ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES
HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
(textos de apoio para aulas de formação profissional)
Para as plantas de jardim, resulta difícil encontrar dados precisos e
rigorosos para cada espécie. Na verdade o número de espécies cultivadas
é imenso e, além disso, os estudos neste campo estão menos
desenvolvidos. Assim, nas condições actuais a maioria dos especialistas
recorre a valores orientativos estabelecidos com base nos dados existentes
para as hortícolas ou fruteiras.
Nas nossas condições, tendo em atenção os dados de que dispomos
podemos, a título orientativo, tomando como referência plantas isoladas
ou plantadas em muito baixa densidade, estabelecer os seguintes valores:
Árvores e arbustos de folha persistente
Quantidade de água a aplicar com rega localizada (litros/planta/dia)
Fase de
Outono
Inverno
Verão
Desenvolvimento
Inverno
Primavera
Árvores pequenas ou arbustos
30 – 15
20 - 50
55 – 75
Árvores grandes
50 - 20
25 - 70
75 - 100
NOTA: Com rega por aspersão usar mais 20% a 30% de água.
Armindo Rosa – Pg. 1
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Árvores de folha caduca
Quantidade de água a aplicar com rega localizada (litros/árvore/dia)
Fase de Desenvolvimento
Primavera
Verão
Outono
Árvores pequenas
25 - 50
60 - 70
45 – 40
Árvores grandes
30 - 75
90 - 100
70 – 50
NOTA: Com rega por aspersão usar mais 20% a 30% de água.
Arbustos de folha caduca
Quantidade de água a aplicar com rega localizada (litros/planta/dia)
Fase de Desenvolvimento
Primavera
Verão
Outono
Arbustos pequenos
20 - 45
50 - 70
40 - 30
Arbustos grandes
25 - 60
75 - 90
55 - 40
NOTA: Com rega por aspersão usar mais 20 a 30% de água.
Armindo Rosa – Pg. 2
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Plantas herbáceas e pequenos arbustos semi-lenhosos
Quantidade de água a aplicar com rega localizada (litros/m2/dia)
Fase de
Outono
Inverno
Primavera
Desenvolvimento
Inverno
Primavera
Verão
Plantas
pequenas
ou
após
a
1,50 – 0,60 0,75 – 2,00 2,50 – 3,00
plantação
(Cobrindo até 20% do solo)
Plantas médias
(Cobrindo de 20% a 60% do solo)
Plantas grandes
(Cobrindo mais de 60% do solo)
2,50 – 1,00 1,75 – 3,50 4,00 – 5,00
3,00 – 1,20 2,00 – 4,00 5,00 – 6,00
NOTA: a) Com rega por aspersão usar mais 20% a 30% de água.
b) Em estufa usar menos 30% de água.
Os valores supra indicados são, como é evidente, orientativos e
devendo-se escolher-se os mais baixos quando as plantas têm menor porte
e o solo está limpo de ervas, e os mais elevados quando as plantas são
mais desenvolvidas e, ou, o solo está coberto no todo ou em parte com
infestantes ou outras plantas que aumentem a evapotranspiração da zona a
regar.
Igual cuidado se terá no referente à época do ano aumentando ou
diminuindo
os
valores
de
acordo
com
a
maior
ou
menor
Armindo Rosa – Pg. 3
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
evapotranspiração, que é influenciada pelo calor, pelo vento, pela
humidade, pela chuva, etc.
Como foi referido a quantidade de água necessária para a rega
dependerá principalmente da quantidade de água que as plantas perdem
por evapotranspiração (ETc).
Assim conhecidas as características de humidade do solo local, a
eficiência da rega e o valor da ETc estimada para as plantas a regar, o
profissional de jardinagem pode estabelecer um plano de rega.
Todavia, num jardim onde convivem em simultâneo várias espécies,
em diferentes fases de desenvolvimento, resulta difícil determinar a ETc
para as diferentes plantas.
As taxas de evapotranspiração foram estabelecidas para relvas e
certas culturas agrícolas, aplicando a relação
ETc = Kc x ETo
de acordo com o anteriormente referido.
Alguns coeficientes culturais (Kc) para diversas culturas agrícolas e
relvados apresentam-se no Quadro I.
Armindo Rosa – Pg. 4
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QUADRO I – Coeficientes Culturais
Espécie
Valores de Kc
Baixo *
Alto *
Vinha (semelhante a arbustos)
0,60
0,80
Oliveira
0,58
0,80
Citrinos
0,65
0,65
Relvados (esp. estação fria)
0,80
0,80
Relvados (esp. estação quente)
0,60
0,60
Árvores (folha caduca)
0,50
0,97
Árvores (folha caduca com
0,98
1,27
coberto vegetal)
Fonte: Costelo, R. L, Mayheny, N. P, y Clark, J. R.
(1991)
* Os valores baixos são para árvores temporãs (Março/Abril) e os altos
para a média estação (Maio/Junho).
Armindo Rosa – Pg. 5
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VALORES ORIENTATIVOS PARA A REGA DE RELVADOS
(FÓRMULA DE CÁLCULO)
Quadro II – Valores de Epan (evaporação em mm ou l / m2),
registados numa Tina de Classe A, instalada no CEHFP.
(1986/87 a 1996/97)
MÊS
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
Epan 1,7 2,4 3,6 5,2 6,3 8,2 8,8 7,8 5,9 3,7 2,1 1,8
Para estimar a água a aplicar vamos tomar como referência os valores
da evapotranspiração do relvado.
Primeiro, com os dados da evaporação, é feita uma estimativa da
evapotranspiração de referência (Eto), que se obtém com base na seguinte
relação:
Eto = Epan x Kp
Eto – Representa a evapotranspiração de uma cultura de gramíneas
verdes, de altura uniforme (8 a 15 cm) com crescimento activo
cobrindo um solo bem abastecido de água (mm)
Epan – Evaporação numa tina de Classe A. Representa a perda de
água por evaporação na superfície da tina (mm).
Armindo Rosa – Pg. 6
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Kp – Coeficiente específico relativo à Tina de Classe A. Representa a
relação entre a evapotranspiração da cultura de referência (Eto) e
a perda de água por evaporação na superfície de água livre de
uma tina (Epan). Os valores deste coeficiente variam com a
extensão e o estado da vegetação que cobre o solo em redor da
tina, bem como com as condições de humidade e de vento. Pode
variar entre 0,55 e 0,85.
A rega é depois estimada aplicando a fórmula:
Rega = Eto x Kc
Rega – Representa a quantidade de água a aplicar ao relvado (l / m2)
Kc – Coeficiente cultural. Consoante as maiores ou menores
exigências do relvado em água os valores poderão oscilar entre 0,6 e 0,8.
Como é evidente, para calcular com exactidão a dotação de rega num
relvado será necessário o conhecimento e a determinação no local de
inúmeros dados (evaporação, velocidade do vento, humidade, valores de
Kp e de Kc, etc.). Todavia, em grande parte dos casos tal informação não
existe, ou está incompleta, e estudá-la no local nem sempre é fácil. Por
essa razão no Quadro III indicamos valores orientativos para a rega de
relvados na região do Algarve. Nesta estimativa tivemos como referência
os valores da evaporação do Quadro II e estimamos Kp=0,8 e Kc = 0,7.
Simplificando temos:
REGA = Epan x 0,8 x 0,7
Armindo Rosa – Pg. 7
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REGA = Epan x 0,56 (l / m2)
Quadro III – Valores orientativos para a rega de um relvado (l / m2/ dia)
MÊS
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
REGA 0,95 1,34 2,01 2,91 3,52 4,59 4,92 4,36 3,30 2,07 1,18 1,00
No caso das plantas de jardim não há dados tão precisos e resulta
difícil encontrar Kc estudados para cada espécie. Além disso, como já
referimos, em jardinagem não é fácil estabelecer valores para ETc
mediante determinadas condições convencionais.
Assim os coeficientes culturais para jardim determinam-se utilizando
algum outro método.
Existem três razões para isso:
Ao contrário das culturas agrícolas, ou dos relvados, um
jardim é formado por numerosas espécies e uma mistura variada de
vegetação, por exemplo, árvores, arbustos, plantas rasteiras, etc.
Resulta assim praticamente impossível medir a ETc e estabelecer
Kc para cada espécie utilizada no jardim, por haver demasiadas.
Para mais a maior parte dos jardins inclui várias espécies regadas
simultaneamente no mesmo sector de rega.
Logo tendo em conta que a maioria das zonas de rega num
jardim incluem um amplo número de espécies, assinalar um só Kc
não seria correcto. Seria mais correcto escolher um Kc global para
todas as espécies do sector de rega. O encarregado poderia então
Armindo Rosa – Pg. 8
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
utilizar este valor de Kc e estimar a ETc de todas as plantas da zona
regada. Apesar de esta aproximação global poder ser mais
adequada que determinar os Kc de cada espécie particular, não
deixa de ser pouco prática. De facto considerando o n.º de espécies,
possível e o ilimitado o número de combinações que podem existir
num jardim, não resulta simples estabelecer um Kc com base em
determinações de campo.
Os jardins combinam um elevado n.º de densidades de
plantação. Assim um jardim recém implantado tem menor área
foliar que uma plantação já estabelecida há vários anos.
Os jardins com uma elevada densidade de plantação podem ter
maiores perdas hídricas por transpiração que as zonas de baixa
densidade de plantação.
Um jardim misto (com árvores, arbustos e plantas rasteiras)
necessita de mais água do que um jardim semelhante só com
plantas rasteiras. Uma plantação de árvores de folha caduca perde
entre 25 a 80% mais de água com coberto vegetal que sem ele. Ao
aumentar a área foliar evaporante na plantação também aumentará
o Kc cultural. Nos jardins ocorrem situações semelhantes. Assim
num jardim teremos que atender a plantações com baixa, média e
elevada densidade.
Muitos jardins incluem uma variação de microclimas:
lugares mais frescos, sombreados e protegidos de outras zonas mais
quentes e ensolaradas.
Armindo Rosa – Pg. 9
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
Estas
variações
influem
de
modo
significativo
na
evapotranspiração (ETc). Assim os Kc do jardim têm que ter em
conta as diferenças na ETc resultantes dos efeitos microclimáticos.
Os valores da evapotranspiração de referência (ETo) são
indicativos de perdas em zonas amplas, pelo que a ETo não tem em
conta os aumentos devidos à presença de superfícies reflectoras e
calor gerado pelos pavimentos ou as descidas da ETc nas zonas
sombreadas.
Assim os coeficientes de jardim devem incluir um factor para a
variação microclimática e será difícil que estes valores se
estabelecem com ensaios de campo.
Pelas razões apontadas, e outras, não resulta prático determinar as
necessidades hídricas para um jardim à base da ETc e do cálculo de Kc.
Parece mais razoável “ESTIMAR” os coeficientes de jardim (Kj)
para plantações baseando-nos em avaliações de campo de espécies
plantadas, na densidade da vegetação e no microclima da zona a regar.
Assinalando os valores numéricos adequados a cada um destes
factores, poderíamos calcular um valor para o Kj.
Esta aproximação teria em conta as variações que afectam o uso da
água e os planos de rega poderiam-se adaptar às condições de cada zona a
regar.
Armindo Rosa – Pg. 10
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O MÉTODO DO COEFICIENTE DE JARDIM (Kj)
A quantidade de água perdida por um jardim, devido à
evapotranspiração da cultura (ETc), varia em função da espécie cultivada,
da densidade de vegetação e das condições microclimáticas.
Avaliando cada factor e atribuindo-lhe um valor numérico, podemos
estimar quanta água se perde em relação à da evapotranspiração de
referência (ETo). Assim a relação é a seguinte:
Kj = Ks x Kd x Kmc
Sendo:
Kj Coeficiente de jardim
Ks Factor espécie
Kd Factor densidade
Kmc Factor microclima
Com estes 3 factores encontramos então um único coeficiente de
jardim (Kj). Este coeficiente utiliza-se para aproximar as perdas por
evapotranspiração de um jardim ETj relativas à ETo com base na
seguinte relação:
Armindo Rosa – Pg. 11
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
ETj = Kj x ETo
Estes 3 factores, Ks, Kd e Kmc podem variar consideravelmente
entre os distintos jardins e inclusive dentro do mesmo jardim. Os valores
propostos para cada factor são os indicados, mais adiante, no Quadro IV.
Por outro lado os coeficientes culturais não têm em conta a variação
em espécies, densidades e microclima.
O Kc de uma cultura procura assegurar condições óptimas de rega às
culturas e o Kj é uma aproximação aos valores que proporcionem a água
necessária para manter uma certa estética no jardim.
Mais do que representar a quantidade de água que se perde num
jardim, Kj é uma estimativa da água necessária para manter uma certa
qualidade paisagística.
Armindo Rosa – Pg. 12
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
QUADRO IV – Valores estimados para os factores espécie (Ks),
densidade (Kd) e microclima (Kmc) utilizados para determinar o
coeficiente de jardim (Kj) para alguns tipos de vegetação.
Tipo
Factor
Factor
Factor
de
espécie
densidade
microclimático
Vegetação
(Ks)
(Kd)
(Kmc)
a
m
b
a
m
b
a
m
b
Árvores
0,9
0,5
0,2
1,1
1,0
0,5
1,4
1,0
0,5
Arbustos
0,7
0,5
0,2
1,1
1,0
0,5
1,3
1,0
0,5
Plantas rasteiras
0,7
0,5
0,2
1,1
1,0
0,5
1,2
1,0
0,5
Plantação mista
0,9
0,5
0,2
1,3
1,1
0,6
1,4
1,0
0,5
Relvados
0,8
0,7
0,6
1,0
1,0
0,6
1,2
1,0
0,8
Fonte: Costelo, R. L, Mayheny, N. P, y Clark, J. R.
(1991)
Os valores a, m e b têm em conta elevadas, médias ou baixas exigências em
água nos três factores considerados. Os valores para árvores, arbustos e plantas
rasteiras são para utilizar em jardins que contenham só ou predominantemente um
destes três tipos de vegetação.
As plantações mistas são formadas por 3 tipos de vegetação (Árvores, Arbustos
e Plantas rasteiras) em que nenhuma predomina sobre as outras. Para situações
Armindo Rosa – Pg. 13
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
intermédias consideraremos valores intermédios tendo em atenção a situação
predominante.
Nos valores de Ks para relvados, os valores altos são mais adequados às
espécies de estação fria e os baixos para as de estação quente, ou seja, relvados mais
ou menos exigentes em água.
FACTORES NECESSÁRIOS PARA DETERMINAR Kj
FACTOR ESPÉCIE (Ks)
As espécies vegetais variam consideravelmente em relação às suas
taxas de transpiração. Algumas, transpiram grandes quantidades de água,
enquanto que outras muito menos. Por outro lado, as plantas transpiram
mais quando a água é facilmente disponível e menos quando se reduz a
quantidade de água disponível.
Nos jardins algumas plantas requerem muita água para manter o seu
valor estético (por exemplo: hortênsias, cerejeiras, rododendros). Outras,
pelo contrário requerem pouca (por exemplo: oliveiras).
Dados mais precisos sobre as necessidades e exigências das culturas
podem ser encontrados em manuais e revistas.
Tendo em conta as amplas margens de exigências hídricas das plantas
de jardim, no Quadro IV incluem-se 3 categorias segundo a espécie:
elevada, média e baixa. Os responsáveis pela rega devem basear-se na
sua própria experiência e em manuais para determinar a categoria onde
incluir cada espécie determinada.
Os valores para o factor espécie, do Quadro IV, estão baseados em
várias fontes de informação.
Armindo Rosa – Pg. 14
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
Os valores para árvores são aproximações de coeficientes de cultura
(Kc) de fruteiras no campo, que variam entre 0,56 e 1,19.
Assumimos que as árvores de jardim podem ter uma ETc menor e
permanecer esteticamente bem, pelo que ajustamos os Kc diminuindo o
seu valor.
“O importante não é dar à planta os valores óptimos em água
mas sim dar ao jardim uma forma esteticamente aceitável.”
Os valores do factor espécie para plantas rasteiras teve por base
experiências de campo com diversas espécies destas plantas. Quando se
regaram com fracções de ETo entre 20 e 100% a maioria manteve
condições aceitáveis para valores em redor dos 50% de ETo. Assim
vamos utilizar o valor médio 0,5 para estas plantas. É verdade que
algumas requerem menos e outras mais, pelo que se incluiu também os
valores (0,2) baixo e (0,7) alto.
Os valores do factor espécie para arbustos são aproximações
baseadas nas cifras para plantas rasteiras, uma vez que os arbustos são
mais parecidos, pela sua forma e tamanho a estas do que às árvores. Até
termos dados de campo para espécies de arbustos consideremos válidas
estas aproximações.
As plantações mistas deverão ter uma margem de uso similar às das
árvores, arbustos e plantas rasteiras.
É importante ter em conta que algumas plantas podem sobreviver
sem rega durante os meses de Verão, uma vez que se tenham adaptado e
estabelecido no terreno. Assim se não for necessário regar, não se rega.
Armindo Rosa – Pg. 15
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
É importante referir que na aplicação do factor espécie se atenda,
dentro do possível, ao seguinte:
“As espécies com necessidades hídricas semelhantes devem
agrupar-se em zonas de rega comuns.”
FACTORES DE DENSIDADE E MICROCLIMA (Kd e Kmc)
Os jardins diferem consideravelmente quanto à densidade de
vegetação e microclima. Ambos os factores influem nas perdas de água
globais do jardim.
Assim baixas densidades de plantação e zonas sombreadas utilizam
menos água que plantações de alta densidade e em pleno Sol. Por isso a
organização da rega pode e deve permitir estas diferenças.
Para tornar possível este factor os mesmos são estimados em % do
factor espécie, multiplicando o valor obtido pelo deste factor. O valor
médio de cada factor é 1,0 e os incrementos de factor densidade e
microclima obtêm-se aumentando este valor até 1,4. Os abaixamentos no
consumo obtêm-se diminuindo o mesmo valor até 0,5.
EXEMPLO:
Utilizando um valor de 1,3 para o Kd (ou para Kmc) iríamos
ajustar, para cima, o factor espécie em 0,3 (30%).
Armindo Rosa – Pg. 16
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
Do mesmo modo se poderia diminuir em 50% utilizando 0,5 para
Kd ou para Kmc.
⌦ Estes ajustes gerem um Kj que especifica, dentro da espécie, as
condições específicas da zona a regar.
FACTOR DENSIDADE Os jardins recém plantados e os com
plantas espaçadas têm, geralmente, uma menor superfície foliar que os
jardins adultos e/ou muito densos de vegetação, perdendo por isso menos
água.
Pode dar-se o caso de haver plantas individuais muito exigentes em
água, mas plantadas espaçadamente consomem menos água que uma
plantação menos exigente mas densamente povoada.
Considerando estas diferenças os valores de Kd foram estimados
entre 0,5 e 1,3 (50% a 130% de Ks).
Determinar um valor para a densidade é função do tipo de vegetação.
As densidades, altas, médias ou baixas, para as árvores, dependem do
coberto vegetal e do índice de área foliar de cada árvore individual.
Ensaios realizados no campo mostram que as perdas de água são
semelhantes para coberturas vegetais entre 60 e 100% da área plantada.
Assim iremos utilizar o valor Kd = 1.0 para cobertos vegetais
superiores a 60%.
Armindo Rosa – Pg. 17
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
Podemos definir um coberto vegetal como “a percentagem de solo
sombreado”.
50% de coberto vegetal representa uma sombra que cobre 50% de
solo por baixo das árvores.
Quando as árvores representam o tipo de vegetação predominante,
mas há também arbustos e plantas rasteiras, aconselha-se um ajuste para
cima do valor Kd. Na verdade os arbustos e plantas rasteiras representam
outra capa de vegetação e a perda de água será maior do que se esta capa
estiver ausente.
Neste modelo não se têm em conta as perdas de água por evaporação
do solo. Uma maneira de as diminuir é utilizando casca de pinho, ou outro
material, a cobrir o solo.
Os arbustos e plantas rasteiras consideram-se quase equivalentes no
valor de Kd. Uma cobertura de 90 – 100% do solo com arbustos ou
plantas rasteiras representa uma condição média, para este tipo de
vegetação (Kd=1.0).
Valores de densidade mais altos são usados quando a plantação base
são arbustos ou plantas rasteiras, mas existe outro tipo de vegetação. Por
exemplo, quando se plantam arbustos ou árvores sobre plantas rasteiras há
um aumento de densidade de vegetação que conduz a um Kd maior, que o
da planta rasteira isoladamente.
Do mesmo modo, quando os arbustos e plantas rasteiras não cobrem
totalmente a superfície do solo, devem-se esperar reduções no consumo
de água. Uma zona recém plantada com plantas rasteiras não consumirá
tanta água como uma área já adulta. Nestes casos vamos escolher um Kd
entre 1,0 e 0,5.
Armindo Rosa – Pg. 18
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
Os jardins mais comuns são plantações mistas.
É com este tipo de vegetação (árvores, arbustos, plantas rasteiras) que
se obtêm as maiores densidades de plantação.
Uma plantação de fruteiras, com coberto vegetal, pode ter uma ETc
entre 25 a 80% maior que no caso de solos limpos de vegetação.
Geralmente a uma maior superfície foliar corresponde uma maior ETc.
Nos jardins as plantas rasteiras podem plantar-se debaixo das árvores.
De
modo
semelhante
arbustos
e
plantas
rasteiras
plantam-se
conjuntamente nas mesmas condições.
Nestas condições obtêm-se “capas” de vegetação (Figura 1). Este
efeito de capa aumentará a perda total de água.
A área foliar transpirante será provavelmente maior numa plantação
de 3 “capas” do que numa plantação de 2 ou 1 “capa”. Portanto os valores
de Kd para plantações de elevada densidade são também mais altos do
que nos outros tipos de vegetação.
Assim uma plantação de elevada densidade com todos os tipos de
vegetação em simultâneo teria um valor máximo de Kd=1,3.
Também podemos encontrar plantações mistas de baixa densidade.
Nestes casos será adequado reduzir Kd = 0,6.
A densidade de vegetação média é função do que consideramos alta
ou baixa densidade. Assim é sempre muito subjectivo determinar este
dado. O valor médio em caso de dúvida será de Kd = 1,1.
Armindo Rosa – Pg. 19
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
FIGURA 1 – Plantações mistas de alta e baixa densidade.
Jardim de elevada densidade com 3 capas de vegetação.
Kd = 1,3
Jardim misto de baixa densidade.
Kd = 0,6
Armindo Rosa – Pg. 20
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
FACTOR MICROCLIMÁTICO As condições ambientais
podem variar consideravelmente num jardim. As estruturas e o pavimento
típico dos jardins urbanos podem influir consideravelmente nas
temperaturas foliares e do ar, no vento e na humidade.
Assim, por exemplo, as árvores das zonas de estacionamento estão
submetidas a maior temperatura e menor humidade que as árvores dos
parques.
Denomina-se “microclima” cada zona com distintas condições
ambientais dentro de uma mesma zona climática.
O factor microclimático (Kmc) utiliza-se para diferenciar estas
diferenças na estimativa do Kj. O factor microclimático é relativamente
fácil de definir.
Registe-se que apesar do coeficiente Kj se utilizar como um
coeficiente cultural ele, tecnicamente, não o é. Os Kc calculam-se a partir
de ensaios de campo o que não é o caso de Kj.
Uma situação microclimática média é aquela em que os edifícios,
pavimentos, estrutura, pendentes e superfícies reflectoras não influem no
microclima do lugar. O Kmc médio será 1,0.
Numa situação microclimática “alta”, as características do lugar
aumentam as condições evaporantes na zona de rega. As zonas
ajardinadas rodeadas de superfícies que absorvem o calor, as superfícies
reflectoras e as que estão expostas ao vento devem ter um Kmc mais
elevado (por exemplo, parques de estacionamento, zonas a oeste dos
edifícios, zonas a oeste e a sul das pendentes, zonas ventosas, etc.). Estas
zonas terão valores de Kmc de 1,0 a 1,4.
Armindo Rosa – Pg. 21
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
As situações microclimáticas “baixas” são tão frequentes como as
altas. Os jardins que estão sombreados durante uma parte do dia ou que
estão protegidos dos ventos terão valores mais baixos de Kmc (estas
zonas incluem as partes norte dos edifícios, pátios, zonas por debaixo de
varandas e as pendentes orientadas a norte). Nestes casos os valores de
Kmc serão entre 0,5 e 1,0.
EXEMPLOS UTILIZANDO A FÓRMULA DE kj
Nos exemplos seguintes mostra-se como a fórmula
Kj = Ks x Kd x Kmc
se pode aplicar em jardins com ampla veriedade de espécies,
densidades e condições microclimáticas. Os valores escolhidos baseiamse na experiência e em observações de diferentes autores.
1) Plantação mista de Magnolia grandillona, Alnus incana,
Hydragea, Camellia, Vinca e Trachelospermum jasminoides. Trata-se de
um jardim adulto, sombreado pela tarde e protegido do vento (Ver
Quadro IV).
Ks = 0,8
Kj = Ks x Kd x Kmc
Kd = 1,2
Kj = 0,8 x 1,2 x 0,6
Kmc = 0,6
Kj = 0,58
Armindo Rosa – Pg. 22
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
2) Plantação mista de Baccharis pilularis, Dodonaca viscosa,
Juniperus chinensis, Oliveiras e Plantas rasteiras pouco exigentes. O
jardim está plenamente estabelecido, fica exposto ao Sol todo o dia, com
ventos fortes à tarde (Ver Quadro IV).
Ks = 0,2
Kj = Ks x Kd x Kmc
Kd = 1,1
Kj = 0,2 x 1,1 x 1,3
Kmc = 1,3
Kj = 0,29
3) Jardim de cerejeiras de flor, próximo de um edifício que reflecte a
luz e o calor durante a tarde (Ver Quadro IV).
Ks = 0,8
Kj = Ks x Kd x Kmc
Kd = 1,0
Kj = 0,8 x 1,0 x 1,4
Kmc = 1,4
Kj = 1,12
4) Jardim com um tapete de Hyperium numa pendente de um parque,
em pleno Sol e sem vento (Ver Quadro IV).
Ks = 0,5
Kj = Ks x Kd x Kmc
Kd = 1,0
Kj = 0,5 x 1,0 x 1,0
Kmc = 1,0
Kj = 0,5
Armindo Rosa – Pg. 23
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
Kj E KTj E MANEIO DO JARDIM
Os valores de kj usam-se depois para calcular ETj a partir da fórmula
ETj = Kj x ETo
A estimativa das perdas de água do jardim, por evapotranspiração,
são utilizadas para programar, semanal ou mensalmente as regas.
Esta informação deve ser complementada com dados sobre a
eficiência de rega, a capacidade de retenção do solo, a água existente no
solo, profundidade das raízes, etc.
Ter em atenção que os valores de Kj são estimativas para usar a
título orientativo, devendo ser ajustados para cima ou para baixo sempre
que se justifique, em função das condições locais e da experiência que a
pouco e pouco se irá adquirindo no seu manejo.
EFICIÊNCIA DE REGA
O Kj estima as necessidades hídricas das plantas de jardim. Todavia
os sistemas de rega nem sempre são totalmente eficientes e o jardim
requererá um excesso de água, em relação à estimada mediante o Kj, para
compensar essa ineficiência. Cada sistema de rega perde uma certa
quantidade de água devido a percolação, escorrência e evaporação.
Armindo Rosa – Pg. 24
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
Assim, um sistema com 70% de eficiência aplica somente 70 l de
água ao jardim por cada 100 l aplicados.
A pessoa responsável deverá pois avaliar a eficiência do sistema e
depois, se necessário, fazer as correcções exigidas.
Com
100 l
X
APLICAMOS
SE QUEREMOS APLICAR
70 l
100 l
X = 142 l
Logo teremos que aplicar 142 litros de água para compensar a menor
eficiência do sistema.
NOVAS PLANTAÇÕES
Um jardim recém plantado, com rega por aspersão, necessita mais
água, com respeito aos cálculos da ETj.
A maioria das raízes de uma planta nova estão confinadas ao cubo de
sementeira e a água disponível será só a que aí se deposita e em alguns
casos a do solo adjacente. Os aspersores regam toda a zona, resultando
daí que a maioria da água fica fora da zona útil.
Armindo Rosa – Pg. 25
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
Assim um jardim recém plantado e com rega por aspersão que
necessita um valor estimado de ETj de 2000 l por semana, poderá
requerer um volume de 4000 l somente para fazer chegar os 2000 l à zona
radicular.
Obviamente esta não será uma maneira eficiente de actuar. Nesta fase
seria mais correcto e eficiente recorrer à rega gota a gota ou manual.
Se utilizarmos um sistema gota a gota, podemos colocar a água
mesmo junto à raiz, e considerar a eficiência 100%, ou seja aplicar
exactamente a água estimada pelo cálculo de ETj.
Todavia podem haver plantas de distintos tamanhos (árvores,
arbustos) que requerem diferentes dotações. Assim, segundo o tamanho
da planta podemos colocar um número distinto de gotejadores por planta
de modo a conseguir uma boa uniformidade de rega.
CONCLUSÕES
É importante ter em conta que os valores ajustados não são
absolutos. Servem como orientação para estimar as dotações de rega das
plantas de jardim. Recomenda-se que os responsáveis se informem junto
de especialistas na matéria no caso de terem menos experiência. Todavia
este será um bom método para manter as plantas com uma qualidade e
aspecto aceitáveis. Este método pode resultar também útil nas estimativas
prévias ao projectar um jardim.
Armindo Rosa – Pg. 26
ESTIMATIVA DAS NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS DE JARDIM
À medida que obtenhamos mais informação sobre o uso da água
pelas plantas, a influência do microclima e da densidade poderemos
corrigir e ajustar o cálculo do Kj.
De momento este método serve sobretudo como ponto de
referência prático para uma rega mais efectiva e eficiente.
Bibliografia consultada
Doorenbos J e Pruit W. O.: Las necessidades de água de los cultivos. Estúdio FAO: Riego y Drenaje. Nº 24 –
Roma 1976.
Doorenbos J e Kassan A. H.: Efectos del água sobre el rendimiento de los cultivos. Estúdio FAO: Riego y
Drenaje. Nº 33 – Roma 1979.
Veschambre, D et Vaysse, P. : Memento goutte à goute. – Guide pratique de la micro-irrigattion par goutteur et
diffuseur. CTIFL-INRA. - Paris 1980.
Rosa, A . – Folha para as aulas dos cursos de iniciação em horticultura. Arquivo da formação profissional. –
Patacão 1984.
Rosa, A. : Rega localizada em horticultura protegida – Guia do extensionista. DRAALG – Faro 1995.
Costelo, R. L, Mayheny, N. P, y Clark, J. R.- Traduccion: Silvia Bures de: “Estimating water requirements of
landscape plantings. The landscape coefficient method”. Cooperative Extension University of California, Division of
Agriculture and Natural Resources. Hoja 21493. Ano 1991 (Publicado na revista espanhola “Horticultura 108Octubre 95).
Armindo Rosa – Pg. 27
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