Altura da embalagem para comercialização de alface com base na compressão. Rita de Fátima Alves Luengo1; Adonai Gimenez Calbo1; Ângelo Pedro Jacomino2; 1Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, 70359-970 Brasília-DF, [email protected]; Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Avenida Pádua Dias,11, Caixa 2 Postal 9, 13400 Piracicaba-SP; RESUMO O objetivo deste trabalho foi determinar a altura da embalagem para comercialização de alface com base na compressão. A hipótese da pesquisa foi que existe a máxima deformação que o produto túrgido pode sofrer sem que ocorram rachaduras e outros danos irreversíveis. Para isto primeiro se encontrou a menor altura que não causa rachaduras no pecíolo das folhas de alface recém-colhidas, com o uso de pesos equivalentes a múltiplos da altura base da caixa de teste. Depois para aferição estudou-se a indução de deformação causada pela compressão no tempo, inclusive com a separação dos efeitos elástico e plástico. A embalagem recomendada teve a medida da altura máxima obtida nos ensaios de rachadura dividida por dois, para acomodar a ocorrência de acelerações de impacto no transporte e variações nos lotes de alface para que não sofram relevante deformação plástica. A conclusão deste trabalho é que a altura da embalagem para comercialização de alface deve ser de 40 cm. Outras dimensões para uma embalagem com esta altura podem ser: comprimento de 60 cm e de largura 50 cm. Embalagem com estas dimensões, para a alface, atende a legislação brasileira, tem valor logístico e protege o operador considerando os princípios da ergonometria. Palavras-chave: firmeza, perdas pós-colheita, desenvolvimento de embalagem. ABSTRACT Lettuce commercialization package height based on compression. The purpose of this paper was to define the commercialization lettuce package height based on compression. The hypothesis was that there is a maximum deformation that freshly harvested product can support without being subjected to cracking. After encountering the height that does not cause cracking to freshly harvested lettuce heads, the effect of equivalent loads on the leaf head plastic deformation and elastic recovery was followed. The recommended package height was half the maximum height obtained in the initial compression/cracking assay. This accommodate transport induced accelerations and sample lettuce head firmness which assures small product deformation during transport and commercialization. The conclusion of this work is that a 40 cm high lettuce is correct for commercial trade. The other dimensions a package this high are 60 cm in length and 50 cm wide. These dimensions conform with the Brazilian law, have logistic value and protects the operator considering basic fundaments of ergonometry. Keywords: firmness, post-harvest losses, package development. INTRODUÇÃO Luengo et. al. (2003) realizaram trabalhos para determinar a altura da embalagem para comercialização de hortaliças e frutas, sendo que os produtos estudados eram órgãos vegetais com formato arredondado (frutos, raízes tuberosas, tubérculos, rizomas). Naquele caso, para a determinação da altura máxima da embalagem utilizaram-se as metodologias de aplanação e firmômetro para determinar a firmeza dependente do turgor celular (kgf/cm2) e alguns outros critérios para manter a qualidade comercial, como acelerações de impacto que aumentam a compressão do produto na embalagem de acordo com um fator 2xg, onde g é a aceleração da gravidade e de uma deformação máxima dos órgãos contra o fundo da caixa de 5% da área do fundo da caixa. Para alface as metodologias de aplanação e firmômetro não são adequadas, devido a estrutura laminar e à disposição espacial das folhas na cabeça da alface, que as torna passíveis de rachadura nas nervuras de outros tipos de deformação. Por isto, para alface utilizou-se da máxima altura que não causa rachadura no pecíolo e a seguir aplicou-se um método de estudo mais sensível com o qual se observaram as deformações elásticas e plásticas com auxílio de uma embalagem de prova, com o qual se observou a deformação da alface sob a placa de aplicação de força de acordo com os pesos de prova adicionados. O objetivo deste trabalho foi determinar uma altura prática para a embalagem de comercialização da alface com base em ensaios de compressão em uma caixa de prova transparente. MATERIAL E MÉTODOS Os estudos para a determinação da altura máxima para a alface foram efetuados com alface cv. Verônica e envolveram a aplicação de diferentes estresses que foram aplicados em uma caixa de prova feita em vidro transparente de 10 mm com dimensões de 60 cm de comprimento, 50 cm de largura e 40 cm de altura (Figura 1). A observação da deformação causada por estresses equivalentes a alturas de embalagens de 40 cm, 80 cm, 120 cm e 160 cm foram observados aplicando-se pesos adicionais sobre uma placa de vidro de 39,5 cm por 59,5 cm ou sobre uma placa de isopor de mesmas dimensões e de massa desprezível, no caso da simulação da altura de 40 cm. Figura 1 – Aplicação de força correspondente ao dobro do peso da alface contida na embalagem Para testar a hipótese de que existe uma máxima deformação em que as cabeças de alface recém colhidas sofrem rachaduras, em um primeiro ensaio estudou-se o efeito das alturas de embalagem de 40 cm, 80 cm, 120 cm e 160 cm sobre a ocorrência de rachadura nas nervuras da base da folha de alface. Estas alturas equivalentes foram obtidas aplicando-se sobre a caixa cheia de alface recém colhida pesos sobre a placa de leitura correspondentes 1, 2 e 3 vezes o peso de produto contido na caixa de prova cheia de alface. Nestes ensaios com duração de 4 horas observou-se que as maiores variações da altura da alface na embalagem ocorreram na primeira hora. Em um segundo ensaio para testar a hipótese de que a alface pode sofrer deformações plásticas causadas por caixas muito altas, observou-se que as deformações plásticas e elásticas sofridas pelas cabeças de alface em porcentagem quando submetidas ao estresse equivalente ao de uma embalagem com 80 cm de altura. Após uma hora de ensaio, o peso correspondente a uma altura de embalagem de 40 cm foi removido para se observar se ocorria recuperação elástica das dimensões das cabeças da alface. Estas determinações foram anotadas a intervalos de cinco minutos. Neste experimento utilizou-se das noções deformação elástica e plástica defendidas por Levitt (1980). Desse modo deformação elástica foi aquela reversível e que é praticamente independente do tempo, como em uma mola. A deformação plástica, por outro lado, foi aquela que aumenta com força aplicada e com a duração do ensaio. A deformação elástica foi estimada através da recuperação da altura das alfaces na embalagem e a deformação plástica permanente foi uma estimativa como resíduo permanente da perda de altura do produto na embalagem após a recuperação elástica de seu volume. As curvas (traços) referentes a estes estudos são de natureza representativa e correspondem ao que se obteve em pelo menos três réplicas do ensaio com resultados muito parecidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na apresentação dos dados de deformação da alface como percentuais de variação da altura em relação à altura total da embalagem, observa-se que a máxima estimativa de deformação total (plástica + elástica) registrada após o período de 60 minutos foi de 5,37%. A maior variação na altura após a aplicação da força foi registrada nos primeiros cinco minutos, diminuindo proporcionalmente em relação ao tempo até uma hora (Figuras 2 e 3). A recuperação elástica que ocorreu após a remoção do peso de prova aos 60 minutos de ensaio foi de 4,23%, do que se infere que durante uma hora de estresse houve uma deformação total das cabeças de alface de 11,64%. Da mesma forma, a recuperação da compressão das folhas de alface foi maior nos primeiros cinco minutos após a retirada do sobrepeso. A conclusão deste trabalho é que a altura da embalagem para comercialização de alface é 40 cm. O comprimento é de 60 cm e a largura é de 50 cm, para atender a legislação brasileira, Logística e visando proteger o operador considerando os princípios da Ergonometria. Altura da embalagem (cm) 50 40 30 20 10 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 Tempo (min) Figura 2 – Variação real (cm) da altura da embalagem de alface ‘Verônica’ devido à aplicação de força equivalente ao dobro do peso contido na embalagem. Após 60 minutos o peso foi removido e observou-se % altura embalagem uma pequena deformação elástica. 15 12 9 6 3 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 Tempo (min) Figura 3 – Redução percentual da altura da alface ‘Verônica’ contida no interior da embalagem em relação à altura total da embalagem devido à aplicação de força equivalente ao dobro do conteúdo interno da embalagem. Após 60 minutos o peso foi removido. LITERATURA CITADA LEVITT, J. Responses of plants to enviromental stresses. Water, Radiation, Salt and Other Stresses. Academic Press, New York, 1980. 2nd edition, v.1, 606 p. LUENGO, R.F.A.; CALBO, A.G.; JACOMINO, A. P.; PESSOA, J.D.C. Avaliação da compressão em hortaliças e frutas e seu emprego na determinação do limite físico da altura da embalagem de comercialização. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n.4, p.704-707, dez. 2003.