UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E
HOTELARIA – MESTRADO ACADEMICO
MINTER / UNIVALI / UNINORTE
O TURISMO A PARTIR DA REQUALIFICAÇÃO DA PAISAGEM
LOCAL DE MANAUS/AM:
ESTUDO DE CASO CENTRO CULTURAL LARGO DO SÃO
SEBASTIÃO E SEU ENTORNO
Balneário Camboriú - SC
2012
ANDRESSA MARIA CRUZ DOS SANTOS
O TURISMO A PARTIR DA REQUALIFICAÇÃO DA PAISAGEM
LOCAL DE MANAUS/AM:
ESTUDO DE CASO CENTRO CULTURAL LARGO DO SÃO
SEBASTIÃO E SEU ENTORNO
Dissertação apresentada como requisito
para obtenção do título de mestre do Programa
de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria
da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Educação Balneário Camboriú.
Orientadora: Prof.ª Drª Josildete Pereira de
Oliveira.
Balneário Camboriú - SC
2012
ANDRESSA MARIA CRUZ DOS SANTOS
O TURISMO A PARTIR DA REQUALIFICAÇÃO DA PAISAGEM
LOCAL DE MANAUS/AM:
ESTUDO DE CASO CENTRO CULTURAL LARGO DO SÃO
SEBASTIÃO E SEU ENTORNO
Proposta de pesquisa apresentada à banca examinadora abaixo em defesa no
Programa de Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria pela
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI / MINTER / UNINORTE.
Área de Concentração: Planejamento e Gestão do Turismo e Hotelaria
Balneário Camboriú, 30 de outubro de 2012.
Aos meus amores incondicionais:
André Bernardo, Maria da Luz e Moysés Israel.
DEDICO.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pela dádiva da existência e a oportunidade
de trilhar um caminho repleto de experiências, ensinamentos e amizades.
Ao Raimundo Maramaldo, no coração e nas doces lembranças, e à
matriarca amada Elza Cruz, pelo começo de tudo isso!
À minha mãe, mulher guerreira, que sozinha criou seus cinco filhos
preparando-os para a vida!
Ao meu filho amado, André Bernardo que, enquanto dedicava-me a este
trabalho, precisou ouvir diversas vezes: filho, hoje mamãe não pode!
Ao meu companheiro, incentivador incansável da busca de conhecimentos e
amigo sem igual.
Aos meus familiares que, nos encontros tradicionais, enviavam sempre a
mensagem: mana, estou comendo (ou bebendo) esse aqui por você!
À minha orientadora Josildete Oliveira pelas sábias contribuições tanto em
termos técnicos referentes a esta dissertação quanto pelo exemplo de pessoa.
Aos meus colegas de trabalho - UNINORTE, UFAM e FUCAPI - que
contribuíram com informações, referências e motivações.
Aos meus colegas, amigos e manos do MINTER por cada momento, cada
viagem, cada aventura de voo, cada encontro informal, cada “frio na barriga”, cada
angústia por resultados e cada laço de amizade consolidado. E, na oportunidade,
parabenizo a família UNIVALI pela presteza e qualidade nos serviços oferecidos.
Aos meus alunos e minhas sobrinhas que participaram das pesquisas, em
especial: Raquel, Lícia, Sérgio, Nathália e Mônica. E aos demais que sempre
procuraram saber do andamento desta destinando palavras de apoio e incentivo.
À Secretaria de Estado de Cultura (SEC-AM), ao IPHAN na pessoa de
Márcia Honda pelas imagens e sábias contribuições, à Igreja de São Sebastião e
aos moradores do entorno do CCLSS que contribuíram com dados e relatos para
o desenvolvimento desta.
Esse mérito também é de vocês! Orgulhem-se!
Andressa Maria Cruz dos Santos.
RESUMO
Partindo da prerrogativa de que a paisagem edificada apresenta a capacidade de
atrair visitantes e promover destinos, o presente trabalho propõe-se a analisar a
paisagem edificada, do CCLSS - Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu
entorno, como consequência do processo de requalificação. Em um primeiro
momento, apresenta-se a temática conceitual subjacente para sustentação da
pesquisa direcionando os estudos em busca dos resultados que se propõem.
Iniciando com um panorama do turismo e o estudo da paisagem – por ser o primeiro
contato que o turista tem com o seu local visitado; em seguida com Patrimônio
Cultural tentando alocar alguns conceitos que surgiram ao longo de sua trajetória,
para então concluir com sua referência dentro do contexto turístico. Em um segundo
momento, aplica-se a metodologia estudo de caso, caracterizada em uma pesquisa
qualitativa, tendo como objeto de estudo o Centro Cultural Largo de São Sebastião
e seu entorno. As ferramentas - coleta de dados secundários, aplicação de
questionários e entrevistas semiestruturas foram adotadas com o objetivo de
compreender as implicações da requalificação da paisagem no contexto do turismo.
Como resultado, percebe-se que a preocupação em oferecer atividades culturais e
de lazer com frequência faz parte do planejamento de manutenção como
consequência de um dos objetivos que foi proposto ao CCLSS e seu entorno – o
turismo. Porém, a requalificação inebria os visitantes com o que lhes é aparente e o
espaço imaginário retido em suas memórias é de uma realidade artificial, uma vez
que desconhecem a constituição de suportes dessa nova memória e não possuem
informações adequadas à dissociação do original ao reproduzido devido a
homogeneidade arquitetônica. Sendo assim, um modelo de gestão direcionado à
formatação específica do CCLSS e seu entorno e o desenvolvimento de um material
promocional que divulgue como o processo de requalificação foi idealizado e
desenvolvido são, além do conhecimento científico sobre essa paisagem, sugestões
dessa pesquisa.
Palavras-chave: Paisagem Urbana; Requalificação; Patrimônio Histórico; Centro
Cultural Largo de São Sebastião.
ABSTRACT
Based on the prerogative that the built landscape has the capacity to attract visitors
and promote destinations, this work analyzes the built landscape of the CCLSS Largo de São Sebastião Culture Center, and its surrounding area, as a consequence
of the process of requalification. First, it presents the underlying contextual theme, to
support the research, guiding the studies in search of the proposed results. It starts
with a panorama of tourism and the study of landscape – as the first contact the
tourist has with the place visited; next, it addresses the Cultural Heritage, seeking to
assign some concepts that emerge during its trajectory, before concluding with its
reference within the context of tourism. Secondly, it applies the case study
methodology, characterized as qualitative research, taking as its object of study the
Largo de São Sebastião cultural Center and the surrounding area. The tools –
collection of secondary data, application of questionnaires and semistructured
interviews were adopted in an attempt to understand the implications of the
requalification of the landscape in the context of tourism. As a result, it is seen that
the concern to offer cultural and leisure activities often form part of the planning of
maintenance as a consequence of one of the objectives proposed for the CCLSS
and its surrounding area – tourism. However, the requalification captivates visitors
by what they see, and the imaginary space retained in their memories is an artificial
reality, as they are not aware of the constitution of supports of this new memory, and
do not have appropriate information to disassociate the original from what is
reproduced, due to the architectural homogeneity. Thus, a model of management
directed towards the specific formatting of the CCLSS and its surrounding area, and
the development of a promotional material that divulges how the process of
requalification was conceived are, along with a scientific knowledge of this
landscape, suggestions of this research.
Keywords: Urban Landscape; Requalification; Historical Heritage; Largo de São
Sebastião Cultural Center.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Estrutura da pesquisa – metodologia.............................................. 40
Figura 02: Área de influência do projeto .........................................................
43
Figura 03: Localização Geográfica do Município de Manaus .........................
47
Figura 04: Planta da Cidade de Manaus ......................................................... 48
Figura 05: Anúncio publicitário do século XX em Manaus – 1 ........................
53
Figura 06: Anúncio publicitário do século XX em Manaus – 2 ........................
53
Figura 07: Anúncio publicitário do século XX em Manaus – 3 ........................
53
Figura 08: Imagem da cidade flutuante – Manaus ..........................................
56
Figura 09: Expansão territorial no ano de 1915 ..............................................
57
Figura 10: Expansão territorial no ano de 1968 ..............................................
57
Figura 11: Centro de Manaus em consequência da Zona Franca ..................
58
Figura 12: Projeto Casa das Sete ...................................................................
62
Figura 13: Área de abrangência do CCLSS e seu entorno ............................. 63
Figura 14: Monumento comemorativo – panorama do LSS. ..........................
66
Figura 15: Monumento em homenagem à abertura dos portos ......................
68
Figura 16: Detalhe da fachada do Teatro Amazonas ...................................... 71
Figura 17: Teatro Amazonas – detalhes internos. ..........................................
72
Figura 18: Palácio da Justiça em 1898 ...........................................................
73
Figura 19: Palácio da Justiça em 2011 ...........................................................
74
Figura 20: Casa das Artes ............................................................................... 75
Figura 21: Casa Ivete Ibiapina ........................................................................
76
Figura 22: Casa J. G. Araújo ........................................................................... 77
Figura 23: Galeria do Largo ............................................................................
78
Figura 24: Área de abrangência do Projeto – vista aérea ............................... 80
Figura 25: As intenções adotadas pelo projeto ...............................................
81
Figura 26: Proposta de restauro da Rua Dez de Julho - 1ª quadra ................
81
Figura 27: Proposta de restauro da Rua Dez de Julho - 2ª quadra ................
82
Figura 28: Intervenção no imóvel nº 451 – antes da restauração ................... 82
Figura 29: Intervenção no imóvel nº 451 – depois da restauração .................
82
Figura 30: Igreja de São Sebastião – dia ........................................................
83
Figura 31: Igreja de São Sebastião – noite ....................................................
83
Figura 32: Proposta de restauro da Rua Costa Azevedo ................................ 83
Figura 33: Fotomontagem – casas geminadas da Rua Costa Azevedo .........
84
Figura 34: Fachadas anteriores e após a intervenção ....................................
84
Figura 35: Fachada anterior ............................................................................
85
Figura 36: Detalhe da fachada ........................................................................
85
Figura 37: Vista da fachada atual .................................................................... 85
Figura 38: Fachadas da Rua Costa Azevedo – anteriores e atuais ................ 85
Figura 39: Proposta de intervenção para Rua José Clemente .......................
86
Figura 40: Estacionamento presente – anterior à requalificação ....................
86
Figura 41: Rua José Clemente – vista aérea ..................................................
87
Figura 42: Rua José Clemente – paginação de piso .....................................
87
Figura 43: Imóvel nº 634 – aspecto original ....................................................
88
Figura 44: Imóvel nº 634 – no início do projeto .............................................. 88
Figura 45: Imóvel nº 634 – obra de reconstituição ......................................... 88
Figura 46: Imóvel nº 634 – reconstituído ........................................................ 89
Figura 47: Imóvel Editora do Brasil – fachada original .................................... 90
Figura 48: Imóvel Editora do Brasil – fachada modificada ..............................
90
Figura 49: Imóvel Editora do Brasil – fachada modelo .................................... 90
Figura 50: Imóvel Editora do Brasil – fachada reconstituída ........................... 90
Figura 51: Detalhe do imóvel da área – fachada original ................................ 91
Figura 52: Detalhe do imóvel da área – fachada modificada ..........................
91
Figura 53: Prospecção da argamassa durante reconstituição da fachada .....
91
Figura 54: Imóvel atual .................................................................................... 92
Figura 55: Habitação atualmente em obra ......................................................
104
Figura 56: Imóvel com arquitetura original intacta ..........................................
105
Figura 57: Solo Plano ...................................................................................... 105
Figura 58: Detalhe da escadaria do TA - aproveitamento do terreno ............
105
Figura 59: Detalhe da Rua Dez de Julho .......................................................
107
Figura 60: Detalhe da Avenida Eduardo Ribeiro ..........................................
107
Figura 61: Tipos de pavimento presentes no CCLSS e seu entorno..............
107
Figura 62: Detalhe das árvores que circundam a Praça São Sebastião ........
110
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01:
Público do Teatro Amazonas de 2001 a 2004..............................
111
Gráfico 02:
Atividades culturais no Teatro Amazonas de 2001 a 2004...........
112
Gráfico 03:
Comparativo de público: TA (2001) e CCLSS (2010)...................
113
Gráfico 04:
Registro de visitantes do CCLSS em 2011...................................
114
Gráfico 05:
Turistas do CCLSS e seu entorno – sexo masculino....................
117
Gráfico 06:
Turistas do CCLSS e seu entorno – sexo feminino....................... 117
Gráfico 07:
Origem dos turistas do CCLSS e seu entorno..............................
117
Gráfico 08:
Turistas do CCLSS e seu entorno – escolaridade........................
117
Gráfico 09:
Turistas do CCLSS e seu entorno – faixa de renda......................
117
Gráfico 10:
Turistas do CCLSS e seu entorno – razões da viagem................
117
Gráfico 11
Turistas que já conheciam Manaus............................................... 117
LISTA DE QUADROS
Quadro 01:
Tipos de espaços segundo Boullón
23
Quadro 02:
Síntese das tipologias do espaço
24
Quadro 03:
Síntese dos elementos do espaço
26
Quadro 04:
Variáveis que determinam a paisagem urbana
31
Quadro 05:
Síntese dos bens tombados no Município de Manaus
37
Quadro 06:
Protocolo de Estudo de Caso – CCLSS e seu entorno
42
Quadro 07:
Obras publicadas no jornal A Federação
52
Quadro 08:
Análise de autores aceca do declínio da borracha
55
Quadro 09:
Quadro de Critérios de escolha do objeto de estudo
63
Quadro 10:
Composição do CCLSS
70
Quadro 11:
Serviços oferecidos pela cada das artes
76
Quadro 12:
Atual do CCLSS - pavimentação
93
Quadro 13:
Atual do CCLSS - estrutura
94
Quadro 14:
Atual do CCLSS – cores e elementos plásticos
95
Quadro 15:
Atual do CCLSS – sinalização e entretenimento
96
Quadro 16:
Análise da paisagem – tipo de urbanização
101
Quadro 17:
Análise da paisagem – tipo de urbanização e demais variáveis
102
Quadro 18:
Análise da paisagem – nível socioeconômico.
103
Quadro 19:
Análise da paisagem – estilo arquitetônico
106
Quadro 20:
Análise da paisagem – tipo de rua e tipo de árvore
108
Quadro 21:
Análise da paisagem – pavimento
109
Quadro 22:
Síntese de questionários aplicados e respondidos
115
Quadro 23:
CCLSS e seu entorno – análise de turistas
117
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CCLSS
Centro Cultural Largo de São Sebastião
DEA
Organização dos Estados Americanos
EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo
FAB
Força Aérea Brasileira
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IGHA
Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas
INPE
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
IPHAN
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
IPTU
Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
MISAM
Museu da Imagem e do Som do Amazonas
OMT
Organização Mundial do Turismo
OTCA
Organização do tratado de Cooperação Amazônica.
PIB
Produto Interno Bruto
SEAP
Secretaria Especial de Agricultura e Pesca.
SEBRAE
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SEC – AM
Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas
SENAI
Serviço Nacional da Indústria.
SUFRAMA
Superintendência da Zonas Franca de Manaus.
UEA
Universidade do Estado do Amazonas
UFAM
Universidade Federal do Amazonas.
UFSC
Universidade Federal de Santa Catarina.
UNINORTE
Centro Universitário do Norte.
UNIVALI
Universidade do Vale do Itajaí.
URBAM
Empresa Municipal de Urbanização.
WTTC
World Travel & Tourism Council
ZFM
Zona Franca de Manaus.
14
Sumário
1.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 19
1.1
Contextualização do tema ......................................................................................... 19
1.2
Definição do Problema de Pesquisa.......................................................................... 22
1.3
Objetivos ................................................................................................................... 23
1.3.1 Objetivo Geral ........................................................................................................... 23
1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................................................ 23
2.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 24
2.1
Turismo ..................................................................................................................... 24
2.2
Turismo Cultural ........................................................................................................ 26
2.3
Espaço Turístico Urbano ........................................................................................... 27
2.4
Paisagem turística ..................................................................................................... 33
2.5
Patrimônio (monumentos) Histórico Cultural edificado no contexto do turismo.......... 37
3.
METODOLOGIA ....................................................................................................... 44
3.1
Tipo de pesquisa e procedimento de coleta de dados ............................................... 44
3.2
Procedimento de análise de dados ........................................................................... 49
4.
CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DE MANAUS ................................... 51
4.1.
Caracterização geográfica......................................................................................... 51
4.2.
Caracterização Histórica ........................................................................................... 54
4.3.
Caracterização socioeconômica e sociocultural ........................................................ 63
4.4.
Estudo de Caso – Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu Entorno ............... 66
5.
RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................. 70
5.1.
Processo Histórico do CCLSS e seu entorno. ........................................................... 70
5.1.1. Teatro Amazonas ...................................................................................................... 74
5.1.2. Palácio da Justiça ..................................................................................................... 75
5.1.3. Casa das Artes.......................................................................................................... 77
5.1.4. Casa Ivete Ibiapina ................................................................................................... 78
5.1.5. Casa J. G. Araújo ...................................................................................................... 79
5.1.6. Galeria do Largo ....................................................................................................... 80
5.2.
Processo de Requalificação do CCLSS e seu entorno como resgate histórico ......... 80
5.3.
Mapeamento da configuração atual da paisagem ................................................... 100
5.3.1. Tipo de Urbanização ............................................................................................... 102
5.3.2. Nível Socioeconômico ............................................................................................. 102
5.3.3. Estilo Arquitetônico ................................................................................................. 106
5.3.4. Topografia ............................................................................................................... 107
15
5.3.5. Tipo de Rua ............................................................................................................ 110
5.3.6. Tipo de Pavimento .................................................................................................. 110
5.3.7. Tipo de Árvore......................................................................................................... 113
5.4. Implicações da requalificação urbana do CCLSS e seu entorno no contexto do
turismo. .............................................................................................................................. 113
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 124
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 129
APÊNDICES ...................................................................................................................... 138
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOS TURISTAS ................................................................. 139
APÊNDICE B – ENTREVISTA POR DOMICÍLIO: DOCUMENTOS E ROTEIRO ............... 141
APÊNDICE C – ENTREVISTA COM GESTORES: ROTEIRO e DOCUMENTOS. ............ 143
ANEXOS ........................................................................................................................... 144
ANEXO A – SÍNTESE DO PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DA SEC-AM ........................ 145
ANEXO B – CARTA DE APRESENTAÇÃO VIA UNIVALI.................................................. 148
ANEXO C – AUTORIZAÇÕES MORADORES................................................................... 149
ANEXO D – E-MAIL MARCANDO REUNIÃO COM SEC-AM ............................................ 151
ANEXO E – E-MAIL INFORMATIVO SOBRE SOLICITAÇÕES À SEC-AM. ..................... 152
ANEXO F – DADOS ESTATÍSTICOS TA E CCLSS. ......................................................... 153
ANEXO G - MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS - CCLSS................................ 160
16
................ 158
17
............ 159
ANEXO G – MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS – CCLSS. ............................. 160
18
19
1.
INTRODUÇÃO
O objetivo deste capítulo é apresentar ao leitor o universo envolvido pelo
tema proposto através da contextualização do recorte temático usado para embasar
a análise do turismo como consequência da requalificação da paisagem urbana que,
por sua vez, está direcionado pelo problema de pesquisa.
1.1 Contextualização do tema
As motivações para viajar crescem em paralelo à diversificação de destinos,
ao rendimento disponível e aos mercados emergentes e tradicionais que, por sua
vez, são acompanhadas pelas mudanças tecnológicas, sociais e demográficas. Tais
motivações e o consecutivo ato de viajar estimulam a melhoria da qualidade de vida
das
pessoas
e
impactam
no
desenvolvimento
da
economia
mundial
e,
principalmente na economia brasileira (CARVÃO, 2008; STOCK, 2009). Esta
informação é evidenciada por dados estatísticos que, de acordo com a OMT (2011),
as chegadas de turistas internacionais cresceram num ritmo anual de 6,2% onde, de
1950 a 2010 houve o aumento expressivo de 25 para 940 milhões de turistas. E
ainda, cerca de 10% (US$ 700 bilhões) do produto interno bruto – PIB é gerado por
este segmento econômico e mobiliza 12% dos investimentos do globo terrestre e
ainda é responsável pela geração de 6% a 7% de empregos (diretos e indiretos) em
todo o mundo.
De acordo com os dados do Ministério do Turismo (2011), o Brasil recebeu
em 2010 algo em torno de 5,1 milhões de turistas estrangeiros, o que representa um
crescimento de cerca de 6,3% sobre o total de 2009, e aproximadamente 2% a mais
do que nos anos de 2007 e 2008. As receitas dos hotéis apresentam significativo
crescimento de cerca de 13% e o Lucro Operacional Bruto um crescimento de 28%.
O desenvolvimento em questão é observado também nas altas taxas de crescimento
da demanda pelo transporte aéreo que, segundo Bessa e Batista (2010), o
desenvolvimento da aviação comercial pode ser considerado tanto causa quanto
efeito da expansão turística e considera o aeroporto como “catalisador, integrador e
multiplicador” da indústria do turismo, havendo uma integração que contribui com a
demanda turística nacional e internacional. O Aeroporto Internacional Eduardo
Gomes opera atualmente com capacidade de 2,5 milhões de passageiros anuais e,
20
por entender a importância deste modal ao turismo e, consequentemente, para o
desenvolvimento local, está modernizando e ampliando suas instalações com a
meta de 5 milhões de passageiros anuais. Essa ampliação é uma resposta ao
estímulo de potencializar o turismo e foi encorajada por governos que agora
investem em infraestrutura. De acordo com Barreto (2009, p.04), “o turismo brasileiro
alcança resultados cada vez mais satisfatórios, com taxas de crescimento em todos
os segmentos que compõem o setor” e afirma que o crescimento anual da
participação da atividade na economia brasileira é fruto das políticas públicas
desenvolvidas com parcerias pré-estabelecidas (entre estados, município e outros
órgãos de governo) e também do trabalho - sociedade civil e iniciativa privada - para
promover e qualificar os destinos brasileiros. Investir em infraestrutura impacta tanto
na qualidade do produto turístico quanto em qualidade de vida do morador local que
adquire uma consciência ambiental e cultural, ou seja, uma oportunidade única de
“avançar no caminho da tolerância, respeito e compreensão” favorecida pela
interação entre pessoas de diversas origens, tradições e modos de vida (WTTC,
2008). Porém, as transformações que a atividade turística ocasiona, podem ser
boas, como o desenvolvimento da região, ou ruins (quando o planejamento turístico
é deficitário ou inexistente); segundo Yázigi (2002), a ciência de vender as
paisagens turísticas sem um planejamento leva à degradação e propõe a
necessidade de leis municipais que limitem as construções particulares (todo o
projeto e fachada) em harmonia com seu entorno. Para tanto, padrões mínimos de
qualidade e estética são indispensáveis.
Mas, apesar das modificações que sofre, a paisagem é o primeiro contato do
turista com o local visitado. É o turista que a interpreta de forma única e peculiar às
suas experiências, emoções e culturas; tornando-a possuidora de um papel
relevante para o desenvolvimento do turismo. Oliveira et al (2007, p.83) afirma: “a
paisagem é o que se vê em um determinado espaço, é um conjunto de elementos
geográficos de um lugar .”
No que diz respeito ao turismo e a paisagem urbana do Largo de São
Sebastião e seu entorno, é possível encontrar trabalhos acadêmicos que abordam
olhares, paradigmas e estudos específicos. Foram encontrados estudos sobre a
divulgação em eventos culturais (SILVA, 2005); os impactos sociais que o Largo de
São Sebastião para seus moradores e visitantes (BULÇÃO, 2007) e os fatores
motivacionais na escolha do centro cultural Largo de São Sebastião como opção de
21
lazer (SILVA, 2009). Em paralelo, um relatório de estágio relata a relação entre a
falta de tempo dos turistas e o não levantamento de dados no Teatro Amazonas
(RAITZ, 2009) e, mais direcionado ao Patrimônio Histórico, Castro (2006) faz um
acompanhamento do processo (antes e durante) de requalificação da paisagem
contextualizando-o. Alguns artigos versam sobre as praças existentes em Manaus e
fazem referência à Praça de São Sebastião.
Apesar da quantidade e temática dos estudos analisados, não foi detectado
um estudo que sustente o alcance de um dos objetivos da requalificação da
Paisagem do Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu entorno: o
desenvolvimento do turismo. Este fato evidencia a importância do presente estudo
que, junto aos demonstrativos estatísticos confirmam tal desenvolvimento.
Neste contexto aborda-se o escopo desta pesquisa que tem por objetivo
Analisar o Processo de Requalificação da Paisagem do Centro Cultural Largo São
Sebastião e seu entorno1 (CCLSS e seu entorno) e suas implicações sobre o espaço
turístico de Manaus/AM, formatada como: objeto de estudo (Garcia, 2010; Mesquita,
1999, 2006; Duarte, 2010; Benchimol, 2006; Castro, 2006; Nascimento, 2003);
conceitos a respeito do Espaço Turístico e da Paisagem (Lynch, 1997; Yázig, 2002;
Boullón, 2002; Pires, 1999; Castro, 2002; Castogiovani, 2002 e Bertrand, 1971); a
descrição da paisagem com suas categorias e conceitos (Boullón, 2002); patrimônio
histórico com seus conceitos e contexto histórico (Braga, 2003; Curtis, 1981;
Rodrigues, 2009; Abrahim, 2003; Mesquita, 2006; Segre, 1991) que são pontos
norteadores à sustentar a importância da temática em estudo, finalizando com a
inter-relação que existe entre Turismo e Patrimônio Histórico.
Para o alcance dos objetivos optou por um estudo qualitativo (Godoi e Matos,
2006; Creswell, 2007; Oliveira, 1999) e como metodologia o estudo de caso e seus
ferramentais: coleta bibliográfica, questionário com questões abertas e fechadas,
entrevista: por domicílio e semiestruturada, direcionados ao levantamento de
informações relevantes à analise do processo de requalificação da paisagem do
CCLSS e seu entorno. Justificando a opção de uso do estudo de caso, Cullen (1971)
afirma que o estudo de caso evidencia a paisagem urbana composta por recursos
naturais e históricos culturais e foca a análise na percepção que o impacto visual da
cidade exerce sobre seus habitantes ou visitantes. Tal evidencia e análise
1
Para Centro Cultural Largo de São Sebastião será adotado, a partir deste momento, a sigla CCLSS.
22
caracteriza o estudo de caso como predominantemente qualitativo (Yin, 2001;
Cullen, 1971; Dencker, 1998; Labes 1998).
O objeto desta pesquisa, o LSSE, além de estar localizado na cidade de
Manaus, capital do Estado Amazonas, pertence a uma área de concentração de
bens tombados (Estadual e Federal), é um elemento relevante do projeto de
revitalização como tentativa do desenvolvimento cultural e turístico e alvo de
interesse do poder público em área de interesse de preservação.
A intenção da análise que aqui se propõe, visa identificar a relação da
requalificação da paisagem local em prol do turismo. Justificando-se a escolha do
objeto e da temática principal deste estudo.
1.2 Definição do Problema de Pesquisa
Partindo da prerrogativa que a paisagem edificada apresenta a capacidade de
atrair visitantes, promovendo o destino e, como consequência, contempla a cadeia
produtiva do setor; fundamenta-se a preeminência dessa abordagem por ser
considerada interessante referencial na análise do turismo.
Propõe-se, portanto, analisar a etapa de Requalificação do CCLSS e seu
entorno como um norteador do desenvolvimento turístico local.
Contudo, investigar o antigo versus o novo, inerentes às questões de
requalificação urbana que se manifestam dentro do contexto turístico e despertam
atitudes reflexivas quanto às metodologias adotadas (também em relação ao fluxo
turístico), posto que o valor histórico e a originalidade das construções, tão primados
nesta experiência, tornam-se, por vezes discutíveis, comprometendo a identidade da
memória coletiva. A partir dessa perspectiva apresentada, surge a formatação do
problema de pesquisa: Quais são as implicações do processo de requalificação
da Paisagem do Largo de São Sebastião e seu entorno sobre o espaço
turístico de Manaus?
Constitui esta pesquisa em um estudo de caso de abordagem qualitativa
evidenciada pela relação entre Paisagem Urbana e Turismo, tendo como objetivo
analisar o processo de requalificação do CCLSS e seu entorno, cuja metodologia
encontra-se explicitada no capítulo 3. Desta forma, o presente trabalho encontra-se
estruturado em 4 capítulos onde, o primeiro refere-se às delimitações pertinentes à
pesquisa, no capítulo 2 contém a fundamentação teórica considerada o alicerce da
23
pesquisa, o capítulo 4 caracteriza espacialmente a cidade de Manaus com ênfase no
objeto de estudo – o CCLSS e seu entorno, e no capítulo 5 encontra-se o resultado
e discussões acerca do objeto de estudo.
Para tanto, a pesquisa apresenta como objetivos:
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo Geral
Analisar o processo de requalificação da paisagem do Centro Cultural Largo
São Sebastião e seu entorno e suas implicações sobre o espaço turístico de
Manaus/AM.
1.3.2 Objetivos Específicos

Analisar o processo histórico de evolução urbana do CCLSS e seu entorno.

Caracterizar o processo de revitalização da paisagem edificada como resgate
da memória cultural.

Mapear a configuração atual da paisagem edificada desta área da cidade.

Analisar as implicações desta memória cultural urbana e do seu processo de
requalificação sobre a atividade turística.
24
2.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesse item, faz-se necessário citar a temática conceitual subjacente para
sustentação da pesquisa e direcionar os estudos em busca dos resultados que se
propõem. Iniciando com um panorama do turismo e o estudo da paisagem – por ser
o primeiro contato que o turista tem com o seu local visitado; em seguida com
Patrimônio Cultural tentando alocar alguns conceitos que surgiram ao longo de sua
trajetória, para então fazermos sua referência dentro do contexto turístico.
2.1 Turismo
O ato de partir de um ponto e posteriormente retornar a ele é,
etimologicamente, a definição de turismo2 apresentada por Theobald (2001), que
deriva tanto do latim (tornare) quanto do grego (tornos) e significa uma volta, um
círculo, ou seja, um movimento ao redor de um ponto central (ou de um eixo central).
Podemos aqui considerar que a pessoa que realiza este percurso é chamada de
turista uma vez que o sufixo ista sugere ação de um movimento circular, algo que sai
de um ponto, dá uma volta e retorna ao mesmo. Barreto (1995, p.43) afirma que
“turismo” vem da palavra de origem francesa tour, surgiu na Inglaterra no século
XVI, refere-se a um tipo de viagem e significa volta. O turismo é, segundo Pinsky
(2001), produto da sociedade capitalista industrial que se desenvolveu no século
XVII, na França, sob o impulso de motivações como o consumo de bens culturais,
por exemplo, quando as primeiras medidas de proteção aos monumentos de valor
para a história das nações foram tomadas pelo poder público. Já Theobald (2001),
acredita que a atividade turística iniciou durante a Revolução Industrial (na
Inglaterra) e a consequente ascensão da classe média e dos meios de transportes,
Ruschmann (2010) afirma que a palavra “turismo” surgiu “no século XIX, porém a
atividade estende suas raízes pela história” e que certas formas de turismo existem
desde as civilizações mais antigas e evoluiu após o século XX quando foi
estabelecida a restauração da paz no mundo por consequência da Segunda Guerra
Mundial - o que ocasionou a produtividade empresarial relacionada ao poder de
compra e ao bem-estar da população afetada.
2
Foi adotado o termo “turismo” em português, porém a origem surgiu da palavra em inglês: tour.
25
Porém, o mais importante não é o quantitativo relacionado ao dinheiro que o
turismo leva a certos destinos, nem o seu tamanho em termos de pessoas que
viajam ou números de empregos que gera; o turismo exerce, segundo Hall (2004),
enorme impacto na “vida das pessoas e nos locais em que elas vivem” por
apresentar uma forma peculiar de ser significativamente influenciado pelo mundo
que o rodeia visto que as motivações para viajar crescem em busca de novas
culturas, de conhecer pessoas e destinos novos e, por consequência, ao rendimento
disponível e aos mercados emergentes e tradicionais que, por sua vez, são
acompanhadas pelas mudanças tecnológicas, sociais e demográficas. Ou seja, tais
motivações e o consecutivo ato de viajar estimulam a melhoria da qualidade de vida
das
pessoas
e
impactam
no
desenvolvimento
da
economia
mundial
e,
principalmente na economia brasileira (CARVÃO, 2008; STOCK, 2009). Importante
citar
que,
frequentemente,
o
turismo
encontra-se
sujeito
à
intervenção
governamental (direta e indireta) devido às possibilidades que apresenta em
geração de emprego e renda e do seu potencial de diversificar e contribuir para as
economias nacionais e regionais (HALL, 2004).
A Empresa Brasileira de Turismo – EMBRATUR define turismo como uma
atividade econômica representada pelo conjunto de transações de compra e venda
de produto ou serviço turístico que são efetuadas entre agentes econômicos do
turismo. É gerado pelo deslocamento voluntário e temporário de pessoas para fora
dos limites da área ou região em que têm residência fixa por qualquer motivo,
excetuando-se o de exercer alguma atividade remunerada no local de visita
(EMBRATUR, 1992). Segundo a OMT (2001), turismo é:
“o conjunto de atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas
em lugares distintos ao seu ambiente habitual, por um tempo consecutivo inferior a
um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outros motivos”. OMT (2001, p.11).
O turismo apresenta definições diversas segundo áreas do conhecimento.
Porém, para análise do estudo de caso proposto nesta dissertação, faz-se
necessário direcionar o estudo do turismo ao contexto cultural, ao espaço turístico
urbano e à paisagem edificada.
26
2.2 Turismo Cultural
Com o CCLSS e seu entorno como objeto de estudo, fez-se necessário
entender o universo do turismo cultural iniciando por seus conceitos. Tais
conceituações servem como base auxiliar no processo de diagnóstico do públicoalvo e a promoção dos recursos culturais existentes em uma localidade e reforça os
aspectos de atratividade para o destino.
Icomos (1976), afirma que turismo cultural é aquela forma de turismo que tem
por objetivo, entre outros fins, o conhecimento de monumentos e sítios históricoartísticos. Segundo o autor, o turismo cultural exerce um efeito positivo sobre tal
conhecimento e contribui para a manutenção e proteção na satisfação de seus
próprios fins exigidos da comunidade humana, devido aos benefícios socioculturais
e econômicos que comporta para toda a população implicada.
Swarbrooke (2000, p.37) apresenta as múltiplas facetas do turismo cultural e os
recursos utilizados3, porém não o conceitua como abrangente, apesar dos tipos de
recursos culturais serem inter-relacionados. Nessa perspectiva, o Ministério do
turismo “compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de
elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais,
valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura” (RICHARDS,
1996, p.24).
Barretto (2008) afirma que muitos turistas procuram o reencontro com o
passado, com tradições e identidades, uma espécie de resposta ao processo de
mundialização da cultura que acelerou a partir da segunda metade do século XX,
acarretando na ressignificação de uma série de conceitos e valores. Talvez por essa
razão, o turismo e a cultura tenham sido valorizados nos últimos anos corroborando
ao desenvolvimento de cidades, estados, regiões e países. O certo é que a
exploração da cultura como atrativo turístico contribuiu para o crescimento do
turismo cultural em diversos ambientes, principalmente o urbano.
Em Richards (1996, p.24) pode-se ter acesso à definição de turismo cultural
publicado pela ATLAS4 onde aborda que o turismo cultural deve ser entendido como
movimento de pessoas para atrações culturais fora da sua residência, com o
3
Atrações históricas, cultura popular, comidas e bebidas, festivais, tipos de arquitetura, artes, locais religiosos e
linguagem dentre outros (SWARBROOKE, 2000, p. 37).
4
Association for Tourism and Leisure Education
27
objetivo de assimilar novas informações e experiências com vistas a atender suas
necessidades culturais.
Dentro do exposto, é oportuno registrar que o olhar do turista se volta para o
que é especial, incomum, novo ou conservado, porém Chias (2007, p.45) afirma que
o valor de uma civilização pode ser medido pelo o que se sabe conservar e não pelo
que sabe criar.
Essa linha de pensamento pode ser concluída ao afirmar que o turismo cultural
permite a reconstituição da produção do patrimônio histórico-cultural e sua
apropriação por sociedades específicas além de estabelecer ligações entre
comunidades que o ocuparam no passado e aqueles que residem no presente,
tornando possível, desse modo, examinar em que medida o patrimônio cultural
representa uma continuidade cultural, colaborando para uma nova postura dos
turistas que passa a ver a cultura como um insumo específico ao lado de atrativos
naturais e dos serviços na concepção e formatação do produto turístico e, não como
uma simples motivação de viagem (DIAS, 2006; CHIAS, 2007).
O resgate histórico-cultural a partir da requalificação da paisagem considerado
como base para a solidificação da identidade é um aspecto relevante dessa
pesquisa, pois através do mapeamento da configuração atual da paisagem edificada
podem-se analisar as implicações da memória cultural urbana e do seu processo de
requalificação sobre a atividade turística.
2.3 Espaço Turístico Urbano
Entender que o espaço físico pode “estender-se do universo a uma pequena
parte da Terra” (BOULLÓN, 2002, p.73) pode ser um primeiro passo em direção ao
entendimento do que vem a ser espaço urbano, ou seja, para compreendê-lo e
representá-lo precisamos ter uma ideia das dimensões do todo e das partes em
planejamento para intervenção. Podem-se apresentar três tipos diferentes de
espaço: espaço plano, espaço volumétrico e espaço tempo, mesmo que sejam
apreciados em duas diferentes formas: uma mediante o tamanho dos objetos
materiais – dada por sua massa, e outra pelas distâncias que os separam.
O espaço plano é delimitado pela largura e pelo comprimento, ou seja, é
bidimensional. O espaço volumétrico, tridimensional, refere-se aos corpos com
massa e, ao espaço tempo acrescenta-se o tempo que o observador demora em
28
percorrer o espaço anterior tridimensional (quadro 1). Boullón (2002) afirma que uma
quarta dimensão pode ser adquirida, porém apresentaria um caráter subjetivo uma
vez que dependeria da intervenção do homem como observador.
Quadro 1 - Tipos de espaços.
Fonte: segundo Boullón (2002, p. 74).
Além do espaço físico, há outras acepções técnicas acerca do termo
“espaço”, a saber: espaço econômico, espaço social e espaço político. A análise
econômica do espaço o restringe como homogêneo e contínuo, onde o
planejamento regional abrange todo o território do país e cada região abrange uma
região que tenha propriedades iguais, Boullón (2002) descreve:
“Como é possível dividir, fisicamente, um país em áreas nas quais cada metro seja
idêntico ao resto, a ideia de região que os economistas utilizam refere-se a porções
do território cujos indicadores econômicos (a produção, o transporte, o comércio
etc.) e de desenvolvimento social (alfabetização, a moradia, a saúde, os salários
etc.) são similares”. (BOULLÓN, 2002, p.71).
A representação de dados, referentes ao grau de alfabetização, ao grau de
mortalidade infantil ou de qualidade de vida peculiares a certas famílias, em mapas,
caracteriza um análise social do espaço e por outro lado, a análise do espaço
político pode ser claramente explicada pela simples divisão do mundo em norte e
sul. “Definitivamente, a principal diferença entre o espaço físico e todos os demais é
que não são tangíveis”. (BOULLÓN, 2002, p. 75).
Através da linguagem do planejamento, os tipos de espaço podem
apresentar-se em sete tipos diferentes de espaços: real, potencial, cultural, natural,
virgem, artificial e vital conforme quadro 2.
Analisando as definições e características das tipologias do turismo,
percebe-se que o espaço físico transmite imagens parciais resultante da percepção
29
de uma cidade realizada no transcurso do tempo e que o homem a registra em
sucessivas vivências. E em paralelo, o caráter subjetivo acrescido às dimensões do
espaço, é de fundamental importância ao planejamento do uso dos atrativos
turísticos, pois direciona as ações em prol de melhorias contínuas, otimização de
tempo e treinamento do coorporativo envolvido na atividade turística.
Quadro 2 - Síntese das Tipologias do Espaço.
Fonte: adaptado de BOULLÓN (2002, p.77-79).
A indefinição da força e do peso que a atividade turística exerce na produção
do espaço, dificulta conceituar o espaço turístico. Tal espaço pode ser produzido
pelo turismo e para o turismo, independente de fatores favoráveis para sua produção
e evolui pelo processo de “ondas” de ocupação que ditadas pela moda ou padrão de
consumo do espaço, ocasionam na sua degradação e, por consequência, na
destruição dos recursos que os originaram. (RODRIGUES, 1997).
Dentre as dificuldades e diversas vertentes para se definir o espaço turístico,
Boullón (2002) conclui:
O espaço turístico é consequência da presença e distribuição territorial dos atrativos
turísticos que, não devemos esquecer, é a matéria-prima do turismo. Este elemento
do patrimônio turístico, mais o empreendimento e a infraestrutura turísticas, são
suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país. (BOULLÓN, 2002, p.79).
30
Visando a determinação do espaço turístico, Boullón (2002) sugere a análise
dos elementos que constituem o espaço turístico, a saber: Zona Turística; Área
Turística; Centro turístico; Complexo Turístico; Unidade Turística; Núcleos Turísticos;
Conjunto Turístico; Corredores Turísticos; Corredor Turístico de Translado e
Corredor Turístico de Estada. Ao compará-los entre si, além se surgir a possibilidade
de agrupá-los em categorias: as que abrangem superfícies relativamente grandes;
as pontuais que abrangem superfícies relativamente pequenas e as longitudinais;
surge também a ideia da flexibilidade de alguns elementos que compõem o espaço
turístico e que podem evoluir pelo incremento do empreendimento turístico até
alcançar categorias superiores. Cada um dos elementos se relacionam e surge
como destaque a rentabilidade mais expressiva nos centros e nos corredores
turísticos de estada por funcionarem com maior permanência. Em seguida os
complexos os centros de distribuição e de escala, por exemplos.
Todas as ações do setor do turismo podem ser organizadas de acordo com
a teoria do espaço turístico por permitir a elaboração de políticas promocionais que
trabalhem com base em produtos claramente definidos. Para uma projeção no
exterior, a zona turística é a mais importante, por ser maior e por permitir apresentar
um quantitativo expressivo de imagens do país quanto às zonas que tenham sido
detectadas. Tais zonas e seus respectivos subsistemas e elementos do espaço
turístico, são analisados em suas potencialidades e apresentados à empresas
(iniciativa privada) para que esta utilize (com fins comerciais) informações técnicas
elaboradas pelas repartições dos órgãos oficiais e possam ser preparados os
pacotes turísticos de circuito e de estada por corredores, complexos e centros de
distribuição.
Para uma melhor compreensão dos elementos que compõem o espaço
turístico, uma síntese (quadro 3) foi desenvolvida de acordo com Boullón (2002):
31
Quadro 3 - Síntese dos elementos do espaço turístico.
Fonte: adaptado de BOULLÓN (2002, p. 80-101)
Os entendimentos dos fragmentos facilitam a compreensão de um todo. Isso
significa que a explanação dos elementos do espaço turístico pode facilitar o
entendimento do que vem a ser o espaço turístico urbano aqui contextualizado.
Após a adaptação e o controle frente ao ambiente natural que lhe serviu de
base, o Homem - de origem, raça e credo diversificados, cria os centros urbanos
com características personalizadas e, por consequência, a população urbana torna-
32
se a maior do mundo. A partir desta situação, pode-se afirmar que cada cidade
apresenta um caráter diverso das demais a qual se pode, espontaneamente,
“conhecer” (o que seria uma ação restrita aos moradores, pois seu conhecimento
limita-se a algumas partes) ou “ler” (ato restrito aos turistas que precisam de ajuda e
ensinamento para “ler” o que querem ver e, principalmente, informações precisas
para que em todos os momentos de sua viagem tenha a oportunidade de escolher
aonde ir e o que consumir). A leitura ou o ato de conhecer a cidade dá-se através
das formas e da interpretação sobre os signos que melhor representam, captam a
beleza do local e o resultado da viagem é considerado um acúmulo de experiências
e lembranças dos lugares por que passou. (LYNCH, 1997; BOULLÓN, 2002).
A interpretação depende das áreas que o turista percorre, geralmente nas
áreas gravitacionais, ou seja, a área que o atrai e o motiva a permanecer ou voltar.
Essas áreas gravitacionais são consideradas, de acordo com Boullón (2002), em
quatro tipos. As estações terminais dos sistemas de transportes é o primeiro tipo e
inclui áreas que compreendem, além dos modais, os ramos de hospedagem, bares,
restaurantes, pontos de táxi e linhas de transportes urbanos. O segundo tipo são as
zonas de concentrações do empreendimento turístico e de outros serviços urbanos
onde, geralmente estão localizadas nos centros das cidades e em áreas de
concentração de hotéis, agências, restaurantes, cinemas, teatros, comércio, galeria
de arte e outros. O terceiro tipo são os atrativos turísticos urbanos que não
apresentam um ponto fixo, porém os turísticos vão ao seu encontro. E o quarto tipo
restringe-se às diversas saídas que conduzem os atrativos turísticos.
As grandes cidades apresentam obstáculos para se conhecê-la que são
apresentados em ordem crescente de intensidade: tamanho, traçado, topografia e
tipo de arquitetura que, apesar de existirem, pode-se afirmar que o “interesse
turístico é diretamente proporcional ao ordenamento das ruas, a monumentos,
espaços verdes dentre outros” a fim de retê-los na memória, através de imagem,
para interpretar e memorizar a paisagem urbana (BOULLÓN, 2002, p.194). Tais
imagens se correlacionam na mente do turista e uma síntese do espaço urbano é
elaborada mentalmente e ocorre com o passar do tempo, após o turista focar num
esquema para familiarizar-se com o local.
Boullón (2002) defende que a delimitação o espaço turístico urbano pode
evitar os obstáculos a fim de conhecê-lo em sua totalidade. Essa delimitação
colabora tanto para que as autoridades oficiais de turismo possam exercer sua
33
autoridade; quanto para concentrar os serviços turísticos separando-se assim os
estabelecimentos turísticos dos não turísticos.
2.4 Paisagem turística
A paisagem turística aqui contextualizada além de um simples produto
turístico (BENI, 1998; BOULLÓN, 2002) será também analisada como social cultural
(YAZIGI, 2001; MENEZES, 2002), ou seja, deve-se incorporá-la à civilização para
então compreender os aspectos de ética, cultura e moral que desempenham na vida
social coletiva. Para os autores, a paisagem produz relações sociais entre
moradores e turistas por apropriarem de seus respectivos espaços de maneiras
diferentes. Tanto as relações sociais dos moradores de espaços turísticos como a
paisagem física envolvida se alteram. Para Castrogiovani (2002, p.31): “a cidade é
um mundo de representações. Pode ser pequena ou uma metrópole. Ela pulsa, vive,
seduz. Agride, transforma-se e transforma aqueles que nela interagem”.
Essas alterações que ocorrem na paisagem como consequência da atividade
turística podem ser boas, como o desenvolvimento da região, ou ruins (quando o
planejamento turístico é deficitário ou inexistente). Mas, apesar das modificações
que sofre, a paisagem é o primeiro contato do turista com o local visitado. É o turista
que a interpreta de forma única e peculiar às suas experiências, emoções e culturas;
tornando-a possuidora de um papel relevante para o desenvolvimento do turismo.
Oliveira et al (2007, p.83) afirma: “a paisagem é o que se vê em um determinado
espaço, é um conjunto de elementos geográficos de um lugar”
Existem muitas definições de paisagem e algumas se devem às exposições
acima relacionadas. Petroni e Kenigsberg apud Boullón (2002, p.118) define
paisagem urbana como:
Conjunto de elementos plásticos naturais e artificiais que compõem a cidade:
colinas, rios, edifícios, ruas, praças, árvores, foco de luz, anúncios, semáforos, etc,...
Como o resultado de uma combinação dinâmica de elementos físicos,
biológicos e antrópicos, a paisagem, segundo Bertrand (1971), não está
determinada como uma simples porção do espaço e sim como um conjunto único e
indissociável em perpétua evolução. Xavier (2007, p. 37) aponta: “para o turismo, a
34
paisagem deve ser interpretada. Interpretar a paisagem significa agregar valores ao que
é percebido”.
Seguindo esse pensamento, a paisagem deve ser encarada como uma
combinação entre os fatores que se interrelacionam e formam uma única porção do
espaço bem como um fenômeno em constante transformação (social ou natural) que
influi direta e significativamente no turismo. É através da paisagem que o turista
percebe a realidade de um local e sente-se atraído ou não. Boullón defende:
“a paisagem se vai com o observador porque não passa de uma ideia da realidade
que este elabora quando interpreta esteticamente o que está vendo [...] o que vale é
que o turista comum capta por meio de seus sentidos, influenciados por seu estado
de espírito” (BOULLÓN, 2002, p. 119-125).
Para Yázigi (2001, p. 34), “ao se pensar na estrutura da personalidade do
lugar, a paisagem assume especial destaque, pois é precisamente dela que nos
chega muito da percepção”. Castro (2002) argumenta sobre a percepção da
paisagem como resultado de um processo cognitivo mediado pelas representações
do imaginário social de valores simbólicos. Podemos afirmar que cada expectador
apresenta a paisagem de uma maneira única, de acordo com sua percepção e pode
ser considerada como um resultado de uma interação complexa entre o meio
(determinado lugar) e o indivíduo. É como uma testemunha visual de elementos
estéticos e simbólicos que são construídos no decurso da história, despertando
grande e renovado interesse no lugar visitado assim que identificados e apropriados
pelo turista.
A subjetividade aqui é essencial para a percepção humana, principalmente
quando se trata da paisagem como um cenário (PIRES, 1999), permite-se descrevêla objetivamente destacando qualidades e fragilidades quando observada em sua
condição de expressão espacial e visual do meio. A subjetividade, citada por Boullón
(2002), impossibilita a descrição da paisagem uma vez que os conceitos de beleza
variam de indivíduo para indivíduo e de cultura para cultura. Porém, a definição da
paisagem proposta pelo autor dá-se pela necessidade de combinar uma série de
variáveis (quadro 4) apresentadas em sete grupos: tipo de urbanização; nível
socioeconômico das edificações; estilo arquitetônico, topografia, tipo de rua, tipo de
pavimento e, tipo de árvore. Cada grupo apresenta também subdivisões que
totalizam trinta elementos básicos formando uma tipologia da paisagem urbana.
35
Como a linguagem de uma cidade são as formas, sua leitura se apoia naqueles
signos que melhor a representa (BOULLÓN, 2002).
O arranjo das variáveis supracitadas encontra-se espacialmente localizado e,
de certa forma, espacialmente determinado ocasionando numa característica
peculiar a cada lugar distinguindo-o dos outros. Este arranjo está mudando, com ou
sem fluxo. Reforçando o arranjo das variáveis, Lynch (1997) afirma que uma cidade
só é legível se puder ser “imaginável”, ou seja, a clareza física da imagem é
relevante e indispensável. A imagem mental é descrita quando ocorre a percepção
dos usuários às variáveis da cidade.
Além das variáveis descritas, faz-se necessário também o conhecimento do
clima que, segundo Boullón (2002), serve para que o turista conheça a época do ano
e a hora do dia que a paisagem concentra sua plenitude estética.
36
Quadro 4 - Variáveis que determinam a paisagem urbana.
Fonte: adaptado de BOULLÓN (2002, p. 214-215).
A relação entre a paisagem urbana e a proximidade das construções que
existe no espaço urbano é descrita por Cullen (2009) e pode-se afirmar que uma
construção é arquitetura, já duas seriam paisagem urbana. Já a relação entre
paisagem e turismo ressalta uma solidificação cultural desse com o patrimônio
cultural, o que condiz na configuração da história e do meio ambiente em um recurso
econômico. A paisagem urbana, quando é resultante da interação da visão e da
atuação do homem no espaço, é vista como um reflexo da sociedade (YÁZIGI,
2002) e é considerada como um conjunto de formas num dado momento e período
histórico e possuidora de papel relevante a partir da existência de uma interface
entre paisagem e percepção, de uma sociedade que herda e se apropria daquilo que
suas necessidades requerem e praticam. Segundo Boullón (2002), é como uma
37
qualidade que os diferentes elementos de um espaço físico adquirem apenas
quando o homem surge como observador, animado de uma atitude contemplativa
dirigida a captar suas propriedades externas, seu aspecto, seu caráter e outras
particularidades que permitam apreciar sua beleza ou feiura.
2.5 Patrimônio (monumentos) Histórico Cultural edificado no contexto do
turismo
O lançamento da ideia de patrimônio monumental é uma consequência da
iniciativa de proteção aos monumentos antigos, que surgiu entre os séculos XVI e
XVIII, quando a nobreza europeia enviou jovens com objetivos educacionais a fim de
resgatar a identidade greco-romana. Essa ideia é defendida por Dias (2006) que
acredita que essa iniciativa pode ser considerada como uma forma primitiva do que
hoje chamamos de turismo.
Esse estudo realmente poderia ter sido iniciado a partir da cidade grega, pois
possibilitaria contribuições notáveis ao significado do monumento e da estrutura
urbana em si que apresenta solução indissolúvel com o modo de ser e com o
comportamento das pessoas. Do ponto de vista da teoria do conhecimento, o
passado é parcialmente experimentado agora e do ponto de vista da ciência urbana,
“pode ser esse o significado de dar às permanências: elas são um passado que
ainda experimentamos”. Rossi (1995, p.49).
Essa referência ao “passado” deve-se ao fato de que as cidades permanecem
em seus eixos de desenvolvimento, mantendo a posição de seus traçados,
crescendo de acordo com a direção e com o significado dos fatos antigos.
Respondem por essa permanência: as ruas e o plano que, mesmo sob níveis
diversos deforma-se, porém não se desloca, ou seja,
“a forma da cidade é sempre a forma de um tempo da cidade, e existem muitos
tempos da cidade. No próprio decorrer da vida de um homem, a cidade muda de
fisionomia em volta dele, as referências não são as mesmas, [..] vemos como
incrivelmente velhas as casas na nossa infância; e a cidade que muda apaga com
frequência nossas memórias” (ROSSI, 1995, p. 57)
A própria ideia da cidade já transmite a união entre o passado e o futuro e
percorre tentando fixar-se na memória da humanidade através da sua permanência
em fatos únicos, em monumentos ou até mesmo na simples impressão que se
possa formar dela (da união). Isso pode ser considerado uma explicação ao fato de
38
que, na antiguidade, o mito era colocado como fundamento das cidades; sendo
assim, é provável que o valor da história como memória coletiva - própria
transformação do espaço, a cargo da coletividade - nos auxilie na compreensão do
significado da estrutura urbana e, consequentemente, da arquitetura da cidade.
Compreender a estrutura da cidade ou mais precisamente os monumentos
expressivos de uma determinada cultura nos remete às áreas de proteção
patrimonial que são, por seu contexto histórico, econômico e cultural, atrativos
turísticos. É importante registrar que o crescimento descontrolado de turistas
interessados em valores culturais já geraram perdas irreversíveis de grande parte do
patrimônio arquitetônico das cidades e sua redução deu-se a partir da implantação
de normas destinadas a proteger as zonas históricas monumentais ainda de pé
(BOULLÓN, 2002).
Com base nas normas de proteção às zonas históricas, faz-se necessário
contextualizar e conceituar Patrimônio Cultural e para tanto, seguimos os estudos de
Braga (2003) e nos portamos às primeiras tentativas de sua definição, onde
podemos perceber que esta é posterior às tentativas de eleição e proteção aos seus
bens. Antes de 1936, onde Gustavo Capanema (1934). Ministro da Educação
solicita ao escritor Mário de Andrade (na ocasião, diretor do Departamento de
Cultura do Município de São Paulo) a elaboração de um projeto do Patrimônio
Artístico Nacional5, já havia tentativas de salvaguardar o patrimônio através de leis
estaduais que acabaram sendo ineficazes por sua inconstitucionalidade.
No projeto referido, consta que Patrimônio Cultural: são todas as obras de
arte pura ou de arte aplicada, popular ou erudita, nacional ou estrangeira,
pertencentes aos poderes públicos, e a organismos sociais e a particulares
nacionais, a particulares estrangeiros, residentes no Brasil. Consideremos aqui, que
o termo “arte” assume ampla significação de cunho estético e também se reporta à
produção artesanal.
Com o surgimento do decreto Lei n° 25 de 30 de novembro de 1937 (após o
golpe político de Getúlio Vargas) o SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional é organizado e define-se oficialmente o Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional como:
5
De acordo com Braga (2003, p.14), o projeto referido inspira a criação do SPHAN - Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional sob direção de Rodrigo Mello Franco de Andrade (1937-1967). Este distingue os
bens históricos dos bens artísticos.
39
O conjunto e bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de
interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil,
quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
(BRASIL. Decreto-Lei n. 25 de 30 de novembro de 1937, Art. 1º).
O referido decreto argumenta Curtis (1981, p.16), “reconhece que poucos são
os privilegiados com registros e reconhecimentos oficiais através do instrumento de
tombamento o que lhes incidiria a proteção legal”.
No ano de 1988, consta no artigo 216 da Constituição de 88 a primeira
referência à denominação e à definição de Patrimônio Cultural, vinculando-o a
diversos interesses, como: artísticos, estéticos, históricos, de caráter coletivo ou
excepcional; a saber:
“Constituem o patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à
ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos
quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III
– as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos,
documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticoculturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico” (BRASIL,
2001, p. 200).
Em 2000, através do Decreto n° 3551 (04/08/2000) em ser Art. 1º, o
patrimônio imaterial é inserido ao Patrimônio Cultural como nova categoria e pode
ser definida como:
As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os
instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes serão associados e as
comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos que se reconhecem
como parte integrante de seu patrimônio cultural (DECRETO Nº 3551 DE 04/08/00).
Independente de ser patrimônio material ou imaterial faz-se necessário
destacar que recursos destinados aos mesmos não garantem sua proteção efetiva,
mas corroboram para reconhecê-los como componentes integrantes de um acervo
oficial e atribuir-lhes o amparo legal. A proteção efetiva plena poderá ser alcançada
se, em sincronia com às demais legislações patrimoniais, haja uma ampla
divulgação que esclareça os objetivos, os benefícios deles advindos, inclusive os
descontos nos incentivos monetários, que podem chegar à isenção total do IPTU
(Imposto Predial e Territorial Urbano), podendo auxiliar na manutenção ou na
conservação dos imóveis.
Após breve contexto acerca da origem e definições de Patrimônio Cultural
podemos citar que o mesmo - ao ser representado por museus, monumentos e
40
locais históricos - pode passar a existir e ser mantido a partir do turismo cultural.
Somamos, ao turismo cultural, a oferta de espetáculos ou eventos.
O Patrimônio é considerado como algo construído para ser uma
representação do passado histórico e cultural de uma sociedade e, depende das
concepções que cada época tem a respeito do que, para quem e por que preservar.
Com as definições anteriores, podemos entender que os remanescentes materiais
da cultura são reflexos de experiências vividas (sejam individuais ou coletivas) que
permitem ao homem a lembrança e a ampliação do sentimento de pertencer a um
mesmo espaço, partilhando uma mesma cultura e aguçando a percepção de ícones
que fornecem sentidos de grupo compondo uma identidade comum para, em fim,
“acreditarmos que preservar o patrimônio cultural garante maiores oportunidades
para que a sociedade perceba a si própria” (RODRIGUES, 2009, p.15 a 17).
Rodrigues (2009) abre pertinente discussão a respeito do contexto histórico
do Brasil onde narra que negros e brancos pobres eram vistos nos livros escolares
como trabalhadores, mas não como construtores de cultura. Contudo, é
compreensível a lacuna que inicialmente existiu entre o patrimônio cultural e a
população brasileira. Lacuna esta que perdurou até o momento em que os conjuntos
dos movimentos sociais tornaram-se mais ativos em busca da democratização do
país e o efetivo exercício dos direitos da cidadania e quando os segmentos sociais e
étnicos, com seus respectivos papéis, foram reconhecidos como construtores da
sociedade, da história e da cultura brasileiras (década de 1980).
A partir de 1964, a intervenção do Estado na cultura cresce ao ponto do
departamento de assuntos culturais da Organização dos Estados Americanos (OEA)
promover um encontro com diversos países para que os projetos de valorização do
patrimônio fizessem parte dos planos de desenvolvimento nacional e fossem
realizados simultaneamente com o equipamento turístico das regiões envolvidas;
recomendando ainda a “cooperação dos interesses privados e o respaldo da opinião
pública para o desenvolvimento desses projetos” (RODRIGUES, 2009, p.15 a 17).
A valorização turística do patrimônio passa então, não só a manipular um
universo simbólico de grande importância para o civismo, mas também a divulgar a
cultura local por meio de seu patrimônio e, mais especificamente, através de seus
monumentos históricos. O turismo enquanto prática cultural poderá representar o elo
entre o legado histórico-cultural e o tempo presente, podendo – se praticado com
critérios – “ressignificar o patrimônio mantendo-o vivo”. HORTA (2009, p.83).
41
Em Manaus, o primeiro imóvel a ser tombado foi o Teatro Amazonas
(Registrado no Livro Histórico, em 1966) e muito posteriormente (quase 20 anos) o
Reservatório do Mocó (Registrado no Libro das Belas-Artes e no Livro Histórico, em
1985). Com a finalidade de “apresentar a capital do estado do Amazonas à própria
instituição federal, bem como aproximá-lo da natureza específica desse patrimônio
regional” (ABRAHIM, 2003, p. 64) foi instalado em Manaus um Escritório Técnico do
SPHAN/Pró-Memória. A partir de então, o grande acervo arquitetônico de Manaus
para ser visto pelo país e acarreta em outras unidades tombadas, a saber: o
Mercado Adolpho Lisboa e as Instalações Portuárias.
Em decorrência do crescimento que a ZFM proporcionou e em nome da
tendência à verticalização e à modernidade, muitos prédios antigos localizados no
centro de Manaus foram descaracterizados ou desaparecidos. Tal situação
contribuiu para a consolidação de uma consciência a respeito do patrimônio
preservado e motivou o Estado a eleger, oficialmente, seus patrimônios (quadro 5).
42
Quadro 5 - Síntese dos bens tombados no município de Manaus.
Fonte: Andressa Santos (2011).
Todo entendimento acerca do patrimônio é importante para a compreensão
do processo histórico da Amazônia. Mesquita (2006, p.21) conclui “… são
documentos materializados que testemunham uma época, entendendo que, por
estas razões, devam ser estudadas no sentido de lhes descobrir valores para
preservá-las, resgatando a memória da cidade”. Em paralelo, Segre (1991) revela: “a
conservação da cidade histórica não é um problema arquitetônico, técnico ou
estético, mas um problema de caráter essencialmente econômico e social” e como
solução aponta: “a cidade deve conservar seu passado, mas ao mesmo tempo
43
revitalizá-lo, torná-lo compreensível em novos tempos expressivos ou através de
novas funções” (SEGRE, 1991, p. 286 a 289).
A cidade de Manaus como qualquer cidade, por constituir-se em patrimônio
de uma coletividade, deve ser objeto de estudos interdisciplinares para que se possa
entender melhor a sua identidade cultural e, com isso, propor novos caminhos para
sua sustentabilidade e manutenção da qualidade de vida de seus habitantes.
44
3.
METODOLOGIA
Neste capítulo apresenta-se a metodologia cuja função é delimitar os
procedimentos que nortearão a apreciação crítica na busca de acontecimentos e
princípios, a realização dos instrumentos de coletas de dados, o processo de coleta
e a interpretação dos dados.
3.1 Tipo de pesquisa e procedimento de coleta de dados
Para desenvolvimento da pesquisa, os métodos devem ser desenvolvidos,
selecionados e ajustados de acordo com a compatibilidade da natureza do
fenômeno estudado e a pesquisa em si guiada pela dinâmica da procura de
evidências e da abertura de horizontes aliados a sua obtenção de entendimentos
mais profundos da natureza ou significado das experiências vividas oferecendo ao
pesquisador percepções aceitáveis que, através dela, o colocam em constante
contato com os informantes através da entrevista. A abordagem aqui utilizada é a
qualitativa que, quando analisada de forma agregadora, induz o pesquisador a
perceber o fenômeno a ser estudado, sob as perspectivas das pessoas nele
envolvidas, ponderando os pontos de vista mais relevantes (GODOI E MATOS,
2006).
Segundo Van Maanen (1979), a expressão “pesquisa qualitativa” apresenta
denotação diversificada no campo em que o turismo está inserido, ou seja, das
ciências sociais que se resumem em técnicas interpretativas que visam descrever e
decodificar os componentes de um sistema complexo de significados a fim de
reduzir distâncias entre teoria e dados; contexto e ação; indicador e indicado.
A pesquisa qualitativa, segundo Creswell (2007), envolve o pesquisador e
suas suposições permitindo-o investigar significados dos indivíduos (ou grupos
sociais) e compreender o problema social. Ou seja, estudam coisas em seu cenário
natural sincronizando sentidos ou interpretando fenômeno como resultado do que as
pessoas lhe trazem.
Mediante a profundidade da pesquisa, o estudo de caso será a base
metodológica empregada neste por apresentar uma alavanca empírica capaz de
investigar fenômeno contemporâneo dentro de um contexto real, quando a fronteira
45
do fenômeno e o contexto não são claramente evidentes e onde múltiplas fontes de
evidência são utilizadas.
Visando dinamizar esta pesquisa, fez-se necessário dividi-la em duas etapas
com seus respectivos desdobramento como mostra a figura 1 a seguir:
Figura 1 - Estrutura da pesquisa – metodologia
Fonte: adaptado de Stock, 2009.
A coleta de informações acerca do universo do tema central deste estudo
define a primeira fase do processo metodológico e apresenta como objetivo
compreender o estado da temática Requalificação Urbana no Contexto do Turismo
para, consequentemente, contextualizá-la.
A pesquisa bibliográfica foi iniciada no mês de abril de 2011 e estabelecida
num recorte temporal a partir de 2000 até o ano de 2012 para concretizar a base
teórica e estabelecer a discussão da temática central nos níveis mundial, nacional e
local. Para artigos e periódicos, como referencia de busca, optou-se por base de
dados de fontes científicas a nível internacional relevante ao Turismo, à
46
Requalificação da Paisagem e ao Patrimônio Histórico e Cultural. Vale aqui citar
que: Paisagem, Paisagem Urbana, Patrimônio Histórico, Patrimônio Cultural,
Turismo, Paisagem Turística e Espaço Turístico foram palavras-chave aplicadas nos
sites de buscas comerciais ora em língua pátria e ora em língua inglesa - devido à
base da pesquisa. A seleção dos artigos foi de acordo com a metodologia aplicada,
a temática explanada e os resultados obtidos e seu foco restringe-se à reflexão
estabelecida da paisagem urbana no espaço turístico proposta pelos autores e pela
análise dos resultados de suas respectivas pesquisas desenvolvida entre 2002 e
2012.
Em paralelo, projetos de graduação, relatório de estágio (UNINORTE, UFAM
e UEA), dissertações, teses (UEA, UFAM, UNIVALI, UFSC, UFPE) e livros de acervo
pessoal e de universidades e faculdades (UFAM, UEA, UNINORTE e UNIVALI)
também foram consultados a fim de gerar consistência nas investigações e
consolidar o referencial teórico deste projeto nas áreas de turismo, paisagem urbana
e patrimônio Histórico – Cultural.
Reforçando a opção de uso de estudo de caso – o que determina a segunda
fase, Yin (2001, p.27) ressalta que este tem a “capacidade de lidar com uma ampla
variedade de evidências – documentos, artefatos, entrevistas e observações”,
focando no entendimento das dinâmicas presentes num contexto ímpar que visa
identificar padrões e inter-relações entre as variáveis existentes que permitam
melhor entendimento do fenômeno estudado. Em paralelo, Flick (2009, p.109)
descreve “o termo genérico campo pode designar uma determinada instituição, uma
subcultura, uma família, um grupo específico de pessoas com uma biografia
especial, tomadores de decisão em administrações de empresas e assim por
diante”.
Cullen (1971) afirma que o estudo de caso evidencia a paisagem urbana
composta por recursos naturais e histórico-culturais e foca a análise na percepção
que o impacto visual da cidade exerce sobre seus habitantes ou visitantes. Tal
evidencia e análise caracteriza o estudo de caso como predominantemente
qualitativo – reafirma a abordagem aqui aplicada. Duarte (2005) destaca que o
método é eficiente (estrategicamente) no momento em que se busca resposta para
“como?” e “por quê?”; no momento em que o pesquisador [observador] encontrar-se
sem controle dos eventos e, quando o foco encontrar-se nos fenômenos
contemporâneos.
47
A realização do estudo de caso será guiada pelo protocolo proposto por Yin
(2001, p.80) por ser “uma maneira especialmente eficaz de se lidar com o problema,
de se aumentar a confiabilidade dos estudos de caso”. O protocolo aqui apresentado
foi formatado em quatro etapas de acordo com os objetivos desta pesquisa e o
procedimento de coleta, análise e apresentação de dados.
Quadro 6 - Protocolo do estudo do CCLSS e seu entorno em Manaus – AM.
Fonte: adaptado de Yin, 2001.
48
Com a intenção de apresentar as diretrizes gerais que serão seguidas no
protocolo, a primeira etapa está organizada com o plano e objetivo geral, pois
segundo Yin (2001, p.79), “uma boa preparação começa com as habilidades
desejadas por parte do pesquisador do estudo de caso”. A segunda etapa,
estabelecida, como procedimento de campo foi subdividida em aplicação de
questionário, entrevista – pesquisa por domicílio e entrevista semiestruturada.
Na aplicação de questionários (apêndice I) com turistas foi possível verificar
sua visão acerca da paisagem em estudo, seu entusiasmo com as mudanças que a
requalificação proporcionou e as sugestões de melhorias. Os questionários foram
formatados em português e em inglês visando atender à diversificada procedência
dos turistas e aplicados nos meses de janeiro a julho de 2012 em períodos de
grande circulação de pessoas como Festival Amazonense de Ópera, e em dias
aleatórios sem eventos de grandes proporções.
As entrevistas por domicílio (apêndice II) visaram formatar um contexto
histórico do processo da requalificação, pontuar as ações executadas durante o
processo da requalificação e, principalmente, traçar um panorama atual como
consequência da requalificação. As entrevistas foram feitas com todos os moradores
do entorno que aceitaram colaborar com esta pesquisa conforme figura 2:
Figura 2 - Área de influência do Projeto
Fonte: Programa Manaus Belle Époque, 2000.
49
As entrevistas semiestruturadas (apêndice III) restringem-se aos Órgãos,
Instituições e Entidades envolvidas no processo de requalificação do CCLSS e seu
entorno e na sua administração atual, conforme identificado no protocolo. O objetivo
destas entrevistas é colher informações técnicas e motivação das escolhas para a
formatação que hoje se encontra bem como a dinâmica de administração e
conservação do espaço direcionado à atividade turística.
Seguindo o protocolo proposto, a terceira etapa foi delimitada de acordo com
os objetivos específicos e apresentam-se em questões que norteiam esta pesquisa.
Tais questões estão fundamentadas no referencial teórico o que assegura a
relevância desta pesquisa.
Como forma a propiciar o entendimento da Paisagem Urbana no CCLSS e
seu entorno no que se refere à formação socioeconômico e sociocultural e aos
aspectos relacionados à ocupação e ordenamento do espaço a análise está
fundamentada pelos estudos realizados por Santos (1982) que os discutem a partir
da lógica do capitalismo e usa categorias de análise do espaço por meio de
verificação do que denomina de forma, função, estrutura e processo.
O autor conceitua espaço como “um sistema onde diversos elementos
interagem e se correlacionam”; dessa forma, compreender as variáveis que
compõem o Largo de São Sebastião e seu entorno assim como suas inter-relações
enriquecerá esse estudo.
3.2 Procedimento de análise de dados
Eduardo Yázigi (2001), afirma ser preciso reconhecer uma multiplicidade de
formas e tempos presentes na paisagem. Geomorfologia, vegetação, sistema
hidrográfico, arquitetura, publicidade e outras entidades paisagísticas que possuem
tempo e dinâmica próprios. Equivale entender que, na perspectiva do planejamento,
cada item requer estratégia diferenciada para intervenção, com técnicas, tempos e
políticas adequados.
Porém, a análise dos dados para a compreensão da paisagem edificada e
suas implicações sobre o desenvolvimento do turismo no CCLSS e seu entorno
estão embasadas nas propostas de leituras do espaço turístico de Roberto Boullón
(2002) por fazer referência à qualidade estética e aos diferentes elementos da
paisagem urbana sobre a experiência turística, podendo esta qualidade estética
50
despertar o interesse do observador em apreciá-la e contemplá-la, tornando a
experiência turística enriquecedora. Para consolidar tal análise, o autor enfatiza que,
para a definição mais precisa da paisagem urbana, faz-se necessário combinar as
seguintes variáreis: tipo de urbanização, nível econômico das edificações, estilo
arquitetônico, topografia, tipo de rua, tipo de pavimento e tipo de árvores.
51
4. CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DE MANAUS
Este capítulo da dissertação visa, primeiramente, apresentar a cidade de
Manaus por conter, em seu contexto histórico, cultural, econômico e social, o
CCLSS e seu entorno. Em seguida, trazer resultados e propostas em termos da real
significação histórica, dos resultados da estratégia política de propaganda da cidade,
da restituição de um logradouro dotado de segurança e infraestrutura à sociedade e
as diretrizes para a verificação do alcance de um dos objetivos pré-determinados – o
desenvolvimento do turismo a partir da requalificação da paisagem urbana.
4.1.
Caracterização geográfica
A cidade de Manaus é a capital do Estado do Amazonas encontra-se
localizada na Região Norte do Brasil e, mais especificamente na confluência dos
Rios Negro e Solimões; é pertencente à mesorregião do Centro Amazonense e à
macrorregião Amazônia.
O acesso a essa cidade, via terrestre, dá-se pelas Rodovias BR – 174 e BR319 que liga Manaus a Boa Vista (capital de Roraima) e a Porto Velho (capital de
Rondônia), respectivamente. E, pela AM-010 que liga ao Município de Rio Preto da
Eva e Itacoatiara e AM-070 que a liga ao Município de Iranduba. O acesso aéreo dáse através do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes e sua extensão “Eduardinho”
próprio para aeronaves de pequeno porte e o Aeroporto de apoio Ponta Pelada que
é de base militar e está sob a responsabilidade da FAB – Força Aérea Brasileira. No
que diz respeito ao transporte fluvial, o Porto de Manaus recebe embarcações de
pequeno, médio e grande porte tanto nacionais quanto internacionais.
52
Figura 3 - Localização geográfica do Município
Fonte: http://www.amaconsultoria.com.br/manaus/index.asp, Acesso em 28.04.2011.
O seu território ocupa uma área de 11.401,077 Km 2 com Densidade
Demográfica 158,06 hab/ Km2 (IBGE, 2010) e limita-se, ao Norte, com o Município
de Presidente Figueiredo; ao Sul com os Municípios Careiro e Iranduba; ao Leste
com o Município de Rio Preto da Eva e Amatari e a Oeste com o Município de Novo
Airão (PREFEITURA MUNICIPAL DE MANAUS, 2011).
Manaus apresenta clima equatorial úmido peculiar da Região Norte, com
chuvas no verão e temperatura média anual de 32°C. Chove quase todos os dias do
mês de dezembro ao mês de junho e costumam ser em fortes pancadas de pouca
duração. Nos demais meses caracteriza-se pela época da seca e sol intenso na qual
a temperatura chega a 38°C e em setembro chega em torno de 40°C. (INPE, 2011).
Com uma altitude média inferior a 100 metros, Manaus é caracterizada por
planícies constituídas por sedimentos da Era Antropozoica, baixos planaltos e terras
firmes (PREFEITURA MUNICIPAL DE MANAUS, 2011).
Em 1819, Karl von Martius e Johan von Epix citados por Mesquita (2006)
descreveram Manaus como “lugar situado num terreno desigual cortado por
córregos”. Tal descrição assinala a característica do relevo local.
53
Figura 04 - Planta da Cidade de Manaus (1852 – topografia acidentada e cortada por córregos).
Fonte: Jorge Herrán, 1990.
Durante o período provincial, Manaus era bastante recortada por igarapés
(figura 04), muitos dos quais aterrados na última década do século 19 (MESQUITA,
2006). O autor registra que o período era propício ao aproveitamento das boas
águas, visto que Manaus ocupa uma posição eminentemente aquática. Na ocasião,
chafarizes foram facilmente instalados no centro da cidade – o que servia para
abastecimento da população.
Tal sistema de abastecimento durou cerca de dez anos e, em 1865 foi
observado que a água do rio não era apropriada para consumo. Um Código de
Posturas Municipais foi promulgado e em 1872 era proibido tirar água de igarapé do
Aterro para comercializá-la ou ser usada para lavagem de roupas ou animais
(cavalo, na época). Em 1883 a lei que dava autorização ao presidente a dar início às
obras de canalização da água potável foi aprovada.
Atualmente, o sistema de abastecimento de água no Município, apresenta
uma produção com base em três captações no Rio Negro, sendo uma no Mauazinho
e duas na Ponta do Ismael e conta com 121 poços que captam a água do aquífero
subterrâneo (ÁGUAS DO AMAZONAS, 2011).
O Rio Negro citado ocupa uma posição importante em volume de água
perdendo apenas para o Rio Amazonas – do qual é afluente. O Rio Negro é também
54
o rio mais extenso de água negra do mundo. O Rio Negro e o Rio Solimões são os
dois rios que passam pelo município de Manaus.
Manaus apresenta diversidade e, consequentemente, extraordinário recurso
natural e por esse motivo é conhecida como “Capital Ambiental do Brasil”. O
Município está localizado na maior reserva do país (IBGE, 2011), apresenta
vegetação densa e flora diversificada.
4.2. Caracterização Histórica
A “narração” do histórico do Município de Manaus em seus principais
períodos é o objetivo desse subcapítulo, pois identificará os trâmites políticos,
econômicos, sociais e culturais como norteadores do repertório edificado
remanescente ou não.
Fortaleza do Rio Negro, Fortaleza da Barra, Lugar da Barra, Barra do Rio
Negro, Barra e Vila da Barra foram algumas denominações que a cidade de Manaus
recebeu no decorrer de sua evolução histórica. Tais denominações surgiram a partir
do processo de ocupação inicial que se dá na fundação do forte de São José da
Barra do Rio Negro ao período de instalação da Província e consolidou-se em 4 de
setembro de 1856 quando a Lei n. 68 mudou para cidade de Manaus. O termo
Manaus faz homenagem à nação indígena manaós e significa “mãe dos deuses”
(MESQUITA, 2006; GARCIA, 2010). No processo inicial supracitado é possível
descrever o uso da força e da fé para subjugar o conquistado, caracterizando o
sistema de colonização lusitana o qual é materializado e demarcado através de
ícones que eram as construções típicas do cenário como a Fortaleza de São José
da Barra do Rio Negro6 e a Igreja. O primeiro, que representa forte denominação
militar, erguida sobre um cemitério indígena tem como objetivo proteger o lugar
contra incursões estrangeiras e o segundo, construído por volta de 1695, reporta-se
à fé que, localizada próximo ao forte, era tida como a construção mais importante do
Lugar da Barra apesar de sua aparência simples e de ter sua obra atribuída aos
religiosos carmelitas (Castro, 2006).
6
Em 1669, o Capitão Francisco da Mota Falcão ergue Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro atendendo
a ordens do general Antônio de Albuquerque Coelho.
55
Os dois ícones estabelecidos influenciaram na ocupação do território visto
que as aglomerações surgidas partiram do seu entorno até a beira do rio; o que
registra a ausência de um planejamento urbano.
Por volta de 1786, o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira narrado por
Mesquita (2006, p.24) “observou que a população se dividia em dous bairros, ao
longo da margem boreal: ambos elles ocupam uma porção de barreira que medeia
entre os dous igarapés da Tapera dos Maués, e dito dos “Manaós””. Inicialmente
pequena, com cerca de 301 habitantes sendo a maioria de nativos, Manaus vivia de
produtos extrativos oriundos da floresta ou dos rios, visto que o município ocupa
uma posição estratégica para trabalhar e gerar riqueza (MESQUITA, 1999, p. 24).
Ainda no século 18, algumas melhorias foram estabelecidas e diversos
estabelecimentos industriais passam a funcionar. Pano, algodão, fécula de anil e
cordoalha são algumas benfeitorias resultante desse progresso que só foi possível
com a ousadia7 do governador Manoel Lobo D’Almada que mandou construir prédios
para serviços públicos.
Do período colonial até o período de instalação da província é registrado
como uma fase de poucas alterações. O lugar recebeu inúmeros portugueses e
brasileiros de outras províncias que passaram a construir casas mais confortáveis;
os primeiros tornaram-se comerciantes apesar do tímido comércio local. Na ocasião,
“faltava médico, boticário e professor primário. (MESQUITA, 2006, p. 26).
Em 1833, como consequência da promulgação do Código Criminal que
acarretou na divisão do governo paraense em três comarcas (Grão-Pará, Baixo
Amazonas e Alto Amazonas), o Lugar da Barra após ser promovido à condição de
vila, assume a denominação de Vila de Manaós na posição de capital da comarca
do Alto Amazonas. A respeito do crescimento da capital, Antônio Ladislau Baena
descreveu:
O lugar era composto por pequenas ruas e uma praça, e a maioria de suas casas
era coberta com palha, mesmo o Palácio dos Governadores, a Provedoria e o
quartel. Havia duas igrejas, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição e uma outra
pequenina, além do Hospital Militar, dos armazéns da Provedoria, Armas e Pólvoras
e uma pequenina Ribeira de construções de canoas e batelons. (BAENA, 1839,
p.380).
7
A ousadia refere-se ao ato de transferir a sede do governo da Vila de Barcelos (onde funcionava desde 1758)
para o Lugar da barra sem autorização do governador do Grão-Pará, ao qual ele (D’Almada) era subordinado.
(MESQUITA, 2006).
56
A Vila de Manaós passa a ser cidade em 1848 e a denominar-se Barra do Rio
Negro e, com base em sua posição geográfica, o Imperador D. Pedro II, em 5 de
setembro de 1850, criou a Província do Amazonas e introduziu a navegação
comercial a vapor na calha do Rio Amazonas o que posteriormente (1866) foi
determinado como abertura dos Portos do Rio Amazonas ao Comércio Internacional.
(GARCIA, 2010). Nessa nova perspectiva, a região passa a ser de interesse
internacional e a atrair grande número de viajantes das mais diversas habilidades e
origens.
Pesquisadores, cronistas, cientistas e até simples aventureiros, após
conhecer a região, divulgavam relatos sobre vários aspectos observados. Na
ocasião, o registro da paisagem passa a ser descrito:
As casas eram geralmente de um só piso, cobertas de telhas e assoalhos com
tijolos. As paredes eram quase sempre pintadas de branco e amarelo e as portas e
janelas de verde. A cidade era assentada num terreno irregular cortada por dois
igarapés onde, em cada um deles havia uma ponte de madeira regular”
(MESQUITA, 2006, p. 29).
Em 1856, obedecendo à Lei n. 68, a Barra do Rio Negro muda de nome e
passa a ser cidade de Manaós. Nesse tempo, a descrição da paisagem foi pelo
francês François Auguste Biard citado por Otoni Mesquita (2006):
Naquela pequena localidade cheia de subidas e descidas, onde as ruas eram
esteiradas de capim, testemunhavam-se mexericos e maledicências (...). O ritmo das
pessoas deixa-me impaciente e faz o dia parecer ter 48 horas (MESQUITA, 2006, p.
33).
E, na passagem do século XIX para o XX, no período republicano, Eduardo
Gonçalves Ribeiro (1893
– 1896) em sua administração favorecida por
circunstâncias e por seu espírito empreendedor, alcançou transformações urbanas
significativas com influências do modelo parisiense as quais subjugam o cenário
provinciano herdado. Tais investimentos só foram possíveis através do recurso
oriundo da comercialização da borracha (fato econômico importante que destacou o
Estado no âmbito internacional), da fase republicana consolidando a influência
política e cultural, onde a sociedade cosmopolita necessita atualizar-se de acordo
com os grandes centros.
A repaginação urbana foi a estratégia adotada pelo governador supracitado
para deixar apenas na história o ar provinciano que se instalou em Manaus. A
57
cidade começou a ser transformada e no fim do século XIX e início do século XX
tornou um verdadeiro canteiro de obras (MESQUITA, 2006, p.198). Em 30 de
setembro de 1898 uma lista de obras (quadro 7) de Eduardo Ribeiro (MONTEIRO,
1990, p. 96-97) foi publicada no jornal A Federação e reproduzida na revista italiana
L’Amazzonia (no mês seguinte).
Quadro 7 - Obras publicadas no jornal A Federação.
Fonte: adaptada de Monteiro (1990, p. 96-97).
58
Segundo Monteiro (1990), para essa nova fase de transformações, fez-se
necessário buscar na Europa (portugueses, italianos e franceses) e em outras
cidades brasileiras mão-de-obra especializada como técnicos, operários, mestre-deobras e construtores que enriqueceram de luxo e requinte uma parte da paisagem
edificada. Tal situação pode ser notada na publicidade da época onde alimentos,
vestuários, cosméticos, sapatos, artigos de decoração, bebidas e materiais de
construção eram oferecidos à população (figuras 05, 06 e 07).
A justificativa da parcialidade da paisagem edificada referida anteriormente
deve-se à imagem, talvez ilusória, da riqueza e luxo, narrada, pois essas
transformações limitava-se a uma restrita área da capital e a um seleto grupo da
elite, o que acirra a divisão de classes. O centro, por ser cenário das lucrativas
relações comerciais, foi configurado como foco dos melhoramentos facilitando o livre
comércio de produtos e acesso de mercadorias (CASTRO, 2006).
Figuras 05, 06 e 07 - Anúncios publicitários século XX em Manaus.
Fonte: Anuário de Manaus 1913-1914.
Assim, edificações nobres e a repaginação da infraestrutura são configuradas
a partir dessas transformações. Igarapés com pontes duvidosas são aterrados
dando lugar às vias públicas; sendo que algumas pontes permanecem e recebem
estrutura
metálica.
População
mais
carente
tem
seus
humildes
imóveis
desapropriados e, consequentemente “convidados” a instalarem-se em zonas mais
distantes do centro.
Diante do exposto percebe-se a clara divisão da forma de acordo com a
classe econômica sendo a predominância da simplicidade das residências de
pessoas menos favorecidas e os sobrados destinados aos que detinham maiores
condições financeiras.
59
Com visível crescimento populacional, fez-se necessário estabelecer e impor
um Código de Posturas com o objetivo de erradicar qualquer tentativa que
comprometa os costumes, a família, o trabalho, a ordem, a moral e os bons
costumes. Em tamanha exigência, visto que o desacato a qualquer determinação
gerava multas e ou até prisões e, na consequente impossibilidade de pessoas
menos favorecidas a seu atendimento, surgem aglomerados protestando essa nova
realidade e, posteriormente, organizam-se em movimentos com direitos a cartazes,
propostas de greves e até passeatas que ocorriam no dia 1° de maio. Essas
manifestações davam-se nos logradouros (Praça de São Sebastião e Teatro
amazonas), de divulgação e consolidação da cultura popular, frequentados pela elite
e que acabou sendo referência de partida e largada nas futuras comemorações do
dia do trabalhador em todo 1° de maio de 1914 a 1920:
Localizada em frente ao Teatro Amazonas, ela se constitui como alternativa de
apreensão da monumentalidade externa do mesmo. Não só os trabalhadores, como
também outros segmentos despossuídos de Manaus, não vivenciavam esse lugar
do luxo, dos chamados “barões da borracha”. Mas a bonita praça, construída à
mesma época do teatro como seu complemento, tendo ao centro um monumento
comemorativo da abertura dos portos do Amazonas ao mundo, por ter uma
dimensão pública, era utilizada pelos trabalhadores para manifestarem-se contra o
patronato local. (COSTA, 1998, p. 70).
O período seguinte é marcado pelo declínio da produção gomífera - o que
influencia diretamente na manutenção do patrimônio edificado devido à falta de
recursos. Essa fase perdura até a concretização da Zona Franca de Manaus (ZFM)
que marca uma nova fase de desenvolvimento econômico para o Município. Com
novas tecnologias e novos nichos de mercado, a ZFM contribui para uma nova
característica edificada.
Foi a partir de 1910 que o declínio da borracha passou a se estabelecer e
diversos fatores contribuíram para a situação; para dinamizar o entendimento segue
abaixo (quadro 8), de forma explicativa:
60
Quadro 8 - Análise de autores acerca do declínio da borracha
Fonte: Andressa Santos (2011).
Ainda Oliveira (2003), na profunda análise do período considerado como
“período da cidade em crise” (1920 a 1967) onde descreve as consequências do
declínio da borracha e o saudosismo ao Governador Eduardo Ribeiro que, apesar
das duras críticas, propiciou grande desenvolvimento ao município. O autor faz
referência a dois marcos históricos sendo o primeiro caracterizado pelo apogeu e
declínio da borracha e o segundo pela criação da Zona Franca de Manaus e seu
Distrito Industrial, sendo ambos influenciadores das modificações na paisagem
urbana onde, conclui o autor (2003, p.30), “a cidade é produto das relações sociais
que se especializam como resultado do modo de ser de uma sociedade em
espaços-tempos específicos”.
O declínio assinalado faz com que muitas famílias abandonem seus imóveis
almejando melhores perspectivas em outros Estados. Segundo Loureiro (2001,
p.98), em 1913 existia mais de 2500 casas abandonadas no Centro de Manaus. E,
com os seringais falidos, uma expressiva população oriunda do interior se
estabelece em condições precárias. Oliveira (2003, p.82) registra que “cerca de 10
mil migrantes vindos da zona rural (vales dos Rios Seringueiros: Madeira Purus e
Juruá) agravando ainda mais o problema da habitação”.
61
Figura 08 – imagem da cidade flutuante – Manaus
Fonte: http://www.biblioteca.ibge.gov.br, acesso em 13/05/ 2011.
A figura 08 mostra a cidade flutuante que surgiu em decorrência do
contingente populacional que Manaus recebeu, pois, sem emprego e sem dinheiro,
precisaram instalar-se sob condições precárias na entrada da cidade e
posteriormente se estendendo até a foz do Igarapé de Educandos. Essa situação
marca um triste cenário estético e social.
Apesar desse cenário estabelecido, tímidos melhoramentos urbanos surgem,
mesmo que restrito ao centro da cidade; e várias praças passam a ser recuperadas,
o asfalto introduzido e o calçamento macadame experimentado como atitude de
valorização das pedras da região (OLIVEIRA, 2003, p.106 a 108).
As cidades flutuantes perduram até 1965 quando a Capitania dos Postos
retira os flutuantes por tornar a navegação dificultosa. Os moradores com melhores
condições estabeleceram-se nos Conjuntos8 Residenciais de Flores e da Raiz e os
mais desprovidos de recursos receberam pequena ajuda para o desmonte e
transporte do material para a construção de outro em outro local da cidade. Essa
situação deixa claro a estratégia política em manter essa camada popular distante
da elite e a expansão urbana.
A partir de 1967, com a criação da ZFM, a expansão urbana é notória, as
imagens 07 e 08 registram-na e fazem uma comparação com o território ocupado
em 1915. Ao norte, surgem os bairros Jardim Amazonas, Chapada; a leste, o
Adrianópolis, São Francisco, Petrópolis e a estrada do Aleixo; a Nordeste a rua
8
Conjuntos construídos com recursos do BNH - Banco Nacional da Habitação.
62
Recife até o Parque 10 de Novembro; a sudeste, os bairros de São Lázaro, Colônia
Oliveira Machado e o aeroporto Ponta Pelada; a oeste, os bairros de São Jorge até
a estrada da Ponta Negra e a sudoeste os bairros de Santo Antônio e São
Raimundo (OLIVEIRA, 2003, p. 94 a 95).
Figuras 09 e 10: Comparação da expansão territorial nos anos de 1915 e 1968, respectivamente.
Fonte: OLIVEIRA, José Aldemir de. Manaus de 1920-1967: A Cidade Doce e Dura em Excesso, 2003.
Adiante no contexto histórico, o século XX é registrado com expressivo
desenvolvimento. O serviço público (transporte, porto, água e luz) apesar de
terceirizado e explorados por empresas estrangeiras, não dispunham de qualidades
desejadas, alvo de críticas e reprovações. Vale registrar um avanço na coleta de lixo
com o uso de caminhões adaptados (que até 1926 era em carroças movidas a
tração animal), nos logradouros públicos9 e no sistema de transporte. Esse último é
marcado com o surgimento do primeiro ônibus urbano (década de 30) que atendia,
inicialmente, os bairros de
Educandos e
cachoeirinha e, posteriormente,
estendendo-se às demais áreas da cidade e reforçando os bondes e as catraias (via
igarapés) que, até antão, eram os únicos meios de transportes. No final da década
de 40, o serviço de bondes decai e os ônibus predominam no transporte.
Esses avanços tímidos, como citados anteriormente, é o registro direto da
crise da borracha que perdura, apesar das tentativas do governo central em reverter
tal situação. Mesquita (2006, p.162) descreve:
9
Araújo Lima (1926-1929), em sua administração, valoriza praças do centro e proporciona tratamento
permanente aos parques e jardins. Ergue o Relógio Municipal na Avenida Eduardo Ribeiro, cria o Bosque
Tarumã era dimensiona o Bosque Municipal. Na administração de Antônio Botelho Maia criou-se o Balneário do
Parque 10 de Novembro, o Aquaviário Municipal, o Horto Florestal e o Castanhal de Manaus.
63
Decididamente, o primitivo sistema extrativista fora derrotado e não dispunha de
recursos capazes de acompanhar a rapidez e a qualidade da produção asiática. A
Amazônia despedia-se definitivamente de sua fase áurea e mergulhava numa
estagnação econômica que manter-se-ia por várias décadas, surgindo nova
demanda somente por um curto espaço de tempo durante a 2ª Grande Guerra,
quando o produto oriental encontrava-se inacessível (MESQUITA, 2006, p.162)
Foi a partir da Zona Franca de Manaus e seu Polo Industrial que a
recuperação econômica se efetivou alavancando o turismo de compras (figura 08).
Figura 11 - Centro de Manaus em consequência da ZFM.
Fonte: Robério Braga, 1990.
Diante dos acontecimentos supracitados, podemos citar como conclusão a
respeito do declínio da borracha, a situação de passiva “espera” de intervenções que
poderiam vir do Governo Nacional. Oliveira (2003, p.53) pontua que “essa talvez
seja a principal característica da temporalidade e espacialidade amazônicas. (…)
Aqui se está sempre a espera de migalhas que se possam vir dos de fora”.
4.3. Caracterização socioeconômica e sociocultural
Manaus possui uma área de 11.401,077 km 2 e população de 1.802.014
habitantes sendo 1.792.881 no perímetro urbano e 9.133 no perímetro rural. De
economia acelerada é a sexta maior cidade brasileira em Produto Interno Bruto.
Com PIB de R$ 38.116 milhões, o município ocupa a 6ª posição do Brasil (IBGE,
2011).
Toda zona econômica do município apresenta isenção de tributos para
industrialização e para o consumo, os quais objetivam o desenvolvimento da
64
Amazônia Ocidental e a preservação da natureza. O setor secundário é a base de
sua economia, ou seja, as indústrias de transformação onde os sub-setores
eletroeletrônico e de veículos de transporte (bicicletas, motocicletas, triciclos e
quadriciclos) são predominantes. Tais subsetores são sustentados pelas grandes
empresas transnacionais, basicamente de origem asiática, americana e/ou européia
e alimentam, em sua maior parcela, o mercado brasileiro (SUFRAMA, 2011).
Em 2010, o município apresentou estabilidade econômica e crescimento
industrial de 60% tornando-o responsável por 55% da economia da Região Norte e
98% da economia do Amazonas (PREFEITUMA MUNICIPAL DE MANAUS).
Dos centros indústrias do Brasil, Manaus é um dos maiores por abarcar a
Zona Franca de Manaus. Porém a construção civil, o ecoturismo e os serviços
predominam. Como infraestrutura da economia do município citamos: o aeroporto
internacional, terminais portuários, rodovias municipais, estaduais e federais, oferta
de gás natural (gasoduto Urucu-Coari-Manaus), energia elétrica, saneamento básico
e sistema de comunicação (IBGE, 2011).
É nas rodovias (BR-174 E AM-010) que a atividade agropecuária está
concentrada. Cupuaçu, abacaxi, guaraná, arroz, tucumã são itens da agricultura que
apresenta crescimento (SUFRAMA, 2011).
No que diz respeito ao turismo, Manaus oferece, em sua área urbana, uma
expressiva rede hoteleira e em sua região metropolitana alguns Hotéis de Selva.
Durante o World Travel Market Manaus recebeu (Londres, 2009) o prêmio destino
verde da América Latina. O Teatro Amazonas é um de seus principais pontos
turísticos, assim como o Encontro das águas (encontro dos Rios Negro e Solimões).
(OTCA, 2011).
Remontamos agora à época da Borracha, onde nordestinos migraram para a
Amazônia em busca de uma oportunidade, para registrarmos a contribuição destes
na cultura local, pois junto com os povos nativos da região formam a miscigenação
cultural ampla e diversificada – cultura mestiça e indígena. Tal miscigenação é
divulgada através do Museu do Homem do Norte, referência étnica do país. Em
relação à música, artes visuais, literatura e artes plásticas, Manaus apresenta a “A
Casa das Artes” localizada no Largo de São Sebastião (MESQUITA, 2006).
Boi-Bumbá, samba, forró e ópera são os gêneros musicais de destaque na
cultura manauara e são influências do Boi-Bumbá de Parintins, do festival de samba
do Rio de Janeiro, dos estilos nordestinos e da tentativa de resgate da época áurea
65
da Borracha, respectivamente. Esse último acontece durante os meses de abril e
maio e transformou Manaus da capital brasileira de ópera através do Festival
Amazonas de Ópera (SEC-AM, 2011).
Também importante evento cultural (internacional), o Amazonas Film Festival,
promovido pelo Governo do Estado em parceria com a rede Globo e Record (através
da participação de seus atores, recebe também atores internacionais - de
Hollywood), destaca os filmes de aventura em suas manifestações e retratam a
realidade local em seus diversos temas: moradia, população, desmatamento, ...
Os cursos de artes cênicas e música são oferecidos pelo Liceu de Artes e
Ofício Cláudio Santoro e a Universidade Federal do Amazonas (primeira
universidade do Brasil, criada em 1909).
Museu de Ciências Naturais da Amazônia (marca presença japonesa no
Amazonas, atualmente fechado por falta de apoio financeiro), Museu do Índio (citado
anteriormente), Museu do Homem do Norte, Museu Amazônico da Universidade
Federal do Amazonas, Palacete Provincial, Pinacoteca do Estado, Museu da
Imagem e do Som do Amazonas – MISAM, Museu Numismática Bernardo Ramos,
Museu Tiradentes, Museu de Arqueologia, Museu do Porto, Museu Tiradentes,
Museu Casa Eduardo Ribeiro e Museu do Seringal Vila Paraíso formam o rol de
opções culturais do município. Vale ressaltar que seus respectivos horários de
funcionamento devido a carência de recursos humanos dificultam a visitação em
massa. Geralmente estão fechados nos fins de semana e feriados. (SEC-AM, 2011).
Suas noites são movimentadas e há muitas bandas jovens de diversos estilos
e para todas as preferências.
No que diz respeito à moda, o evento Estética & Moda, realizado anualmente
divulga as marcas e modelos de Manaus. É a oportunidade de mostrar, em nível
nacional, uma expressão predominantemente local. Os acessórios se apresentam
numa composição de sementes e pedras semipreciosas e podem ser encontradas
em diversas lojas de artesanato da cidade. (SENAI/AM, 2011).
A grande variedade de peixes proveniente da bacia do Rio Amazonas é o
cargo chefe da culinária manauara, de acordo com dados da SEAP – Secretaria
Especial de Agricultura e Pesca, 14% da população de Manaus consome peixe
diariamente. Pirarucu à casaca, caldeirada de tambaqui e jaraqui frito são pratos que
demostram essa culinária em poucas palavras e gosto delicioso.
Somada aos
peixes, a tapioca também merece lugar de destaque, pois é altamente consumida
66
acompanhando os cafés (manhã ou da tarde). Tapioquinha simples, com queijo
coalho e/ou com tucumã são as mais pedidas. A respeito de tucumã, o “xcaboquinho” é o sanduíche genuinamente manauara (SEBRAE/AM, 2011).
4.4. Estudo de Caso – Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu Entorno
O atual Centro Cultural “Largo” de São Sebastião é uma proposta recente de
espaço público em prol da cultura local - resgate dos encantos que um dia a cidade
proporcionou aos seus habitantes e visitantes - e do turismo. Surgiu como
consequência de um Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e da
Praça de São Sebastião que pertencem ao Programa Manaus Belle Époque 10.
Portanto, para entender a sua história faz-se necessário conhecer, primeiramente, o
Programa Manaus Belle Époque.
No fim no ano de 1996, com o sucesso das festividades do Centenário do
Teatro Amazonas, verificou-se o grande potencial que o Estado apresentara em
espetáculos e demais ações culturais. Após conversa entre o Governador do
Estado11 e o Secretário de Cultura12, algumas decisões foram tomadas e metas
estabelecidas. A primeira providência foi organizar formalmente a Secretaria de
Estado de Cultura do Estado do Amazonas, a SEC-AM13, estabelecer suas ações,
delimitar seu raio de atuação e planejar as melhorias que possibilitasse tornar
Manaus em um destino cultural e turístico. Em seguida promover a qualificação
técnica ao pessoal envolvido através de programas e projetos específicos. As
demais ações restringiram-se em preparação e formatação dos espetáculos da
ópera em si: corpo técnico, formalização de contratações, estabelecimento de
programas e divulgação. Todas essas ações iniciais obtiveram um resultado
positivo, porém o Festival de Ópera, a cada ano, cresce em público, em dimensão e
em repercussão com intensidade maior à capacidade do Teatro Amazonas.
Uma vez o Teatro Amazonas com sua programação se solidificando, a SECAM iniciou as articulações para promover demais localidades tanto pela
possibilidade de sustentação dos espetáculos e dessa nova demanda quanto para
10
Nome dado em homenagem à Época Áurea da borracha que sofreu influência da Bélle Époque Parisiense.
Na ocasião, o Sr. Amazonino Mendes.
12
Sr. Robério Braga, Secretário de Estado da ocasião e que permanece no cargo até os dias atuais.
13
Para Secretaria de Estado da Cultura do Amazonas, usar-se-á, a partir desse momento, a sigla SEC-AM.
11
67
torná-las condizentes com a imponência do Teatro Amazonas. Iniciou-se assim a
Revitalização do Centro Histórico de Manaus.
Para SEC-AM, a Revitalização do Centro Histórico de Manaus, por ser uma
ação inovadora, fez-se necessário, primeiramente, a capacitação14 de trabalhadores
em Técnicas de Restauração onde, seiscentos profissionais da construção civil (de
todos os níveis) participaram. Formou-se então, em 1997, mão de obra qualificada
para intervir nas obras de revitalização.
No ano seguinte, em 1988, através do Projeto Canteiro-Escola Casas da
Sete15 (figura 9), deu-se a primeira experiência prática dessa qualificação de mão de
obra consolidando as diretrizes norteadoras das atividades subsequentes como a
busca pela originalidade das construções e, quando necessárias, as adequações de
uso.
Figura 12 – Projeto Casa das Sete – antes e depois da intervenção.
Fonte: Casa do Restauro, com adaptações, 2002.
Com a mão de obra qualificada e com a experiência em revitalizações se
fortalecendo, o Programa Manaus Belle Époque começou, em 1999, a ser idealizado
com a intenção de revitalizar as demais áreas históricas significativas da Cidade de
Manaus.
Portanto, o Programa Manaus Belle Époque compreende em um conjunto de
projetos de revitalização de áreas estratégicas do Centro Histórico de Manaus, a
saber: Projeto de Revitalização da Área de Entorno do Mercado Adolpho Lisboa;
Corredor Especial de Turismo (Rua Marcílio Dias), Projeto de Revitalização de
Imóveis Históricos (Igreja do Pobre Diabo, Cemitério São João Batista); Restauração
14
O Programa de Capacitação foi um resultado de parceria entre o Governo do Estado, a Fundação Getúlio
Vargas e o ISAE onde os módulos trabalhados forma: Introdução às “Técnicas de Restauro, Conservação e
Recuperação de Bens Imóveis e Elementos Integrados” e “Recuperação de Pinturas Decorativas e Elementos
Decorativos na Arquitetura.” (SEC, 2002).
15
Projeto de recuperação de onze fachadas dos imóveis vizinhos ao Palácio Rio Negro (bem tombado estadual),
localizado entre as pontes romanas, na Avenida Sete de Setembro.
68
da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, Casa da Cultura e Teatro da
Instalação, já concluídos; Projeto de Revitalização do Entorno da Matriz, concluída a
1ª. Etapa; Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São
Sebastião.
Com o exposto, o CCLSS e seu entorno foi o objeto de estudo proposto
nesse projeto e sua escolha apresenta como base os seguintes critérios:
Quadro 09 – Quadro de critérios de escolha do objeto de estudo.
Fonte: Andressa Santos, 2012.
O CCLSS e seu entorno compreende o quadrilátero formado pelas ruas Costa
Azevedo, José Clemente, Dez de Julho e pela Avenida Eduardo Ribeiro e,
originalmente era formado pelo Teatro Amazonas, pela Galeria do Largo, pela praça
e a Igreja de São Sebastião e o monumento em homenagem à abertura dos portos,
pelo Palácio da Justiça, pela Casa Ivete Ibiapina, pelo Bar do Armando, pela Casa
do Restauro, pela Casa J.G. Araújo e pelo Centro Cultural Cláudio Santoro (figura
06). É uma área que, por si só, transmite elegância, imponência e um imenso acervo
de história e cultura justificando ainda mais uma análise com sua posterior descrição
dos setores que se desenvolveram a partir de então.
Figura 13: Área de abrangência – LSSE.
Fonte: adaptada de Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São
Sebastião, 2003.
69
O Projeto supracitado consagra o local como o cartão-postal do Estado
revelando-o como o mais expressivo símbolo da cultura a qual pertence. É a
imagem que o país e o mundo recebem através da mídia e, sobretudo a partir do
Manaus Film Festival, Festival Amazonense de Ópera e o Amazonas Jazz Festival –
programas da cultura local que entraram para o calendário de eventos oficiais.
Com base no exposto, o CCLSS e seu entorno foi alvo de discussão e análise
de resultados que, com base na metodologia pré-estabelecida e apresentada no
capítulo 3, formatarão o capítulo a seguir.
70
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Este capítulo 5 propõe a análise do resultado da pesquisa apresentada no
capítulo 1 e desenvolvida segundo a proposta formatada no protocolo explanado no
capítulo 3. Essa análise visa o alcance dos objetivos pré-determinados para este
projeto onde, respaldados pelo referêncial teórico, foram analisados os dados que
caracterizam o objeto de estudo, frente a cada objetivo específico: analisar o
processo histórico de evolução urbana do CCLSS e seu entorno; caracterizar o
processo de revitalização da paisagem edificada como resgate da memória cultural;
mapear a configuração atual da paisagem edificada desta área da cidade e analisar
as implicações desta memória cultural urbana e do seu processo de requalificação
sobre a atividade turística.
Ao final, os dados foram analisados conjuntamente resultando na resposta do
problema da pesquisa: Quais são as implicações do processo de requalificação da
Paisagem do Largo de São Sebastião e seu entorno sobre o espaço turístico de
Manaus?
Para tanto, a análise da paisagem foi conduzida a partir das variáveis
propostas por Boullón (2002) e suas implicações, no contexto do turismo,
respaldadas pelos dados coletados através de entrevistas e questionários.
5.1. Processo Histórico do CCLSS e seu entorno.
O processo histórico contextualizado nos permitiu afirmar que Manaus
apresenta um valor cultural inestimável que é contado através dos imóveis
tombados. Este capítulo descreve o contexto histórico do CCLSS e seu entorno
definido pelo quadrilátero formado pelas ruas Costa Azevedo, José Clemente, Dez
de Julho e pela Avenida Eduardo Ribeiro localizado no Centro da Cidade de Manaus
– AM.
71
Figura 14 – Monumento comemorativo - Panorama do Largo de São Sebastião.
Fonte: Vida, Revista de Cultura, Saúde e Qualidade de Vida, da Unimed Manaus, Ano 2, no. 4, maio/2005.
O marco inicial é dado através da existência da Praça de São Sebastião, no
ano de 1867, devido a instalação de uma coluna de pedra16 representando a
Abertura dos Portos às Nações Amigas (figura 14). Porém, antes mesmo de tornarse Praça, a área referida, doada pelo tenente-coronel Antônio Lopes Braga ao
Município, era apenas uma rocinha. Seu nome, “Praça de São Sebastião”, refere-se
à Irmandade de São Sebastião17. Importante citar que a Praça de São Sebastião
tornou-se o Largo do centro do Bairro São Sebastião - como a área foi denominada
na ocasião e que se tornou o quinto bairro de Manaus (MONTEIRO, 1998, p.640).
Paralelo ao Largo, as tratativas para construção de um teatro estavam sendo
cogitadas como consequência de exigências da sociedade manauara por um local
mais adequado para as apresentações cênicas. Para tanto , em 1881, o Sr. Alarico
José Furtado sancionou uma lei18 que o autorizava a dispor da quantia de cento e
vinte contos de réis para aquisição e um terreno e a construção de um teatro de
alvenaria nesta cidade. Em 10 de janeiro de 1884 foi escolhido 19 o local para
construção do teatro – ao lado da Praça de São Sebastião - e desapropriado pela
importância de Cr$ 20.000,00; e em 14 de fevereiro de 1884, apesar de ter havido o
lançamento da pedra fundamental sob a responsabilidade do então presidente José
Paranaguá, o Teatro Amazonas teve suas obras paralisadas e só foram retomadas
em 1892 na administração de Eduardo Ribeiro. (MONTEIRO, 1998, P.640). Já em 8
16
A coluna de pedra apresentava uma altura de 6 metros e foi uma iniciativa do Sr. Antônio Davi de Vasconcelos
Canavarro, diretor de Obras Públicas da ocasião (DUARTE, 2009).
17
De origem religiosa, a Irmandade de São Sebastião se instalou na Cidade em meados de 1859. Era formada
por missionários franciscanos (DUARTE, 2009).
18
Lei No. 546 de 14 de junho de 1881, Artigo 1o. In: Provincia do Amazonas. Colleção das Leis de 1881. Parte
Primeira. Tomo XXIX. Manaós.
19
Inicialmente o local seria à confluência da Avenida Eduardo Ribeiro com a Avenida Sete de Setembro e a Rua
Henrique Martins, porém o local foi descartado pela insegurança que o terreno proporcionava (área de igarapé).
(GARCIA, 2005, p. 99).
72
de setembro de 1888, construída sob a direção de Francisco Frei Gesualdo
Macchetti de Lucas, a Igreja de são Sebastião20 foi entregue ao povo (IGHA, 1985).
Voltando à Praça de São Sebastião, apesar do ano 1867 ser considerado o
marco inicial, suas obras de melhorias em prol da primeira formatação de “praça” em
si iniciaram-se trinta anos mais tarde, ou seja, só foram contratadas em dezembro de
1896 através de Marcolino Rodrigues resultando em um desaterro que passou a ser
“traduzida” como um descampado de terra batida. Porém, com o Teatro Amazonas 21
– contíguo ao logradouro – com obras inconclusas, mas já apresentando a sua
imponência na área, fez-se necessário que a Praça de São Sebastião
acompanhasse a sua beleza. Por esse motivo, o descampado de terra batida só
perdurou até o final do século XIX, pois em 8 de agosto de 1899, o contrato22 para a
execução do serviço de calçamento da Praça de São Sebastião e seu entorno
(abrangendo as ruas Dez de Julho e José Clemente) foi assinado e, como
consequência, a área central do logradouro recebeu a sincronia das pedras
portuguesas brancas e pretas formatadas, em 1901, em uma calçada com desenho
em formato de ondas e com extremidades de paralelepípedos de asfalto (IGHA,
1985; MESQUITA, 1999; DUARTE, 2009).
Entre uma inauguração e outra, em 1894, as obras do Palácio da Justiça se
iniciam, ainda no Governo de Eduardo Ribeiro; porém, foi inaugurado em 1900 na
administração de seu sucessor, o Sr. José Cardoso Ramalho Júnior (GARCIA,
2005).
Com inaugurações acontecendo e mudanças para acompanhar a beleza do
TA, o monumento de abertura dos portos também sofreu modificações. Em 1897 foi
apresentado pelos engenheiros Raimundo Hipólito Girard e Guilherme Capretz um
novo estudo para substituí-lo. Porém, a construção do atual modelo (figura 15) devese a Domenico de Angelis que foi contratado em 14 de março de 1899 e entregou a
obra em 5 de setembro de 1900 (IGHA, 1985). Em 15 de janeiro de 1901, marca a
construção do passeio dos imóveis do entorno “anunciada pelo Governador Silvério
Nery” (MESQUITA, 1999, p.294).
20
A Igreja de São Sebastião foi “contratada com Leonardo Malcher, orçada inicialmente em 8 contos de réis”
(IGHA, 1985, p. 96).
21
Para Teatro Amazonas será adotada, a partir desse momento, a sigla TA.
22
O contrato citado foi firmado entre Antônio Augusto Duarte e a Diretoria de Obras Públicas (MESQUITA,
2005).
73
A partir dessa data, a Praça de São Sebastião recebeu melhoramentos
apenas nos anos de 1914 e 1915 na administração de Dorval Porto onde, na
ocasião, mudas de Fícus-benjamin foram plantadas ao seu redor. Em 1920,
dezesseis bancos de madeira com armação de ferro foram colocados ao longo do
logradouro, além de alguns outros reparos. Confere-lhe ao superintendente Franco
de Sá a responsabilidade desse último.
Em 29 de agosto de 1924, o governador Alfredo Augusto Ribeiro Júnior foi
deposto de seu cargo e, por essa razão, a Praça de São Sebastião passou a ser
chamada de Praça Ribeiro Júnior. A homenagem foi iniciativa do superintendente
municipal Francisco das Chagas Aguiar por meio do decreto nº. 28, de 29 de agosto
de 1924. Em 1925 foi instalado um coreto para que as bandas militares
apresentassem suas obras. Atribui-se essa iniciativa ao prefeito Hugo Carneiro.
Figura 15 – Monumento em homenagem à abertura dos portos do Rio Amazonas às nações amigas.
Fonte: Andressa Maria Santos, 2011.
A alteração seguinte relacionada ao nome da praça deu-se no ano de 1930
por meio do decreto municipal nº. 2, de 31 de outubro. A partir desse momento, a
Praça 24 de Outubro faz referência ao dia em que Getúlio Vargas ascendeu à
presidência do Brasil, porém, através do Decreto Municipal nº. 49, de 9 de setembro
de 1931 volta, oficialmente, à denominação inicial, ou seja, Praça de São Sebastião
(DUARTE, 2009).
Somente em 1974, na gestão do prefeito Frank Lima, a Praça de São
Sebastião passa por uma recuperação total. Na ocasião, manteve-se o formato
retangular com cantos arredondados fazendo harmonia com as árvores de Fícus-
74
benjamin que circundam a praça. Em 1995, em parceria da Prefeitura de Manaus
com a empresa Xerox do Brasil, o piso bicolor e o monumento em homenagem à
Abertura dos Portos foram recuperados e as lâmpadas comuns dos postes de
iluminação foram substituídas por lâmpadas apropriadas ao ambiente externo –
lâmpadas a vapor de sódio de cor alaranjada. Em 1999, foi iniciada uma restauração
sob a coordenação da Empresa Municipal de Urbanização (URBAM), onde o
monumento central recebeu limpeza apropriada e houve a “reposição do
calçamento, com pedras trazidas de Belo Horizonte/MG”. (DUARTE, 2009, p. 38).
Nos anos de 2003 e 2004, o Projeto Manaus Belle Époque contempla a Praça
de São Sebastião e seu entorno consolidando o Centro Cultural Largo de São
Sebastião.
O Centro Cultural Largo de São Sebastião, por sua vez, é um complexo
inaugurado em 7 de maio de 2004 e era formado pela Praça de São Sebastião, pelo
TA, pela Casa Ivete Ibiapina, pelo Bar do Armando, pela Casa do Restauro, pela
Casa J.G. Araújo, pela Casa das Artes, pela Galeria do Largo e pelo Centro Cultural
Cláudio Santoro. Atualmente (vide quadro 10), o Bar do Armando, a Casa do
Restauro, o Centro Cultural Cláudio Santoro não estão mais vinculados.
5.1.1. Teatro Amazonas
O Teatro Amazonas é a obra de maior símbolo cultural e turístico do
nosso Estado cuja história é traçada a partir do dia 21 de maio de 1881 com a
apresentação de um projeto que solicitava verba para a construção de um teatro em
alvenaria à Assembleia Provincial. Tal apresentação, de responsabilidade do
deputado Antônio José Fernandes Júnior, surtiu efeito ao ponto do presidente da
Província, Alarico José Furtado (em menos de um mês depois), por meio da Lei 546,
autorizar cento e vinte mil réis para a compra do terreno e o início da obra.
(DUARTE, 2009; MESQUITA, 2006).
Após extrema discussão acerca do local, aprovação em assembleias e
repasse de verbas, lança-se, em 14 de fevereiro de 1884, a pedra fundamental do
Teatro Amazonas no terreno que enfim, seria edificado. O terreno foi uma
desapropriação e pertencia ao tenente-coronel Antônio Lopes Braga. As obras foram
iniciadas somente em 2 de junho do mesmo ano.
72
73
Com estrutura construtiva convencional, o teatro adota o tradicional formato
de caixa com quatro paredes que remete à tradição arquitetônica desenvolvida pelos
gregos e difundida pelos romanos, entretanto, a superposição de pavimentos
destaca sua grandiosidade. Com pouca evidência no uso ferro em sua construção,
marcado apenas no guarda-corpo da sala de espetáculo, algumas escadas e
corrimão, destaca os desenhos sinuosos do estilo art nouveau.
Figura 16 – Detalhe Teatro Amazonas
Fonte: Andressa Maria Santos, 2011.
Ornamentação barroca é a predominância na fachada do teatro, porém
verifica-se a presença de alguns elementos do vocábulo clássico. O ecletismo surge
na majestosa cúpula de ferro e vidro revestida com telhas coloridas de verde,
amarelo, azul e vermelho. Há uma verdadeira mistura de estilos históricos que,
integrando-se em harmonia, proporcionam beleza ímpar e se destacam através dos
tons rosa e branco (figura 16).
Sua sala de espetáculos é apresentada em planta baixa com formato de lira
(ou ferradura) com três entradas para plateia. Em seu entorno há quatro andares de
camarotes sendo o primeiro pavimento bem acima da plateia e entre os camarotes
há colunas jônicas que dão sustentação aos lustres. Os demais apresentam capitéis
coríntios estilizados. Em torno do palco, há uma profusão de elementos decorativos
em estuque e latão, esculturas carótides barrocas e querubins rococós, cortinas
decoradas, festão com folhagens e frutos; máscaras e mascarões de aspecto
74
barroco, compondo um rico colorido em rosa, dourado, verde e vermelho (figura 17).
Destacamos aqui o fosso móvel da orquestra onde o mesmo pode ser elevado,
ampliando espaço do palco. A pintura do pano de boca é de autoria de Crispim do
Amaral e apresenta o tema encontro das águas.
Figura 17 – Teatro Amazonas –detalhes internos
Fonte: Fotomontagem de Andressa Maria Santos, 2011.
O teto abobadado registra pinturas em telas desenvolvidas em Paris pela
Caza Capezot e registram alegorias à Música, Dança, Tragédia, homenagem a
Carlos Gomes e em uma representação da Torre Eiffel vista de sua base.
O Salão Nobre (Salão de Honra) apesar de apresentar confusa data inicial,
janeiro de 1898, de contratação de um artista para sua decoração; foi inaugurada
somente em junho de 1901. Seu teto é destacado com a pintura A Glorificação das
Belas-Artes na Amazônia projetada por De Angelis em 1897 e realizada em 1899.
As onze pinturas fixadas nas paredes do salão retratam paisagens amazônicas,
ressaltando a fauna e a flora. “Características italianas podem ser percebidas e
refletem o gosto estético da época e sua concepção de espaço civilizado e
requintado” (MESQUITA, 2006, p. 223-225).
O Teatro Amazonas, até os comemorativos de seu centenário, oferecia uma
vasta programação cultural além da disponibilidade de locação para eventos
75
particulares ou de terceiros (formaturas, aniversários de Instituições, mostras
culturais realizadas por organizações entre outros). Visando formatar um leque de
opções culturais mais selecionado, a SEC-AM procurou investir em demais
estruturas no entorno do TA para suprir a demanda de pequenos espetáculos.
Atualmente o Teatro Amazonas integra o Centro Cultural do Largo de São
Sebastião, contém 701 lugares divididos em plateia, frisas e camarotes e não
apresenta disponibilidade de pauta até o ano de 2014.
O subcapítulo seguinte desta dissertação visa contextualizar o processo de
requalificação do CCLSS e seu entorno como consequência do Programa Manaus
Belle Époque em prol da cultura e do turismo.
5.1.2. Palácio da Justiça
Atrás do Teatro Amazonas, percebemos o Palácio da Justiça (figura 18) - uma
herança do governador Eduardo Ribeiro – previsto no “plano de orçamento” onde
havia a justificativa de conveniência de um “edifício vasto com a função de Palácio
da Justiça de Manaus (MESQUITA, 2006). Sua construção tem uma história longa
cujo início data no ano de 1893 e término em 1898 no governo seguinte (Ramalho
Júnior).
Figura 18 – Palácio da Justiça em 1898.
Fonte: Acervo pessoal de Otoni Mesquita
O Palácio da Justiça apresenta elegância tão imponente que nem o glamour
do Teatro Amazonas pode ofuscar. De arquitetura eclética, linhas estruturais com
tradição renascentista e localizado na mais tradicional artéria de Manaus, a Avenida
Eduardo Ribeiro, o Palácio foi erguido sobre uma área acima do nível da rua, tratado
por um forte muro com pedra jacaré arrematado por balaustradas. A elegância de
76
sua construção dá-se pela sincronia entre proporção, simetria e simplicidade das
linhas horizontais e verticais retratando a exigência de um projeto racional e vigoroso
comprometido com o Classicismo. Sua fachada em tons de amarelo (figura 19)
apresentam elementos decorativos, cuja aplicação é bastante comedida, que
derivam do repertório clássico.
Figura 19 – Palácio da Justiça em 2011.
Fonte: Andressa Maria Cruz, 2011.
De acordo com os relatos de Duarte (2010), o edifício é composto por cinco
corpos, sendo o central e os extremos um pouco mais proeminentes. O arco pleno
impera nas portas de entrada e janelas do primeiro pavimento, já no segundo
pavimento podemos perceber que todas as janelas apresentam púlpito, com verga
reta, emolduradas por edículas com frontões curvos e triangulares. O primeiro
pavimento é de ordem toscana e o segundo de ordem compósita; cada um dos
corpos laterais possui quatro janelas em cada pavimento, enquanto que os corpos
das extremidades, duas somente.
O interior do Palácio apresenta um aspecto bastante eclético contrastando
com sua fachada. Há colunas e pilastras de ordem dupla no vestíbulo e a parte
inferior do fuste apresenta tratamento de ordem toscana contrapondo com a parte
superior e o capitel que são de ordem compósita. Uma bela escada com guardacorpo de metal conduz ao segundo pavimento, cuja entrada é recortada por três
arcos sustentados por colunas cuja decoração lembra carótides gregas. Tanto o
primeiro quanto o segundo andar do Palácio são profusamente decorados:
balaustradas, óculos, tetos revestidos com estuques, colunas compósitas, cartelas
decoradas, e as paredes originalmente marmorizadas. A fachada sóbria e austera
77
do edifício revela uma dualidade de estilos característico da arquitetura do século 19
– eclética.
5.1.3. Casa das Artes
Por aparecer em algumas fotografias do século XIX, pode-se afirmar que a
Casa das Artes é uma das mais antigas casas23 pertencentes à área em estudo.
Fato importante para o resgate de seu aspecto original modificado ao longo de sua
existência.
Figura 20 – Casa das Artes
Fonte: Andressa Santos, 2012.
A Casa das Artes foi criada pelo Governo do Estado através da SEC-AM com
a função de oferecer à população um espaço de uso múltiplo com atividades
culturais diárias e atuar como suporte e estímulo para a contemplação, criação e
valorização da produção artística espontânea. No momento da inauguração do
CCLSS, a Casa das Artes oferecia os seguintes serviços (quadro 11):
23
Nesse imóvel morou, por mais de 40 anos, o Dr. Thalmaturgo de Albuquerque Sapha, advogado, delegado do
IAPI – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários – e procurador federal. Posteriormente seus filhos
Hugo Moreira Sapha – Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores - e Flávio Moreira Sapha –
atual Embaixador do Brasil nos Emirados Árabes – moraram no imóvel.
78
Quadro 11 – Serviços oferecidos pela Casa das Artes
Fonte: adaptado de SEC-AM, 2012.
5.1.4. Casa Ivete Ibiapina
A Casa Ivete Ibiapina – casa de música – restaurada através do Programa
Manaus Belle Époque foi inaugurada em 4 de novembro de 2001 (figura 21).
Figura 21 - Casa Ivete Ibiapina
Fonte: Marcia Honda, 2009.
O imóvel, somado ao Patrimônio Histórico Amazonense, marcou a vida da
pianista amazonense Ivete Ibiapina24 como um lugar em que viveu sua grande
paixão pela música – começou a estudar música com a professora Maria Antonieta
24
Ivete Ibiapina nasceu em 1932, é professora normalista graduada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Conceituada como virtuosa, mestra do
teclado e a figura mais importante da cultura musical amazonense.
79
Marinho aos cinco anos de idade e aos seis apresentou-se pela primeira vez em
público.
A Casa Ivete Ibiapina foi idealizada para apresentar: Teatro de Bonecos 25,
Sala de Concertos Carlota Ribeiro26 e Espaço Musical Lindalva Cruz27 com estrutura
específica: estúdio de gravação, estúdio de áudio, sala de vídeo.
5.1.5. Casa J. G. Araújo
O imóvel recebe a denominação em homenagem ao Comendador Joaquim
Gonçalves de Araújo28 que nele residiu por mais de cinquenta anos e no qual esteve
em companhia de figuras influentes à política, à igreja e ao empresariado.
Figura 22 - Casa J. G. Araújo.
Fonte: Andressa Santos, 2012.
A Casa J. G. Araújo foi recuperada pelo Programa Manaus Belle Époque para
tornar-se um equipamento cultural e turístico do Centro de Manaus abrigando em
seu interior o Liceu de Ofícios, a Arena das Artes, a Galeria de Artes Renato Araújo,
a Oficina de Entalhes e o núcleo de Produção de Ópera.
25
Teatro de títeres – bonecos articulados e fantoches.
Sala com programações temáticas, acústicas, recitais de piano, conjuntos de jazz, blues e de câmara e canto
lírico em homenagem à Carlota Ribeiro, também pianista, nasceu em Manaus em 1912. Era tia e principal
incentivadora de Ivete Ibiapina.
27
Espaço para música instrumental, rock, forró, boi e música popular em homenagem à Lindalva Cruz que
nasceu em Manaus em 1908 e organizou o Instituto Amazonense de Música.
28
Joaquim Gonçalves de Araújo é considerado um “consolidador da economia amazonense” por instalar a
primeira fábrica de beneficiamento e produção de artefatos de borracha no Amazonas – a Brasil Hévea.
26
80
5.1.6. Galeria do Largo
Local específico para obras de artistas locais, a Galeria do Largo (figura 23)
oferece exposições permanentes e temporárias. Sua administração está vinculada
ao Governo do Estado através da SEC – AM que, além de descobrir talentos,
organiza as exposições, prepara o material de divulgação e gerencia a visitação do
público. Sua inauguração está vinculada à do CCLSS.
O imóvel que atualmente funciona a Galeria do Largo é um dos exemplos de
reconstituição total da fachada.
A Galeria do Largo oferece também a Cafeteria do Largo com guloseimas
regionais e contemplar tardes agradáveis no CCLSS.
Figura 23 - Galeria do Largo.
Fonte: Andressa Santos, 2011.
5.2. Processo de Requalificação do CCLSS e seu entorno como resgate
histórico
Em análise à caracterização histórica da cidade de Manaus, pôde-se
perceber que as mudanças na Praça de São Sebastião e seu entorno ocorreram ao
longo da história da Cidade de Manaus onde cada governador (ou prefeito) teve a
oportunidade de trabalhar em prol de um majestoso cenário urbano que pudesse ser
usufruído até os dias atuais. Porém, com mudanças permanentes e as construções
do entorno da Praça de São Sebastião receberam influências dos estilos
81
subsequentes e da nova dinâmica da cidade resultando numa área com diversos
estilos, padrões e problemas urbanos e sociais.
No que diz respeito às mudanças sociais e ou urbanas, a área passou por um
período de descaso por parte do poder público e foi alvo de concentração de
flanelinhas, prostituição, moradores de ruas e vândalos, inexistindo, por um período
de tempo, segurança e manutenção constantes.
Portanto, com essas transformações, a Praça de São Sebastião e seu
entorno tornaram-se peças estranhas frente à beleza e imponência do TA e, por
essa razão, o Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e da Praça
de São Sebastião surgiu com a intenção de preservar os monumentos inseridos
nessa área do LSSE e devolver à sociedade esse espaço do centro de Manaus
dotado de infraestrutura e segurança adequadas remetendo-se ao contexto histórico
da cidade. De iniciativa do Governo do Estado29 e considerado como uma “decisão
política inadiável,” o Programa Manaus Belle Époque30, idealizado em 1999, visa, a
partir da revitalização de algumas áreas históricas significativas de Manaus
(incluindo o LSSE), “a transformação do Amazonas em efetivo polo de turismo31”.
Compreende o Programa Manaus Belle Époque: O Projeto de Revitalização
da área de Entorno do Mercado Adolpho Lisboa, o Corredor Especial de Turismo
(Rua Marcílio Dias), o Projeto de Revitalização de Imóveis Históricos (Igreja do
Pobre Diabo, Cemitério São João Batista), a Restauração da Igreja Matriz Nossa
Senhora da Conceição, Casa da Cultura e Teatro da Instalação, já concluídos;
Projeto de Revitalização do Entorno da Matriz e o Projeto de Revitalização do
Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião onde destacamos esse
último, a área de estudo nesta dissertação.
O Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São
Sebastião, formado pelo quadrilátero das ruas Costa Azevedo, José Clemente, Dez
de Julho e pela Avenida Eduardo Ribeiro (figura 24), foi iniciado em 2003 no governo
subsequente, dotado de estratégias de intervenções organizadas em etapas de
29
O Governador da ocasião, o Sr. Amazonino Mendes, relatou na Apresentação do Programa Manaus Belle
Époque estar consciente de que o turismo é a indústria para a qual devemos voltar todos os esforços com a
convicção de que este conjunto de Programas e Projetos permitirá o alcance dos primeiros resultados de longo
desenvolvimento que o turismo propicia.
30
SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA E TURISMO DO AMAZONAS. Programa Manaus Belle Époque.
Manaus: Governo do Estado do Amazonas, 2000.
31
O Secretário de Estado da Cultura e Turismo, Sr. Robério Braga (ainda em exercício), na Introdução do
Programa Manaus Belle Époque informa: era uma “decisão política inadiável, e seu advento será representativo
para a melhoria da qualidade de vida das suas populações”.
82
desenvolvimento e implantação. O primeiro passo foi estabelecer contato com os
proprietários dos imóveis para então direcionar a natureza das intervenções.
Esse primeiro contato foi de responsabilidade do Departamento de Patrimônio
Histórico e Turístico32 da Secretaria de Cultura e Turismo33, que primeiramente
apresentou todas as diretrizes do projeto a cada um dos proprietários, orientando-os
acerca da relevância histórica, sanando eventuais dúvidas no que diz respeito à
dinâmica da implantação e tranquilizando-os sobre as vantagens da implementação.
Figura 24 – Área de abrangência do Projeto: vista aérea.
Fonte: Programa Manaus Belle Époque, 2000.
Nessa fase de apresentação e aprovação por parte dos proprietários, os
resultados positivos dos demais projetos que também integram o Programa Manaus
Belle Époque - entorno do Palácio Rio Negro e o entorno da Matriz - contribuíram
para tranquiliza-los e deram-se por convencidos da importância, orgulho e
vantagens na adesão ao Projeto de Revitalização do Entorno do TA e da Praça de
São Sebastião. Importância por contribuir com essa ação em prol do fomento do
turismo, orgulho em fazer parte dessa história e vantagens por receberem a
recuperação da fachada e telhado de seus respectivos imóveis sem ônus, além da
possibilidade da total isenção do IPTU conforme lei nº. 181 de 30 de abril de 1993.
Após dúvidas sanadas e consentimento dos proprietários, por escrito, o
levantamento foi direcionado ao resgate das fachadas originais através de
entrevistas e acesso possibilitado ao acervo fotográfico de cada um e às medições e
projeções cromáticas visando uma representação gráfica das possíveis modalidades
32
33
A partir desse momento, para Departamento de Patrimônio Histórico e Turístico, usar-se-á a sigla DPHT.
A partir desse momento, para Secretaria de Cultura e Turismo, usar-se-á a sigla SEC-AM.
83
e profundidade de cada intervenção. Cada intervenção foi discutida, planejada,
aprovada e implementada com aval de ambas as partes34.
A figura 25 demonstra as intervenções adotadas pelo projeto nos imóveis do
entorno do TA numa escala de 1 a 6 em ordem decrescente de profundidade de
intervenção. Porém, acrescentam-se aqui pontos específicos não inseridos nessas
escalas, a saber: recomposição de calçadas, meios-fios, sarjetas, arborização,
equipamentos de prestação de serviços e espaço de convivência.
Figura 25 - As intervenções adotadas pelo projeto.
Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003.
Cada intervenção foi estabelecida de acordo com a situação que o imóvel se
encontrava e com as modificações que sofrera da época de sua construção até
então. As figuras 26 e 27 nos mostram a situação na qual os imóveis da Rua 10 de
Julho foram encontrados e a proposta da intervenção.
Figura 26 – Proposta de restauro da Rua 10 de Julho.
Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003.
34
Sendo uma parte representada pelos proprietários e outra pelo DPHT através de sua equipe de funcionários
formada por arquitetos, engenheiros civis e restauradores, com seus respectivos estagiários.
84
Figura 27 – Proposta de restauro da Rua 10 de Julho.
Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003
Na referida Rua 10 de Julho foram realizadas as intervenções de todas as
tipologias, os imóveis 435, 439 e 579 precisaram de adequações para o resgate das
características originais; o imóvel 459 passou por pequenas reconstruções. Os
imóveis 427, 451, 593 e o imóvel localizado à confluência das ruas Tapajós e Dez de
Julho (números 491/495 e 502/509) receberam serviços de manutenção, porém
importante citar, segundo Castro (2009), que a retirada de elementos não originais
presentes em algumas fachadas possibilitou o resgate de elementos visuais
encobertos. Nessa situação, cita-se o imóvel de número 451 onde houve a
necessidade da retirada do toldo, localizado sobre o porão, revelando “os gradis
originais dos guarda-corpos das janelas do pavimento superior” (CASTRO, 2009,
p.133).
O imóvel citado refere-se à atual Casa Ivete Ibiapina em momento anterior à
intervenção e os resultados obtidos. É possível, através das figuras 28 e 29,
acompanhar a descaracterização através do elemento extraído e o resgate das
características originais.
Figuras 28 e 29 – Intervenção no imóvel nº. 451 da Rua 10 de Julho: antes e depois.
Fonte: Acervo Casa do Restauro e Márcia Honda N. Castro, 2009.
85
Além de cada intervenção recebida para o processo de resgate das
características originais, cada imóvel recebeu também um profundo estudo de
cromatização o qual possibilita preservar as informações arquitetônicas35 e históricas
referentes à transição do século XIX para o século XX. As cores ora diferenciadas e
ora contrastantes permitiram a valorização de detalhes e a orientação espacial. A
Igreja de São Sebastião recebeu o serviço de limpeza de sua fachada e projeto de
iluminação que realça sua beleza durante as noites.
Figuras 30 e 31 – Igreja de São Sebastião – dia e noite.
Fonte: Wikipédia e http://www.eujafui.com.br/3663517-manaus/770-igreja-sao-sebastiao/fotos/. Acesso em
20/08/2012.
A proposta de intervenção da Rua Costa Azevedo, apesar de contempladas
em todas as tipologias, apresenta casos específicos com alterações pontuadas que
se tornaram possíveis após um registro iconográfico conferindo-lhe a restituição da
fachada original (figura 32) e casos onde os imóveis não foram restaurados com
base no aspecto primitivo “por coerência a novas demandas de utilização”
(CASTRO, 2009, p 144).
Figura 32 – Proposta de restauro da Rua Costa Azevedo.
Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003.
35
Imóveis ecléticos com ornamentação rebuscada e neoclássicos com ornamentação mais elegante.
86
Os imóveis geminados localizados na rua em análise apresentam mesma
tipologia, porém, apenas um apresentava o pequeno frontão (figura 33 detalhe F)
que coroava a platibanda - o que serviu de modelo para recomposição do outro
inexistente (figura 33 detalhe A). No detalhe A há um exemplo de imóvel que
manteve alterações decorrentes de novas demandas de uso, ou seja, sua fachada
principal foi prolongada ao que deveria ser recuo comportando mais um cômodo.
Porém, houve a continuidade dos ornamentos, molduras e barramento do porão.
Figura 33 – Foto montagem - Casas geminadas (em detalhe) da Rua Costa Azevedo.
Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e Andressa
Santos, 2012.
Os imóveis 272 e 250 (figura 34) correspondem à tipologia 3 onde serviços de
reforma da fachada e cromatização foram realizados. Os imóveis apresentavam
suas respectivas fachadas escondidas por muro e vegetação. Contempladas pelo
Projeto, as fachadas possibilitam uma integração dos imóveis à Praça de São
Sebastião e também são exemplos de imóveis que resguardaram algumas
modificações decorrentes da demanda de uso.
Figura 34 – Fachadas anteriores; fachadas após a intervenção.
Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e Andressa
Santos, 2012.
87
Ao imóvel número 290, a intervenção correspondeu aos serviços de
reconstituições necessárias para o retorno das características originais da fachada e
recomposição cromática. A fachada original foi totalmente descaracterizada ao logo
de seu contexto histórico (figura 35) e precisou ser totalmente reconstituída (figuras
36 e 37).
Figura 35, 36 e 37 – Fachada anterior, detalhe da fachada constituída e vista da fachada atual, respectivamente.
Fonte: 35 - Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e 36 e37 Andressa Santos, 2012.
Aos demais imóveis, da Rua Costa Azevedo, inseridos no Projeto
Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e da Praça de São Sebastião, foram
atribuídos os serviços de manutenção e recomposição cromática, vide (figura 38).
Figura 38 – Fachadas anteriores e fachada atual na Rua Costa Azevedo.
Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e Andressa
Santos, 2012.
As intervenções referentes à Rua José Clemente apresentam reconstituições
totais de fachada e adequações necessárias para retornar as características
88
originais de outras e recomposição cromática. A figura 39 apresenta detalhes das
fachadas como resultados das mudanças que sofrera ao longo da história e, de
acordo com as intenções do Projeto, a proposta da intervenção.
Figura 39 – Proposta de intervenção para Rua José Clemente.
Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003.
Importante registrar que na Rua José Clemente havia grande fluxo de
veículos (figura 40) e desordenado estacionamento dos mesmos, fato este gerador
de grande concentração de flanelinhas36. A proposta do Projeto para o problema foi
a “requalificação” da área, atribuindo nova forma e função à via.
Figura 40 – Rua José Clemente - estacionamento antes da requalificação.
Fonte: www.tyba.com.br, acesso em março de 2012; destaque nosso.
Apesar de ter sido utilizado o termo “revitalização” no projeto acima citado, é
importante justificar, nesse momento, que o termo “requalificação” foi adotado nesta
dissertação por entender que o mesmo corresponde à intervenção regeneradora e à
constituição dos espaços degradados física e socialmente com a intenção de propor
a remodelação (ou criação) espacial, formal e social dos espaços (no caso, o Largo
36
Em linguagem coloquial, flanelinha refere-se à pessoa que toma conta de carros nas ruas em troca de
pequena gorjeta.
89
de São Sebastião e seu entorno) dotando-o de usos requalificadores, como a
valorização da vivência coletiva e de uma estreita relação com seus entornos, “como
estruturas que possam propiciar a permanência e o encontro, e que, ao mesmo
tempo, representem novas referências na estrutura do território” (TARDIN, 2010,
p.193).
Após a requalificação da Rua José Clemente o tráfego de veículos da área foi
reformulado, sua amplitude original resgatada e o retorno da denominação Largo de
São Sebastião foi provocado (figura 41). A camada de asfalto foi substituída por
pavers simulando paralelepípedos de granito originais (figura 42).
Figuras 41 e 42 – Rua José Clemente – vista aérea (destaque nosso) e paginação do piso do Largo de
São Sebastião, respectivamente.
Fonte: http://viagem.uol.com.br/manaus.jhtm#fotoNav=13, acesso em abril de 2012 e Andressa Santos,
2011.
Além do resgate do Largo de São Sebastião, a Rua José Clemente
apresentou intervenções intituladas de reconstituições totais e construções
fantasiosas (CASTRO, 2009). O imóvel de número 634, apesar de sinalizado do
projeto como intervenção correspondente ao serviço de manutenção, necessitou
passar por um processo de resgate às características através de pesquisas
iconográficas e tentativas, com sucesso, de resgate de fotografias que pudessem
pontuar a forma original.
90
Figuras 43 e 44 – Imóvel número 634: aspecto original e como se apresentava no início no projeto
Fonte: Acervo da Casa do Restauro, 2011.
De acordo com a figura de aspecto original, o imóvel apresentava fachada
simples, com quatro portas de verga reta, térrea colonial. No friso, o letreiro
“AFRICAN HOUSE” pintado. Para integrar o imóvel ao espaço que o projeto está
propondo, sua fachada foi totalmente reconstituída (figura 45).
Figura 45 – Imóvel número 634: obra de reconstrução.
Fonte: Acervo da Casa do Restauro, 2004.
O resultado alcançado foi uma fachada reconstituída, geminada ao imóvel
lateral onde, de forma proporcional fora integrada ao espaço proposto pelo projeto.
As quatro portas e o letreiro foram resgatados (figura 46).
91
Figura 46 – Imóvel número 634: reconstituído.
Fonte: Andressa Santos, 2012.
O imóvel da Editora Brasil é o exemplo de reconstituição fantasiosa, onde foi
possível detectar que sua fachada original era térrea
a partir de informações
iconográficas (CASTRO, 2009). No levantamento de informações iniciais do projeto,
percebemos que a fachada foi totalmente descaracterizada para dois pavimentos,
porém, essa tipologia foi mantida por considerarem (gestores do projeto e
proprietário) inviáveis sua demolição tanto pela nova demanda de uso quanto pela
integração da unidade com o seu entorno. Essa reconstituição foi acompanhada e
registrada por Castro (2009) que descreve a processo de inspiração a esse novo
imóvel:
“A estratégia foi inspirar-se em um antigo sobrado (não mais existente), vizinho à
Igreja de São Sebastião, e adotar seu partido, compondo-se uma nova fachada, com
janelas em arcos, balcões em gradis e platibanda com balaustrada” (Castro, 2009,
p.148).
As figuras de 47 a 50 representam, respectivamente, a fachada original térrea e de tipologia simples; o imóvel modificado e como se encontrava no início do
Projeto, o imóvel que serviu de inspiração à intervenção que propuseram e o imóvel
atual, após a intervenção.
92
47
48
49
50
Figuras 47, 48, 49 e 50 – Imóvel Editora do Brasil: fachada original, modificado, modelo e reconstituído,
respectivamente.
Fonte: Acervo de Robério Braga e Andressa Santos, 2012.
As figuras 51 a e 52 representam modificações que o imóvel 626 localizado na
Rua José Clemente recebera ao longo do tempo, onde se pode perceber a sua
fachada modificada e compará-la ao aspecto original. A fachada original, figura 51,
foi descrita por Castro (2009):
“as bandeiras eram em arco pleno, daqueles modelos mais simples, com duas
folhas de vidro e guarnição em madeira; as janelas eram duas, do tipo abrir, duas
folhas, sendo que a parte superior estava aberta, a mediana, fechada, em
venezianas, e a inferior, por detrás dos guarda-corpos entalados, também estava
fechada, mas da qual não se conseguia precisar detalhes; abaixo de cada janela, a
abertura retangular do porão; a porta e o seu portãozinho estavam a comprovar a
sua autenticidade; a cobertura era em duas águas, com telhas capa-canal; percebiase um tom escuro para o plano de fundo (era o revestimento cerâmico, em verdemusgo), contrastante às cores dos demais elementos; a edificação era geminada,
por fim, às suas adjacentes” (CASTRO, 2009, p.128).
93
Figuras 51 e 52 – Detalhe do imóvel da área: fachada original e fachada
modificada, respectivamente.
Fonte: Acervo da Casa do Restauro, 2004.
E, na figura 52 podemos perceber que as bandeiras, a cobertura e as
guarnições das janelas e seus guarda corpos foram retirados; porém, ainda
podemos identificar alguns detalhes arquitetônicos originais, tais como: resquícios
do revestimento cerâmico, um dos gradis retangulares do porão, cimalha,
barramento, platibanda e a ombreira.
Uma particularidade desse imóvel dá-se na reconstituição da fachada (figura 53),
em fase de retirada do reboco, onde as estruturas originais dos vãos dos arcos das
esquadrias foram descobertas. Fato importante para sua fiel reconstituição.
Figura 53 – Prospecção da argamassa durante a reconstituição da fachada
Fonte: Acervo da Casa do Restauro,2004.
94
Atualmente o imóvel (figura 54) encontra-se em composição cromática
contrastante dando ênfase aos detalhes e remendo à sua característica original.
Figura 54 – Imóvel atual
Fonte: Andressa Santos, 2012.
Aos demais imóveis dessa rua, estudo de composição cromática e alguns
pequenos reparos em suas respectivas fachadas foram realizados visando o resgate
fiel às cores e aspecto originais.
Junto à recuperação das fachadas, as pavimentações das vias e dos
passeios também receberam atenção e, consequentemente, tratamento específico os materiais originais foram mantidos recebendo serviços de manutenção ora
nivelando as áreas comprometidas e ora fixando as peças soltas. Nas ruas Costa
Azevedo e José Clemente, como citado anteriormente, a camada asfáltica foi
substituída por pavers. Nas demais áreas de passeio, devido à tonalidade próxima
ao lioz, foram aplicadas pedras Miracema (quadro 12). O mobiliário urbano (quadro
13), composição cromática (quadro 14), placas de identificação e algumas atividades
de recreação (quadro 15) foram desenvolvidos resgatando características da época
áurea da borracha.
95
Local do quadro 12.
96
Local do quadro 13.
97
Local do quadro 14.
98
Local do quadro 15.
99
Como ação complementar à requalificação, um levantamento dos flanelinhas
e vendedores ambulantes da área foi desenvolvido pela SEC-AM. O resultado desse
levantamento, primeiramente, possibilitou uma organização dos dados de cada um:
ficha cadastral, foto de identificação, habilidades pessoais e profissionais; e o
controle de quem desejava permanecer na área. Optando em permanecer
trabalhando na área, o trabalhador passava por treinamento e a SEC-AM tentava
reorganizá-los ou reinseri-los. Alguns flanelinhas ou vendedores ambulantes
tornaram-se funcionários da própria SEC-AM (condutor da charrete, organizador de
instrumentos musicais, monitor de brincadeiras, entre outros) ou de empresas do
entorno (restaurantes ou bar). Os vendedores de pipoca e churro permaneceram na
função, porém com carrinho estilizado da própria SEC-AM com horários e locais
definidos para retirada, comercialização e armazenamento. O vendedor de
guloseimas (comidas típicas) também permaneceu na área, mas recebeu barraca
adequada, fixa e a liberação da venda de tacacá, água ou refrigerante, somente.
Essas definições e, de certa forma, limitações na comercialização desses produtos
sugere organização dos vendedores, controle de quem exerce função na área e
segurança de um produto de qualidade oferecido aos transeuntes e admiradores do
local.
O Projeto de Revitalização do CCLSS e seu entorno foi uma consequência de
estudos e testes. Programas e projetos similares consolidados em outros Estados
serviram de inspiração e orientação para evitar eventuais falhas de execução e ou
gerenciamento. O Governo do Estado não desapropriou os imóveis envolvidos no
projeto, permitindo que os mesmo continuassem com suas funções, porém, fez-se
necessário celebrar um estatuto de conduta dos moradores e gestores assinados
pelos proprietários.
Nesse estatuto, em poder da SEC-AM com cópia em mãos de cada
proprietário, há regras quanto aos horários de tráfego e estacionamento de veículos
particulares, de coleta de lixo, tráfego de veículos comerciais (manutenção ou
serviço de entrega) e outras particularidades a respeito de eventos.
Há também - por haver residência e por se tratar de uma área de bens
tombados - o controle de eventos culturais e comerciais no logradouro. O Governo
do Estado através da SEC-AM, que gerencia o logradouro, criou um Manual (anexo
F) de Normas e Procedimentos – Largo São Sebastião com o objetivo de apresentar
a normas de uso do CCLSS e seu entorno “como espaço cultural e de
100
entretenimento e, ainda, de facilitar a operacionalização das atividades de turismo e
produção de eventos” (SEC-AM, 2010, p.10).
Essas ações tornam o espaço seguro e organizado que, segundo
Boullón (2002), além de conservar a história e a cultura do local, apresenta uma
paisagem atraente aos turistas que querem ver a rua, a praça e as construções
arquitetônicas. Com base nessa particularidade turística, um mapeamento da
configuração atual da paisagem do local será apresentado no subcapítulo seguinte.
5.3. Mapeamento da configuração atual da paisagem
A paisagem urbana é formada por meio de uma série de elementos formais
que o homem consegue identificar e reter em sua memória no transcurso do tempo.
Funciona como uma soma de imagens parciais que o homem consegue registrar em
suas experiências. Boullón (2002) cita seis pontos focais urbanos (Logradouro,
Marcos, Bairros, Setores, Bordas e Roteiros) importantes para uma orientação
direcionada na cidade, porém, para a definição da paisagem o autor sugere a
combinação das seguintes variáveis: tipo de urbanização, nível socioeconômico das
edificações, estilo arquitetônico, topografia, tipo de rua, tipo de pavimento, e tipo de
árvore.
Apesar da proposta central deste projeto está direcionada à análise da
paisagem segundo as variáveis propostas por Boullón (2002), faz-se necessário
registrar que o CCLSS e seu entorno é composto por um logradouro – a Praça de
São Sebastião – onde o turista pode transitar livremente e visualizá-lo de vários
pontos fixos sem a necessidade de deslocamentos importantes. É um espaço que
permite a formação da imagem turística da cidade e facilita o conhecimento de locais
importantes como casas comerciais de venda de artigos ou peças artesanais e
galerias de arte sem a necessidade de um guia turístico ou um mapa para tal
condução. A programação do logradouro também colabora para atividade turística,
pois o turista tem a oportunidade de encontrar um bar ou um restaurante com mesas
na rua para sentar-se e fazer uma escala pequena, mas importante, nesse espaço
aberto.
Pela sua característica peculiar de dimensão ou qualidade da forma, os
“Marcos” se destacam dos demais objetos, artefatos urbanos ou edifícios que o
rodeiam. O CCLSS e seu entorno apresenta como marco o Teatro Amazonas pelo
101
seu porte, imponência e valor cultural; a Igreja de São Sebastião pelo seu valor
estético, arquitetônico e simbólico que tem para a população católica; o Monumento
de Abertura dos Portos às Nações Amigas que se destaca pela sua beleza
escultórica e localização central além do valor histórico.
Localizado no Centro Histórico de Manaus, o CCLSS e seu entorno
sobressai no conjunto pela igualdade das formas e pela forte unidade temática que
predomina na maioria das edificações, calçadas, árvores, placas de sinalização e
postes de iluminação pública. Sua arquitetura foi resgatada e atualmente preservada
transformando-se num setor facilmente conhecido. É um setor do bairro
frequentemente visitado porque tem a vantagem de possibilitar que, em seu interior,
vejam-se outros atrativos turísticos, como uma igreja ou uma Praça (marco e
logradouro citados anteriormente) e por servir para mostrar como foi, um dia, a
cidade e a população na época áurea da borracha.
Uma vez que o CCLSS é definido pelo quadrilátero formado pelas ruas Costa
Azevedo, Dez de Julho, José Clemente e pela Avenida Eduardo Ribeiro, pode-se
considerar que os imóveis do entorno funcionam como uma borda fraca que o
separa das demais construções “ainda” não revitalizadas37 ou totalmente
descaracterizadas. Fraca, pois apesar de possibilitar a definição do que foi
restaurado ou não, permite a passagem fluida de um lado para outro, seja visual ou
física.
Para visitar os atrativos turísticos ou para entrar e sair da cidade, os Roteiros
precisam ser bem definidos, pois são vias de circulação selecionadas pelo trânsito
turístico de veículos e de pedestres, ou seja, todo centro turístico deve esclarecer
qual é a melhor forma de circular por ele e assim permitir que os turistas (nacionais
ou internacionais) possam admirar o muito ou o pouco de bom que se tenha para
oferecer. O CCLSS apresenta um roteiro importante tanto pelos pontos que une no
mesmo setor num trajeto que pode ser feito a pé quanto pela estrutura de transporte
urbano e frota de táxi, com central no local, que facilita o acesso à visitação aos
atrativos.
Esses pontos podem ser facilmente identificados e servem para orientar-se na
cidade com a função limitada de destacar quais são as formas nítidas de uma
cidade. Porém, para definir a paisagem, faz-se necessário, segundo Boullón (2002),
37
O Programa Manaus Belle Époque está sendo desenvolvido por etapas, justificando o uso de “ainda” com
destaque.
102
combinar as variáveis. Cada uma das variáveis, citadas anteriormente, se subdivide
e ao combiná-las podem-se obter trinta elementos básicos para calcular o número
de paisagens urbanas possíveis.
5.3.1. Tipo de Urbanização
O CCLSS é compreendido por imóveis específicos e, somando ao limite do
entorno, resulta num total de 38 imóveis com características e histórias particulares
localizados no centro da Cidade de Manaus. No que se refere ao tipo de
urbanização, a Praça de São Sebastião e o TA estão ao centro da área hoje
denominada CCLSS e seu entorno (quadro 16). Tais habitações são residenciais e
ou comerciais; de um até quatro andares com jardim e sem jardim.
As habitações residenciais se apresentam em número reduzido atualmente. A
requalificação respeitou a função de cada imóvel, porém, com os atrativos culturais
mais frequentes e, consequentemente, o aumento no número de público, a função
residência está sendo tomada, total ou parcialmente, pelas funções comercial e
cultural (quadro 17).
5.3.2. Nível Socioeconômico
Em relação ao nível socioeconômico, os imóveis são valorizados por
pertencerem tanto a famílias tradicionais quanto a um setor turístico qualificando-os
como imóveis de classe média (quadro 18).
Alguns proprietários, impossibilitados de acompanhar a dinâmica do local ou
por passar por uma reestruturação familiar colocaram suas propriedades a venda. E
outros, com a expectativa da Copa do Mundo de 2014, investem em grandes
oportunidades comerciais38.
38
Novas propostas foram encaminhadas ao IPHAN e à SEC-AM para avaliação, uma vez que se trata de área
Patrimonial. Por essa razão, maiores informações a respeito nos foram preservadas.
103
Local para quadro 16.
104
Local para quadro 17.
105
Local para o quadro 18.
106
Figura 56 – Habitação atualmente em obra.
Fonte: Andressa Santos, 2012.
Somente para informação, visto que há um pedido de sigilo, alguns imóveis,
através de seus proprietários, enviaram à SEC-AM e ao IPHAN projetos contendo
novas propostas referentes à forma e a funções relacionadas ao local e aos eventos
futuros que vislumbram para a cidade.
5.3.3. Estilo Arquitetônico
O estilo arquitetônico eclético é predominante (quadro 19) por se tratar de
imóveis construídos no fim do século XIX e início do século XX, com exceções. As
características antigas que ainda prevalecem tiveram origem no Código Posturas de
1893 que apresentou como objetivo normatizar tipologias arquitetônicas. Porém, a
ornamentação ficou a critério de cada proprietário e seu poder aquisitivo que, como
consequência dos costumes da sociedade da época houve o predomínio do
ecletismo.
Ainda de acordo com o Código, os imóveis são alinhados, as esquadrias das
janelas com altura mínima de dois metros de altura e um metro e trinta centímetros
de largura; ainda pode-se perceber a largura dos passeios de um metro e meio a
dois metros proporcionais a largura da via.
Vale ressaltar que algumas características foram perdidas no decorrer do
tempo e, com o Projeto de Revitalização, houve todo o resgate das características
107
arquitetônicas originais peculiares ao Código acima citado. O imóvel abaixo é um
exemplo de construção que perdura no tempo que, com manutenções sucessivas
permanece intacta.
Figura 56 – Exemplo de imóvel cuja arquitetura encontra-se intacta.
Fonte: Andressa Santos, 2012.
5.3.4. Topografia
A área que hoje é ocupada pelo CCLSS já apresentou ondulações num
passado distante, cerca de cem anos atrás. As escadarias e rampas do TA
aproveitam bem essa particularidade. Após a decisão de formatar o entorno à altura
da imponência do TA, pequenos trechos foram aterrados. Atualmente a topografia
do CCLSS é formatada por solo plano. Para uma melhor visualização da topografia,
vide quadro 18.
Figuras 57 e 58 – Solo plano e detalhe da escadaria como aproveitamento do terreno original, respectivamente.
Fonte: Andressa Santos, 2012.
108
Local para o quadro 18.
109
Local para o quadro 19.
110
5.3.5. Tipo de Rua
As
ruas
que
compõem
o
CCLSS
apresentam
extensões
normais,
principalmente a via de grande tráfego como a Rua Dez de Julho que, além dos
veículos apresenta algumas árvores no decorrer de sua extensão; e a Avenida
Eduardo Ribeiro que, além do fluxo, apresenta passeios largos, com árvores.
As ruas Costa Azevedo e José Clemente também apresentam extensão
normal, porém, são diferenciadas no trecho que compreende ao CCLSS, pois o fluxo
de automóveis limita-se aos proprietários do entorno havendo controle de entrada e
saída e pavimentação diferenciada.
Para uma melhor visualização dos tipos de rua, vide quadro 20.
Figuras 59 e 60 – Detalhes das ruas - Rua Dez de Julho e Avenida Eduardo Ribeiro, respectivamente.
Fonte: Andressa Santos, 2012.
5.3.6. Tipo de Pavimento
O pavimento é normal com pequena porção de empedrado (ver quadro 21).
Porém, percebe-se a variação dos pavimentos mais recentes tentando equipar-se
com os antigos.
Figura 61 – Tipos de pavimento presentes no CCLSS e seu entorno.
Fonte: Andressa Santos, 2012.
111
Local para o quadro 20.
112
Local para o quadro 21.
113
5.3.7. Tipo de Árvore
Apesar dessa variável não ser muito expressiva por ser apresentada com um
tipo de árvore predominante, fez-se sua abordagem como uma forma de seguir
todas as determinações de análise de variáveis da paisagem segundo Boullón
(2002) e, pelo fato dessas espécies de Fícus-benjamin terem sido plantadas nos
anos de 1914 e 1915. Há uma área de predominância de árvores médias e duas
situações particulares altas (vide quadro 20).
Figura 62 – Detalhe das árvores que circundam a Praça São Sebastião.
Fonte: Andressa Santos, 2012.
As subvariáveis analisadas nos permite apontar detalhes exclusivos da
intervenção do homem que ali o habitou ou governou porém, se combinadas, não
nos proporcionará uma quantidade expressiva de paisagem devido a limitação da
espécie.
5.4. Implicações da requalificação urbana do CCLSS e seu entorno no
contexto do turismo.
Ao relembrar a paisagem que a Praça de São Sebastião ofereceu há 10 anos,
por exemplo, pode-se adotar o termo “abandono” ou “medo” para descrevê-la.
Abandono por parte das autoridades municipais e estaduais que não valorizaram,
por um período de tempo, o entorno do Teatro Amazonas (considerado ícone da
cultura local) e medo, pois o local foi concentração de flanelinhas, jovens com o vício
do álcool e do fumo.
114
Segundo o Secretário de Estado da Cultura, o turismo foi a estratégia
utilizada para reverter tal situação. Nas festividades do centenário do Teatro
Amazonas, o secretário analisou o quantitativo e o perfil dos frequentadores dos
espetáculos e, posteriormente, os resultados das comemorações e percebeu que o
Teatro encontrava-se numa localização privilegiada da Cidade de Manaus, porém
seu entorno apresentava-se inadequado para sua imponência, suas atrações
culturais e seu público-alvo.
O primeiro passo foi providenciar um projeto para restaurar o entorno e,
dentro dele, buscar alternativas para sanar os problemas de insegurança e não
conformidade com o Teatro e depois oferecer um espaço dotado de infraestrutura
visando o fomento do turismo. O Projeto de Revitalização da Praça de São
Sebastião e seu entorno propôs a restauração dos imóveis, a requalificação do
espaço e a possibilidade de inserir as pessoas que, direta ou indiretamente,
estabeleciam um vínculo com o local.
Como área de patrimônio público, o novo espaço restaurado e requalificado
passou a contar com segurança patrimonial ininterrupta; os moradores, uma vez que
não tiveram seus respectivos imóveis desapropriados, passaram a conviver com a
cultura de forma cotidiana. As pessoas que viviam em situação de risco e que
optaram por permanecer no local passaram por treinamentos específicos e alguns
foram contratados por proprietários/empresários e outros pela própria SEC-AM.
Além desses fatores, foi possível organizar a agenda do Teatro destinando-o
aos eventos de maior porte e, aos eventos de médio e pequeno porte aos espaços
do entorno que compõem o CCLSS.
Apesar do CCLSS ter sido inaugurado em maio de 2004, o Teatro Amazonas
recebeu, nesse mesmo ano, mais de 70 mil pessoas. Isso significa um aumento de
cerca de quase 100% em relação ao ano de 2003. Considerou-se aqui, como valor
de referência, o quantitativo registrado em 2001 por ser o ano inicial do recorte
temporal dessa análise (gráfico 1).
115
80000
148%
70000
60000
100%
50000
84%
40000
71%
30000
20000
10000
0
2001
2002
2003
2004
Gráfico 1 – Público do Teatro Amazonas de 2001 a 2004.
Fonte: SEC-AM, 2012.
A impressão registrada da coordenadora do setor de turismo do Teatro
Amazonas, revela que o aumento no número de frequentadores do Teatro
Amazonas foi uma consequência do Projeto de Revitalização da Praça de São
Sebastião e seu entorno, pois as pessoas tinham a Praça como um ambiente
sombrio e inseguro e temiam ser abordadas por pessoas que ali mantinham alguma
atividade (as pessoas consideradas em situação de risco). Somam-se a isso as
atividades que alguns bares e casas de shows noturnos mantinham, fazendo com
que os “apreciadores da cultura” se distanciassem da área. Segundo a
coordenadora, o projeto foi além, requalificou espaços, melhorou a infraestrutura,
ofereceu segurança, restaurou monumentos, fez o resgate arquitetônico como forma
de integrar o público (seja turista ou morador) ao contexto histórico da cidade de
Manaus e propôs um espaço específico para que a família pudesse usufruir, ou seja,
inativou o trecho da Rua José Clemente para o trânsito de veículos requalificando-o
como Largo e promoveu o resgate de brincadeiras de roda, dos passeios de
charrete e outras já esquecidas pela dinâmica do cotidiano.
As atividades do Teatro Amazonas (gráfico 2) também cresceram em virtude
do aumento de público. A SEC-AM achou importante promover atividades para
mostrar aos não frequentadores da área que os eventos culturais são acessíveis a
todos os públicos, e aos frequentadores uma maior diversidade de eventos.
116
250
136%
200
150
100%
90%
74%
100
50
0
2001
2002
2003
2004
Gráfico 2 – Atividades Culturais do Teatro Amazonas de 2001 a 2004.
Fonte: Setor de Planejamento da SEC-AM, 2012.
Na Praça de São Sebastião, antes do Projeto de Revitalização ao qual
passou, aconteciam alguns eventos isolados como missa campal em devoção ao
São Sebastião ou de Natal. Com a problemática ao qual passava, não havia um
controle mais rígido de fluxo ou de eventos. O pároco da Igreja de São Sebastião
lembra que os condicionadores de ar foram instalados tanto pela temperatura interna
quanto pela segurança, havendo a necessidade em permanecer com as janelas e
portas fechadas. Os frequentadores da Igreja eram limitados aos moradores do
entorno ou de ocasiões específicas. O auxílio às pessoas que “habitavam” a Praça
era frequente, sempre abordavam algum membro da Igreja na esperança de
dinheiro ou alimentação. Para a promoção de eventos, uma equipe de policiais civis
e militares, agentes de trânsitos e voluntários era sempre escalada e contava-se
com a fé inabalável de que tudo daria certo.
Como não havia um controle de fluxo de turistas, transeuntes e eventos na
Praça de São Sebastião, fez-se necessário a análise de dados do Teatro Amazonas
que, por ser um imóvel tombado, monitora todos os seus dados; e, para acesso ao
mesmo faz-se necessário passar pela Praça de São Sebastião. Então, no ano de
2001 o Teatro Amazonas registrou 50.330 visitantes e, no ano de 2010 registrou
58.239, ou seja, houve um aumento de 15,7%.
Com o CCLSS consolidado, pôde-se registrar um quantitativo de todas as
atividades desenvolvidas no entorno do Teatro Amazonas e no próprio Teatro
Amazonas alcançando total de 167.115 visitantes, ou seja, um aumento de 232%.
117
350%
300%
250%
200%
150%
100%
50330
50%
167115
0%
TA - 2001
CCLSS - 2010
Gráfico 3 – Comparação de público TA-2001com o público do CCLSS-2010
Fonte: Setor de Planejamento da SEC-AM, 2012.
Analisando os registros do CCLSS do ano de 2011, foi possível concluir que o
número de público é expressivo em duas situações específicas do ano: no mês de
maio quando acontece o Festival Amazonense de Ópera e no mês de dezembro
com as festividades do Natal onde há a inauguração da ornamentação de Natal, a
chegada do “Papai Noel” e as festividades religiosas da ocasião (gráfico 4).
Gráfico 4 – Registro de Público do CCLSS - 2011.
Fonte: Setor de Planejamento da SEC-AM, 2012.
Nos 10 meses do ano há encontros e eventos considerados de pequeno porte
e a visitação ao TA que sempre foi por si só, um ícone da cultura local e parada
considerada obrigatória aos turistas. Porém, nem todo turista que visitava o TA tinha
118
interesse em circular pela Praça São Sebastião ou conhecer de perto o Monumento
de Abertura dos Portos. Então, consolidar o CCLSS foi oferecer um espaço para que
a população pudesse usufruir, mas também oferecer segurança e despertar o
interesse dos turistas.
Ainda segundo a impressão da coordenadora de turismo do TA, o turista que
o conhece geralmente fica no Largo, aprecia a paisagem, registra a arquitetura e
pode usufruir de iguarias da culinária ou do artesanato locais. Vale registrar que há
sempre exposições e eventos culturais como opção.
Para uma análise mais específica quanto ao turismo, questionários foram
aplicados junto aos turistas que se encontravam no local entre os meses de janeiro a
julho de 2012. Como há certa sazonalidade dos eventos, os questionários formam
aplicados em situações determinadas, o quadro 22 apresenta o somatório de
questionários aplicados e respondidos:
Quadro 22 – Síntese de questionários aplicados e respondidos
Fonte: Andressa Santos, 2012.
Dentre os 300 questionários aplicados, 83% foram respondidos, dentre os
quais 51% são turistas do sexo feminino e 49% do sexo masculino (vide gráficos 5 e
6 em quadro 23). Do total, 62,6% são turistas nacionais e 37,4% internacionais (vide
gráfico 7 em quadro 23) com tempo de permanência entre 3 e 30 dias.
No que se refere à escolaridade (vide gráfico 8 em quadro 23) 2,8% turistas
possuem mestrado ou doutorado, 6,4% são pós-graduados, 18,5% com ensino
superior incompleto, 44,2% com superior completo, 25,3% turistas com ensino
médio e 2,8% com ensino fundamental. Quanto à faixa de renda (vide gráfico 9 em
quadro 23), 35% turistas recebem entre 1 a 3 salários mínimos, 39,3% recebem de 4
119
a 6 salários mínimos, 12,8% turistas de 7 a 10 salário, 10,5% recebem salário acima
de 10 salários mínimos e 2,4% turistas responderam não possuir renda.
As razões das viagens são diversas (vide gráfico 10 em quadro 23), sendo
citadas por 67% turistas, porém 33% preferiram ou não quiseram responder.
Destacam-se as viagens para passeio/turismo com 36,1%; a negócios 30 % e,
visando conhecer a cultura local 16,8%.
Dos turistas de origem internacional, cerca de 60% responderam estar em
Manaus em busca da cultura local e assinalaram, por conseguinte, as opções
indicações de amigos, Teatro Amazonas e Festival Amazonense de Ópera. Os
demais expressaram a admiração pelo verde e pela floresta e assinalaram, na
sequencia, as opções internet como motivação do destino e atividades de pesca e
encontro das águas como motivos da viagem.
Ao perguntar se o turista já conhecia a cidade Manaus, houve 66,7%
respostas negativas e 33,3% positivas, dentre os quais 65% revelaram ter conhecido
a Praça de São Sebastião e entorno antes da requalificação (vide gráfico 11 em
quadro 23).
Dos respondentes que não conheciam Manaus, 5,2% revelaram ter
imaginado a cidade menos desenvolvida, menos urbana e com floresta nativa mais
acessível e que índios poderiam ser vistos com facilidade. Segundo os mesmo, essa
ideia deve-se às imagens que circulam na mídia.
Ao questionar como ficou sabendo sobre Manaus, 29% revelaram receber
indicação de amigos e 23,3% através da internet. Importante citar que 60% dos
respondentes que assinalaram indicação de amigos, assinalaram também internet, o
que pode ser concluído que houve interesse em maiores informações.
Dentre os 65% respondentes que conheceram a Praça de São Sebastião e
seu entorno antes da requalificação, o fato de não haver mais o tráfego de veículos
na Rua José Clemente e a segurança constante foram os pontos de destaque para
59% respondentes.
Quanto aos demais respondentes, 35% destacaram a arquitetura preservada
como forma de manter a cultura de uma época áurea, 32,5% destacaram o
policiamento patrimonial por oferecer segurança em transitar a qualquer momento
qualificando-o como ambiente familiar. O Teatro Amazonas é o destaque de 27,7%
respondentes, quer pela sua imponência e ou quer por sua história e 19,2%
destacam a amplitude do espaço destinado a passeio.
120
Local para quadro 23
121
Os dados quantitativos citados não configuram o objetivo central desta
pesquisa, porém sustentam a implicação da requalificação do CCLSS na atividade
turística. Em paralelo, os proprietários do entorno que aceitaram fazer parte desta
pesquisa contribuíram com informações relevantes ao alcance dos objetivos préestabelecidos. Porém, dos 38 imóveis da localidade, os imóveis 481 e 439 da Rua
Dez de Julho encontram-se em reforma no momento e os respectivos proprietários
não foram identificados. O imóvel 489 da Rua Dez de Julho e o imóvel 538 da Rua
José Clemente encontram-se à venda limitando as informações ao processo de
compra e venda através do acesso restrito aos corretores. Os cinco imóveis de
responsabilidade da SEC-AM apresentaram nova função a partir do Programa
Manaus Belle Époque e atualmente integram o CCLSS e oferecem um repertório de
atividades culturais.
Por fim, sete moradores ou responsáveis aceitaram participar desta pesquisa
e os demais não retornaram o primeiro acesso ou não quiseram responder.
Dos moradores ou responsáveis respondentes, seis são do sexo feminino e
apenas um do sexo masculino. Dentre os quais, dois são inquilinos e quatro são
proprietários com 35, 22, 89 e 12 anos no imóvel. Dois apresentam faixa etária entre
18 e 25 anos, dois entre 35 e 50 e três estão com idade acima de 60 anos.
No que se refere à escolaridade, um apresenta-se com ensino fundamental
completo ou cursando, quatro com ensino médio completo ou cursando e dois são
pós-graduados.
Sobre a faixa de renda, dois respondentes alegam receber entre 4 e 6
salários mínimos e três recebem entre 7 e 10 salários mínimos. Dois não
responderam.
Ao solicitar que escolhessem um ou mais itens que demonstrasse o que mais
os atrai no CCLSS, quatro respondem Teatro Amazonas e expressaram a alegria
em admirá-lo pela janela de seus respectivos imóveis. Um respondente fez um
conjunto de itens: Teatro Amazonas, Igreja e árvores que entornam a Praça, pois
como foram criados à mesma época não poderiam ser analisados ou admirados de
forma isolada. Outro respondente combina a Praça de São Sebastião e as árvores e
declara ser agraciado por esse “pátio” ser como uma extensão de sua residência.
Por fim, o outro não escolhe um item da lista, porém cita a alegria pelo fluxo de
pessoas, a magia do encontro em família que o CCLSS proporciona, a diversidade
122
do público que o frequenta e admira e a busca por atividades culturais bem
representada nas constantes gravações que ocorrem no entorno do TA.
Quanto aos problemas que enfrentam na área, quatro revelam ter problemas
com estacionamento, dois reclamam do ruído nos eventos e um respondente aponta
que a poda das árvores não é tão frequente e nem do mesmo formato da década de
90. Esses problemas quanto ao estacionamento e a poda das árvores poderiam ser
resolvidos se o estatuto celebrado entre os moradores e a SEC-AM fosse mais claro
e objetivo ou, se tivesse havido a desapropriação dos imóveis do local.
Como qualidades, as edificações residenciais e comerciais do entorno, a
infraestrutura, o calçamento e a beleza peculiar do local foram itens citados por
todos os respondentes. Porém, um respondente acrescentou o item vizinhança, uma
vez que são moradores antigos e mantêm laços de amizade há anos.
Como sugestões de melhoria, o controle de som dos eventos atrelado ao
horário de encerramento dos mesmos foi citado por todos; dois citam a necessidade
de banheiro público, um gostaria de ter horários mais flexíveis quanto ao trânsito de
veículos comerciais e outro cita a necessidade de pinturas constantes das
residências históricas.
Após a requalificação do logradouro em análise, a presença de turistas
tornou-se frequente. A estrutura agora permite e procura manter essa presença
constante durante o ano todo, porém, o início da manhã e o fim da tarde são os
momentos de fluxo de excursões ou grupos particulares devido à temperatura. Os
respondentes citam perceber a presença diária de turistas no local.
Ao comparar com o logradouro anterior à requalificação, os respondentes
lembram que flanelinha e jovens com o vício do álcool e ou do fumo se apropriavam
do espaço e por suas características transmitiam insegurança e medo aos
transeuntes. O monumento de abertura dos portos era inacessível, o poder público
chegou a providenciar uma grade de proteção para evitar que tomassem banho ou
fizessem orgias na água do chafariz. “Havia muitos pontos negativos e por isso os
turistas visitavam o TA, mas não vinham com muita frequência à Praça” (informação
verbal).39
O IPHAN, através do setor de restauro (anexo x), fala do Programa Manaus
Belle Époque e do Projeto de Revitalização da Praça de São Sebastião e seu
39
Informação fornecida pelo proprietário do imóvel 224 da Rua Costa Azevedo, em 28 de agosto de 2012.
123
entorno com propriedade, pois acompanha toda e qualquer ação que envolve
legislação e restauração do patrimônio público. Afirma ser um projeto positivo por
restituir, ao cidadão, o direito à cidade, por favorecer o aspecto econômico e por
fomentar o turismo através da revitalização da área; além de reconhecer a valiosa
estratégia da recuperação da estrutura edificada, ao invés de negligenciá-la.
O órgão aponta a preservação da memória de cada imóvel como um fato
merecedor de discussão (e não de reprovação), pois há fachadas não originais
reerguidas à semelhança das tipologias primitivas que não dão a possibilidade ao
visitante deter informações para dissociar o original da reprodução, ou seja, as
alterações sofridas pela cidade, decorrentes da ausência de um planejamento eficaz
que pudesse ter melhor orientado sua evolução natural, com novos costumes, usos,
economias e tecnologias podem ter sido negligenciadas.
Porém, independente desse ponto de discussão, a receptividade por parte da
população é notória, resgatou-se as idas às praças, reviveu-se o habito de
frequentar locais públicos necessários para a fruição do urbano e do patrimônio e
para o bem estar psíquico do cidadão. Isso se deve aos serviços disponíveis, à
programação cultural, à infraestrutura e à qualidade estética que o logradouro
oferece.
124
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As principais contribuições desta pesquisa serão expostas nesse capítulo.
São contribuições para o meio acadêmico, no que se refere ao segmento do turismo
que parte da prerrogativa de que a paisagem edificada apresenta a capacidade de
atrair visitantes, promover destinos e, como consequência, contemplar a cadeia
produtiva do setor. Porém, como a paisagem produz relações sociais entre
moradores e turistas por apropriarem de seus respectivos espaços de maneiras
diferentes, cita-se aqui a importância em ter analisado as alterações que ocorreram
na paisagem visando a atividade turística, pois segundo Yázigi (2002), a divulgação
das paisagens turísticas sem um planejamento leva à degradação e propõe a
necessidade de leis municipais que limitem as construções particulares (todo o
projeto e fachada) em harmonia com seu entorno. Tais contribuições evidenciam o
estado da arte das pesquisas teóricas do segmento citado, incentivam a busca por
melhorias no processo de alterações da paisagem, sugerem pesquisas futuras e
finaliza com as devidas considerações.
Esta dissertação objetivou descrever as implicações da requalificação da
paisagem do CCLSS e seu entorno por meio da análise de seu processo histórico e
de evolução urbana; da caracterização do processo de revitalização da paisagem
edificada como resgate da memória cultural; através do mapeamento da
configuração atual da paisagem edificada desta área da cidade e, principalmente,
pela análise das implicações desta memória cultural urbana e do seu processo de
requalificação sobre a atividade turística.
Para o alcance desses objetivos foi necessário, primeiramente, a coleta de
dados, conforme protocolo, acerca do processo histórico do local tornando possível
a descrição das primeiras articulações e registros de origem dos imóveis que hoje
integram o CCLSS às últimas movimentações de promoção e manutenção da
estrutura que atualmente apresenta. Através de toda essa contextualização, foi
possível reviver estudos de Geografia e História do Amazonas há tempos
internalizada e, de certa forma, vagando no universo da memória.
Também com a coleta de dados, o processo de requalificação do CCLSS e
seu entorno foi contextualizado como resgate histórico. É notório o resultado positivo
alcançado através da intenção da SEC-AM em restaurar e, em alguns casos,
reconstituir os imóveis do entorno do Teatro como resgate da história de uma época
125
áurea resultando em um conjunto harmônico que oferece à população e para
promoção da atividade turística. Porém, o turista acredita ser esta uma realidade
preservada ao longo do tempo e não imagina que é consequência de um “cenário”
produzido para tal objetivo.
Para o mapeamento da configuração atual da paisagem edificada desse
logradouro, foi realizada uma análise das variáveis sugeridas por Boullón (2002) por
defender que a paisagem é uma qualidade que os diferentes elementos de um
espaço físico adquirem no momento que o homem surge como observador, animado
de uma atitude contemplativa dirigida a captar suas propriedades externas, seu
aspecto, seu caráter e outras particularidades que permitam apreciar sua beleza ou
feiura. Em paralelo, defende que o arranjo das variáveis supracitadas encontra-se
espacialmente
localizado
e,
de
certa
forma,
espacialmente
determinado
ocasionando numa característica peculiar a cada lugar distinguindo-o dos outros.
As variáveis analisadas nos permite afirmar que paisagem do CCLSS e seu
entorno é única e se destaca pelos elementos que a integram. A particularidade do
Teatro Amazonas com sua imponência frente aos demais imóveis é visível, somamse às características particulares de cada elemento, a citar: pavimentos, fachadas,
tipo de urbanização, tipo e porte das árvores, topografia, nível socioeconômico, tipos
de ruas e estilo arquitetônico.
Os questionários aplicados e entrevistas desenvolvidas nos permite afirmar
que houve implicações diretas da requalificação da paisagem urbana do CCLSS no
contexto do turismo. A paisagem anterior à requalificação, segundo o resultado das
pesquisas, oferecia riscos aos transeuntes, pois a iluminação era deficitária, havia
grande fluxo de veículos, a segurança patrimonial era restrita ao Teatro Amazonas e
a presença constante de flanelinhas e viciados era uma constante. Atualmente, em
oito anos do CCLSS, pode-se comparar o ano de 2004 – ano de sua inauguração
(uma vez que o único registro que se teve foi de público do Teatro Amazonas com
50.330 visitantes) com o ano de 2011, que com um controle mais abrangente na
área dos números do Teatro Amazonas somados à estimativa de público que
frequentou o Largo resulta o somatório de 204.144 visitantes.
Para a sustentação dos números de visitantes (moradores ou turistas), a
SEC-AM procurou formatar algumas atividades culturais e de lazer determinadas e
articular junto aos moradores do entorno a viabilidade de mantê-las. Atividades para
todos os gostos e para todas as idades: comer pipoca, algodão-doce, churros (todos
126
os vendedores credenciados pela SEC-AM), tomar tacacá e sorvete. Ou,
brincadeiras, jogos antigos e palhaços com pernas de pau, bolinhas de sabão; peças
e musicais infantis encenados em palcos alternativos no Largo ou na Casa Ivete
Ibiapina. Para o público adulto as opções de cafés, pizzarias, restaurantes,
contemplar exposições na Galeria do Largo ou no próprio Teatro. Em datas
específicas, o Teatro, sedia os consagrados eventos como: Festival Amazonense de
Ópera, o Manaus Film Festival, dentre outros se tornando palco de celebridades
nacionais e internacionais, oferece espetáculos a preços acessíveis e a céu aberto
tomando o Largo como cenário. Algumas das atividades deveriam ser, ao longo do
tempo, mantidas pelos empresários do entorno. Atualmente, apenas o Tacacá da
Bossa é realizado por proprietários; algumas atividades permanecessem sob
responsabilidade da SEC-AM, porém, em datas programadas; e outras foram
desativadas como: empréstimo de instrumentos musicais, brincadeiras antigas e
passeios de charrete. Em paralelo, houve a retirada do bonde que por alguns anos
serviu de viagem ao mundo imaginário infantil.
Todos os eventos e atividades culturais e de lazer citadas merecem cuidados
específicos e atenção especial, pois são realizados numa área de resgate histórico,
arquitetônico e cultural e por isso são monitorados e administrados pelo Governo do
Estado por intermédio da SEC-AM. Para um melhor controle, criou-se um Manual de
Normas e Procedimentos do Largo de São Sebastião (em anexo) que normatiza o
uso do CCLSS como espaço cultural e entretenimento e facilita a operacionalização
das atividades de turismo e a produção de eventos.
No que se refere ao acesso dos moradores do local, um estatuto foi
estabelecido entre ambas as partes (SEC-AM e moradores) e visa normatizar
algumas ações e até movimentações que cobram uma conduta de “atores desse
novo cenário”, pois há hora determinada para o trânsito de veículos comerciais e
particulares e para a coleta de lixo, especificações de intensidade e horário para
ruído nos bares e restaurantes. Talvez seja esta uma situação consequência da não
desapropriação do local e que gera, em alguns momentos um estranhamento entre
as partes pela adaptação de uma nova rotina. Rotina esta nem sempre obedecida
devido a particularidade de cada seio familiar frente a uma localidade e postura
exigida mais direcionada ao comércio e ao turismo. Soma-se aqui a necessidade,
estabelecida pela SEC, de cada proprietário de imóvel mantê-lo em perfeitas
127
condições – o que nem sempre é possível devido as condições financeiras de cada
um.
O problema de pesquisa definido pela pergunta central “Quais são as
implicações do processo de requalificação da Paisagem do Largo de São Sebastião
e seu entorno sobre o espaço turístico de Manaus?”, foi apresentado no capítulo 5,
subitem 5.4 Implicações da requalificação urbana do CCLSS e seu entorno no
contexto do turismo.
Dessa forma, o objetivo geral “Analisar o processo de
requalificação da paisagem do Largo São Sebastião e seu entorno e suas
implicações sobre o espaço turístico de Manaus/AM” foi plenamente atingido através
da exposição de dados quantitativos e qualitativos como consequência da aplicação
de questionários e de entrevistas com pessoas envolvidas ao logradouro
(moradores, turistas e gestores).
Os aspectos mais interessantes e que merecem destaque como resultado do
desenvolvimento de cada etapa desta dissertação são os seguintes: a preservação
da memória coletiva através da arquitetura local, no Estado do Amazonas, depende
de governantes, grandes empresários e da Associação Comercial local, porém, a
população precisa ser mais incentivada, questionada e convidada a participar desse
processo. Com o Projeto de Revitalização da Praça de São Sebastião e seu entorno
demostra-se a viabilidade e a possibilidade de integração política; a busca pela
originalidade dos imóveis é questionável em seu valor histórico onde todo um
cenário
antigo
foi
reconstituído,
contrapondo,
em
certas
situações,
às
recomendações da legislação patrimonial e a preocupação em oferecer atividades
culturais e de lazer, com frequência, faz parte do planejamento de manutenção
como consequência de um dos objetivos que foi proposto ao CCLSS e seu entorno –
o turismo.
Dessa forma, baseado nos resultados obtidos, algumas contribuições foram
percebidas neste trabalho de dissertação. A principal contribuição diz respeito ao
tema central desse estudo, implicações da paisagem no contexto do turismo, pouco
explorados academicamente e que oferece um acervo de informações históricas,
através da análise da paisagem segundo Boullón (2002); quantitativas, apesar de
não ser o foco principal desta pesquisa, mas consideramos relevantes à
consistência dos resultados; e qualitativos onde foi possível traçar o perfil do turista
que aprecia a beleza amazonense, identificando suas respectivas impressões à
respeito da paisagem em foco.
128
A segunda contribuição refere-se à constatação da necessidade de um
modelo de gestão direcionado à formatação específica do CCLSS uma vez que os
imóveis do entorno não foram desapropriados e há conflitos entre o poder público e
particulares.
Como uma terceira contribuição, sugere-se o desenvolvimento de um material
promocional que divulgue como o processo de requalificação foi idealizado e
desenvolvido, uma vez que uma nostalgia de algo desconhecido à nossa geração foi
criada na intenção de recompor o fausto de uma época não vivenciada na
atualidade. Ou uma exposição permanente que contemplasse todas as fases do
projeto em questão.
A requalificação inebria os visitantes com o que lhes é aparente e o espaço
imaginário retido em suas memórias é de uma realidade artificial, uma vez que
desconhecem a constituição de suportes dessa nova memória e não possuem
informações adequadas à dissociação do original ao reproduzido devido a
homogeneidade arquitetônica.
Essa sugestão deve-se a algumas unidades do
entorno não originais e construídas semelhantes às tipologias primitivas da
proximidade.
Por fim, vislumbra-se que estudos futuros sejam desenvolvidos com base
nesta dissertação, pois é possível observar diversos temas relativos à paisagem
edificada no contexto do turismo, muitos deles inebriantes e de grande relevância
para a compreensão do patrimônio histórico edificado e da atividade turística para a
população. O CCLSS é um campo vasto que vai desde estudos dos impactos de um
evento isolado como o Festival Amazonense de Ópera, até pesquisas amplas sobre
a percepção de estudiosos da área a respeito da autenticidade das características
arquitetônicas resgatadas.
129
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138
APÊNDICES
139
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOS TURISTAS
Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria – UNIVALI/SC
Mestranda: Andressa Maria Cruz dos Santos
Tema: Turismo e resgate histórico-cultural através da requalificação da paisagem local de
Manaus/AM: Estudo de Caso Largo de São Sebastião e seu Entorno.
Questionário – turista
1.Sexo:
Masc.
3.Origem:
6.Faixa etária:
Data:
Fem.
2. Profissão:
4.Tempo de Permanência:
18-25 anos
26-34 anos
5. Pernoitar?
35-50 anos
51-65 anos
sim
Acima de 65 anos
7. Escolaridade
Ens. Fundamental completo ou cursando.
Ens. Médio completo ou cursando.
Pós-graduado
Ens. Superior Incompleto
Ens. Superior Completo
Mestrado e/ou Doutorado
1 a 3 salários mínimos
7 a 10 salários mínimos
4 a 6 salários mínimos
Acima de 10 salários mínimos
8. Faixa de Renda:
9. Razões da viagem
Cultura
Encontro das águas
Negócios
Boi-Bumbá
Passeio/turismo
Visita a familiares
Verde/floresta
Outros:
10. Qual o meio de transporte usado para chegar a Manaus?
11. Já conhecia Manaus?
Sim.
Não.
12. Em caso negativo, como você imaginava Manaus?
não
Teatro Amazonas
Localização
13: Por qual razão?
14. Ficou sabendo de/sobre Manaus através:
TV
Internet
Indicação de agência
Indicação de agente
Jornal
Indicação de amigos
Revista
Outros:
15. Se já conhecia Manaus, visitou o Largo de São Sebastião?
Sim.
Não.
16. Se já o conhecia, foi antes ou depois da reforma (requalificação).
Antes.
Depois.
17. Em caso de ter conhecido antes da reforma, quais os aspectos positivos ou que merecem ser destacados?
18. Quando penso em Manaus, penso em: (se houver mais de uma opção, favor numerá-los)
Verde/floresta.
Teatro Amazonas.
Encontro das águas
Zona Franca de Manaus.
Rio Amazonas.
Rio Negro.
Ribeirinhos.
Festival de Ópera.
Belle Époque Manauara
Localização.
Prosamin.
Monumento de abertura dos portos.
Porto
Boi-Bumbá.
Cultura.
Fauna
Flora
Algum animal? Qual seria?
Outros
140
Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria – UNIVALI/SC
Mestranda: Andressa Maria Cruz dos Santos
Theme: Tourism through a historical-cultural from the redevelopment of the local landscape of Manaus/AM: Case Study
Largo de São Sebastião and its surroundings.
Questionnaire – tourist
1.Sex:
Male
3.Source:
6.Faixa etária:
Date:
Female
2.Profession:
4.Residence time:
18-25 anos
5. Stay overnight?
26-34 anos
35-50 anos
51-65 anos
yes
not
Acima de 65 anos
7. Education
Full or attending elementary School.
Complete High School or Attending.
Graduate
Complete Higher education
Incomplete Higher education
Master or Doctorate
1 to 3 minimum wages
7 to 10 minimum wages
4 to 6 minimum wages
10 above minimum wages
8. Income range:
9. Reasons for travel
Culture
Meeting of the Waters
Boi-Bumbá
sightseeing
Green/forest
Other:
10. What means of transport used to reach Manaus?
11. I already knew Manaus?
Yes.
12. If not, how you imagined Manaus?
Business
Visiting relatives
Teatro Amazonas
Location
Not.
13: For what reason?
14. He learned fron/about Manaus through:
TV
Internet
Statement of agency
Indication Agent
Newspaper
Refer a Friend
Magazine
Other:
15. If L so, I knew the Largo de São Sebastião?
Sim.
Não.
16. If you already knew it was before or after the renovation/rehabilitation
Before
After
17. In case you have known before the reform, which the positive or that they deserve to be highlighted?
18. When I think of Manaus, think about:
Green/forest
Teatro Amazonas.
Meeting of the waters
Manaus Free Zone.
River Amazon
Rio Negro.
Riverside.
Festival de Ópera.
Bélle Époque Manauara
Location
Prosamin.
Monument opening the ports.
Port
Boi-Bumbá.
Culture
Fauna/Flora.
Same animal? What would it be?
Other:
141
APÊNDICE B – ENTREVISTA POR DOMICÍLIO: DOCUMENTOS E ROTEIRO
Ao proprietário do imóvel nº _____
Largo de São Sebastião, Centro.
Manaus - AM
Senhor (a) Proprietário (a),
Pela localização de seu imóvel e após analisar trabalhos acadêmicos desenvolvidos a
respeito da mesma, pode-se imaginar a quantidade de solicitações de dados e entrevistas que
já recebera.
Permita incluir-me nessa lista.
Participo do Programa de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria pela
Universidade do Vale do Itajaí – SC (carta de apresentação em anexo) e atualmente
trabalhando na dissertação cujo tema: Turismo e resgate histórico-cultural através da
requalificação da paisagem local de Manaus/AM: Estudo de Caso Largo de São Sebastião e
seu Entorno.
Para a fase de análise de resultados, a sua opinião acerca do espaço é de fundamental
importância. Para tanto, envio em anexo um questionário contendo perguntas necessárias à
conclusão do projeto, a qual o (a) senhor (a) poderá responder pessoalmente ou através de
entrevista; necessitando para a segunda opção a disponibilidade e o agendamento de horário
específico.
Importante informar que este projeto está pautado na ética e no profissionalismo e que
os dados fornecidos serão tratados sigilosamente e divulgados de acordo com sua autorização
(parcial ou total).
Certa de contar com sua colaboração que é, sem dúvida, um incentivo direto à cultura,
à pesquisa e ao turismo local.
Respeitosamente,
Andressa Maria Cruz dos Santos
Mestranda em Turismo e Hotelaria – UNIVALI-SC
Contato: [email protected] ou (92) 8152-5289
Rua Mário Assayag, 34 - Shalon Tower Bl. 1 Apto 504
Compensa – Manaus – AM
142
143
APÊNDICE C – ENTREVISTA COM GESTORES: ROTEIRO e DOCUMENTOS.
Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria – UNIVALI/SC
Mestranda: Andressa Maria Cruz dos Santos
Tema: Turismo e resgate histórico-cultural através da requalificação da paisagem local de
Manaus/AM: Estudo de Caso Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu Entorno.
Secretário, gestores, historiadores e apreciadores do LSSE.
Data:
1.Sexo:
Masc.
Fem.
2. Naturalidade:
3.Faixa etária:
18-25 anos
26-34 anos
35-50 anos
51-65 anos
Acima de 65 anos
4. Escolaridade
Ens. Fundamental completo ou cursando.
Ens. Superior Incompleto
Ens. Médio completo ou cursando.
Ens. Superior Completo
Pós-graduado
Mestrado e/ou Doutorado
5. Faixa de Renda:
1 a 3 salários mínimos
4 a 6 salários mínimos
7 a 10 salários mínimos
Acima de 10 salários mínimos
6. Cargo que ocupa:
7. Há quantos anos está no cargo?
8. A atividade que você atualmente exerce, envolve o LSSE?
9. Você já exerceu alguma atividade ou desenvolveu algum trabalho (científico) relacionado ao LSSE? Qual? Por qual
motivo?
10. Você acompanhou o Programa de Requalificação/revitalização do LSSE?
11. Como se deu a requalificação revitalização e requalificação da área?
12. Para você, o que motivou a revitalização?
13. O que você recorda da paisagem urbana do LSSE, anterior à requalificação (revitalização)?
14. Para você, qual o ponto da revitalização mais expressivo?
15. Quais os benefícios que o Projeto de revitalização trouxe para o LSSE?
16. Quais problemas você aponta na área?
17. Há algum ponto, no LSSE, que poderia ser mais trabalhado ou destacado com o projeto de revitalização? Que melhoria
você sugere?
18. No LSSE, o que pode ser considerado o símbolo da cultura Manauara? Por quê?
19. Como você descreve a atual paisagem (o local) do LSSE?
Agradeço o apoio nas pesquisas e, principalmente, sua disponibilidade em torná-la possível.
Atenciosamente, [email protected]
144
ANEXOS
145
ANEXO A – SÍNTESE DO PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DA SEC-AM
146
147
148
ANEXO B – CARTA DE APRESENTAÇÃO VIA UNIVALI
149
ANEXO C – AUTORIZAÇÕES MORADORES
150
151
ANEXO D – E-MAIL MARCANDO REUNIÃO COM SEC-AM
152
ANEXO E – E-MAIL INFORMATIVO SOBRE SOLICITAÇÕES À SEC-AM.
153
ANEXO F – DADOS ESTATÍSTICOS TA E CCLSS.
154
155
156
157
158
159
160
ANEXO G – MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS – CCLSS.
161
162
163
164
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estudo de caso centro cultural largo do são sebastião e