UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE ARTES VISUAIS
PRISCILA DE SOUZA SCHAUCOSKI
A IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA RETRATADA NOS
PERSONAGENS DA TURMA DA MÔNICA E DO PERERÊ
CRICIÚMA, JUNHO 2009
2
PRISCILA DE SOUZA SCHAUCOSKI
A IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA RETRATADA NOS
PERSONAGENS DA TURMA DA MÔNICA E DO PERERÊ
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso,
apresentado para obtenção do grau de
Bacharel no curso de Artes Visuais da
Universidade do Extremo Sul Catarinense,
UNESC.
Orientador(a): Prof. (ª) Angélica Neumaier
CRICIÚMA, JUNHO 2009
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PRISCILA DE SOUZA SCHAUCOSKI
A IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA RETRATADA NOS PERSONAGENS
DA TURMA DA MÔNICA E DO PERERÊ
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado
pela Banca Examinadora para obtenção do
Grau de Bacharel, no Curso de Artes Visuais
da Universidade do Extremo Sul Catarinense,
UNESC, com Linha de Pesquisa em
Processos e Poéticas.
Criciúma, 30 de junho de 2009.
BANCA EXAMINADORA
Prof. (a) Angélica Neumaier –Especialista em Design para Estamparia – UFSM
Especialista em Ensino da Arte – Unesc – Orientadora
Prof. Edison Balod –Especialista em Arte e Educação – Universidade do Extremo
Sul Catarinense – UNESC
Prof. (a) Izabel Cristina M. Duarte – Especialista em Ensino da Arte – Universidade
do Extremo Sul Catarinense - UNESC
4
RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar a identidade cultural brasileira
nas histórias em quadrinhos da Turma da Mônica e do Pererê. Buscando
investigar como se desenvolveu a cultura nacional nos quadrinhos, a pesquisa
procura compreender os primeiros passos desse tipo de arte no país, destacando
a questão da identidade cultural nos quadrinhos brasileiros. Concluindo-se por fim
que o reflexo do hibridismo cultural em que vivemos hoje pode alcançar uma
multiplicidade muito maior de identificação com o leitor, que encaixado neste
mundo globalizado possui uma cultura hibrida. No decorrer do trabalho será criado
um objeto artístico fundamentado na diversidade cultural e na globalização.
Palavras-chave: Quadrinhos nacionais. Cultura. Identidade.
5
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Primeira Ilustração no Brasil ............................................................13
Figura 2 – Caricatura de D. Pedro II, por Ângelo Agostini ...............................14
Figura 3 – Primeira História em Quadrinhos .....................................................15
Figura 4 – Revista O Tico Tico ............................................................................17
Figura 5 – Personagem Buster Brown ...............................................................18
Figura 6 – Personagem Chiquinho .....................................................................18
Figura 7 – Negrinha Lamparina de J.Carlos ......................................................19
Figura 8 – Revista Gibi ....................................................................................... 20
Figura 9 – Jayme Cortez e Álvaro de Moya........................................................22
Figura 10 – Revista O Pererê...............................................................................23
Figura 11 – Personagens de Mauricio de Souza................................................24
Figura 12 – Graúna, Personagem de Henfil........................................................25
Figura 13 – Revista Balão................................................................................... 26
Figura 14 – Personagem Horácio de Mauricio de Souza..................................33
Figura 15 – Tirinha do Chico Bento....................................................................33
Figura 16 – Objeto Artístico.................................................................................35
Figura 17 – Objeto Artístico.................................................................................36
Figura 18 – Objeto Artístico.................................................................................37
Figura 19 – Objeto Artístico.................................................................................37
6
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
HQ – História em Quadrinhos.
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................8
2 METODOLOGIA ....................................................................................................10
3 DA ILUSTRAÇÃO AOS QUADRINHOS BRASILEIROS ......................................12
4 UM BREVE RELATO DA HISTÓRIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO
BRASIL .....................................................................................................................17
5 IDENTIDADE CULTURAL .....................................................................................28
6 IDENTIDADE NACIONAL NOS QUADRINHOS ...................................................29
6.2 Análise de personagens ..................................................................................31
7 OBJETO ARTISTICO ............................................................................................35
8 CONCLUSÃO ........................................................................................................38
REFERÊNCIAS.........................................................................................................39
8
1 INTRODUÇÃO
A individualidade de cada pessoa compreende uma série de fatores
relacionados ao meio organizacional ao qual ela pertence e que farão parte da
formação cultural desse individuo, levando em conta que na arte encontramos a
forma de expressão individual do artista, calcula-se que ao expressar-se
individualmente o artista reflete todos esses fatores no seu objeto artístico.
Ao tratar-se das histórias em quadrinhos não poderia ocorrer
diferentemente, pois em cada traço, linha e forma, como em cada personagem e
em cada trama na qual ele se insere, encontraremos muito do desenhista, que por
sua vez é reflexo de sua própria formação cultural.
A idéia de se fazer quadrinhos não surgiu no Brasil. Entre tantas outras
modalidades artísticas, as formas de arte surgiram e foram lançadas ao mundo,
tornando-se parte de cada lugar ao qual se estabelecem, pois cada povo ao inserila em seu meio passa a moldá-la de acordo com a sua individualidade, e a
particularidade de um povo nada mais é do que um conjunto de uma série de
tradições, ou seja, a sua cultura.
Apesar das histórias em quadrinhos se concentrarem na esfera de arte
popular, ter se tornado produto de uma indústria cultural de massa, dos
quadrinhos norte-americanos e mais recentemente os mangás japoneses terem
praticamente invadido as bancas de revistas do país, ainda assim em âmbito
nacional fica claro em determinados períodos do desenvolvimento dessa arte, que
entre os quadrinistas brasileiros, mesmo sofrendo tamanha influência da produção
estrangeira, há a necessidade de expressar através do traço de seus
personagens, um retrato mais verde e amarelo.
A partir deste contexto, este projeto tem como objetivo geral analisar a
identidade cultural brasileira nas histórias em quadrinhos das revistinhas da Turma
da Mônica e do Pererê.
Os objetivos específicos buscam compreender uma identidade cultural
brasileira inserida no contexto dos quadrinhos destes dois autores, analisar a
forma como Mauricio de Souza e Ziraldo retratam essa identidade cultural nestes
9
dois trabalhos e entender a arte seqüencial como um meio de comunicação da
cultura individual do artista que a produz, para posteriormente demonstrar através
da criação de um objeto artístico o resultado da pesquisa em questão.
10
2 METODOLOGIA
Para o encaminhamento desta pesquisa, se utilizou como base a
perspectiva do método qualitativo que facilitou a análise do projeto quanto aos
significados, motivos, aspirações e crenças que norteiam o universo das histórias
em quadrinhos brasileiras.
Em função da coleta de dados ter se realizado por meio de métodos
que consistiram num estudo detalhado que envolveu a natureza, fonte e
conseqüência do tema, como nos sugere a pesquisa exploratória, e em razão de
além desses dados também terem sido de extrema importância para a conclusão
do trabalho a explicação de aspectos referentes à cultura da população em
relação a este mesmo tema, como por outro lado nos sugere a pesquisa
explicativa, esta pesquisa se realizou com o objetivo exploratório-explicativo.
Para realização do projeto foram analisados livros e principalmente
artigos que serviram de base na questão levantada pelo problema.
Como cita Minayo (1994, p. 53), “[...] podemos dizer que a pesquisa
bibliográfica coloca frente a frente os desejo do pesquisador e os autores
envolvidos em seu horizonte de interesse”.
Através da abordagem histórica, esse trabalho buscou investigar como
se desenvolveu a cultura nacional dos quadrinhos, buscando compreender através
desse método os primeiros passos desse tipo de arte no país, destacando sempre
com a ajuda da abordagem etnográfica, a questão da identidade cultural nos
quadrinhos brasileiros.
Segundo Richardson (1985, p. 2000), “um dos objetivos da pesquisa
histórica é contribuir para solucionar problemas através do exame de
acontecimentos passados”.
Foi
desenvolvido
no
decorrer
do
projeto
um
objeto
artístico
fundamentado na diversidade cultural, globalização e a procura pela identidade
nacional, temas que nortearam a pesquisa realizada.
Como esta pesquisa aborda a comunicação visual, a criação de uma
objeto artístico relacionado a cultura nacional e identidade nos quadrinhos, o
11
encaminhamento do projeto seguiu como linha de pesquisa os Processos e
Poéticas.
12
3 DA ILUSTRAÇÃO AOS QUADRINHOS BRASILEIROS
O Brasil no século XVIII era palco de uma sociedade em
desenvolvimento e suas representações culturais se baseavam fortemente nas
formas de expressões trazidas da Europa. Estas formas de expressão que a
princípio chegavam carregadas de uma forte influência Européia, aos poucos
passavam a ser o objeto reflexivo da realidade que as envolvia, a realidade
Brasileira.
A Ilustração é uma imagem pictórica que pode ser representada tanto
figurativa quanto abstratamente, geralmente sintetiza ou caracteriza conceitos,
situações e ações, e quando passa a caracterizar determinadas pessoas pode ser
chamada de caricatura. Pode-se dizer que a caricatura vem do expressionismo,
onde o artista retrata as impressões interiores que a pessoa expressa na face,
pois ela é o desenho de um personagem da vida real que enfatiza e exagera as
características da pessoa, acentuando seus gestos, vícios e hábitos peculiares.
Com as inovações técnicas que permitiram o advento da gravura no
país, a ilustração, chamada de caricatura fez sua estréia na imprensa Brasileira
em 14 de dezembro de 1837, através de um folheto litografado no jornal “O
Comércio”, sob autoria de Manoel de Araújo Porto Alegre (1806 – 1879), que além
de exercer a atividade jornalística também foi pintor, arquiteto, escultor, urbanista,
pensador da cultura, dramaturgo, crítico e historiador da arte.
13
Figura 1 – Primeira Ilustração no Brasil
Fonte – Disponível em: http://www.bigorna.net/artigos.
Acessado em: 01/ 07/ 09
Manoel de Araújo Porto Alegre aponta na primeira ilustração publicada
no Brasil um pagamento de propina no Correio Oficial. O desenho mostra um
homem em pé, elegantemente trajado, usando chapéu de penacho. Com a mão
direita toca uma sineta e, com a outra, oferece um saco de dinheiro a um sujeito
ajoelhado, em atitude servil. Outros, ao fundo fogem da cena.
Em 1827 Manoel de Araújo Porto Alegre estreou na Academia Imperial
de Belas Artes no Rio de Janeiro como aluno fundador, e assim como era tão
comum aos demais estudantes da época, pois o Brasil ainda não oferecia cursos
universitários, em 1837 seguiu para Europa em busca de aperfeiçoar seus estudos
na França. Regressando ao Brasil, Porto Alegre põe em prática seus dez anos de
estudos, publicando algumas de suas caricaturas e entrando para a história do
país por ter sido de sua autoria a primeira ilustração impressa em um folheto de
jornal.
A Ilustração foi para a imprensa brasileira ferramenta de fundamental
importância, pois como cita Pinto (2003, p.28) “num país de maioria analfabeta, a
imagem constitui verdadeira revolução”.
Com o regime monárquico, a ilustração em forma de caricatura foi
utilizada como propaganda política e tornou-se uma porta voz nas campanhas
abolicionistas e republicanas. Nesta fase, utilizando a imprensa como suporte de
comunicação, os traços de Ângelo Agostini começaram a se destacar. A ilustração
14
que até então circulava pelo país sob forte influência francesa, passa a refletir uma
realidade nacional.
Ângelo Agostini – desenhista, ilustrador e pintor – em 1864 estreava na
imprensa do país revelando um traço tão característico que posteriormente seria
chamado de brasileiro, inspiração fundamental para formação de muitos outros
artistas nesse campo.
Por estar diretamente ligado à propaganda política, um dos veículos de
comunicação mais importantes da época, e por este veiculo possibilitar a liberdade
de expressão sem censuras, Ângelo Agostini utilizou a linguagem da caricatura,
com a intenção de repercutir da forma mais abrangente possível suas críticas.
Ângelo Agostini desenvolveu uma perspicaz e minuciosa observação do tipo
humano brasileiro, então nas suas ilustrações a sua autoria era evidente.
Figura 2 – Caricatura de D. Pedro II, por Ângelo Agostini
Fonte – Disponível em: http://www.bigorna .net/biografias.
Acessado em: 01/ 07/09
30 de janeiro de 1869, é a data reconhecida nacionalmente como
aquela na qual foi publicada a primeira história em quadrinhos, em seqüência e
com um personagem fixo no país. Sua autoria era de Ângelo Agostini, desenhista
15
que além de agregar ao traço brasileiro características nacionais, também foi um
dos precursores das histórias em quadrinhos no Brasil.
Figura 3 – Primeira história em quadrinhos
Fonte – Disponível em:http://palavra.escrita/angeloagostini.
Acessado em 01/07/09
Ângelo Agostini assim como o próprio nome sugere nasceu em Vercelli,
na Itália, e só veio ao Brasil aos 16 anos, onde viveu a maior parte da sua vida,
naturalizando-se e marcando a história do país por delimitar fronteiras com seu
espírito republicano, anticlerical e abolicionista. Criou um estilo, influenciou e
tornou a caricatura, a sátira política e os quadrinhos, parte da imprensa nacional.
É evidente a importância da sua participação na história política,
jornalística e artística do país, pois foi através das artes que Ângelo Agostini
expressou-se politicamente utilizando-se da imprensa como veículo para maior
repercussão.
Embora algumas de suas ilustrações já tenham sido publicadas
anteriormente, o formato em seqüência – mesmo sem o balão e as onomatopéias,
pois esse recurso ainda era desconhecido na época – foi experimentado por
16
Ângelo Agostini na revista “Vida Fluminense”, a história foi intitulada “As aventuras
de Nhô Quim” publicada de 1869 até 1872.
Entre as muitas personagens fixas que o cartunista criou “As aventuras
de Nhô Quim” e posteriormente “Zé Caipora”, publicada de 1883 até 1886 na
revista “Ilustrada”, receberam
maiores
destaques.
Os
dois
personagens
mantinham a mesma temática, narrava as experiências de um caipira perdido na
cidade grande, um reflexo natural de uma sociedade que nesta época passava por
um crescente desenvolvimento.
17
4 UM BREVE RELATO DA HISTÓRIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO
BRASIL
Em 11 de outubro de 1905 foi publicada a primeira revista em
quadrinhos no Brasil. Segundo Moya (1977, p. 215-217), “Nos princípios do TicoTico, os desenhistas, em sua maioria, copiavam material estrangeiro, com
pequenas adaptações. Mas alguns já eram criativos”.
Figura 4 – Revista O Tico-Tico
Fonte – Moya (1977, p.215)
O Tico-Tico seguia o modelo de uma revista francesa e seu
personagem mais popular, Chiquinho, era uma cópia não autorizada de Buster
Brown, criado pelo norte-americano Richard Felton Outcault. Chiquinho que até
então era considerado o legítimo representante dos quadrinhos brasileiros, em
1951, com a realização da Studioarte – Primeira Exposição de Quadrinhos
Mundial, foi revelado ser a cópia de Buster Brown, e, portanto, americano e não
brasileiro.
18
Figura 5 - Personagem Buster Brown
Fonte –Disponível em:http://wwwjornale.com.br/esquadrinhando.
Acessado em 01/ 07/ 09
Figura 6 – Personagem Chiquinho
Fonte – Disponível em: http://www.unicamp.br/ensaios.
Acessado em: 01/ 07/ 2009
Apesar da maioria dos desenhos publicados na revista terem sido
cópias muito próximas das revistas estrangeiras, seguindo seus padrões e temas,
O Tico Tico também revelou alguns talentos nacionais como J Carlos.
19
J. Carlos foi um dos maiores desenhistas que o país já teve, participou
dos inícios do Suplemento em 34 e do começo do Tico-Tico, onde criou,
entre outras, as façanhas de uma empregadinha doméstica pretinha:
Lamparina. (MOYA, 1977, p. 217).
José Carlos de Brito e Cunha, mais conhecido como J. Carlos (1884 à
1950) é considerado um dos maiores nomes dos quadrinhos e do humor gráfico
brasileiro, retratando principalmente em seus personagens o tipo carioca, com
todos os seus hábitos e características. Entre as suas tantas criações, publicou na
revista O Tico-Tico personagens como a Jujuba e seu pai, a negrinha Lamparina e
Carrapicho.
Figura 7 – Negrinha Lamparina de J.Carlos
Fonte – Disponível em: http://www.universohq.com/quadrinhos.
Acessado em: 01/ 07/ 2009
Nos anos 30 os artistas brasileiros passam a trabalhar sob influência
estrangeira. Adolfo Aizen, traz para o Brasil a idéia dos Suplementos Juvenis
inspirada na imprensa norte americana, uma forma de voltar a atenção do leitor
para o consumo do jornal.
O Suplemento Juvenil é lançado em 14 de março de 1934 como
apêndice do Jornal A Nação, em tamanho tablóide e em cores, trazia além dos
personagens estrangeiros desenhados por artistas brasileiros algumas histórias
nacionais. Como imitação do Suplemento Juvenil surge também o Globo Juvenil
que seguia praticamente o mesmo padrão do primeiro.
20
Em 1939 é lançada no país a revista Gibi, publicada em tamanho meio
tablóide. A princípio como o Suplemento Juvenil o Gibi era lançado em
determinados dias da semana, porém posteriormente ele passou a ser uma revista
mensal com histórias completas, porém também recheadas de personagens norteamericanos. A partir de então o termo Gibi se torna sinônimo de qualquer revista
de história em quadrinhos brasileiras, seguindo esse novo gênero, várias outras
revistas no formato Gibi foram lançadas.
Figura 8 – Revista Gibi
Fonte – Moya (1977, p. 212)
Em 1940 os Estados Unidos entram na Segunda Guerra Mundial e a
massificação das histórias em quadrinhos estrangeiros que dominavam o território
brasileiro abriu espaço para os artistas nacionais, porém as editoras passam a
apostar em personagens com grande influência norte-americana, com receio de
perder um público já acostumado a consumir a produção estrangeira.
21
Ainda nesta década, procurando valorizar a cultura e o artista nacional,
são publicadas pela editora EBAL em 1949 a Edição Maravilhosa, onde eram
publicados adaptações de clássicos da literatura brasileira para os quadrinhos
como uma forma de valorizar a cultura do país.
Em agosto de 1951 o gênero Terror passa a ser publicado no Brasil,
inspirado nas publicações norte americana. Seu lançamento no país repercutiu
rapidamente atingindo vários títulos diferentes, e com o término da produção das
histórias americanas em função da qualidade do gênero, os quadrinistas nacionais
mais uma vez tiveram uma oportunidade nas revistas aderentes do gênero que
receavam perder seu grande público interessado. Nessa época é lançada pela
Editora La Selva a revista Terror Negro, com artistas nacionais como Rodolfo
Zalla, Eugênio Colonese, Gedeone Malagona, Nico Rosso, entre outros.
Ainda em 1951 o Brasil marcou a história das histórias em quadrinhos
por realizar pioneiramente em 18 de junho a primeira Exposição Internacional das
Histórias em Quadrinhos, sob o nome de Studioarte.
Organizada por Jayme Cortez Martins, Syllas Roberg, Miguel Penteado,
Reinaldo de Oliveira e Álvaro de Moya, a Studioarte aconteceu em São Paulo e
expressou-se através de criticas as editoras e aos plágios dos desenhos em
quadrinhos, rebatendo também as restrições que se faziam à dita má influência
dos quadrinhos às crianças. Seus organizadores também lutaram pela
nacionalização dos quadrinhos, fundando a Associação Paulista de Desenhistas e
através desta procuraram abrir caminhos para produção brasileira.
22
Figura 9 - Jayme Cortez e Álvaro de Moya
Fonte – Disponível em: http://wwwligazine.com.br/quadrinhos/materias. Acessado
em: 05/07/09
Fica claro na entrevista de Álvaro de Moya à Al Capp, que essa
preocupação voltada para o desenvolvimento da produção nacional e a forte
influência estrangeira que a seguia, num país rico em qualidade de artistas em
busca de uma identidade, não é uma preocupação atual.
Porque o Brasil não tem histórias em quadrinhos? Perguntou Al Capp a
Álvaro de Moya, em New York, em 1958, quando este entrevistava o
autor para a folha de São Paulo – Eu sempre me preocupei pelo fato que
a distribuição mundial dos comics americanos para o mundo todo,
sufocou o desenvolvimento das histórias nacionais. (MOYA, 1977,
p.234).
Segundo Ziraldo (1982, p.8), “em torno dos anos 60, havia a
expectativa da nacionalização da história em quadrinhos”. O editor do Cruzeiro,
jornal para o qual Ziraldo trabalhava na época, em prol dessas expectativas, passa
a publicar histórias em quadrinhos nacionais. Surge o Pererê, a primeira revista de
histórias em quadrinhos nacional.
23
Figura 10 – Revista O Pererê
Fonte – Moya (1977, p.215)
O Pererê, com texto e ilustração de Ziraldo, soube representar muito
bem a brasilidade da nossa terra. Seu personagem principal foi inspirado no mito
folclórico do Saci Pererê, e seus demais personagens coadjuvantes eram animais
representantes da fauna brasileira, garantindo aos brasileiros que tivessem
contato com a revista, uma imediata identificação com os mitos e lendas do país.
Sua publicação não conseguiu se sustentar por muito tempo, segundo
Moya (1977, p. 214-215), “o máximo que podiam pagar ao autor era muito pouco
para a sobrevivência do desenhista, que poderia ganhar muito mais na
publicidade”. Porém até hoje quando se fala em identidade nacional nos
quadrinhos brasileiros seu personagem principal serve de fundamental referência.
Mauricio de Souza se destaca, ainda nesta época, com seus
personagens da Turma da Mônica. Começando com a Editora Continetal, que
nesta época só trabalhava com desenhistas nacionais. Mauricio de Souza com
uma temática mais universal para suas histórias conquistou o seu espaço, e nos
dias atuais vive exclusivamente de quadrinhos, sendo reconhecido nacional e
internacionalmente.
24
Figura 11 – Personagens de Maurício de Souza
Fonte – Moya (1977, p. 218)
Para Alves (2002, p.5) “A universalidade dos temas abordados em suas
histórias facilitou às criações de Maurício o passaporte para serem publicados em
diversos países, nas mais diversas línguas”.
São lançados em revista, ainda nesta época, personagens de superheróis criados através das mãos dos desenhistas nacionais, porém praticamente
todos esses personagens sofriam grande influência das criações norte
americanas. Como exemplo tem-se o Capitão 7, que nada mais era que uma
mistura de Super Homem, Capitão Marvel e Flash Gordon. Sua história se
baseava no ganho de uma super força, inteligência e capacidade de vôo, estando
sempre disposto a enfrentar criminosos mesmo possuindo uma vida dupla, pois
enquanto simples humano mantinha uma vida discreta, assim como ditam as
historinhas dos super heróis americanos.
Com o Golpe Militar em 1964, as produções nacionais tornam a se
voltar para dentro do território brasileiro, discutindo e refletindo nas suas criações
a problemática do país. O Pasquim foi um jornal criado durante este período,
25
dando espaço para desenhistas como Henfil, Jaguar e Millôr Fernandes, retratar
seu humor inteligente e subversivo nos cartuns. Henfil destacava como sua marca
registrada o humor político, crítico e satírico, com personagens tipicamente
brasileiros como a Graúna, um dos desenhos mais marcantes do cartunista,
inspirado na ave típica do nordeste brasileiro, em suas tirinhas Henfil abordava
temas que envolviam os problemas políticos do Nordeste.
Figura 12 – Graúna, personagem de Henfil
Fonte – Disponível em: http://www.centrocultural.sp.gov.br.
Acessado em: 06/07/09
Nos anos 70 o movimento Underground que chegou no Brasil e passou
a ser conhecido como movimento “Udigrudi”, mexeu com as criações nacionais.
As revistas de quadrinhos “Udigrudi” eram de caráter contestatório, com a
intenção de manifesto. O movimento defendia a publicação de quadrinhos que
tivessem uma identificação com o país, como também a abertura do mercado para
essa produção. Um exemplo desse gênero é a revista O Balão que acabou
originando uma série de fanzines (quadrinhos feitos de maneira artesanal e
divulgados “boca a boca”) e revelando vários artistas de quadrinhos e cartunistas
brasileiros como Laerte, Luiz Gê, os irmãos Caruzo, entre outros. Na época os
fanzines eram comuns às universidades, normalmente produzidos por alunos e
professores.
26
Figura 13 – Revista Balão
Fonte – Disponível em: http://jornalivros.co.cc/?p=235.
Acessado em: 06/07/09
A partir dos anos 80 os autores independentes da década de 70
começam a se destacar, surgem revistas como Circo e Chiclete com Banana,
revelando desenhistas como Angeli, Glauco e Laerte, que chegaram a produzir
vários trabalhos, tanto juntos como separadamente. Surgem personagens como
Piratas do Rio Tietê de Laerte, que trazem histórias que falam de um grupo de
piratas saqueadores e fanfarrões que fazem a festa nos arroios de São Paulo,
chegando a interagir com outros personagens que cruzam o caminho da
tripulação.
O Plano Cruzado I e a conseqüente estabilidade financeira foi o principal
catalisador do surgimento dessas produções. Com o fracasso do Plano
Cruzado e dos planos subseqüentes, toda essa produção começou a ter
problemas de continuidade e terminaram por ser canceladas em sua
maioria. (ALVES, 2002, p.6).
No inicio da década de 90 as Histórias em Quadrinhos ganharam
impulso com as Bienais de Quadrinhos realizadas no Rio de Janeiro e Belo
Horizonte, eventos nos quais se reuniram um grande número de pessoas ligadas
às questões culturais e também aquelas que trabalhavam com esse tipo de arte
dentro e fora do país.
27
Uma novidade na década de 90 referente aos quadrinhos nacionais, foi
a adaptação dos personagens da TV, da música e do esporte, como foi o caso das
revistinhas da Xuxa, dos Trapalhões e do Ayrton Senna.
Na segunda metade desta década a estabilização econômica
decorrente do Plano Real favoreceu a produção brasileira novamente, nesta
época houve uma retomada de personagens de super heróis, mas infelizmente
estes continuavam sob forte influência dos super heróis norte americanos e as
preocupações sobre uma identidade nacional volta a entrar em discussão no país.
Como exemplo das editoras que publicam quadrinhos nacionais no país
temos a editora Globo com a publicação da Turma da Mônica, a Devir com a
publicação dos trabalhos de Lourenço Mutarelli, a Escala, com coletâneas de
autores iniciantes, a Ópera Graphica publicando artistas nacionais do passado, a
editora Panini, que apesar de ter como foco principal os quadrinhos de super
heróis americanos também publicou artistas nacionais como Fabio Yabu e a
editora Trama.
28
5 IDENTIDADE CULTURAL
O homem ao dividir-se em grupos, passou a conviver em sociedade. A
sociedade por assim dizer, é construída a partir da organização dos integrantes
destes determinados grupos, que individualmente buscam conviver em harmonia.
O modo de organização que se originará deste convívio social por sua vez,
resultará em fatores comuns estabelecidos, que diferenciarão estes grupos sociais
entre si, como no modo de agir e falar, sua religião, suas artes, a execução de
trabalhos, esportes, entre outros.
O conjunto de fatores comuns estabelecidos no convívio de um
determinado grupo social, determina a cultura dessa sociedade. A cultura, por
outro lado, uma vez que pode distinguir um grupo social de outras sociedades,
passa a servir de identidade a este determinado grupo social.
A Identidade Cultural pode definir elementos culturais que determinam a
sociedade de uma cidade, um estado ou até mesmo de um país, onde o fator de
identidade se desenvolve a partir do conjunto de crenças e representações
simbólicas que darão sentido ao conceito de cidadania. A Identidade Nacional
será então a soma de todas as instituições culturais desta respectiva nação.
Para Hall (2005, p. 51), “As culturas nacionais, ao produzir sentidos
sobre a nação, com os quais podemos nos identificar constroem identidades”.
29
6 A IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA NOS QUADRINHOS DE MAURICIO
DE SOUZA E ZIRALDO
Tylor (apud PINTO, 2003, p. 6) diz que “cultura é o conjunto complexo
que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer
capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Identificar uma cultura brasileira em meados do século XVIII, com a sua
sociedade crescendo e refletindo tamanha diversidade cultural, era uma atividade
tão complexa quanto retrata-la no século XXI, onde as identidades culturais de
modo geral estão se tornando cada vez mais hibridas em função da globalização.
A medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a
influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas
ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do
bombardeamento e da infiltração cultural (HALL, 2005, p. 74)
Como a maioria das formas de expressão artísticas Do século XVIII, os
quadrinhos passaram a ser praticados no Brasil sob uma forte característica
européia, e logo que inserido no contexto brasileiro, houve a necessidade de
identifica-la conforme os hábitos e costumes da sociedade do país.
Segundo Pinto (2003, p. 6) “A sociedade como um todo expressa-se
pela arte, e esta se constitui num dos campos básicos para o estudo da
comunicação”.
A comunicação acontece enquanto há identificação, seja através da
fala, de gestos, da arte, como também tantos outros elementos que envolvem a
cultura.
Comunicar através da arte seqüencial uma identidade nacional em um
país como o Brasil, constituído a partir de tamanha diversidade cultural, provocou
algumas discussões entre os produtores e teóricos das histórias em quadrinhos
nacionais, pois ao desvincular as histórias em quadrinhos da temática e estética
norte-americana, e agora mais recentemente a japonesa que também vem
invadindo as bancas de revistas brasileiras, com qual identidade os brasileiros
devem se deparar ao ler uma história em quadrinhos?
30
A identidade brasileira foi construída da mistura de diversas culturas e
hoje se encontra hibrida em detrimento da globalização, porém retratar o Brasil em
sua arte requer conhecer-se a si mesmo como brasileiro, pois a forma de
expressão artística será apenas um suporte que reflete o eu criador, e este será o
individuo representante da sociedade que denomina uma nação, agregando-lhe
desta forma características referentes à sua cultura.
A expressão quadrinho nacional é aplicada tanto por aquelas produções
que tentam retratar um Brasil puro, como por aquelas que são
extremamente opostas e copiam a produção norte-americana e/ou
japonesa, passando pela produção de um quadrinho que podemos
classificar como hibrido. (ALVES. 2002, p. 7).
Percebe-se mediante a citação de Alves, duas maneiras distintas de se
retratar uma identidade cultural brasileira nas histórias em quadrinhos, aquela que
retrata um Brasil mais puro exaltando toda a sua tipicidade e uma outra retratando
um Brasil globalizado provocador de uma multiplicidade de identidades.
Toma-se como exemplo dessas duas tendências distintas, os trabalhos
de Mauricio de Souza com a Turma da Mônica e do Ziraldo com O Pererê.
Nas revistas de histórias em quadrinhos como O Pererê, encontra-se
temas tipicamente brasileiros, voltados para o passado do Brasil, retratando a sua
fauna e flora, assim como os mitos e lendas de uma natureza virgem.
O Pererê era uma espécie de diabo travesso do folclore brasileiro, foi
publicado de 1960 à 1964. Ziraldo abordava nas histórias do Pererê aspectos
muitas vezes esquecidos do modo de ser do povo brasileiro e de sua problemática
social. O nacionalismo ingênuo junto com as suas histórias tiveram um fim no ano
em que se deu o golpe militar.
Para Hall (2005, p. 12) “identidade é a relação com o interior e o
exterior, ela costura o sujeito a sua estrutura”.
Ao destacar os quadrinhos chamados “híbridos”, ou seja, com
características culturais universais e locais, encontramos uma maneira mais limpa
de identificar uma identidade nacional nos quadrinhos brasileiros, afinal o Brasil foi
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constituído de características culturais diversas e possui hoje uma sociedade que
se desenvolve em função da globalização.
Ao analisar as referências de identidade cultural no trabalho de
Maurício de Souza, com sua famosa revistinha da “Turma da Mônica”,
comparativamente à revista “Pererê” de Ziraldo, percebe-se o recorte da
identidade de um Brasil muito mais puro nesta segunda, onde Ziraldo ressalta toda
uma “brasilidade” através de elementos que fazem parte das raízes do país, como
os mitos, lendas e variadas espécies de animais que fazem parte do enredo das
histórias da revista.
Entretanto, trabalhar com elementos tão característicos de uma
determinada região, acaba impedindo o desenvolvimento do trabalho em locais
onde o tema abordado não comunique o público esperado, ou seja, onde não há
identificação com o tema.
A abordagem de temas universais acaba funcionando melhor na
criação de histórias em quadrinhos, garantindo melhor e maior repercussão do
trabalho, pois a diversidade cultural faz parte do contexto nacional e a
globalização vem crescendo e ocupando parte cada vez maior do dia a dia de
cada individuo.
Segundo Hall (2005, p. 68), “a globalização esta deslocando as
identidades culturais do século XX, [...] Suas características temporais e espaciais
que compreendem a distância e escalas temporais tem efeito sobre as identidades
culturais”.
Nas histórias da Turma da Mônica produzidas por Mauricio de Souza,
percebe-se uma universalidade muito maior nos temas e personagens, se
compararmos aos encontrados na revista O Pererê, permitindo a esta primeira
uma identificação muito maior se comparada à segunda.
Nas duas produções há uma identificação do público, pois há uma
identidade nacional inserida nos contextos, porém a multiplicidade de identidades
é muito mais evidente nas histórias da Turma da Mônica onde a universalidade
dos temas viabilizam os quadrinhos à uma público muito mais abrangente.
O que faz a identidade do país é a sociedade que nele habita, o
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individuo integrante dessa sociedade acaba retratando na sua arte a sua
identidade, que nada mais é do que o reflexo da estrutura a qual ele pertence.
6.2 Análise dos Personagens da Turma da Mônica e do Pererê
Ao se analisar os núcleos dos personagens da Turma da Mônica
comparando-os aos do Pererê percebe-se a grande diferença na abordagem dos
mesmos em relação à identidade cultural.
Mauricio de Souza desenvolve núcleos como os da pré-história, com
personagens como Piteco, Thuga, Bolota e Dino. Piteco esta sempre caçando
dinossauros e pescando, vive fugindo da Thuga que quer ser a sua esposa.
No Núcleo de terror ele traz como personagens a turma do Penadinho,
que caracterizam personagens do folclore universal como o Lobisomem e o Frank
Sten e não apenas do brasileiro como se baseia o personagem principal do
Pererê.
Os próprios personagens que fazem parte do núcleo da Turma da
Mônica se enquadram numa categoria universal, sendo retratados individualmente
por apresentar características comuns a qualquer criança do mundo como não
gostar de tomar banho (Cascão), falar errado (Cebolinha), comer muito (Magali) e
ficar furiosa quando chamada de gordinha, baixinha e dentuça (Mônica). Os
personagens da turminha identificam características vividas no cotidiano de
qualquer criança e vivem em suas histórias temas também muito comuns no
universo infantil, como os planos mirabolantes feitos pelo personagem do
Cebolinha para dar nós no coelhinho de pelúcia da personagem Mônica.
Os personagens que mais se aproximam de uma realidade brasileira
seriam o Papa Capim e o Chico Bento, porém em suas histórias Mauricio de
Souza não especifica de onde são este índio e este caipira, acabando por
identificá-los como um estereótipo que poderia ser reconhecido em qualquer parte
do mundo.
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Figura 14 – Personagem Horácio de Maurício de Souza
Fonte – Moya (1977, p. 218)
Figura 15 – Tirinha do Chico Bento
Fonte – Moya (1977, p. 220)
Ainda nos núcleos desenvolvidos por Mauricio de Souza encontramos a
Turma do Bidu, que envolve em seu enredo personagens de cachorros como o
próprio Bidu que além de ser o cachorro de estimação do personagem Franjinha
também é diretor de estúdio de televisão, desenvolvendo em suas histórias
problemas comuns enfrentados pela mídia.
Há também a Turma da Tina onde Mauricio traz para o enredo das suas
histórias problemas comuns aos adolescentes de todo mundo, como os namoros
mal resolvidos do personagem Rolo e as suas dificuldades nos estudos.
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Dessa forma Maurício de Souza proporciona ao seu trabalho uma
extensão que não se limita apenas à identidade cultural do brasileiro como reflexo
de um Brasil puro, mas sim de um Brasil globalizado que compreende em sua
cultura uma multiplicidade de identificações.
No entanto ao analisarmos os integrantes das histórias do Pererê, nos
deparamos imediatamente com o protagonista da história, que foi inspirado no
Saci Pererê que faz parte do folclore brasileiro. Porém ao contrario do
personagem Saci do folclore, que tem seu nome ligado as travessuras mais
perversas, locomove-se por um redemoinho e espalha terror nas fazendas, o
Pererê de Ziraldo é um personagem boa praça que vive como uma criança
normal, apesar de morar numa floresta e não ter uma família.
A maioria dos outros personagens são animais bem peculiares da vida
rural brasileira se compararmos aos camundongos, coiotes e papa-léguas das
historinhas norte americanas. Eles fazem parte da “Mata do Fundão”, que seria na
verdade o próprio Brasil, como o Geraldinho (o coelho), Alan (o macaco), Moacir
(o jabuti), Galileu (a onça), entre outros. Também aparecem os índios que seriam
o Tininim e a Tuiuiú (namorada do Tininim), nome de uma ave brasileira. Nas
histórias do Pererê Ziraldo mesclava temas que envolviam saúde, ética,
preservação da natureza e drogas juntamente com muito humor e a cultura
popular brasileira, destacando sempre as principais datas comemorativas do país.
Desta forma o conceito de Brasil estava sempre muito presente em suas criações.
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7 OBJETO ARTÍSTICO
O objeto artístico desenvolvido a partir da pesquisa realizada sobre a
identidade e as culturas externas no desenvolvimento dos quadrinhos brasileiros,
tem por objetivo exprimir a idéia da procura pela identidade, uma das principais
questões que nortearam a pesquisa.
Figura 16 – Objeto Artístico
Fonte - Própria
O objeto constitui-se num cubo maleável, pois suas paredes podem ser
abertas e manejadas pelas pessoas, revelando as identidades misturadas no seu
interior.
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Figura 17 – Objeto Artístico
Fonte - Própria
Em cada uma das seis faces do cubo há o conflito de dois temas
opostos: de um lado, a diversidade de marcas misturadas e sobrepostas,
representando o mundo globalizado no qual vivemos e onde experimentamos
diariamente o encontro com diversas culturas externas. Do outro lado, que formará
o interior do cubo as seis faces são marcadas com diversas digitais e nomes
aleatórios de pessoas, com a finalidade de exprimir a origem de tudo, como se o
centro do cubo representasse a raiz cultural de cada indivíduo que tenta se
encontrar entre tantas digitais e nomes por estar envolto em tamanha diversidade
de culturas.
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Figura 18 – Objeto Artístico
Fonte - Própria
A idéia da interação do objeto com as pessoas veio dos quadrinhos,
pois o conteúdo que a HQ concentra em seu interior é aquele pelo qual o individuo
busca a identificação, e isso de certa forma acaba se tornando uma caixinha de
surpresas.
Figura 19 – Objeto Artístico
Fonte - Própria
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8 CONCLUSÃO
Com o encerramento da investigação desse projeto e finalização do
processo criativo conclui-se que os objetivos iniciais da pesquisa foram
alcançados.
Demonstrou-se que a arte das histórias em quadrinhos chegou ao
Brasil e se desenvolveu refletindo uma cultura externa, as tentativas pela
nacionalização dos temas das HQs acabaram sendo abafados pela influência dos
quadrinhos norte-americanos e agora mais recentemente os mangás japoneses.
Utilizar as histórias em quadrinhos como suporte de comunicação do
reflexo do eu brasileiro em um país constituído de tão diversificada cultura acaba
restringindo a produção artística a uma determinada localidade, e apostar em
temas mais universais como no caso de Maurício de Souza acaba funcionando
melhor no mercado.
Segundo Hall (2005, p. 73), “colocadas acima do nível da cultura
nacional, as identificações globais começam a deslocar e, algumas vezes, a
apagar, as identidades nacionais”.
Em tempos de globalização, encontrar uma identidade nacional em um
país já tão diversificado culturalmente, acaba se tornando uma atividade ainda
mais complexa. Percebe-se nas produções de Maurício de Souza e Ziraldo com a
Turma da Mônica e o Pererê, duas maneiras distintas de refletir em sua arte a
identidade do Brasil. Mauricio de Souza aposta na universalidade de temas e
reflete na composição de seus personagens uma cultura mais homogênea, vivida
e compartilhada em tempos de globalização, com a qual qualquer um pode
facilmente se identificar. Ziraldo, com seus personagens em o Pererê, busca
através de sua arte o resgate de um Brasil puro e ingênuo onde vivemos e
plantamos nossas raízes.
O objeto artístico, resultado final da pesquisa, acaba por ressaltar todas
as questões pertinentes no projeto que envolveram a massificação da cultura e a
busca pela indentidade.
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REFERÊNCIAS
ALVES, Bruno Fernandes. A Identidade Nacional na Pós Modernidade: o caso
dos quadrinhos brasileiros. 2002. folhas. Dissertação (Mestrado em Comunicação
Social) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
CAMPEDELLI, Samira Youssef; ABDALA JUNIOR, Benjamin. Ziraldo: literatura
comentada. São Paulo: Abril Educação, 1982. 108p. il.
MINAYO, Marilia Cecília de Souza (Org.). 26.ed. Pesquisa Social: Teoria, método
e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 2007. 108p.
MOYA, Álvaro de (Org.). Shazam!. 3.ed. São Paulo: Perspectiva, 1977. 343p. il.
PINTO, Virgílio Noya. Comunicação e Cultura Brasileira. 5.ed. São Paulo: Ática,
2003. 77p.
RICHARDSON, Roberto Jerry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo:
Atlas, 1985.287p.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 3.ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1983. 501p.
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