PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E IMPACTOS AMBIENTAIS NA CIDADE DE SALGADO-SE Dannielle Gonçalves Antão Joice Reis Rocha Prof ª. Ma. Mirian Guedes Nascimento (Orientadora) RESUMO O presente artigo apresenta de forma objetiva um panorama da produção do espaço urbano bem como os impactos ambientais resultantes deste processo na cidade de Salgado, levando em consideração um estudo sucinto dos elementos que compõem o sistema ambiental físico: localização, clima, hidrografia, vegetação, solo e geologia compondo a construção espacial geográfica da cidade. A partir desses elementos será possível um maior entendimento sobre os impactos causados e quais os problemas enfrentados pela população local com o crescimento populacional, a segregação urbana e seus interesses nas fontes termais existentes em Salgado. Para tal foram feitas análises em gráficos e fotografias do espaço geográfico estudado. Como o processo de urbanização vincula-se a esses impactos e até que ponto a globalização atua nesse processo. Palavras-chave: Produção espacial. Urbanização. Impactos ambientais. RESUMEN En este artículo se presenta una visión general de un objetivo de producción del espacio urbano, así como los impactos ambientales resultantes de este proceso en la ciudad de Salt, tomando en consideración un breve estudio de los componentes del sistema ambiental ubicación física, el clima, la hidrología, vegetación, suelo y la geología componer el espacio geográfico de la construcción de la ciudad. A partir de estos elementos puede ser una mayor comprensión de los impactos y los problemas que enfrenta la población local con el crecimiento de la población, la segregación urbana y sus intereses en las aguas termales existentes en Salgado. Para este análisis se llevaron a cabo en las cartas y fotografías del espacio geográfico estudiado. A medida que el proceso de urbanización vinculados a estos impactos y la medida en que este proceso opera la Globalización. Palabras clave: La producción del espacio. Urbanización. Los impactos ambientales. 74 1 INTRODUÇÃO O meio em que vive a sociedade é passível de transformações e modificações que são reflexos da situação social e histórica do momento. Tais mudanças podem ser observadas tanto na forma de comportamento, costumes e cultura, como também no espaço físico. Áreas onde se encontrava vegetação intocada, atualmente abrigam cidades com inúmeros prédios, ruas, pontes, etc. De acordo com Antão (2010, p. 18) A produção espacial está ligada diretamente a população e a sua dinâmica. Os acontecimentos sociais no tempo-espaço são responsáveis pela modelagem e configuração da paisagem. Ou seja, o espaço e sua paisagem são reflexos da dinâmica do homem atuando sobre a superfície terrestre. A partir da distribuição espacial das populações sobre a Terra é que o espaço geográfico global foi construído. A partir do século XVIII as paisagens transformaram-se com mais intensidade e a utilização dos recursos naturais passou a ser feita de maneira desmesurada, pois, havia a necessidade de aquisição de matérias primas para a indústria em ascensão. A expansão da comercialização e diversificação na produção contribuiu ainda mais para modificar as feições paisagísticas dos lugares que direta ou indiretamente participaram do processo de industrialização, causando sérios impactos ambientais. O advento e consolidação do Capitalismo como o sistema financeiro passou-se a especular modelos de comercialização e produção complexos, onde a confecção e venda do que é produzido pode ocorrer em várias nações (GOMES, 1990). Tais processos estão inseridos na Globalização, a qual se tornou tão presente em diferentes países que influência direta ou indiretamente desde pequenas cidades até países inteiros. O capital se apropria do espaço geográfico o utilizando para produzir lucro, assim o modifica para usá-lo em seu proveito. Nesta mesma linha de pensamento Silva (1991, p.19) coloca que “o espaço é produzido pelas relações sociais subordinadas ao modo de produção que sustenta a sociedade – sua infra-estrutura econômica, a partir da qual se erguem as superestruturas ideológicas, políticas, jurídicas, culturais, etc.”. Ou seja, onde o capital se instala as mudanças acontecem de forma acelerada e em todos os setores sociais seus reflexos podem ser sentidos, interferindo, inclusive na dinâmica populacional. Enquadra-se nessa realidade o município sergipano Salgado, integrante da subregião Centro-Sul, distando cerca de 52 km da capital Aracaju. 75 O núcleo urbano municipal de Salgado passou por inúmeras transformações desde sua emancipação, porém nas duas últimas décadas estas foram mais perceptíveis nas mudanças registradas nas paisagens locais, mudanças estas em sua maioria para atender a lógica capitalista e as necessidades de moradia da população local. O espaço urbano passou por diversas transformações, principalmente após a construção de conjuntos habitacionais em áreas periféricas da cidade. A construção de um balneário público e de um hotel para incentivar o turismo rendeu por muitos anos a cidade de Salgado o título de única cidade balneária do estado. A área onde o balneário foi construído possuía uma fonte hidromineral natural, área de nascente do Rio Piauitinga, entretanto, após o cerramento das águas do minadouro, provocado pela construção de uma piscina, o rio deixou de receber boa parte daquelas águas. Os anseios pelo acúmulo de capital, além das transformações proporcionadas pelo turismo, acabaram gerando impactos socioambientais na cidade. Esse quadro justifica a elaboração de estudos de caso para identificar outros impactos gerados pela apropriação do espaço pelo capital e efeitos da globalização. Apesar de Salgado-SE ser um pequeno município do menor estado da federação brasileira, não deixa de sofrer os reflexos das “modernidades” contemporâneas. A especulação imobiliária, tão presente nas cidades de maior influência na hierarquia urbana, e a valorização da terra são cada vez presentes na cidade. O estudo de caso foi realizado a partir de pesquisa bibliográfica associada a observações diretas para constatar os principais problemas ambientais urbanos do município, onde foram registradas imagens. A pesquisa a qual estamos desenvolvendo aborda as problemáticas ambientais urbanas no município de Salgado/SE, e associa as ações antrópicas e seus reflexos no meio natural e cultural. Visa ainda ser uma contrapartida para buscar mecanismos que ajudem o município na sustentabilidade ambiental urbana. 2 ELEMENTOS COMPONENTES DO SISTEMA AMBIENTAL FÍSICO DE SALGADO O município de Salgado situa-se a 11°01’50” de latitude sul e 37°48’05” de longitude oeste, localizado no região centro-sul do Estado de Sergipe, limitando-se a norte com Lagarto, a sul com Estância, a oeste com Boquim e a leste com Itaporanga D’Ajuda e 76 Estância. Está a cerca de 54 km de distância da capital sergipana, Aracaju, e possui área de aproximadamente 248,45 km². Seu clima apresenta-se agradável do tipo megatérmico sub-úmido, com média das temperaturas máximas de 30° C e média das temperaturas mínimas de 18° C, sua média ponderada corresponde a 24,6° C (SANTOS apud SOUZA, 2009, p. 114). Possui chuvas regulares de 1248,6mm anualmente, sendo o período de maio a agosto os meses mais chuvosos, o mês mais seco corresponde a novembro, período em que a primavera já está consolidada (LOPES apud LOPES E COSTA, 2009, p. 136). O município é rico em reservas de água subterrânea, além de possuir rios, riachos e inúmeras nascentes. Todos esses recursos hídricos fazem parte da bacia do Rio Piauí, sendo que o principal rio a banhar o município é o Rio Piauitinga o qual atravessa a sede municipal. Os fatores climáticos, hídricos e pedológicos associados à proximidade do lugar com o litoral sergipano propiciaram a formação do bioma natural da Mata Atlântica, com a ocorrência de árvores como o cajueiro, jaqueira dentre outras, além de possuir espécies características do cerrado e da caatinga. Em seu território encontra-se o solo do tipo podzólico vermelho amarelo e latsolo. O primeiro tipo de solo possui baixa fertilidade natural e forte acidez, tem textura média a argilosa, é conhecido por ser ideal para “pastagens onde são cultivados os capins pangola e sempre verde e gramíneas nativas. Cultiva-se também o milho, feijão, mandioca, algodão, fumo e cana de açúcar” (FRANCO, 1983, p. 56). No que diz respeito à geologia do município de Salgado o mesmo apresenta litótipos das Formações Superficiais Continentais (Cenozoico), da Faixa de Dobramentos Sergipana (Neo a Mesoproterozóico) e do Embasamento Gnáissico (arqueano a paleoproterozóico). Compreende a um grupo de barreiras, com areias finas e grossas com níveis argilosos, além de se destacar ortognaisses, kinzigitos, calcossilicáticas e metanoritos. Podendo ser observado também áreas de exposição e argilitos, siltitos e arenitos finos pertencentes à Formação Lagarto (Grupo Estância) (BONFIM, COSTA e BEVENUTTI, 2002, p. 05). 3 CONSTRUÇÃO ESPACIAL GEOGRÁFICA DA CIDADE DE SALGADO Antes do espaço conhecido como cidade de Salgado existiu uma povoação denominada “pau ferro”, posteriormente denominada "Salgadinho", o nome foi dado por 77 viajantes que por ali transitavam vindos de fazendas próximas, graças ao sabor salobro característico da água de uma fonte de água termal ali existente. O povoado pertencia ao município de Boquim-SE, e era apenas parte de uma fazenda às margens do Rio Piauitinga, não possuía nenhuma importância econômica, nem outro atrativo senão sua fonte rica em cloreto de sódio capaz de curar males da pele (SANTOS apud SOUZA, 2009). Em meados de 1902, a povoação ainda não tinha característica urbana que justificasse qualquer referência a seu respeito, a não ser sua água medicinal. Por volta de 1911, próximo a esta localidade, construiu-se uma Estação Ferroviária pela Cia. Chemins de Fer Federaux du L'Est Brésilien (1913-1935) ou Viação Férrea Federal Leste Brasileiro, a qual fazia parte da linha do chamado Ramal Timbó, que ligava Aracaju a atual cidade de Esplanada na Bahia1 . A localidade só passou a merecer registro a partir da construção da linha férrea quando passou a ser buscada pelos habitantes de Estância, por ser o melhor ponto para embarcação nos trens. O destino era os municípios baianos, onde eles preferiam fazer suas compras. A partir dessa realidade o lugar passa a receber pessoas de várias partes do Estado, surge à necessidade de instalação de pousadas e restaurantes para atender o público que frequentava a estação, pois muitas vezes fazia-se necessário que o passageiro esperasse pelo trem por mais de um dia. Além disso, as viagens até Salgado demoravam devido à falta de infraestrutura das estradas e dos meios de transporte, por isso deveria haver toda uma logística para acolher essas pessoas até a hora da viagem ferroviária. Assim, para facilitar o transporte dos estancianos até a nova povoação, foi providenciada uma empresa para construir e explorar a rodovia, mediante cobrança de pedágios. Portanto, foi com a construção da rodovia e da estação ferroviária que a povoação começou a crescer fazendo o progresso acelerar-se, tornando a cidade conhecida em todo o Estado pelas suas águas termais. A povoação já apresentava aspecto urbano perto da estação onde se formavam ruas com hospedarias para viajantes, as quais ficavam a uma distância de dois quilômetros da parte norte do lugar, eram áreas movimentadas e constantemente visitadas por veranistas que procuravam as fontes termais (FREITAS, 1998). Muitas 1 http://www.estacoesferroviarias.com.br/ba_propria/salgado.htm. 78 pessoas que passavam por ali se encantavam com a tranquilidade do lugar e compravam terrenos para construir casas de veraneio. Após estudo da composição químico-analítica das águas da fonte termal de Salgado, feita pelo Instituto de Higiene de São Paulo, constatou-se que esta poderia ser classificada como bircabonatada, hidrossulfídrica, sódica, cálcica e magnesiana. Tais condições permitiam que ela fosse utilizada no tratamento de doenças estomacais, dos intestinos e fígado, além de ajudar no tratamento de afecções da pele, eczemas e acnes, tornando o lugar ainda mais atrativo para o turismo e para pessoas a fim de tratar doenças da pele. O desenvolvimento observado no lugarejo associado ao grande aumento populacional era resultado de planos políticos de grupos que queriam emancipá-lo, pois se Salgado passasse a ser um município receberia verbas do governo proporcionando melhores condições para a população local ao mesmo tempo em que geraria mais poder político. O senhor Bemvindo Alves da Costa, empregado da ferrovia, dono de uma das primeiras lojas da localidade, instalada em 1915, e da primeira agência dos correios, era um homem influente na política, portanto pleiteou a emancipação do lugar junto ao presidente Pereira Lobos. Entretanto a ação do burguês não obtém resultado positivo, porém juntou-se a ele nesta empreitada Antônio Olímpio de Carvalho, que junto com mais outros conseguiram atender a seus anseios (Antão, 2010). Em 4 de outubro de 1927, o povoado foi elevado à categoria de Vila, com a denominação de Salgado, pela Lei Estadual nº 986. Porém esse status não era o almejado pelos que lutavam por sua emancipação. Por isso outra Lei Estadual, a de número 69, de 27 de março de 1938, eleva a Vila à categoria de cidade, sede de município, com território desmembrado de Boquim, do qual era parte até então. As atividades econômicas se destacavam em torno do turismo, a cidade tornou-se muito popular após a construção de um balneário público composto por uma piscina olímpica, piscina infantil, quadra de esportes e um bosque, além disso, foi construído um local para o consumo de alimentos e bebidas. Esta área transformou as feições paisagísticas da localidade, que ainda tinha como predominância elementos da natureza, pois, seu espaço havia sido ainda pouco transformado e os impactos ambientais ainda não se sentiam de maneira significativa. Pessoas de várias partes do Estado ou mesmo de outras partes do Brasil iam a Salgado conhecer suas águas. Um hotel de luxo foi construído na sede do município em 79 uma área próxima ao Rio Piauitinga, nele vários cantores famosos até políticos ilustres se hospedavam para desfrutar da tranquilidade local. O turismo demandava empregos para os cidadãos locais, os quais trabalhavam no hotel, em pousadas, bares, ou como ambulantes autônomos. Contudo, a construção do Hotel próximo ao rio não respeitou a dinâmica hidrográfica local. A maior parte da população do município recém criado estava vivendo na zona rural. Estes se ocupavam em trabalhos na lavoura, apesar da baixa fertilidade da terra ela era ideal para a cultura do milho, da mandioca, da laranja, da batata doce, mamão, maracujá e abacaxi, além das culturas temporárias do feijão, fumo, amendoim e coco. As criações de galináceos, bovinos, suínos, equinos, ovinos e hatitas (criação de avestruz) associados a agricultura permaneceram até os dias atuais. Atualmente a cidade vive uma fase de urbanização/expansão urbana acelerada em que as pessoas estão deixando de viver na zona rural e passam a viver na área urbana. Isso se deve a construção de casas de conjuntos habitacionais que foram e estão sendo construídas em parceria com a CEF (Caixa Econômica Federal) e o Governo Federal. Percebe-se que a cidade cresce não apenas fisicamente, mas também progride na área do comércio e serviços. É cada vez mais visível a presença de meios de produção e inúmeros estabelecimentos comerciais, além de prestações de serviços que antes seria possível apenas se os indivíduos se deslocassem para centros regionais como Lagarto e Boquim, ou à capital Aracaju (Santos, 2011). 4 IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS EM SALGADO: Problemas Ambientais e Segregação Urbana Historicamente, o município de Salgado-SE passou por inúmeras transformações em seu espaço geográfico para sua adaptação as necessidades da população local. Ao longo dos anos as funções da cidade foram se moldando junto ao espaço. Logo que foi fundada, a cidade de Salgado era um lugar de passagem, porém, ofertava atrativos que faziam com que as pessoas sentissem necessidade de voltar e até fixar moradia no local. O turismo proporcionado pela fonte de água termal e posteriormente pelo balneário público tornaram a cidade um ponto turístico estadual. Em relação a hidrografia, seu subsolo possui um lençol freático que proporciona abastecer toda a população urbana. Além disso, as águas de Salgado abastecem os 80 municípios de Lagarto, Riachão do Dantas, Boquim, Simão Dias e Poço Verde, além de alguns povoados de Salgado. Entretanto, as funções supracitadas perderam força e atualmente a cidade caracteriza-se como cidade dormitório. As pessoas fixam residência em Salgado, mas trabalham em cidades vizinhas ou na capital. A evolução espacial ocorrida no município de Salgado desde meados do século XX refletem-se nas características urbanas adquiridas pela sede municipal. Embora aumentasse as demandas da crescente população local, a substituição do espaço natural foi lenta. Foram criadas ruas, avenidas, praças, áreas de lazer, postos de saúde com o objetivo de atender as populações do espaço rural e urbano, além disso, o setor privado foi atraído a fim de suprir o mercado consumidor local. Desta maneira foram instalados supermercados, armazéns, farmácias, lojas de diversos ramos, bares, restaurantes, etc. Esses fatores propulsores levaram a população a concentrar-se na sede municipal, tendo em vista a maior quantidade de serviços para atender essas populações. Muitos jovens saem dos povoados para estudar ou trabalhar nas cidades circunvizinhas sergipanas: Lagarto, Boquim e Estância, regressando para Salgado apenas a noite. Nem sempre há transporte para que os mesmos retornem para suas residências, o que os obriga a residirem em casas de parentes, residentes na sede urbana. Motivados por essa nova realidade, muitas famílias fixaram residência na zona urbana do município (Antão, 2010) (Ver gráfico 01). Gráfico 1: Populações rural e urbana do município de salgado 1950 – 2010. Fonte: IPEADATA (http://www.ipeadata.gov.br) Elaboração: As autoras, 2012. 81 A população municipal em expansão, associado ao baixo poder aquisitivo da maior parte dos habitantes do município, tornaram-no ideal para a aplicação de projetos do governo federal para a construção de casas populares. Foram construídos conjuntos habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida em parceria com o governo federal e associações de moradores locais. Esses conjuntos habitacionais foram construídos em terrenos extensos com baixo valor de mercado, ou seja, terras avaliadas a preços baixos pela especulação imobiliária local. Apesar disso, as terras são inacessíveis para a maior parte da população, por isso, o Estado usa seu poder para garantir sua moradia, como afirma Kowwarck (1993, p. 226) [...] para as frações da classe trabalhadora considerada mais pobre [...] o processo de controle da produção habitacional passa para intervenção efetiva do Estado, que assume a produção da chamada habitação social através do financiamento total da moradia bem como o conjunto de bens de consumo coletivos: infra-estrutura, transporte, equipamentos comunitários, etc. Os conjuntos deram novas feições paisagísticas à cidade atraindo mais moradores para a sede municipal. Antes o crescimento urbano de Salgado seguia uma tendência de lenta expansão, pois a maior parte das construções estava estritamente ligada às avenidas principais. O primeiro conjunto construído foi o Albano Franco no centro da cidade, mas em área pouco valorizada pela especulação de terras, pois, encontra-se próximo ao território onde há os maiores índices de violência e criminalidade do município, a Rua José Cardoso Barbosa. Na tentativa de valorizar os terrenos próximos a estas zonas pouco atraentes para a maior parte das pessoas, o poder público tratou de facilitar a implantação de energia elétrica e água encanada. Uma grande parte dos terrenos próximos ao conjunto Albano Franco haviam sido distribuídos pela prefeitura aos funcionários públicos para que estes pudessem edificar suas residências, aquela área passou a ser denominada Bairro Flora Batista. Na segunda metade da década de 2010 foram construídos os Residenciais Josias Carvalho 1 e 2, conhecidos popularmente como Cidade de Deus, também foram implantados o novo fórum municipal e a primeira escola de ensino médio do município, todos na mesma área, dando nova “cara” e fôlego ao crescimento do espaço urbano da 82 sede municipal. Associado ao crescimento populacional local e as novas feições espaciais, aumentam também os impactos ambientais no ambiente urbano. A cidade de Salgado vive um constante “conflito” de identidade em relação a suas características paisagísticas que mesclam urbano e rural. Vários são os elementos que mostram que a cidade ainda possui feições rurais dentro do espaço urbano e, que o desenvolvimento de áreas habitacionais em zonas periféricas de expansão tornou o valor dos terrenos sem construção do centro da cidade super valorizados pela especulação imobiliária. Neste sentido, Kowarick (Idem, p. 225) afirma que [...] amplia-se a privatização da habitação com a generalização da casa própria, antes predominantemente de aluguel. Com isso, cria-se, efetivamente, um novo setor industrial – o imobiliário – que produz moradias não mais pela lógica rentista, mas sim pela mercantilização capitalista dessa nova mercadoria. As áreas mais valorizadas pelo capital são as de mais fácil acesso, tais como a Avenida Josias Carvalho, principal rua da cidade, e as praças da sede municipal. Observa-se que atualmente as áreas mais valoradas já eram urbanizadas, entretanto, as áreas em construção, apesar de não possuir cobertura vegetal original, ainda conservava seu relevo tal qual antes. Porém, as novas construções de COHABs (Conjuntos Habitacionais) fez com que diversas áreas sofressem terraplanagem impedindo a dinâmica natural do escoamento superficial, além disso, o calçamento das novas ruas impedem a penetração da água no solo, chegando a ser um problema, pois, nos períodos chuvosos a água acaba deixando áreas alagadas e até mesmo danifica o calçamento. Figura 01: Principais conjuntos habitacionais da cidade de Salgado, 2011. Fonte: Google Earth. Organização: As autoras, 2012. 83 A sede do município de Salgado está localizada sobre o lençol freático que abastece as residências locais e tem como nascente e local de tratamento de suas águas o bosque do balneário municipal. A intensa modificação na área para a construção do balneário público alterou a dinâmica natural de alimentação do Rio Piauitinga, pois, as águas da principal nascente foram represadas e utilizadas para abastecer a piscina e a partir dela suprir as necessidades hídricas das residências. Águas que atravessam a cidade recebem dejetos/resíduos que são despejados dos diques de lavagem de carros e motocicletas e de oficinas (Figuras 02 e 03). Figura 02: Dique de lavagem de automóveis Figura 03: Água de esgoto a céu aberto sendo no Bairro da Estação, Salgado-SE 2010 despejada no rio da Rua das “Pedras”, Salgado-SE 2010. Fonte: Maciel Alves dos Santos. Organização: As autoras, 2012. Fonte: Maciel Alves dos Santos Organização: As autoras, 2012. O Hotel Balneário de Salgado foi inaugurado em 1978, entrou em decadência no ano de 1997 e desde então se encontra abandonado. O aspecto da construção é de total abandono, com espécies vegeteis crescendo em meio ao concreto. A falta de manutenção leva àquela construção a alvo de vândalos que depredam grande parte dos pertences do estabelecimento. Durante anos o Hotel foi modelo de hospedagem durante seu período de funcionamento, pois, a cidade que tinha função turística, recebia pessoas de todas as partes do Brasil. A área de Salgado que mais conserva vegetação com variedade considerável de espécimes concentradas se encontra no bosque do balneário público, porém não conserva as espécies nativas locais, mas árvores e outras plantas ornamentais, com a função de tornar o local mais aprazível para a visitação de turistas. No mesmo bosque também se encontra as águas represadas de uma das nascentes do rio Piauitinga. Essas 84 águas tinham fluxo intenso e eram utilizadas para o banho na piscina, pois, eram consideradas medicinais. As águas mesmo represadas ajudavam na alimentação da Bacia do Piauí, através do rio Piauitinga, o qual passa nas proximidades do balneário público logo após o bosque. A interrupção do fornecimento de água para o rio acarreta em sérios problemas, pois, tendo em vista a perda do líquido o rio perde volume e isso associado à falta de mata ciliar faz com que o mesmo esteja em processo de assoreamento (Ver figuras 04 e 05). Além disso, este rio recebe as águas da piscina utilizada para banho sempre que a mesma é esvaziada para limpeza. Figura 04: Rio Piauitinga sob a ponte que liga Figura 05: Rio Piauitinga sob ponte que liga a a cidade de Salgado ao Pov. Turma, 2012. cidade de Salgado ao Pov. Palmeiras, 2012. Fonte: Acervo pessoal. Organização: As autoras, 2012. Fonte: Acervo pessoal. Organização: As autoras, 2012. Outro grave impacto encontrado é a falta de rede de esgoto, o que gera problemas tanto paisagísticos como de saúde e ambientais, pois, fica exposto e escoa superficialmente até atingir a rede hidrográfica. A rede de esgoto da cidade de Salgado é ínfima, os resíduos líquidos são despejados no rio Piauitinga de maneira direta, sem nenhum tipo de tratamento. Quando há chuvas o escoamento superficial se intensifica e diversos tipos de materiais são arrastados para o rio. Segundo relato de populares, a dinâmica de cheias do referido rio não é a mesma de cerca de 15 anos atrás, pois, segundo os mesmos, o Piauitinga, também chamado de “Rio da Ponte”, chegava a atingir vários metros de altura, chegando a transbordar a ponte em períodos de chuvas torrenciais. Atualmente observa-se um rio entrando em processo 85 de esgotamento. Suas águas de qualidade duvidosa continuam servindo para a lavagem de roupas, banhos de animais e, para muito poucos, como área de lazer. Pode-se perceber que a ausência de políticas de Gestão integrada penaliza o sistema urbano, a exemplo do que já ocorre nas grandes metrópoles que sofrem nos períodos de chuva com a falta de drenagem, Salgado também já apresenta esse quadro, efeito da grande quantidade de solos impermeáveis. Pisos de cimentos nos quintais dificultam a drenagem e cria problemas. As grandes cidades necessitam de Estudo de Impactos Ambientais o EIA (Estudos dos Impactos Ambientais) e RIMA (Relatório de Impactos Ambientais), antes de aprovar os projetos elaborados pelas prefeituras e seus respectivos intervenientes. Estes instrumentos são importantes recursos para a tomada de decisões, pois “buscam compatibilizar desenvolvimento com proteção ambiental... elaborados antes do início das obras ou das atividades potencialmente causadoras de interferência ambiental”. (SCARLATO & POTIN, p. 56, 1999.). Sendo assim, o meio ambiente passa a ser considerado na tomada de decisões, sejam elas de ordem pública ou privada. Refere-se à resolução dessa problemática o Artigo 225 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) que garante o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, responsabilizando ao Poder Público e à coletividade o dever de difundi-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A expansão de áreas urbanas evidencia o crescimento populacional, modificando a paisagem que passa de um ambiente natural para um ambiente construído. A edificação de prédios com a finalidade de atender as supostas necessidades da população é responsável pela transformação de espaços naturais em espaços urbanizados. Os consequentes impactos destas modificações são amplamente divulgados pelos meios de comunicação, pois, que os problemas causados geram transtornos nas cidades e no campo. No município de Salgado não é diferente, sua fundação e posterior descoberta da cidade como sendo um polo turístico estadual levou ao aumento das visitas de turistas, por causa do balneário público, e o consequente crescimento da população local. Diante 86 desse quadro, houve a necessidade da cidade se moldar ao sistema de serviços e moradia. Tal fato é observado desde a construção da estação ferroviária, fato que levou ao surgimento do município, causando assim, impactos positivos e negativos, que trouxeram benefícios e que também atingiram o meio ambiente. O crescimento desordenado da cidade ocorreu pela falta de Planejamento Urbano que é responsabilidade do poder público seja ele “Municipal, Estadual e Federal”. A falta de infraestrutura, tal como, rede de esgoto e um planejamento adequado através de estudo de impactos ambientais fizeram com que o crescimento urbano acontecesse de forma irregular, gerando problemas tanto ambientais quanto paisagísticos. A criação de um Plano Diretor da cidade Salgado é a maneira encontrada para regular as transformações espaciais que ocorrem pelas construções constantes, além de propor soluções para os problemas de saneamento encontrados. Através da participação efetiva da sociedade civil atuando em conjunto com as esferas executiva, legislativa e judiciária, é possível a mudança do quadro exposto. Desta maneira a qualidade de vida de pessoas será preservada e quiçá melhorada, para isso a é necessário instruí-las, através da Educação Ambiental, para que se mantenham conscientes da importância do referido assunto. O presente artigo buscou abordar as questões urbanas e ambientais presentes no município, que ainda não são exploradas de forma satisfatória. Não se trata de um estudo completo e acabado, pois, o espaço geográfico não é estático, está em constante transformação, futuros estudos devem evidenciar novas dinâmicas espaciais no município estudado. 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