Departamento de História
OS TECIDOS NOS CIRCUITOS COMERCIAIS E CULTURAIS DO ÍNDICO
Aluna: Deborah Santana Raposo de Rezende
Orientador: Regiane Augusto de Mattos
“The symbolic capital which cloth possessed was, therefore, integral to the processes by and
through which Swahili world was constituted.”
Pedro Machado
Introdução
A pesquisa pretende contribuir, de modo geral, para a compreensão das sociedades de
Moçambique e as relações e interconexões estabelecidas com aquelas localizadas no Oceano
Índico. Além das populações locais, existiam nessa região vários grupos sociais de diferentes
origens, como goeses cristãos; mouros, que poderiam ser indianos ou omanitas e baneanes, que
eram comerciantes hindus originários, sobretudo, de Guzarate, ambos muçulmanos. Os chefes
locais dos estabelecimentos islâmicos do litoral, comumente chamados de sultões, estabeleceram
ao longo do tempo relações muito próximas, inclusive de parentesco, com os chefes das sociedades
localizadas em Zanzibar e nas ilhas Comores e Madagascar. Essas relações tinham um caráter
econômico, mas também religioso, marcado pela presença do Islã. As sociedades africanas de
Moçambique construíram redes sociais, culturais, políticas e econômicas, proporcionadas pelo
contato constante com outras de fora do continente por meio das relações de comércio e da religião
islâmica. [8]
Dessa forma, no que se refere à dinâmica comercial, a presente pesquisa se deteve ao
estudo da circulação dos tecidos na África Oriental, mais particularmente em Moçambique.
Levando em conta as relações de comércio já existentes desde o século XII e a produção local, este
trabalho pretende analisar a trajetória histórica da circulação desse produto nos circuitos
comerciais do Índico e as influências e transformações que esta proporcionou nas culturas da
região.
Objetivos Específicos
O objetivo do estudo é mostrar como se deu a comercialização dos tecidos na África
Oriental, e mais particularmente entender o surgimento da “Capulana” – tecido tradicionalmente
usado até hoje em vários países africanos.
Metodologia
O trabalho se desenvolveu a partir do levantamento, da leitura atenta e da análise da
bibliografia e das fontes documentais nos arquivos e bibliotecas localizados no Rio de Janeiro,
como a Biblioteca Nacional e o Real Gabinete Português. Bibliotecas digitais também foram
usadas no levantamento bibliográfico.
1.) Detalhamento dos resultados parciais obtidos no período
1.1.
Pesquisa e sistematização da bibliografia
Biblioteca Nacional:
BRAVO, Nelson Saraiva. A cultura algodoeira na economia norte Moçambique / Bravo Nelson
Saraiva . - [S.l] : [s.n.], 1963.
MENESES, Maria Paula G. As Capulanas em Moçambique: decodificando mensagens,
procurando sentido nos tecidos. In: Garcia, Regina Leite (org.) Método. Métodos.
Contramétodos. SP: Cortez Editora, 2003.
Real Gabinete Português de Leitura:
MACHADO, A. J. De Mello. Entre os Macuas de Angoche: historiando Moçambique / A. J.
De Mello Machado. - ED. IL. . - Lisboa : Prelo editora, 1970.
PEIRONE, Frederico Jose. A tribo ajaua do alto Niassa (Moçambique) e alguns aspectos da
sua problemática neo-islâmica / Frederico Jose Peirone. - ED. IL. . - Lisboa : Junta de
investigações do ultramar, 1967.
Internet:
Machado, Pedro. Cloths of a new fashion: Indian Ocean networks of Exchange and cloth zones of
contact in Africa and India in the eighteenth and nineteenth centuries. In: Giorgio Riello and
Tirthankar Roy (eds.), How India Clothed the World: The World of South Asian Textiles, 15001850 (Brill, 2009).
Disponível em:
https://www.academia.edu/634244/Cloths_of_a_New_Fashion_Indian_Ocean_Networks_of_Exch
ange_and_Cloth_Zones_of_Contact_in_Africa_and_India_in_the_Eighteenth_and_Nineteenth_Ce
nturies
MACHADO, Pedro. Awash in a sea of cloth: Gujarat, Africa, and the Western Indian Ocean,
1300-1800. In: Spinning World. Chapter 8. Jstor Digital Library.
Disponível em:
https://www.academia.edu/632618/Awash_in_a_Sea_of_Cloth_Gujarat_Africa_and_the_Western
_Indian_Ocean_1300-1800
SHERIFF, Abdul. A costa da África oriental e seu papel no comércio marítimo. In: História Geral
da África II: África Antiga. Cap.22. Por Editor Gamal Mokhtar. Unesco. 2010.
Disponível em:
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000015105.pdf
ZIMBA, Benigna. O papel da mulher no consumo de tecido importado no norte e no sul de
Moçambique, entre os finais do século XVIII e os meados do século XX. Cadernos de História
de Moçambique, 1, 2011.
Disponível em:
http://www.flcs.uem.mz/images/chist/BZimbaCdeM20121.pdf
1.2.) Pesquisa e sistematização das fontes
Real Gabinete Português de Leitura:
ANDRADE, Freire De. Relatórios sobre Moçambique / Freire De Andrade. - ED. IL. . Lourenco marques : Imprensa nacional, 1910.
FERRAZ, Guilherme Ivens. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques ao
Bazaruto / Guilherme Ivens Ferraz . - Lisboa : Tipografia Universal, 1902.
JUNOD, Henri A. Usos e costumes dos Bantu. Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique,
1996. 2v.,il.,25cm. (Documentos 3). Tomo II (verde)
RODRIGUES JUNIOR. Caminhos de ferro de Moçambique. Lourenço 1939 / Rodrigues Junior
. - [S.l] : [s.n.]
2.) Resumo do que foi realizado no período a que se refere o relatório
Durante esse primeiro ano de bolsa dediquei-me ao levantamento e leitura da bibliografia, e
à consulta e sistematização das fontes documentais, sobretudo as coletadas nos arquivos e
bibliotecas tais como a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e o Real Gabinete Português de
Leitura. Bibliotecas digitais foram de grande ajuda neste primeiro levantamento, sendo mais útil
para livros e artigos mais recentes.
Também neste período participei de reuniões de grupos de estudos sobre o continente
africano nas quais discutimos textos relacionados à história, procurando sempre problematizar
generalizações e abordagens, muitas vezes, eurocêntricas sobre o tema e trocar informações com
pessoas de diferentes áreas, tentando abranger diferentes assuntos a fim de tornar as discussões
interdisciplinares. Os encontros com pesquisadores e de discussão de textos foram os seguintes:
Encontros com pesquisadores:
Palestra do Prof. Augusto Nascimento: São Tomé e Príncipe: do colonialismo às construções da
nação.
Palestra da Profa. Eugénia Rodrigues: Régulas e apotentadas. Gênero e poder em Moçambique no
século XVIII.
Palestra do Prof. Michel Cahen. Luta de emancipação anticolonial ou movimento de libertação
nacional? O caso das colônias portuguesas em África
Palestra de Cristina Raposo. O vírus do HIV em Moçambique e outras questões de saúde pública
em África.
Visita à Mesquita da Tijuca e conversa sobre história, memória, experiências com africanos de
diferentes países que frequentam a mesquita.
Leitura e discussão dos textos:
MATTOS, Regiane Augusto de. Projeto de pesquisa: A dinâmica das relações entre as
sociedades do norte de Moçambique e as do Índico no século XIX, da qual a presente pesquisa
faz parte. PUC-Rio, 2013.
AMSELLE, Jean-Loup. Introdução. Branchements. Anthropologie de l’universalité des
cultures. Paris: Flammarion, 2001. Tradução de Agnes Alencar.
FALOLA, Toyin et alli. Africa, Vol. 2: African Cultures and Societies Before 1885. Carolina
Academic Press, 2000.
HEINTZE, Beatrix. Angola nos séculos XVI e XVII. Estudos sobre Fontes, Métodos e
História. Luanda: Kilombelombe, 2007.
SANTOS, Joice de Souza. Projeto de Pesquisa de Doutorado em História Social da Cultura (PUCRio): "Tudo isso é para causa admiração, tanto ao meu povo quanto aos de fora" Cultura e
poder no reino do Daomé (1795-1820), 2014.
SUBRAHMANYAM, Sanjay. Connected Histories: Notes towards a Reconfiguration of Early
Modern Eurasia. Modern Asian Studies, Vol. 31, No. 3, Special Issue: The Eurasian Context of
the Early Modern History of Mainland South East Asia, 1400-1800. (Jul., 1997), pp. 735-762.
Disponível em:
http://links.jstor.org/sici?sici=0026749X%28199707%2931%3A3%3C735%3ACHNTAR%3E2.0.
CO%3B2-S
Fiz parte da Comissão Organizadora da Semana da África, realizada entre os dias 26 e 29
de maio na PUC-Rio. O projeto realizado foi de um evento acadêmico interdisciplinar que
envolveu professores e pesquisadores das áreas de História, Antropologia, Cinema, Literatura e
Artes, com o objetivo de conhecer, discutir e divulgar os trabalhos e pesquisas desenvolvidos
atualmente a respeito da África. Para tanto, o evento contemplou três tipos de atividades: mesas
temáticas, exibição de filmes com debate e uma exposição fotográfica (Visões de África) com fotos
de diversos países africanos tiradas por diferentes fotógrafos.
Conclusões
A partir dos séculos XII e XIII há referências de trocas de tecidos de algodão na costa da
África Oriental. De acordo com algumas fontes isso se deu, inicialmente, devido à facilidade de
acesso a essa região, tanto através do interior como do mar. A acessibilidade do interior foi um
fator importante das migrações e ajuda a entender a complexidade étnica e cultural dessa região. A
história da costa oriental da África não é de isolamento, mas sim de interpenetração. O mar foi
sempre uma via de contato e interação com o exterior, pois as características geográficas do
oceano Índico facilitavam a viagem a partir da costa da Arábia [6].
“A característica geográfica mais importante deste oceano é a inversão sazonal
dos ventos de monção. Durante o inverno boreal, a monção do norte sopra de maneira
contínua e chega a atingir Zanzibar, mas sua intensidade decresce para o sul e
raramente é regular além do cabo Delgado. Tal sistema de circulação é reforçado
pela corrente equatorial que, após atingir a costa da Somália, dirige-se para o sul,
facilitando a viagem das embarcações a partir da costa da Arábia.”
(Sheriff, pg.570)
O comércio de tecidos na costa oriental se tornou mais acessível pela disseminação do Islã e o
estabelecimento de mercados muçulmanos. Houve, então, a interpenetração de duas correntes
culturais que constituíram as sociedades costeiras da África Oriental, denominadas suaílis, – as das
populações locais e a dos muçulmanos vindos, sobretudo, da Arábia e da Pérsia. O veículo deste
processo foi o comércio, que facilitou a integração da costa africana oriental no sistema econômico
internacional.
Fonte: Machado, Pedro. Awash in a sea of cloth: Gujarat, Africa, and the Western Indian Ocean, 1300-1800. In:
Spinning World. Chapter 8.
No século XV, a presença do tecido de algodão já era dominante no “Chifre da África” e ao
longo da costa Suaíli. Já no século seguinte é clara a importância e o papel social, cultural e
político da manufatura indiana na costa. Tecidos de algodão do sul asiático tiveram um papel
importante no intercâmbio comercial do Oceano Índico devido aos seus preços acessíveis e à
eficiência de produção e distribuição deste mercado [3]. Diversas fontes mostram o uso do tecido
como moeda. A crescente demanda de marfim pela Índia permitiu o crescimento dos laços
comerciais entre as duas regiões, mantendo esse mercado indiano até o século XIX. Em troca do
marfim, os africanos orientais recebiam uma variedade de artigos manufaturados. Tais trocas
sustentavam as cidades fundadas ao longo da costa.
“De volta a Moçambique a relatar sua missão, Lourenço Marques entregou ao
capitão general grande numero de pontas de marfim de grande valor, compradas aos
habitantes das margens do Maputo e da Lagôa, a troco de contas de vidro e pedaços
de cobre. Então o capitão general, entusiasmado com a riqueza daquelas paragens
exploradas por Lourenço Marques, deu o nome deste ao Rio da Lagôa e logo no
começo da monção favorável, para lá mandou um navio com algodões e contaria para
permute de marfim com os cafres. Bem sucedida foi esta viagem, e por isso se repetiu
nos anos seguintes, passando a ser um costume observado ate 1692, o mandar à baia
da Lagôa um navio ao resgate de marfim.”
(Ferraz, pg.3/4)
Durante uma segunda fase de sua história, porém, o comércio da costa da África oriental
passou por uma reorientação, sem que se alterassem seus aspectos fundamentais: diversificou-se o
mercado de marfim, mas a economia não se libertou da dependência da troca de algumas matériasprimas por produtos manufaturados de luxo. Embora a exportação de escravos não constituísse
ainda um fluxo excessivamente grande, reduzia os recursos humanos, e pode ter tido influência na
produção econômica em certos lugares da África oriental antes do século XIX.
Quando da chegada dos portugueses no final do século XV, já existia um grande comércio na
região. Os portugueses já encontraram as populações locais fazendo uso de tecidos de algodão,
seda e linho. Também já existiam relatos do uso da “Capulana” pelas mulheres africanas. Mas, a
preferência e a demanda por tecidos importados aumentaram enormemente nos séculos XVII e
XVIII.
Fonte: Disponível em: http://www.girafamania.com.br/africano/materia_mocambique.html
Segundo Pedro Machado, até o século XVI existia uma forte “indústria” de tecelagem na
África Oriental. Tecidos eram fabricados em muitas cidades entre Mogadishu (Somália) no norte e
Sofala (Moçambique) no sul. Angoche, no norte de Moçambique, por exemplo, era conhecida por
tecer tecidos de algodão para a troca local e o comércio de longa distância. A partir de meados do
século XVII, a produção local começou a cair drasticamente e já no XVIII estava
consideravelmente reduzida [4]. No final deste século , a produção, o comércio e o uso de têxteis
em Moçambique já havia sofrido diversas mudanças, com a fixação de mercadores indianos e a
penetração e consumo de novos tecidos.
Com a intensificação da entrada de tecidos importados, sobretudo na segunda metade do
século XIX, a preferência por tecidos indianos aumentou ainda mais. A presença destes
comerciantes gerou uma dinâmica específica do comércio e do desenvolvimento do traje da mulher
moçambicana. Além disso, como parte da “missão civilizatória” portuguesa, a produção local de
tecidos foi desencorajada e se incentivou o uso de importados. Tecidos variados chegavam a
Angoche e eram levados para o Vale do Zambeze (Moçambique). Em Angoche, se têm relatos de
que o comércio entre o interior e o litoral ocorria em lojas de comércio geral, exploradas por
comerciantes asiáticos.
Como já foi mencionado, em Moçambique, onde a influência dos maometanos se fazia sentir
através dos sultanatos de Angoche e de Zanzibar (Tanzânia), as populações locais já
descaroçavam, fiavam, teciam e tingiam algodão [1]. Apesar da existência da produção local,
muitas vezes estes não correspondiam ao gosto feminino. De um modo geral, a mulher
moçambicana preferia usar tecidos importados. Estas escolhas tornaram-se parte integrante da
cultura moçambicana que, por sua vez, foi fortemente influenciada pelos modelos dos trajes
femininos e masculinos da Ásia no geral, e da Índia em particular. Como podemos notar, existe
uma complexa história de produção têxtil local no norte e sul do país sob impacto do novo
comércio.
Supõe-se que tenham sido os indianos os primeiros a cultivar o algodoeiro e a fazer o
descaroçamento mecanicamente, com aparelhos rudimentares, o que lhes permitiu tornar os tecidos
mais acessíveis. Documentos mostram que havia uma demanda para certos tipos de tecidos e cores
[1]. Tudo indica que os comerciantes da Índia adquiriam a tinta produzida localmente ou os
produtos moçambicanos que serviam para produzir a tinta. Os comerciantes levavam esta tinta
e/ou respectivos produtos e traziam de volta a Moçambique, tecidos coloridos com algumas das
cores que correspondiam exatamente às cores das tintas que se produziam localmente, isto é, preto
e vermelho. Isso mostra como os africanos da região tinham um papel ativo nessa produção e
comércio e não, simplesmente, aceitavam qualquer produto imposto pelos estrangeiros.
“A central argument is that demand was shaped by the local particularities of
African consumer tastes and, as such, dictated the varieties of textiles that entered the
East-Central and South-East African markets. Thus, far from being marginalized in
this commercial nexus, African consumers were able to negotiate the terms of trade
and their engagement in relations of exchange of which they formed an integral part.”
(Pedro Machado, Cloths of a New Fashion, pg.57)
Os estabelecimentos muçulmanos mantinham estreitas relações de comércio, culturais e
religiosas e estavam, muitas vezes, ligados por mútuos interesses e íntimas alianças. Os tecidos
eram usados como moeda de troca, mas, além do seu valor monetário, havia também um valor
simbólico, social e político. Até hoje tem grande importância simbólica nas relações sociais e de
gênero [7]. Podemos perceber a forte simbologia dos tecidos na sociedade moçambicana moderna
e como esses elementos materiais e culturais externos fazem hoje parte da cultura [7].
Para a sociedade moçambicana, o vestuário, em particular a roupa feminina, é mais do que
um simples processo de produção têxtil. O vestuário é uma maneira através da qual se manifesta o
nível de desenvolvimento sociocultural, a posição social e, por vezes, o estado de espírito do
indivíduo [5]. Paralelamente à penetração mercantil e à introdução de tecidos importados ao longo
dos séculos XVIII, XIX e XX, no norte e no sul, o casamento, por exemplo, sempre desempenhou
um papel preponderante no desenvolvimento do vestuário da mulher moçambicana. As mulheres
casadas desempenharam um papel fundamental na introdução do uso de tecido importado. Por
volta de 1930, nas províncias de Maputo, Gaza e Inhambane, um número significativo de mulheres
tinha acesso ao tecido importado. Diferentemente do norte, este fator deveu-se à influência do
trabalho migratório na África do Sul, que resultou na entrada massiva de vários tipos de tecidos no
sul de Moçambique [7].
Também como parte das influências dos hábitos indianos, surge a “capulana” que ao longo de
vários séculos, ganhou um lugar histórico e tradicional não só no vestuário feminino
moçambicano, mas sobretudo na cultura. A “capulana”, como é denominada em Moçambique, ou
“leso”, “pano” e “kanga”, em outros países mais ao norte do continente, é um têxtil de várias
dimensões, que pode ser de algodão, fibra sintética ou outro tipo de material. É um elemento do
vestuário característico das mulheres africanas, apesar de também usada pelos homens. As
mulheres sempre carregam com elas uma “capulana”, quer vestida, quer na bolsa ou no cesto. A
importância e o respeito por esses tecidos estão presentes em vários episódios da vida social. As
crianças de colo, são normalmente carregadas nas costas da mãe, presas numa “capulana”. É usada
como saia, lenço, xaile para proteger do frio, e até mesmo lençol. Em geral tem cores vivas e
símbolos da natureza, formas antropomórficas, zoomórficas e padrões geométricos variáveis.
Estampada com desenhos multicoloridos e trabalhada ao redor de toda a borda, a “capulana” pode
apresentar também mensagens escritas sob a forma de provérbio ou de metáfora [7]. Os tons
dominantes variam de região para região, assim como se diferenciam os temas que, muitas vezes,
contam histórias tradicionais e lembram datas comemorativas, assim como os padrões que veem se
modificando com os anos. Hoje, tal como no passado, é possível detectar toda uma imensidão de
mensagens codificadas nos padrões e dizeres destes tecidos.
Autoria: Raposo, Deborah. Moçambique, 2011.
“De acordo com Henri Junod, no início do século XX, os povos Ronga da região
da então Lourenço Marques, vestiam-se com pedaços de um tipo de tecido geralmente
liso, cujo material era espesso e conhecido pelo nome de kapulane (inglês) ou
capulana (português); segundo a descrição, “este tipo de tecido é amarrado ao redor
da cintura, de onde ele cai para formar uma espécie de saia.”
(Benigna Zimba, pg.34)
Apesar de existirem poucos relatos mais antigos, como este de Henri Junod, sobre a “capulana”
especificamente, é possível chegar à uma primeira conclusão de que os tecidos comercializados
nos circuitos do oceano Índico estudados nessa pesquisa eram o que hoje podemos entender como
“capulana”, guardadas as suas devidas transformações, como matéria-prima utilizada, forma de
produção e origem dos importados. É interessante notar que até hoje as “capulanas”, em sua
maioria, são importadas. Inicialmente impressas na Índia e depois na Europa, mais tarde chegaram
a ser produzidas na Tanzânia, em Moçambique e no Zimbabwe.
É importante chamar a atenção para o uso da “capulana” como um meio de comunicação
através de um complexo sistema de representações iconográficas. Estes tecidos contêm sentidos
escondidos, mensagens silenciosas sobre as identidades, as crenças e os valores da sociedade.
“Mais do que um simples retângulo de tecido estampado, a “capulana” é de fato um meio de
comunicação, usado em determinadas circunstancias para alcançar determinados objetivos” [5].
Uma análise mais atenta das diferentes culturas permite detectar que múltiplas são as formas a que
estas recorrem para construir a sua história. Para além da escrita, sociedades pintam, cantam,
dançam, esculpem a sua história, recorrendo a diferentes formas de comunicação, como no caso de
Moçambique, os tecidos.
Autoria: Raposo, Cristina. Moçambique, 2011.
Referências
1 – BRAVO, Nelson Saraiva. A cultura Algodoeira na economia do norte de Moçambique.
[S.l] : [s.n.], 1963.
2 – MACHADO, A. J. de Mello. Entre os Macuas de Angoche: historiando Moçambique. Lisboa : Prelo editora, 1970.
3 - MACHADO, Pedro. Cloths of a new fashion: Indian Ocean networks of Exchange and cloth
zones of contact in Africa and India in the eighteenth and nineteenth centuries. In: Giorgio Riello
and Tirthankar Roy (eds.). How India Clothed the World: The World of South Asian Textiles,
1500-1850 (Brill, 2009).
4 – MACHADO, Pedro. Awash in a sea of cloth: Gujarat, Africa, and the Western Indian Ocean,
1300-1800. In: Spinning World. Chapter 8.
5 – MENEZES, Maria Paula G. As Capulanas em Moçambique: decodificando mensagens,
procurando sentido nos tecidos. In: Garcia, Regina Leite (org.) Método. Métodos.
Contramétodos. SP: Cortez Editora, 2003.
6 – SHERIFF, Abdul. A costa da África oriental e seu papel no comércio marítimo. In: História
Geral da África II: África Antiga. Cap.22. Por Editor Gamal Mokhtar. Unesco, 2010.
7 – ZIMBA, Benigna. O papel da mulher no consumo de tecido importado no norte e no sul de
Moçambique, entre os finais do século XVIII e os meados do século XX. Cadernos de História
de Moçambique, 1, 2011.
8 – MATTOS, Regiane Augusto de. A dinâmica das relações entre as sociedades do norte de
Moçambique e as do Índico no século XIX. Projeto de pesquisa. PUC-Rio, 2013.
ANEXO 1
Exemplos de Fichamento da bibliografia
Fichamento 1
BRAVO, Nelson Saraiva. A evolução da cultura algodoeira 1940/1960. [S.l] : [s.n.], 1963.
Cap.I – O Algodoeiro
Cap. II – A importância do algodão no mundo
I - Resumo histórico
Pg.41
“Supõe-se que tenham sido os indianos os primeiros a cultivar o algodoeiro e a fazer o
descaroçamento mecânicamente, com aparelhos rudimentares denimonados ‘churka”, o que lhes
permitiu tornar os tecidos acessíveis a grande parte da população.”
Pg. 42
“Os arábes, quando tomaram o norte de África e invadiram a peninsula hispânica, já faziam largo
uso de tecidos de algodão. Cultivaram o algodoeiro no Egito, mais tarde na Argélia e, por fim, nas
regions de Sevilha e Granada, onde também fiaram e teceram. E assim pentrou na Europa a fibra
que havia de vestir o mundo e que os árabes designavam por al”kutum”ou “ketan”, donde derivam
as actuais palavras algodão, coton, cotone e cotton.”
“…, as cruzadas à Terra Santa proporcionaram contato entre os europeus de diversos países e os
muçulmanos, a quem aqueles começaram a comprar bons e bonitos tecidos de algodão conhecidos
por “indianas”.”
“o algodão era artigo de luxo.”
“Quando os Portugueses descobriram novos povos de África, verificaram que alguns destes,
sobretudo os da costa oriental, já cultivavam, fiavam e teciam o algodão, mas de modo incipiente,
sem tecidos de interesse para os comerciantes europeus, exceptuando um ou outro caso, como os
dos panos brancos de Sofala.”
Pg. 43
“Até 1580, senhores da navegação maritime para a Índia, os Portugueses tiveram em suas mãos
quase todo o comercio das ‘indianas’ e do algodão para a Europa.”
Importância do algodão no espaço econômico Português.
I – Antecedentes
Pg.59
“Na gloriosa época dos descobrimentos, os Portugueses verificaram a existência de algodoeiros
nalgumas regions costeiras da África e do Brasil. Os indigenas, sobretudo os de Moçambique,
onde influência dos maometanos se fazia sentir através dos sultanatos de Angoche e de Zamzibar,
já descaroçavam, fiavam, teciam e tingiam algodão, embora por processos rudimentares.”
“…algodão, que chegou a funcionar como moeda de troca por mantimentos e escravos,…”
Pg.60
“…levaram sementes de uma para outras regions. Em África os resultados obtidos foram fracos.”
“Em 1770 Baltazar Pereira do Lago tornou obrigatória aquela cultura em algumas regions da
actual provincial de Moçambique.”
“Mas o tratado celebrado com a Inglaterra em 1810, devido a proteção que conferiu os produtos
daquele país, não tornou possível o desenvolvimento da industria textile nacional.”
Pg.61
“1. O decreto número 11994, de 28 de Julho de 1926, promoveu, à semelhança do que se havia
feito noutros países coloniais, o fomento da cultura do algodão nas colônias portuguesas, mediante
o estabelecimento de zonas de ação de fábricas,…”
O algodão: produção e seu destino
Pg.63
“Angola e Moçambique são as unicas províncias portuguesas onde se cultiva o algodoeiro e se
produz algodão em rama à escala commercial.”
Pg.64
“Quase todo o algodão em rama produzido em territorio nacional, ou seja em Angola e
Moçambique, é consumido pela industria textile metropolitana.”
Cap.III – Importância do algodão no espaço economico português
Cap.IV – Importância do Algodão em Moçambique
III – Na industria
Pg.224
“O sensível aumento do poder de compra dos indigenas, proporcionado pela cultura algodoeira,
provocou um aumento de vendas pelo comercio. Alguns dos artigos vendidos foram fabricados por
industrias da provincia, como sal, sabão, oleo de amandoim e de algodão, açucar, cigarros, alguns
tecidos, etc.”
IV – No Comércio
Pg. 225
“Antes da expansão da cultura algodoeira, o comercio do Norte de Moçambique era muito fraco.
Fornecia os artigos necessarios à vida do pequeno numero de habitantes civilizados, comprava
produtos aos indigenas e vendia-lhes alguns panos…”
Pg.233
“Os indigenas do litoral, principalmente as mulheres de Chinde, Quelimane, Angoche, Mossuril,
Ibo e Mocímboa da Praia, já tinham o hábito de se vestir.”
“Mas o do interior, na sua quase totalidade, andavam seminus. Apenas uma tanga, geralmente feita
de uma casca de árvore, lhes tapavam as partes sexuais, por pudor.”
Pg.237
“O dinheiro da produção algodoeira elevou sensívelmente o nível de vida dos indigenas,
proporcionando-lhes o integral pagamento do imposto. A compra de mais vestuario, utensilios
domesticos e outros…”
Pg.238
“Criação de novas necessidades economicas. Hoje não se vê ninguem com tanga de casca de
árvore e todos têm algum vestuario de tecidos de algodão.”
Conclusão
Conclusões relativas à economia
Pg.246
“A produção algodoeira do norte de Moçambique contriubui altamente para a solidez da economia
nacional, não só pela garantia do fornecimento de grande parte da materia-prima indispensavel à
normal laboração da industria textile, como também por ter evitado a saida de diversos
extrangeiros correspondents a um montante de milhões de contos, desde 1940 até agora.”
“A metropole foi especialmente beneficiada, por estar aqui quase toda a industria textile e a esta ter
sido concedida uma notavel proteção estatal com vista à sua modernização, de modo a poder vir a
competir com a industria similar extrangeira.”
Pg.248
“A cultura algodoeira foi, de todas as actividades produtoras, industriais ou agricolas, a que mais
impulsionou o progresso economico do norte de Moçambique.
Fichamento 2
MACHADO, A. J. De Mello. Entre os Macuas de Angoche: historiando Moçambique / A. J.
De Mello Machado. - ED. IL. . - Lisboa : Prelo editora, 1970
I – As Terras
II – As Gentes
III – As Línguas
IV – Os Costumes
Actividades Habituais
“O vestuário é rudimentar entre as populações pagãs mais primitivas. Mas no litoral, sobretudo nas
áreas de António Enes e Moma, as mulheres vestem com imenso gosto e colorido, enfeitando-se
com lenços berrantes e adornos delicados e de bom gosto, Surpreende o visitante a beleza dos
trajos, a garridice e colorido das “capulanas”, o aspecto airoso e agradável da apresentação
feminina. Muito alegres e joviais, buliçosas e expeditas, as gentes do litoral emprestam um ar
cativante e festivo a qualquer povoado.”
(Pg.220 – 5 paragrafo)
V – As Religiões
VI – A História
2 Período – Domínio Muçulmano
(Desde o estabelecimento dos muçulmanos até a ocupação portuguesa)
“Os estabelecimentos muçulmanos mantinham entre si estreitas relações de comércio, cultura e
religião e estavam, não poucas vezes, ligados por mútuos interesses e íntimas alianças.”
(Pg.367 – 4 paragrafo)
“...’encontrou Vasco da Gama os nativos vestindo tecidos de algodão, sedas e linho, produtos do
comércio mouro.”
(Pg.368 – 1 paragrafo)
VII – Demorafia/Povoamento/Povoações/Comunicações
Efectivos demográficos
“A populacão de Angoche – considerando Angoche a região definida no início desta monografia,
ou seja, o território formado pelos concelhos de António Enes e Moma e suas dependências
administrativas, e pelos postos de Quinga e Liúpo da circunscrição de Mogincual – é constituída
por autóctones africanos, por europeus, asiáticos e mistos.
A população europeia é quase exclusivamente formada por Portugueses brancos, sendo muito
reduzido o número de estrangeiros (alemães e suíços).
A população asiática é constituída por indivíduos de origem Indiana ou paquistanesa e por indoportugueses. Não há chineses. Os indo-asiáticos dedicam-se quase exclusivamente ao comercio e
negócios de transacção, e professam as religiões hindu (baneanes), ismaelita (codjás) ou
maometana (memanes). Os indo-portugueses são católicos na sua generalidade, repartindo as suas
actividades pelo comercio, funcionalismo e profissões liberais.
Os mistos são quase todos mulatos, havendo caboverdianos e não poucos hindo-africanos.”
(Pg. 545/546)
VIII – Aspectos Económicos
Silvicultura
“A prospecção florestal do território está ainda por fazer; mas as matas oferecem numerosos
produtos de interesse industrial, tornando necessário o seu estudo em termos de rentabilidade
económica. Como já sabemos existem excelentes madeiras, algumas de grande valor. Os nativos
extraem, fibras têxteis de diversas árvores, sobretudo acácias; também das acácias se colhem
diversas gomas e do Trachylobium, o Copal; são numerosas as espécies de casca taninosa, com
aproveitamento no fabrica de medicamentos e nos costumes; o Pterocarpus produz o quino; de
Albizias e Acácias pode extrair-se saponina.”
(Pg.600/601 – ultimo e primeiro paragrafo respectivamente)
Industrias
“As actividades industriais existentes em Angoche, território de economia agraria, estão ligadas à
produção agrícola. Além destas, e somente nos dois núcleos populacionais de maior projecção (
António Enes e Moma), se podem considerar actividades de carácter industrial, com finalidades de
manutenção (pesca, panificação, etc.). É pois muito baixo o desenvolvimento industrial.
No sector agrícola, as matérias-primas produzidas, são suporte das industrias montadas nas
grandes plantações, que dispõem de maquinaria e equipamentos destinados a preparação e
aproveitamento do produto bruto. Podemos classificar essas matérias-primas em:
Têxteis – copra, sisal, algodão e sumaúma.
…”
(pg.602 – 3 paragrafo)
“Entre as populações nativas, nenhuma das suas actividades se constituiu em indústria, pois, para
tanto, lhe faltavam valores de produção, em quantidade e continuidade, que lhe confiram
importância significativa. Não obstante, o artesanato é notável e merece referência: esteiras e
cerâmica para uso pessoal; cordoaria de fibras vegetais; carpintaria; produzem por encomenda,
como sejam os ferreiros que forjam pontas de zagaias, enxadas e cutelos; os esteireiros lomués
produzindo esteiras de caniço (mucois) e alguns entalhadores que se dedicam à confecção de
arcas.”
(pg.603 – 2 paragrafo)
Comercio
“O comercio praticado pelos nativos caracteriza-se fundamentalmente pela permute de géneros
alimentares, embora se intensifiquem e generalizem, hoje em dia, as transações a dinheiro.
O pescador do litoral, seca e salga o peixe que vai trocar por produtos agrícolas do interior. Nas
lojas do mato, os nativos entregam, à permute por panos e artigos de uso domestico, os produtos
das suas lavras ou da recolha Silvestre, como sejam peles, cera e mel, mas em muitas localidades
já se habituaram a regateá-los por moedas.”
“Excluída a vila de António Enes com numerosos estabelecimentos comerciais, todo o comércio
efectuado no mato e áreas rurais é feito através de lojas e cantinas, que se dedicam ao comércio
geral, transaccionando produtos necessários à manutenção dos nativos, sendo os mais procurados
os panos, lanternas, chapéus, géneros alimentícios preparados (farinha conservas, bebidas), tabaco,
bicicletas, contas, colares, artigos de higiene (sabonetes, pastas, loções). Grandes números dessas
lojas são exploradas por comerciantes asiáticos; as plantações dispõem igualmente de cantinas,
destinadas a prover às necessidades das massas de trabalhadores nelas empregados.”
(Pg.606 – 7 paragrafo.)
IX – Aspectos Sociais
X – Apêndices
ANEXO 2
Exemplo de fichamento de fontes
Fichamento 3
FERRAZ, Guilherme Ivens. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques ao
Bazaruto / Guilherme Ivens Ferraz . - Lisboa : Tipografia Universal, 1902.
LOURENÇO MARQUES
“De volta a Moçambique a relatar sua missão, Lourenço Marques entregou ao capitão general
grande numero de pontas de marfim de grande valor, compradas aos habitantes das margens do
Maputo e do Lagôa, a troco de contas de vidro e pedaços de cobre. Então o capitão general,
entusiasmado com a riqueza daquelas paragens exploradas por Lourenço Marques, deu o nome
deste ao Rio da Lagôa e logo no começo da monção favorável, para lá mandou um navio com
algodoes e contaria para permute de marfim com os cafres.
Bem sucedida foi esta viagem, e por isso se repetiu nos anos seguintes, passando a ser um costume
observado ate 1692, o mandar à baia da Lagôa um navio ao resgate de marfim.” (pg.3/4)
“A vila ou presidio (como os pretos antigos chamam a Lourenço Marques) contava, em 1868, para
cima de cem edifícios de pedra e cal, dispostos em três ruas, com cerca de seiscentos metros de
comprido, e, além de muitos negociantes asiáticos ali estabelecidos, havia algumas casas
portuguesas, duas feitorias francesas e uma alemã, contribuindo utilmente para o desenvolvimento
da colônia.
As principais vias de comunicação com o sertão eram os rios que desaguam na baia, percorridos
pelas embarcações dos negociantes asiáticos, que iam a grande distancia, comprar, a troco de
artigos da Europa e da Índia, mendobi, urzella, cêra, couros e marfim, que depois vendiam às
feitorias do presidio, os quais exportavam esses produtos em navios de vela, pangaios e nos vapor
da Union Line da carreira do Natal a Zanzibar, que tocavam em Lourenço Marques quando lhes
convinha.
As comunicações com o Transvaal eram feitas pelos caminhos do vale do Umbeluzi, pelo rio
Tembe até o seu primeiro vau ( Porto Henrique), e dai, pela Estrada de Swazilandia, e
principalmente por uma Estrada que, partindo do presidio, atravessava o rio da Matolla, seguindo
na planície entre os Pequenos e Grandes Libombos, que atravessava na portela de Imbomputo,
continuando depois em território da já florescente da Republica Sul Africana até Lydenburgo.”
(pg. 5)
“Do desenvolvimento comercial resultou evidentemente o desenvolvimento da cidade que, em
1895, com o empedramento das ruas e distribuição d’agua nos pontos elevados, se afastou da parte
baixa e insalubre para os altos de Machaquene e da Ponta Vermelha, onde se edificaram muitas
casas elegantes e confortáveis.” (pg.7)
Paginas de 8 à 30 sem informação relevante para a pesquisa, descrição cartográfica.
“Meios de descarga. Sendo Lourenço Marques um entreposto comercial em concorrência
com os portos das colônias inglesas na África do Sul, parece que de ha muito se deveria ter
atendido à necessidade de facilitar o mais possível os meios de descarga, condição essencial para
atrair a navegação ao porto.” (pg.31)
“Pelo Caminho de Ferro ha comunicações com Pretoria, Johanesburgo e Barbertonn, e dai
com os portos das colônias inglesas.”(pg.35)
COSTA DA CALANGA
“O comercio é exercido por europeus e mais ainda por asiáticos, que, recendo as suas
mercadorias pelo rio Limpopo no Chai-Chai, as espalham por todo o distrito e parte do de
Inhambane, quer em embarcações que sobem os rios e seus afluentes, quer, pelas estradas, às
costas dos pretos ou em carretas.”(pg.39)
Paginas 40 à 56 sem informação relevante para a pesquisa, descrição cartográfica.
ARQUIPELAGO DO BAZARUTO
“Comunicações e comercio. As ilhas de Bazaruto, especialmente a de Santa Carolina, tiveram por
meio de lanchas à vela, comunicações frequentes com o continente fronteiro, com o porto de
Mafomene (hoje Bartolomeu dias) até com Chiloane, Sofala e Beira.
Perto do Cabo de S. Sebastião ha um desembarcadouro, d’onde seguia antigamente um correio por
terra para Inhambane, e a W. de Santa Carolina, nas terras de chicacha, ha também um
desembarcadouro, d’onde ainda hoje parte por terra um correio para Chiloane, quando ha
necessidade.
Desde que este arquipélago pertence à companhia, são poucos os negociantes ali estabelecidos.
Antigamente, principalmente na época da pesca das perolas, havia em Bazaruto muitos
negociantes asiáticos, sendo o principal comercio a permute de pólvoras, armas e enxadas por
perolas e aljofares.
Também iam os negociantes comprar no continente fronteiro, a troco de fazendas da Europa e da
Índia, gergelim, mendobi, urzella, cêra e marfim, e etc.
No rôlo da praia, na costa de for a de Bazaruto, apanhavam as vezes, os pretos âmbar pardo, de
ótima qualidade, mas essa indústria também desapareceu por ser exclusive da Companhia.” (pg.57)
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Deborah Santana Raposo de Rezende - PUC-Rio