Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 1999
Para os iniciantes
Por Alexandre Wainberg *
Dando continuidade a seção “Para iniciantes”, estamos publicando nesta edição
mais um artigo do biólogo marinho Alexandre Waimberg destinado àqueles que estão iniciando uma engorda de camarões marinhos.
Na próxima edição 55, a Panorama da AQÜICULTURA publicará o sexto e último
artigo desta série, onde o autor se deterá nos possíveis problemas a que estão sujeitos os
que se embreiam nesta atividade.
Fazendo as Contas
Ao contrário do que muitos afirmam, a carcinicultura não visa
produzir alimentos. Venhamos e convenhamos, camarão não é
um alimento diário para alimentação da humanidade. O camarão
é um artigo de consumo de luxo e, para o carcinicultor, o objetivo
é ganhar dinheiro. A produção deve gerar lucro e, obviamente, o
custo de produção deve ser inferior ao preço de venda. Mais ainda: o lucro deve ser suficiente para pagar o investimento dentro
de um prazo aceitável. Em diversos casos, o lucro também deverá
cobrir os gastos financeiros resultantes de financiamentos. A escala tem papel fundamental na viabilidade do empreendimento e,
no caso da carcinicultura brasileira, podemos estabelecer 4 escalas (arbitrárias) de operações de engorda:
1- Familiar: área pequena, em geral
menor que 10 hectares, manejada somente pelos familiares do proprietário ou
com no máximo 2 funcionários, pouca
ou nenhuma organização administrativa
e tributária (pessoa física), baixo nível
tecnológico e produtividade inferior a 2
toneladas/hectare/ano.
2- Pessoa Física ou pequena empresa: área em geral inferior a 100 hectares,
manejada pelo proprietário e/ou funcionários, organização administrativa e tributária em geral optante pelo “Simples”
ou funcionando como pessoa física, médio nível tecnológico e produtividade entre 2-6 toneladas/hectare/ano.
3- Média empresa: área em geral inferior a 200 hectares com administração
profissional, em alguns casos o processo
inclui também laboratório de produção de
pós larvas e frigorífico, nível tecnológico
de médio a alto e produtividade podendo
alcançar níveis superiores a 6 toneladas/
hectare/ano.
4- Grande empresa: área em geral superior a 200 hectares com produção in-
cluindo todas as etapas do processo, nível
tecnológico alto com produtividade geralmente superior a 6 toneladas/hectare/ano.
Nada impede que um empreendimento se inicie na escala familiar e venha a
se transformar em uma grande empresa.
Outra forma de ser pequeno e atuar como
grande é pela formação de cooperativas.
Para entender as diferenças entre as
escalas de produção podemos comparar
a produtividade da carcinicultura (quilos/
hectare/ano) com subir uma escada. No
primeiro degrau estão as formas mais simples de produção, com baixo investimento
em tecnologia e infra-estrutura, e consequentemente com baixa produtividade.
Para subir um degrau é necessário algum
esforço tecnológico e econômico, que resultará em um aumento da produtividade.
Em geral, este esforço não é linear, ou
seja, no início da escada são necessários
pequenos esforços para subir os degraus.
A medida que estamos mais altos na
escada, a cada degrau os esforços vão se
tornando maiores, até o ponto em que o
custo não compensa o benefício.
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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 1999
No início da escada, o lucro por quilo é alto porque o custo é
baixo, porém a produção é pequena. No topo da escada o lucro por
quilo é pequeno porque o custo é alto. Ganha-se no volume porque a
produção é grande. No início da escada, o risco é pequeno porque o
custo de produção é baixo resultando em menor vulnerabilidade para
variações de mercado. No topo da escada, o risco é alto pois como o
lucro por quilo é menor, alguma retração no mercado pode resultar
em prejuízo.
Ao longo da história da carcinicultura brasileira este ponto de
equilíbrio tem migrado cada vez mais para o alto da escada e as
nossas fazendas obtém produtividade bastante satisfatória quando
comparada a outros países da América Latina. Assim, podemos
classificar (arbitrariamente) os empreendimentos também quanto
ao nível de produtividade:
A - Até 1.500 quilos/hectare/ano: viveiros rústicos e rasos (<0,6
metros), geralmente abastecidos pela maré ou com bombeamento
suplementar, densidade de estocagem inferior a 10 camarões/m² .
B - 1.500 - 3.000 quilos/hectare ano: em geral com viveiros bem
construídos, abastecidos com bombeamento de capacidade média
para cerca de 3-5% do volume da fazenda por dia, densidade de
estocagem de até 20 camarões/m².
C - 3.000 - 5.000 quilos/hectare/ano: fazenda e viveiros com layout moderno, bombeamento com capacidade para entre 5-10% do
volume da fazenda por dia, algumas fazendas possuem aeração
suplementar, densidade de estocagem de até 30/m².
D - Mais que 5.000 quilos/hectare/ano: fazenda e viveiros com
lay-out moderno, bombeamento com capacidade de cerca de 10%
do volume da fazenda por dia, aeração suplementar, algumas operam em 2 fases usando pré berçários, densidade de estocagem
superior a 30/m².
Existem alguns casos com produtividade recorde, estocagem
superior a 50 camarões/m² , etc. No entanto, ainda não se pode
afirmar com segurança que estes níveis são sustentáveis.
Neste artigo é impossível analisar todas as combinações entre estas escalas arbitrarias de tamanho e produtividade (16 combinações), e qualquer exercício de projeção esbarrará em extrapolações e arredondamenos que diminuem sua validade. Então,
tomarei como exemplo uma fazenda tipo 2B (ver escalas acima),
cujos investimentos são demonstrados abaixo:
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Além dos investimentos propriamente ditos, não pode ser esquecido a necessidade de capital de giro. Não adianta construir
sem ter dinheiro para funcionar. Para chegar ao valor do capital de
giro é necessário analisar os custos de produção, o que será feito
mais adiante. A grosso modo, podemos considerar o capital de
giro como sendo igual ao custo de 1 ciclo de produção da fazenda
inteira. Em uma fazenda do tipo 2B o capital de giro é de cerca de
US$ 2.000 por hectare.
Como em qualquer negócio, os custos podem ser divididos
em custos fixos e variáveis. Os custos fixos podem ser caracterizados por serem gastos que tem que ser feitos de qualquer forma e
quase não se relacionam diretamente com o volume produção. Os
custos administrativos, por exemplo, enquadram-se como custos
fixos pois serão praticamente os mesmos para uma produção de
100 toneladas ou 150 toneladas. Os custos variáveis são gastos
diretamente relacionados e proporcionais com a produção. Para
produzir mais camarão é necessário mais pós larvas e mais ração. Na prática, muitos custos variáveis acabam sendo analisados
como custos fixos pois não é possível apropriar adequadamente
para cada viveiro ou cultivo. Teoricamente, seria possível apropriar o número de homens/hora ou de litros de água (energia) para
cada viveiro individualmente, mas na prática isto é muito difícil.
No caso da carcinicultura a análise fica simplificada se considerarmos como custos variáveis somente pós larvas, ração e as despesas comerciais tais como gelo, embalagens e impostos sobre as
vendas e considerar o resto como custo fixo.
Para analisar custo de produção é necessário levar em consideração pelo menos 1 ano fiscal, pois existem despesas sazonais,
tais como 13º salário, que podem não aparecer se a análise for
feita com somente 1 ciclo de cultivo ou semestre. Os custos variáveis de uma fazenda tipo 2B são demonstrados abaixo:
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