mento do homem do povo, às vezes até cheio de experiências, mas que não
estudou, e o conhecimento daquele que estudou determinado assunto. E a
diferença é que o conhecimento do homem do povo foi adquirido espontaneamente, sem muita preocupação com método, com crítica ou com sistematização. Ao passo que o conhecimento daquele que estudou algo foi obtido com
esforço, usando-se um método, uma crítica mais pensada e uma organização
mais elaborada dos conhecimentos. (UNAMUNO, 1996, P. 28).
O senso comum e a ciência são expressões da mesma necessidade básica,
a necessidade de compreender o mundo, a fim de viver melhor e sobreviver.
Por dezenas de milhares de anos, os homens sobreviveram sem coisa alguma que se assemelhasse à nossa ciência. Depois de cerca de quatro séculos,
desde que surgiu com seus fundadores, curiosamente a ciência está apresentando sérias ameaças à nossa sobrevivência. (ALVEZ, 2003, P. 21).
Um exemplo dessas ameaças a ser levantado pode ser o da bomba atômica, ou seja, o uso
da energia nuclear para fins bélicos. A opinião pública mundial tomou conhecimento da bomba com
sua explosão sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945.
Deixando de lado o fato de ter sido uma descoberta destruidora, capaz de incinerar uma
cidade em poucos segundos, a bomba demonstra claramente a capacidade imensa que o homem
tem de desenvolver idéias e descobrir coisas. A expansão dessa capacidade é o que há de mais
fascinante na história do conhecimento humano.
Um outro ponto muito importante a ser levantado é a ligação da invenção da bomba com
várias descobertas que ocorreram no mundo a partir do final do Século XIX. Eram descobertas que
não tinham como objetivo utilizar a energia nuclear e nem mesmo fazer qualquer outra coisa de
utilidade prática.
O único objetivo das descobertas da física atômica e da física quântica, entre o fim do século
XIX e começo do XX, era o de entender a constituição da matéria. Que um interesse tão desprendido pudesse ter levado a um resultado tão terrível, assim como levou também a uma vasta gama
de benefícios sociais no campo da energia e da medicina, são coisas próprias da dualidade do
conhecimento.
Uma outra importante descoberta que está mudando o mundo e trazendo desafios importantes para as questões relativas à propriedade intelectual e até mesmo para o campo da ética e
da moral é a descoberta da estrutura do DNA.
A impressionante descoberta de que para todos os seres vivos a transmissão das características genéticas de uma geração para outra é feita por apenas uma molécula levou à busca intensa
pelo entendimento sobre esta molécula tão particular, cuja estrutura foi identificada em 1951 por
James Watson, Francis Crick e Christopher Wilkins. A descoberta da estrutura levou imediatamente
à identificação de como a molécula realiza sua função de replicar as características genéticas se
auto-replicando.
Após descobrir que uma molécula determina as características dos seres vivos, nasce a engenharia genética. A partir daí, surge todo um conjunto de desafios e questões, não só legais mas
também éticos e morais, sobre esse tipo de atividade que ainda serão exaustivamente discutidos
pela humanidade e, necessariamente, também no Brasil, como já presenciamos no debate sobre a
soja transgênica e a legislação nacional de biossegurança.
Utilizamos essas descobertas de um passado recente, porém de momentos distintos para
realçar o argumento de que o conhecimento sempre foi o fator impulsionador da evolução da humanidade e do desenvolvimento do ser humano e das nações.
No entanto, se recuarmos cinco séculos encontraremos um outro exemplo notável – de
impacto direto do conhecimento sobre o desenvolvimento das nações – que muito tem a ver com
a nossa história e com a história das navegações. Cabe aqui um outro questionamento: como foi
possível a um país de dimensões tão reduzidas como Portugal, geograficamente limitado e com
uma população, na época, menor que 2 milhões de habitantes, tornar-se durante algumas décadas
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