Artigo 02
Julho 2011
CONSUMO VOLTARÁ A SER O GRANDE DRIVER DA ECONOMIA NORTEAMERICANA NO SEGUNDO SEMESTRE?
Depois de um primeiro semestre de fraco crescimento e marcado por diversos choques, há
consenso de que a atividade econômica nos EUA voltará a se acelerar ao longo do segundo
semestre de 2011. Tais projeções se baseiam numa forte elevação do consumo privado, o
que torna de suma importância entender as forças que irão movê-lo ao longo dos próximos
meses.
O crescimento dos gastos das famílias pode ser financiado pela elevação da renda, pela
queda da taxa de poupança ou pela elevação do crédito. Dessa forma, para termos um
cenário mais claro acerca do comportamento do consumo, precisamos analisar as
perspectivas para essas três variáveis.
Quais são as Perspectivas para o Crescimento da Renda?
A massa salarial das famílias pode crescer por meio de três vetores: i) elevação do número de
pessoas empregadas; ii) elevação do salário/hora; e iii) elevação da média de horas
trabalhadas. A elevada ociosidade no mercado de trabalho não é condizente com
significativos e contínuos aumentos de salários e a média de horas trabalhadas por
empregado apresenta pequeno espaço para crescimento, quando comparada com padrões
históricos. Dessa forma, a geração de empregos terá fundamental importância para o
crescimento da massa salarial ao longo dos próximos anos.
Em 2011, foram gerados até maio, em média, cerca de 160 mil empregos ao mês, o que
historicamente é condizente com um crescimento da massa salarial da ordem de 0,3% ao
mês. Se o comportamento do mercado de trabalho se mantiver nesse passo, então teremos
geração de renda suficiente para a concretização do cenário para o segundo semestre, desde
que haja um arrefecimento da inflação (e ausência de choques externos como, por exemplo,
aumentos do preço do petróleo e commodities em geral). Entretanto, os indicadores
recentes do mercado de trabalho sinalizam desaceleração na margem (pedidos de seguro
desemprego – jobless claims – mais elevados e índices de emprego dos ISMs de manufaturas
e de serviços mais baixos quando comparados ao início do ano), gerando riscos para a
concretização de um cenário benigno de crescimento para os EUA no segundo semestre de
2011. De fato, o Payroll de junho registrou fraca geração de emprego pelo segundo mês
consecutivo, apontando uma taxa de desemprego de 9,2%. Pode ser o prenúncio de uma
nova revisão de cenário de crescimento para os EUA.
Qual será o Comportamento Futuro da Taxa de Poupança?
A taxa de poupança foi extremamente baixa nos EUA nos anos 2000 até a crise. De acordo
com GLICK e LANSING (2011) e JUSTER et al. (2004), tal movimento pode ser explicado pela
elevação dos preços dos ativos e pela disponibilidade de crédito, o que elevou
consideravelmente o padrão de consumo das famílias e as induziu a poupar menos.
A taxa de poupança passou de 6,3% da renda disponível em junho de 2010, para cerca de
5,0% em maio de 2011, o que deu um grande impulso para o consumo das famílias. Apesar
desse movimento acentuado, a taxa de poupança ainda está bem acima da que vigorou nos
anos 2000 pré-crise (Gráfico 1), mas há diversos pontos que nos levam a crer que a taxa de
poupança não retornará àquele patamar médio pré-crise. Em primeiro lugar, as famílias
continuam registrando ganhos modestos em seu patrimônio líquido em termos reais, o que
impede que elas reduzam a taxa de poupança. Além disso, as famílias continuam
apresentando elevado endividamento e há a necessidade de se desalavancarem, o que
requer taxas de poupança mais elevadas.
Gráfico 1: Taxa de Poupança
9
8
7
6
5,40
5,00
5
4
3,35
3
2
1
Taxa de Pupança
Média Anos 2000
Fonte de Dados: Bureau of Economic Analysis
Média Pós-Recessão
abr/11
out/10
abr/10
out/09
abr/09
out/08
abr/08
out/07
abr/07
out/06
abr/06
out/05
abr/05
out/04
abr/04
out/03
abr/03
out/02
abr/02
out/01
abr/01
out/00
abr/00
0
Crédito pode ser um Driver Importante para o Consumo?
Os dados de crédito ao consumidor têm apresentado dados relativamente animadores ao
longo dos últimos meses. O Senior Loan Officer Opinion Survey on Bank Lending Practices
indica que os bancos estão mais inclinados a fazer empréstimos aos consumidores e que a
demanda por empréstimos por parte dos consumidores também aumentou. Entretanto,
dado o elevado nível de endividamento das famílias, é difícil vislumbrar que um novo ciclo de
endividamento possa ser um grande vetor para o crescimento do consumo num futuro
próximo.
Conclusão
Após um fraco crescimento econômico no primeiro semestre do ano, o mercado espera uma
aceleração ao longo dos próximos dois trimestres. Tal cenário se baseia principalmente numa
forte recuperação do consumo privado. A concretização desse cenário é factível, mas
dependerá significativamente do desempenho do mercado de trabalho, já que a taxa de
poupança e o aumento do crédito provavelmente não devem ter um papel tão importante,
por conta do nível da alavancagem e da estabilidade da riqueza das famílias. Entretanto,
como o mercado de trabalho segue fraco na margem, é possível que tenhamos uma nova
rodada de revisões das expectativas de crescimento dos EUA em 2011.
Referências Bibliográficas
GLICK, R. e LANSING, K. Consumers and the Economy, Part I: Household Credit and Personal
Spending. Federal Reserve Board of San Francisco. Jan. 2011.
JUSTER, bF., LUPTON, J., SMITH, J. e STAFFORD, F. “The Decline in Household Saving and the
Wealth Effect”. Finance and Economics Discussion Series. Federal Reserve Board. 2004.
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