PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP MARILEI JOSÉ SCHIAVI A RÁDIO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE: O CASO DO PROGRAMA RADAR NOTICIOSO DA RÁDIO METROPOLITANA AM 1070 DE MOGI DAS CRUZES MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2012 MARILEI JOSÉ SCHIAVI A RÁDIO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE: O CASO DO PROGRAMA RADAR NOTICIOSO DA RÁDIO METROPOLITANA AM 1070 DE MOGI DAS CRUZES MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Ciências Sociais, sob a orientação da Profa. Doutora Vera Lucia Michalany Chaia. SÃO PAULO 2012 BANCA EXAMINADORA ___________________________ ___________________________ ___________________________ Dedico este Mestrado à minha saudosa mãe, Eunice dos Santos Silva que é a pessoa que sempre acreditou em mim. Ela me incentivou a estudar para encontrar o meu caminho no Jornalismo com o seu exemplo de bondade e dedicação. Obrigada, mãe! AGRADECIMENTOS A Deus que me guiou até aqui para eu conseguir conquistar mais uma fase importante da minha vida. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Pelo financiamento deste estudo por meio do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares (PROSUP-II). À professora Dra. Vera Lucia Michalany Chaia, Pela orientação sempre precisa, pelo incentivo para a produção, e por sempre acreditar que poderíamos realizar um bom trabalho. Ao professor Dr. Adolfo Ignacio Calderón, À professora Dra. Rosemary Segurado, Quando na qualificação deste trabalho indicaram possíveis caminhos a serem trilhados. E por aceitarem o convite para a composição de minha banca de defesa. À professora Dra. Luci Mendes de Melo Bonini, Pela força, dedicação e carinho nos momentos em que precisei de uma educadora dedicada ao meu lado. Ao professor Mestre Regilson Maciel Borges, Pelas revisões e o grande apoio na minha caminhada até aqui. Aos meus pais Eunice e Octacilio (in memorian), Pela vida e porque sempre acreditaram na minha carreira como jornalista e estudiosa da comunicação. Ao meu marido Anderson de Oliveira Mello, Pelas palavras de compreensão e cumplicidade, mesmo nos momentos difíceis, quando enjoava durante a gravidez da nossa filha que vai nascer daqui a alguns dias. À minha filha Júlia Schiavi Thurler, Pela paciência nas horas em que não pude me dedicar a ela porque precisava ler, estudar e escrever. E por ser uma criança tão especial com a sua compreensão de uma menina de seis anos de idade, com os olhos sempre vislumbrando o futuro. Ao meu sobrinho-filho Breno Schiavi Pereira, Pela colaboração nas horas em que precisava separar textos nas dezenas de pesquisas que fiz durante meses. Ao meu irmão Octacilio de Carvalho Schiavi Filho, Pelo apoio em vários momentos da minha pesquisa, dando força ao meu trabalho. Ao Silvio e ao Cesar Sanzone, Pela credibilidade depositada em mim durante a minha trajetória na Rádio Metropolitana e por acreditarem que uma mulher pudesse assumir o Radar Noticioso com a responsabilidade diante de uma emissora tão respeitada e com 50 anos de uma bela história. Aos amigos de tantas jornadas, aos meus ouvintes queridos. Pela audiência e por acreditarem no meu trabalho. De tantos lugares que para não correr o risco de esquecer o nome de alguém saibam que estão todos aqui. RESUMO A presente dissertação objetiva estudar a rádio como prestadora de serviços à comunidade. Para tanto analisou-se um programa específico que está no ar há quase cinquenta anos e lidera a audiência na região do Alto Tietê todas as manhãs. Trata-se do Radar Noticioso da Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes. A Rádio Metropolitana cobre mais de onze municípios, com mais de 2,5 milhões habitantes. A escolha do referido programa enquanto objeto desta pesquisa considerou, além da longevidade de duração do programa, a credibilidade deste junto a comunidade que o sintoniza, caracterizado no fluxo de procura por parte dos ouvintes, que buscam um meio que os auxilie na resolução de seus problemas pessoais e comunitários. O estudo apresenta-se em três momentos. No primeiro momento é apresentado o rádio das suas origens à atualidade. No segundo enfoca-se a experiência de rádio cidadã da Rádio Metropolitana de Mogi das Cruzes. No terceiro momento são apresentados os resultados da investigação, que buscou compreender o papel da rádio e sua atuação na área da prestação de serviços à comunidade, especificamente na defesa dos interesses dos cidadãos consumidores. Os resultados apontam que os ouvintes da Rádio Metropolitana reconhecem-na como uma prestadora de serviços à comunidade, e dentre os programas da referida rádio, ganha destaque, na fala dos entrevistados, o Programa Radar Noticioso que atende aos apelos dos ouvintes e busca soluções entre os responsáveis pelas ações políticas na região onde ele alcança. Com isso a rádio, por meio referido programa, acaba desempenhando papel social na prestação de serviço à comunidade. Palavras-chave: História do rádio. Rádio cidadã. Prestação de serviços. Rádio Metropolitana. Radar Noticioso. ABSTRATC This research aims to study the radio as a way to serve the community. For this purpose it analyzed a specific radio show that is on the air for almost fifty years and leads the score of audience, every morning, in the region called Alto Tietê. This radio-news show is called Radar Noticioso of the radio Metropolitana AM 1070 in the city of Mogi das Cruzes. The Metropolitana radio covers more than eleven cities, with over 2.5 million inhabitants. The choice of this program as an object of this research was due the longevity of it – almost fifty years, the credibility that grew along this years inside the community. Because of it, the radio-news show was featured in the flow of the demand on the people who listen to it that seek an environment that support them in solving their personal and collective problems. The study is presented in three parts. First the history of the radio, since it origins to present. The second part focuses on the experience of radio in building citizenship – a successful experience of Radio Metropolitana de Mogi das Cruzes. The results show that the Metropolitan Radio listener recognize it as a provider of services to the community, and among the programs of this radio, is highlighted in the speech of the interviewees. The Radar Noticioso, the news program, listens to the appeals from listeners and seeks solutions between those responsible for political actions within the region where it reaches. We conclude that the radio, through that program, support the population in providing social service to the community. Keywords: History of radio. Radio Citizen. Provision of services. Radio Metropolitana. Radar News. LISTA DE QUADROS Quadro 1. Caracterização dos sujeitos da pesquisa...................................... 72 Quadro 2. Principais categorias temáticas..................................................... 74 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABERT AM AMIRT CD DIP DRT DENTEL FM GPRS HAB IBOPE JP MTB PUC-SP RCC Sabesp Semae SC TV WI-FI = = = = = = = = = = = = = = = = Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão Amplitude Modulada Associação Mineira de Rádio e Televisão Compact disc, disco compacto Departamento de Imprensa e Propaganda Delegacia Regional de Trabalho Departamento Nacional de Telecomunicações Frequência Modulada General Packet Radio Service Habitantes Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística Jornalismo Público Registro profissional de jornalista Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Renovação Carismática Católica Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo Serviço Municipal de Águas e Esgoto Santa Catarina Televisão Wireless Fidelity SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................................................... 10 CAPÍTULO I.............................................................................................................14 O RÁDIO NO BRASIL: DAS ORIGENS À ATUALIDADE........................................... 14 1.1. Das origens à chegada da TV.........................................................................14 1.2. O rádio e a televisão: confrontos e contrastes................................................ 21 1.3. A emergência das rádios religiosas................................................................ 26 1.4. Das rádios livres e comunitárias às rádios “clandestinas”.............................. 32 1.5. Rádio e Política: uma combinação que deu certo?.........................................38 1.6. A rádio atual e as novas mídias ......................................................................46 CAPÍTULO II .......................................................................................................52 RÁDIO CIDADÃ: A EXPERIÊNCIA DA RÁDIO METROPOLITANA ...........................52 2.1. A emergência da Rádio Cidadã ......................................................................53 2.2. A experiência da Rádio Metropolitana ..........................................................58 2.3. O programa Radar Noticioso ..........................................................................63 2.4. Da Rádio à Ouvidoria Geral de Mogi das Cruzes ...........................................66 2.5. A Metropolitana na Comunidade.....................................................................69 CAPÍTULO III ...........................................................................................................70 O RADAR NOTICIOSO: OUVIDORIA HÁ 50 ANOS ...................................................70 3.1. Os sujeitos da pesquisa.................................................................................. 71 3.2. Elaboração dos dados.................................................................................... 73 3.3. Análise e Interpretação dos dados..................................................................75 3.3.1. A rádio mais ouvida......................................................................................75 3.3.2. A importância da Rádio Metropolitana......................................................... 77 3.3.3. A Rádio como prestadora de serviços......................................................... 79 3.3.4. O Programa mais ouvido da Rádio Metropolitana....................................... 81 3.3.5. Identificação com a radialista....................................................................... 83 3.4. O Radar Noticioso na visão de um antigo âncora...........................................86 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 90 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 94 ANEXOS.......................................................................................................................... 101 10 INTRODUÇÃO A presente dissertação tem como objetivo estudar a rádio como prestadora de serviços à comunidade. Para tanto se toma como objeto de análise o Programa Radar Noticioso da Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes. O Programa Radar Noticioso está no ar há quase 50 anos na Rádio Metropolitana e é considerado o carro-chefe da programação jornalística da emissora, liderando a audiência na região todas as manhãs (IBOPE, 2001). A credibilidade alcançada junto ao público a torna referência obrigatória na vida do ouvinte que começa o dia cedo e precisa de informação. Através de seu sinal, a Rádio Metropolitana cobre mais de 11 municípios, com mais de 2,5 milhões habitantes. O programa tem início às cinco e meia com um giro de informações relevantes do dia. Às 6h00 da manhã tem a abertura especial com a âncora do programa que comanda os comentários, as entrevistas, a participação dos ouvintes e a mesa de debates. Das 7h30 às 8h00 é aberto o microfone para interlocução direta com o ouvinte, no quadro chamado “Momento do Ouvinte”. Nesse momento o ouvinte encontra espaço para fazer denúncias e/ou reclamações em relação a diferentes problemas em relação às Prefeituras Municipais das cidades, concessionárias de serviços como Bandeirante Energia ou Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) ou outras empresas e/ou órgãos públicos ou privados. Outro ponto do Radar é que o programa está formatado para chamar a responsabilidade da Prefeitura ou outros órgãos públicos ou privados para o problema do ouvinte, visando à sua solução. Isso ocorre até mesmo com problemas relacionados à saúde, tanto os ligados às administrações municipais quanto dos hospitais públicos e também particulares da região. Aliás, a saúde é um dos assuntos mais comentados no programa. Além da equipe técnica, são dois os profissionais da comunicação que assumem o contato direto com o ouvinte, a âncora e um locutor/noticiarista que lê os principais fatos do dia, isso ocorre durante todo o programa, que é dinâmico e 11 com uma linguagem simples e direta, com ênfase nos bate papos entre a âncora e os ouvintes, ou os seus entrevistados. As informações servem muitas vezes de base para os comentários realizados durante o programa. Como estratégia para dinamizar essa apresentação faz-se uma alternância por meio da voz feminina da âncora com a masculina do locutor/noticiarista. Trata-se de uma estratégia adotada para não cansar o ouvinte que fica sintonizado, muitas vezes, durante mais de quatro horas. A audiência rotativa do rádio faz com que a âncora reprise momentos especiais e relevantes do programa, principalmente no final dele, fazendo um resumo dos principais assuntos do dia, com trechos das principais entrevistas. Pode-se afirmar que o Programa Radar Noticioso da Rádio Metropolitana AM 1070 tenta cumprir o seu papel de formador de opinião, ao mesmo tempo em que abre espaço para o ouvinte reivindicar, denunciar problemas sociais ou pessoais, ou até mesmo agradecer a emissora por ter intercedido junto a uma reivindicação atendida por um órgão público ou privado. É a voz do cidadão-comum tendo o seu espaço no rádio-cidadão. A partir de 2007 a emissora ampliou o direcionamento das reclamações dos ouvintes focando mais na criação de espaços de maior intervenção do ouvinte, do consumidor e usuário dos serviços públicos municipais e estaduais. O Radar Noticioso ao longo de 40 anos sempre manteve uma linha baseada no jornalismo tradicional, centrado na notícia, com informações didáticas para a comunidade, mas tinha como objetivo aprofundar ainda mais a relação com a comunidade. Por isso, a Rádio Metropolitana começou a ir para as comunidades a partir de 2009 todas as sextas-feiras com uma ação social para os bairros com atendimento médico, odontológico, jurídico, psicológico, entre outros, ação social denominada Metropolitana na Comunidade. O cenário descrito justifica a escolha do Programa Radar Noticioso enquanto objeto de pesquisa desta dissertação, uma vez que pode-se constatar, tanto por meio parte de pesquisas realizadas, quanto pelos longos anos de duração do programa, a credibilidade e procura dos ouvintes de um meio que os auxilie na busca da resolução de seus mais variados problemas. 12 Com isso convém questionar: Será que o papel da rádio, além de informar, é também atuar na prestação de serviços à comunidade, tornando-se uma espécie de ouvidoria pública ou defensoria do povo? Porque os ouvintes, cidadãos e consumidores, procuram a rádio para solucionar seus problemas de carências de serviços públicos e até mesmo de empresas privadas, como as que não prestam bons serviços à comunidade? Será que um programa de rádio pode realmente interferir na execução das políticas públicas acelerando a solução dos problemas e demandas dos cidadãos? Vários autores Abreu (2003); Traquina (2003); Quadros (2005); Costa Filho (2006); Arce (2007); Barcelos (2007); se transformaram em referência bibliográfica para discutir o papel do Jornalismo Público na presente dissertação, em relação à construção da cidadania através do rádio. E fica o questionamento de Costa Filho (2006): será que os meios e os jornalistas conseguem manter este compromisso, manter sua autonomia quando se dão conta que a imprensa hoje se constitui como empresa ou está ligada a grandes grupos econômicos, pregado às vontades e interesses? Sendo assim, o principal objetivo deste estudo foi compreender o papel da rádio e sua atuação na área da prestação de serviços à comunidade, especificamente na defesa dos interesses dos cidadãos consumidores, à luz da literatura científica e do estudo do Programa Radar Noticioso da Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes. Para atingir o objetivo proposto, inicialmente realizou-se uma pesquisa bibliográfica na literatura especializada sobre o tema estudado. Nesse sentido foram levantados livros, teses de doutorado, bem como artigos nas principais publicações brasileiras vinculadas ao tema Comunicação Política e Meios de Comunicação, em especial ao veículo rádio, tentando localizar textos a respeito da rádio e a prestação de serviços à comunidade, os mesmos que nos serviu para fundamentar os capítulos I e II que apresentam o referencial teórico do estudo ora apresentado. Este estudo possui ainda uma dimensão empírica, que se concretiza no estudo referente à prestação de serviços à comunidade realizada por meio do 13 Programa Radar Noticioso, tendo como base de análise, entrevistas realizadas com alguns ouvintes selecionados a partir de sua assídua participação no referido programa, constatada por meio de banco de dados organizado pela pesquisadora com o auxílio da equipe técnica do programa. O estudo aqui apresentado encontra-se divido em três capítulos. No primeiro capítulo, intitulado “O rádio no Brasil: das origens à atualidade”, aborda-se de sua origem até a chegada da televisão, discute-se os confrontos e conflitos existentes entre rádio e TV, aponta-se a emergência das rádios religiosas. Trata ainda das rádios livres e comunitárias, do envolvimento do rádio com a política, e da rádio atual e sua relação com as novas mídias. No segundo capítulo, intitulado “Rádio cidadã: a experiência da Rádio Metropolitana” discute-se a emergência da rádio cidadã, a experiência da Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes, caracteriza-se o Programa Radar Noticioso, bem como se aponta a contribuição do Programa na criação da Ouvidoria Geral da cidade de Mogi das Cruzes. Encerra-se abordando o projeto Metropolitana na Comunidade. No terceiro capítulo, intitulado “O Radar Noticioso: Ouvidoria há 50 anos”, são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados no estudo, assim como os resultados empíricos da investigação. Identifica-se o tipo de pesquisa, as técnicas de coleta utilizadas, os sujeitos pesquisados. Em seguida procede-se a análise e interpretação dos dados obtidos por meio das entrevistas. 14 CAPÍTULO I O RÁDIO NO BRASIL: DAS ORIGENS À ATUALIDADE O presente capítulo aborda a origem do rádio, apresentando-o desde as suas origens até a chegada da televisão. Discute os confrontos e conflitos existentes entre rádio e TV, aponta a emergência das rádios religiosas. Trata ainda das rádios livres e comunitárias, do envolvimento do rádio com a política, e da rádio atual e as novas mídias. A história das origens do rádio pode ser contada sob a ótica de vários autores, porque a invenção desse importante veículo de comunicação não pode ser considerada obra de um único pesquisador. Para a revisão bibliográfica aqui realizada tomamos como referência livros, artigos científicos e textos publicados em anais de eventos científicos que tratam sobre o tema pesquisado. Os estudos mostram que a autoria da invenção do rádio é muito controversa mesmo entre os estudiosos do tema (ORTRIWANO, 1985; FERRARETO, 2001, HAUSSEN, 2004; JUNG, 2007). O que não podemos negar é que o rádio mudou a história da comunicação mundial – desde o advento da primeira transmissão via telégrafo com fio passando pela Era do Rádio chegando à atualidade. Vamos contar essa trajetória que marcou também no Brasil o novo estilo de falar para uma sociedade ainda analfabeta, uma maneira nova de abrir horizontes no radiojornalismo e se transformar comunicabilidade. 1.1. Das origens à chegada da TV Na análise de Ferrareto (2001, p. 80): em um marco da 15 Embora o senso comum atribua a invenção do rádio ao italiano Guglielmo Marconi, pode-se afirmar que a radiodifusão sonora constitui-se no resultado do trabalho de vários pesquisadores em diversos países ao longo do tempo [....] Neste cenário, também, do advento do rádio, segundo Jung (2007), o mérito deve-se ao padre brasileiro Roberto Landell de Moura, reconhecido apenas após a morte, em 1928. No Brasil, o Rio de Janeiro é considerado a primeira cidade brasileira a instalar uma emissora de rádio, no entanto, experiências já eram feitas por alguns amadores, existindo documentos que provam que o rádio nasceu em Recife, no dia 6 de abril de 1919, quando foi inaugurada a Rádio Clube de Pernambuco (ORTRIWANO, 1985, p. 13). Mas, de acordo com Ortriwano (1985), oficialmente o rádio é inaugurado, no Brasil, em 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações do Centenário da Independência, quando alguns componentes da sociedade carioca puderam ouvir em casa o discurso do então Presidente Epitácio Pessoa. Para a ocasião, foram instalados 80 receptores especialmente importados pela empresa Westinghouse que instalou uma emissora, cujo transmissor, de 500 watts, estava localizado no alto do Corcovado. Dias depois foram transmitidas óperas diretamente do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi apenas uma demonstração, já que as transmissões foram encerradas por falta de um projeto que tivesse continuidade. Contudo é considerado oficialmente a data de instalação da radiodifusão no Brasil, 20 de abril de 1923, quando começa a funcionar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Roquete Pinto e Henry Morize, impondo à emissora um cunho nitidamente educativo (ORTRIWANO, 1985). Segundo Ortriwano (1985) o rádio, nesta circunstância, nascia como meio de elite, não de massa, e se dirigia a quem tivesse poder aquisitivo para mandar buscar no exterior os aparelhos receptores, então muito caros. O novo veículo de comunicação era assim definido por Roquete Pinto: 16 O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o animador de novas esperanças; o consolador dos enfermos; o guia dos sãos, desde que o realizem com espírito altruísta e elevado (TAVARES, 1997, p. 8 apud FERRARETO, 2001, p. 97). Neste contexto histórico, o rádio lutava com dificuldades, sem estrutura financeira, para se ter uma ideia, ouvia-se ópera com discos emprestados pelos próprios ouvintes, recitais de poesia, concertos, palestras culturais, sempre com uma programação muito seleta. Mas como conta Ortriwano (1985), Roquete Pinto acreditava desde o início que o rádio se transformaria num meio de comunicação de massa. Segundo Calabre (2004), os primeiros anos de vida do rádio no país estiveram repletos de dificuldades, com o surgimento e desaparecimento de várias emissoras. Ainda nos anos 20, o rádio já começa a espalhar-se pelo território brasileiro. As primeiras emissoras tinham sempre em sua denominação os termos ‘clubes’ ou ‘sociedade’, pois na verdade nasciam como clubes ou associações formadas pelos idealistas que acreditavam na potencialidade do novo meio (ORTRIWANO, 1985, p. 14). Na análise de Calabre (2004), nessa fase predominava um sentimento de descrédito quanto à eficácia do rádio como veículo capaz de estimular o mercado consumidor ou até mesmo atrair novos clientes. Nos anos seguintes, de 1923 até o início de 30, surgiram novas emissoras em diversos estados brasileiros e Roquete Pinto estava certo em sua análise do futuro do rádio por que: Quando a publicidade é regulamentada em 1932, dando início a uma nova fase na história da radiodifusão sonora do país, o veículo está presente na Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo (FERRARETO, 2001, p. 101). A introdução de mensagens comerciais começa a transfigurar o rádio, transformando as mensagens eruditas, educativas e culturais em popular, voltadas ao lazer e à diversão, conforme afirma Ortriwano (1985, p. 15): 17 O comércio e a indústria forçam os programadores a mudar de linha: para atingir o público, os “reclames” não podiam interromper concertos, mas passaram a pontilhar entre execuções de música popular, horários humorísticos e outras atrações que foram surgindo e passaram a dominar a programação. As rádios começam assim a se estruturar como empresas rentáveis e passam a contratar artistas e produtores. De olho na audiência, a rádio preocupava-se agora com a audiência e começava a criar os seus ídolos populares (ORTRIWANO, 1985). Em 22 de julho de 1935, é criada a Hora do Brasil que transmitia informações e pronunciamentos, além de música popular. Vindo a tornar-se programa obrigatório durante a ditadura (FERRARETO, 2001). Em 6 de setembro de 1946, a Hora do Brasil transforma-se em Voz do Brasil. Registre-se que para Haussen (2004), um marco do rádio no Brasil foi à criação da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em 1936, que se tornaria um modelo e marcaria presença em todo o território nacional com a sua programação. O rádio brasileiro vai encontrando o seu caminho, definindo o seu papel também na vida política e econômica brasileira, Getúlio Vargas foi o primeiro governante a ver no rádio grande importância política e passou a utilizá-lo dentro de um modelo autoritário (ORTRIWANO, 1985). A partir de 1940, o Governo decidiu que a Rádio Nacional tinha que ser um instrumento de afirmação do regime, e Getúlio Vargas decretou a encampação da empresa A Noite, à qual pertencia à emissora (ORTRIWANO, 1985). Concomitantemente o rádio entra na chamada “era de ouro”, conhecida, assim, devido o espetáculo com uma programação voltada ao entretenimento. Neste período, também, nasce à primeira radionovela: “Em Busca da Felicidade”, o gênero, segundo Ortriwano (1985), proliferou rapidamente, e em 1945, a Rádio Nacional chegou a transmitir 14 novelas diariamente. As radionovelas estavam entre os programas de maior audiência radiofônica da época (CALEBRE, 2003). 18 Nesse contexto, segundo Calabre (2004, p. 7): O rádio criou modas, inovou estilos, inventou práticas cotidianas, estimulou novos tipos de sociabilidade. Ícone da modernidade até a década de 1950, ele cumpriu um destacado papel social tanto na vida privada como na vida pública, promovendo um processo de integração que suplantava os limites físicos e os altos índices de analfabetismo do país. Ferrareto (2001) destaca os programas de auditório como momentos marcantes do rádio porque criaram ídolos e reforçaram personalidades que também estavam presentes nas chanchadas, principal produto brasileiro da época, e por apresentações nas grandes casas de espetáculos, na maioria das vezes cassinos. A partir daí, algumas rádios passaram a se especializar em áreas ou campos de atividades. A Rádio Panamericana, de São Paulo, por exemplo, começa a ser conhecida, a partir de 1947, como a “Emissora dos Esportes”. De acordo com Ortriwano (1985), foi com o destaque do esporte que a emissora conseguiu liderança de audiência e introduziu muitas inovações nas transmissões esportivas. A tecnologia em franco desenvolvimento na área das telecomunicações faz de 1946 um marco importante para o rádio, pois o surgem os primeiros gravadores de fita magnética, da mesma forma que avançam as formas de gravação. A tecnologia dos aparelhos também se remodela, pois tem início a substituição de elementos mais duráveis e estáveis: os retificadores de selênio, substituem as válvulas a vácuo. A partir da Segunda Guerra Mundial, o radiojornalismo começa a ganhar força à medida que o país se envolve com a Guerra. Com seu slogan de ‘Testemunha ocular da história’, o Repórter Esso, durante os 27 anos em que esteve no ar, deu em primeira mão as principais notícias do Brasil e do mundo. A voz grave e modulada de Heron Domingues, locutor exclusivo do Repórter Esso durante 18 anos, tornou-se popular em todo o Brasil (ORTRIWANO, 1985, p. 20). 19 Além do “Repórter Esso”, outro marco importante do radiojornalismo brasileiro foi o “Grande Jornal Falado da Tupi”, estes apresentavam inovação. Com linguagens próprias deixavam de ser apenas “leitura ao microfone” das notícias dos jornais impressos. Já Ortriwano (1985) destaca no radiojornalismo a forte influência de um novo tipo de programação noticiosa lançada pela Rádio Bandeirantes, de São Paulo, em 1954, mostrando-se revolucionária e influenciando a programação de outras emissoras. A Bandeirantes fez-se pioneira no sistema intensivo de noticiário “[...] em que as notícias com um minuto de duração entravam a cada quinze minutos e, nas horas cheias, em boletins de três minutos.” (ORTRIWANO, 1985, p. 22). Todavia, conforme aponta Ortriwano (1985), o marco do rádio surgiu com a descoberta do transistor que começa a revolucionar o mercado. Este componente acabou sendo aperfeiçoadp pór uma série de cientistas, foi inicialmente apresentado em 1947, mas ainda passou por inúmeros aperfeiçoamentos. Para Haussen (2004) esse período marca outro grande momento da radiofonia porque permitiu a criação do rádio portátil e a libertação do “espaço fixo” do veículo, em geral, na sala de jantar. O historiador Eric Hobsbawm (apud CALABRE, 2004, p. 9) aponta o rádio como poderosa ferramenta de comunicação e integração: O rádio foi o primeiro meio de comunicação a falar individualmente com as pessoas, cada ouvinte era tocado de forma articular por mensagens que eram recebidas simultaneamente por milhões de pessoas. O novo meio de comunicação revolucionou a relação cotidiana do indivíduo com a notícia, imprimindo uma nova velocidade e significação aos acontecimentos. Quem nunca ouviu essa expressão: “falar ao pé do rádio?” Essa frase reproduz muito bem a sensação de quem está à frente do microfone contando histórias do cotidiano. Uma das características do rádio é essa proximidade com o ouvinte, a conversa direta com o cidadão. “O público se identifica com a emissora da cidade e com o radialista de plantão. Tem no âncora a figura que divide 20 emoções e faz companhia, seja pelo rádio sobre a pia, no painel do carro ou no computador do escritório” (JUNG, 2007, p. 39). Nesse processo, de aproximação da rádio com o grande público, Fanucchi (2004) destaca o papel de Coripheu de Azevedo Marques, um dos ícones do rádio porque explicava os assuntos de interesse local, estadual ou nacional de maneira simples e fácil dos ouvintes traduzirem para o seu dia a dia. Segundo o autor, o radiojornalismo da Tupi, por meio do “Grande jornal falado Tupi” e do “Matutino Tupi”, implantou um jornalismo de prestação de serviço. A tribuna representada pelos jornais da Tupi tinha grande alcance e o público utilizava para protestar ou pedir ajuda: E esse momento de realização para milhares de ouvintes chegava quando o próprio Coripheu abria uma seção do radiojornal com estas palavras: ‘Reclame! É um direito seu!’ ou, ainda, anunciava: ‘Pessoas desaparecidas que estão sendo procuradas’. A execução dos jornais dependia inteiramente da ‘regência de Coripheu’ (FANUCCHI, 2004, p. 91). Tamanha era a vibração do âncora por meio de sua energia no processo de comunicação que parecia, segundo Fanucchi (2004), utilizar o microfone na condução de seu trabalho como um verdadeiro maestro. O rádio veio a ter sua queda com o advento da televisão. O término da “Época de Ouro” coincide com o surgimento de um novo meio de comunicação no país, a televisão. É no rádio que a televisão vai buscar seus primeiros profissionais. Para enfrentar esta nova concorrente, bem como manter-se vivo, o rádio precisava buscar uma nova linguagem, que fosse, sobretudo, mais econômica. Assim, das produções caras, o rádio partiu para uma comunicação mais ágil noticiosa e de serviços, quando as emissoras de maior porte passam a utilizar cada vez mais as unidades móveis, agilizando a transmissão da informação (ORTRIWANO, 1985). Outro passo para que o rádio deixasse de perder tanto terreno para a televisão foi dado, segundo Ortriwano (1985), em 1959. Ao analisar esse período 21 histórico, a autora, destaca o lançamento da rádio como prestador de serviços de utilidade pública, configurada pela Rádio Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, que depois de alguns anos veio a ser adotado por outras emissoras de todo o país. O diálogo com os ouvintes começava com a divulgação de “achados e perdidos” e depois os serviços vão se ampliando para condições das estradas, ofertas de emprego, meteorologia, entre outros. A partir do decênio de 60, as emissoras começam a operar as primeiras FMs – frequência modulada, que permitiria a ampliação do número de canais, até então de Amplitude Modulada e Ondas Curtas. Num primeiro momento as FMs fornecerão “música ambiente” para assinantes, desde músicas com melodias suaves para hospitais até música alegre para escritórios e indústrias (ORTRIWANO, 1985). Ferrareto (2001) destaca que desde o início, o rádio em FM tinha menor radio de alcance, mas oferecia maior qualidade sonora, por isso as emissoras FM ganham impulso significativo durante os anos 60. Jung (2007) destaca que o rádio FM no Brasil foi influenciado pela programação das emissoras americanas. E a partir de 1970 extrapolou os consultórios e ganhou um tom menos formal e com locução espontânea. Tanto é que ele ressalta: “poucos veículos colaboraram tanto para difundir a língua inglesa por aqui como rádio FM” (JUNG, 2007, p. 46). 1.2. O rádio e a televisão: confrontos e contrastes Para compreender como foi o nascimento da televisão, em pleno sucesso do rádio, vários autores (BARBEIRO, 2004; CALABRE, 2004; FANUCCHI, 2004; MEDITSCH, 2005; BARBOSA, 2010) se debruçam sobre o tema em torno de confrontos e contrastes destes dois importantes veículos de comunicação de massa, que no início, de ambos, começou elitizado. Calabre (2004) afirma que ao longo da década de 1950 o rádio se transformou em um objeto acessível à grande maioria da população, concomitantemente ao lançamento da televisão no Brasil. Portanto, quando o rádio começou realmente a fazer sucesso e a chegar aos lares dos brasileiros, a 22 televisão chega para ficar. O rádio estava no auge, em sua Era de Ouro, quando a televisão nasceu. O mundo parou para assistir ao espetáculo da imagem da imaginação - o rádio com imagem - e enxergar os artistas que antes eram apenas imaginários. Com a chegada da televisão as pessoas começaram a ver o rádio de outra maneira e pela primeira vez o primeiro grande veículo de comunicação precisou se reinventar. Aqui entra o contraste entre rádio e televisão porque, segundo Calabre (2004), com a chegada da televisão o rádio precisou criar novos modelos de programação, cada vez mais distantes daquele que prevaleceu nos “anos dourados” do rádio brasileiro. Fanucchi (2004) aponta que na maioria dos países a televisão nasceu entre empresas de rádio subvencionadas pelo governo ou mantidas com taxas pagas pelos ouvintes; ou empresas que já exploravam o rádio comercialmente, como nos Estados Unidos e como aconteceu também no Brasil. Semelhantes às principais corporações de rádio e televisão norteamericanas, as Emissoras Associadas apresentavam, em 1950, o perfil ideal para receber a tevê. Suas rádios se espalhavam por quase todos os estados; os Diários Associados constituíam uma força política e econômica considerável... (FANUCCHI, 2004, p. 87). Os textos que se referem aos primórdios da televisão no país destacam o gênio administrativo e empreendedor de Assis Chateaubriand que não mediu esforços para ser o pioneiro na implantação desse veículo de comunicação que se transformaria, anos mais tarde, no símbolo da força da imprensa mundial. Para a ocasião, conta-se (BARBOSA, 2010) que Chateaubriand “contrabandeou” duzentos aparelhos de televisão e espalhou pelas ruas de São Paulo para que fosse feita a primeira transmissão. A televisão no Brasil foi inaugurada no dia 18 de setembro de 1950, com a TV Tupi Difusora de São Paulo. No discurso da cerimônia, Chateaubriand já deixava clara a importância das empresas para tornar realidade a chegada da televisão, ressaltando que foram os recursos publicitários, que tornaram possível 23 um investimento tão caro para o país. A análise de um pequeno trecho de seu discurso mostra que tanto o rádio quanto a televisão precisaram de investimentos para serem lançadas no Brasil. Nesse pequeno trecho, duas indicações: em primeiro lugar, o dono dos Associados remarca que as ações no sentido de implantação da TV no país se iniciaram em 1946, ou seja, quatro anos antes daquela data. Em segundo lugar, que ‘o empreendimento’ televisão fora dispendioso, já que eram quatro dos maiores anunciantes dos anos 1950 que subsidiaram a iniciativa (BARBOSA, 2010, p. 18). Uma constatação dos estudiosos do tema, é que tanto o rádio quanto a televisão, nasceram com a marca da força de influenciar pessoas. Desta forma, Barbosa (2010) defende que Chateaubriand, o maior magnata da imprensa brasileira, já enxergava, naquela época, que a televisão era uma “máquina” capaz de influenciar a opinião pública. Além disso, diminuía distâncias e possibilitava a imaginação de um mundo provável e possível. “A televisão exacerbou a imaginação em torno das possibilidades de reprodução em imagens do que era captado pelo olhar humano” (BARBOSA, 2010, p. 16). Como o rádio, a televisão também nasceu com a pecha de elitista. Barbosa (2010) aponta que nesse primeiro momento, a televisão se caracterizava pelo improviso e a pouca disponibilidade de aparelhos receptores porque eram muito caros; as pessoas não tinham condições financeiras de adquiri-los na década de 50. De acordo a autora, as primeiras emissoras tiveram dificuldades com a falta de estrutura e até a ausência de estúdios adequados. Aos poucos eram colocados no ar os primeiros programas musicais, teleteatros, programas de entrevistas, no entanto, as transmissões eram limitadas entre às cinco horas da tarde às dez da noite, sempre com grandes intervalos entre os programas, porque eram todos ao vivo e precisavam de tempo para que os estúdios fossem preparados para outras apresentações. A televisão era “um híbrido entre o rádio e o cinema e sua instauração num lugar simbólico” (BARBOSA, 2010, p. 16). Apesar de tantas dificuldades, os anos de 1950, foram marco pela expansão de algumas redes e inauguração de 21 emissoras. Na medida em a 24 televisão se espalha pelo mundo, e o mundo maravilhado vê a imagem, a televisão ainda baseava-se na mesma linguagem radiofônica, pois são narrações com imagens, estava ainda bem longe de a televisão desenvolver sua própria linguagem. Os visionários do início da televisão já tinham nítido um ponto: existia a imagem-imaginação de que o mundo seria mostrado na casa das pessoas. A TV é, segundo Barbosa (2010), o “brinquedo mais fascinante do século XX”, um mundo da possibilidade de novas práticas, com hábitos sociais e mentais, que geraria no futuro o mundo realmente dentro dos lares dos telespectadores. Poucos anos depois da primeira emissão da televisão, os artistas que antes tinham as suas vozes famosas no rádio e no teatro, já começaram a realmente se popularizar porque ficaram com seus rostos conhecidos entre o grande público (BARBOSA, 2010). Tanto é que, segundo Barbeiro (2004), não demorou muito para que programas de rádio sofisticados que empregavam muitos atores, cantores e orquestra cedessem lugar a audições de discos: Essa fase, apelidada pejorativamente de ‘vitrolão’, perdurou por algum tempo, enquanto o rádio, não só no âmbito das Emissoras Associadas, mas de modo geral, procurava absorver os efeitos da verdadeira revolução nos meios de comunicação de massa desencadeada pelo surgimento da televisão (BARBEIRO, 2004, p. 103). E tudo era ao vivo na televisão, assim como no nascimento do rádio. Nos primórdios do rádio e da televisão tudo era em tempo real e em ambos os casos a tecnologia chegou depois, como as gravações no rádio e como o videotape na televisão. Aliás, o videotape revolucionou a televisão ao vivo porque a partir daí possibilitou a gravação, a edição e regravação de todas as cenas. Isso porque quem fazia televisão na década de 60, começou a perceber que a televisão brasileira já não era um veículo restrito a uma pequena camada da população e feito de improviso. Os “telespectadores” começam a ser conhecidos, aos poucos, a partir do “invento revolucionário da eletrônica” (BARBOSA, 2010, p. 21) e a televisão começa a ocupar o lugar do rádio na sala de casa e se instala no lugar 25 mais importante do lar das pessoas – de onde nunca mais foi retirada. Poucos gêneros dentro do rádio resistiram ao impacto que a televisão teve, um deles foi o radiojornalismo e outro foi o dinamismo da programação esportiva. Barbeiro (2004) aponta um contraste entre rádio e a televisão, quando ressalta a luta pela sobrevivência do radiojornalismo, possível desde que os jornalistas e gestores empresariais entenderam que no âmbito da mídia em geral se sobrepõe a televisão. Para o autor “o rádio não pode e não deve competir com ela. São coisas distintas e o público lança mão de um ou de outro de acordo com as suas conveniências e interesses” (BARBEIRO, 2004, p. 141). Para exemplificar o autor cita a audiência que o rádio recebe de motoristas de carros que ao se depararem em engarrafamentos de trânsito, aproveita para ficar por dentro das informações do dia e ouvir músicas. Na atualidade, Barbeiro (2004) ressalta que estrategicamente é necessário contrastar a programação do rádio e da televisão. “É preciso distinguir as diferenças na programação entre o entretenimento e o jornalismo, o que é cada vez mais difícil de perceber na televisão” (BARBEIRO, 2004, p. 144). Segundo o autor, é exatamente por isso que o radiojornalismo se materializa em credibilidade e audiência qualificadas. Nesse contexto, o contraste fica entre a televisão que opta pela espetacularização e atrai grande parte da audiência. Isso porque, para Barbeiro (2004), o show é o campo da televisão e a notícia o campo do rádio: Ela tem a tendência de espetacularizar, estetizar, recriar, dissolver e transformar tudo o que entende ser importante, problemático e aflitivo. Como o rádio do passado. O rádio atual precisa romper com isso e entender que só a notícia de qualidade é capaz de salvá-lo (BARBEIRO, 2004, p. 144). Para Barbeiro (2004), a era do rádio acabou, mas é preciso reinventá-lo. Já para Meditsch (2005) parece evidente que o rádio não terminou com o que seria a “sua era”. 26 A melhor maneira de se explicar isto é compreender que não foi nem o som nem a imagem que estabeleceram novas eras, mas sim a tecnologia eletrônica: tanto o rádio como a TV pertencem à era da informação, e o rádio foi a manifestação mais precoce da era eletrônica na comunicação de massa (MEDITSCH, 2005, p. 15). De acordo com Meditsch (2005), há um contraste importante entre o rádio e a toda televisão. Conforme observa o autor, ao citar Schiffer (1991, p. 15), o rádio foi o primeiro artefato eletrônico a penetrar no espaço doméstico. “Esta condição eletrônica que está na sua origem muitas vezes é obscurecida quando se contrapõe uma ‘era do rádio’ que pertenceria ao passado a uma outra ‘era da imagem’ que definiria o presente e apontaria para o futuro”. Deve-se considerar que, entre os meios de comunicação de massa, o rádio ainda é o mais popular e o de maior alcance de público. Isso porque, por vezes, é o único a levar informações para populações que não tem acesso a outros meios. Ortriwano (1985, p. 81) considera o rádio um meio de comunicação privilegiado por suas características, entre as quais destaca: linguagem oral; penetração; mobilidade; baixo custo; imediatismo; instantaneidade; sensorialidade; e autonomia. Já a televisão tornou-se uma ferramenta tão indispensável que, de acordo com Lin (2005), hoje existem mais domicílios brasileiros como aparelhos televisões do que com eletrodomésticos como a geladeira. Dados apontam que 98% da população das maiores regiões Metropolitanas Brasileiras com mais de 10 anos assistem à televisão, considerando quem vê TV pelo menos uma vez por semana. 1.3. A emergência das rádios religiosas A emergência das rádios religiosas no Brasil começa a partir do momento que evocamos o sentido da palavra religião (do latim religare) que é um desejo profundo no coração de cada ser humano. Afinal, a religião faz parte da cultura e da história do rádio. São vários os desafios e propostas para a missão evangelizadora do rádio porque vão além da responsabilidade social porque se apresenta à sociedade com valores religiosos, como a ética e a moral, e o 27 humanismo social e cidadão. Corazza (2004, p. 273-274) elenca alguns desses desafios para cumprir sua função social, ente os quais: [...] a comunicação que se coloque a serviço da vida; o serviço à informação, cultura, entretenimento; a prática de um modelo de comunicação que tenha em conta o público e respeite os processos comunicacionais; a prática da ética e da coerência com os valores que se prega; ética profissional, evitando manipulações de todo tipo, sobretudo dos sentimentos dos fiéis; qualidade que trabalhe todos os momentos do rádio de forma integrada; e o cultivo de uma espiritualidade, que sustente toda a missão, e uma proposta evangelizadora dos grupos. Na análise de Corazza (2004, p. 275), “independente da religião que professe, a presença da religião no rádio tem sentido se ela, de fato, despertar nos ouvintes os valores da fraternidade e da solidariedade”. Como a religião está presente no cotidiano da vida e da comunicação radiofônica, a autora ressalta que é preciso discutir as formas de se fazer religião no rádio e de se usar no nome de Deus. A grande imprensa traz, continuamente, fatos a respeito dessa questão e da falta de ética de muitos dos seus dirigentes, de modo que é oportuno perguntar se ela é usada a serviço do crescimento humano e espiritual das pessoas ou se está a serviço de grupos privados que apenas mercantilizam a fé (CORAZZA, 2004, p. 275). Trigo e Cipolla (2007) apontam o marketing religioso como ponto de partida para a conversão de membros para a Igreja como um instrumento eficaz no competitivo mercado religioso. Tanto é que ao longo da história, as igrejas têm mais a ensinar do que a aprender com as empresas ditas modernas. Segundo Periscinoto (1998) todos os conceitos de marketing foram criados pela Igreja. Nesse sentido, Soares (1988) destaca a relevante presença dos diversos setores das igrejas católicas e protestantes, que possuem poderosas redes de comunicação com os mais diversos objetivos, que vão desde a comercialização da fé até a difusão do Evangelho. As Igrejas Radiofônicas, segundo Ferrareto (2000), ganharam destaque 28 nas últimas décadas do século 20 quando seitas e igrejas evangélicas buscaram no rádio um instrumento de conversão religiosa. De modo diferente das organizações católicas e protestantes tradicionais transformam as emissoras em templos eletrônicos com transmissão constante de cerimônias, entremeadas por preces e, em alguns casos, notícias sobre suas atividades e músicas com temática bíblica (FERRARETO, 2000, p. 182-183). Em meados dos anos 80, de acordo com Ortriwano (1985), 10% das rádios do país estavam nas mãos de religiosos. Outro dado apontado por Ferrareto (2000, p.184) é que “uma em cada sete rádios existentes no país está vinculada a uma igreja”. Em 1997, de acordo com levantamento feito pela Folha de São Paulo, 394 rádios estavam ligadas a interesses de igrejas. Desse total, aponta Corazza (2004), 161 emissoras pertenciam a Igreja Católica. Dados mais recentes indicam que 200 emissoras estão nas mãos de grupos católicos, sendo 12% educativas e 88% comerciais. Neotti (1994, p. 70) cita cinco fatores que fizeram a Igreja Católica entrar no mundo da radiodifusão sonora: intenção de fazer do rádio o prolongamento do púlpito; a importância do rádio como meio popular de comunicação; concorrência com protestantes e espíritas, que cada vez mais faziam uso do rádio; relativa facilidade de conseguir concessão junto ao Governo, dada a ação tradicionalmente educativa e cultural da Igreja; baixo custo relativo para montagem de uma emissora. Soares (1988) aponta a proliferação de seitas e novas religiões como elemento motivador para a Igreja Católica a investir nos meios de comunicação. Corrazza (2004) destaca a resistência, no início, da Igreja Católica à chegada das novas tecnologias de comunicação, mas na década de 1940 cresceu o interesse pela entrada da Igreja Católica na radiodifusão. Nessa época, destaca a autora, acontece à primeira concessão de rádio à Igreja Católica no Brasil que se tem registro: a Rádio Excelsior da Bahia. Apesar das nítidas diferenças entre as emissoras católicas, Corazza (2004) destaca que todas as rádios possuem uma identidade porque elas seguem as orientações da Igreja. A autora admite, no entanto, a coexistência de duas 29 tendências distintas dentro do segmento de rádios católicas: “as que trabalham comercialmente e entendem que a informação é uma forma de evangelizar e os grupos mais recentes que norteiam sua programação com base na religião o dia inteiro”. Portanto, as diferenças entre as tendências estão na linguagem, na relação com os ouvintes e nas relações comerciais. Para Corazza (2004), a distinção é reflexo da situação da Igreja Católica, que apresenta, atualmente, duas vertentes: o catolicismo tradicional e o pentecostalismo, representado pela Renovação Carismática Católica (RCC) que começou a tomar forma na década de 1990, organizada por lideranças e comunidades: À semelhança dos grupos neopentecostais, esses grupos querem fazer de sua emissora de rádio um templo. A preocupação central é fazer religião o dia todo, como se a necessidade do ser humano fosse apenas no âmbito religioso” (CORAZZA, 2004, p. 272). Estudiosos falam ainda em neopentecostalismo, um ramo do pentecostalismo cuja principal característica é a evangelização pela mídia. Moreira (1993) define o termo evangelização de diferentes maneiras. Ela pode ser entendida como: anúncio da Boa Notícia de Jesus; realização da Boa Notícia de Jesus e do seu projeto histórico; ação pela qual a Igreja anuncia a Boa Nova do Evangelho. Já outra vertente afirma que evangelização é o processo de converter a mentalidade do ouvinte para o Evangelho, destacando os valores humanos, chamando o ouvinte a aderir a uma comunidade de fé na qual se evangelize e se faça evangelizar. Os relatos históricos mostram o quanto o rádio foi utilizado pelas Igrejas. Para Corazza (2004), as igrejas ditas históricas ou tradicionais, como as que se referem às protestantes, como é o caso das Igrejas Anglicana, Luterana, Metodista, Presbiteriana, Católica, tem um modo diferente de fazer rádio em relação aos grupos pentecostais ou neopentecostais. Segundo a autora esses grupos tiveram uma forte influência na mídia no século XX. 30 Há um embate interno das próprias instituições religiosas porque alguns grupos, de fato, entendem que fazer rádio é fazer religião o dia inteiro, e transmitem basicamente uma programação religiosa confessional. Outros se pautam por princípios mais abrangentes em que prevalece uma ‘filosofia’ identificada como missão e tem em conta valores humanos, éticos, religiosos e de cidadania (CORAZZA, 2004, p. 270). No entanto, de acordo com a autora, quando se trata de uma rádio com orientação católica há um modelo mais aberto no âmbito do campo da cidadania e do serviço porque não é preciso falar de Deus o dia todo, mas tratar de maneira cristã todas as coisas. Cada rádio trabalha a evangelização da sua maneira, de acordo com a sua programação. Na defesa dessa tese a autora fala do anúncio do Evangelho de modo explícito em algumas rádios e de modo implícito, quando não se fala diretamente de religião. São emissoras de rádio populares ou jornalísticas, ou até mesmo católicas que, embora veiculem programação religiosa, seguem uma linha editorial. No contexto das igrejas ditas evangélicas, tem que ser ressaltado, segundo Patriota (2004), que antes os ditos “crentes” eram identificados com uma visão pejorativa e preconceituosa. Estes homens e mulheres eram vistos em sua maioria como homens de paletós e mulheres de saias compridas e cabelos longos presos em um coque, sem nenhum tipo de maquiagem, sempre com uma bíblia debaixo do braço. Essa visão do evangélico mudou muito nos últimos anos desde que artistas, empresários, políticos, atletas e até intelectuais começaram a declarar abertamente, e também nos veículos de comunicação, que encontraram nessas igrejas o caminho da fé. Mesmo denominando “supermercado da fé”, Patriota (2004) ressalta que os protestantes assumiram seus lugares de destaque no cenário nacional, sempre com a ajuda dos veículos de comunicação que ajudaram a consolidar os evangélicos. Na contemporaneidade, segundo Patriota (2004), as igrejas que se utilizam da mídia, tanto a Igreja Católica quanto as igrejas protestantes, estimulam demais os bens religiosos que privilegiam o individualismo, a vaidade, o consumo 31 material, o empreendimento financeiro, o sobrenatural e a abundância, negando até mesmo o sofrimento e a qualquer sentimento que cause algum desconforto. Para a autora, a comunicação religiosa assumiu novos contornos a partir do momento que passou a apelar para os meios de comunicação através da “incômoda” pluralidade religiosa. Os veículos de comunicação acabam virando porta-vozes de Deus e criam no consumidor em potencial um desejo inquietante de experimentar um “algo novo” que ajude a resolver o seu problema. Por causa dessa mensagem direta dos meios de comunicação, e o rádio se junta à televisão nesse caso, as denominações que investem na mídia ficam com seus templos superlotados. Registre-se a análise de Trigo e Cipolla (2007), para quem a relação aos fiéis excluídos com o perfil dos evangélicos que com a estagnação econômica da chamada “década perdida” (anos 80), a igreja foi uma maneira de encontrar a ascensão social. Isso porque as igrejas emergentes começaram a cumprir um papel fundamental como rede de proteção social nessa fase difícil que o país atravessava. As igrejas passaram a substituir em parte o Estado, e por esses serviços cobravam o dízimo. No estudo de caso realizado, Trigo e Cipolla (2007) destacam o crescimento da Igreja Renascer que através de uma Fundação tinha como meta ser um agente do próprio Deus no resgate do ser humano. Seus fundadores e mentores Estevam e Sônia Hernandes estiveram em destaque na imprensa por causa de várias polêmicas, mas há de se ressaltar a conquista em torno da mídia que foi a grande alavanca da popularidade da igreja e dos números surpreendentes de fieis em mais de mil e quinhentos templos. O destaque aqui vai para as emissoras de rádio, como a Gospel FM, e também uma rede de televisão, a Rede Gospel. Ferrareto (2000) destaca que na metade da década de 90, os cultos, os exorcismos e as pretensas curas do bispo Edir Macedo e de seus seguidores podiam ser ouvidos em três dezenas de emissoras de rádio de propriedade da Igreja Universal do Reino de Deus. “A igreja possuía ainda quatro rádios em Portugal e uma em Moçambique” (FERRARETO, 2000, p. 183). O império de Edir 32 Macedo cresceu muito nos últimos anos e culminou com a compra da Rede Record de Televisão. Corazza (2004) ressalta que nos últimos trinta anos um novo fenômeno vem acontecendo no rádio brasileiro. É a chamada “igreja eletrônica” com os teleevangelistas. “São novos movimentos religiosos que se servem preferencialmente, da mídia eletrônica, sobretudo do rádio, para difundir a fé e fazer prosélitos” (CORAZZA, 2004, p. 261). Para Patriota (2004) sempre haverá na comunicação midiática das igrejas eletrônicas o oferecimento de um discurso que ajudará os fieis na resolução dos problemas do dia a dia, além de ensiná-los a traçar metas ambiciosa o longo prazo. E fica a pergunta do autor: qual é a estratégia para o rápido crescimento das igrejas? A resposta é o andar de mãos dadas com os meios de comunicação de massa com diversas igrejas que contam com redes de rádio e TV espalhadas pelo país. 1.4. Das rádios livres e comunitárias às rádios “clandestinas” Diversos autores debruçaram-se sobre o tema das rádios piratas, comunitárias, livres ou até chamadas de “clandestinas”. O termo rádio pirata surgiu nos anos 50, quando algumas emissoras americanas de rádio queriam entrar no mercado da Grã Bretanha. Para isto, segundo Perazoli (2004), instalaram estações de rádio em barcos que ficaram fora da fronteira e conseguiam burlar a tutela estatal. Eram piratas porque estavam em barcos e porque queriam roubar o “ouro” que os lucros publicitários poderiam proporcionar naquela ocasião. Segurado (1995) ressalta que na Inglaterra, em 1967, foi proibida a atuação das emissoras piratas porque sabiam da possibilidade de perder audiência e o controle dos meios de comunicação. Ficou autorizado, na época, o funcionamento somente de rádios comerciais locais, mantendo assim o monopólio para autorização de suas transmissões. No entanto, essas emissoras piratas, apesar de sua atuação questionar o monopólio exercido pelo Estado, não estavam preocupadas com a comunicação no sentido da garantia de liberdade de 33 expressão. Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão. Esse direito inclui a liberdade de receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, sem interferência e independentemente de fronteiras (SEGURADO, 1995, p. 49). De acordo com Segurado (1995), o movimento das rádios livres passou pela Inglaterra, França, Itália, Espanha. Para a autora, o destino das rádios livres européias foi selado com a sua legalização. Porém, algumas reflexões são importantes em relação à história das rádios livres na Europa, principalmente quando o Brasil passou a enfrentar a mesma problemática, que foi a legalização desse tipo de emissora. Apesar da necessidade de se elaborar um sistema próprio, que respeitasse as características do país, Segurado (1995) garante que as experiências de outros países podem ser significativas para a definição da proposta brasileira. A autora relata que no Brasil, em 1971, na cidade de Vitória, no Espírito Santo, dois irmãos criaram a Rádio Paranóia, num momento onde o regime militar tinha os meios de comunicação sob forte controle e censura. Com poucos recursos técnicos e transmissores de fabricação caseira, essa experiência teve vida bastante curta, pois aqueles jovens foram descobertos pela Polícia Federal e taxados como subversivos. Apesar de sua existência efêmera, a Rádio Paranóia pode ser considerada como um marco na história das rádios livres brasileiras, que no início da década de 70 entram no cenário nacional com suas transmissões desafiando o monopólio estatal das concessões, confrontando-se diretamente com o Estado (SEGURADO, 1995, p. 61). Entretanto, foi apenas o início das manifestações da radiodifusão livre no país. Outras experiências espalhadas por todo o Brasil vieram em seguida. Em 1976, Sorocaba serve como um boom para o surgimento de outras rádios livres, que não apenas tocavam música, mas contestavam o regime do monopólio estatal. Segurado conta que um jovem de 14 anos fabricou seu próprio transmissor e colocou no ar a Rádio Spectro (SEGURADO, 1995). A autora ressalta que dessa rádio abriu caminho para muitas outras e em 1981 somente na 34 cidade de Sorocaba existiam seis rádios. Já no verão de 1982, aproximadamente 42 rádios livres colocaram no ar suas transmissões e sofreram forte pressão do jornal local e, de acordo com Segurado, ameaças da DENTEL (Departamento Nacional de Telecomunicações – órgão responsável pela fiscalização do Sistema de Comunicação do Brasil). Segurado (1995) observa, a partir desse período, uma apropriação da mídia rádio por vários outros grupos, que buscavam canais para manifestar seus descontentamentos com a legislação e expressar suas opiniões de forma diferenciada em detrimento da mesmice das rádios comerciais. Tanto é que as rádios que surgiam queriam discutir as novas linguagens que pudessem refletir sobre as questões ligadas às comunidades, desde a adversidade da produção cultural passando pelas discussões sobre o coletivo até chegar à busca pela criatividade no meio de comunicação. Tanto é que a Rádio Xilik é considerada pelo movimento de rádios livres e pelos setores do movimento de democratização dos veículos de comunicação como a experiência que popularizou o uso da radiodifusão livre no Brasil. Segurado (1995) conta que naquele momento, em que o país atravessava uma fase de transição do regime autoritário para o regime democrático, a rádio expressava a necessidade de terminar com o “silêncio”. O ano era 1985 e a rádio entrou no ar simbolicamente no dia morte de Tancredo Neves dentro do campus da PUC-SP, surgindo com a bandeira da desobediência civil, como uma forma de rediscutir o cenário nacional. Efetivamente, essas rádios tiveram um papel importante como mola propulsora de uma discussão que possuía uma prática descentralizadora, portanto não estavam somente empunhando uma bandeira, mas constituindo novos agenciamentos coletivos desvinculados das formas tradicionais de organização verificadas nos movimentos sociais. A rádio livre pode ser considerada enquanto instrumento técnico para se dar voz à subjetividade, para engendrar uma nova possibilidade de subjetivação (SEGURADO, 1995, p. 68). Vários autores citam a formação do Coletivo Nacional de Rádios Livres, em 1989, com a realização do 1º Encontro Nacional de Rádios Livres, em São Paulo como um primeiro momento de discussão do assunto. Neste mesmo ano 35 acontece a Frente Nacional de Luta por Políticas Democráticas de Comunicação, em Florianópolis (SC), que tinha como meta a participação na elaboração da Constituição de 1988. Já em 1990 surge o Comitê pela Democratização da Comunicação, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Juntas, realizam o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, no ano de 1991. Em pauta, a rádio livre. Nesta ocasião, salienta Perazoli (2004), começam as discussões sobre rádio comunitária. A radiodifusão comunitária é estabelecida pela Lei Federal 9.612, de 1998, e regulamentada pelo Decreto 2.615 do mesmo ano. Sua freqüência será sempre em FM, com baixa potência – 25 watts – e, segundo a lei, deve cobrir o raio de apenas um quilômetro a partir da antena de transmissão. A exploração deste serviço está restrita a fundação ou associação comunitária, sem fins lucrativos, com sede na localidade da rádio. Sua programação também traz uma determinação: que seja pluralista, ou seja, sem qualquer tipo de censura e atender a toda população da região em que está fixada. Talvez o maior equívoco da Lei de Radiodifusão Comunitária, de acordo com Perazoli (2004), seja a restrição do raio de um quilômetro a partir da antena da área de cobertura, conforme está em seu artigo 1º: a radiodifusão sonora, em frequência modulada, opera em baixa potência e cobertura restrita. Pelo que está em lei, a definição de comunidade é restrita a um espaço geográfico e não a um grupo de afrodescendentes ou de religiosos, que pode abranger vários bairros e até mesmo uma cidade inteira. Perazoli (2004) afirma que mesmo assim, ainda se entende comunidade como espaço físico e não como aspecto cultural, econômico, social ou qualquer outro meio. E a única justificativa que a lei traz é que com o raio de mil metros será possível a instalação de mais de uma rádio comunitária na mesma localidade, possibilitando um numero maior de informações e opiniões. Entretanto, a Lei 9.612, no artigo 18, diz que as emissoras de radiodifusão comunitária podem admitir patrocínio, sob a forma de apoio cultural, só que os estabelecimentos comerciais devem estar na área da comunidade que o veículo atende. 36 Segundo Peruzzo (1998), foi em 1995 que o país descobriu as rádios comunitárias no formato de rádios livres. Na avaliação da autora, as rádios comunitárias trazem aspectos inovadores quanto ao conteúdo de sua programação e processo de gestão. Para a autora, elas estão contribuindo para acelerar a regulamentação no setor de radiodifusão de baixa potência e para acirrar o debate sobre a democratização dos meios de comunicação de massa no Brasil. Mas os números são muito controversos, como afirma a autora, que destaca que para uns são cerca de 5.500, para outros 7.000, mas existem estimativas que falam na existência de mais de 10.000 emissoras. Perazoli (2004) contrapõe o papel da rádio livre, que se tornou comunitária, afirmando que ela perde sua origem a partir do momento em que a entidade ou fundação que tem o direito à concessão passa a copiar a programação da rádio comercial, ao invés de buscar uma própria e até mesmo sua linguagem específica. Tocar o que as outras rádios não tocavam: este era o princípio das rádios livres. No final do século XX há um novo marco estabelecido pelas rádios livres e comunitárias nas relações entre emissor e receptor. Ambos tendem a uma comunicação de massa precisa, como indica Manzano (1997, p. 12), ao defender seu ponto de vista: Uma emissora comunitária tem como característica principal o fato de operar em via de duas mãos: ela não apenas fala como ouve, principalmente, assegurando, assim, à comunidade o direito de se fazer ouvir, em seus reclamos e em suas manifestações culturais e artísticas de natureza local. No entanto, uma polêmica se instalou com um grande debate nacional quando reportagens em jornais de grande circulação nacional, revistas e até mesmo as grandes emissoras de rádio do Brasil começaram a combater as chamadas “rádios piratas” e até mesmo denominadas de “clandestinas”, como afirma Peruzzo (1998). Para a autora, as vozes mais ferrenhas, contra as rádios comunitárias, provêm de órgãos do Governo e dos donos das emissoras convencionais, de forma isolada ou através de associações, como a ABERT (Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão). 37 De acordo com Beraldo (1996, p. 32), o presidente da AMIRT (Associação Mineira de Rádio e Televisão) Eurico Gode ressalta que as “rádios piratas causam interferência no sinal das estações legalmente constituídas e perpetram uma concorrência desleal com empresas idôneas, que recolhem impostos e cumprem suas responsabilidades sociais”. É claro, salienta Peruzzo (1998), que um grande número de emissoras irradiando em faixas de freqüência alheias vai causar interferência. Segundo Peruzzo (1998), as rádios convencionais têm receio da pulverização da audiência e da consequente perda de anunciantes. Isso porque a prática tem demonstrado que pequenas emissoras comunitárias tem conseguido altos índices de audiência e de aceitação pelas comunidades locais. Entre os fatores desta aceitação destacam-se: a programação mais voltada para a comunidade propriamente dita; a inovação na linguagem e estilo de programas; e os preços acessíveis para anúncios que atingem diretamente o público alvo local. No entanto, dinheiro não é tudo que interessa e as rádios comunitárias acabam tendo também força para dar voz aos políticos. Na avaliação de Pires e Miceli (1996), a diferença entre rádio comunitária e uma pirata está em seu objetivo, ou seja, a comunitária não visa lucro, e sim a prestação de serviço. Já as piratas são emissoras que comercializam espaços em sua programação sem a participação dos moradores, considerando, portanto, o lado financeiro. De fato, muitas emissoras que se auto intitulam como comunitárias se caracterizam como verdadeiras rádios comerciais. Peruzzo (1998) cita que o combate às emissoras comunitárias chegou ao ponto da grande mídia fazer campanha as acusando de serem culpadas pela queda de um avião da TAM, em 31 de outubro de 1996, em São Paulo. A explicação foi de que as transmissões de alguma rádio comunitária, dita pelos jornais como clandestinas ou piratas, situada nas imediações do Aeroporto de Congonhas, teria causado interferência no sistema de comunicação e navegação da aeronave. E emissoras de rádio da grande mídia chegam a incluir em seus intervalos comerciais spots com um minuto de duração avisando que “rádio pirata é crime, denuncie”. A Rádio Bandeirantes de São Paulo, por exemplo, está há anos com uma campanha publicitária no ar fazendo campanha contra as rádios 38 ditas “clandestinas”. Peruzzo (1998) cita uma declaração de Lobo (1997) afirmando que é estranho que pequenas emissoras, que funcionam com baixa potência (no máximo 50 watts), venham a causa esse tipo de desarranjo nos aviões de carreira. Ele afirma também que a somatória de toda a potência das mais de 500 emissoras existentes em São Paulo não chega à metade da potência de uma só emissora convencional, que atinge frequentemente 100 mil watts. Peruzzo (1998) defende que o movimento das rádios comunitárias tenha um caráter público e como tal construa um significado político e cultural importante. Isso porque é um forte indicativo de grandes mudanças que estão por acontecer nos meios de comunicação de massa no Brasil que começa a perpassar também o sistema de televisão, principalmente por causa da abertura dos canais comunitários desencadeada pela Lei de TV a Cabo. A autora conclui que a experiência da radiodifusão comunitária evidencia uma crescente demanda pela mídia local e por programas locais nos grandes meios massivos. São canais que possibilitam a expressão das diferenças e ao mesmo tempo das identidades culturais das populações locais. 1.5. Rádio e Política: uma combinação que deu certo? Vários autores já se debruçaram sobre o tema Rádio e Política para analisar o fenômeno que existe entre a comunicação e a busca pelo poder. A característica que diferencia o rádio dos outros meios de comunicação é o aspecto de que as mensagens são transmitidas apenas oralmente, através do som, e o receptor pode executar outras atividades, concomitantemente à sua escuta. O rádio pode, portanto, estar presente em muitos lugares, possibilitando várias ações simultâneas e conquistando espaços que a televisão e o jornal impresso não podem preencher. Outra característica é a velocidade do veículo de comunicação. Os autores que discutem o tema destacam que este meio está sempre à frente dos outros veículos, através de aspectos como seu dinamismo e sua flexibilidade, que possibilitam intervenções, complementando notícias através de novos dados e reportagens mais detalhados, durante a programação. 39 Considerando a importância do rádio na história política brasileira, é relevante acompanhar o papel que o veículo vem representando no sistema democrático, no fortalecimento do conceito de cidadania, assim como seu uso meramente eleitoreiro. Na análise de Chaia (2001), a política deve se adequar às regras da mídia e, com isso, transforma-se, de certa maneira, em prisioneira dos meios de comunicação. E quando se discute sobre o papel da mídia, deve-se compreender que o uso dos meios de comunicação pelas lideranças políticas sempre esteve presente na história política contemporânea. Nunes (2000) observa que o rádio foi usado como arma na Primeira Guerra Mundial (de 1914 a 1918). O papel do rádio, desde a sua consolidação a partir dos anos 30 e 40, afirma Hausen (2004), tem sido utilizado das mais diversas formas. Contudo, de acordo com Nunes (2000), o rádio foi usado pela primeira vez para fins políticos nos Estados Unidos. A presidência de Franklin Delano Roosevelt, de 1933 a 1945, foi um “principado radiodifundido” (NUNES, 2000, p. 40). E foi graças ao rádio que o líder norte-americano projetou seu carisma e afirmou sua ascendência diante da nação. No entanto, segundo Nunes (2000), o rádio já vinha sendo utilizado para transmitir mensagens políticas desde 1920, com o presidente Hardin, com quatrocentos mil aparelhos de rádio em uso. Entretanto, quando Roosevelt se tornou presidente dos Estados Unidos, em 1932, o número de lares providos de aparelhos de rádio já havia dobrado. “Roosevelt reconhece nele, sem demora, um poderoso instrumento para conquistar a opinião pública para sua causa, pela possibilidade de estabelecer com ela uma comunicação direta [...]” (NUNES, 2000, p. 40). Na década de 30, Nunes (2000) afirma que o rádio passa a constituir também na França como um meio de comunicação política. Passini (2004) ressalta que a iniciativa de usar o rádio com fins políticos também ocorreu com Hitler e Mussolini que usavam o meio para controlar a opinião pública. Segundo Rodrigues (2008), foi na Alemanha da primeira metade do século XX que o rádio converteu-se no principal divulgador de ideias políticas e valores ideológicos, o que para muitos autores teria destacado o caráter perigoso 40 da comunicação radiofônica, pois os discursos do Fürer transmitidos pelo rádio tornaram possível dar forma à causa nazista. Durante o III Reich utilizaram o veículo de comunicação tão intensamente, “a ponto de se afirmar que Hitler seria inconcebível sem o rádio” (ORTRIWANO, 1985, p. 59-60). Ortriwano (1985, p. 60) destaca que o meio de comunicação tinha tanto poder de penetração entre as massas que acabou se unindo à política com objetivos de doutrinação ideológica. “E o rádio conseguiu servir aos interesses políticos com ‘maquiavélica’ eficiência”. Na visão da autora qualquer que seja o regime político em vigor, a informação jamais se constitui em atividade totalmente livre. A interferência política nos meios de comunicação é sempre muito complexa. De acordo com Rodrigues (2008), o rádio na América Latina chegou juntamente com o populismo na década de 20. Haussen (2001) destaca que foi o próprio Perón quem considerou o rádio como importante meio de governar ao afirmar que: Os políticos nunca haviam utilizado o rádio para a sua ação. Utilizavam mais os comícios onde as pessoas os viam... A ação da presença e a influência direta do condutor é importante, mas a maior parte das massas já me havia visto e eu, então, lhes falei pelo rádio, que era como se me seguissem vendo. De maneira que eu falava a todos. Quando atuamos num único ato único, nos basta falar a todo o país pelo rádio e não fica nenhum argentino sem conhecer o que terminamos de dizer. Isto era impossível antes, hoje o fazemos em um minuto (HAUSSEN, 2001, p. 70). No Brasil, com a popularização do rádio nos anos 30, veio junto à veiculação de campanhas políticas. Diante das novas possibilidades, o político que utilizou o veículo para consolidar a imagem de estadista junto à população nacional foi Getúlio Vargas, ampliou o número de rádios no país para quase cinquenta. Haussen (2004) salienta que o presidente da República, em 1º de maio de 1937, destacava o valor do veículo de comunicação em uma mensagem enviada ao Congresso Nacional anunciando o aumento do número de emissoras no país. Na mensagem, ele aconselhava os estados e municípios a instalarem “aparelhos 41 rádio-receptadores”, providos de alto-falantes, para facilitar o acesso aos brasileiros. O perfil do rádio mudou durante a ditadura militar, como analisa Nunes (2000), com a ampliação das rádios FM. E por causa da censura daquele período, as emissoras passaram a veicular programação musical. A informação acabou dando lugar ao entretenimento. Nunes (2000) informa que as concessões na época privilegiaram a legitimação do Governo, beneficiando grupos que tinham boas relações com o regime. Ao longo da ditadura, as concessões foram um importante instrumento para consolidação dos governos militares. Por um lado, podiam cassar o direito daquelas empresas de radiodifusão que não se adequassem às normas emanadas da caserna (FERRARETO, 2001, p. 179). Segundo Ferrareto (2001) da ditadura até a Nova República, não houve alteração significativa nesta prática. E exemplifica: Antonio Carlos Magalhães, ocupando o Ministério das Comunicações, foi acusado de usar politicamente a outorga de concessões no período presidencial de José Sarney para conseguir apoio para chegar ao governo baiano. Nesse período, ACM distribuiu 56 emissoras de rádio e sete de televisão. Sendo assim, o político garantiu uma base de sustentação que já contava com a TV Bahia, afiliada da Rede Globo e canal de maior audiência no Estado. No governo seguinte, aponta Ferrareto (2001), Pedro Collor, irmão do presidente Fernando Collor de Melo, chegou a denunciar um esquema envolvendo de 12 a 14 emissoras de rádio que beneficiariam o empresário Paulo César Farias, o PC, pivô de uma série de irregularidades. A jornalista Elvira Lobato, em uma reportagem na Folha de São Paulo, destacou um exemplo da íntima relação entre política e radiodifusão que foi o resultado de uma pesquisa realizada pelo jornal em 1995. Um em cada seis integrantes do Congresso Nacional possuíam pelo menos uma concessão de rádio ou TV. De acordo com o levantamento, na época, 83 deputados federais, 13 senadores, cinco governadores e dois ministros estavam vinculados diretamente ou por parentes às emissoras de rádio ou de televisão. 42 Reportagem semelhante publicada no jornal O Estado de São Paulo apresentou dados de setembro de 1996. Conforme o levantamento realizado pelo repórter Gustavo Paul, 104 deputados federais e 25 senadores eram sócios ou proprietários de emissoras de rádio e TV. Além disso, 40% das emissoras de rádio e 27% de televisão tinham políticos como participantes destas empresas. A nova legislação para o setor, publicada no Diário Oficial, em 26 de dezembro de 1996, avança um pouco neste aspecto, obrigando quem for exercer função pública a se licenciar de cargos na diretoria das emissoras. A grande inovação, no entanto, é o fim do critério político na distribuição dos canais de radiodifusão. Até 1996, cabia ao ministro das Comunicações e ao presidente da República a decisão sobre quem receberia a concessão, o que sempre redundou em troca de favores entre governantes e seus partidários. Desde o final de 96, o processo de escolha do beneficiado pela concessão passa por licitação pública (FERRARETO, 2001, p. 182). Quanto às rádios AM, de acordo com Rodrigues (2008), só voltaram ao cenário político nacional com a redemocratização do país a partir dos anos 80, com a proposta de prestar serviços à comunidade. As concessões continuavam ainda nas mãos das elites, tanto política quanto econômicas, que utilizavam as concessões para o desenvolvimento dos seus projetos de poder. Portanto, afirma Rodrigues (2008), a voz que deveria ser dada à população, permanece nas mãos dos donos das emissoras, ou então dos profissionais que, a partir da visibilidade que conseguiam com o rádio, levar adiante seus próprios projetos políticos. No sistema comercial de exploração da radiodifusão os canais são concessões do Estado a empresas privadas. “Uma das formas de pressão e de controle é a própria organização do sistema de telecomunicações” (CAPARELLI, 1982, p. 6). Portanto, destaca Ortriwano (1985), é impossível a qualquer emissora de radiodifusão desvincular-se da tutela estatal, já que sua existência depende, além de consentimento prévio, de um “título precário”. Caparelli (1986) ressalta ainda que o arsenal de controle do Estado vai da concessão de licença para exploração a título precário à censura econômica: Os governos em muitos países se transformaram em clientes número um das emissoras comerciais, porque é através delas que veiculam a propaganda política, buscando obter um consenso e 43 legitimidade, não só através da força, mas também da manipulação da opinião (CAPARELLI, 1986, p. 78). Nesse contexto, Ortriwano (1985) explica que o Estado pode estabelecer diferentes níveis de censura aos veículos, procurando sua hegemonia comportamental com relação à política adotada. Para Passini (2004), as emissoras de audiência popular têm em comum o tipo de linguagem empregada e o tipo de programação - em geral assistencialista e com forte participação do ouvinte. Estas emissoras são, também, terreno fértil para comunicadores que extrapolam os limites do comunicar e informar, passando, através das ondas radiofônicas, a resolver os problemas da população. Com isso é comum, segundo Passini (2004), o radialista adquirir este status, tamanha é sua identificação com o grande público, que o enxerga como uma ponte entre os necessitados e o poder público. Costa (1992) ressalta que o papel que antes era exercido pelo Estado, agora cabe ao conselheiro, amigo, defensor da justiça e dos pobres. O autor atribui isso ao descrédito nas instituições governamentais, que ganhou força na década de 80. No rádio, as palavras constroem diferentes apelos e dão mais densidade para o discurso. Os apelos e a densidade do discurso justificam o fato do rádio ser o meio de comunicação que melhor reflete a relação entre mídia e política. A mensagem radiofônica é resultado de um conjunto de técnicas e operações complexas que implicam o conhecimento da força das palavras e a utilização de recursos técnicos. Chaia (2001) salienta que um possível fator de perda da credibilidade do rádio é a relação que este meio estabeleceu com a política nas últimas décadas. Essa relação vem da participação de comunicadores em eleições e de políticos que adquiriram emissoras, privilegiando seus interesses. Nunes (2000) afirma que os radialistas preenchem os espaços que o Estado e suas instituições não conseguem ocupar, principalmente em relação às necessidades os ouvintes que são atendidas, em certa medida, por esses radialistas que exercem grande força carismática sobre seu público, acumulando o que o autor chama de “capital pessoal”. 44 Rodrigues (2008) exemplifica o tema analisando o fato do radialista que passa a tomar para si a tarefa de denunciar o “buraco na rua” e esse “buraco” se torna pretexto para que o radialista possa entrar em ação como defensor do público que o investiu daquele poder. Portanto, esse comunicador encarna um perfil heróico e passar a ser o político ideal para numerosos ouvintes, já que sabe lidar com a emoção e, na maioria das vezes, alguém que desenvolve o discurso da proximidade com os dramas da vida cotidiana, entrando todos os dias na casa, no carro ou no trabalho do seu ouvinte – se transformando em um membro da família. O comunicador é um companheiro fiel que está presente no café da manhã, no almoço ou no jantar da família. Segundo Rodrigues (2008, p. 5): O radialista faz com que o indivíduo comum se sinta cidadão de fato, já que medeia as relações deste com o poder público. Desta maneira, o comunicador de rádio cria elos com a população. Se em seu trabalho no rádio ele já se apresenta como porta-voz de fato dos indivíduos, porque não fazê-lo de direito? Enquanto Rodrigues (2008) chama o comunicador de “defensor do público”, Nunes (2000) classifica como “delegado do ouvinte”. No caso da relação entre política e comunicação radiofônica, trabalha-se com a hipótese de que o grande desafio frequentemente ocorreria quando esse “delegado do ouvinte” assumisse efetivamente um cargo político. Sendo assim, esse comunicador, agora político, passaria a ter a imagem positiva de radialista, mas associada com a imagem negativa do Estado do qual ele se tornou representante. Mais do que nunca a proximidade com o público que o elegeu seria essencial para que ele sentisse que o radialista, uma vez político, continuasse sendo aquele ‘delegado’ que o povo respeita, admira e confia... Poder-se-ia supor que aquele radialista político que se transformasse em político e não atendesse às expectativas populares perderia o mandato e a condição de ‘delegado do ouvinte (NUNES, 2000, p. 44). Nunes (2000) estuda o “fenômeno da delegação do poder" aos radialistas que sensibilizam ouvintes com programas populares que atendem às suas solicitações. A autora, em seu trabalho "Rádio e Política: do microfone ao palanque - os radialistas políticos em Fortaleza (1982-1996)" procura demonstrar 45 a utilização política do rádio na "participação de radialistas na política, mais precisamente à emergência de líderes políticos através do rádio AM com a participação popular”. Outro exemplo desta vinculação entre mídia e políticos, pode ser encontrado na pesquisa de Silva (2000), que analisou quatro comunicadores sociais de rádio que se elegeram para a Assembléia Legislativa de São Paulo (1986-1990). Os deputados estaduais foram eleitos por sua participação em programas de rádio: Afanázio Jazadji, Erci Ayala, Fernando Silveira e Oswaldo Bettio. Segundo o autor: [...] essas figuras públicas tornam-se a todo instante o alvo certo para alguns partidos políticos e entidades que encontram neles uma vantagem sobre os demais candidatos: são nomes conhecidos porque o rádio favorece a formação do capital eleitoral e, portanto, tem maior facilidade de serem trabalhados. “Por 'ancorarem' programas com determinada audiência, eles se credenciam a participar das eleições sem muitas vezes terem vínculos político-ideológico (SILVA, 2000, p. 11-12). No decorrer da história política brasileira temos vários exemplos de como o rádio foi utilizado como palanque eleitoral, ou durante os mandatos dos governantes, desde Getúlio Vargas. Vários autores citam desde o caso de Adhemar de Barros que quando era interventor do Estado de São Paulo, durante o Estado Novo (1937-45), criou um programa (1938), com alcance estadual, e que tinha o nome sugestivo de "Palestras ao Pé do Fogo". O presidente José Sarney (1985-89) readaptou este título e implantou um programa denominado "Conversas ao Pé do Rádio". Também os governadores Orestes Quércia e Antonio Fleury Filho lançaram programas de rádio para o Estado de São Paulo. Neste cenário, Perosa (1995) destaca “A Hora do Brasil”, criada pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), em 22 de julho de 1935, e tinha como objetivo divulgar os programas governamentais e as palavras de Getúlio Vargas. A transmissão do programa passou a ser obrigatória em 1937 e era veiculado das 18h45 às 19h30. Em 06 de setembro de 1946 o presidente Eurico Gaspar Dutra preocupado com a não aceitação do programa, altera o nome para “Voz do Brasil”. 46 A resistência à obrigatoriedade da transmissão da “Voz do Brasil” sempre foi grande, principalmente pelos proprietários das emissoras de rádio, que exigiam a sua extinção. Mesmo durante o regime militar a ABERT (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão) pressionava o governo para que não fossem obrigados a transmitir este programa. Chaia (2001) comenta que no caso brasileiro, a primeira característica dos meios de comunicação refere-se ao fato de que estes continuamente serviram como moeda de troca, isto é, utilizados politicamente, uma vez que a concessão de estações de rádio e televisão é prerrogativa do Estado. Particularmente nos meios de comunicação, observa-se a tendência autoritária de monopolizar por parte do Estado, representado pelo Poder Executivo Federal, através de dispositivos contidos nas legislações - como no caso das concessões de rádio e televisão que nascem com prerrogativas circunscritas a esse poder (SEGURADO, 1996, p. 12). Além disso, afirma Chaia (2001), a mídia brasileira sempre esteve nas mãos de famílias: os Mesquita (Grupo Estado), os Frias (Grupo Folha), os Saad (Rede Bandeirantes) e os Marinho (Rede Globo). Há também a presença das Igrejas evangélicas que disputam e controlam os meios de comunicação, como Edir Macedo - bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da rede Record e de concessões de centenas de rádios e afiliadas de televisão espalhadas pelo Brasil. Entre os prós e contras dessa relação entre o radialista e o político, Nunes (2000, p. 48) conclui que: Quando o ouvinte se transforma em eleitor, e o radialista se transforma de ‘delegado do ouvinte’ em ‘delegado do poder’, há um distanciamento na relação entre ouvinte e radialista, agora transformados em eleitor e político. A perda da intimidade, da possibilidade de interlocução traz prejuízos graves à continuidade da relação de troca e de cumplicidade que o rádio possibilitava entre ouvinte e radialista. 1.6. A rádio atual e as novas mídias O rádio nasceu, teve sua “Era de Ouro”, disseram que iria morrer, se 47 reinventou e continua sendo ainda o meio de comunicação com maior penetração no mundo atual, pois a tecnologia veio fazendo com que se diminuíssem seus componentes, sua penetração, é sem dúvida, maior do que a televisão, já que são necessários poucos investimentos para se ter acesso a uma efetiva performance dele, da mesma forma que o encolhimento dos aparelhos, permitiu que ele se transformasse num meio bastante popular e de grande penetração. Em pleno século XXI diversos autores (CASTELS, 2001; CUNHA, 2004, 2005; D’AQUINO, 2003; FERRARETO, 2010, KUHN, 2001; MEDITSCH, 2005; MOREIRA, 2001; PERUZZO, 2003, 2006; REZENDE, 2002; TRIGO-DE-SOUZA, 2004; URIBE, 2006), estudam as perspectivas do veículo de comunicação que continua procurando na tecnologia a possibilidade de fazer com que o homem moderno tenha cada vez mais conforto, comodidade e acesso à informação de maneira rápida e precisa. Cunha (2004, p.1) afirma que: “os apaixonados pelo rádio, sejam pesquisadores ou ouvintes, quanto à história defendem há muito tempo que esse meio de comunicação nunca vai morrer.” A autora ainda ressalta que diante deste universo em expansão das telecomunicações o rádio persiste em manter seu lugar na difusão de informação, ele, com certeza, não será descartado do lugar em que ocupa, foi, apenas,adaptando-se a novos materiais, novas linguagens. Por isso mesmo, segundo a autora ensina que quando se faz um panorama da história do rádio, percebe-se que desde seu lugar primordial: a sala da casa, ele foi se apropriando de outros lugares, diminuindo de tamanho, acompanhou o ouvinte nos meios de transporte, principalmente no automóvel e na Internet; e do entretenimento ao jornalismo inventa e se reinventa até os nossos dias. Cunha (2005) destaca as mudanças e inovações tecnológicas que estão levando o rádio a uma reacomodação e pode-se até dizer a uma redefinição de todas as mídias. E na era da contemporaneidade, o rádio já chegou ao mundo digital. Conforme salienta Bianco (2003), a transformação do sinal do rádio de 48 analógico em bits (informação numérica) provoca talvez a mudança mais radical experimentada pelo rádio desde a invenção do transistor e da freqüência modulada. Tanto é que a qualidade do som AM melhor de forma fantástica passando a ter qualidade de FM. O ganho maior, ressalta a autora, é que o FM passa a ter som igual ao do CD. Isso quer dizer que favorece totalmente as interferências na transmissão de sinais nas frequências AM e FM. A possibilidade de transmissão simultânea de dados para os aparelhos receptores dos ouvintes é outra vantagem para a distribuição de informação. Bianco (2003) explica que organizadores pessoais, telefones móveis, leitores eletrônicos e a internet tem as portas abertas com a digitalização que se integra ao processo de convergência entre as telecomunicações, os meios de comunicação em rede, interatividade e a integração entre os meios. De acordo com a autora, o rádio digital é uma revolução técnica tão significativa que vai alterar o modo de produção da programação, distribuição de sinais e recepção da mensagem radiofônica. Por isso pesquisadores falam em “reinvenção” do rádio mais uma vez para se adaptar à nova tecnologia. Castells (2001) considera que o rádio está vivendo um renascimento e experimentando um grande auge na internet. O novo rádio que vai se delineando neste início do século XXI tende a não ser mais apenas um “meio de comunicação que utiliza emissões de ondas eletromagnéticas para transmitir a distância mensagens sonoras destinadas a audiências numerosas” (FERRARETO, 2001, p. 23). Bufarah Junior (2004) ressalta que nem todo áudio na rede pode e deve ser considerado rádio. Verificando na Internet podemos encontrar alguns casos possíveis: as emissoras de rádio de sinal aberto que utilizam a rede para transmitirem suas programações para os usuários, as quais Trigo-de-Souza (2004) denominou de rádios on-line. Essa categoria on-line deve ser subdividida em dois grupos: os das emissoras que usam seus sites como mais um canal de comunicação com seus ouvintes, variando os níveis de interatividade, em que o usuário participa mais da programação através de chat, e-mails, promoções; e as emissoras que produzem 49 e disponibilizam seus programas utilizando o suporte multimídia da Internet para agregarem serviços especializados aos programas, inclusive possibilitando a escolha de reportagens, entrevistas, debates, entre outras sonoras já veiculadas anteriormente. Podemos encontrar também na rede a emissora de rádio que está presente no dial e utiliza o site apenas de forma institucional. Nesses casos, Trigo-de-Souza (2004) classifica como off-line, já que não disponibiliza o áudio de sua programação na Internet. E outra opção está em rádios que são feitas exclusivamente para a Internet, não tendo seu final transmitido por ondas, as chamadas, pela autora, de NetRadios. Bufarah Junior (2004) destaca ainda os sites que disponibilizam arquivos de áudio pela Internet possibilitando que os usuários possam criar listas de arquivos para serem ouvidos em seus computadores. Nesse contexto, D’Aquino (2003) avalia que algumas emissoras que estão na Internet deveriam produzir conteúdo jornalístico direcionado para o internauta-ouvinte porque apenas uma parcela das rádios que estão na rede oferece algum tipo de noticiário direcionado a esse público. Isso porque um estudo do Ibope e Ratings, divulgado em fevereiro de 2003, mostra que cerca de 33% dos internautas do Brasil ouvem rádio pela Internet, percentual superior a países como França, Alemanha e Reino Unido. Por outro lado, Kuhn (2001) acredita que o rádio na Internet autoriza o resgate de algumas teorias do rádio, como o rádio interativo, o rádio alternativo e o rádio educador. Para tanto, o autor indica algumas das implicações da tecnologia do rádio na rede mundial de computadores como a remoção da barreira da distância; a relação do custo/benefício para o investimento de uma emissora transmitir pela net; a democratização da informação e do acesso à cultura; horizontalização da relação emissora/ouvinte; convergência de mídias e o impacto sobre as línguas com a possibilidade de formação de comunidades virtuais para que, por exemplo, imigrantes afastados possam retomar contato com as suas culturas. Segundo Rezende (2002), ao acessar o rádio pela internet, o internauta a ser chamado de internauta-ouvinte e a partir de então ele pode ouvir música, ver 50 imagens, ler textos e interagir com as mensagens que recebe. Nesse caso, a autora defende que a rádio virtual começa a fazer parte da vida do jovem brasileiro, nesse caso, interessado por músicas de sua geração, ele faz uma seleção de rock, funk, axé, pagode, entre outros, e coloca em sua rádio com uma série de links de vários estilos de músicas para serem acessados pelo internautaouvinte. Para Rezende (2002), a radionet não pode ser a mesma rádio convencional, mas um novo sistema de rádio que procura se estruturar com uma linguagem plural e acessível a diferentes culturas através do rádio virtual. O público da rádio virtual, analisa a autora, é bem menor se comparado ao das emissoras convencionais, mas que também procura descontração ouvindo música e tendo uma participação com a formação do cidadão do futuro porque agora é o momento de pensarmos que o rádio não é mais um meio de comunicação para o ouvinte que é passivo. Ferrareto (2010) afirma que o ouvinte ganha importância ao constatarmos a vigência da Internet e da telefonia celular que abrem possibilidades, por exemplo, do emissor de conteúdo se transforme em um “repórter” enviando mensagens de texto ou mesmo ligando para dar informações sobre o trânsito. O rádio, concorda Cunha (2004), pode estar presente no telefone celular ou palm tops e também através de tecnologias WI-FI e GPRS e possibilitar uma programação em escala planetária. Saindo do computador e assumindo suportes menores, voltando a uma das grandes vantagens do rádio, a minituarização (CUNHA, 2005). O item mobilidade, inaugurado pelo próprio rádio, está presente neste momento da revolução digital. Para Cunha (2005), o tempo e o espaço deixam de ser barreira, pois é possível ouvir uma emissora no momento em que mais interessar. Contudo, muda a relação da audiência com o tempo e o rádio web passa a estabelecer um tempo diferente. E Cunha (2005) constata que não é mais possível pensar o rádio como antes. Desta maneira, é possível que a rádio virtual cresça e se transforme em mais uma alternativa de trabalho para o jornalista; afinal o homem atual é ponto 51 com (REZENDE, 2002). Por causa de tantas mudanças na vida dos profissionais de rádio, tanto radialistas quanto jornalistas, é que Cunha (2005) considera que a função do jornalista muda com o desenvolvimento tecnológico. Ao jornalista cabe o aprofundamento do fato, a análise. Registre-se que para Uribe (2006) o rádio é um dos meios com mais tradição e prestígio social, com uma grande acessibilidade, flexibilidade, penetração e proximidade à comunidade. Seu “matrimônio” com a internet favorece a criação de alternativas que tenham como prioridade os processos em desenvolvimento (URIBE, 2006). Podemos entender o sucesso do casamento entre rádio e internet como o resultado da somatória de uma variedade de fatores, como o desenvolvimento tecnológico; a possibilidade de ampliação das audiências com a agregação de públicos segmentados em áreas geográficas diversas; o regionalismo, característica do rádio em comparação com o globalismo da internet; a democratização do acesso ao ‘fazer rádio’; a interatividade como elo entre os dois meios; e a possibilidade de captação sem interromper a execução de atividades paralelas, inclusive o prosseguimento do processo navegacional, bem como a possibilidade de programação da audição a partir da conveniência do ouvinte (TRIGO-DE-SOUZA, 2004, p. 303-304). Haussen (2004) conclui sem receio do chavão, que o rádio brasileiro tem sido o “companheiro de todas as horas”, não só no âmbito individual, mas, principalmente, no coletivo, e que deverá continuar desempenhando este papel por um bom tempo, seja qual for o seu suporte técnico. 52 CAPÍTULO II RÁDIO CIDADÃ: A EXPERIÊNCIA DA RÁDIO METROPOLITANA O presente capítulo aborda as transformações ocorridas no rádio, visto que este precisou se reinventar mais uma vez no final do século XX e início do XXI, em virtude das grandes mudanças tecnológicas advindas das tecnologias de informação e comunicação. Mudanças ocorreram, sobretudo, com a chegada do Jornalismo Cívico, as inovações do radiojornalismo e a trajetória do veículo de comunicação que tentou e conseguiu chegar sempre mais próximo do cidadão. Afinal como o rádio conseguiu superar tantas transformações nas últimas décadas e se manter firme e forte com o ouvinte sempre ligado aos assuntos que realmente interessam para o dia a dia da comunidade foi seu grande desafio, e que se pretende apresentar na sequência. A história da Rádio Metropolitana AM 1070, que comemorou 50 anos no ar mantendo a sua proximidade com o ouvinte, demonstra que esta rádio tem promovido um radiojornalismo de prestação de serviços à população. Nesse sentido, busca-se responder se um dos seus principais programas de radiojornalismo, o Radar Noticioso, com 49 anos de existência na emissora, cumpre seu papel de informar ao mesmo tempo em que mantém características do Jornalismo Público (JP). O estudo mostra, ainda, a experiência de uma ação social denominada Metropolitana na Comunidade que é realizada há três anos, às sextas-feiras, levando aos bairros de Mogi das Cruzes atendimento gratuito à população mais carente. Isto caracteriza realmente a marca do rádio mais perto do cidadão cumprindo o seu papel na responsabilidade social? Acreditamos que sim, pois esse resultado vem se consolidando no presente trabalho como uma forma de demonstrar o quanto o rádio tem penetração e forma opinião entre os cidadãos. 53 2.1. A emergência da Rádio Cidadã A interação entre o público e o veículo ou o sonho de Brecht (Quadros, 2005) é, sem dúvida nenhuma, o sonho de todos os comunicadores, pois a interatividade que se busca nas comunicações é justamente a resposta que o cidadão tem para dar ou complementar a informação. A autora afirma que estar junto ao público é uma das premissas do jornalismo público. No final dos anos 80 por causa da queda da leitura de diários impressos e o descrédito dos meios de comunicação, como a TV e o rádio, começa a ganhar adeptos a corrente do Jornalismo Público. O Jornalismo Público parece ter sido uma reação de professores, editores e jornalistas que saíram a campo abrindo mão da postura-padrão, para se lançarem em um novo relacionamento com o público. Para Barros (2009, p.1): “o jornalismo público não é nem um gênero nem uma categoria jornalística.” O autor afirma, ainda, que este tipo de jornalismo, mais detidamente nos Estados Unidos, pretendia retomar as questões éticas estampadas nos princípios democráticos da liberdade de expressão, por isso emerge como um movimento no processo de construção e formulação das notícias. Para Costa Filho (2006), os jornalistas públicos partem da premissa de que é necessário reanimar o debate público, é necessário interpelar o cidadão para que ele participe. Deste modo, propõe uma nova dinâmica da vida em sociedade, tendo a imprensa um fundamental papel não só como mediadora, mas como espaço de mediação. De simples observadores isentos, os jornalistas passam a ser atores (COSTA FILHO, 2006, p. 127). Vários autores (ABREU, 2003; TRAQUINA, 2003; QUADROS, 2005; COSTA FILHO, 2006; ARCE, 2007; BARCELOS, 2007) apontam como um dos papéis do JP a construção da cidadania. Porém, se alega que o Jornalismo é na essência um instrumento público, cívico, cidadão. E fica o questionamento de Costa Filho (2006): será que os meios e os jornalistas conseguem manter este compromisso, manter sua autonomia quando se dão conta que a imprensa hoje 54 se constitui como empresa ou está ligada a grandes grupos econômicos, pregado às vontades e interesses? Na análise de um dos estudiosos do JP, o professor Nelson Traquina, de Portugal, esse é um dos mais importantes movimentos do jornalismo nos últimos 30 anos. Essa nova proposta é conhecida por diferentes nomes: “jornalismo comunitário” (CRAIG, 1995, apud COSTA FILHO, 2006), “jornalismo de serviço público” (SHEPARD, 1995, apud COSTA FILHO, 2006); “jornalismo cívico” (LAMBETH e CRAIG, 1995, apud COSTA FILHO, 2006). Mas, para Traquina, a centralidade do termo “cidadão” em sua proposta o leva a preferir a designação “jornalismo cívico” (TRAQUINA, 2001, p. 171). Entretanto, seus principais teóricos nos Estados Unidos utilizam Jornalismo Público (ROSEN, 1994; MERRIT, 1995, apud COSTA FILHO, 2006). Arce (2007, p. 616), citando Merritt (1995), afirma que: o civic journalism assume a idéia de participante justo; concebe o público como ator social na vida democrática; incentiva a participação dos cidadãos nas discussões da sociedade. Dessa forma, esse tipo de jornalismo se mostra mais comprometido com a revitalização da vida pública e volta seu foco para a prestação de serviços para a comunidade e para a divulgação de informações que colaborem para a formação crítica dos sujeitos. Barcellos (2007) aponta que no caos brasileiro, o termo Jornalismo Cidadão é adequado, porque a palavra “cidadania” remete a iniciativas que tratam da inclusão social, da busca pelos direitos dos cidadãos e está consagrado na linguagem da própria imprensa. Uma definição que poderia ser considerada sublime em relação ao jornalismo cívico, citada por Traquina (2003) equipara uma harmonia de opiniões entre o jornalista norte-americano Davis Merritt, profissional com mais de 30 anos de atuação, e Jay Rosen, professor da Universidade de Nova York. De acordo com o autor, o Jornalismo Cívico é a afirmação é a reconstrução do jornalismo por meio de um papel mais ativo na construção de um espaço público mais vibrante e na resolução dos problemas da comunidade. A partir desse conceito, Traquina (2003) estabeleceu uma gama de 55 adequações que possibilitam definir as peculiaridades do Jornalismo Cívico, tais quais podemos dispor da seguinte maneira: - Encorajar o envolvimento do cidadão na vida pública; - Definir o cidadão como personagem participante na resolução dos problemas da sociedade; - Construção de uma pauta com foco nos problemas regionais coletados diretamente do cidadão que age como fonte dessas informações; - Discussão nos órgãos de Comunicação Social os problemas identificados nas entrevistas com os cidadãos e identificar valores fundamentais e posições de conflito; - Desenvolver a “Agenda dos cidadãos” por meio de suas demandas; - Direcionar recursos para as relações com as comunidades de maneira a buscar a interação entre o jornalismo e o cidadão a fim de ir além da busca pela solução de problemas, mas rumo à identificação desses conflitos; - Retomar as obrigações do jornalismo para com a vida pública efetiva; - Ir para além da missão de dar as notícias para uma missão ainda mais ampla que é ajudar a melhorar a vida pública; - Abandonar os princípios clássicos de “observação desprendida” adotando um papel de “participante justo”, isto é, enfraquecendo os princípios do afastamento rumo à participação equilibrada como agente interventor. Assim sendo, e com base nessas definições, é possível estabelecer o Jornalismo Cívico como um Novo Jornalismo, que enxerga na notícia, o poder de opinar observando valores justos, éticos e morais para o bem da comunidade na qual está inserido. Por meio de uma natureza cívica, aguça a comunidade à participação nas questões públicas-políticas pertencente a esse meio, com o objetivo de identificar, discutir, democratizar e solucionar problemas como agente pensador, interventor e fiscalizador. 56 Abreu (2003) caracteriza o jornalismo público praticado no Brasil em duas frentes: “jornalismo de utilidade social”, em que identifica a ação jornalística como tendente a servir os interesses concretos dos cidadãos e a responder às preocupações dos leitores ou da audiência referentes a emprego, habitação, educação, segurança, qualidade de vida, etc. [...] A imprensa assumiria aí o papel de mediadora e de interventora na sociedade (ABREU, 2003 p. 5-6). Enquanto que a segunda é denominada de “jornalismo de utilidade pública” a qual, segundo ela, se manifesta através de várias alternativas, entre elas a de “prestador de serviços ao público”. A imprensa escrita abriu espaço para as queixas e reivindicações de seus leitores através das seções de serviços. Hoje praticamente todos os jornais de grande circulação [...] mantêm colunas ou seções abertas ao público e procuram dar soluções a algumas das reclamações recebidas (Idem, p. 6). Além disso, Abreu destaca (idem, p.7) É importante assinalar que esses espaços atendem prioritariamente a reclamações do cidadão-consumidor de nível médio, tanto de instrução quanto de renda. (...) os leitores foram levados a buscar a ajuda dos jornais, por estarem cansados de esperar soluções dos serviços de atendimento ao consumidor das empresas sem conseguir sequer ser ouvidos como iniciativas da imprensa referentes à prestação de serviços, os espaços que atendem a reclamações do cidadão-consumidor, que se concentram em consumo e serviços; os canais abertos para reivindicações ao poder público do atendimento às necessidades do cidadão e o acesso à justiça; além do papel de fiscalizadora do poder público, “voltada para a denúncia de corrupção, para desvendar negócios ou ações ilícitas” Abreu (2003) se refere à prática do Jornalismo Público no Brasil já na década de 50, quando afirma que alguns jornais já faziam alguns atendimentos ao público. Certos jornais populares mantinham canais abertos procurando dar soluções a algumas reclamações recebidas. Mas, foi na década de 90 que houve um grande salto deste tipo de iniciativa, o Brasil se abria francamente à 57 democracia, a liberdade de imprensa tinha sido devolvida aos meios de comunicação de massa e houve um aumento considerável do número de jornais que abriram espaço para reivindicações dos leitores, aumentando o número de frequentadores dessas colunas. Já Silva (2002, p. 136) constata uma “‘boa vontade’, por parte da mídia, com relação a projetos sociais, mas, ao mesmo tempo, em vez de encontrar políticas ancoradas no Jornalismo Público, é mais fácil encontrar retrancas que se referem a Terceiro Setor e voluntariado”. De maneira geral, os veículos de comunicação brasileiros não se declaram praticantes do Jornalismo Público. A exceção mais clara é a da TV Cultura, que segundo Silva (2002), é o único meio brasileiro que declaradamente adotou, em meados de 2000, o JP como política editorial. Segundo Arce (2007), no formato radiofônico, não temos conhecimento de uma iniciativa autodeclarada de jornalismo público. Entretanto, na análise de Quadros (2005), o rádio ainda pode ser considerado um grande meio de comunicação para as práticas do Jornalismo Público. A trajetória do rádio, um meio de comunicação mais acessível para a população de todo o mundo, comprova que muitas de suas características de vinculação social podem ser resgatadas durante as transformações que exigem a nova era. Por exemplo, a agilidade na cobertura e a sua fácil portabilidade são pontos positivos para um cidadão que não têm mais paciência de esperar com tanta informação disponível. O rádio também sai na frente quando a rotina diária desse cidadão é atribulada. Afinal, pode-se ouvi-lo em qualquer lugar, seja on-off ou online, sem deixar de fazer alguma outra atividade (QUADROS, 2005, p. 50). Ao considerar uma das premissas do Jornalismo Público, que é a de estar em contato permanente com o cidadão, a comunicação de mão dupla proposta por Brecht (2012) garante ao rádio renovação do meio. Barbeiro (2004, p.139), afirma que “o radiojornalismo precisa interagir com o ouvinte-cidadão, precisa, nas palavras do autor, “ser reinventado como tantas e tantas outras atividades humanas são modificadas todos os dias”. Nesse aspecto, segundo Quadros (2005), o radiojornalismo pode abrir mais espaço para o cidadão e colocar em 58 prática o JP. “É uma forma de reinventar-se, é um modo de prolongar seus dias” (p. 50). De acordo com Quadros (2005), no JP, inserido na nova era digital, também existe uma interação entre mediador e ouvinte. Nessa interação está estabelecido que jornalistas e cidadãos construam uma agenda de forma conjunta, repercutindo as vozes de uma sociedade em benefício de uma causa comum. No entanto, essa relação não pode ser apenas aparente, “pois se o cidadão descobre manipulação na troca de informações ele definitivamente deixará de ouvir o programa” (QUADROS, 2005, p. 51). Isso quer dizer que o público das cidades reais e virtuais aprende a ser mais exigente a cada dia. Maria Cristina Castilho Costa (2002), assim como Barbeiro (2004), acredita que o rádio web passa agora a atender interesses individuais. Barros (2009; p. 61) afirma que: Em resumo, o que podemos constatar é que o Jornalismo Público pode e deve ser uma ferramenta da Comunicação de Interesse Público e existe para cumprir a função de envolver o cidadão nos assuntos que determinam a sua vida, individual ou coletivamente. O Jornalismo Público é um dos bons caminhos a ser trilhado pelo jornalismo e o cidadão precisa saber disso. 2.2. A experiência da Rádio Metropolitana O ano era 1961, no dia 9 de julho. O visionário Jayr Mariano Sanzone chegou a Mogi das Cruzes para enfim, construir uma emissora de rádio, “seria a primeira de uma série”, como ele disse na inauguração da Rádio Metropolitana AM 1070. O então jovem Sanzone, proprietário de uma empresa de alto-falantes no bairro da penha, na capital paulista, foi além. Com a frase “a rádio que trago para Mogi faz parte de um consórcio de emissoras”, Jayr Mariano Sanzone deu o pontapé inicial para testemunhar e contar os últimos cinquenta anos da história da cidade. Como havia previsto o seu fundador esta foi apenas a primeira de uma rede de 17 emissoras de rádio e TV. Em nove de julho de 1961, dia da Revolução Constitucionalista, a cidade de Mogi das Cruzes parou para assistir a um acontecimento que ficou marcado na memória de seus moradores. Exatamente às 8h00 da manhã uma multidão de 59 pessoas parou o trânsito na Praça Firmina Santana, esquina com a Voluntário Fernando Pinheiro Franco, no centro. No prédio de número 21, nos andares dois e três, era inaugurada a Rádio Metropolitana, na frequência 1.350 KHz (hoje está em 1.070 KHz). A bênção dos estúdios foi dada por D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Morta, então cardeal de São Paulo. O primeiro discurso foi o de padre Roque Pinto de Barros (MARANGONI, 2005, p. 69). Com uma programação jornalística, com informações dos assuntos de Mogi das Cruzes, da região do Alto Tietê, do Estado de São Paulo, do Brasil e do mundo – além de entretenimento, música, participação dos ouvintes e muitas atrações, a Rádio Metropolitana tem algumas marcas da emissora. Jornalismo com prestação de serviços à comunidade com a participação do ouvinte ao vivo. O lado institucional da Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes é um foco importante da emissora. Uma das maiores ações sociais é realizada a cada sexta-feira em um bairro diferente de Mogi das Cruzes. Com o Metropolitana na Comunidade, os ouvintes têm a oportunidade de encontrar serviços importantes praticamente na porta de casa e de graça! São médicos, advogados, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, conselheiras tutelares e muitos outros serviços, como corte de cabelo e atendimentos especializados para a população. Além disso, o evento é um canal livre para o ouvinte que pode reclamar de algum problema que atinge o seu bairro: as ondas da Metropolitana são um elo direto entre o ouvinte e as autoridades da cidade. É desta forma que a Rádio Metropolitana conquistou seu espaço e pretende conquistar muito mais com seus profissionais e colaboradores. Há cinquenta anos, conta a história de forma imparcial e aprofundada para os ouvintes tirarem as conclusões dos principais fatos que construíram e continuarão construindo Mogi das Cruzes e região. No jornalismo da rádio, o Radar Noticioso, é o carro chefe da emissora e está no ar desde 1962: os ouvintes se mantêm informados com entrevistas, comentários, análises e debates. Durante os anos que se seguiram, muitas pessoas passaram pela Rádio Metropolitana. Além da notícia em si, veiculada aos ouvintes do AM 1070, há também os bastidores da notícia. Além do que 60 passaram pelo programa muitas pessoas importantes que foram testemunhas oculares de fatos marcantes da história da cidade e do país. Hoje a Rede Metropolitana possui 17 emissoras, em várias cidades do estado de São Paulo, como Taubaté, Guaratinguetá, Campinas, São José dos Campos, São José do Rio Preto, Bauru, Garça, Sorocaba, Sumaré, Ribeirão Preto, entre outras. E uma delas fica em Minas Gerais, em Uberlândia. A direção dessa grande rede é feita pelos filhos do fundador Jayr Mariano Sanzone, trata-se de Silvio e Jayr Edson. Com o passar dos anos, a Rádio Metropolitana mudou, passou por grandes transformações e se tornou mais moderna, dinâmica, interativa e ainda mais presente na vida da comunidade. Toda tecnologia aliada a uma equipe de profissionais altamente treinados, garantem que a programação da Rádio Metropolitana chegue a qualquer lugar com a melhor definição de qualidade digital e, são estes fatores que firmam a Metropolitana a posição de 1º lugar na região do Alto Tietê (IBOPE, 2001). A Metropolitana mantém-se presente no cotidiano da população, em qualquer hora do dia ou da noite há ouvintes sintonizados no AM 1070, atentos para conferir as notícias da região, em busca também, de entretenimento e diversão. A Rádio Metropolitana é a companheira diária de várias famílias que encontram nela uma forma de se informarem sobre os acontecimentos de sua cidade, do estado e de todo o Brasil. Desde a manhã, acompanhando as principais notícias, os cidadãos sintonizam-na ainda na mesa do café, comércios, no local de trabalho, veículos particulares e coletivos auxiliando na escolha dos melhores trajetos para o trabalho, previsão do tempo e levando a todos, com criatividade, o encanto e a magia da rádio. E há alguns anos ocupa também o seu lugar garantido no site – é só clicar em Mogi das Cruzes – para ouvir ao vivo toda a programação da emissora. Este trabalho tem como objetivo principal analisar o efeito da Rádio Metropolitana AM 1070 na sociedade dos municípios da região do Alto Tietê – Mogi das Cruzes, Suzano, Poá, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Biritiba Mirim, Guararema, Salesópolis, Arujá e Santa Isabel no que se refere à 61 visibilidade midiática proporcionada às comunidades do Programa Radar Noticioso da Rádio Metropolitana AM 1070 quando da co-participação no quadro jornalístico “Momento do Ouvinte”. Dentro dessa perspectiva, a intenção é de observar, refletir e delinear sobre o comportamento do jornalista/âncora do programa que atua no dia-a-dia junto à comunidade, tão como analisar o perfil dos ouvintes de cada bairro, cuja reclamação ao vivo dá a oportunidade de falar “de igual para igual” com o poder público cobrando as principais reivindicações de suas localidades. Verificar de que maneira esses profissionais são pautados pela comunidade na produção de um radiojornalismo voltado à cidadania e a mobilização social em relação à solução de problemas. Na medida em que o Brasil avança na identificação de seus problemas coletivos e se preocupa com o resgate da cidadania, nem sempre o Estado dá conta de atender aos anseios da população, neste sentido, a mídia, mais especificamente o rádio com seu poder de penetração e persuasão, pode cumprir esse papel nesta árdua tarefa. Partimos do pressuposto de que a Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes amplifica a voz do cidadão na produção local da notícia fortalecendo as comunidades justamente quando o quadro “Momento do Ouvinte” concede às pessoas comuns os mesmos direitos das personalidades habituées da mídia. Líder de audiência na região do Alto Tietê, a Rádio Metropolitana nasceu há 49 anos e testemunhou grandes transformações sociais, políticas e econômicas não só da sociedade regional, mas também do Brasil e do mundo. Por seu equilíbrio editorial e pluralidade na abordagem dos principais acontecimentos, há muitos anos lidera o segmento jornalístico na região, segundo as pesquisas. A credibilidade alcançada junto ao público a torna referência obrigatória na vida do ouvinte que começa o dia cedo e precisa de informação. Através de seu sinal, a Rádio Metropolitana cobre mais de 11 municípios, com mais de 2,5 milhões habitantes. A cobertura geográfica da Rádio Metropolitana AM 1070 cobre as seguintes cidades da Região Metropolitana de São Paulo, que compõe o Alto 62 Tietê: Mogi das Cruzes (365.993 habitantes), Guarulhos (1.251.179 hab.), Itaquaquecetuba (340.596 hab.), Suzano (272.452 hab.), Poá (108.017 hab.), Ferraz de Vasconcelos (171.329 hab.), Arujá (72.694 hab.), Santa Isabel (47.352 hab.), Biritiba Mirim (28.926 hab.), Guararema (24.374 hab.) e Salesópolis (16.235 hab.). A audiência da emissora refere-se ainda à região do ABC Paulista, Baixada Santista, Vale do Paraíba e grande parte da cidade de São Paulo, isso em função do posicionamento geográfico da antena e à potência do transmissor, que opera com 10.000 Watts. Mas o grande diferencial da Rádio Metropolitana é ser a única emissora de notícias voltada exclusivamente para o noticiário regional. Portanto, é a rádio que representa a região há mais de quatro décadas através de um programa que discute os assuntos dos municípios da região. A identificação do ouvinte com os assuntos do seu município e/ou do seu bairro acabam criando um vínculo da emissora com o público-alvo, que deixa de ouvir outras rádios de São Paulo com notícias eminentemente nacionais e internacionais, para saber sobre os assuntos mais importantes para o seu dia-a-dia, como Política, Cidadania, Polícia, Esporte, entre outros. No site da emissora e no material de divulgação da rádio são destaques: - Jornalismo – durante o Radar Noticioso, a Metropolitana traz ao ouvinte, informação em tempo real. Um plantão de informações com giros de repórteres em toda a região durante toda a programação e no Cidade Agora, diariamente. - Público diferenciado – com uma programação variada, atinge na parte da manhã, classes A, B e C. Um público formador de opinião, que acompanha nosso noticiário regional. - Musicalidade – a Rádio Metropolitana toca uma diversidade musical, com participação dos ouvintes, atingindo as classes B, C e D. - Abrangência do sinal – a Metropolitana é a única Rádio do Alto Tietê, que atinge um público com mais de 2,5 milhão de pessoas, em 11 municípios, tendo 68 mil ouvintes rotativos por minuto. 63 - Marca Metropolitana – há 50 anos, a Rede Metropolitana é sinônimo de jornalismo, música, interação, voz do ouvinte e muita prestação de serviços, por isso a rádio é indispensável à cidadania. 2.3. O programa Radar Noticioso Contar a história do rádio também faz parte deste trabalho, já que precisamos conhecer a trajetória do importante veículo de comunicação que nasceu como vedete, sentiu-se ameaçado com o crescimento da televisão, mas que soube se superar a cada década. No século XXI, o rádio continua sendo o grande e rápido meio que informa o cidadão a qualquer hora com a agilidade de estar no momento da notícia. A pesquisa chega até a internet, que está sendo utilizada pelos radialistas como peça-chave para disseminar ainda mais as ondas do dial que agora se transformaram também na divulgação através da web. O Programa Radar Noticioso está no ar desde 1962, um ano depois da inauguração da emissora, e se transformou em décadas no carro-chefe da programação jornalística da emissora, liderando a audiência na região todas as manhãs, conforme aponta a pesquisa feita pelo Ibope em 2001. Vários âncoras, apresentadores e locutores passaram pelos microfones do programa, sempre fazendo do radiojornalismo um dos destaques da rádio. O papel do âncora sempre foi o de chamar no próprio microfone a responsabilidade da Prefeitura ou outros responsáveis para o problema do ouvinte para resolver o questionamento. Isso ocorre até mesmo com problemas relacionados à saúde, tanto os ligados às administrações municipais quanto dos hospitais públicos ou até mesmo particulares da região. Aliás, a saúde é um dos assuntos mais comentados no programa. O ouvinte, por sua vez, acaba interagindo com a Rádio Metropolitana, criando vínculos e até mesmo tendo como cúmplice os âncoras da programação jornalística que procuram defender a população. As informações servem muitas vezes de base para os comentários feitos nos programas, trazendo maior agilidade a programação que conta com a audiência rotativa do rádio. Portanto, abrir o microfone para a comunidade, prestar serviços para 64 resolver os problemas dos cidadãos, e cobrar as autoridades constituídas, tem sido imprescindível para o jornalismo cidadão-ouvidor, que tem como mérito articular o conceito e a técnica na elaboração da notícia e dirigi-la a um público ainda em formação. A rádio tem, assim, como meta informar os ouvintes com um radiojornalismo sério e que discuta os principais assuntos de Mogi, região, Brasil e mundo. O principal foco de uma rádio regional é na produção local da notícia e sua relação com a sociedade local. Na análise de Marangoni (2005), o diretor-presidente da Rádio Metropolitana Silvio Sanzone faz questão de afirmar que o jornalismo na rádio mantém o alto índice de audiência e credibilidade, graças à sua independência editoral. A equipe de profissionais que atua no dia-a-dia recebe a ordem expressa da direção: ‘vamos fazer rádio voltado para o povo. Nosso compromisso é com a periferia e seus problemas. Vamos cobrar soluções. Este também é o papel do rádio’ (MARANGONI, 2005, p. 75). A contribuição da Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes visa definir e expor o jornalismo comunitário por meio do Programa Radar Noticioso que vai ao ar de segunda a sábado, das 5h30 às 10 horas. A meta da equipe de jornalismo é estabelecer um parâmetro entre a pauta desta prestação de serviços e a construção da notícia. A programação do Radar Noticioso começa às 5h30 com o Radar Rural, com notícias de interesse direto para o agricultor e os ouvintes que precisam de informações sobre o cinturão verde de São Paulo, que fica na região de Mogi das Cruzes e Alto Tietê. O programa é apresentado pelo locutor Dalton Capela. Às 6 horas, a âncora Marilei Schiavi entra no ar com os destaques dos principais jornais do dia, em nível nacional e regional, e com matérias de interesse da comunidade. Às 7 horas tem o comentário da âncora sobre o assunto do dia, sempre utilizando sonoras dos acontecimentos, dando a sua opinião. A emissora tem compromisso histórico com jornalismo comunitário, principalmente no “Momento do Ouvinte”. O quadro, que vai ao ar de segunda a sábado, das 7h30 às 8 horas dentro do Radar Noticioso, passou a priorizar ainda 65 mais o cidadão buscando “intermediar” com o poder público e os setores privados a busca de soluções para as mazelas locais. Tudo é apresentado com uma linguagem mais interativa, isto é, em que a âncora do programa fala “com o ouvinte e não para o ouvinte”. O referido quadro tem a função de aproximar a comunidade da esfera do poder público, “incentivando o exercício da cidadania”. Os ouvintes entram no ar aleatoriamente porque são eles que escolhem qual dia, qual hora e qual reclamação irão fazer no ar ao vivo. Não existe pré-pauta e o microfone é aberto para todos os ouvintes, indiscriminadamente. A rádio funciona como uma verdadeira Ouvidora da população há 50 anos. Quanto à intermediação, o papel da emissora é abrir espaço para a comunidade, atuar como prestadora de serviços a partir do contato com as autoridades para cobrar uma resposta para os problemas dos ouvintes. Diante da reivindicação, a Rádio Metropolitana intermedia do representante público e/ou privado a solução do problema. A partir daí entra em ação a equipe de produção do programa, contatando as autoridades para definir o que vai ser feito em relação à reclamação. No dia seguinte, geralmente, a resposta das autoridades já é lida durante o “Momento do Ouvinte” e a equipe acompanha o cumprimento da reivindicação. Geralmente entram no ar por dia de quatro a cinco ouvintes com suas reivindicações em meio a respostas das autoridades constituídas que são lidas neste ínterim. Diante deste cenário abrem-se os microfones da Rádio Metropolitana para todos os ouvintes da comunidade, verifica-se se, de fato, existe uma comunicação despretensiosa com a comunidade ou se, ao contrário, ocorre à manipulação das pessoas que residem em determinado bairro selecionando com o uso da proposta jornalística centrada na comunidade uma reclamação direcionada autoridade/poder para constituído. prejudicar Outra indagação ou defender pertinente que determinada buscamos responder é de que maneira o jornalismo da Rádio Metropolitana, mais incisivamente se o quadro “Momento do Ouvinte” é utilizado como instrumento de transformação social em prol da cidadania. No entanto, a pergunta feita aos ouvintes é se o Radar cumpre realmente o papel de bem informar, mas também superar as expectativas de formar cidadãos obtendo várias visões dos acontecimentos, representando a população em 66 assuntos que o cidadão não consegue resolver nem mesmo através dos seus representantes políticos ou governamentais. A equipe de Jornalismo da Rádio Metropolitana é composta por dez jornalistas formados com MTB e DRT que produzem notícias, reportagens e entradas ao vivo dos repórteres dos assuntos importantes para os ouvintes de Mogi das Cruzes, região, Brasil e mundo nos dois programas jornalísticos da emissora: o Radar Noticioso e no Cidade Agora, este último vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 17h00 às 18h30. Durante o dia, de hora em hora, tem boletins de notícias com giro de informações que incluem os principais fatos do dia com os repórteres ao vivo durante os demais programas da rádio. A emissora conta ainda com uma equipe de seis produtores dos programas jornalísticos. Com o lançamento da Ouvidoria Geral de Mogi das Cruzes, a Prefeitura de Mogi das Cruzes abriu mais um canal de comunicação com a população e diretamente com a Rádio Metropolitana, já que a produção da emissora não precisa mais direcionar cada reivindicação para um setor diferente da administração municipal da cidade, mas diretamente ao Ouvidor Geral Romildo Campelo, que passou a ser um parceiro da emissora na busca das soluções para os problemas dos ouvintes, conforme abordaremos no Capítulo III. Nesse sentido, o Radar Noticioso da Rádio Metropolitana acaba fazendo um Jornalismo Público regionalizado que é comumente denominado de Jornalismo Comunitário. 2.4. Da Rádio à Ouvidoria Geral de Mogi das Cruzes A Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes elaborou o Plano Diretor da cidade em 2006 de forma participativa. Foram feitas diversas oficinas em toda a cidade para ouvir a população e registrar suas expectativas. Ocorreram também reuniões temáticas, com segmentos da sociedade para ampliar a participação e a profundidade das análises. Nesse processo, em diversos momentos surgiu a necessidade de criação de novas estruturas administrativas, como a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agricultura, setores que até então eram apenas diretorias dentre da estrutura administrativa da Prefeitura. Surgiu também nesse mesmo movimento a demanda para a criação da Ouvidoria Municipal. 67 Vários setores da sociedade civil, como movimentos populares, segurança e da saúde incluíram a Ouvidoria na pauta do Plano Diretor. Os argumentos favoráveis à Ouvidoria eram a necessidade da criação de um canal direto de comunicação entre a Prefeitura e a sociedade, canal inexistente na época. O resultado foi a inclusão no Plano Diretor, que tornou-se a Lei Complementar número 46 de 17 de novembro de 2006, que no seu penúltimo artigo apresenta a seguinte redação: Art. 319. O Poder Executivo criará a ouvidoria municipal, garantindo um canal de comunicação entre este e os cidadãos de Mogi das Cruzes, para intermediar o atendimento de solicitações, encaminhamentos e respostas de reclamações e pedidos de orientações dos munícipes a respeito de todos os serviços institucionais de responsabilidade do Executivo Municipal, no prazo de 18 (dezoito) meses a contar da publicação desta Lei Complementar (PLANO DIRETOR MUNICIPAL, 2006). Durante a eleição municipal de 2008 novamente reaparece na sociedade mogiana o clamor pela criação da Ouvidoria Municipal. O então candidato Marco Aurélio Bertaiolli, colocou no seu Plano de Governo o compromisso da criação da Ouvidoria. No capítulo do Plano de Governo referente à Administração Municipal a participação popular é destaca, conforme o texto abaixo: A gestão democrática do Município de Mogi das Cruzes tem como objetivo incorporar a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução, acompanhamento e implementação de planos, programas e projetos (BERTAIOLLI, 2008). O Plano de Governo compromete-se com a criação da Ouvidoria Municipal. O candidato foi eleito prefeito no pleito de 2008. No segundo semestre de 2009 e principalmente no início do ano de 2010 começa um movimento na cidade para a criação da Ouvidoria. Diversos artigos de jornal foram feitos com essa cobrança. No programa Radar Noticioso há um debate semanal chamado “Meninos da Marilei” vários debates acalorados ocorreram especificamente sobre esse tema, cobrando o compromisso do governo com a criação da Ouvidoria. Finalmente, em 5 de julho de 2010 a lei número 6.421 de iniciativa do Prefeito Marco Bertaiolli, que cria a Ouvidoria Geral do Município é aprovada 68 (MOGI DAS CRUZES, 2010). O Ouvidor Geral do Município é um cargo nomeado pelo Prefeito, com prerrogativas de Secretário Municipal. O processo de construção da Ouvidoria Geral de Mogi das Cruzes, iniciouse com a aquisição de um sistema informatizado, que funciona através da internet e integra todas as Secretarias na Ouvidoria Geral. Deve-se ressaltar que a grande inspiração para a organização da Ouvidoria Geral veio da Rádio Metropolitana, especificamente do programa “Radar Noticioso” apresentado pela autora desta pesquisa. Com sua experiência no quadro “Momento do Ouvinte”, ainda na fase de testes da Ouvidoria, passou a receber diariamente as demandas do programa e gerenciá-las pela Ouvidoria. As demandas da rádio tramitaram pelo sistema e passaram a ser administradas pela Ouvidoria, que no final repassa a resposta para a rádio. Outro momento fundamental na parceria entre a rádio e a Ouvidoria foi a participação no programa Metropolitana na Comunidade. Programa que acontece todas às sexta-feira em diferentes bairros da cidade. Oportunidade dupla, para levar a Ouvidoria aos bairros da cidade, e ao mesmo tempo sentir in loco os problemas e as percepções das pessoas sobre a cidade, a prefeitura e as relações sociais. A participação da Ouvidoria nos programas da Rádio Metropolitana foi fundamental na estruturação técnica, conceitual e humana da Ouvidoria. A continuidade da participação da Ouvidoria na Rádio Metropolitana parece criar uma nova modalidade de Ouvidoria. Ao mesmo tempo em que divulga, educa e assiste a população, faz um trabalho plural e mais abrangente que o simples atendimento a um problema pontual. A Ouvidoria ampliada pelas ondas do rádio leva à população informação e serviços. O rádio, por sua vez, imprimiu na Ouvidoria um aspecto de amplitude, de prestação de serviços que vai além do registro de reclamações e denúncias. O jornalismo aliado à prestação de serviços, sua ligação com o poder público municipal, aproxima a todos, encurta as distâncias. Cria-se, assim, com essa interação uma nova figura: o ouvinte/cidadão. 69 2.5. Metropolitana na Comunidade O projeto Metropolitana na Comunidade, a ação de responsabilidade social promovida pela Rádio Metropolitana AM 1070 é realizada pela emissora há três anos. Segundo a Revista Femme (2010), baseada nas informações da diretoria da emissora - só em 2010 a ação alcançou 13.380 atendimentos a pessoas carentes de vários bairros de Mogi das Cruzes. Através da mobilização de parceiros estratégicos, o Metropolitana na Comunidade reúne serviços em diversas áreas - médica, odontológica, psicológica, jurídica, entre outras –, além de manter aberto um canal na mídia para pedidos e reivindicações da comunidade, estimulando a cidadania e aproximando a população das instituições públicas e sociais e da iniciativa privada. Entre os serviços oferecidos pelos parceiros da Metropolitana na Comunidade à população de Mogi das Cruzes estão a coleta de material para exame de papanicolaou, dosagem de glicose, medição da pressão arterial, tipagem sanguínea, exame de urina e orientações em diversas áreas como posturais com atendimento fisioterápico; higiene bucal com distribuição de kitescovação; psicológica; jurídica; direito do consumidor; direito da criança e do adolescente; Programa Bolsa-Família e benefícios do Banco do Povo. Os participantes contam ainda com cortes de cabelo e sorteios de diversos brindes a cada edição, realizada sempre às sextas-feiras em um bairro carente de Mogi. Nos últimos doze meses de 2010 foram realizadas 41 edições em bairros como Botujuru, Vila Natal, Jardim Planalto, Vila Estação e Conjunto Santo Ângelo, entre outros, por onde passaram 5.400 pessoas que receberam, ao todo, 13.380 atendimentos. A Metropolitana na Comunidade é o grande trabalho da rádio como prestadora de serviços aos moradores que precisam de atendimento especial nos bairros da cidade. Segundo a direção da emissora, esse é o grande papel de uma emissora que comemorou 50 anos no ar e cumpre o seu papel na responsabilidade social. 70 CAPÍTULO III O RADAR NOTICIOSO: OUVIDORIA HÁ 50 ANOS Neste capítulo serão apresentados, além dos resultados da investigação, os procedimentos metodológicos utilizados na realização da pesquisa, identificando o tipo de pesquisa, a metodologia adotada e as técnicas de coleta utilizadas no estudo. O presente estudo caracteriza-se como uma investigação qualitativa, diante da qual a realidade é fluente e contraditória, e os processos de investigação, por sua vez, dependem também do pesquisador, seja sua concepção, seus valores e seus objetivos (CHIZZOTTI, 2006). Por qualitativo, entendemos: [...] uma partilha densa com pessoas, fatos, e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível. Após este tirocínio, o autor interpreta e traduz em um texto, zelosamente escrito, com perspicácia e competência científicas, os significados patentes ou ocultos do seu objeto de pesquisa (CHIZZOTTI, 2006, p. 29). Para a obtenção dos dados empíricos, aplicou-se como instrumento a entrevista estruturada. Segundo Marconi e Lakatos (1994), a entrevista é um encontro entre duas pessoas, para que mediante uma conversação, uma delas obtenha informações sobre determinado assunto, em nosso caso buscou-se verificar a importância da Rádio enquanto prestadora de serviço à comunidade. Para Gil (1999, p. 117) a entrevista é uma técnica “em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com objetivo de obtenção dos dados que interessam a investigação”. Segundo o autor, muitos autores consideram a entrevista como a técnica por excelência, sobretudo, na investigação social. 71 3.1. Os sujeitos da pesquisa Para alcançar o objetivo proposto, foram selecionados, por meio de banco de dados que registra a frequência de participação dos ouvintes mais assíduos, cinco entrevistados, isto é, os que por meio do telefone, mais ligam para o Programa Radar Noticioso. O banco de dados acima referido é composto pelo nome, endereço, telefone, profissão, escolaridade e a reclamação do ouvinte. Este processo é realizado junto à equipe de programação da Rádio Metropolitana durante o Programa Radar Noticioso. Em seguida, elaboraram-se as entrevistas (ANEXOS I e II), de acordo com o problema desta pesquisa, os objetivos e o referencial teórico apresentado nos capítulos anteriores. O roteiro da entrevista apresenta, na primeira parte, dados pessoais relativos ao nome do entrevistado, cidade em que reside, idade, escolaridade, e profissão. Numa segunda parte, enfoca-se, entre outras questões gerais, a rádio que mais sintoniza, o programa que mais ouve, a relação entre a rádio e a comunidade. Ao entrar em contato com os entrevistados, foi-lhes esclarecido o objetivo da pesquisa, ressaltando a garantia no sigilo das informações colhidas, bem como a preservação de suas identidades. Portanto, quando mencionados os sujeitos serão identificados apenas com o seu primeiro nome. As entrevistas foram realizadas no estúdio da Rádio Metropolitana AM 1070 por um interlocutor escolhido para conversar por telefone e gravar as entrevistas com os ouvintes. Tradicionalmente, conforme aponta Gil (1999, p.121), as entrevistas têm sido realizadas face a face. No entanto, “nas últimas décadas vem sendo desenvolvida outro modalidade: a entrevista por telefone”. Dentre as principais vantagens para o uso desta encontram-se: a) custos muito baixos; b) facilidade na seleção da amostra; c) rapidez; d) maior aceitação dos moradores das grandes cidades, que temem abrir suas portas para estranhos; e) possibilidade de agendar o momento mais apropriado para a realização da entrevista; 72 f) facilidade de supervisão do trabalho dos entrevistadores (GIL, 1999, p. 122). Em nosso estudo, optamos pela realização das entrevistas por meio do telefone, sendo transcritas em seguida na íntegra obedecendo ao processo de “seleção” dos dados, conforme Marconi e Lakatos (2003, p.166). Vale ressaltar, ainda, que as entrevistas por telefone apresentam algumas limitações, entre as quais: Interrupção da entrevista pelo entrevistado; menor quantidade de informações; impossibilidade de descrever as características do entrevistado ou as circunstâncias em que se realizou a entrevista; parcela significativa da população que não dispõe de telefone ou não tem seu nome na lista (GIL, 1999, p. 122). Das limitações acima apresentadas, nos deparamos, sobretudo, com duas delas, a menor quantidade de informações e a impossibilidade de descrição das características dos entrevistados. Ressalta-se que, além dos cinco entrevistados selecionados, junta-se um sexto sujeito. Trata-se de um antigo âncora do Programa Radar Noticioso, que nos ajudará a entender as mudanças ocorridas no âmbito do programa. A sua escolha considerou dentre outros fatores: seu tempo à frente do programa, e por ser o único âncora do programa ainda vivo. Foi um total de seis entrevistados, com idade média de 30 a 70 anos. Três homens e três mulheres. Com escolaridade que varia da 4ª série primária ao ensino superior (completo e incompleto). Grande parte dos entrevistados é residentes na cidade de Mogi das Cruzes, cinco dos seis sujeitos. Um entrevistado reside em Itaquaquecetuba. A tabela 1 a seguir caracteriza melhor os referidos sujeitos: 73 Quadro 1 – Caracterização dos sujeitos da pesquisa NOME IDADE Monica ESCOLARIDADE 34 2º grau completo PROFISSÃO Dona de casa e aposentada Henrique 40 2º grau Aposentado José 49 4ª série completa Pensionista Marinete 49 Superior incompleto Aposentado David 66 2º grau completo Locutor comercial Terezinha 69 Superior completo Professora aposentada Fonte: a autora (2012) Outro dado a ser destacado é que a maioria dos entrevistados ouve a Rádio Metropolitana AM por mais de seis anos. Monica ouve desde os 12 anos, quase todos os dias, segundo ela, “é muito difícil o dia que não ouço”. Henrique acompanha a rádio há mais ou menos 15 anos. José ouve praticamente todos os dias, há mais de 30 anos. Marinete é a que menos tempo ouve em comparação com os demais, faz apenas 6 anos, no entanto, também ouve a rádio todos os dias. David trabalhou na rádio por mais de 40 anos. Terezinha acredita que faz mais de 10 anos que ouve a rádio, e só não ouve a rádio quando não está em Mogi das Cruzes. 3.2. Elaboração dos dados Após coleta dos dados, realizada por meio dos procedimentos indicados anteriormente, eles foram elaborados e classificados de forma sistemática, conforme os passos apontados por Marconi e Lakatos (2003, p. 167): “Antes da análise e interpretação, os dados devem seguir os seguintes passos: seleção, codificação, tabulação”. A seleção implica num exame minucioso dos dados coletados. Uma seleção cuidadosa pode apontar tanto o excesso como a falta de informação (MARCONI; LAKATOS, 2003). Nesse sentido, quando obtido o material coletado 74 por meio das entrevistas, submetemos a uma verificação que procurou detectar possíveis falhas ou erros, a fim de evitar informações confusas, distorcidas e incompletas. Na fase da codificação, categorizamos os dados coletados a partir das suas relações, procurando, assim, relacionar a frequência da citação de alguns temas, palavras ou ideias em um texto, por meio da análise de conteúdo: A análise de conteúdo construiu um conjunto de procedimentos e técnicas de extrair o sentido de um texto por meio das unidades elementares que compõem produtos documentários: palavraschave, léxicos, termos específicos, categorias, temas e semantemas, procurando identificar a frequência ou constância dessas unidades para fazer inferências e extrair os significados no texto a partir de indicadores objetivos [...] (CHIZZOTTI, p. 115). Na tabulação os dados são dispostos em tabelas e quadros, a fim de que possibilitem maior facilidade na verificação das inter-relações entre eles. Nesta fase, buscamos sintetizar os dados coletados nas entrevistas por meio de quadros que caracterizam os sujeitos da pesquisa (Quadro 1) e as categorias temáticas (Quadro 2). A partir da análise de conteúdo foi possível identificar seis categorias temáticas, conforme segue: Quadro 1 – Principais categorias temáticas Categoria Descrição A rádio mais ouvida Essas categorias buscam responder a questão se o Programa Radar Noticioso realmente cumpre o papel de bem Importância da Rádio Metropolitana informar. Verificando se existe uma comunicação despretensiosa ou se o que A rádio como prestadora de serviço ocorre é manipulação. E mais, se o O programa mais ouvido da Rádio jornalismo da Rádio Metropolitana é utilizado como instrumento de Metropolitana transformação social. Identificação com a radialista Fonte: a autora (2012) 75 3.3. Análise e Interpretação dos dados Segundo Gil (1999, p.168), esta fase de análise e interpretação, realiza-se após a coleta de dados, e apesar de conceitualmente distintos, “aparecem sempre estreitamente relacionados”: A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposta na investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos. 3.3.1. A rádio mais ouvida Conforme apresentamos no Capítulo I, o rádio foi o primeiro meio de comunicação a falar individualmente com as pessoas (CALEBRE, 2004). Sendo, portanto, uma de suas principais características a proximidade com o ouvinte. Ouvinte como o termo decreta é para ouvir. Ouvinte é aquele que ouve. Mas o ouvinte também fala. Em muitas rádios, como na Metropolitana, a relação ocorre da seguinte forma: o ouvinte liga para a rádio e um profissional atende a solicitação chamada normalmente de “reclamação do ouvinte”. A anotação é passada para ao (a) âncora para fazer a veiculação e pedir providências. Na Rádio Metropolitana, o ouvinte pode telefonar e pedir para anotar sua reclamação, participar ao vivo no ar, enviar e-mail, carta e até mesmo fax. Nesse sentido, de acordo com Deus (2002), os ouvintes estabelecem uma relação de dependência com os programas de rádio, especialmente em emissoras como a Metropolitana, que se volta para os problemas da comunidade. O rádio acaba tendo, assim, a função da reciprocidade em relação ao ouvinte. E vai além porque significa compreender o ouvinte que tem um problema na sua casa, na sua rua ou na sua comunidade. Essa característica de proximidade com o ouvinte foi apresentada na fala dos entrevistados da pesquisa, na medida em que mencionam sintonizar a Rádio Metropolitana por estar de 76 algum modo vinculado a sua realidade local, tal como se expressa nas seguintes falas: [...] é uma maneira de nós poder ter acesso direto a nossa cidade de Mogi das Cruzes, que é mais a cidade que nós atua cobrando, para que possam os órgãos públicos, possam levar as melhorias, até nossa comunidade (HENRIQUE). [...] nós temos que valorizar a Rádio da nossa cidade e a Metropolitana é a Rádio da minha cidade, a cidade onde eu nasci então é pra ela que eu tenho que ligar (MONICA). Tal como apontado no Capítulo II, uma das marcas da Rádio Metropolitana é, sobretudo, o jornalismo com prestação de serviço à comunidade. Isso acaba por aproximar ainda mais o ouvinte com os problemas de sua cidade e região, que buscam na referida rádio, e não nas outras, lugar para denunciar ou mesmo fazer pedidos. Outros entrevistados demonstram certa relação de afeto com a Rádio Metropolitana. É o caso da ouvinte Terezinha, para quem “a Rádio que nos dá essa oportunidade de abrirmos o coração”. É o caso também de José que bem sintetiza essa relação na sua fala: Eu me apeguei mais nessa Rádio, fico sempre sintonizado neles, só neles, só neles, eu gosto mais deles, agora isso é uma questão de gostar também né? (JOSÉ) Já a ouvinte Marinete até ouve outras rádios, no entanto, acaba optando pela Rádio Metropolitana com muito mais frequência: Olha, eu entro na Metropolitana e entro em outras Rádios também de vez em quando, mas a Metropolitana é muito mais frequência (MARINETE). A fala dos sujeitos entrevistados apontam de alguma maneira para a Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes como a que eles procuram para se manifestarem. Entende-se, portanto, segundo Haussen (1997), que o rádio contribui com a organização dos relatos da identidade e do sentido de cidadania possibilitando que as populações mais distantes inclusive entrem em contato com o mundo. 77 O ouvinte/cidadão quer opinar, denunciar o que aconteceu e ressaltar providências que deveriam ter sido atendidas por órgãos públicos, autarquias, empresas privadas, lojas, entre outras reivindicações. O ouvinte reclama e o rádio descobriu que abrir os microfones para estes ouvintes é um grande negócio. De acordo com Deus (2002), essa relação rádio/ouvinte pode ser vista por dois lados: da perspectiva do ouvinte que diante da impotência do poder público procura o rádio onde busca auxílio, quem sabe uma mediação diante deste poder público. E também da perspectiva da rádio que transforma a angústia, o problema individual em acontecimento, notícia, espetáculo e retorno econômico. Esta mensagem é fruto dos diferentes papéis que o rádio cumpre na sua função de ser companheiro, noticiador e mensageiro. O testemunho dos ouvintes solicitando para a rádio providências é a compreensão destes diferentes papéis. 3.3.2. A importância da Rádio Metropolitana No Capítulo II destacamos a história da Rádio Metropolitana AM 1070. Segundo Marangoni (2005, p.74), entre os momentos mais marcantes da rádio está sua ligação com a comunidade através da regionalização da programação e da prestação de serviços. Segundo Marangoni (2005, p.74), “nas lembranças de Sanzone estão momentos marcantes da Metropolitana e há até hoje um grande vínculo da cidade com a emissora. Foi abrindo espaço para as manifestações da comunidade que o conceito da rádio cresceu junto à população”. Essa proximidade que a Rádio Metropolitana oferece aos seus ouvintes aparece revelada na importância que a referida rádio tem na vida dos sujeitos entrevistados nesta pesquisa, conforme segue: Meu querido, muito importante, a Metropolitana pra mim que sou um cidadão, como liderança de bairro a Metropolitana pra gente aqui no Alto Tietê é tudo na vida da gente através dos programas, né, que abre espaço pra gente cobrar, acompanhar o trabalho que a Marilei Schiavi faz pra todos nós mogianos, sabe? E todo Alto Tietê (HENRIQUE) 78 Pra mim é muito importante, pois, a Rádio passa informação sobre a cidade, sobre o que está acontecendo, eu fico sempre atualizada com tudo o que acontece na minha cidade e nos municípios ao redor (MONICA). Ela divulga tudo sobre a cidade, ela ajuda a população no sentido que nós temos um canal aberto no Radar Noticioso para solicitar as coisas, exigir até melhorias na comunidade e alegra também a população com a sua programação (TEREZINHA). A Rádio Metropolitana Mogi das Cruzes AM 1070, não só na minha vida, como em todo Alto Tietê, ai de nós se não fosse a Metropolitana (JOSÉ). Nossa, ela é importante em todos os âmbitos, na saúde, no transporte, em estar falando algo que ninguém tem coragem de falar, então acho que ela é importante em todos os âmbitos em minha vida (MARINETE). Nossa, ela é importante em todos os âmbitos, na saúde, no transporte, em estar falando algo que ninguém tem coragem de falar, então acho que ela é importante em todos os âmbitos em minha vida (MARINETE). Para se ter uma ideia da efetiva atuação da Metropolitana, Marangoni (2005, p. 74-75), menciona pesquisa realizada no final dos anos 60, a pedido de candidatos a prefeito que encomendaram uma pesquisa que comprova a audiência da rádio, “a Metropolitana tinha 79% de audiência no horário da manhã, enquanto a Marabá, principal concorrente, tinha 21%”. De acordo com o autor (MARANGONI, 2005), em outra pesquisa, em 1968, os números foram impressionantes e o diretor-presidente Sanzone, acredita que tenha sido o maior prêmio que a Metrô (apelido carinhoso da emissora tenha recebido naquela época). A então pesquisa apontou que a Metropolitana tinha a segunda maior audiência da Grande São Paulo, só perdendo para a Rádio Nacional, atual Globo. A regionalização das notícias sempre aproximou a Rádio Metropolitana dos mogianos e da região do Alto Tietê. Desde coberturas memoráveis feitas pela emissora, conforme aponta Marangoni (2005), como a liberação dos investimentos para o início das obras da estrada Mogi-Bertioga, ou ainda, a cobertura da visita do presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, em 1965, que ganhou elogios por parte dos ouvintes que acompanharam ao vivo todos os detalhes daquela visita. 79 Marangoni (2005) destaca que para Sanzone as coberturas das eleições e apurações durante décadas de trabalho transparente e com credibilidade, sempre acompanhada pelos ouvintes, também marcam o trabalho desenvolvido pela rádio. Para Silvio Sanzone, seu maior prazer, enquanto diretor da Metropolitana, era saber que estava em julgamento o papel que a emissora representou e representa para a cidade. Alega ter a certeza de que o reconhecimento público é evidente e isto é percebido a todo instante. A manifestação do ouvinte, para Silvio, representa tudo (MARANGONI, 2005, p. 76). 3.3.3. A Rádio como prestadora de serviços A trajetória do rádio mostra que o veículo de comunicação cumpriu e cumpre o seu papel de informar, formar opinião, além de entreter, veicular música, show e muito mais, conforma apresentado no Capítulo I. Nunes (2000) salienta que é a partir dos anos 80, com a redemocratização do país, que o rádio AM voltaria ao cenário a política com toda a força, verificando a emergência a partir do crescimento dos radialistas populares que embora tivessem obtido muito sucesso no rádio, surgiam, agora, como uma proposta diferente: “prestar serviços à comunidade” (NUNES, 2000, p. 63). Essa seria a tônica do rádio AM nos anos 80: a prestação de serviços. Mais o que motiva o ouvinte a procurar a rádio para solicitar, denunciar, reivindicar direitos? E outro questionamento: o rádio disputa espaços com o poder público? Afinal, como o ouvinte aparece no discurso radiofônico? Muitos dos ouvintes entrevistados acabam procurando a rádio a fim de buscar respostas para questões com aspectos gerais, que atingem o interesse de toda a comunidade, como apresenta as falas que seguem: O mais importante, o Jardim Margarida, nós não tinha rede de água, era um sofrimento, e quando eu entrei na Associação em 2002 eu comecei a fazer um trabalho, a primeira coisa que eu fiz foi chamar a Rádio Metropolitana e começou aquela batalha travada para levar água para o bairro da divisa, a Marilei Schiavi, no ar, começou a rodar a fita, ai mexeu até com o gabinete do governo do estado e foi aonde nós conseguimos em 2002 em parceria com a prefeitura com apoio da 80 Marilei Schiavi cobrando dos órgãos competentes, conseguimos trazer o governador no Jardim Margarida e assinou o convênio em 2002 e hoje, meu querido, todos nós temos rede de água no bairro da divisa. Então eu agradeço muito a Marilei Schiavi que abriu espaço pra nós, pra nós fala, pra nós cobra, tem outras coisas importantes que eu consegui através da Rádio (HENRIQUE). [...] Assim que começou circular o Expresso Leste aqui em Mogi das Cruzes, embora num horário reduzido, os moradores do nosso bairro tinha dificuldades de embarcar as 5 da manhã e ai através da Rádio Metropolitana nós fizemos uma reivindicação e a Secretaria de Transportes nos atendeu mudando o horário para que os moradores embarcassem no Expresso Leste (JOSÉ) Outros entrevistados mencionam questões de cunho mais pessoal, mas que de algum modo acabam por revelar problemas sociais maiores, conforme presente nas seguintes falas: Me lembro, foi duma, eu precisei ligar, pois aqui na escola onde minha filha estuda não tem calçada e as crianças vão tudo pelo meio da rua e isso é um perigo e era tudo cheio de mato e a Rádio denunciou, eles vieram, limpar, não fizeram calçada, mas limparam pelo menos já ajudou um pouco as crianças (MONICA). Sim, esse dias mesmo, eu reclamei, porque queria levar minha filha pra São Paulo com o SAMU, porque ela estava passando mal e chegou a ser internada em São Paulo no hospital do Servidor Público, lá ficando nove dias e eu estou até...a Marilei está em contato com o SAMU pra saber porque que eles me falaram que pra São Paulo não podiam levar um paciente, só se fosse pro SUS e como a minha filha já havia estado no SUS em não havia resolvido o problema, precisava urgentemente pra salvar a vida dela ir para São Paulo, então eu reclamei disso daí (TEREZINHA). Olha, foi essas vezes do telefone, viu? Foi muito assim... E também nas vezes que eu tava precisando asfalto na minha rua e que a gente foi ferrenho, sabe, quase todo dia eu ligava, ai as autoridades foram tomando conta que, depois algumas pessoas também ligavam, falavam sobre a escola, que a escola estava em mal estado, sabe, muitas outras coisas (MARINETE). De acordo com Deus (2002), as respostas podem ser procuradas na análise do discurso do rádio por ser um canal competente de encaminhamento das angústias do ouvinte. Enquanto o ouvinte/cidadão se conforta buscando auxílio da rádio, o veículo de comunicação nem sempre é capaz de representá-lo ou dar sentido à cidadania em muitos casos. Nesse sentido, Canclini (1996) destaca: 81 desiludidos com as burocracias estatais, partidárias e sindicais, o público recorre à rádio e à televisão para conseguir o que as instituições cidadãs não proporcionam serviços, justiça, reparações ou simples atenção. Não é possível afirmar que os meios de comunicação de massa, com ligação direta via telefone... sejam mais eficazes que os órgãos públicos, mas fascinam porque escutam (CANCLINI, 1996, p. 26). Na análise de Deus (2002), mesmo atendendo os ouvintes, a rádio não está em condições de ter mais eficiência que os órgãos públicos. No entanto, ao dar atenção ao ouvinte, o meio de comunicação amplia os espaços do cidadão. Isso porque ao ser veiculado o interesse privado, se torna coletivo e fica ampliado para toda a cidade e região em que a emissora tem audiência. 3.3.4. O Programa mais ouvido da Rádio Metropolitana Quando perguntados acerca do programa que mais escutam na Rádio Metropolitana, uma vez que esta acabou sendo mencionada como a rádio mais ouvida pelos entrevistados, além de mencionarem outros programas veiculados pela referida rádio, o Programa Radar Noticioso acabou aparecendo na fala de todos os pesquisados, conforme se constata a seguir: O Radar Noticioso, Manhã Show e esporadicamente como eu saio à tarde, quando estou em casa também ouço outros programas a tarde, mais na parte da manhã eu estou ligadíssima na Metropolitana (TEREZINHA). Eu gosto demais do jornal Radar Noticioso, eu gosto demais do jornal Cidade Agora, eu to sempre ligadinho lá no programa da Leona, Baiano do jegue, enfim, tem o pessoal do esporte, Ayl Marques, Ivan Carvalho (JOSÉ). O Radar Noticioso, eu escuto também o Marlon de sábado, a Leona também eu escuto (MARINETE). Dois dos entrevistados relacionam o Programa Radar Noticioso diretamente à figura de sua âncora. Fato este já apontado no Capítulo II, quando se destacou a proximidade do rádio com o ouvinte, assim como expresso nas respostas dos ouvintes acerca da identificação destes com a apresentadora do programa em questão. O mais importante que eu acompanho é o da Marilei Schiavi, que não perco um dia (HENRIQUE). 82 Eu escuto a Marilei de manhã e depois escuto o Donizete e dia de sábado eu gosto de ouvir a Leona (MONICA). O Radar Noticioso cumpre o seu papel no sentido de ser um programa informativo. Por “um programa informativo” Meditsch (2001, p. 30) define aquele que tem “maior profundidade em relação à programação tradicional de notícias” tanto é que “aprofunda e contrapõe ideias e opiniões com facilidade e orienta as massas urbanas como o cão de um cego”. Para o autor, o rádio informativo é uma: Instituição social com características próprias que a distinguem no campo da mídia e no próprio campo do rádio. Este é contemporaneamente mais plural e diferenciado em alguns aspectos, embora mantenha outros em comum com o rádio da primeira metade do século, onde se localiza a sua origem histórica e também a de sua identidade enquanto instituição (MEDITSCH, 2001, p. 30-31). Não se trata apenas do ouvinte que busca assistência da rádio ou que deseja ouvir música. Para Deus (2002), trata-se do ouvinte que participa da programação da rádio não para buscar assistência ou por fascinação com o que está sendo veiculado. Mas é aquele que expressa uma necessidade de ser escutado e de exercer o direito de participar, esperando assim uma resposta ou uma solução. No que se refere às soluções buscadas por meio da participação dos entrevistados no Programa Radar Noticioso, é possível verificar que este tem ajudado a “dar voz” à comunidade: O Radar Noticioso, filho, ajuda muito, muito, muito mesmo, quando a Marilei Schiavi ela abre o espaço pra gente falar, nós que mora aqui na periferia, tem uma voz, a voz, então a Metropolitana hoje é a voz do povo na periferia (HENRIQUE). Outros mencionam a ajuda pessoal que o Programa acaba por resolver no âmbito individual de diferentes problemas, como apontado por Marinete no âmbito das telecomunicações: O Radar Noticioso ajuda muito, pois eu mesmo já fiz denúncias, já precisei de ajuda e eles me ajudaram muito (MONICA). Com certeza, comigo eu nunca tive nenhum problema, que nem, por exemplo, agora nesse momento eu não poderia estar falando com o senhor se não fosse 83 hoje de manhã eu estar falando que o meu telefone estava mudo, no mesmo... não demorou nem meia hora a telefônica apareceu aqui na minha casa e já resolveu o meu problema (MARINETE). Alguns entrevistados relacionam o papel do Programa com o trabalho desenvolvido pela Ouvidoria da cidade, principalmente na parceria entre ambos, conforme apresentamos no Capítulo II. Neste cenário destaca-se a parceria entre a Rádio Metropolitana, especificamente o Programa Radar Noticioso, e a Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes para a criação da Ouvidoria Geral do Município. Nossa, ajuda muito, nós temos na cidade agora a ouvidoria da prefeitura, mas a primeira ouvidoria que nós tivemos na cidade e temos é do Radar com a nossa querida Marilei, onde nós podemos, como disse, abrir o coração, botar a boca no trombone e pedir, solicitar e ela auxilia mesmo, ela e seus ajudantes (TEREZINHA). Ajuda, ajuda muito, aqui no nosso bairro a Metropolitana é um exemplo, tudo que nós tem revindicado por intermédio da emissora, ainda mais agora com a parceria junto a ouvidoria (JOSÉ). 3.3.5. Identificação com a radialista Nunes (2000) questiona se os ouvintes acabariam projetando no comunicador de rádio o elemento capaz não só de fazer a mediação entre os poderes constituídos e o povo – transformando o radialista nessa ponte – em seu “delegado” junto ao Estado para resolver seus problemas? Na articulação de seu discurso, o radialista precisa ser estudado numa perspectiva mais profunda, que inclui a utilização da voz, dos elementos que compõem a linguagem radiofônica, dos gêneros radiofônicos, para que se possa compreender como se desenvolve o processo de construção coletiva do ‘delegado do ouvinte’ com a participação do ouvinte (NUNES, 2000, p. 73). De acordo com Nunes (2000), para se compreender como o radialista vai se transformando, aos poucos, em “delegado do ouvinte” é essencial o entendimento do sentido da voz e da escuta, além das formas de envolvimento que o rádio vai estabelecendo com o ouvinte e da relação que vai construindo entre o radialista e o ouvinte. 84 No contato cotidiano com os ouvintes, os radialistas têm na voz seu principal instrumento de trabalho. Através da voz se estabelece um contato mais íntimo entre locutor e ouvinte e, em certos casos, vai-se estabelecendo certa cumplicidade. Há uma vivência intensa de emoções de ambas as partes, ainda que a percepção do retorno dessa dimensão emocional só possa se dar através de feedback que o ouvinte estabelece com o apresentador do programa [...] (NUNES, 2000, p. 77). Nesse caso, segundo a autora, é o manejo correto da linguagem radiofônica um dos elementos essenciais na transformação do radialista em “delegado do ouvinte”. Já que Nunes (2000) acredita que não existe ouvinte passivo porque toda escuta é ativa e, no rádio, o ouvinte faz sempre valer o seu livre arbítrio, girando o dial do receptor se a mensagem transmitida não é do seu agrado. É, portanto, a liberdade de escolha que faz o ouvinte do Radar Noticioso deixar o seu rádio no AM 1070 desde as primeiras horas do dia. O público acaba tendo no âncora a “figura que divide emoções e faz companhia” (JUNG, 2007, p. 39). O ouvinte cria vínculos com aqueles que, de alguma maneira, buscam defender os interesses da população. Nas entrevistas, os ouvintes afirmam que ouvem e preferem a Rádio Metropolitana porque também se identificam com a âncora: [...] Marilei Schiavi ela abre o espaço pra gente falar [...] a Marilei Schiavi que é uma bela jornalista, que faz um trabalho brilhante [...] Marilei Schiavi falando, os órgão competentes começam a cobrar, os caras começa a se movimentar [...] Então eu agradeço muito a Marilei Schiavi que abriu espaço pra nós, pra nós fala, pra nós cobra [...] (HENRIQUE). [...] Marilei é uma pessoa (que pode) que podia me ajudar na época e ela me ajudou [...] (MONICA). [...] nossa querida Marilei, [...], ela auxilia mesmo, ela e seus ajudantes. [...] sou amiga já, me considero amiga da Marilei que dirige o Radar Noticioso e porque sempre sou bem atendida. (TEREZINHA). Nunes (2000) ressalta que o rádio, como veículo de comunicação de massa e ser da cultura, não exerce apenas a função de informar com rapidez e instantaneidade. Segundo a autora, no rádio AM, a familiaridade com o ouvinte é o que conta. E a voz que atinge o ouvinte é a do apresentador, do locutor que comanda o programa, o chamado âncora. 85 Moreira (1991) afirma que o público brasileiro que ouve rádio AM acostumou-se a conviver com a figura do apresentador e que chega a assumir até mesmo o papel de protetor dos ouvintes mais necessitados. Portanto, a postura do locutor em relação ao ouvinte deve ser de identificação. César (1990, p. 84) complementa que o locutor deve ser intensamente agradável no ar, pois são milhares de ouvintes que o escutam, com necessidade de se agrupar, de se identificar com todas as coisas que o rodeiam. O ouvinte gosta de entender o que o locutor está falando. O locutor deve respeitar a inteligência do ouvinte, falandolhe com cortesia e consideração. De acordo com Prado (1989, p. 18), por ser um veículo instantâneo, simultâneo e rápido, o rádio se torna o meio mais adequado à transmissão de fatos atuais, transformando-se num veículo com uma enorme capacidade de transmitir mensagens e informações. Além disso, é extraordinária a capacidade do rádio ser entendido por um público muito diversificado, por não exigir um conhecimento especializado para a decodificação e a recepção nas condições mais diversas, todas elas favorecidas pela autonomia concedida ao aparelho receptor a partir do invento do transistor. Nunes (2000) acrescenta que uma das características do rádio, que ajuda a compreender seu enorme poder de sugestão desenvolvendo a imaginação do ouvinte é a ausência da percepção visual entre o emissor e o receptor. O ouvinte é obrigado a criar mentalmente a imagem visual transmitida pela imagem acústica, transformando sons e imagens. O ouvinte se deixa conduzir por vozes que lhe remetem a fatos e situações e isso faz com que a percepção e o imaginário criado de cada um seja uma experiência única e participativa, assim como ocorre durante a leitura. A percepção de cada ouvinte que escuta um programa de rádio é única, enriquecida por sua experiência pessoal, valorizada nos aspectos que lhe provocam maior identificação. O ouvinte tem uma relação flexível e ativa com a mensagem que recebe através do rádio, imprimindo-lhe o contorno final, a forma definitiva, interagindo com ela (NUNES, 2000, p. 89-90). 86 3.4. O Radar Noticioso na visão de um antigo âncora A pergunta que fizeram para um dos mais famosos âncoras do rádio brasileiro, Heródoto Barbeiro (2006), é a seguinte: “todo radialista é jornalista?” segundo ele, jornalista é quem segue as regras do jornalismo. Um âncora de rádio pode não ser jornalista. Se for um cara preparado, sem problemas. O sujeito tem que ser um autodidata, tem que ler, entender o que é jornalismo. No momento que ele entende as regras básicas do ofício e tem boa cultura geral, está aprovado. O resto ele aprende no dia-a-dia. No caso de David de Lima, um antigo âncora da Rádio Metropolitana AM 1070, ele é um radialista que se transformou em jornalista e ancorou durante anos o Radar Noticioso. Sua primeira função na referida rádio foi como locutor comercial, posteriormente veio a fazer parte do jornalismo da emissora. Ingressou na rádio em 1967 e ficou por mais de 40 anos. Como âncora do Radar Noticioso David ficou 23 anos. Na época em que David esteve à frente do Programa Radar Noticioso enquanto âncora, o programa sofreu diversas alterações de horários, que variou de 7h30 as 8h30, em seguida de 6h30 às 7h30, até ampliar para o horário em que é veiculado hoje, das 5h30 às 10h00. No que se refere à programação do Programa Radar Noticioso na época em que o entrevistado foi âncora, ele não vê tanta diferença com a atual programação, conforme segue em sua fala: Olha, não difere muito dos dias atuais não. Era entrevista que nós fazíamos ao vivo, os carros reportagem que dava flash do trânsito, acho que por ai mesmo, jornalismo não mudou muito não, lógico que hoje tá muito mais versátil, mais dinâmico, entendeu, mas não mudou muito não (DAVID). A seleção do material, isto é, das notícias, veiculadas eram feitas, segundo David, “na famosa gilete press”: Nós recortávamos as noticiamos dos grandes jornais de São Paulo e de Mogi, nós tínhamos um redator excelente por sinal, ele fazia às notícias, de Mogi as noticias eram assim, não tinha esse negócio de Suzano, Guarujá, essas coisas, era tudo 87 noticia local, quer dizer ampliou bastante, hoje em dia ampliou muito, mas era através da gilete press, isto há uns 30 anos atrás, 25-30 anos atrás (DAVID). O entrevistado ressalta ainda que o Radar Noticioso sempre foi um programa de prestação de serviços à comunidade, e em sua época enquanto âncora do programa essa prestação acontecia do seguinte modo: Na minha época era o seguinte, nós tínhamos um carro, eu fazia no início, o Povo Reclama, quer dizer, nós íamos nos bairros, onde a população reclamava e nós íamos até os bairros, então eu comecei na realidade fazendo parte do jornalismo através do Povo Reclama (DAVID). As fontes para a elaboração das notícias veiculadas eram assim selecionadas: A reclamação dos nossos ouvintes eu anotava tudo. Daí, quando era relativo ao executivo eu levava para o prefeito, e ai obtinha resposta do prefeito, na época era o Waldemar Costa Filho, na primeira administração dele, então eu levava para o Waldemar e ele dava a resposta para os ouvintes (DAVID). As respostas das autoridades ou do poder público diante dos problemas apresentados eram, segundo David, sempre respondidas. A partir das demandas apresentadas eram procuradas as instâncias responsáveis: [...] era a prefeitura no caso o prefeito, a câmara, no caso o seria presidente da câmara, o SEMAE, no caso o diretor geral do SEMAE e assim, tinha várias reclamações com relação ao governo do estado, a gente ia procurar os órgãos estaduais, os órgãos municipais, enfim, a resposta era sempre positiva (DAVID). Ainda no que diz respeito às fontes para elaboração de noticiais, David ressalta que hoje a internet mudou muito a vida dos jornalistas. A tecnologia facilitou muito, principalmente para o repórter de rua, “uma maravilha” (DAVID): Internet é um negócio sensacional, facilitou demais os jornalistas, como também o próprio celular, hoje você pode fazer... antigamente não, nós fazíamos através do orelhão, quando tinha orelhão funcionando, hoje tem o celular (DAVID). Deve-se salientar que por muito tempo, sobretudo, no período em que a internet não era uma ferramenta de fácil acesso, a participação da comunidade era realizada por meio de cartas e telefonemas. Mais cartas do que telefonemas, uma vez que muitas pessoas não tinham acesso ao telefone. 88 As falas do entrevistado, anteriormente apresentadas, nos permitem constatar a relação do Programa Radar Noticioso com os problemas da comunidade atendida, bem como sua credibilidade e atenção que recebe da população: [...] O Radar Noticioso sempre foi um jornal de muita credibilidade e ele tem esse respaldo das autoridades e também da população porque ele merece o respeito porque, como eu já disse, essa credibilidade já vem de há muitos anos, entendeu, e isso faz com que a população tenha esse respaldo por parte do jornal de vocês e as autoridades respondem prontamente porque esse jornal já tem mais de 40 anos, então ele tem todo esse respaldo (DAVID). Os quase 50 anos de existência do Programa Radar Noticioso nos apontam uma história que vem se construindo. Por isso é também possível identificarmos alterações e/ou diferenças. Para tanto buscamos verificar essas mudanças diretamente com quem pôde visualizá-las internamente e hoje se encontra afastado do veículo, e mais precisamente do programa do qual fez parte como âncora. Para David de Lima: Tem muita diferença, o jornal me parece, tem mais assim... É diferente da nossa época, ele tem assim mais liberdade, como é que poderia se chamar...Bom, a família Sanzone sempre deu essa liberdade, pra mim, para o pessoal que participa, nunca interferiu...Nunca eu vi a família Sanzone falando você não pode falar isso, não pode falar aquilo, como atualmente é, continua até agora, eu acho, não sei, eu acho que o jornal de agora, o Radar Noticioso, ele tem a amplitude dele é muito maior, eu acho agora o Radar Noticioso atualmente, ela abriu um leque muito grande junto a população, é muito melhor agora do que anteriormente, exatamente porque agora tem muito mais facilidade, a Internet, é o celular, uma série de coisas (DAVID). Outra mudança apontada pelo entrevistado foi a escolha de uma mulher para assumir a ancoragem do Radar Noticioso. Trata-se da jornalista Marilei Schiavi, que trabalhava na Rádio Metropolitana há 15 anos e assumiu desde 2007 o programa, com objetivo de dar um tom ainda mais personalizado e feminino no embate de “defender” o ouvinte que telefona para a emissora no “Momento do Ouvinte”. Nas palavras de David o Programa mudou muito, conforme segue: Mudou muito viu? Puxa vida, no início, não existia assim por parte dos ouvintes, tanto de televisão como também de rádio, a notícia transmitida pela mulher, e principalmente sendo uma mulher, sendo âncora, eu acho que foi uma mudança extraordinária por parte da família Sanzone, se vê que hoje nós temos várias 89 âncoras mulheres na televisão, no rádio, mas isso ai modificou bastante, a mulher ela está merecendo agora a credibilidade que ela não tinha, a notícia transmitida pelos homens era uma coisa, pelos locutores e as notícias transmitidas pelas mulheres não tinham assim por parte da população uma confiança, os chamados machões da vida não acreditavam muito nas mulheres dando a notícia, você vê que mudou muito, maravilhoso isso (DAVID). Nesse sentido, é inegável que a personalidade dos âncoras imprime uma marca pessoal notável na condução dos programas, como a de um maestro regendo uma orquestra – o que, aliás, garante um sabor único à cada programa. O próprio Jornal da Manhã, ancorado por Barbeiro, traz como marcas o lastro em história, a consciência cidadã, ironia na justa medida e o olho vivo nos campeonatos de futebol, com as lúdicas intervenções com os demais membros da equipe (Barbeiro é declarada e apaixonadamente corintiano). O programa seguinte, local, é chamado CBN São Paulo e vai ao ar em dias úteis das 9h30 às 12h00 e aos sábados, das 10h00 às 12h00. Desde 2000, ele tem como âncora o jornalista gaúcho Milton Jung, aliás Milton Ferreti Jung Júnior. 90 CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente dissertação procurou destacar a importância do veículo de comunicação de massa rádio, no dia-a-dia da comunidade, ao interferir, muitas vezes de maneira direta na vida do ouvinte, que precisa de um interlocutor para solucionar alguns problemas que não estão sendo devidamente atendidos pelas autoridades competentes ou até mesmo por empresas e órgãos. Iniciamos este trabalho contextualizando historicamente o rádio no Brasil, por meio de revisão bibliográfica, demonstrando como a rádio mudou a história da comunicação mundial, da sua primeira transmissão via telégrafo com fio ate à atualidade. Ressaltou-se também como essa trajetória marcou, no Brasil, um novo estilo de falar uma sociedade ainda analfabeta. O Rio de Janeiro é considerado a primeira cidade brasileira a instalar uma emissora de rádio. Oficialmente o rádio é inaugurado no país em 7 de setembro de 1922. Contudo, é em 20 de abril de 1923 que começa a funcionar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Roquete Pinto e Henry Morize (ORTRIWANO, 1985). Deve-se ressaltar que neste período o rádio era reservado a elite, e não a massa, pois quem detinha poder aquisitivo podia mandar buscar aparelhos receptores no exterior. No entanto, segundo Ortriwano (1985), Roquete Pinto acreditava desde o início que o rádio se transformaria num meio de comunicação de massa. E, de fato, o rádio veio a tornar-se um dos principais e mais populares meios de comunicação de massa, considerando o seu alcance de público, bem como por ser o único a levar informações para os que não têm acesso a outros meios. No entanto, deve-se ressaltar que os meios de comunicação de massa no Brasil acabaram se tornando gigantescos empreendimentos comerciais, políticos e econômicos que facilmente servem de mecanismos ideológicos à sustentação do pensamento único das classes dominantes. Por isso, a comunicação popular parte da necessidade do próprio povo de expressar-se livremente a partir de sua realidade. 91 Assumir a comunicação como um direito humano significa reconhecer o direito de todos de ter voz. É o direito de ter acesso aos meios de produção e veiculação de informação, de possuir condições técnicas e materiais para ouvir e ser ouvido, de ter o conhecimento necessário para estabelecer uma relação autônoma e independente frente aos meios de comunicação. É exigir do Estado seu papel na promoção da pluralidade, da diversidade e da luta constante pela superação das desigualdades (INTERVOZES, [s.d.]). E por falar em voz e vez, o Radar Noticioso tem como codinome o jornalismo cidadão para a comunidade. Os ouvintes, as autoridades e até mesmo os empresários da região do Alto Tietê destacam sempre que o trabalho da Rádio Metropolitana AM 1070 concede credibilidade ao Programa como uma RádioOuvidoria-Cidadã. Mas a pergunta que fica é: até onde uma emissora de rádio pode trabalhar em benefício da população como uma Ouvidoria? Na Rádio Metropolitana durante o “Momento do Ouvinte” no Radar Noticioso ainda que as autoridades competentes “expliquem o porquê” de não resolverem as reivindicações, a emissora traz a resposta – mesmo que negativa – para o ouvinte. Compreender o papel da rádio e sua atuação na área da prestação de serviços à comunidade, especificamente na defesa dos interesses dos cidadãos consumidores, à luz da literatura científica e da opinião dos ouvintes, radialistas e jornalistas; focando, entre outros aspectos: a) os motivos pelos quais os cidadãos procuram a rádio para solucionar seus problemas de carências de serviços públicos, b) o real poder de interferência da rádio na execução das políticas públicas e na solução dos problemas e demandas dos cidadãos e c) a percepção das autoridades públicas e das empresas prestadoras de serviços públicos a respeito do papel da rádio. Para responder ao questionamento do porque os cidadãos procuram a rádio para solucionar seus problemas, a resposta geralmente gira em torno da falta de interesse do poder público e até mesmo das empresas de ouvir o cidadão-consumidor. As reclamações da rádio vão desde os problemas enfrentados pelos ouvintes para marcarem seus exames em postos de saúde e 92 hospitais, passando pelos problemas de serviços públicos até chegarem às críticas de falta de iluminação em determinado bairro de sua cidade. Quanto ao real poder de interferência da rádio na execução das políticas públicas e na solução dos problemas e demandas dos cidadãos, a resposta está nos elevados índices de resolução dos problemas dos ouvintes. As administrações municipais ou até mesmo o Governo Estadual encontram no rádio um parceiro para apontar as principais falhas em alguns setores da comunidade. A falta d’água em um determinado bairro, por exemplo, muitas vezes é avisada para a Prefeitura através da emissora. Sem contar que o ouvinte nunca fica sem uma resposta, mesmo que negativa, com a devida explicação do que realmente ocorreu em determinado setor da sociedade. O terceiro ponto é a importância da percepção das autoridades públicas e das empresas prestadoras de serviços que respeitam e fazem questão de responder aos questionamentos e críticas dos ouvintes. A resposta é clara porque as empresas e as autoridades, sendo qualquer setor das Prefeituras, fazem questão de responder rapidamente e com o máximo de zelo aos anseios da população principalmente através de e-mail. Quando são denúncias, por exemplo, muitas autoridades preferem responder ao vivo durante o programa para dar maior veracidade e importância em atender aos questionamentos do ouvinte. O trabalho aqui realizado demonstrou ainda como um programa de rádio, especificamente o Radar Noticioso da Rádio Metropolitana AM 1070, pôde através de debates e cobrança junto ao governo local, inspirar a criação da Ouvidoria Geral do Município de Mogi das Cruzes, concretizada com a aprovação da lei nº 6.421 de 5 de julho de 2010. Assim, a continuidade da participação da Ouvidoria na rádio Metropolitana parece criar uma nova modalidade de Ouvidoria, onde ao mesmo tempo em que divulga, educa, e assiste a população, faz um trabalho plural e mais abrangente que o simples atendimento a um problema pontual. A análise empreendida no terceiro capítulo deste estudo nos permitiu constatar que o jornalismo da Rádio Metropolitana fica muito próximo daquilo que se pretende que seja utilizado como instrumento de transformação social. Embora 93 entende-se que a construção da cidadania e o despertar da população deva ser um resultado conjunto do Estado, da mídia em geral e da soceidade civil, entende-se aqui que o Programa Radar Noticioso vem cumprindo um duplo papel, além de bem informar, age como uma rádio-ouvidoria-cidadã. Não se tem a pretensão de substituir os papéis na conscientização do cidadão, nem mesmo o papel do Estado, mas as lacunas existentes entre o que se pode ter no Brasil e o que ainda precisamos alcançar é que acabam por auxiliar o enfrentamento das diferentes questões que afligem o cidadão, e auxiliário a buscar seus direitos e garantias individuais, no atual estágio da democracia brasileira, tem sido um dos focos do programa Radar Noticioo. No Radar Noticioso da Rádio Metropolitana a meta é viajar pelas asas da igualdade, da liberdade, do civismo que a sociedade almeja inclusive m sua plena liberdade de expressão. Alguns tópicos são interessantes saborear como a soberania nacional e os direitos do homem e a sua liberdade enquanto cidadão. Liberdade do ouvinte se expressar e ter os microfones abertos para fazer suas críticas ao Poder Público e até mesmo à iniciativa privada, aos políticos e também à Política. Este trabalho não se encerra aqui, seus ecos devem se efetivar em novas pesquisas. Novos desdobramentos são possíveis a partir dos resultados que aqui se apresentaram, uma vez que assim como os ouvintes da região pesquisada, outros há pelo Brasil, que necessitam das ondas do rádio para expressar seu desejo de ver sua cidadania ser construída com mais dignidade. 94 REFERÊNCIAS ABREU, A. A. Jornalismo cidadão. Estudos Históricos, Mídia. Rio de Janeiro, nº 31,2003.Disponívelem<bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/download/.. ./1324>. Acesso em: 12/02/2012. ARCE, T. Jornalismo Público: possibilidades e limites de atuação em uma rádio educativa. In: 5º Congresso da Sociedade Portuguesa de Comunicação, 2007, Braga. E-book, 2007. BARBEIRO, H. Radiojornalismo Cidadão. In BARBOSA FILHO, A., PIOVESAN, A.; BENETON, R. Rádio: Sintonia do Futuro, São Paulo: Paulinas, 2004. ____. Entrevista para o Portal Comunique-se. Disponível <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/62.pdf>. 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Acesso em 06/11/2011. 101 ANEXOS - ENTREVISTAS - 102 ANEXO I ENTREVISTA COM OS OUVINTES 103 OUVINTE HENRIQUE SOARES Entrevistador - Muito bom dia senhor Henrique Soares Henrique Soares – Bom dia Entrevistador - O senhor vai participar de uma pesquisa de Mestrado da PUC-SP para falar da importância ou não da Rádio na prestação de serviço a comunidade. Entrevistador - Qual seu nome completo? Henrique Soares – Henrique Soares Entrevistador - Qual bairro e cidade o senhor reside? Henrique Soares – Bairro Jardim Margarida, cidade de Mogi das Cruzes Entrevistador - Qual sua idade? Henrique Soares – 40 anos Entrevistador - E a sua escolaridade? Henrique Soares – 2º Grau Entrevistador - E a sua profissão? Henrique Soares – Aposentado por invalidez Entrevistador - Desde quando o senhor ouve a Rádio Metropolitana AM 1070? Henrique Soares – Tem mais ou menos 15 anos que eu acompanho a Rádio direto Entrevistador - O senhor ouve a emissora todos os dias? Henrique Soares – Todos os dias, quando dá 5h30 da manhã eu já ligo o rádio e ai é, enquanto eu estou em casa e o dia todo acompanhando a rádio. Entrevistador - E qual a importância da Rádio Metropolitana em sua vida? Henrique Soares – Meu querido, muito importante, a Metropolitana pra mim que sou um cidadão, como liderança de bairro a Metropolitana pra gente aqui no Alto Tietê é tudo na vida da gente através dos programas , né, que abre espaço pra gente cobrar, acompanhar o trabalho que a Marilei Schiavi faz pra todos nós Mogianos, sabe? E todo Alto Tietê Entrevistador - E o senhor acredita que a programação da Rádio está próxima da sua realidade e da comunidade e de que forma? 104 Henrique Soares – Com certeza, a Metropolitana, meu querido, tem ajudado muita gente, porque a gente faz um trabalho com essa parceria com a Rádio, quer dizer, cobra dos órgãos públicos, nós reclama, vocês cobre, e ajuda muito, a Metropolitana, eu to falando como cidadão, oito anos atrás a Metropolitana fez a diferença na minha vida e na vida de todos nós, moradores do Jardim Margarida, Novo Horizonte, Piatã um e dois. Entrevistador - E qual o programa o senhora mais escuta na Rádio? Henrique Soares – O mais importante que eu acompanho é o da Marilei Schiavi, que não perco um dia. Entrevistador - O senhor acredita que o Radar Noticioso, ajuda ou não a resolver os problemas da comunidade? Henrique Soares – O Radar Noticioso, filho, ajuda muito, muito, muito mesmo, quando a Marilei Schiavi ela abre o espaço pra gente falar, nós que mora aqui na periferia, tem uma voz, a voz, então a Metropolitana hoje é a voz do povo na periferia. Entrevistador - E por que o senhor entra no ar na Rádio e porque escolheu a Metropolitana e não outras Rádios? Henrique Soares – A Metropolitana filho, a audiência é bom, tem pessoas super competentes, a Marilei Schiavi que é uma bela jornalista, que faz um trabalho brilhante e é uma maneira de nós poder ter acesso direto a nossa cidade de Mogi das Cruzes, que é mais a cidade que nós atua cobrando, para que possam os órgãos públicos, possam levar as melhorias, até nossa comunidade. Entrevistador - A sua participação nos assuntos da comunidade, a Rádio estimula ou não? Henrique Soares – Estimula, sabe porque filho, porque é assim, o que acontece, a Rádio, quando nós muitas das vezes levamos os problemas até as autoridades e muitas das vez fica parado, quando joga a consciência ao vivo no ar, que começa a falar, Marilei Schiavi falando, os órgão competentes começam a cobrar, os caras começa a se movimentar, então meu querido, muita das vezes a Metropolitana faz a diferença e muito., muito e muito aqui nos nossos bairros, na nossa periferia. Entrevistador – O senhor se lembra de alguma situação que o fez entrar em contato com a Rádio? Henrique Soares – O mais importante, o Jardim Margarida, nós não tinha rede de água, era um sofrimento, e quando eu entrei na Associação em 2002 eu comecei a fazer um trabalho, a primeira coisa que eu fiz foi chamar a Rádio Metropolitana e começou aquela batalha travada para levar água para o bairro da 105 divisa, a Marilei Schiavi, no ar, começou a rodar a fita, ai mexeu até com o gabinete do governo do estado e foi aonde nós conseguimos em 2002 em parceria com a prefeitura com apoio da Marilei Schiavi cobrando dos órgãos competentes, conseguimos trazer o governador no Jardim Margarida e assinou o convênio em 2002 e hoje, meu querido, todos nós temos rede de água no bairro da divisa. Então eu agradeço muito a Marilei Schiavi que abriu espaço pra nós, pra nós fala, pra nós cobra, tem outras coisas importantes que eu consegui através da Rádio. Entrevistador – O senhor acredita que o Radar Noticioso tenha ajudado a comunidade a resolver os problemas através dos órgãos públicos? Henrique Soares – Com certeza 106 OUVINTE MONICA Entrevistador - O seu nome completo? Henrique Soares – Monica Aparecida Pacífico do Espírito Santo Entrevistador - E qual bairro a senhora mora e qual cidade? Monica - Eu moro no Botujuru, Mogi das Cruzes Entrevistador - Qual a sua idade? Monica - 34 anos Entrevistador - Qual a sua escolaridade? Monica - 2º grau completo Entrevistador - E a sua profissão? Monica - Eu sou dona de casa e aposentada? Entrevistador - Desde quando a senhora ouve a Rádio Metropolitana AM 1070? Monica - Desde os 12 anos Entrevistador - Ouve a emissora todos os dias ou com qual frequência? Monica - Não, quase todos os dias. É muito difícil o dia que eu não ouço Entrevistador - E qual a importância da Rádio Metropolitana na sua vida? Monica - Pra mim é muito importante, pois, a Rádio passa informação sobre a cidade, sobre o que está acontecendo, eu fico sempre atualizada com tudo o que acontece na minha cidade e nos municípios ao redor. Entrevistador - A senhora acredita que a programação da Rádio está próxima da sua realidade e da comunidade e de que forma? Monica - Eu acredito que está sim, pois a Rádio informa tudo o que a gente precisa saber. Entrevistador - Qual o programa que a senhora escuta mais na Rádio? Monica - Eu escuto a Marilei de manhã e depois escuto o Donizete e dia de sábado eu gosto de ouvir a Leona. Entrevistador - A senhora acredita que o radar noticioso ajuda ou não a resolver os problemas da comunidade? Monica - O Radar Noticioso ajuda muito, pois eu mesmo já fiz denuncias, já precisei de ajuda e eles me ajudaram muito. 107 Entrevistador - E a senhora participa do Radar Noticioso com qual frequência? Monica - Sempre quando eu preciso se ha alguma coisa no meu bairro que precisa ser falada para pessoas poder tomar uma atitude eu ligo e falo mesmo. Entrevistador - E porque a senhora liga para a Rádio Metropolitana e não outras Rádios quando quer fazer uma denuncia ou um pedido? Monica - Por que nós temos que valorizar a Rádio da nossa cidade e a Metropolitana é a Rádio da minha cidade, a cidade onde eu nasci então é pra ela que eu tenho que ligar. Entrevistador - E a senhora escolheu entrar no programa Radar Noticioso por qual motivo? Monica - Porque eu tava precisando de ajuda e a Marilei é uma pessoa (que pode) que podia me ajudar na época e ela me ajudou Entrevistador - E como é que a Rádio estimula, ou não estimula a sua participação nos assuntos da comunidade? Monica - Porque a Rádio sempre trás assunto que está precisando ser divulgado, então a gente tem que participar e valorizar. Entrevistador - A senhora se lembra de alguma situação que a fez entrar em contato com a Rádio? Monica - Me lembro, foi duma, eu precisei ligar, pois aqui na escola onde minha filha estuda não tem calçada e as crianças vão tudo pelo meio da rua e isso é um perigo e era tudo cheio de mato e a Rádio denunciou, eles vieram, limpar, não fizeram calçada, mas limparam pelo menos já ajudou um pouco as crianças Entrevistador - E a senhora acredita que o Radar Noticioso tem ajudado a comunidade a resolver os problemas através dos órgãos públicos? Monica - Eu acredito que sim, pois a Rádio, a gente liga e eles correm atrás, eles não ficam só escutando o que a gente fala e deixa por isso mesmo não, eles correm atrás, porque até ligar pra gente pra dar uma resposta eles ligam. Entrevistador - Bom dia Monica - Bom dia 108 OUVINTE TEREZINHA DE JESUS Entrevistador - Bom dia Dona Terezinha de Jesus Terezinha - Bom dia, tudo bem? Entrevistador - Tudo bem. A senhora pode por gentileza dizer o seu nome completo? Terezinha - Meu nome é Terezinha de Jesus Silva Too Entrevistador - Qual o bairro, qual cidade a senhora reside? Terezinha - Eu moro na cidade de Mogi das Cruzes, no distrito de Braz Cubas. Entrevistador - Qual a idade da senhora? Terezinha - Eu tenho 69 anos Entrevistador - Escolaridade da senhora? Terezinha - Superior, curso superior Entrevistador - E qual é a profissão? Terezinha - Professora aposentada Entrevistador - Desde quando a senhora ouve a Rádio Metropolitana AM 1070? Terezinha - Ouço a Rádio há muitos anos, eu já perdi a conta, mas acho que há mais de 10 anos, muito mais. Entrevistador - A senhora ouve a emissora todos os dias ou qual a frequência de audiência? Terezinha - Olha, eu só não ouço a Rádio quando eu vou a São Paulo para algum tratamento médico, mas eu ouço diariamente quando estou aqui. Entrevistador - E qual a importância da Rádio Metropolitana na sua vida? Terezinha - Ela divulga tudo sobre a cidade, ela ajuda a população no sentido que nós temos um canal aberto no Radar Noticioso para solicitar as coisas, exigir até melhorias na comunidade e alegra também a população com a sua programação. Entrevistador - A senhora acredita que a programação da Rádio está próxima da sua realidade e da comunidade e de que forma? Terezinha - Não resta duvida que tudo na vida nós podemos melhorar, mas eu acho que está próxima da realidade do que o povo gosta, senão ela não teria a audiência que tem. 109 Entrevistador - Qual o programa que a senhora mais escuta mais na Rádio? Terezinha - O Radar Noticioso, Manhã Show e esporadicamente como eu saio a tarde, quando estou em casa também ouço outros programas a tarde, mais na parte da manhã eu estou ligadíssima na Metropolitana. Entrevistador - A senhora acredita que o radar noticioso ajuda ou não a resolver os problemas da comunidade? Terezinha - Nossa, ajuda muito, nós temos na cidade agora a ouvidoria da prefeitura, mas a primeira ouvidoria que nós tivemos na cidade e temos é do Radar com a nossa querida Marilei, onde nós podemos, como disse, abrir o coração, botar a boca no trombone e pedir, solicitar e ela auxilia mesmo, ela e seus ajudantes. Entrevistador - E a senhora participa do programa na Rádio com qual frequência? Terezinha - Eu acho assim, quando há uma necessidade no bairro onde eu moro, uma solicitação pra melhorar a situação do povo aqui eu entro no ar. Entrevistador - E por que a senhora entra no ar na Rádio, porque a Metropolitana e não outras Rádios? Terezinha - Porque é a Rádio que nos dá essa oportunidade de abrirmos o coração. Entrevistador - Porque a senhora escolheu entrar no ar no programa Radar Noticioso? Terezinha - Porque uma que, sou amiga já, me considero amiga da Marilei que dirige o Radar Noticioso e porque sempre sou bem atendida. Entrevistador - E como é que a Rádio estimula ou não a sua participação nos assuntos da comunidade? Terezinha - Bom, eu já por mim mesma, sou uma pessoa participativa dentro da comunidade e porque sempre quando a Marilei abre o programa de manhã ela fala, tal horário teremos aqui o horário do ouvinte, participem! Entrevistador - A senhora pode se lembra de alguma situação que a fez entrar em contato com a Rádio? Terezinha - Sim, esse dias mesmo, eu reclamei, porque queria levar minha filha pra São Paulo com o SAMU, porque ela estava passando mal e chegou a ser internada em São Paulo no hospital do Servidor Público, lá ficando nove dias e eu estou até...a Marilei está em contato com o SAMU pra saber porque que eles me falaram que pra São Paulo não podiam levar um paciente, só se fosse pro SUS e 110 como a minha filha já havia estado no SUS em não havia resolvido o problema, precisava urgentemente pra salvar a vida dela ir para São Paulo, então eu reclamei disso dai. Entrevistador - A senhora acredita que o Radar Noticioso tem ajudado a comunidade a resolver os problemas através dos órgãos públicos? Terezinha - Muito, ajudado muito mesmo, não só a mim, mas a toda a comunidade de Mogi das Cruzes. Entrevistador - Bom dia 111 OUVINTE JOSÉ APARECIDO Entrevistador - Bom dia senhor José Aparecido José Aparecido - Muito bom dia, é um prazer imenso falando com vocês Entrevistador - Qual o nome completo do senhor? José Aparecido - José Aparecido da Silva Entrevistador - Qual cidade e bairro o senhor reside José Aparecido - Eu moro no conjunto residencial São João no Jardim Camila Entrevistador - A sua idade? José Aparecido - 49 Entrevistador - A sua escolaridade? José Aparecido - 4ª série primaria Entrevistador - E qual a sua profissão? José Aparecido - Hoje eu sou pensionista Entrevistador - Desde quando o senhor houve a Rádio Metropolitana AM 1070? José Aparecido - Nossa Senhora. Faz muito tempo, a mais de 30 anos . Entrevistador - O senhor ouve a emissora todos os dias ou qual a frequência da sua audiência? José Aparecido - Praticamente desde das 5h30min da manhã nós estamos ligadinho no Radar Noticioso Entrevistador - E qual a importância da Rádio Metropolitana na sua vida? José Aparecido - A Rádio Metropolitana Mogi das Cruzes AM 1070, não só na minha vida, como em todo Alto Tietê, ai de nós se não fosse a Metropolitana Entrevistador - E o senhor acredita que a programação da Rádio está próxima da sua realidade e da comunidade de que forma? José Aparecido - Com certeza, principalmente com o Metropolitana na Comunidade, a tendência é só ir pra frente Entrevistador - E qual programa que o senhor escuta mais na Rádio? José Aparecido - Eu gosto demais do jornal Radar Noticioso, eu gosto demais do jornal Cidade Agora, eu to sempre ligadinho lá no programa da Leona, Baiano do jegue, enfim, tem o pessoal do esporte, Ayl Marques, Ivan Carvalho 112 Entrevistador - O senhor acredita que o radar noticioso ajuda ou não a resolver os problemas da comunidade? José Aparecido - Ajuda, ajuda muito, aqui no nosso bairro a Metropolitana é um exemplo, tudo que nós tem revindicado por intermédio da emissora, ainda mais agora com a parceria junto a ouvidoria Entrevistador - E o senhor participa da programação da Rádio com qual frequência? José Aparecido - Constantemente a gente está fazendo um link com a rapaziada de todo o bairro de Poá, de Ferraz, onde a gente encontra um problema a gente tá lincando direto eles abrem espaço, começa por ai a credibilidade. Entrevistador - E por que o senhor entra no ar na Rádio, porque a Metropolitana e não outras Rádios? José Aparecido - Eu me apeguei mais nessa Rádio, fico sempre sintonizado neles, só neles, só neles, eu gosto mais deles, agora isso é uma questão de gostar também né? Entrevistador - E por que o senhor escolheu entrar no ar no programa Radar Noticioso? José Aparecido - Por causa do horário do pico de audiência no horário de 7h30min, é um horário que tem a audiência o pico bomba ali, é sempre um horário pra gente tá reclamando dos bairros, reivindicando. Entrevistador - E como é que a Rádio estimula ou não a sua participação nos assuntos da comunidade? José Aparecido - A Rádio Metropolitana estimula acho pela credibilidade do trabalho que a gente faz. Primeiro que a gente faz um trabalho sem nenhum interesse, começa por ai, acho quem gosta do que faz e gosta da cidade onde vive, acho que solicita, reivindica independente de qualquer coisa. Entrevistador - E o senhor se lembra de alguma situação que o fez entrar em contato com a Rádio? José Aparecido - Lembro perfeitamente Entrevistador - Pode contar pra gente? José Aparecido - Posso. Assim que começou circular o Expresso Leste aqui em Mogi das Cruzes, embora num horário reduzido, os moradores do nosso bairro tinha dificuldades de embarcar as 5 da manhã e ai através da Rádio Metropolitana nós fizemos uma reivindicação e a Secretaria de Transportes nos atendeu mudando o horário para que os moradores embarcassem no Expresso Leste. 113 Entrevistador - O senhor acredita que o Radar Noticioso tem ajudado a comunidade a resolver os problemas através dos órgãos públicos? José Aparecido - Tem com certeza, principalmente a administração atual tem atendido muito rápido, tanto a Secretaria de Serviços Urbanos, quanto Transporte, a Secretaria da Saúde tem atendido muito bem Entrevistador - Senhor José Aparecido, muito obrigado pela sua atenção, tenha um bom dia. 114 OUVINTE MARINETE Entrevistador - Bom dia Dona Marinete Marinete - Bom dia Entrevistador - Qual o nome completo da senhora? Marinete - Meu nome é Marinete Sanvy de Almeida Bruno Entrevistador - Qual bairro e cidade a senhora mora? Marinete - Eu moro na Estância Guatambú, Itaquaquecetuba, São Paulo Entrevistador - Qual a sua idade? Marinete - Eu tenho 49 anos Entrevistador - A sua escolaridade? Marinete - 3º Grau incompleto Entrevistador - A senhora tem qual profissão? Marinete - Eu sou aposentada atualmente Entrevistador - Desde quando a senhora ouve a Rádio Metropolitana AM 1070? Marinete - Fazem seis anos, mais de seis anos Entrevistador - E a senhora ouve a emissora todos os dias ou com qual frequência à senhora ouve? Marinete - Todos os dias Entrevistador - A senhora pode me dizer qual a importância da Rádio Metropolitana na sua vida? Marinete - Nossa, ela é importante em todos os âmbitos, na saúde, no transporte, em estar falando algo que ninguém tem coragem de falar, então acho que ela é importante em todos os âmbitos em minha vida. Entrevistador - E a senhora acredita que a programação da Rádio está próxima da realidade e da comunidade e de que forma? Marinete - Com certeza, principalmente o Radar Noticioso, porque, eu acho que mostra todos os problemas da nossa cidade e eles arranjam uma forma de tá resolvendo todos os nossos problemas. Entrevistador - Qual o programa que a senhora escuta mais na Rádio? 115 Marinete - O Radar Noticioso, eu escuto também o Marlon de sábado, a Leona também eu escuto. Entrevistador - E a senhora acredita que o Radar Noticioso ajuda ou não a resolver os problemas da comunidade? Marinete - Com certeza, comigo eu nunca tive nenhum problema, que nem, por exemplo, agora nesse momento eu não poderia estar falando com o senhor se não fosse hoje de manhã eu estar falando que o meu telefone estava mudo, no mesmo...não demorou nem meia hora a telefônica apareceu aqui na minha casa e já resolveu o meu problema. Entrevistador - E a senhora participa do programa na Rádio com qual frequência? Marinete - Olha é assim, quando aparece algum problema, quando eu vejo que está uma discussão gostosa que eu me sinto a vontade. Entrevistador - Porque a senhora entra no ar na Rádio, porque a Metropolitana e não outras Rádios? Marinete - Olha, eu entro na Metropolitana e entre em outras Rádios também de vez em quando, mas a Metropolitana é muito mais frequência. Entrevistador - E porque a senhora escolheu entrar no ar no programa Radar Noticioso? Marinete - Eu escolho porque eu acredito, eu tenho confiança na Rádio. Entrevistador - E como a Rádio estimula ou não a sua participação nos assuntos da comunidade? Marinete - Bom, ela me estimula a partir do momento que ela me dá ouvidos, porque se ela não me desse ouvidos eu nem ligaria mais, né? Entrevistador - A senhora pode se lembrar agora de alguma situação que a fez entrar em contato com a Rádio? Marinete - Olha, foi essas vezes do telefone, viu? Foi muito assim... E também nas vezes que eu tava precisando asfalto na minha rua e que a gente foi ferrenho, sabe, quase todo dia eu ligava, ai as autoridades foram tomando conta que, depois algumas pessoas também ligavam, falavam sobre a escola, que a escola estava em mal estado, sabe, muitas outras coisas. Entrevistador - E a senhora acredita que o Radar Noticioso tem ajudado a comunidade a resolver os problemas através dos órgãos públicos? Marinete - Com certeza, com certeza, eu acho que tinha que ser mais divulgado até, Metropolitana deveria também ter uma Rádio aqui em Itaquaquecetuba. 116 ANEXO II ENTREVISTA COM O ANTIGO ÂNCORA DO PROGRAMA 117 ENTREVISTA DAVID LIMA BOZ Marilei - Qual seu nome completo? David - David Lima Boz Marilei - Qual bairro que você mora? David - Mogilar Marilei - A cidade? /David - Mogi das Cruzes Marilei - Qual a sua idade David? David - 66 Marilei - Sexo? David - Masculino, né? Marilei - Escolaridade, o que você fez na escola? David - Médio, ensino médio, antigamente era, eu não me lembro bem agora, eu fiz o ginásio depois o clássico. Marilei - Qual que foi a sua função dentro da Rádio Metropolitana? David - Eu fui locutor comercial, posteriormente fiz parte do jornalismo Marilei - Quando que você entrou na Rádio efetivamente e quanto tempo você ficou lá? David - Em 68, 67 ou 68 uma coisa assim. Quanto tempo? Mais de 40 anos, por ai Marilei - E como âncora do Radar Noticioso, quanto tempo você ficou? David - Alí eu fiquei acho que uns 22 ou 23 anos, e u não me lembro bem o tempo exato, acho que uns 22-23 anos mais ou menos Marilei - Qual que era a programação do Radar Noticioso na época em que você foi o âncora do programa? David - Olha, não difere muito dos dias atuais não. Era entrevista que nós fazíamos ao vivo, os carros reportagem que dava flash do trânsito, acho que por ai mesmo, jornalismo não mudou muito não, lógico que hoje tá muito mais versátil, mais dinâmico, entendeu, mas não mudou muito não Marilei - E qual horário era o Radar naquela época? 118 David - Eu comecei das 7h30 as 8h30, você acredita? Vinha uma hora de Radar, depois mudou pra 7 as 9, aliás, das 6h30 as 7h30, depois mudou pra 7h as 9h e ai foi, foi ampliando como você vê, hoje nos temos o Radar começando as 5h30min praticamente. Marilei - Você chegou a pegar esse horário das 5h30 às 10h? David - Cheguei pegar sim Marilei - Durante alguns anos foi esse horário? David - Foi esse horário Marilei - O Radar foi ampliando nos últimos anos? David - Exatamente Marilei - Sempre foi um programa de rádio jornalismo com prestação de serviços à comunidade? David - Sempre foi Marilei - Como que era essa prestação de serviço à comunidade na sua época? David - Na minha época era o seguinte, nós tínhamos um carro, eu fazia no início, o Povo Reclama, quer dizer, nós íamos nos bairros, onde a população reclamava e nós íamos até os bairros, então eu comecei na realidade fazendo parte do jornalismo através do Povo Reclama. Marilei - E de lá, como você buscava as fontes para elaboração desse tipo de notícia? David - A reclamação dos nossos ouvintes eu anotava tudo. Daí, quando era relativo ao executivo eu levava para o prefeito, e ai obtinha resposta do prefeito, na época era o Waldemar Costa Filho, na primeira administração dele, então eu levava para o Waldemar e ele dava a resposta para os ouvintes. Marilei - Tinha outros tipos de reclamação também? David - Tinha, reclamação do SEMAE, reclamação, enfim, vários tipos de reclamações. Marilei - Qual que era o critério da seleção de veiculação de notícias, onde que vocês buscavam as notícias? David - Bom, na realidade, as Rádios do interior, era na famosa gilete press, nós recortávamos as noticiamos dos grandes jornais de São Paulo e de Mogi, nós tínhamos um redator excelente por sinal, ele fazia às notícias, de Mogi as noticias eram assim, não tinha esse negócio de Suzano, Guarujá, essas coisas, era tudo 119 noticia local, quer dizer ampliou bastante, hoje em dia ampliou muito, mas era através da gilete press, isto há uns 30 anos atrás, 25-30 anos atrás. Marilei - O que mudou muito que você percebe hoje é que a Internet também mudou também mudou a vida dos jornalistas? David - Internet é um negócio sensacional, facilitou demais os jornalistas, como também o próprio celular, hoje você pode fazer...antigamente não, nós fazíamos através do orelhão, quando tinha orelhão funcionando, hoje tem o celular Marilei - Isso facilitou muito, a tecnologia? David - Para o reporte, principalmente de rua, uma maravilha Marilei - Então, naquela época a comunidade já participava bastante e eram cartas ou telefonemas que eles traziam para a Rádio? David - Cartas e telefonemas. Eram mais cartas, mais cartas. Marilei - As pessoas não tinham acesso ao telefone ainda? David - Não, não tinham, exatamente Marilei - E como era a resposta das autoridades ou do poder público diante dos problemas apontados, eles respondiam sempre? David - Respondia, foi o que eu disse ai anteriormente, era a prefeitura no caso o prefeito, a câmara, no caso o seria presidente da câmara, o SEMAE, no caso o diretor geral do SEMAE e assim, tinha várias reclamações com relação ao governo do estado, a gente ia procurar os órgãos estaduais, os órgãos municipais, enfim, a resposta era sempre positiva. Marilei - Será que o programa Radar Noticioso pode interferir na execução das políticas públicas acelerando a solução dos problemas? David - Lógico que pode. O Radar Noticioso sempre foi um jornal de muita credibilidade e ele tem esse respaldo das autoridades e também da população porque ele merece o respeito porque, como eu já disse, essa credibilidade já vem de há muitos anos, entendeu, e isso faz com que a população tenha esse respaldo por parte do jornal de vocês e as autoridades respondem prontamente porque esse jornal já tem mais de 40 anos, então ele tem todo esse respaldo. Marilei - Foi construindo uma história a partir de então? David - Foi construindo essa história, verdade. Marilei - Quais são as principais alterações ou as diferenças que você enxerga, identificadas depois que você deixou de ser âncora do jornal? 120 David - Tem muita diferença, o jornal me parece, tem mais assim... É diferente da nossa época, ele tem assim mais liberdade, como é que poderia se chamar...Bom, a família Sanzone sempre deu essa liberdade, pra mim, para o pessoal que participa, nunca interferiou...Nunca eu vi a família Sanzone falando você não pode falar isso, não pode falar aquilo, como atualmente é, continua até agora, eu acho, não sei, eu acho que o jornal de agora, o Radar Noticioso, ele tem a amplitude dele é muito maior, eu acho agora o Radar Noticioso atualmente, ela abriu um leque muito grande junto a população, é muito melhor agora do que anteriormente, exatamente porque agora tem muito mais facilidade, a Internet, é o celular, uma série de coisas. Marilei - O que mudou ter uma âncora mulher no Radar, na sua visão? David - Mudou muito viu? Puxa vida, no início, não existia assim por parte dos ouvintes, tanto de televisão como também de rádio, a notícia transmitida pela mulher, e principalmente sendo uma mulher, sendo âncora, eu acho que foi uma mudança extraordinária por parte da família Sanzone, se vê que hoje nós temos várias âncoras mulheres na televisão, no rádio, mas isso ai modificou bastante, a mulher ela está merecendo agora a credibilidade que ela não tinha, a notícia transmitida pelos homens era uma coisa, pelos locutores e as notícias transmitidas pelas mulheres não tinham assim por parte da população uma confiança, os chamados machões da vida não acreditavam muito nas mulheres dando a notícia, você vê que mudou muito, maravilhoso isso.