IMPORTÂNCIA DA TAXONOMIA PARA O CONHECIMENTO DAS
PLANTAS MEDICINAIS: ELABORAÇÃO DE EXSICATAS COM
FINALIDADE DIDÁTICA PELO PIBID/BIOLOGIA-UFMA, MARANHÃO
Ariade Nazare Fontes da Silva (Bolsista do PIBID/UFMA)
Flávia Cristina Vieira Serra (Bolsista do PIBID/UFMA)
Eduardo Bezerra de Almeida Jr. (Universidade Federal do Maranhão)
Mariana Guelero do Valle (Coordenadora do PIBID/BIOLOGIA/UFMA)
Fomento:
CAPES/Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID)
Introdução
Desde os primórdios o homem observou a potencialidade vegetal, não apenas
para alimentação, mas também para cura de enfermidades (Brito et al., 2009). No
Brasil, os índios foram os primeiros a utilizarem as plantas medicinais; e com a chegada
dos europeus, os escravos africanos adicionaram novas plantas e modos de uso. A
utilização de plantas com fim medicinal é uma prática que vem sendo passada ao longo
das gerações e a partir de 1978 foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) propiciando ainda mais a difusão de sua eficácia (Lorenzi & Matos, 2008).
Nesse contexto, as plantas medicinais e as atividades pedagógicas se cruzam
diante da necessidade de tornar o ensino mais próximo da realidade dos alunos no
intuito de aproximar o conhecimento científico do cotidiano. Aliados à importância dos
estudos sobre a identificação correta das plantas, e tentando aproximar o aluno dos
temas botânicos, a criação do Horto de Plantas medicinais e do material de apoio para
identificação possibilita o contato dos alunos com diferentes espécies vegetais,
mostrando a forma adequada para o reconhecimento das plantas.
A construção de um horto-medicinal em uma escola possibilita a visualização
prática de alguns conteúdos dentro do estudo da botânica, pois as plantas medicinais ali
presentes podem ser usadas tanto para exemplificar as variações morfológicas entre as
espécies, o que permite a identificação das mesmas, quanto ajudar na compreensão de
conteúdos como germinação, reprodução vegetal e ciclo de vida dos vegetais. Os
cuidados na manutenção do espaço do horto podem ainda ser usados para trabalhar
temas relacionados à conscientização sobre a conservação ambiental e valorização da
biodiversidade vegetal do nosso país.
O estudo da botânica teve seu início histórico com a taxonomia, onde as espécies
eram descritas e nomeadas por naturalistas, dentre estes o mais conhecido foi Carl Von
Linne, ou em português, Lineu. Atualmente, o ensino desse ramo da botânica tem se
deparado com dificuldades devido à falta de interesse dos alunos da educação básica,
sob a justificativa de o conteúdo ser bastante descritivo e pouco se relacionar com o
cotidiano. A criação de um horto na escola pode contribuir para tornar mais atrativo o
ensino de botânica e conscientizar a respeito da importância da taxonomia, utilizando-se
de exemplos como: é necessário saber se a planta utilizada é a planta correta indicada
para o sintoma que está se buscando combater. A utilização de caracteres morfológicos
de fácil identificação que podem ser confirmados consultando-se as exsicatas didáticas
ou ainda de odores característicos são meios para auxiliar no reconhecimento das
espécies vegetais.
Objetivos
Identificar as espécies de plantas presentes no horto medicinal da escola YBacanga; montar exsicatas didáticas para servirem como fonte de consulta aos usuários
das plantas do horto; sensibilizar os usuários do horto a utilizar corretamente as espécies
vegetais, a fim de evitar o consumo equivocado dos mesmos.
Material e métodos
A construção do Horto foi uma das atividades realizadas pelo PIBID no ano de
2012, como forma de aproximar o programa da comunidade escolar. Durante o processo
de elaboração do horto foram realizadas palestras para a comunidade, explicando sobre
o uso de fitoterápicos e sua importância a saúde. As mudas plantadas no horto da escola
foram doadas pelo Horto do Departamento do Curso de Farmácia da UFMA e inseridas
com auxilio dos alunos da escola do turno vespertino e noturno.
Para desenvolver o presente estudo, foram coletadas as plantas do Horto
Medicinal Terezinha Rego da escola Y Bacanga no município de São Luís, entre os
meses de fevereiro e março de 2013 pelas alunas do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação a Docência (PIBID) do curso de Biologia da UFMA. Foram coletadas apenas
as espécies que apresentavam flor e/ou fruto para que as mesmas fossem identificadas
com segurança.
Durante as coletas foram anotados no caderno de campo informações sobre as
plantas, como: porte e altura da planta, cores e aromas das estruturas da planta, presença
de látex ou exsudato, e quaisquer outras informações que podem ser perdidas no
processamento da amostra ou que não sejam possíveis de observar na exsicata
produzida a partir do material amostrado (Mori et al., 1989). Após a coleta, os
espécimes vegetais passaram por um processo de prensagem e secagem de acordo com
a metodologia usual em taxonomia.
A identificação das plantas foi realizada através de chaves taxonômicas e
bibliografias especializadas, seguindo a classificação do APG III (2009).
Após o processo de secagem, cada planta foi costurada em papel cartão,
contendo uma ficha de identificação da espécie (com as seguintes informações: nome da
família, nome científico da espécie, nome popular, importância e indicação de uso),
caracterizando assim uma exsicata. Essas exsicatas foram montadas com fins didáticos
para auxiliar o reconhecimento das espécies existentes no Horto, pela comunidade
escolar. Paralelo a essa atividade esta sendo elaborada, pelos alunos do PIBID, uma
cartilha que conterá informações sobre o uso adequado das plantas medicinais do Horto
Medicinal Terezinha Rego da escola Y Bacanga.
As exsicatas preparadas nos Herbários seguem um padrão, em que a amostra é
costurada no centro do papel cartão, onde é adicionada uma ficha de identificação no
canto direito inferior do papel cartão com as seguintes informações: nome da família,
nome científico, nome popular, procedência (local onde a planta foi coletada, e as
coordenadas geográficas da área), nome do coletor, data de coleta, nome do
determinador (taxonomista que tenha identificado a planta) e algumas informações
morfológicas da amostra. Após a preparação da exsicata, a mesma é registrada e
incorporada ao acervo do Herbário da Instituição.
A exsicata didática contém as mesmas informações descritas anteriormente,
ressaltando, porém, que as exsicatas didáticas foram plastificadas para evitar eventuais
danos à amostra e ficam no acervo da escola para consulta da comunidade.
Resultados
No Horto da escola Y Bacanga foram plantadas 30 espécies, sendo que destas,
apenas oito apresentavam flores no momento das coletas. Deste total, foram
identificadas sete espécies, pertencentes a sete gêneros, distribuídas em cinco famílias;
apenas uma planta ficou como morfoespécie, devido à dificuldade de identificação
diante da variação morfológica. As espécies que apresentaram maior facilidade de
identificação foram: Bidens subalternans DC e Solidago chilensis Meyen (família
Asteraceae), por possuírem inflorescência do tipo capítulo, caraterístico dessa família;
Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze (Amaranthaceae), por apresentar brácteas
escamiformes na inflorescência; Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson
(Verbenaceae) e Ocimum gratissimum L. (Lamiaceae) devido ao odor característico da
folha, que unidos aos caracteres morfológicos facilitam o reconhecimento.
Para identificar as espécies Talinum triangulare (Jacq) Willd (Portulaceae) e
Ruellia sp. (Acanthaceae) foi necessário realizar uma descrição mais detalhada,
referente à quantidade de sépalas, pétalas e estames, posição do ovário, quantidade de
lóculos do ovário e quantidade de óvulos, para confirmação do nome científico. No
entanto, a espécie conhecida popularmente como “mirra” não teve sua identificação
concluída diante da maior variação das estruturas morfológicas e por falta de estudos
taxonômicos referentes a essa planta.
A grande variação morfológica observada nas espécies vegetais deve-se, entre
outros fatores, ao processo de hibridização que é comum em plantas cultivadas. Outro
fator que contribui para a variação está relacionada a influência antrópica devido ao
melhoramento genético, fator que contribui com a ampliação do poder farmacológico
das plantas. Estas alterações, a longo prazo, podem modificar os caracteres
morfológicos e reprodutivos, dificultando assim o reconhecimento taxonômico, pois as
descrições morfológicas são feitas baseadas em como as plantas são na natureza.
Outro fator que merece destaque é a diversidade de nomes populares existentes
que dificultam a identificação, pois plantas distintas podem apresentar o mesmo nome
popular, o que pode variar dependendo de cada região, ou a mesma planta apresentar
nomes populares diferenciados. Portanto, se faz necessária a utilização da nomenclatura
botânica no intuito de evitar ambiguidades, tendo em vista que poderá ser reconhecida
em qualquer lugar, diminuindo assim os riscos a população (Lorenzi & Matos, 2008).
Diante disso, a identificação científica correta das plantas medicinais é
fundamental para que se evitem problemas como intoxicações ou efeitos colaterais.
Além disso, a confecção das exsicatas com a finalidade didática permite que os próprios
alunos e a comunidade escolar como um todo possam atuar no reconhecimento e
identificação das plantas e assim compreender a importância desse processo.
Referências
APG III. 2009. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the
orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean
Society 161: 105–121.
BRITO, A. C. F.; ARAÚJO, A. C. M.; CARNEIRO, F. J. C. MONTAGEM DE
HORTO DE PLANTAS MEDICINAIS NO IFMA. IV Congresso de Pesquisa e
Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica - CONNEPI – 2009.
LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2.ed.
Nova Odessa: Plantarum, 2008. 544p.
MORI, L.A.; SILVA, L.A.M.; LISBOA, G.; CORADIN, L. Manual de manejo do
herbário fanerogâmico. lhéus, Centro de Pesquisa do Cacau. 1989.
Download

importância da taxonomia para o conhecimento das plantas