Texto: Thiago Melo, jornalista e assessor de imprensa
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A lusofonia representada pelo surreal e o abstrato
Artista paulistana organiza exposição inédita no Brasil e apresenta releituras
de obras raras
São Paulo recebe pela primeira vez uma exposição fotográfica com releituras de
obras clássicas da cultura lusófona. Um trabalho da artista paulistana Bruna
Grassi, "Passado Contemporâneo: releituras em obras raras" traz ao público
brasileiro representações fotográficas de raridades como a primeira edição de
Os Lusíadas, de Camões, a primeira edição impressa da Bíblia e poemas do
diplomata português Duarte Galvão (editados em livros datados antes do
descobrimento do Brasil). As obras fazem parte do acervo histórico da
Universidade de Coimbra, em Portugal, de onde também saíram outros
registros para a exposição, que está no Espaço Cultural da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, campus Perdizes até o dia 31 de outubro e
no campus Consolação do dia 04 de novembro ao dia 30 do mesmo mês.
"Quis fazer uma releitura destes registros, expressar a minha emoção diante
destas obras. Quando você estuda 'Os Lusíadas' na escola, por exemplo, não
imagina que um dia estará frente a frente com a primeira edição do livro, escrita
à mão! Por isso, quis trazer nas fotografias as minhas emoções. Apropriei-me do
abstracionismo e do surrealismo para registrar aquilo que eu estava vivendo
naquele momento", revela Bruna, que há um ano vive em Coimbra, onde estuda
mestrado em Comunicação e Jornalismo.
A ideia para a exposição surgiu com a mudança para as terras lusitanas, em
setembro de 2012. A artista diz que era sua primeira viagem à Europa e, este
não seria o único motivo, tudo foi especial. "Fiquei encantada com a luz da
cidade (Coimbra), com a história. Conheci a história do país que colonizou meu
país. Descobrir a brasilidade; foi muito bom". Do encantamento pela
Universidade de Coimbra, em especial pela biblioteca Joanina, nasceu a vontade
de registrar todos os sentimentos e as obras.
"Quando você entra nesse lugar (Biblioteca Joanina), você vê a história. Eu
fiquei completamente de boca aberta, pois ela é monstruosa. Fiquei encantada
com a arquitetura, com a iluminação, que é especial para reforçar os detalhes.
Depois de vê-la, claro, como fotógrafa, quis fotografá-la. Então eu procurei os
caminhos para ter autorização para isto. Foi então que tive uma reunião com o
vice-reitor de patrimônio da universidade, com quem me comprometi em
fotografar tudo sem flash e com equipamento adequado para não prejudicar a
estrutura e nem as obras".
Além dos livros considerados obras-primas da cultura lusófona, Bruna também
registrou detalhes da biblioteca Joanina, que tem este nome por ter sido
edificada sob a ordem de D.João V, o Rei Magnânimo - como é conhecido em
Portugal. Entre estes detalhes fotografados pela artista está justamente um
retrado de D.João, feito pelo pintor italiano Domenico Duprà, no século XVIII.
"O retrado está no centro da Joanina, em posição estratégica, demonstrando
que o rei representava o centro do poder intelectual", ressalta Grassi, que é uma
das poucas pessoas no mundo todo a terem tido autorização para realizar estes
registros.
Sentimento
Depois que foi autorizada para fotografar a Joanina, Bruna Grassi descobriu que
Coimbra guarda outra biblioteca de obras raras, mas especificamente no prédio
da biblioteca geral da universidade. "'O senhor teria os Lusíadas', perguntei ao
diretor da biblioteca", "'Sim, claro. Você gostaria de vê-lo?', ele me respondeu",
relata Bruna. Para a surpresa da artista, bastou alguns poucos minutos para ela
estar diante da primeira edição do clássico de Camões. "Foi uma emoção que eu
não consegui mensurar. Fiquei muito emocionada. Meu olho encheu de lágrima.
Fiquei tão encantada que eu nem fotografei. Até que o diretor perguntou se eu
não iria fotografar", lembra a fotógrafa, eufórica com o momento.
Foram momentos de incredulidade para a artista. "Os sentimentos foram tão
surreais, que eu me apropriei do surrealismo e do abstracionismo, dois
movimentos artísticos, para poder chegar próximo do que eu senti. E a
exposição quer revelar ao público o sentimento de estar fora da realidade,
transcendente de outro sentimento".
Bruna explica que a fotografia é uma plataforma de expressão, e que a junção do
sentimento do ser humano que opera o equipamento fotográfico com a
tecnologia da câmera faz o registro. "Neste momento já existe uma alteração da
realidade. O que você tem como resultado é um fragmento da realidade. Depois,
na pós-produção, quando você abre a imagem no computador, no programa de
suporte que você usa para editar imagens, surge um outro sentimento. A partir
disto o tratamento da imagem segue. A forma como você vai trabalhar a sua
imagem é o seu sentimento de acordo como você a 're-olhou'. Só existe um caso
que você não pode alterar a imagem, que é o fotojornalismo", explica a artista,
que usou várias referências para a criação das obras desta exposição inédita.
Desafios
Mesmo com tantas técnicas, Grassi afirma que foi um desafio criar a exposição,
pois queria interferir o menos possível em cada obra de arte. "A exposição é de
obras raras que falam por si só. Assumi o desafio de, através de releituras, usar
elementos da própria imagem, e imagem fotográfica, e não elementos textuais.
Teriam de ser elementos icônicos que fossem suficientes para representar os
sentimentos. Que a imagem icônica-visual se bastasse, e aí eu me aproprio dos
recursos abstracionistas e surrealistas".
Bruna diz que o que realmente importa na exposição é o que o público sentirá
no momento em que contemplar cada obra: "se as pessoas vão entender ou não
linearmente a obra, não é o que importa. O que importa é o que vão sentir na
hora, o impacto da obra de arte".
Além de representar toda a emoção da artista ao registrar as raridades da
cultura lusófona, a exposição tem ainda um fundo social, pois uma das vontades
de Bruna Grassi é a de compartilhar com os brasileiros estes patrimônios da
humanidade. "Levar socialmente estas imagens, poder mostrar que estas obras
ainda existem e que estão sob os cuidados necessários da Universidade de
Coimbra".
Mais sobre a artista
Bruna Grassi é formada em Comunicação das Artes do Corpo pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). No terceiro ano da faculdade,
integrava a equipe do teatro da sua universidade, o famoso TUCA (Teatro da
Universidade Católica de São Paulo), que é tombado patrimônio histórico,
enquanto espaço cultural e referência no Brasil. Lá ela conheceu Sérgio Rezende
e Ana Sales (diretores do teatro na época) a quem carinhosamente os têm como
padrinhos em sua carreira como produtora artística e cultural.
"Quando eu fotografo (...) é só pelo impulso da fotografia. Eu sinto vontade,
necessidade de fotografar. Depois, quando eu revelo a imagem, eu vejo o que
quero fazer com ela. É nesse momento de criação que as outras artes dialogam;
tudo acontece aqui dentro".
Em suas obras, Bruna faz referência a textos, filmes, músicas e criações de
outros artistas. A sua matéria-prima, na verdade, é o momento fotográfico.
Além do mestrado em Comunicação e Jornalismo em Coimbra, atualmente a
artista se dedica à coluna "Refletindo Fotografia", na revista digital "fotomania"
(www.revistafotomania.com.br).
SERVIÇO
Exposição "Passado Contemporâneo: releituras em obras raras"
Data: 18.10 a 31.10
Local:Biblioteca Nadir Gouveia Kfouri
Rua Monte Alegre, 984
Perdizes - São Paulo - SP
Contatos: 3670-8267 ou 3670-8024
Espaço Cultural Campus Consolação
Data: 04.11 a 30.11
Rua Marquês de Paranaguá, 111
Consolação - São Paulo - SP
Fone: (11) 3124-7200
Visite a página da Bruna Grassi
www.brunagrassi.com
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A lusofonia representada pelo surreal e o abstrato - PUC-SP