PARTICIPAÇÃO DA FAMILIA NA ESCOLA
Josene Gonçalina da Silva1
Sandra Regina Aquino Nunes Silva2
Eliane Conceição da Silva Souza3
RESUMO
O presente estudo busca analisar a importância da participação da família na formação do sujeito e em seu processo de aprendizagem na escola,
enfatizando a questão da comunicação familiar como fator contribuinte para a
estruturação do pensamento do educando e das relações afetivas na vinculação
com o conhecimento. Pretende também mostrar que a qualidade das relações
entre família e escola da criança influencia em suas relações futuras e na aprendizagem. A necessidade de se construir vínculos afetivos na relação professor
-aluno, aluno-aluno e enfim a relevância em construir uma relação de parceria
entre escola e família, buscando planejar, estabelecer compromissos e acordos
mínimos para que as crianças e adolescentes tenham uma educação com qualidade tanto em casa quanto na escola. A metodologia utilizada para a realização
deste trabalho constitui-se da compilação de vários teóricos especializados no
assunto em pauta: Maria Lúcia de Arruda Aranha; Beatriz Scoz; Vítor Paro; J. M.
Silva; Heloisa Szymanski. Tem como objetivo adquirir conhecimento de causa
para promover e incentivar canais de participação e articulação entre os vários
agentes de educação que atuam no município, assim como ampliar a atuação
dos pais na vida escolar dos seus filhos.
Palavras-chave: Vínculos. Escola. Família. Aprendizagem.
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Escola Estadual Antonio João Ribeiro ( [email protected])
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Escola Estadual Antonio João Ribeiro ([email protected])
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Escola Estadual Antonio João Ribeiro ([email protected])
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Consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) que as escolas têm a obrigação de se articular com as famílias e os pais têm direito a ter ciência do processo pedagógico,
bem como de participar da definição das propostas educacionais. Porém, nem
sempre esse princípio é considerado quando se forma o vínculo entre diretores,
professores e coordenadores pedagógicos e a família dos alunos.
Todo educador sabe o quanto é importante a participação e ajuda
dos pais dos alunos no seu desempenho escolar. Com toda certeza todo
professor gosta de ter pais cooperativos e atentos ao desempenho escolar
dos seus filhos. Esta prática ajuda a criança a ter um bom rendimento, a
participação da família é um dos principais fatores que contribuem para o
bom aprendizado, pois, quando a criança apresenta problemas para aprender, a forma com que a família reage pode agravar ou ajudar sua recuperação. Como sabemos a educação perpassa tanto o ambiente escolar quanto
o familiar. A interação entre ambos é muito importante para o sucesso do
processo ensino-aprendizagem.
A escola, portanto, também necessita dessa relação de cooperação
com a família, pois os professores precisam conhecer as dinâmicas internas e
o universo sociocultural vivenciados pelos seus alunos, para que possam respeitá-los, compreendê-los e tenham condições de intervir no providenciar
de um desenvolvimento nas expressões de sucesso e não de fracasso diagnosticado. Precisam ainda dessa relação de parceria para poderem também
compartilhar com a família os aspectos de conduta do filho: aproveitamento
escolar, qualidade na realização das tarefas, relacionamento com professores
e colegas, atitudes, valores, respeito às regras.
Conforme Beatriz Scoz (1994, p. 145), “para que se possa ter informações sobre os fatores que interferem na aprendizagem e buscar caminhos
adequados para ajudar a criança, é necessário um contato um tanto direto
com as famílias”. Através do contato dos professores e a família, é possível
que haja orientação na qual os pais possam compreender a enorme influência das relações familiares no desenvolvimento dos seus filhos.
Silva (1996) argumenta que a comunidade tem um papel importante
na construção da autonomia da escola pública, isso só ocorrerá na medida
em que a escola esteja preparada para estar a serviço dos interesses autênticos da população. Nesse sentido a escola deve realizar um movimento de
conciliação que possa construir e dar significado a sua função socioeducativa, partindo de ações interativas junto aos pais, gestores, professores e o
alvo principal, o aluno, potencializando assim à escola se tornar um espaço
de produção de identidades.
Paro (2003), por outro lado, argumenta que a ausência da comunidade
na escola pública torna mais difícil a avaliação do ensino oferecido. Os pais e
os alunos, como usuários da escola, são capazes de apontar problemas e dar
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sugestões para a resolução deles. Embora o autor considere que a simples
execução de tarefas (participar na organização de festas, rifas, etc.) possa ser
o início de um processo de participação mais crítica na escola, argumenta
que é necessário efetivar a partilha do poder, possibilitando à comunidade
participar na tomada de decisões.
Complementando essa ideia, Estevão (2003) afirma que a participação
dos pais nas escolas não deve ser encarada como sendo debilidade, último recurso quando as coisas não andam bem (mau comportamento ou notas baixas),
ou como necessária apenas nos eventos festivos promovidos pela escola.
A interação deve ser encarada como sendo uma possibilidade de enriquecimento mútuo e de ampliação do espaço democrático na escola. A
família faz parte, ou pelo menos deveria fazer, de todo o processo de desenvolvimento, oportunizando interações mediatizadas. Os pais devem, por
exemplo, contribuir para que a criança se vincule ao prazer, mas também às
responsabilidades, pois a sua capacidade de tolerância à frustração constitui-se um fator determinante do pensar.
A criança cuja família participa de forma mais direta no cotidiano escolar apresenta um desempenho superior em relação a que os pais estão
ausentes do seu processo educacional. Ao conversarem com o filho sobre o
que acontece na escola, cobrarem dele e ajudarem a fazer o dever de casa,
falarem para não faltar à escola, tirar boas notas e ter hábitos de leitura, os
pais estarão contribuindo para a obtenção de notas mais altas. Além disso,
reduz a evasão escolar e a depredação da escola.
A educadora e assistente social Estela Scandola lembra que os colégios com os melhores índices de aprendizagem do país estão abertos para
a comunidade. Para ela, o envolvimento dos pais deve ser intenso. Nada de
visitar o colégio somente quando o filho está mal em algumas disciplinas
ou “ajudar” a escola de vez em quando. Pais e mães devem participar ativamente das decisões, da organização, do planejamento e até das atividades
culturais. Pensar em educação de qualidade é necessário ter em mente que a
família esteja presente na vida escolar de todos os alunos em todos os sentidos, ou seja, é preciso uma interação entre escola e família, pois elas formam
os primeiros grupos sociais de uma criança.
O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica apontou que nas escolas que contam com a participação dos pais, onde existe troca de informações
com o educador e os professores, os alunos aprendem melhor. Diversos educadores brasileiros também defendem que a família faça um acompanhamento da
escola, verifique se seus objetivos estão sendo devidamente alcançados.
Entretanto, essa atuação dos pais ainda é muito pequena. Pesquisas realizadas pelo Ministério da Educação apontam que uma pequena parcela (13%)
das escolas públicas do país mantém um relacionamento próximo com a família.
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Por outro lado, 43,75% dos pais entrevistados acreditam que, se fossem promovidos mais encontros e palestras interessantes, haveria uma maior integração
com a escola. O afeto desempenha um papel essencial no funcionamento da
inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação;
e consequentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não
haveria inteligência. A afetividade é uma condição necessária na constituição da
inteligência. Essa afetividade começa na família e se estende para outros relacionamentos. Se há falta de vinculação afetiva familiar, pode haver também um
impedimento para a construção de novos vínculos no ambiente escolar, e consequentemente, impedir a criança de se mobilizar para a aprendizagem.
Por que, então, pais e professores ainda não conseguem se entender?
A maior parte dos professores atribui aos pais a culpa pelos problemas de
indisciplina apresentados pelos alunos e apontam como fatores geradores
do problema o novo modelo de família, onde os adultos permanecem pouco
tempo em casa, ou também aquele que apresenta uma organização familiar
diferente do padrão tradicional.
A pedagoga Márcia Argenti Perez, da Universidade de São Paulo, que estuda os conflitos entre escola e família, diz que a culpa é do tempo maluco em que
vivemos. “Mudanças que antes ocorriam em cem anos agora acontecem em dez e
está muito difícil acompanhar as novas exigências sociais e culturais”, diz.
Atualmente há uma confusão de papéis, cobranças de atitudes de uma
instituição para a outra e novas atribuições profissionais para o educador. O
professor Vítor Paro, também da Usp, outro estudioso do assunto, afirma:
“Parece haver, por um lado, uma incapacidade de compreensão por parte
dos pais a respeito daquilo que é transmitido pela escola. Por outro lado, há
uma falta de habilidade dos professores em promover essa comunicação”.
Segundo Márcia Argenti Perez (USP, 2003):
É necessário discutir o avanço na procura das melhores oportunidades
de promover encontros positivos entre pais e professores. Para que tal
aconteça, algumas mudanças de atitudes devem ocorrer, dentre elas podemos citar:
- Aceitar a organização da família atual e não idealizar o modelo do passado como o correto.
- Ter claro que os responsáveis pelos alunos têm o direito de opinar, fazer
sugestões e participar de decisões sobre questões administrativas pedagógicas da escola.
- Dar apoio à Associação de Pais e Mestres, para que ela não se restrinja
a apenas arrecadar dinheiro. Não dá para contar com os pais apenas na
organização de festas.
- Planejar muito bem suas reuniões, pois elas não podem ser vistas apenas
como para prestação de contas e fazer queixas dos alunos. É necessário
ter objetivos bem definidos, conhecer as famílias e a comunidade onde a
escola está inserida.
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- Refletir sobre possíveis preconceitos e discriminações existentes na escola. Não é necessariamente o grau de instrução dos pais ou outros problemas familiares que irão motivar o aluno a estudar, mas sim o interesse dos
pais em que eles estudem. Reflita sobre o fato de que muitos pais podem
sentir vergonha ou medo de trocar ideias e conversar com os educadores
por terem tido um histórico de exclusão e fracasso escolar no passado.
- Não partir do princípio de que a família precisa ser ajudada pela escola
e sim de que a escola precisa dela.
- Todo diretor tem que dar conta da participação familiar e para isso a sua
gestão não pode ser autoritária. Leve em conta o que querem os professores e os pais. Quanto a este aspecto, Paro (2003) afirma que o diretor não
estará perdendo o poder, mas dividindo suas responsabilidades, o que
acabará fortalecendo o poder da escola. Mas também os pais precisam
refletir sobre a necessidade de acompanhar os estudos dos seus filhos,
através de algumas atitudes.
- Visitar a escola do filho sempre que puder.
- Observar se as crianças estão felizes e cuidadas no recreio, na hora da
entrada e da saída.
- Observar a limpeza e a conservação das salas e demais dependências
da escola.
- Conversar com os responsáveis pelos colegas de seu filho ou filha sobre
o que observou.
- Conversar com os professores.
- Perguntar como seu filho está nos estudos.
- Pedir orientação, caso o filho esteja com alguma dificuldade na escola.
- Procurar saber o que podem fazer para ajudar, conversando também
com a direção e as outras pessoas da escola.
- Ler bilhetes e avisos que a escola mandar e responder quando necessário.
- Comparecer às reuniões da escola e dar sua opinião.
Constatamos então que um caminho a princípio como forma de cativar seria colocar os adultos em contato direto com a cultura artística das
crianças e eles, pais, responsável, e comunidade escolar em si, promovendo
e estimulando-os a participar de oficina de arte que possa ser oferecida uma
vez por semestre e os trabalhos dos adultos serem expostos no meio da
escola junto com os dos alunos, e a comunidade poder apreciar a exposição
livremente. Com isso levar os pais a enxergarem muito além dos rabiscos.
O processo de participação pode iniciar-se pelo Conselho Escolar, responsável pela gestão da instituição de ensino. É formado por pais, alunos, professores
e funcionários. Embora muitos não tenham conhecimento, esse é um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e permite que os responsáveis
pelos alunos elejam a diretoria da escola. Para que a parceria funcione, é indispenREVISTA SABERES EM REDE CEFAPRO DE CUIABÁ/MT
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sável que, além da boa vontade e disponibilidade dos pais, a direção da escola
esteja disposta a se abrir para a comunidade. Tal parceria cria um compromisso
com a instituição de ensino, que se vê obrigada a se modernizar, a reestruturar as
atividades mais abrangentes, que vão além do currículo obrigatório. Quando cada
um conhece a importância de seu papel dentro da escola, o resultado é o crescimento pessoal de todos os envolvidos, desde a direção até a portaria da escola.
Estaremos criando um projeto de ação integrada entre poder público,
iniciativa privada e sociedade civil, voltado para o desenvolvimento da cidadania e a participação da comunidade na escola.
Seu objetivo é promover e incentivar canais de participação e articulação entre os vários agentes de educação que atuam no município, assim
como ampliar a atuação dos pais na vida escolar dos seus filhos. O público
-alvo são os professores, os pais dos alunos, os representantes das Associações de Pais e Mestres e dos Conselhos Escolares, que participarão de encontros presenciais, com temas variados sobre escola, comunidade, família,
infância, participação, cidadania e oficinas de culinária, higiene, lazer, bordado, pintura, costura e confecção de tapetes num total de 120 horas divididos
em três etapas de 40 horas cada.
A proposta é que, ao final da formação, espera-se que os grupos, compostos pelos participantes da escola, comunidade, realizem exposições de
tudo que foi desenvolvido nos encontros e também que os pais, professores
e gestores proponham ações concretas de participação continuadas, de novas atividades promovidas pela escola. Participações simples podem levar os
pais para dentro da escola e fazer com que eles se sintam mais à vontade
e tomem gosto em participar das diversas oportunidades de entrosamento
que a escola proporciona.
A partir dessas reflexões, concluímos que as escolas precisam tomar
iniciativas que atraiam os pais para dentro da escola. Pode-se começar por
atividades simples e atrativas e partir daí para outros assuntos mais significativos e relevantes. Tais iniciativas fazem com que a relação escola-família
aumente e traga benefícios para todas as partes interessadas.
Deve-se levar em conta que a participação da comunidade é imprescindível e só é possível se houver um modo de agir e de pensar favorável à
tal participação por parte de todos os profissionais que atuam no espaço
escolar, pois a postura dessas pessoas pode dificultar/impedir ou facilitar/
incentivar a participação dos usuários da escola.
Apesar de se observarem inúmeras vantagens na participação da comunidade na escola, sabe-se que há um sem-número de obstáculos e dificuldades em relação à cumplicidade. Entretanto, pensa-se que é necessário
não desistir nas primeiras dificuldades, já que podemos perceber inúmeras vantagens nessa participação. Esta deve ser entendida como sendo uma
questão política que auxilia na construção da cidadania.
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A escola foi criada para servir à sociedade. Por isso, ela tem a obrigação de prestar contas do seu trabalho, explicar o que faz e como conduz
a aprendizagem das crianças e criar mecanismos para que a família acompanhe a vida escolar dos filhos. “Os educadores precisam deixar de lado o
medo de perder a autoridade e aprender a trabalhar de forma colaborativa”,
afirma Heloisa Szymanski, do Departamento de Psicologia da Educação da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Assim sendo, concluímos que a escola necessita acostumar-se a programar atividades que aproximem cada vez mais os pais da escola e venham
a reforçar o trabalho e envolvimento da família na escola juntamente com os
Conselhos Escolares. À medida que isso acontece e seu trabalho é valorizado, o pai ou a mãe vai se entusiasmando a colaborar com a escola. É preciso
começar com atividades menores, mesmo com poucos participantes, para ir
conquistando a confiança dos pais e aumentando cada vez mais o número e
a variedade de atividades, atraindo um público sempre maior. Principalmente, é importante não desanimar com os percalços que certamente surgirão
no início, pensando sempre que é apenas o começo de algo que irá se tornar
um grande sucesso.
Podemos afirmar que a convivência sem conflitos entre família e escola
só é possível se houver uma relação mútua de confiança; quer dizer, nem os
pais devem criticar sem conhecer realmente o que está ocorrendo, nem a
escola pode tratar os pais como “intrusos” ou considerar sua presença incômoda; ouvir com atenção o que a família reporta é fundamental; aliás, ouvir
e considerar, não apenas ouvir.
A escola deve estar organizada para receber os pais a qualquer momento sempre que estes sintam necessidade de falar, reclamar ou trocar
ideias. Por outro lado, esse esquema ajuda a perceber que ali há uma organização e pessoas trabalhando de forma técnica, que os receberá amistosa
e abertamente. É preciso transparecer que quem os ouve são profissionais,
que, como tal, só farão o que realmente for útil e viável para os alunos como
um todo. Um aspecto a ressalvar é que a família deve ser recebida, ouvida e
deve participar. Porém isso não significa nem pode ser confundido com direito de tomar decisões por ou pela escola. Cada uma dessas duas instituições
fundamentais tem um papel pelo qual é responsável.
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-escola.2009.
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