MOACIR PORTO FERREIRA PROGRAMAS CORPORATIVOS DE DESENVOLVIMENTO DA CAPACIDADE DE AUTO-SUSTENTO DE COMUNIDADES: AVALIAÇÕES E CONSIDERAÇÕES À LUZ DE UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de concentração: Sistema Gestão pela Qualidade Total. Orientador: Anderson Cantarino, D.Sc. Niterói 2005 MOACIR PORTO FERREIRA PROGRAMAS CORPORATIVOS DE DESENVOLVIMENTO DA CAPACIDADE DE AUTO-SUSTENTO DE COMUNIDADES: AVALIAÇÕES E CONSIDERAÇÕES À LUZ DE UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de concentração: Sistema Gestão pela Qualidade Total. Aprovada em 22 de Dezembro de 2005. BANCA EXAMINADORA _____________________________________ Orientador: Anderson Cantarino, D.Sc. Universidade Federal Fluminense AGRADECIMENTOS A Jesus Cristo por me amar, corrigir, perdoar e principalmente pelos seus ensinamentos milenares. Minha esposa Edna Cristina por sua paciência (e impaciência), amor, incentivo, ciúme e compreensão, deixando meus dias cheios de sentimentos e percepções, o que me traz felicidade. Meu enteado Matheus e meu filho ou filha que ainda não conheço (mas que está vindo), pelo amor à sua moda e também por me tornarem melhor. Minha mãe Leluca, Tias Zana, Tânia e Lucy, primos, irmão Carlos Estevão, amigos pelos incentivos e interseções ao Pai pelo bem de minha vida. Aos amigos Orlando Eller, Bernadete Almeida e Luciano Medeiros, todos da CVRD, pela boa vontade com que me dispuseram elementos e meios para esta dissertação ser viável. Ao meu grande amigo “primo” Eduardo Calixto, pelo ENORME e incessante incentivo a mim dispensado, sem o qual o sonho de mestrando não teria se concretizado. Ao prof. Osvaldo Quelhas e a imensa boa vontade em me ajudar na viabilidade do curso. “O Homem pensou, que o planeta era somente seu Com o futuro ele projetou Dominar a natureza, que um dia o acolheu Alerta pro mundo atual Imagem, terror irreal Humanos dominados pelo mal” RESUMO Conhecida como a quarta onda da gestão moderna, a Responsabilidade Social Corporativa – RSC – possui diversas formas de aplicação e resultados. As empresas mundiais têm apostado na responsabilidade social corporativa como elemento de conquista de vantagem competitiva, através de ações envolventes de diversos stakeholders – entre eles a comunidade. Especificamente em atividades em que as comunidades têm sua economia amplamente dependente das plantas fabris, tornase necessário entender e promover a diversidade econômica e reduzir a relação de dependência, alinhado ao desenvolvimento sustentável. Esta dissertação analisa um dos programas de auto-desenvolvimento de comunidades, baseando-se num estudo de caso de um projeto de planejamento estratégico, patrocinado por uma empresa privada. Através dele, buscam-se elementos de análise da Responsabilidade Social Corporativa, avaliando a interseção desta com o estudo de caso e projeto estudado. Palavras – chave: Responsabilidade Social Corporativa. Auto – desenvolvimento de Comunidades. Desenvolvimento Sustentável. Planejamento Estratégico ABSTRACT Known as the fourth wave of the modern management, the Corporative Social Responsibility - CSR - possess diverse forms of application and results. The worldwide companies have bet in the corporative social responsibility as element of conquest of competitive advantage, through diverse involving actions of stakeholders - between them the community. Specifically in activities where the communities have its economy widely dependent of the plants manufacter, one becomes necessary to understand and to promote the diversity economic and to reduce the relation of dependence, lined up to the sustainable development. This text analyzes one of the programs of auto-development of communities, being based on a study of case of a project of strategical planning, sponsored for a private company. Through it, elements of analysis of the Corporative Social Responsibility search, evaluating the intersection of this with the case study and studied project. Words - key: Corporative Social Responsibility. Auto - development of Communities. Sustainable development. Strategical planning. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Conceito de responsabilidade corporativa Figura 2 – Patamares do tripple bottom line. Sustentabilidade Triangular Figura 3 - 33 Modelo de Duarte e Dias para a Responsabilidade Social Corporativa Quadro 1 - 13 Os quatro tipos de Responsabilidade Social Total Responsabilidade Social da Organização, com adaptações. Figura 4 - 12 35 Diferenças entre as Responsabilidades Social Interna e Externa 38 Figura 5 – Responsabilidade corporativa 39 Quadro 2 - indicadores de perfomance 50 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 10 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA 11 1.2 LIMITAÇÕES DO TRABALHO 15 2 METODOLOGIA 16 2.1 METODOLOGIA DA DISSERTAÇÃO 16 2.2 METODOLOGIA DOS PROCESSOS INTERNOS 19 2.2.1 Da pesquisa de campo 19 2.2.2 Da análise do estudo de caso 21 3 REFERENCIAL TEÓRICO 23 3.1 IMPORTÂNCIA DA PESQUISA EM RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA 23 3.1.1 Desenvolvimento sustentável: conceitos e histórico 26 3.1.2 Conceitos de Responsabilidade Social Corporativa 28 3.1.3 Conceito adotado no estudo de caso 31 3.2 SISTEMATIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA 31 3.2.1 Carroll (1979) 32 3.2.2 Duarte e Dias (1986) 33 3.2.3 Richard Locke e Cheibub (2002) 36 3.2.4 Melo Neto e Froes (2001) 37 3.3 FERRAMENTAS CONTEMPORÂNEAS DE AVALIAÇÃO DA RSC 39 3.3.1 SA8000 40 3.3.2 AA1000 43 3.3.3 GRI – Global Reporting Initiative 46 3.3.4 Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial 51 3.3.4.1 Valores e Transparência 53 3.3.4.2 Público Interno 55 3.3.4.3 Meio Ambiente 58 3.3.4.4 Fornecedores 60 3.3.4.5 Consumidores e Clientes 61 3.3.4.6 Comunidades 63 3.3.4.7 Governo e Sociedade 64 3.4 OBSERVAÇÕES SOBRE AS FERRAMENTAS DE RSC: 66 3.5 OBJETO DO ESTUDO: ESCOPO 67 4 OS ELEMENTOS DO ESTUDO DE CASO 70 4.1 LED – LOCAL ECONOMIC DEVELOPMENT: CONCEITOS 70 4.1.1 Oportunidades e Riscos 70 4.1.2 Mineração e o Desenvolvimento Econômico Local (LED) 71 4.1.3 Componentes de Estratégias de Desenvolvimento Econômico Local 4.2 DLIS 71 – DESENVOLVIMENTO LOCAL INTEGRADO E SUSTENTÁVEL: CONCEITOS 4.3 RESPONSABILIDADE 72 SOCIAL: BOAS PRÁTICAS CORPORATIVAS 73 5 ANALISE DO ESTUDO DE CASO 83 5.1 DESCRIÇÕES DO ESTUDO DE CASO 83 5.1.1 Responsabilidade Social Corporativa na Indústria da Mineração Mundial 83 5.1.2 A Cia Vale do Rio Doce: história 87 5.1.3 A Fundação Vale do Rio Doce 90 5.1.4 Projeto Cidade Vale Mais: Cariacica Vale Mais 91 5.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS E DO ESTUDO DE CASO 97 5.2.1 Notabilidade da Responsabilidade Social Corporativa e do Projeto Cariacica Vale Mais: 5.2.2 Notoriedade do Conceito 102 de Responsabilidade Social Corporativa e do Projeto Cariacica Vale Mais: 103 5.2.3 Expectativa em relação ao Projeto Cariacica Vale Mais 106 5.3 CONSIDERAÇÕES RESUMIDAS SOBRE A PESQUISA DE CAMPO 107 6 DISCUSSÃO 109 7 CONCLUSÃO 118 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 121 APÊNDICES 124 10 1 INTRODUÇÃO Nos dias atuais não temos os conflitos deflagrados nos séculos anteriores, nem a iminência de grandes conflitos intercontinentais explícitos por mercados. Há, sim, uma luta permanente entre potências de todo calibre na busca ou manutenção de mercados e fontes de matéria prima para seus produtos. Nos nossos tempos, o discurso atual não é o imperialismo do fim do século XIX, mas o neoliberalismo do fim do século XX, socialmente muito mais marcante, embora mais discreto, mais velado que o primeiro. Segundo Cortegiano (2003), iniciamos o século XXI num mundo onde as disparidades econômicas e sociais atingiram níveis sem precedentes na história da humanidade. A busca por capital e a concentração da riqueza insurgem em desigualdades que culminam em desordenamentos urbano, social, ambiental e humano. Fiori (1997) afirma que o agravamento das desigualdades entre países ricos e pobres e a criação de novos padrões de exclusão são ocasionados pelo fenômeno econômico, político e ideológico da globalização. Furtado (1999) afirma que este fenômeno tem origem na natureza de um sistema produtivo transnacional global, cujo dinamismo se traduz em novo desenho na alocação geográfica dos recursos e em forte concentração social da renda. A globalização, entretanto, mostra-se imprescindível num mundo em que as fronteiras se encurtaram com as tecnologias, a logística e a transnacionalidade das empresas. Segundo o Business Meets Social Development - BSD (BUSINESS..., 1999) as empresas, comunidades e indivíduos ainda estão aprendendo a viver no mundo da globalização, da transformação tecnológica e das transações políticas. A lógica desta realidade criou oportunidades sem precedentes para alguns, mas fez crescer a insegurança e a desigualdade para muitos. Como podem, então, os administradores ignorarem a globalização? Como podemos nos abster dela se todos a buscam por excelência e mercados, e esta excelência pode significar, ainda que teoricamente e superficialmente, melhoria das condições de um povo que por ela busca? Quais as regras do jogo, para que nem 11 tudo seja permitido, em um embate sem conseqüência ou com desastres como guerras despropositadas e desaparecimento de recursos naturais e humanos? A regra do jogo, ainda que utopicamente falando, passa ação integrada pela responsabilidade social, na quarta onda em que o mundo deve surfar em direção a excelência administrativa, mas com evolução dos padrões sociais. Sobre isto, descreve Kraemer (2005) que o mundo corporativo tem papel fundamental na garantia de preservação do meio ambiente e na definição da qualidade de vida das comunidades de seus funcionários. Empresas socialmente responsáveis geram, sim, valor para quem está próximo. E, acima de tudo, conquistam resultados melhores para si próprios. A responsabilidade social deixou de ser uma opção para as empresas. É uma questão de visão, de estratégia e, muitas vezes, de sobrevivência. Ainda descreve Kramer em seu artigo que Tachizawa (2002 apud Kramer, 2005) afirma que os novos tempos caracterizam-se por posturas dos clientes, voltada às expectativas de interagir com organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no mercado e que atuem de forma ecologicamente responsável. Em resumo, a regra para a redução dos conflitos entre sociedade x capital x trabalho descritos no primeiro parágrafo. 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA A necessidade da ordenação das relações entre a sociedade e as empresas a que alguns estudiosos chamam de quarta onda, e que veremos adiante precipitaram, há muitos anos, a manutenção do discurso de desenvolvimento sustentável. Este discurso mostrou que o mundo precisa discutir as relações entre os processos produtivos, o meio ambiente e o planeta, de maneira que as gerações no futuro tenham parte dos recursos à sua disposição, e não fontes esgotadas em que o sustento dos habitantes seja amplamente afetado. Sobre este prisma, descreve Kraemer (2005): 12 Na dimensão interna, ao nível da empresa, as práticas socialmente responsáveis implicam, fundamentalmente, os trabalhadores e prendem-se em questões como o investimento no capital humano, na saúde, na segurança e na gestão da mudança, enquanto as práticas ambientalmente responsáveis se relacionam, sobretudo com a gestão dos recursos naturais explorados no processo de produção. Estes aspectos possibilitam a gestão da mudança e a conciliação do desenvolvimento social com uma competitividade reforçada. Quanto à dimensão externa, a responsabilidade social de uma empresa ultrapassa a esfera da própria empresa e se estende à comunidade local, envolvendo, para além dos trabalhadores e acionistas, um vasto espectro de outras partes interessadas: parceiros comerciais e fornecedores, clientes, autoridades públicas e ONG’s que exercem a sua atividade junto das comunidades locais ou no domínio do ambiente.” O desenvolvimento sustentável implica em atuação em três conceitos básicos: capacidade financeira, conduta ambiental e preocupação social. Segundo o World Business Council of Sustainable Development - WBCSD (2000), instituição com 120 empresas transnacionais unidas com a preocupação comum com o meio ambiente e com os princípios do crescimento econômico e desenvolvimento sustentável, a Responsabilidade Social Corporativa é “o comprometimento permanente das empresas em ter um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo em que promove a melhoria da qualidade de vida, da força de trabalho e de suas famílias”. Assim, com este conceito, estabeleceu-se no fluxograma apresentado pela Figura 1: Responsabilidade Corporativa (Desenvolvimento Sustentável) Responsabilidade Finaceira Corporativa Responsabilidade Ambiental Corporativa Responsabilidade Social Corporativa Figura 1 – Conceito de responsabilidade corporativa Fonte: Relatório do WBCSD, 2000. Complementando o discurso do WBCSD, o BSD (BUSINESS..., 1999) afirma que não haverá crescimento econômico em longo prazo sem o progresso social e também sem o cuidado ambiental. Todos os lados devem ser vistos e tratados com pesos iguais. Mesmo porque estes são aspectos inter-relacionados. Da mesma 13 forma que o crescimento econômico não se sustenta sem uma equivalência social e ambiental, programas sociais ou ambientais corporativos não se sustentarão senão houver equilíbrio econômico da empresa. A relação da responsabilidade social corporativa (ou empresarial) tem como base o desenvolvimento sustentável através do triple bottom line, termo inglês que define que o resultado de uma empresa deve abranger três patamares já aqui descritos: sociedade, economia e meio ambiente (Figura 2). Sociedade Meio Ambiente Economia Figura 2 – Patamares do tripple bottom line. Sustentabilidade Triangular. Fonte: Business Meet Social Development, (1999). A presença do Estado na economia mundial se encurtou bastante nas últimas décadas. A privatização de setores públicos mundo afora implicou em desregulamentação de parte das ações do Estado, e repasse de alguma destas ações – e conseqüentemente poder – para a mão das empresas privadas. Para Cortegiano (2003) a corrente do pensamento neoliberal se firmou a partir da perda de eficiência do Estado com relação à promoção de políticas sociais e das críticas, por interferência direta na economia, passando a sofrer pressões na direção do Estado Mínimo. Esta percepção de ausência de um Estado regulador, marcante no final dos anos setenta até nossos dias, preconiza a necessidade de atuação em outros planos – não apenas no estatal - de elementos que tenham poder, ainda que não formal, de regulamentar as ações das empresas e corporações que aditivaram as áreas antes estatais aos seus processos produtivos. Sobre isto, discerniram Melo Neto; Froes (2001) que a ideologia do bem estar social e a filosofia do pleno emprego cedeu lugar ao novo modelo de globalização e suas respectivas lógica e racionalidade. Por outro lado, as ações das empresas que efetivamente pretendem manterse num mercado mais competitivo, mais seleto e de transnacionalidade irreversível 14 são observadas por uma sociedade mais informada, mais combativa e de atuação mais efetiva. Hoje, comum são empresas que tem seus produtos boicotados por grupos de consumidores por posturas antiéticas ou condutas nada profissionais. Esta busca por esclarecimento das ações das empresas, seu envolvimento com as questões sociais e sua participação na preservação ambiental tem sido o diferencial das empresas praticantes e das que não o são. Este diferencial tem diferido as empresas, principalmente as transnacionais, sobre sua participação ou não na economia mundial em médio ou longo prazos. Ou seja, não basta mais ao gestor ter olhos apenas para o lado financeiro: o gestor precisa atentar, o mais depressa possível, para ações que efetivamente o denominem como socialmente responsável. Esta preocupação já baliza as ações de algumas empresas, ainda que em muitas delas as ações de responsabilidade social se limitem a discursos ou em ações meramente filantrópicas, que adiante veremos ser apenas uma das vertentes da responsabilidade social. Sobre isto, Cortegiano (2003) afirma que parece haver uma crescente preocupação das grandes empresas com o lado social, seja por pressões oriundas de um ambiente mais competitivo, seja por pressões nos custos ou mesmo por questões de ordem moral. No entanto, o trabalho dos estudiosos e a ação das próprias empresas, no que diz respeito à responsabilidade social, são dificultados pela indiferença de muitas instituições e pelo seu discurso impreciso e fracionado. Diante do exposto, percebe-se que as ações das empresas no tocante a Responsabilidade Social Corporativa (ou Empresarial) devem balisar-se em ações cujos impactos à sociedade sejam benéficos (ou causem o menor impacto negativo possível), além de ter como prisma a sustentabilidade econômica da empresa. Em outras linhas, as ações devem refletir o foco dos negócios da empresa sem fugir de suas responsabilidades com a sociedade e o meio ambiente. Uma tarefa nada fácil, certamente. Com mais este parâmetro a empresa deve buscar fontes de ação aos seus negócios que efetivamente passem pela boa conduta administrativa, ética e traga o retorno esperado. 15 1.2 LIMITAÇÕES DO TRABALHO A Responsabilidade Social Corporativa ainda é um tema novo. Diante disto, a pesquisa tem literatura reduzida, o que faz com que este trabalho seja baseado em pesquisa exploratória bibliográfica de autores ligados ao tema, pesquisa pela Internet, literatura técnica disponível sobre o tema, entrevistas com os stakeholders do estudo de caso. O objetivo da dissertação é verificar sua efetividade em termos sociais locais, para constatação da parte cabível dos elementos teóricos apresentados ao longo do trabalho de dissertação em consonância com as ações ditas de responsabilidade social por parte das empresas. O projeto escolhido foi o Cidade Vale Mais, patrocinado pela Cia vale do Rio Doce (CVRD), através da Fundação Vale do Rio Doce (FVRD), onde o planejamento estratégico da cidade de Cariacica, no Espírito Santo – cuja CVRD mantém instalações ferroviárias e portuárias - foi elaborado pelo Grupo CVRD e entregue a comunidade, com intuito de entregar à cidade planos de desenvolvimento estratégico para os próximos vinte anos. 16 2 METODOLOGIA 2.1 Metodologia da Dissertação A pesquisa pela metodologia é um das partes mais importantes, se a não mais, da dissertação. Encontrar a metodologia que pudesse qualificar um objeto de estudo apenas (estudo de caso) e receber deste objeto avaliação qualitativa de um tema amplo, sem recorrer a comparações profundas com outros elementos, parece-nos difícil. Mas buscamos referências, onde destacamos Rabelo (2002) e sua dissertação de doutorado intitulada Comunicação e Mobilização Social; a Agenda 21 local de Vitória (ES). A autora descreve uma metodologia que entendemos servir de espelho ao nosso estudo de caso, pelas razões: a) trata-se também de um único estudo de caso; b) busca-se opinião através de pesquisas semi-direcionadas, de maneira a obter opinião de diversos stakeholders; c) inicialmente, o projeto de pesquisa poderia ser de um estudo múltiplo (Agenda 21 Global), como seria o nosso, tomando como base o caso do Programa Cidade Vale Mais, com diversas cidades de atuação - e não somente o caso específico de Cariacica - mas percebeu-se pelos levantamentos que este estudo seria infindável, diante das diversas nuances presentes. Orozco Gomes (1995 apud RABELO, 2002), que afirma que os paradigmas da produção de conhecimento se encontram em quatro vieses: positivista, realista, hermenêutico e interacional. O que pelo entendimento se aplica a este estudo de caso é o viés interacionista, que segundo Orozco Gomes (1995) busca a conexão dos elementos que podem estar influindo para que algo resulte ou suceda de determinada maneira. A observação de quais elementos se relacionam com outros e como se relacionam, produz novos conhecimentos, já que tais conexões não estavam colocadas antes. Como não se trata de verificar objetivamente a realidade, mas sim compreender e interpretá-la, a metodologia qualitativa se mostrou mais adequada para a abordagem do programa Cariacica Vale Mais. 17 De acordo com Orozco Gomes (1995 apud RABELO, 2002), na perspectiva qualitativa os objetos de estudo são construídos pelo pesquisador, isto é, são frutos de sua observação e exploração. Rabelo (2002) afirma que como conhecimento produzido a partir de níveis concretos, ele pode ser entendido pela sociedade, e não apenas por especialistas – o que permite um novo tipo de ação política dos atores e ajuda na tomada de decisões. Um estudo de caso é um estudo profundo; é o esforço para tentar integrar em um objeto de investigação toda a informação constituinte deste objeto; e não somente a parte da informação, para tomá-lo como exemplo que pode diferenciar, ser comparado u ser analisado para dar um conhecimento em profundidade de um objeto de estudo. (El estudio de un caso trata de ser um estudio en profundidad; es el esfuerzo por tratar de integrar en un objeto de investigación toda la información constitutiva de esse objeto; y no sólo parte de la información, para tomarlo como ejemplo que puede contrastar, ser comparado o ser analisado para dar un conocimiento en profundidade de un objeto de estudio. (OROZCO GÓMES, 1995 apud RABELO, 2002). Yin (1988) afirma que através do estudo de caso é possível a compreensão de fenômenos sociais complexos, já que ele nos permite uma visão global das principais características do evento, o que se trata de técnica pertinente quando as principais questões da pesquisa são como e por que, quando o pesquisador não tem controle sobre os eventos ou comportamentos e quando o estudo trata de fatos contemporâneos. Um estudo de caso é uma pesquisa empírica que: investiga fenômenos contemporâneos dentro de seu contexto real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não estão claramente evidentes; e quando múltiplas fontes de evidência são usadas. (A case study is an empirical inquiry that: investigates a contemporary phenomenon within its real-life context; when the boundaries between phenomenon and the context are not clearly evident; and in which multiple sources of evidence are used)" (YIN 1988 apud RABELO, 2002). Nosso estudo de caso trata de um dos exemplos, dentre diversos, de um projeto de desenvolvimento local, que pelas características das comunidades de entorno atendidas, pode possuir diversas interpretações e resultados, a partir de cada comunidade atendida. Temíamos que o estudo de caso limitado sofresse críticas por analisar um tema e um projeto tão amplo com um case apenas, diante da imensa oportunidade de resultados obtidos a partir o projeto global – Cidade Vale Mais, e, em 18 ascendência de atuação, os programas corporativos de desenvolvimento de autosustento de comunidades. Esta preocupação, conforme já citamos, foi sentida por Rabelo (2002) que buscou nos autores Yin (1998) a chancela para que o estudo de caso, sendo um case de um projeto de resultados possíveis de serem diferentes por suas características locais, tivesse a respeitabilidade científica para revelar-se como suficiente, dentro do que se busca como resultado. Descreve Rabelo (2002) que Yin (1998), respondendo às críticas sobre generalização de um único caso, afirma que, como os experimentos, os estudos de caso são generalizáveis para as proposições teóricas e não para populações ou universos. O caso, completa Yin (1998) não representa uma amostra e o objetivo do investigador é expandir e generalizar teorias e não enumerar freqüências. Rabelo (2002) se remete à Orozco Gomes (1995), para quem o objetivo das análises e interpretações é criar teorias através da investigação empírica. Numa tentativa de padronização das ferramentas de pesquisa nos debruçamos na ausência de metodologia exclusivamente estável. As perspectivas de fontes de informação metodológica não se satisfazem, à medida que buscamos elementos para a dissertação. Sobre isto, descreve Medina (1988) que não há estabilidade metodológica, mas um constante esforço e paixão pela descoberta provisória e pluralista dos instrumentos de pesquisa. Assim, com estas justificativas entendemos que o Programa Cariacica Vale Mais nos sirva de elemento suficiente, como um estudo de caso, para avaliar e considerar os resultados relativos aos programas de desenvolvimento de autosustento de comunidades. Numa tentativa de elementar um roteiro para a busca das informações necessárias à pesquisa, descrevemos: a) Documentos criados pela equipes da FVRD e da Agência 21, para obter elementos históricos do programa do estudo de caso; b) Depoimentos de stakeholders (partes interessadas), sobre suas idiossincrasias; c) Pesquisa de opinião com parte dos stakeholders da comunidade de entorno, através de entrevistas semi-dirigidas; 19 d) Análise documental em livros, periódicos, artigos e literatura correlata, uma vez que pela imaturidade do tema não existe ainda vasta literatura disponível. Na análise dos documentos em (a), acreditamos que esta sirva de alicerce fundamental para o entendimento do objeto estudado, sobre os objetivos do programa, sua extrapolação para o objeto de estudo e principalmente, sua correlação com a responsabilidade social corporativa. Sobre as entrevistas semi-dirigidas, Orozco Gomes (1995 apud RABELO, 2002), a partir de alguns temas e subtemas previamente colocados, ela permite que os entrevistados possam se conectar mais livremente com os diferentes tópicos. Como complemento ao estudo de caso, propomos a listagem de cases de outras empresas do porte da Cia Vale do Rio Doce, como clientes, fornecedoras, coligadas e concorrentes. Este estudo se limita a citar os casos publicados em revistas e livros como boas práticas de responsabilidade social corporativa, sem pormenorizar ou discutir os méritos, entendendo que os veículos que publicam os cases são publicamente conhecedores e imparciais na opinião emitida. 2.2 METODOLOGIA DOS PROCESSOS INTERNOS 2.2.1 Da pesquisa de campo Nossa dissertação também buscou alicerces nas informações de alguns stakeholders. Inicialmente, pensou-se em entrevistar os stakeholders em grupos distintos, a saber: elementos da CVRD/FVRD e Agencia 21 (executora do plano), autoridades de Cariacica e Cidadãos de Cariacica. Continuamente, enviamos nossos relatórios a cerca de quarenta pessoas, que pudessem emitir opiniões relevantes sobre percepções do objeto do estudo de caso. Mas a taxa de devolutivas ficou em cerca de 15 por cento, o que acreditamos 20 que o assunto ora não tenha despertado interesse, ora não encontrou oportunidade na agenda dos potenciais entrevistados. Por diversos motivos, apenas cinco pessoas nos responderam à pesquisa, sendo que nenhuma da Patrocinadora, embora tivéssemos garantido o anonimato e estas, por estarem duplamente envolvidas no estudo de caso (por viverem na Cidade do estudo e por trabalharem na patrocinadora). Ainda assim, não houve retorno destas pesquisas. Como nosso intuito não foi buscar elementos estatísticos, e sim observar percepções de todos os tipos, acreditamos que mesmo com poucas pessoas respondendo às pesquisas pudéssemos retirar delas alguns elementos para observação. E veremos que adiante isto foi de fato conseguido, embora não se consiga extrapolar estatisticamente. Em nome da imparcialidade e para que o projeto obtivesse respostas sem receio de quem as emitiu, mudamos a metodologia de pesquisa: foram enviados emails a diversos dos públicos envolvidos no projeto, de maneira que se obtivesse o anonimato de quem emitira a opinião. Nestes e-mails, buscamos pessoas que pudessem de fato, serem ou estarem envolvidas no projeto, para que alguns elementos, como percepção e notoriedade pudessem ser avaliados, mesmo que num espectro pequeno. Não buscaram estas entrevistas, ratificamos, quantidades consideráveis de questionários respondidos, a fim de observar estatisticamente percentuais de aceitação ou similares. A tentativa é perceber algumas opiniões, tiradas de diversos públicos, com relação a entendimento do que seja a responsabilidade social, o programa Cariacica Vale Mais, a percepção de que o programa pode servir de alavancador do desenvolvimento de Cariacica e que por trás dele estão as intenções em melhorias da região, por parte da Cia Vale do Rio Doce. A formulação de algumas perguntas buscou complemento em outras, normalmente seguintes àquelas. Isto porque a pesquisa, implicitamente, foi dividida em quatro partes, a saber: a) Notabilidade da Responsabilidade Social Corporativa e do Projeto Cariacica Vale Mais; b) Notoriedade das ações do Programa Cariacica Vale Mais; c) Expectativa em relação ao Projeto Cariacica Vale Mais; 21 N.A: O questionário aplicado está disponível na seção de apêndice. Para analisar a pesquisa, separamos a análise nos tópicos acima descritos, objetivando aglutinar as respostas sobre as divisões implícitas. Assim, as perguntas 2 ,6 e 8. são relativas ao item um: notabilidade do conceito. Notoriedade das ações referem-se às questões 1,3, 4, 5, 7 e 9. E finalmente, as expectativas do projeto estão representadas na questão 10. Antes de iniciarmos a próxima discussão, permitir-nos-emos descrever sobre dois conceitos: notabilidade e notoriedade. Conceitos de notabilidade e notoriedade podem dar a conotação de semelhança, mas entendemos que não. Pandiá Pandú em seu moderno dicionário da língua portuguesa ilustrado (1971), afirma que notabilidade é qualidade de notável e, por conseguinte, notável, na descrição mais próxima do que desejamos, significa importante. Notoriedade, ainda segundo Pandú (1971) denota a qualidade de notório, que, por conseguinte, informa o autor que significa “público e conhecido de todos”. Estas são as diferenças dos tópicos dois e três desta seção do estudo: a tentativa de “medir” a percepção da importância de um projeto por parte da comunidade (notabilidade) e verificar o quanto esta mesma comunidade conhece o projeto (notoriedade). 2.2.2 Da análise do estudo de caso Nesta parte nosso objetivo é analisar as informações obtidas pelo estudo de caso e compará-las com os elementos teóricos do estudo de caso, caso seja possível. Nesta etapa a avaliação da RSC será feita à luz do que será descrito no capítulo 2 e 3. A avaliação será baseada em: a) Conceito; b) Ferramenta; c) Sistematização; Aliado a isto há também a análise da pesquisa de campo, cujos objetivos são: 22 • Avaliar a percepção dos stakeholders (entenda-se, comunidade) envolvidos na aplicação do projeto do estudo de caso; • A percepção da imagem da CVRD após o inicio do projeto (pesquisa de clima, opinião, etc.); Com as pesquisas buscamos verificar os resultados do projeto em relação as premissas e a suas ligações com a teoria da responsabilidade social aqui mostradas. É sabido que a Responsabilidade Social é um conjunto de boas práticas em diversos níveis, como relações com consumidores, público interno, fornecedores e clientes, posturas diante do meio ambiente, governo e comunidades. Como o estudo de caso refere-se essencialmente a relações com a comunidade, a pesquisa foi baseada para buscar fotografia desta relação apenas. Entretanto, por ser elemento de opiniões e idiossincrasias, as pesquisas podem, dependendo de quem seja tomado como entrevistado, ter implicitamente seus resultados influenciados pelas outras relações, o que não pode ser evidenciado ou separado do momento da entrevista e de sua análise. Assim, caso algum consumidor da CVRD (por exemplo, um passageiro do trem de Passageiros da EFVM) tenha alguma percepção, positiva ou negativa, e aleatoriamente ele responder a esta pesquisa, pode ser que sua percepção reflita nas respostas que ele esteja fornecendo. O mesmo ocorre com empregados ou prestadores de serviço, ou outros stakeholders da cadeia. 23 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 IMPORTÂNCIA DA PESQUISA EM RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA: Nos anos noventa do século passado o mundo passara por um por processo de transformação de ordem político-econômica. Esta transformação – chamada por estudiosos de globalização – culminou resultados em que o Estado passou ser reduzido do ambiente econômico social, e deflagrou em disputas acirradas por mercado das transnacionais. Na parte econômica a redução do papel do Estado e de suas políticas coletivas e desenvolvimentistas foi substituída pelas políticas singulares e individualistas das empresas, em que o lucro era, generalizando, a visão única de suas ações. Kraemer (2003) afirma: O mundo corporativo tem um papel fundamental na garantia de preservação do meio ambiente e na definição da qualidade de vida das comunidades de seus funcionários. Empresas socialmente responsáveis geram sim, valor para quem está próximo. E, acima de tudo, conquistam resultados melhores para si próprias. A responsabilidade social deixou de ser uma opção para as empresas. É uma questão de visão, de estratégia e, muitas vezes, de sobrevivência. Os assuntos [...] estão crescendo em importância para a comunidade de negócios em termos de responsabilidade social, do consumidor, desenvolvimento de produtos, passivos legais e considerações contábeis. [...] Os administradores cada vez mais têm que lidar com situações em que parte do patrimônio das empresas é simplesmente ceifada pelos processos que envolvem o ressarcimento de danos causados ao meio ambiente, independentemente desses danos poderem ser remediados ou não. Percebeu-se que esta nova ordem, sem critérios, poderia ser nociva à sociedade como um todo. Num contexto em que somente o lucro era o foco da questão, o lado social e de manutenção do desenvolvimento sustentável era preterido. A palavra de ordem neste contexto é vantagem competitiva, onde a subsistência da empresa está não apenas em sua capacidade de gerenciar seus 24 recursos, mas em se precaver contra concorrentes através da obtenção de cadeias de produção e de consumo vantajosas. Discerne Silveira de Mendonça (2000) que a dinâmica do desenvolvimento da economia mundial, nos tempos atuais, vem sendo fortemente influenciada pela consolidação de um novo paradigma técnico-econômico, onde o fenômeno da globalização conduz os setores produtivos a um esforço crescente a busca pela obtenção de vantagens competitivas. A vantagem competitiva é justa quando se verifica a necessidade de manutenção da empresa frente à concorrência. Mas os artifícios em que se baseiam as premissas de obtenção e manutenção desta vantagem precisam de balizadores. Os principais, entre muitos, são: A) O compromisso e cumprimento à lei; B) O respeito e as garantias individuais, coletivas e ambientais; C) A ética nas relações empresariais; Esta relação passa a ser cada dia mais observada e cobrada, principalmente em função da facilidade da comunicação e do maior esclarecimento do público – ou melhor, dos consumidores. Sobre isto, o Business Meet Social Development (1999) afirma que o resultado prático é que pessoas e empresas têm mais acesso à informação, em tempo real. Estamos todos mais exigentes, porque melhor informados. Perceber esta tendência e trabalhar com as conseqüências da era da informação se tornou crucial para as empresas. Assim, a necessidade de ser ético e responsável passa a Ter fundamental importância nas relações empresariais. Contudo, dizer-se ético não significa que a interpretação por parte da sociedade seja automática. Definir valores é complicado, pois eles passam por questões sócio-culturais transcendentes aos valores locais e individuais. Legislação é outro fator preponderante na avaliação desta dificuldade, assim como as relações entre raças, sexo e outros diferenciadores. Diante disto percebeu-se a necessidade de se parametrizar os valores que serão julgados como éticos, de aplicabilidade mundial, e que servissem de norteador às empresas ao avaliarem suas atuações e desempenho. 25 Estes valores imputaram o aspecto de que as avaliações dos empresários não poderiam mais ser lineares – numa alusão de que a ação visa somente o lucro. Em suas decisões, estes executivos deveriam levar em consideração diversos fatores de cunho não unicamente econômico, mas de ordem ética, ambiental e social também. Assim, a vantagem competitiva passou a ser encarada por uma tríplice visão, sem tirar o foco principal dos negócios: o lucro. Sobre isto, discerne o Business Meet Social Development, (1999) que as empresas estão escolhendo estratégias que possam, ao mesmo tempo, garantir uma posição de destaque e de perenidade em longo prazo. Estas estratégias têm por base o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social empresarial, conceitos interligados que trazem uma mudança do paradigma empresarial atualmente vigente de criação de retorno aos acionistas. A responsabilidade social corporativa – ou empresarial – reflete no conjunto de valores e ações, pautados pela ética, que uma empresa deve adotar, implantar e seguir, com respeito ao seu bom relacionamento com as partes interessadas na sociedade em que está inserida. Segundo o Instituto Ethos de Responsabilidade Social (2000) a empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas e proprietários. Sobre a relevância da Responsabilidade Social Corporativa afirma o Business Meet Social Development (1999) que para uma empresa, ter responsabilidade social pode ser um bom caminho para melhor administrar riscos, uma vez que entre os seus princípios estão a transparência e o diálogo. A comunicação com os diferentes stakeholders é importante para a identificação de problemas comuns e a busca de soluções conjuntas. Responsabilidade Social Corporativa – ou empresarial – é a redefinição do papel das empresas. O foco continua sendo o lucro, e é claro que da sua manutenção depende a vida da corporação. Mas nos dias atuais as empresas precisarão enveredar seus esforços pelos caminhos acima descritos. 26 A responsabilidade social corporativa será a chancela da existência das empresas no futuro. Ser ética será vantagem competitiva da empresa tanto quanto ser produtiva, e embora pareça o óbvio, empresas que assim não o seguirem poderão estar buscando a sua inexistência. 3.1.1 Desenvolvimento sustentável: conceitos e histórico O histórico e conceito da Responsabilidade Social Corporativa se mesclam com os do Desenvolvimento Sustentável. Entendendo que o primeiro está inserido no segundo, a avaliação da origem da Responsabilidade Social deve ser pautada na origem do termo Desenvolvimento Sustentável e suas varáveis, até a proximidade do que chamamos hoje de Responsabilidade Social Corporativa – ou Empresarial, como já citamos. Ou melhor, deve ser pautada no surgimento das idéias que culminaram naquele conceito. Para Cortegiano (2000) a origem, as características fundamentais do conceito e suas conseqüências para o mundo ainda não estão claras e, mesmo após décadas de uso, o conceito continua impreciso dando margem a diferentes interpretações. Iniciando a pesquisa pelo aparecimento do termo Desenvolvimento Sustentável, já aqui encontramos a imprecisão descrita por Cortegiano (2000) acima. As definições e surgimento do termo remontam os anos 70 e sua origem simplista foi evoluída para o conceito do triple botton line , como afirma Marcelo Sobral, em seu trabalho intitulado DFE (Design for Environment) e o Desenvolvimento Sustentável, acesso em 24/04/2005 ao site: www.mgsobral.hpg.ig.com.br : Na década de 70, surgiu o termo "desenvolvimento sustentável", significando a capacidade da geração atual de atender às necessidades industriais sem comprometer o meio ambiente e a sobrevivência das gerações futuras. Esta definição original, da década de 70, era muito simplista. Hoje em dia, o desenvolvimento sustentável tem três dimensões fundamentais, chamadas de base tripla: (SOBRAL, 2005) E continua: 27 O desenvolvimento deve ser sustentável do ponto de vista ambiental, economicamente viável - não é realista esperar que as empresas invistam em melhoria ambiental se não tiverem lucro - e promovido com responsabilidade social. Você não pode separar a responsabilidade social da ambiental. Numa discussão sobre o tema nos Estados Unidos, sugeriram tributar mais quem polui mais. Aí, verificou-se que os carros que poluem mais pertencem às pessoas mais pobres. Se o governo tributar a fonte da poluição, vai tributar os pobres. Se tributar mais a energia, as pessoas mais afetadas também serão as pobres. Então, aceitou-se que as três dimensões têm de ser consideradas ao mesmo tempo. O impacto econômico, o impacto social e o impacto ambiental estão ligados. (SOBRAL, 2005) Mesmo com definições semelhantes, Rueda, (2005) afirma outra origem em relação a definição de Desenvolvimento Sustentável: A definição mais conhecida é a de Bruntland (1987) no Relatório da ONU “Nosso Futuro Comum”: “Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. Ele contém dois conceitos-chave: O conceito de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade; A noção de “limitações” que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.” Os conceitos de Desenvolvimento Sustentável diferem não apenas em definições particulares quanto à sua gênese. Encontram-se estudiosos que afirmam que o desenvolvimento sustentável é inicialmente de origem ambiental, onde as preocupações devem inicialmente ser voltadas para o campo ambiental. Outros, conforme discorreu Rueda (2005) no trabalho acima e já citado, que sua origem e definição são essencialmente sociais: O conceito de Desenvolvimento Sustentável teve sua gênese na percepção das perturbações que o ser humano tinha criado na sua relação com a natureza. Foi constatado que tinha sido rompido o equilíbrio entre os aspectos econômicos, sociais e ambientais das atividades produtivas, e tinha sido perdida a visão de que os recursos naturais são capital econômico para o desenvolvimento justo da sociedade. Em essência o Desenvolvimento Sustentável de fato tem intrínsecos os fatores peculiares da Responsabilidade Social. A discussão destes fatores mostra que a definição do desenvolvimento sustentável, mas remota que a Responsabilidade Social, ainda é objeto de dúvida sobre a origem, abrangências e aplicações. 28 A definição mais próxima e convergente do Desenvolvimento Sustentável é a apresentada por Bruntland (1987): desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. A ligação – ou evolução – do desenvolvimento sustentável com a responsabilidade social ganhou intensidade nos anos 90 do século passado, advindo do espaço aberto pela redução do papel do Estado na condução dos assuntos sociais e da globalização pujante no planeta no período citado. Sobre isto, Melo Neto (2001) afirma: “Sem o Estado, que perdeu tamanho e força, e sem sociedade, subjugada pelos interesses das empresas transnacionais e pela ótica do mercado, os problemas sociais tendem a atingir limites intoleráveis.” A avaliação da Responsabilidade Social liga-se, assim, intimamente com o conceito e a evolução do Desenvolvimento Sustentável. 3.1.2 Conceitos de Responsabilidade Social Corporativa Nossas pesquisas continuam encontrando divergências das fontes sobre a origem da Responsabilidade Social. Isto porque a Responsabilidade Social advém de processos de amadurecimento de valores e de conceitos, como vimos acima no caso do Desenvolvimento Sustentável. Entretanto, outros valores fazem parte do conceito da RSC. Ética é um dos conceitos que fazem parte da Responsabilidade Social. Sua origem, segundo Alledi Filho (2002) advém de Aristóteles, na Grécia Antiga, há cerca de 2350 anos atrás – 350 AC. Se a origem da Responsabilidade Social, através de seu principal pilar – ética- é tão remota, os conceitos hoje não se baseiam apenas na ética descrita por Aristóteles. Um conceito que pode ser flexível e variável dependendo de quem o aplica. A respeito disto cita que Sherwin (apud BRENAND, 2004) afirma que a ética geralmente refere-se ao conjunto de princípios morais e valores que guiam o comportamento. Avaliar o que constitui um comportamento ético e antiético depende dos princípios morais usados no julgamento. 29 Segundo Cavanaugh et al. (apud MELO NETO, 2004), três abordagens definem conduta ética: aquela em que as ações devem beneficiar um grande numero de pessoas – dita abordagem baseada no caráter utilitário; aquela em que o julgamento da conduta da empresa leva em consideração os direitos individuais – dita abordagem baseada nos direitos; e aquela a que se refere a atribuição justa de benefícios e responsabilidades – ou abordagem baseada na justiça. Ferrel (2001) cita que a responsabilidade social pode ser considerada um contato com a sociedade, ao passo que a ética empresarial envolve conduta da empresa, cuidadosamente pensadas que orientam a tomada de decisões da organização. A ética empresarial – complementa Ferrel – diz respeito a regras e princípios que pautam decisões de indivíduos e grupos de trabalho; a responsabilidade social refere-se ao efeito de decisões das empresas sobre a sociedade. Alledi Filho (2002) descreve em sua dissertação de mestrado, acerca da Comissão das Comunidades Européias: A Comissão lançou um amplo debate sobre a responsabiliade social das empresas em nível europeu e mundial através de seu “Livro Verde – Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas” lançado em julho de 2001. Segundo o documento, ao promoverem estratégias de responsabilidade social as empresas estão investindo no seu futuro e esperando que este compromisso contribua para um aumento da sua rentabilidade. A responsabilidade social é essencialmente e um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo, e manifesta-se em relação aos seus trabalhadores e todas as considerada suas partes interessadas. Embora a sua obrigação primeira seja a obtenção de lucros, as empresas podem, ao mesmo tempo, contribuir para o cumprimento de objetivos sociais e ambientais mediante a integração da responsabilidade social, enquanto investimento estratégico, no núcleo da sua estratégia empresarial, nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações. Semelhante ao conceito de gestão da qualidade, deve ser como um investimento, e não como um encargo. Alledi Filho (2002) define a Responsabilidade Social - ou Responsabilidade Corporativa- como um movimento que tem a finalidade de promover o bem-estar dos diversos públicos de uma organização. Contemporâneo ao nosso tempo e sem perder a ética do alicerce, os conceitos atuais de Responsabilidade Social diferem em discursos, embora a essência seja semelhante. Em um deles o WBCSD (2000) afirma que a responsabilidade social corporativa – leia-se desenvolvimento sustentável - é o comprometimento 30 permanente das empresas em ter um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo em que promove a melhoria da qualidade de vida, da força de trabalho e de suas famílias. Para Ferrel (2000) a Responsabilidade Social Corporativa é a obrigação que a empresa assume com a sociedade, através da maximização dos efeitos positivos sobre os stakeholders e minimização dos seus efeitos negativos sobre a sociedade. Para Melo Neto (2001) uma empresa socialmente responsável é aquela que investe no bem-estar de seus funcionários e dependentes e num ambiente de trabalho saudável, além de preservar o meio ambiente e investir em ações sociais. Há vertentes mais discretas, que fundamentam que a Responsabilidade Social Corporativa é unicamente filantropia. Em concordância a esta afirmação discerne Paoli (2002) que a responsabilidade social é o preenchimento de um espaço filantrópico organizado por empresários nacionais e de empresas multinacionais no Brasil. Discordamos do afirmado por Paoli. A mera concepção de que a Responsabilidade Social Corporativa é pautada unicamente em vertentes filantrópicas é um erro. Se um dos pilares é ser ético para ser Socialmente Responsável, o que faz a filantropia e não age com correção, segundo afirmação, é tão socialmente responsável quanto o que faz e é ético. Outros conceitos também são apresentados e mais difundidos pelo estado da arte mostram o já afirmado acima. Um exemplo é o descrito por Melo Neto (2004) que afirma que uma empresa socialmente responsável é aquela que respeita seus compromissos com os empregados, acionistas e parceiros e que exercem uma gestão ética, transparente e responsável de seus negócios. Uma empresa socialmente responsável também é aquela que cumpre com suas obrigações para com o governo e que atua como agente de desenvolvimento sustentável, de fomento da cidadania e promotora da qualidade de vida e do desenvolvimento individual e coletivo das diversas comunidades com as quais manterá vínculos e com a sociedade como um todo. Entendemos que esta definição de Empresa Socialmente Sustentável ou de Responsabilidade Social Corporativa é o mais adequado até o momento. Este conceito é amplo, baseado essencialmente em posturas humanas e seu verdadeiro tom não pode ser dado a ninguém, a menos que seja por consenso. 31 3.1.3 Conceito adotado no estudo de caso A separação dos conceitos de Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável parece-nos muito difícil. As definições têm grandes similaridades e a atuação, em atuação, em alguns campos, torna-se convergente. Ainda assim, percebemos que os valores da formação familiar, da ética, da ajuda ao próximo, do respeito às leis e ao indivíduo, das condições de trabalho, do respeito ao meio ambiente, da honestidade devem servir de alicerce nas relações comerciais desde então. O diferencial das empresas não será apenas medido pela sua capacidade de dar retorno – e este sempre será o objeto fim das empresas, evidentemente-, mas como obtém isto. Grosso modo a afirmação é de que o jogo está mais difícil, que os juizes tem mais olhos e menos tolerância, e que daqui pra frente, o jogo terá que ser fair play – jogo limpo. O Desenvolvimento Sustentável, pregando em essência que se deve pensar nas gerações futuras já no presente traz parte destes valores, mesmo tendo foco mais voltado ao meio ambiente. Sem os valores humanos os valores ambientais não encontram lastro. Por outro lado, mesmo que haja valores humanos e se desperdiça os valores do desenvolvimento, certamente encontraremos fracasso no resultado da Responsabilidade Social. Com isto, entendemos que o estudo da Responsabilidade Social deve seguir, nesta dissertação, paralelos em alguns momentos com o Desenvolvimento Sustentável, sem prejuízo do tema principal. 3.2 SISTEMATIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA Esta proposta de relacionar a Responsabilidade Social Corporativa partiu de Cortegiano (2003) em sua dissertação de mestrado sobre a RSC. Cortegiano (2003) toma como referência diversos autores e suas interpretações de Responsabilidade Social, as quais destacamos: Carrol (1979), Duarte e Dias (1986), Richard Locke e Cheibub (2002), Melo Neto e Froes (2001). 32 3.2.1 Carroll (1979) Descreve Cortegiano (2003) que de acordo com Archie Carroll, a responsabilidade social da empresa pode ser dividida em quatro tipos: econômica, legal, ética e discricionária (ou filantrópica). Carroll (1979) criou um modelo piramidal onde as responsabilidades são orientadas da base para o topo em função de sua magnitude relativa e da freqüência dentro da qual os gerentes lidam com cada aspecto. Os conceitos referentes são os seguintes: • Responsabilidade Econômica: na base piramidal, por se tratar do princípio fundamental da empresa – o lucro. Tal responsabilidade denota que, produzindo bens e serviços que a sociedade necessita e deseja, a preços competitivos, a empresa atende às necessidades da sociedade, satisfaz aos anseios dos investidores com a maximização dos lucros para os mesmos. • Responsabilidade Legal: Define que as empresas atendam às leis em sua busca pelo atingimento de suas metas econômicas, impostas desde os conselhos locais das cidades a até às regulamentações do governo federal. Ou seja, que as empresas sejam responsáveis pela observância das leis municipais, estaduais e federais, por parte dos seus funcionários; • Responsabilidade Ética: Inclui comportamentos ou atividades que a sociedade espera das empresas, mas que não são necessariamente codificados na lei e podem não servir aos interesses econômicos diretos da empresa; • Responsabilidade Discricionária (filantrópica): de caráter voluntário, expressa e orienta o desejo de realização, por parte da empresa, de fazer contribuições sociais sem ligação com contexto éticos, econômicos ou legais; 33 Responsabilidade Discricionária Responsabilidade Ética Responsabilidade Legal Responsabilidade Econômica Figura 3 - Os quatro tipos de Responsabilidade Social Total Responsabilidade Social da Organização, com adaptações. Fonte: Carrol (apud CORTEGIANO, 2003) 3.2.2 Duarte e Dias (1986) Para Duarte e Dias (1986) a responsabilidade social é a prestação de contas por parte da administração das empresas aos seus acionistas, e atualmente esta dimensão se expande aos stakeholders. Os autores citados descrevem que a realidade ganha complexidade, dado que a empresa está inserida na sociedade e que os indivíduos são, ao mesmo tempo, pessoas, sócios e cidadãos. Assim, podem ser distinguidas quatro dimensões essenciais nesta realidade: • Dimensão pessoal: as empresas são compostas por pessoas e devem ser vistas como tais; 34 • Dimensão social: o homem só existe em sociedade sendo impossível uma total separação entre a realidade pessoal e a realidade social; • Dimensão política: a impossibilidade de isolamento entre interesse público e o particular exige a permanente participação de um poder na difícil tarefa de conciliar um e outro; • Dimensão econômica: A função específica que legitima sua existência e atuação no seio da sociedade é de natureza econômica; Continuam os autores resumindo os fundamentos da chamada doutrina de responsabilidade social, dividas em três tópicos básicos: a) A natureza das responsabilidades da empresa é definida no âmbito das prescrições legais e também das obrigações morais ditadas pela ética; b) O alcance da responsabilidade social da empresa não se limita ao círculo de acionista; c) As empresas devem adequar suas responsabilidades às demandas sociais, num dado contexto sócio-econômico; Cortegiano (2003) descreve que num mundo contemporâneo, estas premissas têm sido colocadas em prática de diversas formas e expressas em modelos de comportamento definidos pela literatura como “modelos de Walton”, tal como se segue: a) Modelo austero: a empresa é percebida como propriedade dos acionistas, dos quais ganha existência a partir da constituição de uma entidade, à qual entregam recursos particulares com o intuito de obter lucros. É com esta finalidade e não para tratar do interesse público, são contratados operários e administradores, segundo os padrões legais e a praxe do mercado (cortegiano 2003); b) Modelo familiar: a empresa é concebida como uma família ampliada e, numa visão paternalista das relações de trabalho, concede vantagens aos seus empregados; c) Modelo vendedor: a empresa é concebida como tendo a função específica de obter os melhores e serviços demandados por seus clientes, ao menor custo, e com a melhor qualidade possível e, nesse 35 sentido, busca atender às necessidades dos mesmos (Cortegiano 2003); d) Modelo investidor: a empresa considera necessário incluir em suas preocupações aspectos não diretamente relacionados com seu objetivo econômico, mas que, a médio e longo prazo, podem interferir no seu desempenho. Em outras palavras, atender às demandas do meio ambiente, visando garantir a rentabilidade e a sobrevivência da empresa (CORTEGIANO 2003); e) Modelo cívico: percebe a empresa como pessoa jurídica, com atributos de cidadania e, como tal, tendo direitos específicos e obrigações correspondentes. f) Modelo artístico: percebe a empresa como uma entidade com elementos criativos, dinâmicos e preparados para transformar a realidade social, aperfeiçoando o relacionamento entre pessoas, incrementando o bemestar e os aspectos morais e estéticos da vida humana; g) Modelo da metrocorporação: modelo proposto por Eells (1974) onde a empresa é vista como uma organização plurifuncional, com vasto leque de participantes e de interesses a serem equilibrados; Modelo de Dias e Duarte, citado por Cortegiano. Obrigações Sociais Responsabilidades Sociais Assumidas Impostas Atuação Atuação Legal Legal Responsabilidades Sociais impostas Responsabilidade Atuação Socialmente Responsável Social Integral Restrita Modelo Modelo Mo Model Modelo Selvagem Clássico delo o Fa Vende mili dor Model Mode Modelo Investidor o lo Modelo Modelo Metrocorpora Estatal Social Cívico Artísti ção co ar Figura 4 - Modelo de Duarte e Dias para a Responsabilidade Social Corporativa Fonte: Dias e Duarte, 1986, Baseado em Eells e Walton (apud CORTEGIANO, 2003). 36 Cortegiano (2003) afirma que os autores não consideram o modelo austero como sendo de responsabilidade social. O comportamento empresarial é aí definido pelo instituto jurídico de direito de propriedade e no relacionamento com terceiros, pelo instituto do direito contratual e leis tributárias, tal qual descreve o capitalismo clássico. Observa-se que existem empresas que trabalham aquém da chamada linha de atuação legal, o que Cortegiano chama de Capitalismo Selvagem. A avaliação e metodologia afirmada por Dias e Duarte (1986) não se limitam ao modelo mostrado no quadro acima. Os autores propõem outros dois modelos, chamados de modelo Estatal e modelo Social. No primeiro, baseado-se das ações de empresas essencialmente públicas, cujas ações são direcionadas para as atividades para as quais foram criadas e, em complemento, assumindo as ações de cunho social em área onde o Estado tenha sido deficitário. O modelo social, segundo Cortegiano (2003) baseada em Dias e Duarte (1986), seria uma entidade com características de empresa e de agência social, criada pela sociedade, controlada por ela e voltada para a conciliação do interesse individual e coletivo. 3.2.3 Richard Locke e Cheibub (2002) Os autores afirmam que há quatro modelos básicos das diferentes formas com que as empresas podem se inserir de forma responsável em seu meio social. Surgem aqui os termos stockholders (stock = ações), que definem os acionistas e proprietários, e outro, já conhecido, chamado stakeholders, em que as partes interessadas do negócio não se limitam ao quadro de acionistas. Lock e Cheibub (2003) também descrevem que há uma segunda dimensão das ações sociais realizadas pelas empresas, cujo teor está nos objetivos daquelas, de ações de intensidade maior que os interesses imediatos das empresas, ou aquelas em que as empresas primam inicialmente pelos seus objetivos. Descrevem os autores que estas ações são denominadas: A) Idealismo ético e filantropia: Os interesses imediatistas das empresas e sua fundamentação mercadológica com foco no lucro não são perseguidos quando estas empresas adotam tais posturas. 37 B) Progressista: Baseada no interesse da própria empresa. Porém, são definidos potenciais beneficiários da ação empresarial. Neste caso, entende-se que a responsabilidade social torna-se instrumentos de gerenciamento, dos quais as empresas devem beneficiar-se da valorização da sua imagem e inevitável vantagem competitiva. C) Produtivismo: caracterizada pela ausência de responsabilidade social, com maximização dos seus objetivos produtivos, cujo alicerce é a lei, e não necessariamente o bem-estar social. 3.2.4 Melo Neto e Froes (2001) Já citados em parágrafos anteriores, Melo Neto e Froes (2001 apud CORTEGIANO, 2003) descreve que consideram que a existência de responsabilidade social corporativa tem duas dimensões: a que está focada na comunidade e a que está focada no público interno. Embora os conceitos de stakeholders não façam a separação explícita das dimensões, Melo Neto e Froes destacam a responsabilidade Social como interna (público interno) e externa (foco na comunidade). No primeiro caso, destacam-se as ações que tornam o ambiente de trabalho um local harmonioso e agradável, através de práticas que abrangem os empregados e seus dependentes, e, em alguns casos, estendendo-se às empresas contratadas alguns ou todos os benefícios por que são atendidos os empregados das empresas contratantes. O segundo caso trata das relações externas da empresa com o meio comunitário em que está inserida, através do desenvolvimento de ações e atitudes empresariais que abrangem as comunidades vizinhas. Descrevem os autores que esta ações podem ser de caráter filantrópico, através de doações de produtos, equipamentos, serviços ou mesmo recursos (estes passados geralmente através de ONG´s ), ou de atividades de preservação do meio ambiente, geração de empregos ou investimentos em projetos sociais criados pela própria empresa. 38 R.S. Interna Foco das Ações R.S. Externa Público Interno (empregados e Público dependentes) Áreas de Atuação Externo (comunidade de entorno) Benefícios diretos (salários) e Programas de educação, indiretos (planos de saúde, programas bolsas de educação,) Instrumentos Carteira de ambientais, assistência social, etc; benefícios Doações, oferecidos pela empresa. programas sociais, voluntariado empresarial, projetos sociais. Tipos de Retorno Retorno de produtividade, com Retorno social, com conseqüente geração de valor valorização da imagem à empresa. da empresa e conseqüente geração de valor à empresa. Quadro 1 - Diferenças entre as Responsabilidades Social Interna e Externa Fonte: Adaptado de Melo Neto e Froes (apud CORTEGIANO, 2003). Os modelos de sistematização da responsabilidade Social Corporativa não se limitam aos descritos aqui. Cortegiano (2003) versa sobre o Observatório Nacional (2002) um viés sindical, que em nosso entendimento não possui relevância com nosso objeto de estudo, embora as linhas de ação e pensamento devam ser percebidas pelas empresas. A autora versa também sobre o Word Business Council for Sustainable Development - WBCSD (WORD..., 2000), onde descrevemos no capítulo anterior: Segundo o World Business Council of Sustainable Development - WBCSD (2000), instituição com 120 empresas transnacionais unidas com a preocupação comum com o meio ambiente e com os princípios do crescimento econômico e desenvolvimento sustentável, a Responsabilidade Social Corporativa é “o comprometimento permanente das empresas em ter um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo em que promove a melhoria da qualidade de vida, da força de trabalho e de suas famílias”. Assim, com este conceito, estabeleceu-se o seguinte fluxograma: 39 Responsbilidade Corporativa (Desenvolvimento Sustentável) Responsabilidade Finaceira Corporativa Responsabilidade Ambiental Corporativa Responsabilidade Social Corporativa Figura 5 – Responsabilidade corporativa Fonte: Relatório do WBCSD, 2000 Observamos neste item algumas das maneiras de sistematização do estudo e compreensão da responsabilidade social corporativa. As observações sobre qual delas mais se aproxima do nosso estudo de caso serão feitas após o item seguinte: instrumentos contemporâneos de medição da responsabilidade social corporativa. 3.3 FERRAMENTAS CONTEMPORÂNEAS DE AVALIAÇÃO DA RSC Nos tópicos anteriores vimos que os conceitos de Responsabilidade Social diferem, algumas vezes em foco de atuação. Esta diferença deve-se, entre outras variáveis, a idiossincrasias culturais a que o tema é notadamente convergido. O assunto RSC varia, como vimos, em escopo desde a sua gênese à sua aplicação. Diante de definições diversas e focos com propriedades distintas, como avaliar a Responsabilidade Social e seus efeitos? Quais os instrumentos que temos em mãos para a justa avaliação das ações e dos resultados das corporações? Hoje existem diversos instrumentos de padronização da Responsabilidade Social. Neste estudo descreveremos os seguintes: • SA 8000: Social Accountability; • AA 1000:AccountAbility 1000; • GRI: Global Report Initiative; • Instituto Ethos: Indicadores Ethos da Responsabilidade Social; 40 Descreveremos o teor de cada uma das ferramentas utilizadas na gestão da Responsabilidade Social Corporativa, com comentários sobre cada um ao final. 3.3.1 SA8000 Segundo Alledi Filho (2003) a norma é baseada no sistema ISO 9000, nas convenções da OIT - Organização Internacional do Trabalho e nos princípios das convenções internacionais dos direitos humanos, cuja missão é: • Promover a melhoria das condições de trabalho no mundo; • Prover uma norma universal para todos os ramos de negócios e setores de um país; • Operar em conjunto com as organizações de direitos humanos e trabalhistas em âmbito internacional; • Oferecer incentivos que beneficiem empresas e consumidores através de uma abordagem benéfica para todos; • Incentivar a colaboração entre os empregados, empregadores e organizações da sociedade civil; Business Meet Social Development (1999), descreve os principais temas da Norma SA8000. Norma internacional, a SA8000 – Social Accountability – foi lançada em outubro de 1997 pela CEPPA – Council on Economics Priorities Accreditation Agency, atualmente chamada de SAI – Social Accountability 8000, é o primeiro padrão internacional de certificação de um dos aspectos da responsabilidade social das empresas. Seu foco está na garantia dos direitos dos trabalhadores envolvidos em processos produtivos. A norma é composta de nove requisitos baseados na nas convenções da OIT – Organização Internacional do Trabalho -, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança. Com pré-requisitos para a certificação, as empresas devem atentar para: 41 a) Trabalho Infantil: Proibido de qualquer maneira. Entendido como aquele exercido por menor de 15 anos (ou menos, caso a legislação local arbitre menor idade). Entretanto, cobra das empresas que tenham em seus quadros crianças menores que em vez de promover a demissão das mesmas, que pelo menos as indiquem para trabalhos menos danosos e promova sua educação, já que sua demissão as sujeitará a trabalhos mais danosos, em função do ciclo de pobreza a que estão inseridas. b) Trabalho Forçado: Também Proibido. Caracterizado por trabalho em que o trabalhador não recebe remuneração em troca de seu esforço. Proibidas ações como retenção de documentos nem depósitos para a empresa por arte dos empregados. c) Saúde e Segurança: Deve constar da política da empresa e ser assegurados, através da manutenção de um ambiente de trabalho saudável, foco na prevenção de acidentes, manutenção de máquinas, utilização de equipamentos; d) Liberdade de Associação e Negociação Coletiva: Devem ser garantidas. Estímulo a comunicação direta. e) Discriminação: Proibida. Principalmente em caso de promoção, contratação, remuneração, acesso a treinamento e outros, baseados em quaisquer critérios como raça, classe social, etnia, sexo, orientação sexual, religião, deficiência, associação a sindicato ou afiliação política. f) Práticas Disciplinares: Não são permitidas. Punições físicas ou mentais, coerção física e abuso verbal, pagamentos de multas por não cumprimento de metas são exemplos de práticas que não são toleráveis e permitidas pela norma; g) Horário de trabalho: Máximo de 48 horas semanais, além de 12 horas extras semanais. Um dia de descanso a cada sete dias. Havendo restrições – como no caso do Brasil, em que a jornada é de 44 horas semanais – deve-se seguir a mais restritiva. h) Remuneração: deve ser suficiente para cobrir custos de moradia, vestuário, alimentação, além de uma renda extra. Devem assegurar também a inexistência de falsas aprendizagens e aprendizes para driblar as obrigações legais. 42 i) Sistemas de Gestão: obrigatoriedade da existência de um sistema de gestão que garanta a efetividade do cumprimento dos requisitos da norma, através de processos já difundidos em outros sistemas de gestão, como ISO 9000 e 14000. Leipziger (2003) afirma acerca da SA 8000: Trabalhar com partes interessadas (stakeholders) é parte fundamental da implantação da AS 8000. Existem muitos tipos de partes interessadas: sindicatos, organizações não-governamentais (ONG´s), parceiros de negócios, concorrentes, mídia, bem como o governo e organismos internacionais. As partes interessadas, quando recebidas como participantes valiosos e demonstrarem um sério compromisso em oferecer boas condições para os trabalhadores, podem tornar-se aliadas que ajudam a empresa a detectar e solucionar problemas. Quando são ignoradas ou tratadas como estorvo, elas podem gerar problemas com a mídia e com a clientela. Solucionar assessoria das partes interessadas é um importante aspecto da SA 8000”. A SA8000 é a primogênita, como vimos, na padronização do sistema de gestão da responsabilidade social. Seu foco fundamentado nas relações trabalhistas e/ou que as envolvem (como trabalho forçado, trabalho infantil, etc.) a tornam um elemento altamente focado nestas relações, não se levando em conta as relações ambientais, comerciais e com a sociedade extra-empresa. Sobre a ação das ONG´s e sua assessoria na implantação da SA 8000 nas empresas, Leipziger (2003) faz as menções abaixo: Devido ao tempo consumido com consultorias de PI´s (partes interessadas), é importante escolher cuidadosamente com quais delas se deve trabalhar. Como um empresa deve selecionar os PI´s para trabalhar? Obviamente o sindicato representante deve participar das consultorias com as PI´s. [...] As empresas devem ser cautelosas ao examinar as fontes de recursos para as ONG´s. Seriam elas custeadas por empresas? Por partidos políticos? Esse patrocínio pode comprometer sua independência e neutralidade. Qual o grau de transparência desses grupos? Será que publicam informação acerca de suas fontes de recurso? Ou de despesas? Auditorias? Quem é o responsável pelo grupo? A preocupação com a implantação da SA 8000 nas empresas, segundo Leipziger (2003) deve ser tal, que sugere a autora, citando a ONG OXFAM, que sejam seguidos os critérios por quais as empresas devem balizar suas ações. Algumas delas: 43 • A empresa deve ter, ou estar desenvolvendo, um código de práticas ou declaração de ética empresarial correspondente à sua visão de responsabilidade social; • A implementação e o monitoramento dessas declarações devem ser incluídos nas obrigações dos membros da equipe e relatados à Diretoria; • A responsabilidade pela implementação prática dessas declarações deve estar incluída nos deveres da média gerência para assegurar sua incorporação à totalidade dos negócios; • A empresa deverá comprometer-se a ter transparência e abertura, incluindo o monitoramento independente externo, ou desempenho na área da responsabilidade social; • A alta gerência da empresa deve estar preparada para assumir uma função pública de liderança acerca da questão da responsabilidade social corporativa; Uma empresa quer opera com a SA 8000, continua Leipziger (2003), deveria necessariamente preencher todos os critérios da Oxfam, com exceção do quinto, que exige que a empresa assuma um papel de liderança pública acerca desta questão, já que isto não é exigência explícita da SA 8000, embora esta seja a rota seguida pela maioria da empresas certificantes da SA 8000. 3.3.2 AA1000 Sobre o AA 1000 descreve o Business Meet Social Development, (1999): Lançada em novembro de 1999 ainda em versão não definitiva, a AA1000 tem como desafio de ser o primeiro padrão internacional de gestão da responsabilidade social corporativa, com foco na contabilidade, auditoria e relato social ético. A versão preliminar foi baseada em projetos pilotos de várias empresas que realizavam seu planejamento estratégico e gerenciamento, visando uma nova política de responsabilidade ética e social. A AA 1000 foi elaborado pelo ISEA – Institute of Social and Ethical Accounability – uma ONG britânica cuja assessoria, em sua primeira experiência 44 neste sentido, reuniu vários casos organizacionais que resultaram na AA 1000. Hoje, a organização possui um papel fundamental no aprimoramento e divulgação da norma, além de ser ela a responsável pelo monitoramento dos gestores e pela regulamentação da AA 1000. A AA1000 é uma norma de responsabilidade social (Accountability) baseada em padrões de processo, que unem a definição e integração dos valores da empresa com o desenvolvimento de metas de desempenho e a avaliação e comunicação do desempenho organizacional, vinculando as questões sociais e éticas às questões da gestão estratégica e operacional da corporação. Os benefícios da AA 1000, segundo o Business Meet Social Development, (1999) são: a) Prática real do conceito de responsabilidade social; b) Imagem positiva e um melhor relacionamento com todos os públicos; c) Capacidade de medir sucesso e benefícios por parâmetros mais abrangentes; d) Transformação de sua abordagem de compliance para a de sustentabilidade; e) Visão geral do que está acontecendo na organização e conseqüentemente possibilitar o gerenciamento pró-ativo de riscos potenciais; f) Melhores parâmetros para tomada de decisão; g) Melhoria contínua graças ao feedback do stakeholders, que identifica pontos de melhoria e estabelece metas com indicadores que possam medir performance e progresso; Os princípios a serem adotados pela empresa, no tocante a AA 1000 são: a. Escopo e Natureza do processo da organização: - Completude: inclusão parcial nos processos de contabilidade, ao longo do tempo, de todas as áreas apropriadas de atividades relacionadas com o desempenho social e ético da organização; - Materialidade: inclusão de informação significativa que pode afetar um ou mais grupos de parte interessadas (stakeholders) e sua avaliação do desempenho social e ético da organização; 45 - Regularidade e Conveniência: necessidade de ação sistemática e na hora certa do processo de contabilidade, auditoria e relato social e ético para apoiar a tomada de decisão da organização e de suas partes interessadas. a) Significância da Informação: - Garantia da qualidade: através de um processo de auditoria de uma organização por uma terceira parte (auditor) ou partes independentes e competentes; - Acessibilidade: comunicação apropriada e efetiva para as partes interessadas da organização a respeito do seu processo de contabilidade, auditoria e relato social e ético e seu desempenho; b) Qualidade da Informação: - Comparatibilidade: capacidade de comparar informação sobre o desempenho da organização com períodos anteriores, mestas de desempenho, e benchmarks externos tirados de outras organizações, regulamentação obrigatória e normas não-obrigatórias. - Confiabilidade: permite à organização e suas partes interessadas dependerem da informação providenciada pela contabilidade, auditoria e relato social e ético para estarem livres de erro ou parcialidade; - Relevância: utilidade da informação para a organização e suas partes interessadas – stakeholders – como um meio de construção de conhecimento e formação de opiniões, e como suporte à tomada de decisão; - Entendimento: Compreensão da informação pela organização e suas partes interessadas, incluindo questões de língua, estilo e formato; c) Gerenciamento do processo em base contínua: - Integração: faz com que os processos de contabilidade, auditoria e relato social e ético sejam parte das operações, sistemas e política da 46 organização, e não que sejam tratados como um exercício isolado para produzir um relato social e ético; - Melhoria Contínua: descreve as ações reconhecidamente utilizáveis para a melhoria do desempenho dos resultados do processo de contabilidade, auditoria e relato social e ético. Trata também por desenvolvimento contínuo do próprio processo de contabilidade, auditoria e relato dentro da organização. 3.3.3 GRI – Global Reporting Initiative GRI – Global Reporting Initiative - uma instituição global, reconhecida pelo Encontro Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, que está desenvolvendo uma estrutura mundialmente aceita para o relato de sustentabilidade. O objetivo das diretrizes do GRI, segundo o BSI (1999), é permitir às empresas e outras organizações a preparar relatórios “triple bottom line” comparáveis entre si, sobre seu desempenho econômico, ambiental e social. Fundada pela CERES (Coalizão para as Economias Ambientalmente Responsáveis) a GRI é um centro oficialmente colaborador da UNEP (Programa Ambiental das Nações Unidas). As diretrizes da GRI objetivam: • Apresentar os princípios dos relatos e especificar o conteúdo para guiar a preparação de relatórios de sustentabilidade; • Auxiliar organizações na apresentação razoável de seu desempenho econômico, ambiental e social; • Promover a comparabilidade de relatórios de sustentabilidade; • Apoiar o benchmarking e a avaliação do desempenho de sustentabilidade com respeito a códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias; • Servir de instrumento para facilitar o engajamento de stakeholders; A GRI não mostra instrumentos que possam servir de instrução para o 47 desenho da gestão interna de dados e sistemas de relatos de uma organização, tampouco que sirvam de metodologias para a preparação de relatórios, ou monitoramento e verificação dos mesmos. Em continuação da análise, o BSD (1999) afirma que o GRI não compreende um código ou conjunto de princípios de conduta, ou um padrão de desempenho ou um sistema de gestão; Os princípios da GRI são: a) Transparência: A completa publicação de processos, procedimentos e suposições na preparação do relatório é essencial para sua credibilidade; b) Inclusividade: A organização deve sistematicamente engajar suas partes interessadas para ajudar a focar e melhorar continuamente a qualidade de seus relatórios; c) Auditabilidade: Dados e informação relatados devem ser registrados, compilados, analisados e revelados de modo a permitir que auditores internos ou provedores de garantia externos possam atestar a sua veracidade; d) Completude: Todas as informações materiais aos usuários para avaliar o desempenho econômico, ambiental e social da organização devem aparecer no relatório de maneira consistente com os limites, escopo e período de tempo declarados; e) Relevância: É o grau de importância dado a um particular aspecto, indicador, ou pedaço de informação, e representa o ponto no qual a informação se torna significante o suficiente para ser relatada; f) Contexto de Sustentabilidade: A organização deve procurar colocar seu desempenho no contexto mais amplo do ecológico, social ou outros limites ou restrições, onde tal contexto adicione significado importante à informação relatada; g) Exatidão: O princípio da exatidão se refere a alcançar o grau de exatidão e minimização de erros na informação passada, necessária para que os usuários tomem decisões com um alto grau de segurança; h) Neutralidade: Busca constante de informações sem indução e que representem uma conta balanceada do desempenho da organização; 48 i) Comparabilidade: Consistência no limite do escopo de seus relatórios, publicando qualquer mudança, e reafirmando previamente a informação relatada; j) Clareza: Percepção das diversas necessidades e background de todos os grupos de partes interessadas e deve deixar a informação disponível ao máximo de usuários, enquanto se mantenha um adequado nível de detalhe; k) Conveniência: Adequação dos calendários capazes de preencher as necessidades dos usuários e comportar a natureza da própria informação; Ainda segundo o BSD (1999), no GRI – Global Report Initiative – de serem observados alguns pontos: • Os princípios da transparência e inclusividade representam o ponto inicial para o processo de relato. Todas as decisões sobre o relato levam estes dois princípios e práticas associadas em consideração; • Os princípios de contexto de sustentabilidade, completude, e relevância têm o papel chave na determinação do que relatar. A informação contida dentro do relatório deve passar no teste da completude em termos dos limites do relato, escopo e período de tempo. Por último, a informação relatada deve ser relevante às necessidades das partes interessadas; • A qualidade e a veracidade do conteúdo do relatório são guiadas pelos princípios da neutralidade, comparabilidade e relevância. Relatórios devem ser comparáveis através do tempo e entre organizações. A informação deve ser suficientemente relevante e crível para permitir seu uso para propósitos de tomada de decisão. Igualmente importante, o relatório deve apresentar seu conteúdo de forma balanceada e imparcial; • Os princípios da clareza e conveniência governam o acesso e disponibilidade dos relatórios. Isto é, as partes interessadas devem receber facilmente informação entendível em um período de tempo que as permite utiliza-la efetivamente; • Por último, o princípio da auditabilidade se relaciona com vários outros princípios como a comparabilidade, relevância, neutralidade, e completude. Especificamente, este princípio se refere à capacidade de demonstrar que os processos por trás da preparação do relatório e a 49 própria informação do relatório seguem padrões de qualidade, veracidade e outras expectativas similares. O GRI permite avaliação com a utilização dos seus indicadores de perfomance, que medem o impacto ou esforço da organização dividido nestes indicadores de desempenho econômico, social e ambiental. Tais indicadores, listados no quadro abaixo, podem ser qualitativos ou quantitativos: 50 Categoria Aspecto Integrado Sistêmicos Não Padronizados Econômico Impactos Econômicos Clientes Diretos Fornecedores Empregados Provedores de Capital Setor Público Ambiental Ambiental Materiais Energia Biodiversidade Água Emissões, efluentes e gastos Fornecedores Produtos e serviços Cumprimento Transporte Geral Social Práticas de Emprego Emprego e Trabalho Decente Relações de trabalho/gestão Saúde e segurança Treinamento e educação Diversidade e oportunidade Direitos Humanos Estratégia e gestão Não discriminação Liberdade de associação e negociação coletiva Trabalho infantil Trabalho forçado Práticas disciplinares Práticas de seguridade Direitos indígenas Sociedade Comunidade Suborno e corrupção Contribuições políticas Competição e precificação Responsabilidade Produto de Saúde e segurança do cliente Produtos e serviços Propaganda Respeito Quadro 2: indicadores de perfomance. Fonte: Business Meet Social Development, (1999): GRI diretrizes para padronização de sustentabilidade. 51 3.3.4 Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial O Instituto Ethos de responsabilidade Social é uma instituição sem fins lucrativos, criada em 1998, é o criador dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização não-governamental criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável. Possui 1060 associados – empresas de diferentes setores e portes – têm faturamento anual correspondente a cerca de 30% do PIB brasileiro e empregam cerca de um milhão de pessoas, tendo como característica principal o interesse em estabelecer padrões éticos de relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, poder público e com o meio ambiente. Fora idealizado por empresários e executivos, oriundos do setor privado, transformando-se em um pólo de organização de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas que auxiliam as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seus compromissos com a responsabilidade corporativa. O Instituto Ethos trabalha em cinco linhas de atuação: a) Ampliação do movimento de responsabilidade social empresarial; b) Aprofundamento de práticas em RSE; c) Influência sobre mercados e seus atores mais importantes no sentido de criar um ambiente favorável à prática da RSE; d) Articulação do movimento de RSE com políticas públicas: - desenvolvimento de políticas para promover a RSE e desenvolver marcos legais; - promoção da participação das empresas na pauta de políticas públicas do Instituto Ethos; - fomento à participação das empresas no controle da sociedade, por meio de acompanhamento e cobrança das responsabilidades transparência governamental e conduta ética; - divulgação da RSE em espaços públicos e eventos; legais, 52 - estruturação de processos de consulta a membros e parceiros da companhia e) Produção de informação ; Segundo o Instituto Ethos (2005), os Indicadores Ethos têm como premissa ser uma ferramenta de aprendizado e avaliação da gestão da empresa no que se refere à incorporação de práticas de responsabilidade social empresarial (RSE), ao planejamento de estratégias e ao monitoramento do desempenho geral da empresa. Trata-se de um instrumento de auto-avaliação e aprendizagem de uso essencialmente interno. A metodologia de avaliação das empresas que desejem utilizar os indicadores Ethos é enviar os dados com as melhores práticas de RSE ao Instituto Ethos que irá processá-los, pontuá-los e apresenta-los no Relatório de Diagnóstico, de cunho comparativo com a utilização de tabelas e gráficos, com o grupo de benchmarking e com as dez empresas do grupo de empresas que responderam ao questionário. Estes dados são tratados sob confidencialidade, e a divulgação das melhores práticas é relatada pelo Ethos, em seu site, apenas sob autorização das empresas que julgarem conveniente. Em 1999, Ethos criou os Indicadores Ethos Setoriais, que, segundo o próprio Instituto em seu site acessado em 21 de agosto de 2005, tem como objetivo fornecer às empresas a possibilidade de um autodiagnóstico mais preciso e aprofundado, desenvolvendo indicadores específicos, que abrangem dilemas e peculiaridades de cada setor empresarial. Com isto, o Ethos, neste ano de acesso, criou indicadores específicos para os seguintes setores: financeiro, mineração e papel e celulose. O questionário do Ethos (2005) tem a seguinte estrutura: • Valores e Transparência; • Público Interno; • Meio Ambiente; • Fornecedores; • Consumidores e Clientes; • Comunidades; • Governo e Sociedade; 53 No apêndice desta dissertação há a descrição dos itens do questionário setorial dos indicadores, transcrita do Site do Instituto Ethos em 21/0802005. Descrição dos Indicadores Propostos pelo Instituto Ethos: 3.3.4.1 Valores e Transparência Valores e princípios éticos formam a base da cultura de uma empresa, orientando sua conduta e fundamentando sua missão social. A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a ação das empresas deve, necessariamente, buscar trazer benefícios para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, promover benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. A adoção de uma postura clara e transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos éticos da empresa fortalece a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se positivamente no conjunto de suas relações. a) Auto-regulação da conduta: Compromissos Éticos O código de ética ou de compromisso social é um instrumento de realização da visão e da missão da empresa, orienta suas ações e explicita sua postura social a todos com quem mantêm relações. O código de ética e/ou de compromisso social e o comprometimento da alta gestão com sua disseminação e cumprimento são bases de sustentação da empresa socialmente responsável. A formalização dos compromissos éticos da empresa é importante para que ela possa se comunicar de forma consistente com todos os parceiros. Dado o dinamismo do contexto social é necessário criar mecanismos de atualização do código de ética e promover a participação de todos os envolvidos. Enraizamento na Cultura Organizacional As crenças e valores da empresa estarão progressivamente enraizados na cultura da organização na medida em que passem por uma difusão sistemática. 54 Além de desenvolver instrumentos de comunicação, é importante estimular a participação e a contribuição dos interessados nos processos de avaliação e monitoramento, principalmente quando eles possibilitam a incorporação das sugestões aos processos de trabalho. Governança Corporativa Governança corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre Acionistas/Cotistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal É um fator fundamental para a empresa socialmente responsável, seja ela sociedade de capital aberto ou fechado, pois é um dos pilares que garante o nível de confiança entre todas as partes interessadas. Implica na incorporação efetiva de critérios de ordem social e ambiental na definição do negócio e ter como norma ouvir, avaliar e considerar as preocupações, críticas e sugestões das partes interessadas em assuntos que as envolvam. b) Relações Transparente com a Sociedade: Diálogo com Partes Interessadas (Stakeholders) O envolvimento dos parceiros na definição das estratégias de negócios da empresa gera compromisso mútuo com as metas estabelecidas. Ele será tanto mais eficaz quanto sejam assegurados canais de comunicação que viabilizem o diálogo estruturado. Relações com a Concorrência A responsabilidade social implica na busca pela empresa de uma posição de liderança, em seu segmento de negócios, nas discussões que visem contribuir para a consolidação de elevados padrões de concorrência para o setor específico e para o mercado como um todo. 55 Balanço Social O registro das ações voltadas para a responsabilidade social permite avaliar seus resultados e direcionar os recursos para o futuro. O balanço social da empresa deve explicitar a forma de gestão de negócios e os resultados atingidos, investimentos realizados e os desafios para o futuro. O monitoramento de seus resultados por meio de indicadores pode ser complementado por auditorias feitas por entidades da sociedade (ONGs e outras instituições), agregando uma perspectiva externa à avaliação da própria empresa 3.3.4.2 Público Interno A empresa socialmente responsável não se limita a respeitar os direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista e nos padrões da OIT (Organização Internacional do Trabalho), ainda que esse seja um pressuposto indispensável. A empresa deve ir além e investir no desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem como na melhoria das condições de trabalho e no estreitamento de suas relações com os empregados. Também deve estar atenta para o respeito às culturas locais, revelado por um relacionamento ético e responsável com as minorias e instituições que representam seus interesses. a) Diálogo e Participação: Relações com Sindicatos A empresa socialmente responsável favorece a organização de seus empregados e busca o alinhamento de seus interesses aos dos trabalhadores. Além de estabelecer negociações com as entidades sindicais visando solucionar demandas coletivas, a empresa deve buscar consolidar a prática de interlocução transparente com essas entidades, em torno de objetivos compartilhados. 56 Gestão Participativa Os programas de gestão participativa incentivam o envolvimento dos empregados na solução dos problemas da empresa. A empresa deve possibilitar que os empregados compartilhem seus desafios, o que também favorece o desenvolvimento pessoal e profissional e a conquista de metas estabelecidas em conjunto. Compromisso com o Futuro das Crianças Para ser reconhecida como socialmente responsável, a empresa não deve utilizar-se, direta ou indiretamente, de trabalho infantil (de menores de 14 anos), conforme determina a legislação brasileira. Por outro lado, é positiva a iniciativa de empregar menores entre 14 e 16 anos, como aprendizes. A lei de aprendizes impõe procedimentos rígidos em relação a estes adolescentes, o que inclui a exigência de sua permanência na escola. Crianças e adolescentes têm direito à educação para poderem exercitar sua cidadania e para capacitar-se profissionalmente. b) Respeito ao Indivíduo: Valorização da Diversidade A empresa não deve permitir qualquer tipo de discriminação em termos de recrutamento, acesso a treinamento, remuneração, avaliação ou promoção de seus empregados. Devem ser oferecidas oportunidades iguais às pessoas, independente do sexo, raça, idade, origem, orientação sexual, religião, deficiência física, condições de saúde, etc. Atenção especial deve ser dada a membros de grupos que geralmente sofrem discriminação na sociedade. Relações com Trabalhadores Terceirizados Uma iniciativa importante para a empresa é buscar disseminar seus valores pela cadeia de fornecedores, empresas parceiras e terceirizadas. Desta forma, deve exigir para os trabalhadores terceirizados condições semelhantes às de seus próprios empregados. Cabe à empresa evitar que ocorram terceirizações em que a 57 redução de custos seja conseguida pela degradação das condições de trabalho e das relações com os trabalhadores. c) Trabalho Decente: Política de Remuneração, Benefícios e Carreira A empresa socialmente responsável deve considerar seus funcionários como sócios, desenvolvendo uma política de remuneração, benefícios e carreira que valorize as competências potenciais de seus funcionários e invista em seu desenvolvimento profissional. Além disso, deve monitorar a amplitude de seus níveis salariais com o objetivo de evitar reforçar mecanismos de má distribuição de renda e geração de desigualdades sociais, efetuando ajustes quando necessário. Cuidado com Saúde, Segurança e Condições de Trabalho A conscientização é a base fundamental para o desdobramento das intenções da empresa em ações que alinhem seus interesses aos dos trabalhadores. A busca por padrões internacionais de relações de trabalho é desejável, sendo as certificações a respeito do tema (ex.: BS 8800 e SA 8000), ferramentas adequadas para tanto. Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade Cabe à empresa comprometer-se com o investimento na capacitação e desenvolvimento profissional de seus empregados, oferecendo apoio a projetos de geração de empregos e fortalecimento da empregabilidade para a comunidade com que se relaciona. Comportamento Frente a Demissões As demissões de pessoal não devem ser utilizadas como primeiro recurso de redução de custos. Quando forem inevitáveis, a empresa deve realizá-las com responsabilidade, estabelecendo critérios para executá-las (empregados temporários, facilidade de recolocação, idade do empregado, empregado casado ou 58 com filhos etc.) e assegurando os benefícios que estiverem a seu alcance. Além disso, a empresa pode utilizar sua influência e acesso a informações para auxiliar a recolocação dos empregados demitidos. Preparação para Aposentadoria A empresa socialmente responsável tem forte compromisso com o futuro de seus funcionários. O momento da aposentadoria representa excelente oportunidade para demonstrá-lo na prática. A empresa deve criar mecanismos de complementação previdenciária, visando reduzir o impacto da aposentadoria no nível de renda, e estimular a participação dos aposentados em seus projetos sociais 3.3.4.3 Meio Ambiente A empresa relaciona-se com o meio ambiente causando impactos de diferentes tipos e intensidades. Uma empresa ambientalmente responsável deve gerenciar suas atividades de maneira a identificar estes impactos, buscando minimizar aqueles que são negativos e amplificar os positivos. Deve, portanto, agir para a manutenção e melhoria das condições ambientais, minimizando ações próprias potencialmente agressivas ao meio ambiente e disseminando para outras empresas as práticas e conhecimentos adquiridos neste sentido. a) Gerenciamento do Impacto Ambiental Gerenciamento do Impacto no Meio Ambiente e do Ciclo de Vida de Produtos e Serviços Um critério importante para uma empresa consciente de sua responsabilidade ambiental é um relacionamento ético e dinâmico com os órgãos de fiscalização, com vistas à melhoria do sistema de proteção ambiental. A conscientização ambiental é base para uma atuação pró-ativa na defesa do meio ambiente, que deve ser 59 acompanhada pela disseminação dos conhecimentos e intenções de proteção e prevenção ambiental para toda a empresa, a cadeia produtiva e a comunidade. A conscientização ambiental deve ser balizada por padrões nacionais e internacionais de proteção ambiental (ex.: ISO 14.000). Entre as principais saídas do processo produtivo estão as mercadorias, suas embalagens e os materiais não utilizados, convertidos em potenciais agentes poluidores do ar, da água e do solo. São aspectos importantes na redução do impacto ambiental o desenvolvimento e a utilização de insumos, produtos e embalagens recicláveis ou biodegradáveis e a redução da poluição gerada. No caso desta última, também se inclui na avaliação a atitude da empresa na reciclagem dos compostos e refugos originados em suas operações. Minimização de Entradas e Saídas de Materiais Uma das formas de atuação ambientalmente responsável da empresa é o cuidado com as entradas de seu processo produtivo, estando entre os principais parâmetros, comuns a todas as empresas, a utilização de energia, de água e de insumos necessários para a produção/prestação de serviços. A redução do consumo de energia, água e insumos leva à conseqüente redução do impacto ambiental necessário para obtê-los. Entre as principais saídas do processo produtivo estão as mercadorias, suas embalagens e os materiais não utilizados, convertidos em potenciais agentes poluidores do ar, da água e do solo. b) Responsabilidade Frente às Gerações Futuras Comprometimento da Empresa com a melhoria da Qualidade Ambiental Como decorrência da conscientização ambiental, a empresa deve buscar desenvolver projetos e investimentos visando a compensação ambiental pelo uso de recursos naturais e pelo impacto causado por suas atividades. Deve organizar sua estrutura interna de maneira que o meio ambiente não seja um tema isolado, mas que permeie todas as áreas da empresa, sendo considerado a cada produto, processo ou serviço que a empresa desenvolve ou planeja desenvolver. Isto evita riscos futuros e permite à empresa, além de reduzir custos, aprimorar processos e 60 explorar novos negócios voltados para a sustentabilidade ambiental, melhorando sua inserção no mercado. Educação e Conscientização Ambiental Cabe à empresa ambientalmente responsável apoiar e desenvolver campanhas, projetos e programas educativos voltados para seus empregados, para a comunidade e para públicos mais amplos, além de envolver-se em iniciativas de fortalecimento da educação ambiental no âmbito da sociedade como um todo. 3.3.4.4 Fornecedores A empresa socialmente responsável envolve-se com seus fornecedores e parceiros, cumprindo os contratos estabelecidos e trabalhando pelo aprimoramento de suas relações de parceria. Cabe à empresa transmitir os valores de seu código de conduta a todos os participantes de sua cadeia de fornecedores, tomando-o como orientador em casos de conflitos de interesse. A empresa deve conscientizar-se de seu papel no fortalecimento da cadeia de fornecedores, atuando no desenvolvimento dos elos mais fracos e na valorização da livre concorrência. a) Seleção e Parceira com os Fornecedores Critérios de Seleção e Avaliação de Fornecedores A empresa deve incentivar seus fornecedores e parceiros a aderir aos compromissos que ela adota perante a sociedade. Também deve utilizar critérios voltados à responsabilidade social na escolha de seus fornecedores, exigindo, por exemplo, certos padrões de conduta nas relações com os trabalhadores ou com o meio ambiente. 61 Trabalho Infantil na Cadeia Produtiva Especificamente sobre a questão do trabalho infantil, a empresa deve incentivar seus fornecedores e parceiros a aderirem ao movimento de erradicação da exploração do trabalho de crianças e adolescentes. Primeiramente há o atendimento a legislação, evoluindo até posturas mais pró-ativas como a mobilização de todo o setor produtivo. Além de critérios para a contratação dos serviços de fornecedores, terceiros e parceiros; é preciso monitorar e verificar o seu cumprimento. Trabalho Forçado (ou análogo ao escravo) na Cadeia Produtiva A empresa deve estar atenta quanto à não-existência de trabalho forçado (ou análogo ao escravo) em sua cadeia produtiva e, além de incluir a respectiva proibição em seus contratos, deve realizar pesquisa, verificação e avaliação, e exigir documentação comprobatória de seus fornecedores. A empresa pode também articular, isoladamente ou em conjunto com o governo ou outras organizações, programas e atividades que visem erradicar o trabalho forçado de forma geral. Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores A empresa pode auxiliar no desenvolvimento de pequenas e micro empresas, priorizando-as na escolha de seus fornecedores e auxiliando-as a desenvolverem seus processos produtivos e de gestão. Também podem ser oferecidos, no ambiente da empresa, treinamentos de funcionários de pequenos fornecedores, transferindo para eles seus conhecimentos técnicos e seus valores éticos e de responsabilidade social. Para buscar o desenvolvimento econômico da comunidade local, a empresa pode utilizar entidades ligadas à comunidade como fornecedores. 3.3.4.5 Consumidores e Clientes A responsabilidade social em relação aos clientes e consumidores exige da 62 empresa o investimento permanente no desenvolvimento de produtos e serviços confiáveis, que minimizem os riscos de danos à saúde dos usuários e das pessoas em geral. A publicidade de produtos e serviços deve garantir seu uso adequado. Informações detalhadas devem estar incluídas nas embalagens e deve ser assegurado suporte para o cliente antes, durante e após o consumo. A empresa deve alinhar-se aos interesses do cliente e buscar satisfazer suas necessidades. a) Dimensão Social do Consumo: Política de Comunicação Comercial A empresa é um produtor de cultura e influencia o comportamento da sociedade. Por isso, suas ações de comunicação devem ter uma dimensão educativa, evitando criar expectativas que extrapolem o que é oferecido efetivamente pelo produto ou serviço; não devem provocar desconforto ou constrangimento a quem for recebê-la; e devem informar corretamente os riscos potenciais dos produtos oferecidos. Excelência do Atendimento Cabe à empresa socialmente responsável apoiar seus consumidores/clientes antes, durante e após a efetuação da venda, prevenindo prejuízos com o uso do seu produto. A qualidade do serviço de atendimento a clientes (SAC ou outra forma de atendimento) é uma referência importante neste aspecto, indicando a permeabilidade da empresa para adaptar-se às necessidades e demandas dos consumidores/clientes. Conhecimento e Gerenciamento dos Danos Potenciais dos Produtos e Serviços É tarefa da empresa desenvolver ações de melhoria da confiabilidade, eficiência, segurança e disponibilidade dos produtos e serviços. Ela deve buscar conhecer os danos potenciais que possam ser provocados por suas atividades e produtos e alertar os consumidores/clientes quanto a eles, atuando em um processo de melhoria contínua e observando as normas técnicas relativas a eles. 63 3.3.4.6 Comunidades A comunidade em que a empresa está inserida fornece-lhe infra-estrutura e o capital social representado por seus empregados e parceiros, contribuindo decisivamente para a viabilização de seus negócios. O investimento pela empresa em ações que tragam benefícios para a comunidade é uma contrapartida justa, além de reverter em ganhos para o ambiente interno e na percepção que os clientes têm da própria empresa. O respeito aos costumes e culturas locais e o empenho na educação e na disseminação de valores sociais devem fazer parte de uma política de envolvimento comunitário da empresa, resultado da compreensão de seu papel de agente de melhorias sociais. a) Relação com a Comunidade Local Gerenciamento do Impacto da Empresa na Comunidade de Entorno A inserção da empresa na comunidade pressupõe que ela respeite as normas e costumes locais, tendo uma interação dinâmica e transparente com os grupos locais e seus representantes, a fim de que possam solucionar conjuntamente problemas comunitários ou resolver de modo negociado eventuais conflitos entre as partes. Relações com Organizações Locais A empresa pró-ativa na responsabilidade social assume como meta a contribuição para o desenvolvimento da comunidade. Desta forma, deve apoiar ou participar diretamente de projetos sociais promovidos por organizações comunitárias e ONGs, contribuindo para a disseminação de valores educativos e a melhoria das condições sociais. 64 b) Ação Social Financiamento da Ação Social A destinação de verbas e recursos à instituições e projetos sociais terá resultados mais efetivos na medida em que esteja baseada numa política estruturada da empresa, com critérios pré-definidos. Um aspecto relevante é a garantia de continuidade das ações, que pode ser reforçada pela constituição de instituto, fundação ou fundo social. Envolvimento da Empresa com a Ação Social A atuação social da empresa pode ser potencializada pela adoção de estratégias que valorizem a qualidade dos projetos sociais beneficiados, a multiplicação de experiências bem sucedidas, a criação de redes de atendimento e o fortalecimento das políticas públicas da área social. O aporte de recursos pode ser direcionado para a resolução de problemas sociais específicos para os quais se voltam entidades comunitárias e ONGs. A empresa também pode desenvolver projetos próprios, mobilizar suas competências para o fortalecimento da ação social e envolver seus funcionários e parceiros na execução e apoio a projetos sociais da comunidade. 3.3.4.7 Governo e Sociedade A empresa deve relacionar-se de forma ética e responsável com os poderes públicos, cumprindo as leis e mantendo interações dinâmicas com seus representantes, visando a constante melhoria das condições sociais e políticas do país. O comportamento ético pressupõe que as relações entre a empresa e governos sejam transparentes para a sociedade, acionistas, empregados, clientes, fornecedores e distribuidores. Cabe à empresa manter uma atuação política coerente com seus princípios éticos e que evidencie seu alinhamento com os interesses da sociedade. 65 a) Transparência Política Contribuições para Campanhas Políticas A transparência nos critérios e nas doações para candidatos ou partidos políticos é um importante fator de preservação do caráter ético da atuação da empresa. Ela também pode ser um espaço de desenvolvimento da cidadania, viabilizando a realização de debates democráticos que atendam aos interesses de seus funcionários. Práticas Anti Corrupção e Propina O compromisso formal com o combate à corrupção e propina explicita a posição contrária da empresa no recebimento ou oferta, aos parceiros comerciais ou a representantes do governo, de qualquer quantia em dinheiro ou coisa de valor, além do determinado em contrato. Esta proibição se aplica às ofertas diretas e indiretas, dentro ou fora do país. Construção da Cidadania pelas Empresas Com relação ao seu papel na construção da cidadania, é importante que a empresa procure cada vez mais assumir o papel de formadora de cidadãos. Programas de conscientização para a cidadania e importância do voto para seu público interno e comunidade de entorno são um grande passo para que a empresa possa alcançar um papel de liderança na discussão de temas como participação popular e corrupção. b) Liderança Social Liderança e Influência Social Cabe à empresa socialmente responsável buscar participar de associações, sindicatos e fóruns empresariais, impulsionando a elaboração conjunta de propostas de interesse público e caráter social. 66 Participação em Projetos Sociais Governamentais A dimensão dos problemas sociais no Brasil torna imprescindível a participação das empresas no seu enfrentamento. Além de cumprir sua obrigação de recolher corretamente impostos e tributos, as empresas podem contribuir com projetos e ações governamentais, devendo privilegiar as iniciativas voltadas para o aperfeiçoamento de políticas públicas na área social. 3.4 OBSERVAÇÕES SOBRE AS FERRAMENTAS DE RSC: O direcionamento deste trabalho entende que a avaliação dos indicadores ideais para aplicação ao estudo da RSC depende de diversos fatores, a saber: a) Tipo de avaliação: como a Responsabilidade Social é um conceito amplo, abrangendo diversos conceitos distintos, saber qual o indicador melhor se enquadra depende das avaliações dos gestores destas empresas, onde estas empresas estão inseridas, regras locais e outros; b) Negócio da empresa: a Responsabilidade Social deve estar atrelada ao negócio da empresa, suas implicações e relações com o entorno. Dizer-se socialmente responsável apenas baseado em padronizações e certificações internacionais podem não denotar que o esteja sendo com o stakeholders. A norma SA 8000 tem suas ações limitadas aos trabalhadores das empresas. Por este escopo, para este estudo de caso sua aplicabilidade não está presente, o que nos imputa a adotar outros parâmetros. A norma AA 1000, embora tenha união aos valores das empresas relacionados entre as questões ético-sociais e estratégica/operacional, ainda é um elemento de padronização, onde os stakeholders, embora sejam importantes no processo da organização por esta norma, não possuem evidencia objetiva de sua atuação e/ou de sua importância. Diante dos casos e, em conclusão, para este estudo de caso, não aplicaremos os valores constantes e defendidos pelas normas citadas, por entendermos que estes seriam vagos, nas suas relações com os stakeholders ligados ao estudo de caso - comunidade. 67 O GRI tem por finalidade criar relatórios em avaliação, cujos elementos de informação baseiam-se em: comparabilidade, relevância, neutralidade, e completude. Não há referência no GRI sobre as melhores práticas, nem de possíveis posições que a corporação deve adotar para que suas ações sejam consideradas de cunho de responsabilidade social. Na verdade, os elementos de orientação baseiamse na ética e no bom senso, mas sem definir que parâmetros podem seguir as empresas para que suas ações sejam, naquele ambiente em que está inserido, discutidos como viáveis e próprios a serem aplicados. Estas colocações são observadas nos instrumentos internacionais de avaliação e auxílio na RSC. Evidencia-se na dificuldade de se tentar pormenorizar as ações de RSC compatíveis coma realidade de cada país. Sob esta ótica, mesmo sendo o elemento de auxílio da RSC internacional de aplacação mais próxima de nosso estudo de caso, não nos balizaremos, diretamente, sobre o GRI para a avaliação do objeto estudado. Os princípios dos Indicadores Ethos se interligam com as ferramentas de GRI, SA 8000 e AA 1000, através de aplicação dos seus elementos de registro. Por ser uma ferramenta nacional, seus indicadores tratam com mais precisão e destaque as relações de cada área da RSC com as metas, ou melhor, com o desempenho, tendo melhor aplicação ao estudo de caso. O estudo de caso desta dissertação pode ser facilmente compreendido e assistido pelos indicadores Ethos, que por sua vez, podem levar a compreensão, por esta ligação tripartite aos indicadores e ferramentas internacionais aqui expostos: SA 8000, AA 1000 e GRI. 3.5 OBJETO DO ESTUDO: ESCOPO Por estas considerações, e pelo que foi descrito neste capítulo e no anterior, nosso estudo de caso tem a seguinte delimitação: a) Objetivo Geral: Esta dissertação visa analisar a temática da responsabilidade social corporativa à luz da análise de projeto de desenvolvimento auto-sustentável. Esta 68 análise se fundamentará no estudo de caso de programas de auto-desenvolvimento de comunidades, patrocinados por uma empresa privada brasileira. b) Objetivos específicos: • Avaliar a aplicação da Responsabilidade Social Corporativa no estudo de caso através da sistematização, ferramentas e conceitos básicos de RSC. • Avaliar a percepção dos stakeholders envolvidos na aplicação do projeto do estudo de caso; • Utilização da RSC como elemento de melhoria da percepção pública à imagem das empresas; • Analisar a relação do estudo de caso com o business do patrocinador; c) Objeto de Estudo de Caso: Situada na região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, Cariacica é o mais populoso município deste estado, com bolsões de pobreza e carência de políticas públicas duradouras há várias décadas. Mais informações deste município estão disponíveis no apêndice desta dissertação. Durante um longo período, abrigou este município diversas unidades da Cia Vale do Rio Doce (CVRD). Na atualidade, grande parte das instalações e da economia satélite a estas instalações foram passadas para o vizinho município de Vitória, a capital do estado do Espírito Santo, ficando Cariacica com poucas plantas produtivas (essencialmente ferroviárias) e diversos imóveis vazios, patrimônio desta Companhia. Em relação às instalações da CVRD na cidade, a mais importante é a Ferrovia Vitória a Minas, que passa por mais de 20 km dentro do município, que em sua volta cresceu desordenadamente, hoje culminando em alguns problemas pontuais como furtos e vandalismo, culminando muitas vezes em interrupção do transporte ferroviário. Percebe-se que um dos agentes causadores deste cenário é a falta de perspectiva e oportunidades e, como já observado, a ausência de políticas públicas duradouras, com inclusão social e desenvolvimento sustentável. A Fundação Vale do Rio Doce baseou-se, então, em programas de autodesenvolvimento, entre eles o LED – Local Economic Development / Desenvolvimento Econômico Local, fundamentado pelo Banco Mundial (WorldBank) 69 e aplicado por incentivo desta instituição em muitas localidades do mundo, onde a mineração é o fator predominante da economia. A idéia padrão é impulsionar o desenvolvimento de comunidades de entorno, para ao fim das atividades das plantas fabris e instalações, estas comunidades tenham capacidade de prosseguir economicamente sem traumas consideráveis em função da cessão de atividades das plantas. Após experiência em projeto-piloto no Maranhão, na localidade de ItaquiBacanga, a Cia vale do Rio Doce, através da Fundação Vale do Rio Doce implementou o projeto intitulado CIDADE VALE MAIS, cujo objetivo essencial é encontrar elementos para a criação de redes de desenvolvimento (sobre o que falaremos adiante), na sociedade local (chamada de comunidade de entorno), na busca do desenvolvimento sustentável da região. Em Cariacica este projeto se chama Cariacica Vale Mais, e segundo o patrocinador, está em vias de auto-condução. O objeto de estudo é o projeto Cariacica Vale Mais, da Fundação Vale do Rio Doce. 70 4 OS ELEMENTOS DO ESTUDO DE CASO Para a continuidade do estudo desta dissertação, a avaliação por literatura e referenciais para este estudo se deparou na necessidade em fazer três explanações: a metodologia mundial empregada na mineração, incentivada por grandes instituições, como o Banco Mundial (WORLD BANK), definida como LED: local economic development; as ações realizadas utilizando a metodologia padrão deste estudo – DLIS – e seus possíveis resultados alcançados; e o relato de “cases” (casos) ocorridos em empresas de porte, com algum tipo de relacionamento com a Cia Vale do Rio Doce. Em relação aos dois primeiros, estas metodologias, segundo informações obtidas com Luciano Medeiros, da Fundação Vale do Rio Doce, podem auxiliar na compreensão da escolha da metodologia aplicada no desenvolvimento do trabalho deste estudo de caso. Os “cases” de outras empresas, tomados como boas práticas, podem nos orientar sobre as tendências de práticas de RSC no mercado, assim como viés adotado. Com estes elementos é possível, acreditamos, ter um traço mais afinado entre as metodologias e as ações ditas de boas práticas. 4.1 LED – LOCAL ECONOMIC DEVELOPMENT: CONCEITOS 4.1.1 Oportunidades e Riscos Mineração em larga escala pode ter impactos econômicos, sociais e ambientais significantes para a população em todos os níveis, principalmente no local e regional. A nível local, uma mina tem o potencial para beneficiar a população local significativamente pela criação de empregos diretos e indiretos, transferência de 71 conhecimento e habilidades, e melhorias no serviço de saúde e educação e oportunidades d melhorias de para pequenas e médias empresas. Recentemente as companhias, ONG’S, governos e comunidades, todos, estão sendo desafiados para que os benefícios da mineração sejam otimizados de um modo sustentável, porém que são mitigados pelos impactos negativos possíveis – pelo temor das populações locais principalmente no pós fechamento da mina junto às comunidades durante a fase de lavra e fechamento da mina, é o desafio que pode ser a vantagem para a empresa que souber desafiá-lo. 4.1.2 Mineração e o Desenvolvimento Econômico Local (LED) Minas são freqüentemente propulsoras econômicas fundamentais das comunidades nas quais elas estão situadas. Porém as evidências para mostrar isto são limitadas, devido à falta dos efeitos de projeção local, afirma o Banco Mundial, em seu site acessado em 04 de setembro de 2005. Com um programa de desenvolvimento econômico apropriado, projetos de mineração podem trazer mais que os empregos diretos e indiretos oriundos de sua instalação. Através do voluntariado e do investimento social, empresas de mineração e outros stakeholders podem trabalhar e garantir à comunidade local, principalmente nas comunidades mais pobres, compartilhando do potencial do crescimento da economia local. Especificamente para a indústria da mineração, afirma ainda o Banco Mundial (2005), um programa de desenvolvimento local sustentável próspero melhoraria a comunidade e as relações trabalhistas, reduziria a dependência à mina ao longo dos anos e traria boa reputação de cidadania corporativa. 4.1.3 Componentes de Estratégias de Desenvolvimento Econômico Local O LED (Desenvolvimento Econômico Local) trata de comunidades locais, incluindo setores público, privado e sem fins lucrativos, que juntam esforços em 72 ações proativas objetivando alcançar crescimento econômico sustentável que assegure aumentos em emprego, prosperidade e qualidade de vida para as comunidades de entorno. Um componente importante deste programa é o desenvolvimento de pequenos e médios e empreendimentos locais. Eles podem ser fornecedores da cadeia, ou empreendedores independeste do processo produtivo dela. O LED, ainda segundo o Banco Mundial (2005) inclui a análise da economia local, desenvolvimento de estratégias, políticas, programas e projetos em uma gama de ações fundamentais. As atividades mais significativas do LED podem conter várias direções, como por exemplo: A) Melhorias ambientais para instalações existentes; B) Treinamento e educação, inclusive acesso ao trabalho; C) Investimento e planejamento em infra-estrutura; A versão do LED mais comum no Brasil é o DLIS : Desenvolvimento Local sustentável integrado, o que apresentaremos no tópico seguinte. 4.2 DLIS – DESENVOLVIMENTO LOCAL INTEGRADO E SUSTENTÁVEL: CONCEITOS O DLIS trata de estratégia de indução ao desenvolvimento, com o intuito de facilitar e potencializar a participação coletiva, através da promoção de parcerias entre indivíduos e programas públicos. Criado em 2003 pela AED – Agência de Educação para ao Desenvolvimento, o DLIS – Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável atende a indivíduos, comunidades, governo, empresas e organizações do terceiro setor interessadas em promover a metodologia. Acerca da metodologia, o DLIS afirma que a sua é semelhante a qualquer metodologia de indução do desenvolvimento sustentável: a) Diagnóstico local, com a participação da comunidade; b) Realização de Plano de Desenvolvimento, também de maneira participativa; c) Criação de agenda comum; 73 d) Capacitação de lideranças locais para a gestão comunitárias; Como objetivo do programa DLIS, podemos citar: a) Evidenciar melhorias na condição de vida das pessoas envolvidas; b) Produzir e reproduzir o chamado Capital Social; No Anexo desta Dissertação, encontra-se a íntegra do processo do DLIS; 4.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL: BOAS PRÁTICAS CORPORATIVAS A discussão da Responsabilidade Social Corporativa tem muitas variáveis, e analisá-la é preciso certa comparação ao negócio da empresa estudada, às atividades fins e correlatas, ao tamanho das empresas, entre outros, como localização geográfica, cultura, etc. A indústria da mineração do Brasil, embora seja atividade de grande volume de recursos e de extrema importância para país, não possui muitos players, além de haver participação acionária da CVRD em muitas das empresas existentes. Ainda assim, as ações são diversas, principalmente quando avaliamos as vertentes acima. Com a rede de influencia cada vez mais entrelaçada, é comum empresas influenciarem outras de seu relacionamento (sejam clientes, fornecedores, parceiras ou coligadas) a adotarem suas posturas em relação a Responsabilidade Social Corporativa. Ou a serem influenciadas por estas mesmas empresas, quando suas próprias ações ainda não estão bem difundidas ou implementadas, ou quando pode ocorrer influência de caráter econômico – como o caso de um cliente que tenha uma boa política de Responsabilidade Social Coorporativa e deseja que seus fornecedores também tenham. As atividades da CVRD são diversas, e suas relações empresariais podem assim ser resumidas, para efeito deste estudo de caso: Clientes: quando a CVRD fornece quaisquer insumos ou serviços a outras empresas; Coligadas: quando uma empresa faz parte do grupo CVRD; Concorrentes: quando uma empresa tem negócios em áreas afins a CVRD, ou publicamente tenha uma posição de concorrência às atividades-fins; Fornecedoras: empresas que tem a CVRD como cliente; 74 Entendemos que para avaliar um estudo de caso e compará-lo a boas práticas de mercado adotamos três dos quatro grupos de relacionamento empresarial, a saber: clientes, coligadas e concorrentes. Outra avaliação foi encontrar nesta listagem grandes empresas, para que a analise não sofresse distorção em função do tamanho da CVRD. As empresas escolhidas para os “cases” são: Clientes: Acesita e Belgo, siderúrgicas que compram da CVRD minérios, transportes ferroviários e capatazia marítima. Coligadas: Albras e Mineração Rio do Norte, mineradoras das quais a CVRD detêm o controle acionário, exportadoras de minerais da região Norte do Brasil. Concorrentes: CSN e Alcoa; a CSN é concorrente da CVRD (além de cliente, em alguns casos) no controle do transporte ferroviário (ela detêm o controle acionário da ferrovia CFN – Cia Ferroviária do Nordeste) e trava litígio com a CVRD para entrar na exportação de minério de ferro excedente de sua mina própria (Casa de Pedra, em Congonhas do Campo, MG). A Alcoa é mineradora mundial, diversificada, com atividades de mineração no Brasil. Recentemente, a CVRD passou em valor de mercado a Alcoa, que detinha o quarto lugar mundial, passando a terceira maior mineradora mundial. Os casos foram extraídos de literatura sobre responsabilidade Social Corporativa, a saber: Guia Exame de Boa Cidadania Empresarial, edição 2004 e o livro Empresas Socialmente Sustentáveis (vide bibliografia). Acesita – Aços Especiais Itabira : A diferença entre investimento e custo Para a Acesita, investir em melhorias sociais em sua região de atuação ajuda no fortalecimento do negócio. A Acesita está localizada na cidade de Timóteo, em Minas Gerais, e é fabricante de produtos siderúrgicos, essencialmente o aço inoxidável (inox). Passou por seis anos operando no vermelho, mas segundo seu presidente, Luis Aníbal de Lima Fernandes, “os recursos destinados à Fundação sempre foram interpretados como investimentos que nos trariam benefícios, nunca como gastos”. A fundação a que se refere Fernandes é a Fundação Acesita, nascida há dez anos depois que a empresa foi privatizada. 75 A importância dos projetos advém do impacto que a empresa tem na economia da cidade de Timóteo, com 75000 habitantes e economia girando em torno da empresa. Como conseqüência de suas políticas, Timóteo tem o quinto melhor IDH (índice de desenvolvimento humano) de Minas Gerais, grande parte em função das ações da empresa na região onde está instalada. O processo de privatização da Acesita foi doloroso, onde dois terços dos empregados, na época seis mil pessoas, foram desligadas das plantas industriais. A Fundação tinha em mente amortizar os efeitos anti-paternalistas da privatização, ajudando a região a andar por si mesma: “Para que a Acesita prospere, é crucial que as pessoas qualificadas e talentosas queriam permanecer aqui. Se nos preocupamos com a cultura, o lazer e a educação do município é porque sabemos que a motivação dos nosso funcionários também depende disto”, afirma o presidente da Fundação Acesita, Anfilófio Salles Martins. Em caso como o da Acesita, pilar principal da economia local, a situação é bem mais crítica, pois imputa à empresa responsabilidades “morais” de ser a alavanca do desenvolvimento local. Os recursos, porém, são limitados. Por isso, a empresa apostou na formula de se relacionar com todos que pudessem ajudar no desenvolvimento de Timóteo. Partindo deste princípio, no conselho curador da Fundação membros da sociedade local e até o prefeito ganharam cadeira cativa no conselho curador da fundação. Em contrapartida, os empregados da siderúrgica participam ativamente em conselhos governamentais locais, como o da criança, do idoso e afim. O Projeto Capacitação Constante é um dos frutos dessa política. No inicio de cada ano, uma pesquisa é feita com todos os 1260 funcionários das 28 escolas públicas de Timóteo, buscando identificar as maiores dificuldades do ensino. Membros da Fundação Acesita se reúnem com membros das secretarias municipal e estadual de Educação para estabelecer metas e definir as ações que serão desenvolvidas. A Acesita, através de seu braço social, a Fundação Acesita, também tem outros projetos sociais e conta, mais uma vez, com mais aliados. Um exemplo deste projeto é o Prêmio Valorização da Educação de Qualidade. No início do ano letivo, voluntários da Acesita treinam sessenta professores representantes das escolas públicas de Timóteo no uso da ferramenta conhecida como CCQ – Círculos de Controle da Qualidade - metodologia comumente utilizada em empresas para 76 melhorar os processos. Depois de treinamento com 12 horas-aula os professores repassam o conhecimento aos colegas e escolhem problemas escolares que serão debatidos com a metodologia durante seis meses. Há premiação dos casos mais bem-sucedidos e em cinco anos o premio ajudou as escolas a superar os desafios mais simples, como a baixa presença dos pais nas reuniões e os atrasos dos alunos, aos mais complexos, como a repetência e a evasão, cuja taxa caiu de 2,3 % para 0,37 % entre 1995 e 2001. Belgo – Grupo Arcelor A Belgo leva o conceito de responsabilidade social e ética a fornecedores e clientes. Na avaliação do Guia Exame, a Belgo vem sendo apontada como uma dez empresas-modelo de responsabilidade social corporativa por cinco anos seguidos: “Trata-se de uma marca importante, sobretudo para um negócio tradicionalmente pressionado por riscos ambientais e de segurança dos funcionários, como é o caso da siderurgia”, acrescenta a revista. Na correta opinião da Belgo, hoje, o grande desafio não está dentro de suas plantas, e sim em toda a cadeia produtiva, desde o fornecedor até o distribuidor, onde é preciso que toda a cadeia de negócios tenha políticas ambientais e sociais alinhadas. Para afastar os riscos de ser identificada como uma empresa de pouca reputação social, a Belgo colocou em prática no início de 2004 um projeto de disseminação das melhores práticas sociais e ambientais, onde se preocupou, sobretudo, em verificar se clientes e fornecedores a adotavam práticas responsáveis. Percebeu que como fornecedora dos seus clientes e cliente dos seus fornecedores, estava a Belgo fazendo muito pouco. Neste processo a Belgo escolheu e formou um grupo de clientes e fornecedores (stakeholders) que então seria convidado a participar do processo. Por uma razão lógica, sabia-se que a participação dos fornecedores seria menos relutante que a dos clientes. “Os fornecedores se sentiram pressionados, mas o envolvimento dos clientes dependeria do nosso poder de sedução”, afirmara seu presidente à época. O resultado foi que de 24 fornecedores, apenas dois declinaram, e de 22 clientes, apenas 7 recusaram. Com a equipe definida, contratou-se uma empresa de consultoria. 77 Nos primeiro encontros, com a ajuda de funcionários da fundação e da consultoria, clientes e fornecedores foram orientados a avaliar seu nível de responsabilidade corporativa – princípios éticos, relacionamento com funcionários, fornecedores, clientes, comunidades, governo e política ambiental. As empresas elaboraram diagnósticos e planos de ação. O grupo também se reúne a cada dois meses para discutir temas mais específicos, como diversidade, meio ambiente, etc. Em 2004 investiram-se R$ 400.000,00 no projeto. Estima-se que o impacto deste investimento é reduzido se levadas em conta as mais de 4000 mil empresas que compõem a carteira de clientes e fornecedores da Belgo. A Belgo planeja ter até 2006 seu relatório anual elaborado com as normas do Global Reporting Initiative (GRI). Sugerido pelas Nações Unidas, são poucas as empresas brasileiras que o seguem, como Natura e Usiminas. Outro marco da Belgo foi a obtenção, em 2003, do primeiro certificado da SA 8000 (Social Acountability) emitido a uma siderúrgica no mundo inteiro. O Tendão de Aquiles nos pés da Belgo está na busca da redução das questões ambientais e de diversidade que envolvem a empresa, processos que ainda dependem de resolução, segundo a Revista Exame. Albras: O fim do choque de realidades Instalada no meio da Amazônia, a empresa tem de se integrar à vida local. A Albras é uma empresa produtora de alumínio sob controle da Cia vale do Rio Doce. Localizada no município de Barcarena, no Pará, suas atividades estão numa região carente de ações e posturas socialmente responsável: a Amazônia. A ação da empresa no município citado muitas vezes eram aquelas que o Poder Público deveria tomar, mas por questões de conhecimento nacional, não o fez. A Albras sentiu-se pressionada para que realizasse estas ações, pois sem as mesmas a própria instalação estrutural para que seus 1300 empregados pudessem atuar na região poderia estar comprometida. Barcarena é um município pobre, embora esteja a apenas a 30 km do centro de Belém, capital do Estado do Pará. A instalação da empresa no local poderia ser interpretada como uma intrusão, já que o local, além de suas características sociais deflagradas por graves falências de serviço público à população, tem o fator ambiental, sempre atingido pela indústria mineradora e extrativista. 78 Em saída a estes contratempos, a Albras aliou-se ao poder público com objetivo de criar programas de desenvolvimento para Barcarena e região de influência, o que poderia evitar atritos e rejeições à planta fabril existente na cidade. Como um dos projetos destaca-se o Nosso Lixo Tem Futuro. Nascido em 1999, a Albras investiu nesta época cerca de 400000 reais para a montagem de uma unidade de reciclagem de lixo urbano. Neste programa 34 famílias de catadores de lixo no despejo sanitário da cidade passaram a ter renda com a reciclagem do lixo e a venda de adubo orgânico. A Albras entende que o projeto fora bem sucedido, e partiu então para a sua ampliação, através de recurso do BNDES. Com isso, em 2004 já havia quatro unidades de reciclagem e compostagem em funcionamento. Há previsão de mais duas para os anos posteriores, onde, juntas, deverão atender a cerca de 230 famílias. Outros projetos são variantes deste, onde três fábricas – de calçados, de brinquedos educativos e de vassouras e sacolas – empregaram, em 2004, 40 pessoas. Há parceria com a Prefeitura e a Embrapa para um programa de agricultura familiar em cinco comunidades carentes vizinhas às plantas da empresa. Segundo seu presidente, Murilo Ferreira, a ideai da Albras é que estes projetos possam ser auto-sustentáveis, num futuro próximo. Mineração Rio do Norte: MRN Nos Rincões da Amazônia Uma alternativa para melhorar a qualidade de vida e saúde de comunidades quilombolas enfronhadas na selva. A população dos quilombos de Moura, Jamari, Tapagem e Sagrado Coração, todas comunidades ribeirinhas do rio Trombetas, afluente do Amazonas, possui níveis elevados de mortalidade infantil e analfabetismo, decorrentes das baixíssimas condições de vida e de infra-estrutura a que estão submetidas. Para se compreender as necessidades destas comunidades, os cuidados médicos estavam a até oito horas de barco, em Oriximiná, no meio da selva amazônica, a cidade mais próxima com, digamos, condições mais favoráveis de atendimento à população, embora carente também de serviços dignos como grande parte das cidades brasileiras, especialmente as amazônicas. 79 A situação de carência de serviços essenciais se refletia nas estatísticas: metade das crianças de zero a cinco anos tinha desnutrição, setenta por cento das grávidas não realizavam acompanhamento pré-natal ou recebiam vacinas regularmente e nenhuma das mulheres da comunidade havia feito exame de prevenção de câncer de colo de útero. Diante destes dados, a MRN decidiu implantar o projeto Quilombo, programa de saúde preventiva dirigido a essas famílias, executado em parceria com a Fundação Esperança, de Santarém. A empresa investiu entre 1997 e 2004 cento e cinqüenta mil reais a cada ano, objetivando difundir conceitos básicos de higiene e ações de saúde preventiva. O trabalho fora dividido em três frentes: na primeira, moradores e funcionários da prefeitura receberam treinamento para se tornar agentes de saúde. Outra medida foi a implantação de visitas mensais aos moradores para a realização de exames laboratoriais e consultas médicas e de enfermagem. Por fim, a região passou a receber informações sobre como prevenir doenças e foi alvo de campanhas de vacinação, de incentivo ao aleitamento materno e de recuperação nutricional. Segundo o Guia Exame 2004 de boa cidadania corporativa, o Projeto Quilombo é uma espécie de referência na área, e mereceu no mesmo ano destaque como projeto selecionado. Em 2004 todas as crianças estavam sob acompanhamento nutricional, 98 % delas receberam vacinas básicas para os primeiros seis meses de vida e o aleitamento materno atinge a 85% dos bebês. Há também programa de planejamento familiar, orientações sobre doenças venéreas e todas realizam exames para prevenção de câncer de colo de útero. Alcoa: O modelo de cidadania global da Alcoa A Alcoa é uma das maiores produtoras mundiais de alumínio e uma das maiores mineradoras do mundo. Seu braço social é a Alcoa Foundation, que em dados de 2000 investiu US$ 21,1 milhões em cerca de 2000 projetos sociais mundo afora. No Brasil, este montante chegou a dez por cento da aplicação total, no mesmo período. A Responsabilidade Social Corporativa da Alcoa é focada no meio ambiente e nas relações sociais, e denominada pela Companhia de Cidadania Global. 80 No mundo todo, a atuação da Alcoa Foundation é focada em educação global em negócios, engenharia e tecnologia, capacitação da força de trabalho, parceria entre a sociedade e a empresa para o fomento de pequenos negócios na comunidade e saúde infantil. No Brasil há ações no Maranhão (educação), Pernambuco (saneamento básico) e no ABC Paulista (oficinas de reciclagem). O destaque da estratégia social da Alcoa é a obrigatoriedade de que cada projeto tenha o envolvimento dos empregados, como pré-requisito básico para que ele seja aprovado. Com isto, a empresa desenvolve também o voluntariado empresarial, ao mesmo tempo em que implementa ações voltadas a responsabilidade social corporativa., Esta experiência – a participação dos empregados na condução dos projetos sociais – teve início no Brasil, e está sendo implantada em todo o mundo, com bons resultados, pois segundo a Alcoa Foundation, “a experiência no Brasil mostrou que o envolvimento dos funcionários é a melhor forma de atuação”. A estratégia compreende os seguintes procedimentos: A empresa subsidiária elege as suas áreas sociais de atuação, de acordo com o elenco de áreas do Grupo Alcoa; Inicia a campanha de motivação e envolvimento dos funcionários; Os funcionários são reunidos em grupos de 10 pessoas para apresentar seus projetos; Cria-se uma comissão para avaliar os projetos; Os projetos são apresentados e avaliados; São selecionados os melhores projetos que receberão recursos da empresa, do Instituto Alcoa e da Fundação Alcoa; Os grupos vencedores implementam os seus projetos. A estratégia social adotada é a estratégia social participativa, centrada na promoção do voluntariado interno. O conceito de Cidadania Global da Alcoa compreende o exercício da cidadania interna, através do estímulo à participação dos funcionários na elaboração e gestão de projetos sociais e a prática de cidadania externa, que se reflete na atuação dos funcionários como voluntários nestes projetos. O empregado neste caso desempenha dois papeis: a do gestor do projeto social e a de voluntário em sua implementação na comunidade escolhida. 81 A base de sustentabilidade do projeto social da Alcoa está, portanto, na participação de seus funcionários. CSN: Cia Siderúrgica Nacional A Responsabilidade Social Corporativa na Cia Siderúrgica Nacional, deste o princípio de suas de diretrizes sociais, defini-se pela frase: o que é voltado para os funcionários é de responsabilidade da CSN; o que é feito para a comunidade é de responsabilidade da Fundação CSN. A definição de quem faz o que delimita as atribuições da Responsabilidade Social e Ambiental na CSN, segundo a diretora-executiva da Fundação CSN, Claudia Sousa. No seu surgimento, a Fundação CSN teve suas atividades definidas de forma difusa, sem foco. Mediante a implementação de um processo de planejamento estratégico, a Fundação escolheu como foco principal da sua atuação social a educação. Após a definição do objeto de atuação definiu-se que diretriz deveria ser seguida no pilar educacional. Mesmo tendo um foco, educação era uma área muito ampla, o que requereu um novo foco. Que tipo de ação em educação? Após a nova focalização das ações em educação, a CSN depurou ainda mais seu foco: educação para o trabalho. Na educação para o trabalho o ensino profissionalizante, com foco em algumas atividades de próprio interesse da CSN, foi implementado. A empresa mantém duas escolas técnicas (uma em Volta Redonda/RJ e outra em Contagem/MG). As duas escolas oferecem cursos profissionalizantes para jovens. Depois de formados, muitos desses jovens são contratados pela própria CSN e parceiros. Outra ação de inserção de jovens no mercado foi a opção de estimular novos negócios, para micro e pequenos empresários. Os jovens alunos, ainda no ensino médio, são incentivados a montar empresas. Eles passam por todas as etapas da elaboração da atividade empresarial, desde a escolha do ramo até a venda dos produtos. Outros focos da Responsabilidade Social Corporativa da CSN são o meio ambiente e a ação comunitária. Assim, num processo de amadurecimento, a CSN saiu de um padrão de RSC diversificado de atuação social para uma ação focada: a educação para 82 trabalho, com vetores em cursos profissionalizantes, pesquisa tecnológica e fomento ao empreendedorismo. 83 5 ANALISE DO ESTUDO DE CASO 5.1 DESCRIÇÕES DO ESTUDO DE CASO 5.1.1 Responsabilidade Social Corporativa na Indústria da Mineração Mundial Ao iniciar nosso estudo de caso sobre uma mineradora devemos antes nos deparar com o negócio mineração. Pela natureza do business mineração os impactos sociais decorrentes desta atividade, num país de fartas fontes de exploração mineral, são elevados e a fiscalização notoriamente deficiente. Se avaliarmos as ações das empresas ao longo dos anos nesta indústria, é inegável que no Brasil e no mundo, ao menos as maiores empresas, a preocupação com as ações de Responsabilidade Social, principalmente no viés ambiental, está sendo aprimorada. As razões são evidentes: a) Grande parte da produção desta indústria é convertida ao mercado externo, cuja concorrência internacional também tem players de peso num negócio de muito investimento de capital e retorno em escala; b) As empresas envolvidas na compra da meteria prima (minérios diversos) são fornecedoras de outras indústrias de bens duráveis; c) Em muitos países, principalmente nos mais desenvolvidos e esclarecidos, parte da população rejeita produtos advindos de fontes problemáticas no tocante ao Meio Ambiente e a RSC, qualquer que seja a etapa do processo produtivo ou de fornecimento de insumos. A preocupação com a vantagem competitiva das empresas alertou para o efeito inverso: a visibilidade negativa das ações da empresa pode dar ao concorrente à dianteira num mercado de contratos longos e carteira de clientes reduzida a uma centena de empresas no mundo inteiro. 84 O Instituto Ethos (1999) criou no ano em destaque os Indicadores Ethos Setoriais de RSC (vide apêndice). Abrangendo diversas indústrias, os Indicadores foram baseados em consultas a profissionais do setor, na literatura nacional e internacional e em ações que caracterizam boas práticas em Responsabilidade Social em cada indústria desta. Em 2003 foram criados os Indicadores Setoriais das indústrias de mineração, financeiro e papel e celulose. No caso específico da indústria da mineração, o questionário baseia-se nos já mencionados Indicadores Ethos, cujas questões foram aprofundadas. O Instituto Ethos (2003) traz em seu questionário setorial para a mineração as seguintes perguntas para a auto-avaliação: As avaliações do Ethos, através de seu questionário, denotam a preocupação que devem ter as empresas da indústria da mineração. Consumo de água, fechamento de minas e jazidas, poluição, relacionamento com as comunidades de vizinhança, enfim, a mineração de um passado distante permitia que estas questões passassem despercebidas. Hoje, certamente não. Em nossa pesquisa não encontramos referências sobre as ações da indústria da mineração no Brasil, nem dados relevantes sobre sua percepção pública. Mas em busca pelo site do Instituto Ethos, acessado em 21 de agosto de 2005, encontramos referências sobre a percepção - e preocupação – mundial desta indústria, conforme notícia abaixo: Grandes mineradoras querem limpar a imagem do setor. Cansadas de sua imagem de social e ambientalmente irresponsáveis, grandes mineradoras do mundo inteiro estão tomando medidas para melhorar a reputação do setor antes do encontro de cúpula do próximo ano sobre desenvolvimento sustentável. As empresas estão financiando o Mining, Minerals and Sustainable Development (MMSD), um projeto destinado a identificar e abordar as questões de sustentabilidade, com a assistência de grupos ambientais e outros grupos. O MMSD pretende desenvolver um código de mineração e um sistema de certificação. (Financial Times, 5 de novembro de 2001, p. 2). A preocupação mundial, numa indústria extrativista e de transformação como a da mineração encontra-se com a definição de desenvolvimento sustentável onde, em essência, a preocupação com as gerações futuras deve fazer parte das gerações atuais. 85 No início deste capítulo já havíamos falado, em síntese, o que significa uma empresa da indústria da mineração não dispor de uma boa imagem pública: perda de vantagem competitiva. E perder vantagens competitivas num cenário em que o mundo está mais consciente e atuante nas questões sociais e ambientais pode significar inclusive a extinção da empresa. Ou, em menor dano, sua aquisição por um grupo maior e mais poderoso, transnacional, já que fronteiras para esta indústria que vive de exportações, não são obstáculos. A percepção pública deve ser respeitada, já que através dela negócios podem ser feitos, ações podem obter novos marcos, novos investidores podem inserir capital, e principalmente o valor de mercado de quem a valoriza pode ser majorado. O inverso também é verdade para quem não tem cuidado com suas ações, e permitem que sua imagem ao grande público seja abalada. A BHP Billington, a maior empresa mineradora do mundo, com ativos na casa de 95 bilhões de dólares (2005), teve sua imagem atingida em seu país-sede, a Austrália, em 2002, conforme matéria abaixo: Para australianos, a Nike e a BHP são as piores cidadãs corporativas. De acordo com um estudo recente conduzido pela Taylor Nelson Sofres, os consumidores australianos classificaram a Nike e a BHP como as empresas de pior desempenho quanto à responsabilidade social corporativa. A pesquisa recebeu respostas de 1000 australianos com idades acima de 16 anos a perguntas sobre globalização, meio ambiente e responsabilidade social corporativa. David Donnelly, diretor de desenvolvimento de novos negócios da Taylor Nelson Sofres, disse que a mensagem passada através das respostas é de que as empresas não podem se dar ao luxo de ignorar suas responsabilidades sociais e éticas. E acrescenta: `As pessoas não estão simplesmente falando sobre responsabilidade social corporativa, mas pretendem punir ou recompensar as empresas com base nisso`. Os entrevistados também identificaram como fraco o desempenho da Telstra, Coles Myer e de companhias de mineração no que diz respeito ao cumprimento das responsabilidades sociais. (Corporate Social Responsibility, News and Resources, 09 de março de 2002, www.mallenbaker.net/csr) Na época a BHP não havia ainda se fundido à Billington, resultando no maior conglomerado mundial de mineração. A mineração é uma das maiores indústrias da Austrália, notável país de grandes fontes de recursos minerais. Com um nível maior de conscientização fruto da educação da população, surgiram na Austrália ONG’s e Institutos que pressionam as empresas a terem postura socialmente responsável mais marcante. Com isso, as empresas australianas estão buscando divulgar sua preocupação com a sustentabilidade com 86 a publicação de relatórios de sustentabilidade que, em 2004, representaram quase 25% das grandes empresas australianas: Aumenta número de empresas australianas que produzem relatórios de sustentabilidade. Um estudo recente encomendado pelo Departamento do Meio Ambiente da Austrália revelou que de 509 empresas nacionais analisadas, 116 divulgaram relatórios públicos de sustentabilidade - total superior ao de 57 empresas em 2003. Feito pelas consultorias KPMG Australia e Deni Green, e pela ONG Center for Australian Ethical Research, o estudo define relatórios de sustentabilidade como ?relatórios empresariais nãofinanceiros?, o que incluiria os chamados "triple bottom line", relatórios ambientais, econômicos e sociais. Segundo o Australian Financial Review, o setor manufatureiro teve o maior número de relatórios de sustentabilidade (35%), seguido do setor de mineração, que produziu 17% deles. No total, 25% dos relatórios de sustentabilidade foram verificados por partes independentes. Para as empresas, o principal motor da divulgação de tais relatórios teria sido o desejo de melhorar a reputação. (Fonte: Australian Financial Review, 14 de julho de 2004, http://www.afr.com)/ Melhorar a reputação: nisto que a indústria mineradora mundial tem se preocupado. Mas não basta apenas seguir a lei, afirmar que se preocupa com o desenvolvimento sustentável. As empresas estão sendo cobradas cada vez mais a assumir seu papel de transformador do meio em que estão inseridas, e a participar de programas de desenvolvimento de países. Na Tanzânia, em 2002, o presidente Mkapa apelou às empresas mineradoras a investirem em comunidades locais em que estão inseridas. Durante a inauguração de uma mina de ouro, Benjamin Mkapa falou sobre responsabilidade social empresarial especialmente no setor de mineração, dizendo que as empresas deste setor podem desempenhar papel ativo na ajuda a comunidades locais. Os comentários de Mkapa referem-se aos efeitos em longo prazo que empresas mineradoras podem ter sobre comunidades vizinhas. O presidente citou a empresa Afrika Mashariki como exemplo de responsabilidade social empresarial e serviço à comunidade. Pediu também o apoio das empresas mineradoras na educação e saúde comunitárias, assim como no desenvolvimento de habilidades e criação de novas frentes de trabalho. Mkapa acrescentou que as empresas mineradoras podem ajudar cidadãos locais escolhendo pessoas nascidas na Tanzânia para posições superiores dentro das empresas. A indústria da mineração, como toda indústria extrativista, é transformadora do meio. Suas ações sempre implicam em transformar o meio e seu impacto é 87 naturalmente percebido pela atividade extrativista. Percebe-se que a sociedade mundial compreende sua natureza transformista, e exige dela contrapartidas que se minimizem suas ações e seus impactos. 5.1.2 A Cia Vale do Rio Doce: história A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) é a maior empresa de mineração diversificada das Américas. Presente em 13 estados brasileiros e em cinco continentes, opera mais de 9 mil quilômetros de malha ferroviária e oito terminais portuários próprios. Líder mundial no mercado de minério de ferro e pelotas, a CVRD é a segunda maior produtora integrada de manganês e ferroligas, além de maior prestadora de serviços de logística do Brasil. Maior exportadora global de minério de ferro e pelotas comercializa seus produtos para indústrias siderúrgicas do mundo inteiro. No Brasil, o produto é explorado em três sistemas integrados, cada formado por mina, ferrovia, usina de pelotização e terminal marítimo. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi criada pelo Governo Federal em 1º de junho de 1942 e privatizada em sete de maio de 1997, quando o Consórcio Brasil, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), venceu o leilão realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, adquirindo 41,73% das ações ordinárias do Governo Federal por US$ 3,338 bilhões. Ao longo de sua história, a Vale expandiu sua atuação do Sudeste para as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte do Brasil, diversificando o portfólio de produtos minerais e consolidando a prestação de serviços logísticos. Atualmente, a Vale realiza pesquisas em diversos estados brasileiros e em países das Américas, da Ásia e da África. O desenvolvimento de um amplo programa de pesquisas minerais tem por objetivo buscar oportunidades de qualidade e que estejam em sintonia com a estratégia de crescimento da Vale, garantindo novas reservas minerais para o futuro. A história da CVRD, que embora tenha pouco mais de sessenta anos, se mescla com a história da Estrada de Ferro Vitória Minas, centenária, cuja atividade essencial é o transporte de minério de ferro produzido pela CVRD. 88 Abaixo um breve histórico da trajetória da CVRD e das empresas que a originaram: 1900/1940: • Fundação da Companhia Estrada de Ferro Vitória a Minas (CEFVM), inaugurada oficialmente em 13/05/1904, no trecho entre as estações Cariacica e Alfredo Maia. • Criação da Brazilian Hematite Syndicate, de capital britânico. - A empresa compra a maioria das ações da CEFVM e sela a união entre os dois grupos, para explorar as reservas de minério de ferro de Minas Gerais. • Brazilian Hematite Syndicate transforma-se na Itabira Iron Ore Company, controlada pelo empresário Percival Farquhar. • Percival Farquhar associa-se a empresários brasileiros e transforma a Itabira Iron Ore em duas empresas nacionais: a Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia e a Companhia Itabira de Mineração. 1941 adiante: • Em 1° de junho, em decorrência dos Acordos de Washington, Getúlio Vargas assina o decreto-lei nº 4.352 e cria a Companhia Vale do Rio Doce. - A nova companhia, uma sociedade anônima de economia mista, encampa as empresas de Farquhar e a Estrada de Ferro Vitória a Minas. • Em 11 de janeiro, reúne-se a Assembléia de constituição definitiva da Vale, que aprova os estatutos da empresa fixando a sede administrativa em Itabira (MG) e o domicílio jurídico no Rio de Janeiro (RJ). Israel Pinheiro é nomeado o primeiro presidente da empresa. • O Governo brasileiro assume o controle definitivo do sistema operacional da Vale; • Vale revê suas práticas comerciais no exterior e passa a fazer contatos diretos com as siderúrgicas, sem a intermediação dos traders. • Vale compra a Reserva Florestal de Linhares, do Governo do Espírito Santo, com área de 23 mil hectares. • Acordo torna a Vale sócia majoritária do empreendimento de Carajás (PA), junto com a US Steel Co. 89 • Vale se torna a maior exportadora de minério de ferro do mundo, detentora de 16% do mercado transoceânico do minério. • Pela primeira vez, a Vale lança debêntures no mercado internacional, no valor de 70 milhões de marcos, com intermediação do Dresdner Bank. • Governo Federal aprova o Projeto Ferro Carajás e dá o aval financeiro. - Vale incorpora a Amazônia Mineração (Amza), criando a Superintendência de Implantação do Projeto Ferro Carajás (Sumip). - Constituição do Conselho Técnico de Ecologia (Geamam), composto por cientistas das universidades brasileiras. Nestes relatos destas décadas (incluídos os períodos anteriores a fundação da CVRD) de atividades não foram observados nos documentos divulgados pela CVRD, na internet, históricos que debatessem a responsabilidade social, embora já houvesse, inclusive pela própria figura de Eliezer Batista, chairman da CVRD por muitos anos, a preocupação com o meio ambiente. Assim afirma Lemos (2003). O autor cita que em 1992, Stephan Schmidheiny, presidente do conselho empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (Business Council for Sustainable Development – BCDS), do qual participavam cerca de 50 mega empresários de todo o mundo (entre eles Eliezer Batista, então da Cia Vale do Rio Doce, e Erling Lorentzen, da Aracruz Celulose) apresentou à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, seu relatório “Mudando o Rumo” (Changing Course), lançando o conceito de “ecoeficiência” como imperativo para as empresas modernas. A participação no referido relatório não foi mencionada na página da internet da CVRD. Mas pode mostrar parte de sua preocupação, ao menos declarada publicamente, sobre o desenvolvimento sustentável. E como não se desprende desenvolvimento sustentável de responsabilidade social corporativa, julgamos interessante lembrar do episódio. A CVRD possui um braço social, denominado de Fundação Vale do Rio Doce (FVRD). A FVRD é a patrocinadora dos projetos sociais da CVRD, entre eles o Cidade Vale Mais, objeto deste estudo de caso. 90 5.1.3 A Fundação Vale do Rio Doce A Fundação Vale do Rio Doce atua em parceria com o poder público, entidades da sociedade civil, empresas privadas e lideranças comunitárias, objetivando encontrar soluções eficientes para as demandas sociais. Confira os projetos desenvolvidos pela FVRD: - Animação - Canal Futura - Cidade Vale Mais - Educação nos trilhos - Educação para a saúde Afetivo-Sexual (Peas-Vale) - Escola que Vale - Museu Vale do Rio Doce - Vale Alfabetizar - Vale Informática / CDI - Vale Música - Voluntários Vale - Tecendo o Saber - Outros Projetos O estudo de caso em questão, conforme já declarado, é o Cidade Vale Mais, em implantação na Cidade de Cariacica, no Espírito Santo. Este projeto já teve sua versão inicial realizada na cidade de Itaqui-Bacanga, no Estado do Maranhão, cuja denominação é Itaqui-Bacanga Vale Mais. Segundo a Fundação Vale do Rio Doce (FVRD), em acesso ao seu site em 07/09/2005, o programa Cidade Vale Mais: Busca promover o desenvolvimento econômico e social de comunidades, visando a melhoria da qualidade de vida da sociedade local. A gestão do programa é compartilhada entre a iniciativa privada, o poder público, e a sociedade civil, que participa na criação do desenvolvimento local, construindo metas e definindo ações para a qualidade de vida das comunidades. 91 O programa está sendo realizado na região de Itaqui-Bacanga, em São Luís, cujo foco é a educação para limpeza urbana e a geração de emprego e renda; e no município de Cariacica, no Espírito Santo, onde o objetivo é promover o desenvolvimento sustentável através da criação de mecanismos de gestão pública compartilhada e implementação do plano estratégico urbano.” Abaixo uma breve descrição do primeiro projeto do Cidade Vale Mais: • Itaqui-Bacanga Vale Mais O projeto tem por objetivo apoiar o sistema de limpeza urbana nas comunidades de Itaqui-Bacanga em São Luís (MA) visando aos seguintes resultados: Minimização dos impactos sócio-ambientais decorrentes da geração de resíduos sólidos urbanos; Conscientização e mudança de hábito dos habitantes quanto aos problemas ambientais causados pelo lixo por meio de práticas responsáveis de manutenção da limpeza nos espaços públicos; Geração de trabalho e renda por meio da promoção e ampliação do mercado de produtos reciclados. As lideranças locais tornam-se agentes mobilizadores das comunidades e são responsáveis pelos processos de conscientização, educação e fiscalização do sistema de limpeza urbana, atuando em parceria com o poder público. As ações contemplam as cinco microrregiões de Itaqui-Bacanga, uma das regiões mais populosas de São Luís. São elas: Vila Bacanga, Vila Embratel, Vila Ariri, Anjo da Guarda e Vila Maranhão, cuja população total estimada é de 200 mil habitantes. 5.1.4 Projeto Cidade Vale Mais: Cariacica Vale Mais O Cariacica Vale Mais tem por objetivo a formulação de um plano estratégico para a cidade de Cariacica (ES) por meio da identificação das vocações e das estratégias de desenvolvimento local e da definição das áreas prioritárias para investimentos públicos e privados. 92 Contempla também a formulação de ações de revitalização junto à região de Porto Velho e o planejamento de ações de modernização da gestão administrativa da Prefeitura Municipal, realizado com a participação de diversos setores de sua administração. A realização dos objetivos do projeto, com a conseqüente transformação da realidade urbana municipal, contribui para a melhoria da qualidade de vida de cerca de 320 mil habitantes da região. Segundo Luciano Pereira Medeiros, gerente de projetos da Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) afirma que o projeto Cidade Vale Mais começou em 2002, em Itaqui-Bacanga, no Maranhão, como conseqüência dos projetos sociais em educação desenvolvidos pela FVRD e particularmente do Projeto de Educação para a Limpeza Urbana na região citada, em contrapartida social da CVRD por conta da implantação da Usina de Pelotização em São Luiz. O processo de educação se iniciou em 2002 envolvendo pessoas com a limpeza urbana, um serviço público ineficiente na região e evoluiu para um processo de melhoria da qualidade de vida da população local. Como o processo era participativo e envolvendo o poder público, a comunidade e a iniciativa privada, logo se concluiu, segundo visão da FVRD, que ele poderia ter uma formatação que atendesse aos interesses de cada comunidade em que a CVRD de decidisse por apoiar, gerando políticas públicas e compromissos locais permanentes. Este é o modelo que se aplica a Cariacica, que segundo a FVRD está em vias de auto-sustentação. Metodologia do Programa: O Programa (ou projeto) Cidade Vale Mais se baseou em três vertentes para impulsionar o desenvolvimento das cidades que por ele são atendidas, a saber: a) Desenvolvimento Sustentável: segundo o escopo do projeto, o Desenvolvimento Sustentável é um modelo norteador das políticas que visam a transformação de territórios e comunidades, cujo principal desafio é garantir a distribuição dos benefícios advindos dos modelos de crescimento adotados e a sustentação dos recursos sociais, econômicos e ambientais mobilizados em tempos longínquos. 93 b) Planejamento Estratégico: afirmam os dados do projeto que o objetivo do planejamento estratégico é conceber, de forma participativa, um futuro desejável para o município que resulte de um novo pacto entre os atores envolvidos. c) Estrutura de Gestão Pública Compartilhada: legítima, eficaz e democrática, estas devem ser as metas para a garantia da participação e envolvimento progressivo dos atores e instituições locais na deliberação e definição de estratégias e políticas de desenvolvimento. Definidos os parâmetros de norteamento do projeto, a etapa seguinte é a delegação e atribuição de responsabilidades. A Fundação Vale do Rio Doce, através da Agência 21 definiu as responsabilidades para cada ator, a saber: a) Sociedade Civil: Participar da criação e da implantação de estratégias de desenvolvimento local, por intermédio da construção de metas e ações de curto, médio e longo prazo, que garantam a melhoria da qualidade de vida para a população; b) Cidade: Identificar as vocações, os pontos fortes e fracos, os riscos e as oportunidades, definindo estratégias de desenvolvimento econômico, social, urbano, e as áreas prioritárias a serem focadas pelos investimentos públicos, institucionais e privados, contribuindo para ao fortalecimento e desenvolvimento local; c) Poder Público: Construir indicadores de referência de eficiência e modernização da Administração Pública, bem como integrar e facilitar diferentes setores administrativos em projetos comuns para a cidade; d) Iniciativa Privada: Participar da criação de estratégias de desenvolvimento que valorizem e alavanquem as atividades econômicas locais. O intuito do projeto de Planejamento Estratégico é criar mobilização e educar a participar dos atores de uma comunidade. Especificamente no caso de Cariacica Vale Mais, o planejamento estratégico é uma das duas fases de implantação, complementada pela segunda fase, propriamente dita de dinamização de plano. O Planejamento Estratégico é dividido em quatro fases, a saber: 94 a) Organização do trabalho: identificação e mobilização dos atores estratégicos locais. Cadastramento de atores e instituições e formação de redes de mobilização. Criação de grupos de trabalho e roteiro de trabalho com as tarefas de cada um; b) Conhecimento Estratégico: Levantamento e diagnóstico da realidade local relacionando pontos fortes e fracos da região. Mobilização dos grupos de trabalho e disseminação do plano; c) Visão de Futuro: Definição de cenários e elaboração de estratégias para as áreas temáticas do plano. Estabelecimento de um pacto entre os atores em torno de um futuro comum; d) Plano de Ação: Desenvolvimento do Plano de Ação, de acordo com os temas principais, definindo atribuições, responsabilidades e projetos estruturantes. Compromisso e mobilização de atores para sua implantação; A Dinamização do Plano está divida em dois planos, a saber: e) Operacionalização da Gestão Compartilhada: Institucionalização do modelo de gestão pública compartilhada. Compromisso dos stakeholders em suster o programa; f) Dinamização das Ações: Detalhamento e consolidação do mapa de projetos. Fomento à implantação dos projetos através da gestão de informação, articulação e integração. Garantir a eficácia do processo na implantação das ações; As ações desenvolvidas no planejamento estratégico se enquadrarão no contexto do Fórum de Desenvolvimento Sustentável cuja estrutura será redefinida progressivamente ao longo de cada etapa. Assim concebido, o processo de gestão compartilhada – uma das bases do Programa Cidade Vale Mais – tem como finalidade implantar um espaço de interlocução que: • Garanta e fomente o diálogo social permanente entre os atores das redes institucionais locais; • Contribua para criar uma estrutura institucional permanente e sustentável; A metodologia explicitada nestes itens é a atualmente aplicada pela Agência 21 nos projetos por ela desenvolvidos para a Cia Vale do Rio Doce. Existem 95 variáveis não significativas determinadas em função do grau de desenvolvimento e envolvimento das redes e dos stakeholders, respectivamente. Estes dados foram retirados – com adaptações – do folder Cidade Vale Mais – Plano de Desenvolvimento Sustentável, editado pela Agência 21. Uma vez que o Cariacica Vale Mais trata do desenvolvimento sócioeconômico desta cidade, e, em análise ao material disponibilizado pela própria Agencia 21, nos chamou atenção o caderno três, Definindo Ações e Metas: a visão de futuro compartilhada como base para a elaboração do plano de ação. Neste caderno estão elencados diversos itens, que denotam as opiniões colhidas à época do trabalho de campo feito pela Agencia 21, sobre os seguintes temas, relacionados ao desenvolvimento sustentável: desenvolvimento social, desenvolvimento econômico e desenvolvimento ambiental e governança social, qualificação compartilhada – esta referente ao sistema público. Especificamente no tocante ao desenvolvimento profissional descreveu a Agencia 21 que um dos entraves apontados pela comunidade é a ausência de mão-de-obra qualificada, com não aproveitamento dos recursos humanos existentes. Percebe-se um paradoxo, pois se cita a existência de centros de capacitação e qualificação profissional no município. Neste aspecto, a própria comunidade sugere que sejam criados outros novos centros de capacitação, com foco nos jovens e idosos, e destinação de ações voltadas a qualificação profissional, além da criação, também, de outros programas possíveis com recursos. Sobre a qualificação profissional e sua relação com este estudo de caso, emitiremos opiniões no capítulo cinco – conclusão. Resultados Esperados do Programa: Por sua natureza inovadora na região, o Programa Cariacica Vale mais despertou em alguns stakeholders – principalmente os agentes públicos - esperança quanto ao futuro do Programa e suas conseqüências ao desenvolvimento de Cariacica. Os executores do plano – a Agencia 21 - e elementos do alto comando local da Cia Vale do Rio Doce também expressaram otimismo na execução do plano, o que pode ser comprovado pela entrevistas abaixo reproduzidas: 96 A melhoria da qualidade de vida dos 320 mil habitantes de Cariacica está na essência do planejamento estratégico realizado. De acordo com o coordenador de Relações Institucionais da Vale, Luiz Soresini, o Cariacica Vale Mais inaugura uma nova fase na política de apoio social da empresa, que passa de ações pontuais, de varejo, para a realização de projetos mais abrangentes. A Vale é hoje uma empresa que tem negócios em catorze Estados da União e suas ações repercutem diretamente em 500 municípios. Nossa responsabilidade é muito grande. Temos que considerar princípios como cidadania e democracia. Não podemos, de forma alguma, fazer uso utópico das ações sociais. É preciso avançar e isso é o que propomos em Cariacica”, destacou. Conforme Soresini, o Cariacica Vale Mais resulta de um programa da empresa denominado Cidade Vale Mais, que busca promover o planejamento estratégico de cidades e implantar ações efetivas para a melhoria da qualidade de vida urbana. Segundo o coordenador, a importância do Cariacica Vale Mais está no foco do programa, tirado das experiências dos moradores que, com o auxílio de especialistas, propuseram ações de curto, médio e longo prazos nas áreas de desenvolvimento econômico, social, ambiental e de administração pública. O que considero fundamental é que as experiências dos moradores enriqueceram o debate. O Cariacica Vale Mais está enraizado porque a vontade da população foi respeitada em todas as fases do processo. A Vale acredita no município de Cariacica. Prova disso é que a empresa vai doar 250 mil metros quadrados em lotes, no valor de R$ 2,5 milhões, para construção de equipamentos de utilidade pública. No futuro, a comunidade vai ajudar a preservar o que foi considerado prioridade por ela”, contou Soresini. (Luiz Soresini, Coordenador de Relações Institucionais da CVRD no ES. 21 de janeiro de 2004.) O poder público emitiu também seu parecer, acerca do projeto: A iniciativa da Vale é um marco para Cariacica que, no alto dos seus 114 anos de emancipação política, nunca planejou as ações. Nos últimos dezesseis anos, o município conheceu dezessete prefeitos e tudo ocorreu ao sabor da sorte. Quando a Vale acenou com a possibilidade de nos ajudar, percebi que tínhamos a chance de começar do zero. É importante perceber que temos vocações para atração de investimentos e, principalmente, que damos valor ao dinheiro público oriundo de impostos”, frisou o prefeito. Conforme Aloízio, grande parte dos problemas enfrentados hoje pelo município é conseqüência de administrações que não se estruturaram nem aplicaram os recursos com base em planejamento estratégico. “Este programa não vai atender ao anseio do prefeito ou da Vale, mas do próprio cidadão, que esteve presente manifestando aquilo em que ele acreditou ser o melhor para a cidade. Este é apenas um dos motivos que me levou a apoiar incondicionalmente tudo o que foi decidido ao longo deste último ano de planejamento. Dessa forma, as ações em 2004 seguirão à risca o que foi planejado”, declarou Aloízio. Para a secretária de Planejamento Terezinha de Jesus Lemos, o Cariacica Vale Mais tem tudo para dar certo porque agregou conhecimento técnico à experiência vivenciada pela população no seu dia-a-dia. “Como houve empenho de 97 todas as partes envolvidas no programa, não vejo qualquer possibilidade de tamanho esforço ser esquecido numa gaveta”, observou a secretária. Planejar estrategicamente, garantindo o desenvolvimento socioeconômico à coletividade, é ter visão de futuro. O ato de planejar requer dinamismo e atenção constante aos desafios do presente e um olhar em direção aos próximos anos. Um bom planejamento demanda o envolvimento e a contribuição de todos os capixabas de bem, que trabalham com dedicação e acreditam nas potencialidades do Espírito Santo. Um planejamento estratégico bem elaborado, com participação da população, é seguramente a mais importante colaboração de um cidadão comprometido com as gerações futuras. O documento – definindo e sintetizando prioridades, valores, projetos, objetivos e estratégias de ação para o município de Cariacica – não deve ser visto como uma obra acabada. Um plano estratégico é apenas o começo, a base de lançamento, o mapa da caminhada. O processo de sua utilização preconiza e demanda ajustes de rumo e novas parcerias, construindo efetivamente uma ponte sólida para um futuro de cidadania plena a todos. (Governador do Estado, Paulo Hartung). Houve declarações de outros líderes políticos do Espírito Santo acerca do Programa, que deixamos apenas citados, mas que não reproduziremos para não alongar o trabalho. Em todas, as percepções dos políticos locais ao projeto foram as melhores, já que as perspectivas provenientes deste programa têm reflexos indiretos na aprovação da administração dos políticos que o apoiaram. 5.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS E DO ESTUDO DE CASO Os elementos do estudo de caso: análises Revendo o referencial teórico e os dados então obtidos com o estudo de caso, tentaremos elencar algumas ligações entre eles. Relembramos Kraemer (2003) e suas observações sobre a responsabilidade social, onde afirma que a responsabilidade social deixou de ser opção para as empresas. É uma questão de estratégia, visão e até sobrevivência. O programa visa atender a comunidade de Cariacica, que no passado tinha da Cia Vale do Rio Doce instalações e geração de renda e riqueza, com suas oficinas e terminais na Região. A CVRD, por sua necessidade, deslocou-se para 98 Vitória e deixou grandes vazios na localidade, também atingidos pelo esvaziamento econômico que suas atividades traziam. Entendendo, conforme dito nos textos anteriores, que esta lacuna precisa ser preenchida, a CVRD buscou pelo programa, baseado em programas de autodesenvolvimento de comunidades como o LED/DLIS, em essência, trazer desenvolvimento à região de Cariacica sendo a aglutinadora de propostas de ações de auto-desenvolvimento, que forneçam a comunidade o crescimento menos dependente de suas ações industriais (ações da CVRD). Em períodos em que as pessoas e empresas adquirem mais acesso às informações, ações de bom cunho são facilmente divulgadas e conhecidas, e tendem a projetar melhores imagens de quem às executa. Estas ações têm, como principio, a abordagem da ética nas relações comunidade x empresa. Em continuidade, relembrando Melo e Neto (2001), lembramos os tipos de abordagem que definem a conduta ética: a de caráter utilitário, a baseada nos direitos individuais e a baseada na justiça. Como ações de investimento social, grosso modo, são versadas em incentivos, e não em determinações do judiciário, entendemos que última abordagem do caráter anterior não se refira ao estudo de caso. Sobre este aspecto, utilizando-se da premissa ética que o projeto busca e segue e das premissas lembradas por Melo neto (2001), a que entendemos que mais se aplica a este estudo de caso é a abordagem ética baseada no caráter utilitário. Com esta abordagem, ética e responsabilidade social passam a ser elementos de ação e contatos com a sociedade, buscando desenvolver ligações em que o coletivo seja atendido. Assim, em relação aos conceitos existentes sobre responsabilidade social, e sobre as metas e desejos inerentes ao Programa Cidade Vale Mais, e por conseguinte nas possíveis avaliações de programas semelhantes, a descrição conceitual que mais se aproxima de suas ações é a descrita pelo WBCSD – World Business Council Sustainable Development: desenvolvimento sustentável (ou responsabilidade social) é o comprometimento permanente das empresas em ter um comportamento ético e contribuir para a o desenvolvimento econômico, ao mesmo 99 tempo em que promove a melhoria da qualidade de vida, da força do trabalho e de suas famílias. A essência desta afirmação do WBCSD é praticada por grandes empresas no mundo, e através do Programa Cariacica Vale Mais, em análise dentro dos nossos limites de pesquisa, ele é pertinente. Sobre a sistematização, observamos diversas percepções que julgamos se enquadrarem ao curso de programas de auto-desenvolvimento de comunidades, como o Programa Cariacica Vale Mais. Começamos lembrando Locke e Cheibub (2002), citados por Cortegiano (2003) em que há divisão das ações sociais fundamentadas nos objetivos da empresa, de ações de intensidade maior que os interesses da empresas, ou aquelas em que as empresas primam inicialmente pelos seus objetivos. Continuando, descrevem os autores que são três as ações denominadas: a) Produtivismo: ausência de responsabilidade social. Ações fundamentadas nos dispositivos legais, com maximização de seus objetivos produtivos; b) Progressista: interesses corporativos, com definição de potenciais beneficiários, com busca de vantagem competitiva e valorização de sua imagem; c) Filantropia: o lucro não é o foco. Interesses imediatistas das empresas não são buscados quando estas empresas adotam tais posturas. Como as definições da sistematização de responsabilidade social eventualmente se complementam, buscamos no referencial teórico outros autores e suas idiossincrasias sobre a forma de sistematização da RSC. Assim, neste estudo de caso nossas observações sobre a sistematização, especificamente do Programa Cariacica Vale Mais estão enquadradas no item c do descrito por Locke e Cheibub, uma vez que não foram observadas ações em que os interesses econômicas da Cia Vale do Rio Doce estivessem presentes, em condições sine quanon para a realização do projeto. Pelo contrário, a empresa em análise de depoimentos inseridos neste estudo de caso faz doações de áreas anteriormente utilizadas, o que requer abertura de patrimônio. E os resultados obtidos pelo projeto não implicam em retorno financeiro à patrocinadora. Duarte e Dias (1996), citados por Cortegiano (2003) falam dimensão política da responsabilidade social, em função da impossibilidade de isolar o interesse público do privado. Lembrando as ações previstas no LED, que versavam sobre 100 fechamento de minas, particularizando no histórico de atuações que fizeram a cidade de Cariacica perder renda e trabalho com o esvaziamento das atividades da CVRD no local, aqui se mostram bem os entraves de se separar o interesse público do privado: de um lado, a imagem da Vale do Rio Doce em manter galpões fechados sem gerar riquezas no local e a preocupação de que estas áreas pudessem ser utilizadas para o interesse público. Por fim, na sistematização do Cariacica Vale Mais, recorremos Melo Neto e Froes (2001) em suas considerações sobre a responsabilidade social, em que esta pode ser de caráter interno (voltada aos empregados) e externo (voltada à comunidade de entorno). Os autores explicitam que a de caráter externo tem foco das ações no público externo, áreas de atuação em programas ambientais e sociais, instrumentos de ação utilizados podem ser as doações, programa sociais, voluntariado empresarial e projetos sociais. O retorno, terminam os autores, é o retorno social, com valorização da imagem e conseqüente geração de valor à empresa. As ações do Cariacica Vale Mais se enquadram também aqui: o projeto descreve trajetória de ação social, através do planejamento estratégico da comunidade atendida e é uma oferta, uma doação de um projeto à Cidade. Entre as diversas ferramentas de estudo, como o GRI, os Indicadores Ethos, etc., não nos foi apresentada àquelas que oficialmente são seguidas pela Fundação Vale do Rio Doce, e nem em estudos de literatura sobre o DLIS ou o LED, também recebemos informações sobre citações a estes elementos. Igualmente, entendemos que utilizar ferramentas para avaliar sem haver um estudo ou resultados consolidados por parte deste estudo sem levar em conta as próprias percepções da Companhia poderiam denotar intromissão em sua gestão. Então, admitindo apenas o caráter elucidativo, e lembrando das seguintes premissas; a) SA 8000: trata efetivamente de relações trabalhistas, o que não é o foco do nosso estudo de caso; b) AA 1000: foco na contabilidade e relato social ético, lembrando que não também não é nosso foco de estudo; c) GRI: relatórios tripple botton line, comparáveis entre as empresas; entretanto não nos foi apresentado o relatório, e não foi informado se a Cia, até o presente momento, era signatária deste relatório; 101 d) Instituto Ethos: apresenta em seu relatório, explicitamente, referencias às comunidades, a saber: Comunidades: A comunidade em que a empresa está inserida fornece-lhe infra-estrutura e o capital social representado por seus empregados e parceiros, contribuindo decisivamente para a viabilização de seus negócios. O investimento pela empresa em ações que tragam benefícios para a comunidade é uma contrapartida justa, além de reverter em ganhos para o ambiente interno e na percepção que os clientes têm da própria empresa. O respeito aos costumes e culturas locais e o empenho na educação e na disseminação de valores sociais devem fazer parte de uma política de envolvimento comunitário da empresa, resultado da compreensão de seu papel de agente de melhorias sociais. Estas ações, segundo o Instituto Ethos (2003) podem ser vistas observando os seguintes subitens: a) Gerenciamento do Impacto da Empresa nas Comunidades de Entorno: em relação ao projeto especificamente, este gerenciamento se traduz em parte na preocupação com o local e suas entidades, através do planejamento estratégico envolvido; b) Relação com as organizações locais: pela essência do próprio projeto, buscar as comunidades, ouvi-las para que em consenso definam suas prioridades é a tradução deste item; c) Financiamento da ação social: em parte, e vislumbrando-se apenas o escopo do projeto, também houve ligação deste item com o Cariacica Vale Mais; d) Relação da empresa com a Ação Social; aqui seria o ponto mais frágil do processo, pois o programa não prevê interdições diretas da Cia, à exceção da doação de imóveis, que podem ser insuficientes em comunidades tão desassitidas como Cariacica. A observação destas ferramentas pode nortear as ações de outros projetos semelhantes, na busca de padronização e foco. E em específico ao Programa 102 Cariacica Vale Mais, pode também auxiliar a seus gestores a conduzi-lo em observância a itens que podem denotar até melhores práticas. Como sugestão à Patrocinadora do Programa, a inscrição no Institutos Ethos e a avaliação através de seus indicadores podem ajudá-la a conduzir suas ações de Responsabilidade Social. 5.2.1 Notabilidade da Responsabilidade Social Corporativa e do Projeto Cariacica Vale Mais As respostas seguiram a mesma vertente: todos os entrevistados, indistintamente sendo suas origens ou níveis de conhecimento, foram unânimes em suas percepções sobre o benefício e a importância da responsabilidade social. Quando se discutiu a questão do Programa Cariacica Vale Mais (pergunta dois) evidenciou-se a necessidade de um planejamento estratégico organizado para a cidade, dado a desorganização por que passou durante anos. As percepções sobre a necessidade e utilidade do planejamento estratégico foram mais convergentes nesta questão. Isto se faz em função da grande carência de planejamento que de certa forma, aliada aos vetores de políticas mal feitas com visões não estadistas, imputaram à cidade prejuízos em seu crescimento. A cidade, conforme os próprios estudos do Projeto Cariacica Vale Mais, passou por décadas sem um político, por exemplo, que terminasse seu mandato. Outras perdas políticas e sociais foram percebidas, sem que houvesse planejamento para o “day after” destas ações. Pela pesquisa, percebeu-se que a população sente falta de um norteador de suas ações, que efetivamente intente a promover desenvolvimento, especialmente o sustentável. O conjunto destas perguntas teve, em sintonia com nossas premissas de estudo, boas percepções em relação ao que se propôs no Programa Cariacica Vale Mais. Na verdade, não esperávamos outro resultado: as condições de desenvolvimento desta cidade, em que se envolvem perda de qualidade de vida, de renda, de perspectiva da própria vida podem encontrar num plano, por mais que ele ainda seja incipiente em algum momento, boas condições de retomada. E isto se 103 explicitou na pesquisa, em diversos níveis de entusiasmo, mas sempre de maneira positiva. Espera-se bom resultado e estima-se que a responsabilidade social pode auxiliar no desenvolvimento da cidade. Acho excelente, é muito importante termos uma visão do que buscar para o nosso futuro para podermos encaminhar da melhor forma possível o nosso planejamento operacional. A tradição administrativa de “apagar incêndios” muito utilizada, nas prefeituras, por falta de verbas, de tempo ou de planejamento gera mais problemas e cria um ciclo vicioso onde todas as ações são emergenciais, atrapalhando o desenvolvimento sustentável das ações do Estado”. (Entrevistado da Pesquisa de Campo, em reposta à pergunta dois. Esta visão de “auxílio” quase que exigido, implorado, pela comunidade é chancelado pela falta de perspectiva que os governos passantes por ela deixaram. Estabilidade política ausente fez mal a Cariacica, e dela advém a pouca percepção de que o poder público possa desejar o bem, e buscá-lo. Na pesquisa, houve citações explícitas em que a capacidade de atuação do poder público fora questionada: Acho interessante desde que tratado por órgão privado sem o respaldo do poder público que ainda não tem conhecimento para aplicar tal modelo da forma correta. (Entrevistado da Pesquisa, em resposta à pergunta dois) Preocupa-nos esta percepção: uma vez que pela metodologia e pelo próprio conceito de responsabilidade social o poder público é um dos atores do processo, a descrença nas instituições pode servir de obstáculos na busca dos objetivos. O projeto, em essência, é uma doação à cidade, com gestão suprapartidária, mas de condução ou rearranjo de autoria do poder público. Descrença no tutor pode levar a atrasos significativos da percepção da importância e na condução das etapas em que se requerem participação de outros stakeholders. 5.2.2 Notoriedade do Conceito de Responsabilidade Social Corporativa e do Projeto Cariacica Vale Mais Nesta etapa a busca para se avaliar o conhecimento dos conceitos (sem pormenorizações) de RSC ou RSE e do próprio conceito do Cariacica Vale Mais foi o 104 objetivo. Especificamente sobre o planejamento estratégico, percebeu-se que o conceito não é bem difundido entre os entrevistados, sendo suas opiniões diversificadas, cujas respostas foram emitidas mais por sentimento (feeling) que por conhecimento efetivamente. Isto requer dos gestores do projeto constantes inserções públicas para que se esclareça o seu significado. A pesquisa mostrou que o público em geral não compreende que os conceitos de responsabilidade social corporativa ou empresarial tratam da mesma coisa, que é apenas diferenciado por questões de semântica. Houve casos de que a compreensão dos conceitos fosse distinta, o que nos levou a observar que inserir os dois, num questionário, trouxe um pouco de dúvida. Houve quem compreendesse que a distinção de cada se daria em relação ao público que ela atende. Entretanto, mesmo sendo bipartida, o conceito é de conhecimento de alguns entrevistados. Neste aspecto, mesmo defrontando com os problemas de compreensão por parte dos entrevistados, a pesquisa revelou que o conceito compreende, essencialmente, que a responsabilidade social trata de boas práticas das empresas, que envolvam resultados para outros atores de seu processo produtivo. A pesquisa se baseou, essencialmente, em pesquisas respondidas via e-mail, em função da distância do entrevistado e em razão da privacidade e confidencialidade dada aos entrevistados. É público e notório a grande exclusão digital existente no país, e que ela, certamente, atinge muito mais as pessoas com poucas chances de informação que as que realmente tem, reservadas as exceções. Assim, estima-se que o público da pesquisa seja formador de opinião, ou tenha maior facilidade em acessar à informação. Fizemos o comentário acima para relatar a nossa imensa surpresa: o desconhecimento do projeto por habitantes de Cariacica, alguns formadores de opinião, conforme falamos, foi observado nas perguntas 3 a 5. A pergunta três é a seguinte: “Você conhece o Projeto Cidade Vale Mais? Descreva o que sabe sobre ele.” A seguir algumas respostas obtidas pela pesquisa: • “Não conheço!” Entrevistado da pesquisa; 105 • “: Conheço muito pouco, sei apenas que é um projeto da CVRD e não da Fundação Vale do Rio Doce, ligado ao desenvolvimento das cidades onde a CVRD causa impacto. A CVRD se preocupa muito em contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem na periferia de suas instalações, pois, manter uma boa relação com a comunidade propicia tranqüilidade na realização de seus trabalhos. Sei ainda que dentro desse projeto existem iniciativas de geração de renda para famílias carentes e programações culturais que visam enriquecer as pessoas com informações educacionais, além é claro do planejamento estratégico supra mencionado.” Entrevistada da pesquisa • “Não conheço, portanto não posso descrevê-lo.” Entrevistado da pesquisa • “Apenas ouvi falar quando trabalhava na Vale do Rio Doce e não conheci melhor. Sei que é um caminho integrado e sustentável para o planejamento estratégico de territórios. Porém, esporadicamente na Grande Vitória, especialmente Cariacica, nunca conheci pessoas abrangidas por tal projeto. Não querendo julgar este projeto, mas acho que todo projeto não deve ter o cunho da demagogia, e seu reconhecimento se faz quando, por exemplo, ouve-se muito falar de comunidades/pessoas que de alguma forma receberam apoio do mesmo (melhor ainda quando encontramos, por acaso, estas comunidades/pessoas).” Entrevistado da pesquisa Respeitadas as manifestações, nossa percepção é que é indubitável que o programa tem baixa notabilidade entre a população, mesmo a que tenha opinião mais difundida e acesso aos meios de informação. Recorrendo ao capítulo dois desta dissertação, onde encontramos a sistematização, descrevem Locke e Cheibub (2002), sobre as ações progressivas da responsabilidade social: “[...] Neste caso, entende-se que a responsabilidade social torna-se instrumentos de gerenciamento, dos quais as empresas devem beneficiar-se da valorização de sua imagem [...]”. Esta é a premissa de nosso estudo também, e sobre ela falamos e falaremos no capítulo seguinte. Mas é imprescindível, quando se deseja obter resultados positivos à imagem das empresas, que haja notoriedade em suas ações, a começar pelo que elas significam. Os stakeholders necessitam conhecer as atitudes das empresas, desde seus conceitos até sua completa transição. Caso contrário, a aderência destas ações à imagem pode ser prejudicada, e sem ela, não há notabilidade dos fatos. 106 5.2.3 Expectativa em relação ao Projeto Cariacica Vale Mais Como resultado da pouca notoriedade da percepção do projeto, a expectativa de resultados de suas ações fica abalada. Numa linha de obviedade, ninguém tem expectativa do que não conhece ou mal conhece, com poucas exceções. Percebe-se que o tendão de Aquiles do projeto é sua notoriedade, sua difusão, fator que prejudica a sua compreensão. Embora esteja no nível de discussão anterior, a pergunta sete foi a seguinte: A Cia Vale do Rio Doce (CVRD), através de seu braço social, a Fundação Vale do Rio Doce (FVRD), é a patrocinadora do projeto Cariacica Vale Mais. Você pode identificar outros projetos da CVRD/FVRD? Se sim, quais. Entendo que para conhecer os projetos da Vale, assim como o projeto Vale Mais, basta acessar ao site da Vale para descobrirmos, porém não é este o caso. As informações devem vir até nós e não nós irmos atrás dela. Portanto, não podemos opinar pois não conhecemos outros projetos.(grifo nosso) Entrevistado, morador de Cariacica. É preciso que a notoriedade seja atuante, presente, para impulsionar as expectativas. Em outro momento da pesquisa, perguntou-se (pergunta dez). Quais as suas expectativas em relação ao projeto (seja a curto, médio ou longo prazo)? Algumas respostas que obtivemos: • Não há expectativa, visto ao desconhecimento geral do projeto que apesar de bem produzido e com o respaldo da CVRD, não está sendo concebido pela prefeitura de Cariacica. Entrevistado. Morador de Cariacica • Não podemos opinar, pois não temos conhecimento sobre o projeto. Entrevistado, Morador de Cariacica Houve percepções de neutralidade e de boas expectativas em relação ao projeto, que se respaldaram na necessidade de se desenvolver a cidade e na crença de que a responsabilidade social possa, de fato, agregar valores às comunidades: • A minha maior expectativa é que esse projeto ajude a organizar a administração pública de Cariacica, garantindo ainda que superficialmente uma certa continuidade nos trabalhos de cada administração, pois o planejamento é para a melhoria do município o que vincularia os políticos eleitos a cumprir com os compromissos agendados pela gestão anterior. 107 Entrevistado, morador e trabalhador em Cariacica. • Conforme respondi na questão 1 é a melhoria na qualidade de vida das comunidades abrangidas pelo mesmo, especialmente nos itens essenciais para esta melhoria direcionados às pessoas que nelas residem. Entrevistado, morador de Cidade vizinha a Cariacica. 5.3 CONSIDERAÇÕES RESUMIDAS SOBRE A PESQUISA DE CAMPO A pesquisa revelou pontos que este estudo de caso acreditava encontrar, e outros que se tornaram surpresas no decorrer da análise dos questionários, mesmo em quantidades de entrevistas bem reduzidas. A percepção da importância (notabilidade) do tema para a comunidade foi ponto que já esperávamos encontrar. Desde nossos estudos e até fundamentados pelo que aqui repetimos como idiossincrasia (opinião de autor), já esperávamos esta percepção positiva no tocante à responsabilidade social. Nossos estudos teóricos já apontavam para isto, a metodologia aplicada para a busca das necessidades para o planejamento estratégico (entenda-se, ações da FVRD através da Agencia 21) também apontavam para a urgência da população local ações que impulsionassem seu desenvolvimento. Embora comentaremos no capítulo seguinte, a notabilidade poderia ser melhor “explorada” pelo projeto se percebida de maneira mais imediata, através de ações satélites ao projeto deste estudo de caso. Nosso espanto ficou por conta da notoriedade. Observando as respostas obtidas, nos surpreendeu o pouco conhecimento de um projeto, que é compreendido como importante – os programas de auto-desenvolvimento, pelo que podem representar para uma comunidade, de fato são importantes. Os papéis dos agentes do projeto podem estar ofuscados pela falta de conhecimento das ações e de suas metas. Mais preocupante ainda é que o projeto, que conforme entendemos é de auto condução da comunidade e isto certamente envolve atores políticos, seja maculado pela baixa ou nula percepção de que estes possuem capacidade e desejo de condução daquele. Parece contraditório, mas a vinculação política, necessária à condução de projetos desta natureza, pode desvirtuar e desprestigiar o programa, o 108 que requer do patrocinador atenção e controle, já que nele estão aderidas suas imagens e reservas financeiras. Por fim, a expectativa, conforme discernimos anteriormente, descreve o misto da notabilidade e da notoriedade. Como a segunda está prejudicada pelos valores que se buscam, a expectativa também, em resultado, deve ser observada e buscada positivamente pela instituição que provem o programa. 109 6 DISCUSSÃO A Temática da Responsabilidade Social e os Projetos de Auto- Desenvolvimento de Comunidades: Mesmo que o conceito englobe outras ações, como governança corporativa, meio ambiente, segurança do trabalho, neste capitulo nosso entendimento de Responsabilidade Social é o de viés do investimento social e/ou filantrópico, pois nosso estudo de caso trata deste viés. A análise da Responsabilidade Social Corporativa ainda está longe de ser definida por conceitos e regras. O motivo é simples e claro: o que se depende de ética e idiossincrasia não pode ser medido por regras e conceitos, mesmo que universalizados. Embora pareça o obvio, é importante ratificar a função da empresa: dar lucro, dar retorno a quem nela investe. Obedecendo as regras legais, morais e éticas, a empresa não deve se desvirtuar de suas vocações naturais, sob temor de não se observada como socialmente responsável. Em grossa comparação, um carnívoro não deve temer buscar a carne. Este discurso justifica-se pela percepção contemporânea dos erros das empresas em desvincular a imagem de que o seu “social não busca retorno”, financeiro ou não. É engano pensar que esta percepção seja passada ao público, e que o retorno por este tipo de conduta seja benéfico. Em muitos casos, a percepção do mercado é curta, ou nula, e a empresa não obtém os retornos que estas ações deveriam dar a elas, principalmente em imagem. A Responsabilidade Social é um investimento necessário às gestões modernas das empresas, como previa a chamada “quarta onda”, antecedida pela qualidade, pelo meio ambiente e pela segurança do trabalho; e várias empresas, como vimos nos “cases” em capítulos anteriores, adotam esta postura. É coerente, mas ainda é incompleto. O que entendemos em nosso estudo, partido pela nossa hipótese de otimização das ações de responsabilidade social corporativa é que, como um investimento, ela deve ter retorno, se possível financeiro. Seja por valorização de ações, como as que são negociadas pelo Dow Jones Sustainable Index na NYSE (ações de empresas socialmente responsáveis, negociadas pela Bolsa de Nova Iorque, EUA), seja por diferenciais em vantagem competitiva, como 110 acesso a mão de obra melhor qualificada e de imediato acesso, fidelização de clientes formadores de opinião, ou mesmo por percepção positiva na mídia e em recalls. Quaisquer que sejam os fatores de retorno, a responsabilidade social corporativa deve buscá-los, entendendo que a ética é o princípio e limite. Num país com as características do Brasil, onde a filantropia e investimento social mostram-se necessários – tamanho os bolsões de pobreza em sua abrangente população – e culturalmente perigosa – pelo idéia latina de culto à pobreza caracterizados pela nossa formação religiosa e colonial -, a distinção sobre as ações de público e privado são miscigenadas e turvas, e distingui-las requer precisão. As empresas são cobradas socialmente por isto, e a verificação parcial é que elas têm atendido a estes apelos sociais. A questão como conduzir isto e convergir em benéficos diretos à imagem da empresa. Como num projeto de investimento “comum”, a conversão de recurso e esforços das empresas para a Responsabilidade Social também deve seguir as premissas básicas de PDCA, a saber: a) Planejamento: onde, por que, e como investir em RSC; b) Execução: conversão dos esforços e recursos e materialização do objeto planejado para a RSC; c) Checagem: avaliação dos resultados diretos – e indiretos – das ações executadas; d) Avaliar: verificar se as ações previstas, executadas e checadas atenderam as premissas; O planejamento, no tocante a Responsabilidade Social Corporativa, é a fase mais importante da aplicação dos recursos e esforços. Este planejamento não deve apenas preocupar-se em como conduzir um projeto, mas anteceder-se em saber o porquê que aquele projeto deva ser executado, e quais os retornos claros que este investimento pode dar, diretos e indiretos. Num resumo, a escolha do projeto, suas metas e toda a cadeia de retornos diretos e indiretos devem ser lembradas no planejamento. Estas afirmações se baseiam na fase de pesquisa, onde as empresas muitas vezes, atendendo aos apelos sociais já descritos, faziam investimentos sociais sem se preocupar nos retornos e em suas ligações com o negócio das empresas. Assim, investiu-se em escolas e em reformas de hospitais e deles afirmou-se o viés “socialmente responsável”, sem compreender que este viés não se atinge apenas 111 com contribuições financeiras. Afirmam-se socialmente responsável, mas não são necessariamente assim percebidas. A execução, a checagem e a avaliação, partidas de um planejamento com adequado, não denotam diferenciais de execução em relação ao projeto tradicional. Visto que: a) A responsabilidade social é um investimento; b) Que como investimento deve dar retorno, direto ou indireto; c) E que sua implantação requer planejamento com visão de futuro e perpetuidade; Em análise ao estudo de caso e em extrapolação para o tipo de projeto estudado, as metodologias levam em conta as formas de planejamento de investimento, atuando de maneira planejada na implantação de projetos de autodesenvolvimento de comunidades, numa visão coerente ao descrito acerca nos capítulos 3 e 4 desta dissertação. Percepção de Stakeholders e o Estudo de Caso Notoriedade com fundamentação nas boas ações deve ser buscada na Responsabilidade Social. O cuidado deve ser observado quando esta notoriedade não traduz suas intenções em ações. É preciso ser e parecer socialmente responsável, as duas situações, sine quanon. O discurso deve fluir aliado à prática, deixar as paredes e quadros e entrar no cotidiano das ações corporativas. A fundamentação, que acreditamos que alguns entendam como absurda, deve-se ao fato já descrito anteriormente, sobre a função principal das empresas: dar lucro. Assim, quaisquer ações originadas das empresas devem essencialmente dar retorno às empresas, licita e eticamente. Assim observamos no case da CSN: a empresa vinha de ações difusas sobre sua necessidade de ser entendida como socialmente responsável. Tratava de diversos assuntos, e após uma releitura em seus processos e visões, passou a investir, por exemplo, no ensino profissionalizante. Com este investimento, dois problemas foram solucionados, a saber: a) Comunidade: as comunidades carentes de escolas profissionalizantes para seus cidadãos foram atendidas, onde a promoção da educação beneficia-os. 112 b) Empresa: tendo a CSN necessidade mão-de-obra para suas plantas, tiraas quando deseja destas escolas, num turn over mais rápido, que representa ganhos em competitividade. Com isso, a CSN, por exemplo, tem a seu favor duas oportunidades aferidas pela Responsabilidade preenchimento de Social vagas Corporativa: ociosas com captação mão-de-obra de talentos, adequada com às o suas necessidades; e dupla percepção pública – entenda-se, imagem -, como mecenas na criação e geradora de empregos nas comunidades de entorno. Tais ações foram até citadas por estudiosos do setor. A percepção, conforme descrevemos com a “parábola da vitamina”, se justifica: é conhecida a gama de dificuldades porque passam os moradores de Cariacica. Faltam-lhes muitas coisas, básicas, elementares, como acesso a informação adequada, histórico de poder político mais atuante e interessado nas questões efetivamente coletivas, escolas diversas, principalmente as de formação profissionalizante, emprego, renda, enfim, um retrato semelhante a muitas regiões do país. Um programa de autodesenvolvimento pautado no planejamento estratégico depende de diversos fatores, principalmente os de natureza política, e devem ser apartidários – assim afirmam os dados deste estudo de caso. As respostas a este planejamento, dependendo de sua área de atuação, são de cronologia mediana a alta, e as percepções das ações podem se perder, e não traduzirem um efetivo retorno na imagem dos seus fundamentadores. Utilizando-se de nossa premissa de que o investimento em Responsabilidade Social deve ter notoriedade e dar algum tipo de retorno, no estudo de caso em questão entendemos que, pelas particularidades da Cidade de Cariacica, o programa poderia ter, melhor, dar acesso direto a outras ações satélites, que fundamentassem as boas intenções do projeto. Um dos fatores que esta notoriedade está embutida é a percepção inicial que a comunidade, ao longo dos anos, mostrou pela empresa. Assim, projetos de auto-desenvolvimento precisam, antes de serem aplicados, atentar para a imagem que a comunidade tem da empresa, e, pelas respostas obtidas pela pesquisa do estudo de caso, podem não servir de elementos de vantagem competitiva imediatamente à sua implantação, se aplicados como única ferramenta de contato social entre a empresa e a comunidade. Outras ações, entendemos e aqui afirmamos como satélites, devem seguir paralelamente ao programas de auto-desenvolvimento. O programa utilizado neste estudo já traz resultados, segundo dados da Agencia 21 e da Fundação Vale do Rio Doce. Já está em desenvolvimento na 113 cidade um pólo moveleiro e um de confecções, que podem gerar milhares de empregos diretos e oficializar empregos informais. Estes resultados, sem dúvida, trazem ao local benefícios claros e necessários. Mas é preciso que estes benefícios sejam adesivos à imagem da empresa patrocinadora, não somente por quem está envolvido nas ações de maneira direta, mas também pela grande maioria da população. Que haja a percepção de que foram as ações da CVRD através do programa que fizeram com que o os parques industriais moveleiro e de confecção conseguissem se estruturar. E monitorar os resultados, já que a imagem deve estar aderida a eles. Melhoria da Percepção Pública à Imagem das Empresas Patrocinadoras Desejamos tentar tratar de alguns ícones observados no decorrer deste estudo. Começamos de que cada qual faz a prática da Responsabilidade Social de acordo com suas intenções. Não entendemos que esta seja a regra. Comparações são inevitáveis no estudo da Responsabilidade Social Corporativa – ou Empresarial. Isto porque o retorno esperado deve ser otimizado pelos resultados causados à imagem, ao valor de mercado, ao bom relacionamento com as comunidades e os clientes, e neste momento, a referência que as partes têm são fundamentadas em comparações. Assim, comparar, como usos de boas práticas, é fator comum no estudo da Responsabilidade Social Corporativa, e deve ser observado pelas empresas. E se as intenções não vão de encontro a estas boas práticas, correm o risco de serem postas em segundo plano. A amplitude e diferenciação da Responsabilidade Social são sim fatores que devem ser lembrados. Nunca uma comunidade, ou até mesmo uma planta de fábrica, tem a mesma percepção quando inseridos em culturas distintas, mesmo que haja a predominância de culturas semelhantes, inclusive a organizacional. E isto projetos de auto-desenvolvimento, quando aplicados em diferentes localidades, devem atentar. Cada qual reage às intervenções de acordo com suas necessidades e percepções. Assim, um mesmo projeto realizado no Nordeste do país, por exemplo, pode sofrer mudanças consideráveis e marcantes em seu desenvolvimento caso seja aplicado no Sul ou Sudeste do país, por exemplo. O retorno das ações depende do estímulo que estas causam. E muitas vezes o estímulo não ocorre porque este ou aquele não desejam, e sim simplesmente porque não possuem meios de serem estimulados, por mais simples que sejam. 114 Fazendo uma comparação simples com a Biologia, é como se um indivíduo não respondesse a ingestão de certa vitamina por não possuir em seu metabolismo um elemento que deveria ser fundamental ao atendimento do processo. Assim, dar vitaminas nem sempre funciona. Responsabilidade Social é custosa e deve ser interpretada como investimento. E como investimento deve ter retorno palpável, real, absoluto. Pode ser que não represente retorno financeiro direto, mas seus resultados devem tocar a imagem da empresa e, de lá, produzir o chamado retorno financeiro – ou vantagem competitiva. As pessoas enxergam o programa como uma boa ferramenta social. Mas não demonstram, pelo menos foi o que percebemos ao ler as respostas, que o programa, sem ações concretas, possa de fato atuar como alavanca do desenvolvimento de Cariacica, o que deve ser observados em situações e aplicações semelhantes. E estas oportunidades estão sendo tomadas por outros modais industriais, como a indústria moveleira e de confecções, sem que de fato, para o grande público, se perceba que por trás disto existem ações da Vale do Rio Doce. Grosso modo, as oportunidades de melhorias e obtenção de vantagens no programa podem estar comprometidas pela notoriedade não convergida em vantagens competitivas. Pesquisas são fotografias, e fotografias refletem conjunturas, e não estruturas. Assim, por mais que as técnicas de pesquisa e atuação tenham sido seguidas, é evidente que elas podem omitir sem dolo outras percepções, e realidades até, não disponíveis no espectro do limite do estudo de caso, e da pesquisa. Como resultado deve valorizar e reconhecer o que já fora feito até aqui. A preocupação com o desenvolvimento de comunidades de entorno é justa, balizou-se em práticas inspiradoras no mundo inteiro, em programas com lastro de responsabilidade social conforme descreveu o nosso trabalho. Mas deve buscar mais. Buscar a diferenciação, a referência pública, o respeito da sociedade, a notoriedade. Sair do ódio público à indiferença pública, seguindo o viés da RSC, não significa também quaisquer tipo de vantagem. Assim, tais programas devem atentar ao termômetro social, sempre buscando atrelar suas ações o máximo possível à interseção de seus interesses com os do público, monitorá-las e demonstrar aos Stakeholders que, sempre, o máximo está sendo feito. 115 O Estudo de Caso e o Business do Patrocinador: Acrescentamos os fundamentos de nossa premissa de que a Responsabilidade Social deve ser fundamentada no business da empresa. Sua ligação com os negócios da empresa permite que seus resultados sejam mais bem compreendidos e buscados. Há também que se lembrar que com esta ligação, a possibilidade de se obter os retornos com a Responsabilidade Social Corporativa será maior, em virtude de aproveitamento destas ações em melhorias do processo produtivo, por exemplo, ou em criação de vantagem competitiva. Assim, questão que deve ser compreendida é que a responsabilidade social empresarial, conforme definição, é aplicada por empresas; e a atividade fim da empresa é o lucro, e não o bem estar social. O bem estar social é conseqüência de atitudes e visões que buscam o bom relacionamento entre a comunidade e a empresa – e deve ser louvado, com certeza. O lucro é a causa da existência da empresa. Sem ele, é impossível pensar na empresa. Sem a empresa, impossível pensar-se em responsabilidade social empresarial. Simples, lógico e condição sine qanon . Houve estudiosos que compreendessem que a responsabilidade social empresarial deve ser manter no âmbito interno das empresas, baseado nas definições de trabalho decente e cumprimento de legislação, outros com afirmações de que a responsabilidade social não deve se basear no lucro, outros que compreendem que a responsabilidade social deve basear no limite das obrigações legais. O que entendemos como próximo do ideal – sem desprestigiar ou ignorar as ações que assim não o sejam - neste vasto espectro de idéias e conceitos que é a Responsabilidade Social Corporativa, no relacionamento com a comunidade, é que suas ações devam ser, em essência, alinhadas ao negócio da empresa, de amplitude e abrangência interna ou externa, em porção superior a de limites legais. Na ausência deste alinhamento, devem as ações seguir rumos que sejam o ponto ótimo entre o bom relacionamento com a comunidade e os interesses da empresa. Hoje observamos muitas empresas dispostas a realizar ações que culminam em filantropia ou bom relacionamento social, e buscar através de publicidade os valores intrínsecos às suas empresas na visibilidade com o mercado. Não acreditamos que este seja o caminho. Na verdade, muitos casos em que se pregam 116 valores como socialmente responsáveis a sociedade não os assim interpreta, e eles passam de filantrópicos a marqueteiros e propagandistas. Há muitos bons casos de aplicação e definição de responsabilidade social corporativa. E este que fundamenta o estudo de caso também tem seus valores e méritos, num país de oportunidades deficitárias e pouco abrangentes. Mas, como já dissemos, uma visão ótima, à luz dos rumos deste estudo de caso, deve-se pensar em utilização da RSC não somente como uma ferramenta de visibilidade, mas de fato como elemento de busca de vantagem competitiva. Em grande parte dos cases apresentados e estudados, as empresas elegeram a educação e saúde como dois de seus pilares principais no direcionamento de suas ações. A escolha é tão obvia quanto correta, diante dos quadros assustadores de colapso da saúde em algumas regiões do país, principalmente as remotas, e da necessidade em se promover a educação e nela se apostar o próprio desenvolvimento das pessoas, por conseqüência das próprias empresas. Entretanto, se não houver ligação direta entre o negócio da empresa patrocinadora e estas ações, a função real da empresa pode ser mistificada com as funções de Estado – isso não necessariamente significa qualquer tipo de vantagem, principalmente a competitiva. Recordando, novamente, Locke e Cheibub (2002), a responsabilidade social (progressista) torna-se instrumento de gerenciamento, dos quais as empresas devem beneficiar-se da valorização de sua imagem e inevitável vantagem competitiva. Por exemplo: a CVRD é grande empregadora da região metropolitana de Vitória, onde esta inserida Cariacica. Suas atividades operacionais, em maioria, são tão específicas (como maquinistas, controladores de portos e de pátios, por exemplo) que a própria empresa tem dificuldades em encontrar mão-de-obra qualificada para atender suas expansões e turn over. O mesmo problema foi observado na CSN (Cia Siderúrgica Nacional), concorrente da CVRD em algumas atividades. Num dos casos apresentados, o da Fundação CSN (ver capitulo 3), apresenta a educação como o seu pilar principal. Sem saber ao certo quais seriam os pilares de sua atuação, investiu na educação profissionalizante. Criou duas escolas próximas às suas unidades e forma jovens 117 como mão de obra às suas atividades e a de seus parceiros, no que entendemos como o agregar do que é ser útil e agradável a todos. Na elaboração do estudo para a base do projeto Cariacica Vale Mais, no caderno dois executado pela Agencia 21 (planejando o futuro, págs. 28 e 29), há a informação de entraves para o desenvolvimento econômico da cidade: em alto consenso, a baixa qualificação do trabalho local, com mão-de-obra desqualificada, política de trabalho e renda incipiente, desemprego, falta de oportunidade para os jovens e poucos treinamentos. Em encontro a realidade local sobre a formação para o trabalho de sua população e as necessidades de mão-de-obra especializada, pode ser esta uma ação, paralela ao desempenho do programa, aliando a necessidade local à necessidade corporativa. Assim, entendemos que as ações de auto-desenvolvimento de comunidades (planejamento estratégico) quando vistas por estas com ações materializadas (empregos diretos, por exemplo) podem catalizar aos patrocinadores as benesses de suas atividades, e dar ao conjunto de stakeholders bons exemplos de boa vontade, mais próximos da prática que do discurso. 118 7 CONCLUSÃO Analisando o escopo, as metodologias, as entrevistas, as percepções e principalmente os elementos do estudo de caso do Cariacica Vale Mais, patrocinado pela CVRD através da Fundação Vale do Rio Doce, vimos que a empresa propôs a algumas cidades e suas microrregiões planejamento estratégico para que, num horizonte de tempo, estes planejamentos tenham sustentabilidade e auto-condução, fazendo parte de políticas públicas das cidades agraciadas. A atitude do processo foi fundamentada em encontrar, no leito da comunidade, as respostas para suas necessidades, sem trazer soluções externas nem sempre adequadas às realidades locais de cada região. A própria sociedade, segundo Orlando Eller, assessor de imprensa da CVRD em Vitória, foi “instigada” a realizar o auto-diagnóstico de seus problemas e suas necessidades, e novamente a descobrir as soluções. Nos parágrafos e em capítulos anteriores fizemos algumas observações que julgamos ideais para o desenvolvimento, e sobre elas dissertaremos, a saber: a) Ligação com o business (negócio) da empresa; b) Obtenção de vantagem competitiva; c) Melhoria na percepção da imagem da empresa; d) Responsabilidade tratada com possibilidade de retorno – investimento-, e não como despesa; Em revisão e comparação das ações do programa Cidade Vale Mais, conforme já descritos nos capítulos anteriores, entendemos que a Fundação Vale do Rio Doce, utilizando-se do DLIS – e por analogia do LED - fez boa opção em aplicar este estudo às realidades operacionais da CVRD. O programa original proporciona às comunidades de entorno auto-desenvolvimento “principalmente após o fechamento de minas”, conforme descreve o Banco Mundial, em seu site acessado em outubro deste ano. A preocupação com as comunidades de entorno de minas é fundamentada, e já há no Brasil (vide Indicadores Ethos, no apêndice desta dissertação) indicadores setoriais da mineração preocupados com isto. Muitas comunidades se fundamentam economicamente nas minas montadas, e até novas cidades surgem em função satélite a elas. No fechamento da mina, com o fim das atividades de lavra, estas 119 comunidades, se não possuírem elementos tácitos de desenvolvimento e autonomia econômica, tendem a perder riquezas e a retroceder economicamente ao longo dos anos posteriores ao do fechamento das minas. Com isto, um programa de auto-desenvolvimento, via planejamento estratégico, pode de fato auxiliar a estas comunidades a se desenvolverem e a se tornarem mais independentes do desempenho econômico das lavras vizinhas. Embora em Cariacica não existam minas da Vale do Rio Doce e respectivamente atividade da mineração propriamente dita, sua ligação com a mesma está na logística montada para o escoamento dos minérios, retirados nos Complexos Mineradores situados no Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais (Itabira, Mariana, Ouro Preto, Catas Altas, etc.). A Estrada de Ferro Vitória a Minas faz parte do sistema Sul da CVRD, formado pelo complexo mina-ferrovia-porto. Assim, por ser Cariacica o marco inicial da ferrovia, e até num passado médio o ponto de chegada do escoamento da produção mineral desta Cia, sua relação com a atividade mineradora é pertinente. O temor informado pelo LED e pelo DLIS para o fim das atividades mineradoras em determinada região pode ser interpretado em Cariacica com a fundação do Porto de Tubarão, e com a mudança da maioria das instalações necessárias ao complexo mina-ferrovia-porto de Cariacica para Vitória, ficando este município com grandes áreas vazias que antes serviam à logística do transporte da Estrada de Ferro Vitória a Minas, atuantes em outras atividades satélites ao complexo, em escala bem reduzida, como o trafego de passageiros e de trens de carga geral, como ferro-gusa. Ou seja, a atividade mineradora continuou, mas sua linha de produção, grosso modo, rumou para outra comunidade, deixando de circular no município a economia de outrora. A metodologia do programa, excetuando suas aplicações particulares, é bem antiga e há bons exemplos de sucesso (vide apêndice desta dissertação), o que não torna o teor deste estudo de caso inédito no Brasil, sem por isso retirar seus méritos. Pensar no desenvolvimento e planejamento estratégico desta comunidade – Cariacica - é importante, principalmente quando dela se tiram atividades e se deixam prédios vazios. E nos parece lógico o link destas atitudes, fundamentadas na nossa revisão de literatura, com a responsabilidade social corporativa. A questão em voga é a percepção desta responsabilidade, e o retorno ao negócio, direto ou indireto e até mesmo a vantagem competitiva. 120 A Responsabilidade Social Corporativa - ou Empresarial - deve se entendida como elemento de gestão de empresas e dela devem-se retirar todas as possibilidades, sem medo, desde que com ética e boa fé. Ela pode sim fornecer às empresas vantagem competitiva, notoriedade, e automaticamente, conduzir à valorização de mercado, tão buscada pelas companhias. Como as ondas da qualidade, do meio ambiente e da segurança do trabalho, não será passageira. Será eterna, com ciclos e amplitude maiores, que vão requerer do CEO’s preparo e destreza. Como sugestão os possíveis e futuros novos estudos, utilizando-se o próprio programa, num espectro mais amplo, poderiam estudar seus impactos em cada sociedade e elencar os motivos para as diferenças dos resultados inter-regionais. 121 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AGENCIA 21. Cariacica Vale Mais: planejamento estratégico de Cariacica: Noções e Conceitos”. Rio de Janeiro: CVRD, 2003. ALLEDI FILHO, Cid. Ética, transparência e responsabilidade social corporativa. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão) - Universidade Federa Fluminense, Niterói, 2002. BANCO MUNDIAL - (World Bank). Local economic development & minning. Disponível em: <www.worldbank.org>. Acesso em 24/04/2005. BRUNTLAND - NOSSO FUTURO COMUM (Relatório Bruntland). 1988. Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Rio de Janeiro Editora da Fundação Getúlio Vargas. BUSINESS MEET SOCIAL DEVELOPMENT. AA 1000: Estrutura de Gestao da Responsabilidade Corporativa. Sao Paulo: BSD, 1999. 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Consulta representantes da comunidade visando conhecer suas necessidades em relação ao meio ambiente e assim entender suas prioridades? 3. Possui mecanismos para discutir regularmente com a comunidade os resultados do monitoramento ambiental e suas implicações? 4. Disponibiliza para a comunidade informações de fácil compreensão ( escrita, oral, visual ) sobre suas atividades presentes e/ou futuras ? 5. Envolve a comunidade no planejamento e desenvolvimento de suas atividades de lavra e dos esforços de recuperação da área minerada? PÚBLICO INTERNO Cuidados com a Saúde, Segurança e Condições de Trabalho A empresa: 6. Aplica e cumpre a NR22 relativa à mineração a céu aberto e subterrânea nos padrões aplicáveis às suas operações? 7. Realiza campanhas de reforço para a conscientização relacionada à saúde e segurança? 8. Oferece e mantém programas e benefícios de saúde para seus colaboradores e respectivos familiares? 126 9. Monitora com periodicidade o clima organizacional junto a seus empregados e terceirizados, guardando o sigilo e preocupando-se com a representatividade e a aplicação de técnica adequada a um resultado válido? 10. Propõe e executa um plano de trabalho para reverter os itens considerados problemáticos identificados na avaliação do clima organizacional? MEIO AMBIENTE Gerenciamento do Impacto Ambiental A empresa: 11. Realiza auditorias da estabilidade dos maciços em que opera? 12. Realiza auditorias da estabilidade de suas barragens? (a) Plano de Contingência A empresa: 13. Possui plano de contingência para possíveis impactos de suas atividades, produtos, ou serviços, em suas áreas ou nas de terceiros, passíveis de gerar danos ao meio ambiente, à saúde e à propriedade? (b) Plano de Fechamento A empresa: 14. Possui plano de fechamento das atividades de suas minas? 15. Possui e segue um plano de recuperação de áreas mineradas? 127 (c) Energia A empresa: 16. Possui metas de redação de consumo de energia? (d) Água A empresa: 17. Desenvolve ações e processos que assegurem a qualidade e a quantidade da água utilizada e afetada por suas atividades? 18. Possui sistema de monitoramento da qualidade e da quantidade da água do início ao fim de suas atividades? 19. Nas suas atividades, gera efluentes com qualidade de água igual ou melhor do que a da água captada? 20. Possui processos de reciclagem ou de reutilização da água na área de lavra? (e) Emissões/Resíduos A empresa: 21. Possui parceria com instituições de pesquisa para o desenvolvimento de alternativas a substâncias químicas potencialmente poluidoras ou que provoquem danos à saúde? 22. Possui processos de gerenciamento adequado dos resíduos gerados em suas operações? 23. Possui metas para minimizar a quantidade de resíduos gerados em suas operações? 24. Possui metas de redução de emissões? 128 25. Exige de seus contratados que a remoção, o transporte, a comercialização e a doação de resíduos somente sejam realizados devidamente acobertados com documentação apropriada ( licenças ambientais, etc.) 26. Monitora seus resíduos doados, comercializados ou dispostos em áreas de terceiros? (f) Vazamentos A empresa: 27. Possui planos de emergência para lidar com eventuais vazamentos ou liberação de reagentes/substâncias perigosas e os comunica às partes afetadas? (g) Uso do Solo A empresa: 28. Emprega mecanismos para o controle da erosão? 29. Possui sistema de monitoramento para determinar a transformação das condições do solo desde o início de suas atividades? 30. Possui, no plano de recuperação de áreas mineradas, provisões que assegurem que as condições do solo, após o processo de recuperação, estejam ecologicamente integrados à fauna e à flora locais e não irão gerar novos impactos? (h) Biodiversidade A empresa: 129 31. Conhece e monitora os impactos sobre a biodiversidade em ambientes terrestres e aquáticos advindos de suas atividades? (i) Níveis de Radiação A empresa: 32. Possui estudos que confirmem que seus produtos contenham níveis de radiação aceitáveis? FORNECEDORES Relação com Trabalhadores Terceirizados A empresa: 33. Possui meios de assegurar que seus fornecedores e terceirizados adotem os padrões ambientais e de saúde e segurança que ela mesma pratica? COMUNIDADE Gerenciamento do Impacto da Empresa na Comunidade de Entorno A empresa: 34. Possui procedimentos formalizados e divulgados e treina seus funcionários para a resolução de eventuais conflitos com a comunidade de forma ética e responsável? 130 35. Possui mecanismo para assegurar que a comunidade local não está exposta a elementos potencialmente tóxicos oriundos de suas atividades? 36. Realiza estudos que atestam que atestam que o estado de saúde da comunidade não é afetado pelas atividades? GOVERNO E SOCIEDADE Comprometimento da Empresa com a Sustentabilidade Social 37. A empresa, ou seus terceirizados, contrata pessoas qualificadas e nãoqualificadas da comunidade da região onde atua? A empresa: 38. Desenvolve programas que contribuem para a qualificação de pessoas da região? 39. Consome produtos e serviços locais ou regionais? 40. Considera, no plano de fechamento da mina, seus impactos sócio-econômicos e a sustentabilidade da economia local após fechamento? 131 APÊNDICE B - Desenvolvimento Local Sustentável (LED): Premissas de Sucesso e Exemplo Teórico Boas Práticas para o Sucesso das Estratégias Boas práticas de LED exigem acessos personalizados às condições locais. Boas práticas mostram que estas sentenças podem auxiliar como um bom guia, a saber: • Uma integração apropriada que incluam o social e o meio ambiente, assim como as questões econômicas. • Uma cautelosa estratégia de desenvolvimento constituída por todos os parceiros relevantes, e baseada na visão comum. • Uma série de projetos: pequenos, médio e longo prazo, para catalizar parceiros e fortalecer as relações entre os stakeholders. • Liderança local influente que traga comprometimento, credibilidade e habilidade para unir stakeholders. • Capacidade de formação de gerenciamento e equipes de campo é essencial para implementação do projeto. • A estratégia do LED deve ser de propriedade do governo local, que deve ser esforçar para implementá-lo. • Suporte político, financeiro, e técnico de outros níveis governamentais também são agregantes de valor. • Projetos e planos de ação são comprometidos somente onde a responsabilidade do comitê de implantação é claramente identificado. Desenvolvimento Econômico Local (LED) Um Exemplo para Mostrar os Elementos Diferentes de um Plano Estratégico (LED) VISÃO: Esta Cidade Tornar-se-á Globalmente Competitiva Antes de 2020. METAS: 1. Diversificar a Base Econômica da Cidade. 2. Se tornar um Centro de Turismo 132 3. Melhorar o Ambiente Construído da Cidade 4. Se tornar a Cidade mais Atraente na Região para Investimento Direto Estrangeiro 5. Se tornar uma Sociedade mais Igual Por Acesso Melhorado Trabalhar para toda a Comunidade 133 APÊNDICE C - Desenvolvimento Local Sustentável Integrado: Caso no Brasil Uma das maiores experiências em relação do Desenvolvimento Local, o DLIS – Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável está em voga desde o final dos anos oitenta. O DLIS é uma nova estratégia de indução do desenvolvimento que afirma facilitar e potencializar a participação coletiva, promovendo parcerias entre as iniciativas privadas de cidadãos e os programas públicos, integrando áreas dispersas e promovendo novas sinergias entre as diversas ações já existentes. O DLIS é, fundamentalmente, uma estratégia de investimento em capital social. Essa estratégia é aplicada por meio de algumas tecnologias sociais de articulação de redes e de efetivação de processos democrático-participativos ensaiados em escala local. Há uma metodologia que conduz a utilização dessas tecnologias e que, portanto, operacionaliza a estratégia DLIS. O DLIS passa a ser estratégia de indução ao desenvolvimento centrada no investimento em capital social , que prevê a adoção de uma metodologia participativa, pela qual mobilizam-se recursos das comunidades, em parceria com atores da sociedade civil, de governos e empresas, em todos os níveis, para a realização de diagnósticos da situação de cada localidade, a identificação de potencialidades, a escolha de vocações e a confecção de planos integrados de desenvolvimento, a captação de recursos e a negociação e a execução de agendas de prioridades que desdobrem esses planos em ações concretas Abaixo os casos (cases) retirados do site do DLIS (www.dlis.org.br), em 21 de agosto de 2005. A Metodologia DLIS: cases A metodologia inicial adotada pela Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) na elaboração das redes de desenvolvimento em diversos projetos é o chamado DLIS: desenvolvimento local integrado sustentável, conforme vimos no item anterior. Como o programa DLIS foi o precursor dos Projetos do Programa Cidade Vale Mais, a partir do projeto Itaqui-Bacanga, julgamos enriquecer o estudo com alguns casos de aplicação da metodologia. 134 Dos diversos programas abrangidos pelo DLIS, selecionamos alguns aplicados pela com a utilização da referida metodologia - os quais descreveremos os seguintes: • Bananeiras/PB o DILS atuou com: a) Para minimizar o problema de abastecimento de água: foram construídos mais de 50 pequenos açudes, além de barragens, poços artesianos e dessalinizadores. Com o apoio de parceiros como o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), 86 açudes comunitários receberam 200 mil alevinos. Os peixes vêm sendo distribuídos para consumo e para venda nas feiras da cidade. b) Desenvolvimento rural. Com 70% da população fora da área urbana, Bananeiras priorizou os investimentos em desenvolvimento rural e na melhoria das condições de vida de quem vive e trabalha no campo. A caprinocultura e a avicultura estão entre as atividades que receberam estímulo por orientação do Plano de Desenvolvimento. c) Local. Nessa área, uma das ações criadas pelo Fórum de DLIS é a Feira de Animais, evento organizado com apoio da prefeitura e que reúne expositores.Na feira, os criadores de bodes podem comprar matrizes com recursos provenientes do Banco do Nordeste. d) A prefeitura, com o apoio do Incra e da Caixa Econômica Federal, reconstruiu 21 casas, reformou 39 e construiu mais de 300 nos assentamentos rurais. e) Atenção à infância. Em Bananeiras quase todas as crianças estão na escola. Dois ônibus, adquiridos com recursos do Governo Federal, fazem o transporte dos estudantes. Além disso, há o Programa de Apoio Integrado para o Desenvolvimento da Criança A idéia é unir todas as ações sociais existentes de educação, saúde e habitação, em um programa especial para o benefício de meninos e meninas entre 0 e 6 anos. No total, 3.300 se beneficiam da iniciativa. Graças a isso, Bananeiras foi selecionada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pelo Governo Federal como cidade modelo de participação comunitária no combate à pobreza e à exclusão social. • Campo Redondo no Rio Grande do Norte 135 Liderado por uma quase menina, Maria Conceição Araújo, a Ceiça, na época com 21 anos, e apoiado por uma legião de mulheres pobres, a maioria desempregada há anos e analfabeta, o Fórum mudou a vida do município de Campo Redondo, no interior do Rio Grande do Norte. Em 1999, o Programa Comunidade Ativa chegou à cidade com uma novidade completamente desacreditada dos moradores e do pessoal da prefeitura: o DLIS. Ceiça, recém-contratada pela prefeitura, foi escalada para comparecer à primeira reunião, uma vez que os outros funcionários tinham “mais o que fazer”. A moça , entretanto, não se fez de rogada e aproveitou a oportunidade. Tornou-se uma líder comunitária e encabeça grande parte das iniciativas que mudam a cada dia a cara de Campo Redondo. Foi de Ceiça, por exemplo, a idéia do mutirão de limpeza do açude, que garantiu água mais limpa e argila para ser usada pelos artesãos do município. Uma ação simples, mas que serviu para mostrar que o trabalho conjunto rende bons resultados. Animados, os participantes do Fórum fizeram um diagnóstico certeiro sobre o problema mais urgente de Campo Redondo. Precisavam agir rápido para garantir melhores condições de trabalho aos pequenos produtores e, ao mesmo tempo, oferecer alternativas de renda à população, apostando no artesanato. União e aposta no talento local. O trabalho começou imediatamente. O pessoal que produzia sisal voltou a plantar para abastecer de matéria-prima os artesãos, que já podiam começar a trabalhar com a argila. O governo do estado foi chamado a contribuir e liberou recursos para compra de matrizes de animais para os criadores de duas comunidades rurais do município, nas quais a ovinocultura é a principal atividade econômica. Mulheres trabalham unidas. A iniciativa mais surpreendente originada pelo Fórum, entretanto, envolveu 60 mães, a maioria analfabeta e desempregada. Juntas, elas fundaram a Associação de Mães Francisca Ferreira da Costa, que hoje mantém uma confecção, uma escola de informática e um centro de artesanato. Essas mulheres produzem embalagens de filó para uma fábrica de doces de Natal, que as exporta para o Canadá e os Estados Unidos. A encomenda ocupa o grupo durante, pelo menos, três meses do ano. O trabalho garante renda para mulheres como Tereza Núbia, 44 anos, que havia seis anos estava desempregada. 136 O marido tinha um emprego de pedreiro na capital e recebia R$ 200. Tereza arcava sozinha com a maior parte da criação dos quatro filhos do casal e nem sempre tinha como dar a eles uma mesa farta. Hoje, ela é gerente de produção da confecção, aproveitando a experiência adquirida quando viveu em Goiás, e ganha até R$ 250 por mês. Segundo Tereza, a confecção já garante uma retirada de, pelo menos, um salário mínimo a 90 pessoas que atuam no negócio. A economia municipal sentiu o efeito da entrada desse dinheiro novo. Os comerciantes de alimentos e outros produtos, principalmente, acabaram melhorando suas vendas em função dessa experiência bem-sucedida de geração de renda. Depois de mais de dois anos de funcionamento e com uma produção de padrão internacional, as mulheres começam a ser procuradas pelos empresários do ramo de confecção de Natal. Na última semana, fecharam um contrato novo de fornecimento de camisas, que serão exportadas a exemplo das embalagens de filó feitas por elas. Informática e artesanato. A associação também consegue manter uma escola de informática, com capacidade para atender mais de 60 alunos, e a Casa do Artesão, que ajuda a vender o trabalho de quase 300 artistas locais. Os computadores foram doados por uma empresa da região e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) capacitou três instrutores. Entre eles, Francinaldo Silva, que estava desempregado e quase deixou sua terra – como milhares de retirantes nordestinos, hoje amontoados nas periferias das principais regiões metropolitanas do País. A comunidade de Campo Redondo deu início à capacitação de jovens, alguns deles filhos das costureiras da associação, para trabalhar com artesanato e já garantiu treinamento no Senai a três novos instrutores para a escola de informática. O trabalho começou em setembro de 2001 e ofereceu ainda cursos de marketing de vendas, sanidade animal e ponto de cruz, entre outros. Os pequenos produtores também colheram os benefícios das atividades do Fórum. Além de fornecerem aos artistas matéria-prima, como o sisal, receberam recursos do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) para a construção de açudes e cisternas na zona rural. A iniciativa ajuda a resolver o maior problema da roça na região, que é a falta de água de qualidade e de fácil acesso, tanto para a criação dos animais e hortaliças quanto para o consumo humano. 137 Aos poucos, as conquistas da pequena cidade potiguar começam a envolver mais e mais a população. E se engana quem acha que eles se dão por satisfeitos. Querem mais, muito mais, como incluir aqueles que ainda estão à margem da sociedade. Um exemplo disso é o sonho acalentado por Ceiça, que quer continuar os estudos e se tornar psicóloga. “Quero fazer alguma coisa por aqueles que são os mais excluídos no meu município, como as mulheres que se prostituem e os homossexuais”, conta. 138 APÊNDICE D - Cariacica Vale Mais: Questionário da Pesquisa de Campo Orientações • Este questionário é optativo, responda se quiser. • Responda de acordo com seus atuais conhecimentos, sem necessidade de buscar outras fontes de informação; • As informações serão tratadas como confidenciais, sem divulgação dos dados dos entrevistados; • Este material é de cunho científico, não tendo conotação política e/ou administrativa com qualquer parte, inclusive da empresa objeto do estudo de caso e da universidade; • Busque responder às perguntas pela ordem de seqüência, pois as questões vão se complementando. Evite responder às questões aleatoriamente. Questionário: 1) O que você entende sobre planejamento estratégico de uma comunidade? 2) A cidade de Cariacica, na região metropolitana de Vitória/ES, recentemente foi escolhida para receber um planejamento estratégico para os próximos vinte anos. Qual sua visão sobre isto? 3) Você conhece o projeto Cidade Vale Mais? Descreva o que sabe sobre ele. 4) O Projeto Cidade Vale Mais promove em Cariacica seu planejamento estratégico para os próximos 20 anos, chamado Cariacica Vale Mais. Tendo conhecimento disto (e apenas se conhecer), cite na sua visão, os pontos positivos e os pontos a melhorar no projeto na elaboração e implantação do projeto. 5) O que você entende por responsabilidade social corporativa (RSC) ou responsabilidade social empresarial (RSE)? 6) Baseando-se em seus conhecimentos sobre RSC/RSE, e sobre o que conhece sobre o projeto de planejamento estratégico, fale sobre de suas 139 percepções sobre a ligação entre a responsabilidade social e o projeto Cariacica Vale Mais. 7) A Cia Vale do Rio Doce (CVRD), através de seu braço social, a Fundação Vale do Rio Doce (FVRD), é a patrocinadora do projeto Cariacica Vale Mais. Você pode identificar outros projetos da CVRD/FVRD? Se sim, quais. 8) Baseando-se em suas respostas acima, e conhecendo o projeto, você entende que as ações previstas são suficientes para alavancar o seu desenvolvimento (sim ou não)? Por quê? 9) Você conhece os resultados já obtidos neste projeto (Cariacica Vale Mais)? Se sim, quais? 10) Quais as suas expectativas em relação ao projeto (seja a curto, médio ou longo prazo)? O ESTADO DE MINAS – CADERNO VAMOS AJUDAR – MATÉRIA SOBRE A CVRD: Cita a matéria que segundo o gerente de recursos humanos da CVRD, Maurício Mendes, o crescimento de alguns setores da economia, nos últimos anos, como a mineração, possibilitou o surgimento do programa de capacitação profissional, o que imputou à empresa a ter mão-de-obra de qualidade, informa a matéria, veiculada em 25 de outubro de 2005. A reportagem cita que segundo o gerente a preocupação da companhia era dar uma formação que pudesse ser aproveitada pelo mercado e assim aumentar a possibilidade de inserções dos jovens profissionais. A reportagem traz estas boas práticas, informando que a formação profissional dos alunos é direcionada para a operação e manutenção de mina e usina, e que a preferência é para os alunos das comunidades vizinhas. DLIS : Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. Segundo definição em seu próprio site, acessado em 21 de agosto de 2005, DLIS é uma nova estratégia de indução do desenvolvimento que facilita e potencializa a participação coletiva, promove parcerias entre as iniciativas privadas de cidadãos e os programas públicos, integrando áreas dispersas e promovendo novas sinergias entre as diversas ações já existentes. 140 O "Projeto DLIS" é um centro estratégico indutor de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. Criado, em 2003, pela AED – Agência de Educação para o Desenvolvimento com o apoio da Comunitas - Parcerias para o Desenvolvimento Solidário, o "Projeto DLIS" tem como propósito multiplicar os centros promotores de processos de DLIS em todo o Brasil. O "Projeto DLIS" atende a indivíduos, comunidades, governos, empresas e organizações do terceiro setor interessadas em promover o Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável em localidades de qualquer região do Brasil e de outros países. Este está preparado para criar ou aplicar novos programas de promoção do DLIS de âmbito macrorregional, estadual, microrregional, municipal ou, até mesmo, infra-municipal (que focalizem apenas um distrito, bairro ou povoado). Como ações, este projeto acompanha e capacita o pessoal próprio de qualquer instituição interessada em todos os passos necessários para a criação de um programa de DLIS, desde a elaboração do anteprojeto, passando pela formulação do projeto-executivo, pelo desenho do programa e das parcerias, pela eventual fundação de uma organização ou de uma rede ou de um consórcio que ficará responsável pela realização desse programa, pela capacitação de uma equipe própria ou pela contratação de uma instituição capacitadora, já qualificada, para executar o programa, até a montagem de sistemas de monitoramento e avaliação utilizando os novos indicadores de desenvolvimento social, que estão sendo agora testados, para medir o impacto das ações. Em suma, o "Projeto DLIS" é um centro de transferência da tecnologia social inovadora de investimento em capital humano e capital social implicada na estratégia do DLIS e, além disso, é um núcleo irradiador das idéias e práticas relacionadas à essa nova concepção de desenvolvimento. Objetivos a) Ter evidências de que a melhoria das condições de vida dos seres humanos que vivem em sociedade depende de certas mudanças sociais que interpretamos como desenvolvimento; 141 b) Criar mudanças que co-implicam na capacidade de uma sociedade de produzir e reproduzir capital social; c) Capacidade de produzir e reproduzir capital social é tanto maior (ou melhor) quanto mais padrões de organização em rede e modos de regulação democráticos forem praticados; d) Não reproduzir uma atuação política intervencionista, verticalista e centralizadora; Metodologia Os passos básicos da metodologia do DLIS são mais ou menos os mesmos dos de qualquer metodologia de indução do desenvolvimento local: a) Cada localidade faz um diagnóstico participativo para conhecer a sua realidade, identificar os seus problemas e descobrir suas vocações e potencialidades. b) A partir deste diagnóstico, é feito, também de modo participativo, um plano de desenvolvimento. c) Desse plano é extraída uma agenda com ações prioritárias que deverão ser executadas por vários parceiros: comunidade local, prefeitura, governo estadual, governo federal, empresas e organizações da sociedade civil. d) Tudo isso é organizado por um fórum democrático, formado por lideranças locais. e) Estas lideranças locais participam de um processo de capacitação para uma gestão comunitária empreendedora do seu processo de desenvolvimento. Diagnóstico, plano de desenvolvimento e capacitação para a gestão local desse plano constituem passos básicos de qualquer programa de desenvolvimento local. Na versão 2004 da metodologia, o DLIS pode ser implantado em 1 ano. No entanto, os processos de desenvolvimento local desencadeados pela implantação do DLIS devem ser acompanhados por um período que dificilmente será menor do que 3 anos (período que corresponde ao tempo médio de realização das primeiras agendas de prioridades locais formuladas pela própria localidade). 142 A nova estratégia proposta para 2004 prevê os seguintes passos: 143 Implantação básica Passo 1 A Rede do Desenvolvimento Comunitário Passo 2 O Fórum de Desenvolvimento Local e a Equipe Gestora Local Passo 3 A Visão de Futuro e a Visão de Passado Passo 4 O Diagnóstico Participativo Local: o cálculo dos Indicadores de Desenvolvimento Local, o Mapeamento dos Ativos e o Mapeamento das Necessidades Passo 5 O Plano de Desenvolvimento Local: o Mapa do Caminho para o Futuro Desejado Passo 6 As Agendas de Prioridades Locais: a agenda de investimentos endógenos e a agenda de parcerias e captação de recursos para atração de investimentos exógenos. Passo 7 O Pacto de Cooperação pelo Desenvolvimento Local: A “Carta da Localidade”. Passo 8 A Gestão Comunitária Empreendedora do Desenvolvimento Local: Oficinas de Projetos, Captação de Recursos e Realização de Campanha e Ações Simbólicas. Passo 9 A Fundação da Oscip de Apoio o Fórum de Desenvolvimento Local Passo 10 A Conexão à Rede Externa do Desenvolvimento Comunitário Passo 11 O Início da Realização das Agendas de Prioridades Locais A continuidade sócio-econômica e sócio-política: Passo 12.1 A Dimensão Sócio-Econômica – O Pacto pela Micro e Pequena Empresa Passo 12.2 A Dimensão Sócio-Econômica – Cooperatividade Sistêmica Passo 12.3 A Dimensão Sócio-Econômica – Alternativas de Sócio-Economia Solidária. Passo 12.1 A Dimensão Sócio-Política – A Capacitação dos Agentes Estatais para a Gestão de Programas Inovadores. Passo 12.4 A Dimensão Sócio-Política – A Interlocução Política Pública Passo 12.5 A Dimensão Sócio-Política – O Pacto pela Democracia Local 144 O fim do primeiro ano Passo 13. A Primeira Avaliação de Impacto, o Acompanhamento e o Monitoramento. O segundo ano e o terceiro ano de implantação do DLIS Passo 14. A Continuação da Realização das Agendas de Prioridades Passo 15. A Segunda Avaliação de Impacto, o Acompanhamento e o Monitoramento. Passo 16. A Conclusão da Realização das Agendas de Prioridades Passo 17. A Terceira Avaliação de Impacto Passo 18. O Balanço da Realização das Agendas Passo 19. A Revisão do Plano de Desenvolvimento Local Passo 20. A Repactuação Passo 21. A Formulação das Novas Agendas de Prioridades Passo 22. O Início da Realização das Novas Agendas Veja abaixo um esquema da passologia Figura 6 - Passologia do DLIS I Fonte: DLIS, 2005 145 Figura 7 - Passologia do DLIS II Fonte: DLIS, 2005 Figura 8 - Passologia do DLIS III Fonte: DLIS, 2005 146 Cariacica: Dados da Cidade. Figura 9 : Localização da Cidade de Cariacica Fonte: Site do Governo do Estado do Espírito Santo. 147 Demografia: População (2004): 349.811 habitantes ( 4% apenas em área rural); Fonte: Site do Governo do Estado do Espírito Santo; Economia e Finanças (2003): Funções de governo agrupadas Valor Educação 30,2 % Administração, previdência, judiciária e encargos da dívida 23,7% Saneamento, habitação, transporte e urbanismo 18,8% Saúde 16,9% Apoio ao desenvolvimento 4,8% Legislativa 4,1% Cultura, desporto, lazer, cidadania, assistência social e segurança 1,5% Despesa total 100,0% Distribuição dos gastos por função Fonte: Site do Governo do Estado do Espírito Santo.