O desenvolvimento da comunicação humana
José Alberto Sinclair Piedade
O levantamento
histórico e evolutivo da
comunicação humana
fornece subsídios
fundamentais na medida
em que pode traçar uma
linha comparativa entre
seu aparecimento e a
alteração do
comportamento social.
O objetivo básico da comunicação humana é
alterar as relações originais entre o próprio
organismo humano e o ambiente em que ele
se encontra. Especificando mais: o objetivo
básico é reduzir a probabilidade de que
sejamos simplesmente um alvo das forças
externas (como acontece quando nascemos,
pois não temos o mínimo controle sobre a
nossa conduta, sobre o comportamento dos
outros, sobre o ambiente físico em que nos
encontramos. Estamos à mercê de qualquer
força interessada em nos influenciar: e nós
mesmos somos impotentes para influenciar
qualquer coisa ou pessoa intencionalmente)
e aumentar a probabilidade de que nós
mesmos exerçamos força".
(David K. Berlo. In: O processo de Comunicação,
Introdução a teoria e à pratica")
Melvin L. DeFleur e Sandra Ball-Rokeach em Teorias da Comunicação de
Massa dividem a evolução da comunicação humana em etapas. Eles descrevem
as várias etapas do desenvolvimento da comunicação (era dos símbolos e sinais,
era da fala e da linguagem, era da escrita, era da impressão, era da comunicação
de massa) mostrando através de fatos da história da humanidade, a intensa
ligação entre a evolução do homem e sua capacidade de se comunicar.
A partir dos registros de fósseis encontrados e analisados por
paleoantropólogos durante mais de um século, determinou-se que o processo
evolutivo, que originou a humanidade, data de uns 70 milhões de anos.
Paleontropólogos afirmam que o ancestral da ordem primata foi o proconsul,
pequena criatura parecida com um rato que viveu no período dos dinossauros, e
somente após milhões de anos, surgiram os primeiros animais parecidos com os
macacos. Estudos revelam que eles teriam surgido na África subsaariana, e, por
isso, essa localidade é considerada como o provável lugar da origem da família
humana. O pesquisador Anta Diop, em sua obra The African Origin of
Civilization: myth or reality (1974) e essa hipótese.
Muitos estudiosos consideram que a competição por comida e território,
foram as forças influenciadoras para o desenvolvimento dos primatas.
Estabelecendo uma cadeia evolutiva, teríamos por ordem cronológica, o
Dryopithecus, Ramapithecus, Australopithecus africanus, Homo habilis, Homo
erectus, Homo sapiens neanderthalensis, Homo sapiens, sapiens .
Entretanto, existe uma controvérsia entre os estudiosos, decorrente do
fato que, muitos deles consideram a possibilidade do Ramapithecos ter sido um
animal com a capacidade de andar erecto, sendo assim, ao invés do
Australopithecus, primeiro membro da família Hominidae (criatura com
aparência humana).
Existem, porém, sinais claros de que a cadeia ancestral do ser humano
partiu-se em duas linhas separadas. A primeira linha resultou em criaturas mais
corpulentas e musculosas que o homem contemporâneo. O homem de
Neanderthal (Homo sapiens neanderthalensis) foi descendente dessa linha
ocupando a área européia e partes do Oriente Médio há aproximadamente uns
125 a 150 mil anos. Misteriosamente os homens de Neanderthal extinguiram-se.
Não existem sinais claros de guerra, praga ou qualquer outro fenômeno que
possa ser determinante desse fato.
A segunda linha, segundo estudiosos, desenvolveu-se mais tarde
ocupando a área antes habitada pelos homens de Neanderthal. Denominados de
Cro-Magnon (Homo sapiens, sapiens), eles apareceram primeiramente em
partes da Europa e do Oriente Médio por volta de 90 a 40 mil anos atrás. Os
homens de Cro-Magnon foram o produto final de um processo evolutivo de 70
milhões de anos.
Embora seja difícil determinar parâmetros de análise para determinar o
grau de desenvolvimento da comunicação humana, identificar os momentos
específicos em que o homem efetivamente realizou avanços sucessivos em sua
capacidade de trocar, registrar e difundir informações tem-se mostrado uma
forma bastante eficaz de análise. Esse procedimento possibilita detectar como
essa capacidade influenciou a estrutura social e alicerçou o desenvolvimento
tecnológico, que de modo geral, são os fatores determinantes de
desenvolvimento.
Numa visão abrangente da história pode-se considerar a Era dos Símbolos
e Sinais como a primeira etapa significativa do desenvolvimento da capacidade
humana de se comunicar. Nessa etapa, iniciada na vida pré-hominídea e protohumana, estes seres pré-humanos comunicavam-se basicamente como fazem os
outros mamíferos. Suas respostas eram muito mais influenciadas pelas respostas
herdadas e instintivas do que a partir de um comportamento adquirido por meio
da comunicação. Sabe-se que foram necessários milhões de anos de evolução
pré-humana para que, a partir do desenvolvimento da capacidade de
aprendizagem, desenvolve-se um sistema de comunicação baseado em símbolos
e sinais efetivamente convencionados.
A Era dos Símbolos e Sinais foi sucedida pela etapa da Idade da Fala e da
Linguagem. Estudiosos acreditam que esta fase está diretamente ligada ao
súbito aparecimento do homem de Cro-Magnon. "Embora esta conclusão não
seja universalmente aceita, parece que esses novos ancestrais mais imediatos
começaram a falar algures entre 90 a 40 mil anos atrás". É fato que há cerca de
55 mil anos, a linguagem já se achava em uso.
Acredita-se que foi apenas há uns 5 mil anos que ocorreu transição para a
Era da Escrita e um fato curioso é que comprovadamente pode-se afirmar que
esta etapa se desenvolveu independentemente, e, muitas vezes,
simultaneamente, em várias partes do mundo. "Os chineses e os Maias,
especificamente, criaram a escrita de forma totalmente independente", mas a
mais antiga transição ocorreu entre os sumérios e os egípcios no antigo
Crescente Fértil, no que hoje são partes da Turquia, Iraque, Irã e Egito.
Mais recentemente surge a Era da Imprensa (1455, na cidade alemã de
Mainz) com a produção do primeiro livro por meio do uso de uma prensa. Essa
tecnologia, primeiramente, difundiu-se rapidamente por toda a Europa, sendo
levada posteriormente para todas as partes do mundo, alterando
significativamente a maneira pela qual o homem desenvolvia e preservava sua
cultura.
Entretanto, para a maioria dos estudiosos, o surgimento da Era da
Comunicação de Massa data do início do século XX, e, muitos estudiosos
consideram ainda, que esta era é representada mais realisticamente pelo
surgimento do cinema, rádio e TV. Outros estudiosos defendem que o ser
humano já vivência hoje uma nova etapa que denominam Era dos
Computadores.
Curiosamente, nota-se que existe, obrigatoriamente, uma acumulação de
conteúdo na transição de uma etapa para outra, o que permite concluir que as
etapas de evolução cada vez serão mais rápidas e breves.
Aprofundando-se no estudo da Era da Comunicação de Massa, nota-se
que, com o aparecimento e aceitação da imprensa de massa (que ocorreu na Era
da Impressão), o ritmo da comunicação do ser humano tornou-se cada vez mais
intenso. Em 1844 ocorre o surgimento do telégrafo* que, embora não fosse um
veículo de massa, pode ser considerado como um dos precursores dos veículos
de comunicação massa eletrônicos. (principalmente porque permitiu uma
acumulação tecnológica que resultou nos veículos de massa eletrônicos).
Logo no começo do séc. XX (primeira década) surgiu o cinema** que,
rapidamente, tornou-se uma forma de entretenimento familiar. Após o
surgimento do cinema, houve a criação do rádio doméstico (meados de 1920) e
da televisão doméstica (idos de 1940).
Efetivamente foi no começo da década de 50 que o Rádio tornou-se uma
febre nos lares americanos, principalmente por meio de sua utilização nos
automóveis, gerando também uma múltipla penetração do meio nos domicílios,
na forma de rádios para o quarto de dormir e para a cozinha em conjunto com
um crescente número de aparelhos transistorizados e miniaturizados.
Processo parecido ocorreu com a televisão no final dos anos 50 e início
dos 60. Na década de 70 a TV praticamente já estava presente em todos os EUA.
A partir daí novos veículos de comunicação, com base na TV e rádio, foram
adicionados ao nosso cotidiano: TV a cabo, videocassete, filmadoras, vídeotexto,
transformando a comunicação de massa em um dos fatos mais significativos e
importantes da vida moderna.
Dois fatos não podem passar desapercebidos quando estuda as transições
na capacidade do ser humano se comunicar:
1) A evolução da comunicação sempre esteve presente na história da
humanidade;
2) O surgimento dos veículos de comunicação de massa pode ser considerado
bem recente.
Esses dois fatos são importantes porque nos permitem duas conclusões:
a) Tendo como base a história, pode-se supor que surgirão novas evoluções na
comunicação, sempre num ritmo mais dinâmico que dificulta a análise e o
controle das influências da comunicação de massa frente à sociedade moderna.
b) Sendo o aparecimento da comunicação de massa recente, pode-se supor que
o indivíduo em geral não percebe a importância que esse processo tem no
desenvolvimento da sociedade como um todo, seja em nível tecnológico, seja
conceitual.
Numa sociedade em que o acesso à informação é cada vez mais acelerado,
torna-se fundamental reavaliar a utilização da comunicação em esfera global, na
medida em que, as pessoas têm acesso a qualquer tipo de informação.
Bibliografia
DEFLEUR, M.L.; BALL-ROKEACH, S. Teorias da Comunicação de Massa. São
Paulo: Ed. Paulista, 1985.
DIOP, Cheikh Anta. The African Origin of Civilization: myth or reality. New York,
1974.
K. BERLO, David. O Processo de Comunicação, Introdução a teoria e à prática.
Ed. Martins Fontes, 1982.
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