Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.32-45
ENSAIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS PLANTAS POTENCIALMENTE
MEDICINAIS ORIUNDAS DA FLORESTA AMAZÔNICA NA COMPOSIÇÃO DE
MEDICAMENTOS PROCESSADOS PELA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Helvio Moreira Arruda¹
RESUMO
Dentre as riquezas da Floresta Amazônica, destacam-se as plantas medicinais, as quais,
comprovadamente, possuem propriedades farmacológicas e são utilizadas por milhões de pessoas
no mundo. Há muito poucos estudos científicos acerca deste assunto. Não existem pesquisas que
comprovem a real importância das plantas medicinais como fármacos e seu uso maximizado pela
indústria farmacêutica. Acreditamos que a utilização de plantas medicinais em medicamentos
industrializados é uma atividade em franco crescimento. O objetivo central deste artigo é levantar a
discussão acerca da importância das plantas medicinais no mercado farmacêutico.
Palavras-chave: plantas medicinais no mercado farmacêutico – Amazônia
ABSTRACT
Among the riches of the Amazon Rainforest, medicinal plants call special attention as they are
proven to have pharmacological properties and are used by millions of people around the world.
There are very few scientific studies in this topic. There is no research proving the real importance
of medicinal plants as drugs and its maximized use in the pharmaceutical industry. We believe that
the use of medicinal plants in industrialized drugs is a fastly growing activity. This work intends to
raise the discussion about the importance of medicinal plants in the pharmaceutical industry.
Key words: medicinal plants in the pharmaceutical industry – Amazon
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¹ Graduado em Administração. Especialista em Marketing. Mestre em Administração. Atualmente é: Diretor Geral das Faculdades
Integradas do Tapajós – FIT; Diretor Geral do Colégio Tapajós; Coordenador da Região Oeste do Pará do Conselho Regional de
Administração do Estado do Pará; Avaliador de Cursos e Avaliador Institucional do INEP – MEC; 1º Secretário do Conselho Fiscal
da Associação Comercial e Empresarial de Santarém – ACES; Presidente do Conselho Fiscal da Fundação Nacional de
Desenvolvimento do Ensino Superior Particular – FUNADESP.
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I. Introdução
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A Floresta Amazônica é imprescindível para o futuro do Brasil e do Mundo, à
medida que o nosso e outros países começam a eleger bens e serviços ecológicos
como as melhores opções para uma economia sustentável e para o bem-estar
humano, aumentando as promessas de preservação e de cuidado com a floresta. É
detentora da maior reserva de plantas medicinais do mundo, segundo a FIEAM –
Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, 2002. Este ensaio versa sobre a
importância das plantas medicinais para a produção de medicamentos em escala.
Em 1987 a ONU publicou o relatório “Nosso Futuro Comum”, com o objetivo
de demonstrar a necessidade de um ajuste da demanda mundial para um ritmo mais
próximo da natureza (MUNDO VERDE, 2011, p. 28). Entender a importância da
Amazônia para o Brasil e para o mundo deverá ser o aspecto central para o
desenvolvimento de uma política para a região, o que está descrito em vários trabalhos e
artigos científicos, dependendo do enfoque sócio-econômico-ambiental que se queira
abordar (VEJA, 2010, p.94).
Hoje em dia há uma preocupação crescente e há cada vez mais consciência da
população mundial com a preservação dos recursos naturais ainda existentes no globo,
especialmente os da Amazônia e seu uso sustentável. A sociedade precisa ter uma
resposta sobre a manutenção da biodiversidade, especialmente da floresta degradada da
Amazônia, na qual hoje já prosperou uma floresta secundária. Segundo Lovatto, Etges
e Karnopp (2008) a agropecuária somada à exploração da madeira são as principais
causas da devastação das florestas primárias e secundárias existentes no Planeta.
O uso de plantas potencialmente medicinais, oriundas da Floresta
Amazônica, integra o seu ecossistema, e tem importância ímpar na manutenção do
meio ambiente, pois onde se encontra plantas medicinais, há preservação da floresta
secundária. Ademais, a utilização de plantas medicinais para produção de
medicamentos apresenta a melhor relação custo/benefício quando comparada aos
produtos sintéticos, pois sua ação biológica é eficaz, com baixa toxidade e efeitos
colaterais, além de apresentar um custo de produção inferior. Grandes empresas
farmacêuticas vêm investindo milhões em pesquisas com plantas brasileiras, e, por
consequência disso, acabam por requerer patentes e sintetizar novos fármacos.
(FUZÉR ; SOUZA. 2003)
Historicamente, das florestas primárias só se valoriza a madeira nobre, quase
nenhum valor é atribuído aos produtos não madeireiros e os serviços ambientais das
florestas comumente são desconhecidos (SCHAFFER; PROCHNOW, 2002). Essa
mentalidade extrativista-exploratória permanece até hoje. Com a valorização das
plantas medicinais, oriundas da floresta secundária (capoeira) talvez esta condição
mude. Segundo Arruda (1999), o manejo florestal deve ser uma exploração racional,
ou seja, a exploração da floresta secundária deverá ser realizada através de um
conjunto de atividades a serem estabelecidas.
O cultivo de plantas medicinais na Amazônia contribui para a manutenção do
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ecossistema e deve valorizar a flora regional. Investimentos na produção de plantas
medicinais, em especial nas nativas, poderão gerar melhorias na qualidade dos
produtos fitoterápicos, reduzindo os custos de medicamentos industrializados. A
ausência de estudos e pesquisas que determinem a importância das plantas
medicinais como produto farmacêutico contribuem para a falta de conscientização
com relação ao tema. Sua utilização por grandes laboratórios deve ser conhecida,
para que se dê a real importância para esse produto nativo da Amazônia.
Apesar de haver registros de utilização de plantas medicinais há mais de seis
mil anos, somente no século XV é que seu uso foi maximizado em virtude dos
resultados observados nos tratamentos, hoje, com o advento da cultura ecológica,
incentiva-se cada vez mais o uso de medicamentos naturais.
Na década de 90, no Brasil, os produtos alopáticos começaram a ceder
mercado para as plantas medicinais, inclusive com a automedicação e o cultivo de
ervas em quintais, as quais traziam os mesmos resultados dos alopáticos com menor
custo. Atualmente a utilização de plantas medicinais em medicamentos
industrializados é uma atividade em franco crescimento. Na esfera governamental, o
Ministério da Saúde vem desenvolvendo ações no sentido de elaborar políticas
públicas para introduzir algumas plantas medicinais nos programas do Sistema
Único de Saúde – SUS (BRASIL, 2006b).
Estima-se que 25% dos R$ 8 bilhões de faturamento da indústria farmacêutica
brasileira registrados em 1996 advêm de medicamentos derivados de plantas. As
vendas nesse setor crescem 10% ao ano, alcançando a cifra de 550 milhões no ano de
2001 (GUERRA; NODARI, 2003).
II. Questões para investigação
O conceito básico de sustentabilidade começou a ser delineado em 1972, na
primeira Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
realizada em Estocolmo para discutir as atividades humanas em relação ao planeta
região. Hoje, o conceito que vigora foi criado em 1988, por John Elkington, o qual
possui três esferas: a ambiental, a econômica e a social, sendo a sua interseção a
própria sustentabilidade (MUNDO VERDE, 2011, p. 28).
A situação atual exige ações urgentes para promover o desenvolvimento
econômico, ambiental e socialmente sustentável da floresta. Já é fato que as plantas
medicinais possuem propriedades farmacológicas e são utilizadas por milhões de
indivíduos no globo terrestre. O Ministério da Saúde reconheceu esse recurso
terapêutico como útil nos diversos programas de atenção à saúde (BRASIL, 2006a).
Os laboratórios farmacêuticos se valem de várias destas plantas para comporem
medicamentos produzidos em grande escala. Acreditamos que estas plantas têm
maior importância e valor comercial para os mercados nacionais e internacionais,
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fato que deve ser objeto de investigação científica.
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Diante deste contexto, levanta-se uma interessante questão de pesquisa: qual
a real importância das plantas potencialmente medicinais oriundas da Floresta
Amazônia na composição de medicamentos processados por grandes laboratórios
farmacêuticos? Para se chegar à resposta científica a esta pergunta, é preciso
encontrar soluções para uma série de outras questões de investigação secundárias:
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Quais são as plantas medicinais mais procuradas pela indústria farmacêutica
nacional e internacional? Quais são os laboratórios que utilizam este produto da
Floresta Amazônica? Como o comércio das plantas medicinais pode contribuir com a
preservação ambiental? Como os produtos pesquisados são comercializados? Qual o
comportamento do mercado de plantas medicinais, no âmbito dos grandes
laboratórios? Quais são os principais laboratórios que processam plantas medicinais,
transformando-as em insumos farmacêuticos?
A comunidade científica ainda não encontrou respostas satisfatórias.
Acreditamos que diversos laboratórios farmacêuticos, inclusive os que têm
abrangência multinacional, usam plantas medicinais em seus principais produtos. Há
de se investigar quais plantas medicinais têm maior importância e valor comercial
para os mercados nacionais e internacionais, como os produtos pesquisados são
comercializados, qual o comportamento do mercado de plantas medicinais, no
âmbito dos grandes laboratórios, qual a real importância farmacológica das plantas
medicinais da Amazônia e quais são os principais laboratórios que processam plantas
medicinais, transformando-as em insumos farmacêuticos.
III. As plantas medicinais: etnofarmacologia
Define-se etnofarmacologia como “a exploração científica interdisciplinar
dos agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados
pelo homem” (BRUHN, 1992). A Etnofarmacologia é uma divisão da Etnobiologia
que estuda o complexo conjunto de relações entre plantas e animais com a sociedade
humana (BERLIN, 1992).
A Etnofarmacologia não trata de superstições, e sim do conhecimento
popular relacionado a sistemas tradicionais de medicina. Para apreciar o
conhecimento popular é preciso admiti-lo como tal – um corpo de conhecimento, um
produto do intelecto humano – e não se pode ser preconceituoso. A Etnofarmacologia
é uma divisão da Etnobiologia, uma disciplina devotada ao estudo do complexo
conjunto de relações de plantas e animais com sociedades humanas, presentes ou
passadas (BERLIN, 1992).
Como estratégia na investigação de plantas medicinais, a abordagem
etnofarmacológica consiste em combinar informações adquiridas junto a usuários da
flora medicinal, com estudos químicos e farmacológicos. (ELISABETSKY;
SETZER, 1990). A seleção etnofarmacológica de plantas de acordo com
informações relatadas pela população sobre um determinado efeito terapêutico pode
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contribuir sobremaneira com a descoberta de fármacos.
O real valor do conhecimento tradicional de novos fármacos só seria possível
se houvesse a possibilidade de comparar os resultados de uma amostra razoável de
pesquisas feitas com base em coletas de plantas ao acaso ou por etnofarmacologia,
considerando-se também que a maioria dos estudos não publica resultados
negativos. Segundo Vlietinck e Van den Berghe (1991), Spujt e Perdue (1976), ao
analisarem compostos com potencial anticancerígeno verificaram que a
porcentagem de gêneros/espécies vegetais ativas citadas em compêndios de plantas
medicinais, é consistentemente próxima ao dobro das de triagem ao acaso. Quanto a
antivirais, a seleção de plantas com uso tradicional mostrou uma porcentagem 5
vezes maior de substâncias ativas.
A maior parte da flora ainda desconhecida, tanto química quanto
farmacologicamente, e o saber tradicional associado existem predominantemente
em países em desenvolvimento. A perda da biodiversidade e o acelerado processo de
mudança cultural acrescentam um senso de urgência no registro desse saber. A
criação de instrumentos legais de direitos de propriedade intelectual para
conhecimentos tradicionais é de fundamental importância (ELISABETSKY,1990).
IV. O preparo das plantas medicinais
Plantas medicinais são aquelas que possuem em sua composição substâncias
químicas, biologicamente sintetizadas a partir de nutrientes, água e luz. Estas
substâncias provocam no organismo humano e animal reações que podem variar entre a
cura e o abrandamento de doenças, pela ação de princípios ativos como alcaloides,
glicosídeos, saponinas, etc. A utilização de plantas medicinais para tratamento de
doenças é denominada fitoterapia.
Apesar do potencial que representam essas plantas, na região amazônica a
aplicação empresarial dos resultados das pesquisas é bastante rara. A eficiência da
fitoterapia é assegurada por milênios de tradição, sendo prática comum entre os índios e
as populações tradicionais. Já existe comprovação científica das propriedades de um
número razoável de plantas, ponto de vista medicinal, tornando-se viáveis para a agro
industrialização ou uso in natura.
As indústrias farmacêuticas nacionais e internacionais, especialmente estas
últimas, vêm buscando nas plantas da Amazônia, ou domesticadas na região, essências,
produtos e formulações para a produção de medicamentos, vacinas e outras formas de
terapias. Visam a industrialização e comercialização em larga escala de,
aproximadamente, 5.000 princípios ativos identificados nestas plantas
De acordo com o Ministério da Saúde (2006), estão identificadas na Amazônia Legal
em torno de 650 espécies vegetais farmacológicas, de valor econômico. O estado do
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Pará é o que mais se destaca com 540 espécies, seguido dos estados do Amazonas, com
488; Mato Grosso, 397; Amapá 380; Rondônia, 370; Acre, 368; Roraima, 367;
Maranhão, 261, além do Tocantins.
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A distribuição de plantas medicinais e afins, na Amazônia, está basicamente
circunscrita às lojas de produtos naturais, ambulantes, feirantes, fabricantes de
remédios caseiros, empresas familiares de empacotamento de plantas in natura e
alguns laboratórios e/ou farmácias de manipulação de atuação localizada. Para uma
planta medicinal tornar-se produto de mercado necessita e, pelos menos, dois anos de
testes de laboratórios e uso regular em pacientes. O isolamento de princípios ativos
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habilitados à indústria farmacêutica demanda vários anos de pesquisa.
As plantas, dependendo da espécie, chegam ao consumidor final na forma
sólida in natura em pacotes de cascas, raízes, sementes e folhas, ou após rudimentar
processo de beneficiamento. Em alguma situações são comercializadas na forma
líquida: óleos, xaropes, tinturas, e vinhos.
V. Algumas plantas medicinais oriundas da Amazônia
Nome científico: Carapas guianensis
Nome Popular: andiroba – Brasil; crab wood – Guiana Inglesa
Principais características: Árvore que tem nome originado pelas
populações indígenas devido o seu sabor amargo (nhandi – óleo e rob – amargo),
pertence a família das meliaceas, e se encontra em sociedade com árvores de ucuuba,
heveas, jaboti, pracaxis, etc. Encontra-se em solos alagados pelas mares e ilhas
baixas, porém se adapta muito bem em solos de terra firme. A árvore possui um
tronco alto, com diâmetro as vezes de até dois metros, folhas compridas
imparipinadas, flores brancas hermafroditas, reunidas em maços. O fruto é um ouriço
redondo, formado de 4 valvas, de 3 a 4 mm de espessura, coriáceas, duras, de cor
parda, e, quando o fruto está maduro, abre-se deixando cair no chão as sementes que
recobre. Estas sementes ou castanhas, em número 7 a 9, geralmente, são grossas,
poligonais, chata na arte interna e convexa na arte externa, casca lisa um pouco mais
esponjosa, cor havana, recobrindo uma massa branca, levemente rosada, compacta,
mas um pouco dura, oleosa. É encontrada também em toda Bacia Amazônica, com
predominância nas várzeas e faixas alagáveis ao longo dos cursos d'água,
frequentemente formando associações com as seringueiras e outras espécies.
Registra-se maior ocorrência nos Estados do Pará, Amapá, Amazonas, Maranhão e
Roraima. Em floresta natural, a andiroba é uma árvore grande, podendo atingir 30m
de altura, de fuste reto e cilíndrico, com sapopemas na base. Possui casca grossa e
amarga, apresentando descamação em placas.
Da andiroba aproveita-se comercialmente o óleo derivado das sementes e a
madeira. Tradicionalmente, o principal uso desta planta é a madeira, pelas suas
qualidades físico-mecânicas (densidade 0,70% kg/cm2). Devido à qualidade superior,
a madeira é muito procurada e a exploração é feita de forma seletiva para construção
de casas, forros e esquadrias, com alto risco às espécies, uma vez que praticamente não
existe plantação tecnicamente organizada, nem replantio sistemático.
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O óleo, conhecido na região como “azeite de andiroba”, é muito utilizado na
medicina doméstica, para fricção sobre tecidos inflamados, tumores, distensão
muscular, etc. É usado pelos indígenas em mistura com corante de urucum (Bixa
orellana L.), como repelente contra insetos e medicamentos para parasitas do pé.
Pode também ser usado como protetor solar.
A abundância da espécie na região Amazônica torna-o também atraente
como insumo ora produtos empregados no controle de transmissão de malária, de
alta ocorrência na área. Na indústria farmacêutica homeopática, onde está sendo
comercializado na forma de cápsulas, é utilizado para diabetes e reumatismo, o
bálsamo para o uso típico de luxações e sabonetes medicinais.
Investimento com grande potencial apresenta como principais alternativas a
comercialização do óleo de andiroba e a fabricação de velas repelentes de insetos,
especialmente os mosquitos de gênero Anopheles, transmissores de malária.
Espécimes semelhantes: Carapas touloucouna (África Ocidental);
Carapas grandiflora (Uganda); Carapas indica (Índia)
Ingredientes Bioativos: Artrite e Câncer Uterino. Fonte (Jornal of
EthnoFharmacology 40 (1993) 53-75)
Utilização: como repelente, cicatrizante, contra luxações e contusões em
massagens com relaxante, na fabricação de cremes para pele, na fabricação de
sabonetes finos (fábrica artesanais), nas florestas os barcos quando são colocados
nos estaleiros para reforma, são untados com óleo de andiroba para evitar a ação dos
cupins com grande eficiência.
Nome científico: Dipterix odorata
Nome Popular: cumarú
Principais características: esta árvore que produz frutos extremamente
aromáticos e com uma elevada porcentagem de óleo, é uma leguminosa que produz
como fruto uma noz verde-amarelada de forma ovóide, constituída de uma massa
consistente, esponjosa que recobre uma semente construída por uma casca lenhosa.
Espécies semelhantes: fava tonka – Europa; angustura – Venezuela
Ø
Ingredientes bioativos: cumarinas; óleo gordo
Utilização: antispasmódico e utilizado nos tratamentos de otites e outros
processos inflamatórios do ouvido.
Ø
Nome científico: Ptychopetalum uncinatum
Nome popular: muira-puama, marapuama, muira-pixi, mirindiba doce
Principais características: utilizam-se hastes principalmente e as raízes das
plantas novas o que é ecologicamente correto.
Espécimes semelhantes: Ptychopetalum olacoides
Ingredientes bioativos: alcalóide semelhante a yoinbina
Utilização: como tônico neuro-muscular de primeira ordem. A decocção da
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raiz é empregada em banhos e em fricções contra a paralisia facial. Internamente, o
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extrato aquoso ou alcoólico produz efeitos notáveis na debilidade, na impotência
sexual (neurastenia-sexual), na ataxia locomotriz, no reumatismo crônico, nas
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paralisias faciais, nas gripes e segundo consta é muito utilizada em determinadas
regiões da Amazônia na forma contra a queda de cabelo.
Ø
Nome científico: Stryphodendron rotundifolium Mart.
Família: leguminosae
Nome popular: barba-de-timão, barba-de-timan, charaosinho-roxo, cascasda-virgindade, casca-da-mocidade, iba-Timão, paricarana (Pará), uabatima,
uabatimo, babatimão
Principais características: árvore pequena de ramos acinzentados e rugosos.
Folhas com 16 a 24cm de comprimento com 10 a15 pares de pinas, pinas com 6 a10
pares de folíolos; folíolos oblongos, oblíquos, glabros, de face inferior acastanhada ou
ferrugínea; pecíolo apresentando uma glândula nas proximidades da base.
Inflorescências compostas de espigas axilares de 10 a 12 cm de comprimento,
multifloras; flores brancas de corolas curtas. O fruto é um legume séssil, castanhoescuro, recurvado, com 10 a 14 cm de comprimento, sementes alongas de 10 a 13,
inseridas obliquamente. Floresce de julho a agosto e frutifica em setembro-novembro.
Indicações terapêuticas: antiblenorrágica, antiescorbútica, antidiarreico,
antileucorreica, antihemorrágica, antigonorreica, adstringente, tônica, emética,
oftálmica
Utilização: contra impigem, ferimentos, flores brancas, doenças venéreas.
Ø
Nome cientifico: Mauritia vinijera, Mauntia flexuosa
Nome popular: buriti, miriti, cocô buriti
Principais características: palmeira de grande porte, que tem o nome
derivado do tupi-guarani que tem como significado "o que contem água".
Encontram-se as margens dos rios em forma de florestas densas aonde
chegam a atingir 50m de altura, onde a média de palmeiras por hec¬tare é de 200 a
500. Seus cachos chegam a dar de 500 a 800 frutos, e em cada arvore encontra-se até
cinco cachos.
A árvore é considerada pelos nativos como árvore da vida, pois dela tudo se
aproveita. Em algumas regiões da Amazônia esta palmeira não é muito valorizada e o
seu fruto é carregado pelas águas dos rios todos os anos, desperdiçando um dos óleos
mais ricos em material graxo e vitamínico do mundo.
Espécimes semelhantes: Hiphoene tebaica – África
Ingredientes bioativos: B-caroteno
Utilização: pelos nativos para frituras sem qualquer refino, como forma de
aliviar as queimaduras do sol, conservando a pele dos nativos.
Ø
Nome cientifico: Copaíphera multijuga
Família: leguminosae–caesalpinoideae
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Nome popular: copaíba, óleo de copaíba, copaíba-vermelha, balsamo, oleiro,
copaíba-da-várzea (AM), copaibeira-de-minas, copaúba, cupiúva, óleo-vermelho, paude-óleo (MG), podoí (PI, CE)
Características morfológicas: altura de 10 a 15m, com tronco de 50 a 80 cm
de diâmetro. Copa globosa densa, folhas compostas pinatífidas, com 3 a 5 jugos;
folíolos alternos ou opostos, glabros, de 4 a 5 cm de comprimento por 2 a 3 cm de
largura.
Ocorrência: Pará, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e
Paraná, principalmente na floresta latifoliada da bacia do Paraná. Existem varias
espécies de copaíba, dependendo da região de ocorrência, todas muito apreciadas,
com as mesmas aplicações e os mesmo nomes. Na região sul ocorre a espécie
"Copaífera trapezifolia Hayne". Os frutos amadurecem entre agosto e setembro,
com a planta quase totalmente despida de folhagem.
Ingredientes bioativos: cariofileno, um fitoquímico com fortes
propriedades anti-inflamatórias
Utilização: a madeira é indicada para a construção civil, como vigas,
caibros, ripas, batentes de portas e janelas, para confecção de móveis e peças
torneadas, como coronhas de armas, cabos de ferramentas e de vassouras, para
carrocerias, miolos de portas e painéis, lambris e tábuas para assoalhos.
A copaíba é usada topicamente para aliviar a inflamação e ajudar a curar péde-atleta, feridas, erupções cutâneas, dermatites, eczema e psoríase, além de ajudar a
restaurar a pele danificada e curar pequenas cicatrizes. Age como um agente
antisséptico, desinfetante e antimicrobiano para usos internos e externos em
infecções bacterianas, câncer de pele, úlceras no estômago e câncer de estômago.
Vários shampoos (xampus) que contém copaíba são eficazes no combate à caspa.
O bálsamo de copaíba é benéfico para tosse crônica, catarro, resfriados,
bronquite e outros problemas respiratórios. A planta é um bom remédio para tratar
catarro e bronquite crônica, vez que auxilia na expectoração e é antisséptico.
Também é recomendado no tratamento natural de leucorréia, cistite crônica,
diarréia, hemorróida, gonorréia.
A copaíba alivia os sintomas de uma ampla gama de doenças que causam a
inflamação dos tecidos moles ou mucosas. Testes de laboratório mostraram que a
resina atua reduzindo a permeabilidade das paredes capilares para a histamina,
substância química responsável pelo inchaço doloroso em todas estas condições. O
óleo volátil é antimicrobial e previne infecções secundárias no eczema, herpes e
psoríase.
Ø
40
Nome cientifico – Virola sebifera
Nome popular: ucuubarana, ucuúba
Principais características: árvore de grande porte da família das
Miristicáceas, que tem seu nome originado da língua indíge¬na que significa ucu
(graxa) e yba (árvore) cresce em regiões alagadas pelas marés ou várzeas, e
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encontrada em toda a Amazônia na região das ilhas, zona guajarina, Amapá,
afluentes do Amazonas.
Espécimes semelhantes- Miristica guatemalensis
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Ingredientes bioativos - ácidos graxos: láurico, mirístico e palmítico
Utilização: comumente, o óleo é usado na fabricação de velas e como
combustível para iluminação de lamparinas, que na queima exala um cheiro
aromático. Na medicina caseira, principalmente, é aplicado com sucesso no
tratamento de reumatismo, artrite, cólicas, aftas e hemorroidas. A manteiga de
ucuúba, que é dura e amarelada, pode ser usada em combinação com outros
ingredientes para a produção de velas e sabonetes vegetais, sendo um substituto
vegetal para a parafina oriunda do petróleo. Sabonetes e cremes a base de ucuúba tem
ação anti-inflamatória, cicatrizante, revitalizante e antisséptica comprovada.
Ø
Nome científico: Uncaria tomentosa
Nome farmacêutico: cortex uncariae
Nome popular: unha de gato, bejuco de água, deixa, gabarato, gabarato
amarillo, gabarato colorado, garra gavilán, jipotatsa, michomentis, paotati-mosha,
paraguyayo, saventaro, tua juncara, uña de gato, uncucha, unganangi
Principais características: gênero uncaria, família rubiácea, subfamília
cinchonoideae. É encontrado na América Central e América do Sul. São arbustos
trepadores, pouco ramificados que têm entre 10 a 30 metros de altura, com diâmetro
entre 5 a 40 centímetros, com folhas simples e opostas, pecioladas, com espinhos em
forma de gancho (daí a aparência com unha de gato), tem flores globosas branco
amareladas em glomérulos axilares.
Ingredientes bioativos: alcaloides ativos (oxindólicos pentacíclicos,
oxindólicos tetracíclicos e indólicos), triterpenos, ácidos orgânicos, glicosídeos,
procianidinas e esteróis
Utilização: em forma de vinho ou chá para doenças como: asma, artrite, antiinflamatório, úlceras gástricas, feridas profundas, contracepção, dores nos ossos e câncer.
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NOME
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andiroba
crab wood
cumarú
muira-puama
marapuama
muira-pixi
mirindiba doce
barba-de-timão
barba-de-timan
barbatimão
charaosinho-roxo
cascas-de-virgindade
casca-da-mocidade
iba-timão
paricarana
uabatima
uabatimó
Carapas guianensis
Dipterixodorata
Ptychopelatum
uncinatum
Stryphodendron
rotundifolium mart
NOME POPULAR
ptycho pelatum olacoides
-
árvore pequena de ramos acinzentados e rugosos
fava tonka
angustura
carapastouloucouna
carapas grandiflona
carapas indica
ESPÉCIES SEMELHANTES
raízes das plantas novas e hastes das plantas adultas
frutos aromáticos leguminosa
sabor amargo
solo alagado ou firme
tronco alto com até 30 metros de altura
diâmetro de até dois metros
folhas compridas
flores brancas
hermafroditas
fruto ouriço redondo com 4 valvas
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
antiblenorrágica
antiescorbútica
antidiarreico
antileucorreica
antihemorrágica
antigonorreica
adstringente
ofitálmica
alcalóide semelhante a
yoin bina
cumarinas
óleo gordo
artrite
câncer uterino
BIOATIVOS
INGREDIENTES
impigem
feridas
flores brancas
doenças venéreas
tônico neuro- muscular combate a
paralisia facial
impotência sexual e queda de cabelo
antispasmódico
otite
inflamação no ouvido
repelente
cicatrizante
luxações
UTILIZAÇÃO
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CIENTÍFICO
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TABELA 1
Resumo das particularidades das plantas medicinais
NOME
copaíba
óleo de copaíba
copaíba- vermelha
copaíba – da- varzea
copaibeira-de-minas
copaúba
cupiúva
óleo-vermelho
pau-de-óleo
podói
ucuubarana ucuúba
unha de gato
bejuco de água
deixa
gabarato
gabarato amarillo
gabarato colorado
garra gavilán
jipotatsa
michomentis
pao tati-mosha
paraguyayo
saventaro
tua juncara
uña de gato
uncucha
unganangi
Virola sebifera
Uncaria tomentosa
NOME POPULAR
Copaiphera
multijuga
CIENTÍFICO
arbustos trepadores com 10 a 30 m de altura diâmetro entre
5 e 40cm, folhas opostas com espinhos em forma de gancho
regiões alagadas da amazônia
árvore com 10 a 15 m de altura, com tronco de 50 a 80 cm
de diâmetro
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
-
miristica guatemalensis
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ESPÉCIES SEMELHANTES
alcaloides ativos,
triterpenos, ácidos
orgânicos,
glicosíodeos,
procianidinos e
esteróis
ácidos graxos: láurico,
mirístico e palmítico
cariofileno
BIOATIVOS
INGREDIENTES
asma
artrite
anti-inflamatório
úlcera gástrica, feridas profundas
contracepção dores nos ossos
câncer
velas repelentes
madeira para construção civil
cicatrizante anti-inflamatório
UTILIZAÇÃO
Revista Perspectiva Amazônica
TABELA 1
Resumo das particularidades das plantas medicinais
Ano 3 N° 5 p.32-45
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Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.32-45
VI. Considerações finais
Qual a real importância das plantas potencialmente medicinais oriundas da
floresta Amazônica na composição de medicamentos processados pela indústria
farmacêutica?
As ideias apresentadas neste ensaio demonstram a necessidade de mobilizar a
comunidade científica para pesquisar um tema de alta relevância para a realidade
amazônica e que, ao mesmo tempo, pode produzir soluções para a região. É preciso
aprofundar os estudos e discussões sobre o assunto em pauta, é imperioso tratar da
sustentabilidade (da riqueza) da floresta Amazônica, considerando as variáveis
ambiental, econômica e social. Há de se realizar ações urgentes para promover o
desenvolvimento econômico da sociedade, a preservação da natureza e o
desenvolvimento sustentável da floresta.
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ENSAIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS PLANTAS