VI Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas
I International Symposium on Mortars Technology
Florianópolis, 23 a 25 de maio de 2005
ARGAMASSAS COM AREIA BRITADA: INFLUÊNCIA DOS
FINOS E DA FORMA DAS PARTÍCULAS
SILVA, Narciso G. (1); BUEST, Guilherme (2); CAMPITELI, Vicente C. (3)
(1) Eng. Civil, Professor do CEFET-PR, Mestrando do PPGCC – UFPR. E-mail:
[email protected]
(2) Eng. Civil, Engenheiro da Hagen Rheidt do Brasil, Mestrando do PPGCC – UFPR.
E-mail: [email protected]
(3) Eng. Civil, Professor Dr. do Departamento de Eng. Civil da Universidade Estadual
de Ponta Grossa-PR e do PPGCC – UFPR. E-mail: [email protected]
RESUMO
Para avaliar os efeitos da substituição de areia natural por britada em argamassas de
revestimento, avaliou-se a influência da forma das partículas e do teor de finos
(φ < 0,075 mm) em algumas propriedades. Utilizou-se cimento CP II Z 32, cal virgem,
areia natural e areia britada (calcária) e as argamassas foram preparadas no traço em
volume 1 : 1 : 6. Produziram-se dois pares de areias com mesma granulometria: com
finos e sem finos. Foram moldados corpos de prova cilíndricos de 5x10 cm para ensaios
de compressão e densidade de massa aparente e, também, prismáticos de 4x4x16 cm,
para tração na flexão e absorção de água por capilaridade. As formas das partículas das
areias foram analisadas. Os resultados indicaram que as argamassas com areias naturais
apresentam menor exigência de água, menor retenção de água, menor absorção de água
por capilaridade e menor resistência à compressão, sendo que a presença dos finos
influenciou favoravelmente nos resultados dos ensaios, aumentando as resistências à
compressão e à tração na flexão. Concluiu-se que a forma das partículas e a presença
dos finos influenciaram significativamente no desempenho das argamassas.
ABSTRACT
To evaluate the effect of substitution of natural sand by crushed rock sand in covering
mortars, the influence of particles shape and the filler level (φ < 0,075 mm) had been
evaluated in some properties. It had been used cement CP II Z 32, quick lime, natural
sand and crushed rock sand (calcareous) and the mortars prepared in the trace in volume
1 : 1 : 6. Two pairs of sand with the same grain size distribution were prepared: with
filler and without filler. Cylindrical samples with the dimensions 5x10 cm were
moulded for tests of compression, apparent mass density while prismatic samples of
4x4x16 cm were also prepared, for traction on the press-up and water absorption by
capillarity. The shape of particles of sands was analyzed. The results indicated that
mortars with natural sands have less water requirement, less water retention, less water
absorption by capillarity and less compression resistance. The presence of the filler
influenced favorably the results of the tests, increasing the resistances to the
compression and traction on the press-up. The conclusion was that the particles shape
and the presence of the filler influenced significantly the performance of mortars.
- 12 -
Palavras-chave: argamassa, areia britada, areia artificial, forma das partículas, teor de
finos
Keywords: mortar, crushed rock sand, artificial sand, form of particles, text of filler.
1. INTRODUÇÃO
A areia britada de rocha, também conhecida por areia artificial, finos de pedreira, pó de
pedra, entre outras terminologias, vem sendo, cada vez mais, uma alternativa para
substituição da areia natural proveniente dos leitos de rios, na medida em que as jazidas
de areia natural ou se esgotam ou sofrem restrição para proteção ambiental.
Recentemente, devido a imposições do Ministério Público, o Instituto Ambiental do
Paraná – IAP suspendeu a liberação de licenças para a exploração de areia nos aluviões
do Rio Iguaçu, pois o Código Florestal considera como áreas de preservação
permanente as florestas e demais vegetações naturais situadas ao longo dos rios.
Segundo dados da MINEROPAR (2004), a Região Metropolitana de Curitiba-PR
possui, oficialmente, 104 empresas mineradoras de rochas calcárias que foram
responsáveis pela produção média anual no período de 1995 a 2000 de 8,6 milhões de
toneladas. Em razão disto, cada vez mais vem sendo utilizada a areia britada de rocha na
produção de argamassas mistas de cimento e cal para assentamento e revestimento de
paredes de alvenaria, porém, pouco se conhece sobre as conseqüências desta
substituição em termos de desempenho. Salienta-se, desta forma, a importância da
realização de estudos que venham a contribuir, tanto na busca de soluções ambientais,
como também no conhecimento das propriedades das argamassas produzidas com areia
britada de rocha.
Este trabalho tem por objetivo avaliar as influências da forma das partículas e do teor de
finos (φ < 0,075 mm, obtido através de lavagem conforme NBR 7219) de areia britada
proveniente de rocha calcária calcítica, com DMC ≤ 2,4 mm, em comparação com a
areia natural nas diversas propriedades das argamassas mistas na proporção de 1 : 1 : 6
de cimento, cal hidratada em pó (obtida através da hidratação da cal virgem moída) e
areia no estado fresco e endurecido.
2. REVISÃO DA LITERATURA
Segundo D’AGOSTINO (2001), grãos apresentando grau de arredondamento desde
angulares até bem arredondados, melhoram o embricamento e mais resistente será a
argamassa. CAMARINI e ISHIKAWA (2004) também chegaram à mesma conclusão
em seus estudos, salientando, ainda, que o teor de material pulverulento não contribui
para aumentar a retenção de água, e que a argamassa produzida com esse agregado
melhora a plasticidade, diminui o teor de ar aprisionado e contribui para o aumento da
massa específica. NAKAKURA (2003) na avaliação do desempenho das argamassas
industrializadas salienta que quanto maior a quantidade de finos, maior a massa
específica. CINCOTTO et al. (1995) menciona que a trabalhabilidade é muito
influenciada pelo teor de finos da mistura seca (cimento, cal e areia). ANGELIM et al.
(2004) constatou que a adição de finos às argamassas diminuiu a permeabilidade e a
resistência mecânica.
- 13 -
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Análise de imagens
3.1.1 Forma das partículas
A utilização do peneiramento para caracterização da granulometria dos agregados, de
acordo com ARAÚJO et al. (2003), não é suficiente para evidenciar a influência que a
forma dos grãos dos agregados provoca no desempenho das argamassas. Portanto, para
minimizar as deficiências do peneiramento utilizou-se a análise de imagem das
partículas retidas nas peneiras normais para determinação do grau de esfericidade.
CARR citado por ARAÚJO et al. (2003) define esfericidade como a relação entre o
diâmetro do círculo com uma área igual à projeção da partícula e o diâmetro do menor
círculo circunscrito à partícula, podendo variar de 0 (alongada) a 1 (esférica).
As análises de distribuições granulométricas das areias foram feitas segundo a norma
NBR 7217/87. Utilizou-se a série normal de peneiras com as seguintes aberturas de
malhas, em milímetros: 0,15; 0,3; 0,6; 1,2; 2,4; 4,8. Foram separadas em 6 frações para
cada tipo de areia, conforme mostra a Figura 1 (a). As imagens foram obtidas através de
lupa, da marca Zeiss, modelo STEMI SV11, que possibilita aumento variável entre 2,5 a
44 vezes e que é acoplada a um microcomputador e a uma câmera digital (Figura 1 (b)).
Devido ao aumento fornecido pela lupa, apenas três frações granulométricas de cada
areia foram escolhidas para esta avaliação: 0,3 mm, 0,6 mm e 1,2 mm. A Figura 2
mostra as imagens obtidas utilizando a lupa da areia britada e da areia natural, ambas da
fração 1,2 mm. Os grãos das frações maiores, 2,4 e 4,8 mm, mostraram-se muito
grandes, mesmo usando-se o menor aumento, foram, então, fotografados utilizando
câmara fotográfica digital (Figura 3).
(a)
(b)
Figura 1 – Amostras das frações das areias (a) e lupa com câmera digital acoplada (b)
(a)
(b)
Figura 2 – Imagens capturadas através da lupa da areia britada (a) e areia natural (b)
passantes pela peneira de 1,2 mm
- 14 -
(a)
(b)
Figura 3 – Imagens obtidas com câmera fotográfica digital da areia britada (a) e areia
natural (b) passantes pela peneira de 2,4 mm
A área projetada e o diâmetro do menor círculo circunscrito à partícula, para o cálculo
do grau de esfericidade, foi obtido através do software Image-pró Plus e os dados foram
armazenados numa planilha eletrônica.
3.1.2 Arredondamento das partículas
O grau de arredondamento das partículas indica a presença de arestas vivas que podem
ser determinados visualmente comparando-se com a classificação de SHEPARD &
PAWERS citados por SUGUIO (1980) que estabelecem seis grupos como mostra a
figura 4.
A – muito angulosa
B – angulosa
C – subangulosa
D – subarredondada
E – arredondada
F – bem arredondada
Figura 4 – Classificação do grau de arredondamento
3.2 Materiais
Para a produção das argamassas foram empregados os seguintes materiais: cimento
Portland CP II Z 32, cal virgem moída CV-C, areia natural proveniente da bacia do Rio
Tibagi da cidade de Ponta Grossa-PR e areia britada de rocha calcária calcítica
proveniente de pedreira do município de Rio Branco do Sul-PR. A areia natural foi
preparada por peneiramento com a mesma granulometria da areia britada. A areia
britada sem finos (teor de material pulverulento de 0,7%) foi obtida através de
sucessivas lavagens a partir da areia britada com finos (teor de material pulverulento de
6,0%). As caracterizações dos materiais são apresentadas nas Tabelas 1 a 4.
Tabela 1 – Caracterização física e química do cimento CPII Z 32
Ensaios realizados
Massa unitária no estado solto
Massa específica
ANÁLISE FÍSICA
Método
(g/cm³)
NBR 7251
(g/cm³)
NBR 6474
ANÁLISE QUÍMICA
Resultado médio
1,197
2,946
SiO2
Al2O3
Fe2O3
CaO
MgO
K 2O
Na2O
SO3
CO2
22,91
7,25
3,18
52,29
5,56
1,04
0,18
2,82
4,23
- 15 -
Perda
ao fogo
4,97
Resíduo
insolúvel
12,91
Tabela 2 - Caracterização física e química da cal
ANÁLISE FÍSICA DA CAL HIDRATADA EM PÓ
Ensaios realizados
Método
Resultado médio
Massa unitária no estado solto
(g/cm³)
NBR 7251
0,689
Massa específica
(g/cm³)
NBR 6474
2,393
Teor de umidade da pasta de cal
(%)
75,440
ANÁLISE QUÍMICA DA CAL VIRGEM MOÍDA
Perda
ao fogo
5,3
Resíduo
insolúvel
6,3
Óxido de
cálcio
51,0
Óxido de
magnésio
35,6
Óxido
totais
91,4
Carbonato
residual
4,6
Anidrido
carbônico
3,6
Água
Combinada
1,7
Tabela 3 – Análise granulométrica da areia britada – NBR 7217/87
Abertura da
peneira (mm)
4,8
2,4
1,2
0,6
0,3
0,15
< 0,15
Total
massa
retida (g)
2,70
41,00
130,80
199,50
276,80
270,40
77,60
998,80
Porcentagem retida
individual
Acumulada
0,27
0,27
4,10
4,38
13,10
17,47
19,97
37,44
27,71
65,16
27,07
92,23
7,77
100,00
100,00
-
Tabela 4 – Caracterização física das areias
Ensaios realizados
Unid.
Módulo de finura
Dimensão máxima característica
Classificação
Massa unitária – estado solto
Massa específica
Teor de matéria orgânica
Teor de argila em torrões
Absorção de água
Teor de material pulverulento
Índice de vazios
(mm)
(g/cm³)
(g/cm³)
(± claro)
(%)
(%)
(%)
(%)
Resultado médio - Areias
Britada
Britada
Natural
com finos sem finos
NBR 7217
2,170
2,170
2,170
NBR 7217
2,400
2,400
2,400
Norma
NBR 7211 fina-zona 2 fina-zona 2 fina-zona 2
NBR 7251
1,592
1,542
1,578
NBR 9776
2,778
2,762
2,618
NBR 7220 mais claro mais claro mais claro
NBR 7218
isento
isento
isento
NBR 9777
0,735
0,735
0,809
NBR 7219
6,000
0,700
1,000
Adaptado1
42,69
44,17
39,72
3.3 Preparação da Argamassa Mista
Primeiramente hidratou-se a cal virgem moída utilizando-se betoneira de eixo inclinado
de capacidade de 320 litros sob agitação contínua por 20 minutos, para produção da
pasta de cal, a qual ficou em processo de maturação por aproximadamente 30 dias, em
recipiente fechado e vedado com lona plástica. Para cada saco de 20 kg de cal virgem
moída adicionou-se 30 litros de água. Após a maturação, colocaram-se amostras em
estufa à 105o C por aproximadamente 96 horas para desidratação. Destorroou-se a cal
hidratada seca e com o pó, após peneiramento pela peneira de 0,6 mm, determinou-se o
teor de água da pasta, a massa unitária e a massa específica.
1
Para um volume unitário, a diferença entre a massa específica e a massa unitária corresponde ao volume
de vazios expresso pela massa equivalente da areia. Esse valor dividido pela massa específica determina o
índice percentual de vazios.
- 16 -
As argamassas mistas foram preparadas fazendo a mistura, em massa, de pasta de cal,
cimento e areia em misturador mecânico de capacidade de 20 litros utilizando
procedimentos da norma NBR 7200/98. Foram preparadas quatro argamassas conforme
descrito na Tabela 5.
Tabela 5 – Identificação das argamassas quanto ao tipo de areia
Arg.
Nº
1
2
3
4
*
Tipo de areia
Britada sem finos
Britada com finos
Natural com finos e mesmo I.C. da Arg 2
Natural com finos e mesma rel. água/mat. secos da Arg 2
Teor de
finos (%)
0,7
6,0
1,0
1,0
I.C.* (mm)
270 ± 5
270 ± 5
270 ± 5
a determinar
I.C.= Índice de Consistência
As proporções dos materiais, em massa, foram definidas a partir da determinação da
massa unitária do cimento, da cal hidratada em pó e das areias. As proporções de
misturas utilizadas na produção das argamassas mistas são apresentadas na Tabela 6.
Tabela 6 – Caracterização das argamassas no estado fresco
Arg.
Nº
1
2
3
4
Proporções de materiais secos
(cimento : cal : areia)
volume
1:1:6
1:1:6
1:1:6
1:1:6
massa
1 : 0,58 : 7,73
1 : 0,58 : 7,98
1 : 0,58 : 7,91
1 : 0,58 : 7,91
água /
cimento
Relações
água /
aglom.
água /
mat. Secos
1,822
1,916
1,836
1,901
1,156
1,216
1,165
1,207
0,196
0,200
0,194
0,200
I.C.
(mm)
267
266
267
280
3.4 Ensaios realizados
Com as argamassas produzidas, determinou-se a massa específica e o teor de ar
aprisionado de acordo com a norma NBR 13278/95. Para determinação da retenção de
consistência através da norma NBR 9287/86, determinou-se a relação percentual de
espalhamento da argamassa na mesa de consistência, após a sucção por 60 segundos no
Funil de Buchner modificado (descrito pela ASTM C 91-99). Com o Funil de Buchner
modificado também se determinou a retenção de água das argamassas em acordo com a
norma CSTB 2669-4/1993 e procedimentos descritos por DO Ó (2004).
Moldaram-se corpos de prova cilíndricos de 5 cm de diâmetro por 10 cm de altura, para
determinação da resistência à compressão (NBR 13279/95) aos 7 e 28 dias de idade e
densidade de massa aparente (NBR 13280/95) aos 28 dias de idade. Moldaram-se,
também, corpos de prova prismáticos de 4x4x16 cm para determinação de resistência à
tração na flexão (EN 1015 – Part 11) e absorção de água por capilaridade (CSTB 26694/1993) aos 28 dias de idade. Os corpos de prova foram desmoldados com 7 dias de
idade e mantidos em ambiente de laboratório até o momento do ensaio.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Forma das partículas
O grau de esfericidade das partículas é a relação entre o diâmetro do círculo com uma
área igual à projeção da partícula (D1) e o diâmetro do menor círculo circunscrito à
partícula (D2). Os resultados constam da Tabela 7.
- 17 -
Tabela 7 – Grau de esfericidade das partículas das areias
Frações
(mm)
4,8
2,4
1,2
0,6
0,3
Médias
Valores médios de D1
Britada
natural
0,14
0,08
0,27
0,28
0,25
0,22
0,11
0,15
0,20
0,17
Valores médios de D2
britada
natural
0,21
0,11
0,39
0,35
0,39
0,28
0,17
0,20
0,29
0,22
Grau de esfericidade
britada
natural
0,67
0,73
0,69
0,80
0,64
0,79
0,65
0,75
0,69
0,77
0,67
0,77
O grau de esfericidade da areia natural é maior que o da areia britada, para todas as
frações, o que confere à areia natural grãos mais esféricos que os grãos da areia britada.
O cálculo do grau de esfericidade citado em ARAÚJO et al. (2003) leva em
consideração os aspectos bidimensionais das partículas, o que levanta a seguinte
discussão: se a partícula é achatada e a projeção aproximar-se de um círculo, neste caso,
a relação entre o diâmetro do círculo com uma área igual à projeção da partícula e o
diâmetro do menor círculo circunscrito à partícula será próximo de 1, o que leva,
erroneamente, à conclusão que a partícula é quase esférica.
Utilizando duzentas partículas de cada tipo de areia retidas na peneira de 4,8 mm foi
determinado o índice de forma pelo método do paquímetro utilizando a norma NBR
7809/83, obtendo-se para areia britada 0,46 e para areia natural 0,60, corroborando os
resultados da Tabela 7.
4.2 Arredondamento das partículas
Fazendo-se uma avaliação visual das fotos digitais obtidas e comparando com a
classificação de SHEPARD & POWERS da Figura 4, conclui-se que as partículas da
areia britada são angulosas, enquanto que as partículas da areia natural são
subarredondadas.
4.3 Estado fresco
Observando os dados da Tabela 6, conclui-se que o teor de finos maior na Arg No 2
influenciou no aumento da quantidade de água para obter o mesmo I.C. da Arg No 1,
ambas de areia britada. O teor de finos e a forma das partículas foram as causas da
maior exigência de água na Arg No 2 para a obtenção do mesmo I.C. da Arg No 3 e,
foram, também, as causas que influenciaram o maior I.C. da Arg No 4 com relação à
Arg No 2o. A Arg No 1 (britada com 0,7 % de finos) exigiu mais água que a Arg No 3
(natural com 1,0% de finos) para obtenção do mesmo I.C., comprovando, neste caso,
que os finos não tiveram influência e sim a forma das partículas.
A Tabela 8 mostra os resultados médios obtidos no ensaio de teor de ar aprisionado. A
Figura 5 mostra a retenção de consistência após 60 segundos e retenção de água após 15
minutos de sucção no Funil de Buchner modificado e a Figura 6 mostra a evolução da
retenção de água após 1,0; 1,5; 3,0; 5,0; 10,0 e 15,0 minutos de sucção no Funil de
Buchner modificado das argamassas no estado fresco.
- 18 -
Tabela 8 – Resultados do teor de ar aprisionado – NBR 13278/95
Arg. Nº
1
2
3
4
Massa específica
medida (g/cm³)
2,114
2,120
2,077
2,053
Massa específica
calculada (g/cm³)
2,140
2,137
2,082
2,069
Teor de ar
aprisionado (%)
1,2
0,8
0,2
0,8
Comparando as argamassas Arg No 1 e Arg No 2, onde a única variável é o teor de finos,
observa-se que a segunda, com teor de finos maior, apresentou um teor de ar
aprisionado 33,3% menor que a primeira. A argamassa Arg No 3 apresentou teor de ar
aprisionado 75% menor que Arg No 2, cuja influência foi da forma e dos finos. Entre
Arg No 3 e Arg No 4, produzidas com a mesma areia, o teor de ar aprisionado menor da
primeira é explicado pelo menor teor de água.
94,1
100,00
90,7
89,7
85,7
Porcentagem
80,00
60,00
61,3
56,7
51,4
39,3
40,00
20,00
0,00
ARG 1
ARG 2
ARG 3
ARG 4
Argamassa
Retenção de consistência
Retenção de água
Figura 5 – Retenção de consistência e Retenção de água no Funil de Buchner
As argamassas produzidas com areia natural obtiveram maiores retenções de
consistência e menores retenções de água comparativamente as argamassas produzidas
com areia britada.
Retenção de água (%)
100,0
98,0
96,0
94,0
92,0
90,0
88,0
86,0
84,0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9 10 11 12 13 14 15
Tempo de sucção (min)
Arg 1
Arg 2
Arg 3
Arg 4
Figura 6 – Retenção de água das argamassas no Funil de Buchner
A argamassa Arg No 1 produzida com areia britada sem finos foi a que melhor
apresentou retenção de água quando da aplicação da sucção no Funil de Buchner e a
Arg No 4 foi a que menos reteve água. Observa-se na Figura 6 que a presença de finos
não favoreceu a retenção de água quando da aplicação da sucção no Funil de Buchner
modificado.
- 19 -
4.4 Estado endurecido
A Tabela 9 mostra os resultados médios das resistências à compressão executada nos
corpos de prova cilíndrica 5x10 cm segundo a NBR 13279/95 e as resistências à tração
na flexão ensaiados nos corpos de prova prismáticos 4x4x16 cm segundo a EN 1015 –
Part 11.
Tabela 9 – Resultados das resistências à compressão e à tração na flexão
Resultados médios (MPa)
Compressão
Tração na flexão
7 dias
28 dias
28 dias
1,98
3,62
1,15
2,27
4,29
1,27
1,93
3,35
1,14
1,99
3,51
0,75
Arg. Nº
1
2
3
4
A presença de finos na argamassa melhora as resistências mecânicas, como pode ser
observado nos dados da Tabela 9. As argamassas produzidas com areia britada (Arg No
1 e Arg No 2) apresentaram melhores resistências à compressão e à tração na flexão que
as argamassas de areia natural (Arg No 3 e Arg No 4). A presença de 6,0% de finos na
argamassa Arg No 2 exigiu um pouco mais de água de amassamento, para obter o
mesmo índice de consistência que a argamassa Arg No 1. Por outro lado, os finos
ocupam os espaços vazios entre as partículas maiores, tendo, assim, um empacotamento
melhor que a argamassa sem finos. Com isso, as resistências à compressão e à tração na
flexão são maiores e obtiveram melhores resultados na retenção de água comparados às
argamassas de areia natural.
Altura da mancha de água (mm)
O ensaio de absorção de água por capilaridade foi executado em corpos de prova
prismáticos 4x4x16 cm utilizando-se a norma CSTB 2669-4/1993 na idade de 28 dias.
O nível de água permaneceu constante e igual a 5 ± 1 mm acima da face inferior dos
corpos de prova e anotou-se a altura da mancha de água e massa dos corpos de prova
nos tempos de 10, 30, 60, 90, 120, 180, 240 e 300 minutos. A norma NBR 9779/87
menciona que as leituras devem ser feitas nas idades de 3, 6, 24, 48 e 72 horas e a
mancha de água não pode alcançar a face superior. Como a mancha de água atingiu a
face superior, em alguns corpos de prova, com menos de 8 horas após o contato com a
água, não se utilizou a norma NBR 9779/87. A Figura 7 mostra os resultados médios
para cada argamassa.
160,0
140,0
120,0
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
0
30
60
90
120
150
180
210
240
270
300
Tempo (min)
Arg 1
Arg 2
Arg 3
Arg 4
Figura 7 – Resultados da altura da mancha de água em função do tempo nos corpos de
prova 4x4x16 cm na idade de 28 dias
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O teor de finos maior da Arg No 2 não favoreceu a absorção de água por capilaridade
comparativamente com a Arg No 1, como pode ser observado na Figura 7. As
argamassas com areia britada mostraram-se mais favoráveis à absorção de água por
capilaridade que as argamassas produzidas com areia natural, na proporção de 1 : 1 : 6,
em volume.
A Tabela 10 mostra os resultados médios da densidade de massa aparente executados
em corpos de prova cilíndricos 5x10 cm aos 28 dias de idade conforme a norma NBR
13280/95.
Tabela 10 – Resultados da densidade de massa aparente aos – 28 dias – NBR 13280/95
Arg. Nº Densidade de massa aparente (g/cm³)
1
1,81
2
1,78
3
1,74
4
1,72
As argamassas produzidas com areia natural (Arg No 3 e Arg No 4) obtiveram menores
densidades de massa aparente que as argamassas de areia britada (Arg No 1 e Arg No 2)
como se observa na Tabela 10. A argamassa Arg 2 apresentou menor densidade de
massa aparente que a argamassa Arg No 1, o que demonstra a maior compacidade da
mistura agregado/aglomerante da argamassa produzida com finos.
5. CONCLUSÕES
A areia natural, com partículas subarredondadas e mais esféricas, produziu argamassas
com menor exigência de água, menor retenção de água, maior retenção de consistência,
menor teor de ar aprisionado, menor absorção de água por capilaridade, menor
densidade de massa aparente e menores resistência à compressão e à tração na flexão
que argamassas com areia britada que apresentaram partículas angulosas e menos
esféricas, na proporção de 1 : 1 : 6, em volume.
Argamassas produzidas com areia britada de rocha calcária com presença de 6,0% de
finos apresentaram menor teor de ar aprisionado, menor densidade de massa aparente,
melhorando o empacotamento da mistura agregado/aglomerante, maiores resistências à
compressão e à tração na flexão que argamassas de areia britada com 0,7% de finos, na
proporção 1 : 1 : 6, em volume.
O teor de finos de 6,0% na areia britada, objeto deste estudo, demonstrou que melhora o
desempenho da argamassa em algumas propriedades. Porém, há necessidade de maiores
estudos para se determinar a dosagem ideal de finos para um bom desempenho das
argamassas de revestimentos.
Nas argamassas produzidas para esta pesquisa não foram utilizados aditivos. Há
necessidade, no entanto, de pesquisas de argamassas com areia britada de rocha com
aditivos retentores de água e incorporadores de ar para melhorar as suas propriedades.
A substituição da areia natural pela areia britada de rocha mostrou-se viável na
produção de argamassas de assentamento e revestimento.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Paulo. Anais. São Paulo: ANTAC, 2003. p. 121-130.
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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
SUGUIO, K. Rochas sedimentares – propriedades, gênese, importância econômica.
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AGRADECIMENTOS
Ao LAMIR – Laboratório de Análise de Minerais e Rochas da Universidade Federal do
Paraná na pessoa do Prof. Dr. Sc. José Manoel dos Reis Neto pela disponibilização dos
equipamentos para análise de imagem, ao LACTEC pela realização dos ensaios, ao
CEFET-PR pela disponibilização de equipamentos para ensaios e à UEPG pela
disponibilização do laboratório.
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