BRITO
CAMACHO
SCENAS
DA
VIDA
uWliiilllllHWItt
Lívraña Editora
GUIMARÁES
68, Rúa do Miinbn,70
LISBOA
"
C,«
é
#
^-
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/^
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SC™\S
DA
1."
^1^
/
MILHAR
VIDA
AUCTOR
DO
Publicados
t
(esgotado)
propaganda
A
(esgotado)
crünes
Dois
Por
arfara
Ñas
horas
de
Oeníe
A
esgotado)
intimo
de
caniinho
d'
Latino
África
lendas
de
alentejanos
Quadros
Pretos
brancas
e
Jornadas
Ugeiros
Cantos
Gente
A
varia
Cantos
e
Sccnas
da
sátiras
vida
publicar:
Fógo
(2.^ edigáo)
{2." edigáo)
Rustica
Terra
(2.^ edigáo)
vista
da
amores
Os
(esgotado)
calmas
Carlos
D.
(esgotado)
leve
Longe
(esgotado;
viagem
de
Impressoes
Ao
(esgotado)
mórbida
Heranfa
disperso
Coelho
BRITO
CAMACHO
SCENAS
VIDA
DA
1.0 MiLHAR
Livraria
ñbitora
guimarAes
68, Rúa
LISBOA
do
Mun^o,
"
70
c.^
70.
1.
Comp.
59, Rúa
e
imp.
Diario
na
lAlPRENSA
de
LUCAS
Noticias, 61
—
"
LISBOA
C.»
o
la
dois
em
anos
cheia,
Urna
fizera
desviar
n'um
paredáo
moinho
o
que
d'outra
como
o
Moinho
da
leito
inútil,
trabalhava.
nao
igual
havia
nao
memoria,
ribeira, conyertendo
e
n'um
levada
a
agude
o
caneiro
sem
presumo.
Durante
^
potes,
e
enrodilhava
pela
oliveiras
de
bragos
moinho
O
dia.
Nem
convertido
ali
ites
havia,
de
Por
paredes
tempo
n'um
freguezes
alqueires
outra
as
do
d'aquele,
lavrador
fatalidade,
uma
como
telhado,
o
argamassada,
bem
muralhas.
sem
houvera
uma
—
trigo
para
o
feitas
de
se
e
a
nho,
moi-
farinha
que
alqueire
ura
do
carrada
ainda
comportas
fossem
do
retirar
para
o
noite
como
beltrano,
das
da
á
ferro.
eram
grossas
varios
arrancaba
presas
o
porque
pogo,
e
fortemente
rijas
pernadas
ficara
aluindo
nao
pedra
e
fiexiveis
azinheiras
e
desabrida
ventania
uma
muito
arvores
as
raiz
térra,
tempo
mesmo
ao
chuva
caira
despegar,
sem
semana,
uma
d'este,
lavrador
por
lano,
fu-
joeírar.
abrira-se^
e
o
VIDA
DA
SCENAS
acionasse urna
se
o
correspondente rodizio,como
n'uma vertigem,acabou por
forca demoniaca, a girar,
fazer
se
bocados.
em
Ninguem
caudalosa
como
as
chapadas,
a
raorrerem
de todo.
o
de
1856,
herva curta,mal
em
pedirem
um
de
verdejandoñas
diasinhos de sol para
uns
de fome,
ano
ano
coisa assim, a ribeira
gadas,
rio africano,as térras baixas ala-
um
searas,
Previa-se
d'uma
lembrava
se
terrivelcomo
ano
um
nao
palha e de feno, maisde feno que
se
as
searas, sobretudo os trigos,
palha, porque
Muita gente, n'esse ana
tinham perdido á nascenga.
Irasofreu a miseria negra, sem
e sem
terrivel,
pao
balho. Chegou a vender-se um
alqueirede trigopor
de
mil
quatrocentos réis,tres
e
menos
o
O
propriedadedo
era
mandara
o
que
para
gada
a
ir
fazer, menos
beneficio de toda
moer
o
ros,
e
nao
era
esta levava
O
acesso
um
ao
moinho
ou
tinha
fácil para
muito firme, e
Siberio Augusto,
d'ele tirar lucros»
famiiia da
urna
Aldeia,obridistancia grande,
de vento,
damente
aproxima-
e
d'agua,a
moinho
chegadoiro para car*
acessível,
quando
pelo lado da ribeira,
que
mau
golpe d'agua
moinho
do
tanto do lado da
—
a
distancia n'um
mesma
juzante,moinho
sr.
para
trigoa
seu
mais d'uma legua em
a
mais
pouco
custo ordinario n'esses tempos recuados,
seu
moinho
que
vezes,
carros
como
e
a
sr.
a
cobrir
as
Silverio era
ribeira,
como
cayaleiros. O
passadeiras.
fácile
modo,
có-
do lado oposto
bom,
alargava
ribeira,
a montante,
porto
era
SCENAS
n'um
pego,
que
gaya
ali um
pouco
a
passagem
ser
de tres
maís
do
pouco
barranco
o
gada por sobre
chaisseiros,de
um
em
moinho, hayia
fundo
pego
corrimáo, frágilamparo
dava
um
audaciosos
nao
animo, permitín
do-lhes distraira yista da iminencia
Fora
juncos,servia de
e
mais
timidos
aos
com
ramaria.
abundante
e
os
agua
estreito,entre dois
hervas
que
a
pingúelalan-
uma
e
tronco
grosso
que
nao
de
anos
restituía á ribeira
corda feita de ramos,
utilisayam,e
quatro horas, a
ou
grande inbaíxo do porto, quasi najun-
para
que
trabalhaya
Uma
lagoa, a corrente cheamortecida,raramente estorbando
parecía uma
por
vernia. Um
que
VIDA
cheías desmarcadas,
ñas
(ao
DA
do perigo.
dia de grande festa,de brodio rijo,
o da
inauguragao do moinho. Juntou-se ali o povo todo,
yelhos,
homens. mulheres e creangas, os novos
e os
só ficando em
casa
podía ir para a rúa.
nao
quem
Por
feliz acaso,
na
uma
^espera,
Goinhas, escorregando-lheao
caira de
maos,
a
O
sr.
Silyerio comprou
Aldeia, que
festa*
•.
no
dia
ensopada
com
com
a
tempo
mesmo
labrador
as
duas
cachafundáo,d'onde
mangualde n'um
tiraram,a muito custo,
do
vaca
uma
perna
partida.
fazendo constar,na
vaca,
seguinte ela tomarla
batatas
e
borrifada
parte
com
na
vi-
nho.
ordenara o sr.
Aqui ninguem se embebeda
Silverio,
quando a familia,distribuida em
grupos,
formando
car,
se
circuios,
dispunha a mandupequeños
—
—
cada qual tendo levado de casa, por expressa
re-
DA
SCENAS
comendagáo
ferro
ele fizera,
garfo de
o indispensavel
que
nao
para
—
VIDA
á unha.
comer
tacho,
moleiro,erguidas as
A primeira garfada de ensopado, ainda
foi a do
Siberio, quando
sr.
comportas, disse para
Seja louvado e
.
os
e
Nosso
adorado
:
Jesús
Senhor
•
.
Todos
seia!-
familia,ali reunida
a
—
Christo.
o
no
homens
os
logo o
e
—
.
a
pequeños
tiraram
o
raoinho
se
alguns ainda
coisa que
—
ver
quererem
chapeu, dizendo
encheu, os grandes
trabalho das mós,
o
tinham visto,
e outros
nao
es-
complicado e
muito engenhoso todo aquele mecanismo, o trigoa
cair,em pequeninas porgoes, da tolda para a mó de
baixo, gragas a um estremecimento constante regulado
systema adamita de alavancas,pesos e
por um
fartos de
tavam
cordeis,e
sentido
com
e
forga da
mó
a
ver.
Achavam
de cima
a
mesma
ao
rodizio
sr.
Silverio
agua
a
e
muito
no
mesmo
girar,sempre
velocidade, transmitida a
d'esteá mó, por um
eixo
vertical.
A'
do
voz
arde-..
guendo
a
circuios á
um
ou
Ave
as
—
saia
mulheres
—
isto,que se faz
assentaram-se
no
chao, era
vamos
de cima, refazendo-se
os
em
pratada,os homens
de ioelhos.entre as mulheres, como
roda de cada
outro
Maria, alguns de cócoras,sentados
nhares, á moda africana.
Aqui ninguem se embebeda
dois mocos
tempo
mesmo
da
sua
casa,
que
dava
armados
nos
repetiuo
—
—
ao
grupos
ordem
ou
pé,
na
calca-
sr.
para
verio,
Silque
de garrafae copo,
SCENAS
garrafa grande
urna
dando
O
rao,
e
VIDA
um
copo
fossem
pequeño,
vinho á familia.
Os
—
DA
bebem.
gaiatos nao
Caryalhosa,ruim
quando Ihe iam
da vestia
É
—
dar
a
o
copo,
cordel, anindo-lhe
um
Isso para
—
trabalhador
pontas.
as
é, ó tio Francisco ?
que
enguliro
nao
para
grande bebertirou da algibeira
e
copo,
se
me
da
escapulir
máo.
O
Silyerioou^íu,e mal disfargandoo
sr.
disse para
sobreiro
dume,
nem
um
filho mais velho,um
o
a
cheio
um
como
Ninguem
que
embebedou,
se
tendo
Ihes caia
Retirou
Ihando
sem
o
pedra,
familia para
e
olhar
espumar
a
mas
todos ficaram ale-
como
a
Aldeia, em
na
ranchos, bá-
volta das romanas,
os
aproveitandoaquela mongáo para renovapalavras,os seus juramentos e promessas,
choques eléctricos.
mulher e osfilhos,
deixou-se
a
até quasiao sol posto, sentado n'uma
moinho
a
estiver
sóbe-lhes logo á cabera.
estomago
no
provocando contactos
O sr. Silverio,
com
ficar no
Ihe
ainda mais que os homens, porque
habito de beber, qualquer pinga
cantando,
e
namorados
rem,
a
nao
nao
odre.
grotes,as mulheres
nao
que
:
cabega d'agua emquanto
deixes sair
aze»
mogo
O' ]oáo, leva aquela besta á levada,e
—
a
seu
ouvir
como
a
o
que
eram
vada,
lígeiramentebarrenta,da lebarulho que ela fazia nos rodizios.
agua,
nos
burdos.
moleiro que puzesse
um
signalno
de farinha que al¡se fizesse,
e que Ih'o
Recomendou
ao
primeirosaco
mandasse
É
—
o
para
no
casa,
para
S. Roraao,
VIDA
DA
SCEXAS
pao
Deus
se
logo pela manhá.
seguinte,
dia
hade
que
se
nos
der vida
comer
na
festa de
saude.
e
grande trabalho do padre, na festa de S. Roalém das pessoas
de benzer, porque
e
era
o
animaes
efeito,
que se apresentavam para esse
O
mao,
dos
tinha de
benzer
metros
de
metros
e
fita,arrateis
Era cren?a muito arreigadaque
arraléis de pao.
benzido livrava de muitos perigos e curaya
pao
rauitos
ya-se
achaques, comido
por
muito
lempo,
com
as
mezes
pessoas
o
devogáo. Conservaanos,
e
bolor, ralado,quasi pulverulento,
e assim
afirmavam
e
lomar
sem
caz,
efi-
mesmo
devolas,para debelar
tas
cer-
doengas. Sempre minha máe trazia da festa de
S. Romao, a que raramente
faltaba,alguns pies benfallasás pessoas
zidos,dos quaes mandaya pequeñas
das suas
relagoes gravemente doenles ou atacados
de mal crónico, rebelde ás drogas da botica.
O
moinho
era
Silverio,
que
só
nao
estendia
com
as
o
demorando
sentado
ribeíra,
homem
agora
o
encanto,
o
dias ásperos
de vento
até lá, demorando-se
pernas
nos
moleiro,e quando
se
ou
a
fumar
o
do
namoro
moleiro
e
estendido,
na
vaga
chuva
a
nao
á beira da levada
sr.
versar
con-
lava
es-
ou
distragáod'um
hábitos de pensar, e se encon1ra desocupado, por assim
dizer inerte de corpo
siderado de espirito.
que
nao
da
tem
e
SCENAS
O
moinho
leiro era
boas
faziam
tolda
nos
outros
e
e
mais
Silverio fazia
Aquí
nao
No
dia
aos
cadas,
pi-
Ihe entraya
fosse muito
nao
na
bem
instante recomendagáo que
tira
se
em
raoleiros,
era
seus
que
homem
sou
nao
bem
sempre
sem
constar
me
o
que
olho da
dizer
para
nin-
a
vocemecé
E
rúa.
nao
olhe que
coisa
urna
o
esta:
pitada de farinha
urna
dá boas contas, vai para
eu
mós,
moinhos-
priraeirae
guem.
as
mo-
o
pedras,e a sua raaquia nao
sucedia,geralmente,
alargar,como
térra
de encolher
—
e
punhado de trigoque
um
era
sr.
contas,
excelente farinha. Nao
¡oeirado,sem
A
VIDA
bera afreguezado,porque
estava
de
DA
fazer
e
outra.
De
raoleiro que
ao
fosse trocar
nem
que
freguezes nao
os
comego
o
se
esqueciam de
tivesse muito
trigo,quasiescolhido bago
seu
picado de cebada, nem sujo de térra
até podia servir para hostias,muito
A
puro.
pouco
e
pouco
tal recomendagáo
o
moleiro
cuidado
era
bago,
trigo
a
um
sao
nao
muito
e
todos foram
percebendo que
primeiro logar porque
inútil,
em
fazia trocas
nao
—
comendar
re-
nem
baldrocas,
e
em
todo o trigoque ele farinava
segundo logar porque
era
passado ao joeiro,táo isento de impurezas como
fosse escolhido a dedo, no taboleiro.
se
O sr. Silverio nao
tinha propriedade que Ihe desse
rando
maior
rendimenlo, pouco
dispendiosa,as mós dueternidade
uma
recendo
Se
a
ter
a
mesma
ribeira
nao
e
a
madeira
dos rodizios pa-
duragáo.
secasse,
no
verao;
se
tivesse
durante
muito
o
ou
ano
melhor
canceiras inherentes
se
ver
traisse,e
nao
que
como
assento
um
essa
de lavoura.
ele arrendasse
aquela bebedeira
Ihe passava
yerdade,
era
a
filhos queriam que
Os
VIDA
represada que alimentasse a levada
inteiro,o moinbo seria urna mina,
herdadola,sem as despezas
que urna
corrente
agua
€
DA
SCENAS
12
o
; mas
moinho, a
ele dizia,
e
tinba coisa que mais o discustrario das ouao
distragáo,
Ihe nao
custava
dínheiro,antes Ihe
distragóes,
O moidava lucros,havia de conserval-a até morrer.
tras
nho seria
ultima coisa que
a
dividas,se
suas
Deus
as
alienaría,
para
tivesse,
ou
para
matar
a
pagar
as
fome, se
permitisseque
chegasse a esse extremo.
Quando
fechar os olhos,voces
farao o que
eu
iiverem na vontade. Se quizerem arrendar ou vender
deu.
me
moinho, a mim tanto se me dá, como
se
o
—
Calcula se, pelo que exposto fica,
qual seria o desgosto do sr. Silverio quando viu o seu moinho des*
telhado pelo vento, quasi cheio
troncos
d'agua,
e
rai-
levada,o agude roto, a esboroar-se
como
se fosse de taipa!Este espectáculoatenazara*
Ihe o coragáo, que
tríz nao
rebenta,dias
por um
passados, notando que a ríbeira tinha mudado de
leito,ficando assim condenado o moinho a nao ter
trabalhar,mesmo
agua
para
que os invernos fossem
zes
de
boiando
chuvas
Perdeu
atencioso
na
dando logar a caudaes
diluvianas,
o
apetite; tornou-se
que
era,
fez
se
mos.
extre-
tristee ¡rascivel.De
grosseiro;como
que
per-
SCENAS
dera
o
da fala,sempre
uso
ás perguntas
acenos
DA
a
VIDA
13
calado,respondendo
de
podia díspensar-se
nao
que
por
responder.
Nao
dava mostras
doente;pelo menos
nao
de sofrer,acusando dores aqui ou além,sempre
fresca
a
pele,o que excluía a hypothese d'alguma camada
de sesoes
que tivesse no choco,e viessem, raais agora
mais logo, a por-lhe as uvas
em
pisa.Nem
sequer
acusava
aquele mal estar,difuso,incaracteristíco,
que
ramente
a explosáo d'uma
precede muitas vezes
doenga claestaba
definida.
aquiloIhe passaría, concertado o moinho, prolongada a levada de
ir receber mais longe,alguns metros
modo
mais
a
fóra do velho
ácima, a contribuigáoque a ribeira,
leito,
já nao poderia dar*lhe,
quando enchesse
mesmo
Lembraram-se
a
inundar
Nao
—
bem
Um
quero
nao
dia,na
taverna
uso,
estavam
eu
onde veio
a
sentenciou
—
meio
por
Se
ele está»
como
ele.
da Zéfa Castanha,viuva ainda
homens
nao
e
mais
bebendo,
em
gre
ale-
sisudos da Aldeia»
Ih'a
nao
da sucia,mas
era
borracho,para
esta forma
único remedio
rabo.
ver
olhe para
nao
comendo
Aquilo,pelo que
—
puder
o
Está muito
falar-se da doenga do lavrador Silverio.
Carvalhosa,que
havia pouco,
moinho.
no
fago
que
petisqueira,os
O
mexam
que
mesmo
bom
O
visinhos.
campos
assim. Quem
faga o
em
os
filhos de que
os
a
embicar
a
carrada,
:
gente
ouve
doenga, é
fízerem,ou morre
para
ali entrara»
esta
dizer,é
pasmo.
uma
sangríano
ou
fica parvo.
SCENAS
14
Alguem foi contar
Carvalhosa, por quem
b¡rra?ao,fingindoque
ele, para
ao
ele tinha
o
si ¡urou que
de si para
Silverio
sr.
eraparticular
urna
v¡a,quando
nao
o
gracinhado
a
saudar. Enfureceu-se
nao
o
VIDA
DA
Carvalhosa
por
passava
lavrador,e
o
Ih'as ficaria
nao
devendo.
Carvalhosa,recolhendo do trabalho, quando trabalhava,ia buscar urna quarta d aPogo da Cérea, passando rente á porta do
ao
gua
Todas
quintaldo
u^.s
o
Silverio,por
sr.
ser
esse
o
caminho
mais
de entrevada bavia
menos
mulher, pouco
d'anos,a muito custo fazia os arranjosda
A
curto.
tardes
as
poucos
alguns pontinhos quando as dores amainavam
um
Apezar da sua desgrana,o Carvapouco.
machinhos, tocava-lhe
Ihosa, quando carregava
os
dando
casa,
ameagando-a de morte se desse um
pió mais alto. Nem por isso a visinhangadeixava de
tratos que ele dava á pobre
aperceber dos maus
se
de Christo,tanto mais que algumas vezes
os
murros
dó
sem
a
pavana,
marcados
Ihe ficavam
Na
Aldeia
nao
na
cara,
havia quem
figura,trabalhador ruim
em
casa
ámanha
d
patráo,e
um
além,
Bastava
o
porque
nao
que
herdara de
á
merecia
ele fizera á sogra
ele.
Foi
aos
seus
róxas.
urnas
o
que
para
o
ganbava.
toda
a
gente
casinbas,única coisa
pais,mortos
trabalhos do campo,
pois vivia do quasi nada que
acabava
tempo
joma andava boje aqui
nunca
que
enquisilar
com
Tinha a pobre velha
nodoas
gostassede semelhante
que
que
em
¡á ela
emquanto
rendia
o
eslava viuva.
poude
seu
; de-
trabalho
DA
SCENAS
i6
VIDA
O' Carvalhosa,chega aqui.
—
Caryalhosa, pousando
O
quarta no chao, ayanele,levando a mao ao
a
despreocupadamentepara
:
chapeu, para cumprinientar
gou
tarde,sr. Silverio.Está melhorsinho ?
Boa
—
As raelhoras sao
—
isto,sem
que
pende
taste,nao
Palavras
Ihosa
urna
nao
obrigado.Persuado-me
tu receisangríano rabo, como
poucas,
lado da saude.
o
para
cae
ditas,
eram
saraivada de murros,
urna
cima do Carva-
em
de que
ele
nao
curaba
pro-
muita encolhido,d'uma humiiuade
livrar-se,
de cao. a procurar abrigo entre as pernas do dono.
Eu nao Ihe fiz mal neDeixe-me, sr. S¡l"7erio.
—
nhum
!
Ai que
me
!
mata
familia dos quintaespróximos,ninguem in-
Acudiu
contenda,que
explicando:
tervindo
—
o
na
Tinha
urnas
estou pago
e
contas
labrador deu por terminada,
ajustarcom
a
este mariola ;
satisfeito.
O pasme
é uma
naria,
doenga da velha medicina veteriabundantemente
descrita no Thesoure des Lavraderes.
d'esta obra
Possuo
de
1762, faltando-lhe uma
em
que
suas
O
o
auctor
faz
a
exemplar que tem a data
folha,justamenteaquela
apresentagáo e explicaas
um
sua
medicinas.
pasme,
contados
de
acudindo-lhe
desde
que
a
maluqueira,nao
nos
primeirosoito dias
entrou
rez
é
a
cios
dar claros indi-
doenga fatal,mas
exige
SCENAS
tralamento
um
VIDA
de
vergas
fógo
Cavaco, o ¡lustreManuel
dade
Martins Cavaco, auctori-
alveitaria do gado
na
sangría
rabo,
no
17
enérgico, consistindo principalmente
sangríase
em
DA
fazem
como
nao
yacum,
recomenda
alguns ayctores;
dispensa o fogo á roda dos cornos
Ihas,fogo moderado
por baixo das orelhas
nao
parte mais
As
mal
o
de fogo á
verga
alto da testa
do ponto mais
dos olhos para
outra
cede
nao
vulcanict^,
e entao
urna
vaco
das
mas
ore-
ser
per
—
cenjuncta do cerebro.
vezes
medicina
e
a
promptamente
recomenda
a
esta
grande Caroda dos miólos,abaixo
uma
máo
o
travessa,e
baixo, atravessandolhe
urna
foci-
o
nho.
entendido, a therapeuticado
Bem
reduz
que
carburagáo ;
esta
a
acendeu
as
mas
pasmo
foi ela,sem
furias do lavrador
se
nao
davida,
Silverio,
a
ver-
se
pelo Carvalhosa como
uma
o que
vaca,
seria ridiculo,ou
nioso,
um
como
boi,o que seria calumvirtuosa como
a sua
era
companheira.
No
primeiro livro do Theseuro
o auctor. comegando por um
hymno á Agricultura,acaba por uma
dissertagao erudita sobre a sangría,encarecendo
o
considerado
muito
que
deve saber
desempenhar o seu
uteis as sangrías que
Nos
aínda
recuados
se
rameníe
os
anos
o
artíficesangrador
mister, isto é, para
em
eu
tempes
nao
que
que
sejam
fizer.
em
que
praticavaa sangiia,mas
que
bem
para
sangreí nem
eu
estudei medicina
raramente, tao
vi sangrar,
ra*
durante
frequenteias clínicasescolares
no
S. José. Depois de medico, dinico de
Hospital de
acanhados
VIDA
DA
SCENAS
i8
duas
fiz urnas
recursos,
intervindo de urgencia.
muito d'este processo
Abusou-se
velhos
falta
mento
lempos
mas
;
estou
nao
sangrías,
tres
ou
nos
therapeutico,
certo de que
bem
d'uso,subsequente ao abuso, seja um
louva\7eIna
procedí-
generalisagáoa todos
sua
a
os
sos
ca-
mórbidos.
falta de sangue
constitue
um
perigo de yida,faz-se-lhes a transfusáo,ísto é,
de mad'bomem
veías sangue
mete-se-lhes ñas
ou
caco,
doentes
Aos
em
que
a
tes
humano; aos doeno sangue
preferivel
de sangue,
cuja vida está em risco,por excesso
será rasoavel sangral-os?
nao
Brazíl já funcionam
e eu
Nc
hospitaesespiritas,
dísvejo que as theorias espiritassejam menos
nao
cina
paraladasque a theoria dos humores, base da medirasáo da therapeutica
depletiva.
antiga,e suprema
sendo
poderá dizer ainda hoje, apezar de todos
da sciencia medica, que o sangue
é o
os
progressos
thesouro da Vida, e filho dilecto da Natureza :
Nao
se
—
Sanguis est vitae thesaurus
tarae
humores,
; basta admitir
como
no
melancdlía, para
sangue
possa
maneira
e
filiasdilectas
na*
?
Pois bem
do
et
a
por
a
Thesouro,
existencia de mais trez
a
fleamá,
compreender
qualquer deles, em
se
alterar
que
diverso grau
composigáo do sangue, que
limpo,para
que
o
em
a
a
celera
a
inquínagao
propor?5es
e
e
por
deve
individuo tenha saude.
rias,
va-
diversa
ser
puro
SCENAS
Se
19
os
sangue
inquinam, além de
o
quantidade,quando
o
VIDA
sangría pode fazer sair do
a
principiosque
os
DA
maus
diminuirem
o
em
é
rasao
excessiva,porque
senhores facultativosbao de fugirda lanceta como
diabo foge da cruz ?
fácil; qualquer sangrava,
Sangrar foi sempre
ponto
fer
era
esta
lanceta afíada
urna
e
urna
veia
o
dispo-
niv7el.
Mas
sabedoria
que
nao
sangrador para inlervir na
pensando-se de intervir,a
for^a maior, quando
vam
a
nao
ser
por
circunstancias
as
intervenga©?•
precisavater o artífice
melhor oportunidade,dis-
•
motivos
de
aconseiha-
nao
.
ignorar a existencia
sangrador nao
curio;
dos planetasSaturno, Júpiter,Marte, Venus e MerPrecisava
o
conhecer
brandir
fdsse
jungao, nao
da
momentos
os
aparigaoe
sua
lanceta debaixo
a
con-
duma
perigosa influencia planetaria.
tambem
Precisava
reinam
o
que
reinar
até
da
a
da
que
em
tres
nove
tarde
as
reina
melancolia,
noite
até
he fria
se
que
ás
e
comega
húmido,
e
as
colera, que
é
quente
nove
da
e
até ás
é fria
tres
húmida,
da
e
e
seca
manhd
entre
repartem estas vinte
e
certo
nove
desde
tarde
tres da
ás
e
dia ;
a
até
mores
hu-
os
facilidade precisar
quente
que
do
é
que
paciente,sendo
o
manhd
da
em
com
para
peca
que
horas
as
corpos,
sangue,
o
ás
desde
nos
humor
das
—
saber
e
e
seca
noite
desde
reina
estes
dura
até ás tres
nove
;
a
a
as
i
e
reina
nove
fleuma,
res
quatro humo-
quatro horas, e
toca
SCENAS
a
cada
nhecimento
animáis
a
sua
achara
co-
preveite e
o
dos
fisiología
escala zoológica,sao como
a
matandis,
e
se
pele dito
e
sangrías.
ñas
anatomía
a
superiores, na
anatomía
que
preceitosdele
e
Mutatis
VIDA
reinar,
de
seis horas
urna
utilidade
DA
e
a
do homem, e isso faz com
fisiología
o
pathologianao defira substancialmente,
a
pretende o Thesouro, que a theexplica,como
tituir
respeitos,possa subsa muitos
rapeutica yeterinaria,
substituida,
pela therapeuticahumana.
e ser
de moda, e por
Certo é que as sangrías passarara
que
proposto que-fóssesangrado no rabo
Siberio, reputando-o atacado de pasmo,
ter
Ihosa apanhou
tade, daí
Cayaco, e
Ura
cor
do
que
A
em
mulher
muito
saude,
noya
do
dia peor,
que
•
o
e
o
yon-
alveitaria.
em
Silyerio já
sr.
fora, amarelento,da
figado,com irradiagao
para
de barriga,
lado, e um crescer
no
se
tornaría suspeito.
depoís de Ihe moérem
días seguidos azoinando-o
sr.
a
nobre arte do
custo,
ouyido, días
da
raesmo
a
•
día melhor, outro
hombro
exercer
insignes.
mestres
outros
tinha parecengas
da palha, dores
nao
o
futuro,de
o
para
Carya-
o
Ihe tirou
raestra,que
sova
urna
labrador
o
Silyerio condescendeu
doutor, embora
o
bicho do
para
em
conyencido
tratar
ir á Vila
de
mostrar
se
ele nada
Ihe receítaria que Ihe fizesse bem.
é que me
sinto. Tenho a maquina estragada
—
Eu
ao
que
SCENAS
cá
dentro; só
por
é que
O
isto
se
VIDA
DA
com
de térra
metro
um
cima
em
cura.
doutor,tendo-o observado
minuciosamente,
num
demorado, indo até auscultadlo por cima da
jaqueta,declarou que aquilonao era coisa de maior,
€xame
receitou-lhe piluias,
duas
e
duzias,para
tomar
tres
por dia.
O
—
doutor
o
tinha
seriam
ventos,
seriam
se
as
que
ra,
ago-
vamente
efecti-
excessiva
ma-
de verificarse
muita
gente, na
aquilo
aldeia,
enfermado
a
com
mesmas
as
sin-
de hidropesia.
morrer
ventos.
doenga
urna
olhos vistos,e
Dizia-se
nos
na
a
barriga,crescendo
crises de cada
todos
da botica
Aldeia, sem
a
tornando-lhe
crescer
a
quentes, rebeldes
fora
senao
dores do figado,em
caseira,que
só
rápidos,mas
consumindo
o
doente, que
durar, ía
espeto
um
purga.
fazia piogressos
nao
pelo facto de
a
riga
bar-
pretendiaa Zefa Castanha,
do lavrador,viera
dirse-ía
a
sah'encia arredondada, nem
como
E receitou-lhe
A
estado de
afirmava
como
aguas,
Sao
—
tem
notaba
mas
atengáo,
sua
trabalho
ao
cujo marido, tendo
tomas
a
barriga em
dando
se
sequer
caso
o
Silverio,
em
a
pai
meu
inchada ?
para
sr.
o
que
tinha feito reparo,
nao
chamada
gresa,
acha
nao
bocadinho
um
O
dr.
sr.
os
vez
da
remedios
perderá ele
raais vivas
a
mais
fre-
medicina
fé por
pleto.
com-
:
propósitos irrespeitosos
Parece
—
Constou
Nosso
sapo,
um
havia
que
VIDA
DA
SCENAS
22
Senhor
Ferreira
em
um
cirurgiáo de
grande fama,
era
conhecido
admirado.
que
eram
um
homem,
deitar
e
perdoe.
me
medico
um
até
que
Lisboa
em
Atribuiam-se-lhe
verdadeiros milagres.Levaramlhe
miólos
os
por
um
curas
dia
um
bolo, a
cabega num
grande buraco
carreiro,com
um
novo,
a
que
tinha
cargo
Iho por desvia que ele estaba
cima da orelha esquerda.Levaram
por
de consciencia,porque
dobrar
a
Pois
o
unhas, já com
as
doutor enlrou
além, chegando
cose
foi que
caso
passante
liyre de
perigo. e
pancada na mola,
se
a
raez
de
no
uma
com
corpo,
e
o
pobre diabo
estava
dava mostras
de ter
o
sequer
apesar
ñas
pele
a
remedios
os
nem
com
furar-lhe
um
guelas.
ele,laya aqui,
morle
a
ás voUas
Ihe meter
agulha, para
bem
ter
perdido uma
gar*
fada de miólos.
O
Siberio
sr.
nao
tinha
menor
o
Ihe faltaya a paciencia para
á
morte
cendeu
cura,
em
Ferreira,
se
canudinho
já
preferíaa
ela yiesse depressa,mas
condes-
coragem
se
tanto
menino
ao
para
grande desembarazo
com
á vida ;
sofrer ;
ir mostrarsem
apego
e
se
muita
virtuese, de
matar.
O
doutor,
pericia,meteu-lhe
barriga,quasi á altura do umbigo»
do lado esquerdo,e poz-se
a despejalo,como
quem
despeja um odre.
E isto nao
tornará a encher,sr. doutor ?
Se tornar a encher,despeja se noyaraente.
V. ex.^ desculpe,que eu sou um
homem
rudo.
um
—
—
—
na
DA
SCENAS
24
Os
incuravel,nao
ser
Qa
días estavam
seus
VIDA
contados,e visto a
tomaria
consentiría raais benzeduras,
que
levantando
nao
remedios,
mais
guando viesse
e
nao
mar
to-
a
voltaria a Ferreira
pangada dagua, nao
da,
Ihe despejassea levao doutor milagreiro
nova
para
doen*
sua
as
comportas,
abrindolhe
mas
furos.
gente da Aldeia foi a sua casa,
informarem
se
curiosidade,mas
para
Toda
mera
a
estado, sobretudo
em
do
o
que
do odio
tra-
o
de ironia:
aquela agua era a que ele quería
bebesse na levada,quando foi da festa do
Provavelmente
—
que
eu
Raios
moinho.
o
Carvalhosa
O
ferro do
partam
ainda
homem
sentia
que
Ihe faltasse
as
de
máos
tempo, já nao
ele, ao
valente
—
era
como
as
castigar o atrevido
em
ádecor. Muito
ao
cara
na
tinha sido
desembaragado
armas,
!
lavrador, mais
mesmo
o
ressumar-lhe
a
tima
es-
reira
doutor de Fer-
Ihe tinha despejado a barriga,disse,cora
yor
seu
Ihe significarem
a muita
para
Carvalhosa, quando soube
O
por
tinham-
o
que
nao
bora, nao
que
desfazendo
ao
quando a mostarda Ihe chegava
nariz, espirrava bofetadas e cachagoes,que era
um
louvar
ninguem;
em
Dizia
mais
—
A'
a
mas
Deus.
multas
vezes
o
sr.
quando
Silverio,
vía
se
aflito:
Perdoava
a
morte
a
quera
me
desse
um
for?3 de Ihe ouvirem dizer isto,a mulher
tiro.
e
os
SCENAS
filhos
convenceram-se
matar,
e
foram
cagadeiras
gem
de
VIDA
havia
que
em
era
capaz
de
se
duas
espingardas
escondendo
a baga-
as
casa,
onde
chumbo,
25
ele
que
descarregando
pólvora e
—
DA
ele
fosse dar
nao
ela.
com
A
yerdade
é
mais, perdida
vez
carava
morte
a
poderia
o
que
ater-se
Siberio,a sofrer de cada
sr.
a
esperanga
como
um
salvaterio,
o único
inferno dos
no
melhores días,en-
em
indi-
tormentos
seus
que
a
siveis.
Worrer !
Matar-se!
Como
todos
da
homens
educado
fora
verio
os
sua
condigáo,o
da Santa
doutrinas
ñas
Sil-
sr.
Madre
Igrejacatólica,apostólicae romana.
sas
Ensinaram-lhe, ainda pequenino,que todas as coiforam creadas por Deus, o que é visivele o que
está em
Deus Creador nao
é invisivel,
esse
e
que
parte nenhuma,
seram-lhe
existe
que
para
os
está
porque
o
ceu
em
para
toda
os
pecadores,sendo Deus
a
parte. Dis-
justos e
o
ferno
in-
o
iuiz
supremo
missa
acgóes e pensamentos. Levavam-no
todos os domingos, e á confissáo todos
anos,
incutindo-lhe
das
á
nossas
assim
hábitos religiosos
que
os
ele
poderia eximir-se sem
pecado, salvo em caso de impedimento
forga maior das circunstancias.O bem e o mal,
por
favores ou castigos de
a felicidade e a desgraga sao
considerava
Deus,
ou
que
como
se
oragoes,
preceitosa
torna
que
nao
propiciatorio
por meio
servindo de
intermediarios
das
de ofrenos
san-
SCENAS
26
Disseram-lhe
tos
raais,
gáo é urna
crente, a
em
pequenino,formando
raais
que
sofrimento
pela
aguardando o
aproxiraado filhode Deus, que
redimir e salvar. Fugir ao
nos
o
Todos
mais
sofrer
a
breve
alma; mas
via
uns
seu
da
do
sr.
como
se
Morte
a
se
agora
dañado, de
cada
dores
suas
a
esquecera
de mezeS;
poucos
intenso
mais
vez
havia
nao
de ir
tró
encon-
ao
déla, alijandoura
pesado
que
Pecado
Mas
a
sera
a
Deus
horaens,serapre
sincero
rar
remissáo,
conscisncia
graveraente
os
fardo que o esmagava,
beradita cruz
do Redemptor ?
a
aos
ñas
suas
ricos,nao
o
ter
ou
correcto
hornera
prejudicadogravemente
ñas
cora
necessitavaelh'a pedia,nunca
bora,varao
tiraentos reflectindo-sena
de ter ofendido
acusava
suas
devogoeS) dando
faltando
raais
suicidio?
o
nao
vez
breve
mais
—
os
salvagáoda sua
dele,a sofrer ha-
de cada
sofrimento, porque
con-
se
Silverio,que
ura
acalmia das
a
raeninice
repetida.Preocupava-o
menos
rnera,
ho-
ascender
satisfeitopor
ensinamentos
memoria
na
evocava,
tormentos,
ultimo instante de vida,como
resignado,mas
estes
servaram
injuriase
celestes.
paramos
aos
hornera
voluntaria é renegar
o acto
vida de Jesús Christo,crucificado
seu
só
nao
resigna-
cora
v^irtudes do
dois ladrees,sofrendo
entre
a
raorte
sublime da
mais
sofrer
o
raais sublimes
das
sofreu horrores para
o
VIDA
consciencía religiosa,
que
sua
e
DA
a
aos
pobres sera ti-
esraola
raentindo
justo,a
contas, sempre
pureza
dignidadedos
a
ou
quera
do,
calumnian-
dos
seus
d'ela
seus
sen-
actos
•
.
.
SCENAS
E
se.
fossem
nao
dadeiros. os
ensinamentos,
ministrado
do levar
garfo á boca,
o
signalda
A
em
materia
em
ainda
créanla,
e
religiosa,
que
mal
saben-
¡á fazendo correctamente
?
cruz
morte
sua
27
verdadeiros,rigorosamenteyer-
Ihe tinham
o
VIDA
DA
nao
causaria daño
beneficio para
representariaum
riam desamparal-o, a mulher e
a
os
os
ninguem,
nao
que
antes
podeofen-
filhos,sem
moral
humana, ultrajandoao mesmo
tempo
mizericordia
divina. Repetidas vezes
a
pedirá ']á
a
entrecortadas de gemidos,
a Deus, ñas
suas
oragoes,
eram
dores, quasi abafados pelas dores,que
que
derem
a
torturas.
eram
Era
Pois
indigno de viyer
entao
morte, que
é
a
usura
sofrimento
que
sao
escorreito ?
e
cessasse
seu
o
bemaventuranga, comprada
por
tal prego,
de
condenada
fariseu,
pela Igreja,e o
nuado
eterno, comegado neste mundo
e conti-
outro, é coisa que se nao
compadece
mizericordia
divina. De resto, o que se mata
no
a
sofrimento pela
com
ñas
condigoes antecipa a hora do seu julgamento
tribunal divino;comparece
voluntariamente peno
rante
o
dene,
Juiz para que o absolva ou conSupremo
segundo os dictames da sua iniludiveljustiga.
assentou
Vencidos os últimos escrúpulos,
o sr. Silverio em
logo no dia seguinte,aparene
matar-se,
tando
suas
alivios,mostrando-se
quasi satisfeitoá forga
de resignado,disse á familia que
se,
mas
Villa.
que
nao
se
sentia
com
desejavaconfessarforgas para ir á
DA
SCENAS
28
—
VIDA
filhos:
os
Perguntaratii-lhe
Entao o pai sente-se peor?
Objedou-lhe a muiher:
tu hoje até pareces
Mas
melhorsinho ; estás
—
adoairado.
mais bem
Nao
sar-se,
melhor
nao
tendo aínda feitc por
o
te
acrescentou
A
nao
confissáo
nao
diz quando
preparada para
chegar. Hoje aínda
No
evitar
querer
já nao
era
ao
o
créanla,
:
estar
talvez
tambem
quería confes-
mas
peor;
nem
de ir confessal-o á Aldeia,
incomodo
—
.
estaba
compadre prior,que
E
•
ñera
a
estrema
a Morninguera,e como
chega, o meihor é uma
pessoa
quando ela
se
por a caminho
mata
me
confessar; amanhá
posso
ungao
possa
receber.
día
seguinte,pelo caír da tarde,debidamente
montado n'um burro,
paramentado, o priorda freguesia,
seguido do sacristao,escarranchado noutro bucesar
falo,ía a caminho da Aldeia,chamado
para confeslabrador Silverio,que
só recolheu á cama
o
quando Ihe disseram que já se ouvia a campainha,
dando
o
sígnal de Senhor fóra, e convidando
os
crentes
a
padre
nosso.
A
foram
ajoelharem á
O
o
esperar
ao
Senhor
á
resando
passagem,
familia da Aldeia homens,
leiros faltado
cerem
sua
raulheres
e
tendo
Pórtela,
trabalho,n'esse día,para
um
creangas,
os
jorna-
compare-
n'aqueleacto.
prior
e
o
sacristao apearamse
á distancia de
SCENAS
poucos
de
e
cera
sacerdote
o
VIDA
29
do adjunto, retinindo
passos
deitando
DA
bengáo
a
á
campainha e
muitidao,ajoelhada
recolhimenlo
cabega baixa, no
a
d'uma
dór sin*
funda.
e
Organizou-se o cortejo,o padre á frente com
o
Sacristáo ao lado,as mulheres a seguir,de mantilha
chale pela cabega, os homens
logo atraz, com
o
ou
chapeu debaixo do brago, os já velhotes cruzando
míos
as
no
peito,
Froixamente o sol, a escorregar
por detraz duma
transparente de
cortina
brancas,sem movimento
aparente, iluminaba aquele pequenino quadro
digno de ser fixado na tela por um grande
religioso,
mestre
pintor. Retine a campainha, sacudida com
forga,e logo um coro se faz ouvir, quasi perfeitode
cadencia
cortando
harmonía,
e
muda
hora vespertina,
muito
ceu,
alto
e
O
Santissimo
Acabada
ele dizer
que
—
~
o
e
silencio d'aquela
e
profundo
azul.
e
e
missa á
um^
um
tres moedas
enferno
louvado
seja
5a
Eucaristía..
se
perguntou-lhequando poderla
Senhora das Dores, para cuja
raoio de
trigo,deis alqueiresda-
dinheiro
em
puzesse
se
ela fosse servida
melhorzinho.
E' quando quizerem.
Poderá
o
confissaos a familia do lavrador chamou
a
festa dariam
zeite
o
Terra,deserto
Sacramento
padre de banda,
o
a
multo
Bembilo
nuvens
entao
ser
depois de ámanhS
?
SCENAS
30
DA
Sim, senhores. E
—
Se
—
isso
a
VIDA
horas queretn
que
faz transtorno
nao
ao
missa?
a
prior,gosta-
sr.
fosse ás dez.
riamos que
Díferenga, nenhuroa. Depois d'amanhá, ás dez
—
horas, lá
os
espero.
Sentindo-se
iavrador
aliviado,depois da confissáo,o
mais
pediu
a
tempo fóra da
Qum
Parece
—
Mal
de noite dormia.
se
confissáo ihe fez bem
d'ela tirara,
de certo modo
que
.
ihe fizera,e até pareciaque
nao
moral
ver
a
cama,
a
que
estar al-
vestiu-se. Queria
e
copa
.
.
conforto
o
diminuirá
o
seu
sofrimento fisico.
Contaram*lhe, entáo, o queficaracombinado
com
o
esperangados no milagre que bavia de
do seu filho
das Dores, madrinha
fazer a Senhora
mais velho,sua comadre
por conseguinte.
padre, muito
—
E*
todos,
mim
a
váo
nem
A's
depois d'amanhá
entáo
nove
todos, e
Deus
que
nem
santos
o
missa ? Pois
Senhora
nossa
os
horas estava
a
me
os
oiga,que
ouvir.
querem
á porta do
carro
vao
sr.
Sil-
e os cascaverio,tendo o almocreve tirado as esquilas
veis das cabegadas,visto o caso
mais para dobre
ser
de finados que para repiquesalegres.O Iavrador ¡á
noite sofrivel,
estava a pé, tendo passado urna
nunca
inteiramente
bocadinhos
—
A
livre de
menos
gente
metemo-nos
dormindo
dores, mas
os
seus
maus.
nao
logo
se
no
demora.
carro
e
Em
saindo da missa
toca para
casa-
SCENAS
32
carácter, de bem
seu
temperado
ser
casava,
nao
interesse,mas
por
felizcircunstancia de
rapariga e
mais
respeitososque
os
de quapodia haver
menos
Nao
dientes,
filhos mais obe-
sua,
a
que
a
Viviam ainda todos
coragao.
tres rapazes.
carinhosa
mais
esposa
pouco
mente
máe, relativa-
e
lliedera, nada
Deus
filhos que
uma
seu
a
sor-
dando-se
amor,
por
orfa de pai
ser
rica,a eleita do
tro,
Livre das
ago.
filho único de viuva pobre,d'ahi
tes por
os
VIDA
DA
seus,
extrema
e, por
Conseguirá
corajosos.
das córrelas,e eles pagavam-lhe esse
li^7ral-os
beneficio conseryando-se solíeiros,
ajudando o pai no
esforgo incessante para os deixar bem, a eles e
seu
á ¡rmá, quando morresse.
havia alPara ele,como
para todos os labradores,
todos
felicidade,
íernatiyas de
Nosso
nunca
fizesse todos
nao
bons
anos
Senhor
sadios,fortes
eram
os
e
Ihe
anos
raaus
; mas
tao mal
correrá
gastos da
e
sua
casa
gragas
um
sem
ano
a
que
recorrer
á bolsa alheia.
respeiíayam,e se nao tinha as simpatías
de todos,é porque
um
horaem, faga o que fizer,
por
raelhores que sejam as suas
e
agoes, agrada a uns
desagrada a outros. Jesús Christo,e mais era um
Todos
o
Deus, arranjoutantos
foi
no
encarnigadosiniroigos
que
Calvario. Sim, nem
toda a gente o estimarla
chamadas
tribunal para depórem
um
a
as
pessoas
morrer
;
contra
mas
ele
compareciam,
ou
nada articulariam
No
seu
e
tao
que
o
esíimassem,
nao
entao, atentas á
em
seu
lar houvera
voz
ou
nao
da consciencia,
desabono^
sempre
fartura
e
alegría
;
as
SCENAS
noites
suas
de
eram
e
VIDA
calmo
sonó
de trabalbo honrado
nao
DA
os
;
fecundo. A
feita de sordidez
era
33
eram
tuna
for-
modesta
sua
na
días
seus
de
nem
poupanga,
espoliagaonos
ganhos. Labrador á moda antiga?nao
vendía por negocio, e jamáis,comnem
prando
compraba
ou
reavendendo, fizera a minima Iraficancia,
lisando lucros que nao
nestos.
fossem escrupulosamente hoele nao
havia outro na Aldeia,
Servigalcomo
todos vaíendo
a
suas
ñas
ñas
necessidades. E assim
cobriam
á
mulheres
baixando-lhe
tre
a
sua
por
O
a
do maior
gente rustica,
como
fazendo sentir que
ter muíta fazenda.
seu
moinho
fóra
a
era
que
grandes
cabega, que
passagem,
correspondía
guem
aflÍQdes,
a todos acudindo
suas
sua
igual
era
um
se
desas
pequeños,
e
é
acatamento.
de
todos
para
o
signal,enE ele
a
dos
to-
igual,a nin-
grande personagem,
maior
estravagancia,alias
inspiradan'um sentimento de generosidade.Prestara,
assim, um bom servígoá familia da Aldeia,e fizera,
bom
sem
o pensar,
um
negocio, porque ele Ihe dava
bom
O
rendimento.
moinho!
Evocava
Iheiro dos
tida
a
a
festa da
inauguragao,n'um día
fíns de Novembro,
pelas comportas,
poucos
sua
metros
do
brutas,que pareciam
as
a
a
soa-
levada túmida, sus-
ribeira cachoante, lá ácima,
agude, aperlada
entre
colunas d'Hercules. A
rochas
um
gnal
si-
as
dado, erguem-se
comportas, a agua da levada
cubos, e logo os rodizios entram a
precipita-senos
trabalhar,pondo as mós em agáo.
SCENAS
34
DA
intima satisfagaode
A
todos,comendo
agüelas,ali reunidos
sem
VIDA
como
bebendo
e
(esta de
urna
para
familia !
ranchos,na volta á Aldeia,e ele vé-os
Forraaramse
balhar,e
de
moinho
o
a
evocagáo,
sua
írabalhar ; yé
a
ribeira,e
quasi escondida
ao
entre
baixo
De
e
outra
as
por
com
res-
a
na
face,
o
sol
a
mergu
banda, matagosos
n'uma bem
como
de scenario,a ribeira torna-se
como
yaleta que
senté
los
ro-
em
sae,
por
tanganhosos por cima.
repente,
gando
que
baruiho que
espalmadas,a caricia
moma,
da
montados
nos
a
o
tempo
máos
as
ouve
agua
mesmo
d'uma tarde suavemente
Ihar
a
dos rodizios para
de espuma,
titue á
gos
mo-
amorosa,
de luxuria.
babando-se
Intensificando
faz
e
guelra,cachopas gravalhugasque
nymphas dos bosques, que os faunos
as
perseguem,
nova
na
sangue
como
sao
cantar, gente
ouve-os
em
preparadamudanga
rio caudaloso,ala*
afogando as arvores
; a levada,
ribeira fosse,quebra a resistencia das comse
portas
abrida,
e desconjuntaos
rodizios;urna ventanía destufao no mar
das Indias,faz voar
como
um
telhas do moinho, deixando erguidas as paredes
feítas de pedregulhos bem argamassados,
serem
espessas
Sonho
os
campos
muralhas.
como
ou
e
éxtasi,dele acordou
estremecimento
ou
d'ele saiu n'um
convulsivo,os olhos desvairados,
o
semblante transtornado,
a boca
aberta,como
se quizesse
gritarsem
poder.
Ergueu se, a muito custo, chamou
o
rapazinho,
SCENAS
que
fora sentar-se, as
mó, partidaao
meio,
DA
VIDA
caidas para
pernas
da
35
cubo,
o
comporta de cima,
e
na
foi andando
de guando em
diregao á ribeira,
quando
receia a
espraiando a vista,na inquielacaode quem
em
de testemunhas.
presenga
Sentou-se
de junco
junto da
debaixo
manso,
d'um
cima
d'um
chaisseiro que
tufó
servia
firme áquela ponte arrojada.
de encontró
Tomou
pingúela,em
altura do sol,calculando
a
o
rido
tempo decor-
desde que abalara da Aldeia,e achou de si para
familia devia estar de volta,nao
si que
a
gastando
de meia
mais
hora, tres quartos d'hora
no
Ergueu-se, e assentando o pé direiío na
perguntou ao rapazinho:
Tu ¡á sabes nadar, Chico ?
caminho-
pingúela,
—
Nao
—
90U
cora
cortigana
uma
nao
barriga,
fundo.
ao
—
sei; mas
Pois deves
Meteu
a
mao
aprender a nadar.
do colete,
e deu-lbe
algibeira
na
uma
libra.
—
E' para
a
tua
máe
Avangou, pegando
feita de
hervas
e
te comprar
cora
a
máo
um
faío.
direita na
enastrados,que
ramos
corda.
servia de
quando chegou ao meio da pingúela
joga-se ao pego, e desaparece n'um
catrapuz !
redemoinho, ficando-lhe o chapeu ao de cima d'agua,
ccrrimáo,
e
—
—
signalindicando
sepultura.
O rapazinho desatou aos gritos,e como
ninguem
da Aldeia,correnIhe acudisse,meteu-se
a caminho
como
um
do quanío Ih'o permitiam
as
uma
suas
pernitasiracas,che-
DA
SCENAS
36
gando
a
~
máo
urna
zessetn
—
sem
casa
VIDA
poder tomar o fólego
boca, rebentava.
na
se
—
O
que
tens tu, Chico ?
O
que
fo¡ que
Ihe pu-
?
te aconteceu, rapaz
aparecidoao mocinho, mas podía*
Ihe ter aparecidobruxa ou lobishomem, talyez o proprioSatanaz, a deitar fogo pelos olhos e pelasventas.
Ao
cabo
d'algunsminutos, já repousado mas
Lobo
teria
nao
ofegoso,o rapazinho disse o que era passado, pondo-se a familia a caminho da ribeira,uns
levando cordas,outrcs levando fateixas,
dispostosos
bons nadadores a darem
mergulho,se tanto fosse
um
ainda
necessario,para se encontrar o cadáver.
O' Chico, tu reparaste se o sr. Silverio deu
—
um
pulo ?
—
Ná
;
pulo
nao
deu. Caiu
o
para
lado,e foi logo
p'rofundo.
—
—
Para que lado é que ele caiu ?
Para este
e indicou o lado direito.
—
Do
Ihando
—
—
d'elas ao
urna
cabo de poucos
Pode
ser
uma
pedra-
Pode
ser
uma
raiz
Logo
como
eneapingúelaatiraram duas fateixas,
raeio da
outra
•
•
.
diregáo,e
encalhasse,retesando a corda,
restan
o cadáver eslava fisgado,
fateixa é atirada
tambem
assentou-se
•
•
em
do fazel-o subir
essa
que
ao
minutos.
na
mesma
lume d'agua e rebocal
Devagarinho,nao
o
para
térra.
escapulam as fateixas.
O cadáver a chegar á Aldeia, n'uma padiola,e a
familia do lavrador a chegar da Villa,esperanzada
—
SCENAS
DA
VIDA
37
milagre que havía de fazer a Senhora das Dores,
cuja festa,no ano próximo, tinham prometido
para
moio de trigo,
azeite e dinheiro.
um
Em
cima do travesseiro,
de casal,o
cama
na
sua
sr. Silverio deixara um
isto,
papel,no qual escrevera
letras que eram
Nao
cula lapis,
em
gatafunhos:
ninguem da minha morte. ]á nao podia mais.
pem
Pegam a Deus por a minha alma.
no
—
Nos
terapos bons
em
triste,os
filhos nada
herdayam
dos pais;
decorre esta historia
que
ao
pagavam
Justiganao
entre maiores, a nao
a partilha
era
desavindos por ambigao
corressem,
Maravilhosamente
do
sr.
E
a
entenderán
se
SiJyerio para
de
alguns
o
riioinho?
a
pelo que
intervinha quando
Estado
ser
ou
os
que
por
ela
a
capricho.
filhos e
a
víuva
repartigaoda heranga, no
de réis;mas
contos
re-
lor
va-
de fácilpartilha.
se
repudialo fosse uma
Ninguem o queria,como
justa horaenagem ao sr. Silverio.Assentou-se,entao,
vio
em
vendel-o,nao regateando o prego. A'parteo desda ribeira,
podia considerar-se definitivo,
que nao
estrados que n'ele fizera a invernia eram
fácil remedio, fácile pouco
menos
dispendioso,
todos
construgáo do
As
e
todo
servava-se
ou
o
agude,
que
o
madeiramento, aparte
intacto. Com
moinho,
o
doze mil réis.
que
a
re-
grandes rombosde mós quasi novas,
sofrera
lá estavam, dois pares
mós
bria
de
os
um
dos
conrodizios,
seis milheiros de telha
importaríauma
co-
despeza de dez
moleiro de Algalé mandou
Um
se
os
o
daría,
arren-
que
razoavel.
prego
sorte te^e
Tanta
Novembro
a
de
homem,
o
razína, que, efectuada
a
ríbeíra tomou
leíto. Seguíra-se a
invernó
estíagem, pessima
óptima
mas
fazer promptamente
estar
O
uns
de
poucos
Serrazína
mestre
esta
de
amostra
lavradores,
os
para
agude, em
o
Ihe
cheía,que
moleiro, porque
o
para
Setembro, logo
uma
o
uma
Antonio Ser-
nome
em
compra
restabeleceu
nao
dizer que
quizessem p61-o em condigoesde
o
compraría, se Ihe fizessera um
donos
trabalhar,ou
em
VIDA
DA
SCENAS
38
Ihe permitiuredo moinho
termos
parado.
mezes
bagalhoga, e
usava
era
nao
gastar.A primeira coísa de que tratou foi
de mandar
cobrir o moinho e a arrecadagáo,ísto é,
em
peco
a
casa
havia de
que
ser
a
moradia, logo que
sua
príncipiasse
a trabalhar devéras.
Como
precísava ausentar-se por quatro ou cinco
decidiu fazer por empreitada a reconstrusemanas,
gáo do agude e a límpeza da levada. Assim nao perdería
tempo,
porque
Por muito
Claudino
Ihe
a
sua
venda
com
e
de casal,montada
barras de ferro,
naqueletempo,
se
topasse
Aldeias. Como
días,quando muito
lomar
que
a
ausencia.
uma
semana,
o
estanco, dispensando-
as
ñas
sua
favor, pagando ele, déra-lhe pousada
Alves?
cama
tudo istosefariana
era
o
sobre
nao
por
bancos,
eram
tres
que
coisa que
ou
Claudino acho
quatro
i
bem
aquele hospede, explicandoIhe logo,no aiuste,
mulher Ihe faria a comida, dando ele os avia-
DA
SCENAS
40
Resollido
fixar residencia
a
ali,nao
passar
apenas
teiro,Serrazina
deia
na
Iher
e
a
mandou
de
crenga
moinho, isto é, a
temporada, mas o ano inno
fazer mais duas
arrecadagáo,o
á
VIDA
induziu
que
casas,
gente da Al-
a
ele tinha familia,tabez
que
talvez só mulher, casado á face.
filhos,
candeia
gadas
pe-
duma
.
.
mu-
de
gancho. Para mais disseram-lho que se
vendía um
ferragial
levada,térra de
que ia bater na
tres alqueiresde sementé, e ele assentou
logo de si
Ihe pedissem um despreposilo.
se nao
para si compral-o,
Abalou, deixando o moinho entregue ao compadre
Cabanas, com
a
recomendagáo de guardar em sua
casa,
até que
carro
ou
Em
ele viesse.a turgiaque mandasse,
dois.
conversa
cama,
com
mulher, no
a
ela para
ele
de virem a
figuravaa possibilidade
só
Moinho, se o Serrazina era homem
fazer
a
comida
para
o
servigo de
O Cabanas
levar boa
ao
das ondas
era
se
cargas
chama
a
vida. Por ele
nem
um
se
movem
moga
ultima, sendo
os
descargas e
d'alma,mo-
aranha, pelándose
viria mal
ao
do,
mun-
maldizente, tipo amorfo
corpos
alentada que
em
paz
uma
nao
e
padre,
com-
rla
aiuda que pode-
um
—
sabor das circunstancias
mulher,
a
que
desordeiro
nem
A
o
incapaz de fazer mal
por
movido
era
do
tratar da roupa
e
tudo mais de que fosse capaz
vir a ser moleiro.
engao,
discreto silencioda
Cabanas
o
instalar-seno
—
num
que
nos
—
como
ao
sabor
flutuam.
trabalhos
nunca
alguns a primeira,contras-
SCENAS
taya
com
marido, duma
o
sem
dos
DA
soalheiros,alheia
Foi
ditos
é
conversa
das
mexericos
e
da vida
urdidura
a
se-
populacionais.
centros
da natureza
erro
dada
constituem
Aldeia aludindo
na
um
cidida
incansavel,de-
adíyidade
aos
nhoras visinhas,e que
colectiva nos pequeños
—
41
voluntariosa,pouco
ser
Dizia-se
VIDA
Cabanas
ao
;
á mulher
e
ela é que
devia
:
o
ser
faomem.
Instalado
fossem
viver
que mandara
As duas casas eram
padres
com-
seus
os
com
pegar
comunicantes,
e
a
das
arrecadagáo-
resolverá o raolei-
délas,a do meio, fosse cosinha
uma
que
que
ele, alojando-senuma
com
fazer,a
casas
ro
tardou
moleiro,nao
o
casa
e
de
jantar;da outra fariam eles quarto de cama.
O Serrazina,
durante a temporada, dormirla no moinho ; fóra da temporada dormirla na arrecadagáo.
O Cabanas nao
tinha geito para nada ; a mulher
tínha geito para tudo. O marido nao
mudava
um
pé sem
pedir licengaao outro ; a sua Ófemia t.-abucava
de manha
para
fazer meias
á noite
e
ainda Ihe
rendas, que
ou
chegava
vendía para
o
tempo
os
seus
alfinetes-
Valeria dobrado,
viuva. Com
o
ao
se
fosse solteiraou
do marido
ainda fazia bom
Eufemia,
contrapeso
Serrazina. homem
arranjo ao
mal
a
só
e
da saude
aguenlando no balangose nao
comersinho
um
almogo e ao jantar,
se
gasse
ao
duma
pessoa
corpo,
e
amiga
ñas
que
suas
precaria,
tivesse sempre,
que
se
carecendo
trabusanadas
Ihe desse amparo
Ihe che-
e
conforto.
DA
SCENAS
42
V/endo que
raaneira de
maioral d'oyelhas
arrumar,
guardador
de corpo direito,
se executa
nos
rigoresdo invernó,por
vera
melhor possivelna Prima-
de porcos, oficio leve que
bocadinho incomodo
um
das cbuvas,
causa
gas
com
o
mas
veráo, sobretudo
no
e
Falou-lhe n'isso,
urna
o
Cabanas
mogo
veráo,
no
cu
formi-
matar
a
costas.
as
.
do Cabanas, cogítou na
fazia bom
nao
o
VIDA
disse que
fugirde casa, era
pai queria obrigal-oa guardar
estivera para
o
porque
pequeño,
noite,depois da ceia,e logo
gado.
Nem
—
Foi correndo
para
tos moios
doirassem
me
que
tempo
o
eu
muita agua
;
cubos, indo acicnar
os
seria maioral.
de trigoentraram
no
da levada
passou
e muirodizios,
moinho, saindo d'ali
os
farinados.
Tambem
Cabanas
o
mais felizque
e,
o
cogitavasobre o seu
Serrazina,tinha achado
lugao que Ihe quadrava
~
o
ponto
estava
destino»
urna
em
o
sopadre
com-
concordar.
E
explicou.
Os marchantes
—
homens
pre
por
Lisboa, mas
sitios para
é
sua
raro
irem
que
veem
ás feiras trazem
conta, para levarem
nao
gado para
pessoalcá dos
contratarem
o
lega.
partidaaté Aldeia GaSe o compadre Ihe achasse geito,eu ¡a á feira
d'Agosto. e ali qualquer lavrador conhecido pediria
a
do
um
em
marchante
tocando
sem-
para
me
urna
contratar. Em
Aldeia Galega estava montado
arranjava eu
trabalho,
e bem
pago,
na
que
apanhanlei,porque ali
me
no
Ribatejo
SCENAS
melhor
paga-se
tava de dar
real,
ser
inteiro. Na
]oáo, fazia caminho
na
monda
eu
faria
do
arroz.
acabo
como
Lisboa, para
a
coisa mais
a
yolta,ahi
a
mimoira
ha
bonita que
fins do
por
na
de S.
mez
me
ali
Se
o
de
e muita seria a minba
explicar,
compadre Ihe achasse geito
nao
de patacos
algibeira".
O
ver
Alcacer, eempregava-
por
infelicidadese
na
4J
trabalhadores. Gos
aqui,aos
por
saltada
urna
dizem
que
mundo
que
VIDA
DA
voltasse
com
casa
a
um
bom
par
Serrazina disse que sim, que achava bem pensado,
mas
dar
punha em duyida que ele fosse capaz de anuns
de
poucos
mulher,
lidar com
a
ninguem
como
mezes
mará
gente desconhecida. A
pedia
calada,intimamente
fóra de casa,
por
a
longe da
Ófemia^
opiniáo,deixou-se ficar
sua
satisfeitapela
resolugáoque
tc"
marido-
o
Limitou-se
a
dizer, porque
isso
era
da
sua
con-^
ta:
Podias ter dito isso ha mais lempo, para
—
da roupa
máo
; nao
atraz
Logo
e
fóra de
has-de ir para
outra adiante.
dia seguinle comegou
no
a
casa
Eufemia
tratar
com
a
uma
tratar
do modesto
devala estar
Beja
muito
mas
enxoyal do marido, que
dia nove
d'Agosto, sendo
no
s¿ndo
nao
certo, que
provavel
contrataríara para
o
em
partidade gado até Aldeia Galega.
O compadre deu-lhe algum dinheiro
quem
avia-se em
térra
e ele abalou,táo
para o mar
tocar
uma
—
—
táo
a
satisfeito,
que
maior
esperanga
yai
tente,
con-
dir-se-hia ligaráquela aventura
de felicidade.
DA
SCENAS
44
Arranjou trabalho
como
e
a
S. ]oáo desandou
para
tos,
dos San-
vinha do José María
na
tineta
sua
VIDA
era
a
monda
do arroz, pelo
Alcacer, a aproximar-sede casa,
chegar.Caiu Ihe em cima urna
pital,
carnada de sesoes, que o obrigaram a recolher ao hosonde recebeu uma
carta da mulher, notada e
sem
mas
de lá
pressa
escrita pelo compadre, dizendo-lhe
muito,
raorasse
antes
cesso
A
porque
ter
esperava
o
se
nao
seu
bom
desu-
do fim d'Agosto,
noticia seria para
mas
careca;
que
o
por
Cabanas
em
pé
recebeu-a
os
com
cábelos d'um
pequeña
sur-
grande satisfagao.
Ninguem, fóra da Aldeia,sabia ds sua vida,e ele
d'ela nao tiá uma
guardaya-se de a relatar,
porque
preza
nha
e
dar
o
depois porque
segredo é a alma do negocio, e o plano que ele ccncebera, e ía execuíando, poderla ser frustrado se
que
viesse
Nao
a
ser
contas
a
ninguem,
e
descoberto.
propriamenle, um
era,
pobre de espirito,
o
discerniraento era
excessivao
Cabanas; mas
seu
mente
1 mitado, tornando-o ainda mais reduzido, na
aparencia,ao
Escreveu
menos,
a
sua
imbecilidade moral.
compadre, pedindo-lhedinheiro para
tinha-o enfraquecido a
o
a doenca
regresso,
porque
tal ponto que nao
poderia fazer a ¡ornada a pé.
A
ao
fez esperar.
O compadre raandou-lhe o dinheiro que
acrescentando
uns
pósinhos,isto é, uns
para
resposta
nao
se
qualquer extraordinario.
Ficou radiante.
ele pedia,
tostoes,
SCENAS
Chegou
o
DA
VIDA
45
Cabanas, alegree buügoso como
sr.
romeiro, e foi recebido
um
filho
prodigo,nao
matando
o vitelo gordo, á maneira
biblica,
porque
havia na
único vitelo que
pecuaria do moinho.
como
o
se
o
.
.
ele.
era
Muita
maís
festa
p'raqui,muita
alusáo
pequeña
ao
festa
p'raü,e
interessantissimo
nem
a
estado
da
Ofemia, que o marido deixara, havia dez meses, enrotunda, estixuta e escorreita,
e encontraba
agora
cada
pele da barriga, a adivinhar se tensa por
a
baixo das saias.
Eu
—
Ihe dizia,compadre ? Ha
nao
d'anos a lidar
cer
por
fóra
sentiu
quais,dentro
o
conhe-
dos galos,a senhora
cantar
incomodada
se
poucos
dentro.
por
noite» ao
Uma
as
ele,tenho obrigagao de
com
e
uns
em
fortes dores
com
rins,
nos
generalizavamao
se
pouco,
mia
Eufe-
yen-
tre.
O
—
ra, que
melhor
será
isto,nao
tem
compadre ir buscar
o
que
ver,
é coisa para
a
partei-
demorar
pouco.
Táo
demorou,
pouco
que
aínda
nao
era
sol fóra,
lencio
perfeitogaroto quebravam o simoinho, dizendo a quem
que ali
passava
já os berros d'um
do
ha^ia gente
nova.
Comentava
á
mas
em
Cabanas, atentando
no
pequerrucho,
outro, o que
o
enfaixado,nao como
labeira do pego, n'um lengolainda por var,
já lavadinho
nascera
o
e
cueiros de boa
la
e
óptimo linho
que
a
46
todo
com
mae,
SCENAS
DA
o
sabendo
yagar,
VIDA
que
viriam
a
ser-
foi confeccionando em
bocados de serio,
precisos,
sentada ao lado do compadre Serrazína,a sentir
Ihe
enlevos de progenitor:
E'
—
mesmo
do pai,coitadinho !
ventas
as
dia
baptisado,que nao seria,
tar
evipor conselho do Serrazina,dia de fungao,para
á porta da Igreja.Iriam os dois
murmuracoes
compadres, e a parteiraserviria de madrinha, se a
Fixou-se
o
o
para
estioesse d'acordo. O único convidado seria
Eufemia
Cabanas
devia
o
JacintoBarquinho,a quem
Ihe servirá de empenho
muiías obrigagoes, e que
sr.
o
se
para
livrar das correias.
Apezar de todo
segredo, a Igreiaencheu-se de
c
gente curiosa,homens,
interessado
com
ver
quem
muito
se
Deixe ver,
—
A
por
e
mulheres
atrevido
do
muito
creangas,
raulherio,a
querer
pareciao menino.
comadre, se tem as feigoesdo pai.
pia baptismalficava ao
baixo
o
e
coro,
pia de
fundo da Igreia,quasi
marmore
que
urna
tampa
fechava,tampa de madeira articulada no meio,
levantando se a metade raovel por meio d'uma argola
grossa
de
ferro. Só
de longe
muito
em
longe o
sacristSo
aquela agua,
renovava
sendo
ela benta
per-se
ou
e
partindodo principiode que
purificada,nao poderia corrom-
contaminar-se.
As pessoas
escrúpulos de
alguns meios de fortuna,e alguns
higiene,conseguiam a renovagáo da
cora
SCENAS
48
tiz desatou
DA
berros, a
aos
\
VIDA
torcer-se
y¡me,
um
como
fazendo'se róxo de tanto chorar.
pé do Cabanas, fingindoque
Ao
yelha ramelosa diz para
o
outra, com
as
via,urna
nao
sientas atafu-
Ihadas de rapé:
pequenino, e faz urna serrazina
fosse uma
grande.
pessoa
O Cabanas nao percebeu o trocadilho e
de agradecero cumprimento.
Táo
—
—
—
E' aquí
E
—
—
é
Qüem
a
teve
se
ares
madrinha?
comadre
a
como
Januaria.
padrinho?
E' aqui o sr. Jacinto,
se
o
quizerfazer
me
essa
esmola.
Acabada
a
a
para
ceriraonia lithurgica,
dote
dirigiu-se
o sacer-
e tendo-se aliviado dos
sacristia,
para»
mentos, dispoz-sea lavrar o registoparoquial,
Quem
é o pai do menino ?
—
Resposta do Cabanas:
E' aqui o meu
compadre.
O seu compadre ?•
zina.
Sim, senhor, o meu
compadre Antonio Serra—
—
•
•
—
—
Isso
vocemecé
—
O
pode
nao
nao
sr.
é
o
ser,
marido
priorbem
o
de Deus. Entáo
creatura
da máe
?
sabe, porque
fo¡ quem
nos
arrecebeu.
—
Entáo, já
creanga.
yé ;
o
marido
da
mae
é
o
pae
da
SCENAS
Lá
—
muito
¡sso é que
verdadeira
perdoar
de
DA
ha
nasceu
raha. Sempre
dá
Que
—
:
Sabe
o
zerro
Ora
sei lá
que
da
Deus
e
tenho que
dar voltas necomo
reza
demenstrant.
nupttae
quem
dizer ?
explico.Isto
vaca
da
dizer que
quer
curral pertence
no
sou
eu,
mas
o
pae
Ihe chama, é aqui
salve
nao
a
dono
ao
be-,
o
da
vaca
é ?
quem
vaca
Vocemecé
como
me
para
sr.
.
nasce
dono
O
—
compadre
fazer pai do menino.
o
•
.
Ihe
eu
dono
o
est
isto quer
que
Pois
—
mez
a
Pater
—
Ora
rasáo.
de S. ]oáo. A
raez
voltas
que
vohas dou ? Nao
Eu
—
da
abalei d'aquino
dia,no
ver
quero
porque
agua.
assim
nísto,ha
lei,a este respeito,é clara
ditado que
Oihe, compadre, ha um
nhumas,
a
fóra
pessoa
oito días,fai-os depois de áma-
embréchado
este
a
Eu
—
urna
estudos, mas
Ihe diga, está
que
49
prior é
sr.
teve
que
faca favor de reparar :
d'Agosto,e voltei noutro
creanca
O
nao.
e
VIDA
minha
alma,
o
se
do
meu
bezerro,
dre,
compa-
isto
é
nao
assim.
—
Deus
Nao
em
jure,que
é
pecado jurar o
santo
nome
de
vao.
crament
compadre ? Pelo Santissimo Saattar,juro e trejuroque
que além está no
menino
é filho aqui do mestre Antonio, e uma
o
hora nao
tenha eu de saude, se estou a mentir
na
—
Em
váo,
sr.
íaicade Deus.
—
Seja lá
como
quizer;
mas
eu
é que
nao
fago
o
SCENAS
50
assento
marido
o
que
sem
VIDA
DA
da
máe
figure
o
que
quizer,
pai
como
fiiho.
do
Faca
o
—
compadre
sr.
de
subordinagao
ter
íizer
se
que
A
jamáis
diz
ela
ao
rae
ihe
E
a
abalou,
volta
digo
refina-
uma
vida,
sua
dissera
graga
homem
ser
o
roubo
esta,
Senhor:
do
tiver
que
e
o
Ihe
prior,
sr.
—
Se
da
uso
faz
por
borra.
enfurecido
como
um
luto,
reso-
cigarro:
mais
e
esquecido
tivesse
ali, sacudido
um
dizer
na
vou,
de
a
Ihe
se
enrolar
quero
agradecerá
latinorio
d'um
padre,
a
toda
como
sacristia,
na
ihe
chegar
ele
lívro
no
em
Igreja,
da
Ainda
com
Ihe
serapre
irrefragavel.
tao
coisa
e
Cabanas,
o
meio
alguma
—
escarrapacha
isso,
verdade
uma
mas
nao
mentira.
dissima
E
ninguem;
visto
toiro
bravo.
o
queño
pe-
rasáo.
causa
e
Ritínha
A
alta do
Mais
o
cábelo
oihos casíanhos,sobrancelhas
os
negro,
tas,labios carnudos,
^izinhanga,
dendo
nao
creada
perderá
mae,
a
carpinteiro,meteu
ela
indo
e
em
a
Ihe
Nao
valhe
a
filhos,nao
de
pressa
se
de que
convenceu
um
a
e
costura
á
vontade
vesse
por
ás
tengas
de
ñas
rúas,
ñas
de café.
falta-
; mas
lia,sem
encargo
de ensinar. De
teria de procurar
que
modo
nao
vi-
ninguem, alojada e alimentada
favor, sujeitaa vér-se d'um
vadiar
vida,
trabalhava
mogo
vida, fosse ele qual fosse,comtanto
de
pai, oficial de
tia,que
de aprender,
a
quinze
aos
uma
com
sobejava
velhos.
saloia de má
faltava geito para
yontade
e
urna
casa
pedir agasalho
afecta-
sera
; mas
o
na
rúa, pren-
noros
dezoito
aos
costureira,amancebada
de
a
homens,
os
grande recato
com
na
moyimentos
seus
far-
Ihe chamavam
despercebida
passava
cubica de todos
Fóra
anos
Ritinha,como
a
elegancia dos
á
a
gao
baixa, typo de fausse maigre,
que
instante para
condigóes da
outra
:
outro
DA
SCENAS
52
Como
mulher
sou
Ando
tarde,no
Urna
condiscipulai
mo;a
mais velhinha,nao
muito
via
urna
que
se
da outra
Que
—
tens
Deus, estás
se
ver
a
VIDA
per5i5a
alguem
encentra.
me
Jardim da Estrela,encontrou
da sua
idade, talvez um
sendo
a
viam.
por
qualquer amiga
.
nem
mulher
perfeita
urna
cias
tendo noti-
sequer
Crescesíe
.
pouca
diferengade palmo. Ha-
nao
feito ?•
unía
!•
comum.
sem
licengade
•
.
breves e conovidas,pol-a ao
palabras,
arriscada a ver-se
facto da sua melindrosa situagáo,
d'uma
hora para outra sem
agasalho,já
pao e sem
mal podendo suportar as impertinenciasda tia,constantemente
de a
a cara
com
a esmola
a esfregar-lhe
ter em
pelo quasi nada que ganhava.
casa
]á me lembrei de ir para o Brazil,porque me
Em
breves
—
lá,qualquerpessoa que sejaamiga de traa recomendé, farta se de ganhar
balhar, tendo quem
dinheiro.E tu,o que tens feito?Aposto que ]ácasaste...
E ganhavas a aposta. Empreguei-rae no Hospital
de S. José, como
praticante,e ao cabo de seis
dizem
que
—
tem
alúdantede enfermeiro,que me
grande estimagáo.Considero-me feliz,porque
casei
mezes
em
com
um
nada falta na
vontades,
seja o
—
pre
que
Es
urna
para
minha
m'as
casa,
e
ele adivinha-me
satisfazer,sem
que
as
Ihe pega
for.
feliz,e merecías
sel-o, porque
excelente rapariga.
foste
sem-
SCENAS
Sim,
—
até
Deus
em
espero
podía
nao
que
día, para
felizdo que sou, e
esta felicidade me
acompanhe
de 9ir ¡antarcomnosco"
te apresentar
vá
nao
marido. Mas
meu
o
perda de tempo, é
preciso, sem
a
53
mais
ser
fim da yida. Has
ao
VIDA
DA
desalmada
um
o
dlo?
tratar da tua situa-
n'um
da tua iia romper
pondo te na rúa. Porque nao has de fazer
para ajudante de enferraeira ?
CQSSO,
Era
saida,e
uma
Ihe seria dificil
vencer
nao
fizera belamente
porque
o
é
que
seu
ex-
curso
con-
o
curso,
con-
de ins-
exame
arranhava o
trugáo primaria,tinha óptima caligrafía,
francez e tinha luzes de escripturagáo comercia!.
amiga de 1er,devoraba
Muito
do-lhe
tía,quasí analfabeta
a
hayia de
ser
iinha quem
os
se
papéis,e sem
empenhasse
obtendo
acaso,
fermeira
a
mandaram-na
engragasse
empsnhos, porque
por ela,apresentou
nao
se
fazer servígo para
a
sua
boa
sorte que
e
tais atengoes, que
de que fóra para
recomendada, protegidade Senhora*
uma
a
en-
as
legas
co-
aü, muito bem
convenceram
•
•
ou
Cavalheíro
ocupando elevada posigáo.
Todos
os
estudantes
a
ela,tratando-a de tal ma-
com
tanto carinho
neira,com
gosta dos livros,
alta classifícagao.
mais
escolar,e quiz
enfermaría
se
-
grande costureíra.
uma
Arraniou
Por
fosse polín
nao
'•
Se gostasse das agulhas como
exame,
romances,
línguagem.
a
Dizia
—
mais
leítura ínstruia-a,
que
essa
e
folhetins e
a
requestayam,
mas
ela,con-
SCENAS
54
versando
rindo
e
DA
VIDA
todos,nao
com
qóes de nenhum, contendo
a
animava
as
prelen-
audacia dos mais atrevidos
limites d'um
forgado respeito.
Todas as doentes gcstavam da Ritinba,porque
a
todas ela dispensavasolicitoscuidados,para todas,
nos
tinha boas palavrase boas
preferencia,
nenhuma
sem
maneiras, acudindo
deligentedurante
sempre
vam,
perta durante
de
Raramente
saía
quando
estava
de folga,alegando
e
amigas que visitasse,
divertia sirandar pela cidade, menos
ver
para
nao
nao
a
que
para
vista,que
ser
empapoilam
se
as
namoro,
é
era
as
que,
ou
se
escusava
a
sua
folga,e
estiraavam, tanto raais
que
ela Ihes
correncia
na
desdera, a
rao
aos
caga
raesraa
dantes,os médicos
Dizia
e
para
raparigas,as que teem ou
sendo casadoiras,
noque
Nunca
casar»
isso,e quasi só
para
colega,sacrificando-lhe a
a
des-
dia, sempre
sonó.
tinha parentes
que
so,
o
chama-
a
da
noite,jamáissurpreendidapela ron-
a
cabecear
a
ás que
promptamente
curara
prosara
pen-
substituirurna
por
isso todas
nao
fazia
tratando com
o
derrigos,
delicada indiferengaos
os
is-
conmes-
estu-
enfermeiros.
encarecendo opreceito,
postura
a comEnferraeira,
da Ritinha,
exeraque a todas apontava como
a
plo :
raparigad'este terapo.
Muito ao contrario do que poderiasupor-se, aqueta
vida de Hospital,aqueta profissaode enfermeira,
—
nao
Ñera
parece
feitio,repugnava
feria dolorosaraente a sua
quadrava ao
seu
ao
seu
peramento
tem-
sensibilidade.
SCENAS
DA
VIDA
^
de
lamentavam
se
turalmente
mais sensiveis,
as
partir,
na.
mais reconhecidas, debulhando-se
em
as
ver
a
lagrimas.
Nao
—
se
esquega
dendo, venhanos
bom
nha
dico,
me-
estava
Enfermaria
e
boa pessoa,
sendo
vintera,ganho
seu
em
de ferias,homem
mezes
dinico
o
vivendo
cér.
director da
nos
po-
depois que
Soube-se
co,
de nos, menina Rita. Em
a
um
fizera servi-
que
já de
voz
com
idade,
certa
corrente
tratar doentes
e
que
a
li-
jogar
papéis de crédito.
em
Era
feliz a Ritinha,tanto mais que o doutor ¡á Ihe
ela, sabendo muito bem o que
com
prometerá casar
querendo prendei-a a si por fortes lagos
rijoslagos m.atrimoniaes.
os
ro,
Morreu-lheo
pai n'um desastre de caminho de ferdia
e a tia,arrastada pelo amante, embarcou
um
de febres.
para a Quiné, onde morreu
Ihe devia
—
Nao
neta
podia dizer
das
só, sem
e
aguas
um
Tinha
nao
era
correntes
viera
ao
filha das aguas
viase
; mas
párente
vago
de que
que
que
inteiramente
aosoutrosdesse
mundo
por
turvas,
geragao
a
teza
cer-
tanea.
espon-
muita
do seu dou*
confíangañas promessas
assaltava a algumas vezes
tor ; mas
o receio d'ele a
abandonar, nao por amor,
mas
por dinheiro. e gelava-se-lhe
o
sangue
ñas
veias só
de pensar
que
ele
SCEiXAS
poderla rnorrer
antes
DA
de
VIDA
57
tornar
a
sua
afaria á vida do
se
soltando
haviam
ser
a
de
respeita-la
menos
d'antes
Um
dia
monica
Hospital,e tinha
enfermeira,depois do
nao
a
por
nao
seguro
passo
que
dera,
que
eslimariara
mo
co-
estimayam.
a
de
cae
cama
cidade. O
na
e
]á
esposa.
doutor, grassava
o
primeiro colega que
pneu-
a
o
de-
viu
clarou que o caso
era gra\?e, e n'uma conferencia
que
Ihe tizeram,ao quarto dia de doenga, sem
cia
divergendum
voto, assentou-se
em
que
mal
o
de
era
fflorte.
Assim
—
melhorar, casamos.
que
Pelo sim, pelo nao,
que
fez
urna
e
d'ela. A
os
lores
va-
possuia,titulosao
portador,e a muito custo
dedaragáo,devidamente authenticada,de que
tudo quanto havia
vraria
foi-lhe entregandotedos
os
tirando
casa,
na
objectosdo
casa,
um
primeiro andar,
seu
bom
estava
em
li-
pequeña
pessoal, tudo
uso
predio
sua
a
era
rez-do-cháo
com
e
d'ela havia muito
nome
tempo.
]á
com
a
morte
tremis, mostrou
na
garganta, rigorosamente in
desejos de
do registocivil,chamado
que
o
sob
sua
nao
torna.
sem
receber
toda
a
a
;
mas
pressa,
dois médicos
que
oficial
o
declarou
atestassem,
estar ele ñas condigóesda lei.
rssponsabilidade,
Quando
esperar,
casarla
a
ex-
os
médicos
chegaram,
já ele ia metido
á
nao
viagem
se
tendo
de que
se
feitu
nao
DA
SCENAS
Era
a
VIDA
yiuvez burlesca,a da pobre Ritinha,mal
urna
consolando
facto de herdar
o
ela
marido^ que
a
sabia estimar
nao
fortuna do
pequeña
lor.
justova-
seu
no
Papéis !
hora
D'uma
valer coisa nenhuma,
nao
da
casa,
do
seu
tudo
o
que
futuro,sem
de
casa
dóbro
eles eram,
comtudo
e
o
ou
além
ela tinha para viver, a garantía
trabalho e sem
privagoes.
amiga, dirigiu-seaum
do valor dos seus titulosn'aquela
inquirir
Por indicagaod'uma
corrector, a
podiam yaler
outra
para
tavolagem
pessoa
chama
se
que
Bolsa. Soube
a
aconselhado
colados rauito por baixo,sendo-lhe
tendencia era para
vendel-os,porque
a
continuarem
a
eles estavam
que
ao
garem
Um
O
descer, podendo dar-se
o
limite dos valores positivos,
ao
de che-
caso
zero.
horror 1
que
modesto,
agora
se
nao
tinha
a
em
um
viver
aqui se via a pobre
da,
frente do problema da vi-
cedo,
morresse
Ritinha novamente
©brigada
Ihe chegariapara
rao
e
resolvel o antes que
a
miseria Ihe ba-
tesse á porta.
Foi entao
que
noite, com
travou
n'uma
relagoes,
Thomé
dos
casa
amiga,
quecerá
Anjos, que enriherdeiBrazil,solteirao incorrigivel,
no
sem
ros
forgados,segundo a lei,sem
parentes mais ou
menos
próximos a quem
legasseo que amealhara em
de trabalho honrado, como
diz em
se
quarenta anos
giriade comercio.
uma
o
sr.
SCENAS
O
Thomé
sr.
informado
da
DA
VIDA
condoeu-se
59
da
muifo
pobre viuva,
tristehistoria,
erespeitosamentelhe
sua
pediulicengapara
a
certo de
visitar,
poderia ar-
que
ranjarcolocagaovanta¡osa e segura
para o modesto
capitalque realisara vendendo os titulos de cotaglo
avariada que Ihe entregara o marido.
O caso
foi que
passadas algumas
Thomé
nha,
dos Anjos
e
como
se
era
a
algumas
d'horas,pelas
cidade,lá ficava até ao outro dia,em
do senáo depois do almogo.
de noite,fóra
Um
do
dia,a compor-Ihe o
quenina
para
tempo
mo
Thomé
—
O
ele
acanhada
Porque
sr.
nao
e
casas
desertas da
sain-
geralnao
cariciosa,
a fazer-se
erguesse
bragos,ao
nos
pe-
mes-
Ritinha disse
resoluta,a
Thomé
concordava, mas
vas,
chago
a
usava
forma
em
a
disposto como
canga
? Bem
sabes que
das fatalidades.
comigo
pela maior
viuva
de que
sempre
vida,falava-lhe por
—
a
turar,
aven-
se
ao
:
estou
nao
que
rúas
nao
sar
conver-
da gravata, estenden-
nó
beigos n'uma momice
os
a
vezes,
ela,de consultar o relogio,
para
cora
sr.
assidua da Riti'
visita mais
esquecesse,
o
semanas
com
a
todos
os
nao
só
rude franqueza
actos
da
sua
ihe alimentar esperanzas
estava,
a
nao
por
no
ca*
do matrimonio.
Nao, minha
filha.Nao
casei
quando devia
ca-
SCENAS
6o
Se isto te
monta.
mínba
por
que
onde
negocio de tanta
nao
e eu
contraria,és liyre,
qu?ro
é tarde para
; agora
sar
um
filho para
cal
o
que
ter
fazer
um
deixes de procurar a felicidade
podes encontral-a. Gostava de tér
causa
te parece
VIDA
DA
herdeiro
um
ao
registocivil,
por muito
Se
eu
mas
;
irei bus
nao
custe
me
que
nao
o
ter.
—
teu
era
nao
tivesse
•
Se ele
—
dizer
é
—
meu,
Talvez
—
nem
se
Bem
os
sei ;
filhos se
mas
sei
o
filho do
o
Ritinha
Correrá
o
sr.
quando
bem
era
topou
se
que
Thomé,
Bem
.
com
os
os
sabes que
pais•
na
e
a
no
procurar
umpai..-
Rio..-
dos Anjos.
rúa, por
acaso,
a
rar
procu-
mais possivel
o
parecesse
já desesperabade
eslava
.
médicos,
calhar para
Sosia do brazileiro.
posto, que
um
.
cidade inteira,
dias seguidos,a
homem
um
com
a
Thomé
sr.
!.
fortuna.
havia de parecer- se comigo,
de ter minhas duvidas. Eu
disseram
me
que
meu
minha
a
parecem
meu
o
Aqui principiaa
para
ele seria
para
ainda assim hada
e
bem
—
considerasse
o
sempre
—
comigo, o que se costuma
do pai,
taluez o considerasse
parecesse
n'esse caso
e
de dizer que
capaz
•
•
retrato
o
filho eras
um
o
encontrar,
senhor muito
um
o
seu
intento
—
Foi-o seguindo,discretamente,a distancia,
e viu*c
entrar
um
n'uma escada onde
havia,no
primeiroandar,
consultorio medico.
Iriá aii para
consultar ? Iria para
dar consulta ?
SCENAS
Informou-se
com
DA
VIDA
6r
guarda portáo.
o
veio
e
aquele Senhor, Sosia do brazileiro,
era
Alvares Scromenho, e que a consulta
que
tor
saber
a
dou-
o
era
das
duas ás seis.
No
dia
viada
seguintelá estava a Ritinha,já muito alido lucto,apetitosacomo
fructo maduro, os
um
labios carnudos a pedirem bei¡os.
A
consulta foi demorada, e como
o tratamento
exigíapericia medica, a doente voltou lá vezes
sem
conta,
nao
se
medico
o
tornando dispendiosaa doenga, que
porIhe fazia o tratamento
de graga e nao
receitava para
Ao
a
de
cabo
dois
dar
tratamento,sem
de
dissera
ver
a
botica.
mezes
cavaco
ela
que
morada,
Ritinha ínterrompia a
a
medico, muito
ao
aparecía. Nunca
nao
delicadamente
e
Ih'o perguntar, respeitandoum
de
nao
parecíabem
por
ofendido
iustificado,
mas
com
se
ela Ihe
abstivera
melindre que
que
de
pergunta
uma
ele
rado
admi-
Ihe
poderla dar- se
mera
curiosi-
dade.
Deixou
de
é que
agora
consulta, a
ir á
ela comecava
a
Ritinha, e todavía
sentir*se doente, sempre
dores de cabega,preguigocora
enjóos,sempre
coisas de
fora,apetecendo-lhecomer
como
nunca
com
sa
que
que
—
n'outro
tempo
Ihe repugnava
nao
a
sua
Sabes, Thomé?
gostava,
ao
mesmo
lempo
habitual comida.
Parece-
rae
que
estou
erabara-
gada.
—
E' possivel,
massó
depoisde
ver
é que
acredito.
SCENAS
^2
Pedi
—
Deus
a
ele ou^iu
que
Talyez,
—
mlgo,
tambera
e
atendeu
mas
se
fór
nao
se
mulher
mandasse
bora
sem
culpa,
des-
sem
e
filhonao
meu
filha. Os
disserara-me que
filho;
que
um
o
se
com
eu
só por
e
a
nha
mi-
cachopo,
um
o
mados
afa-
mais
casasse,
retrato,
meu
o
a
tivesse como
eles
que
casado
comigo
tanto
—
cá tenho
como
um
um
ovo
filho que
com
um
se
peto
es-
•
.
Fructo de rapaziadas,o Thomé
a
seja
pensariarade mim, se
emdizer,d'aqui por alguns mezes,
ter
me
•
Rio
ele fósse
Ihes
!
o
que
presenteasse
me
adulterino. Imagina
parece
co-
parecer
nome
sera
sabes
bem
milagro poderla ter
que
nao
retrato, negarei que
maldade
do
médicos
menos
suplicagoes.
teu filho se
meu
o
filho,
e acho
um
rainhas
conversado, minha
Temos
—
desse
teu.
senao
ser
me
as
o
uma
tu
porque
pede
VIDA
füho.
meu
Isso seria
—
que
DA
contraira
doengas
n'aquele tempo se charaava vergonhosas,e
duos
a maior
era
vergonha tel-as,
parte dos indivi-
que
como
que
as
contraiam
nao
se
tratavam
conveniente'
ignorantes das suas terriveisconsequencías
n'um futuro próximo ou remoto.
Assentou
dia,o Thomé, em
um
que Ihe convinha
mente,
e
casar,
cabago
Rio,
namoro
a
a
estava
irma
quera
convencido
de
que
d'um amigo, tambera
vinha
discreto.
nao
Ihe daria
estabelecido
fazendo,desde alguns raezes,
o
no
ura
do Rio,
médicos
VIDA
DA
SCENAS
64
tal o trataría,
provendo á
como
sua
garantindoo seu futuro. A confiangaque
soele tinha n'ela,desde que fizeram relacoes,nao
frera o minimo
abalo, e a baboseira da paternidade
havia de
auíhenticada por
contigentes parecengas,
sairlhe da cabega, que mais nao fosse-.. a marte-
sducagao
e
ladas de bom
parte dos
maior
Na
cora
senso.
pais ; muitos
os
é
Certo
filhosnao
se
teera
que
sequer
nem
ele prestara crédito
que
dir-se-hia paga
nice estupida,
que
alguem houvesse,
se
os
o
parecem
se
ma
cha-
familia.
de
ar
casos
teressado
que
em
Brazil
no
Thcmé
o
dinheiro
bom
por
ou
in^ncio-
essa
a
Portugal,¡n-
em
morresse
herdeircs
sem
forgados.
Por
ele,Thomé
acaso
nada
nada, absolutamente
o
testemunho
seu
álbum,
segundo
no
com
o
dos
auctor
parecía
se
días
seus
ínsuspeítode retratos
que
marido
de
nem
por
ísso
o
nha
tisua
de grande austeridade,se
julgou atraioutro nao
teria,
pessoa
mae,
e
dos Anjos, nao
ele,por esse motivo, e
goado, nem
suspeitou jamáisde ser gerado no adulterio.
Isso é outra coisa. Nem
—
míe,
a
niaís santa
tou, nem
ga
de que
E
nem
eu
se
sou
creatura
como
morreu,
o
tivesse
ía
filho,na
a
menor
meu
a
tu és
como
Deus
ao
que
paí,que
entrar
na
foí minha
mundo
só teve
casa
a
deidoen-
dos oitenta.
realidade,fosse d'ele,embora
característicadas
suas
feigóes?
SCENAS
DA
VIDA
65
Surpreendia-se,algumas vezes, a fazer esta judiciosa consideragáo,e ficava-se,
por muito tempo, a
lado sentindo-se criminoso se nao
scismar, por um
reconhecesse
lado
filho que
um
sentindo-se
como
seu
Ihe partencia,por
ridiculo
filho d'outrem
um
tivesse
se
—
e
outro
apresentasse
filho do crime
ou
da
Ihe hayiam
dito
os
burla.
Acababa
toda
filho da
urna
Ritinha,se
incluindo
c5es,
as
que
dissessem
n'um
retrato do
pai-
A
ambicio
n'outro tempo
seu
ele que
retrato,por
toda
geitosaspara
repente, vendo
•
•
gente,
a
tirar fei-
dever,
cachopito
o
—
é
o
•
espevitara a
chegava
nao
o
pai do
o
conhecessem, está bem
o
á Ritinha
Quanto
com
menos
pessoas
pessoas
do Brazil. Seria
petiz fosse
o
parecido
táo
pena,
que
notabilidades clínicas em
redondeza
vasta
a
ao
Rio, afamadas
do
médicos
ater
se
por
sua
para
religiosidade,
que
missa todos
urna
cada
os
Agora freassiduidade as Iqrejas,
a maior
revé*
quentava com
renciava todos os santos, a uns acendendo
velas,a
domingos
confissáo
uma
dando
outros
dava
e
pegas
era
ano.
de vestuario. A* porta da
Igreja
mas,
pobres,e na caixa das aldentro de cada Igreja,metia sempre
uma
quan-
esmola
a
todos
os
tia avultada.
pretendíaela dos
ajudassem no empenho
E, afinal,o
Que
a
fazendo
sivel
com
que
que
com
o
o
seu
santos ?
em
filho se parecesse
brazileiro,
que
fosse,como
que
o
andava,
mais pos-
ele dizia,o
SCENAS
66
retrato
seu
urna
por
DA
pena.
VIDA
Da
pia fraude
sua
nao
prejuizopara ninguem, visto o Thoadherentes,um vago primo
ter parentes nem
mé nao
afastado grau, que
mais
pudesse herdar-lhe a
n^
fortuna, lira um
milagresimples e vulgar,tanto mais
filho se parecia imenso
o verdadeiro pai do seu
que
ambos bochechudos, a barba rala,
Thomé
o
com
resultaría mal
ou
—
castanho
d'um
nariz
algarvias,o
olhos
escuro,
um
azues,
bocadinho
como
as
vacas
arrebitado,a
trar
mos-
largase cabeludas.
Era tao fácil o milagre!
dos Passos da Graga prometeu urna
Senhor
Ao
trinta kilos,
Senhor
e ao
vela de cera
que pezasse
as
ventas
Jesús dos Aflictos prometeu duas andainas de fato,
seda
outra de invernó,ambas em
de veráo
e
urna
bordaduras d'oiro.
azul celeste,com
dessas muOcorreu-lhe consultar uma
bruxa, uma
deitam cartas, e tratou de inquirir
qual
Iheres que
era,
na
rendosa?
gosava
a
que
Confiava muito
poder das
no
ziam
; mesmo
nos
no
nao
A
até
milagres,
dispostosa fazer
o
lagre
mi-
mais cruel incer-
na
decisivo.
bruxa, nao.
Poderla
ou
momento
ao
reputagio.
fazerem
para
tria
indus-
confiava tambem
mas
impetrado,mantel-a-hiam
t€za
essa
futuro. Os santinhos nada Ihe diestivessem
que
de melhor
santos ;
bruxas,
lerem
para
mas
cidade exploram
das multas que
entáo
torturante
Ihe dizer coisa que se aproveitasse,
dizer-lhe alguma coisa que tornasse mais
nao
a
sua
duvida. Em
todo
o
caso
dir-Ihe-hia
S CENAS
DA
VIDA
67
aiguma coisa,e ela precisavaque Ihe falassem,
porque
no
seu
era
o
o silencio,
caso,
mysterio,e o mysterio
ira
tortura.
a
A
bruxa
nhora
disse-lhe,
em
nasceu
parecendo
mas
talvez
feitas
as
ser
para
suas
resumo,
feliz.Tudo
Ihe
que
o
seguinte:
—
se-
Ihe correrá bem,
mal. Terá
corre
A
dades,
contrarie-
desgostos,mas acabará por ver satisambigoes. O seu passado retrata o seu
futuro.
E roorrerei viuva ?
—
—
Ninguem
senhora
ainda
viuvo, se
morre
se
nao
tiver casado,e
a
solteira.
conserva
Desculpou-se,muito comprometida, e cheia agora
de confianga na bruxa, perguntou-lheabertamente
—
A
O
pai do
bruxa
filho casará
meu
tornou
;
deitar
a
as
comigo ?
cartas, e disse,cónsul*
tando-as:
pai do
confusáo,que
—
é
a
O
senhora
seu
eu
filho.
•
•
nao
a
grande
desfazer hoje.O melhor
posso
voltar para
Sim, ha aqui urna
semana.
decisivo,aguardado pela RitiChegou o momento
deve ser
nha, n'uma anciedade torturante, como
aguardada a sentenga no
corresponda pena de
que
Tudo
Era
a
correu
bem,
primeira
vez
julgamento d'um crime
morte.
melhor
que
a
a
do que seria de esperar.
Ritinha se via n'aqueles
gao
geralmente ñas primíparas a representade semelhante drama, embora
haja mudannao
gas
de scenario.costuma
assados,
e
ser
demorada.
Pois entre
a
SCENAS
68
DA
primeirador, anunciando
o seu
a ultima,marcando
o
VIDA
do
cometo
espectáculoe
final,mediaram
tres
escas-
horas.
sas
E' menino
—
E'
—
menino,
um
Enfaixado
esla
ver
se
—
o
se
que
gente
essa! E'
do
imploranseus
os
retrato do
pai.
d'uma
cabo
ao
rogos.
comadre?
parece,
o
quiz
na
fortu-
sua
tinha saido,assegurandolhe
voltasse
parteira
a
hora já encontraria
nova.
Nao
—
se
quem
Thomé
O
penhor da
o
fizera promessas,
que
Deus.
toilette da mae,
valimento,tivessem acolhido
Ora
—
ventre,
seu
santinhos.
a
Com
—
benza-o
muito perfeito,
e
pimpólho,feitaa
o
fructo do
os
seu
o
menina ?
ou
precisochamar
será
o
medico
?
Isso sim !
—
As dores
—
Ainda
—
tao
sao
bem,
grandes,coitada !•
assim
porque
a
creanga
•
•
mais
nasce
dor mais forte,e salta logo o
depressa. E' vir uma
Pode ir descansado,que tudo correrá
pinto da casca.
bem,
Nao
—
—
nao
a
grabas
sou
Nosso
homem
Pois entao
se
demore,
vá
que
Senhor.
para
dar
estas
uma
isto fica
coisas,nao
sou
•
voltinha,sr. Thomé,
despachado
em
•
•
e
menos
d'um phosphoro.
Quando
o
Thomé
voltou, estava
a
creanga
ao
lado
SCENAS
da máe,
a
bailarem-lhe
rcgdes,como
na
cara,
69
movendo-se
todas
em
as
di-
¡á tivessecuriosidades de observador.
se
—
Com
—
As creangaS)
tiem
VIDA
mugir, os olhitos,muito vivos,
tugirnem
sem
DA
parece,
Thomé
quando
nascem,
se
quem
?
bem
a
dizer
nao
feigoes,
assim que ele
parleira,
disse logo
é o retrato do pai.
nasceu,
Disse isso para
te ser agradavel,a ver se a
Mas
—
o
filho tem.
meu
A
—
—
é mais avuitada.
paga
Forte birra
—
tua !•
a
.
.
Sempre
ranjasalguma desculpa para
teste, renegando
e
fazendo
com
infiel ao
as
que
até agora
que
me
homem
faltares ao
filho que
um
com
vivia
quem
a
passem
ar-
prome-
que
é teu,
conhecem,
me
que
estimavam,
se
sabes que
bem
pessoas
ver
quero
como
mim,
ter por
se
e
fossemos
casados, o roaior desprézo.
Passados
do
alguns dias
menino,
com
as
saiar
—
O
os
e
perninhas e
os
assistiaao
agua
bracitos
como
banho
tépida,batendo
se quizesseen"
talentos de nadador.
seus
E' táo engragadinho,o pequeño!...
Thomé
concordou
enxuto
em
que
o
pequeño
ele tinha
era
en-
no
parecia ter
pésinho esquerdo.Retirado do banho,
n'uma
toalha fofa,verificou o brazileiroque
defeito
urna
deliciar-se na
a
gragadinho;
um
Thomé
o
mas
membrana
grande do
notou
que
delgada
e
pé esquerdo ao
ou
incompletaunia o dedo
dedo imediato,acídente
SCENAS
VIDA
DA
parteirajá notara, díspensando-S9de o dizer á
importancia.
máe, por ser coisa de nenhuma
Muitas
nascem
isto,que é mais
com
creangas
a
que
—
signalque
um
defeito. Cora
um
¡dade desaparece.
a
até logo,senhora comadre
parteirasaiu
nino,
o pé do meo Thomé
quiz ver novamente
e tendo apalpado a membrana, como
que a ceryisivelmente preocupatificar-seda sua consistencia,
do,
Quando
a
—
—
•••
continuando
de si para
que
curioso
Muito
—
o
como
signal,
a
um
defeito,nem
sequer
fazer
o
que
ser
me-
•
O
•
tamente
Muito
curioso !
tem
menino
que
o
é
ande
menino
•
Aquilo é
?
mesmo
fosse
que
defeito que
um
.
.
veja,a
pai nao
se
descaigo,por
o
d'ele.
caso
ahi yoltamos
Bom,
—
•
•
parteiradisse,e
um
nao
serie de reflexoes
uma
si fazia ;
curioso !
E' muito
—
alta
voz
em
que
eu
acho curioso é
defeito que
o
tinha
do costu-
á cega-rega
nos
menino
o
irmáo
um
de
ter
exa-
pai,o
meu
tío Francisco,mais velho que meu
pai dois anos.
Ora vé lá tu I Nao só o menino se parece
—
ainda
pai, mas
o
—
Pois sim
melhante
; mas
o
defeito,e
cima
da Natureza, que
nidade de cada
Filho
sr.
de
tem
pai do
meu
dos filhos d
de quatro, tambera
menos
do
por
nenhum
nada teem
que
o
defeito d'um
tio
esse
nao
meu
o
tem.
ver
cora
com
tio !
tinba
se-
tio,nada
Caprichos
a
sangui-
um.
pai incógnito,
por invencivel obstinagáo
Thomé,
ao
filbo da Ritinha foi posto
o
nome
"
DA
SCENAS
72
Mas
—
Hei-de
—
nao
porque
VIDA
?
casas
n'issodurante
pensar
a
viagem,
se
nao
enjoar.
pratico,habituado a ter
ordem, nao quiz partirsem
Homem
sempre
em
gurado
filho,e
o
íuturo d'uma
d'essa créanla,
da máe
coisas
suas
deixar
asse-
talvez fosse
que
creanga,
as
seu
durante longos
que
mezés Ihe fora dedicada companheira, proporcionan-
regaios.Doou ao Alvarinho
rasoavel fortuna, que a máe administraría,
como
do-Ihe cómodos
e
chegar á maioridade. Com
até ele
tinha,com
as
mil réis por
mez
perpetuam,
economías
a
fructuaria,
usuo
que
fizesse e mais trezentos
filhoseria obrigadoa dar-lhe,
ad
o
que
que
urna
Ritinha podia considerar-se rica,perfei-
assegurada a sua independenciae farto viver
contra todas as contingenciaspossiveis
e imaginareis.
Pouco
Ihe importara, já agora, que o brazíleiro
tamente
casasse
a
ou
nao
rér
o
filho sem
seu
nha
a
que
completassem
renovar
Quiz
R.o
Deus
ainda
doenie
a
haria
notareis
mais
doenga
era
as
era
do
d'uma
pai,e
mas
por
nao
se
gnara
resi-
isso se dispu-
santinhos,para
aos
promessas
milagre.
o
o
que
tres
Thomé
de
tempo
mezes,
médicos
dos Anjos chegasse ao
risto
e
o
observado
outros
todos
em
graridade.
socio,
seu
cariocas,opinando
d acordó
estrema
viro
encontrar
figado,opinando
dos rins,mas
grare,
suas
ela ;
com
casasse
que
uns
a
que
o
pelos
que
a
doenca
caso
era
SCENAS
A fazer
forte para
se
quarto, em
DA
eslava
que
VIDA
73
Thomé
entrou no
chorar,
doente,o seu velho e querido
nao
o
amigo, socio de muitos anos, e teve a impres*
de que ele ¡á era cadáver.
sao
Ainda
bem
vieste,Thomé, Custava-me
que
muito nao
ter ao pé de mím, na hora derradeira,o
—
melhor
dos
filhote da minha
anos,
Aínda
bem
de
amigos, socio
meus
mais
da minha
térra,mogo
de trinta
creagao.
yieste.
que
Nao
pude despachar-me mais cedo ; mas
agora
vejo que poderia yir mais tarde,porque a tua doenga
é grave, como
nao
eu
¡ulgava.Ainda ha pouco me
—
disse
o
por-te
a
dr. Floro que lá para os fins de maio quere
caminho do velho mundo, em viagem rada
demo-
pela Europa.
O dr. exprimiuse mal ou tu
A minha próxima viagem, muito
para o outro mundo, que tambem
—
demorada
que
por
lá ficareíaté
está acabado, Thoméuma
Fcmana
•
questao de
vez
conversar
que
aos
•
E'
entendeste bem.
nao
ao
é velho.e será táo
juizofinal.
Isto
•
Milagre seria
vivesse ainda
se
poucos
dias,tai-
horas. Por isso mesmo
desejo
questáo de
uma
poucas
de maio, será
antes
comtigo,sem
perda de tempo, sobre coisas
dois interessam, ainda
que
por
diferentes
rasoes.
—
levarás
nao
quando vir
—
já que
Pois conversemos,
Sabes
centenas
a
que
que
mal
assim
o
queres
;
mas
interrompa a conversa,
precisasdescansar.
fortuna é grande, algumas
a minha
de contos,
que
mas
eu
tambem
sabes que
a
minha
Casa,
administrada, está sujeitaa
for bem
nao
se
VIDA
DA
SCENAS
74
prejuizosque podem comprometel-a gravemente. Em
faltando, falta
eu
ela desaryorar,sem
fácil que
Ihar-se
rocha. A
na
de negocios como
mulher, coitada,percebe tanto
de bordados. Se
eu
Kj'wjeronde
quizesse, e
cinco netos,
e
nada
cada
para
só
aguentar a minha
augmentando-a d'ano para
de
casa
no
Esse
—
homem
esse
íenho
eu
que
eles,é
por
o
paz
ca-
está,
que
em
realisando
ano,
belo sonho
de sempre,
um
desse vida e saude.
Deus me
E
pé
que
Thomé,
homem,
um
uns
para
quizesse.Mas
nho
—
bem
davam-lhe
fortuna, dividida
Ha
um.
tiyesse
nao
assim
liquidar,
a
como
minha
a
a
rendimentos
os
que
morra,
indo esmiga-
gobernó,
de netos, aconseihava
poucos
eu
patrao da lancha, e nada mais
o
so-
meu
realisaria,
se
?
homem
•
.
.
és tu.
Eu?
—
Sim, Thomé, és tu. Se
—
com
Izabel,eu
a
rir
ela
como
negocios da Casa
os
tranquilo,
porque
morreria
havias de estimal-a
prometesses
me
merece
como
se
e
casar
sei que
havias de ge-
ela fosse tua,
clusivame
ex-
da
tua, feita á custa da tua inteligencia,
tua honradez
nao,
—
Thomé,
O
que
e
do teu trabalho. Nao
porque
tens falado de
raelhor que
ou
—
os
que
mais, e
remedios
precisasdescancar, porque
o descango faz tanto bem
da botica.
Descangarei depois de
ter
a
certeza
de que
a
digas que
de matar-me.
acabarias
digo é
eu
me
me
responderes,e
tua resposta, se
des
po-
for afir-
SCENAS
matiya,será
nha
alma
•
A
•
•
tu, fica
eu
com
;
Ih'o poderá levar
pode
ao
pé da
tigo sobre
E
—
o
mas
a
que
casar
ter de
dizem
os
A'
negocios nao
o
Izabel
a
que
decidi a falar com-
me
novamente,
casar
dispostoa
francezes
revient
ses
•
•
minha
morte,
só comtigo
voltar para
o
rla,
casa-
Rio
e
chegado
toujours
premiers
amours.
ela, se
com
por
na
ocasiao
em
que
reuniáo
pouco
caso
solteira,
e
com
familiar.Conhecimento
eslava
pegado
do pai da menina
o
namoro,
de
motivo
Catha-
socio,recem-
o
Brazil,fazia conhecimento
ao
bel n'uma
!
tivesse saido do Rio para Santa
riña precisamente
o
eu
um
consolaria da
a
teria casado
certamente
desse
fe-
sua
nifestado
desejo matinhas pensado n'isto?
a
a D. Izabel,em
catrapiscara
Thomé
d'ahi a
samento,
ca-
ninguem
e
futuro dos vivos,a
depois de saber
nada
On
O
em
ela.
com
Bem
dez
uns
Faltando-lhe
gosto,
seu
D. Isabel disse ?•
tu estivesses
se
mi-
caso.
Disse que
—
a
Nao
cova.
senhora
a
menos
nova.
sacrificada
ser
respeito,
que
este
a
mal. O
foi só
e
Izabel tem
marido
a
licidade,nao
pensava
a
para
bonita fortuna. Se pensar
urna
Tiuha,
D.
é relativamente
escolherá
—
75
ungáo, terá
extrema
senhora
do que
anos
VIDA
conforto d'um Sacramento.
o
—
minha
a
DA
a
D. Iza-
foi ele,que
e
simpatizarcom
como
se
o
ra-
DA
SCENAS
76
paz,
nao
tardou que
vos,
que
a
VIDA
namorados
os
passassem
a
noi-
excessiva mente
Izabelinha,
azougada, era
de velocidade,fi-
descarrilar,
excesso
por
cando Ihe muito longe a Estagao do Matrimonio.
O Thomé, regressado de Santa Catharina,encondeu por achado. A
trou a praga tomada, mas
nao
se
de
capaz
Izabelinha mantiyera
com
trocara
; nunca
ele
manas
flirtde poucas seele duas palabrasque a
com
um
um
urna
juramento solemne ou com
prendessem com
fosse correcto faltarsem
nao
a que
simples promessa,
motivos ponderosos. Tudo
silencio,
se
em
passara
palavras,n'uma troca de olhares enternecidos,
sem
eloquentesna sua mudez, mais expressivosque os
discursos melhor
arquitetados.
Nao tínha que recriminar a Izabelinha,
ra
usaporque
plenamente da sua liberdade,seguindo os impulsos
do seu
nao
coragáo ; ao socio e amigo tambem
tinha que fazer recriminagoes,porque
ele ignorava o
idilio amoroso,
excessivamente
seu
discreto,a tal
ponto discreto que ainda ninguem dera por ele,a nao
troca de olhares
ser
alguem que surpreendesseuma
instante de fácildespreocupagao.
n um
Fora
o
jectosde
amigo,
casamento
visto o
projectos,
de
temos
Pois
sem
com
namoro
com
o
amigo
que,
ihe pedia que
casasse
com
d'esse casamento
tar
a
morte.
a
que
ela
nunca
ter
passado
insistentes olhares.
e
era
Ihe frustrara proD. Izabel,mal esbogados
querer,
afinal,sentindo-se
ela,afirmando
que
morrer,
a
teza
cer-
Ihe daria resignagaopara Jifron-
SCENAS
De
modo
cerfo
VIDA
DA
77
esta compensagáo
era
Ihe devida»
fdra
depois do seu regresso de Santa Cathade D. Izabel,que ele entrara
riña, perdido o amor
porque
a
fazer
tendo
a
as
que
viam
vida de rapaz que se díverte,
cómpremesaude em leyiandades amorosas,
mal prevendo
urna
condicionar tristemente
Ainda
estava
e
com
sr.
o
á
e
receber
a
o
seu
futuro.
pésames pela morte
¡á a sr.^D. Isabel Fragodes
marido,
que
consequencias de tais leviandades ha*
graves
Thomé
se
do
consorciara
dos Anjos, casamento
imprensa carioca
mereceu
auspicioso
mais agradareis
as
referenciaSé
lisongeiras
Tratou
caso
para
imediatamente
Lisboa, em
o
carta
de comunicar
Thomé
o
lacónica, dizendo á Ri-
precisando d'alguma coisa, para ela cu
Ihe dirigisse
com
franqueza,porque
o filho,
se
para
bem
dispostoa servi-la.
o encontraria
sempre
Nem
uma
palavra que envolvesse o mais ligeiro
tinha
que
afecto de
amante,
que
traísse a mais froixa,a mais
débil inclinagáode pai, uma
referencia
a
idilioque
um
vaga,
ela
quasiinexpressiva
perfumara de beijos
quentes, impregnados d'uma sensualidade a que se
poderia chamar casta, se nao brigassem estas palavras*
acabando de
poetas brazileiros.
1er a carta,e amarrotando-a ñas máos convulsas,a Ritinha teria dito,como
poesia de Guilherme de
na
Se
Abreu
fdra
lida
em
:
Meu
Deus,
que
gelo,
que
frieza
aqueta
!
S CENAS
78
VIDA
de Dido, que
poeta os trágicosamores
Ritinha,talvez,por falta de erudigao,mais seguramente
Cantou
a
DA
o
falta de geito,nao
por
Di6o
infeliz,a
Morre-le
morreu
mal
oulro
e
foges
um,
A' Ritinha
um
quiz repetir
:
;
unida;
foge-te o outro,
ela fugiu..- para outro
e
um,
morres.
;
terceiro. O qual
fugiu-lheo outro, e ela procurouum
íerceiro era justamente aquele Doutór que ela tioera
boa sorte de encontrar
caminho. andando
seu
no
a
á
Aniosj
Ritinha
a
que
cumplicidade dos
O
—
raofarem
a
graga,
dr. ainda
Lisbos,e
vesse
como
a
tinha ido para
bem
~
que
.
seu
a
Provincia
•
toda
por
encontrasse,
nao
coisa!-
Aposto
ou
calculeique
respeito,
Seja
para o Brazil*
que
.
em
obti-
sequer
•
O
.
nem
parte,
a
tem
.
feito?
.
?•
casou
•
.
Quasi.
—
—
conhece ?
me
aparecida!
Tanta
—
a
talvez Ihe achassem
que
do brazileiro.
noticias
quaesquer
muito
santos,
conhego ! Procurei-a
Se
—
pai dos filhos
o
pai dum filho do Thomé dos
instinto conseguiu safar-seda rede
Ihe estendera, assegurando-se da
por
que
fosse
que
isto é, o
Zebedeu,
de
homem
dum
procura
Essa
casada
nao
agora
me
é
melhor!
lembro
de
o
••
Gestado
encontrar
qualquer disposigáodo código civil.
de
quasi
definido
em
SCENAS
8o
é
tu
para
pequeño,
coisa
E*
curioso
E'
curioso,
—
—
caso,
a
Ritinha
Passadas
reirá,
siao
filho.
tenho
tambem
eu
mas
pé
no
querdo,
es-
de
deformidades
uma
incomodou.
me
nunca
tirou
bota,
o
dedo
o
seu
tinham
casado
registo
olhos
os
ao
dos
pasma-
membrana
imediato
—
mente
exacta-
filho!
delicadamente
do
e
delgada
uma
grande
semanas
ocultando
meia
a
sobre
algumas
que
do
.
.
.
tinha
como
de
curioso.
•
?
porque
cairam
ligava
Ihe
aquilo
se
ver.
Descalgou
que
qué
signa!,
•
da
E'
.
um
Deixa
—
dizeres
me
esquerdo.
porque
fiz
nunca
para
incomodal-o.
a
pé
no
o
nao
que
vir
signal
Um
—
e
veres,
possa
que
VIDA
DA
casamento
os
o
dr.
davam
iornaes
F.
que
tinham
e
a
na
D.
a
Rita
mesma
registado
ticia
no-
Pe-
oca-
um
chibos
Quem
Era
modesto
um
Ihe
maís
para
dava-lhe
para
chegavam
e
e
casa,
de festa,o presenteava
mais, outras
vezes
.
escritorio,
que
O pai
habilitagoes-
as
dispensando-o de contribuir
mesa,
despesas da
as
.
de
empregado
nao
cama
vende.
com
ainda
dias
em
alguns centavos,
urnas
conforme
negó-
menos,
vezes
cima,
por
os
cios Ihe corriam.
Nao
fazia
a
familia,e
urna
como
casar, fiado
nhava
e
seguro
que
de.
que
o
bem
mais
recursos,
de escritorio
maior
os
sem
promessa.
Com
a
sem
de
deixaria
Casaria,mesmo
seus
o
que
mulher
de
genero-
ordenado, resolo
ele ga-
que
trouxesse, tinha por
priyagóes,ajudado pelo pai
ser
generoso
cabida seria
que
fosse sustentar
maré
em
aamentar-lhe
nessa
viveria
que
nao
agora
com
patráo,
o
sidade, prometesse
veu
ideia do que
menor
a
sua
tiyesse de contar
modestos
recursos
habilitagóes
para
ele,
generosida-
para
dum
urna
categoriae mais farto rendimento.
com
só
com
os
empregado
situagáode
SCENAS
82
pai dissuadi-lo dessa asneira, fazendoseus
mentado,
ganhos, mesmo
os
que fosse auque
Tentou
Ihe
o
yer
mal dariam para
era
contó
um
é grande
Deus
Para
e
África recelo muito
Casou,
e
dando
colhera,
urna
los
títu-
a
largo;quando
África
eu
a
o
encontrava-se
casa,
com
que
o
era
nadas
ou
o
para
viagem ;
nao
sil.
Bra-
a
para
Governo.
recido,
desgostoso e abor-
pai,embora
faltando do
desses
a
é
t'a pague
luxo, mas
instalado,sem
guns
mundo
para
que
o
como
Ihe poz
nada Ihe
o
Brasil pagava-te
o
o
que
Bolsa.
na
puder viyer aquí,vou
—
e
da Carochinha,representadopor
cotagáo
sem
—
renda da casa,
a
mulher, segundo informagoesque
da
dote
VIDA
DA
rasoavelmente
desejayelconforto,
necessário,
al-
com
alegram a vista,
impressáo de Arte barata, mas
delicada,
pequeños
que
agradayel,embora fútil.
A mulher, orfá de pai e mae, fora creada,desde
da madrinha, que a nao
habilitara
em
casa
pequeña,
dona
de
pobre nem
para creada de casa
criaturinha banal, com
rica. Era ama
ambigóes de
luxo, sabendo alguma coisa de bordados, alguma
coisa de música, mas
ples
incapaz de fazer a mais sim-
para
das
da
pegas
roulasj passar
sabia fazer
yaga
casa
oyos
ideia de
a
sua
ferro
toilette,remendar
uma
camisa. De
quentes, para
ouyir dizer que
gemadas,
nao
se
umas
ce
cosinha
e
tinha
deyem
•
.
uma
assar
.
SCENAS
sardinhas
boneca,
Ihes tirar as
sem
bibelot
um
sasonado
DA
em
Houye
necessidade
adorayel
urna
fruto
apetece tocar, um
que
apetece beber
83
tripas.Era
apetece meter
que
que
VIDA
licioso
vinho de-
boca, um
na
soryinhos
aos
de tomarem
criada
urna
com
algumas artes de cosinheira,sobrecarregando o seu
verba pesada, que muito
exiguo orgamenio com
urna
contribuia para o seu desequilibrio.
reconheceu que o pai tinha
Logo no segundo mez
quando o aconselhava
neira estava feita,
e o que
era
impossibilidadede aumentar
a
rasao
franco entendimento
um
nuirem
Antes
—
vé
cases
que
devias ter visto que
tu
vam
ter
para
as
se
as-
dada
receitas,
era
suas
mulher
a
para
se
dimi-
regime de
num
o
os
hoje só
casa,
fazes,diz
que
teus
casa
naturalmente, casa, mulher
—
Diziam
coisa que
—
se*
mas
eu
perguntado,
nao
de fome
—
calculei que
contasses
•
gosto.
dictado,
ganhos nao chegade,
e mulher, mais tarfilhos.
te
dotaria,e
te dotasse
com
como
aiguma
t'o disse,e
nunca
como
com
era
se
o
m
ti*
natural,ter-te-ia dito
isso. Olha quem,
urna
unhas
•
Eu.sei
te
o
visse.
Diziam,
vesses
que
se
e
madrinha
tua
a
que
ela é rica,sempre
que
a
preciso, agora,
despesas,entrando
as
mas
casar;
economia.
vera
e
com
nao
a
daria
a
quem
um
bom
ela disse,por
dote,
se
tu
mais duma
casasses
vez.
a
seu
DA
SCENAS
84
E' possiyel
;
—
tasse,
me
que
ver
a
se
na
por
fór,a verdade é
ou
ele posso
com
nao
espero
nos
puzesse
nosso
a
ter
com
compramos
um
ordenado,
só
e
cosinha. ]á
na
ajude,e milagrefoi que
nos
contrariado
casa,
posso
todo
some-se
pai
meu
nao
meu
ficou
como
com
o
casamento.
Pois sim ; algum remedio
situagáodificil.
—
]á
lojasem
a
que
nao
O
mim.
para
contar,
que
ainda
e
casa,
ti
trapo, para
cons-
que
rúa.
despesas da
as
Ihe desamparaba
eu
Seja como
—
disse íoi para
o
se
mas
VIDA
ha-de dar
se
esta
a
seguinteo Orgamento teve um superávit,
ela explicoupelo facto de ir ás compras
que
fiado na mercearia. O passadiofora
e nada
comprar
como
nos
anteriores,se é que nao fora memeses
Ihor,aparte o yinho,que ela abolirá,porque a cria*
mes
no
da, só á
sua
parte, bebia
criadas
Isto de
—
ladras. Só
umas
fazem
tanto
como
portam ganhar
Carregam
o
contanto
no
prego
—
pior é o incomodo
yale'dinheiro
•
O
incomodo
ñas
o
mesmo
que
—
compras»
nao
v3o
se
á
das coisas,e para
O
bem
que
coisa
mesma
roubam
que
tróes, o que nao presta custa
de primeiraqualídade.
ros
—
a
ordenado. Algumas
o
pouco,
sempre
todas
sao
com
litro.
um
que
os
im*
Praga.
os
pa-
gene-
tu tens, e isso tam-
.
nao
fempo. As criadas,em
é
grande,e será
vendo
que
os
por
pouco
patróes vao
de
SCENAS
quando á Praga
roubam
de tudo, nao
com
quando
prego
em
Com
—
respeito á
vida
a
andam
e
direito*
•
facto do
ao
tanto descaramento.
ha-de
é que
mercearia
tudo de pronto, emquanto
pagar
a
VIDA
DA
ser
fícil
di-
puzermos
nao
.
Estás
prar
engañado. O que é preciso é nao comdinheicom
senao
aquiloque se pode comprar
á vista. E' preferivel
ro
pedir dinheiro a juros,pondo
alguma coisa no prego, a fazer conta ñas mertudo
fica a dever, além de comprar
cearias. Quem
—
impingem-lhe
mais
caro,
nao
querem.
conta
nos
viráo
nunca
a
pregos,
Ha
—
as
Calculam
homens
táo bem
Eu
Se
ajustar.
geito
á
para
Praga
escolher
impingir gato por lebre,e
estivessem marcados em
em
tudo, como
podia ir á Praga,
eu
urnas
—
vezes
outras,para
por
Descanga, que
contrario,até
que
deixa de
nao
o
mez
que
que
gue.
que
ahi
nao
ver
nao
me
o
já nao
temos
agora
é mulher
Isto vai mudar
para
para
os
pregos
lejas,
dias,mas
certas
os
essa
massada.
Antes
massa.
lá muiía
espectáculo,
que,
interessante. Se Deus
ser
vem
te poupar
distrai. Encontró
me
vai só para
isto
se
digo todos
nao
ou
serias,in-
pessoas
de
capazes
fazem
e
donas de
muitas
que
fossem
vendedores
os
carregam-lhe
outros.
os
váo
que
melhor
ou
tenho
nao
dáo para
uns
fazem
dos que
entáo
e
outros
os
que
muitos
que
pagar,
se
muitos
compras
casa.
ver
a
o
sempre
na
pelo
gente
verdade,
quizer,para
ir á Praga.A moga
precisarei
é geitosa,
e quer
me
parecer
meter
a
unha
muito, tu verás.
até fazer
san-
SCEXAS
86
ele
Comegou
VIDA
andar satisfeitoe
a
te,
mulher radian-
a
dois felízes porque havia abundancia
no
ti^esse aumentado
muito
como
se
era
os
lar
DA
—
ordenado,
tivesse barateado
ou
Está
—
bem;
chapeu, e
um
mas
muitissimo
seu
o
seu
vida.
a
precisodum fato,tu precisas
isto nao
chegam as nossas
eu
para
economias.
passadcs, muito poucos,
apresenta-lbeela,
notas de cem
escudos, mais do que o bastante
Dias
em
para
despesas ¡mediatas
as
Ibes impunham.
se
que
E explicou:
boje visitar a minha madrinha. A corda
pelo mais fraco,e visto ela nao vir á
quebra sempre
á sua. Gostou muito de me
nossa
ver,e
casa, fui eu
Fui
—
preguntou-me
se
feliz. Disse-lhe
era
sim. que
que
muito feliz.Percebi que
sou
vengáo
a
ela tinha qualquer preteu respeito,
elogio
a fazer-te um
e puz-me
rasgado,
tao
caindo
em
exagero.
com
mos
jando me
—
que
as
a
paginas
Quiz
despesasda
tantas
saber
casa,
e
como
na
vi que
estava
arranjadespedida,beinos
muito, entregou-me isto.
Vamos
lá ;
nao
era
de esperar
tanto
duma
pes-
táo sovina.
soa
Pois é verdade. E disse-me que em
me
lembrasse déla,porque
me
em
apuros,
sempre
bem nos faria.
vendo
—
Foram
amiudando
as
visitas á
madrinha,
algum
e
cada
SCENAS
DA
dos filmes que
de grande fama.
sobretudo
Apeteceu á mulher
tanto nao
chegayam
Esse luxo
nao
co
de metade
menos
ano,
a
Porque
a
tempo
que
—
ela
é que
a
o
loteria? Diz
na
sai
se
o
que
;
grande
sorte
o
será comprar
diz
o
outro
fazem
os
chourigos.
que
; compra
Compra tu, que
lá
eu,
o
em
que
a
ver-
•
.
nheiro
custa muito di-
entao
o
sorte
a
e se
cautelitas,
umas
com
-
isso.
mas
alguem hade sair.V/aleu ?
como
redu-
possa
-se
outros
aos
premiadas, jogamos
Pois sim
que
dará coisa parecidacom
nao
bilhete para
melhor
ninguem sabe
porque
dinheiro,
e
coisa que
uma
elas forem
—
?
mv.
jogassemos
; o
—
peles
umas
com
o
voltas Ihe heide dar, filha,
porque
gastos
se
Um
todo
em
do fim da Estacao.
antes
é muito
grande é
dade
ele ganhava
economise,
sai que
meus
E
—
de tres contos,pou-
contentasse
se
Ihe hade
tres contos
zir nos
para
generosidades da madrinha-
falas nisso á tua madrinha
nao
que
Nao
—
mas
me
demasiado
sempre
de peles;
casaco
as
que
Lisboa precedidos
a
livre! Ela já acha que eu tenho luxo
as
nossas
para
posses, aconselhando-me
Deus
—
um
do que
ordinarias,cossadas
—
chegayam
Ihe custaria menos
ser
nao
VIDA
forte. E'
mais
sangue
mesmo
se
te parecer.
todos
os
jogos,sou
um
tumba.
Andou
a
roda, e quando ele
entrou
em
casa,
para
SCENAS
iantar,desen^olta como
gando-o e beijando-oem
tra-lhe
um
nhentos
de
masso
declinou
e
—
VIDA
DA
89
abraferias,
colegialem
um
mostransportes de alegria,
notas
o
quatro contos
—
numero
que
qui-
e
e
comprara,
em
Ihe saíra toda aquela dinheirama.
que
Tres contos
--
Um
—
tarmos
todos
em
nhamos
a
para
peles.
•
coisas que
as
comprar
.
precisas.
Os quinhentosque
—
minhas
as
para
já chega
contó
mais
sao
nos
sao
sobram,
jogos,a
os
ver
sao
se
habili-
nos
para
alguma
yez
apa-
taluda.
Isso é que hade ser mais dificil.
O* filho! E' táo dificilapanhar a sorte grande
—
—
apanhar
como
e
mesmo,
A
ma.
o
dínheiro.
mesmo
habilidade,num
a
caso
e
O
trabalho é
noutro, é nenhu-
e com
questao éa gente babilitar-se,
escudos,se tivermos
bocadinho
um
o
estes
nhento
qui-
de sorte,
quando chegar o Natal,já temos arranjadoa massa
precisapara nos habilitarmos a ser ricos,muito ricos.
A partirde entao, nunca
mais ela deixou de jogar
.
lotería da
na
algumas
sem
Era sempre
era
sempre
Casa, favorecida de tal modo
Santa
pela sorte, que
era
raro
o
¡ogo
em
que
nao
Ihe sais-
de escudos.
centenas
ela que
ela que
.
ia receber
compraba
as
ao
cambista,como
cautelas,
vigésimos
palpites.
directa
O que ele nao dispensavaera a participagáo
nos
lucros,uma percentagem que ia algumas veaté aos cincoenta por
cento, quando o premio
zes
ou
n§o
bilhetes,
segundo
era
chorudo.
os
seus
SCENAS
90
]á tinham
ela
tanto
todos
urna
a
Caixa Económica
na
fracgóes,todos
em
mais
meteram
os
criada,e
música, o
urna
em
sempre,
mezes.
considerayelmente
melhorando
de casa,
Mudaram
ganhar
¡á considerava a loteria como
trazia arrendada» pagando-Ihe
jogos. que
propriedadeque
os
renda
e
alguns contitos,
á ideia de
afizera
se
VIDA
DA
como
a
sua
dama
;
sabia
um
trivial,
alguma coisa de
compraram
gramofone ; mas ela disse
piano. Ele preferiaum
pires,e as circunstancias em que se en~
que isso era
contravam, felizmente,petmitiam o luxo dum bom
tegra!
fazendo o pagamento inpiano, que se poderla tirar,
da compra,
acto
no
por
seis
ou
oito contos.
tasiosa
a madrinha, de cujasfanDesaparecerá de scena
generosidadesjá nao tinha necessidade,porque
loteria justificava
plenamente a proveniencia
a
de vezes
dos seus recursos
monetarios,urnas poucas
ordenado
superioresao
O
que
vivemos
numa
—
A
a
melhor
mim
nao
a
que
mo
co-
?
sua
a
que
quando souber
déla,mobilada
dirá nada, porque
me
nunca
mais
visito.
Zangaram
—
Nao
—
to ela
temos
se
tua madrinha
a
casa
foi
nunca
—
dirá
do marido.
nos
se?
zangamos,
porque
ouvia
tudo quantimamen
desentendida. Úl-
queria dizer-me, e fazia-me
estava insuportavel,
a querer
saber,o que
temos ; se o teu pai nos ajuda,
e
o
nao
que
fazemos
conta
na
mercearia, se pedimos dinheiro
SCENAS
ultima
emprestado. A
de
dizer
me
podem chegar para
tinuarmos
E
—
tu
Eu
—
nao
vez
as
a
despezas,e
nossas
o
rendimentos
nossos
que
a
coco
desnao
con-
fazer dividas que
por
mandaste
raandei
ela
que
lá estibe,teye
que
os
que
91
pagar.
a
nao
do
me
VIDA
assiro, acabamos
poderemos
nunca
DA
?.
.
parte nenhuma.
a
Lembrei-
feito,e deixei-a rabujará
tem
ncs
.
vontade.
Fósse
—
comigo
todo
te dar
esse
ela
foi manha
sermao
mais
nunca
para
centavo-
um
Creio
—
Ihe cantaría ! Naturalmente
eu
que
que
sim
isso pouco
; mas
importaba,
me
permitidoinsinuar que a nossa
relativa prosperidade nao
nesta.
pode ter urna origem ho-
se
nao
O
—
se
tivesse
qué ? Ela teve
Quando
esse
atrevimento
?
mas,
despsdi,os olhos chelos de lagride
poder falar,beijando-me como
quasi sem
costume, dissesme que tivesse muita cautela,porque
e
nao
as
aparencias me
comprometem
esqueque
—
cesse
quem
nunca
me
que
ha
um
ditado
vende, e cabras
chibos
que
resa
assim
:
—
tem, dalgures Ihe
nao
vem.
—
Todos
de
grande desavergonhada !
Que
se
admiravam
escritorio
gastar
como
podesse
que
viver
um
modesto
como
ele gastava, a mulher
empregado
ele vivia,podesse
vestindo
primeira,e ele frequentandoassiduamente
os
como
a
clabsy
geralmente ceaya
onde
vinhos
fumando
e
charutos
mulher
duma
para
ficar consagrado
conta,
por
como
alugam
Tambem
madamas
as
se
que
jogaya.
nao
Como
dinheiroso,
clubman
um
titrée,
amante
urna
vendem.
se
ou
Só !he faltava o
caros.
difícilmente resistiriam
que
—
boa companhia, bebendo
em
luxo
a
VIDA
DA
SCENAS
92
diabo
é
F., só com
o ordenado
conta
vive,gastando sem
o
que
pode viver á grande, como
medida?
nem
Só
—
com
ordenado,
o
com
nao;
ordenado
o
e
os
dividendos.
dividendos?.
Os
—
Sim
—
; as
.
da mulher
acgoes
dimento, porque
'
cotadae
muito
estao
dáo Ihe
um
na
bom
ren-
Bolsa.*
aiheia.
pai,depois de
O
cto,
bem
por
que
duvida
na
ter
pouco
sobre
chorar
gao,
e
poria
a
no
olho
descaramento
—
que
nao
a
a
presencear
da rúa,
de Ihe
encontremos.
conhecem,
outra.
e
urna
a
cruzar
Fica dispensadode
nos
porca
me
do que
disse-lhe que
parvo,
prevenisse a
que
mais parvo
era
que
morte
sua
violenta,
explicagáo
chega a vias de fa-
urna
nao
ele
se
cinico,ou mais cinico do
ele
com
a
sua
da mulher
fería
pre-
degradade que
a
pontapés, se ela tivesse
os
portáisda casa.
cumprimentar onde
Somos
d'elas nao
duas pessoas
quere
o
quer
que
se
relacoescom
SCENAS
Empregado
DA
VIDA
93
hábil,na
esphera,muito restrictada
sil
amigo que precisabair ao Bracomercial,conyidou'O a acom-
competencia,um
liquidarurna causa
panhalo, garantindo-lhebons honorarios.
sua
Aceitou.
Havia muito que
pensaba
viagem davalhe
essa
o
para
seni
ensejo
em
conversa
qóes,
de
dendo
em
pensou
cando'lhe
a
sua
assim
urna
ar
nao
contrara
en-
sobretudo
reparos,
patráo Ihe pedisseexplica
-
seriam
amigavel,que
o
ainda
do que
se
embarago-
chama
pas
descul-
—
pagador.
mau
Ainda
o
que
teriam sempre
sas, e
com
a
erguer
escritorio,
e
o
pretexto, que
o
fazer,sem
dar
deixar
em
era
pessoa,
res
deferencias,e
de
o
escrever
resolugao;
ao
mas
sr.
Bastos, comuni-
logo yiu
demasiadamente
o
que
além
proce-
incorrecto
tratara sempre
que
que
com
d'isso nunca
se
quando ele tinha um
gratificar
de trabalho,embora nao
fizesse horas
as
para
maio-
esquecia
pouco
mais
rias.
extraordina-
Encheu-se
de coragem,
e um
dia,quando ¡á todos
empregados tinham saido,disse ao sr. Bastos que
os
tratasse de
urna
o
substituir,
porquanto ia
—
Brasil fazer
liquidagaocomercial,e tencionava,no
estabelecer-se por sua
de consignacóes.
—
ao
Quando
No
parte ?
fim do
mez.
conta, montando
urna
regresso,
agencia
DA
SCENAS
94
Oxalá sejafeliz,
e
—
VIDA
tenha ocasiao de
nunca
se
ar-
repender.
Agradeceu, protestandoo seu reconhecimento, e
saiu do escriptorioaliviado d'um grande peso
o Raposao quanaquele enorme
peso
que esmagava
—
do copiava oficios,
com
]á
o
inevitavel
publicase notorias
eram
—
Deus
Guarde.
leyiandades da
as
posa,
es-
ninguem acreditando ñas generosidadesda madrinha, nao acreditando ninguem na chance das lote,
rías
todos acreditando*
e
semelhantes
em
•
ele
que
•
acreditaba
nao
invencionices.
dias de
fóra,com
]á ele ia pelos mares
poneos
viagem, quando o acaso, urna tarde,a poz em frente
do homem
que, hayia muito, a perseguia por toda a
parte, tendo-lhe
que
escriptojá urnas
ihe mandaba
marido
o
que
Teve
entregar
logar o
por
poucas
de cartas,
galego,quando
um
bia
sa-
estaya.
nao
encontró
Jardim Zoológico.
no
Lovelace
um
Logo ela yiu que tinha a tratar com
muito rico, incapaz de seduzir pelo encanto
da sua
pela delicadeza do seu trato, pela elegancia
conversa,
das
furia,e
nao
cordoes
á
posse,
maneiras.
suas
a
homem
hesitarla,para
bolsa,pagando
peso
a
o
deseiava-acom
possuir,em alargaros
seu
amor,
isto é,
a
sua
de dinheiro.
Entrincheirada
nos
seus
deveres de mulher casada,
fortuna propria,fez-Ihe perceber que nao
carla
arrislevianamente a sua posigaonem
comprometerla
sem
o
Esse
seu
futuro
para
Ihe proporcionar um
gdso ephe-
SCENAS
96
disse explicagoesa
DA
;
VIDA
respeito; mas estaya certa
Ih'aspediría,
de que nao
já habituado aos premios da
tendo posto a vista n'um bilhete,
nunca
cautela
loteria,
ou
vigessimoantes de andar a roda
tes
annem
detalhe em
depois, porque
nem
esse
pequeño
esse
—
nada
A
cada passo
caras,
das
interessava.
o
via expostas
que
o
Um
montras.
ñas
intimas relagóesaconselhára-a
suas
papelada que tinha
conselho, tratou de
da
¡oias,as mais lindas
compraya
Bancos,
nos
as
financeiro
desfazer-se
ela, tomando
ioias,muitas ¡oias,
comprar
objectos de prata para o uso
porgáo de libras que mandou
e
a
e
domestico
por
e
boa
urna
Londres,á
em
sua
ordem.
dia
No
em
que
fez anos,
o
ofereceulhe
amante
d'um terreno que tinha comprado, em
escriptura
d'ela,na linha de Cascaes,e juntamente com
a
nome
a
criptura
es-
cheque de cem
contos, acompanhado de
muitos abragos e beijos,
d'um amor
a promessa
com
só urna
eterno ! Eslava rica,e porque
parte minima
fortuna era representadapor escudos, encada sua
raba
futuro sem
médo, nao se importando nada
o
um
com
da moeda.
desvalorizagáo
a
dia
Um
o
amante
esperado,ainda ela
cao
—
apareceulhe
eslava
na
cama,
em
casa
a
crear
sem
disposi-
complementar.
Preciso de ir a Paris,e gostava que fosses
para
um
ser
somno
co-
migo.
—
Tu
nao
estás bom
da cabega ! O
escándalo
se-
SCENAS
Deus
sabe
se
marido
meu
n'isso é bom,
Vamos
—
do
o
apressar
meu
seu
97
em
toda
cidade,e
a
Brazil,obrigando o
chegsria ao
nao
a
VIDA
daria brado
grande,que
ria tío
DA
regresso,
Nem
pensar
caro.
No fim
devagar.
peregrinagaopara Lourdes, que
devagar.
parte uma
seguirá d'ali para
mez
.
Vamos
.
.
•
Roma, sendo-lhe facultada uma
pela Italia.Tu vaes na peregrinagao
larga excursao
de seguirespara Roma,
até Lourdes, e d'ahi,em
vez
Os jornaes
eacontramos.
segues
para Paris,onde nos
dio
teu
o
—
—
a
sempre
nome.
E por quanto tempo contas demorar-te em Paris ?
O tempo que tu quizeres,além de quinze dias.
—
Pois sim,
ele pagou,
e
como
ricas,comprou
que
vamos.
necessidade de fazer toaletes de viagem, que
Teve
e
gurará
lista dos peregrinos,e n'essa listafi-
fosse arriscado levar as
suas
joias
joiasfalsas,de grande valor artistico,
ele tambem
pagou.
Lourdes, aparte o
Impressionou-amediocremente
pictoresco da regiao, inteligentementeaproveitado
agencia de milagres,
espantosamente
para estabelecer ali uma
rendosa. A piscina fez-lhe repugnancia,e
n'ela aleijadose chagosos,
tendo assistido a meter
viu que
algum saisse curado, que mais nao
nunca
fosse
um
bocadinho
mais
sao
e
escorreito. Parecia-
especiede lojado Grandela, só fortenticas
aunecida de objectosbentos, caros
se fossem
como
reliquias.
Ihe aquilourna
SCENAS
98
VIDA
DA
peregrinos que por ali andayam, aos
certeza
com
milhares,gente de varias Nagóes, eram
crentes e devotas,acreditando ñas curas
lagrosa
mipessoas
dos
Muitos
imprensa apregóa e que certos
médicos
autenticara. Mas
a
grande maioria era de
teuristes como
ela,indiferentes em materia religiosa,
certa
que
gente que
de
passando
casa,
pretextorasoavel para sair
Lourdes nao exisse
froníeira,
acharia
nao
a
um
tisse.
Sim,
a
famosa
procissaodas velas
imponente
um
era
ctáculo
espe-
milhares de luzes batendo
—
es-
a
carregada da noite, milhares
de vozes, ero orpheon mal ensaiado,entoando preces
tom plangentedas tamurias monásticas
e ora?5es, no
n'um convento sombrio. A procissaoera um
culo
espectáverdade imponente, nao
na
podendo ver-se com
curidlo mais
ou
menos
d'uma
interesse mais
vez,
tisfei^aa curiosídade,
faz
impeca
Ao
analysee
a
ser
o
que
a
sensibilidade nao
farta de Lourdes.
ali iudeus fazendo
ver
precisamente
e
de
graga
com
repetigáo,
iá sa-
critica.
a
terceiro dis eslava
Achou
a
porque
na
lojado
mais directamente
que
cio,
comer-
seu
o
achou
ares
com
descendente dos malvados
cuspiram na face do Redemptor, comprou
algumas
dedal, que pertencera a
lembrangas, entre elas um
que
Sania Brígida,e
um
cachimbo,
bedeu, irmáo de Thiago, ambos
No
dia
em
ela tinham
marchou
que
ido
ela para
os
de
outros
que
pertencera
Ze-
pescadores.
peregrinos,os
Lisboa, marcharam
Paris.
a
que
para
com
Roma,
SCENAS
Esperavaa
VIDA
99
Quay d'Orsay, onde desperto da meia noite,indo d'alipara o Ho«
embarrou
o
amante
no
Hotel de París.
tel,o melhor
Que
DA
maravilha! Que
Tinha
deslumbramento!
impressáo de
a
que
París
era
imenso
um
d'Opera, a realisa^aod'um contó de fadas,
Palacio encantado feito á ímítagáo do Paraízo, n::an-
theatro
eterno, d'eterna felicidade.O
de goso
sáo
que
tinha
figurado,ficava muito abaíxo do que vía,e ainda mal
da vasta cidade que
vislumbrara a beleza,o sortilegio
Sena
o
corta, rio
largurae
sem
sem
profundidade,
riscado transversalmente de pontes que sao, na maior
parte, verdadeiras obras d'Arte. O bulicio da rúa,
grandes boulevards,o luxo dos grandes theatros
noites de espectáculo
em
; a desenvoltura canalha dos
cabarets ; as tardes do Bois, tudo isto Ibe exaltava
sentidos,hyperstisiando-lhe
os
a sensibilidade,
rasgando
nos
perante
de
goso,
os
seus
olhos pasmados horisontes de
inédito. Sem
prazer
especie de
nenhuma
Muzeus interessavam-na meos
educagáo artística,
interessavam o amante,
diocramente, e ainda menos
do que
mais bronco
Olha
—
A
é
que
ela.
uma
boa
niaiorparte da gente
para
lá vai,nao
o
tal Louvre !
é para
ver,
é
contar.
Prendía- se
cada,
mesmo
que
chumbada,
a
ás montras, n'uma
sentir
tempo
desejos de
dor
e
admíragao embasba-
posse,
em
que
Todas
voluptuosidade.
havia
as
ao
ourí-
SCENAS
loo
vesarias da
de
La
Louvre
rúa
DA
do Ouro
VIDA
valiam
nao
Paix ; todas as lojasda Baixa
Galería Lafayéte.
a
ou
Considerava*se
rica
só da Rué
urna
valiam
nao
o
sentia-se bre
popobre n'uma ierra
Lisboa, mas
em
Paris,e reconhecia que ser
tao prodigiosamenterica,tao cheia de tentag5es,de
virtudes tao dificeise de vicios tao caros, é qualquer
de Tántalo,o incoisa de torturante como
o suplicio
desejar e nunca
comportavel raarlyriode sempre
á sede
possuir, a trágica sorte do que morrer
quasi a molhar os labios n'uma corrente d'águafresca
em
e
pura.
—
—
Gostavas de viver
em
Nao.
vir aqui lodos
Gostava
para
o
Lisboa
de
Paris ?
os
grande demora-
sem
anos,
•
a
agugar
apetitede voltar.
As noticias que Ihe chegavam de Lisboa
co
.
rando
reti-
nao
tranquilisadoras,
mas
os
porque
projectadosassaltos
O
seu
a
a
porque
boatos
eram
pou-
interessasse a política,
insistentessobre
estabelecimentos
dinheiro eslava
eram
todo
e
nos
casas
ticulares
par-
Bancos,
e
objectosd'ouro e prata, os de maior palia,tivera
o cuidado de os
depositarno Monte Pió Geral,n'um
cofre que alugara.Mas nem
carar,
por isso deixava de ena tremer, a hypothese de Ibe assaltarem a casa,
menos
pelo que representasse o roubo de que fosse
victima,que pela vandalisagáoa que se entregassem
mizeraveis assaltantes,
os
em
gente que se compraz
os
SCENAS
mal, ainda qued'ahiIhe nao
fazer
Communicou
as
suas
día seguinte se
no
VIDA
DA
ele assegurar-se
Fizeram
o
ram
apenas
para
ela
resulte o
da passagem
regresso
quarenta
Madrid, onde
demora*
se
oito horas, tempo
e
logo
de mingo ¡mediato.
o
para
por
e
arranjaras malas, indo
a
puzeram
amante,
ao
apreensoes
neficio
be-
menor
bastante
valia a pena ter ali ido.
Talvez achasse isto bonito se tivessemos passa-
—
ver»
•
nao
que
.
do por aqui,a caminho de París.
Sevilha é mais bonita. Havemos
de lá ir por
—
Semana
da
ocasiáo
Santa,
teu marido
o
se
estiver
pelos aiustes.
Durara
longo
um
ela pudera estudar bém
de gastar muito
si por
dinheiro
corrente
uma
corrente
uma
por
Deyia-lhe
nao
Ihe
actos
seus
com
e
a
havia
um
abismo,
teria sempre
¡untos.
qual
capaz
mulher, gastando
uma
ele
acgoes^
mas
a
fortuna, mas
sua
a
comprara
entre
seu
o
ela punha
ele mal
brutalidade que
suas
a
ou
delicadeza que
a
parte das
os
amante, homem
afecta,porque
maior
que
seu
muito, quasi toda
era
dele, entre
viagem, durante
a a
procurando prende!d'ouro,mas incapaz de a prender
de simpatia.
grata, porque
era
Ihe
nem
sem
o
contar, prendendo^a
sem
a
mez
sua
posse,
feitio e
em
todos
o
os
disfargava
na
seria exagero
havia espago
separados
—
mesmo
dizer que
bastante largo
que
¿stives-
DA
SCENAS
102
Era-lhe de cada
e
jos,em
o
dizem
tarde
gam
Foi
e
más
a
suas
bei-
volupiarequintadamente
perfume duma
atardar Ihea
pa*
horas.
recebeu
alturas que
nestas
nao
que
dos freguezesque
Lojistas,
os
senta,
pre-
podecaricias,
que
em
delicada. De resto comegava
fala,como
sua
bestialsensibilidade,
os seus
sua
hayia
nao
que
momento
o
brutalidade,as
sua
explosoesda
eram
agradavel a
menos
vez
sentia próximo
ría suportara
VIDA
carta
do marido
meio, dois
me-
era
podia regressar, porque a liquidagáo
negocio muito complicado,e a burocracia, no
sabe trabalhar depressa.Quasi ao mesmo
nao
zil,
um
anunciando-Ihe
mez
e
nao
zes,
comunicava-lhe
po
de
antes
que
a
para
que dentro dum
amante
o
de dois
demora
África, com
ou
mez
Bratem-
iria
tres
anos.
em
S. Tho-
Negocios ?
—
Nao ;
—
administrar
vou
Joguei forte
toda
a
e
que
me
roga
Bolsa,comprando fundos que
da,
dizia que teriam urna
grande subi-
mé!
gente
urna
na
até
afinaldesceram
oalerem
nao
nada. O
qualqueróutro vitro
querendo viver modestamente, a denver independente,
Mas essa vida eu nao
dum orgamento equilibrado.
África poa posso
fazer,nao a quero fazer,e só em
derei calafetar o meu
barco, qje faz agua por todos
que
ainda
me
resta, chegariapara
lados.
os
—
Oxalá sejas feliz.
•
.
d'Africa rico,ou
Só posso ser felizregressando
deixando lá o canastro.
—
—
E's forte,e ainda és
novo.
Se
tiveres ¡uizofa-
DA
SCENAS
I04
fizera,e da siluagaoque
Bolsa,mas
na
ou
negocios,banqueiros e
baixas
tanta sorte,que
com
sempre
entendido,nao
vez
por
Arr¡scou-se,¡ogando
creara.
perdeu. Bem
palpite
; jogava
só
urna
jogou
VIDA
joga^a á
indicagaode
por
correctores
nem
toa
de
pessoas
adiüinham
que
as
borda
d'agua adivinha as
cbuv?as e o bom tempo. Fartara-se de ganhar dinheifo¡ depositandoá ordem, com
¡uro,
ro, que
pequeño
do,
quasi sem
juro,por dizerem que a praso era arrisca-
altas e
no
as
cheia
a casa
uns
outros
mum,
Comprara
—
—
sao
porque
corrida
urna
como
um
ovo,
aos
merecimento
um
terreno
Isso é que
me
Seria;mas
a
linha de Cascaes*
parece
que
foi muito
conhecia
boa,
nha, se
senao
quizermosvender,náo'precisamos
o
boca para recebermos
ele nos
custou. Aínda
tres
a
já um
lavrador do Alemtejo
dobro
do que
dera por
na
máo.
dinheiro
feito,
ou
o
quatro
a
vezes
abrir
o
eslava
a
mandassemos
terreno, mesmo
nao
ser
que
dizer que
o
negocio
banhos
a
e
na
bar
acacasa
Provincia. Estou que
¡á esteja governado, se Ihe
chalet antes de retirar para
homem,
que
oferecer
ele, E aquiloera
homem
ama-
escritura feita,
mandava
me
nos
antes de
o terreno
desejava comprar
temporada, para coraegar as obras duma
Paréde,
a
O
ou
terreno, e
eslava
nao
eu
o
••
opiniáo
na
a
que
co-
foi asneira.
de toda
gente
lor,
ca-
artístico.
na
compra
teem
sempre
objectos d'uso
uteis"como
por
Bancos.
de bugigangas
nao
de objectosque
prestimo, mas
sem
o
de haver
caso
Tinha
como
nos
a
resolvemos
a
vender
o
pedindo mais alguma coisa,vinha logo
SCENAS
ahi
destes
Eu
—
foi
que
Considera
correr.
a
nao
bom
fazer
cios
nego-
ar.
;
acho até
terreno, ali,para
raais. O
vez
Lisboa
em
casa
no
porque
negocio foi ruim
valer cada
preferíaurna
105
caso,
o
negocio, O
ha-de
sitios,
é que
o
que
VIDA
bem
deyem
se
digo
nao
um
DA
que
les
aque-
chalet
aum
digo
eu
na
li-
nha de Cascaes.
Dinheiro tinham
e
o
Viveriam
casa.
invernó
do ano,
que
na
sua
de Lisboa durante
casa
primavera,e iriam viver
e a
se
let
chegava e sobejavapara cha-
o
o
resto
quizessem alugar.
nao
Ponderaran!
chalet
no
deviam
se
mandar
fazer
casa
ou
cora-
pela compra. Era mais
talvez fosse mais barato. Compraram a
pral-afeita,
e determinaram-se
prompto,
e
casa,
O
e
trataram
demonio
de
é que
a
apetrecharpara reunióes
tosas.
apara-
tinham
relagoesna alta sO'
visto ele nao
ciedade,e nao seria fáciladquiril-as,
ser
em
ou
no
destaque na politica
comercio,na
pessoa
industria,
na
finanga,ñas letras ou na Arte.
Outros, com
—
Relacionou-se
naes
comegaram
umas
da
vezes
sua
nao
menos
com
a
unhas, téem
algunsreperters,e logo os i'orfalar dele
e
noticiando esmolas
freguezia,outras
vezes
de
ex.™' esposa,
dera aos pobres
sua
que
encarecendo
artísticode variadissimos objectosque
casa,
uns
adquiridosaqui,outros
estrangeiro.
trepado.
tinham
mandados
o
em
valor
sua
vir do
SCENAS
io6
fez
pintorde grande nomeada
Um
natural,e
tamanho
em
VIDA
DA
felizna
momento
retrato déla
retrato fosse
esse
porque
o
um
vida de borra-telas,
a madama
sua
náosólogrou tornar-se conhecida de toda a gente, miIhares de pessoas, que visitaram a Exposigáo em que
conseguiuque d'elase ocuo retrato foi exposto, mas
durante semanas,
passem,
todos
mas
criticosde Artei
autores de
mais ou menos
literatelhos,
novelas,que nos cafés,e outros centros
de Sociedade
demolir Ídolos
remediada,procuram
ou
altares.
erguer
Fez-se socio de Sociedade
para
es
os
e
romances
só
nao
conselho fiscal dum
o
conseguiuque
o
Papa
o
de Geographia,entrou
Banoo
e
um
por
trisnao
fizesse conde, tendo ofere-
cido para o mealheiro de S. Pedro, ao cambio do dia"
milhares de liras,
equivalentede doze contos.
o
uns
A pretexto de fazer obras
Avenida
Palace, ocupando
na
uma
casa,
instalou-se no
suite,que
era
a
me-
Ihor do Hotel.
Os
creados
para
nenhum
atengóes e deferencias
como
dar-lhes gorgetas,urnas
vestir o sobretudo,outras
outro
para
vezes
vezes
com
porque
hospede tínham
ele,sempre a
o ajudavam a
porque
Ihe levavam
jornal.
Relacionou-se com
políticos,
os
gente de todos os
quico
e tendo-se afirmado, publicamente,monárpartidos,
dos quatro costados,um
amigo conseguiuarda Conceigao,nada Ihe pedina comenda
ranjar-lhe
do senáo que trabalhasse por ele ñas próximas eieia
correspondenciaou
qóes.
o
^1
SCENAS
S. M.
Raínba
a
DA
tomou
VIDA
iniciativa
de organisarco"
a
missSes de assistenciainfantilem
da
cidade, comissoes
107
todas
fregnezias
as
de senhoras, sendo
essas
CO'
presididaspelo parocho respectivoLogo ele
foi ter com
da
batelao prior, encomendando-lhe
urna
de missas caras, aproveitando o ensejo para Ihe
tnissdes
dizer que
viesse
que
mulher
sua
organisarse
a
a
entrar
cotnissao
na
estando
freguezia,
na
contribuir para
disposto a
ele
assistencia infantilcom
avultada quantia.
urna
encomenda
A farejarnova
contentou
se
gostaríade
faz
mas
meter-lhe
com
com
de missas, o padre
ela,sem
que
a
mulher
nao
comissáo,
na
dum
discripancia
voto, fos-
eleita presidente.
se
Ambigóes de dinheiro já nao tinha,porque se via
de ter filhos.Mas
rico, e perderá de todo a esperanga
ambigdes de representadlo
honrarías,afinando a mulher pelo mesmo
diapasao.
Porque nao havia de ser deputado ?
foram"lhe
e
crescendo
Tantos outros
gado modesto
satou
que
a
vender
pastagem
tinha
em
casa,
o
as
eram,
ignorantescomo
de escriptorio,
até
dia
em
que
chibos,ignorando toda a gente
ele trazia as cabras,a nao
ser
a
recebida á face da santa madre
Foi apresentada a
candidatura por um
seguro
que o Governo
sua
seguro,
de tal modo
em
favor,a classicamanobra
seu
ao
ele,empredeem
que
igreja.
circulo
fez
ahi,
do desdobramento.
Ficou eleito.
Reuniu
em
sua
casa, para
celebrar
o
sucesso,
líticos
po-
do mais elevado coturno, só deixando de assis-
tir
o
por
o
DA
SCENAS
io8
VIDA
chefe do governo,
o
presidentedo ministerio,
encontrar com
um
se
ataque de almorreimas,que
obrigava a semicupios de alfayaca de cobra de
quarto
No
quarto d'hora.
em
dia
outro
vam
relato da
o
jomáis de maior circuladloda-
os
festa
como
fosse
se
um
acontecí'
nacional^encarecendo a captivante
gentilesa
dos ilustres dones da casa, fidalgos
de raiz-"- quado servido.
drada, e elevando ao cubo a magnificencia
festa de estrondo, urna
Fora, na realidade, uma
ñas
d'aquelasfestas que marcam
ephemerides da mais
mentó
elevada aristocracia.
E
maliciosos comentarios
ditos picantes,
citavam-se
rápido afidalgamento,a elevagaoquas
d'aquelemodestissimo empregado de esvertiginosa
criptorio,só abordoado ás prendas quasi banaes da
sobre
mulher, sem
o
os
talentos
Feríeles á famosa
e
a
Aspasia ;
beleza que
sem
a
escravisaram
ciosa:
ambiinteligencia
e o
gosto refinadamente artísticoda Pompadour,
e
o charme
bante
perturvelage de Luiz XV, sem
dominadora, de
superiorídadeintelectual,
a
amante
ao
tempo
L'Espinasse,amante do ilustred'Alenrbert,
era
em
capaz de
que ele,geómetra derreado, já nem
baixar uma
perpendicularao meio d'uma horisontal,
de Berlím pela
ele que
se
impuzera á Academia
transcendencia
dos
sciencias mathematicas
Quando
que
se
se
trabalhos
seus
nos
dominios das
1
partiude muito baixo,por muito alto
nuncia
qualquer coisa que detrepe,subsiste sempre
qualidadesdo adventicio.
as primordiais
SCENAS
DA
VIDA
109
Os
lísongeirosencarecían! a rara distingáode s.
d'uma delicadeza tao
ex/, de maneiras táo distintas,
dir"sehia ter ñasnatural,táo sem
artificio,
que
creando- se e educándocido em
ninho aristocrático,
se
na
melhor
sociedado.
A
respeitod'ele,os fargolasque o disfructavam,
diziam em voz alta,para que constasse
é um
club'
corrigindo os invejososque Ihe conheciam
a
man.',
é favor,um
biografía um clubman
como
cernman,
diria o Beyron, se conhecesse melhor a nossa
lingua.
—
—
é que
festa do
Lopes, s. ex.^ o sr. Ignacio
Victorino da Encarnagao Lopes, fóra um deslumbracio
mento, sendo a opiniao geralque ela marcaría o inid'uma brilhante carreira política,
tencia
dando consisCerto
a
opiniaoo facto do ministro do reino ter
entretido com
chos
o
Lopes, durante a noite,largostrede conversa,
outra
palavraroais alta
urna
ou
a
deixando
esta
perceber
Parlamento
O
s.
que
pior da
que
ex.
passagera
as
era
se
de assuntos
a
tratar
no
entretinham.
foi que
em
c¿nc0 de dutubro
prodamou a República,emigrando toda a familia
narios
real,só em Lisboa havendo lucta entre os revolucioe as tropas fiéisao throno,meia duzia de aben-
se
cerregens
de que
causa
A
levaram muito tempo
que
nao
nao
valia a pena
a
se
convencer-
sacrificara vida por
urna
perdida.
Provincia aceitarla de bom
grado,pelo menos
?
com
tranquilaresignagao,o que fizera a capital
Se assim fosse, d sposto a fazer carreira política
SCENAS
lio
VIDA
DA
aproyeitariao primeíro ensejo para aderir á República.
Considerava-se sem
cri*
responsabilidades
nos
erros
e faltasimputadas á Monarquia, eleitode*
mes,
putado, pela primeirayez, poucas semanas
antes de
proclamada a República,e até áquellemomento
nao
tendo afirmado
monarquismo senáo por signaes
de respeitopela familia real,em
festas de caridade.
Paiva Couceiro
retirara para a Galliza,ameagando
a
República,e era voz corrente que ele se preparava
para
a
o
poderes que
República que
O
melhor
as
seria esperar
rosas
nao
ensejo para
sua
adhe-
restauragáo da Monarquia.
hesitou mais
se
do poeta.
de coincidir a
incursao couceirista fez-se,
completo.
O Lopes
tendo durado
desfecho d'essa aventura,
o
caso
a
mais
pouco
celebradas
o
incursao auda-
republicanoa entregar-lhe
usurpara,
República com
á
A
Governo
fosse dar-se
nao
sáo
seu
yir á frente de tropas,n'uma
ciosa, intimar
os
o
e
foi
um
desastre
aproveitaria
o primeíro
declarar republicano.
Nao
teye que
Em
Abril foi publicadaa
esperar
—
muito.
Lei de Separagáo das
Igrejase do Estado, e logo ele yeio á imprensa de
clarar que daya a sua adhesao, fervorosa e desinte*
ressada,ao novo regime,visto o Paiz ser republicano,
podendo, contra a sua vontade soberana, pree nao
valecer
os
integrarana
Ao
mesmo
á
interesses d
uma
dynastia,que
nunca
se
Nagáo.
tempo
que
dava
a
sua
enthusiasticaadhesao
República,Lopes alvitrava que
se
oferecesse
SCENAS
112
e
correligionarios
m\-o,
Ihe
que
de
posigao
po
Nao
aceitarla
fosse, preferindo
até
entlo,
se
Oriente.
o
seu
longa viagem,
uma
Ao
cabo
Deus
que
o
de
política,empreen-
a
qual seria,
do
liticamente,
po-
servido.
fosse
poucos
e
do
despacha-
fosse
nao
termo
no
Poder,
ao
estava
mezes,
governar
a
o
partido.
seu
Como
ele
Oriente,
foi
Dizia
o
versado
caso
qualquer
nhuma
podía
parte
ele
em
bohemio
um
Nao
—
grande
mostrava
tros, assentando-se
do
motivo,
ciencia,
impa-
sem
partido subisse
qualquer
por
sulado
Con-
um
Esperarla,
desejava, abandonando
como
deria
que
o
como
negocios, fosse onde
de
encarregatura
urna
ou
vontade
boa
de
tem*
o
esquecer.
e
Ministro
como
no
dis"
na
anos,
consolar
se
LegagSo,
urna
uns
ser-
fóra,
estava
porque
Portugal
para
em
lá
situagao
urna
de
solícitos
tac
fcsse,
que
fóra
mas
;
ou
o
necessario
queria
Secretario
mostrayam
se
passar
fosse
que
VIDA
arranjassem
fosse
estrangeiro,
DA
o
estaría
Long-Corn
—
ser
Lopes
tanto
que
conselho
em
mandal-o
de
ir para
de
acertada
irla
no
bem;
seu
era
a
a
mas
o
Minis-
"
!
Siáo.
para
café, comentando
mais
tal
de
desejo
o
escolha.
como
graga
de
na
S.
M.
:
Para
parte
em
logar
caso
ne-
Corte
!
\
Galdérias
As
Entrou, bébeáo
tinha
nao
porque
o
de costume,
como
jantarna
e
mal entrou,
pregou-lheurna
meza,
bofeíada.
Atirou-se para
e
só
cima
n'um chale,entregue
dormia, enrolada
da Chica, emquanto
a
máe, visinha
e
queali
cuidados
aos
comadre, ia dar
voltas.
urnas
Era
a
a
zita de
arca
barata, sem
prostituta
mizeravel d'uma
casa
mobilia que
outra
ras,
trouejando infamias,
cama,
esborrachcuacreancita
mílagrenao
por
da
em
nao
que
fosse
urna
guardava
pinho mal trabalhado
cama,
as
roupas
que
em
duas cadeiuma
e
faziam
me-
as
suas
de chita dividia o casinhoto,e
biombo
Um
refeigoes.
algumas imagens de santos, com retratos de toureiá mistura,recortados dos jomáis, decoravam
as
ros
paredes, brancas
A
um
canto
¡olos entre
os
de cal.
estava
instalada
quais fazia lume
a
ccsinha
quando
nao
—
dois ti-
prefería
8
SCENAS
114
mandar
yir
tanto Ihe
comida
a
chegavam
freguezia;mas
a
vintem,
um
cima
a
e
DA
VIDA
da taverna,em
ganhos. Nao
os
amante
o
nao
a
roubar, ainda
perguntava
vezes
si mesma
a
resistivel a prendíaáquele homem,
tinha
nunca
Se ele
—
Quando
o
habih
que
é essencial
Muito
ao
caricia,
boa palavra.
uma
•
•
vida, mais deligentedo
sua
sabendo
do
de
económico,
era
está bem
xos,
menos
oficioo bastante para
seu
valia,que
somencs
escusadas demoras.
sem
como
a
obras
brutamontes
um
trabalhaya ele de pedreiroe
conheceu
mas
ihe confiarem
cutava
por
forgair-
sorriso,uma
um
ao
que
deixasse,mataya-me!.
me
ganhava belamente
e
ela
para
gesto meigo, sequer
um
deixaya coalhar
espancava.
Muitas
que
para
Ihe faltasse
que
a
satisfeitode
nao
frente,se
a
sua
Ganhsva
casa
era
exe-
muito bem,
farta,sem
iu-
nada Ihe faltando do que
de ver, mas
conforto d'uma familia pobre.
arranjada,a
sua
Margarida,que
á face da Santa
recebera
Madre
Igreja,
tornava-lhe o viver caseiro tranquilo
com
e agradavel,
fazer o comersinho, e na
muito geito para
tura
cosisso fosse a sua profissáo.
trabalhando como
se
legitimaesposa
por
De
modo
o
qua
melhor
do
seu
tempo, quando
nao
cía
aborreem
casa
e
nao
se
trabalho,passava-o
a mulher, lamentándose
conversar
com
a miu-
tinha
a
do de
nao
saber
urnas
letrinhas,
completamente anal-
phabeto.
-
Olha que
é
uma
triste coisa
uma
pessoa
nao
ser
SCENAS
de 1er
capaz
e
DA
escreyer
o
VIDA
seu
115
havendo
nome,
cegos
I
Nao tenho
perfeígáo
das pessoas
invejade nada n'este mundo, senao
que
n'um
o que
jornalou num
\mo, e entendem
pegam
cá no sitio,
lá está. Se houvesse urna escola nocturna
leem
que
e
escrevem
na
fosse paga,
ainda que
ajudasse é
eu
que
nao
só
•
se
o
.
-
entendimento
me
nao
aprenderíaa 1er.
Deixa lá,filho. As pessoas
n3o sabem
ler,
que
O pobre só nao
tambem se goyernam.
pode dispensar
—
a
saude, porque
Ihar,e
A
e
adoecendo,
trabalhando
nao
em
em
ganha.
nao
sábado
feria entregaya-a á mulher, no
no
dia seguinte,pela manhá,
voita,para
e
ela Ihe dava
uns
mais
pedía, preveníndo a hypo'hese de
á
noite,
resolvía dar
se
espairecer,pedía Ihe
sempre
pode traba
nao
urna
vintens para
do que
baco,
ta-
ele Ihe
ter de sucíar
com
amigos? beberrícando na taverna. Jamáis,em días de
vida, ele apanhara uma
sua
bebedeira,repugnandoIhe até o vínho fóra das refeÍQoes
nao
fugia á
; mas
limitando-se a
ocasiao, quando se encontraba n'ela,
molhar
despejavam um copo.
Lá um
golinbode aguárdente,pela manhá, á matadeia de bicho, era coisa que ele nao díspensava,sobretudo no
inyerno. A Margarída,sempre
solícita,
manhás de frío cortante,salpicadosde geada os
ñas
telhados,quando ele se dispunhaa saír para o traba*
chavenasinha de café,
Iho,oferecía Ihe sempre
uma
muito
os
beicos quando
quente,
randolhe
que
outros
ele procurava
aguárdente.
arrefecer
.
•
.
místu-
SCENAS
ii6
DA
VIDA
cá por
Até regalaas cacholinhas,
—
Seria feliz,inteiramente feliz,
se
ia
mas
tres
em
a
esperaba
boca;
a
mente
baldada-
e
mulher
apareurna
menos,
o
fosse necessario.
tanto
O
—
hora que
a
filho;
um
obrigariaa ganhar mais e a
dispensando-sedo vicio de fumar, se
isso apenas
mas
gastar
toda
casado,
era
que
tivesse
estado interessante. Seria mais
seu
no
cesse
anos
dentro.
é mais
homem
que
fraco que
urna
se
deixa dominar
por
vicio,
um
mulher.
Era curioso !
pais d'ela,pobres até á mizeria,tinham ende cinco;os pais
de filhos,
nada menos
chido a casa
d'ela,chegaram a senos
tar
dele, táo mizeraveis como
á meza
tres raparigas e tres rapazes]á tinha consultado médicos, e todos Ihe diziam
desesperasse,porque úm belo dia,na hora
nao
que
Os
esperada,teria o que tanto desejava.Ele era
tivera doengas,a nao ser em pequeño,
forte,e nunca
bronquiteimpertinente,
bexigas doidas e uma
umas
decurso da dentigad;e ela era táo forte como
ele,
no
menos
peito ampio, bacia larga,e só
to
medico
dezoito
que
por
sinha, um
ou
absolutamente
no
do
quatro.
o
tinha
E c¡-
arroz.
authenticos,de
anos
sem
terem
Ihes chegar de Franga, n'uma
lindo menino,
regis-
seu
encarengaram,
monda
na
seis,oito,dez
estiveram
acabando
tres
casos,
a
que
apanhados
anos,
tavam-lhe
sesoes
umas
contava
casaes
filhos,
condes-
primeirod'uma serie de
SCENAS
Resignava se
a
é certo que
mas
t¡a-se resbalar
urna
117
ouüindo
informes,
taes
espera,
desespera, e ele sen-
fase de
desespero, que
quem
a
VIDA
esperar,
de tristeza
sombras
DA
poria
risonha tranquilidade
do
na
seu
lar.
A
mocidade
é
desvalorísa,
e
a
todos
productivo antes
tornar
sucedeu
que
a
Margarida, um
tisfeitae apreensiva,disse-lheque
constantemente
esquisitas,
ao
que
d'esse
rendmento
o
dias
os
se
pital,
ca-
cipie
prin-
que
desvalorisagao.
sua
Ora
filhos sao
os
conyem
que
capitalque
um
sentia
sa-
coisas
urnas
enjoada,nada ihe sabendo
de quando
e
era,
dia, entre
quando acicatando-a
em
um
Ihe tinham apetedesejo forte de coisas que nunca
cido,
limoes azedos, por exemplo, cabegas de sardinha
e
casa,
carne
em
á tentagáo de
—
—
fazer
ter que
sem
E sentes
Nao;
na
comer
parece
rúa,
urna
?•
mexer
mas
tendo
sangue,
já urna
saido de
vez
só para
nao
bir
sucum-
pucarinha de barro.
.
que
estou
um
bocadinho
mais
grossa.
Levou-a
ali perto,
havendo
por
a
na
quem
parteiraexaminada,
que
morava
dava consultas de graga,
dissesse que provocava
desmanchos
mesma
rúa,
dinheiro,valendo-lhe
de pouca
7-
urna
e
ñas
clinica,
a quem
ocasioes dificeisum
ela mandava
Entao, senhora D. Maria ?•
.
.
pagar
dico
me-
nerosamen
ge-
SCENAS
ii8
DA
VIDA
Vá
preparando o enxoval, e
hora feliz,
bem o merece.
que
—
uma
Deus
que
Ihe dé
alma noya, e a partird'aquele
dia,
furia de economisar, deixou de comprar
tabaco,
Entrou-lhe
na
uma
domingos deixa9a-se ficarem casa, ou saia com
fosse ter necessidade de entrar na taa mulher, nao
com
amigos, fazendo qualquer despeza.
verna,
e
aos
Deus
Queira
—
E
seja um
que
rapaz!»
•
.
rapariga?
Se for uma
rapariga,comtanto que saia á ra3e,
olhos.
ás meninas dos meus
hei-de querer-lhecomo
—
for
se
uma
—
O
pequenino ser em
formagáo, yaga hypothese
d'um traquinas que dentro d'algunsmezes
enchesse
de ruidosa alegria.
a
casa
mesmo
quando chorasse
motiyo aparente, era já a preocupagao
constante
sem
Margarida e do marido, ela
da
mento
do yentre,
mento
das heryas,ele
como
fructo,como
d'aquele
yerdes, ainda
—
Nao
na
aryore
sentiste agora.
lado tinha
yencer
a
o
a
como
-
e
a
apressar
maturagáo
gulososamaduram
apalpando os.
]o5o
a
figos
os
?
creanga
cabega, se quando
somno,
espreitaro cresciespreitayao cresci-
outro
querer
os
Gostaria de saber
a
o
a
estaya
estaya, de
que
quietaera
por
quando daya pulos era
por
Ihe
doer alguma coisa.
—
Os anjinhos,ainda antes de yirem
iá sofrem.
a
este
do,
mun-
SCENAS
I20
Se
—
calhar,quería ver
Hum!...
—
saber para
vindo-lhe
Vendo
se
menino
o
Provavelmente
onde
menino
o
o
tem
que
gemia-
.
.
ele quería era
cabega virada,ou-
a
respiragáoda boca.
a
a
chegavam
nao
que
consultar
VIDA
DA
acordó, resolveram ir
a
Ihe poria tudo
parteira,que
pratos
em
limpos.
é nada d'isso,
sr. Francisco. O que
Nao
—
auscultando
ouye,
das maes,
yentre
o
coragáo dos filhos.Quando
do
forga,é
a
mega
a
porque
te
gen-
tíc-tac
o
coragáo bate
o
está bem
creanga
é
a
;
com
quando ele
co-
enfraquecer,é precisomuíto cuidado,porque
para, é de vez.
se
me
que
ás
escutasse, porque
menino
meu
D.
paciencia,senhora
Tenha
—
se
nao
mexe,
vezes
María ; gostava
que
parece-me,
Ihe faltarem
por
o
for-
as
gas.
Tendo
D. María
auscultagaodemorada,
feíto urna
dedarou
o
que
menino
estava
a
senhora
muíto
bem,
cabecinha para o lado esquerdo,sendo n'essa
posigáo favoravel que ele rompería a marcha, quando
com
a
chegasse a hora de
—
—
nascer.
ría?
senhora D. Macoragaosinho,
Ouve-se
bem
Ouve-se
lindamente;parece
o
relogiode
um
pa-
rede.
—
E onde
do para
—
é que
escutar
Aqui;
mas
O Francisco
a
senhora
melhor
D. María
p5e
o
ouví-
?
isto varia muíto.
marcou
com
os
olhos
o
ponto indica-
SCENAS
DA
pela parteira,
e foi
do
VIDA
como
ahí tivesseposto
se
urna
balisa.
A' noite,assim que se meleu
na
o pedreiro
cama,
a capoz-se a auscultar a Margarida,percorrendo com
bega toda
redondeza
a
Queres
—
ver
do
isto nao
que
nadaouvir.
ventre,sem
seu
d'uma refinadis-
passa
sima intrujice
?
Contentayase, á falta de melhor, em Ihe sentir os
pulos,os pontapés, dizia a Margarida,convencida de
o
que
pequeño,
sacudir
para
encolhia primeiro, {¡cando
cima, dobrada
cruzados
A
—
cabega
peito.
no
gente devia
que
da
os
imovel
da
outros
os
forga,se
cintura para
frente,e
a
para
como
ser
bragos
os
animaes; assim
logo da vida,
tratam
nascem,
Olha
—
a
pasitoscom
os
pintos,que
engragadinhos! Mal
saem
íivessem caido n'agua,
se
pingando como
metem-se
logo atraz da mae, e d'ahi a pouco comem
pelo seu bico,sem ninguem os ajudar.
E os bacorinhos,ó Margarida ! Era urna
coisa
casca,
—
me
que
entretinha muito, quando
ir á malhada
aos
procura
das porcas,
sua
a
conhecem
os
das outras
os
parecidos uns
com
filhos,amarelos
seus
todos do
porcas,
com
tino
os
que
ás escuras,
teta, mesmo
outros
Aldeia,
na
d'elasdarem
á hora
leitóesinhos.O
seus
estava
ou
mar
ma-
cada
um
elas
como
pretos
como
tamanho,
mesmo
como
e
de
os
bagos da
tao
mes-
espiga I
ma
—
'-
Assim
é que
Pois devia. A
a
gente devia
maior
ser.
parte dos
creangas,
antes
SCENAS
dos dezoito mezes,
até
nao
de
DA
nao
se
de rastos,e
senáo
mexem
guardadas,porque
sabem líyrar-se dos perigosnem
aquilo
procurar
íaltar o leite,
necessitam. Se nao
heide
me
que
quatro
aos
amamentar
o
precisam
anos
tempo
que
a
ao
ano
e
meio,
que
por-
alimentagáoantes de
dá cabo das creangas.
Se fór
—
ser
filhinho até
nosso
tenho ou\7Ído dizer
um
escola,que
na
VIDA
eu
tendo sete
em
rapaz,
nao
quero
está logo
anos
ele fique para
que
ahí
sabendo fazer o
pai,nem
sequer
E se tiver cabega para os estudos,até
seu
nome.
onde chegarem as minhas posses, hade ir pr'olyceu,
mais nao
seja para se empregar
no
comercio,
que
profissáopouco trabalhosa e que dá grande
que é urna
alarbe
um
como
o
rendimento.
Se fór rapariga-. Gostava
—
de
•
de
chapeus, porque
costura
a
Lá creada de servir é que
Antes
a
tenba
vestuario
seu
em
e
eu
sem
casa
sustento
a
rouito do
puxa
nao
fazer modista
quero
que
peito.
ela seja.
ganhar nada, que
a
sempre
gente hade
o
para
arran-
jar,se Deus nos der saude.
de nada está mulher,
Urna rapariga! Em menos
ahi comega
se
guarda
a
e
gente a guárdala como
uma
arüore
carregada de boa fructa,plantadaá beira
do caminho. Bem
entendido,nao a quero para freirá,
—
e
em
que
as
Ihe chegando
Deus
a
Ihe ponha
ocasiáo,se fór coisa de geito,
a
consinto. Penetra que me
da rapariga,tem
pouco
cima, que
nao
se
lá cabrices
virtude. Mas
ronde
uma
ajuda a ela.
a
porta
carga
para
de pau
nao
zer
faem
SCENAS
Agora
—
fazia
sinto
nao
mexida,
urna
DA
o
VIDA
123
Ainda
pequeño.
parecía
que
ha bocado
vir cá para
querer
fóra.
Provavelmente
—
ras
mais d'uma
fazer
bem
Ao
hora, e ferrou
o
os
sete
nos
ardendo
e
para
dormir
a
aquí
medico
Isto é
—
colber
—
em
febre,a
máe
tam-
Margarida caiu de
niquete
cabega metida n'um tor-
vómitos, como
aconselhou
caso
um
no
da
comego
gra\7Ídez,
ihe
arranca-
:
muito
serio. O
raelhor será
re-
ao
resistir,
e talvez que
a
nos
a
mezes,
hospital.
E hayerá perigo para a creanga,
Perigo,ha. O mais provavel é
—
dizer. ha
a
Vamos
constantes, incoerciveis,
parecendo que
entranhas.
cavam
as
O
asnei-
as
mesrao.
entrar
cama,
estado
gente tem
a
que
de ouvir
aborreceu-se
se
a
sua
morte
doutor ?
sr.
a
creanga
contribua
para
n2o
que
salve.
Julgou que endoidecia,ouvindo estas palavrasdo
medico, quasiobrigado a optar entre o filho e a mu"
bocado do seu
um
filho,
que era
mulher, que era metade da sua alma.
Iher
a
--
o
Todos,
na
mais do que
se
a
visinhanga, estimavam
todos estimava-a
Ihe instalou
em
casa
a
desde
servir-lhe de enfermeira
e
o
a
Chica
comego
de creada.
coragáo,
Margarida, e
Fragosa, que
da
doenga,
SCENAS
124
VIDA
DA
primeirosdías o Goes, sobrecarregadoagora
despezas de medico e de botica,ia de manhi
trabalho, vinha a casa na folga do meio-dia,
o
á cabeceira da enferma, solicito
noites passaya-as
Nos
com
para
e
as
carinhoso, recalcando
e
seus
os
Ihe
sua
presentimentos
negros
urna
a
—
esperanza
ddr
a
disfargando
e
incutir-
querer
n'ele diminuia d'hora para
que
hora.
agravado o mal, resolveu
Tendo-se
voltar
nao
ao
saindo de casa só para ir á botica ou á mertrabalho,
modas.
andangas incocearia,poupando a Fragosa a essas
Fazia dó vel-o macerado, a tornar-se esquelético,
dias
quasi
£
dormir,
sem
senáo
dias quasi
e
para
nao
sem
pé d'eia
ao
aquelas palavras horriveis do medico,
queimando-lhe o coragáo
como
um
ferro
do filho contribua para
morte
a
afastando de
se
noites
e
chorar á vontade.
sempre
talvez
noites
comer,
braza
em
a
que
máe
—
se
salve.
Santissimo
Pode
máe,
como
feliza
ser
se
se
do
mesmo
Mas
.
ele bem
se
logar para
do
matando
nasce
os
ambos
dois
no
a
no
mes-
afecto,dupla
mesmo
o menino
sús
Jeobjectoquerido
sorrindo nos bragos da sua Máe
—
cheio de graga,
Santissima ?•
que
coubessem
nao
coracáo, alimentando
imagem
!
creanga
houvesse
nao
lar,como
mesmo
mo
lá
de Deus
nome
-
via que
a
catástrofe seria
completa;
DA^VIDA
SCENAS
filho morreria
o
que
dois abrindo-se
os
como
—
lesse
o
salvasse a máe, para
se
que
só cova,
urna
de que
urna
es-
sagrado horror á mormiseravel farrapo de existencia vaura
absoluto,a imperturbaveitranquili*
tranha covardia
te
sem
125
se
repouso
afastava,um
o
dade do nada !
á boca oragóes
Acudiam-lhe
blasphémias,todas
e
pequenino, e
todas as imprecagoes que fóra aprendendo na escola
da vida, mal resignadavictima da justigahumana, e
as
a
Ibe ensinara
que
preces
justigadivina,que
máe,
a
nunca
para
em
ele fóra carinhosa
e
prometedora, assaltava o agora, torva e inclemente,
envenenado para mais
brandindoum
punhalassassino,
seguramente produziros
observagao cuidadosa e demorada,
noite, chamado
com
urgencia,o medico decíajá tinha fracos signáisde vida ; a
que a creanga
poderla sobreviver-lhe algumas horas,mas seria
Depois d
urna
rou
máe
urna
tentasse
para
a
salvar.
levassemos
para
o
sr. doutor ?
hospital,
inútilquanto
E
—
se
a
se
Provavelmente
—
Nao
tardou
se
que
a
morria
a
no
caminho.
Margarida,soltando
estorcesse
intervalos d'uma
vir
efeitos.
seus
em
um
lacera
gritodi-
convulsoes repetidas,
com
Ihe oua mal se
lethargica,
queixo n'uma tremura
quasi im-
acalmia
respiragáo,o
olhos bagos,parados,a humedecer-lhe
os
perceptivel,
entre branca e amareligeira
os labios numa
espuma
lada.
DA
SCENAS
126
Sobrevem
a
um
os
percorresse
cabega e
e
calcanhares,
ergue
nos
geme,
todas
gritomais lancinante e mais
anteriores ; a pobre enferma, como
firme na
corrente eléctrica,
urna
ouve-se
prolongado que
se
convulsáo mais theaíral que
urna
outras ;
as
VIDA
contorsoes
em
o
corpo
n'uma guiñada,
dolorosas,a partiro
coragáo.
Sentenceia
D. Maria
a
Proya^elmente
—
é
a
:
créanla
E foi dispondo tudo, n'uma
vai
que
ajudada pela
acudir ao anjinbo,
pressa,
Fragosa, para convenientemente
hypothese,nada provavel,d'ele nascer
na
Pelas contas que dava o Goes, e pelo que
Margarida,já de
nascer.
com
vida.
dissera
a
zas,
aquiloera ventre de sete meesta incompletagestagao multas creangas
e com
sem
o auxilio da
chocadeira, como
a
vivem, mesmo
senhora D. Maria, avéssa a modernismos, thamava
mercé da qual se teem salvo multas exisá cduveuse,
tencias
cama,
condenadas.
Na
verdade
a
de vida ;
o
creanga
nasceu
;
mas
nao
dava sig-
corpinho roxo, a face congestionada
menino
um
perfeito,disse a Fragosa, a querer
mentir ao Goes, quasi emparvecido pela dor, perdidas
naes
—
todas
que
e
nao
que
a
esperangas
as
o
morresse
o
medico Ihe dissera
filho já poucos
seu
máe
desde que
de
ao
poucas
mesmo
signaesdava de vida,
horas Ihe sobreviveria,
se
tempo.
consciencia do que
Desembaragada do filho,sem
cair n'um somno
se
passava, a Margarida pareceu
dores, os olhos fechados,a respiragáo
sem
profundo,
128
SCENAS
ver,
ali estaba
para
fazer
como
Vamos
—
preparava
e
lá,senhor Francisco,tome
gostoso. Foi
que
está muito
que
Ihe sucedeu
ofereciá
se
—
tar
ma-
violento.
acto
um
por
canto, sem
um
de fome, incapazde
quizessemorrer
se
a
palayra,mal tocando
urna
Fragosa Ihe
a
que
VIDA
Goes, enrolado
dizer
gesto,sem
uní
comida
na
o
DA
pode já dar remedio,
d'estamaneira, e a nao
grande desgraga o
uma
Deus
nem
; mas
Nosso
vocemecé,
e
a
Ihe
Senhor
mortificar-se
alimentos,ar-
tomar
querer
este caldinho
risca-se a caír de cama, podendo ficar doente para
é um
dias. Vocemecé
resto dos seus
homem
novo
pode
ser
que
ainda encontré
perdeu, que
agora
a
gente
vida
na
a
;
felicidadeque
sabe para
nao
o
o
está
que
n'este mundo.
A
Fragcsa ia dormir a casa todas as noites ; mas
pela manha, á hora de abrirera os estabelecimentos,
vinha para junto do inconsolavel viuvo,fechando a
fazer conta ao que deixasem
porta á sua freguesia,
de ganhar, nem
va
pensando em
sequer
que viria a
de qualquer forma a sua incomparavelsolíser
paga
citude
carinhosa
e
Nunca
tanto
supuzera
uma
cabega
que
O
homem
um
que
pudesse
amar
Ihe passara
mulher; nem
a sonhar
pela
táo violenta,
táo desabrida tempestadepoderla
rebentar
em
áedicagáo.
dentro do coragao
humano
sem
o
zer
fa-
bocados.
Goes
amante
aparecía,assim,
de todos
os
aos
homens
gosa,
olhos da Chica Fraque
Ihe pagavam,
SCENAS
da vida
moga
héroe que
ao
de Hercules
Porque
ao
homem
quando
quando
ía
forte
remedio,
sem
Foi-se
de
e
Jesús
no
a
ainda
corpo
um
cie
espeamar.
para
seu
caminho,
á
yirgindade
susti-
a
tirasse do
a
a
—
amoravel, que
e
cair, que
a
aviltamento do
o
grenara,
sofrer
para
santo
um
vida,ainda rescendendo
a
do bergo, um
uesse
lempo
mesmo
leria ela encontrado
nao
comegar
129
semelhante
registopolicial,
com
fosse
VIDA
DA
Ihe
charco
nao
gan-
alma ?
desentorpecendo
Goes, animal
a
e
pouco
pouco
acorda
que
dum
aventura
mal-
o
longo
hybernante,tolhido de movimentos.
somno
A
saiu de casa
foi para ir ao
primeira vez
que
cemiterio,abordoado á Fragosa, que nao
quiz deixál-o ir sósinho, no
justificado
recelo,fraco como
estava, de
se
deixar colher por
vel hipotese dum
desmaio,
um
na
carro,
sem
possi-
amiga
pessoa
que
ihe acudisse de pronto.
O
pouco
medico, paga
mindo
sem
empurrava
vidos
cer,
restava das
que
a
botica,pago o enterro, foi-o consutrabalhar,e porque
a Fragosa quasi o
os
necessidade de
freguez do
propósitosque
por
ciedade-
a
copitos,em
cuspo,
o
se
distrair,de
frequentara taverna,
conversar,
para
seus
martelando-lhe
fóra de casa,
habituou-se
beber que
o
a
para
com
economias, pago
suas
nao
mas
sucia,nao
atribuindo á
rebaixariam
aos
menos
os
ou-
espairepara
deixando
de beber
fossem
tomal-o
sua
olbos
abstinencia
d'aquelaso-
SCENAS
I30
foi adquirindoo
Assim
creou-lhe
o
gósto,
VIDA
DA
habito de beber; o habito
de..tro
e
bebia
pouco
em
sem
metido na taverna, nao
medida, sempre
precizando iá de companheiros para despeiarcopo
conta
nem
sobre copo, nao
se
dispensando por fim,ao recolher
decilitrod'aguardente,
a casa, de emborcar
um
para
temperar
Para
a
vinhaga.
Goes
o
havia
nao
a
fase alegre da bebe-
deira,aqueie periodo de falar incontinente
medida
sem
os
que
centros
e
gestos
resultam da excitagáodo alcool
motores
da idiagáo,
na
e
dade
das pessoas que se embebedam.
davam-lhe uma
yivacidade maior
copos
Ihe desenteramelavam
nao
a iingua,
e
de
fugaz de excitagáo,
companheiros, sucedia
mal
bre
so-
quasi totaliOs
primeiros
olhos,mas
aos
periodo
esse
a
apercebiam os
fase depressiva,nada
uma
mais fazendo do que beber, mudo e quedo como
um
animal empanturrado.
Entraba na
dando os bons dias,abalava
tayerna
dar as boas noites,e no
intervalo,de muitas
sem
que
horas, mal respondiaao
a
tudo, ouvindo
que
as
se
Ihe perguntavam, indiferente
mas
vozes,
nao
do
reparan-
palavras,de quando em quando fechando
olhos,para ser mais completo o seu alheiamento.
ñas
Para
evitar alusoes
desgrana,logo
referencias directas á
ou
frequentara
desembaragou-se do luto,de todo o luto,nem
conservando
no
Fragosa logo
Talvez
nao
no
que
chapeu
dia
a
comegou
o
fumo
com
seguinteao
tivesse caido
na
que
o
os
sua
taverna
sequer
eingiraa
do enterro.
bebedeira
se
houvesse
SCENAS
remedio
um
para
thesico da
actuando
e
a
A
anes*
parcialmente,mas
Sim, acabaria de
que
a
coragem
vez
o
para
um
a
Fragosa
tratava Ihe da roupa
o
era
nada
pessoa
zoológica.
verdadeiramente
era
fazer,e na
caira,
que
sensibilidade de
sua
de entidade
rio;
marti-
seu
o
abjecgao em
sabor de yolupiaque
de toda
apenas
casa;
especie de
resvalara,na
que
como
nao
urna
faltava-lhe
restaba
que
esquecer,
131
eficacia.
com
mas
havia
VIDA
memoria, actuando
Matar-se?...
mizeria
DA
e
a
dona
sua
de
fazia-lhe a comida, nao
e
gastando mais que o absolutamente indispensayel,
só muito instada,
uma
vez
por outra, condescendendo
em
partilbardas suas refeigoes,sem tempo para o
servigo,embora muito reduzido, de duas cosinhas,a
distancia
pequeña
da outra,
uma
na
mesma
rúa,
diferentes.
casas
üm
dia,ainda meio estonteado pela bebedeira da
verificou que
yespera,
boa vida desde que
a
se
Ihe acabara
doenga da
o
dinheiro,á
mulher
gravidadetal,que nenhuma esperanga
era
permitida.
Foi por o relogiono prego, o relogioe
afectara
de
uma
e
—
em
assim conseguiu
recursos
recursos
de copo,
de prato
nao
o
para
está bem
interessavam
meia
a
cadeia,
duzia de
de ver, que
os
cura
dias
sos
recur-
grandemente, Era
cia
miseria,a formal advertende que, a continuar a sua vida de madrago e bebedo profissional,
teria que fazer-se pedinteou lao
aviso
que
Ihe fazia
a
SCENAS
132
fosse mais
dráo, como
VIDA
DA
do
mais de conformidade
gosto
seu
estivesse
ou
aptidóes.
A
tudo o que
foi empenhando
e
pouco
pouco
nao
possuia de valor,e como
resgatava as cautelas
indo até esquecer-se
de pagar os juros,uns modestos
jurosde doze por cento ao mez, objecto empenhado, era objectovendido, de taisvendas nao resultando
ele
para
Numa
reduzir
a
para
sem
ocasiáo
o
menor
em
que
beneficio.
se
cobres,
a
suas
as
pos
a
desarmar
a
cama,
Fragosa perguntou Ihe,
a
de recriminagáo:
ares
Se
—
com
da
desfazes
te
cama,
onde
depois
queres
dormir ?
Aproveitou a
trazia
que
a
cacifo
formular
com
Isso é que
—
eu
d'este mundo.
partidosao
sempre
assim.
para
nao
e
.
.
aqui a
Gragas
meio,
para
a
O
escusas
Recomegou
o
nunca
melhor
faria por
Deus nao
o
se
:
é deixares
a
devo cinco réis
aluguer da
nao
me
minha
casa
faltara
sau-
de pensar nisso,que é tempo perdido.
trabalho em
que estava, e que por
palavrasda Fragosa, nao
discutir com
nha
a
o
ela
niarchado
o
coisa nenhuma
instantes interrompera,visivelmente contrariado
as
verá
atre-
trouxa.
hei-de arranjar,
o ponto é
de. Nao;
e
proposta
uma
suficientedaresa
a
como
trazeres
e
Ihe fazer
para
engatilhadahavia muito
Assim
—
sota
a
sua
se
com
atrevendo, contudo,
inabalavel resolugao.]á ti-
tudo quanto tinha cotagáo
no
prego;
única coisa que restava, podendo valer
custo de meia duzia de bebedeiras.
cama
era
a
SCENAS
Deixa
—
a
cama
DA
em
VIDA
socego,
133
que
d'esta vez
ainda
te arremedeias.
Foi
máo
e
a
um
que
em
fdra
que
voltou trazendo
e
cemiterio,pelo
ao
na
seu
brago, havia
Ihe tinham
que
coragáo. Teve
o
pulo,
fio douro, que pertencera á Margarida,
ele Ihe dera, afogado em
lagrimas,no dia
tres semanas
e
n'um
casa,
um
levado para lá a alma
movimento
de repulsa,o mi-
seravel,perante aquela recordagáo da mulher
que
enternecida esposa que Ihe fizera sentir
alegríassem par dos lares bem constituidos^a
tanto amara,
as
inefavel ventura
tem
por
base
o
da
amor
sociedade
sem
matrimonial
quando
calculo,
a felicidaded
urna
pobresa honrada, que tem tudo quanto deseja,porque
acto da mesó desejao que pode ter. Foi um
dula,
rápido e sacudido, em que nao tomou parte o
cerebro,escurentado pelo vinho.
já nao tinha literalmente nada que empenhar, obrigado a despejara casa por nao trazer o
aluguer em dia,aceítou o oferecimento da Fragosa,
Quando
para
continuando
viverem juntos,
ela, para
desgranado modo
de vida.
dos dois,o
—
Vés?*
estavamos
seu
•
•
Se
agora
me
bem
tenho desfeito da minha
casa,
servidos.
nunca
Miseravel,despresivel,
vislumbres de
decdro, nem
abaixo da condigaohumana.
nobre, sem
sustento
mais teve
nogáo do
vergonha, degradado
Incapaz d'um sentimento
energíafisicapara qualquer acto prestí-
energía moral para qualqueracto digno,
sua
exviuyo da pobre Margarida era o vicio na
sem
moso,
o
VIDA
DA
SCENAS
134
abjecta,era
pressáo mais
das
na
yirtualidade
formas infinitas.
suas
Incendiario ?.
O
crime
o
as
que
•
•
Ladráo
?.
.
•
Assassino ?.
.
•
tiva
inicia-
circunstancias determinarem,sem
qualquerforma de actividade útil,sem resistencia para as solicitagóes
que a Moral condena e
a Justigapune.
para
n'estasalturas da vida
Foi
entrando
em
rou
cima da
para
milagre nao
casa,
bebedo
o
que
como
Goes,
tarde,
uma
de costume,
se
ati-
trovejandoinfamias,só por
rolada
esmagando a criangaque alidormia, encama,
dre,
chale,emquanto a máe, visinha e comaia dar umas
voltas,no grangeio da vida.
encontrara
Furioso porque
o jantarna
nao
meza,
n'um
horas
tendo, aliaz,
nao
pobre Fragosai que mais
em
vez
que
no
um
Bairro
esbofeteou a
iantar,
ligaraa ele desde aquela
certas de
se
rufia dos mais
temiveis
Alto, chamando-lhe
e
mais temidos
vadia
mica,
econó-
Goes, apalpandoIhe o rabo com
forga.Caiu-lhe em cima, o Goes, aos
tal
sova
pontapés e aos murros, pregando-lheuma
tiveram de o levar d'aliem bragos,gemendo
que
a
na
como
Nem
até
separara
ao
tinha
o
violentamente do
salve-rainha.
cheio de vinho
chegou a passar pelo somno,
nó da guela,e ainda assim parecendo Iheque
desde a vespera.
estomago vasio,sem comer
SCENÁS
136
VIDA
d'uma
vibragáo
derradeira
a
DA
consciencia
que
extin"
se
gue.
ela,
Mas
esvair-se
a
assassino
chamavam
dispunham
se
consumiu
a
Ihe
que
ele
o
—
Nao
¡a
que
que
restava
olhar
seu
que
deixar-me•
.
podendo
nao
viver
abandono.
peguei
•
que
que
sem
na
restava
de
de
vida,
deixando
acabou;
nao
e
•
ele,
preferindo
faca
•
morta.
•
o
eeu,
a
quasi
sobre
piedade
mal-..
fez
?
que
cair
outra-
tem
?
estava
me
que
em
forgas,
d'amor
cheio
ele
notou
esforzó
Ihe
.
Nao
n'um
e
Ihe
que
prendían),
o
amortecido,
culpem,
o
viu
ou9Íu
sangue,
lynchal-o,
pouco
o
nada
;
em
:
Disse
entáo...
morte
ao
Bois
Quando
ia
soou
foi este
A
mal empregada
baragada, mais
de
cigana.
simpáticaque
sem
essenciaes
as
gente bohemia.
De
bocadinho
sem
chela
umaleyissima
a
Amelia
requestada até
de
seu
ou
eram
a
por
Rodrigues
comentario
de
dos
to-
!
bonita,um
características dessa
sombreando-lhe
o
um
mea,
adiposidadesde mulher
mais
typo
vago
mais do que
estatura
penugem
era
o
Amelia
rapariga perfeitagae desem-
uma
era
a
Antonio,
mestre
—
Amelia
Aldeia que
na
o
com
casar
mansos
gorda,
labio superior,
requestadacachopa da Aldeia,
mogos
que
já tinham alguma coisa
herdeiros presuntivosd'uma
fortuna-
sita rasoavel.
Com
todos brincava,parecendo que
trála,mas
em
conservando
gosar
a
sempre
mocidade
—
a
todos dava
livre o coragao,
solta
como
a
tada
apos-
rola
na
eirá.
Constou, um
um
mogo
de
dia, que
ela prometerá
Messejana, com
quem
casamento
a
balhara toda
a
SCENAS
138
DA
noite, pelo S. Pedro,
de Ihe arrastar
de cada
e
vez
que
e
aparecendo a miudo
asa,
aparecia tendo
que
conversa
de fóra roubar
Aldeia,
na
artes de
melhor
a
ovelha do
se
rebanho
tal era
havia impedimentos a por-lhe,se
nao
deixara
mais
nunca
ela,na rúa ou caminho do pogo,
Era pena que víesse um
ligeíra.
com
urna
a
VIDA
tade da Amelia, ¡á
idade de
boa
em
se
contrar
en-
para
lobo
; mas
a
von-
casar,
em-
as
sitios,a regra fosse casarem
andando os mogos
avisinhar da trintena,
no
raparigas,
idade.
pela mesma
Era mentira, e como
o pretendido
noivo,seareiro
bom partido,um
óptimo
quasi lavrador,seria um
ali,nos
bora por
nbas
nao
pobre,as senhoras vis!*
mente
criticas á Amelia, e maliciosa-
qualquermoga
partido,
para
poupavam
preguntavam
principeencantado
S. M.
—
nada
vale
O
Que
Um rapaz que nao íem
mais quer ela ?
Ihe diga,e ¡á senhor d'um arranjoque
se
—
que
bom
par
courelita de
radia, que
corrente
de vintens.
herdara
rapaz
quarto, e
ou
ela estaría á espera d'algum
do rei da Alexandria,se é que
solteiro.
era
um
se
que
pagava
habitava
como
que
do pai um
foro, e
com
a
tivera sorte
tinha
ao
canto
olival,
urna
pequeño
mae.
com
da
de
casas
umas
Semeava
as
arca
térras
searas,
uma
mo-
era
ao
voz
mánchela
de dinheiro.
Cualidades
guem
todos Ihe reconheciam
Ih'os apontava, a
nao
ser
uma
;
defeitos nin-
acentuada
pro-
SCENAS
pens§o
só
139
apurada
e\7Ítando de gastar
se
nao
luxar,nao
para
VIDA
DA
para
vestuario,
mas
no
ser
a
mais sécía,a
o
paicomprara,
maís perluxaraparigada Aldeia.
V/iviacom
a
n'uma
mae
casita que
boa parte do dinheiro que
gastando n'essa compra
tinha,maioral d'ovelhas a caminho de arranjarum
sofrivelpeculio,quando urna camada
de bexigasnegras
matou
o
em
Iher feita,
e para
te porei.Quando
gos,
isto é.
o
a
Amelia
pai,filha única,um
era
mu-
ai Jesúsonde
ele ia \7estira roupa, aos domin'
adornaya-se com
melhores gaas suas
las,
Amelia
a
dias. ]á
poucos
as
com
mais vistosas.E
garridices
suas
desgranado,de por a filha
xigas,
a andar, fóra de casa,
logo que soube que tinha benSo
fosse pegar-se-lheo mal, desfigurando
aquele lindo rosto de pastorinha biblica,trigueira
teve
a
como
rara
coragem,
o
filhasde Jerusalem,formosa
as
como
as
ten-
das de Cédar.
Gostava de vestir bem.
para
Rodrigues, e se
fosse necessario alimentar-se mal, da
vestir bem
melhor
Amelia
vontade
a
pouparia nos
alimentos para
gastar
trapos.
nos
Outro
defeito
tar de ter boas
Ihe apontavam, senáo
nao
saias,bons
vestidos,bons
de goschambres
o
botas, lengos de fantasía,dos melhores
ou
paneirosvendíam,
do melhor
que
e
havia
chales de abundante
ñas
os
ramagem,
loias.
Dizia-se correntemente,
ros:
que
no
falatorio dos soalhei-
SCENAS
I40
Amelia, se tivesse posses,
A
—
Gostava
de
isso
como
bem
^7estirbem,
era
perfeitamoga,
De
que
com
melhor
a
que
urna
as
podia,e
Ihe apontavam*
de
Amelia, além
moga
mogas
que
urna
ser
perfeita.
da Aldeia
a
como
eram
a
havia obstáculos invenci^^eis.
A
qual nao
nao
alastrara pelos campos,
como
boje; o vestuario,ñas
luxo ainda
e
o
de
diferengade nao terem as maos
ela tinha,e urna forgade vontade perante
Amelia, só
a
era
resto,todas
prata
Rainha lu-
a
único defeito que
o
podia dizer
se
nem
ela.
como
xava
VIDA
DA
aldeias,balisava
de
embargo
as
diversas camadas
formulas
n'estes últimos tempos
de
democracia
febre do
intensa
minadora
do-
e
cidades,vilas
sociaes
sem
pratica,
que
perderam, confundidas n'um
se
é ridiculo.
igualitarismo
que, além de inostbetico,
A grande guerra veio nivelar as dasses perante o
escapando a
o alfaiatee a costureira, nao
sapateiro,
este rasoiramento
a
gente rustica,só por milagre
nao
se
tosquiando ainda as mogas da aldeia,como
horrivel calhaas senhoras da cidade,desde o mais
mago
esbelta donzelinha
mais
á
uma
co
com
seda
ao
pernas
meias
abrem
esticadas,
e
que
n'outro
d'algodáo,
já se
tempo
a
curva
so-
nem
afizeram á seda,
alcance da gente pobre, seda tao poU'
resistente,que
Estimada
já as conta-
das saias curtas,mal tocando
giou a moda
do joelho, e
nhariam
Mas
de
no
muito
proprio dia da estreia,
buracos.
todos, de todos merecendo
atengoes,quando
se
espalhou que
a
respeito
Amelia
ia
ca-
SCENAS
sar
com
só pessoa
urna
urna
desse por
nao
já com
e
creanga
O
a
que
nSo
rapariga tao prendada,
urna
—
VIDA
Antonio,
mestre
o
DA
o
táo
141
houve
Aldeia
na
mal
empregada
agradavel,ainda
moral d'uma pessoa
grande.
Antonio, filhote do Algarve,era
mestre
teirod'obra grossa, pouco
amigo da sucia.
amigo de trabalhar
sapa-
muito
e
bela manha, vinha
Apareceu ali,na Aldeia,uma
rompendo o sol,trazendo a alcofa das ferramentas
máo
na
esquerda e um taleigode roupa na máo díreita,rasoavelmente trajado,calgando alpergatasá
moda
sola de corda. Nao era cihespanhola,com
maltez ; podia muito bem ser um
desertor
nem
gano
com
tempo de praga, preferindotrabalhar em
pouco
correndo o risco de o mandarem
liberdade,mesmo
pedras
as
para
negras,
a
trabalhar
botas para todos os pés.
Dinheiro trazia algum, porque
casáo, fa-
no
zendo
adiantado
pagou
aluguer d'uma casita
o
¡nstalou,mobilando-a
Ihe servia de
que
de
bunho,
faliz
um
para
de
acaso
cama,
por
duas
agua,
de copo,
para
lavar
nao
—
e
outra
em
uma
duas cadeiras
com
tarimba
assento
Dea-se
pequeña.
panelas e
sopa,
uma
Ihe vendeu
maos
o
um
quarta
uma
prato vidrado
tijelinha
que
beber pela quarta, e
um
e
a
cara,
; uma
servirla
alguidar
podendo tambem
de cagoila,
quando fosse preciso.
as
se
que
ali fazer caminho, n'aqueledia,
loiceiro de Berinjel,
que
tijelagrande, para
para
sumariamente
grande
uma
dia seguinte
no
vir
ser-
SCENAS
143
todos
a
desnecessario perguntar-lhe
para onde ia,nao
pareceu
alugara casa, pagando
fizera,mas
se
porque
só porque
ajuste que
mobilal-a
yiver
VIDA
Ihe perguntou d'onde vinha,e
Ninguem
a
DA
moradia
d'um homem
A yiuva do mestre
que
mez,
segundo
mostrava
convenientemente,em
Ihe faltarnada do
sem
ao
termos
compete á
o
disposto
de n'ela
nente
perma-
só.
Galope, tambem
cesapateiro,
deu-Ihe a tripegado oficio a titulode emprestimo,a
a obrigagao
tripega e a pedra de bater sola,com
dele ensinar o seu
mais novo
logo que o gaiarapaz
to tivesse pt estimo para alguma coisa. Gostava que
o
filho tivesse o
débil para
te
certo
um
esmero
gum
trabalhos do campo,
os
feitio para
tros mogos,
e
dotado de
mais aperaltadoque
artista,
os
figurarn'uma sociedade mais
para
os
seus
gestos adamados
ou-
al*
labroste acepilhadocom
pequeño
lida. Caracterisando
lientando
oficio do pai,excessivamen-
mesmo
e
posa-
redondezas
gos
feminís,os outros mochamavam-lhe
D. Ana, pondo-se logo a bom
ele tinha a máo leve,e no jogo da
recato, porque
temivel. Só para
se fosse maioral,era
pedra, como
viver separada d ele é que a máe o nao meteu
nao
a caixeiro,n'uma lojada Villa,
para o livrard'aquele
inferno,a cada instante ouvindo gritar O' D. Ana
as
suas
-
silvando
—
tío
pedras com
que o filho respondíaa
alcunha.
injustae depreciativa
Ao
as
cabo de poucos
a
trabalhar,e
dias comegou
os
o
mestre
nio
Anto-
primeirosfreguezesque Ihe
SCENAS
144
depois, tambem,
sapateiro^e
d'e!e trabalhar bem
nao
e
careiro,o
ser
fama
correrá
porque
Ihe
que
velho
uso
á joma
Por aquele tempo ainda
eram
os
as
sapateirostrabalhar
i
charnecas alemtejanas u
tristerealidade,vastissimas charnecas
uma
de abundavam
coelhos
os
as
e
servia
para
on-
-i
faltando :i
nao
zorras,
linguagem
lobo cerval,denominagáo especifica
na
regionalista
que
3
o
dos labradores.
casa
a
de irem
costume
e
:i
va-
já ia
boa fregueziados Montes, perdido como
leu
o
VIDA
DA
bicho de
designarum
?;
ú
de requintadosinstintosferozes,,1
grande corpulencia,
e
de
capaz
bater
se
com
os
rafeiros mais calentes-
i
Frequentemente,os rebanhos,de noite,rebanhos de ai
ovelhas
lobo
assaltados por um
ficando estripadas,
na rede, umas
alcateia,
ou
eram
cabegas.O lobo
só para
mata
nao
por
poucas
; mata
comer
os
seus
presa
ñas
da victima
entranhas palpitantes
tra
o
Uma
o
ovelha chega
caso
como
a
mas
para
é
puder,
que
com
Consistia
um
a
e
sua
para
comer
e
nao
um
ele mata
uma,
matar
a
encon-
lobo
umas
satisfazuma
se
quetear;
ban-
poucas,
gulodice,
necessidade.
andasse armado, dificilmentese
lobo dos grandes,em
armadura
duelo singular.
dos rafeiros n'uma
larga co-
protegíao pescogo, munida
de fivelas,
geralmente duas, semelhantes ás que nos
botins usavam
maiorais. Pregos agugados como
os
leira de
9I
vida de carniceiro.
sobeja para
satisfaz uma
comer
Rafeiro
batia
góso da
supremo
de
ti
animal de
instintossanguinarios,
satisfazer
que
uma
coiro, que
Ihe
SCENAS
DA
VIDA
145
muitos pregos. sendo
choupas cravejavam a coleíra,
impossiyelque o lobo abocasse o rafeiro pelo pesfícar com
as guelasrasgadas.
cogo sem
Faziam
e
réis
d'esses facinoras do mato.
gum
os
a
res,
batidas por concertó entre os labradoCámaras davam um
as
premio de quatro mil
apresentasse a pele,ainda fresca,d'al*
quem
se
das batidas,com
Eram
fartura de badana
crigáo. Cagadores do sitio nao
d'elespedindo a Deus que nenhum
se
a
geito de tiro,porque
cessaria e
o
sangue
dias de festa,
nao
e
yinho á dismuitos
faltaya um,
bicho Ibes passas-
teriam
a
frió suficientepara
ne-
coragem
fazerem
urna
pontariacerteira.A verdade é que óptimos cagadode coelhos,lebres,perdizes,
homens que se dires
zia que
onde punham o olho lá punham uma
bala,
atirando aos
lobos eram
desastrados marteleiros,
a
tremer- Ibes a espingardana mao
como
se estivessem
eles que ancom
o frió d'uma quartá. Confessavam
tes
de
verem
pé, e quando
o
os
bicho
se
Ihes punham
os
alvejavam,metendo-os
cábelos
bem
na
em
boca
da
se Ihe ouvissem
espingarda,era como
dizer,arolha
reganhando a dentugaameagadora
atira,
mas
Era crenga geralna familia
se
nao
matas, morres.
que
do campo
em
o lobo vendo
homem,
um
que
de noite ou de dia, mesmo
o nao
veja,
que o homem
cábelos em pé
salvo o caso de
a este se poem
os
Os maiorais partilhavamd'esta crenga,
ser
careca.
algunsafirmando ter Ibes acontecido isso multas veIhes pero caso, porque
zes, resultando providencial
mitía
—
-
darem vaia
aos
caes
chamando-os
em
seu
socorro.
10
SCENAS
146
VIDA
DA
Pois n'aqueletempo ainda
dade
charnecas alemtejanas,
no
as
deia, deliciando-se
ouvirem
manhosas
das
cantar
o
Porque ficava ali á
máo
aos
—
o
ñas
teve,meteu-se
uma
a
e
charneca,abundante de
mestre
espingardaá
uma
passaros,
ocasiao que
a
noites,
mais espertas
validos da Aldeia
dores, e cagador se fez
rando
certas
em
multo
zorras,
homens
os
tinha metido
quintáisda Al'
nos
inteligentes.
que
caca, todos
moradores,
os
Alemtejo,e
baixo
d'essas charnecas vinha bater
urna
tristereali-
urna
eram
roda
caga-
Antonio,que
Exercitou
cara.
montureiras,
na
eram
e
na
tendo
jolda,
de vinho á familia
—
se
ati-
primeira
pago
na
nunca
a
tente
pa-
abalada
da Aldeia. A estreia foi auspiciosa,
porquanto matou
tres
a
tiros de chofre,e
coelhos,em
como
grande altura,
que
a
uma
desafiar
a
perdizque ia
linha,segura
de que nao Ihe tocaria um
bago de chumbo.
Bem
Bem
feita!.
mestre Antonio !•
feita,
—
.
A' noite,na
•
.
taberna, foi debidamente
celebrada
.
a
faganha do novel calador,sendo opiniáogeralque
ele viria a ser, dando-lhe uso, a melhor espingarda
da freguezia.
Aos
cresceu
em
olhos das mogas
casadoiras,mestre Antonio
do
um
palmo, e d'isso se apercebeu ele,notanmuitas
amavel, e
nos
um
acolhimento
mais caricioso,
mais
derrigosuma
respectivos
expressáo de
signalde des-
ciume, que era, afinal de contas^um
peito.
A tal ponto se apaixonou pela caga, que era ouvir
tiro abalava logo,de espingardaao hombro, na
um
SCENAS
maior parte das
VIDA
DA
yezes
nem
147
metendo
sequer
cinta
na
de pao, urna bucha com
désse ao estomago
que
de nao ficar esquea consoladora
esperanga
cido por todo o santissimo dia.
Mesmo
ouyir tiros,mestre Antonio abalava
sem
um
naco
mato,
o
para
com
alguem
moviam
a
ele.
queria ir com
Por
companheiro,se os seus rogos
acompanhalo, sósinho,se ninguem
um
da caga, deixoudeser pontualem
servir
freguezes,muitos dos quaes Ihe desamparavam a
os
causa
loia,sobretudo
íerindo quem
quando tinham
da
pressa
fosse mais sapateiroe
menos
obra, precagador.
Ele
proprio fazia a sua
comida, dias e dias
acender lume, nao
Ihe faltasse geitopara
porque
sinfaar,mas
Ihe aborrecía
porque
proprio das mulheres
achacada
arraniava-lhe
a
de
cama
trinta réis por
dos homens.
que
de reumatismo
ñas
ia
e
esse
Uma
velhota,
Ihe
a
casa,
tudo feitoa troco
pogo,
dia,que
co-
servigo,mais
varrialhe
juntas,
ao
sem
pagava
no
fim do
mez.
—
V/ocemecé
que
sirvo,e
deve
procurar
isto assim
estou
a
ver
nao
governo,
é vida. Eu
mestre
de pouco
tonio,
AnIhe
qualquer dia caio entrevada
que
ali ficando até que Deus Nosso Senhor faga a esmola de me
chamar á sua
divina pre*
Trate de casar, mestre Antonio, porque
ter
mesenga.
na
cama,
para
de portas a dentro
nada,
nem
aconselho.
d'agua
nem
uma
mulher
que
Ihe
de sal,é coisa que
nao
Ihe
se¡a
nao
SCENAS
148
Entrou
Antonio
mestre
velha, acabando
VIDA
DA
se
por
a
scismar
dizeres da
nos
de que
convencer
ela tinha
razáo.
Figurava a hypothese de adoecer, e via-se para ali
ao
desamparo, no abandono dos sem"famil¡a que nao
tintiva
podem pagar servigose dedicagoes*Tinha urna inssó condescendendo
repugnanciapelohospital,
ir para lá quando visse que ninguem Ihe chegava
em
ao
pé, e ainda seria precisoque ihe faltassea coramatar
tiro.
se
ou
o vigor para
com
um
gem
Bem
feitasas contas, o que ganhava, o que podia
ganhar, chegava perfeitamentepara fazer vida d'hocasado, e viveria com
o maior desafogo,
se a
muiher o ajudasse,
indo urna vez por outra aos trabalhos do campo, quando a joma fosse de apetecer.
mem
Foi
assim
ele
que
Aldeia, notando
da
cada
nao
urna,
se
se
caga
e
mogas
consequencias.
graves
encontrou-se
tarde,quasi ao
uma
as
qualidadese os defeitos de
escolha para evitar
precipitando
na
acaso
mero
considerar
a
as
alguma arriosca de
Por
poz
tinha ela ido buscar
com
por
ao
a
Amelia
drigues
Ro-
do sol,vinha ele da
mato
um
feixe de le-
nha.
Venha
a
Deus, salve-a Deus, e aqui vao os dois
da Aldeia, ela ajoujadaao peso da lenha,
com
caminho
ele todo
pimpáo
perdiz,que
nem
com
uma
tres coelhos
á
cinta,e
uma
galinha,pendurada do chum-
beiro.
De
as
maos
quando em quando a Amelia parava, levando
ao
a cabega, e entáo
feixe,que Ihe curvava
SCENAS
Antonio
mestre
O
fundos
negros,
DA
sentía
VIDA
fascinagáodos
a
a
mysteriosos,
e
beleza d'aquelapenugem
labio superior,e
macia
era
149
como
o
graca,
encanto, a
Ihe sombreaba
que
o
trago de crayon
um
que
olhos
seus
tornado quasi imperceptivel
pelo esfuminho.
Separaram-se
um
ele
a
Amelia, ela
sua
para
com
a
chegarem á Aldeia,indo cada
ao
casa,
sacrificiocasando
Renovaram-se
urnas
vezes
minho
do
familia da
nem
que
a
pensar
que
com
o
barranco,
Aldeia
se
no
nor
me-
por
outras
acaso,
vezes
e
no
ca-
ela,que
a
apercebia de tal namoro,
nao
ar,
o
Antonio.
discretos,ele
aquetas senhoras
de nariz
faria
nao
sempre
do pogo,
táo
seria felizcasando
mestre
encontros,
os
caminho
no
mesmo
sempre
pensar
visinhas que
bebendo
todos
os
andam
ventos,nao
sfá escapar-lhesalguma novidade.
Nao
tardaram
declaragoesfrancas,as promessas
reiteradas,os juramentos d'amor eterno. Tratariam do casamento
logo que ele recebesse da térra
os
papéis que ia pedir,e que eram
uma
cerapenas
tidáo de idade
VÍU90
—
Faz
ou
atestado de que
solteiro.
de
ouiro. Quando
sitio onde
mal
se
conta
encontrarmos,
las do mestre
nos
—
salve
Antonio
a
Deus
Antonio,
mestre
caras
oiga,somos
e
nao
e
hábil para
era
nada
temos
nao
que
nos
conhecem
gente vé
e
e
ninguem
salve-o Deus
A
as
a
nao
um
nao
o
duas pessoas que
senhora Amelia,
por
vé coragoes
ele
com
n'algum
ser
aqui
;
rae
as
podiam encobrir ruins
nada garantíaque
sar,
ca-
sirvo.
boas fasitos,
propó-
fosse casado lá
na
SCENAS
I50
de
térra, capaz
—
VIDA
DA
levar
o
embuste
Depois de cá estarem
os
até
ultimo
ao
papéis,o
é
caso
tremo.
ex-
ou-
tro.
#
O
em
compromisso de
alterou
pouco
casar,
a
tomado
conducta
mais dado á espingardaque
voluntariamente,
do mestre
Antonio,
á
sovela,mais amigo da
sucia que do trabalho,volta e meia pregado na taberna,
vai, copo vem, chegando por ultimo a
copo
embebedar-se ignobilmente,
apezar de ser, na Aldeia,
mais bebida.
o homem
que podia com
Muito senhora do seu
papel,a Amelia nao fazia
um
como
—
A
gesto, nao dizia umá palavraque
derrigado mestre Antonio,sua
á
dando
denunciasse
esposa
parte dos
nem
sequer
Tem
muito tempo de saber, quando
mae
nao
mae
a
tida,
promeseus
eu
pósitos.
pro-
fdr pedida.
gostava do mestre Antonio,um
figurao
talvez algarvio,
taipelo falar,
ninguem sabia de que térra era,
ele dizia,
embora o nao parecesse
como
do diabo, que fica tres leguas para lá
de casa
vez
ele,que,
dos quintosinfernos. Tanto embirrava com
que
precisandod'uns sapatos,foi compral os a Ervidel.já
Ihe cruzar
só para nao
as
feitos,
portas.
didas máes tem singulares
O coragao
predicados
da Amelia Rodrigues dizia-lhe
vinatorios,e o da mae
aquele homem havia de causar a sua desgraga.
que
SCENAS
152
ele
erabora ;
mas
os
que
Na
taberna
interessaya
nao
já o
ya
os
mente
clara-
ver
companhia.
a
andaya
nao
casa
na
yelhos companheiros de
seus
podendo escamugir,fazia de
da pandega, quando Ihe cheganao
era
bote lá,sr. Made dizer ao layerneiro
que
a
na
dinheiro
seu
e notayam
dianteira,
sucia que
ele, em
conta
metia
se
ele perguntava, deixando
coisa que
guma
VIDA
nao
o manjolda,
limitavam-se a responder a al-
Os cagadores,se
davam
DA
yez
se
—
noel.
Trabalho sempre
concertos
para
reconhecerem
Ihe aparecíaalgum, mais do
procurade
que
para calgado noyó, apezar
todos que
a
bem
era
obra que Ibe saía das máos
excessiva.
nao
era
paga
acabada, e a sua
Sempre gostaya de saber
—
mal fiz eu
que
a
esta
de
deando
alguns arrotira-yiráo,
caminho só para nao cruzarem
comigo ?.
Entretanto recebia o mestre Antonio os papéisque
pedirá,documentos necessarios para casar, e logo a
gente, para
tratarem
me
..
noya
espalhou de
se
deyendo
que
A
na
mal
—
familia da Aldeia
empregada
da Amelia
mae
tiyesse o atreyimento
—
Nao
uma
a
Amelia,
cias.
breyes audien-
única pessoa
a
quem
posso
ma-
!
opoz-se
terminantemente
ele (osse pedil-a,
jurando que
Dizia
em
com
fizesse este comentario,sinceramente
nao
goado
ele casarla
realisar-se o casamento
houye
Nao
que
o
de Ihe cruzar
a
que
poria na rúa se ele
da porta.
os portáis
queria ouyil-a :
prohibil-ade
casar,
porque
¡á fez
SCENAS
vinte
o
e
dois
e
anos,
sinta
eu
que
Tratou
nunca
morte
a
a
153
favor ;
seu
entrará
me
em
mas
com
casa,
nem
gorgomilos.
nos
de preparar
a sua
casa
cil
viver de casado,problema fá-
Antonio
mestre
o
lei está
a
trongo do marido
VIDA
DA
de solteiro para o seu
bocadinho dispendioso,
embora
mas
um
rapariga pobre,
da
a
Amelia,
tivesse exigencias
respeito nao
esse
a
condigáo.
A casa tinha tres divisdes,
e um
quintalcom poco.
Urna das divisoes,a da entrada,seria a oficina;
outra seria cumulativamente cosinha,
dispensae casa de
¡anelinhapara o quintal,
uma
jantar; a terceira com
fresta,seria o quarto de cama.
quasi uma
ácima
Casa
sua
havia ; faltava a mobilia, e esta faltaera embarazosa,
Antonio estava á divina.
o mestre
porque
A sogra
deira,uma
daria nada á filha,
nem
nao
ou
vassoura
deixal-a sair de
em
um
capaxo,
levando
casa
sequer
uma
ca"
condescendendo
a
roupa
de
seu
uso.
Depois de matutar no caso, mestre Antonio tomou
pedir dinheiro ao sr. F¡resolugáo heroica
uma
rico da aldeia.Pouca
lipeGomes, que era o homem
—
lidagáotinha
com
ele ;
mas
toda
a
gente
o
conside-
franco,nao
propriamente um máos
amiga de servir,quando Ihe perolas, mas
pessoa
diam emprestado, e amigo de bemfazer, quando Ihe
rava
um
homem
pediam esmola.
Pedir-lhe-hia cincoenta
de Ihe pagar
a
pouco
e
mil réis,com
pouco,
e
a
promessa
mais depressa Ihe
SCENAS
154
DA
VIDA
ele quizessedar Ihe trabalho,
o que
ainda nao fízera.
pagaria se
entao
O
FilipeGomes
sr.
os
já com
quarenta
e desempeñado como
a
máxima
solteiráoincorrigivel,
um
cima dos hombros,
em
ao
zoológicacom
dobrar
r¡io
mas
trinta.Professava
os
aplicagáoao
no
huma-
genero
boi soltó lambe-se todo. Ainda muito novo,
de se livrardas sortes, deixou-se embeigar
um
—
era
até
acabava
labradora do concelho de Odemira, que conhecera em Mil Fontes, n'uma temporada de banhos,
uma
por
6Ó
casando
nao
Ihe pediu
findar
esse
pareciaum
mais
ela porque a boa da serrenha
de quatro mezes, e antes de
espera
com
uma
um
explicoucom
cachdpo que
deuses nao pennovilho. Jurou aos seus
sar
fianza
em
perderá de todo a concasar, e como
se
prazo
mulheres, ¡urou tambem nao ter amante
manteada, considerando que a mancebia,
das presumidas vantagens do casanenhuma
mento,
ñas
teuda
e
ter
sem
tem
os
seus
inconvenientes conhecidos.
creada que se lembrava muito
d'ele ter nascido, e da festa riiaque houvera
Tinha
bem
em
uma
casa
ocasiáo do
por
seu
casa,
Gomes
mae,
mortos
encargo
ambos
Ihe sofrendo
o
Para
anos.
a
com
animo
uma
intervalo de poucos
ver
a
moga
em
lida da
pequeña
só creada ;
d'uma afilhaditasem
chegava muito bem
tomara
dia
baptisado,justamenteno
ela fazia dezoito
que
nao
todos
mas
o
sr.
pai nem
mezes,
pequeña,
da
ain-
incapaz de qualquertrabalho útil,
que Ihe rendes-
SCENAS
levada
e
mas
sustento
o
para
se
N'uma
no
de
semeadura,
nha
casas,
andava
castiga,que
bocadito de olival,
n
um
de. Fazia
uma
pequeña
mais
rendoso
modo
e
se
tinha
que
o
seu
além,
nao
nao
ciar,mas
acabava
cia
o
vinho
o
banqueteando-se
basse
no
Cascava-ihe
o
curavam
em
creada
Da
aos
sua
enfermos
a
aquí
de
para
se
aii tres
quem
casa
sua
que
por-
de
nunca
frequenquatro amigos,
ou
n'uma
em
fungáo que nao
principiara.
que
o
ia
aca-
aínda
Gomes, mas
rúa, e quando o pro-
sr.
na
tinha bebido até acarrar,
se
su-
com
podía receber, por
nao
co*
vender
perder,mas
aguárdente,e
penddes
nao
porta
mais
ragáo. Dizia*
térras á
taverna. Em
mal,
aos
casa,
que
a
como
menos
vira
ninguem
na
e
dia
mesmo
as
comprasse
reunía
Gomes
sr.
de boa novida-
anos
fazer comercio- Gostava
entrava
nao
uns
em
térras
e
país,urna videz milheíros,e
perto da Aldeia.
cerca
tivesse médo
porque
podía
seus
lavoura,achando
que
Ihe repugnava
se
uma
dar
serias.
mi-
dinheiro que pouco
de vintens,
gostava do negocio de juros
par
Ihe rendía, porque
homem
e
nao
era
Gomes
sr.
de azinho
de
por
tirava tres moeduras
donde
a
que
herdara
que
as
lente
possuidord'uma excehabitagSo,
era
a
sua
e
montado
com
lama das
na
de todas
gente pobre, o
de
herdadola
155
caminho
a
rico, senhor
morada
d'uma
de
VIDA
vestuario,caida
e
enxurro
térra
considerar-se
DA
um
pobre
faltavam todos
os
dizia
pado.
estar consti-
sem
esmola, e
recursos,
pa-
medico
gaya
e
conforme
um
DA
SCENAS
156
a
VIDA
botica,e mandaba- Ihes a casa, a cada
doenga, os adequados meios pasua
ra
alimentarem.
se
Todos
Aldeia
na
favores, e além de
deviam
todos Ihe
estimavam, porque
o
estimarem,respeitavam-
o
mole de queixos.Um ano,
ele nao
n'o porque
era
feira de Castro,n'uraa barraca de bacalhau frito,
na
de
pegou-se
valentáo de Almodovar,
um
com
das palavraspassassem
como
e
razoes
homem
mais
e
tal estado
pondo-os em
sair d'alipelo seu pé.
Era muifo desembaragado, e
unhas
homem
era
tes
desordeiros
sao
tuagoes
que
seus
brios
medida,
nao
Gomes,
sr.
valen-
e
como
; nao
voltam
cara
a
as
ao
s¡pe-
quando precisam afirmar os
pundonor fazem-n'o a dentro da ¡usta
que procurando que a legitimadefeza
e
ameaga,
os
raias da agressáo desnecessaria.
tinha
Dizia-se á boca pequeña
que o sr. Gomes
toque
amizade
na
que
sua
as
com
a
mulher
andava
na
d'um algarvio,
que
herdade, arvorado
n'este mundo
animal dócil que
nio, aínda que os
sem
o
cácete
feira. Felizmente
uma
varrer
como
bom
um
com
provocadores; aceitam
nem
Ibes criam
que
rigo
que
o
da palavra,nunca
rigoroso significado
mais
no
homens
os
que
para
o
acompanhanenhum
poude
quatro fulanos que
uns
vam,
ñas
actos, zurziu
aos
nao
em
por
sacudiria
feitor,
um
ver
a
andar
canga
canzis
respectivos
se
cabega. A verdade é que esses
certo existirem,nao
eram
era
se
trabalhava
paz
d'alma
os
outros,
do matrimo"
Ihe espetasamores
teros,
adúl-
objectode
SCENAS
DA
VIDA
157
hacendó muita gente que ia jurarque o
escándalo,
sr. Gomes, tabez por defeitode nascenga, nao
cisaba
prede ser santo, porque Ihe seria impossiyel
nao
casto.
ser
Sem
dizer nada á Amelia,mestre Antonio foiba-
Gomes, que mal o conhecia,
e
Filipe
tal^^ez
de proposito
liberado
denem
sequer era seu freguez,
talvez por nao ter necessitado,
até áquele
E era o demonio,
momento, de utilisaros seus seryigos.
ter á portado
uma
sr.
recusa,
porque
Aldeia
na
havia
nao
mais ninguem que pudesseservil'o,
e fóra da Aldeia
tinha ele crédito para lev;antarum
As
nao
pinto.
economias da Amelia chegariamescassamente
para
as
despezas do seu enxoval,reduzido ao minimo.
Visto
a
puzesse
os
nao
pés em
consentir que
casa,
achaya
o
futuro genro
a
moga
que
o
Ihe
me-
haver fungáo,passando-setudo como
de casamento se nao tratasse,
saindo ela de casa
Ihor
se
máe
era
nao
Villa,acompanhada da madrinha,e da Villa
ela e ele á Aldeia,
instalando-seem sua
regressando
e o balho correlativo
casa
sem
a classicajantarada
Fdra e continuava a ser muito amiga da mae, e
eslava de que a oposigáoque ela fazia ao
segura
seu
casamento, a ponto de a deixar sairde casa como
derivava táo sómente do
creada despedida,
uma
muito amor
podendo ser tambem um
que Ihe tinha,
n'um afecto
pouco de ciume^ nao querendopartilhas
direitosexclusivos.Mais tarde,
com
a que se julgava
quando a visse feliz,
quando reconhecesse que o seu
para
a
•
i
SCENAS
158
Ihe dava
Antonio
ela
para
o
de
capaz
ele, o
que
estimagáodevida,voltariaa
a
amoravel
máe
—
ser
e para
dedica^oes e sacrificios,
afectuosa,a desmentir a
sogra
as
urna
genro,
tinha sido
sempre
todas
VIDA
DA
lenda.
fungáo ; mas nem por
isso ele deixaria de fazer despezas que nao cabiam
nao
podia lanzarimposno
seu
ornamento, e como
faos Governos
tos, recorria ao emprestimo, como
Far-se hia
casamento
o
sem
zem.
Gomes,
foi
e
a
pequeña
moga
que
guntandolhe o que queria.
O sr. Filipeestá em
casa
Está.
—
Diga Ihe
—
desejadar Ihe
Foi
a
uma
Faga favor
padrinho já vem.
Antonio
mestre
Antonio
cá
entre
que
ra,
demo-
:
para
dentro,que
o
meu
mal pensando no
Filipe,
mal trocara
Ihe queria o mestre Antonio,com
quem
meia duzia de palavras,
uma
tarde,encontran-
Nao
fez esperar
se
do-o casualmente
Feitos
mas
o
palavrinha.
com
o recado,e vcltou sem
mestre
ao
—
que
está aqui
que
pequeña
dizendo
que
—
Filipe
veio abrir,persr.
?
—
ao
á porta do
devagarinhoja medo,
Bateu
O
a
os
vinha
no
o
sr.
caminho
da Villa.
cumprimentos, mestre
Antonio explicou
:
Filipehade desculparo meu
gente, quando precisa,a quem
atrevimento,
sr.
o
pode servir
SCENAS
i6o
levar iá
VIDA
DA
dinheiro,ele está aqui ouvindo
o
a
versa
con-
-
Pois
—
Meteu
o
se
Filipeme
sr.
faz
o
favor.
•
.
da ¡aqueta,a algibeira
algibeira
de dentro, tirou déla urna bolsa de riscado,da bolsa
tírou
mao
a
na
libras que
onze
tonio,acrescidas de cinco
do mestre
ás máos
passou
tostoes
prata,que
em
An*
tirou
do colete.
algibeira
da
Conté-
—
•
.
é
Nao
preciso; vocemecé
Posso ter-me engañado.
—
—
Contou
certo.
; estava
Abalou, desfazendo-se
metendo
logo
pagar
já contou.
em
as
que
agradecimentos,e procircunstancias Ih'o per-
mitissem. Seria agora mais assiduo no trabalho,menos
frequentador da taverna,e a caga que matasse,
de
vez
em
consumir
a
táo, revertería toda
dendo
Se
de
o
a
em
jornada a
Damasco
em
casa
do
sr.
que
se
operasse
quele Paulo de sola
Ficou á porta, o
eníao,
Tem
má
Andava
num
—
Gomes
Gomes, até
sr.
a
sua
casa.
seria
estrada
a
da-
conversáo
a
vira ?
e
desaparecer,dobrando
colhendo-se
en-
exclusivo proveito,ven-
seu
dos gastos de
restasse
que
até
pangalhada,como
na
a
mestre
o
Antonio
esquina mais próxima,re-
murmurar
por
entre
dentes
:
pinta,o raio do homam.
brinco
a
casa
da
Amelia, pouco
guar-
SCENAS
necida de
DA
i6i
logar,as
soalho, de térra
cada coisa
mobilia, mas
no
seu
cal,e o
varrido,táo limpinho,que
paredes muito
brancas
batida,
tao
sempre
VIDA
de
até
se
podia lamber o mel que n'ele caisse.
No quintal,
abundancia d'agua,
um
com
quasinada
salobra,semeara
salsa,couvinbo, hortelá e coentros.
Com
o albo entra
em
quasi todos os manjares do
pobre,n'um grande taboleiro de térra fofa,caldeada
tura.
cebolinho á miscinza,plantou ela albos,com
com
Esta abundancia
horticola permitia-lheser generosa
as visinhas,
para com
que pareciaestimaremn'a,tanto quanto detestavam o marido.
As
—
artes que
melhor
a
ele. Em
casa
Ihe faltava nada ;
nao
adÍ9Ínhar-lhe
as
yoniades, nao
Para
nenhuma.
solteiratoda
a
casar
a
casar
com
gente sabe onde
a
cabega quando Ihe prometeu
a
coisissima
figurao,
para
da Aldeia ! Nem
moga
ela tinha
teye este
a
casar
máe
com
tudo
contrariando
era
em
assim, antes ficar
vida.
quando em quando a Amelia ia yisitara máe,
nunca
perdia ocasiáo de Ihe dizer que o marido
e
muito bom
a ta*
era
para ela,¡á frequentayamenos
á caga e entregaya Ihe todo o
ía raramente
yerna,
dinheiro que ganhaya.
Estimo isso muito, mas
se atreva a
que ele nao
pdr-me os pés em casa, porque o enxoto logo para
De
—
a
rúa.
A
casado, pareceu
Antonio, nos primeiros
entrar n'outra regra de
isso foi sol de
pouca
yerdade
tempos
vida;
de
mas
é que
o
mestre
dura. A
pouco
n
e
SCENAS
i62
DA
ele foi retomando
pouco
VIDA
velhos hábitos,
a maior parte
do tempo
passando-o na taberna cu no mato, esquecido dos compromissos que tinha para com
os
fregueses,os poucos que aínda conservaba,
por cocalendo a pena ir á Villa,distante
modidade, nao
legua bem medida, só para deitar meias solas
uma
n'umas botas ou remendar com
tomba um
uma
sapato
romperá.
se
que
Quando
a
da Amelia
mae
da Aldeia, com
a
sabia que o genro abalara
calculando que ele
espingarda,
voltaria á noite,mandava
só
ela repartía a
chamar
comida, almogo
sua
a
e
filha,
com
jantar,nunca
ou
lava
esesquecendo de Ihe dizer que para ela a meza
neposta, nao querendo que passasse
sempre
cessidades,havendo na sua casa com
que Ihe pudes-
se
valer.
se
Tenho
—
rega
como
como
eu
esperanzas
apareceu,
me
importo
aquele maldito desapaímportando-se tanto contigo
que
com
o
tempo
que
ha-de fazer
Se assim for,e queira Deus que
d'aqui a um
ano.
tens senáo
assím seja,o mais depressa possivel,
nao
que
que fechar a porta,e vir p'raminha companhia,poro
que
cá deixou,cá encontra.
Credo ! Para
—
mundo
homem
peor
a
minha
que
o
máe
nao
ha
em
todo
o
meu.
pouco
te
ha, que duvida Ihe p5e ? E maís a gensabe o que ele fez antes de vir aquí parar,
custando a acreditar que entrasse n'algum
me
roubo
ou
E
—
nao
—
nao
morte
]esus, que
d'homem.
é santo
o
nome
de Jesús! A
mae
SCENAS
diz
essas
€ra
a
sa
Ihe
que
Como
—
nao
")ue
grande afligió,
•
de
ao
lano.
parece
assiT, em
levando
o
ajuntou o
mestre
da
o
ribeira,a charneca
a
que
Antonio
e
ángulos d'um singulartriangulo
desenrolava a sua vida,inútilcomo
eram
os
frase iustade Alexandre
na
conego,
que
mas
;
fica rasto do bicho pegonhento-
do qual se
d'um
eu
terro.
en-
•
menos
podendo dizer-se
taberna
Senhor
despeza do
a
sei
única coi-
Nosso
—
seria
—
A
engaña.
vonlade
pecado
vicio da caga
dentro
a
boa
de qualidade-
diabo,nao
pesca,
se
isto acabava, bem
sou
Ao
a
é
se
E ainda bem;
—
163
vísse n'uma
o
vocemecé
faria de
perdóe,
me
se
VIDA
primeira a acudir-Ihe.
N'isso é que
—
o
coisas,e
DA
essas
por
cutras
e
Hercu-
clericalha tratou de-
a
sapiedosamente,sem o minimo respeitopeloseu enorme
talento,pelo seu modelar carácter e pela ingenua
das
pureza
A
era
caga
porque
suas
ele, de
para
tres
a
Amelia
pegas,
com
empregava
ñas
Um
conforme
vendia
perdiz, e
iho,com
rúa,
em
sendo
a
regressar
a
época
do
fazia
isso
uns
uma
frente da
este recado
:
casa
ano.
andar
menor
A's
vezes
ou
uma
vintens,que
custo.
pequenitaque andava
sua
um
duas
sem
lebre
magros
coisas precisase de
vicio lucrativ
um
raro
coelhote, uma
um
dia,chamando
na
e
modo,
certo
atirava bem,
dia inteiro a bater mato
ou
religiosas.
crengas
porta,deu Ihe
um
a
car,
brincoe-
SCENAS
i64
DA
VIDA
O' Chica, leva ¡sto á minha
—
mando
A
do
é para
eu, que
o
foi n'um pé
pequeña
coelho, porque
o
seu
a
e
máe
míe,
d¡z-lhe que
e
jantar.
voifou
no
outro, trazen"
da Amelia
quiz
o
nao
aceitar.
Leve
—
lá
coelho á senhora
o
Amelia,
proibidapelo medico de
de qualquer especie.
estou
eu
que
Nos
e
yelhos tempos
sitiosem
nos
tres
por
vendia
que
em
que
esta
ela decorreu, vendia-se
vendia
cara,
se
por
diga-lhe
comer
decorreu
quatro vintens;urna
ou
e
carne
historia»
um
lebre,quando
dois tostoes,
o
que
sucedia por festas do calendario,baptisadosou
da lebre é seca, muito mais seca
mentos. A carne
a
do coelho. Guisada
cosida
res
com
arroz
e
¡antares que
se
mas
do
s6
casa-
que
batatas é excelente ; mas
de bico era um dos melho-
comiam
em
minha casa, de boa
barato, n'aqueletempo,
era
tudo
que
grao
se
variada cosinha.
pouco
Tudo
com
lho
coe-
era
o
mais barata
e
Ganhava
trabalho humano.
trabalhar de sol
um
sol,menos
do que hoje ganha numa
hora, e as mulheres,entáo,
coitadas, só pelo facto de serem
mulheres, nunca
do salario-mizeria,
fome, malgao salariopassavam
homem,
nhando
no
para
campo,
concertó
o
longe de
yam
tona
As
casa,
na
ceifa-
peugas
e
ou
a
as
na
dos sapatos
monda,
na
as
a
que
trabalha-
apanha da azei-
meias, trabalho caseiro,eram
o
luxo de pcucos
homens
mulheres,
e de muito
poucas
sendo frequenten'um rancho de trinta mondadeiras»
SCENAS
DA
VroA
ha^er mais que
de meias para todas.As ligas
erara
exemplo,nao
por
165
um
urna
ou
dois pares
tirade paño,
prestimo,guando nao eram urna especie
de torcida,
apertadaabaixo do joelho.
Dizia o mestre Antonio,desdenhoso do que a muIher ganhava,procuradapara todos os servigos,
pore desembarazada
como
pou"3ue em tudo era perfeita
outro
sem
cas
:
Ganhos
—
Nem
de mulher !
sequer reílectia
que
sem
ganhos minido jejum forgado,
esses
já ele teria entrado na regra
jejumsem consoada,nem sequer enchendo
do meio-dia.
na
refeigáo
mos
mas
a
riga
bar-
n'um repente,
Urna tarde,tirando o avental,
pegou
chapeu e
no
pressa
de quem
na
na
e abalou,
espingarda
porta-fóra,
vai tirar o pai da forca.
O' homem, que mosca
te mordeu ?
Vou buscar um coelho para a ceia.
muitos outros, o jantarfóra
N'esse dia,como
em
de pao e urna isca de toicinho crú,escunaco
—
—
um
sando-S2
a
Amelia
a
comer
do toicinho para que ele
tiyessemais abundante conduto.
Quasi
encontrou
na
orla do mato, de guarda a uns bacoritos
tio Francisco Garcia,pobre yeího que
o
redue se via agora
esforgadotrabalhador,
zido a fingir
que ganhaya o comersinho que Ihe davam, pedindo a Deus que durassem emquanto ele vivesse
os farrapos
que o cobriam.
tio Francisco.
Boas tardes,
{ora
—
i
um
SCENAS
i66
DA
VIDA
Deus, mestre Antonio.
bocado» a conversar
um
com
Apeteceu-Ihefícarali,
Ihe aparecía em
o velhote,
casa, muito
que ás vezes
idade do seu primeira
amigo da Amelia, da mesma
d'ela dando de
o qual fora creada, a mae
neto, com
—
Venha
com
ao
pequeño,
mamar
sinho,abalou de
mais tarde,sendo já homem-
que
noite,nao
uma
casa,
havendo
mais
ande por
esse
noticias d'ele.
tenha
morrido, do
mundo, desgranado.
Antes
—
Com
a
jaquetalimpou o tio Francisco
lagrimas,e reprimindoum so-
da
manga
olhos,afogados em
os
lugo,que tinha entalado
Antonio, dando
que
garganta, disse
na
á
rumo
novo
conversa
Esta térra, para a sua Arte,nao
ha outronao
Depois, como
—
.
O
para
viera para
tre
mes-
:
deve
ser
um
ali em
disse que sim, que a Aldeia
Artista da sua dasse, mas
que
hora, pois nunca
má
má.
.
Antonio
mestre
má
rva
ao
nao
ele
fora grande a
de nao
haver outro mestre do mesfreguezia,
apezar
rao
oficio,preferindomuita gente ir aos sapateiros
da Vila
a
dar-lhe
E' bem
—
a
ele que
certo que
os
fazer.
santos
de
casa
fazem
nao
sou.
milagres,e eu nem
sequer da casa
O tio Francisco,procurando animal- o, disse-lhe
toda a parte, nao
ali como
vem
em
freguezia,
de repente ; que é preciso dar tempo ao tempo. A
principiohavia a desconfianzadele nao se demorar,
que
a
passaro
de arr¡ba?ao
forma
belo dia vae-se,
Casado
veio. Agora nao.
—
que
um
da
com
ma
mesuma
SCENAS
i68
nao
Se
de graga,
fazem
se
tivesse posses
eu
precisaríade
nem
mondas
as
nem
a
ceifa.
tudo ísto,
tio Francisco,nao
para
semear
VIDA
DA
baguinhos,porque
uns
isso teria o necessario para
vida.
sem
o
mesmo
da minha
governo
Desculpe^mestreAntonio, masyocemecé, n'este
discorre bem. Qualquer Ihe empresta
nao
particular,
trigopara a sementé, e urna ou duas geiras de bes—
vocemecé
tas, paga-as
faz-lhe
monda
a
ceifa,sem a ajuda de nin"
burro e urnas
cangalhas,se o ca-
e
um
minho
fdr curto,
em
eirá. ]á vé que
o
Ihe afigura,e
verá que
E
—
nao
meio
caso
dia poe
yocemecé
o
é mais simples do que
tomar
vocemece
o
pao
se
conselho,
meu
hade arrepender.
Ierra,tio Francisco ?
a
Ora
—
se
se
solas. A Amelia
a
e
guem,
na
com
deitar meias
a
térra !.
a
Se vocemecé
.
.
pedirao lavrador
Filipeum bocado de relva, ele nao ihe diz que nao.
E até, se o apanhar de boa catadura,empresta-lhe
dá-ihe as geiras que forem precisas.
sementé
a
e
Tome
o
meu
conselho, mestre Antonio, e verá, se
Deus
mais anda á espiga fa"
o
ajudar,'que nunca
lida.
Ha
—
uns
de
poucos
deia, e lidagáocom
Ele
nhuma.
fosse,
em
minha
casa
nem
sequer
um
par
qualquer pequeño
vez
o
homem
nao
que
vivo
aqui,na Al-
lavrador Filipe,
nao
o
todo este
mezes
tenho
freguez.Que mais
tempo já podia ter mandado
é
meu
de sapatos
ou
]á
me
concertó-
goste de mim,
sem
nenao
a
botas para
lembrei que tai-
umas
rasao
nem
mo-
SCENAS
DA
VIDA
isso faz de conta que
mandando á V/ilapara
sapateiro,
fivo.e
por
íe remendó.
porta
.
.
De
modo
que
se
169
térra
na
o
eu
mais
ha
nao
um
insignifican-
Ihe fosse bater á
.
Se Ihe fosse bater á porta,estou que vinha de
lá servido.Ele gosta de obsequiar,
e mesmo
pessoas
—
mal
conhecem, gente que nao é da Aldeia,
pedem-Ihefavores que ele podía muito bem recusar,
ele serve-as
de boa vontade,ás vezes com
e
a certeza
de que nao Ihes pora mais a vistaem cima. E'
bela pessoa, muito obsequiador,
urna
muito amigo de
que
o
servir.
Era
já tarde para ir cagar no
hora apropositada
para fazer uma
mato,
e
era
aos
espera
a
coe-
Ihos.
O tio Francisco despediu-se,
enrolando
os
bacori-
tonio,
pondo-osa caminho da Aldeia,e o mestre Anfoi
com
a conversa,
para mais bem disposto
barranco
p6r-se atraz d'uma grande junqueira,
no
tos
que
e
passa
ali perto,correndo
com
os
olhos a orlado
mato, a ver se algum mitra,a sapelguear,
se Ihe vinha oferecer para a ceia.
]á do sol nao
melho
ver-
tas,
al-
Aldeia comegavam
os telhados a fumegar,
chaminé a quasitotalidadedas casas, a tornarse
e
sem
ou
havia noticias,
senáo pelotom
acobreado que tinham algumasnuvens
na
mais
densa,a cada instante,
a sombra
que ia enchendo os vales,
mal se ouvindo no silencioda noite
de vida.
próxima,uma vibragao
"
SCENAS
170
toda
Levou
noite
a
como
reviravoltas,
Antonio
o
tio
a
ruminar
cima
a
Francisco,ás yoltas e
ali estivesse Morpheu
se
ele,em
iogar com
a
se
VIDA
mestre
o
tivera com
que
conversa
DA
da cama,
o
andas*
e
iogo da
bra
ca-
cega.
Qual
dormir
meio dormir !
nem
velhote,n'um
O
informado
encontró
sumariamente
d'acaso,
das aflictivascircunstancias da
acerca
sua
vida, dera-lhe um conselho que ele desejavatomar,
caminho que ele tinha medo de
e apresentara-lhe
um
seguir.
Com
havia de ir outra
cara
que
vrador Filipe,a pedir-Ihe
fosse
Ihe
nao
os
pagara
cincoenta
nenhuma
sem
o
vez
que
do la"
casa
a
fosse,se ainda
mil réis que
ele Ihe
garantíae quasi sem
prestara,
em-
o
co-
nhecer?
Mas
a
recurso,
sua
fechasse
se
porta, se
nao
tentasse
esse
mizeria instalar-se-hiadefinitivamente
\á
certo
casa,
essa
freguezesque
agora
perderá,e
em
de que nao
recuperarlaos
tendo por igualmentecerto
freguezesnao viriam.
A mulher nao podiaajudal-omais do que ajudava,
só ficando em
casa
quando nao havia trabalhos do
que
novos
e
campo,
davam,
meias
em
casa
quando
e
de linho
Pegou
dormido
no
ou
somno
pouco
fazendo roupa
nao
que
Ihe
encomen-
tinha encomendas, fazendo
algodáo para vender.
já ao clarear da manhá,
mais d'uma
hora,saltou da
e
cama
tendo
com
SCENAS
DA
VIDA
171
excepcionaldesembarago, na boa dísposígaode
quem
aproyeitou bem a noite para tonificar os músculos
caneados e refazer energiasperdidas.
Estava lomada a sua resolugio.
Aproveitariao conselho do tio Francisco,mas nao
iria ele
muito
a
A
do lavrador Piiipe.
casa
bem
dar
de dizer que nao
homem, sobretudo quando
no
soldado,em
um
uma
a
mulher
que
pede
que
a
um
é
nao
dia seguinieo sapateirofoi á V/illa,
e á
noite quando regressou,
por
mulher
a
é feia.
nem
Logo
saberia
recado, e ha, geralmente,menos
o
coragem
velha
Amelia
Beja eslava de
disse á mulher
de licenga,
que
goso
que
de
hospital
no
gravemente enfermo,
cama,
soubera
um
rapaz
da
Ierra, de quem
era
primo e muito amigo, e que
já por varias vezes, no delirio da febre,perguntara
sua
por
ele,dizendo
o
que
Irla vél-o,
e talvez
—
—
queria ali ver.
lá
por
demorasse
uma
mana.
se-
E
dinheiro para a viagem ?
Pedi cinco mil réis ao Chico Añádelo, dizendo-
Ihe que
era
para
comprar
preslou-m'os.Estou
em
que
Foi só á hora da abalada
mulher
os
pensava,
ao
lio
carda, e ele
e
chegue
que
um
aquele malandrim
em-
sobeje.
e
ele comunicou
Francisco,honrado
dar Ihe
ignominias,ao
sola
proiectos,arquitecladossobre
seus
sugesláo do
rava
se
velho que
á
uma
mat
conselho amigo, que empur
um
plano inclinado de
para
fundo do qual estava
o
crime.
Tenho
—
pode,
por
Urnas
vezes
temos
cá pensado, Amelia, que
mais que
faga,passar toda
temos
bocadinho
um
ceia. Confesso
a
mais
por
rende para
continuou
a
vida negra
teem
filhos que
passamos,
mesmo
os
iham, cagando todos
"3ue
semeiam,
rem
sempre
é ruim,
e parece-me
n'isto,
tamanho
Hoje
—
Nao
e
que
os
reflectir,
e
me
mas
ga-
soírivelmente»
maneira
a
tivermos
a
de sair-
sorte de
contrar
en-
compadecida.
dia ha pouco
é tanto assim Bem
que
ceara
matraqueado muito
descobri
se
a
porque
escapam
Tenho
já traba-
semeiam,
nao
nos
que
mochila. Os
mesma
bem,
que
em
nao
a
se
aperto,
alma
noivos,se
mos
para
salario,esses
trigoem
uma
que
governam
ponto é haver saude.
—
a
que
uma
era
searasinha,sempre
trabalhadores da aldeia,que vivem só da
mais nada, passam
de
oficio nao
o
uma
iorna, sem
mos
tará
sol-
nao
:
aiuda. Os
o
ela
ela
sem
instantes,como
Se tivessemos
nham
para
culpa,perdi uma
tinha,mas
faga,e
seco
comer.
CaIou"se, por
—
eu
que
de pao
minha
por
que,
parte da fregueziaque
boa
vezes
jantar,e quando Deus quer nao
o
almogo» dando-nos
jantarnem
para
o
para
nao
vida assim.
a
almogo, outras
o
para
gente
a
o
para
felizes se
por
temos
nao
temos
nao
VIDA
DA
SCENAS
172
quem
sabes que
tivesse encontrado
emprestou
compadega-
se
o
um
ainda estaria-
homem
dinheiro para
padecido
comas
pesas
des-
do casamento.
—
Pois sim, mas
labradores Filipesha
um
só, na
SCENAS
lalvez
Aldeia, e
oulro
fregueziase
a
nao
tré
encon-
fóra d'isso,
e tanto assim que
vou
vrador Filípeé que
urna
173
ele.
como
Nao
—
toda
em
VIDA
DA
eu
acudir mais
nos
para
pensó
la-
no
vez.
Essa
—
cinco réis do
bójo para
tem
o
ele te emprestou,
Olba
é
que
¡á
e
precisofer
senáo
quando a gente
ir ao seu destino,é
quizeres; mas
tu
que
vereda para
urna
ela que toma,
bem
Ora ouve
por
deste
nao
coisa d'essas.
urna
Será
—
nao
dinheiro que
ir pedir-lhe mais?
queres
Ihe
melhor ! Aínda
é
agora
olhar
sem
o
ao
cer.
aconte-
possa
dizer,e
te vou
eu
que
que
nao
te
vaes
a
arrufes antes de tempo.
Fez
urna
A
—
pequeña
minha
ideia
quinze mil réis
para
gum
dinheiro,para
hade
meter
para
acudir ás
com
térra
A
ámanha
Tu
—
e
viesse. O
precisoes,e
eslá
tenho
homem,
e
tu tens estado
foi outra.
homení
falas-Ihe da
tu entao
se
ele
al*
seara»
nao
coser
des-
se
bocado
um
de trigo,
prometendo que
colheita.
na
mentira
¡á tinba
preciseiir a Beja.
mas
desse
que
mancheia
urna
eu
quiz ir prevenido com
e
e
nossas
nao
é que
gao
:
oferecimento,pedes-ihe tu
o
e
o
conversa,
tudo será pago
—
Ihe dar,
do tal rapaz,
causa
por
do
esta
do lavrador Filipe,
e dizes-lhe que
casa
de
é
prosseguiu:
e
pausa,
cara
muito
para
dizer- Ihe
para
ahi
me
essas
a
bem
arranjada;mas
apresentar
eu
casa
na
pantominas todas
alcatear. A
minha
que
crea-
SCENAS
174
A
—
tazer
creagáo foi outra; mas
tua
o
cima, que
em
digo, ou
te
que
eu
com
bocado
de pao,
encontrando
Ao
—
tudo, ás
nao
tendo
o
a
querendo um
metendo
taboleiro,
d'um vintem,e só
vezes
no
cotao.
eu
que
vergonhasi-
.
e
ainda
se
passar
te-
maiores
por
.
de
Deixa-te
~
de Jesúsi
havia de chegar Santa Máe
sofrer mais enxovalhos
rei de
vista
a
por-me
creada,mal fadada,e sabe Deus
Bem
tens que
agora
vi^^er n'esteinferno,
para
á procura
algibeiras,
ñas
mao
e
tornas
nao
estou
nao
falta de
sempre
a
VIDA
DA
cantigas,mulher,
nada
remedeías. As coisas
mais
é
sao
o
que
entendido,tu
historia. Bem
sao,
nao
isso
com
que
e
tudo
o
dizes á tua
ela trataya logo de
palabrad'esta conversa;
dar
despersuadir,mas nao se lembraria de nos man-
máe
uma
te
com
que
Abalou
o
encher
mestre
a
d'um
cova
dente.
Antonio, da Aldeia,dizendo
que
Beja, palmilhando o caminho de noite,por
receio de maus
do calor,sem
encontros, ar«
causa
mado d'um fangueirode zambujo.
Mal se levantou, no dia seguinte,pela manhá, a
foi ter com
Amelia
a
míe, e contou-lhe,tím-tim
ia para
tim-tim,a
por
conversa
que
na
vespera
tivera
com
o
marido.
—
o
nao
fazes semelhante
coisa,Amelia
!
Era só
faltava.
que
—
meu
Tu
A
mae
lugar
...
diz muito
bem ;
mas
se
estivesse no
SCENAS
176
Só
—
só
crianzas se
as
medrosos
os
perde
muita confiangaem
caminhos, a todas
medo
A
de cair
quere
mim,
para
com
promessas,
e
Nao
se
ameagas.
perder, e
andar
horas do
as
dia
todos
por
da
e
tenho
eu
os
noite, sem
armadilhas.
em
ouviu-a
máe
se
quem
cotn
enganam
acovardam
se
senáo
VIDA
DA
silencio,pálidae fria,muda
em
dór, inquieta
a
esphinge,contrafeita como
ela,a pobre mae, como
o desespero.Tambem
como
tres dias antes o mestre
Antonio, hayia tomado uma
d'uma irma duva, que tiresolugáo.Iria para casa
nha nos
GasparÓes, certa de qué a filha se perderla»
explorada pelo marido, e nao querendo que a sua
como
a
d'algum modo
Aldeia
na
presenga
suspeita da
praticade tamanha
na
Procurando
mal
encarando
mas
tambem
a
cumplicidade
sua
infamia.
íirme
tornar
deshonestos
mentes
da
ou
indiferenga
sua
auctorizasse
a
voz
um
bocadinho
filha,
que ainda nao
]á nao era, pelos vaqos
a
adivinhavam
se
que
mula,
tré-
pada,
cul-
era
pensasuas
ñas
palayras,aquela crianga inocente, toda candura e
meiguice,que Ihe saira de casa para se unir áquele
monstro, a sogra do sapateirodisse á Amelia :
—
Como
semana,
teu
o
nao
precisasir já ámanhá
dor. Prometes
—
só volta lá para
marido
Prometo,
me
mas
que
com
só irás
uma
fór da
dirá nada seja a quem
e do passo
que eu vou
vemos,
na
a
o
do
casa
fim da
lavra*
?
quinta-feira
condigao
a
—
conversa
dar.
que
máe
agora
nao
ti-
SCENAS
VIDA
177
Prometo.
—
a
DA
No
dia
mae
de Amelia
metía
se
estrada de Montes
na
rava
seguinte,á noile,dormía tudo
Gasparoes,fúgidacomo
os
n'um
carro
Velhos, e
que
a
Aldeia
na
a
espe-
levaría para
da peste.
Bateram
logo
devagarinhoá porta do labrado Filipe,
e
sua
afiihada,foi ver quem
pequeña,
mo^a
a
era.
Vocemecé
—
O
—
sr.
guer
alguma coisa ?
Filipeestá
Enlrou agora
em
casa
?
pela porta do quintal.
Olhe, menina, diga-lhelá que está aquí a muIher do mestre Antonio,que Ihe desejafalar.
Foi a pequeña
levar o recado incontinenti,mandando
entrar a senhora Amelia, para o escriptorio
do sr. Filipe,
ladrilhada em
urna
casa
que ele tinha
~
mesmo
—
uma
pequeña
meza
com
gaveta, quatro cadeiras
d'Evora,uma
grande arca de castanho,cora fechaduras,e um bahú preto, com pregaría amarela,que
desempenhava as fungoes de cofre forteAssente-se,faga favor,que o padrinhojá vem.
Efectivamente o sr. Filipenao
se
demorou, e encontrando
senhora Amelia de pé, fel-a sentar-se
a
lado da
cadeira mais próxima da sua, do mesmo
na
cima da qual havia papéis,uma
resecretaria,em
—
um
gua,
cha
—
e
tinteirode chumbo,
uma
cañeta, uma
grande ourigodo mar.
Entao diga lá o que deseja-
borra^
um
•
.
12
SCENAS
178
Levantou-se
DA
VIDA
Amelia, em
a
e arsignalde respeito,
regagando um bocadinho o avental com as duas maos,
muito comprometida, medrosa e acanhada,dispoz-se
dar
a
o
recado.
seu
O
Filipeliade desculpar»
Pois sim, eu desculpoíudo,mas
—
—
sr.
.
•
hade
vocemecé
oigo bem.
Esta gentilezado labrador,que para toda a gente
atencioso e delicado,poz logo a mulher domesera
tre Antonio á vontade, já sem
Ihe tremerem
as
persentar-se,que
ñas
e
—
embaragos
sem
O
assim
eu
vocemecé,
é que
estava
virfalarcom
para
foi á Villa,e lá soube
hontem
ante
mas
fala.
na
Antonio
meu
nao
é amigo, como
fossem
se
primo, de quem
irmáos, está no hospitalde Beja, muito doente,epediu já umas
de vezes
poucas
para o chamarem, porque
que
um
nao
morrer
quere
logo abalar,e
o
como
dinheiro que
tornar
sem
Beja
em
tinba,e
velo. Deliberou
conhece
nao
eram
que
a
quinze mil réis,\á
conta, leyou-o,que
apartado para Ih'o vir trazer por
outro
o
isto,como
diz,quem
que
avia-se
térra-
em
vir falar com
o
De
modo
que
yai para o
disse para
me
Filipe,contar-lhe
sr.
pedir"lhedesculpa d'este transtorno
a
faltarmos á
—
O
amanha,
de
nos
seu
nem
dinheiro,a
esperar.
marido
o
que
nao
vocemecé,
eu
hade
que
fazer
a
•
•
me
a
eu, gragas
pontos de
que
mar
sucedido,e
nos
obríga
O primeirodinheiro
palavra.
será para
acarearmos
esmola
nossa
ninguem,
me
prometeu pagar hoje ou
deus, estou precisadoda
fazerem
falta meia
duzie
SCENAS
VIDA
DA
179
de mil réis.Váo-se
governando como
rálagóespor
do
que
a
justiga
casa.
Ihes mando
Nao
—
a
se¡
vira ter
marido,
meu
vocemecé,
com
Para
mas
diga-lhe que
para
um
venha
soltando de Beia.
em
vale
nao
a
•
e
cá vir ;
pena
tirar
me
para
boa freguezia?•
tos. Ele tem
res,
favo-
tantos
pagar
de botas caneieiras
par
nao
eu
que
sera
liieagradecer.
para
agradecer
me
devem,
me
Ihe havemos
como
Fiüpe. O
sr.
—
causa
poderem,
medidas
as
sapatos
uns
pre-
.
Teve, sr. Filipe.Ao principiode cá estar,nao
—
Ibe faltava que
perfeito ñas
nado
com
e
uma
obras,
suas
a
caga,
entrou
trabalho foi
o
e
como
freguezestraziam
uns
guem,
diziam
fazer. Todos
semana
sem
a
fazer
esfolava nin-
nao
outros-
Depois, invicio-
menos
na
cio,
do ofi-
caso
afracando,a pontos
pegar
multo
era
que
se
que
sovela. Vé-se
a
passa
gente
e
deseia-se,sr. Filipe,para arranjaro mantimento, e
algum trapinhopara se cobrir.
Porque é que o seu marido nao semeia um bocadinho de térra ? Uma
inferior,
mesmo
semseara,
—
é
pre
—
teve.
aiuda.
Ora, sr. Filipe! Essa lembranga já
uma
ainda que
raos
tivessemos
dinheiro para
era
monda
temos
nao
mas
e
á
ceifa,isso
felizmente sei fazer
Deus,
eirá pelo seu
córpo, gragas
para
a
a
térra,
estas
me
esses
para
pé
temos
coisas,o
comprar
nao
nao
que
e
gente
sementé,
nao
a
e
tinha-
geiras.Lá quanto á
dava cuidado,porque
trabalhos,e
os
a
fazer. O
o
tenho bom
pao
nao
carrégo custa
vai
di-
SCENAS
i8o
nheiro
debulha ninguem
; a
Costumase
mas
o
dizer
que
hade
que
VIDA
DA
faz pelo amor
a
semeia
nao
quem
semear
colhe \
nao
nada
tem
nao
quem
de Deus.
de
?
seu
Pois olhe,senhora Amelia, se
—
tiver
Ihe
semear
puder
que
para
pagar,
térra de graga
a
recolhendo
forem precisas.
Em
seu
marido
baguinhos,eu
uns
sementé, dou Ihe
a
que
o
dispostoa
o
ás
que
es-
empresto*
e
geiras
as
seara, paga~me
a
vezes
nao
mexa
a
dá
cebo.
o
nos
grande esmola que vocemecé
faz, sr. Filipe.O meu
Antonio, em eu Ihe dizendo,
só assim, nos
fica doido de contente- Tambem,
po-
Isso é
—
urna
desenvencilhar
deremos
Ergueu
senhora
a
se
a
vida.
nossa
Amelia
com
—
licenga
sua
com
querendo prolongar mais a conversa,
de aborrecer,e renovando os seus
médo
agradecí*
o marido
mentos, disse ao sr. Filipeque tanto ela como
estavam
seu
dispor,se pudessem servir-lhe
ao
nao
—
para
alguma coisa.
Quem
—
nada
tem,
mostrar
dá
que
Era
o
—
Vá
la ela
lavrador
—
se
a
a
com
o
que
mais
e quem
deseja,
pode fazer
fazendo tudo
o
senáo
que
decisivo da despedida.
Filipe.
Deus, senhora Amelia.
sr.
pé fóra do escripterioquando
deteve, para Ihe perguntar :
por
Vocemecé
as
Ihes permitam ?
momento
Passe bem,
—
que
reconhecimento
fracas posses
suas
tem mostra
nos,
como
seu
o
o
um
nao
me
disse que
o
seu
o
marido le-
SCENAS
vou
Beja todo
para
VIDA
DA
dmheiro
o
i8i
tinha
que
?
casa
em
Pois disse,sim, senhor.
—
Mas, entao,
—
é que
como
voceraecé
se
governa
até ele voltar ?
A
Amelia
baixou
envergonhada foi
Meteulhe
cinco
na
oihos,corando, e
os
réis
disse-lhe que
mento
de
porque
da melhor vontade
O
mil
tres
mao
tostoes, e
o
deu.
resposta que
a
quando
procurar
a
pareceu-lheque
a
de
tivesse acanha-
nao
se
moedas
em
yisse
apertos,
em
serviria.
labrador Filipeestava farto de conhecer
lía,mas
mudez
a sua
vía agora
a
Ame-
pela primeira
vez.
Por
talvez mais
acaso,
tismo, ela deixara cair
provavelmentepor
os
para
hombros
o
coque-
lengo que
muitos decabega, um lengo amarelo com
senhos, salpicadod'olhos brancos,preso em nó froixo
do queixo. Tinha o cábelo negro
de azepor baixo
yiche, naturalmente ondulado, e calculaba o sr. Fí'
trazia
na
jipeque afogando-senaquelas ondas tería
longa de completa felicidade.
Que
que
bem
Ihe ficava
Ihe sombreaba
havia
na
boca
sua
de mal
da
mas
tao
sua
raga
tambem
a
penugem,
vida
macia de veludo,
labio superior,e que frescura
de labios vermelhos, talvez escaldantes
o
contidos desejos! Nunca
que
uma
mais
nunca
perfeitamenteesse
se
vira
parecesse
uma
com
vira mulher
uma
cigana que
typo de beleza.
cigana,
realisassc
SCENAS
i82
VIDA
DA
Seguía-Ihecom os olhos o arfar dos seíos túmidos,
morenos
que ele adivinhava,atrayez da bata,serem
os
peitos da Sulamita,o mamilo ase
rijos,como
yermelho
medronhos
pequeninos!
sado,
Repézo agora, tarde e a más horas,de nao ter cade curta dua aproximagáo da Amelia, embora
pero
e
os
como
despertarno layrador Filiperepresados
sentimento
de vida fainstintos de sexualidade,e um
fez
ragao,
milial,sob qualquer forma,
organisacoes sociaes,desde
mais complexas.
dar
Que estupidofora em
Odemira
serrenha de
vel, sendo
certo
maioria,sao
se
que
com
casadas
apontam
as
a
que
as
as
mais elementares ás
ao
caso
excepcionalda
regra
mulheres,na
as
honestas, e
base de todas
a
foros d'uma
os
que
é
que
prova
está
faltam
aos
invaria-
grande
sua
na
seus
facilidade
deverest
solteiras'
ou
podia ter arranjadourna amante, urna
senao
raparigapobre que se Ihe dedicasse,
por amor,
qualquerdos casos ene em
menos
ao
por gratidao,
Ao
menos
existencia de
solteiro,
privado
das caricias feminis que perfumam a vida,mesmo
quando, por faltade prole,a deixam incompleta.
chendo
o
vasio da
sua
somno
d'um longo
acordara,o labrador Filipe,
durante o qual nao perhybernante,somno
derá
forgas,parecendo antes que acumulara energias,
dada
a
Como
que
necessidade
que
estaba
sentindo de
as
tornar
patentes,exercitando-as conforme a Natureza manda,
Natureza que sempre
a
reage quando a contrariam,
SCENAS
i84
tura
experiencia,timido
sem
e
animal
um
d'uma
VIDA
DA
bravio,
como
assustadigo
abria-os agora, no esplendor
e
alacridade d'um sol dos tro-
boreal,na
aurora
picos, luminoso
como
e
foco eletrico e quente
um
mo
co-
fornalha acesa, pondo ñas coisas animadas
inertes vibragoese anceios d'uma alma a trasbordar
urna
ou
d'amores
A
desejos.
e
Algarvia!
Esse mosírengo de nariz grelado,desengongadae
fecunda
magra,
das,
gdso
a
as
Algarvia nem
coelhas,fria
desejada,a
posse
como
as
gea-
Ihe fizera vislumbrar
sequer
podia dar-ihe
só
que
d'uma
como
a
posse
resulta
íelicidade que
d'um
bem
o
que
se
de-
seja.
arrancando-se ás suas hePara fugirde si mesmo,
de pezares e floridasde esperanzas,
zitagoes,
negras
Filipeabalou de casa, á
indo langarferro na Adega do
o
sr.
ali
que
encontrava,
se
provando
por
sr.
amigos,
tinha querido vender,
acaso,
vinhote que
nao
reservando-o para o gasto da
um
de conversa,
Romáo
Salvador,
procura
com
sua
uns
casa
vinho
—
especiaescuidados.
preparado com
Amelia, chegando a casa, fechou a porta e o
pando
tapostigo; atirou"se para cima da cama, aniquilada,
A
os
olhos
dava. Queria
fundezas
da
com
estar
sua
a
só
mao,
e
ás
porque
a
escuras
;
conscíencia,para
luz
a
sondar
tomar
uma
incomoas
proreso-
SCENAS
lugao que
como
DA
decidisse dos
altar,perante
Sacramento, revelando-lhe
samentos,
os
mais
seus
185
incertos destinos. Seria
seus
ajoeihasse no
se
VIDA
os
seus
vagos,
propósitos,suplicando-ihea
Sanlissimo
o
íntimos pen-
ma's
definidos
bem
menos
d'uma
graga
inspiragao
pelo melhor caminho, Era já a
mulher virtualmente adultera,
a pedir a cumplicidade
ou
o perdáo de Deus
para o seu adulterio realisado.
fizesse tomar
a
que
Afinal,a
tinha rasáo.
máe
marido, cada
O
de
cada
era
em
mais
vez
negociar com
vrador
todo
bem
térra
tinha
Nao
vidas
ele
que
as
menor
a
nao
vontade
propunha
se
tinha sobre
—
os
o
no
em
e
honra
da
tendo
semear,
este
que
seus
anoiteceria
Ihe fizera
a
a
quem
lher,
mu-
verdadeiramente
chovesse
duvida
mais ela Ihe poriaa vista
que
bragos do la-
os
coisas,era
colh3Ítas,quer
contrariasse
Sua
atirava para
a
intervalos da
nos
trabalho honesto. A
o
entendidas
em
boas
pre
taverna
na
Fitipe,
por sórdido calculo de vadio,
repugna
a
ele
Sentia que
caga.
e
amigo da sucia,no que pensava
homem
ao
ela, entregal-a
que
do bom
á boa vida,comendo
e
pudesse sustentar
do melhor, folgando
o
amigo de trabalhar
menos
vez
sem*
fizesse sol.
quer
como
respeito,
ele faria
se
du-
mente
resoluta-
planos,desobedecendo á
amanheceria,e nunca
nao
cima, conforme
propriodia
em
que
a
ameaga
abalara para
Beja.
Se
alguem Ihe tivesse dito,uns
mezes
atraz, que
1
SCENAS
86
havia de
DA
VIDA
áquele homem, sacrífícandoIhe a propriahonra, por mor
d'elle perdendo o respeíto de todos, o que era muito, e perdendo muito
mais de que isso,a amizade, capaz de todos os sacrificios,
escravisar se
da máe
onde
te
porei, se
atraz, ela
mezes
e
A
acreditaría em
nao
tomal-ohia
E, comtudo,
maís
ela fora sempre
ai Jeum
sús
alguem Ihe tivesse dito isto,
quem
para
o
por
grave
Bandarra
semeihante
ticinio
va-
ofensa.
nunca
profetisoucom
acertó.
fugira d'ela,como
máe
deixando
a
sem
amparo
e
sem
d'um
de peste,
ramo
conselho
marido,
disfargar
os seus
; o
procurandourna formula hábil para
propósitosdeshonestos, mandara-a a casa do lavrador" á amostra, esperangado em que á vista do piteu se Ihe abriria o apetite.
A despeitode tudo,reconhecia-se agora mais ligada
Antonio do que poderlasupdr, tao fortemente
ao
seu
ligadaque a sua abjecgao,entregando se por dinheia enchia de furia repulsiva.
ro, nao
?
O que a captivavan'esse homem
O seu aspecto varonil,
o seu
desembarago de ho"
maneiras delicadas,a sua voz
mem
forte,as suas
alta e bem modelada, sobresaindo nos balhos ; a sua
toda a
em
periciade cagador, a sua superioridade,
especie de jógo, sobre todos os mogos da Aldeia.
Captava-a ainda o segredo, o misterio da sua
de
vida,sapateiroalgarvioque um dia,pouco mais tarali sem
que o dealbar da madrugada, aparecerá
d'onde vinha,
dizer quem
era
nem
vagabundo
—
SCENAS
187
VIDA
DA
talvez criminoso
pretende fixar-se,
que
que
procura
asilo.
Depois o mestre Antonio fora o primeírohomem
bracos"que Ihe afoguearaa cara
que a apertáranos
a cabega,n'um meio sombeijos,
com
que repousara
de volupia,sobre as suas
virgíneas.
no
pomas
yinha ela da Viiia,
Urna tarde,quasi ao lusco-fusco,
encontrou-se
ele
com
no
casaráo
d'um moinho
que
trezentos passos
mais ou menos,
a uns
ficav^a,
pouco
outeiro dominando
da estrada,n'um pequeño
a vasta
planicieá roda. Encontró combinado, está bem de
logar se por ali nao andasse nináquela hora, maioral ou transeúnte, que puguem,
desse dar tentó da manobra, indo besbilhoteal-a na
Aldeia, rompendo-se definitivamente um segredo que
eles se obstinavam em
guardar,e tínham conseguido
e
ver,
só teria
que
guardar até entao.
Ahí, n'esse abandonado
mulheres
a
tas
abrigode vis-
a menor
indiscretas,
entregou se Ihe sem
fosse aqueta artificiosa
resistencia,
que mais nao
simulada resistencia que geralmente oferecem as
curiosas
e
ao
casarao,
e
se
que
entregara,condescendendo.
.
.
com
propriavontade.
; do
Pois bem
sem
motivos
Ao
cera
que
mestre
ela toda
sejada
posse
uma
Antonio,
a
pureza
d'um
se
para
fora sempre
ensivelmente honesta.
máe,
do moinho
casarao
corpo
como
trara,
en-
envergonhar diante da
mulher de bem, irrepre-
apenas
da
saira
sua
sem
seu
namorado, ofere-
a táo devirgindade,
mancha, ¡maculado
SCENAS
i88
viera
como
um
para
mestre
táo
a
sem
sua
honra de moga
donzela
máos
Antonio,guando
sacrificio,
que era enloucura, só poderia dar satisfagáo
sua
plena,
compromissos, aos seus apetitesde macho errante,
hoie aqui,amanhá além.
E que
fizera
seu
Antonio ?
fraqueza;
sua
liberdades que
outras
o
mestre
o
abusara da
Nao
do
A
VIDA
d'aquelehomem, como
se fosse
fructo maduro, que se dá, nao para guardar,mas
comer
logo. Tudo ¡sto puzera á disposigaodo
ñas
puzera-a
e
mundo.
ao
DA
(ossem
nao
tivera com
nao
as
o
que
ela
código
desrespermite,e que sendo maitas vezes
peitosasda inocencia,atentorias do pudor, deixam
amor
inviolada
a
castidade.
Reconhecia
tinba para
que
vida de gratidáo,
e
teira,queriaele
essa
que
com
o
marido
divida,que contraira
Ih'a pagasse
uma
di*
em
sol-
depois de
agora,
casada.
Em
O
que
moeda
?
lavrador Filipeera
um
homem
muito serio;nunca
Aldeia nao
havia
e na
desinquietarauma
moga,
das mulheres casadas.
fosse mais respeitador
quem
Falavase
dos seus
com
amores
a aigarvia;
mas, a
ser
isso verdade,
com
muita
dor
tais cautelas procedíao lavra-
gente punha
raciocinava a Amelia,uma
que
em
duvida
o
facto. Depois,
mulher casada
a
quem
principalmentetem que dar contas do seu procedicia,
mento, é ao marido, a quem deve fidelidadee obediencomo
dissera
o
padre, no
acto
de
os
arreceber.
DA
SCENAS
Mas
actos
OS
pratica,sejatneles
mulher
unía
que
189
VIDA
quais forem, por conselho, sugestao ou ordem do
marido,sao actos de obediencia, nao afrouxam antes
apertam niais os lagosmatrimoniáis.
O
demonio.
Queria-lhe
.
.
parecer
que
fizera boa impressao no
lavrador.
A
insistenciados
seus
olhares;um
certo
embarazo
timidez com
o acanliamento
ou
falas;
que
Ihe tocava no joelho,quando Ihe dizia aiguma coisá
suas
ñas
de mais circunstancia;
o facto de
conservar
á porta,
a vel-a marchar
fingimentosde distragáo,
fóra,só nao olhando ipara tras por vergo-
com
pela rúa
nha, tudo isto dava
á Amelia
o
convencimento
lavrador ficara agradado d'ela,nao
o
que
se
de
propria-
pelo beigo,mas bem dispostopara farelagoesintimas,aquetas relagoesque seriam
zerem
politica
agraria,que ao sapateirotinha
a base d'uma
sugeridoo velho guardador de porccs.
gos
Se assim nao
fosse,ele nao Ihe teria feito os larmente
preso
oferecimentos que ihe fizera,oferecimentos espontáneos
d'uma absoluta e captivante
espontaneidade.
Ihe
Nao
como
nao
Ihe teria dado
pedirá, para
maior,
teria feito tais
sem
se
e
tantos
dinheiro, que
ir mantendo,
sem
privagoesmolestas,até
oferecimentos,
ela
nao
Ihe
necessidades de
ao
regresso
do
marido.
Sobretudo
nao
nao
despedida,que
quando se
procurar,
Ihe teria dito,na
tivesse acanhamento
de
o
DA
SCENAS
I90
yisse
precisao,
porque
em
VIDA
da melhor vontade
a
ser-
yiria.
Todos
precisamos uns dos outros;o que
Nao
hoje tem mais, ámanha pode ter menos.
faga
cerimonias comigo. Em vendo que Ihe posso ser útil
mais do que dizer-m'o,
tem
n'alguma coisa, nao
e
—
nos
será logo servida.
Por
sua
vez
a
Amelia
tivera a melhor impressáo
do lavrador.
Nunca
tinha feito grande atengao
via agora
mas
mais
pouco
reito
como
a
menos
era
da altura do
como
de que
chamando-a
sal e
uma
um
Do
sendo
nao
se
mulher
va-se
seu
animal de presa.
ninguem Ihe fazia a idad
um
suas
cogitagoesbatem-lhe á
ta,
por-
insistencia:
O' Amelia!-..
visinha que ia pedir-lhe
urna
dente d'alho para temperar uma
pitadade
agorda.
havia novas
mandados,
nem
sapateíro nao
abalara de vez,
geral que o homem
crenga
despedindo para nao deixar saudades. Só a
conhecia
o
verdadeiro motivo
da
stia
ausen^
respeitonao dizia uma palavra; cala*
muito bem calada,e até dava mostras, por disfar-
cía, mas
ce.
com
O' Amelia!...
Era
homem,
tinha.
N'esta altura das
—
n'ele,
Antonio, dilargodos hombros,
carro,
as
]á passante dos quarenta, e
reparo
pedago d'um
um
d'um
pritiga
cabeludas
máos
as
ou
que
ou
a
esse
de partilhar
a crenga
de toda
a
familia da Aldeia.
VIDA
SCENASIDA
192
Quem
—
hayia de dizer 1
os
implacaveisque as senhoras yisinhas,
sendo opisenhores visinhos desculpayam a moga,
niáo de muitos que se ela tinha de dar aquelepasso,
antes o desse com
o
qualquer
Filipe que com
sr.
Menos
charepe
ter onde
sem
Quem
—
a
boa
cair morto.
aryore
chega,boa sombra
se
o
cobre.
Posto
ao
facto da maneira
missao
prira a
assertou
que
ganha
urna
que
o
por
o
na
ás
o
yezes
fica
veri-
quem
como
dos
filao d'uma
tece-as
e
mina,
a
desejose
seus
sua
o
que
era
exploragáo,
é
seguro
o
que
a
máo.
mestre
Antonio
conta da seara,
homem,
medida
á
imediatamente
comegar
diabo
gente tem
Foi
encarregára,o sapateiro
aposta arriscada.
pois que descobrira
precisoera
cum-
cálculos complicados ou
em
ia correndo
ludo
a
que
mulher
radiante de satisfagaocomo
mostrou-se
quem
de
a
como
e
como
pedindo trigoao labrador,
nem
só
foi-lhe pedindo tambem, por
de
pao
yive
o
intermedio da
os
mulher,aquilocom
compram
que se
todos os seus
pedidos eram
prompta
melSes,
e
e
mente
generosa-
satisfeitos.
se
Agora mais do que nunca, o sapateiroentregábaá mandria,dias e dias sem
pegar na sovela,logo
pela manha, engulido o bocado- abalando para a
passando-osna taverna,
caga, e as noites,os seroes,
logando a bisca ou a pedida, conforme tinha par-
ceiros para
nha
os
como
tí-
gastal-o,
liberal em
era
tinham
intimo
no
que
193
d'estes jogos. Dinheiro
outro
ou
fartura,e
com
mesmo
um
VIDA
DA
SCENAS
ele desprezo?
por
na
juntavam-se-lhe
pangalhada,e achavam
que ele arejava as
qa á desenvoltura com
certa gra-
do
massas
lavrador.
Filipepara casa do mesletre Antonio
farinha,o azeite,a carne
a
e os
ia com
ele,
abundancia, porque ás vezes
e
gumes,
de sucia na yenda, mandaba dizer á mulher que Ihe
mandasse um
petisco,e ela mandava-lhe um naco de
de febra, se a tinha,ou entao urna posta de
carne
dois
toicinho alto,um
ou
prato de azeitonas e um
mais
queijinhos,
esquecendo o pao alvo,como
nao
ia de
Tudo
do
casa
sr.
—
ninguem comia
Os encontros
de
ter
Aldeia,
na
do
logar no
visse
ela,e
Nao
a
quem
cómodo
era
visse
a
o
lavradar.
Amelia deixaram
a
indo ele por um
lado, indo
o vissea ele,
a nao
que quem
campo,
outro, de modo
ser
Filipecom
sr.
ela por
nao
a
a
ela,nao
este bucolismo
desse por
ele.
errático,
que ás
obrjgayao layrador a fatigantes
rodeios, postado
maioral em
um
qualquercabego, a olhar pelo
rebanho, e d'ali,
sem
se
seu
podendo apermoyer,
ceber-se de tudo n'uma área de grande raio.
yezes
A
pouco
e
indo
ele
a
casa
em
pouco
a
Amelia
foram
a
rareando
casa
do
os
idilioscampestres,
layrador
ou
indo
da Amelia, que o sapateiro,
homem
creto,
disele entrando pela porta da rúa, saia logo
pela porta do quintal.
13
SCENAS
104
Com
imprudencia de
a
Antonio
VIt)A
DA
certos maridos
atraigoados,
algumas yezes
a
casa,
inoportunamente,tendo declarado,á saida,que ia
dar urna
volta larga,demorando-se
por fóra até á
mestre
regressava
noite. Encontrando
daya
se
Quasi
os
que
nem
seus
tinha saido
De
do bom
e
postigonao
\á sabia que
o
ou
o
labrador tinha entrado.
e
Amelia
nada
sua
do melhor, trajayacomo
um
quando metía
nheiro,sempre
caras
e
havia falta em
a
e
zendas
porta
e á medida
já trabalhaua pelo oficio,
ganhos diminuiam,as suas prosperidades
aumentayam.
A
a
trabalho de bater,porque
ao
mulher
a
ou
fechada
máo
abundayam
morgado,
de di-
á procura
algibeira?
na
mía
co-
das chitas baratas para as falengos de seda,aos domingos,
]á usaya
as
;
encontraba.
o
passara
;
casa
rendinhas
e
as
franiasnos
ca-
seus
sabeques e ayentais.
Apurada no yestuario sempre ela fóra,e nenhuma
ela,sabia tirar da sua mingua de
outra, pobre como
Dizia
mulherio da Aldeia, quando ela
o
taya, ainda
solteira,
para
diabo
O
—
da
moga
uma
festa
nada pde
na
em
enfei-
se
Vila :
cima que
Ihe
fiquebem.
nao
talhada de corpo, e rustica como
do monte, sabia combinar formas
Era bem
pria
urze
com
o
mais
requintadobom
tra de costura ;
e
olhos.
efeitos táo agradaveisaos
recursos
cozesse
—
Se
como
um
mas
na
Vila
gosto. Nao
nao
a
e
tiyera
hayia quem
prócores
mes-
talhasse
ela.
dia Ihe der
para
bordar
a
bastido-
DA
SCENAS
res, \7era0 que
nem
VIDA
195
senhorinhas de Lisboa Ihe ga-
as
nham.
Deixara
á
de ir
trabalhos do campo,
dia,
e um
forno,saiu-se em dizer que tinha muita
porta do
de
pena
já
muiio do
—
—
-
—
aos
ir ás mondas, por
nao
Porque nao vais ?
homem
Porque o meu
Qual d'eles?•
Dizia toda
sumido
;
sava
a
quere.
•
gente
se
que
ele
nao
via
tinha outros
nao
nao
Antonio levas-
mestre
o
lavrador ajuntava-secom
o
verdade
Na
trabalho
um
gosto.
seu
.
se
ser
senao
a
Amelia.
chao que
o
desejosque
ela pi-
fossem
nao
os
desejoS;outra vontade que nao fosse a sua vonás vezes, a pensar que ela pertade. Surpreendia-se,
tencia a outro homem,
legalmente casada, e que o
seus
marido, ave de arribagáo,por quaisquerrasoes
que
da psycologiados veados, podia abalar d'ali
sao
com
de o ver, de Ihe falar.E entáo senela, ou proibil-a
d'um ato violento,d'uma acgao crimitia-se capaz
nosa
fizesse desaparecerde
que
deitar tombas
gaspeas
para
d'esse frete,sendo
de que
de caga,
as
Ihe seria difícilencontrar
Nao
gasse
e
a
nao
morte
bem
do mestre
seria lamentada
regosijoem
toda
a
vez
o
sapateiroindo
no.
profundas do inferquem
pago,
e
se
tinha
encarrea
za
certe-
Antonio, n'um. acidente
por
ninguem,
antes
sada
cau-
familia da Aldeia,onde
¡á
SCENAS
196
havia
nSo
DA
VIDA
de respeitoque
única pessoa
urna
nao
Ihe
tivesse gana.
Durava
esta sesao,
felizmente
que
se
nao
repetia
ele ia
ou
frequencia,até que eia o procurava
robustecendo-se logo a sua confianzano
procural-a,
mestre
Antonio,urna confiangaque já yinha de iontornando-se
em
irrecusaveis,
proyas
ge e assentava
de dia para dia mais firme,mais solida.
D'esta confiangaparticipaba
a Amelia, e de certo
modo
participabatoda a familia da Aldeia,jurando
tihomens
e yelhos,
mulheres, novos
e
que nunca
com
coisa assim,pouco
visto uma
nham
labrador Filipe,
a Amelia
todos tres
rem
mesma
o
cama.
dia, pela meia tarde,o
Um
para
na
e
a
Ihe pagavam
de nove
o
bocadinho
mais tar'
ao
Monte
tostoes.
Fazia-me
—
amanho
um
só voltaria á
que
Calado,a ver se
d'uns sapatos,na importancia
tencionava ir
porque
Antonio abalou
mestre
sósinbo,avisando de
caga,
noiie,á hora da ceia,talvez
de,
faltando para o
mestre Antonio dormi-
boa conta
receber agora
este dinhei'
rinho.
O
só voltaria á noite.
Como
tivessem de tratar coisas serias,
de
deragao,assim
a
da Amelia,petiscou
vindo ela abrir,fragalhoteira,
do
anuncianferrolho,
com
alegríadesenvolta que o marido nao estava,
no
e
lavrador,passando pela rúa
porta
com
uma
e
que
lavrador entrou
o
a
grande pon-
Amelia fechou
postigo porta sem tranca e postigosó
de insignificante
resistencia.
lingueta
pequeña
o
—
SCENAS
Estáyam
batem
O
dois
os
DA
VIDA
197
melhor da
no
guando
conversa
á porta duas
coragao
pancadas fortes.
fala,mas
adivinha,e
nao
lavrador,dando
o
coragáo do
baque, avisou do perigo que
um
ría,
cor-
fugissesem demora.
Renovando
tro
as
pancadas na porta,sem que de denIhe respondessem, o sapateiro meteu
o postigo
dentro, e fazendo dar volta á chave, escancarou
a
se
nao
porta, entrando de espingardana
se
quem
prepara
para
Pela porta que
máo,
na
atitude de
desfechar.
entre-aberquintal,
ta, lobrigouo lavrador,que fugia,parecendo que tinha asas nos sapatos. Desfechou precisamente no momento
á distancia
em
que ele saltava a parede do quintal,
de mais
tres
quatro
ou
deitava para
de
cem
graos
o
pregando-lheno rabo
de chumbo, que mal furaram a
passos,
pele.
Correu
e
armado
a
para
com
a
porta da rúa, dando volta á chave,
navalha do oficio,
de ponta aguda e
folha larga,atirou-se á Amelia, já quasi desfalecida,
cravando-lh'ano
ventre
urnas
poucas
de vezes,
com
requintesde crueldade.
Acudiram os visinhos,bomens
e mulheres, acudiu
gente de todos os pontos da Aldeia,e logo a porta
foi metida
dentro,a ninguem ocorrendo, em semelhante confusáo, dar volta á chave, o que dispensaría
o
A
da
gue,
a
arrombamento.
Amelia, sumariamente
vestida,uma
camisa, descaiga,agonisava n'uma
caida
aos
pés da
cama.
saia por
poga
de
cima
san-
SCENAS
198
sapateiro
o
de
tra
de
voz
leve
mais
prisáo,
signal de
de
altos
nao
protesto,
ele
fizera
zer
ao
lavrador,
d'aquela
á
trágica
Mata-
—
o
deu
ao
raizeravel
instintiva
•
•
mesmo
amos-
Mata-se
ladrlo
do
cara
forra,
dinheiro
com
sai-se
lavrador,
com
agora
Ele
Ihe
chegasse
d homem
casado
tio
n'um
banco
tudo
que
velhote
se
favida
com
.
meteu
lher
mu-
a
beber
e
tripa
á
pandega?,
suas
destas,
•
como
ofendido
se
na
de
sua
e
pente
re-
ra
hon-
!
Garcia,
Francisco
de
!•
é que
as
para
vergonha,
a
saira
comer
agáo
uma
mesmo
pretenderá
malvado
•
para
farta
á
o
em
e
assassina.
este
!•
prisao,
fizesse
que
furia
de
.
á
Ihe
a
milagrosamente
scena
!•
se
o
com
se
que
que
Grandissimo
—
ram,
mais
a
contentava
se
mulher,
que
—
cabos,
esbogando
nao
reclamava
berros
O
dois
resistencia.
mulherio
O
VIDA
acompanbado
regedor,
O
DA
pedra
á
e
passava
porta
como
e
cegó
da
se
tolhido, sentado
soube
venda,
ali de
Comentou
passara.
o
:
Ninguem
é
pela
se
certa.
fie
nos
bois
mansos
;
quando
mar-
SCENAS
DA
VIDA
toda
samento,
gente, aquele caela rica,ele pobre, ela esbelta,
ele desageí-
Fóra
uma
surpresa
para
a
tado, ela sadia,ele doente, ¡rremedia^elmente doente,
opiniao dos médicos
na
—
epiléptico,
com
manifesta
gocios
depressáo mental, absolutamente indiferente aos neda sua
se
a mulber,
casa, de que
ocupaba
inteira liberdade,sem
respeitotrocar com
com
a esse
ele
uma
ro
para
palavra.A*s segundasfeirasdava-lhe dinheidinheiro para o tabaco, e
toda a semana,
todas
cha^enasinha
café,uma
o
para
as
de café
na
brasserie,
tardes,depois de jantar.
Fazem-se
entre
associagóes por
as
pessoas,
como
contraste, segundo
entre
um
as
ideias-
mecanismo
naturalmente sem o rigorcom
explica,
psycologia
fazem as demonstragoes em
geometria, mas
se
que
maneira
satisfatoria. A verdads é que ninguem
por
sucede, incompreendera aquele casamento, e como
que
a
varia^elmenie,perante um facto que nao
ende, cada qual o explicavaa seu modo.
Aos
vinte
anos
a
Rosita, educada
n'um
se
compre-
colegiode
casamento
Londres, fora pedida em
rapaz
por um
de boa familia,instruido como
ela,bastante mais rico
do que ela,mogo
galanteadorque todas as mulheres
desejawam,que todos os maridos temiam, embora ele
Cafosse positivamente
libertino,
como
o famoso
nao
cavalheirode Faublas,sem
escrúpulosque
um
sanoya,
o
detivessem
na
das
realisagao
suas
rosas.
conquistasamo-
nacional da Graninstituigao
flirt é uma
Bretanba, um
capituloda moral inglesaequivalente
O
SCENAS
a
VIDA
DA
versículo da Biblia,
que
um
gáo
todas
em
idades
as
e
em
se
devo-
praticacom
todas
latitudes da
as
Rosita fóra educada
a
geografía social, e porque
n'um colegio de Londres, á moda británica,
o facto
do
noivo cultivarabundantemente
seu
de
escandalisar,parecía até
a
que
longe
flirt,
Ihe era agradavel,
o
Ihe arreigavaa convicgáo de que
porque
todoá
da cidade,o
ele
era,
de
do.
digno de ser amaCertos maridos,geralmente os predestinados,
gosIhes cortejem a mulher, porque
isso lísontam
que
vaídade de
a sua
geía o seu orgulho de proprietarios,
beleza
virtuosa
preferidospor urna
requestada
os
mogos
mais
—
como
Lucrecia
a
Ora
sucedeu
mente
a
que
días
em
fechar agradavel-
Rosita,para
a
vida de solteira,levando
sua
velha amiga, que
uns
romana.
uma
era
comsigo
amiga já velha,foi
Sevilha,por ocasiáo
passar
Santa,
Semana
da
comboio
em
seguindo no mesmo
que seguía o
noivo, conforme o aiusteestabelecido.
O
facto íornou-se
foi ele,durante
e
todas
as
conversas,
días,o assumpto
uns
comentando-o
malicia,outros comentando-o
nos
termos
na
seu
dade,
ci-
obrígado de
singela
com
mais baixa-
injuriosos.
mente
Poís
viam
conhecído
imedíatamente
uma
se
de
estava
fazer
justo o casamento,
como
toda
a
nao
porque
gente de
sua
ha-
dasse, casar
primeiroe viajardepois ?
ral
Já era vontade de fazer escándalo,ofender a mosentimentos de
os
corrente,a moral estabelecida,
todos
quantos
considerara
a
moral
como
a
obriga-
SCENAS
teem
que
cao
•
os
•
?
DA
VIDA
outros
de
portarem bem,
se
dentro de certos preceitose regras formando
dos usos
e costumes.
inédito,
sempre
Para Sevilha,juntos,
um
e
rapaz
um
a
digo,
có-
rapariga,ele
urna
ela formosa, ele capaz de fazer perder d'amor
esbelto,
da mais atormentada monja, ela capaz de
o
coragao
ermita !
transtornar a cabega do mais inspiritualisado
Onde
quer
cafés
nos
apareciam, ñas
que
como
como
rúas
ñas
vas,
pra-
theatros, despertavam um
nos
grande movimento de curiosidade,
que se traduzia
gestos de admiradlo e murmurios de simpatía.
—
—
Que
guapo
Que
hermosa
Ser
ver
que
notada
todos
em
I
!
Sevilha pela beleza
em
os
olhares,na
elegancia;
andaluza,se prencapital
e
dianí á graga dos seus
meneios, admiravel escultura
dos
que faria a reputagáo do mais afamado artista de toos
lempos, antigose modernos,
porque
Ihe dava
noivo,um
seu
temiam
Naquele
ra
ao
a
ano
havia entre
a
intervalo d'uma semana,
d'um tranvía, na
apear-se
uma
pequeña
alguns días,a
noivos dar
um
Ro-
dos
admiravel Antinuos que todos os maritodas as mulheres desejavam.
um
fizesse
por
e
a
para
satisfagáointima e trasbordante,
plena consciencia de ser digna do
d'uma
sita motivo
era
n§o
Santa
Semana
e
como
a
e
a
Fei-
aia da Rosita,
do,
Praga de S. Fernanentorse, que a obrigaria,
sair de
casa,
salto de Sevilha
a
resolveram
os
Cordova, deven'
SCENAS
do
iá
notamente
estar
pnncipiasse.Arabos
velhos
famosos
e
VIDA
DA
303
Sevilha quando
em
feíra
a
tinham
grande desejo de visitar
Paizes musulmanos, e pois que as
circunstancias Ihes proporcionavam belamente
a
sa*
embora
tisfagao,
completa,d'esse desejo,resolnao
mais
veram
nao
perder o ensejo,que talvez nunca
Ihes oferecesse
se
Quem
táo favorayel.
visita Cordova
raramente
intuito,sendo estrangeiro,
que
faz
o
nao
com
seja o de
outro
ver
a
Mesquita,boje templo christao,e a Mesquita nao dá
horas,mesmo
querendo ver tudo
para mais de alguraas
pelos miudos.
Tendo
chegado a Cordova antes do meio dia,depois do almogo deram urna volta pela cidade, indo
rone
seguidamente ver a Mesquita,servindo-lhes de ciceum
pobre diabo que aliperlo vendia bilhetes postais,
dova
com
reproduQoesdo Templo, e urna historiade Corá época
actual»
desde a dominagáo musulmana
Rosita gostou muito de ver aquela floresta de columnas,
fazendo-lhe notar
do mais
O
marraore,
cicerone
propina
-
fino
o
cicerone que
diferentes
na
cor
fazendo jus a
explicava,
todas
e
uma
no
eram
feitio.
avultada
:
As columnas
eram
mil
setecentas
e
cincoenta. Os
desde que
a
cídade caiu
e
duzentas;agora
ha só
árabes e ouuns
capiteis,
tros romanos,
mente
abundantealguns bisantinos,eram
dourados
thesouro do templo havia abundancia
e no
de ¡olase pedras preciosasdo mais subido
e pouco,
prego. Tudo isso foi desaparecendoa pouco
em
poder dos christaos.
SCENAS
204
VIDA
DA
E acrescentou:
Dez
mil lampadas que nunca
se
reapagavam,
forgadas por candelabros espantosamente grandes,
—
iluminavam
Mesquita. Eram táo grandesos cande*
labros que consumiam, cada um
deles,no ano, aproximadamente
quinze toneladas de azeite.
Mais por coquetismo que
por devogao, a Rosita
quiz ajoelharperante o altar-mor, a pensar, vagamente,
a
bem
que
car
Mirhab
o
podiam os christaos ter deixado fi*
dos infieis,
o santuario onde
que era
eles guardavam
Rosita
especies consagradas, sob
efeitos,á
indinada
era
nao
cagáo religiosa
que
seus
suas
a
de AIcor3o.
forma
A
as
que
recebera
recebera
ao
no
na
e a edumisticismo,
somada, nos
colegio,
deixara-lhe o
familia,
espirito
livre,
quasi indiferente ás praticasreligiosas,
alheio a congeminencias theologicas,
e absolutamente
resaibos de filosofia.Nao
com
saber, nem
como
Thereza
uma
era
de Jesús
Alcoforado, de Be¡a, uma
a
Heloisa
uma
sentir;
no
mas
no
era^
adoravel tentagáo
soberbo fruto,que um
carnal,um
perfume de
vago
tornava ainda mais apetecido.
religiosidade
mente
deliciosaPorque assim era, em materia religiosa,
mo
ignorante,conhecendo táo pouco a Biblia coalteou o seu espirito
até
o Alcoráo, a Rosita nao
Deus,
se
fora
tao,
se
zia, umas
em
nao
e
a
saberla responder,n'aquellemomento,
Mesquita que
fdra
uma
poucas
se
convertera
como
igrejacrista,
de
vezes
menor,
em
templo cris-
da
sua
a
que
se
fregué-
con^ertera
Mesquita,para maior gloriado Profeta.
DA
SCENAS
Por
detraz d'uma
coluna
VIDA
205
escapando á vigilancia
dos
guardas» e aproveitandoo discreto isolamento
da Mesquita,sem
Rosita e o noivo
outros visitantes,
beijaram-secom
lindas huris que
o
mais
as
frenesi,como
enchera
fervoroso
o
se
ela fosse
Paraizo musulmano,
a
sua
causa,
e
ele
das
do islamismo,digno de to-
crente
bemaventurangas prometidas aos
defenderam
das
urna
e
que
foram. obedientes
sempre
aos
seus
mandamentos.
Minha
—
anjo adorado I
Meu
—
O
linda moira !
estrangeiroque
dos
visitaCordova, na
só ali vai para
casos,
templo cristáo,e
mas
horas, tres ou
Os sabios,os
a
admirar
Mesquita
nao
a
g^neralidade
Mesquita,boje
dá para
mais d'u'
tiva.
quatro, de admiragao contemplatos,
os
eruditos,
excepcionalmenteculduvida, dentro da presente Mes-
podem, sem
velha historia do musulmanismo
a
quita, evocar
na
Península,sobretudo a historia do Kalifato cordovez,
táo cheio de lances
Tal
trágicose de aventuras poéticas.
dos gentisnoivos lusitanos,
era
o caso
esinstruidos na historia geralda Península,
movendo
grandemente a curiosidade de
nao
cassamente
e
nao
os
conhecimenos
aprofundarem, a este respeito,
seus
tos. Vista a
Mesquita, eslava vista a cidade, uma
grande e populosa cidade n'outros lempos, táo populosa
alguns auctores dizem ter ela encerrado
altos,guarnecidos de torres e basmuros
que
nos
seus
SCENAS
2o6
D Al VIDA
tióes,aproximadamente um
milhao de habitantes.En-
tao, sim, devia Cordova, independentementeda Mes-
quita,ser
cidade bem
urna
digna de visitarse,
repou-
sando por instantes ou por horas á sombra das suas
palmeiras,dos seus
grandes cedros frondosos,das
das
larangeirasem flor,ouvindo o murmurio
fontes,d'aguas frescas e cristalinas.
suas
suas
noite, depois do
A'
theatro,a
cha
tomarem
na
Gran
dois o mesmo
aos
Capitán, ocorreu
pensamento ou desejo,que a Rosita,n'um enthusiasinfantil,
quasi batendo as palmas, como
mo
as crean*
forma de consulta,
ordem
na
Qas, expoz
que era uma
Avenida
imperativa:
E
—
se
E' yerdade,se
—
Cordova.
Ali,em
e
fosssmos até Granada
nos
a
regressar
a
a
.
•
Granada
?
valia a pena demoraremse,
tambem nao vaSevilha,antes da feira,
lía
Rosita
nhia
de
guns
dias para
nao
mais
tanto
pena,
nos fossemos
?.
que
a
aia
ou
dama
de compad'alrepouso
precisava do
completamente ficar curada da
ainda
en-
torse.
bastar dois dias para verem
a linda capital
dade
cireino granadino,mais interessante,
como
Deviam
do
moderna,
que
muito mais pequeña
No
velha Cordova, mais pequeña,
que Sevilha.
a
día seguinte,
pela manha, meteram-se
a
cami-
rápido,e perto do anoitecer,a
muito boas horas do iantar,chegaram a Granada,
nho,
em
encantado
combólo
o
noivo de Rosita
com
os
montdes
de
re-
SCENAS
ao8
VIDA
dia seguinte,pelo primeirocomboio,
no
Sevilha,sem
a
DA
demora
E acrescentou
O
—
regressando
Córdoba.
em
:
Florencio da Administragáodo Concelho
diz
muitas vezes, falando do partidodo Zé Dias, chamado
Cdnstituinte,e que se desfez em pouco tempo,
d'ele»boje
por
desertarem
seus
horaens de valor :
A
ragem.
digo que
Eu
—
primeira vez
vi
a
sucedeu
tos, como
seu
os
e
outros,
os
ultimo abencer-
estiver
que
sala onde
amanha
uns,
com
ele,já Ihe
abencerragensforam
mor-
liberaes do Gástelo de Extre-
aos
E' capaz o homem
de ser abencerragem sem
fazer ideia do que isso foi!
No dia seguintedeixaram Granada, e em
menos
moz^
de vinte
quatro horas entraram
dizia a Rosita, uma
e
feito,como
de nupcias,que
A
entorse
acompanhala
—
que
o
os
ainda
nos
um
mez
por
fóra de
casa
permitíaá amiga de Rosita
dores
já com menos
passeios,
nao
seus
sem
quando
ou
ano,
—
ou
firmeza
pé.
E se nos fossemos embora ? ]á fago ideia do
é a feira,
tenciono morrer
cedo, para
e como
nao
apoiandose
mas
antecipadaviagem
de
quando casassem,
dispensarla,
quinze dias
irem passar
Sevilha,tendo
em
nos
apetecer,voltamos cá.
tinhamos pensado
Nao
ganos?Tinhamos,
no
ver
em
o
bairro dos ci-
.•
—
gente é
nos
a
estou
mesma
mas
em
eu, porque
acho que nao vale a pena.
toda a parte,e farta de ver
os
tenho
ao
pé da porta.
Essa
ciga
SCENAS
Sempre
—
para
a
mais
era
vermos
DA
VIDA
209
coisa
urna
víamos,
que
precisavamosadiar muito
nao
e
via-
a
gem.
Estou
—
ludo
por
demorarcomo
se
nunca
os
de
tivessemos
nos
quizeres;
para
em
nossa
mente,
franca-
vsr
ciganos,
é
que
tardar
re-
vantagem, o
casa,
casados, unidos
vermos
mas
visto,acho
nenhuma
sem
encontrarmcs
nos
cidade de
tu
gente aquí só
a
necessidade,e
sem
prazer
se
que
para
e
a
feli*
sempre,
!
querido amor
No segundo dia de feira,
á noite,tomaram
o combólo
de Badajoz, com
bilhete para Lisboa,anciosos
casa.
por se apanharem em
Marcou-se o dia para o casamento, dispensadosos
banhos, tendo a Rosita,antes da abalada para Hespanha, deixado tudo arranjado e díspostopara casar
no
proprio dia do seu regresso, se tal fosse a sua
raeu
vontade.
O
da
peor
noivo, adoeceu
de
com
uma
cama,
Passou
entao
ísto é, o
pagem,
grassava
um
ataque
na
cidade
intensidade apavorante.
o
dia todo
fatigadomas
de
faria,como
acordaría
o
quasi repentinamente,com
gripepneumonica, que
Passára
na
foi que
passagem,
ao
no
campo,
bem
costume,
um
e
á noite metera-se
disposto»calculando
sonó
reparador,de
que
que
luzir do buraco.
bem saber o que tisem
inquieto,
pela manhá,
nha, ás voltas e reviravolías,
verificando,
pontada
que tinha febre alta e constatando que uma
deixava respirará
forte, do lado esquerdo o nao
a
noite
i4
SCENAS
2IO
voníade, fazendo
DA
VIDA
respiragáomuito superficial,
uma
defeza.
por
Velo logo o medico
da casa, e á tarde vieram ouquais,reunidos em conferencia,de-
médicos, os
tros
dararam
o
que
caso
vidade, reservando
era
grave,
d'uma extrema
gra-
Em nova conferencia,
prognostico.
sem
discrepancia
que teve logar no dia seguinte,
d'um voto, declararam os ilustres galenos que ali
bavia nada que fazer; só por milagre o doente
nao
poderia salvar se.
Afrontando
audaciosamente
ceitos d'uma
do
motivo
seu
uma
que
para
a
cias
convenien-
falta d'um sacramento
amante
pessoa
seja
nao
dedique
á
sacrificios,
se
os
maiores
imenso
amor,
completo, impondo-se
por
chamadas
em
sao,
Ihe parecendo que
nao
as
grande parte,regras e premoral hypocrita,
a Rosita instalou-seem
noivo, dispostaa ser a sua enfermeira»
sociaes,que
casa
o
amada
pessoa
milagre?
Um
Talvez
sem
Ha
o
fizesse o
seu
a
sua
rá©
dedica-
carinho sem
limites,
o seu
igual.
n'estes actos de renuncia extrema»
sempre
altruismo que é a expressáo mais alta e mais
n'estes actos
bela da afectividade humana, ha sempre
d'um
parcela de egoismo, sem o qual entrariam na
esphera da bondade divina,que a creatura nao pode
atingirsem perder o merecimento de quem realisa o
uma
bem
tendo
Nao
a
liberdade de realisar o mal.
podia ser maior
comendo
e
a
carinhosa solicitude da Rosita,
dormindo
ao
pé do
seu
querido
a
um
fazia ele
nao
ela
que
211
dormir
doente, se podia chamar-se
táo leye que
pelo somno,
movimento
VIDA
DA
SCENAS
leve passar
o
mais pequeño
acudisse,como
nao
se
acordassePrecisas d'alguraacoisa,
—
O
desgragado volvía
cheios d'uma
ternura
suave
todo
o
amor
—
As
—
minha
esperangas
olhos amortecidos,
os
agradecida,e
Ihe enchia
que
?
sorriso contrafeito
talvez,a única forga que
Entáo, doutor, posso ter
era,
amor
ela
para
n'um
exprimir-lhe,
curava
meu
que
é
o
o
e
coragáo,
impedia de
esperangas
pro-
roso,
doloe
que
parar.
?
licito ter n'um
rcilagre,
senbora.
O
fez, e logo a Moral publica,
se
milagre nao
bre
gulosa de escándalos,mal desceu o paño sosempre
entrou a comentar
lévolamente
maaquela horrivel tragedia,
o passeiode Rosita a Sevilha,
chegando
delirio da febre,fia afirmar- se
que o enfermo, no
zera
revelagoes tremendas. Era falso ; mas bastou
isto corresse, para que muita gente, na cidade,
que
principalmentemadamas, se puzesse em espectativa
contando os mezes,
anciosa, contando as semanas,
se eslava
inquirindosolícitamente da saude de Rosita
mais gorda, se comía de tudo com
gosto ou tinha estravaganciasde apetite,anomalías de paladar.
O facto estranho, para as senhoras vísinhas ver—
dadeiramente
casa
escandaloso
da Rosita ir meter
do noivo, postada junto da
arredando
d'ali pé, quer
sua
de día quer
ás boas almas da cidade,sempre
se
em
quasinao
de noite,garantía
cama,
intrcmetidas
na
SCENAS
212
\?ida alheia,
que
DA
VIDA
Rosita procuraba
fazer um
casa*
in exiremis, nao
pela vaidosa pretensáo de
mentó
a
viuva, mas pela necessidade de
garantirao seu filho urna legitimapaternidade.
Amor, renuncia,dedicagao,sacrificio!
apresentar como
se
Coisas muito bonitas
tao fóra da
mas
as
quem
Estaba
yersagóes,
com
ctora das
E'
~
no
que
procuraba.
propriamenteau-
faltas.
graves
dáo, afinal de
que
factos,
randocomplacencia,considedo que
yictima mais
suas
dos
e
contrarla
en-
nao
o
de generosa
ares
as
objecto de todas asconquasi totalidade maledicentes,aU
sua
como
a
--
dramas,
nos
mosa
parte,armado da faphilosopho
como
o
homem
o
Rosita sendo
na
a
Diogenes
encontrara
a
realidades
toda
por
lanterna de
gumas
das
procurasse
cyníco nao
e
romances
da yida,que
positiyidade
mundo
no
nos
contas, as
taes edu-
ingleza!Quando é que se y¡u uma
crianga,abalar de
rapariga de boas familias,uma
com
Hespanha, na companhia do homem
casa
para
moda
á
cagoes
hade
quem
esta de
ele
se
tassem
táo
ir meter
se
e
—
que
novo
em
de
nao
é
seu
rente
pá-
ela?...
como
do homem,
casa
liyesse pessoas
nao
familia que
E
como
o
tra
!
Como
era
calado,que
mais
recomenda
forcado.
em
casos
tais,quem
mais
quem
mais
rasáo
tinha para
estar
nao
fosse
sucede,
sempre
murmuraba
que
casar
se
—
adherente,
nem
entáo
casar
nao
falar de
em
atengáo
corda
em
ao
casa
preccita
de
en-
SCENAS
DA
VIDA
Era publicoe notorio que
a
com
já noiva do homem
quem
dias
n'um
grave
que
213
D. Felismina
casou,
Graga,
oito
passara
hotel,em Lisboa, fazendo-lhe companhia
tijera um
um
professor do lyceu, com
longo
quem
flirt pratico,chegando a dizer-se que urna doenga
a
d'este
aceso
real,em
Pois
coenta,
carne
fazerem
a
osso,
e
da
era
esquinas, a
minosas
cri-
manobras
desaparecer
desandar
para
especie de cartaz, colado
urna
mais
no
a
prova
libertinagemamorosa.
sua
D. Felismina,¡á a
a
morte,
fóra originadaem
namoro,
atinentes
portas da
ás
puzera
os
cin-
todas
em
grande e
horrivel crime de Rosita,enfermeira do homem, que,
seria seu
sem
a intercorrencia d'aqueladoenga fatal,
legitimoesposo, recebidos á face de Deus.
as
Nao
raáe
gritar aos
ficava atraz
da
quatro
ventos
D. Felismina
de quatro filhos,
nenhum
o
Abrunhosa,
a
dos
quais tinha parecada um deles,com
o marido,parecendo-se,
cengas com
Ihe era atribuido pela opiniáo publica,
o pai que
que
é a voz de Deus, sempre
justae verdadeira.
Durante
um
ano
Rosita
nao
poz
os
pés
na
rúa,
recebia em
¡anelae raras pessoas
sua
casa,
Carregara-sede luto,como
urna
viuva, e
horas esquecidas, todos os dias.a olhar o
passava
do seu
retrato
noivo, que Ihe parecía agora mais
belo, na refrangenciadas suas lagrimas.
ninguem
a
viu á
Porque nao teria alongado mais o
Hespanha, ficando por lá um
mez,
fosse,sendo
provavel
que
a
seu
passeio por
que
epidemia, no
mais
seu
nao
re-
SCENAS
214
DA
VIDA
já ti^esse desaparecidopor completo ? Quasi
tinha remorsos
de nao
tanto mais que
o hav^er íeito,
fora ela,na pressa
de se casar, que propuzera
regresso,
tirarem
Seyiiha antes
de
quizera demorar-se
tourada
metia
que
Parecía
em
aos
os
a
feira,
e
Badajoz, para assistira
espadas de maior nome.
dviam
que
de acabada
perlo
d'ela,
um
nao
urna
na
pouco
da perda
¡ntimidade,que nada poderiaconsolal-a,
sua
do
seu
chorando
Bem
desolada que
noivo, Niobe
a
se
ficariatoda
a
vida
do prometido esposo.
morte
diz que
o
tem
coragao
suas
rasóes
a
que
compreende, frase rigorosamenteverdade paradoxo.
deira,com
ares
vido
Quando
dia,que Rosita ia casar, volconstou, um
cinco anos, por sobre o seu passeioa Sevilha»
rasáo
a
nao
foí geral,tornando-se
surpreza
se
que
o
noivo
era
em
ao
pasmo
ber
sa-
aquele pobre Mathias, feio e
sofría de ataques
desengongado, que desde pequeño
epilépticos,
incapaz de reger a sua pessoa e bens,
sendo tristemente certo
segundo a formula jurídica,
ciscano.
franum
que ele nada tinha de regesse, pobre como
Fizera
mal
e
porcamente
truQao primaria,chegando
a
o
de ins-
exame
matricular-se
no
lyceu,
rias
frequenciado primeiroano até ás fecapaz
da Paschoa. Por completo falho de atengáo,ind'um raciocinio elementar,estaría duas ou tres
livro
á meza
de estudo, a olhar para um
horas
tendo levado
a
aberto,levantando-se fatigado,mal fazendo ideía do
que
táo
lera,e logo esquecendo
como
pobre de memoria
o
nada
que
aprenderá,
Nem
de inteligencia.
SCENAS
2i6
DA
VIDA
ela, na
realidade,fizera urna
viagem de nupcias a
Hespanha, tendo-se esquecido de casar primeiro.
Casaram,
Rosita
a
e
Mathias, fazendo-se
o
o
samento
ca-
n'uma
sem
cápela particular,
anuncio,quasi
á porta da
sem
convites,para evitar o espectáculo,
Igrejae dentro do templo, d'uma multidáo irrespei-
tosa,
repetirem
a
voz
alta os
comentarios
da botica
do Pascoal,
Deus
abengoasse aquela uniáo, conforme a linguagem bíblica,ainda nao
tinha quatro
de casada e já a Rosita amamentava
o
seu
gundo
seanos
filho, orgulhosa do seu casalinho de bebés,
Como
se
sadios. ambos lindos
fortes,«mbos
ambos parecidoscom
o pai.
ambos
amores
como
os
—
Entretanto
a
decadencia física do pobre Mathias
fazia progressos
notaveis, menores,
da sua
decadencia moral. Ainda
todavía,que
os
tinha vigor bastante
dia por fóra,
gandaiandopelacidade,ouvindo aqui,escutando além,
para
mas
nao
se
pondendo
nao
intrometendo
aos
respondendo
ao
doente n'um
mem
casa, todo
em
parar
ñas
cumprimentos
que
conversas,
que
corres-
nao
Ihe faziam, nunca
Era
espirito
a caricatura d'um hoaleijado,
Ihe perguntavam.
corpo
o
um
farraposd'uma alma.
de cada vez mais, quasi acendendo
envolucrando
Fumava
uns
manhl,
tabaco
outros,
e
nunca
garros
ci-
saía de casa, pela
pedir a sua diaria para tabaco
para o
para o cafesinho,ás vezes, muito raramente,
sem
e
nos
os
—
SCENAS
deitando
de
café
no
VIDA
DA
217
pequenino cálice de aguárdente
um
cana.
Tinha
mais d
ataques
agora
maís
com
frequencia,e
por
tara
seguidamente aos ataques, manifespropósitosde agressao, monologando em voz rude injuriase ameagas.
Do que ele nunca
se
esqueurna
vez,
cía, fosse onde
fosse que
d'algumapessoa
amiga,
em
propria casa,
sua
fatigado de
ou
era
Um
ao
dia
iniciar um
filhos,
porque
crime,
da familia
de
entao
cama,
os
e
mesmo
Ihe
faltava
nao
a
si,
a
bolsa
escandalisava ninguem, porque
tintivo
inconsciente,
puramente inscomo
as
convulsoes.
suas
tendo visto
casa,
Mathias,
o
sao
precisava ter cautela,por si e
frequenciaas
as
victimas da
ela,todas
a
em
que
los
pe-
resvalam fácilmente
epilépticos
os
com
fechava
quartos
ou
ataque, esbogar gestos de agressáo,
disse á Rosita que
ao
da
medico
o
se
deliberado
lao pouco
café
casa
em
de verificar,
tornando
estrebuchar,
d'um automatismo
ataque,
o
botica,no
na
era
O facto nao
relogio.
o
tivesse
as
porta
pessoas
sua
punha
intimas
escolha. A
noites,antes de
que
mais
em
se
partir
meter
na
comunicacáo
dormiam, ficando assim
táo
longe
Gungunhana no castelo d'An
favorita no kraal de Manjacaze.
gra e a sua
Felizmente o pobre Mathias nunca
esbogou contra
Ihe dirigiu
ela um
nunca
urna
pagesto de ameaga,
carinhoso e meigo para
lavra injuriosa,
e se
nao
era
filhos,tambem os nao tratava com
com
os
aspereza,
dispensando-se,até, de os castigarquando eles faum
ziam
do outro
como
maldades.
o
SCENAS
2i8
Nem
DA
VIDA
criadas trataya mal, dispensando-sede
as
as
cumprimentar, e ao que indispensayelmenteIhe perguntavam respondía por raonosilabos ou por gestos.
Nao
incomoda ;
propriamente, urna
era,
pessoa
tambem
mas
nao
decadencia,um
trema
Casada
e
se
Na
nayeis
sua
es-
animal estimavel.
marido, aquela viuvez grotesca era
sem
a
que
noites, a
as
evocar
tempos da
os
florida,cheia de sonhos, a
delicias do
isto
avisinhar a
envergonhaya.
desoluQáo do seu leiío,
pareciam-lheintermi-
tortura
uma
de
de
antes
era,
confronto
em
com
a
sobretudo,as
evocar,
primeire neivade,
seu
mocida-
sua
e
a
tudo
por
vida presente, vasia
sua
e
desolada.
Ninguem á contivera no resvalar áquele
abismo, e ninguem podia agora descer á profundeza
do seu
martirio para
Ihe dar um
de alentó,
pouco
Ihe insuflar um
para
Tinha
anclas
tinha
gao,
e
que
tornavam
brava
ao
e
maior
seu
o
o
cora,
revoltas de orgulho
Vislum-
tormento.
felicidadefóra do dever convencional,
e
a
quem
tem
á
Mal
a
moga
estender-Ihe
em
colher
procura
a
uma
sur-
cautelosamente,
mao
está
rosa, que
alta,
miihares de picos aceroda, a defende-!a,
rados.
consolavam
demais
da Natureza, que
cagóes
tempo
mesmo
ainda
preendia*se a
como
de coragem.
d'amor, que Ihe quebravam
pouco
termos
os
para
ás
vezes
d'uma
filhosda inutilidade do
nao
reconhecer
formula
as
os
suas
rido,
ma-
direitos
reinvidi-
imperiosidadebrutal.
SCENAS
Siurpreendeu,
DA
VIDA
219
noite, manchando
urna
as
suas
trangas d'ebano uns delgados íios de prala, e te^e o
horror d'utua yelhice precoce, irremediavelmente perdida
ela
alegríasdo
as
para
dentro
conseryaya
do
dentro d'um
conserva
grande amor
esse
amor,
como
coragao,
cofre
um
avaro
capitalque
um
rende nada. Chorou, chorou, chorou,
que
Ihe
nao
quando a luz
da manba
Ihe entrou no quarto, quebrada de nao mir,
dorolhos pisados de chorar,fo¡ sentar-se á ¡aos
muito extensos, quasi inter"
nela,olhando os campos»
minareis
como
—
a
dor,
sua
como
Fugiu-lhe o pensamento para
andaluzas, e poz-se a rememorar
e
a
desgraga.
sua
longe,para as
essa
viagem
ras
tér-
cantadora,
en-
vos
companhia do seu noivo, os dias festide Sevilha, as horas breves de Cordova, as tardes
na
passeando no jardim de les
d'alipasseando a vista pelaextensa veiga*
fuscas da Alcazaba,
Adharves,
talvez fosse ainda mais
que
se,
e
extensa
dos lados do poente, n'uma
se
esbarras-
nao
cercadura
de monta-
pela grandeza e encantan»
pela tonalidade da luz, á medida que o crepúsculo se
uhas,
que
nao
esmagam
aproxima,quando
pensar
sonho
que
o
céu é puro
seu
poema
e
Faltava
nela
Ihe
se
a
se
para
nho aquele desgragado Mathias,um
epilépticos
a
quem
fizera
o
quem
pai de
seus
dera
a
mao
filhos.
no
e
porque
seu
imbécil
cova
noivo í
seu
matar,
calix,encontrou
seu
belo
seu
o
horror d'uraa
no
depositaro cadáver do
coragem
havia fel no
horisonte limpo.E
o
d'amor, todo
de felicidade,
desfechara
aberta para
ainda
todo
o
cami-
com
de esposa,
ques
ata-
de
SCENAS
220
Fechou
olhos,como
os
para
recluir mais
se
a
tro
den-
de si mesma,
ia tomal-a urna crie sentindo que
de choro, fechou a janela,principiandoa fazer,
se
muito vagar,
com
Horas
a
sua
toilette da manhá.
passadas,iá muito pelo dia adiante,como
ouvisse
nao
rumor
quarto do marido, abriu
no
porta, e foi andando
a
a
VIDA
DA
nos
telosamente
cau-
bicos dos péS)
espreitarse dormia.
Estava
morto.
Retirou-se
cautelosamente,como
bicos dos pés, ou
nos
do
tinha
acordalo.-
receasse
porque
entrado,
.
acorda,ou por nao acreditar
morte
verificara pelos seus
na
propriosolhos"
que
pondo-lhe quasi o ouvido sobre a boca ligeiramente
abería, a ver se respirava. Quando
se
perdeu o
habito de ser feliz,
nao
se acredita mais na felicidade.
de que
sonó
nao
se
—
Chamou
a
creada
e
ordenou
que
Ihe servissem
o
almogo.
Sentada
Senhor
—
á
ainda
Passou
nao
um
Ihe observassem
como
meza,
que
o
almogara :
pouco
incomodado
esta
noite,só al-
mogará mais tarde.
tanto
muito tempo que nao comia assim,com
achando tudo excelente e servindo se detudo
apetite,
Havia
larga.Olhou-se ao espelho que tinha em frente,e
'eve a impressáo de que a sua face era urna placa
á
de
jardim com
mólhos
de
cravos
a
raarginando-lhe
SCENAS
boca
e
Teyeo
desvanecimento
ainda
nao
de ainda
221
Terminado
osolhos.
bonita,e certificou-
ser
velha. Mal Ihe cabia
era
peito,inquietocomo
no
gao
VIDA
de violetas,
emoldurandolhe
ramos
de que
se
DA
urna
o
cora-
ayesinbaengaiolada.
almogo, deixando os filhos á
foi ela propria acordar
marido, ainda na
o
áquela hora, táo tarde.
o
meza,
cama,
••
E
fosse
se
um
Tinha muitas
sa,
clínico de
pedra
vida que
ao
larga experiencia,com
medico
dá
ca»
cuenta
perto de cin-
resp'rar,inertes como
sem
pticos,
epilé-
os
se
fos*
madeira, n'uma suspensáo de
de
ou
ilusao perfeita,
sobretudo
urna
da
periodo conoulsivante do ataque,
o
estar horas
de
ouvido dizer
vezes
terminado
sem
aparente ?
de exercicio da profissao,
que
anos
podem
de morte
caso
aos
lei-
medicina,de morte real.
Se iria afogar-se á vista do porto, malaventurado
á tabua salvadora,
naufrago que ao deitar as maos
onda a p5e fóra do seu alcance, conde»
vé que urna
gos
na
nando-o
Abriu
vez,
e
á morte
remedio!
cautelosamente
foi andando
alvoroQO mudo
minho
sem
nos
de quem
a
porta, como
da primeira
bicos dos pés, a tremer, no
tateasse
ñas
trevas
um
ca~
perigoso.
Estava positivamentena posigao em
que o deixara
a cabega quasi inteiramente fóra do travesseiro,
o
brago direito pendendo fóra da cama, a boca ligeira.
mente
aberta,os olhos sólidamente fechados. Poz-lhe
—
SCENAS
222
a
máo
no
VIDA
DA
peito estaya frió de neye. Abriu Ihe
olhos,arregagando-lheas palpebras
—
pouco
os
tayam
envidragados.Quasi Ihe colou
—
foi como
—
se
o
colasse
a
o
um
es-
ouvido á boca
pedra tumular.
urna
d'uma duvida ?
Era lá possiyela sombra
n'uma especiede siFicou suspensa, por instantes,
deragao do cerebro,nao sentindo e nao pensando, os
olhos presos
a mulher
ao
cadáver,sem
o
yér, queda
da Biblia convertida
e
fria como
estatua
em
de sal.
ai que
gritodoloroso
e logo todo o
grande desgraga!
n'uma aíligao,precipitándose
acorre
Súbitamente
ouyiu-se
um
—
desgraga! ai que
pessoal da casa
em
tropelno quarto mortuario. Gente que ia pasfi
sando, na rúa, entrou a ver o que era, e o mesmo
os yisinhos,alguns dos quaes
zeram
que
supuzeram
—
yissem fumo ou labaredas
fogo, embora nao
saindo pelas ianelasou irrompendo do telhado,
mostrándose
algunsyisivelmente
tranquilos,
perfeitamente
todo aquele alyosatisfeitos quando souberísm que
róío,em que havia gritose lamentagoeschorosas,era
havia
sómente
tao
d'esta para
porque
tinha passado
Mathias, o inútil,
Ihe quería mal, porque
melhor. Ninguem
de casa,
ferozmente
egoista,querendo que Ihe adivinhassem os
los
déselos e as vontades,e que essas vontades e déseele
os
e
inofensivo,
a
era
tomassera
ser
para
as
pessoas
ordens,cumprindo-osfielmente
promptidáo.
com
Dias
nao
como
nao
ser
e
dias
para
nao
dava
urna
palavra á mulher,a
Ihe pedir alguma coisa. dinheiro
se
ela
índice
Pag.
o
Moinho
5
,
A
Ouem
As
Bois
A
Riíinha
51
chibos
vende
81
Galdérias
113
mansos
137
libertagao
199
ERR-ATA
Na
pagina
77,
ultima
linha,
onde
se
lé
Guilherme,
leia-se
Casimiro,
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