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3º Encontro - 5 de Dezembro de 2010 (Advento)
● Lc 1, 68-79 - Cântico Evangélico: Benedictus - Zacarias
(O Messias e o seu Precursor)
68 Bendito o Senhor Deus de Israel *
que visitou e redimiu o seu povo
69 e nos deu um Salvador poderoso *
na casa de David, seu servo,
70 conforme prometeu pela boca dos seus santos, *
os profetas dos tempos antigos,
71 para nos libertar dos nossos inimigos *
e das mãos daqueles que nos odeiam
72 para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, *
recordando a sua sagrada aliança
73 e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai, *
que nos havia de conceder esta graça:
74 de O servirmos um dia, sem temor, *
livres das mãos dos nossos inimigos,
75 em santidade e justiça, na sua presença, *
todos os dias da nossa vida.
76 E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, *
porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos,
77 para dar a conhecer ao seu povo a salvação *
pela remissão dos seus pecados,
78 graças ao coração misericordioso do nosso Deus, *
que das alturas nos visita como sol nascente,
79 para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte *
e dirigir os nossos passos no caminho da paz.
● A Liturgia das Horas utiliza este cântico todas as manhãs, em Laudes, principalmente por causa do
versículo «graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol
nascente». Jesus Cristo é o verdadeiro sol que ilumina a nossa vida e nos aquece o coração pela fé,
esperança e caridade, e dirige os nossos passos no caminho da paz.
Cada manhã ao romper do sol, dissipam-se a noite e as trevas. Com efeito, sobre a noite da morte brilha
a aurora do alto, Cristo, que com a sua ressurreição venceu o domínio do pecado e da morte, e trás a
restauração de um novo universo (Ap 21,3-4).
1 ● (Lc 1,5-20) No tempo de Herodes, o Grande, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarías,
casado com Isabel, prima de Maria. Os dois eram justos diante de Deus. Não tinham filhos, pois Isabel
era estéril, e já eram de idade avançada. Um dia quando exercia as funções sacerdotais no Templo,
apareceu-lhe o anjo do Senhor, que lhe disse:«Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua
esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. (...) Irá à frente, diante do Senhor, (...) para fazer
voltar os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de proporcionar ao
Senhor um povo com boas disposições.»
Zacarias duvidou e por isso ficou mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo se cumprisse.
(Lc 1, 57-67) Entretanto, chegou o dia em que Isabel deu à luz um filho. Ao oitavo dia, foram
circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas a mãe disse: «Não; há-de chamar-
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se João.» E o pai pedindo uma placa escreveu: «O seu nome é João.» Imediatamente a sua boca abriuse, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus.
Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?»
Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.
Então, Zacarias, cheio do Espírito Santo profetizou com estas palavras.
Logo após o nascimento de João, Zacarias seu pai recupera a fala, e com espírito profético louva a Deus
pela salvação messiânica que, cumprindo as antigas profecias, já chegou, trazendo a libertação dos
pecados e a graça da vida santa e justa (68-75); depois, voltando-se para o seu filho João, prediz que ele
irá ser o precursor do Senhor, o anunciador da salvação, e que o Messias vai trazer a remissão dos
pecados (76-79).
2 ● O Cântico entoado por Zacarias, pai de João Baptista, quando se dá o nascimento do filho elimina a
dúvida que o tinha tornado mudo, o que tinha sido como uma punição pela sua falta de fé e de louvor.
Agora, Zacarias pode celebrar Deus que salva e fá-lo com este hino, narrado pelo evangelista Lucas de
uma forma que reflecte o uso litúrgico no âmbito das primeirras comunidades cristãs (cf. Lc 1, 68-79).
É um cântico profético, que se abre através do sopro do Espírito Santo (cf. 1, 67). Encontramo-nos
diante de uma bênção que proclama as acções salvíficas e a libertação oferecida pelo Senhor ao seu
povo. Por conseguinte, a leitura "profética" da história, isto é, a descoberta do sentido íntimo e profundo
de toda a vicissitude humana, orientada pela mão escondida mas laboriosa do Senhor, que se entrelaça
com a mais frágil e incerta do homem, fazendo a História da Salvação.
«Zacarias e Isabel anunciaram grandes coisas sobre Jesus. E no entanto, o Espírito ainda não tinha sido
dado com a abundância de graças que fez falar em línguas diferentes os diversos povos reunidos e os
levou a anunciar, em todas as línguas da terra, a Igreja que ia nascer. Essa foi a nova graça que devia
reunir todas as nações, perdoar por toda a parte os pecados, reconciliar com Deus milhares de homens.»
(Stº Agostinho)
3 ● O texto é solene e, compõe-se por duas partes (cf. vv. 68-75; 76-79). Depois da introdução, marcada
pela bênção de louvor, podemos identificar no Cântico três temas que marcam toda a história da
salvação: a aliança davídica (cf. vv. 68-71), a aliança abraâmica (cf. vv. 72-75), e o Baptista que nos
introduz na nova aliança em Cristo (cf. vv. 76-79). De facto, toda a oração tende para aquela meta
que David e Abraão indicam com a sua presença.
O vértice encontra-se precisamente numa frase quase conclusiva: "Visitar-nos-á a luz do alto" (cf. v.
78). A expressão, à primeira vista paradoxal com o facto de unir "o alto" e o "surgir", na realidade é
significativa.
Com efeito, no original grego o "sol que surge" é anatolè, uma palavra que em si significa tanto a luz
solar que brilha no nosso planeta, como o rebento que nasce. As duas imagens na tradição bíblica têm
um valor messiânico. Por um lado, Isaías recorda-nos, falando do Emanuel, que "o povo que andava nas
trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou" (9, 1). Por outro
lado, referindo-se ainda ao rei Emanuel, representa-o como "um rebento que brotou do tronco de Jessé",
isto é, da dinastia davídica, um rebento envolvido pelo Espírito de Deus (cf. Is 11, 1-2). Por conseguinte,
com Cristo surge a luz que ilumina todas as criaturas (cf. Jo 1, 9) e floresce a vida, como dirá o
evangelista João unindo estas duas realidades: "N'Ele estava a a Vida e a Vida era a luz dos
homens" (1, 4).
4 ● A humanidade que está envolvida "nas trevas e na sombra da morte" é iluminada por este esplendor
de revelação (cf. Lc 1, 79). Como anunciara o profeta Malaquias, "para vós que temeis o Meu nome
brilhará o sol de justiça" (3, 20). Este sol "guiará os nossos passos no caminho da paz" (Lc 1, 79).
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Movamo-nos então, tendo como ponto de referência aquela luz; e os nossos passos incertos, que durante
o dia muitas vezes se desviam por caminhos obscuros e perigosos, são amparados pela luz da verdade
que Cristo difunde no mundo e na história.
"O Senhor... visitou-nos como um médico visita os doentes, porque para curar a enfermidade arreigada
da nossa soberba, ofereceu-nos o novo exemplo da sua humildade; redimiu o seu povo, porque nos
libertou com o preço do sangue a nós que nos tínhamos tornado servos do pecado e escravos do antigo
inimigo... Cristo encontrou-nos quando jazíamos "nas trevas e na sombra da morte", ou seja, oprimidos
pela longa cegueira do pecado e da ignorância... Trouxe-nos a luz verdadeira do seu conhecimento e,
afastou as trevas do erro, mostrou-nos o caminho seguro para a pátria celeste. Dirigiu os passos das
nossas obras para fazer com que andássemos pelo caminho da verdade, que nos mostrou, e para nos
fazer entrar na casa da paz eterna, que nos prometeu". (S. Beda, o Venerável ( séc. VII-VIII ), Homilia
para o nascimento de São João Baptista)
"Dado que possuímos estes dons da bondade eterna, irmãos caríssimos..., bendizemos também nós o
Senhor em todos os tempos (cf. Sl 33, 2), porque "visitou e redimiu o seu povo". Esteja sempre nos
nossos lábios o seu louvor, conservemos a sua recordação e, por nosso lado, proclamamos a virtude
daquele que "nos chamou das trevas para a Sua luz admirável" (1 Pd 2, 9). Pedimos continuamente a sua
ajuda, para que conserve em nós a luz do conhecimento que nos trouxe, e nos conduza até ao dia da
perfeição". (S. Beda, o Venerável ( séc. VII-VIII))
5 ● A segunda parte começa no vers. 76. O recém-nascido será (= vão chamá-lo) profeta do Altíssimo,
como o anjo havia anunciado (v. 17). Fazia tempo que não havia um profeta em Israel, "os céus tinhamse fechado". De acordo com a profecia de Malaquias 3,1, a sua missão será preparar o caminho para o
Senhor que vem misericordioso ao encontro do seu povo. A missão de "ir adiante" pode ter um sentido
figurado, equivalente a "preparar". João preparou o coração do povo para se reconciliarem com Deus (v
77).
«Acerca de João Baptista, o próprio Senhor disse: Ele era uma lâmpada ardente e luminosa, e vós, por
um instante, quisestes alegrar-vos com a sua luz. Ele chama a João uma lâmpada, acesa na fonte da luz,
a fim de dar testemunho da verdade. Os homens são cegos, o seu olhar interior é tão pouco penetrante,
que tiveram necessidade de uma lâmpada para procurarem o sol da justiça.
Quando o olhar do coração é puro, descobre o Senhor sem recorrer a uma lâmpada que dê testemunho.
Jesus acrescenta aliás: Tenho a meu favor um testemunho maior que o de João. Acende-se uma lâmpada
para os enfermos mergulhados na noite. Como acendê-la? O Pai di-lo ao seu Filho a propósito de João
Baptista: Vou enviar o meu mensageiro à tua frente, para preparar o caminho diante de ti. Eis como Ele
prepara uma lâmpada para o seu Cristo». (Stº Agostinho)
6 ● Somos salvos "graças ao coração misericordioso do nosso Deus" (v 78). A tradução espanhola diz:
"pela entranhável misericordia do nosso Deus". O motivo da obra redentora de Deus é a sua
"misericórdia", cuja mais grandiosa revelação é a visita ao seu povo através do "sol nascente",
designação figurativa do Messias, que, como "sol de justiça "(Malaquias 3,20), aparecerá aos que jaziam
nas trevas do afastamento de Deus produzido pelo pecado, para mostrar-lhes o caminho da salvação. O
v. 79 alude a Is 9,1 ("O povo que andava nas trevas viu uma grande luz"), citado por Mt 4,16 (cf Sl
106,10-14). A iluminação é uma figura da redenção e salvação na obra messiânica, por isso se opõe à
escuridão e à morte. Zacarias, inclui-se, como prova a expressão "os nossos passos" no número de
pessoas que estava na escuridão (v 79), agora está entre os beneficiários da obra do Messias.
ORAÇÃO
Fazei, Senhor Jesus Cristo, que nós sejamos uma luz no caminho dos nossos irmãos, para que eles
caminhem até Vós, Sol nascente que iluminais os que jazem nas trevas e nas sombras da morte e dirigis
os nossos passos no caminho da paz. Amen, Alleluia! Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos.
Referências bibliográficas:
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- Saltério Litúrgico, Secretariado Nacional de Liturgia, Gráfica de Coimbra
- João Paulo II, audiência de quarta-feira, 1 de outubro de 2003
http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/audiences/2003/documents/hf_jpii_aud_20031001_po.html
- http://www.franciscanos.org/oracion/canticobenedictus.htm
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