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PRODUÇÃO DE COURO COM BAIXO TEOR DE CROMO EM CALÇADO
INFANTIL: UMA ALTERNATI VAVIÁVEL E SUSTENTÁVEL
BENEDETTI, Paulo Fernando Agel 1
CARLONI, Alessandro Ramos 2
RESUMO
Atualmente existe forte apelo mundial pela sustentabilidade, visando uma melhoria
significativa ao ambiente. Surgem em vários países europeus, a oportunidade e a
necessidade de novos produtos sustentáveis. Neste contexto abre se uma lacuna ao
setor coureiro calçadista. O presente trabalho tem como objetivo identificar a
viabilidade da produção e utilização de couros com baixo teor de cromo em calçados
infantis. Utilizando um curtimento alternativo com um produto elaborado com mistura
de polialdeídos alifáticos, hidrocarbonetos hidroxilados de alto peso molecular e livre
de solventes. Para tanto, foi utilizado a abordagem quali-quantitativa a partir de
pesquisa teórica, dados secundários, analise experimental que resultou em um
estudo de caso, realizado em indústria química, de curtimento e calçados. O estudo
demonstra que hoje, os custos deste tipo de curtimento ainda são altos quando
comparados com o convencional, devido a pouca demanda de mercado, porém, se
as empresas curtidoras brasileiras fizerem um trabalho comercial diferenciado Gserá
de crescimento na demanda e aumento da escala de produtos químicos,
consequentemente diminuindo os custos de produção. Portanto, podemos concluir
que apesar do custo ser alto, é viável produzir couros curtidos com processos
alternativos, pois existem mercados a serem explorados, onde o meio ambiente e a
sustentabilidade são temas de suma importância.
Palavras–chave: Teor de cromo. Calçado infantil. Sustentabilidade. Viabilidade.
ABSTRACT
Currently there is strong global appeal for sustainability, targeting a significant
environmental improvement. Arise in several European countries, the opportunity
and the need for new sustainable products. In this context opens up a gap to the
leather footwear sector. This study aims to identify the feasibility of the production
and use of leathers with low content of chromium in children's shoes. Using an
alternative tanning product prepared with a mixture of aliphatic polyaldehydes,
hydroxy hydrocarbons of high molecular weight and solvent-free. For both the
qualitative and quantitative approach from theoretical research, secondary data,
1
Graduado em Tecnologia de Gestão da Produção Industrial, pela FATEC – Faculdade de
Tecnologia de Franca-SP. E-mail: [email protected].
2
Mestre em Desenvolvimento Regional pela Uni-FACEF, Especialista em Controladoria e Finanças e
em Políticas Estratégicas, Engenheiro de Produção e Docente do Curso de Gestão da Produção
Industrial
da
FATEC
–
Faculdade
de
Tecnologia
de
Franca-SP.
E-mail:
[email protected].
http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista
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experimental analysis that resulted in a case study conducted in the chemical
industry, tanning and footwear was used. The study shows that today the costs of
this type of tanning are still high when compared with conventional, due to low
market demand, however, whether Brazilian companies do curtidoras a differentiated
commercial work Gserá growth in demand and increased scale of chemicals, thus
reducing production costs. Therefore, we conclude that despite the cost to be high, it
is feasible to produce leathers tanned with alternative processes, because there are
markets to be explored, where the environment and sustainability issues are of
paramount
importance.
Keywords: chromium content. Children's shoes. Sustainability. Viability.
INTRODUÇÃO
Atualmente,
o
mundo
vem
passando
por
inúmeras
transformações
ambientais, devido alguns alertas vermelhos ocasionados pelas agressões ao meio
ambiente, oriundos do crescimento desenfreado e desorganizado da economia de
diversos países, gerando um alto índice de emissão de poluentes na atmosfera.
Segundo Gutterrez (2008), o crescimento rápido da população humana no
ultimo século é motivo de desequilíbrios no meio ambiente. O impacto ambiental da
civilização humana depende das necessidades e dos anseios da população (padrão
de vida) e da eficiência com que as necessidades podem ser supridas, pois cada
indivíduo tem as suas necessidades de proteção e de se alimentar. Assim, a maioria
dos produtos manufaturados resultam em impactos ambientais.
A indústria curtidora de peles e couros gera uma carga altíssima de
poluentes, pois durante os seus processos obtém se resíduos sólidos, líquidos e
gasosos proveniente dos produtos químicos utilizados.
Para Moreira (2003), a descoberta do metal cromo como curtente é atribuída
ao alemão Knapp em 1858, mas somente em 1884 em escala industrial, por Schultz.
O sulfato de cromo por ser um produto de fácil acesso e de custo baixo é o
curtentemais utilizado, apesar de gerar uma carga altíssima de poluente e ser um
dos mais poluentes da cadeia coureira.
O objetivo do presente trabalho é mostrar a viabilidade da produção e
utilização de couros com baixíssimo teor de cromo em calçados infantis.
Na Comunidade Européia, o curtimento alternativo vem sendo alvo das
indústrias
pelo
fator
da
sustentabilidade.
Principalmente
pelas
empresas
automotivas e de calçados infantis, pois as crianças começam a se descobrir
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colocando os pés e os calçados na boca, desta forma em contato com os produtos
químicos que compõem o couro.
Nesses países, há uma lista de produtos restritivos e proibitivos, pois em
contato constante com a pele do ser humano pode causar câncer. Coma onda da
sustentabilidade, surgiram e vem sendo testados alguns curtimentos alternativos.
Estetrabalho apresenta um curtimento alternativo elaborado com mistura de
polialdeídos alifáticos, hidrocarbonetos hidroxilados de alto peso molecular e livre de
solventes.Segundo dados da TFL (Together for Leather) (2014), este curtimento
alternativo é um dos processos mais ecologicamente corretos, pois a sua carga
poluente é baixíssima e os resíduos podem ser utilizados como composto de
fertilizantes.
O método de pesquisa foi por meio de uma abordagem quali-quantitativa,
utilizando-se de pesquisas descritivas, revisões teóricas, diagnóstico de dados
secundários; análise experimental com testes em laboratórios com material oriundo
de empresas do setor coureiro-calçadista; e estudo de caso in loco nas seguintes
empresas: Treat, TFL, Toke e Mielino.
1. CONCEITO HISTÓRICO DO COURO E CURTIMENTO
Segundo Caetano (2010), em tempos mais antigos o homem utilizava peles
de animais para se proteger das condições climáticas e, principalmente os pés da
agressividade dos solos. Os povos antigos logo descobriram que as peles dos
animais sem qualquer tratamento se danificavam apodrecendo e adquirindo um
cheiro horrível.
O curtimento consiste na transformação das peles em material estável e
imputrescível, através de processos de ribeira como: pré-remolho, pré-descarne,
remolho, descarne,depilação, caleiro, divisão, desencalagem, purga e píquel; desta
forma transformando as peles em couros.Portanto Couro é o material já curtido do
animal (CUSTÓDIO NETO, 2009).
De acordo com Hoinacki(1989), pele é o “revestimento externo, resistente e
elástico, que envolve o corpo dos animais e que apresenta várias funções
fisiológicas”.As funções fisiológicas da pele são de grande importância; pois uma
das principais funções é a de regular e manter constante a temperatura do corpo
que envolve.
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Segundo Moreira(2003), a descoberta do metal cromo como curtente é
atribuída ao alemão Knapp em 1858, porém em escala industrial, ocorreu somente
em 1884, por Schultz. O curtimento era realizado em dois banhos: o primeiro com
uma solução ácida de bicromato de sódio e o segundo com uma solução de
tiossulfato de sódio para fazer a redução do cromo. Esse tipo de curtimento exige a
redução do cromo hexavalente (bicromato) a sais de cromo trivalente (cloreto ou
sulfato), uma vez que só os sais de cromo trivalente têm poder curtente.
2. PRODUÇÃO DE CALÇADOS INFANTIL
De acordo com o SIBI - Sindicato das Indústrias do Calçado e do Vestuário de
Birigui (2013), a cidade de Birigui é a Capital Brasileira do Calçado Infantil. De
acordo com o Censo de 2010, possui uma população estimada em 108.722
habitantes. Em 2012, suas empresas geraram 21.986 empregos diretos e
produziram 244.250 pares de calçados por dia, o que gerou uma produção anual de
59,108 milhões de pares.
Custos, de acordo com Berti (2006), é o conjunto de bens e serviços,
empregados na produção de outros bens e serviços. Esse consumo é representado
pela entrega ou promessa de entrega de ativos.
Custos são gastos que a entidade realiza com o objetivo de por o seu produto
final para ser comercializado, fabricando ou revendendo, ou de cumprir com o seu
serviço contratado. Uma diferença básica para a despesa é que custo traz um
retorno financeiro e pertence à atividade-final, pela qual a empresa foi criada
(determinada no seu Contrato Social, na cláusula do Objeto). Já despesa é um gasto
com a atividade-meio e não gera retorno financeiro, apenas propicia certo conforto
ou funcionalidade ao ambiente sócio político econômico.
A razão para se classificar os gastos de uma empresa em despesas e custos
é que o primeiro vai direto para o resultado do período, e o segundo irá gerar um
estoque (na produção de um determinado bem) e, na sua realização (venda), será
finalmente levados ao resultado, o que poderá levar meses ou até anos.
Custos industriais geralmente são: matéria prima, energia consumida
(eletricidade e/ou combustíveis), água consumida, materiais industriais diversos,
mão de obra, depreciação dos itens imobilizados de produção, entre outros.
Segundo Lopes de Sá (1990) diz que o custeio variável é "o processo de
apuração de custo que exclui os custos fixos".
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Custeio por absorção (ou integral), é o sistema que apura o valor dos custos
dos bens ou serviços, tomando como base todos os custos da produção incluindo os
custos diretos, indiretos, fixos e variáveis. Conforme Meglioni (2001):
o custeio por absorção é o método que consiste em atribuir aos
produtos fabricados todos os custos de produção, quer de forma
direta ou indireta. Assim todos os custos, sejam eles fixos ou
variáveis, são absorvidos pelos produtos.
Custo-padrão:são custos predeterminados, porém, diferentemente dos custos
estimados, são calculados com base em parâmetros operacionais, e utilizados em
operações repetitivas de produção, onde não compensaria calcular o custo individual
de cada repetição.
Custeio ABC: a alocação dos custos indiretos são baseadas nas atividades
relacionadas.
GECON ou modelo Gestão Econômica:é um modelo de mensuração de
custos baseado em gestão por resultados econômicos. Também conhecido por Grid
Economics and Business Models Work (MEGLIONI, 2001).
Quanto ao método de apuração dos custos, Freitas (2007)dispõe que podem
ser:
- Custos Fixos: são os custos que, embora tenham um valor total que não se
altera com a variação da quantidade de bens ou serviços produzidos, seu valor
unitário se altera de forma inversamente proporcional à alteração da quantidade
produzida. Como exemplo, o pagamento de aluguel;
- Custos Variáveis: são os custos que, em bases unitárias possuem um valor
que não se altera com alterações nas quantidades produzidas, porém, cujos valores
totais variam em relação direta com a variação das quantidades produzidas. Como
exemplo a matéria prima;
- Custos totais: é a soma de custos variáveis mais custos fixos, representado
pela fórmula CT=CF+CV;
- Custos Diretos: são os custos suscetíveis de serem identificados com os
bens ou serviços resultantes, ou seja, têm parcelas definidas apropriadas a cada
unidade ou lote produzidas. Geralmente são representados por mão-de-obra direta e
pelas matérias primas;
- Custos indiretos: todos os outros custos que dependem da adoção de algum
critério de rateio para sua atribuição à produção. No jargão da contabilidade
brasileira eles são chamados de CIF, de Custos Indiretos de Fabricação;
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- Custo Marginal: conceito de custo ligado à Economia que significa a parcela
de acréscimo no custo total por cada unidade adicional produzida;
- Custo de Qualidade: são os custos ligados ao controle de qualidade na
produção,logística de um produto ou serviço. Os custos da qualidade podem ser
divididos em quatro grupos: 1. custos de prevenção, 2. custos de inspeção, 3. custos
de falhas internas, 4. custos de falhas externas.;
- Custos ambientais: são apenas um subconjunto de um universo mais vasto
de custos necessários a uma adequada tomada de decisões. Eles não são custos
distintos, mas fazem parte de um sistema integrado de fluxos materiais e monetários
que percorrem a empresa. Para o cálculo dos custos ambientais totais da empresa
soma-se o custo dos materiais desperdiçados, despesas de manutenção e de
depreciação e do trabalho com os custos de salvaguarda ambiental;
- Custos Ocultos: os custos ocultos são gastos referentes à atividade de
produção, no qual sua principal característica é ser de difícil mensuração, ou seja, os
custos ocultos não podem ser reconhecidos facilmente ou atribuídos a um
determinado processo produtivo onde são gerados. Além disso, estes custos são
numerosos e muito mais altos que o esperado pela maioria dos departamentos de
contabilidade.
O sistema de custeio é importante para se avaliar a viabilidade econômica do
projeto, considerando-se os diversos fatores presentes ao longo do processo, assim
como os produtos proibidos e perigosos que podem estar presentes.
3. PRODUTOS PROIBIDOS E PERIGOSOS EM COURO
São vários os produtos utilizados para o curtimento do couro e que são
maléficos ao meio ambiente, e as exigências ambientais e toxicológicas estão se
tornando cada vez mais importantes para a comercialização de toda a variedade em
artigos de couros.
Segundo Fuck e Gutterrez (2013), o Brasil, como um dos maiores produtores
e exportadores de couros do mundo, precisa adequar se as necessidades e
exigências do mercado internacional. Desta forma torna se de grande importância a
capacitação de laboratórios nacionais para a emissão de certificados de
conformidade referente a produtos restritos.
Nos países europeus, é necessário respeitar as leis relativas à proteção ao
meio ambiente, e às normas especificas a bens de consumo que visam salvaguardar
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a saúde dos consumidores de artigos de couro. Segundo tais normas, válidas há
alguns anos no mercado mundial, os artigos, de acordo com sua determinação
quanto ao uso, não devem conter determinadas substâncias químicas consideradas
nocivas acima de certos limites.
De acordo com Fink (2007), Fuck e Gutterrez (2013) e Gutterrez (2008), a
lista de substâncias químicas restritas para artigos de vestuário e calçado inclui:
corantes azóicos, cromo hexavalente, pentaclorofenol, cádmio, formaldeído, e
também podendo valer para o chumbo, o níquel (contato) benzeno, pesticida e
herbicidas. Alguns dos principais riscos existentes em couros são:
- Cromo Hexavalente: a presença de cromo hexavalente pode ser devida à
baixa qualidade dos agentes curtentes utilizados e/ou condições inadequadas de
processamento. Através do processamento adequado, é possível evitar a formação
de Cr+6 emcouros curtidos.O método padrão internacional de detecção é o EN ISO
TS17075: 2007 e o nível máximo permitido é 3ppm.Na Alemanha, os produtos de
couro devem ser isentos de Cr+6.Na espécie humana, o Cr+6 possui toxicidade
muito superior a doCr+3, usado na rotina dos curtumes produtores de couro wetblue. A forma hexavalente possui maior facilidade à penetração de membranas,
determinando ações tóxicas à pele e ao trato respiratório, principalmente pulmões e
tem potencial carcinogênico;
- Formaldeído: nos últimos 100 anos, o formaldeído tem sido um produto
muito usado na indústria do couro nas etapas de curtimento, recurtimento e
acabamento.Na produção de couro, o formaldeído pode ser classificado em três
grupos: 1) Formol, tal e qual com pré-curtente e como reticulante (de caseínas); 2)
Versões diluídas de formol usadas como preservastes de produtos de recurtimento e
acabamento; 3) Produção de sintanos e resínicos de curtimento/recurtimento.Desde
a década de 50, atenta se para os altos riscos a saúde e a segurança devido à
exposição direta ao formaldeído. A crescente redução no conteúdo de formaldeído
livre em produtos finais teve início no setor automotivo e é agora adotada por
fabricantes de calçado e vestuário. Em materiais de couro, o formaldeído é usado
como estabilizador (preventivo), como conservante antes do curtimento, em précurtimento para obter wet-white, em matérias-primas básicas na síntese dos taninos
sintéticos e em acabamento com algum tipo de resina.Contudo, é possível que
permaneça como impureza no produto final;
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-Pentaclorofenol: a aplicação de Pentaclorofenol (PCP),foi limitada pela
Diretiva Européia1991/173/CE devido à sua ação cancerígena em concentração
superior a 0,1% (1000 PPM) em massa para qualquer produto, substância ou em
preparados comercializados. Na Alemanha, seu uso é restringido a 5ppm, no
máximo. No couro, é usado como conservante nos processos de píquel, curtimento
ao cromo, curtimento vegetal e acabamento de couro. Cresce a procura e
desenvolvimento por substitutos dos derivados fenólicos como fungicidas;
- Sulfonatos de Perfluoroctano: o comércio e uso de PFOs é restrito pelo
Parlamento Europeu desde o início de 2007, visando evitar riscos à saúde e ao meio
ambiente. A concentração máxima em produtos químicos é de 0,005% (50 ppm)e
em produtos ou artigos semi-acabados é de 0,1% (baseado no componente
específico contendo o produto químico) ou, no caso de têxteis, limitado a 1ppm;
-Tributilestanho (TBT): é usado como biocida para certos produtos e pode
existir como impureza para dispersões de PU. A utilização como biocida foi proibida
na Europa, limitada por clientes a valores menores que 0,025 ppm ou até mesmo
isento. Alcanos clorados: A legislação européia restringe o uso das parafinas
cloradas que contêm entre 10 e13 átomos de carbono (C10 - C13),desde julho de
2003. Estão presentes em engraxantes clorados ou sulfoclorados;
- Compostos Orgânicos Voláteis (COV): as principais fontes de compostos
orgânicos voláteis no acabamento são encontradas em produtos como solventes,
niveladores, tenso-ativos, aminas, reticulantes, tops e lacas;
- Corantes Azóicos: é o tipo de corante mais utilizado na indústria têxtil e de
couro brasileiro. Estima-se que entre 90 a 95% dos couros produzidos em todo
mundo são tingidos com corantes azóicos. Estes são caracterizados pela presença
de um ou mais grupamentos de –N=N- ligados a sistemas aromáticos e podem, sob
certas condições, se reduzir e formar aminas aromáticas carcinogênicas.
Com a implementação do decreto Europeu, no que diz respeito a corantes
azóicos (2002/61/EC), couros tingidos e materiais têxteis não devem conter
nenhuma das 24 aminas aromáticas. Os corantes azóicos afetados são aqueles que,
podem formar uma ou mais das 24 aminas aromáticas, listadas na tabela abaixo, em
níveis superiores a 30mg.kg¹ de couro(ppm) (GUTTERREZ, 2008).
A presença de produtos proibidos e perigosos é bastante crítico, podendo
inviabilizar a produção e mesmo a comercialização de produtos com alto valor
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agregado para mercados exigentes. As novas exigências de mercado impõem
condições severas rumo à sustentabilidade.
4. SUSTENTABILIDADE
De acordo com Carloni (2014), asustentabilidade garante o respeito e
compromisso com o meioambiente, os colaboradores e o mercado, proporcionando
trocas e frutos a todos osenvolvidos.
Segundo a Business for Social Responsibility (2012), uma importante
entidadeglobal sem fins lucrativos e que atua na integração da responsabilidade
social nasempresas, as pesquisas e experiências concluem que as empresas que
investem naresponsabilidade social, desfrutam de diversos benefícios, como:
- Aumento das vendas e da fatia de mercado;
- Reforço do posicionamento da marca;
- Melhoria da imagem e da influência da empresa;
- Aumento da capacidade de atrair, motivar e reter empregados;
- Redução dos custos operacionais;
- Aumento da atração para investidores e para analistas financeiros.
Carloni (2014) propôs um modelo de desenvolvimento sustentável baseado
no modelo da Figura 1:
Figura 1: Modelo Triple bottonline – desenvolvimento sustentável
Fonte: Carloni (2014, p. 34)
http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista
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Conforme o modelo da figura 1, enfatiza-se a importância do desenvolvimento
empresarial em todas as áreas, contemplando não somente um crescimento
econômico, mas também um progresso social e uma reserva ambiental, como forma
de avanço sustentável e viável.
5. ESTUDO DE CASO
5.1. HISTÓRICO DAS EMPRESAS COLABORADORAS
As empresas citadas abaixo contribuíram para este trabalho, oferecendo seu
know-howem áreas distintas, porém complementares.
A Treat Couros é uma empresa prestadora de serviços em acabamentos de
couros, fundada em 1997, a empresa está situada na cidade de Patrocínio Paulista
estado de São Paulo. Produz a partir de wet – blue, beneficiando até o produto final
acabado de acordo com as especificações desejadas de seus clientes. Produz em
torno de 5.000 metros quadrados por dia.
A TFL é uma empresa multinacional de produtos químicos, e foi fundada em
1996, quando a unidade de negócios de couro da Ciba-Geigy fundiu-se com os
departamentos de couro de Rohm e Stockhausen – ambas as empresas integrantes
do Grupo Degussa-Hüls. A matriz no Brasil está sediada na cidade de São Leopoldo
no estado do Rio Grande do Sul e possui uma filial na cidade de Franca estado de
São Paulo. Produz uma linha completa de produtos químicos especificamente para
peles e couros que atendem os processos de ribeira até o acabamento desejado.
A Toke Baby existe a 70 anos produzindo calçados infantis, mas há 17 anos
foi adquirida pelo empresário Sr. Paulo Nei Rodrigues, localizada no pólo calçadista
de Birigui - SP, produz calçados 100% em couros, cerca de 1.200 pares por dia.
Mielino é uma marca da Criart Indústria e Comércio de Calçados Ltda.,
localizada no pólo calçadista de Birigui - SP. Produz calçadospara bebês 100% em
couro ede alta qualidade, sendo cerca de 500 pares por dia da marcaMielino e 5.000
pares por dia da marcaOrtopasso, esta por sua vez que atende o público infantojuvenil.
A LABTEST é um laboratório de controle de qualidade fundado em 1990 na
cidade de Franca – SP, é comandado pelo Sr. Ivo Horácio Filho e atende clientes de
todo o Brasil.
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5.2. LEVANTAMENTOCOMPARATIVO DE CUSTOS E CONSUMO
Na tabela 1, os dados citados foram fornecidos pela empresa TFL do Brasil,
pode se observar o custo de cada processo dos curtimentos ao cromo e do
alternativo, como também dos artigos elaborados com curtimento ao cromo e com o
curtimento alternativo. Os dados foram fornecidos pela empresa TFL no dia
08/05/2013, com o câmbio do dia a R$ 2,14/U$.
Tabela 1 - Custos relacionados ao processo de curtimento
1000 KG
CUSTO TOTAL
R$/M²
DIFERENÇA EM
PERCENTUAL%
DIFERENÇA
TOTAL EM %
WET BLUE
PRÉ CURTIDO
*FORRO
WET
WHITE
*FORRO
WET
BLUE
*CABEDAL
WET
WHITE
*CABEDAL
WET BLUE
1,8783
2,2926
5,3546
1,6985
6,3589
5,1318
18,06
68,28
---
86,34
-----
19,29
-----
---
37,35
---
*nome designado ao artigo.
Fonte: Elaborado pelos Autores
Na tabela 2, os dados citados foram fornecidos pela empresa TFL do Brasil,
onde podem se observar o tempo gasto e o volume de água utilizado em cada
processo, desta forma comparando os resultados expressos em %, o tempo de
processo e o volume de água utilizado são maiores usando o curtimento alternativo.
Tabela 2 -Tempo gasto e volume de água utilizados nos processos
1000 KG
TEMPO DE
PROCESSO
DIFERENÇA
EM%
VOLUME DE
ÁGUA %
DIFERENÇA
EM %
WET BLUE
PRÉ CURTIDO
*FORRO
WET WHITE
*FORRO
WET BLUE
*CABEDAL
WET WHITE
*CABEDAL
WET BLUE
18hs25min
20hs
11hs20min
7hs 20min
09hs 40min
5hs20min
---
7,92
35,29
---
44,83
---
150
300
550
550
1070
730
---
100
00
---
31,8
---
*nome designado ao artigo
Fonte: elaborado pelos autores
5.3 RESULTADOS DOS ENSAIOS
Foram realizados dois testes físicos químicos, juntamente com a LABTEST Laboratório de Controle de Qualidade de Couros, Calçados e Componentes.
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Nas tabelas 3 e 4, o teste de tração e alongamento consiste em determinar a
força necessária para romper o couro e o seu alongamento na ruptura, através de
Máquina universal de tração e Compressão (Dinamômetro). Este ensaio é
importante para prevenir problemas de ruptura no processo de fabricação. O
resultado da tração é dado em N/mm² (carga de ruptura do corpo-de-prova em
Newtons dividido pela área do mesmo). O alongamento é expresso em percentual
(%).
Tabela 3 - Teste de tração/alongamento – NBR 11041- artigo *FORRO
AMOSTRA
ESPESSURA
*INSIDE
1,33mm
SENTIDO DO CORTE
LONGITUDINAL
TRANSVERSAL
227
195
18
16
31%
45%
FORÇA DE TRAÇÃO
N
N/mm2
ALONGAMENTO
Fonte: LABTEST (2013).
Valor orientativo mínimo:
150N
Em torno de 40%
Segundo os resultados observados na tabela 3,pode se constatar que o
ensaio possui valores muito acima do valor mínimo orientativo, no quesito tração.
Com relação ao alongamento, nota se que no corte longitudinal houve valor abaixo
do orientativo mínimo.
Tabela 4 - Teste de tração/alongamento - NBR 11041 - artigo *CABEDAL
AMOSTRA
ESPESSURA
FORÇA DE TRAÇÃO
N
N/mm2
ALONGAMENTO
Fonte: LABTEST (2013).
*ARAGON
1,33mm
SENTIDO DO CORTE
LONGITUDINAL
TRANSVERSAL
239
202
18
15
47%
47%
Valor orientativo mínimo:
150N
Em torno de 40%
Segundo os resultados observados na tabela 4, pode se constatar que o
ensaio possui valores muito acima do valor mínimo orientativo, no quesito tração e
alongamento.
Na tabela 5 e 6, o teste de rasgamento progressivo ou contínuo, consiste em
determinar a força necessária para continuar o rasgamento a partir de um corte
inicial e é importante para prevenir problemas de rasgamento a partir de cantos
vivos, perfuros ou estampas. O corpo-de-prova é submetido ao ensaio em uma
máquina universal de tração e compressão (Dinamômetro) e o resultado é expresso
em Newtons(N).
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99
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Tabela 5 - Teste de rasgamento continuo-IUP/8 – NBR 11055 - artigo *FORRO
AMOSTRA
*FORRO
Espessura
1,38mm
Carga de
Sentidos de corte
Rasgamento
Longitudinal
Transversal
N
138
150
N/mm
112
121
Fonte: LABTEST (2013).
Valores orientativos mínimos:
Calçados:
Forrado:35N
Sem Forro: 50N
Segundo os resultados observados na tabela 5, pode se constatar que o
ensaio possui valores muito acima do valor orientativomínimo no quesito rasgamento
contínuo.
Tabela 6- Teste de rasgamento continuo-IUP/8 – NBR 11055 - artigo *CABEDAL
AMOSTRA
*CABEDAL
Espessura
1,38mm
Carga de
Sentidos de corte
Rasgamento
Longitudinal
Transversal
N
105
116
N/mm
76
84
Fonte: LABTEST (2013).
Valores orientativos mínimos:
Calçados:
Forrado:35N
Sem Forro: 50N
Conforme os resultados observados na tabela 6, pode se constatar que o
resultado do ensaio possui valores muito acima do valor mínimo orientativo,
considerando o quesito de rasgamento contínuo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho permitiu avaliar a viabilidade do processo de curtimento
alternativo com baixíssimo teor de cromo, utilizando um produto químico a base de
uma mistura de polialdeídos alifáticos e hidrocarbonetos hidroxilados, pois o efluente
gerado possui uma carga sólida baixíssima, contendo baixíssimo teor de cromo e
ainda podendo ser utilizado como composto para fertilizante.
Com relação à produção, os maquinários utilizados podem ser os mesmos,
tanto para o curtimento com cromo quanto para o alternativo, porém requer uma
comissão técnica capacitada e especializada, pois necessita de maiores cuidados
com relação à limpeza contínua da área industrial e do manuseio, e requer maiores
controles diários. Com relação à temperatura dos processos, a secagem e no
acabamento são sensíveis a altas temperaturas, sendo que para a indústria
curtidora quanto para a indústria de manufatura (calçadista, automotiva, artefatos e
afins) terão que se adequar ao uso correto da temperatura nos processos industriais.
Com relação à umidade do couro, durante a exposição ao tempo perde-se
água mais rapidamente secando e ressecando as patas e as pontas dos couros,
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sendo que para se evitar este inconveniente, tem se que remolhar com água
ambiente constantemente as pilhas de couros.
Quanto aos custos de produtos químicos dos processos de curtimento e
recurtimento, ficaram em torno de 40% acima do curtimento com cromo. Com
relação aos custos de mão de obra, não foi foco deste trabalho, porém sugere-se
pesquisas futuras relacionadas à mão de obra especializada, aos custos
operacionais específicos e outras variáveis como consumo de energia elétrica e
consumo de água. Em relação à produtividade, o tempo de curtimento é 20% acima
do convencional com cromo, desta forma não se consegue produzir a mesma
quantidade em metros quadrados por dia.
Em relação ao meio ambiente, os curtimentos alternativos são uma forma de
combater e evitar a poluição nos países industrializados, pois geram efluentes com
baixo teor de carga poluente, pois os resíduos sólidos gerados com o pó da
rebaixadeira podem ser reutilizados como compostos na formulação de fertilizantes.
Assim, para reverter as perspectivas de um futuro inviável seria preciso
estabelecer novos paradigmas de eficiência e responsabilidade no uso de recursos
naturais, tais como: intensificar o uso de energias renováveis; fortalecer as políticas
para a preservação da biodiversidade; aumentar os ganhos de produtividade nos
países não desenvolvidos com transferência ou criação de novas tecnologias
ambientalmente eficientes; garantir o acesso das populações mais carentes a
serviços básicos; incrementar políticas de inovação e tecnologias relacionadas à
ecoeficiência.
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http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista
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