A construção do conhecimento em Botânica através do Ensino Experimental Talita Vieira-Pinto, Ivan Machado Martins, Walderez Moreira Joaquim Universidade do Vale do Paraiba/Instituto Superior de Educação, Rua Dr. Tertuliano Delphim Junior, 181 Jardim Aquários, São José dos Campos/SP, [email protected] Resumo- O ensino de botânica tem alarmado muitos autores que relatam o desinteresse dos alunos, e o despreparo e descaso dos docentes em relação ao conteúdo. O objetivo deste trabalho foi utilizar aulas teórico/prática como ferramenta para a construção do conhecimento nos alunos da 6ª série do Ensino Fundamental sobre os tipos de reprodução vegetal, através de exemplificações. Para tanto, um questionário prévio, rodas de conversa, perguntas-problema e incentivo à expressão do conhecimento através de textos e ilustrações foram os principais caminhos utilizados. Os resultados demonstraram que houve um aumento de 20% do conhecimento geral, quando comparado às respostas do questionário prévio. Um aumento ainda maior de 62% e 58% foi constatado para o conhecimento sobre reprodução. De modo geral, as aulas práticas, utilizando elementos do cotidiano dos alunos, aumentam significativamente a compreensão de conceitos. Conclui-se, portanto, que o ensino de ciências, em especial o ensino de botânica pode ser reestruturado com iniciativas simples que despertem a vontade intrínseca do aluno em adquirir conhecimento e em refletir problemáticas de seu dia-a-dia. Palavras-chave: Ensino de Botânica, Reprodução de plantas, aulas experimentais. Área do Conhecimento: Ciências Biológicas Introdução O modelo atual utilizado no ensino de ciências tem merecido críticas que apontam a necessidade de reorientar as investigações para além das préconcepções dos alunos. O modelo não leva em conta que a construção do conhecimento, em especial o conhecimento científico, tem exigências relativas a valores humanos, à construção de uma visão de Ciência e suas relações com a Tecnologia e a Sociedade e ao papel dos métodos das diferentes ciências (Brasil, 1998). Neste contexto, a Botânica adquire uma complexidade ainda maior, uma vez que o ensino na escola é meramente descritivo causando aversão e desinteresse a quem é ministrada. Os fatores que culminam na má qualidade de ensino são diversificados, porém seus resultados são alarmantes, fazem com que os alunos não prestem atenção e não formulem perguntas (Coutinho, 2004). Segundo Aoki (2005), o desinteresse pelas plantas e a carência de estudos referentes ao Ensino de Botânica tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio, tem alarmado muitos estudiosos, que são unânimes em relatar a apatia e até mesmo aversão pela botânica por alunos de modo geral, principalmente os de graduação e ensino médio. Somado à isto, sabe-se que muitos professores “fogem” das aulas de botânica, relegando-as ao final da programação do ano letivo, por medo e insegurança em falar do assunto. Uma das maiores reclamações é a dificuldade em desenvolver atividades práticas que despertem a curiosidade do aluno e mostre a utilidade daquele conhecimento no seu dia-a-dia (Santos e Ceccantini, 2004). A respeito da importância do ensino experimental, Piochon (2002) apud Siqueira (2007) apontou que as aulas práticas são decisivas para o aprendizado das Ciências, salientando que elas contribuem nos procedimentos da formação científica, como a observação, a manipulação e a construção de modelos, entre outros. As aulas práticas devem permitir ao estudante observar, vivenciar e discutir um conjunto de experimentos, fenômenos biológicos e físico-químicos. Este momento XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 privilegiado no ensino de ciências naturais deve ser aproveitado para o aprofundamento de conceitos, tendo um caráter muito mais qualitativo e formativo (Majerowicz, 2001 apud Siqueira 2007). A abordagem dos conhecimentos científicos por meio de definições que devem ser decoradas pelo estudante contraria as principais concepções de aprendizagem humana. Podemos exemplificar através da abordagem que focaliza a construção de significados pelo sujeito da aprendizagem, debatida nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do ensino fundamental: “Quando há aprendizagem significativa, a memorização de conteúdos debatidos e compreendidos pelo estudante é completamente diferente daquela que se reduz à mera repetição automática de textos cobrados em situação de prova (Brasil, 1998).” As pesquisas descritivo-explicativas com base na análise de experimentos, num primeiro momento, tem o propósito de identificar, descrever e explicar determinados fatos ou fenômenos – neste caso, a reprodução de plantas - e em um segundo momento estabelecer compreensão sobre os conceitos e princípios básicos do tema em questão (Siqueira, 2007). Com isto, este trabalho tem como objeto propiciar através de aulas teórico/prática a construção do conhecimento de alunos da 6ª série do Ensino Fundamental sobre a reprodução sexuada e assexuada em plantas. Metodologia O estudo foi realizado em uma Escola da Rede Pública Estadual de Ensino Fundamental, localizada na zona central de São José dos Campos. As atividades práticas propostas foram realizadas com os alunos da 6ª série do Ensino Fundamental, totalizando 50 alunos com a faixa etária de 11 a 13 anos, sendo 48% do sexo masculino e 52% do sexo feminino. Foram realizados quatro encontros com os alunos para que as atividades propostas fossem desenvolvidas. No primeiro encontro, em roda de conversa, os alunos responderam individualmente um questionário com cinco questões fechadas (múltipla escolha). No segundo encontro, os alunos foram organizados em grupos de cinco alunos, onde cada grupo recebeu, no primeiro momento, sementes de feijão para uma observação geral. Feito isto, solicitou-se que as mesmas fossem abertas para verificação do embrião do feijão, através de lupa, e perceberem que dentro da semente há a futura planta. Em seguida foram observadas folhas de fortuna e batatas-doce, também com a lupa. Os grupos para observação foram desfeitos, fazendo com que os alunos ficassem dispostos em roda de conversa, onde as questões apresentadas no questionário foram novamente colocadas para os alunos, para a exposição de dúvidas e opiniões. Nesta etapa foram utilizadas dez sementes de feijão, uma folha de fortuna, uma batata-doce e uma lupa com aumento de 100mm. Após estes dois encontros, que tiveram o intuito de entrosar o docente com os alunos, e ainda, familiarizar os alunos com o material que seria utilizado na aula, foi proposto um experimento de germinação das sementes de feijão no substrato algodão, a fim de que os alunos observassem a germinação da semente e o desenvolvimento da plântula. Foi proposto que as folhas de fortuna e a batata doce fossem colocadas em recipientes com água, para a observação da emissão de brotos e raiz. Nesta etapa os alunos foram mantidos nos mesmos grupos. Cada grupo recebeu um kit composto de: uma batata doce, uma folhas de fortuna, sementes de feijão, algodão, recipientes transparentes para facilitar a observação e água filtrada. Após quatorze dias realizou-se uma nova observação, com auxílio de uma lupa, a fim de que os alunos identificassem a morfologia externa do feijão (raiz, caule, folha) e dos brotos emitidos da batata doce e da folha de fortuna. Para discutir os resultados obtidos pelos alunos nos encontros anteriores, os alunos foram dispostos novamente em roda de conversa para socializarem os resultados obtidos, além de responderem um novo questionário, isto é, questões do questionário aplicado no levantamento prévio acrescido de mais quatro questões fechadas (múltipla escolha), a fim de avaliar a construção do conhecimento sobre o assunto abordado na aula experimental. Os alunos também foram estimulados a elaborar uma frase e ilustrações pontuando o que acharam mais interessante durante o a atividades e desta forma verificando-se a construção do conhecimento dos mesmos. Resultados Pode-se verificar de um modo geral que todas as questões do questionário aplicado no levantamento prévio, quando comparado com as respostas dadas ao questionário após as aulas práticas tiveram uma porcentagem maior de respostas corretas e coerentes. O aumento da porcentagem expressa a construção do conhecimento dos alunos (Tabela 1). XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 Tabela 1- Respostas das questões aplicadas no levantamento prévio comparadas com repostas após participação efetiva dos alunos nas atividades práticas. Questões Levantament o Prévio Porcentagem de conhecimento antes atividades práticas Porcentagem de conhecimento após atividades práticas 1– Conheciment o sobre reprodução das plantas 68% 88% 2 - Plantio de sementes 64% 100% 3Possibilidade da folha originar nova planta 38% 100% 4Possibilidade de um tubérculo originar nova planta 42% 5 - Origem das plantas apenas por semente 72% Figura 1 - Texto e ilustração elaborados por aluno sobre as três atividades práticas realizadas (germinação da semente, brotamento da folha e do tubérculo). Discussão 100% 100% Constatou-se a partir dos resultados que o número de alunos que conhecem efetivamente como ocorre à reprodução das plantas aumentou em 20% quando comparado com o conhecimento antes das atividades práticas propostas. O mesmo ocorreu com a questão 2, 3, 4 e 5 onde a porcentagem de acertos foi ainda maior, haja visto que a porcentagem de repostas corretas aumentou em 36%, 62%, 58% e 28% respectivamente. As frases e textos elaborados de forma coerente pelos alunos, confirmam a construção do conhecimento sobre os tipos de reprodução em planta, em especial na forma assexuada (Figura 1). O resultado obtido após as aulas teórico/práticas indica que houve um aumento significativo de respostas coerentes quando comparadas às respostas do questionário prévio, estes resultados concordam com Delizoicov & Angotti (2000) apud Aoki (2005), que relatam que as aulas experimentais ou práticas são de grande auxílio no processo ensino-aprendizagem, pois despertam a curiosidade e o interesse nos educandos, e uma vez que estes se interessam pelo assunto, a experimentação somada à teoria, proporciona discussão, interpretação de resultados e gera soluções, conduzindo assim o discente à construção do conhecimento. Verificou-se que a maioria dos alunos deixaram de ser passivos, ou alunos ouvintes, questionando mais o professor a respeito das dúvidas e dos procedimentos a serem realizados. Bastos (1994), relata que as aulas práticas também promovem e intensificam a interação entre professor e aluno em sala de aula. Ainda nesse sentido, Piletti (1984) apud Bastos (1994), cita a importância da participação do docente, lembrando que este irá conduzir o educando para uma aprendizagem efetiva ou não. Analisando os textos e ilustrações propostos após a aula teórico/prática, observou-se que a maioria dos alunos fizeram ilustrações e textos, de um modo geral coerentes com as atividades desenvolvidas em sala, fato este que apóia a teoria de Borges & Lima (2007) que destacam a XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 importância da substituição da aula verbal por práticas pedagógicas capazes de formar um sujeito apto a construir e reconstruir conhecimentos. Segundo Delizoicov & Angotti (2000) apud Aoki (2005), devido as mudanças na educação, faz-se necessária adaptações para melhoria do ensino, e isso foi confirmado no presente trabalho visto que iniciativas simples que fogem do modelo atual de ensino em ciências, podem gerar um grande interesse por parte dos alunos construindo momentos ricos no processo ensinoaprendizagem. Conclusão A partir dos objetivos propostos resultados obtidos, conclui-se que: • • • • e dos Após as atividades teórico/práticas a totalidade dos alunos apresentaram conhecimento satisfatório sobre o assunto abordado. As dúvidas levantadas pelos alunos, em grande parte dos momentos de debate foram bem formuladas, o que pressupõe-se que as aulas despertaram interesse e curiosidade, visto que muitas dessas perguntas não envolviam os conceitos e debates levantados pela professora. Pode-se concluir que iniciativa simples, como aulas práticas na própria sala de aula, que trazem o contexto do dia-a-dia dos alunos, estimula o aluno a pesquisar/questionar sobre conteúdo apresentado e desta forma propicia a construção do conhecimento efetiva e empírica, ainda que subsidiada pelo conhecimento científico do docente. Conclui-se ainda que a constatação da construção do conhecimento não se dá apenas na avaliação da repetição de conteúdos decorados e automatizados, esta se dá na observação da argumentação e nas diversas formas de expressão que o aluno é capaz de transmitir o que aprendeu, como por exemplo textos e ilustrações. dos alunos do segundo ciclo fundamental a respeito do conteúdo básico da biologia vegetal. - BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quatro ciclos, Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998. - BASTOS F.P., Pesquisa-ação emancipatória e prática educacional dialógica, em ciências naturais. 1994. 68p - Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo; 1994. - BORGES, R.M.R; Lima, V.M.R. Tendências contemporâneas do ensino de biologia no brasil. Revista electrónica de enseñanza de las ciencias vol. 6 n 1 – 2007 - SANTOS, D. Y. A. C.; Ceccantini, G. - Propostas para o ensino de botânica manual do curso para atualização de professores dos ensinos fundamental e médio - São Paulo : Universidade de São Paulo. - SIQUEIRA I.S., Piochon E.F.M., Mariano-da-Silva S.; Uma abordagem prática da Botânica no Ensino Médio: este assunto contribui com a construção dos conhecimentos dos alunos? Arq Mudi. 2007;11(1):5-12. Referências - AOKI, A. E. - O ensino de botânica nas 6ª séries do ensino fundamental em doze escolas da rede pública de ensino municipal e estadual da zona sul desão josé dos campos – SP - Monografia Universidade do Vale do Paraíba, 2005. - COUTINHO, K. da S. 1; Detmann, E.2; Gomes, V. M.3 & Da Cunha, M.4. (2004). A compreensão XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4