- Campo Grande-MS | Junho de 2009 | Ano XII | Edição 82 Todos somos responsáveis A limpeza das ruas de Campo Grande não é responsabilidade apenas das empresas contratadas para realizar este serviço. A população também tem a sua parcela de culpa quando age de forma imprudente, jogando lixo no chão, ou mesmo não se preocupando em separar, pelo menos, os resíduos secos dos molhados e os rejeitos. Na página de Cidades desta edição, o leitor vai conhecer a vida daqueles que trabalham com reciclagem de materiais e dos garis que, muitas vezes, enfrentam preconceito pelo estigma social que representam. Eles reclamam de pessoas que passam longe quando eles estão executando os seus serviços, ou mesmo de pais que ensinam os seus filhos a encararem essas profissões como menos nobres ou vergonhosas. Por outro lado, a sujeira em vários pontos da cidade, como a praça Ary Coelho, desperta comentários até mesmo de turistas, que estranham o fato de encontrarem sujeira à vista em um local tão central. Chafariz da praça Ary Coelho, sem água e com sujeira, é exemplo claro da necessidade de repensar a responsabilidade com o lixo wagner jean Página 04 Ciência & Tecnologia ana maio camila tomasi Alunos da capital vivenciam aula prática, na qual se deparam com problemas ambientais e buscam soluções Embrapa Pantanal auxilia pequenos produtores de Corumbá a produzirem e armazenarem feno Projetos científicos tentam aliar soluções de baixo custo e mínimo impacto ao meio ambiente Página 10 Educação ambiental deve aliar atitudes na escola e na família E ducação ambiental começa na família e deve ser complementada pela escola. Na página da editoria de Meio Ambiente, o leitor vai encontrar exemplos de professores da rede pública e particular que procuram levar os seus alunos além dos limites da sala de aula, para que eles entrem em contato com a natureza, se deparem com problemas ambientais e busquem soluções em conjunto, como o plantio de mudas, por exemplo. Na mesma página, as regras do Ministério da Educação para a educação ambiental nas escolas, que deve ser interdisciplinar e trabalhada no sentido de conscientizar os alunos a respeito da importância de repassar informações sobre conservação e preservação nas comunidades em que vivem. Página 13 elis regina Rural • Página 12 Momento é de cautela no agronegócio de MS Apesar de alguns produtores acreditarem que o pior momento da crise econômica já passou, especialistas recomendam cuidado ao assumir dívidas 02 Unifolha OPINIÃO CAMPO GRANDE-MS | JUNHO - 2009 Imoral mesmo é Humanização o preconceito! EDITORIAL R egistrar os acontecimentos pela perspectiva do ser humano é a forma de resgatar um jornalismo com vocação social. Em tempos de crise econômica mundial, acompanhamos várias reportagens em que os números, as projeções, as estatísticas estão no centro e os personagens e a humanização, ficam em segundo plano. No trabalho desenvolvido pela disciplina Técnicas de Reportagem e Entrevista Jornalística com os acadêmicos do terceiro semestre do curso de Jornalismo da Universidade Anhanguera-Uniderp, o qual os leitores podem acompanhar nesta edição do jornal-laboratório Unifolha, a humanização é uma ordem. Ao pensar democraticamente nos temas de cada página, que são geralmente desdobrados em três reportagens, com ângulos diferenciados da mesma questão, cada grupo apresenta aos colegas as possibilidades de enfocar os assuntos pela perspectiva de quem está diretamente envolvido com eles. Na página de Cidades, a vida dos garis e catadores aparece com profundidade, inclusive com denúncias de preconceito social. A decadência do Operário Futebol Clube, em Esportes é abordada a partir do lamento de um torcedor inconformado. Em Política, o cidadão está no centro, reivindicando os seus direitos. Dessas experiências de aproximação com as fontes, o acadêmico sai transformado. E entende perfeitamente a vocação humanizadora da profissão que exercerá. CHARGE flávia silveira Sexualmente resolvidas Adeline Fernanda Adriana Queiroz 3º semestre A questão da sexualidade envolve discussões muito sérias sobre o bem-estar. Segundo a Declaração dos Direitos Humanos, os direitos sexuais são universais, baseados na liberdade inerente, dignidade e igualdade para todos. Dentre vários temas, a sexualidade envolve reflexões sobre gênero. Percebe-se, ainda, a forte presença do sexismo, uma prática que subestima a mulher e valoriza o homem. A psicóloga Zaíra, em entrevista à revista “Conversação”, conta que há livros recomendados pelo Ministério da Educação (MEC), em que aparecem cenas condenáveis: por exemplo, o marido na sala, sentado, lendo jornal, e a mulher na cozinha, trabalhando. O médico e a enfermeira, o engenheiro e a decoradora. Ou seja, as profissões das mulheres aparecem inferiorizadas em relação às dos homens. A partir do movimento feminista, em 1968, a compreensão sobre a equidade de gênero foi gradativamente melhorando. A mulher foi ganhando espaço na sociedade, adquirindo cada vez mais responsabilidades no trabalho, na família e fazendo suas escolhas pessoais e sexuais. Em Campo Grande-MS, existem vários projetos voltados para a questão da sexualidade. Um deles é o Projeto Viva Menina, executado pelo Instituto Brasileiro de Inovações pró-Sociedade Saudável (IbissCO). Seu objetivo é trabalhar a educação sexual e reprodutiva, propiciando conhecimento às meninas índias e negras dos meios rurais e que convivem com a realidade das doenças sexualmente transmissíveis (DST). Esse conhecimento pro- porciona a elas um melhor preparo para a vida sexual. O problema é que nem sempre, os meninos estão preparados para lidar com meninas informadas e, muitas vezes, bem resolvidas. Para não parecer desinformado, o menino não leva a sério o conhecimento sobre sexualidade e acredita que ele só deve fazer o seu papel que é “pegar as meninas”. Mas, nem sempre, a culpa é deles. Além da própria educação vinda de casa, as campanhas e orientações são voltadas mais para as mulheres, e isso tem reflexos na falta de conhecimento. No caso das mulheres, o mito de que só quem tem relação sexual deve procurar o médico, tem de ser quebrado. As meninas precisam de orientação sobre saúde e orientação reprodutiva. Se a adolescente tem consciência dos métodos preventivos, a gravidez será evitada, seja agora, ou quando iniciar-se sexualmente. A sexualidade nos permite refletir também sobre um grave problema, o da violência contra a mulher, que tem vários âmbitos. Violência sexual, no trabalho, doméstica, psicológica, entre outras. Com o passar dos anos, as mulheres conquistaram vários direitos de exercer seu papel na sociedade, com dignidade. Um exemplo recente é a lei Maria da Penha, de setembro de 2006, que deu mais segurança para as mulheres, na certeza da punição do agressor. Os dias de agressão não chegaram ao fim. Mesmo com a lei, esse problema está longe de acabar. Mas, já é um avanço as mulheres terem para onde recorrer, caso sejam violentadas. A tendência é que isso diminua gradativamente. E, viver sem violência, com respeito e dignidade, é um direito de todas as mulheres brasileiras. Unifolha – Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade AnhangueraUniderp Ano XII - Nº 82 - junho de 2009 - Tiragem 5 mil exemplares. Obs.: As matérias publicadas neste veículo de comunicação foram produzidas pelos acadêmicos do 3ª semestre do curso de Jornalismo da Universidade AnhangueraUniderp (N 30). Chanceler- Professora Ana Maria Costa de Souza Reitor: Professor Guilherme Marback Neto Vice-Reitora: Professora Heloisa Gianotti Pereira Pró-Reitor Administrativo: Antonio Fonseca de Carvalho Joana Moroni Lane Nakasone Élida Monteiro 3º semestre A Constituição brasileira diz que o Estado fundamenta-se, entre outros pontos, na cidadania e na dignidade da pessoa. Também, são objetivos fundamentais: construir uma sociedade livre, justa e solidária, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Mas, se o Estado é laico, e se a Constituição é objetiva, por que legislam alicerçados em morais particulares? Os profissionais do sexo, homens e mulheres adultos, merecem um olhar que ultrapasse questões de moralidade. Merecem ser contemplados por ajustes sociais que não se limitem à incompetência do poder público, à volubilidade ideológica dos políticos frente à manipulação e à chantagem das religiões. Tampouco, a sociedade deve acreditar que a norma é o fim, e que as leis são absolutas, monolíticas. Elas são ferramentas. A finalidade é a justiça, a liberdade e o bem-estar do coletivo e de cada um que a compõe. A ironia está no fato de que os que legislaram no sentido de criminalizar, marginalizar e negar as garantias trabalhistas aos profissionais do sexo, ao longo de toda a história do Ocidente, foram os homens, os mesmos que, também, ao longo da história, serviram-se do trabalho das prostitutas. Por exemplo, seguindo a lógica da legalidade, uma prostituta não tem o direito de interromper a gestação. Mas, se uma profissional do sexo engravidar, por quem será assistida? Elas têm direito a alguma espécie de segurogestação e licença maternidade? Não! Ela será obrigada, pelas circunstâncias e pelo descaso, a se prostituir com um filho no ventre. Em seguida, será massacrada pela opinião pública, pela mídia, pela igreja. Idem, no caso de um aborto. Como se não bastasse grande parte das prostitutas ter sido açoitada pela pobreza por toda a vida, são penalizadas igualmente, pelo machismo e condenadas por uma moral hipócrita. Pode ser que algumas prostitutas gostem de seu trabalho. Mas, existem aquelas que se prostituem por falta de possibilidades, e outras porque são obrigadas por terceiros. O sistema oferece alguma possibilidade de manejo profissional para as que querem outro tipo de trabalho? E quanto à aposentadoria? Serão, estas profissionais, idosas, entregues ao abandono, despejadas em asilos públicos, pedintes? A média salarial das mulheres ainda é inferior a dos homens. O acesso à escola foi restringido durante os séculos passados. A “domesticação” feminina molda-as para o lar, não para a vida. A tese da “livre sexualidade” não se libertou do plano conceitual. O corpo feminino é tutela do Estado... O que deve ser posto em questão não é se a prostituição é boa ou é ruim, bela ou horrenda, certa ou errada. A pergunta é: quem olhará para estas pessoas? Mas, com um olhar isento de desdém ou de asco! O foco é aquilo que é dever ético do Estado. E, mais importante, o objetivo deve ser uma profunda transformação moral da sociedade, no sentido de que os indivíduos parem de reproduzir discursos e comportamentos discriminatórios, herdados de ideologias medievais para, enfim, olhar o próximo com compreensão e respeito. Imoral mesmo é o preconceito! Menino e menina: um para cada lado? Lane Nakasone Elida Monteiro 3º semestre Meninas para um lado, meninos para outro. Começamos assim, a mudar o pensamento de uma criança na infância. O menino tem que ser forte e robusto. A menina meiga e organizada. Será que é assim mesmo que funciona? Segundo a psicóloga Zaíra de Andrade Lopes “Na educação infantil, os direitos sexuais ainda não são contemplados, ainda não estão presentes”. E continua “Que a sexualidade permeia todas as relações humanas, e que a idade para se começar a educação sexual é quando a criança começa a sentir curiosidade”. No mundo contemporâneo, os pais conseguem inibir quase todas as etapas da criança. Antes mesmo de nascer, a criança já tem todo seu futuro traçado. O conteúdo da mídia influencia também, especialmente, a televisiva. O que era antes restrito aos adultos, é exposto agora, para todas as faixas etárias. Crimes, guerras, corrupção, intolerância religiosa. E tudo isto expulsa a criança da infância para a fase adulta. A mulher moderna transfere para a escola a obrigação de educar. Por outro lado, a escola se esquiva, já que os pais têm responsabilidades e devem ficar atentos para qualquer mudança comportamental. Segundo Freud “Os lábios da criança, comportam-se como zona erógena e sem dúvida, o morno do fluxo do leite é a causa da sensação do prazer.” Hoje em dia, é fácil acharmos crianças de 1, 2 ou 3 anos beijando na boca. E os pais, tios e amigos, dão risadinhas e indagam “Quem é seu namorado?”. As garotas vestem roupas curtas e sensuais, imitando ícones da televisão e dan- Pró-Reitor de Graduação: Professor Eduardo de Oliveira Elias Pró-Reitor de Extensão: Professor Ivo Arcângelo V. Busato Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Professora Elizabeth Tereza Brunini Sbardelini Diretor de Controle Acadêmico: Professor José Luiz Ramirez Coordenador do curso de Jornalismo: Professor Marcos Rezende Morandi DRT/ MS 067 Jornalista responsável: Professor Alexandre Maciel (DRT/MS 162) Revisão: Professor Mário Márcio Cabreira (DRT/MS 109) çarinas de plantão. Há pouco tempo, as crianças eram repreendidas caso mencionassem algo referente à sexualidade. Hoje, a criança sofre excesso de estímulos. É bombardeada e vive um processo de erotização precoce. “A sexualidade infantil é diferente da sexualidade adulta, não contêm os mesmos componentes e interesses”, afirma a psicóloga Nina de Oliveira. A importância das palavras no momento certo, ditas com simplicidade, estimula a curiosidade da criança. À medida que esta curiosidade vai aumentando, vai crescendo, também, a responsabilidade dos pais com o desenvolvimento emocional dessa criança. Quase sempre os pais não se sentem à vontade, para falar desta questão. Começam a argumentar com tal clareza de um adulto, para se livrar logo, e não ter que abordar nunca mais esse assunto. E, com isto, revela-se muito mais do que a necessidade da criança. Quando começam as perguntas “Como fui parar na sua barriga?”, o caos se instaura, sem que se perceba que a criança não quer saber detalhes, mas algo que satisfaça a sua curiosidade infantil. A satisfação desta curiosidade leva a criança a ter o desejo de saber mais. Já o excesso de informações pode gerar uma tensão desnecessária naquele mini-adulto, ao qual não nos esforçamos para entender. Muitos educadores acham exagero falar abertamente sobre sexualidade, na infância. Mas, dentro da família, quando a criança começa a entender o que é permitido e o que não se pode fazer, já está sendo iniciada a educação sexual. Projeto Gráfico 2005: Ana Paula Novaes - Andréa Roselle - Brasleif Adriano - Cândida Piesanti - Edilaine Maira - Élika Gonçalves - Emídio Denardi - Evllyn Rabelo - Flaviane Bueno - Gildo Araújo - Gizelli Xavier - Isabel Rodríguez - Janiel Chaves - Jucyllene da Silva Castilho - Juliano Salles - Laila Carriel - Marco Aurélio Ribeiro - Mariana Conte - Mário Daude - Marithê Cogo - Michelly de Alencar - Natália Souza - Paulo Donato - Pedrina Gomes - Priscila Evaristo Teixeira - Renato Lima - Reneide Casagrande - Rodrigo Gordin - Simone Prieto - Thiago Ferreira Viviane Cunha - Viviany Gomes - Yvelaine Isabela e professor Carlos Kuntzel Edição de fotos: Professora Elis Regina Nogueira (DRT/MS 090) Impressão: Gráfica A Crítica Projeto Gráfico, Diagramação e Tratamento de Imagens: Professor Carlos Kuntzel DRT/MS 041 Unifolha - Rua Ceará, 333, bairro Miguel Couto, Campo Grande-MS. CEP 79.003-010 Tel: (067) 3348-8096. www.unifolha.com.br E-mail: [email protected] Unifolha CAMPO GRANDE-MS | JUNHO - 2009 política 03 PODERES - REPRESENTAÇÃO Pessoas comparecem à Câmara de Campo Grande, por diversos motivos Defensoria Como falar com seu representante Sociedade pode processar o Poder Público joana moroni Bruna Lourenço Gabriel Maymone 3° semestre “Acho que o interesse dos eleitores poderia ser maior no plenário. Poucos acompanham a sessão, hoje em dia”, exclama Vítor Yoshihara, assessor do vereador Mário César (PPS). A população tem o dever de acompanhar a atuação de seus representantes e participar mais ativamente do cenário político. O cidadão pode, por exemplo, apresentar sugestões ou projetos de leis aos vereadores. O contato com os parlamentares pode ser feito por meio de e-mail ou telefone, que estão disponíveis no site www.camara.ms.gov.br. Ou o cidadão pode optar por ir pessoalmente à Câmara Municipal de Campo Grande, que fica aberta de segunda à sexta, das 6h30 às 18 h. O vereador tem somente poder Legislativo. Suas funções são: licitar obras e outras benfeitorias para o município; votação da Lei Orgânica do Município e legislar sobre assuntos de interesse local. “As ligações são constantes. Na maioria delas, são cidadãos dos bairros em busca de apoio para as soluções de problemas locais, como iluminação pública, tapaburacos”, afirma Rogério Zanetti, assessor político do vereador Vanderlei Cabeludo (PMDB). Entretanto, todos os dias, a Câmara recebe muitas pessoas fazendo todo o tipo de pedido. “Tudo o que você pensar. Ajuda pra festa de casamento, de 15 anos, até dinheiro de viagem pra ir pescar”, explica Arno Antônio Cantarelli, o assessor político de Paulo Siufi (PMDB). Normalmente, cada cidadão procura o parlamentar mais próximo dele, ou de acordo com o que deseja. “Quando é algo da saúde, procuram o Paulo Siufi ou o Dr. Jamal, que são médicos. O Marcelo Bluma, porque é engenheiro. Ou, então, procuram o Alcides Bernal e o Vanderlei Cabeludo, que são radialistas”, completa Arno Cantarelli. Já Celma Amarília, que foi buscar ajuda em vários lugares e não obteve êxito, diz “Vim no Alcides Bernal, porque escuto ele na rádio. Talvez, ele possa me ajudar”, comenta, esperançosa. Diferentemente dela, não são muitas as pessoas que vão à Câmara. A maioria acredita que para conseguir falar com um representante político é preciso ter um bom contato lá dentro. “Para quem não tem um contato, deve ser mais dificultoso”, acredita Luíza Carvalho, da instituição Cindoméstica, que estava agendada para falar com o presidente da Câmara. Outro caso é o de Maria Auxiliadora Vilela, que foi à Câmara tentar marcar um exame de saúde para seu neto. Ela afirma que nem tinha pensado que conseguiria resolver seu problema no gabinete de um vereador. O acesso aos parlamentares é fácil. Qualquer um pode ir à Câmara e “para falar com o vereador, basta agendar um horário”, garante Leo Marques, assessor do vereador Lídio (PP). Ao ser questionado sobre o papel que os vereadores estão habilitados para fazer, Leo responde “Assuntos sobre responsabilidade legislativa, fiscalização, projetos, entre outros”. Mas, nem todos são atendidos prontamente. Como é o caso do pastor Noel Lopes Moraes. Esta é a décima vez que ele comparece à Câmara, na tentativa de agilizar a documentação de uma Igreja. “Durante a campanha, os vereadores vão à Igreja oferecer seu apoio. Depois, a gente encontra a porta do gabinete fechada”, desabafa, à espera do início da sessão do plenário. Entre pedidos fúteis e suplicas por ajuda, é importante ressaltar a necessidade de o cidadão manter sempre contato com o seu parlamentar. O voto não se exprime apenas na eleição, e sim, no dia-a-dia, na proximidade com os nossos representantes. Mariana bianchi Maria Auxiliadora Vilela compareceu à Câmara de Campo Grande, para tentar marcar, com um vereador, uma consulta médica para o neto Defensoria Pública atende os cidadãos em busca de soluções de justiça Joana Moroni 3º semestre Atrasos recorrentes de salários de servidores, bairros sem energia, ruas com buracos, inundações freqüentes em uma região, ausência de agentes de segurança, obras que degradem o meioambiente, falta de postos de saúde ou, até mesmo, revisão das prioridades orçamentárias do governo, entre outros temas, podem gerar ações judiciais contra o poder público. Segundo a defensora pública Neyla Ferreira Mendes, a sociedade pode pleitear soluções para qualquer tipo de ausência de políticas públicas ou a execução irresponsável destas. Outro exemplo é quando as políticas públicas não são universais, portanto, discriminatórias e sectárias, beneficiando apenas um grupo da sociedade. Nesses casos, a sociedade pode interferir na administração pública, recorrendo a duas modalidades de ação: a civil pública e a popular. Ação Popular é considerada ação para o coletivo, mas movida por um cidadão. Isso significa que o impacto das ações não pode ser apenas individual. Deve contemplar a coletividade, portanto. A Lei que regula a Ação Popular considera patrimônio público “os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico”. Também, diz que qualquer cidadão será parte legítima. Entende-se como cidadão aquele que esteja em dia com a justiça eleitoral. No caso da Ação Civil Pública, a lei especifica que são as ações de responsabilidade por danos causados: ao meio-ambiente; ao consumidor; a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico “ou qualquer outro direito difuso ou coletivo”, ressalta a defensora pública. A Ação Civil Pública pode ser movida por pessoas jurídicas: Ministério Público estadual ou federal, organizações não-governamentais ou associações de bairros, por exemplo. É importante que a entidade que acione tenha “pertinência temática”. Logo, se a motivação é ambiental, que a parte ativa seja uma entidade voltada ao meio ambiente. Quando existem “vários problemas com o mesmo fundo, pode se ajuizar uma só ação”, ou seja, é possível reunir várias demandas e fazer uma ação coletiva, popular ou pública. Neyla explica que “a ação pode ser movida contra todo agente público” - seja ele do Legislativo, do Executivo ou Judiciário, incluindo os próprios defensores públicos. Para os que não têm condições de arcar com um advogado particular, recomendase procurar a Defensoria Pública e marcar uma consulta com um defensor para discutir a viabilidade da ação, aconselha Neyla. Por isso, é importante comparecer com documentos que fundamentem a ação em mãos. E, quanto às promessas feitas por um político, durante a campanha eleitoral, e jamais cumpridas? “Aí, estamos no campo da Ética e da Moral”. Ela justifica que, geralmente, as promessas são muito “abstratas e genéricas”. Neyla diz que “uma promessa mais específica” pode até gerar uma ação de reparação de danos morais. “Mas, via de regra, acho que não seria possível”. Ela lamenta que agentes da justiça insensíveis, corruptos ou ideologicamente comprometidos, sejam empecilho para a efetivação dos direitos coletivos por meio desses procedimentos. Mas “um judiciário comprometido com a cidadania, pode resolver muitas questões”. Executivo: todo poderoso... mas, nem tanto Samuel Ota 3º semestre No município, o prefeito é o maior representante do poder Executivo. É o cargo mais disputado pelas facções políticas de um município, a chave para as mudanças. É o representante do município nas suas relações jurídicas, políticas e administrativas. E, devido à importância de suas funções, do seu papel, resulta que ele não é um funcionário, mas um agente político responsável pelo ramo executivo do município. Devido a esse fato, o prefeito não é subordinado a outras autoridades, apenas à lei. Em relação a estas, ele deve acatá-las. Assim como aos mandados judiciais, igualmente a qualquer autoridade ou pessoa. Por seu trabalho ser amplo, é dividido em secretarias, institutos, departamentos que atendem a população, de diversas formas. Toda a ação da prefeitura tem que ser autorizada pela Câmara de Vereadores antes de ser executada. Não se pode gastar dinheiro algum sem ter o veredicto dos parlamentares. No poder Executivo maior de uma nação, o presidente pode legislar por meio das medidas provisórias. No município, pelo Artigo 67, XIII parágrafo, da lei Orgânica Municipal “editar medidas provisórias com força de lei, nos casos de calamidade pública”. Mas, também, temos na Lei o Art. 38 “Em caso de calamidade pública, o Prefeito Municipal poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato à Câmara Municipal que, estando em recesso, será convocada extraordinariamente para se reunir no prazo de cinco dias”. Se o prefeito pode legislar, não há separação dos poderes. E, se fosse apenas um partido, todos amigos, como um só corpo, isso seria bom? Se houvesse essa união, será que proporcionaria um maior desenvolvimento ou mais corrupção e “absolutismo”? O conflito resolveria? Muitas reivindicações deixam de ser atendidas, por serem de partidos diferentes. “Tudo que está em contradição, tende à destruição”. Todo trabalho do poder Executivo pode ser conferido diariamente, no jornal Diogrande, ou pelo site da prefeitura, em que o documento pode ser encontrado em PDF. O poder Executivo tem o poder de fazer, assim como você. Mas o que você irá fazer com esse poder, só você sabe. 04 Unifolha CIDADES CAMPO GRANDE-MS | JUNHO - 2009 A vida por trás de uma profissão Aryana Lobo 3° semestre As pessoas não identificam pequenos sinais do nosso dia-a-dia. Quando decidi procurar trabalhadores que, muitas vezes, não são notados, pude entender como o ser humano é egoísta. Ao longe, avistei um senhor saindo de um lugar intrigante. Fiquei esperando até que pudesse chegar mais perto, para poder saber mais sobre ele. Um homem tranqüilo e humilde. Era Antônio Francisco Alexandre, 71 anos vividos. Ele possui história de vida interessante, assim como milhares de outras pessoas que esperam um dia poder compartilhar. Antônio já trabalhou na roça e, também, como pedreiro. Mas, hoje, é mais um aposentado no Brasil. A curiosidade de sua história foi que, depois de aposentado virou um reciclador. Optou em não ficar parado, porque diz que “véio”, quando se aposenta, fica chato e precisa fazer alguma coisa. E, pensando dessa forma, tem a absoluta certeza de que o que faz é tão significativo para as pessoas, como qualquer outra profissão “Estou limpando a natureza, ajudando a tirar o lixo da rua”, diz, todo orgulhoso. Conta, com ressentimento, que já sofreu preconceito e foi com uma criança que o apontou com desdém por ser um homem de rua que catava lixo. “Infelizmente, dei uma resposta feia. Não para a criança, e sim pra mãe dela, que não explicou que eu não era isso”. Há cinco anos, sai de segunda a sexta, às 7h30, e volta às 11 horas. Por dia, percorre cerca de 17 quilômetros. Faz isso porque gosta e não porque precisa. “Não passo fome, nem nada”. Vive com a esposa, a quem, carinhosamente, chama de “véia”. Quando sai à procura dos materiais que, posteriormente, serão vendidos, pega tudo o que pode pelo caminho. “Eu não deixo nada pra trás”. E, ao chegar em casa, sua esposa já começa a ajudar. Separam os que vão e os que não vão para a empresa de reciclagem. Já participou de um curso de reciclagem na prefeitura e que foi de grande Aryana Lobo Antônio Francisco, aos 71 anos, trabalha de segunda a sexta-feira, à procura dos materiais recicláveis valia. “Todo mundo tem que fazer cursinho. Não paga nada, e eles ainda deram roupa, calçado, luva e boné”. Ele possui um diferencial dos outros recicladores. Garante ter um acordo com algumas empresas que separam esses produtos exclusivamente, para ele. E o que mais deu destaque de tudo isso, foi que ele possui car- tão de apresentação. O legal é que está em destaque a palavra “reciclagem” e, embaixo, “agente autônomo”, com telefone e endereço. “Às vezes, eles ligam, e eu só vou buscar. Quando é muito, peço pra alguém me ajudar. Mas já cheguei a carregar 240 quilos nesse meu carrinho”. Lembra-se de quando já chegou a receber quase R$ 600,00 por semana. Mas, que, agora, com a crise, consegue no máximo R$ 200,00. “Por isso, eu prefiro vender mais plástico, porque custa R$ 0,30”. Empresas - Quem também reclama dessa crise são os donos de empresas de reciclagem. Gilberto Miguel, sócio de uma, diz que a crise mundial afetou todos os ramos. Um exemplo é a latinha, pela qual já pagou R$ 3,50 e que, agora, caiu para R$ 1,50. O material que compra dos recicladores vai para as fábricas, que o utilizam para produzir objetos. E, argumenta, dizendo que seu trabalho é muito importante. “Se não fosse a reciclagem, como ficariam essas garrafas pet na natureza?”. E ressalta que todos os materiais que chegam até a firma são bem limpos e armazenados de forma segura, para evitar doenças. Gilberto critica o governo por falta de estímulo. “Acho que deveria existir mais incentivo do governo. Muitas vezes, essa profissão não é reconhecida”. Atua nesse ramo desde 1973, por influência do pai. Pretende passar para outras gerações, mas receia que não vá muito longe. “Eu queria que fosse, mas do jeito que tá, é difícil”. Tanto Antônio quanto Gilberto vivem em função dessa atividade e se consideram felizes. Temem pela crise, mas não se deixaram abater. E esperam um dia serem reconhecidos como profissionais importantes, independente de classe social. Garis alegam que são alvo de preconceito Roberta Cáceres 3º Semestre De madrugada, de dia, ou à noite, sol ou chuva, dia santo ou festivo, feriado ou expediente. Não importa! Os garis e lixeiros, como são conhecidos os profissionais da limpeza, trabalham indispensavelmente, todos os dias. Na maioria, são homens de idade média, semi-analfabetos. Muitos são pais de família, que trabalham em mais de um emprego, ou fazem “bicos” nas horas de folga. Em geral, são bem dispostos e descontraídos, com o sorriso nos lábios e calos nas mãos. Nos olhos, demonstram a inocência de uma criança, Roberta cáceres Profissionais da limpeza sofrem o drama da invisibilidade social e com o estigma cultural da sociedade preocupados em agradar e ajudar aqueles que pedem informação. José Cícero da Silva conta a infeliz experiência que teve ao ir a uma farmácia, quando estava uniformizado. Uma criança perguntou se ele estava com fome. Sobre o acontecimento, ele expressa indignado “Nós não passamos fome não! Somos trabalhadores como todos os outros!”. José Cícero acredita que a discriminação começa dentro de casa, passada de pai para filho. E que as escolas poderiam ajudar para diminuir o preconceito. Os garis reclamam da falta de educação de algumas pessoas, que passam e os ofendem, com apelidos maliciosos, como: “Ô seu cheiroso!”. E de pessoas que desviam, passando bem longe, quando eles estão varrendo, ou que deixam de responder a um bom dia, só pelo fato de estarem uniformizados. No entanto, não são com- preendidos como trabalhadores honestos, que varrem ruas, como qualquer outro batente. Não bastasse o ato de discriminação e ignorância, os profissionais da limpeza também sofrem o drama da “invisibilidade social”, ou seja, pessoas que não são reconhecidas e valorizadas por utilizarem uniformes. Nas lixeiras ou nos caminhos varridos, são encontrados os mais distintos objetos. Desde fraldas descartáveis, cédulas de dinheiro, telefones celulares, documentos, fetos uterinos, objetos de valores, roupas e alimentos. Zezito Sales do Amaral, supervisor da Cobel, trabalha há 13 anos, na empresa terceirizada pela prefeitura de Campo Grande, por licitação pública, na área de limpeza urbana. A empresa Cobel trabalha apenas com a varrição de ruas centrais e emprega, em média, 160 funcionários. São recolhi- das, por dia, aproximadamente 20 toneladas de resíduos, como são chamados os diversos tipos de lixo encontrados nas ruas. Possui três caminhões para coletar apenas os resíduos varridos pelos seus funcionários. Zezito deixa claro que a empresa só emprega homens, por falta de uma maior estrutura. “Não é discriminação!”. Para empregar mulheres, necessitaria de banheiros femininos e armários. Os profissionais da limpeza têm o apoio do Sindicato de Asseio e Conservação, que luta por melhores salários e benefícios. Eles trabalham sete horas e 20 minutos por dia, com uma hora de intervalo, recebem vale-transporte, ticket-alimentação e cumprem suas funções de segunda à segunda, completando 44 horas semanais. Em troca, recebem um pouco mais que um salário mínimo, com acréscimos anuais. Educar para conscientizar é solução para lixo na rua Luciana Ábrego 3º semestre Um passeio pelas ruas de Campo Grande é suficiente para notar o descaso de algumas pessoas em relação ao lixo que é jogado nas calçadas e vias da cidade. É o papel de uma bala, um saquinho de salgadinho, um potinho de sorvete e, por aí, vai a lista enorme de coisas que são jogadas ao chão, todos os dias, sem a menor preocupação de quem irá limpar depois toda essa sujeira. É impressionante como algumas pessoas passam por várias lixeiras, mas preferem jogar o lixo no chão. “Uma amiga minha veio de Curitiba, passear aqui, e ficou horrorizada com a sujeira da cidade, principalmente, da praça Ary Coelho”, conta Eletiva de Jesus. Um local bonito, mas de que, infelizmente, as pessoas não cuidam. Édson Figueira, motorista de ônibus que sempre está transitando por vários pontos da cidade, ressalta que deveria haver guardas para multar as pessoas que jogam lixo no chão, pegando o número do CPF e RG. “Só assim, as pessoas aprendem. Já pensou se a Copa do Mundo fosse aqui, e os turistas encontrassem uma cidade suja? Que vergonha!’’. Em alguns países, como Estados Unidos e Cingapura, são cobradas multas pesadas para quem joga lixo no chão, e o interessante é que, de fato, as regras nesses países funcionam. No caso do Brasil, que ainda não tem legislação mais clara a esse respeito, duvida-se que uma normatização dessas seria cumprida aqui. Infelizmente, a conscientização só acontece quando o bolso é atingido. Fernando (preferiu não fornecer o seu sobrenome), um senhor de cabelos grisa- lhos, que sempre está pela praça Ary Coelho, acredita que a educação começa em casa, mas que a escola poderia desempenhar o papel de conscientizar as crianças e os adolescentes a respeito do lixo que é jogado nas vias públicas. “Se a mãe ensinar a criança desde pequena, quando ela crescer, não vai jogar lixo no chão. Outro dia, passaram alguns turistas por aqui, que estavam indo para Bonito, e disseram que entre as cidades que eles visitaram, Campo Grande era a mais suja. As praças deveriam ser o cartão-postal da cidade. Mas, aqui não é visto assim”. Outra reclamação feita pelos freqüentadores da praça é com relação aos hippies e as ciganas que sempre estão no local. Eles tomavam banho nas torneiras da praça e, inclusive, a fonte teria sido desativada porque mendigos e pedintes usavamna para fazer sua higiene, em plena praça pública. Quando se chega ao local, o que chama a atenção é o mau cheiro dos banheiros, que não são lavados regu- larmente. Um freqüentador da praça diz ter comprado, com dinheiro do próprio bolso, desinfetante para jogar nos sanitários, para acabar com o odor ruim. Resolveu o problema por alguns dias, mas, como ele não comprou de novo, a situação voltou ao que era. Wagner jean Descaso com relação ao destino final do lixo, muitas vezes, é responsabilidade da população Unifolha CAMPO GRANDE-MS | JUNHO- 2009 economia 05 FRIGORÍFICOS - CRISE Wagner jean Exportações enfrentam recuo Bruna Lourenço Gabriel Maymone 3º semestre “Há compensação entre a oferta e a procura no mercado de carnes”, diz o coordenador do Nepes, José dos Reis Preço da carne teve poucas alterações Elizângela Gomes Carlos Pereira 3º semestre Alheios ao que se passa entre donos de frigoríficos e produtores de gado, estão os consumidores, que ainda não foram atingidos pela crise. Perguntados se tinham conhecimento do que está ocorrendo com relação às demissões, dívidas e renegociações dos frigoríficos, mais precisamente do Independência, alguns deles, como é o caso da vendedora Tereza Rodrigues, de 48 anos, responderam “Eu sei que muitos frigoríficos estão fechando. Agora, não sei por quê? Achei que o preço da carne subiu, sim”. Os consumidores estão informados quanto às demissões que ocorreram, mas desconhecem o problema pelo qual estão passando os credores dos frigoríficos. Os que dizem conhecer são porque possuem algum amigo ou parente que seja credor, como é o caso da vendedora Marlene Zanin, 61 anos. “Tenho amigos que perderam o equivalente a R$ 500 mil. Mas, com relação ao preço da carne, a crise ainda não atingiu o consumidor não”. Já o açougueiro Rogério Gonçalves Larrea, 25 anos, afirma que não houve muita alteração, pois o preço da carne está estável. “O filé mignon está mais baixo com relação ao ano passado, de R$ 22,00 para R$ 16,00 agora”. Rogério tem razão, segundo os dados do Índice de Preços ao Consumidor/Campo Grande (IPC/ CG) calculado mensalmente, pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas e Sociais (Nepes), vinculado à Universidade Anhanguera-Uniderp, que mede o nível de variação dos preços mensais do consumo de bens e serviços. Comparativo da situação de consumo do mês de abril em relação ao anterior, de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos, mostra que o filé mignon custava R$ 17,77 no mês de março, e passou a custar, no mês de abril, R$ 16,51. Uma diferença de R$ 1,60 com relação ao que ele custava em setembro de 2008. A costela-ripa permanece no valor de R$ 5,53. “Há uma compensação entre oferta e procura”, explica o coordenador do Nepes, professor José Francisco dos Reis Neto. “De um mês para o outro, não teve alteração significativa no preço da carne”. A economista da Famasul, Adriana Mascarenhas, informa que “quando a arroba do boi cai, o consumidor não sente a diferença”. Segundo ela, precisa haver uma mudança na forma de comercialização entre produtores e indústria. “O produtor é o mais prejudicado. O reflexo é sazonal. Quando a arroba sobe, sentimos imediatamente”. A pecuária do estado passou por momentos delicados, de preços muito baixos do gado e febre aftosa, o que comprometeu o patrimônio dos pecuaristas. “Muitos tiveram que abater suas matrizes de vacas, porque precisavam fazer dinheiro. E isso refletiu na redução do plantel”, informa Adriana. A arroba do boi gordo, em maio, estava custando R$ 75,16. O aumento é de 7,74%, enquanto no mesmo período do ano passado, alcançou R$ 69,76, segundo dados do Rural Business. Em outubro de 2008, estoura o que seria a maior crise financeira desde 1929. Começou nos Estados Unidos e, em pouco tempo, atingiu diversos países, inclusive o Brasil. Em Mato Grosso do Sul, o setor mais atingido foi o agroindustrial. Devido à queda nas exportações, grandes frigoríficos ficaram prejudicados, pois não tinham para quem vender a carne. A alternativa foi vender o excedente para o mercado interno, que, antes, era ocupado pelos pequenos abatedouros. Segundo dados de Safras & Mercado, e da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações de carne bovina tiveram um recuo de 17,7% no primeiro trimestre de 2009. De acordo com o levantamento, o país registrou embarques de 424,626 mil toneladas, abaixo das 515,661 mil toneladas exportadas entre janeiro e março de 2008. Com a recessão mundial, os grandes importadores de carne acumularam dívidas com o setor. Consequentemente, os frigoríficos não puderam cumprir com os pagamentos dos produtores. Um exemplo disso é o frigorífico Independência, que deve cerca de R$ 50 milhões, a pecuaristas. Indicativos - Os primeiros sinais da crise no setor surgiram quando alguns abatedouros decretaram férias coletivas. “Quando um frigorífico dá férias coletivas, é sinal de problema. É um indicativo de crise. Uma empresa, quando quer continuar funcionando, vem com outra tática. Reduz a jornada, cria um banco de horas, diminui as despe- sas”. É o que afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação de Campo Grande, Rinaldo de Souza Salomão. Prova disso é que, em março deste ano, dos 36 frigoríficos com Serviço de Inspeção Federal (SIF) habilitados a abater bovinos no estado, 14 estão definitiva ou temporariamente fechados e mais de oito mil profissionais foram demitidos. Em Mato Grosso do Sul, o índice de desemprego superou a média nacional, chegando a 9,85% da população economicamente ativa, de acordo com a Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Renda (Seter). Um dos profissionais demitidos foi João Cardoso de Silva, 58. Ele trabalha com abatedouros, desde 1978, como desossador. Desempregado desde junho de 2008, acredita que a crise afeta primeiro as pequenas e médias empresas. Ex-funcionário da Indústria de Alimento e Desossa Livre, não imaginava que iria ser demitido “Nem imaginava que a empresa fosse chegar nessas condições”. Ele afirma que já viu crises feias, mas, como essa, ainda não. Casado e pai de quatro filhos, recebeu ajuda da família para sobreviver financeiramente, após o término das cinco parcelas de seu seguro-desemprego. “A base de uma família unida é um apoiar o outro”. Outro aspecto negativo da crise é a dívida com os ex-funcionários. Circulam na Justiça cerca de quatro mil processos de pessoas que não receberam a rescisão após serem demitidos. Para resolver a situação, muitos matadouros pedem apoio financeiro aos governos. O Independência, por exemplo, recebeu R$ 250 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em novembro de 2008. E aguardava a liberação de uma segunda parcela de R$ 200 milhões, que foi negada. Esse apoio seria utilizado no pagamento de dívidas. E, para tentar reativar os abatedouros “O governo precisa exigir que os frigoríficos paguem os ex-funcionários. O Diplomata fechou. Demitiu 400 funcionários e não pagou”, acusa Rinaldo de Souza. Sindicalistas querem mais empenho das autoridades para que o mercado volte a contratar. É importante a recuperação dos frigoríficos, reativalos de forma a recontratar os funcionários e, depois, pagar as dívidas em parcelas. “O que mais a empresa quer, o governo e a gente quer é fazer funcionar o frigorífico”, completa o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação de Campo Grande. Outra proposta para a recuperação é a redução da alíquota de 4,5% do PIS/Cofins (Programa de Integração Social/Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) para a aquisição de boi gordo por parte dos frigoríficos. Se confirmada, a desoneração tributária pode incentivar a produção e a recontratação dos trabalhadores. O momento, agora, é de muitas incertezas. É esperar pela atitude que as empresas e o governo vão tomar. Enquanto isso, milhares de trabalhadores ficam na expectativa de trabalhar novamente. Demissões nos frigoríficos preocupam sindicato Guilherme Meira 3º semestre As contratações e recontratações de empregados por frigoríficos não amenizam o número de desempregados no setor, que já ultrapassa 8 mil. O grupo Independência aparece como o que mais demitiu no país, este ano. São 6,6 mil pessoas entre todas as unidades, sendo 2,5 mil somente, em Mato Grosso do Sul. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Indústria Alimentação de Campo Grande, Rinaldo Salomão, acredita que a reabertura de novas vagas, que possam igualar ou superar o número de demitidos, está muito longe de acontecer. “As contratações e recontratações que aconteceram foram de pessoas especializadas, para setores específicos, funcionários que passaram por treinamento e qualificação para o exercício da função”. Para o sindicalista, a maior parte dos demitidos não tem essa qualificação, já que realizam funções básicas, como lavagem do local onde os animais são abatidos, embalagem da carne, carregamento e descarregamento de produtos, entre outras funções. Estas, em sua maioria, não necessitam de especialização e, sim, de um treinamento básico. Os funcionários demitidos não quiseram se identificar em suas declarações, porque têm muita esperança de serem recontratados em breve. Eles dizem que uma declaração à imprensa pode prejudicar seu retorno à empresa. Os trabalhadores estão surpresos. Como uma multinacional pode demitir tantos funcionários de uma só vez? Eles sabiam que iria haver demissões, só não imaginavam Mariana bianchi Presidente do sindicato, Rinaldo Salomão, acredita que há poucas chances de compensar as demissões que seriam tantas. Mas acreditam que os frigoríficos irão retomar suas atividades em breve, recontratando todos novamente. Rinaldo afirma que o processo de recuperação de uma empresa desse porte é lento, pode demorar meses ou anos. A exemplo disso, no último dia 8 de maio, os 2009 funcionários recontratados pelo Frigorífico Independência de Nova Andradina, a 292 quilômetros de Campo Grande, ganharam férias coletivas. Eles foram recontratados porque o frigorífico iria retomar os abates no início do mês de abril. No entanto, um mês depois, a unidade ainda não tem previsão de quando será reativada. Enquanto isso, os trabalhadores desempregados esperam uma nova colocação no mercado de trabalho, ou serem chamados novamente pela empresa frigorífica. Unifolha CAMPO GRANDE-MS | JUNHO - 2009 educação 06 SEXUALIDADE-FORMAÇÃO Sexo também é assunto na escola Dayene Paz 3º semestre A educação sexual como método de ensino nas escolas era um tabu. Tanto na família, quanto com os amigos, ou até na própria rede de ensino. Hoje, a maioria dos pais conversa francamente com os seus filhos, sobre sexo. Com o passar do tempo, o papel da escola passou a ser fundamental na vida do aluno. Mas, não tão importante quanto a dos pais dentro de casa. Nas escolas de Campo Grande, não existe uma matéria especifica para a área de educação sexual. Na maioria das vezes, quem aborda esse assunto são os professores de Biologia. Formada há mais de 20 anos, Tereza Germano Sanches é a professora da matéria na rede estadual de ensino. Atualmente, ministra aulas na escola Padre Mário Blandino, no bairro Aero Rancho, na capital. Ela diz que os alunos ficam atentos quando a professora toca no assunto. Sempre, saem perguntas curiosas e absurdas durante a aula, como, por exemplo, se o feto é gerado no estômago. É possível perceber a falta de informação entre eles. Nas salas que Tereza freqüenta, há mais de três meninas grávidas. Elas têm idade entre 16 e 22 anos. A professora diz que elas não sofrem preconceito. Nem por alunos ou mesmo, professores. Tereza lembra que diversos alunos acabam tirando, com ela, suas dúvidas. “Muitas vezes, eles vêm me perguntar coisas que, geralmente, eu nunca tinha ouvido. Cada dia, é uma diferente”. Os métodos contraceptivos, principalmente, a camisinha, são abordados na aula, gerando muita polêmica entre os alunos. A professora diz que é o momento em que os jovens prestam mais atenção em sua palestra. Como muitos adolescentes ainda têm vergonha de tirar suas dúvidas, a professora adotou um método simples, mas eficaz. “Quem quer fazer perguntas, é só escrever em um papel e não colocar o nome. Sai cada pergunta!”. Assim, eles não ficam com vergonha e matam a sua curiosidade. Tereza lembra que, certa vez, a mãe de uma aluna veio reclamar. “Disse que eu estava ensinando a filha dela a fazer sexo. Mas, ao contrário, não é um incentivo a ter relação sexual, e sim, uma prevenção, ao que pode ou não ocorrer futuramente, como gravidez ou doenças sexualmente transmissíveis”. Na maioria das vezes, dayene paz Professora de Biologia, Tereza Germano procura abordar assuntos ligados à educação sexual em suas aulas, despertando interesse quem assiste às aulas são adolescentes, que, freqüentemente, não têm uma conversa franca com os pais. O que eles sabem, aprenderam na escola. “Por isso, nosso objetivo é abordar esse assunto, levando a informação o mais longe possível, ao maior número de adolescentes, e consciência de que sexo tem que ser seguro. A melhor sensação de ministrar as aulas abordando esse tema é ver o interesse dos alunos”. Grávida em plena adolescência. O que fazer? Dayane Reis Mílton Júnior 3°Semestre Segundo o Ministério da Saúde, 25% dos partos feitos no país são de jovens de 10 a 20 anos de idade. O que representa um número de 1,1 milhões de adolescentes grávidas. Como explicar um índice tão alto, em uma época que a informação circula de forma tão acessível? Se, antigamente, essa era uma desculpa favorável, hoje, já não se pode dizer que adolescentes e crianças não tenham o mínimo de conhecimento sobre métodos de prevenção. Então, por que será que o índice de gravidez na adolescência só tem aumentado? M.F., de 17 anos, tem a resposta. “O problema dos adolescentes de hoje não é a falta de informação, e sim, de comunicação com os pais, como no meu caso”. Ela explica que, muitas vezes, os pais dos jovens criam um “tabu” de que eles não podem ter relações sexuais com seu namorado, já que isso seria “coisa de pervertida”. E criam, assim, uma barreira para o jovem ir a um médico e mesmo escolher um método contraceptivo. Ela engravidou aos 16 anos, após pouco mais de um ano de relacionamento. “Meu namorado apoiou a gravidez. Em nenhum momento, ele me deixou, como muitos garotos fazem”. Os casos de abandono dos pais das crianças são muito comuns. O que dificulta a aceitação da jovem, aumentando as tentativas de aborto e suicídio. M. diz que, logo após descobrir a gravidez, queria o aborto. Só não concluiu, por não encontrar remédios abortivos. “No momento que a gente descobre e imaginamos como nossos pais vão reagir, é a primeira coisa que pensamos”. Uma pesquisa realizada pela Unicamp, em 2000, no estado de São Paulo, mostra que 13% das adolescentes grávidas tiveram pensamentos suicidas. Eles são ocasionados por depressão. Ou, mesmo, pelo fato das jovens terem sido abandonadas pelo namorado. A diretora da Escola Estadual Hércules Maymone, Dorislei Nogueira, afirma que, por ano, o estabelecimento de ensino recebe um ou dois casos de gravidez. Ela explica que as estudantes, normal- mente, com idade entre 15 e 17 anos, têm direito a quatro meses de licença maternidade, constituídos por lei. Nesse período, fazem trabalhos em casa, para não terem o currículo escolar prejudicado. Na escola, segundo a diretora, são oferecidas aulas de educação sexual no contexto da matéria de Biologia. Além de programas em parceria com universidades para fornecer orientação aos alunos. Para Dorislei “quando a gravidez é muito precoce, pode ser por falta de informação. Porém, quando é mais tarde, é descui- do mesmo.” E, ainda, considera: “Com a liberação sexual que temos hoje em dia, eu não me surpreendo mais.” Hoje, com licença da faculdade e uma filha de pouco mais de dois meses, M. diz, com orgulho: “Há pessoas que vêem a gravidez como impedimento. Eu não. Tenho ainda mais vontade de estudar. Preciso dar um futuro a ela.” E critica: “quando fazemos coisas que a sociedade não está acostumada, você conhece realmente as pessoas. Elas têm medo do diferente”. Secretaria tem projetos para área Dênis Augusto Michael Grance 3º semestre O índice de natalidade em Mato Grosso do Sul é um dos menores do Brasil. E cerca de 11% das mães têm idade inferior a 17 anos. Segundo os últimos dados divulgados pelo IBGE, em 2006, foram mais de 60 mil casos de partos feitos por menores de 18 anos, entre o período de 2005 e 2006, em todo o estado. Por trás destes dados, escondem-se vários problemas sociais, como a discriminação e o preconceito, até mesmo da família, ocasionando uma grande evasão escolar dessas adolescentes, que se sentem agredidas em ambientes comuns. Desde 2007, o governo do Estado, por meio da parceria entre Secretaria de Estado de Saúde, Educação e ministérios, desenvolve o programa Saúde e Prevenção das Escolas (SPE). O projeto visa incentivar a discussão da saúde sexual e reprodutiva, com o intuito de reduzir a vulnerabilidade de adolescentes e jovens às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), à infecção do vírus da AIDS e à gravidez não-planejada, por meio do desenvolvimento articulado de ações no âmbito escolar e nas unidades básicas de saúde. Com o auxílio do Ministério da Educação e da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul, projetos como esse vêm sendo discutidos de forma abrangente com alunos de escolas estaduais de todo o estado, ajudando na conscientização desses adolescentes. A pedagoga Priscila Mattos ressalta que não só o fator educacional, mas, também, o social são decisivos na formação e instrução dessas jovens. “Na gravidez na adolescência, não se deve levar em conta apenas o fator familiar, mas ela deve ser vista como questão social e assistencial, tendo compreensão da sociedade e da família para com essa jovem”. Priscila também alerta sobre as conseqüências que uma gravidez inesperada pode ocasionar: “Muitas vezes, essas meninas podem ser conduzidas a praticar um crime, ao serem induzidas pela família ou pelo namorado a fazer o aborto, e isso pode ocasionar diversos problemas fisiológicos, inclusive levá-las à morte”. No Brasil, os casos de aborto que não são previstos em lei são considerados crime pelo Código Penal. Em todo o estado, no entanto, há um grande número de empresas privadas e políticas públicas que apóiam os programas sociais que ajudam a aumentar o índice de jovens que procuram a orientação adequada. milton júnior Secretaria de Educação do Estado promove programa para a conscientização dos jovens a respeito das questões ligadas à sexualidade Unifolha CAMPO GRANDE-MS | JUNHO- 2009 segurança 07 VIGILANTES - TRÂNSITO Homens e mulheres procuram cursos de formação específica para a área, pois há emprego disponível Profissão de vigilante ganha espaço Aryana Lobo Roberta Cáceres 3º semestre Com o aumento da violência, as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a segurança. Devido a este fator, a profissão de vigilante está se expandindo no mercado de trabalho. Neste universo, os olhos azuis chamam a atenção. Mulher decidida e corajosa. Em média 1,70 metro de altura, que esbanja simpatia. Nos lábios, um sorriso, que, mesmo cansado, não se deixa apagar. Essa é Ângela de Andrade, 33 anos. Trabalhava como líder de produção em dois setores em uma fábrica em São Paulo, onde perdia até cinco horas do dia em transporte coletivo. Há um ano e seis meses, deixou a capital paulista à procura de sossego. Em busca de uma nova vida, contou com o apoio de alguns familiares, escolhendo a Cidade Morena para residir. Por ter tido alguns namorados vigilantes e ouvir muito sobre a profissão, acabou adquirindo noções básicas de segurança. Com a necessidade de emprego e sem vocação para comércio, como ela mesma diz “Não tenho dom para vender”. Sem opção, Ângela optou pela vigilância. Decidiu fazer um curso de formação de 18 dias, na área de segurança privada. Com o término, foi indicada a entregar currículo a diversas empresas. Foi chamada para trabalhar em eventos, como casas noturnas e clubes. Logo depois, foi chamada para trabalhar como vigia, em uma universidade. “Essa é uma profissão não valorizada”, pelo fato de não ser registrada como vigilante, e sim, como porteira. Também, existe o fato de ser menosprezada pelos próprios donos de empresas que não valorizam seu trabalho. “Estamos cuidando dos estabelecimentos e merecemos respeito”. Diz ganhar apenas um salário mínimo e alguns benefícios, como vale-transporte e ticket-alimentação. Sendo necessário fazer freelancer nos finais de semana. Sobre o comportamento na profissão, recomenda que sempre se deva manter a postura, até mesmo quando recebe algumas “cantadas” como: “Me revista, me prende”. Na questão do preconceito, Ângela reclama que, mesmo com uma sociedade mais contemporânea, ainda há certo receio em empregar mulheres para esta profissão de risco. “Um homem tem mais força no braço, mas a mulher tem mais força na boca”. Dando um exemplo, explica que um vigilante ho- mem, quando vê uma briga, chega de uma forma mais bruta e sem ter o cuidado de saber o motivo. Já uma vigilante mulher se preocupa primeiro em saber o que está acontecendo, para, depois, tomar as atitudes cabíveis para resolução do problema. Esse preconceito se estende também na sua vida pes- soal, pois conta que já passou por situações desagradáveis com ex-parceiros machistas que discriminavam sua ocupação. “Entre você e minha profissão, fico com minha profissão”. Assim, ela defende sua preferência. Ela conta que já presenciou várias brigas, sendo que uma delas deixou uma roberta cáceres Vigilante Ângela Andrade reclama que há receio em empregar mulheres para profissões que envolvem riscos pequena cicatriz no braço. Mesmo sendo mulher e exercendo uma profissão de risco, afirma que, no começo, sentia medo. Mas, com tempo, acostumou-se com ritmo. Escola - A especialização para esses profissionais é de suma importância. Na escola de formação de vigilantes, eles estudam 11 matérias. Entre elas, armamento e tiro, prevenção e combate a incêndios e primeiros socorros, defesa pessoal, direitos humanos e relações humanas no trabalho. O coronel Cláudio José Defendi, dono de uma escola de formação de Vigilantes, ressalta que deveria aumentar a carga horária de apenas 160 h/aulas, estabelecida pela Portaria Nº. 387/2006 – DG/DPF de 28 de agosto de 2006, e abrir graduação nessa área, para ser reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). “Tá bom? Tá bom, é uma formação básica. Mas eu acho que deveria ser mais tempo de aprendizagem”. E explica que, quem de- fine a grade curricular é o Ministério da Justiça com a Polícia Federal. Alguns pré-requisitos para ingressar na escola são: ter 21 anos, bons antecedentes criminais, mínimo 4º ano do ensino Fundamental, apresentar exames médicos e psicológicos, independente de sexo. Para o aluno adquirir o certificado de vigilante, é preciso obter 50% de aproveitamento, que é avaliado por meio de provas escritas. O coronel ainda ressalta que essa profissão é pouco valorizada e que, em Mato Grosso do Sul, existem poucos profissionais. “As empresas, quando precisam de trabalhadores, buscam aqui, os nossos alunos formados”. Lembrando que, para trabalhar na área de vigilância, é preciso ser vinculado a uma empresa do setor. Ou seja, não existe vigilante autônomo. Caso contrário, não possuirá direitos trabalhistas e não terá amparo na utilização de armas de fogo. aryana lobo Primeiros Socorros, prevenção e combate a incêndios, defesa pessoal e direitos humanos estão entre as 11 matérias oferecidas no curso de formação dos novos vigilantes Guiar um veículo exige muito respeito Everlyn Navarros 3º semestre Para ajudar a devolver a tranqüilidade ao trânsito das grandes cidades, os motoristas precisam conhecer bem as leis e respeitá-las. No entanto, se os condutores praticarem gentilezas e mantiverem a boa educação a bordo do veículo, é possível ajudar a enfrentar as ruas sem desespero. Na opinião da consultora de imagem, Cíntia Castaldi, atitudes como fazer ultrapassagens sem respeitar as normas da lei, avançar no sinal vermelho, estacionar em calçadas ou áreas proibidas e utilizar duas vagas por preguiça de manobrar o carro são os principais desrespeitos cometidos pelos motoristas. “Se as pessoas fizessem o mínimo, que é respeitar as leis de trânsito, já ajudaria muito”, observa. Há quem ache que as mulheres não estão com nada ao assumir a direção. Mas isso não aparece na pesquisa divulgada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em março deste ano. De acordo com os dados, as mulheres correspondem a 33% dos motoristas brasileiros. A participação delas ao volante aumentou 44% nos últimos quatro anos. Mas não é só isso. Ainda, segundo o Denatran, entre os condutores envolvidos em acidentes com vítimas, de 2004 a 2007, apenas 11% eram mulheres. Para a consultora de etiqueta Madu Caetano, dar passagem a ambulâncias e outros veículos que atendem emergências é primordial. “Aqueles minutinhos não significarão nada para você, mas ajudam a salvar vidas”, destaca, lembrando que aproveitar o espaço deixado pelas ambulâncias para tirar vantagens sobre os demais motoristas é outro extremo da falta de educação. Professor de Centro de Formação de Condutores (CFC), as antigas autoescolas, há oito anos, Rodrigo Carrilho afirma que essa maior participação do público feminino nas aulas é percebida no dia-a-dia. “Esse aumento é um reflexo do que acontece na sociedade como um todo. As mulheres estão se destacando e começando a conquistar seu espaço em tudo, não apenas na direção”. A jovem publicitária Viviane Vilela conta que nunca foi responsável por um acidente. “Comecei a perder o medo do trânsito com a prática. Hoje, sinto- me muito mais segura ao fazer uma ultrapassagem. Mas, faço isso sempre com muita cautela. Não saio cortando um carro, sem antes ter total certeza de que é possível”. Em busca da independência, segundo Carrilho, a maioria das mulheres que procura as aulas de direção tem entre 25 e 35 anos, indicando que, para elas, nunca é tarde para aprender. Entre os homens, a maior procura acontece dos 18 aos 25 anos. “Em geral, elas querem dirigir para ficar mais independentes do marido e para conquistarem melhores empregos também”. Carrilho conta, ainda, que as mulheres se envolvem menos em acidentes, porque elas se destacam dos homens em um quesito muito importante: prudência. “Os motoristas do sexo masculino são muito mais ousados. Eles se sentem muito seguros e acabam fazendo ultrapassagens perigosas, por exemplo. As mulheres não. Por serem mais prudentes, elas pensam antes de agir e, se percebem algum risco, preferem esperar. No trânsito, não vale o velho ditado ‘quem não arrisca não petisca’. Quem não arrisca não se envolve em acidentes”. 08 Unifolha ESPORTE CAMPO GRANDE-MS | junho - 2009 FUTEBOL - RETRATO Garra, amor e decepção Gustavo Nunes Rafael Paniago 3°semestre Como pode um futebol tão rico, acabar assim? Operário Futebol Clube, time de tantas tradições, conquistas e torcedores apaixonados. Equipe que encantou os olhos de todos, hoje se encontra na sua pior fase. No dia 19 de abril, o operário perdeu mais um jogo. A partida que manchou a sua história. O time de melhor campanha do futebol sulmato-grossense em campeonatos brasileiros, caiu para a série B do Estadual. Elenco mal preparado e falta de patrocínio foram as principais causas desse desastre. Causas que não saem da cabeça do seu Evaldo. Operariano há mais de 30 anos e amante do futebol local, ele não se conforma com a fase que os times sul-mato-grossenses se encontram. “Nós que somos da velha guarda, (pode-se dizer assim), que presenciamos grandes momentos do futebol de Operário e Comercial, não conseguimos entender tamanha falta de organização e valor a camisa que um dia já foi vestida por Manga, Arthurzinho, no Operario e Gil, no Comercial, entre ricardo pereira Do céu ao inferno, torcedores relembram o Operário de tantas glórias e choram quando têm que pensar na atual situação do clube, na série B outros.” Ele relembra um pouco, os domingos de jogos. “Lembro que a movimentação para os jogos começava no sábado cedo, com bandeiras, publicidades, hinos do clube e carros buzinando. Os torcedores compareciam em massa, afinal só tínhamos uma certeza, de um grande es- petáculo.” Uma das principais causas para a queda dos times sul-mato-grossenses foi a criação do Clube dos 13. “Um golpe fatal”, se- gundo seu Evaldo. Ele enfatizou que após a criação do Clube dos 13, o futebol de vários estados entrou em extinção. “O Operário da 1ª divi- são passou para a 2ª, 3ª e agora se encontra nessa situação. Time de tantas glorias, tradições e principalmente torcida e história, rebaixado para a série B do estadual e série D do campeonato brasileiro. Para nós que torcemos, sofremos e vibramos com o time, fica um sentimento de que acabou”. Um fato que prova que os times sul-mato-grossenses estão em baixa. Em uma partida válida pela Copa do Brasil, entre Mixto de Tres Lagoas e Campinense da Paraiba, o técnico do Campinense mencionou a seguinte frase em uma rádio local: “É difícil um time de grande expressão como o Campinense jogar contra um time que não tem obrigação de vencer”. Isso é um total absurdo, afinal quem é Campinense? Essa é a forma pelas quais os outros estados nos vêem. Como sem expressão no futebol. Hoje o Campinense está na segunda divisão do futebol brasileiro. O que fazer para melhorar o futebol local? Precisamos ir ao estádio e incentivar a rivalidade sadia. Federação de Futebol nasceu antes de MS Marcus Almeida 3º semestre O futebol nasceu oficialmente no antigo estado de Mato Grosso, em 30 de agosto de 1938, com a fundação da Liga Esportiva Municipal de Amadores (Lema), que recebeu posteriormente o nome de Liga Esportiva Municipal Campo Grande (Lenc). Os seus 40 anos de duração foram marcados pelas glórias do esporte. Em Corumbá foi fundada a Federação Mato Grossense de Desportos, que controlava todo e esporte do antigo Mato Grosso. Contudo, o presidente Getúlio Vargas, ao estabelecer as primeiras bases para a organização do desporto no Brasil, acabou migrando todo o controle esportivo para a capital Cuibá. Foi quando começou o sofrimento do futebol no sul do estado, pois como tinha dimensões enormes e quase nenhuma estrutura, o desporto no norte foi beneficiado, em detrimento ao sul. Mas, no fim da década de 1960 o governo era preocupado com o esporte e com o sul do estado, pois seus integrantes vinham do sul. Eles tinham em mente um sonho antigo e necessário. Um estádio. Esse sonho se tornaria real e em 1971 foi inaugurado com o jogo entre Corinthians e Flamengo. Já existiam os dois primeiros clubes profissionais do estado, Operário Futebol Clube e Esporte Clube Comercial. Um grupo de trabalho secretamente tramava a criação de uma federação. Na surdina, pois, como os estados ainda não haviam se separado, tudo tinha que ser concentrado na antiga capital Cuiabá. Quando nasceu o estado de Mato Grosso do Sul e Campo Grande se tornou capital, a Federação viu então a chance de emplacar de vez. E tudo deu certo! Com direito a matéria de capa no jornal Correio do Estado. A manchete era “Federação foi criada: o futebol liberta-se”. ricardo pereira Raramente, os times locais conseguem lotar o estádio Morenão, ao contrário dos tempos áureos do futebol de MS Times do interior vivem fase de fortalecimento Aníbal Placêncio 3º semestre Cada vez mais fortes e estruturados, os times do interior do Mato Grosso do Sul fazem ótimas campanhas no Estadual. Conseqüentemente, alcançam a classificação para a Copa do Brasil e ganham destaque no cenário futebolístico do país. Essa situação lembra a música intepretada por Gal Costa, “Festa do Interior”. Os dois últimos exemplos foram Ivinhema, da cidade de mesmo nome, e Misto, de Três Lagoas. O Ivinhema foi eliminado pelo Flamengo, na primeira fase. Já o Misto caiu diante do Corinthians, na segunda fase. “Apesar da eliminação, Ivinhema e Misto mostraram pontos positivos”, afirma o corintiano Glauber Bacha, que foi ao Morenão nos dois jogos da Copa do Brasil. Nos trilhos - O Aquidauanense Futebol Clube faz excelente campanha no Estadual de 2009. Classificou-se para a segunda fase da competição e se consolidou como candidato ao título. O sucesso do time é resultado de muito trabalho da diretoria do time. O retorno do Aquidauanense para a primeira divisão de Mato Grosso do Sul foi em 2008. A campanha do time não foi boa. No entanto, a torcida compareceu em peso aos jogos em casa e provou que tudo estava no caminho certo. O presidente do Aquidauanense, João Garcia, já articulava o time para 2009. Foram realizadas parcericardo pereira Boas campanhas trazem reflexo nas arquibancadas: público volta a lotar os estádios nos jogos do interior rias com o empresário Luiz Julio, da JM Esporte, e com o volante Fabinho, atleta do Corinthians. Isso foi fundamental para a contratação de jogadores experientes, que trouxeram ainda mais qualidade para a equipe. O clube fica responsável pela estadia dos atletas. Já o salário desses reforços é bancado pela JM. O time conta com o apoio do prefeito empossado neste ano, Fauzi Sulleiman. Ele aumentou o repasse para o clube em 233%, afirmando que “esporte não é despesa, é investimento”. A prefeitura também ajuda no transporte para jogos fora de casa. O restante da verba vem das propagandas no espaço publicitário do estádio, principalmente. “O time resgatou a alegria futebolística do povo”, afirma Mauri, 38 anos, torcedor do time. Cidade em festa - Sábado, 9 de maio de 2009. São 18 horas. O Estádio Municipal de Aquidauana está lotado. Torcedores do Aquidauanense próximos ao alambrado já fazem “aquela pressão” nos bandeirinhas. O time da casa jogará contra o Misto, de Três Lagoas. Primeiro, a execução do Hino Brasileiro. Depois, fogos de artifício invadem o céu. A Banda do Barril anima o público com suas marchinhas. Um senhor calvo, cerca de 60 anos, está confiante. “Hoje a vitória é do Aquidauanense, não tem pra ninguém”. Atrás do estádio, os trilhos reformados, que representam a volta do Trem do Pantanal. Pois é, o Lula esteve por aqui, na inauguração! Por um momento, tudo pára. O locutor anuncia que será respeitado um minuto de silêncio, em homenagem à morte do conhecido empresário, Belão. O estádio emudece. Logo depois, o juiz apita o início do jogo. Que Aquidauanense e Misto, representantes dignos do futebol interiorano, realizem uma boa partida, fazendo jus a toda essa festa. Mais informação, muito mais entretenimento CAMPO GRANDE-MS | JUNHO - 2009 Tradição pontuada Anny Malagolini Joice Vieira 3º semestre O universo lúdico, de folclore e tradições de Mato Grosso do Sul é o mundo que Marlei Sigrist, professora de artes da UFMS se envolveu. Marlei desenvolve um trabalho folclórico com o grupo de dança Camalote Pantaneiro, com o qual apresenta danças típicas do estado. Ela também publicou a 1ª edição do livro “Chão Batido” no ano de 2000, e nele revela a mescla cultural de Mato Grosso do Sul, apresentando festas, danças, mitos, linguagem popular, lendas e costumes. Para a professora, cultura popular quem faz é a massa, contando com o auxílio dos mecanismos de comunicação. E é a massa quem preserva esses velhos costumes, passados por gerações ou grupos, mas sempre sobrevivendo aos anos, podendo até se modificar, mas nunca perdendo a sua essência. Os aspectos regionais culturais formam um intercâmbio com as adjacências. Segundo a pesquisadora, a região do Bolsão, do Pantanal e da fronteira tem uma mescla folclórica especifica, dependendo do limite geográfico. Para aqueles que acreditam que o folclore em Mato Grosso do Sul está se perdendo, estão muito enganados, as tradições continuam fortes, mantendo suas particularidades, na opinião de Marlei Sigrist. Permanecem, principalmente as festas de santos, como a de São João, Nossa Senhora de Caacupé, enfim, santo que não acaba mais. Esses festejos são homenagens organizadas pela população e que quase sempre não envolvem a igreja, ressalta a pesquisadora. Além de eventos religiosos há também celebrações caipiras, no Pantanal, ocasi- ões em que se dança um rasqueado e se come o legitimo arroz carreteiro, ou com pequi, acompanhado de feijão tropeiro. E se tiver festa, tem que ter música. Nada mais regional que o chamamé, a polca paraguaia, modas de viola. Esses gêneros nasceram nas fronteiras e no sertão do Brasil. E foram se espalhando e tomando gosto da população, fortalecendo a raiz, a importância do sentimento de ser sul-mato-grossense. No Centro Oeste, as danças são uma tradição muito forte, dependendo muito da região do estado, conforme explica Marlei Sigrist. Aqui, danças como o cururu - que mais parece uma brincadeira o siriri, o chupim, cirandas, catira, e xote, são típicas e marcam as festas. Algumas até lembram as quadrilhas, em festas juninas. Além da cultura original de nossas fronteiras, como as já mencionadas músicas, danças e alimentos, não é possível se esqueçer do sotaque, por exemplo. A pesquisadora lembra do corumbaense, que ora lembra carioca, ora o cuiabano. Todo essa atmosfera cultural, de folclore, direciona as pessoas para as próprias raízes. Mas será que, com o passar dos anos, as capitais, como Campo Grande, vão perdendo os seus costumes, sua cultura? Marlei Sigrist acredita que os grandes centros tendem a se massificar, modificando a cultura em função da tecnologia e da comunicação. Porém, em sua opinião, não perdem suas particularidades. Ela ressalta que, independente da região, Mato Grosso do Sul mantém uma cultura de variadas influências. inayá borba Seu Agripino, mestre da tradição popular do Cururu, é um exemplo vivo da força e das muitas possibilidades oferecidas pela cultura sul-mato-grossense Minhocão é um dos mitos mais conhecidos do folclore de MS Kamila Roberta Ana Cláudia 3º semestre O folclore do Mato Grosso do Sul oferece características ricas, como a culinária,o ecoturismo as artes e etc. Influencias culturais nas regiões de fronteira com a Bolívia e o Paraguai fazem com que exista uma certa troca de culturas que se misturam e harmonizam. As lendas e os mitos são elementos importantíssimos no folclore regional, ajudam a formar as características do estado. Quem nunca ouviu falar da lenda do Minhocão? O Minhocão tem grande semelhança com a Boiúna do Amazonas. Segundo pesquisas, o Minhocão é uma espécie de serpente longa e cabeçuda, não tendo cor definida, mas sabe-se que é escura devido ao seu habitat. Vive sob o barro das barrancas do rio e ao passar deixa marcas no chão, em forma da sua imensa cabeça. Quando fica zangado e faminto, serpenteia no rio de tal forma que derrubas a embarcações, devorando pescadores e afundando canoas. Alguns dizem que produz imenso ruído ao se aproximar e os mais crédulos preferem referir-se a ele como o bicho. Pode acontecer que a pessoa, ao presenciar a um ataque do Minhocão, não supere o fato e enlouqueça. Lendas como estas fazem parte da vida das pessoas antigas e simples das cidades do estado, passando, assim, por gerações. E que se transformaram na característica folclórica histórico-cultural da região. O ser humano pantaneiro, em sua simplicidade, acredita e confirma as lendas, que surpre- endem turistas ao conhecer tudo o que o nosso estado oferece. Estes habitantes do Pantanal são privilegiados, pois já nascem herdeiros da cultura e da essência que a região proporciona. Os mais antigos, como os fazendeiros, peões e os pantaneiros têm as características culturais diferenciadas das pessoas urbanizadas, como os moradores da capital Campo Grande. Por isso é comum que lendas e mitos façam parte das crenças destas pessoas. Habitantes mais velhos do Pantanal contam lendas e mitos, que compõe o nosso folclore, passando assim para seus filhos. Dos seus filhos é passado para seus netos e assim segue uma linha de cultura, que causa uma certa curiosidade se, de fato, aconteceram as lendas. O folclore é uma importante características do nosso estado, faz com que nossa terra tenha toda essa beleza e uma cultura original. 10 Unifolha CIÊNCIAS & TECNOLOGIA CAMPO GRANDE-MS | JUNHO - 2009 PESQUISAS – FOMENTO Principais projetos aprovados por órgãos de fomento à pesquisa buscam tecnologia de baixo custo e impacto Estudos científicos auxiliam agronegócio Flavia Silveira 3º. semestre No Brasil, as áreas mais incentivadas pelos órgãos de fomento à pesquisa, são aquelas que contribuem de forma significativa para a economia. Principalmente são desenvolvidas pesquisas científicas com tecnologias de ponta que visam contribuir para o melhor desempenho do agronegócio. Os cientistas buscam resultados que beneficiem a produtividade, mas, que diminuam os índices de dejetos no solo e que tenham recursos fáceis de serem obtidos. Grandes pesquisas para encontrar tecnologias simples de baixo custo para serem inseridas nas práticas produtivas. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) aprovou o projeto “Bioeconomia: um novo paradigma de desenvolvimento para MS”, com parceria da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Embrapa Agropecuária Oeste e Anhanguera/Uniderp coordenado pela Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia). Serão investidos 11 milhões, sendo que a Finep financiará R$ 7,3 milhões e o governo do Estado R$ 3,6 milhões. A iniciativa é para incentivar a transferência de tecnologias, das universidades para as empresas, com aplicação direta no setor produtivo, nas áreas de Gestão Tecnológica, Controle e Processos Industriais, Gestão Ambiental, Biotecnologia, Nanotecnologia, Energias renováveis e Eficiência Energética. O programa de transferência tecnológica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) conta com escritórios em todas as regiões do país e tem por objetivo diminuir a distância entre a pesquisa científica e a utilização das tecnologias desenvolvidas na produção. Incentivando no CentroOeste a agricultura familiar, o controle biológico, a produção integrada, a agroecologia, a biotecnologia (alimentos funcionais), as Boas Práticas Pecuárias – APLs e a Integração Lavoura-PecuáriaFloresta. As pesquisas na área da computação voltadas para a pecuária estão sendo realizadas com o intuito de gerenciar com maior eficiência o rebanho. O projeto Pesquisa e Inovação em Bioinformática para o Agronegócio (Piba) viabiliza soluções de bioinformática para o desenvolvimento da biotecnologia na agropecuária. A bioinformática é responsável pelo desenvolvimento e a aplicação de ferramentas da tecnologia da informação para permitir a organização, gestão, análise e interpretação de dados em suporte ao tratamento das questões biológicas. O estudo da biotecnologia é voltado para a genética dos seres vivos, utilizando sistemas biológicos, organismos vivos ou seus derivados (como células) para a criação ou modificação de produtos e processos. O pesquisador José Manoel Marconcini, da Embrapa Instrumentação Agropecuária, de São Carlos (SP), esteve em Corumbá realizando o Seminário Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio. A produção de nanocatalisadores para descontaminação ambiental, a produção de biocombustíveis e os nanocompósitos de polímeros naturais são diferenciais em várias etapas do agronegócio, da produção à comercialização, tornando a área revolucionária para o agronegócio brasileiro. A nanociência estuda a menor parte da matéria em dimensões próximas ao átomo e seu comportamento e utiliza as nonopartículas para controlar a liberação de nutrientes e pesticidas no solo. Produtos importantes foram lançados este ano nas feiras agropecuárias do país, como inseticidas biológicos e um inoculante a base de bactérias fixadoras de nitrogênio que, ao serem aplicadas nas plantas promovem o crescimento sem o uso do fertilizante nitrogenado na produção da cana-de-açúcar. Pesquisa realizada por cientistas da Embrapa Agrobiologia (Seropédica/RJ) em 25 anos de trabalho ainda levará dois anos para chegar ao mercado. A tecnologia é simples e de baixo custo. O ganho ambiental será enorme, já que deixarão de ser aplicados 30 quilos de nitrogênio por hectare de plantação da cana. Fundect viabiliza os Biotecnologia em projetos de inovação destaque no campo mariana bianchi Rafael Hiane Daliane Ramires 3º semestre Em Mato Grosso do Sul a biotecnologia tem se destacado muito nos setores como agricultura, pecuária, avicultura e no agronegócio. Os resultados do programa de biotecnologia do governo federal colocou o Brasil como um dos líderes mundiais no setor. Entre os avanços biotecnológicos estão a conclusão de testes, diagnósticos e vacinas contra aftosa, doenças en- dêmicas das aves e o esforço para identificar a seqüência de bactérias que ocorrem na cana-de-açúcar. Com a biotecnologia, os biólogos produziram novos organismos, os transgênicos ou organismos geneticamente modificados. Alguns desses transgênicos têm grande importância terapêutica sendo usados atualmente na produção da eritropoietica (é a produção de glóbulos vermelhos nos órgãos hematopoiéticos) e de insulinas em escala industrial. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realizou recentemente dezenas de ensaios e testes em campo, com muitas plantas transgênicas como (alface, amendoim, fumo, cana-deaçúcar, batata, milho, melão e melancia). Porém, o plantio comercial ainda não está legalizado. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é a entidade responsável pelos pareceres técnicos sobre os pedidos de cultivos de transgênicos no país. Diretor da Fundect, Fábio Costa, explica que fundação viabiliza projetos sociais, econômicos e culturais Dayana Jesus Larissa Munhoz 3°semestre A Ciência e Tecnologia estão em nossa volta, resultado de pesquisas aplicadas. A água, por exemplo, até chegar às torneiras de nossas casas, passa por um tratamento químico para eliminação das impurezas. Os carros bicombustíveis (movidos a álcool ou gasolina ou ainda com a mistura dos dois combustíveis), por sua vez, são uma opção mais econômica para os motoristas. Estes dois exemplos estão integrados no cotidiano. A partir das pesquisas cientificas realizadas, chega-se ao resultado final: a melhoria da qualidade de vida do cidadão. Em Campo Grande, a Fundação de Apoio ao desenvolvimento do Ensino, Ciências e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect) viabiliza projetos sociais, econômicos, científicos, tecnológicos e culturais que estimulam a pesquisa e a inovação científica e tecnológica. Tudo começa com um incentivo. “A minha missão, é dar condições para os pesquisadores”, afirma o diretor-presidente da Fundect, Fabio Eder dos Santos Costa. Os programas concedem apoio financeiro a projetos de pesquisa. Mas como fazer um projeto? Este precisa ter um objetivo, qualidade, coerências, metodologia, experiência, importância da pesquisa, e o retorno (benefícios ao cidadão). O programa de Bolsa de Iniciação Científica Júnior - (IC-Júnior) abre caminhos para os estudantes de ensino Fundamental, Profissionalizante e Médio de escolas da rede pública, localizados nos municípios, que possuam universidades ou centros de pesquisas. A Fundect conta com 0,5% da receita tributaria do Estado para os investimentos na geração de conhecimento cientifico e tecnológicos. Conta, também, com parcerias das universidades, centro de pesquisa, órgão da administração direta e indireta, empresas privadas e incubadoras de empresas que desenvolvem atividades de pesquisas cientificas ou tecnológicas. No Brasil, por conta da crise mundial, os recursos na área de ciências e tecnologia foram reduzidos. Aqui no estado não foi diferente. “A crise chegou agora o sistema está falido. Você precisa inovar, diferenciar”, afirma Fábio Costa. O caminho é este para se estabilizar, ser criativo. O grande desafio de Fabio Costa “é divulgar cientistas e popularizar a ciência”. Trata-se de uma oportunidade, para estudantes, de se inserirem nas ciências e tecnologia no estado. Exemplos - O coordenador do projeto sobre doença de Chagas em Mato Grosso do Sul, Adriano Olímpio da Silva, da UFMS, viabiliza a preparação de derivados e análogos que possam apresentar atividade biológica sobre o causador da enfermidade. Para isto, os lipídeos fenólicos serão matéria-prima para as rotas de síntese. “Utilizaremos os compostos isolados do líquido da casca da castanha de caju (LCC) para a preparação de novas naftoquinonas”. O coordenador do projeto que implanta o uso de suplementação de ractopamina (aditivos na alimentação) dos suínos, que está sendo utilizado como repartidor de energia em dietas, Alexandre Pereira dos Santos (UFMS), explica que trabalha com suínos machos imunocastrados (castrados) em fase de terminação. A pesquisa será realizada em uma granja comercial de Campo Grande. Alexandre Pereira conclui que é ótimo para a obtenção de melhor desempenho e melhores características de carcaça. Serão utilizados 60 suínos machos imunocastrados (castrados) com peso inicial de 70 quilos, distribuídos ao acaso no início do experimento em seis tratamentos (sem suplementação de ractopamina e suplementação por 7, 14, 21, 28 e 35 dias pré-abate). Os dados analisados serão os parâmetros de desempenho (ganho de peso, conversão alimentar e consumo de ração) e das características quantitativas de carcaça (rendimento de carcaça quente, deposição diária de proteína e gordura, espessura de toucinho, percentual de carne magra, profundidade de músculo Longissimus dorsi e área de olho de lombo Longissimus dorsi). Espera-se que este trabalho possa fornecer informações relativas ao período ótimo de suplementação de ractopamina, para que assim possam ser utilizadas como ferramentas de gerenciamento para uma produção mais eficiente e economicamente viável de suínos. CORUMBÁ Assentamentos recebem projeto Flavia Silveira 3º semestre Financiado pela Embrapa e pela Petrobrás a construção de secadores (como os usados na secagem do café) e a compra de motores e trituradores, além de óleo diesel e sacos para a amarzenagem do feno em sete assentamentos de Corumbá incentiva a produção e armazenamento de feno para a alimentação dos rebanhos nos períodos de estiagem. Trata-se de uma solução de baixo custo para pequenos pecuaristas que não possuem recursos para alimentar o rebanho com ração. O projeto é do zootecnista Frederico Lisita, pesquisador da Embrapa Pantanal. Ele pesquisa plantas como a leucena, que tem 21,5% de proteína na folha, mesmo teor da ração, que tem 21% e a aromita, que é considerada praga e que tem 25% de proteína na folha. Além da bocaiúva, do acuri, da mandioca e outras leguminosas. As plantas são cortadas, trituradas, desidratadas e armazenadas em sacos. Todo o processo para a produção é ensinado por Lisita nos chamados “Dias de campo”. O projeto foi apresentado em 2007 nos assentamentos de Paiolzinho e Tamarineiro na região de Corumbá e cerca de 30 assentados participaram. ana maio Produção e armazenamento do feno para alimentação dos rebanhos acontece em sete assentamentos Unifolha CAMPO GRANDE-MS | JUNHO - 2009 SAÚDE 11 juliana nogueira Santa Casa está trabalhando com a previsão de aumento do número de integrantes da equipe que atua, especialmente, com as técnicas de transplante de órgãos. Hospital está capacitado para implantar coração, córnea, ossos e rins Estímulo à doação de órgãos enfrenta barreiras que vêm da falta de informação Flávia Andrade Hyanna Gonçalves 3º semestre A dificuldade em aceitar a morte encefálica é uma das maiores dificuldades na hora de doar os órgãos, pois muitas pessoas por falta de instrução, acreditam que ao aceitar a morte, os órgãos serão retirados com a pessoa ainda viva, e isso acaba parecendo um tipo de tortura para o doente. Muitas pensam que pelo fato de o coração ainda estar batendo o paciente tem chances de voltar à vida, pois a morte encefálica parece com o estado de coma. Mas são duas coisas diferentes. Segundo o médico Luiz Alberto H. Kanamura, existem dois exames clínicos e três outros essenciais para que se possa confirmar a morte encefálica. As leis sobre esse tipo de óbito são vigentes do Conselho Nacional de Medicina. Ou seja, sendo a mesma lei aplicada no país todo. A santa Casa de Campo Grande tem estrutura para retirar todos os órgãos, porém não pode implantar alguns. Por isso, para a retirada dos órgãos que precisam ser transferidos é necessário que venha um profissional da área para que se retire e leve ao hospital onde ocorrerá a operação. De acordo com o médico Luiz Alberto H. Kanamura, a Santa Casa está trabalhando com a previsão de aumento da equipe para transplante de órgãos, pois assim, poderá atender uma maior quantidade de pacientes. A Santa Casa implanta coração, córnea, osso e rins, e retira todos, disponibilizando para o Conselho Estadual de Saúde que, por si, coloca à disposição do Conselho Nacional de Saúde, responsável por sinalizar a existência de doadores dos órgãos para outros hospitais do país. Ainda existe uma dificuldade no transporte do órgão de um local para o outro. Algumas vezes sendo o próprio médico a pagar sua passagem para buscar o órgão e retornar ao hospital onde se encontra o paciente à espera do transplante. Correndo o risco de perder o vôo e o órgão não chegar a tempo de ser implantado. Os pacientes do interior que necessitam de transplantes, tem de ser removidos à Santa Casa de Campo Grande para que possam ser cadastrados na lista de espera de transplante e assim obter todos os cuidados até a chegada da oportunidade para que possam ser transplantados. A Lei 10.211 de 23 de março de 2001, altera os dispositivos da Lei n° 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que “dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento.” O parágrafo 2° dita que, só podem ser retirados os tecidos ou órgãos do paciente após serem realizados todos os testes de triagem para diagnóstico de infecções e infestações exigidos em normas regulamentadas pelo Ministério da Saúde. O parágrafo 4° dita quem é a pessoa indicada para a autorização da doação dos órgãos e tecidos após a realização dos testes de triagem, respeitando, assim, uma linha sucessória, reta ou colateral, até segundo grau, inclusive firmada em documento subscrito por duas testemunhas, presentes a verificação da morte. Assim como estes dois parágrafos, os demais abrangem o que é necessário não apenas na constatação de que não há nenhuma infecção ou infestação nos órgãos ou tecidos que possivelmente serão doados, como também busca a integridade e o respeito pelo possível doador. juliana nogueira Eduardo faz hemodiálise há 9 anos, e acabou conhecendo sua esposa, que é enfermeira, numa dessas sessões Na cadeira da hemodiálise... Juliana Nogueira 3º semestre Eduardo Pedro de Oliveira estava sentado na cadeira de hemodiálise, fazia algumas horas. Na verdade já era o momento de ir embora. Mesmo assim, aceitou a idéia de responder algumas perguntas ali mesmo, na cadeira. Uma pessoa alegre, simpática, divertida. Mesmo com o problema de saúde, já aos 18 ele tinha sua pressão elevada para sua idade e vários outros sintomas. Mas foi no ano de 2000 que ele descobriu a Glomerulonefrite. Em uma consulta de rotina seu médico fez com que ele começasse a fazer a diálise imediatamente. Dois anos após o inicio do tratamento, sua irmã decidiu doar o rim para fazer o transplante. Mesmo compatível com seu organismo houve rejeição do órgão e aconteceram várias complicações na cirurgia. Com isso, em menos de 30 dias Eduardo fez quatro cirurgias devido à rejeição do rim doado. A partir daí, ele vem fazendo hemodiálise três vezes por semana, e foi em uma dessas idas ao hospital que ele se apaixonou. “Eu estava fazendo ‘diálise’ e vi uma enfermeira nova, que enfermeira linda.” Era Gisele, a atual esposa de Eduardo que trabalha no Hospital Sírio Libanês, onde ficam as salas para diálise dos renais. Foi paixão a primeira vista e após a primeira retirada de todo o seu sangue. Vivem juntos há alguns anos, e se depender de Gisele, vai “limpar” o sangue de Eduardo enquanto assim for necessário, ou até outro transplante. Duro cotidiano da fila de espera Juliana Nogueira 3º semestre A fila de espera parece nunca ter fim. Em Mato Grosso do Sul existem 468 pessoas que esperam não só um órgão, mas, sim a esperança pra continuar a viver. Algumas pessoas que passam todos os dias ao lado do telefone esperando por uma notícia, uma possibilidade de transplante, um órgão, que para elas significa um recomeço de vida. O objetivo é mostrar a importância de se doar, tanto para quem doa, quanto para quem recebe e informar como é a vida de quem precisa tanto de um simples gesto como esse. Quando pensamos nos “participantes” dessa fila enorme, logo imaginamos pessoas tristes, mas não foi isso que vimos. Ao chegarmos à frente da casa, descobrimos que dona Lucimar estava dormindo, tinha acabado de chegar de mais uma das suas sessões de hemodiálise, não ficamos à vontade em acordá-la e decidimos partir. Com todo o movimento, ela acordou e fez questão de nos receber. Lucimar Ferreira é psicanalista e está na fila de espera há dois anos. Ela descobriu uma doença que provoca uma disfunção no seu sistema imunológico, Nefropatia Membranosa, e tentou de tudo para reverter o caso. “Tentei de tudo, tentei até tomar remédio dos transplantados para não ir para ‘diálise’, mais não consegui”. A esperança de cura existe, mas dona Lucimar é mais “pé no chão”. Com a voz serena e calma ela me disse: “A cura é um milagre e não existe milagre, a gente espera o milagre”. O processo de mudança nos hábitos é o que mais incomoda no renal. “Na alimentação principalmente, eu não posso mais comer verduras e frutas como eu comia antes, estou me sentindo enorme. Até pensando em fazer um regime, mas se eu ficar internada, dois quilos que eu perco vão fazer muita diferença”. Lucimar diz que tem que ficar com o celular ligado 24 horas para não perder nenhuma ligação. “Não posso deixar nenhuma ligação, imagina se em uma dessas surge à chance de um possível órgão?” Apesar de toda essa disposição, o que mais me chama a atenção é que Lucimar comentou que não queria fazer o transplante, pelo risco. “Se fosse pra eu fazer esse transplante, eu faria para terminar de pagar todas as minhas contas aqui, não por mim, nem pelos meus filhos, é só pelas contas”. O dia do telefonema chegou, há mais ou menos dois meses. Dona Lucimar disse que no começo ficou assustada e pensou em não fazer o transplante, mas logo que contou para sua filha, Juliana, já percebeu que era preciso. Infelizmente, por todas as burocracias adotadas para a fila de espera, não foi a vez de dona Lucimar. Burocracias essas, das quais ela reclama muito, pois até o fato do sexo do doador ser diferente fez com que ela não fosse a contemplada. “Sexo também é fator para exclusão”, afirma, indignada. Apesar de tudo, dona Lucimar nos surpreende quando perguntamos se ela faria um transplante se surgisse outra chance. “Se surgir eu vou, sem medo. Eu não tenho expectativas, não tenho sonhos, futuro... comigo é o agora, o que tem pra fazer agora eu vou fazer e não fico guardando nada pra amanhã. Se aparecer uma oportunidade hoje, eu vou fazer sem duvidas, e se eu morrer? Isso é para o amanhã”. 12 Unifolha RURAL CAMPO GRANDE-MS | JUNHO - 2009 AGROPECUÁRIA - CRISE Crise afeta setores específicos Caio Possari Sue Lizzie Viana 3º semestre Apesar do receio com relação aos efeitos da crise global, a classe produtora no estado está otimista e acredita que o agronegócio vai superar mais esse obstáculo. Bastou uma incerteza financeira se pronunciar e uma série de medidas de enfrentamento a essa “marolinha” surgir no horizonte de produtores e criadores no país inteiro. Setores fundamentais do capital estadual foram afetados, porém, a expectativa é de melhoras gradativas. Mato Grosso do Sul é um estado rico que vai da soja, cana de açúcar ao boi, e passa para uma economia de diversificação. Mas, sem dúvidas, a agricultura e a pecuária, são carros-chefes da produção do estado, e a seguir serão analisados como estão os reflexos da crise nessas áreas. “Tanto a pecuária quanto a agricultura sofreram impactos. A agricultura foi afetada principalmente em relação à oferta de crédito e com a demanda enfraquecida. O impacto na pecuária foi com a crise que os frigoríficos estão enfrentando e que deixaram de pagar muitos produtores”, afirma o assessor de Agricultura da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul), Lucas Galvan,. A falta de crédito para produtores foi o “caos” no campo. Afinal, agricultores dependem de empréstimos para financiar produtos e reorganizar safras perdidas e as que estão por vir. “Para os produtos que são destinados ao mercado interno como arroz, feijão, entre outros, não sentimos nenhum impacto. Com rela- ção aos produtos destinados à exportação há uma apreensão maior, principalmente em relação à soja”, afirma o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, de Ciência e Tecnologia e do Agronegócio, Edil Albuquerque. O clima também está atuando como vilão para as plantações. A seca afetou várias regiões brasileiras e a estiagem deste ano já causou um prejuízo de R$ 461 milhões em Mato Grosso do Sul. Trata-se da maior instabilidade do campo dos últiwagner guimarães Os produtores de soja estão mais apreensivos, pois até o clima atuou como vilão entre os produtos destinados à exportação mos tempos. Em contrapartida, chamam a atenção às declarações positivas do pecuarista Oswaldo Possari. Ele afirma que a combinação de uma ajuda do governo federal no aumento de liberação de créditos, o equilíbrio que está se estabelecendo nos preços e o clima, que mostra melhoras, contribuem gradualmente para a superação do momento. “No atual cenário do setor financeiro não dá pra se aventurar. O mais indicado a fazer é acompanhar diariamente as notícias referentes a essa crise, fazer um balanço do que pode ser feito para evitar que isso atinja o negócio. Observar e depois tentar desviar dos principais riscos”. É o conselho do pecuarista, que está há mais de 20 anos no mercado. Vírus H1N1 gera confusão com carne suína Caio Possari Sue Lizzie Viana 3º semestre A gripe suína é uma doença que tem como conseqüência uma variante do vírus H1N1, e sua transmissão só ocorre por meio do ar, contato com o animal e objetos contaminados. Algumas pessoas estão alarmadas e confundindo o modo de contaminação da gripe suína, e levando em consideração que por meio da carne podem se infectar. Esta falta de informação contribuiu para a queda de exportação da carne de porco. “Com relação à carne de porco, o mercado está mais instável atualmente devido à gripe suína. Por outro lado, com o anúncio do governo americano de que vai reduzir seu programa de produção de etanol a partir do milho, o preço deste produto no mercado internacional tende a cair. Isto é bom para os produtores de suínos (já que o grão é uma das principais fontes de alimentação do animal), mas ruim para os produtores de milho. Para se ter uma idéia, a quantidade de milho que os americanos haviam destinado para a produção de etanol é equivalente a quase toda a safra brasileira deste grão”. É o que garante o vice- prefeito de Campo Grande e secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, de Ciência e Tecnologia e do Agronegócio (Sedesc), Edil Albuquerque. Outra preocupação que envolve campo e pecuária é a da demarcação das terras indígenas, já que caso da reserva Raposa Serra do Sol, a mobilização realizada pelos índios é grande e promete gerar ainda muita polêmica no seu reflexo local, a demarcação da terra dos índios Guarani. Em Mato Grosso do Sul está a segunda maior população indígena do país. São aproximadamente 65 mil índios, que vivem em 72 aldeias espalhadas. As lideranças indígenas julgam esse espaço insuficiente, e a Fundação Nacional do Índio (Funai). a partir disso já vem realizando estudos so- bre a demarcação de terras. O problema é que o espaço requerido é justamente onde está concentrada a maior parte da produção agrícola. A dúvida que causa dor de cabeça no produtor é saber quais áreas a Funai entende que devem ser novas aldeias. O medo que impera é que a disputa acirrada por terras possa vir a ocasionar conflitos maiores no campo. Área livre de febre aftosa amenizou impactos Suzy Figueiras Danielly Azevedo 3° semestre Com a área livre de febre aftosa com vacinação, perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento solicitou à União Européia a inclusão de todo o estado de Mato Gros- so do Sul, como sendo área habilitada à exportação de carne in natura para o mercado europeu. Mesmo o Pantanal, antes considerado zona endêmica primária da doença - ou seja, achava-se que o vírus da febre aftosa circulava entre os bovinos e os animais silvestres - com a vacinação do gado foi comprovada a eliminação do vírus, fazendo com que algumas propriedades fossem aptas a exportação de carne, por cumprirem alguns quesitos de sanidade exigidos pelo Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov). Com a inclusão do Pantanal na exportação, o estado possui um maior número de cabeças de gado para atender melhor o mercado exterior conseguindo um preço mais competitivo e maior venda para o produtor. Fatores que fazem com que Mato Grosso do Sul seja o maior exportador de carne in Natura. O Sisbov tem como objetivo, registrar e identificar o rebanho bovino e bubalino do território nacional, possibilitando o rastreamento do animal desde o nascimento até o abate, disponibilizando relatórios que demonstram a qualidade do rebanho nacional e importado. Sem esse registro o produtor não consegue fazer parte da lista traces e somente fazendo parte desta seleção poderão exportar a carne. O sistema de adesão ao Sisbov é voluntário. As propriedades rurais somente serão consideradas aptas a exportarem após atenderem todos os requisitos contidos na cartilha específica e aprovadas em auditoria realizada pelo Serviço Oficial, que cumpre esta função por meio de vistorias periódicas. Recomendação é cautela ao assumir dívidas Danielly Azevedo Suzy Figueiras 3º semestre A crise chegou e balançou a produção de muitos agricultores. Mas a recomendação é que o produtor agrícola e de carnes avalie seus recursos, não assuma dívidas fora de controle, corte gastos de risco e reduza custos o máximo possível, mas sem comprometer a qualidade do plantio para não perder volume de produtividade. O alimento é um bem de consumo indispensável à mesa da população mundial, por isso o Brasil, grande produtor e exportador, está em condição mais privilegiada que outros países. Acredita-se que a economia brasileira continuará se desenvolvendo, porque há reserva cambial e garantia de energia, e sem problemas de financiamento no balanço das transações correntes. O economista Ricardo Amorim disse, numa palestra para mais de 300 pecuaristas de Goiânia, que a crise financeira será menos intensa e durará menos tempo no Brasil que nos países desenvolvidos. Segundo ele, o pior da crise no Brasil até já passou, embora 2009 ainda deva ser um ano difícil. O fator que colaborará para a recuperação da economia poderá ser a intensa retomada das exportações agropecuárias. Muitos agricultores acreditam que os efeitos da crise financeira internacional para o agronegócio brasileiro podem não ter a intensidade que se esperava. Os preços do agronegócio estão crescendo desde o início de 2009 e ao longo dos três primeiros meses muitos deles praticamente alcançaram os patamares históricos. Um bom exemplo de que a crise está “passando” é a instalação de uma nova unidade da Fribrasil Alimentos, em Caarapó - MS. Admitiram quase wagner guimarães Como o alimento é considerado produto de exportação essencial, o Brasil estaria em situação mais privilegiada 600 novos empregados diretos e no lugar de redução produtiva, terão abate diário de 550 bovinos. A empresa recebeu da Secretaria de Meio Ambiente, Cidades, Planejamento, Ciência e Tecnologia (Semac) a Licença de Instalação (LI) e prevê esse mês a entrada em funcionamento, com o ambicioso objetivo de se tornar uma das cinco melhores plantas de abate em todo o Brasil. Mas apesar de todo o otimismo quanto à questão da crise passar rápido no Brasil, o agronegócio brasileiro perdeu pelo menos 153 mil empregos. De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), nos últimos seis meses o saldo resultante das contratações e demissões formais na agropecuária ficou negativo em 260 mil postos de trabalho - montante 64% maior, em relação ao mesmo período do ciclo anterior. Unifolha CAMPO GRANDE-MS | JUNHO - 2009 MEIO AMBIENTE 13 FORMAÇÃO - SENSIBILIDADE Projeto “Escola Verde” é desenvolvido há cinco anos e incentiva crianças a respeitar mais o meio ambiente Educação ambiental ganha espaço nas escolas camila tomasi Camila Tomasi 3º semestre Nas escolas de Campo Grande, a Educação Ambiental vem ganhando espaço, buscando, além de formar, criar nos alunos desde cedo, uma consciência crítica sobre a problemática ambiental. A ideia é unir teoria e prática, começando com a apresentação da temática em sala de aula e levando os alunos até a natureza para conhecer de perto e aprender como preservar o nosso meio. Fomos até a escola particular CEAP, na capital, conhecer um desses projetos que começam desde cedo a trabalhar com as crianças, buscando estimular nelas essa consciência. O objetivo é que elas levem esse conhecimento para dentro de casa e futuramente se tornem adolescentes e adultos que lutam por essas causas. Conhecemos o projeto “Escola Verde”, criado e trabalhado pelos professores e biólogos Emerson Benites e Marilda Trefzger com alunos de 6ª, 7ª e 8ª série. O projeto, que é desenvolvido há cinco anos em uma escola estadual e há dois neste estabelecimento de Da sala de aula, os alunos saem para fazer passeios na natureza, encontrando problemas ambientais pelo caminho e aprendendo, na prática, a lidar com eles ensino particular, trabalha a relação do ser humano com a natureza, mostrando a importância de preservar e cultivar o meio ambiente. “Eles vão além dos proble- mas, aprendem soluções, como plantar e cultivar”, diz o professor Emerson. E é isso mesmo. Da sala de aula eles saem para passeios na natureza, deparan- ATITUDE do com os problemas ambientais. Aprendem como lidar com eles, estudam as espécies de plantas com foco para as do Cerrado, entendem a importância das raimunda rodrigues medicinais, tiram duvidas e se mostram interessadíssimos. “A gente aprende muita coisa legal. Aprende a cuidar do meio ambiente fazendo a nossa parte”, afirma Marcos Rogério, de 10 MEC sugere regras claras para a questão Karina Brito 3º semestre Fernando Augusto Villalba, um dos fundadores da “PratiquEcologia”, fala das dificuldades de se trabalhar com a sensibilização ambiental Proteção à natureza exige ação solidária Tamara Mendonça 3° semestre Como você vê a Educação Ambiental nos dias atuais? Esse é um tema que algumas vezes não é bem reconhecido. Apesar de toda divulgação por meio dos veículos de comunicação, as pessoas ainda não se conscientizaram da importância que é preservar o meio ambiente. Até hoje, muitos não entendem que é dele que tiramos o nosso sustento. Fernando Augusto Abdo Villalba é um desses defensores. Formado em administração na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul é fundador e administra a Ong “PratiquEcologia”, nome dado à instituição, que funciona desde 2001. Apesar de existir há algum tempo, ainda encontra-se bastante burocracia na documentação, o que gera muitas despesas. Com a ajuda de seus colaboradores, Fernando procura atingir o maior número de pessoas possível, alertando-os sobre a importância da preservação do meio ambiente. Seus objetivos são o empreendedorismo, ou seja, uma ação que leva uma pessoa a enxergar em alguma coisa uma forma de fazer renda, podendo gerar, assim, a autosustentabilidade. O outro objetivo é a educação ambiental. Segundo Fernando, quando a equipe ia até as comunidades as pessoas pediam cesta básicas e eles tinham de ressaltar que não fazem filantropia. A Ong não tem ajuda nenhuma do governo, no entanto, Fernando diz que é de grande importância o apoio de empresas e até mesmo de profissionais voluntários. Seu modo de divulgação é por meio do site www. pratiquecologia.org, que está no ar há dois anos, bem como promovendo trabalho voluntários nas escolas, preocupando-se em assimilar educação ambiental com cultura. Um projeto da Ong que está em andamento é a “1° Mostra Nacional de Produtos Vídeos Audiovisuais Independentes”, também chamada de “Circuito Tela Verde” que acontecerá no começo do mês de junho. Seu grande desejo no momento é colocar em pratica o principal projeto, que é construir um “Centro de Ecodesenvolvimento Pratiquecologia”, trabalhando com tijolos ecológicos, além de lançar seu livro “Ong PratiquEcologia”. Possuem parceria com o Ministério do Meio Ambiente e com catadores autônomos. O material mais utilizado em seu trabalho de reciclagem são plásticos, papeis, semente e mármore. Com esses materiais, confecciona objetos decorativos, brinquedos entre outros. anos. E eles não param por aí. A prática inclui também colocar a “mão na massa”. Os alunos aprendem técnicas para plantar, como fazer, como cuidar e levam tudo muito a sério. “Eles adoram. As aulas práticas são à tarde e não são obrigatórias e a gente fica feliz de ver o interesse deles em participar”, completa a professora Marilda. É realmente o que se pode ver: empolgação, curiosidade e muito interesse, nas aulas em que eles perguntam, questionam e aprendem como fazer. O diretor da escola, João Irineu Guimarães, se diz muito satisfeito com o resultado não só dos alunos, mas como o retorno dos familiares. “Os pais nos procuram e contam que eles chegam dizendo o que aprenderam e querendo levar isso pra dentro de casa”. Devido à enorme aceitação de pais e alunos, a escola já tem outros projetos para colocar em prática: Uma horta orgânica e um orquidário, tudo feito pelos alunos com auxilio dos professores da área. Mostrando sempre a importância de começar desde cedo, de cada um fazer a sua parte, para que a gente construa um mundo melhor. Os critérios para a educação ambiental foram lançados pelo Ministério da Educação (MEC) no documento Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), com um projeto de 1997 de forma que fosse incluído como tema transversal, ou seja, discutido por todas as disciplinas oficiais, sem uma matéria em específico. Indispensável para a educação de ensino Básico, o meio ambiente seria estudado de maneira a incentivar, auxiliar e sensibilizar as crianças, jovens e adultos com relação às questões ambientais e suas programações. O projeto da implantação da Lei Nacional de Educação Ambiental foi finalmente implantado, há dez anos, pela Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999. A educação ambiental se tornaria “obrigatória” no Brasil, propondo fortalecer seus objetivos nas escolas. Completo e esclarecedor, o texto do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) foi publicado pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo MEC em 2005 para esclarecer, fortalecer, divulgar leis e diretrizes, proporcionando facilidade e preceitos aos órgãos. As diretrizes do MEC determinam, como objetivo principal, que a educação ambiental desenvolva nos alunos a sensibilidade ambiental e conhecimentos acerca do desperdício de materiais descartáveis ou não. Sendo necessário para a agenda ambiental da administração pública a animação explicativa da A3P, um programa que visa inserir a educação ambiental nas atividades administrativas e operacionais, pelo combate ao desperdício e conscientização dos impactos decorrentes ao meio ambiente. A estrutura curricular é destinada ao ensino Fundamental, com meio ambiente e sociedade diretamente ligados. O ideal seria também que um programa permanente de formação de professores fosse implantado em diversos níveis, focando a inserção da educação ambiental de forma transversal. A responsável pela educação ambiental da secretaria de Municipal de Educação de Campo Grande, Michele Vitar, afirma que Campo Grande está em falta com a lei de 1999, sendo que ainda não está implantada a educação interdisciplinar nas escolas do estado. “Há, sim, algumas parcerias com o estado, município e fundações, Embrapa, Petrobras, Coca-cola e algumas outras, que facilitam e auxiliam nas aulas em que inserimos algo sobre a educação ambiental. Porém, cada escola tem sua autonomia quanto a isso”. A criança nas escolas geralmente tem aulas extras ou em sala, mesmo as que disponibilizam alguns conhecimentos envolvendo o tema. Os alunos da rede municipal obtiveram parceria da Cocacola em que as crianças, jovens e adultos estudantes, aprendem a desenvolver objetos úteis e favoráveis com as garrafas que seriam descartadas, causando mal ao meio ambiente. Fica esclarecido com o déficit, que não há professores específicos e nem cursos especializados. Todo o professor na rede de ensino, seja qual a sua especialização, pode introduzir a educação ambiental em suas aulas e matérias. 14 Unifolha UNIVERSIDADE CAMPO GRANDE - MS - JUNHO - 2009 Universidade abre inscrições para vestibular de junho Ascom Estão abertas as inscrições para o Concurso Vestibular da Universidade Anhanguera-Uniderp. São oferecidas vagas para cursos de graduação em nível de bacharelado, licenciatura e tecnológicos nos câmpus de Campo Grande e Rio Verde de Mato Grosso. As provas acontecem no dia 21 de junho, das 15h às 19 horas. Os candidatos ao vestibular devem efetuar sua inscrição acessando o site www.uniderp.br até o dia 17 de junho. Entre 18 e 20 de junho, as inscrições serão feitas somente no balcão da Central de Relacionamento localizada no câmpus 1, da Capital, e no câmpus de Rio Verde de Mato Grosso. A taxa de inscrição é de R$ 20,00 e o pagamento pode ser efetuado em qualquer agência bancária. Neste processo seletivo a Instituição oferece vagas para diversos cursos nas áreas de Ciências Exatas, Humanas, da Saúde e Tecnologia. Em Campo Grande estão abertas inscrições para os cursos de: Administração, Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Ciência da Computação, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis, Comunicação Social – Jornalismo, Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, Direito, Educação Física, Enfermagem, Engenha- WAGNER GUIMARÃES Provas do vestibular de junho acontecem no dia 21, no período da tarde ria Civil, Engenharia da Computação, Engenharia da Produção, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Mecatrônica, Farmácia, Fisioterapia, Letras – Português/Inglês e Literaturas e Letras – Tradução e Intérprete, Matemática, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Peda- gogia, Serviço Social. No câmpus de Rio Verde de Mato Grosso são oferecidas vagas para os cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito. Tecnólogos – Os cursos superiores de tecnologia são de graduação e apresentam características especiais. Mais conhecidos como Tecnólogos, esses cursos tem sido valorizados no mercado de trabalho nos últimos anos, devido à especialização das profissões e a diversidade de áreas. Trata-se de uma opção para as novas profissões, além de ter uma boa e rápida inserção no mercado, já que os índices de empregabilidade são altos. Atenta a essa nova demanda, para o processo seletivo de junho, a Universidade AnhangueraUniderp oferece vagas em cursos de Tecnologia em: Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Design de Moda, Estética e Cosmética, Gestão Ambiental, Gestão de Recursos Humanos, Produção Multimídia e Redes de Computadores. Informações – Detalhes sobre cada um dos cursos oferecidos, bem como outras informações sobre o Vestibular podem ser obtidos no site www.uniderp. br ou pelo telefone 0800941-4422. Dia dos Namorados: intenção de compras cai em relação aos dois últimos anos Data deve movimentar R$ 25 milhões, 17% menos que os R$ 30 milhões previstos em 2008 WAGNER GUIMARÃES Ascom Pesquisa realizada pelo Núcleo de Pesquisas Econômicas e Sociais (Nepes), vinculado à Universidade AnhangueraUniderp indica que o Dia dos Namorados volta a movimentar o comércio varejista de Campo Grande, quando mais de 68% dos entrevistados irão às compras. “Porém, é uma intenção menor que as observadas nos dois últimos anos, refletindo as preocupações com a crise econômica brasileira e com a possível proximidade da festa do Dia das Mães”, destaca o coordenador da pesquisa professor José Francisco dos Reis Neto. Segundo os dados levantados, o valor médio do investimento em presente caiu para R$ 80,00, inferior da média de R$ 110,00 em 2008; e de R$ 124,00, em 2007. “Percebemos que o comprador está mais conservador e preocupado com os seus gastos. E isto é observado tanto para as mulheres como para os homens”, comenta Reis. De acordo com ele, quase 12% dos que irão às compras pretendem gastar somente R$ 50,00 indicando presentes de pequeno valor e de lembranças. “Mesmo assim, numa época de vacas magras, deverá circular neste período aproximadamente 25 milhões Pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Econômicas e Sociais (Nepes), Celso Correia e José Francisco dos Reis Neto de reais, abaixo dos 30 milhões de reais previstos no ano passado, correspondendo a uma retração de quase 17%”, destaca. Forma de pagamento Como ocorreu nas últimas pesquisas de opinião publica de consumo do comércio varejista, a intenção de compra à vista é predominante para mais de 61%, utilizando o pagamento com dinheiro vivo, cheque ou cartão de débito. O uso do cartão de credito é indicado por mais de 27% dos possíveis compradores, ficando muito reduzido às compras a prazo. “Não existem diferenças na forma de pagamento para as mulheres como para os homens. A intenção é a mesma para as várias faixas de idade e renda familiar, indicando que o campo-grandense quer pagar a vista o seu presente para a namorada ou namorado”, destaca o coordenador do Nepes, professor Celso Correia de Souza. Para os poucos compradores a prazo, 77% escolhem pagar até em três prestações. Relacionando a baixa intenção de comprar a prazo e o valor do presente, os lojistas não deverão temer um risco elevado. Presentes – De acordo com a pesquisa do Nepes, o perfil das compras deve seguir na busca de presentes úteis e tradicionais para estas festas e dos outros eventos familiares. As roupas seguem na preferência para 13%, aparecendo em seguida perfume (12%), chocolate (8%), lingerie (8%), cesta de café (7%) e flores (7%) como os presentes mais destacados. Quando perguntado o que gostaria de ganhar, o entrevistado não fugiu muito da escolha do que irá comprar, com pequenas diferenças: roupas aparecem na escolha de 15%, seguido de perfume (13%), calçados (10%), livro (7%) e flores (6%). Local - As lojas do centro da cidade têm a preferência de 42% dos compradores. Em seguida aparece o Shopping Campo Grande (38%), as lojas de bairro (9,5%) e as lojas do Pátio Central (5%). “Há um aumento na intenção de compra para as lojas virtuais (2,4%), via internet, mas permanece a escolha de compras no Camelódromo (2,4%). Percebe-se que os mais jovens indicam as compras via internet e as pessoas com menor renda familiar deverão ir comprar no Camelódromo”, pontua José Francisco. Segundo ele, não aparecem diferenças significativas de segmentação dos consumidores para as lojas do Centro da cidade e para as do Shopping Campo Grande. “Estas últimas lojas têm uma leve preferência das classes econômicas com maior renda familiar”, diz. Sentimento e comemoração - Quando indagados sob as qualidades dos amados, 23% disseram que são companheiros, 18% que são amigos, 16% amantes e 12% são fiéis e românticos. Para 8% os namorados são ciumentos e para 6% são sexy. A grande maioria das festividades para a comemoração do Dia dos Namorados será em casa (30%). Outras escolhas são de comemorar o dia no motel (24%), seguido de restaurante (18%) e cinema (12%). “Será que o campograndense é caseiro? Achamos que sim, pois até o bar ou boate é escolhido por apenas 9% dos entrevistados. No entanto, os homens preferem o motel e as mulheres ir ao cinema. Os mais jovens desejam comemorar o dia em bar, restaurante, motel, mas a escolha de em casa ainda é maior. Para os de renda familiar mais baixa, também preferem comemorar em bar, cinema e em casa. Os de maior renda preferem restaurantes e motéis”, conclui o coordenador da pesquisa. Sobre a Anhanguera - A Anhanguera Educacio nal Participações S.A. é a maior organização com fins lucrativos de ensino profissional das Américas, com mais de 250 mil alunos em ensino superior e 500 mil alunos ao ano em ensino profissionalizante. Fundada em 1994, está presente em todos os estados do Brasil, oferecendo seus cursos através de uma rede que conta com 53 câmpus de ensino superior presencial, mais de 450 pólos de ensino superior a distância, e mais de 600 unidades de ensino profissionalizante. A maioria de seus alunos trabalha durante o dia e estuda à noite, um segmento com grande demanda reprimida no Brasil. A Companhia é comprometida em oferecer cursos de qualidade que ajudem esses jovens trabalhadores a alcançar formação educacional compatível com as exigências do mercado de trabalho e a melhorar suas perspectivas de desenvolvimento profissional. Pós-Graduação: Universidade AnhangueraUniderp abre inscrições para cursos em diversas áreas Ascom O aperfeiçoamento profissional é cada vez mais necessário para se conquistar boas colocações no mercado de trabalho. Procurar uma pós-graduação conceituada como da Universidade Anhanguera-Uniderp é o caminho para alcançar este objetivo. A instituição oferece cursos de especialização Lato Sensu em diversas áreas do conhecimento. “As constantes transformações do mundo contemporâneo exigem atualização. A garantia do su- cesso profissional vincula-se à continuidade dos estudos e a diversificação das áreas de atuação, condição viabilizada pela interdisciplinaridade presente no ensino da PósGraduação - Lato Sensu e Stricto Sensu - da Anhanguera-Uniderp”, destaca a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade, Profa. Dra. Elizabeth Brunini Sbardelini. As inscrições estão abertas e podem ser realizadas por meio do site www. uniderp.br. Há vagas para programas de pós-graduação nas áreas de ciências agronômicas e veterinárias; ciências humanas, ciências médicas e da saúde; ciências socialmente aplicáveis e engenharia e computação. Os interessados podem ter acesso à relação de cursos no portal da Universidade. “Aos profissionais que buscam manter-se atualizados no exercício de sua profissão, a pós-graduação Lato Sensu oferece oportunidade de integrar a sua carreira às modernas concepções e reflexões de ordem teórico-prática, fazendo da educação continuada caminho para compreender o intercâmbio entre o universo acadêmico e a sociedade”, destaca a coordenadora da Pós-Graduação, professora Ana Paula Melim. As aulas acontecem no bloco 8 do câmpus 1 (Rua Ceará, 333). O local apresenta estrutura adequada para as atividades, com salas com ar condicionado e equipamentos necessários para o desenvolvimento das aulas, além de biblioteca e laboratórios, disponíveis para utilização da Pós-Graduação. Mais informações podem ser obtidas pelos te- lefones (67) 3348-8255 ou 3348-8260. S obre a A nhanguera A Anhanguera Educacional Participações S.A. é a maior organização com fins lucrativos de ensino profissional das Américas, com cerca de 220 mil alunos em ensino superior e 500 mil alunos ao ano em ensino profissionalizante. Fundada em 1994, está presente em todos os estados do Brasil, oferecendo seus cursos através de uma rede que conta com 56 câmpus de ensino superior presencial, cen- tenas de pólos de ensino superior a distância, e mais de 500 unidades de ensino profissionalizante. A maioria de seus alunos trabalha durante o dia e estuda à noite, um segmento com grande demanda reprimida no Brasil. A Companhia é comprometida em oferecer cursos de qualidade que ajudem esses jovens trabalhadores a alcançar formação educacional compatível com as exigências do mercado de trabalho e a melhorar suas perspectivas de desenvolvimento profissional. ENTREVISTA Unifolha CAMPO GRANDE-MS | JUNHO - 2009 15 emanuel caires "Desde menina, fui batalhadora. Sempre procurei trabalhar para que pudesse conseguir tudo aquilo que eu queria." "Eu estou, mas eu não sou deficiente físico. Porque tem pessoas que tem tudo, mãos e braços, e são deficientes da cabeça. Porque elas não fazem nada para si, muito menos para o seu semelhante." Lazara Lessonier "Somos capazes de tudo. Depende só de querer" L azara Lessonier, aos 26 anos, com uma filha pequena, sofreu um acidente doméstico que mudou por definitivo sua vida. Perdeu seus dois braços. Teve que resgatar sua auto-estima e foi por meio das artes plásticas que recuperou a vontade de viver. Escreveu um livro sobre sua vida, faz exposições de Andréia Menezes Leonardo Brandão Marcos Ribeiro Maria Francisca Pagnozzi Taísa Rodrigues 3º semestre Lázara, faça um resumo de sua vida até o acidente. Eu nasci em Inocência e depois fui para Três Lagoas. Em 1965 eu mudei para Campo Grande. Sempre tive comigo uma coisa muito especial. Desde menina fui batalhadora, sempre procurei trabalhar para que pudesse conseguir tudo aquilo que eu queria. Era uma menina muito ambiciosa. Com 13 anos comecei a trabalhar e estudar a noite, na luta de toda mocinha, querendo as coisas, o carro, o tênis da moda. Isso não foi diferente comigo. Então eu conheci meu exmarido. Nós fomos morar em Aquidauana. Nasce a minha filha e lá comecei a trabalhar no Estado sendo transferida para Três Lagoas. Na época de divisão do Estado, eu fui transferida para Campo Grande, foi quando aconteceu o acidente. Eu estava mudando de Três Lagoas, onde eu morava. Era um apartamento que ficava rente aos fios de alta tensão, e pedi que o ajudante fosse tirar de cima do apartamento a antena de televisão. Ele passou para mim eu não agüentei o peso. Ao encostar a antena nos fios, recebi uma descarga elétrica de 13 mil watts. A senhora foi internada em Campo Grande? Fui atendida em Três Lagoas, depois vim para Campo Grande, onde não foi possível recuperar as minhas mãos e tiveram que ser amputadas. Nessa época eu tinha uma filha de quatro anos e era funcionária pública, naquela de todo ser humano achar que você nunca tem tempo para nada. Então, chegando aqui em Campo Grande depois do acidente, para mim foram muito difíceis os primeiros meses, só no hospital eu fiquei dois meses. A recuperação foi muito lenta. E como toda recuperação a gente tem uma sede muito grande que passe logo, não temos paciência, mas o tempo é o senhor. Você chegou a ter depressão? Sim, eu tive de tudo um pouco, sabe? Ansiedade muito grande em pensar, o que eu vou fazer agora? Com 26 anos, uma criança de quatro anos. Como eu trabalhava na Secretaria de Fazenda, agilizei o meu processo para aposentar, mas fora essa aposentadoria, eu procurava alguma coisa para me sentir útil. Então uma amiga me convidou para ir pintar. Primeiro eu disse a ela, “mas como? Nunca pintei! E agora sem as mãos.” Aí ela falou pra mim: “Vamos tentar Lázara, quem sabe?” E nessa suas telas e atua na sociedade oferecendo palestras motivacionais e auxílio a entidades e pessoas que vêem em sua força um incentivo para lutarem pelos seus ideais. Nascida em Inocência-MS foi homenageada por sua cidade natal com o Centro Cultural que leva o seu nome. Nesta entrevista Lazara, de forma irreverente, conta um tentativa, no primeiro dia de aula eu pintei um quadro, fiquei muito alegre, muito maravilhada com aquilo. Pensava: “Nossa eu sou capaz”. Mostrei esse primeiro quadro para o meu pai, ele era meu fã, e disse: “Olha minha filha, que maravilha. Você sem as duas mãozinhas conseguiu pintar o quadro, eu tenho as duas e não sou capaz”. Então eu comecei a pintar e a primeira exposição minha foi um sucesso. Pintando, eu conheci uma pessoa, um vizinho, que me disse: “Lázara você podia contar a sua história, porque vai ajudar muita gente”. E eu comecei a escrever a minha história. Em 1985, eu fiz a minha primeira exposição. Em 1988 eu lancei o meu livro “Vitoriosa Espinhos e Perfumes”. Então foi muito importante para mim. A senhora falou em Deus, se considera uma pessoa religiosa? Sou. Eu acredito muito Nele (Deus), eu vivo o dia porque sei que Ele está comigo, e me dá uma mão muito grande. Eu faço sutra para os meus antepassados e rezo para eles. Isso é outra energia que recebo, que é fundamental pra eu viver. A vida é difícil, mas é difícil para aquela pessoa que tem preguiça de ir à luta, porque para os fortes, para aqueles que querem lutar, não. Eu estou na faixa dos 50... Já não sei se são seis ou sete estou na casa dos “entas”. Recebi uma homenagem muito linda na minha cidade, que tem um Centro Cultural com o meu nome. Isso foi gratificante: quando você vê seu nome escrito na parede, é delirante. Eu não vou dizer que está bom, que já consegui tudo, não, eu ainda quero muita coisa. Porque eu acho que tenho muita coisa para fazer. Sou voluntária de várias entidades, da AACC, do Asilo São João Bosco, de creches. Tenho muito a fazer, porque eu recebi muito de Deus, e eu preciso fazer pelos meus irmãozinhos que precisam. Ele me deixou aqui, me deu uma segunda chance de vida porque ele queria que eu mostrasse para as pessoas que nós somos capazes de tudo, depende só de querer. Preconceito. A senhora sentiu na pele o preconceito das pessoas, tanto daquelas com quem convivia, quanto as que veio a conhecer depois do acidente? Me relacionei com poucas pessoas depois do acidente, porque morava em Três Lagoas. Aqui eu conhecia pouca gente. Mas o preconceito existiu e eu senti na pele porque você quando não é “normal” é discriminada. Se você chega no meio, as pessoas te olham, saem de perto, comentam. Então eu sou alvo de muita crítica de crianças e de adultos. Como foi o início, após o acidente? Foi difícil porque eu não estava preparada, mas hoje eu tiro de letra. Há as pessoas que me amam e me aceitam, mas existem aquelas que ficam com essa besteira tão grande, que é o preconceito. Como eu digo: eu estou, mas eu não sou deficiente físico. Porque tem pessoas que tem tudo, mãos e braços, e são deficientes da cabeça, porque elas não fazem nada para si, muito menos para o seu semelhante. Essa é a maior deficiência, porque vivem criticando e reclamando. Naquela época eu tinha dois caminhos: um era seguir procurando alguma coisa, o outro era de parar e esperar a morte chegar e reclamar da vida. Nesse caminho eu não ia arrumar muitos amigos, mas, esse outro caminho me levou para uma situação maravilhosa. Politicamente, a senhora acha que no Brasil existe uma tendência de tratar o deficiente físico como incapaz? Isso está acabando um pouco, hoje acho tão bonitinho, você vai nessas repartições e tem muita gente (deficiente) trabalhando. Está melhorando muito, já melhorou. Porque antes, há 30 anos, quando aconteceu o acidente comigo, todo mundo falava: “Coitada, você não vai poder fazer mais nada”. Teve um que me disse: “Queria tanto ser igual a você e não poder trabalhar”. Então melhorou muito, e existe a abertura para o deficiente físico. Hoje ele tem lugar reservado para trabalho. Isso é fundamental. Qual a maior dificuldade que o deficiente físico encontra hoje? Olha, o deficiente físico sem dinheiro, esse vai achar dificuldade em tudo. Mas, mesmo assim, para aquele que estuda, as portas automaticamente abrirão. Eu cheguei a um ponto em que as pessoas me vêem dentro do meu carro, e dizem: “Nossa, como você é maravilhosa”. Tem uma divisão, que eu sinto, todo mundo me acha o máximo e linda dentro do carro, mas e pouco de sua vida, fala sobre o acidente, a dolorosa recuperação, o encontro com as artes plásticas, o preconceito contra o deficiente físico e mostra sua visão com relação às políticas governamentais destinadas aos portadores de necessidades especiais, bem como a recuperação da auto-estima destas pessoas. quando estou a pé? Você trabalha com palestras motivacionais. Existem programas do governo que dão assistência à auto-estima de quem sofreu um processo como o seu? Nunca encontrei ninguém que viesse me falar de algo assim se eu não fosse procurar. Eu procuro justamente isso, essas entidades que cuidam dos deficientes, para fazer palestras. Como o vídeo [vídeo que narra a história de vida de Lazara], que foi feito para isso, pra ajudar as pessoas. Para levar nas palestras, mostrar. Então eu preciso fazer isso, por- que eu já estou “curada”, mas têm muitos que não estão. Qual é o principal enfoque em suas palestras? A auto-estima, para aquelas pessoas que moram em bairros humildes, recebem Bolsa Família, bolsa de todo tipo do governo e dizem: “Tá bom, pra que mais?” Vamos fazer alguma coisa, tem tanto trabalho a ser feito. Eu nunca imaginei que eu pudesse pintar, porque as pessoas acham assim, isso aqui é muito difícil, não sei. Mas eu tentei, e quero passar para as pessoas, que quando você tiver vontade de alguma coisa, vá, procure uma pessoa para te auxiliar que saiba mais que você. Porque nas artes plásticas foi onde eu me realizei como pessoa. E também para mostrar à sociedade, que nós mesmo assim, sem as duas mãos, podemos fazer muito, por nós e para os outros. Qual é o papel da arte para a reabilitação social? Como a arte transforma a auto-estima? Para mim no começo, foi valiosa na questão financeira. “Entrou um trocado, que maravilha.” Eu acho que isso motiva. Quem não gosta de ganhar dinheiro? Principalmente essas pessoas da periferia, arrumar algo pra ganhar um dinheirinho. Eu me senti mais fortalecida. Eu estou sem as mãos, mas eu tenho habilidade pra fazer um monte de coisas. Tanto é que hoje eu moro sozinha, o dia a dia é normal até demais (risadas). Eu nunca havia pintado, mas, quando eu cheguei, a professora assustou. Ela não se importou de como eu ia pegar o pincel, de tão assustada que ficou. A primeira professora foi...? Maria Teseli. Depois fui fazer aula com a Leonor Lage. Fiquei um tempo com ela, depois me apartei, me senti firme, tanto é que esses quadros aí (ela aponta os quadros na parede) são todos criações minhas. A senhora tem alguma técnica pra fazer as obras? Ou é mais intuitivo? Eu desenho e peço pra alguém recortar, depois passo uma tinta branca. Mas é tudo criação minha, me deu vontade de fazer uma borboleta, vou lá e risco. A técnica é essa, tinta óleo, inspiração e minha vontade. A pintura na minha vida me fez sentir gente. Pensei: “Não estou acabada eu tenho um caminho a seguir”. Qual foi a emoção da primeira exposição? Indescritível, foi o resumo de tudo. Eu fui pintando e decorei minha casa, morava em uma casa enorme. Foi quando a professora me pediu pra começar a pintar para minha primeira exposição. E eu fiz 26 quadros. Fiz a exposição no dia do meu aniversário, 26 de setembro. A exposição tinha um tema? Não, ninguém sabia de nada. Escrevi convite para todo mundo. “No meu aniversário, vão ter uma surpresa”. Todo mundo ficou admirado, vendi tudo, e com esse dinheiro construí uma casa para minha mãe. Eu tinha dinheiro para fazer uma viagem longa, ou comprar um carro zero. Aí pensei: minha mãe não tem casa própria, mora de aluguel, e eu construí uma casa para ela. Nossa, a realização não foi do meu pai e da minha mãe, foi minha. Saber que eu fiz aquilo com o meu trabalho. Meu pai ficou orgulhoso, contava para todo mundo. Fiz uma exposição, no início de maio lá no Estoril, fui convidada especial dos 80 anos do clube. Eu olhava, quantas pessoas, todo mundo me conhecia, tinha umas 500 pessoas lá. Eu já fiz um pouquinho da minha história, são 24 anos de pintura. E nessa minha caminhada eu tenho seguidores, uns que pintam porque a “Lázara pintou, porque não eu?”. Outros: “Lázara dirige porque eu não vou dirigir?” Para finalizar, qual o maior sonho de Lazara Lessonier? Eu quero ser muito feliz no amor e dentro do amor ajudar muitas pessoas, e quero pintar muito ainda. "A vida é difícil, mas é difícil para aquela pessoa que tem preguiça de ir à luta. Porque, para os fortes, para aqueles que querem lutar, não." 16 Unifolha comportamento CAMPO GRANDE-MS | junho - 2009 Do sertanejo à música eletrônica Nathalia Albuquerque 3º semestre A vida noturna da capital agrada a todos os públicos. São variedades em locais e estilos musicais. Temos a opção de curtir um bom sertanejo em lugares com estilo mais country e também em locais mais sofisticados, como a Valley. São diversas duplas sertanejas presentes em Mato Grosso do Sul, com muitos talentos escondidos que merecem ser reconhecidos. Há o sertanejo mais agitado, o mais romântico para dançar juntinho... Para quem gosta de um samba de raíz ou um pagodinho, há várias opções. O que posso sugerir é o Barbaquá, bar localizado próximo à avenida Afonso Pena que conquistou seus clientes trazendo sempre música de qualidade em um local aconchegante e com gente bonita! Para noites alternativas, temos o velho e bom rock... Bandas com produções próprias e covers, sendo que cada uma agrada a todos os gostos. Desde aqueles mais pesados como aquele estilo mais pop rock. Temos a banda Lynx, conceitual, que começou como cover da tão conhecida banda britânica Oasis e foi passando para outras bandas como The Verve, U2, Coldplay... Hoje, se tornou uma boa referência em rock britânico de muita qualidade. Para os amantes da música eletrônica, as opções são poucas. Mas as poucas que possuem satisfazem seu público. Há os apaixonados por raves, que acontecem em nossa cidade com uma certa freqüência. Já os que gostam de locais fechados, as famosas boates, podem desfrutar de algumas opções. Um club nathalia albuquerque Cenário da música eletrônica mundial é constantemente reproduzido em Campo Grande, em boates especializadas, com DJs residentes e atrações nacionais e internacionais que se tornou referência no Centro-Oeste brasileiro é o Garage. É um lugar lindo, com gente bonita, estrutura, iluminação e atendimento singular. Lá você pode dançar ao som de tops DJ’s na- cionais e internacionais com garantia de música boa. Existem, também, opções de boates menores, como a Hause, recém inaugurada aonde era o antigo Tango. Por falar em Tango, a boate Ambiente familiar atrai público de bar rock-pop Fernando Mendes 3º semestre Funcionário público insatisfeito. Queria abrir o próprio negócio em que aproveitasse os filhos na fase universitária que acabara de começar. Isso foi há seis anos, quando Elbio Soares da Silva abriu um bar para atender o público jovem e universitário. A composição das atividades de lazer que o bar oferece foram todas decididas por ele ao lado de sua família, que desde então formam a equipe de trabalho. A participação da família é total na estrutura do bar. Elbio, sua esposa Arlete e seus três filhos, Eduardo, Leonardo e Ricardo dividem as funções por aqui. Ele na coordenação geral, ela no caixa e os rebentos dividem bilheteria e bar. “Trabalhar na noite é muito desgastante e um tanto tenso. Ainda assim nos sentimos bem, pois temos reconhecimento do nosso trabalho pelo público, que é fiel”. Sinuca, telão com os melhores jogos de futebol, shows no salão principal e cerveja gelada. A família a partir disso, ganha o maior número de agregados nesta casa que virou extensão da Anhanguera-Uniderp nas noites de quarta a sábado. O clima familiar, com o brilho da boemia, tempera o estabelecimento. “Temos um público em que 70% tratamos pelo no- me. Muitos dizem que aqui se sentem seguros”, comenta, orgulhoso, atrás do balcão. Com lotação máxima de aproximadamente 700 pessoas, é sem duvida a casa noturna mais importante da cidade para o cenário musical atual. Por aqui passaram e passam inúmeras bandas e grupos musicais. Alguns desses grupos passam temporadas fixas e outros organizam eventos em datas especiais. Embora Elbio seja palmeirense, o bar atende preferencialmente a torcida do São Paulo. Sua esposa e filhos são-paulinos venceram nessa pela maioria, e a torcida ganhou um espaço exclusivo para as emoções com o tricolor. nando mendes Elbio Soares diz que 70% do público que comparece ao bar é tratado pelo nome pela sua equipe mudou de local conquistando cada vez mais clientes. O The Club, uma opção em noite underground, é um sonho concretizado de vários amigos DJ’s que também conquistaram o seu espaço. São locais que constroem estórias, tendo a diversão como principal objetivo. Lugares em que as pessoas conversam, fazem amizades, tomam seus drinques, tiram fotos, dão risadas, enfim, se divertem! Que entram para a memória de todos e que tornam a vida de nós, jovens, muito melhores, curtindo intensamente cada momento. Para quem ama a noite, aqui só não se diverte quem não quer! FISCALIZAÇÃO Outra face da balada Natália Chaves 3º semestre O fim de semana chega e junto com ele a agitação noturna nas ruas da cidade. Bares, casas noturnas e restaurantes lotados. Uma grande movimentação de pessoas em diferentes lugares. Jovens e adultos saem para se divertir e para aliviar o estresse de mais uma semana que passou. E é nesse ambiente festivo que a Companhia Independente de Polícia Militar de Trânsito (Ciptran) vem intensificando suas campanhas e fiscalizações. A vida noturna muitas vezes pode ser traiçoeira. Em alguns casos, as pessoas exageram na perigosa combinação: bebida e direção. Essa combinação ainda é freqüente mesmo com a Lei Seca, em vigor desde 19 de junho de 2008. Em ações realizadas pela Ciptran no fim de semana do dia 8 ao dia 10 de maio, foram constatados 72 acidentes, 56 com envolvimento de vitimas. Sendo que o numero maior de ocorrências foi no domingo, a causa principal: as pessoas aproveitam o dia para ver os familiares e amigos e acabam exagerando na bebida ou ficam mais descuidadas no trânsito. Porém, segundo a soldada Hadlich, relações públicas da Ciptran, os índices de violência já foram maiores. “As campanhas educativas, apreensivas e a lei seca contribuíram para diminuição dos números”. A soldada cita que é comum nos finais de semana serem realizados uma média de sete testes de alcoolemia. No início da Lei Seca esse número chegava a ser o dobro. Porém, ainda é necessária uma maior conscientização dos motoristas. Pessoas dirigindo sem documentação do carro, dirigindo sem CNH e embriagadas são as maiores causas de apreensões em blitzes realizadas em pontos estratégicos da cidade nas noites de sexta a domingo. Essas blitzes ocorrem em locais com grande movimentação de pessoas, em horários de entrada e saída de bares ou festas agitadas. Alguns locais já se tornaram freqüentes, como a avenida Afonso Pena próximo a bares, e grandes festas que ocorrem na cidade. Esses locais são escolhidos também, pois o “público alvo” das fiscalizações são os jovens que possuem entre 20 e 30 anos. A Ciptran, segundo a soldada Hadlich, realiza essas ações para conscientizar e educar as pessoas. Uma tentativa de diminuir acidentes, infrações, e a violência no trânsito. Violência, que no final de semana cresce, assim como os números de assaltos, roubos e até mesmos seqüestros relâmpagos vem se tornando mais freqüentes na cidade. Em contrapartida, a Polícia Militar vem intensificando suas rondas em pontos considerados críticos. Uma medida adotada para coibir possíveis meliantes e para passar mais segurança aos campo-grandenses. A Ciptran, para diminuir a violência no trânsito realiza blitz, em lugares diferenciados no período das 22 às 4 horas.