XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito
29 de outubro a 02 de novembro de 2012
Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista
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DANÇA NA ESCOLA: REORIENTANDO A FORMAÇÃO CONTINUADA E A
PRÁTICA PEDAGÓGICA
Flávia Dayana Almeida Noronha
SME/Goiânia
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/6844144132235010
Lívia Patrícia Fernandes
SEDUC/GOIÁS
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/0027286421036485
Rosirene Campêlo dos Santos
SEDUC/GOIÁS
UEG/GOIÁS
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/3734241386341320
RESUMO: Este trabalho é composto pelo diálogo das experiências das professoras
formadoras do curso Reorientação Curricular na Prática: Arte/Dança, realizado pelo Centro
de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte/Secretaria de Educação do Estado de Goiás, em sua
segunda edição, e de uma das professoras participante do referido curso. No transcurso
deste o enfoque principal foi compreender as concepções conceituais e procedimentais que
orientam a área de Dança no Ensino Fundamental, bem como construir sequências
didáticas para subsidiar as práticas pedagógicas cotidianas dos professores participantes.
Como resultado desta experiência têm-se os relatos destas formadoras e da professora
cursista sobre a compreensão crítica da dança, tendo a Coreologia como a principal
articuladora dos conceitos presentes nesta proposta curricular.
Palavras chaves: dança - ensino – formação
ABSTRACT: This paper is composed by a dialog between the experiences of the former
teachers from the course “Reorientação Curricular na Prática: Arte/Dança” realized by
“Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte/Secretaria de Educação do Estado de Goiás”
in its second edition, and a participant teacher. The course focus was to understand the
conceptual conceptions and procedures that orients the subject Dance in the Elementary
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School, by building didactics sequences to give assistance the participants in their daily
pedagogical practices. As results from this experience we have relays from the former
teachers and from the participant teacher, about the critic comprehension of the dance, being
the Choreology the main theme of the curricular proposes.
Key words: dance – education - formation
Introdução:
O curso Reorientação Curricular1 na Prática: Arte/Dança, promovido pelo
Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte / Secretaria de Educação do Estado
de Goiás2, em sua segunda edição, foi realizado durante o período de fevereiro a
junho de 2011 na cidade de Goiânia / GO. Foi elaborado para tratar: Conceitos sobre o
ensino de Dança de acordo com as Orientações Curriculares do Estado de Goiás;
Apresentação e discussão de uma das Sequências Didáticas de Dança construídas
pela equipe de dança do Centro de estudo e Pesquisa Ciranda da Arte;
Entendimento da estrutura de elaboração das Sequências Didáticas; Construção de
uma Sequência Didática – por professor ou em grupo – para o Ensino Fundamental.
A partir desta ementa a estrutura e funcionamento do curso foi organizada
em atividades presenciais e atividades complementares. Sendo estas últimas
destinadas a visitações em espaços culturais para apreciação de produções em
dança (mostras, festivais, espetáculos e outros).
O
desenvolvimento
deste
processo
de
formação
continuada
foi
compreendido pela relação entre a realidade da dança na escola e as possibilidades
de intervenção na prática pedagógica em dança. Por isso se traz aqui um relato de
1
O Governo Estadual, por meio da Secretaria de Estado da Educação, iniciou em 2004 o processo de
Reorientação Curricular com a ampliação do Ensino Fundamental para 9 anos e com um amplo debate sobre o
currículo em todas as áreas do conhecimento, resultando na produção das Matrizes Curriculares do 1º ao 9º ano
que ora apresentamos como principal referencial teórico do curso em questão.
2
Centro de Estudo e Pesquisa “Ciranda da Arte”, unidade da SEDUC que agrega professores em grupos de
estudos de formação continuada em todo o Estado de Goiás, nas linguagens artísticas: artes visuais, dança,
música e teatro.
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como o mesmo contribuiu com as experiências das professoras formadoras do curso
e de uma professora cursista, buscando ressaltar a importância da dança na escola,
as dificuldades, as experiências desenvolvidas e discutir algumas possibilidades
para uma práxis pedagógica comprometida com a formação de sujeitos
problematizadores de sua realidade e conscientes de sua função social.
Assim, apresenta-se a sequência didática “brasileiro pé de samba” como
possibilidade pedagógica que orienta a reflexão sobre a valorização da contribuição
do povo africano para a vida brasileira e a necessidade de superação de atitudes de
racismo e preconceito étnico racial.
O ensino de dança e as experiências no curso de Reorientação Curricular na
Prática: Arte-Dança
Compreender o ensino da dança no contexto escolar, nestes últimos anos
tornou - se para o professor de dança, pensar e repensar este conteúdo dentro de
uma educação crítica. Existe hoje uma ampliação dos conceitos e uma procura por
Dança, onde se faz necessário e importante uma reflexão crítica no que concerne o
ensino desta prática na escola em que devem ser levados em consideração os
processos artístico-pedagógicos.
Desta maneira, a prática pedagógica desenvolvida na escola deve
oportunizar aos educandos a compreenderem e praticarem a dança, a partir de
linguagens e estéticas diversificas, bem como estimular vivências corporais
significativas.
Referente
à
dança
no
contexto
educacional
as
experiências
desenvolvidas foram subsidiadas pela a proposta de Rudolf Laban. Segundo Laban
(1987) a dança, na educação tem por objetivo ajudar o ser humano a achar uma
relação corporal com a totalidade da existência, por isso, na escola, não se deve
procurar a perfeição ou a criação e execução de danças sensacionais, mas o efeito
benéfico que a atividade criativa da dança tem sobre o aluno. Devem-se estimular as
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faculdades naturais de expressão e introduzir o aluno no mundo do fluxo do
movimento, pois,
... a arte do movimento, além de desenvolver as formas individuais e
coletivas de expressão, de criatividade, de espontaneidade, concentração,
auto-disciplina, e promover uma completa interação do indivíduo e um
melhor relacionamento entre os homens (ARRUDA, 1988, p.15).
Portanto, verifica-se que o ensino da dança possui uma diversidade de
elementos a serem desenvolvidos não somente dentro da escola, mas, como sugeri
Arruda (1988) “é importante introduzir a arte do movimento no currículo escolar, nas
creches, fábricas, ruas e bibliotecas”. Ou seja, nos diversos lugares para os
diferentes tipos de pessoas de forma que todos possam vivenciar e experienciar a
dança, sentir seu corpo e expressar a emoção, o pensamento, o sentimento e seu
universo.
Neste sentido, o Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte por meio
do Curso de Reorientação Curricular na Prática: Arte-Dança, propôs como objetivos
para o referido curso: Compreender as concepções conceituais e procedimentais
das Orientações Curriculares para área de Dança do 1° ao 9° ano; Apresentar e
discutir a estrutura da Sequência Didática de Dança; Socializar uma das Sequências
Didáticas elaboradas pela equipe de dança do Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda
da Arte; Apresentar as Sequências Didáticas desenvolvidas pelos professores
cursistas, subsidiando a sistematização de sua prática pedagógica3.
Assim, durante as atividades presenciais deste curso buscou-se
compreender as concepções conceituais e procedimentais das orientações
curriculares gerais da proposta curricular do 1º ao 9º ano e da área de dança, bem
3
A partir da proposta metodológica para o ensino de dança contida no texto - Arte: um currículo voltado para a
diversidade cultural e formação de identidades In: GOIÁS. Secretaria de Educação – SEDUC. Currículo em
debate: Matrizes curriculares. Caderno 5. Goiânia: SEDUC, 2009.
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como, realizou-se a apresentação e discussão da estrutura da sequência didática de
dança, explorando o preenchimento em grupos de fichas de orientação e roteiro. Foi
também apreciada e discutida a sequência didática do 9º ano elaborada pela equipe
de dança do Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte.
Dentre as ações procedimentais no curso que muito chamou a atenção
dos professores foi à apreciação de vídeos selecionados. Para os professores o
momento de compreender criticamente a dança a partir da exibição de curtos
trechos de vídeos foi de fundamental importância, pois, possibilitou ampliação de
seus olhares e revisão de seus conceitos em relação à dança e do ensino de dança
na escola.
No decorrer das vivências, o foco principal foi aproximar o professor da
compreensão dos conceitos de dança apresentados no referencial teórico em seu
próprio corpo, a partir de jogos corporais por meio da improvisação, composição
coreográfica e repertorio, problematizando e compreendendo as diferentes
dimensões sejam elas: sociais, perceptivas, emocionais, expressivas, políticas entre
outras.
No momento da escrita da sequência didática foi retomada a ficha roteiro
iniciada anteriormente e os professores cursistas mediante suas escolhas, buscaram
elaborar, pesquisar e escrever sua sequência didática, individualmente ou em
duplas.
A avaliação geral do processo do curso de reorientação foi realizada em
etapa final na qual cada professor cursista além de registrar suas impressões,
apontamentos e sugestões por escrito, também dialogou com o grupo.
Dessa forma, observou-se a necessidade de possibilitar ao professor e
professora de dança discussões, reflexões e vivências significativas em dança que
permitam visualizar o potencial entre as relações da arte, educação e sociedade.
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Mediante a proposta, as experiências desenvolvidas, os relatos dos
professores das redes estadual e municipal, bem como das próprias professoras
formadoras, foi possível constatar que se por um lado o ensino de dança na escola é
uma possibilidade, por outro ele ainda sofre uma série de restrições. Dentre elas foi
observada a dificuldade de se trabalhar a dança na escola devido ao seu contexto
histórico, no qual durante séculos o corpo e a arte foram negligenciados, devido a
forte influência do dualismo corpo-mente. Nota-se que a dança é desconhecida para
a escola e “assusta” a educação tradicional, que ainda hoje se encontra inserida nos
diversos contextos educacionais.
Uma das principais dificuldades está relacionada com o conceito
equivocado que os coordenadores pedagógicos, diretores e os próprios alunos têm
a respeito do ensino da dança. Ao entenderem que este se refere apenas a
elaboração de coreografias para as datas comemorativas, ou ao ensino de
coreografias prontas e também o trabalho das danças da mídia entre outras.
Referente a estas possibilidades e dificuldades com o trato da dança na
escola alguns pontos podem ser ressaltados entorno desta temática. Os pontos
positivos foram: valorização do ensino da dança na escola; oportunidade de estar
oferecendo a dança no currículo; discussões junto aos alunos sobre as diversas
possibilidades do ensino da dança, a partir do contextualizar, produzir e
compreender criticamente a dança como uma linguagem artística e formação de
público/plateia participativa; compreensão crítica de produções em dança, por
exemplo, de uma apresentação ou um filme de dança.
As dificuldades encontradas na escola foram: não reconhecimento e
apoio da comunidade escolar para com o professor de dança, na maioria das
situações não são avisados de reuniões, eventos e conselhos de classe; ausência
de um lugar adequado e limpo – espaço físico – onde as aulas possam acontecer
com qualidade e com materiais apropriados; falta interesse, compromisso,
responsabilidade e assiduidade dos alunos em estarem participando das aulas de
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dança e desestímulo por parte da comunidade escolar para incentivarem os alunos a
participarem das aulas de dança.
Frente a todas estas constatações, para que o ensino de dança na escola
seja reconhecido, é necessário romper com uma série de (pré) conceitos formados
entorno da dança que ainda hoje insistem em permanecer no imaginário dos alunos
e colegas de trabalho, bem como superar o desconhecimento da sociedade em
geral, sobre o ensino de Arte. Para tanto, precisa-se ter claro que o ensino da dança
engloba conteúdos bem mais amplos e específicos do que a reprodução de uma
dança popular ou da mídia. Para tal é essencial que nas aulas tenha momentos de
reflexão, pesquisa e desconstrução das danças existentes agindo criticamente em
função da transformação da sociedade.
Brasileiro Pé de Samba: uma possibilidade pedagógica a partir da formação
continuada
Após o estudo sobre os conceitos da matriz curricular de dança
relacionada à temática arte na escola, experimentações, em composições
individuais e coletivas, da estrutura coreológica a partir da estrela máxima de dança
proposta por Preston-Dunlop (GOIÁS, 2009, p. 47) e reflexões sobre as apreciações
artísticas, passou-se à compreensão e elaboração da sequência didática para ser
realizada com turmas do ensino fundamental.
A sequência elaborada4 no referido curso traz como tema o Samba. O
estudo sobre a dança samba apareceu como demanda dos alunos e alunas do 5º
ano da escola Municipal Paulo Teixeira de Mendonça e dos alunos e alunas da
turma especial da Associação Pestallozzi de Goiânia. Foi realizado durante o curso
um momento de levantamento de tipos de danças vivenciadas em seus cotidianos.
Os alunos demonstraram interesse por esta modalidade de dança, uma vez que a
4
Esta proposta teve a participação da professora Vanessa Priscila Barros Rosa, professora da Rede Estadual de
Educação de Goiás.
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reconheciam em suas atividades de lazer e comemorativas, identificando
principalmente o samba apresentado em escolas de samba durante o carnaval.
Após este diagnóstico, foi pensado qual conhecimento em dança poderia
ser desenvolvido com o estudo do samba e concluiu-se que o trabalho seria com os
conceitos corpo dançante5 e movimento6 e dentro deste com as partes do corpo
(com destaque para pés e quadris) e a dinâmica - tempo enquanto diferentes
possibilidades de gradação conforme o tipo de samba.
Estes componentes foram relacionados à compreensão de que a cultura
do samba está impressa em nossa vida como uma herança de nossos ancestrais
africanos. Caracterizando-se como uma expressão negra no conjunto das
manifestações populares existentes em nosso país. Trazendo para esta discussão o
eixo temático Identidade, como componente curricular do 5º ano do ensino
fundamental, proposto pela Matriz Curricular em Dança. Cabendo aqui o
entendimento de como se desenvolveria o arcabouço conceitual da dança samba
relacionada à temática Identidade.
Assim, pode-se dizer que a presença marcante do samba na vida de
nossos educandos e educandas, seja nas “rodas de samba”, nas comemorações em
família,
nos
cultos
religiosos
ou
em
programas
televisivos
pode
estar
descontextualizada de suas raízes étnicas. O que leva a pretensão de tratar com
criticidade tal temática buscando ampliar o referencial crítico e corporal de nossos
alunos e alunas, tendo-os como intérpretes-criadores, capazes de ler a realidade,
gestualizando seu repertório pessoal de forma crítica e criativa.
Acredita-se que o samba cria um elo com nossa ancestralidade, história e
corporeidade, tão necessário ao debate e reflexão sobre o processo de construção
5
Na Dança, o movimento é feito principalmente pelo corpo dançante capaz de interpretar, criar e transformar o
movimento por meio de sentimentos, ideias, uso da técnica, experiências e histórias de vida (GOIÁS, 2009, p.
49).
6
Este conceito se subdivide em: partes do corpo, ações, espaço, dinâmica e relacionamento (IDEM, p. 47).
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das identidades culturais. Entendendo com isto que, “... a moldagem e a
remoldagem de relações espaço-tempo no interior de diferentes sistemas de
representação têm efeitos profundos sobre a forma como as identidades são
localizadas e representadas” (HALL, 2006:71).
Tendo em mente que “... as identidades estão sujeitas ao plano da
história, da política, da representação e da diferença e, assim, é improvável que elas
sejam unitárias ou ‘puras’” (HALL, 2006:87). Neste sentido, para além de acreditar
que tudo que acontece em nosso país nos identifica intencionou-se questionar,
debater e propor situações que façam refletir a que ponto se constrói a identidade,
tanto pessoal quanto sociocultural e quais as problemáticas que se criam a partir da
visão afrodescendente de existir.
Desta maneira, “Dançar, compreender, apreciar e contextualizar danças
de diversas origens culturais pode ser uma maneira de trabalharmos e discutirmos
preconceitos” (MARQUES, 2003: 40), sejam eles de gênero, etnia, classe social ou
grupo religioso.
Assim, foi considerado importante trilhar com os alunos e alunas este
universo que compõe o Samba e que se apresenta como uma dança carregada de
trejeitos herdados da corporeidade africana para então se pensar sobre a
valorização da contribuição do povo africano para a vida brasileira e a necessidade
de superação de atitudes de racismo e preconceito étnico racial.
A lógica proposta para a sequência didática foi tomar como expectativas
de aprendizagem: a percepção do samba como herança cultural afro descendente,
colocando sentido àquilo com o que se identifica de forma a superar modismos e
preconceitos; a contextualização do samba em seus aspectos históricos, gestuais,
rítmicos e organizacionais estabelecendo os elos conceituais necessários à
construção da identidade sócio-cultural; e a vivência e produção, com autonomia, de
formas de dançar, tendo como referência a gestualidade do samba, ampliando seu
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repertório quanto aos conceitos Corpo Dançante e Movimento, em específico nas
partes do corpo e na dinâmica tempo.
Desta maneira desenvolveu-se 15 intervenções no transcurso de três
meses, de setembro a novembro de 2011. Foi possível pontuar nesta experiência o
reconhecimento da participação negra africana e afrodescendente na cultura que
nos rodeia, levantar questionamentos dos porquês dos tratamentos preconceituosos
e discriminatórios em relação às pessoas negras e como podemos superar tais
atitudes. É claro que este é um processo que demanda envolvimento, insistência e
ação política. Não será com uma única experiência que os envolvidos passarão a
agir de forma diferente, contudo, inicia-se um processo de reflexão para ser
continuado ao longo da vida.
Diante disto, conclui-se que o curso de Reorientação Curricular na
Prática: Arte-Dança contribuiu de maneira significativa à prática pedagógica, uma
vez que possibilitou o contato com outros pares (professores que atuam em escolas
especificamente com dança) e produções em dança. Estimulou à reflexão sobre as
possibilidades da dança na escola.
A realização das vivências propostas nos encontros foi significativa para o
enriquecimento de repertório, bem como o incentivo à participação em eventos
artísticos, os quais proporcionaram além de momentos prazerosos, a percepção de
um quadro simplificado da realidade artística em dança de Goiânia/GO e outros
Estados, tanto de produções quanto de público, o que até então passava
despercebido.
A elaboração da sequência didática foi um ganho ao pensar a prática,
levando a considerações sobre os limites e potencialidades da dança como
conhecimento. As sugestões de literatura, dentre textos, artigos e livros foram
salutares para esta reflexão, assim como as indicações audiovisuais propostas.
Assim, o saldo positivo do curso vai para além da propositura de uma sequência
didática, vislumbra a continuidade de pesquisa e estudos em Dança.
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Algumas Considerações:
O curso de Reorientação Curricular na Prática: Arte-Dança, estruturado a
partir de momentos teórico-práticos e compreensão crítica de espetáculos de dança,
bem como o momento final de escrita, pesquisa, elaboração e apresentações das
sequências didáticas se justifica por entender a relevância da formação do
professor, uma vez que a dança enquanto um processo educativo e formativo busca
evidenciar a formação crítica e estética.
Desta maneira e diante do desafio de ampliar, qualificar e auxiliar o
professor em sua prática pedagógica, perante as problemáticas enfrentadas em seu
cotidiano escolar, buscou-se instigar os cursistas a pensar, refletir e ressignificar sua
práxis pedagógica e desta forma o ensino de dança na escola dentro de uma
proposta crítica. Acredita-se que isto se deu a partir das discussões, diálogos,
dúvidas,
esclarecimentos,
vivências,
trabalhos
em
grupos,
organização
e
preenchimento da ficha roteiro para construção das sequências didáticas.
Neste sentido entende-se que contextualizar e compreender criticamente
os conteúdos da área de conhecimento da dança é permitir práticas pedagógicas
inovadoras. Levando o aluno a refletir sobre as diversas práticas corporais, bem
como a influência da mídia ditando o tipo de dança a ser dançada por todos, pensar
sobre sua individualidade e sua comunicação com outros corpos e culturas
diferentes, como também emitir opinião do contexto que está inserido, percebendo
as várias relações possíveis entre elas. Trazendo para o ensino de dança é possível
perceber que esta área de conhecimento pode contribuir de maneira significativa
com o pensar, vivenciar e aprender sobre os saberes estéticos e culturais presentes
em nossa sociedade.
Por fim, acredita-se que tratar o ensino de dança de forma comprometida
com uma educação crítica, seja um dos recursos necessários a nossa prática
pedagógica, com vistas à formação de sujeitos problematizadores críticos e criativos
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em sua realidade com consciência e comprometimento da sua função social e
transformadora.
Referências:
ARRUDA, Solange. Arte do Movimento: as descobertas de Rudolf Laban na dança e
ação humana. São Paulo: Parma, 1988.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva,
Guaraciara Lopes Louro. 11. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
LABAN, R. Dança Educativa Moderna. São Paulo: Iconi, 1978.
MARQUES, I. Ensino da Dança Hoje: Textos e Contextos. São Paulo: Cortez Editora,
1999.
___________. Dançando da Escola. São Paulo: Cortez, 2003.
___________. Linguagem da dança: arte e ensino. 1ª. Ed. – São Paulo: Digitexto, 2010.
RENGEL, L. Dicionário Laban. São Paulo: Anablume, 2003.
RENGEL, L. Os temas de movimento de Rudolf Laban. SP: Annablume, 2008.
SEE – Secretaria de Educação. Currículo em debate: Matrizes Curriculares. Caderno 5.
Goiânia: SEE – GO, 2009.
SILVA, Eliane Rodrigues. Dança e Pós-Modernidade. Salvador: EDUFBA,
Flávia Dayana Almeida Noronha
Licenciatura em Educação Física - FEF/UFG. Especialista em Educação Física Escolar FEF/UFG. Mestranda em Educação Física – FE/ UFG. Membro do Grupo de Extensão
Coletivo 22 – FEF/UFG. Membro do (Ve) LHACO – Laboratório de História e Artes do Corpo
– FEF/UFG. Professora da Rede Municipal de Educação de Goiânia. Orientadora
Acadêmica – UAB – FEF/UFG.
Lívia Patrícia Fernandes
Licenciatura em Educação Física pela FEF/UFG. Graduada em Fisioterapia pela
ESEFFEGO/UEG. Especialista em Pedagogias da Dança pelo CEAFI/PUC-Goiás.
Graduanda em Dança pela FEF/UFG. Professora de dança do Centro de Estudo e Pesquisa
Ciranda da Arte-SEDUC/GO e do Colégio Estadual Pré Universitário.
Rosirene Campêlo dos Santos
Licenciatura em Educação Física pela FEF/UFG. Especialista em Pedagógias da Dança
pelo CEAFI/PUC-Goiás, Educação Física Escolar pela FEF/UFG e Treinamento Desportivo
pela ESEFFEGO/UEG/. Mestranda em Educação Física - UNB. Professora da Universidade
Estadual de Goiás, Unidade ESEFFEGO/Goiânia. Professora de Dança do Centro de
Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte.
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