Agora a Internet também serve para
abastecer os cabazes das famílias pobres
26.05.2011 - 11:15 Por Andreia Sanches
Em pouco mais de um ano, o número de
pessoas que comem com a ajuda dos 19
bancos alimentares que existem no país
passou de 272 mil para quase 314 mil - mais
42 mil beneficiários. Uma parte do que
recebem provém das duas campanhas anuais
feitas pela Federação Portuguesa dos Bancos
Alimentares contra a Fome. A primeira de
2011 acontece no próximo fim-de-semana.
E, desta vez, tem uma novidade: são se
limita aos supermercados; saltou para a
Internet.
Isabel Jonet diz que há "carências gravíssimas" no
país. "Numa fase socialmente muito difícil" (Fábio
Teixeira)
Será preciso pouco mais do que um clique para fazer chegar azeite, atum, leite, óleo,
açúcar e salsichas aos cabazes que regularmente são entregues às famílias pobres. O
projecto, que segundo a Microsoft Portugal, é inédito no mundo, será apresentado hoje,
em Lisboa, pela Microsoft e a Link Consulting. E Maria Cavaco Silva será a primeira
doadora online.
Tal como é habitual, a campanha de recolha de alimentos deste fim-de-semana acontece
em superfícies comerciais de todo o país, envolvendo mais de 31 mil voluntários. Os
bens angariados são posteriormente entregues a cerca de duas mil instituições que
asseguram o acompanhamento das famílias carenciadas. Desta vez, contudo, e até dia 5
de Junho, será ainda possível doar através do www.alimentestaideia.net, o portal online
especialmente concebido para se tornar no novo canal de recolha de alimentos dos
bancos.
Messenger, Facebook e Hotmail serão palco, nos próximos dias, de uma grande
campanha de marketing da Microsoft. Os seus utilizadores darão de caras com banners
interactivos com a imagem da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares contra a
Fome. E se clicarem serão reencaminhados para o portal - que pode ainda ser acedido
através de uma aplicação móvel disponível para plataformas Android, iPhone e
Windows Phone.
Escolhidos os produtos, o pagamento é feito através de homebanking ou numa caixa de
Multibanco, usando a referência e código atribuído. Tal como acontece no Facebook ou não fossem as redes sociais a grande inspiração do projecto - , no final, o internauta
pode deixar a sua fotografia, que aparecerá publicamente mal o pagamento dos
alimentos seja efectivado.
Depois da campanha, a compra online é desactivada (para voltar na próxima campanha
nacional, em Novembro), mas mantém-se a comunidade - que poderá acompanhar o
impacto que os seus bens alimentares estão a ter. "Contamos para isso com as
estatísticas fornecidas pelos bancos alimentares, que vamos colocando no portal. Por
exemplo, quantos quilos de alimentos são canalizados para cada um dos 19 bancos que
existem no país?", explica Patrícia Fernandes, relações públicas da Microsoft. Para além
disso será possível ver, em tempo real, que alimentos foram já angariados.
"Isto envolve tecnologia muito complexa, mas é de muito fácil utilização. E tudo foi
desenvolvido em Portugal", sublinha.
"O que queremos é aproximar o mundo virtual do real. E a coisa mais real de todas é a
mais primária de todas: a necessidade de comer", explica, por seu lado, Isabel Jonet,
presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares contra a Fome. Esta é
também uma forma de cativar doadores jovens, que podem não ter meios para doar
muita coisa mas podem ter vontade. "É deixar sementes de cidadania. Estes jovens que
forem agora solidários não se esquecem da solidariedade, quando forem adultos."
"Carências gravíssimas"
"Há em Portugal gravíssimas carências alimentares", garante Jonet. O que significa que
há muitas pessoas que "não têm uma refeição completa por dia" e "miúdos que só têm o
que comem na creche e nos ateliers de tempos livres".
Nem todas as pessoas que precisarão de apoio estarão cobertas pela rede de bancos
alimentares, que foi crescendo ao longo dos anos (o de Beja, por exemplo, acaba de ser
inaugurado). "Toda a população pobre da área de Lisboa, da Grande Lisboa, pode ser
encaminhada para uma instituição que recebe do banco alimentar", mas noutros bancos
alimentares do país, há instituições em lista de espera, o que também significa que há
famílias à espera.
Uma das razões é esta: "Se em Lisboa e Porto há muitas empresas onde diariamente
vamos buscar excedentes, a maior parte do país está esvaziado de produção e portanto
muitos bancos alimentares, mais pequenos, vivem só das campanhas de recolha nos
supermercados." Também tem meios distintos, continua, um banco como o de
Portalegre, que pode fazer campanha de recolha "em três supermercados" ou o de
Lisboa, que faz em mais de 180. E, no entanto, "um pobre em Portalegre não é diferente
de um pobre em Lisboa".Por fim, há instituições que, apesar dos pedidos de ajuda
diários, não têm meios humanos para fazer o acompanhamento das famílias - nestes
casos a política da federação é que não se deve distribuir alimentos, se não se trabalha
outros níveis de integração dos agregados.
Convicta de que a próxima campanha é fundamental "numa fase socialmente muito
difícil para o país", crê que uma vez mais os portugueses serão generosos. Mas admite
que anda "angustiada". "O mais difícil vai ser depois do Verão; muitas empresas já não
vão abrir e acho que vai haver uma coisa terrível que é o pequeno comércio fechar. Há
muitos pequenos empresários em nome individual, mais velhos, que vão ser muito,
muito afectados. Se fecham o negócio, não têm nada, nem têm subsídio de
desemprego." Ver texto completo
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