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História: uma questão de interesse
Autoras:
Adriana Abelaira Silveira
Bárbara Takeda de Oliveira
Daniela Aparecida da Cruz
Juliana Bolanho Mendes
Orientadora:
Profª. Ms. Tatiana Doval Amador
Resumo
Neste trabalho monográfico será apresentado um breve histórico do surgimento da
Terapia Ocupacional. A construção se dá no contexto sócio-histórico, através de diversas
perspectivas e abordagens. Em cada momento da história os terapeutas depararam-se com
transformações que influenciaram ações e exigiram diferentes olhares e construção de novas
propostas. O trabalho pretende demonstrar como os movimentos que precederam a profissão
foram de grande importância. São eles: o Tratamento Moral, as Grandes Guerras e o Movimento
Internacional de Reabilitação. Através desses processos, uma parcela da população excluída e
ignorada da sociedade começou a receber uma devida atenção.
Introdução
O presente trabalho monográfico foi realizado no primeiro semestre do ano de 2008, na
disciplina Fundamentação Histórica da Terapia Ocupacional oferecida pela Universidade Federal
de São Carlos.
A problemática do surgimento da Terapia Ocupacional, ao invés de criar uma
especialização acoplada às profissões como: fisioterapia, psicologia e a própria medicina, levounos a um questionamento sobre a existência da profissão, Terapia Ocupacional.
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Durante este trabalho monográfico faremos uma pesquisa qualitativa, onde, procuraremos
esclarecer contextualmente a criação e o reconhecimento dessa nova profissão, através dos seus
movimentos precursores, principalmente no Brasil.
De acordo com Lakatos (1989), iremos apresentar um artigo de análise, no qual faremos
uma apresentação breve de aspectos essenciais de cada elemento constitutivo do assunto e sua
relação com o todo. Assim, o presente trabalho está dividido em três capítulos que irão apresentar
acontecimentos do cenário mundial que influenciaram o nacional e ajudaram a constituir a
Terapia Ocupacional brasileira. No desenvolvimento será explicado porque esses movimentos
ocorridos no mundo possibilitaram a consolidação do profissional de Terapia Ocupacional no
Brasil.
O primeiro capítulo, intitulado Tratamento Moral e suas influências na Terapia
Ocupacional, relata sobre o surgimento, objetivo e como o Tratamento Moral influenciou as
práticas dos hospitais psiquiátricos brasileiros. No segundo capítulo, Guerras Mundiais e novos
campos de atuação, o foco recairá sobre as influências das Guerras Mundiais na Terapia
Ocupacional. No último capítulo, Movimento Internacional de Reabilitação, mostra as
transformações ideológicas, ocorridas no Brasil que resultaram deste movimento. E na conclusão
foram relacionadas as influências destes movimentos na Terapia Ocupacional à necessidade da
existência dessa profissão.
Para auxiliar a análise foram usadas referências de grandes autores que foram essenciais
para a construção da Terapia Ocupacional no Brasil. Como por exemplo: Luiz da Rocha
Cerqueira, um psiquiatra que se recusou a ser carcereiro de doentes, Léa Beatriz Soares, docente
com diversas publicações sobre a Terapia Ocupacional entre outros que desenvolveram a mesma
problemática.
Capitulo 1 - Tratamento Moral e suas influências na Terapia Ocupacional
De acordo com Francisco (2001), no final do século XVIII e início do século XIX a
Terapia Ocupacional encontrou as suas raízes filosóficas, com o início do Tratamento Moral
impulsionado pelo Dr. Philippe Pinel, (França, 1791). Esse conceituado alienista da época
assume a direção do asilo de Bicêtre e deparou-se com a trágica situação dos doentes mentais,
estimulando então, a reforma assistencial. Assim, tem início o Tratamento Moral.
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Segundo a autora supracitada, o objetivo do tratamento moral era a normalização do
comportamento desorganizado do doente através da correção de hábitos errados e a criação e
manutenção de hábitos saudáveis de vida. O método de trabalho utilizado por Pinel era a
prescrição de exercícios físicos e ocupações manuais.
No Brasil, a vinda da Família Real, em 1808, impulsionou a reestruturação psiquiátrica.
Mais tarde, em 1852, houve a fundação do hospício Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, que retirou
os insanos das Santas Casas e enfermarias. Dois anos depois, em 1854, foram criadas oficinas de
alfaiataria, marcenaria, sapataria, jardinagem e desfiação de estopa.
Em 1898, aconteceu a inauguração do Hospital Juqueri (posteriormente chamado de
Hospital Franco da Rocha), construído próximo à cidade de São Paulo, para atender os doentes
mentais de todo o país. A principal atividade desenvolvida pelos pacientes era de caráter rural,
cuja produção suprimia as necessidades básicas da instituição, e o que sobrava era
comercializado. O tratamento pelo trabalho utilizado no hospital Juqueri, era intitulado de
praxiterapia e tinha como intuito tratar o paciente e devolvê-lo à comunidade.
Segundo Cerqueira (1965), o neuro-higienista Ulisses Pernambucano, em 1931,
introduziu a ocupação terapêutica no nordeste do Brasil, por meio da criação da Assistência a
Psicopatas. Ele utilizava uma ação multiprofissional intra e extra-hospitalar, integrando atenção
preventiva, curativa e de reabilitação.
Os tratamentos que tiveram lugar nos hospícios brasileiros não podem ser entendidos
simplesmente como pura imitação dos tratamentos desenvolvidos na Europa e nos EUA,
pois a prática institucional tinha que responder à elevada indiferenciação da população
internada e a constante superlotação. A função de abrigo subrepunha-se ao ideal
terapêutico, limitando as possibilidades de efetivação do tratamento moral. A
persistência das denúncias de maus tratos, imundície, superlotação, baixa qualificação e
truculência dos atendentes e da falta de assistência médica atestam a distância entre as
idéias alienistas e as condições concretas do funcionamento asilar. (NASCIMENTO,
1991)
Capítulo 2 – Guerras Mundiais e novos campos de atuação
As conseqüências das Guerras Mundiais influenciaram o mundo em diversos aspectos.
Este capítulo relacionará essas conseqüências com a formação da Terapia Ocupacional, no
mundo e no Brasil.
A transição da terapia pelo trabalho para a Terapia Ocupacional ocorreu nos Estados
Unidos a partir da Primeira Guerra Mundial devido a pressões sociais de veteranos da
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guerra por autonomia financeira e valorização social e, ainda, pela absorção de
incapacitados no mercado de trabalho, momento de expansão econômica. (SOARES,
1991.)
A Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 a 1918 foi um fator importante para o
surgimento da primeira escola profissional de Terapia Ocupacional nos Estados Unidos (EUA),
em 1917. Após a Primeira Guerra, o desenvolvimento da Terapia Ocupacional foi lento.
Segundo Soares (1991), a profissão surgiu com o objetivo de ensinar novos hábitos aos
soldados mutilados, pois os levariam a uma vida mais saudável.
Somente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que foi inaugurada a profissão em
outros países. Já nos EUA, houve um aumento da demanda de terapeutas ocupacionais para
hospitais, gerando a criação de novas escolas. Nesse período, os terapeutas foram preparados para
tratar desde problemas psicológicos até ortopédicos. Foram desenvolvidas técnicas para uma
reabilitação física e mental dos pacientes, para assim retornarem aos seus ofícios.
Para Caniglia (2005), graças às duas Grandes Guerras, a ênfase da abordagem passou a
ser mais reabilitadora, curativa e remediadora devido à demanda traumatológica dos pacientes.
Com o pós-guerra houve uma necessidade de terapeutas ocupacionais em hospitais civis e
militares. Assim ocorreu um grande aumento das escolas de formação de terapeutas, sobretudo na
área de tratamento das incapacidades físicas. A proximidade com a fisioterapia na área física
possibilitou o desenvolvimento de conhecimentos para minimizar as limitações dos indivíduos.
Uma conseqüência importante para a formação da Terapia Ocupacional foi que, com a
demanda de pessoas "normais" para a guerra, obteve-se escassez de trabalhadores nas fábricas.
Então, nesse momento os debilitados que não podiam ir para a guerra ocuparam as indústrias,
passando a exercer um papel importante na sociedade.
Segundo Soares (1991), no Brasil, os programas para incapacitados físicos surgem apenas
na segunda metade do século XX, no governo de Getúlio Vargas, decorrentes do Movimento
Internacional de Reabilitação.
Capitulo 3 – Movimento Internacional de Reabilitação.
De acordo com Ferrigno (1991), os motivos para a origem da reabilitação no Brasil
diferem-se daqueles que tiveram início nos Estados Unidos e países da Europa. Pois nesses países
existia uma demanda social, originada pelas Guerras Mundiais. Já no Brasil, a justificativa foi à
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reabilitação profissional, que visava recuperar a capacidade de trabalho ou adaptar/mudar a
atividade ocupacional desses sujeitos.
O Movimento Internacional de Reabilitação gerou mudanças na concepção de saúde
vigente no Brasil. Embora já utilizassem as ocupações com objetivos terapêuticos nos
manicômios psiquiátricos, houve a implantação de cursos de Terapia Ocupacional
preferencialmente na área de reabilitação física, por influência do que estava ocorrendo nos
Estados Unidos.
De acordo com Carlo e Bartalotti (2001), o Movimento de Reabilitação se originava
sobretudo nos países que participaram das duas Grandes Guerras, como conseqüência do
aumento significativo de incapacitados físicos. No Brasil havia uma maior preocupação com
pacientes crônicos, deficiências congênitas, acidentados no trabalho, de trânsito, domésticos ou
por doenças ocupacionais. É nesse contexto que surgem muitos profissionais como terapeutas
ocupacionais e fisioterapeutas.
Os programas para incapacitados físicos só emergem a partir do Movimento
Internacional de Reabilitação, nos anos 40. Segundo a análise da terapeuta ocupacional
norte americana Anne C. Mosey, o movimento de reabilitação existiu em função das
falhas nas instituições sociais, família, escola e medicina organizada. A independência,
possibilitada pelos programas de reabilitação, a vantagem econômica para a sociedade e
o aumento no número de pessoas incapacitadas pelo próprio avanço da ciência,
transformaram a reabilitação no terceiro nível de atenção à saúde, praticada a partir da
instalação da incapacidade. (SOARES, 1991)
Segundo a autora citada acima, este movimento não ocorreu apenas no âmbito da saúde,
pois a redemocratização política governamental precisava reduzir gastos da previdência social,
com a reabilitação de seus aposentados por invalidez. Seguindo esta lógica, os serviços de
reabilitação foram inicialmente destinados aos veteranos da Primeira Guerra. No ano seguinte,
aos acidentados pelo trabalho, e durante a década seguinte, esses serviços foram ampliados à
população civil.
Conclusão
Para buscar a identidade da Terapia Ocupacional, entender o presente e assim delinear as
trajetórias da profissão, faz-se necessário conhecer primeiro a sua história. Portanto, os
movimentos que precederam a profissão como o Tratamento Moral, as Grandes Guerras e o
Movimento Internacional de Reabilitação foram de extrema importância. Pois, através desses
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processos uma parcela da população excluída e ignorada da sociedade começou a receber uma
devida atenção.
A profissão surgiu no Brasil (década de 50) como curso técnico voltado à reabilitação,
uma especialidade médica. Assim a Terapia Ocupacional utilizou-se da ciência teórica da
medicina. Destarte, ela surge como um trabalho de reprodução técnica e não como um trabalho
intelectual.
Diante da análise dos capítulos acima, acreditamos que a criação de uma nova profissão e
não o acoplamento desta a outras, como a medicina, psicologia e fisioterapia, aconteceu devido
ao distanciamento de idéias e a visão sobre o indivíduo nos diferentes tratamentos, pois de acordo
com Cerqueira (1965), a Terapia Ocupacional possui uma visão holística do sujeito.
A Terapia Ocupacional e a fisioterapia muitas vezes utilizam os mesmos recursos para os
seus atendimentos. Porém, enquanto a fisioterapia preocupa-se com a recuperação do movimento,
o objetivo da Terapia Ocupacional se difere porque pretende capacitar o paciente a tornar-se
independente e auto-suficiente sem que para isso seja necessária a recuperação total do
movimento.
De acordo com Cerqueira (1984), a forma de tratamento da Terapia Ocupacional supre a
deficiência dos medicamentos, que só tratam o patológico e não o indivíduo em si. Porém os dois
tratamentos se potencializam reciprocamente.
O valor que a humanidade dá as profissões vem de uma disputa, na qual, quem determina
o “ganhador” é uma camada que detém o poder científico. Por tal motivo acaba sendo árduo o
trabalho do terapeuta ocupacional para se fazer reconhecido dentro das sociedades.Por isso a
necessidade da busca por um objeto próprio da profissão, que seja conduzido ou preparado
estritamente de acordo com os princípios e práticas das ciências, para provar a cientificidade da
profissão.
No entanto, acreditamos que, ainda não é interessante para quem detém esse poder,
permitir que a Terapia Ocupacional questione a dinâmica da sociedade capitalista, instruindo
principalmente pessoas excluídas, a lutarem por seus direitos e adquirirem autonomia.
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Referências
CANIGLIA, M. Terapia ocupacional: um enfoque disciplinar. Belo Horizonte: Ophicina da arte e
prosa, 2005.
CARLO, M.M.R. P. de; BARTALOTTI, C.C. (orgs). Terapia ocupacional no Brasil:
fundamentos e perspectivas. São Paulo: Plexus, 2001.
CERQUEIRA, L. Pela reabilitação em psiquiatria. Rio de Janeiro: Oficina gráfica da
universidade do Brasil, 1965.
CERQUEIRA, L. Psiquiatria social: problemas brasileiros de saúde mental. Rio de Janeiro:
Atheneu, 1984.
FRANCISCO, B. R. Terapia ocupacional. 2. ed. Campinas: Papirus, 2001.
LAKATOS, E. M.; MARCON, M. de A. Metodologia do trabalho científico. ed 2. São Paulo:
Atlas, 1989.
NASCIMENTO, B. A. Loucura, trabalho e ordem: o uso do trabalho e da ocupação em
instituições psiquiátricas. Dissertação de mestrado. PUC-SP, 1991.
SOARES, Léa B. T. Terapia ocupacional: lógica do capital ou do trabalho? São Paulo: Hucitec,
1991.
FERRIGNO, I. S. V. Terapia ocupacional: Considerações sobre o contexto profissional. Revista
de terapia ocupacional da Universidade de São Paulo, São Paulo, v.2, n.1, p. 3-11, 1991.
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História: uma questão de interesse Autoras: Adriana Abelaira