Caracterização das famílias residentes na área rural agropecuária: estudo de caso
no Distrito Espírito Santo, Município de Londrina-PR.
Moacyr Doretto1
Mauro Eduardo Del Grossi2
Antonio Carlos Laurenti2
Resumo
O objetivo é a caracterização das famílias residentes na área denominada de rural
agropecuário do Distrito Espírito Santo no município de Londrina. Coletaram-se dados de 60
famílias sorteadas de uma listagem de nomes de moradores cedida pela Secretaria Municipal de
Saúde. As entrevistas foram realizadas diretamente com os moradores, na última semana de
setembro de 2001. Os resultados comprovaram as recentes transformações ocorridas no perfil de
ocupação da população residente nas áreas rurais do Brasil, descritas com base nas informações
das PNADs, destacando-se a família pluriativa que já concentra cerca de 1/3 do total de
domicílios da localidade em foco. As ocupações não-agrícolas exercidas pelos moradores, em
geral, são realizadas na zona urbana, situação que denota que para uma significativa parcela dos
habitantes da localidade o meio rural apresenta-se também como um espaço de moradia e não
apenas de produção agropecuária. A família classificada como não-agrícola apresentou a maior
renda líquida per capita (R$5.788,47), seguida da agrícola e, finalmente da pluriativa. O maior
grau de escolaridade foi verificado na família não-agrícola e em última posição as agrícolas. O
trabalho é a fonte de renda mais importante, cabendo mencionar que a renda não monetizada de
autoconsumo representou cerca de 19% da renda total dana família agrícola, 10,1% na pluriativa
e 0,1% na não-agrícola. Por fim, tem-se que a maioria dos membros ativos da família destina seu
rendimento ao fundo comum de renda familiar.
Palavras-chave: pluriatividade; atividade agrícola e não-agrícola; famílias rurais, renda familiar.
1
2
Mestre em Economia – Pesquisador da Área Técnica de Socioeconomia do IAPAR.
Doutor em Economia – Pesquisador da Área Técnica de Socioeconomia do IAPAR.
1- Introdução
O Projeto RURBANO3, coordenado pelo Prof. Dr José Graziano da Silva,
proporcionou um grande avanço nos estudos sobre a temática das atividades não-agrícolas das
áreas rurais do Brasil. Nas duas primeiras fases desse projeto utilizaram-se somente informações
da Pesquisa Nacional Amostra Domicílio-PNAD do IBGE, considerando-se a natureza das
ocupações e rendas das pessoas e famílias. Nesta terceira fase foram elaboradas pesquisas de
campo, através de estudos de casos em 11 estados do Brasil, para cotejar as constatações acerca
da composição e magnitude da renda familiar no meio rural4 apoiadas em análises de os dados
secundários. Principalmente, com a finalidade de aferir o viés, supostamente, causado pelas
expansões urbanas e da subestimação da renda agrícola nas amostras das PNADs, conforme
avaliação de Del Grossi et al 2002.
Para isso, escolheu-se, deliberadamente, o Distrito Espírito Santo no município de
Londrina, cuja povoação, conforme se verá a seguir, esteve fundada na economia de base familiar, onde a principal fonte de renda provinha da cafeicultura de exportação e secundariamente
pelo cultivo de lavouras de subsistência ou de autoconsumo.
Na segunda parte do texto, apresenta-se um breve histórico da ocupação da
localidade em foco e o delineamento da pesquisa de campo e da análise dos resultados. A terceira
parte é dedicada à exposição dos principais resultados da pesquisa relativos à caracterização das
famílias considerando: o grau de escolaridade; a posição na ocupação da pessoa de referência da
família; a localização da ocupação principal; a origem dos rendimentos; o montante de renda
média e o destino dos rendimentos individuais. Na quarta e última parte, resume-se as principais
constatações associadas ao reconhecimento de que, sequer na área denominada de rural
agropecuário, as atividades agropecuárias comandam exclusivamente a dinâmica das ocupações e
da formação da renda das famílias domiciliadas no Distrito do Espírito Santo.
2- Metodologia
2.1. Breve histórico da ocupação do Distrito
A colonização da região denominada de Norte Novo do Estado do Paraná, no início
dos anos 30 do século passado, oscilou entre duas concepções distintas de aplicação de capital
privado de origem inglesa. A primeira preconizava a obtenção de lucros, através da aquisição de
terras e emprego de trabalhadores assalariados através do cultivo de algodão para o mercado
externo. A segunda, decorrente desse malogrado projeto de ocupação das terras, cedeu espaço à
iniciativa fundada no comércio de lotes de terras e na produção de café para exportação, cuja
dinâmica atingiu ritmo e extensão sem precedentes no âmbito da iniciativa privada no ramo da
colonização.
Uma outra diferença marcante entre as duas concepções de colonização – ainda que
circunscritas a uma economia agrária exportadora, com capital externo e propriedade privada da
terra, – é que a segunda fundava sua produção mercantil (café) num grande número de unidades
de produção de pequena escala, cuja maior parcela pertencia a trabalhadores que eram
proprietários da terra e do produto do seu trabalho. Esse processo de colonização foi idealizado
pela Companhia de Terras Norte do Paraná – CTNP –, empresa responsável pela colonização
pioneira do Norte Novo, a qual também concebeu a edificação de pequenos núcleos urbanos a
cada 10 ou 15 km e pequenas cidades a cada 100 km, como forma de prover a população rural de
bens e serviços gerais não-agrícolas, assim como sediar os empreendimentos industriais e de
serviços associados à cadeia produtiva do café e demais atividades urbanas.
Nesses termos, a separação campo-cidade foi feita pela locação das atividades nãoagrícolas no núcleo urbano e conseqüente especialização dos lotes rurais nas atividades agrícolas,
principalmente a produção de café para comércio e, secundariamente, a produção de outros
produtos agropecuários para subsistência da família. Ainda que, algumas tarefas de
beneficiamento da produção, atualmente típicas da agroindústria, fossem (e continuam sendo)
realizadas no recinto das unidades agrícolas, tais como: limpeza, secagem e armazenamento do
café em coco.
O seguinte depoimento de um antigo funcionário da companhia acima mencionada,
contida no livro acerca da colonização e desenvolvimento do Norte do Paraná3 ilustra com
precisão as referências efetuadas quanto à estrutura fundiária e a interdependência das atividades
rurais/agrícolas e urbanas/não-agrícolas, assim como tais circunstâncias ensejaram o desenvolvimento local da época:
“É preciso não esquecer, também, que alguns proprietários – contrariando a política de vendas da
Companhia – conseguiram reunir vários lotes rurais e formar fazendas, mas onde isso ocorreu em número maior a
comunidade próxima estacionou. A razão do êxito das cidades do Norte do Paraná está na pequena propriedade
dirigida pelo seu dono, que nela reside e vai gastar o produto de seu trabalho na povoação mais próxima. Não é o
grande proprietário que interessa, pois este geralmente mora nas grandes cidades, onde aplica os lucros obtidos em
suas lavouras”.
No contexto agrário, segundo o relato do jornalista Rubens Rodrigues dos Santos4,
o plano de constituir uma agricultura de caráter difuso, usando-se o jargão atual, assentava-se no
dimensionamento dos lotes de 10, 15 ou 20 alqueires paulistas, dispostos de forma contígua e
limitados na frente pelas estradas de acesso (situadas ao longo dos espigões) e ao fundo por um
ribeirão. Próximos ao riacho, localizavam-se de forma alinhada o quintal doméstico e a moradia
com o objetivo de suscitar a formação de uma comunidade, tanto para desfavorecer o isolamento
das pessoas como também para facilitar o trabalho em mutirão, principalmente na colheita do
café, cuja lavoura situava-se nos talhões mais altos do lote. O delineamento das atividades
agrícolas completava-se com a localização de chácaras, circunvizinhas aos perímetros urbanizados das cidades e dos pequenos núcleos habitacionais do meio rural, com a finalidade de
abastecer o mercado local com produtos hortifrutigranjeiros.
Portanto, essa sumária descrição de algumas diretrizes que nortearam a concepção
“ocupação das terras do Norte Novo do Paraná” permite concluir que diferentemente do projeto
original, onde o trabalhador assalariado prevaleceria numericamente na população local, a
iniciativa da colonização atrelada a uma atividade agrária exportadora logrou compor uma
heterogênea população pioneira integrada por trabalhadores assalariados, capitalistas, produtores
simples de mercadoria (agricultor familiar), ou, ainda, empregadores, empregados e contaprópria, segundo a terminologia usual na PNAD5.
A heterogeneidade, presente na ocupação pioneira, vai além dessa descrição
efetuada com base na posição social ou na ocupação e fonte de renda predominante dos
habitantes locais. Isto porque, mesmo o colono que vendia sua força de trabalho na grande
fazenda de café, também exercia ocupações como conta-própria na produção de alimentos para
consumo da família no quintal de seu domicílio, ou mesmo na autoconstrução e manutenção de
sua moradia e demais instalações necessárias à produção de café. Da mesma forma, o cafeicultor,
proprietário de unidades agrícolas de pequeno porte, que conduzia sua lavoura por conta própria
eventual-mente trabalhava por conta de terceiros, nos mutirões e nas trocas de dias de serviço ou
mesmo assalariando-se. Adicionam-se, a essas formas, as demais relações de produção fundadas
na parceria, no qual o trabalhador se posiciona como meeiro, percenteiro etc.
3
Publicação comemorativa do cinqüentenário da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, intitulada
Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná, segunda edição, p 88, 1977.
4
Organizador do livro op cit. p 1.
5
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios-PNADsdo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE.
Em suma, a imagem que permanece é a que nas etapas iniciais da colonização do
Município de Londrina, assim como da região norte paranaense6, a atividade agrícola de
produção de café, calcada numa tecnologia de alta demanda de mão-de-obra e num grande
número de unidades agrícolas de pequeno porte, que conciliavam a produção comercial de café
com atividades de autoconsumo, regia a dinâmica das ocupações e da renda da maior parte da
população regional. Ademais, essa via de desenvolvimento econômico, calcada na agricultura
difusa e aos moldes do que se pode vislumbrar através da implantação de uma reforma agrária
massiva, também propiciou o desenvolvimento da atual terceira cidade do Sul do País, assim
como alavancou o adensamento populacional de mais de um milhão de habitantes no eixo
Londrina–Maringá.
A ação das políticas de industrialização do País, em particular a política de industrialização da agricultura, que adentra com mais intensidade no Estado do Paraná, a partir de
meados do ano 1970, juntamente com a grande geada de 1975, confluiu para suprimira primazia
do meio rural quanto à locação da população e o predomínio que a agropecuária exercia na
geração de ocupação e renda da maior parte da população situada na região Norte do Estado do
Paraná. Não obstante isso, a produção de soja e café voltada à exportação continua predominando
na paisagem rural do Distrito do Espírito Santo, restando saber, conforme objetiva esta pesquisa,
se essas atividades agrícolas regem de foram exclusiva a dinâmica das ocupações e da renda na
população remanescente na localidade em foco.
2.2. Delineamento da pesquisa de campo
O levantamento de dados foi realizado através de entrevistas de campo, com
aplicação de questionário estruturado em 60 famílias residentes na área denominada rural
agropecuário. A escolha da família como unidade de referência no meio rural traz vantagens em
relação ao normalmente utilizado que é o estabelecimento agropecuário, pois neste pode ocorrer a
presença de mais de uma família, além de não contemplar detalhadamente a ocupação e rendas
das pessoas. Além do que, o Censo Agropecuário não abrange todas as unidades familiares
presentes no meio rural em função da não inclusão das chácaras de recreio no recenseamento9.
As famílias foram aleatoriamente sorteadas de uma listagem de 358 nomes de
moradores (chefes da família) fornecida pela Secretaria Municipal de Saúde. A pesquisa de
campo foi realizada na última semana do mês de setembro de 2001, mesmo período em que o
IBGE faz a PNAD.
A análise dos resultados será efetuada considerando-se a subdivisão dos tipos de
famílias quanto à ocupação principal dos residentes durante a semana de referência, conforme a
seguir. A família foi classificada como agrícola, quando todos seus membros ativos estavam
ocupados com atividade agropecuária. Classificou-se como família pluriativa quando o tempo de
trabalho da família é subdividido em ocupações agrícolas e não-agrícolas. Quando todas pessoas
ativas da família se dedicavam a atividades não-agrícolas denominou-se de família não-agrícola.
Quando nenhum membro em idade ativa esteve ocupado classificou-se a família como nãoocupada.
6
Não somente dessa região e da forma planejada pela CTNP, primeiro porque a área de abrangência dessa
companhia não evolvia toda a região norte do Estado do Paraná e, segundo, porque a cafeicultura também avançou,
em parte, para a região sul e oeste do Estado.
3- Resultados
3.1- Aspectos gerais da população amostrada
A pesquisa de campo permitiu constatar que nas 60 famílias amostradas havia 237
pessoas residentes, incluindo os agregados, perfazendo uma média de quatro pessoas por
domicílio, com predomínio numérico de homens sobre mulheres, (Tabela 01).
Na amostra, constatou-se que mais de 2/3 das pessoas estavam economicamente
ativas e executando trabalhos agrícolas e não-agrícolas ao lado de proporção significativa
(27,1%) de residentes que com idade inferior a 14 anos de idade e que, na maioria das vezes,
dedicaram seu tempo basicamente com a atividade escolar. Esta última é facilitada pela presença
de escolas nos bairros rurais e pelo transporte escolar realizado pelo poder público municipal
conduzindo jovens e adultos até a sede do distrito onde se localizam os cursos escolares de
segundo grau.
Tabela 01. Características populacionais das famílias situadas na área rural agropecuário do Distrito Espírito Santo,
município de Londrina-PR, no ano de 2001.
Características
Valor
Número de domicílios
60
Número de pessoas residentes
247
Residentes por domicílio
4,0
Tamanho médio da família (exclusive os agregados)
4,0
Gênero:
proporção de homens (%)
53,4
proporção de mulheres (%)
46,6
Idade:
proporção de pessoas com menos de 14 anos (%)
27,1
proporção de pessoas com 65 anos ou mais (%)
3,2
Escolaridade das pessoas com 7 anos ou mais de idade
proporção de analfabetos (%)
6,1
4,7
proporção de semi-analfabetos1 (%)
proporção de pessoas com 1o grau completo (%)
10,8
proporção de pessoas com 2o grau completo (%)
13,1
proporção de pessoas com superior completo (%)
2,3
Anos de estudo médio das pessoas de 7 anos ou mais
5,8
Fonte: dados da pesquisa.
1- apenas lê e escreve o próprio nome.
Considerando-se a freqüência de pessoas com e sem alfabetização, denota-se que a
falta de instrução formal no Espírito Santo é relativamente mais acentuada que a média
municipal7 ', cerca de um décimo contra 7,1%, estimada para o ano de 2000 a partir do Censo
Demográfico do Paraná, pelo qual também se verificou que, nas famílias amostradas, as pessoas
estavam, na média, com grau de alfabetização muito aquém dos demais habitantes do município.
Entre os alfabetizados (89,2%) ocorre disparidade nos graus de instrução, dado que existem
pessoas que não concluíram o primeiro grau até outras com curso superior completo. Portanto, o
destaque é que as pessoas que iniciaram e não completaram as séries escolares, totalizando
62,8%, enquanto as demais (26,2%) concluíram, em ordem decrescente, 2º grau, 1º grau e curso
superior. Verificou-se, ainda, que as pessoas residentes, com 7 anos ou mais de idade, apresentavam em média 5,8 anos de escolaridade.
3.2 Perfil ocupacional e de escolaridade nos tipos de famílias
A partir dos dados colocados na Tabela 02, denota-se que da totalidade dos
domicílios e das pessoas residentes situados na área rural agropecuária, cerca de metade perten7
pessoas com 7 anos e mais de idade.
cem ao tipo de família agrícola. Nesse sentido, pode se afirmar que continua predominando no
contingente populacional, a parcela das pessoas e de domicílios vinculados à atividade agrícola.
Todavia, diferentemente de outrora, esse predomínio já não se manifesta de maneira exclusiva,
permitindo reconhecer que mudou de forma expressiva o perfil socioeconômico, dos residentes
da área rural agropecuária do Distrito em foco.
A presença de cerca de 1/3 de família pluriativa reforça essa interpretação de não
exclusividade da agropecuária quanto à ocupação e renda das pessoas no Distrito do Espírito
Santo, sendo que esse tipo de família também se diferenciou por apresentar relativamente o maior
contingente médio de pessoas.
A atual condição de não exclusividade da agropecuária, mesmo na área denominada pelo
IBGE de rural agropecuário,, é reforçada pela presença de mais de ¼ de pessoas que se ocupam
unicamente de atividades não agrícolas. A ocorrência de aproximadamente 13,3% de domicílios
habitados somente por pessoas ocupadas com atividades não-agrícolas, reforça que a localidade
em foco também se caracteriza como espaço que apenas serve de moradia para pessoas cuja
ocupação econômica situa-se no meio urbano. Este último aspecto é reforçado, ainda que em
pequena monta, pelo fato de que 5% dos domicílios são moradores sem ocupação econômica.
Tabela 02: Distribuição do total de domicílios e das pessoas residentes segundo os tipos de famílias, no
Distrito Espírito Santo, município de Londrina-PR, 2001.
Domicílios
Pessoasa
Tipo de família
Total
%
Total
%
Agrícola
30
50,0
120
50,6
Pluriativa
19
31,7
85
35,9
Não-agrícola
8
13,3
26
11,0
Não-ocupada
3
5,0
6
2,5
Total
60
100,0
237
100,0
Fonte: dados da pesquisa
a- representa a totalidade das pessoas residentes no domicílio independente da idade e da ocupação.
No geral, a escolaridade das pessoas residentes apresenta grande disparidade,
principalmente porque se concentram na denominação outras combinações (43,3%), conforme
pode ser observado na Tabela 03, na qual, estão inclusas as pessoas residentes que completaram o
curso superior, as que cursaram séries diferentes e ainda aquelas que não completaram o primeiro
grau. Em segundo lugar, com 31,7%, estão as famílias que possuem pelo menos uma pessoa com
segundo grau de escolaridade, seguido daqueles com pessoa no primeiro grau (13,3%), com uma
pessoa com curso superior (8,3%) e, finalmente, o analfabeto ou semi-analfabeto.
Tabela 03. Distribuição relativa dos tipos de famílias segundo a escolaridade das pessoas residentes, Distrito Espírito
Santo município de Londrina-PR, 2001.
Somente
Pelo menos 1 Pelo menos 1 Pelo menos Outras
analfabetos
membro com membro com 2º 1 membro combiTipo de família
ou
semi- 1º grau e grau e nenhum com curso nações
analfabetos
nenhum acima acima
superior
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
Ocupada
Agrícola
6,7
6,7
20,0
6,7
60,0
Pluriativa
0,0
26,3
47,4
0,0
26,3
Não-agrícola
0,0
12,5
50,0
25,0
12,5
Não-ocupada
0,0
0,0
0,0
33,3
66,7
Total
3,3
13,3
31,7
8,3
43,3
Fonte: Dados da pesquisa.
Na família agrícola predomina a subdivisão outras combinações
outras
combinações (60%) e somente nessa é que se verificou a presença de pessoa analfabeta ou semianalfabeta.
Nas famílias pluriativa e não-agrícola ocorrem maior dispersão entre os membros
que possuem algum grau de escolaridade, pois se concentram basicamente onde existem pelo
menos uma pessoa com segundo grau e outras combinações.
Nas famílias com pessoas não-ocupadas a escolaridade está definida, concentrandose naqueles que possuem pelo menos um membro com curso superior e outras combinações.
De forma geral, é possível reafirmar que o grau de escolaridade é baixo entre as
pessoas residentes nos domicílios rurais, prevalecendo maior grau de escolaridade entre os membros da família não-agrícola, pluriativa e não-ocupada e com menor grau na família agrícola.
3.3- Localização da ocupação principal
Na localidade onde foi realizada a pesquisa as famílias estão distribuídas de maneira
dispersa no espaço rural, dada a característica de que o respectivo domicílio está associado, na
maior partes das vezes, a um estabelecimento8 agropecuário. Diante disso, tem-se que a maior
proporção de pessoas ativas realizam a ocupação principal no respectivo estabelecimento
agropecuário, seguidas daquelas cujas ocupações estão sediadas em local distante e urbano,
(Tabela 04). Na família agrícola 3/4 das pessoas ativas realizam a ocupação principal no mesmo
local onde residem, enquanto que a quase totalidade da porção restante o faz no domicílio do
vizinho e na zona rural.
Tabela 04. Distribuição relativa das pessoas segundo o tipo de família e o local da ocupação principal, Distrito
Espírito Santo município de Londrina-PR, 2001.
Tipo de família
Ocupada
Agrícola
Pluriativa
Não-agrícola
Não-ocupada
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
No
Vizinho e na Distante e na Distante e
domicílio zona rural
zona rural
urbano
Total
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
74,4
47,8
26,7
12,8
19,6
6,7
10,3
6,5
6,7
2,6
26,1
60,0
100,0
100,0
100,0
100,0
55,9
0,0
14,7
0,0
7,8
0,0
21,6
100,0
100,0
Na família pluriativa, predominam as pessoas residentes que exploram atividades na
área rural, sendo no mesmo local (47,8%), seguido imediatamente de local vizinho e zona rural,
sendo por último em local distante e urbano. Diferenciando-se dos demais tipos a famílias nãoagrícolas (60,0%) desenvolvem suas atividades em local distante e no perímetro urbano. Em
síntese, tem-se que os residentes da família agrícola e pluriativa exercem, na maior parte das
vezes, a ocupação principal no domicílio na zona rural, enquanto a não-agrícola o fazem
principalmente na área urbana. Cabendo destacar que 40,0% das pessoas integrantes das famílias
não-agrícolas ocupam-se com ORNAs, isto é, ocupações não-agrícolas situadas no meio rural.
8
que se define como todo terreno de área continua, independentemente de tamanho ou situação (urbana ou rural),
onde de processa uma exploração agropecuária...(Manual do Recenseador do Censo Agropecuário de 1995-96).
3.4- Pluriatividade nas famílias rurais
A pluriatividade9 consiste na combinação de ocupações realizadas pelos membros
de uma mesma família em atividades agrícolas e não-agrícolas, onde pelo menos uma pessoa
esteja exercendo tal combinação. A pluriatividade também pode ser indiretamente observada
através da composição da renda oriunda das ocupações econômicas, conforme efetuado a seguir.
Considerando-se o montante dos rendimentos de todas as pessoas da família, ou seja, ocupadas e
não-ocupadas, constatou-se 73,5% do total são advindos do trabalho das pessoas ativas residentes
ocupadas com atividades agrícolas e não-agrícolas, (Tabela 05). Esse rendimento das ocupações
das pessoas ativas advém do trabalho realizado, na maior proporção (42,2%) em atividades
agrícolas, seguido daquelas atividades não-agrícolas que também são expressivas no conjunto das
atividades econômicas.
Tabela 05. Fontes de rendimento segundo a composição do rendimento familiar total, Distrito Espírito Santo no
município de Londrina-PR, 2001.
Fonte dos Rendimentos
% Rendimento
a
73,5
Rendimento de todas ocupações / renda total
a
Rendas agrícolas / renda total
Rendas não-agrícolas / renda total
42,2
a
Rendimento dos inativos / renda total
31,3
a
9,5
a
Rendimento das ocupações secundárias / renda total
9,3
Rendimento de outras fontes / renda total
Rendimento das ocupações secundárias / renda ocupações
Fonte: Dados da pesquisa.
a - renda das ocupações e dos rendimentos anuais variáveis.
7,7
a
12,6
O rendimento das pessoas inativas na área rural agropecuária já representa 9,5% do
rendimento total das famílias. Esse montante está relativamente acima dos rendimentos que a
família recebeu, separadamente, com as ocupações secundárias e também com outras fontes.
3.5- Rendimentos
Considerando-se as informações postas na Tabela 06, denota-se que é notória a
disparidade no montante do rendimento total familiar entre os tipos de famílias com pessoas
ocupadas, quer seja na agricultura e também nas atividades não-agrícolas. A principal diferença
ocorre entre as famílias que possuem pessoas ocupadas no todo, ou em parte, na agricultura,
representadas pela família agrícola e pluriativa, com aquelas onde as pessoas estão somente
ocupadas com atividades não-agrícolas. Entre as famílias que possuem pessoas ocupadas com
atividades agrícolas, constatou que existe pequena diferença em favor do montante total do
rendimento da família agrícola em relação à família pluriativa, ou seja, a primeira é superior à
segunda em 0,5%. No entanto, a maior diferença ocorre com relação à família não-agrícola,
sendo superior à família pluriativa e agrícola em 70,0% e 69,1%, respectivamente. Neste sentido,
realça a importância das atividades não-agrícolas entre as pessoas ocupadas e residentes na área
rural agropecuária do Distrito Espírito Santo.
A renda advinda do trabalho se constitui na principal fonte de rendimento de todas
as famílias. A maior proporção da renda advinda do trabalho (98.2%) está na família nãoagrícola, e em menor montante relativo na família agrícola (71,8%) e na pluriativa (76,9%).
Tabela 06. Rendimento familiar anual segundo os tipos de famílias com pessoas ocupadas, Distrito Espírito Santo
município de Londrina-PR, 2001.
9
Op. Cit. www.eco.unicamp.br
Rendimento Familiar (R$)
Tipo de família
Agrícola
Pluriativa
Não-agrícola
Total
Total
10.924,92
10.866,96
18.482,50
11.966,31
Total
per capita
3.379,54
2.654,21
6.025,73
3.509,16
Trabalho
Outras
7.838,93
8.356,17
18.148,63
9.458,32
fontes
715,87
974,73
150,00
722,74
Inativos
288,00
429,47
0,00
294,74
Auto-
Liquido
consumo
2.082,12
1.106,58
183,88
1.490,52
per capita
3.228,80
2.440,60
5.788,47
3.325,32
Fonte: Dados da pesquisa
Analisando-se o rendimento total per capita entre os tipos de famílias, constatouse que a família pluriativa é que possui o menor montante em relação às demais, e isto pode ser
atribuído ao fato de que, neste tipo de família, é que se encontra o maior número médio de
pessoas.
A diferença entre a origem da renda da família agrícola e pluriativa com a nãoagrícola, pode ser atribuída ao tempo dedicado à execução das atividades das pessoas ativas em
cada uma delas. Neste sentido, normalmente, a ocupação em atividade não-agrícola ocorre com
dedicação exclusiva e fora dos limites do domicílio ao qual pertence à família, caso dos
assalariados na área urbana e em outro local rural. No caso da família agrícola, existem ainda as
rendas advindas de outras fontes (6,6%) e de inativos (2,6%), que são iniciativas concretas de
complementação da renda domiciliar, através de novas fontes de renda para garantia da
continuidade do negócio, além de pessoas aposentadas entre os residentes.A família não-agrícola
é que apresentou o menor montante de rendimento anual de autoconsumo (R$183,88)
comparativamente aos demais tipos de família. Isto pode ser atribuído, em parte, ao fato de que as
pessoas ocupadas da família estão na totalidade voltada às atividades fora do âmbito da
agropecuária, e com isso se utiliza menor proporção de produtos produzidos no local da moradia.
O tipo de família pluriativa possui a maior renda média familiar advinda de outras
fontes (R$974,73), quando comparados aos demais tipos de famílias, e isto podem ser atribuídos
à maior variabilidade de opções de execução de atividades disponíveis no mercado de trabalho
fora do âmbito do domicílio e que poderão ser executados pelos membros ativos da família. O
maior rendimento de pessoas inativas foi constatado na família agrícola e pluriativa, sendo que o
montante verificado na primeira é superior (50,0%) em relação à segunda.
Considerando-se o rendimento liquido per capita das famílias nota-se que o maior
montante está na família não-agrícola, seguida da agrícola e da pluriativa. Vale ressaltar que a
família não-agrícola possui mais que o dobro de rendimento per capita do que a família
pluriativa.
3.6- Destino do rendimento individual
A destinação do rendimento obtido por cada membro ativo da família, é efetuada de
forma predominante para o fundo de renda da família (50,0%), seguido para uso próprio (28,6%),
e a combinação entre uso próprio e para o fundo de renda da família (21,4%), (Tabela 08).
Tabela 08. Distribuição relativa dos rendimentos dos residentes segundo a destinação, Patrimônio Espírito Santo município de
Londrina-PR, 2001.
Destino dos rendimentos
%
Somente para uso próprio
28,6
Para uso próprio e para o fundo de renda familiar
21,4
Somente para o fundo de renda da família
50,0
Total
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
A predominância do fundo familiar como o principal destino da renda individual
ilustra que a abordagem da economia familiar continua como um procedimento válido, ainda que
significativa parcela da renda individual seja destinada ao uso próprio. Para se fazer inferências
acerca da dissociação do uso da renda recebida seria necessário analisar a distribuição da renda
segundo os integrantes da família considerando: os cônjuges, agregados e os filhos por idade e
sexo (pois pode haver filho ou filha se preparando para o casamento ou para deixar a casa dos
pais).
4- Conclusão
A análise dos dados da pesquisa de campo no Distrito Espírito Santo situado no
município de Londrina, reforça as constatações de pesquisas congêneres e de maior amplitude de
que, mesmo na área denominada pelo IBGE de rural agropecuário, as atividades agropecuárias
não mais respondem exclusivamente pela dinâmica da ocupação e renda das pessoas residentes
das áreas rurais. Atesta isso, primeiro a presença de cerca de 1/3 das famílias com atividades
agrícolas e não-agrícolas (pluriativa) e, segundo, o fato de que 13,3% das famílias amostradas
ocupam-se exclusivamente de atividades não-agrícolas. Em termos de fontes de renda, as de
origem não-agrícola representam uma terça parte da renda total das famílias, ficando patente a
importância da pluriatividade nas famílias na área denominada de rural agropecuário.
As atividades não-agrícolas, na sua maior parte, são realizadas pelas pessoas que se
assalariam em local distante do domicílio e na área urbana, fazendo com que significativa parcela
dos domicílios rurais limitem-se apenas à função de moradia, visto que a produção de
autoconsumo nesses domicílios não é uma atividade freqüente e quando ocorre participa com
uma fração inexpressiva da renda total.
O grau de escolaridade das pessoas é maior entre aquelas pertencentes à família
não-agrícola e em último lugar na agrícola, sendo que, somente nesse tipo de família é que se
verificou a presença mais acentuada de pessoas analfabetas e semi-analfabetas. Tal resultado,
certamente está associado à presença de atividades agrícolas na família pluriativa bem como o
maior rendimento monetário da família não-agrícola.
A renda da família é advinda, predominantemente, do trabalho, enquanto que a
renda oriunda da produção de autoconsumo tem sua importância decrescente de acordo com o
tipo de família, como a seguir: 19% na família agrícola, 10,2% na pluriativa, 9,8% na nãoocupada e 1,0% na não-agrícola.
O destino da renda recebida pelas pessoas da família está se diferenciando da antiga
forma presumivelmente utilizada, isto é do fundo comum da família, para a individualização do
destino de seus rendimentos, cuja mudança pode ser atribuída ao decorrente fracionamento da
execução dos trabalhos realizados pelos membros nas atividades agrícolas ou não-agrícolas.
5- Bibliografia
COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ. Colonização e Desenvolvimento
do Norte do Paraná. Publicação comemorativa do Cinqüentenário da Companhia Melhoramentos
Norte do Paraná. 2ª edição. 1977. 295 p.
DEL GROSSI, M.E. e GRAZIANO DA SILVA, J. O Novo Rural: uma abordagem ilustrada.
Londrina. IAPAR, 2002, vol. I. (disponível em www.iapar.br publicações).
DORETTO,M.; LAURENTI, A.C.; DEL GROSSI, M. E. Tipos de estabelecimentos
agropecuários do estado do Paraná, 1995-96. IAPAR. Londrina, 2001. CD-ROM.
Pesquisas do Projeto RURBANO. www.eco.unicamp.br .Núcleo de Economia Agrícola.
Download

Caracterização das famílias residentes na área rural agropecuária