários, algumas categorias cresceram mais: Viagens e Turismo (42,14%),
Casa e Moda (30,78%) e Entretenimento (30,2%). Por tempo de utilização por pessoa,
as categorias com maior desempenho anual foram: Entretenimento, com crescimento de
25% no tempo por pessoa atingindo 3h02min, e Casa e Moda com 24,3% de
crescimento e 14min de consumo por usuário. Dados que surpreendem se comparados
27
Dados do ‗Internet release‘ de junho/2008 do Almanaque Ibope. Disponível em [www.ibope.com.br]. Acesso em
08 de junho de 2008.
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aos IDHs em nosso território.
A resposta a este aparente disparate está na função que a internet desempenha na
vida dos brasileiros: a de status social. O resultado é uma pseudo-mobilidade. O acesso
à internet é um fim em si mesmo, não o meio.
A abrupta queda da primeira colocação em navegação – 41,5 milhões de
brasileiros – para a 59ª posição em qualidade pode ser explicada por fatores como
condições de mercado, regulamentação e infra-estrutura, além da possibilidade de uso e
utilização real da internet por parte de indivíduos, empresas e governos.
Onde está o entrave?
No descartável. Um conceito rizomático na sociedade pós-moderna e bem
ilustrado por Toffler 28 ao narrar sobre o lançamento de uma nova boneca Barbie, que
sugere um desconto no preço da nova pela troca da antiga. A campanha publicitária
transmite às meninas uma lição fundamental sobre a nova sociedade, a de que os
relacionamentos do homem com as coisas são cada vez mais temporários. Outro ícone
bastante similar é a relação que o homem mantém com seus aparelhos celulares.
O que a pós-modernidade favorece com isso? A destruição criativa 29, isto é, o
novo tem que ser construído a partir das cinzas do antigo. Ser ao mesmo tempo
descritivamente criativo é ser criativamente destrutivo. A criatividade do vir a ser tem
que acontecer mesmo que o fim seja em cima do sepultamento. O heroísmo criativo
garante o progresso humano 30.
A atual geração adolescente é a primeira que cresceu convivendo com o
computador dentro de casa. É uma geração que está conectada a várias mídias e ao
mesmo tempo. Para eles há muita informação e inúmeras potencialidades 24 horas por
dia, sete dias por semana. E não é só isso. As possibilidades se multiplicam com a
simultaneidade. Eles enviam SMS pelo celular enquanto navegam na Internet, atualizam
seu Orkut, assistem a um programa na televisão, ouvem música, e conversam com quem
está sentado a seu lado. Esta geração se diferencia das anteriores, que não vivenciaram
esta gama de possibilidades, fruto da veloz atualização nos recursos tecnológicos.
Verifica-se que os adolescentes têm grande intimidade, não só com os recursos
28
Em seu livro O choque do futuro, Toffler aborda esta questão em detalhes com o capítulo As coisas: a
sociedade do descartável.
29
Conceito desenvolvido por HARVEY, David. A condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens
da mudança cultural. São Paulo: Loyola. 1996.
30
idem.
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tecnológicos em si, como com suas atualizações. O que promove, inclusive, uma troca
de papéis familiares. Hoje são os adolescentes que ensinam a técnica aos pais. Até a
geração anterior a esta, eram os pais que ensinavam aos filhos. Isso ocorre porque os
adolescentes são os primeiros a se aventurar em aceitar o desafio de operar um
equipamento ou software novo.
Outra parceria evidente, e apontada pela pesquisa, é a de que a formação de
grupos virtuais, com pessoas do universo presencial ou não, facilita uma necessidade
inegavelmente adolescente: pertencer a um grupo!
O universo digital propicia novos códigos de relacionamento, o que está bem
próximo da procura do adolescente pela sua própria identidade pessoal e sexual. Outra
similaridade entre os dois universos está no fato de que os adolescentes vivem sob forte
influência dos grupos, e na mesma medida grupos virtuais são facilmente criados, seja
para o bem ou para o mal (gangues digitais).
Em 2007 o IBOPE divulgou que até os 11 anos de idade, crianças e préadolescentes – os tweens – passam, em média 15 horas e 25 minutos ao mês conectados
à Internet, sendo que a maior parte deste tempo é para alimentar sua rede virtual de
informações31.
Primeiramente, entende-se por rede ―toda conexão não-linear de mais de um
ponto.‖32 Assim, muitas são as possíveis redes sociais 33 nas áreas de atuação humana. E
em tempos de tecnologia digital é natural que estas redes sociais estejam, também, no
universo virtual.
De muitas maneiras esta geração cria e mantém vínculos virtuais. A ―Internet
parece constituir-se em um veículo para exploração da individualidade e para que eles
(crianças e jovens) se estabeleçam como indivíduos independentes.‖34 Os chats, blogs, e
as comunidades do Orkut, por exemplo, exigem o exercício do julgamento, da análise,
da avaliação e da crítica.
31
PETARNELLA, Leandro. Escola Analógica, cabeças digitais: o cotidiano escolar frente às tecnologias
midiáticas e digitais de informação e comunicação. São Paulo: Editora Alínea, 2008, p. 15.
32
MEDEIROS, Rosangela de Araújo. A relação de fascínio pelo Orkut. Dissertação de Mestrado. São
Paulo: USP, 2008, p. 50.
33
Uma rede social é ―um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas
conexões. Essas conexões são entendidas como os laços e relações sociais que ligam as pessoas através da
interação social.‖ RECUERO apud MEDEIROS, Rosangela de Araújo. A relação de fascínio pelo Orkut.
Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, 2008, p. 50.
34
TAPSCOTT apud GARBIN, Elisabete Maria. Culturas juvenis, identidades e Internet: questões atuais.
Revista Brasileira de Educação. São Paulo: ANPED, 2003, n.23, p. 127.
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É sem surpresas que os adolescentes representem a maioria entre os usuários
cadastrados no Orkut. Criado em 2004, já em 2005 quando o Orkut sequer tinha uma
interface traduzida para o português, os brasileiros representavam 71% dos usuários.
Líder absoluto no ranking, o Brasil era seguido por Estados Unidos com apenas 8,52% e
Irã com 6,72%. Percentuais apresentados pelo próprio fundador do site, Orkut
Buyukkokten, em evento organizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em
2007. ―Permitir que cada usuário tenha a sua própria página e possa participar das mais
diversas comunidades parece ser o atrativo principal deste sistema.‖ 35
O Orkut funciona como um grande clube, só que virtual. Nele as pessoas se
associam convidadas por outrem e informam seu perfil, que ―obviamente [...]
corresponde ao que os criadores do site julgaram interessante, atual e digno de figurar
numa vitrine de identidades.‖36 Os usuários preenchem, não obrigatoriamente, campos
como: Quem sou eu (descrição), Relacionamento (estado civil), Interesses no Orkut
(amigos, profissional, etc.), Idiomas, Humor, Vícios, Hobbies,
Livros, Músicas e
Programas de TV.
Fotos também podem ser indexadas ao perfil, permitindo ao usuário do site
divulgar eventos importantes para si e para sua imagem. Trata-se de uma atualização do
antigo álbum de família agora, público; e também infinitamente renovável. Retira-se e
inclui-se fotos a qualquer tempo.
Os álbuns do Orkut costumam apresentar fotos de festas formais – como
casamento e formatura – e informais – como as baladas, os churrascos entre amigos – ,
além de fotos de amigos, famílias, animais de estimação, viagens e até cenas inusitadas
registradas pelos usuários.
O item Amigos é o que mais chama a atenção dos adolescentes. A prática é
associar-se ao maior número de amigos, demonstrando o tamanho da sua popularidade.
Quanto mais amigos, mais popular. Em 2008 o site atualizou suas ferramentas e inseriu
a possibilidade dos usuários votarem em seus amigos como confiável, legal ou sexy, e
ainda registrar ser fã deste amigo. Após o nome, estas são as primeiras informações
visualizadas ao se entrar no perfil de cada usuário, além do número de recados
registrados e o número de fotos. Todos, indícios de popularidade e metas para os
35
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Técnicas de si e tecnologias digitais. In: SOMMER, Luís Henrique;
BUJES, Maria Isabel Edelweiss (orgs). Educação e cultura contemporânea: articulações, provocações e
transgressões em novas paisagens. Canoas: Ulbra, 2007, p. 74.
36
ibidem, p. 138.
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adolescentes.
Ao entrar no Orkut os adolescentes têm a certeza de serem conectados ao
mundo. Por isso vale adicionar como Amigo os amigos reais, os virtuais, os Amigos
destes, os desconhecidos, quem for possível... Quanto mais Amigos, mais popularidade,
mais possibilidades de conexão com o mundo. Mas não só pelos Amigos se faz o Orkut
ou a sua influência sobre os adolescentes. As comunidades nele postadas funcionam
como rótulos de identidade. Ao associar-se, por exemplo, à comunidade Odeio quem
fica atrás de mim no PC (atualmente com mais de dois milhões usuários cadastrados)
ou Eu amo chocolate (atualmente com quase 4 milhões de usuários), o adolescente
agrega valores, qualidades/defeitos ou sentimentos à sua própria identidade. Os usuários
têm à sua disposição uma imensa gama de rótulos. Um verdadeiro objeto de desejo para
os adolescentes.
O adolescente globalizado
O tempo ao qual Feuerbach se refere nasceu nas décadas de 1970 e 1980, e
ganhou intensidade nos anos 1990. Exatamente o momento em que nasciam os sujeitos
desta pesquisa. Nesta década os computadores e as tecnologias a ele adjacentes
ganharam a dimensão doméstica passando a integrar a rotina familiar. E de modo geral,
os indivíduos se adaptaram aos recursos oferecidos pelas novas tecnologias. O fator que
interessa a esta pesquisa é justamente o de que esta atual geração adolescente é nativa,
neste contexto pós-moderno. Diferentemente dos demais, e graças à oportunidade de
iniciar seu processo de formação da identidade já mergulhada na pós-modernidade, esta
geração possui características únicas, fortemente produtoras de novos significados, que
convergem com naturalidade com este novo cenário.
Na óptica da cultura globalizada, entender esta identidade requer um novo
posicionamento, um posicionamento deslocado ou descentrado 37.
E a partir deste
deslocamento, na tentativa de rearticular a relação entre os indivíduos e as práticas
discursivas, que se evidencia a questão da identificação, já que a intenção é destacar
mais o processo de subjetivação do que as práticas discursivas.
37
HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença:
a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes. 2000, p.105.
21
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A abordagem discursiva vê a identificação como uma construção, um processo
nunca completado. A identificação não é determinada, não se pode ganhá-la ou perdêla, sustentá-la ou abandoná-la. E embora tenha condições específicas para sua existência
- recursos materiais e simbólicos exigidos para sustentá-la - a identificação é
condicional. Está apoiada na contingência, e uma vez assegurada não anula a diferença.
Pelo contrário, faz dela a sua zona fronteiriça; o exterior também a constitui.
As questões de identidade têm muito mais a ver com quem o indivíduo pode se
tornar do que quem ele é ou de onde veio. A identidade é sim o resultado de uma
competente articulação do indivíduo com os fluxos.
Os indivíduos são constituídos como sujeito pela formação discursiva,
processo de sujeição no qual [aproveitando a idéia do caráter especular da
constituição da identidade que Althusser tomou emprestada de Lacan] o
indivíduo é identificado como sujeito para a formação discursiva por meio de
uma estrutura de falso reconhecimento (o sujeito é, assim, apresentado como
sendo a fonte dos significados dos quais, na verdade, ele é um efeito). A
interpelação nomeia o mecanismo dessa estrutura de falso reconhecimento,
nomeia, na verdade, o lugar do sujeito no discurso e no ideológico – o ponto
38
de sua correspondência .
É nessa dimensão planetária que opera nossa primeira geração digital, imersa em
processos de identificação influenciados por freqüentes atualizações tecnológicas. Esta
geração compreende aqueles que nasceram com a internet dentro de casa e a viram
crescer e incorporar serviços diversos como o Google (busca), o Kazaa (intercâmbio de
músicas), o Skype (voz por IP), o YouTube (vídeos). São testemunhas de muitas
evoluções tecnológicas que mudaram a forma de interação entre as pessoas, tanto
pessoal quanto profissional.
São testemunhas da evolução dos desktops e notebooks e da rápida atualização
da velocidade da internet. São, pois, testemunhas de uma nova comunicação, já que
viram o primeiro telefone celular passarem de aparelhos enormes e pesados, e que
apenas faziam e recebiam ligações, para apenas ‗celulares‘ que além das ligações,
trabalham com fotos, músicas, vídeos, enviam e recebem mensagens de texto (SMS),
38
PÊCHEUX apud HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.).
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes. 2000, p. 114-115.
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calculam, organizam agendas. Suprime-se aqui o termo ‗telefone‘ por razões óbvias.
Esta nova geração adolescente viu discos entrarem e saírem do mercado
rapidamente: disquete, cd-rom, zip-drive, pen-drive, e outros. Viu o DVD substituir o
VHS. E este último tinha ainda uma importante função no mercado já que as locadoras
de vídeo ofereciam uma grande diversidade de títulos para que os indivíduos pudessem
extrapolar a programação da televisão. A televisão a cabo então é uma atualização
inquestionável do poder de escolha.
Esta é a geração que entendeu que não é preciso esperar. É uma geração
autônoma que age o tempo todo atuando livremente sobre a informação e interagindo de
modo descentrado e deslocado com o outro. O pensamento desta geração é menos
hierárquico e mais horizontal do que o das gerações anteriores numa abrangência
potencialmente transdisciplinar.
Com esta concepção verificou-se como se expressam os adolescentes de uma
escola particular ´de classe média da zona sul de São Paulo sobre a realidade em que
vivem: sua relação com a tecnologia, suas atualizações e as representações das
diferentes esferas de sua vida (particular, familiar e escolar). A partir de uma análise
qualitativa estabeleceu-se os aspectos mais relevantes, e que estão descritos mais
adiante.
O Colégio em questão localiza-se no bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo.
É um bairro com infra-estrutura completa e nos últimos anos, o bairro vem também se
renovando arquitetonicamente, com inúmeras construções novas e empreendimentos
imobiliários de médio e alto padrão.
O Colégio foi fundado no início de 1928, em uma casa alugada à Rua da
Liberdade e com apenas 20 alunos. Em 1931 transferiu-se para o endereço atual, onde
permanece até os dias de hoje, em espaço com cerca de 5.000 m2. Hoje (2009) conta
com 70 professores, pouco mais de 1.000 alunos, distribuídos entre as classes de
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. No momento os alunos
dispõem de 2 laboratórios de informática com 37 computadores no total, e que são
liberados para sua livre utilização no período inverso ao de aulas.
Além dos laboratórios, o Colégio oferece a alunos e professores salas
especializadas com recursos digitais para aulas de diversas disciplinas, entre elas a Sala
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da Lousa digital com a Smatboard e os respectivos softwares SmartNotebook39,
SmartPlayer40, SmarRecord41, e ferramentas flutuantes que incluem caneta, destaca
texto, lupa, holofote, câmera para captura de telas, etc. Conta ainda com recursos
modernos de aprendizagem, ensino e comunicação, como Sala de Projeção,
computador/DVD/datashow para cada sala de aula, e-mails institucionais para todos os
alunos, professores e funcionários, área de acesso restrito ao site da escola.
O grupo eleito para participar desta pesquisa foi formado pelos alunos da 8ª série
do Ensino Fundamental, a maioria com 14 anos de idade. O grupo era formado por 68
alunos, mas no dia em que se aplicou o questionário havia 65 presentes. Assim, a
população estudada pela pesquisa é de 65 adolescentes, com idades entre 13 e 14 anos.
Os alunos foram esclarecidos sobre as intenções da pesquisa e seus pais ou responsáveis
assinaram termo elucidativo da proposta, consentindo na participação dos jovens
(Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme preconizado pelo CONEP na
resolução nº196/96). O questionário constou de 13 questões com respostas fechadas, e a
tabulação dos dados foi realizada com o auxilio do programa Excel.
Pode-se constatar que a maioria dos adolescentes do grupo pesquisado dispõe de
fácil acesso a tecnologias de comunicação. No questionário, os adolescentes informaram
o número de celulares, computadores, aparelhos de DVD, home teacher, de mp3, mp4 e
etc, de telefones fixos, televisão e de videogames. Números que expressam a
disseminação de recursos tecnológicos na rotina familiar do adolescente.
Dos 65 respondentes apenas um não possui celular, e 53 (81%) possuem três ou
mais aparelhos na família, demonstrando clara infiltração do aparelho na rotina familiar,
independente da rotina individual do adolescente. O dado permite a conclusão de que
antes mesmo da representação que o celular desempenha na vida do adolescente ele já
desempenha uma importante função comunicativa na família.
Outro dado que chama à atenção é o número de computadores em casa: 100% do
grupo informou possuir pelo menos um computador, sendo que 40% possui 2, 15%
possui 4 e 3% possui 5 ou mais computadores.
39
Software que permite a elaboração de aula em telas, dispondo de ferramentas de desenho e galerias de
imagens e animações. O software também permite a digitalização automática de textos escritos a mão
pelo professor durante a aula.
40
Player para vídeos que permite a interação, com caneta e apagador, sobre a imagem. O Player permite
também que cenas selecionadas sejam incorporadas às telas do SmartNotebook.
41
Permite a gravação de toda a interação feita na lousa durante a aula incluindo a voz do professor,
transformando-a em vídeo.
24
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Quanto aos demais aparelhos o grupo demonstra ter destacado acesso. 42
adolescentes, por exemplo, informam ter em casa 4 ou mais televisões, o que representa
64,6% do grupo.
Muito mais do que as gerações que os antecederam, estes adolescentes convivem
com inúmeros controles remotos, códigos de acesso e diferenciadas configurações
técnicas desde pequenos. E um dado que chama a atenção é a velocidade com que as
famílias trocam estes aparelhos. O que pode explicar o fato destes adolescentes terem
tanta facilidade em aprender a utilizar novos instrumentos sem que lhes seja entregue
um manual ou lhe seja ensinado nada.
Somando o celular, o computador e os aparelhos de MP3 e similares, e entre os
que informaram o prazo de troca, o mais comum é o de entre 13 e 24 meses, com 43
respondentes, seguido de perto pelo de sete a 12 meses, com 42 respondentes. Dentre
todos o que se destaca é o celular, que detém o menor prazo de troca.
Entre as razões apontadas pelos adolescentes para esta rápida troca, a mais
comum é a de busca por inovações tecnológicas. A segunda é a quebra do aparelho.
Mas há variantes. Um dos adolescentes, por exemplo, justificou que troca porque seus
pais pagam. Outro, no entanto, indica que é ―possível viver com aparelhos
desatualizados‖.
Poucos são os adolescentes que utilizam o celular por mais de dois anos, apenas
6%. Há também os que trocam até seis meses, no máximo. E estes representam 15%,
uma porcentagem considerável, tendo em vista que a aquisição sempre é de aparelhos
novos e com inúmeros recursos disponíveis, uma vez que a maior razão para a troca de
aparelhos seja justamente as inovações tecnológicas.
As inovações tecnológicas que motivam os adolescentes a trocarem seus
aparelhos rapidamente não se manifestam apenas pelo modismo. A maioria dos
adolescentes, de fato, utiliza os inúmeros recursos disponíveis nestes aparelhos. Alguns
destes recursos, inclusive, só estão disponíveis em aparelhos mais caros. O que mostra o
investimento familiar na conexão do adolescente.
Observa-se também que mesmo o serviço de menor utilização, possui uma
respresentação estatística interessante. 7 adolescentes, ou seja, 11% do grupo utilizam o
GPS em seu celular, um ítem que as famílias consideram como segurança.
41 (63%) dos adolescentes ficam de 2 a 4 horas por dia no computador. E
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quando questionados sobre seu tempo de acesso à Internet os índices aumentam: 40
(61%) utilizam a Internet de 2 a 4 horas por dia, e 23 (35%) utilizam entre 5 e 11 horas
por dia. Assim, considerando uma média de 3 horas em softwares diversos e 3 horas
exclusivamente na Internet, um único adolescente chega a passar 6 horas por dia no
computador. Uma hora a mais do que o tempo em que passa em aula na escola.
Mas o tempo de utilização do computador não foi o único pesquisado.
Comparando estes dados com os dos demais equipamentos observa-se que os
adolescentes mantêm uma média expressiva em horas diárias de utilização. Se estas
horas fossem somadas, um dia de 24 horas não bastaria para alguns destes adolescentes.
Isso prova que eles interagem simultaneamente com mais de um recurso. E é comum
encontrá-los interagindo com dois ou três deles sem perda expressiva de atenção.
As horas à frente da televisão também chamam à atenção. Em média estes
adolescentes assistem a 6 horas de programação diariamente. 22% assistem a 5 horas,
23% a 3 horas e 25% a 2 horas. Apenas 5% assiste à televisão no máximo uma hora por
dia e 12% assiste a 6 horas ou mais.
O tempo dedicado ao videogame representa uma surpresa. 49% dos adolescentes
utilizam até uma hora por dia e 19% utilizam até duas horas. Poucos adolescentes
passam mais do que isso no aparelho. Talvez porque prefiram utilizar o computador e a
Internet.
O volume de conversas ao telefone, seja fixo ou celular, também é
representativo. 38 adolescentes (58%) passam cerca de 1 hora por dia em conversas no
celular e 34 (52%) no telefone fixo. 24 adolescentes (37%) passam entre 2 e 5 horas
conversando ao celular e 28 (43%) no telefone fixo.
Em relação ao acesso aos recursos de comunicação em diferentes locais, este
grupo manifestou maior acesso em casa. No questionário foi solicitado que indicassem
de 0 a 3 para o quanto acessam os recursos em cada ambiente.
A característica do grupo é de inserção pública gradativa. A casa detém grande
porcentagem de utilização, seguida pela cada de amigos e em último, com menor
porcentagem de utilização os locais públicos.
Esta característica pode ser explicada pela posição sócio-econômica destes
adolescentes. Pertencente às classes A e B (o acesso aos recursos de comunicação é um
forte indício disto) este grupo possui características que justificam esta inserção
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gradativa. Uma das maiores preocupações da família é a segurança de seus filhos. Outra
possível explicação pode ser o fato de suas rotinas darem pouca margem para os
ambientes públicos. Esta é uma parcela da população que além da escola formal
costuma fazer cursos extras como inglês ou esportes. A agenda de alguns destes
adolescentes chega a se aproximar de uma agenda adulta, recheada de compromissos.
Quando questionados sobre a preferência pelo recurso utilizado para se
comunicar, os adolescentes manifestam evidente preferência pelo MSN, 44 (67%) o
indicam em primeiro lugar. Seguido pelo telefone fixo que representa 15%, o celular
que representa 8% nas ligações por voz, o Orkut com 6% e as mensagens por SMS
(celular) com 3%.
Ao atribuirem o segundo lugar na lista de preferência, os adolescentes
evidenciam o Orkut, com 48% de representação. E ao atribuírem o terceiro lugar é a
vez do celular se destacar, com empate: 26% dos adolescentes indicam as conversas por
voz e os mesmos 26% as trocas de mensagens via SMS.
Em último lugar na preferência dos adolescentes aparece a Lista de discussão.
Uma possível explicação para isso pode ser o fato das listas não serem síncronas e os
adolescentes preferem os recursos instantâneos, imediatos. Numa lista de discussão o
usuário é obrigado a contar com o tempo dos demais usuários. Um tópico pode levar até
meses para ser respondido. Outra característica da lista de dicussão que pode causar
impacto negativo nos adolescentes é o fato de serem coordenadas ou moderadas pelo
usuário que a criou. Os adolescentes preferem a liberdade de criar, modificar ou deletar
as informações com as quais interage e numa lista de discussão tais ações são exclusivas
do moderador.
Quanto ao Orkut, este possui grande representatividade entre os adolescentes.
Dos 65 respondentes, 54 possuem perfil cadastrado e mais da metade destes o acessa
diariamente.
É interessante a relação que os adolescentes mantém com o site. Questionados
sobre o que pensam sobre as comunidades do Orkut, 34% deles não vêem nada demais
nelas ou acreditam ser desnecessárias. Mas 29% acredita que sejam interessantes. 14%
identifica as comunidades como meio de expressar sua personalidade ou anunciar o que
pensam. 5% as vêem como úteis e 3% como divertidas ou meios de interação. 12% dos
adolescentes não se manifestou quanto às comunidades.
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Quando solicitado um adjetivo para o Orkut o grupo é mais positivo. 29% dos
adolescentes o apontam como interessante e 23% como essencial em suas vidas. 8%
deles vêem o site como viciante, o que justifica o fato de mais da metade o grupo
acessá-lo diariamente. Outros 6% atribuem a qualidade de comunicativo.
O número de Amigos cadastrados no perfil é outro dado importante. Em média,
os adolescentes possuem 350 contatos cadastrados, considerando que dos 65
respondentes, 54 possuem o perfil cadastrado e 6 não informaram o número de seus
contatos. Este dado confirma a característica comunicativa atribuída pelos adolescentes
e, também, justifica o acesso diário.
Mas isso não quer dizer que os adolescentes utilizem exclusivamente o universo
digital para formar seu círculo social. Dos 65 respondentes, 60 (92%) afirmam ter mais
amigos reais que virtuais.
Quanto a como eles se comportam quando há a necessidade de uma pesquisa a
resposta é unânime. Dos 65 respondentes, 64 responderam que primeiro acessam a
Internet e apenas um respondeu que busca os livros ou enciclopédias disponíveis em sua
casa. Nenhum afirmou iniciar uma pesquisa com uma visita a uma biblioteca.
A relação dos adolescentes com as fontes de conhecimento está claramente
ligada aos recursos de comunicação. Não por acaso, quando questionados sobre quanto
aprendem com diferentes fontes de informação, anunciam que após a escola, os pais e
os amigos, os recursos on-line antecedem os impressos. Sites diversos, Orkut, jornais e
revistas on-line são mais convidativos que os livros.
Quanto aos livros a pesquisa diferenciou a preferência pelos impressos ou
digitais e constatou certa proximidade na preferência dos adolescentes entre um e outro.
Mas os livros impressos ainda ficam à frente. Dos 65 respondentes, 43 atribuem notas
maiores que 6 para o livro impresso, ao passo que o digital fica com a marca de 29
respostas para a mesma categoria (notas entre 6 e 10). No entanto, quando atribuídas
notas medianas (entre 5 e 8) a preferência entre eles difere muito pouco.
Sem dúvida, uma situação que poderá mudar com a maior disponibilização de
conteúdos digitais. Atualmente muitos livros podem ser baixados na Internet, incluindo
literatura juvenil, clássicos, livros técnicos e etc. Alguns em domínio público e outros
(ou muitos mais...) através de sites criados e mantidos por outros usuários,
individualmente ou em grupos.
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Já a relação entre os Jornais e revistas impressos com suas versões on-line é
oposta à dos livros. Ao atribuírem notas de zero a 10 para o quanto aprendem com cada
um, os adolescentes demonstram que, apesar da proximidade de ambos no primeiro
segmento onde as notas representam pouca aprendizagem, ao referirem que aprendem
com estes recursos (notas de seis em diante), o digital detém a preferência.
Uma possível explicação para esta preferência está no fato de que a leitura de
Jornais e Revistas on-line não é linear. O usuário pode, através de palavras-chaves,
localizar apenas o que lhe é de interesse imediato, fornecendo objetividade e agilizando
a tarefa.
Sites diversos, o Orkut e Listas de discussão aparecem, nesta mesma ordem de
preferência, como fontes importantes de aprendizagem. Considerando aqui que os sites
disponíveis na Internet oferecem respostas imediatas às questões que venham a
interessar ao adolescente. Ao passo que o Orkut ou a Lista de discussão demandam
interação e, conseqüentemente, maior tempo (e aqui se inclui o tempo dos demais
usuários).
Em relação a quanto os adolescentes aprendem com a Escola, Pais Amigos, as
respostam aparecem de maneira mais uniforme. A maioria informa notas acima de sete.
Poucos são os adolescentes que informam não aprender com os pais, sendo a menor
nota quatro (apenas um adolescente). Outros três atribuíram nota cinco aos pais e os
demais de sete em diante. Quanto a escola a nota menor foi cinco (três adolescentes) e
os demais de sete em diante.
Considerando a nota máxima (10), a escola aparece em primeiro lugar, com 62%
das respostas, seguida pelos pais com 54% e os amigos com 38%.
Esta tríade possui forte atuação na vida do adolescente, pois é entre eles que o
adolescente distribui a sua rotina.
Comparada aos demais quesitos, a aprendizagem com Escola, Pais e Amigos é
evidentemente maior que com os demais, como indicado na Figura 23. Os três itens em
conjunto sobressaem aos adolescentes como os que realmente promovem oportunidade
de aprendizado. Chama a atenção que nota mais baixa atribuída aos pais seja cinco,
atribuída por apenas um adolescente; outro atribuiu nota sete, e ainda outro nota 8. A
maioria atribuiu nota 10.
Fenômeno semelhante acontece com a aprendizagem com amigos e escola.
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Questionados quanto a relação entre escola & tecnologia os adolescentes se
dividem. 35% deles acreditam ser ótima e 40% ser boa. Mas 22% diz ser regular e 3%
ruim. Conforme mostra a Figura 25:
É importante retomar a estrutura física e lógica à disposição destes adolescentes
na escola em que estudam. Há dois laboratórios de informática com 17 computadores
cada, sendo um deles de uso livre no período oposto ao de aulas, para que os alunos
possam fazer pesquisas ou trabalhos em grupo. Há três salas de Projeção com
computador, DVD, som ambiente e Data Show, sendo uma com lousa digital, e que são
utilizadas em larga escala pelos professores. Há também três computadores na
biblioteca, para uso dos alunos. Duas salas de aula, às quais estes têm acesso (as salas
de aula são ambientes, cada disciplina tem a sua sala) possuem computador e
DataShow.
O site da escola fornece área restrita na qual inúmeros documentos, entre
calendário, programações, correções de provas, textos de apoio e materiais utilizados
em aula são disponibilizados para download. Cada um destes adolescentes possui uma
conta de email fornecida pela escola e que também é sua senha de acesso à Internet em
qualquer ponto disponível nas instalações. Ainda assim, para 25% destes adolescentes a
relação escola & tecnologia não é suficiente.
Já a relação entre professor & tecnologia é um pouco diferente. 14 (21%)
adolescentes acreditam que a relação do professor com a tecnologia é ótima. 31 (48%)
acreditam ser boa. Mas 18 (28%) a vêem como regular e 2 (3%) como ruim. O que
signifca que 31% sente um descompasso entre o seu ideal e o que lhe é oferecido.
Esta diferenciação entre o ideal e o real pode ser explicada pelo fato de que os
professores não vêem os recursos de comunicação da mesma maneira que os
adolescentes. A menor vivência dos professores com a tecnologia é facilmente
comprovada. Primeiro porque não cresceram com a mesma oferta tecnológica. Segundo
porque suas formações não contemplaram os recursos com os quais os adolescentes
estão tão acostumados. Já que o status tecnológico dos adolescentes é relativamente
recente. Se renova rapidamente, mais do que a geração anterior (dos professores) é
capaz de absorver no mesmo tempo que os mais jovens.
Outro dado importante é a idéia que os adolescentes fazem quanto a ser
um cidadão global. Convenientemente, no tempo em que esta pesquisa foi realizada os
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adolescentes passaram por discussões acerca da globalização durante as aulas de
geografia. Ao serem questionados quanto a uma definição de cidadão global, os
adolescentes associaram rapidamente, e quase unanimemente, que ser global é ser
tecnológico ou estar atualizado.
Porcentagem menor, 9%, associa a idéia de ser um cidadão global com a de ser
consciente. Outra resposta que chama à atenção é o fato de 5% associarem o global com
a questão da oportunidade.
Conclusões
As conclusões desta pesquisa longe estão de oferecer resposta definitiva às
questões que envolvem o adolescente e suas relações com as tecnologias no mundo
globalizado. Até porque este é um contexto em constante mudança e com
surpreendentes reconfigurações. Este, portanto, é apenas um olhar que pretendeu
contribuir com as discussões que envolvem tais questões.
Na busca por contextualizar a atual experiência de ser adolescente, investigando
suas reconfigurações através dos tempos, observou-se que a geração adolescente no
início do século XXI vivencia experiências e reconfigurações em velocidades nunca
vistas até então, tanto no que diz respeito a seus significados, quanto no que diz respeito
aos instrumentos de expressão que lhe estão disponíveis. Mais do que quaisquer outras
gerações, estes adolescentes se reconhecem como cidadãos globais e associam tal
conceito à tecnologia e suas conexões.
Ao refletir sobre a cultura globalizada na qual os adolescentes estão hoje
inseridos a pesquisa conclui que dela participam com grande afinidade e nela criam
novas formas de comunicação e interação, incluindo uma nova forma de apreender a
realidade e buscar novos conhecimentos.
Esta é uma geração que vivencia um descompasso entre o seu potencial e a
estrutura que os acolhe. Na busca por caracterizar o comportamento tecnológico do
adolescente pós-moderno esta pesquisa pode verificar que esta é uma geração
tecnologicamente mais ativa e, por vezes, substitui o real pelo virtual, e o impresso pelo
digital. Sua afinidade é notória e está presente em todos os contextos da vida destes
adolescentes.
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