Cultura Escolar e Currículo:
conceitos básicos
Equipe Pedagógica
Nre-Londrina
1
Cheguei a uma conclusão aterrorizante!
Sou eu o elemento decisivo na sala de
aula. É a minha abordagem pessoal que
cria o clima. É o meu estado e ânimo
diário que dita o tempo. Como
professor, possuo o tremendo poder de
tornar a vida de uma criança miserável
ou cheia de alegria.
2
Posso ser um instrumento de martírio
ou de inspiração divina. Posso
humilhar ou alegrar, ferir ou cicatrizar.
Em todas as situações é a minha
atitude que determinará se uma crise
será bem ou mal conduzida e, então,
uma criança poderá ser humanizada ou
marginalizada.
Haim Ginott
3
Como toda boa reflexão pede
questionamentos, lanço, de antemão,
alguns:
O que é ser professor?
Quais são os pressupostos?
4
Vamos iniciar tentando refletir sobre:
O que é ser professor?
A etimologia da palavra nos diz:
Professor - palavra do séc. XIV, do latim
profiteri = declarar publicamente, ensinar
em público, professar, o que se dedica a, o
que cultiva;
professar = declarar em voz alta, ter um
sentimento, uma crença.
5
Das definições apresentadas, gostaria
de
destacar
a
seguinte:
“professor é aquele declara em voz
alta ter um sentimento, uma crença.”
E relacioná-la a um segundo sentido:
“o que se dedica a, o que cultiva”.
6
Professor é aquele que professa uma crença!
Qual é a crença?
- Acreditar em nossas ações e em nossos
conhecimentos;
- Acreditar em nossos educandos e em sua
capacidade de aprender.
É essencial percebermos que só professa
quem se compromete.
7
A palavra professor traz, em seu sentido, o
comprometimento com...
Este é o caminho para que possamos
acreditar em nossas ações, nossos
conhecimentos, nossos educandos.
Como comprometer-se?
Professor é aquele que se dedica, cultiva.
8
Etimologia da palavra compromisso:
Compromisso - palavra do séc. XII, do latim
jurídico compromittere = remeter à decisão de
um árbitro.
Deste sentido fundamental, passamos ao de
"aceitar um compromisso".
Atualmente, arranjamento no qual se fazem
concessões mútuas, tomar parte ou
envolver-se em.
9
A etimologia da palavra professor
traz,
além do compromisso, o “cultivo de” – lat.
Cultivare: desenvolver, aperfeiçoar pelo
culto, cuidado, trato contínuo.
1
Segunda constatação:
a palavra professor traz, em seu
sentido, também o sensibilizar.
Pois, só cuidamos ou
desenvolvemos algum tipo de
trato para aquilo que nos é “caro”,
para o que nos sensibiliza.
1
Sensibilizar - lat. sensibilis, é o que está sujeito
aos sentidos, sensível; capaz de sentir e captar o
que existe e de expressá-lo; ligar por ato
solidário; tornar-se emocionalmente consciente e
compreensivo.
1
Ser professor é:
professar algum sentimento – quem
professa está comprometido com –
comprometer-se é cultivar – só cultiva
quem é sensível a... é solidário com ...
1
Reflexão:
Nós somos professores de sensibilidade, de
cultivo e de compromisso?
Elemento central de nossa reflexão: nós,
professores.
1
Três tópicos desta reflexão:
Ser professor é: professar algum
sentimento, uma crença;
Ser professor é: comprometer-se, é
cultivar;
Ser professor é: ser sensível a ... é
estar solidário com...
1
Ser professor é:
professar algum
sentimento, um
compromisso.
1
Em que o professor deveria
acreditar?
Acreditar em si, nos seus
conhecimentos, no seu aluno, ou
seja, acreditar no ensino.
Sabemos o que é ensinar?
1
A etimologia da palavra:
Ensinar - palavra do séc. XII, do
latim popular insignare, pelo
clássico insignire = colocar uma
marca, assinalar, designar;
palavra derivada de signum =
signo.
1
Ao ensinar, realizamos marcas, e
estas nos fazem perceber que ser
professor é acreditar na vida. Esta
deveria ser a nossa crença.
Acreditamos na vida, e só podemos
ensinar, deixar marcas, quando
acreditamos que a “aprendizagem é
vida”
[1].
[1] MATURANA, H. ; VARELA F. A árvore do conhecimento. São Paulo: Palas Athenas, 2001.
1
Aprender e viver são ações
indissociáveis, que envolvem
várias dimensões humanas e não
somente a racionalidade. Se
aprendizagem é vida, viver é
sentir; portanto, racionalidade,
emoções, sentimentos, instintos,
consciente e inconsciente
participam da aprendizagem.
2
Talvez o fracasso de nosso sistema
escolar esteja muito vinculado à ação
impossível que muitos educadores,
baseados
em
diversas
teorias
educacionais,
empreenderam
no
sentido de reconhecer a si mesmo e
ao educando como uma grande
cabeça racional.
2
Precisamos refletir sobre que tipo de
marcas cunhamos no educando, se
estas são realmente necessárias a ele,
se realmente favorecem o seu
crescimento. As verdades que
professamos, em que acreditamos
sempre expressarão algum tipo de
sentimento.
Professar é expressar sentimento.
2
O auto-reconhecimento é inevitável
para o entendimento pleno de que
vida e aprendizagem são
inseparáveis; para entendermos e
reconhecermos o educando como
um ser total.
E, portanto, seus êxitos ou
fracassos escolares não estão
intimamente vinculados somente à
inteligência racional; à valorização
excessiva do logos (razão).
2
Não é possível definir
ensinar sem envolver o
aprender.
Mas o que é aprender?
2
Aprender - palavra do séc. XII, do latim
popular aprendere: tomar posse
materialmente; alguns autores
eclesiásticos deram o sentido de "tomar
posse pelo espírito"; mais tarde, passou
a denominar-se "se familiarizar com
alguma coisa", depois a "aprender a
conhecer por si" e, enfim, de "fazer
conhecer alguma coisa pelo outro".
2
No francês moderno, por exemplo, há dois
sentidos:
o subjetivo, que é adquirir um conhecimento,
seja pelo intelecto ou pela experiência;
e o objetivo, que é fazer conhecer, levar ao
conhecimento de alguém.
2
se o ensinar traz implícito inevitavelmente
o aprender, o inverso também é
verdadeiro: o aprender também traz o
ensinar.
Ambos trazem a idéia de viver, sentir,
desejar!
“Desejar e Querer”: verbos que precisam
ser sentidos, vivenciados por todos os
agentes envolvidos no processo educativo.
2
“Todo conhecimento tem uma
inscrição corporal e se apóia numa
complexa interação sensorial. O
conhecimento humano nunca é pura
operação mental. Toda a ativação
mental da inteligência está entretecida
de emoções”.
ASSMANN, H. Metáforas novas para reencantar a educação: epistemologias e didática. p. 33.
2
Assmann afirma que vida é
diversidade (diferença).
[1]
Podemos então questionar: como
considerar um ser humano sem
diferenças? Como acreditar em
uma escola de iguais?
[1] Ibidem, p. 32
2
A escola atual parece negar que as
diferenças individuais e a diversidade da
vida presente nas pessoas são partes
essenciais do processo de ensino e
aprendizagem.
3
Ao mesmo tempo, há uma
contradição:
Apesar de negar as diferenças, a
escola reconhece que aprendizagem
é construção de conhecimento.
Isso supõe considerar diferenças!
Construir conhecimentos negando
diferenças é impossível.
3
Só há situações reais de
aprendizagem onde há o
comprometimento de ensinar por
parte do professor, e de aprender
por parte do educando.
Aliança = compromisso entre
diferentes.
3
Uma “escola para todos” deve considerar as
diversidades individuais, e não negá-las a favor
da homogeneidade.
3
O que é colocar a escola
em sintonia com o
mundo, como dizem
alguns educadores?
3
Colocar a escola em sintonia com
a diversidade da vida humana,
pois o humano é diverso.
As marcas que imprimimos nos
educandos são únicas e próprias,
mas é preciso estar atento, pois
eles também imprimem marcas
em nós.
3
Problemas pedagógicos da escola
= sinais positivos.
Os “ditos problemas” = indícios
da necessidade de avaliarmos
nosso modelo educativo e, ao
mesmo tempo, pistas para uma
nova organização.
3
“Ditos problemas” = diferenças.
Diferenças = qualidade do que é
diferente; o que distingue uma coisa
de outra; falta de igualdade ou de
semelhança; alteração digna de
atenção, de reparo; modificação,
transformação; falta de harmonia;
divergência; falta de eqüidade;
desproporção, desigualdade
[1].
3
[1] Hoaiss – versão eletrônica 1.0 ano 2001
No alemão, diferença seria: Grenze - no sentido
"real", significa fronteiras.
Como as fronteiras delimitam, dão forma, assim
nossas diferenças delimitam nossa
individualidade, é o que nos dá forma.
3
Ser professor é ser
sensível a... é estar
solidário com...
3
Provocar sensibilidades
pressupõe conduzir o aluno e
criar e/ou oferecer ambientes
de aprendizagem coletiva que
apresentem o maior número
possível de possibilidades para
o aluno escolher seu caminho...
4
Se partirmos do pressuposto de que não há vida
sem aprendizagem, como docentes estamos
diante do desafio de transformar a escola em
espaços prazerosos de aprendizagem.
4
Ambientes de aprendizagem =
negociação, diálogo, interação,
criatividade e inventividade.
Não há trabalho docente fecundo
se não houver um envolvimento
pleno e prazeroso de nossa parte.
4
Ser sensibilizador = eliminar a idéia de
que a presença da afetividade no
processo de aprendizagem é um ruído
incômodo.
Afetividade – com o aluno, com o
conhecimento e consigo mesmo condição essencial para a construção
de práticas educativas inovadoras.
4
O salto qualitativo da instrução para a
construção, desejado por tantos
educadores e apresentado em várias
teorias pedagógicas, implica o
reconhecimento anunciado por
Assmann
[1]:
[1] Ibid., p. 29.
4
“Precisamos reintroduzir na escola o
princípio de que toda a morfogênese do
conhecimento tem algo a ver com a
experiência do prazer. Quando esta
dimensão está ausente, a aprendizagem
vira um processo meramente instrucional,
(...) a experiência de aprendizagem implica,
além da instrução informativa, a
reinvenção e construção personalizada do
conhecimento. E nisso o prazer representa
uma dimensão chave”.
4
Promover este tipo de aprendizagem
implica o reconhecimento de
professor/aprendente e do
aprendiz/aprendente como pessoas
que possuem histórias de vidas,
anseios, desejos, crises e conflitos.
4
Alarcão, em seus últimos
estudos, aponta a necessidade de
uma escola reflexiva,
fundamentada no trabalho
coletivo.
[1]
[1] Conf. Obras citadas no referencial bibliográfico.
4
A indicação de um
caminho
4
“E é sempre melhor o impreciso que
embala do que o certo que basta,
Porque o que basta acaba onde basta,
e onde acaba não basta,
E nada que se pareça com isto devia
ser o sentido da vida...’’
Fernando Pessoa, 1999.
4
REFERÊNCIAL
BIBLIOGRÁFICO:
ASSMANN, H. Metáforas para reencantar a educação: rumo a uma
sociedade
aprendente.7
ed.
Piracicaba,
SP:
Unimep,
1998.
_______________.
Metáforas
para
reencantar
a
educação:
epistemologia e didática. 3° ed. Piracicaba: São Paulo. Editora Unimep,
2002.
p.
32
_____________. A
informação. In Ci.
metamorfose do aprender na sociedade da
Inf.,v. 29, n. 2, p. 7-15, maio/ago. 2000
ALARCÃO, I. (org.). Formação reflexiva de professores: estratégias de
supervisão.
Porto:
Porto
Editora,2000.
___________. (Org.) Escola Reflexiva e Nova Racionalidade. Rio Grande
do
Sul:
ARTMED,
2001.
___________.(org.).Escola
Reflexiva e Supervisão. Porto: Porto
Editora,2001.
____________. Do olhar supervisivo ao olhar sobre a supervisão. Em
RANGEL, M. (Org.) Supervisão Pedagógica. Princípios e Práticas. São
Paulo: Papirus, 2001. p.11-56.
5
ALVES, Nilda (coord).
Educação e Supervisão: trabalho coletivo na
escola.
9ª
ed.
São
Paulo:
Cortez,
2000.
CAPRA,
F.
A
teia
da
vida.
São
Paulo:
Cultrix,
1997
FERREIRA,
qualidade.
Naura Syria C. Supervisão Educacional para uma escola de
4ª
ed.
São
Paulo:
Cortez,
2003.
FREIRE. P.
educativa.
Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática
6ª
ed.
Rio
de
janeiro:
Paz
e
terra,
1997.
_________. Educação como prática de liberdade. 18ª ed. Rio de janeiro:
Paz
e
terra,
1983.
MATURANA, H. e VARELA, F. A árvore do conhecimento. São Paulo: Palas
Athenas,
2001.
MORIN, E. A cabeça
pensamento.
5
ed.
bem-feita: repensar a reforma, reformar o
Rio
de
Janeiro.
Bertrand
Brasil,
2001.
____________ Os sete saberes necessários para a educação do futuro. 4
ed.
São
Paulo:
Cortez;
Brasília,
DF:
Unesco,
2001.
_________. O problema epistemológico da complexidade. 3 ed. MiraSintra, Portugal: Publicações Europa-américa, 2002.
5
Download

O que é ser professor?