O Caatinga
Nº 18 - Janeiro/2013
Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas
A seca no sertão nordestino e a luta das famílias agricultoras por ações estruturantes de convivência com
o Semiárido.
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Projeto Riachos do Velho
Chico: uma iniciativa que
gera renda e dá oportunidade
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Paulo Pedro é nomeado
Secretário de Produção
Rural, Recursos Hídricos e Meio Ambiente de
Ouricuri.
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Em Ouricuri, centenas de
pessoas pedem o fim da
violência contra a Mulher
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Visite o nosso site: www.caatinga.org.br
Nossa Missão é: Semear Agroecologia para uma Vida Digna no Semiárido
água e multiplicar conhecimento
Diante do fenômeno climático da seca,
a população, especialmente da zona
rural, tem sentido na pele os efeitos
causados pela escassez de água no semiárido. De modo humanizado, a Ong
Caatinga vem cooperando construindo conhecimento de forma participativa nas comunidades rurais. A troca
de saberes entre famílias e técnicos/as
é uma das estratégias utilizadas para
amenizar o impacto da estiagem no
campo.
Uma das tecnologias implantadas são
as cisternas de placas para consumo e
para a produção. Se espelhando na natureza, o homem e a mulher do campo
percebem que guardar água é a melhor
forma de se prevenir e poder garantir o
acesso a direitos básicos como água e
alimento de qualidade, sobretudo nos
períodos mais secos.
Dessa forma, o trabalho tem sido realizado juntamente com as comunidades,
associações e técnicos que acompanham as famílias, auxiliando-as para
melhor uso das tecnologias, e adoção
de práticas de convivência com o semiárido, garantindo renda e qualidade
de vida para o povo sertanejo.
Janaína Cavalcante Pereira, auxiliar
administrativa.
Por Cristina Lima
Fotos: Arquivo Caatinga
Conviver com o semiárido é armazenar
Juventude rural apoia produção e divulgação da Agricultura Familiar Agroecológica
No Sertão do Araripe Pernambucano, os/as jovens rurais estão
fazendo a diferença na promoção da agricultura familiar agroecológica. Integrados/as na dinâmica de três Projetos: Novas
Rendas Sertanejas, Juventude Arte & Cultura e Riachos do Velho Chico, eles/as divulgam as Feiras Agroecológicas, produzem artesanato e atuam no desenvolvimento de ações para preservação do bioma Caatinga.
O engajamento nessas ações é importante, pois gera oportunidade aos/às jovens agricultores/as e contribui para a sua permanência no campo, gerando reconhecimento e fortalecimento das
organizações representativas dos/ agricultores, tendo em vista
que a maioria deles estão interagindo nas associações, Grupos
de jovens e sindicatos locais.
Durante o desenvolvimento dos Projetos, aconteceram várias
oficinas de formação em comunicação e gestão de negócios,
onde os/as jovens aprenderam e trocaram experiências que, posteriormente, repassaram para seus grupos de jovens e associações comunitárias.
De acordo com a Jovem comunicadora Claudevânia Oliveira, o
envolvimento nestas ações tem proporcionado novos conhecimentos. “As oficinas têm importância pelo fato de nos envolver
em processos de formação, trazendo novas informações, além
de facilitar a interação com outros/as jovens e com a sociedade
em geral”, destaca.
O informativo O Caatinga é uma publicação do Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas (Caatinga).
Edição: Elka Macedo DRT/BA 4280 – Revisão: Giovanne Xenofonte e Cristina Lopes – Diagramação: Alice Alencar – Tiragem: 2000 – Gráfica: Provisual Endereço: Av. Engenheiro Camacho, nº 475, Renascença - Ouricuri-PE. E-mail: [email protected], www.caatinga.org.br
Projeto Riachos do Velho Chico: uma iniciativa que gera renda e dá oportunidade
Por Geangela Lima
Fotos: Arquivo Caatinga
Ao final do segundo ano de execução, o
Projeto Riachos do Velho Chico soma a
mobilização de seis comunidades rurais
de Parnamirim ao aprendizado, geração
de renda e preservação do meio ambiente. Iniciado pelas Ongs Caatinga e Centro Sabiá, com patrocínio da Petrobras
através do Programa Petrobras Ambiental, a ação objetiva revitalizar as margens dos Riachos Queimada e Frazão,
localizados respectivamente, nos municípios de Parnamirim e Triunfo - PE.
Nas escolas rurais, os/as jovens
multiplicadores/as fizeram palestras e atividades lúdicas com as
crianças e jovens sobre a preservação da caatinga e o destino do lixo,
reciclagem, cuidado com a escola
e o meio ambiente e incentivaram
ainda, a plantarem árvores. “Esse
projeto é maravilhoso, pois trouxe muitas coisas para a comunidade. Me fez pensar e agir diferente.
Hoje eu vejo a caatinga como uma
fonte de sobrevivência para os animais e temos que saber trabalhar
para que ela continue assim”, revela a jovem multiplicadora, Geângela Lima.
Fotos: Arquivo Caatinga
Muito embora a estiagem tenha prejudicado o trabalho de produção e plantio das mudas, muitas
atividades permearam o dia a dia das comunidades Arara, Rolo de Pau, Queimada I e II, Dourado
e Alvaçã, a exemplo da conscientização das famílias para não fazerem uso das queimadas. Além
disso, as famílias participaram de cursos, palestras e reuniões onde foram alertadas sobre os perigos do uso de veneno e a importância do reflorestamento.
Trabalhos de educação ambiental nas escolas rurais
A seca no sertão nordestino e as ações emergenciais, uma luta constante
das famílias agricultoras
Por Márcio Moura
Foto: Tânia Barros
Das grandes obras de açudagem ao agronegócio irrigado, a atuação política para enfrentamento
do problema vem se alterando. As frentes de serviço deram lugar a programas de transferência de
renda como o garantia Safra e o Bolsa Estiagem. O governo federal anuncia que “implementou
ações para que os sertanejos tenham melhores condições de conviver com a seca”. Certamente
essas ações têm amenizado o sofrimento do povo sertanejo, mas nem de longe têm resolvido o
problema. Hoje são mais de quatro milhões de pessoas atingidas diretamente pela estiagem.
A seca é um “problema antigo”. Segundo especialistas, além de mudar o paradigma de atuação,
o governo precisa considerar alternativas de desenvolvimento para o semiárido, pois, combater
os efeitos da seca quando ela surge, agindo somente por meio de medidas paliativas como as
frentes de serviço e os carros-pipa, ou ainda promovendo grandes obras como a Transposição do
Rio São Francisco não asseguram às famílias agricultoras, condições dignas de convivência com
o Semiárido.
No Araripe Pernambucano, ações de enfretamento à estiagem não chegam a todos/as os/as agricultores/as. Mesmo com as chuvas que caíram em novembro a água está praticamente escassa no
Acompanhe nossas ações pelo rádio!
Programa Agricultura Familiar em Debate, todos os sábados das 7h às 8h da manhã, na Rádio Voluntários da
Pátria AM, frequência 1080. Confira as edições também no link de rádio no nosso site: www.caatinga.org.br
Araripe Pernambucano. Grandes açudes como o Engenheiro Camacho (Tamboril) e o Chapéu,
estão com menos de 40% da capacidade de armazenamento e as políticas emergenciais como o
carro-pipa e seguro-safra, não atendem toda a demanda da população rural.
Na verdade, a estruturação dos sistemas para garantir água para o consumo familiar, para os animais e para a produção tem sido a melhor alternativa contra a indústria da seca, pois são investimentos em que as famílias se libertam politicamente e melhoram a qualidade de vida no semiárido. Neste sentido, o Caatinga junto
com a Articulação do Semi-Árido
Brasileiro (ASA) vem mobilizando e
implementando as tecnologias sociais
como as cisternas de placas, o barreiro
trincheira lonado e a bomba popular,
como também planejando a estocagem
de alimentos para as famílias e para os
animais, que permitam a garantia da
produção agrícola no semiárido.
Foto: Antonio Marcolino
Agroecologia: Caminho para a convivência
A agroecologia e as chamadas tecnologias sociais são
maneiras de produzir ou de auxiliar a produção mais adequada para a realidade da região Semiárida, pois respeitam o meio ambiente, as relações sociais e buscam uma
produção mais saudável.
Foto: Elka Macedo
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“Se não fosse esse trabalho agroecológico a gente não
tava conseguindo viver não. Eu me apeguei muito a esta
técnica onde a gente armazena água, trabalha sem uso
de veneno, faz horta e a gente usa fermentado pra aplicar nas plantas. Tudo isso, tem melhorado a produção da
gente, até a convivência com a seca. Aqui a gente trabalha diferente e quer fazer a diferença”, afirma a agricultora, Gercilia Alves da Silva, 51 anos, da comunidade de
Santa Fé em Santa Filomena.
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Recuperação de poços faz a diferença no Sertão do Araripe
Iniciativa do Caatinga com apoio da ActionAid Brasil garante água para mais de 70 famílias
Neste período de estiagem, pequenas ações fazem realmente a diferença. A recuperação de poços
artesianos, cacimbão e chafarizes mudou a vida de, pelo menos, 71 famílias que sofriam com a seca
no Território do Sertão do Araripe em Pernambuco.
A iniciativa do Caatinga com apoio da ActionAid Brasil, viabilizou o acesso à água com poucos
recursos e muita boa vontade. Nesse sentido, foram recuperados quatro poços nas comunidades da
Abobreira e Jacaré em Ouricuri, Santa Fé em Santa Filomena e no sítio Pote município de Santa
Cruz. Além de um cacimbão na Umburana, em Parnamirim e dois chafarizes na Fazenda Cruz em
Ouricuri.
Por falta de recursos muitas localidades fazem a escavação dos poços. No entanto, não têm condições de instalarem a tecnologia que, por vezes, necessita de materiais simples, porém, caros para as
famílias, como bomba submersa e caixa d’água. Alguns são escavados com recursos públicos, mas
por falta de manutenção são inutilizados.
A instalação e ou recuperação de um poço artesiano, por exemplo, leva apenas alguns dias para ser
construído e custa de R$ 2.000,00 a R$ 5.145,00. Em épocas de crise tem sido, para muitas comunidades rurais, a única opção de abastecimento.
“Percebe-se, claramente, que as poucas infraestruturas existentes nas comunidades como poços, cacimbões, açudes de médio porte tem cumprido um papel fundamental no abastecimento das famílias
rurais. Enquanto que as grandes obras como a transposição do Rio São Francisco, que já acumula um
gasto de quase um bilhão de reais ao longo de cinco anos, não tem disponibilizado água para quem
mais necessita”, destaca o Coordenador Geral interino do Caatinga, Giovanne Xenofonte.
Recurso
A recuperação e instalação dessas tecnologias foi fruto de um recurso emergencial enviado pela ActionAid Brasil para ajudar as famílias agricultoras no período de seca. Nas comunidades beneficiadas
o Caatinga atua com apoio às famílias através de projetos que, entre outras ações, promovem o fortalecimento das organizações sociais envolvidas em Conselhos e Consórcios de Associações.
Foto: Diolando Saraiva
Foto: Humberto Saraiva
Paulo Pedro é nomeado Secretário de Produção Rural, Recursos Hídricos e
Meio Ambiente de Ouricuri
O Coordenador Geral do Caatinga, Paulo Pedro de Carvalho foi convidado a assumir o cargo de Secretário de Produção Rural, Recursos
Hídricos e Meio Ambiente no município de Ouricuri-PE. Em entrevista, ele contou como foi esse processo de transição e como a experiência no Caatinga ajudará nessa nova tarefa.
O Caatinga - Você passou de sociedade civil organizada para Governo. São dois lados diferentes da moeda. De que modo você
avalia essa transição?
Foto: Elka Macedo
Por Elka Macedo
Paulo Pedro- A gente não tinha essas pretensões, mas surgiu a oportunidade e a gente viu que Ouricuri
vive um momento interessante em que podemos contribuir. Viemos para Governo Municipal com a ideia
de que a possamos seguir a mesma lógica e os mesmo objetivos para caminhar para uma sociedade
mais justa.
Como a experiência de trabalho na Ong Caatinga vai auxiliá-lo nesse novo desafio?
Depois de 22 anos trabalhando no Caatinga, aprendendo e construindo junto com a equipe da instituição, sócios e famílias agricultoras assessoradas, a gente tem um acumulo que pode ser muito bem
aproveitado no órgão público. Percebo que a dinâmica é muito diferente, mas jamais podemos perder
os princípios e o projeto de sociedade que acreditamos. Então muda um pouco o jeito de trabalhar e
as relações políticas, mas continua a mesma ideia na lógica de convivência digna e sustentável com o
Semiárido.
Sabemos do grande desafio de administrar uma secretaria de Agricultura, principalmente, neste
período de estiagem. Neste sentido, quais serão as prioridades para o municipio?
Estamos principalmente, tentando resolver a situação das famílias em relação a programas de Governo, a exemplo do Garantia Safra. Resolvendo pendências e fazendo o processo de homologação e
cadastro das famílias para a safra 2012-2013, junto com o Conselho e instituições parceiras, como o
Caatinga. Estamos vendo com o IPA e a Prefeitura o abastecimento de água através de carro-pipa e
conserto da perfuratriz, e tentando viabilizar o conserto de poços que, neste momento, são de extrema
importância para as comunidades.
Além da Produção Rural, esta Secretaria está ligada aos Recursos Hídricos e Meio Ambiente. De
que modo será possível atender a tais demandas seguindo os princípios da Agroecologia?
Com as diretorias especificas de recursos hídricos, meio ambiente e de produção rural e abastecimento,
poderemos fazer um desenho melhor de atuação no município. Passei 22 anos no Caatinga tentando
ajudar as famílias agricultoras a fazer a transição agroecológica, agora vamos fazer isso dentro da
Secretaria. Ai tem haver com capacitar a equipe e firmar parcerias.
Em Ouricuri, centenas de pessoas pedem o fim da violência contra a Mulher
É no cotidiano de seus lares que milhares de brasileiras são brutalmente violentadas. Embora, no
Brasil já tenham leis punitivas para o ato, a violência contra a mulher ainda é marcante no nosso
país, prova disso é a sua posição no contexto dos 84 países do mundo com dados homogêneos da
Organização Mundial de Saúde (OMS), compreendidos entre 2006 e 2010, no qual estamos em sétimo lugar com uma taxa de 4,4 homicídios em 100 mil mulheres.
Neste sentido, em Ouricuri o debate foi reaceso com a morte de Yana Luiza Moura, de 30 anos,
assassinada com dois tiros pelo marido, o Capitão da Polícia Militar, Dario Ângelo Lucas da Silva
na madrugada do dia 02 de janeiro deste ano. Para refutar este caso e de tantas outras mulheres
vítimas da violência doméstica o Fórum de Mulheres do Araripe realizou uma vigília entre os dias
08 de janeiro e 04 de fevereiro, período em que foram feitas diversas mobilizações pedindo o fim
da violência contra a mulher.
Fotos: Hercules Felix
Vestidas de preto, com velas acesas, faixas e cartazes, centenas de mulheres e homens clamaram por
justiça. Nos cartazes e faixas empunhadas nos 03 atos públicos realizados durante a vigília, destacavam-se frases como: “Que as patentes não sejam escudo da violência” e “A violência doméstica
é um câncer no lar”, que traduziam a urgência da consciência sobre o problema, pela população.
A Coordenadora do Fórum de Mulheres do Araripe, Francisca Nunes, conhecida como Tica de
Nere, faz um balanço deste movimento que sensibilizou não só o município de Ouricuri, mas todo o
estado. “Essa não é uma luta isolada, é uma luta para garantir os direitos das mulheres e nós vamos
estar sempre atuando nas vigílias pelo fim da violência em seminários, conversas nas escolas e nos
bairros. Porque na verdade esse é nosso lema e a gente tem que lutar até que nenhuma mulher sofra
violência”, declarou.
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