PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
MARILEI JOSÉ SCHIAVI
A RÁDIO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À
COMUNIDADE: O CASO DO PROGRAMA RADAR
NOTICIOSO DA RÁDIO METROPOLITANA AM 1070
DE MOGI DAS CRUZES
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
SÃO PAULO
2012
MARILEI JOSÉ SCHIAVI
A RÁDIO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À
COMUNIDADE: O CASO DO PROGRAMA RADAR
NOTICIOSO DA RÁDIO METROPOLITANA AM 1070
DE MOGI DAS CRUZES
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de
MESTRE em Ciências Sociais, sob a
orientação da Profa. Doutora Vera Lucia
Michalany Chaia.
SÃO PAULO
2012
BANCA EXAMINADORA
___________________________
___________________________
___________________________
Dedico este Mestrado à minha saudosa mãe,
Eunice dos Santos Silva
que é a pessoa que sempre acreditou em mim.
Ela me incentivou a estudar
para encontrar o meu caminho no Jornalismo
com o seu exemplo
de bondade e dedicação.
Obrigada, mãe!
AGRADECIMENTOS
A Deus que me guiou até aqui para eu conseguir conquistar mais uma fase importante da
minha vida.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
Pelo financiamento deste estudo por meio do Programa de Suporte à Pós-Graduação de
Instituições de Ensino Particulares (PROSUP-II).
À professora Dra. Vera Lucia Michalany Chaia,
Pela orientação sempre precisa, pelo incentivo para a produção, e por sempre acreditar
que poderíamos realizar um bom trabalho.
Ao professor Dr. Adolfo Ignacio Calderón,
À professora Dra. Rosemary Segurado,
Quando na qualificação deste trabalho indicaram possíveis caminhos a serem trilhados.
E por aceitarem o convite para a composição de minha banca de defesa.
À professora Dra. Luci Mendes de Melo Bonini,
Pela força, dedicação e carinho nos momentos em que precisei de uma educadora
dedicada ao meu lado.
Ao professor Mestre Regilson Maciel Borges,
Pelas revisões e o grande apoio na minha caminhada até aqui.
Aos meus pais Eunice e Octacilio (in memorian),
Pela vida e porque sempre acreditaram na minha carreira como jornalista e estudiosa da
comunicação.
Ao meu marido Anderson de Oliveira Mello,
Pelas palavras de compreensão e cumplicidade, mesmo nos momentos difíceis, quando
enjoava durante a gravidez da nossa filha que vai nascer daqui a alguns dias.
À minha filha Júlia Schiavi Thurler,
Pela paciência nas horas em que não pude me dedicar a ela porque precisava ler,
estudar e escrever. E por ser uma criança tão especial com a sua compreensão de uma
menina de seis anos de idade, com os olhos sempre vislumbrando o futuro.
Ao meu sobrinho-filho Breno Schiavi Pereira,
Pela colaboração nas horas em que precisava separar textos nas dezenas de pesquisas
que fiz durante meses.
Ao meu irmão Octacilio de Carvalho Schiavi Filho,
Pelo apoio em vários momentos da minha pesquisa, dando força ao meu trabalho.
Ao Silvio e ao Cesar Sanzone,
Pela credibilidade depositada em mim durante a minha trajetória na Rádio Metropolitana
e por acreditarem que uma mulher pudesse assumir o Radar Noticioso com a
responsabilidade diante de uma emissora tão respeitada e com 50 anos de uma bela
história.
Aos amigos de tantas jornadas, aos meus ouvintes queridos.
Pela audiência e por acreditarem no meu trabalho.
De tantos lugares que para não correr o risco de esquecer o nome de alguém saibam que
estão todos aqui.
RESUMO
A presente dissertação objetiva estudar a rádio como prestadora de serviços à
comunidade. Para tanto analisou-se um programa específico que está no ar há
quase cinquenta anos e lidera a audiência na região do Alto Tietê todas as
manhãs. Trata-se do Radar Noticioso da Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi
das Cruzes. A Rádio Metropolitana cobre mais de onze municípios, com mais de
2,5 milhões habitantes. A escolha do referido programa enquanto objeto desta
pesquisa considerou, além da longevidade de duração do programa, a
credibilidade deste junto a comunidade que o sintoniza, caracterizado no fluxo de
procura por parte dos ouvintes, que buscam um meio que os auxilie na resolução
de seus problemas pessoais e comunitários. O estudo apresenta-se em três
momentos. No primeiro momento é apresentado o rádio das suas origens à
atualidade. No segundo enfoca-se a experiência de rádio cidadã da Rádio
Metropolitana de Mogi das Cruzes. No terceiro momento são apresentados os
resultados da investigação, que buscou compreender o papel da rádio e sua
atuação na área da prestação de serviços à comunidade, especificamente na
defesa dos interesses dos cidadãos consumidores. Os resultados apontam que os
ouvintes da Rádio Metropolitana reconhecem-na como uma prestadora de
serviços à comunidade, e dentre os programas da referida rádio, ganha destaque,
na fala dos entrevistados, o Programa Radar Noticioso que atende aos apelos dos
ouvintes e busca soluções entre os responsáveis pelas ações políticas na região
onde ele alcança. Com isso a rádio, por meio referido programa, acaba
desempenhando papel social na prestação de serviço à comunidade.
Palavras-chave: História do rádio. Rádio cidadã. Prestação de serviços. Rádio
Metropolitana. Radar Noticioso.
ABSTRATC
This research aims to study the radio as a way to serve the community. For this
purpose it analyzed a specific radio show that is on the air for almost fifty years
and leads the score of audience, every morning, in the region called Alto Tietê. This
radio-news show is called Radar Noticioso of the radio Metropolitana AM 1070 in the
city of Mogi das Cruzes. The Metropolitana radio covers more than eleven cities, with
over 2.5 million inhabitants. The choice of this program as an object of this research
was due the longevity of it – almost fifty years, the credibility that grew along this years
inside the community. Because of it, the radio-news show was featured in the flow
of the demand on the people who listen to it that seek an environment that support
them in solving their personal and collective problems. The study is presented in three
parts. First the history of the radio, since it origins to present. The second part focuses
on the experience of radio in building citizenship – a successful experience of
Radio Metropolitana de Mogi das Cruzes. The results show that the Metropolitan
Radio listener recognize it as a provider of services to the community, and among the
programs of this radio, is highlighted in the speech of the interviewees. The Radar
Noticioso, the news program, listens to the appeals from listeners and seeks solutions
between those responsible for political actions within the region where it reaches. We
conclude that the radio, through that program, support the population in providing
social service to the community.
Keywords: History of radio. Radio Citizen. Provision of services. Radio Metropolitana.
Radar News.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1.
Caracterização dos sujeitos da pesquisa......................................
72
Quadro 2.
Principais categorias temáticas.....................................................
74
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABERT
AM
AMIRT
CD
DIP
DRT
DENTEL
FM
GPRS
HAB
IBOPE
JP
MTB
PUC-SP
RCC
Sabesp
Semae
SC
TV
WI-FI
=
=
=
=
=
=
=
=
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=
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=
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=
=
=
Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão
Amplitude Modulada
Associação Mineira de Rádio e Televisão
Compact disc, disco compacto
Departamento de Imprensa e Propaganda
Delegacia Regional de Trabalho
Departamento Nacional de Telecomunicações
Frequência Modulada
General Packet Radio Service
Habitantes
Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
Jornalismo Público
Registro profissional de jornalista
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Renovação Carismática Católica
Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo
Serviço Municipal de Águas e Esgoto
Santa Catarina
Televisão
Wireless Fidelity
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 10 CAPÍTULO I.............................................................................................................14 O RÁDIO NO BRASIL: DAS ORIGENS À ATUALIDADE........................................... 14 1.1. Das origens à chegada da TV.........................................................................14 1.2. O rádio e a televisão: confrontos e contrastes................................................ 21 1.3. A emergência das rádios religiosas................................................................ 26 1.4. Das rádios livres e comunitárias às rádios “clandestinas”.............................. 32 1.5. Rádio e Política: uma combinação que deu certo?.........................................38 1.6. A rádio atual e as novas mídias ......................................................................46 CAPÍTULO II
.......................................................................................................52 RÁDIO CIDADÃ: A EXPERIÊNCIA DA RÁDIO METROPOLITANA ...........................52 2.1. A emergência da Rádio Cidadã ......................................................................53 2.2. A experiência da Rádio Metropolitana ..........................................................58 2.3. O programa Radar Noticioso ..........................................................................63 2.4. Da Rádio à Ouvidoria Geral de Mogi das Cruzes ...........................................66 2.5. A Metropolitana na Comunidade.....................................................................69 CAPÍTULO III ...........................................................................................................70 O RADAR NOTICIOSO: OUVIDORIA HÁ 50 ANOS ...................................................70 3.1. Os sujeitos da pesquisa.................................................................................. 71 3.2. Elaboração dos dados.................................................................................... 73 3.3. Análise e Interpretação dos dados..................................................................75 3.3.1. A rádio mais ouvida......................................................................................75 3.3.2. A importância da Rádio Metropolitana......................................................... 77 3.3.3. A Rádio como prestadora de serviços......................................................... 79 3.3.4. O Programa mais ouvido da Rádio Metropolitana....................................... 81 3.3.5. Identificação com a radialista....................................................................... 83 3.4. O Radar Noticioso na visão de um antigo âncora...........................................86 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 90 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 94 ANEXOS.......................................................................................................................... 101 10 INTRODUÇÃO
A presente dissertação tem como objetivo estudar a rádio como prestadora
de serviços à comunidade. Para tanto se toma como objeto de análise o
Programa Radar Noticioso da Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes.
O Programa Radar Noticioso está no ar há quase 50 anos na Rádio
Metropolitana e é considerado o carro-chefe da programação jornalística da
emissora, liderando a audiência na região todas as manhãs (IBOPE, 2001). A
credibilidade alcançada junto ao público a torna referência obrigatória na vida do
ouvinte que começa o dia cedo e precisa de informação. Através de seu sinal, a
Rádio Metropolitana cobre mais de 11 municípios, com mais de 2,5 milhões
habitantes.
O programa tem início às cinco e meia com um giro de informações
relevantes do dia. Às 6h00 da manhã tem a abertura especial com a âncora do
programa que comanda os comentários, as entrevistas, a participação dos
ouvintes e a mesa de debates. Das 7h30 às 8h00 é aberto o microfone para
interlocução direta com o ouvinte, no quadro chamado “Momento do Ouvinte”.
Nesse momento o ouvinte encontra espaço para fazer denúncias e/ou
reclamações em relação a diferentes problemas em relação às Prefeituras
Municipais das cidades, concessionárias de serviços como Bandeirante Energia
ou Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) ou
outras empresas e/ou órgãos públicos ou privados.
Outro ponto do Radar é que o programa está formatado para chamar a
responsabilidade da Prefeitura ou outros órgãos públicos ou privados para o
problema do ouvinte, visando à sua solução. Isso ocorre até mesmo com
problemas relacionados à saúde, tanto os ligados às administrações municipais
quanto dos hospitais públicos e também particulares da região. Aliás, a saúde é
um dos assuntos mais comentados no programa.
Além da equipe técnica, são dois os profissionais da comunicação que
assumem o contato direto com o ouvinte, a âncora e um locutor/noticiarista que lê
os principais fatos do dia, isso ocorre durante todo o programa, que é dinâmico e
11 com uma linguagem simples e direta, com ênfase nos bate papos entre a âncora
e os ouvintes, ou os seus entrevistados. As informações servem muitas vezes de
base para os comentários realizados durante o programa. Como estratégia para
dinamizar essa apresentação faz-se uma alternância por meio da voz feminina da
âncora com a masculina do locutor/noticiarista. Trata-se de uma estratégia
adotada para não cansar o ouvinte que fica sintonizado, muitas vezes, durante
mais de quatro horas.
A audiência rotativa do rádio faz com que a âncora reprise momentos
especiais e relevantes do programa, principalmente no final dele, fazendo um
resumo dos principais assuntos do dia, com trechos das principais entrevistas.
Pode-se afirmar que o Programa Radar Noticioso da Rádio Metropolitana AM
1070 tenta cumprir o seu papel de formador de opinião, ao mesmo tempo em que
abre espaço para o ouvinte reivindicar, denunciar problemas sociais ou pessoais,
ou até mesmo agradecer a emissora por ter intercedido junto a uma reivindicação
atendida por um órgão público ou privado. É a voz do cidadão-comum tendo o
seu espaço no rádio-cidadão.
A partir de 2007 a emissora ampliou o direcionamento das reclamações
dos ouvintes focando mais na criação de espaços de maior intervenção do
ouvinte, do consumidor e usuário dos serviços públicos municipais e estaduais. O
Radar Noticioso ao longo de 40 anos sempre manteve uma linha baseada no
jornalismo tradicional, centrado na notícia, com informações didáticas para a
comunidade, mas tinha como objetivo aprofundar ainda mais a relação com a
comunidade. Por isso, a Rádio Metropolitana começou a ir para as comunidades
a partir de 2009 todas as sextas-feiras com uma ação social para os bairros com
atendimento médico, odontológico, jurídico, psicológico, entre outros, ação social
denominada Metropolitana na Comunidade.
O cenário descrito justifica a escolha do Programa Radar Noticioso
enquanto objeto de pesquisa desta dissertação, uma vez que pode-se constatar,
tanto por meio parte de pesquisas realizadas, quanto pelos longos anos de
duração do programa, a credibilidade e procura dos ouvintes de um meio que os
auxilie na busca da resolução de seus mais variados problemas.
12 Com isso convém questionar: Será que o papel da rádio, além de informar,
é também atuar na prestação de serviços à comunidade, tornando-se uma
espécie de ouvidoria pública ou defensoria do povo? Porque os ouvintes,
cidadãos e consumidores, procuram a rádio para solucionar seus problemas de
carências de serviços públicos e até mesmo de empresas privadas, como as que
não prestam bons serviços à comunidade? Será que um programa de rádio pode
realmente interferir na execução das políticas públicas acelerando a solução dos
problemas e demandas dos cidadãos?
Vários autores Abreu (2003); Traquina (2003); Quadros (2005); Costa Filho
(2006); Arce (2007); Barcelos (2007); se transformaram em referência
bibliográfica para discutir o papel do Jornalismo Público na presente dissertação,
em relação à construção da cidadania através do rádio. E fica o questionamento
de Costa Filho (2006): será que os meios e os jornalistas conseguem manter este
compromisso, manter sua autonomia quando se dão conta que a imprensa hoje
se constitui como empresa ou está ligada a grandes grupos econômicos, pregado
às vontades e interesses?
Sendo assim, o principal objetivo deste estudo foi compreender o papel da
rádio e sua atuação na área da prestação de serviços à comunidade,
especificamente na defesa dos interesses dos cidadãos consumidores, à luz da
literatura científica e do estudo do Programa Radar Noticioso da Rádio
Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes.
Para atingir o objetivo proposto, inicialmente realizou-se uma pesquisa
bibliográfica na literatura especializada sobre o tema estudado. Nesse sentido
foram levantados livros, teses de doutorado, bem como artigos nas principais
publicações brasileiras vinculadas ao tema Comunicação Política e Meios de
Comunicação, em especial ao veículo rádio, tentando localizar textos a respeito
da rádio e a prestação de serviços à comunidade, os mesmos que nos serviu para
fundamentar os capítulos I e II que apresentam o referencial teórico do estudo ora
apresentado.
Este estudo possui ainda uma dimensão empírica, que se concretiza no
estudo referente à prestação de serviços à comunidade realizada por meio do
13 Programa Radar Noticioso, tendo como base de análise, entrevistas realizadas
com alguns ouvintes selecionados a partir de sua assídua participação no referido
programa, constatada por meio de banco de dados organizado pela pesquisadora
com o auxílio da equipe técnica do programa.
O estudo aqui apresentado encontra-se divido em três capítulos.
No primeiro capítulo, intitulado “O rádio no Brasil: das origens à
atualidade”, aborda-se de sua origem até a chegada da televisão, discute-se os
confrontos e conflitos existentes entre rádio e TV, aponta-se a emergência das
rádios religiosas. Trata ainda das rádios livres e comunitárias, do envolvimento do
rádio com a política, e da rádio atual e sua relação com as novas mídias.
No segundo capítulo, intitulado “Rádio cidadã: a experiência da Rádio
Metropolitana” discute-se a emergência da rádio cidadã, a experiência da Rádio
Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes, caracteriza-se o Programa Radar
Noticioso, bem como se aponta a contribuição do Programa na criação da
Ouvidoria Geral da cidade de Mogi das Cruzes. Encerra-se abordando o projeto
Metropolitana na Comunidade.
No terceiro capítulo, intitulado “O Radar Noticioso: Ouvidoria há 50 anos”,
são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados no estudo, assim
como os resultados empíricos da investigação. Identifica-se o tipo de pesquisa, as
técnicas de coleta utilizadas, os sujeitos pesquisados. Em seguida procede-se a
análise e interpretação dos dados obtidos por meio das entrevistas.
14 CAPÍTULO I
O RÁDIO NO BRASIL: DAS ORIGENS À ATUALIDADE
O presente capítulo aborda a origem do rádio, apresentando-o desde as
suas origens até a chegada da televisão. Discute os confrontos e conflitos
existentes entre rádio e TV, aponta a emergência das rádios religiosas. Trata
ainda das rádios livres e comunitárias, do envolvimento do rádio com a política, e
da rádio atual e as novas mídias.
A história das origens do rádio pode ser contada sob a ótica de vários
autores, porque a invenção desse importante veículo de comunicação não pode
ser considerada obra de um único pesquisador.
Para a revisão bibliográfica aqui realizada tomamos como referência
livros, artigos científicos e textos publicados em anais de eventos científicos que
tratam sobre o tema pesquisado.
Os estudos mostram que a autoria da invenção do rádio é muito
controversa mesmo entre os estudiosos do tema (ORTRIWANO, 1985;
FERRARETO, 2001, HAUSSEN, 2004; JUNG, 2007). O que não podemos negar
é que o rádio mudou a história da comunicação mundial – desde o advento da
primeira transmissão via telégrafo com fio passando pela Era do Rádio chegando
à atualidade.
Vamos contar essa trajetória que marcou também no Brasil o novo estilo
de falar para uma sociedade ainda analfabeta, uma maneira nova de abrir
horizontes
no
radiojornalismo
e
se
transformar
comunicabilidade.
1.1. Das origens à chegada da TV
Na análise de Ferrareto (2001, p. 80):
em
um
marco
da
15 Embora o senso comum atribua a invenção do rádio ao italiano
Guglielmo Marconi, pode-se afirmar que a radiodifusão sonora
constitui-se no resultado do trabalho de vários pesquisadores em
diversos países ao longo do tempo [....]
Neste cenário, também, do advento do rádio, segundo Jung (2007), o
mérito deve-se ao padre brasileiro Roberto Landell de Moura, reconhecido apenas
após a morte, em 1928.
No Brasil, o Rio de Janeiro é considerado a primeira cidade brasileira a
instalar uma emissora de rádio, no entanto, experiências já eram feitas por alguns
amadores, existindo documentos que provam que o rádio nasceu em Recife, no
dia 6 de abril de 1919, quando foi inaugurada a Rádio Clube de Pernambuco
(ORTRIWANO, 1985, p. 13).
Mas, de acordo com Ortriwano (1985), oficialmente o rádio é inaugurado,
no Brasil, em 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações do
Centenário da Independência, quando alguns componentes da sociedade carioca
puderam ouvir em casa o discurso do então Presidente Epitácio Pessoa. Para a
ocasião, foram instalados 80 receptores especialmente importados pela empresa
Westinghouse que instalou uma emissora, cujo transmissor, de 500 watts, estava
localizado no alto do Corcovado. Dias depois foram transmitidas óperas
diretamente do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi apenas uma
demonstração, já que as transmissões foram encerradas por falta de um projeto
que tivesse continuidade.
Contudo é considerado oficialmente a data de instalação da radiodifusão
no Brasil, 20 de abril de 1923, quando começa a funcionar a Rádio Sociedade do
Rio de Janeiro, fundada por Roquete Pinto e Henry Morize, impondo à emissora
um cunho nitidamente educativo (ORTRIWANO, 1985).
Segundo Ortriwano (1985) o rádio, nesta circunstância, nascia como meio
de elite, não de massa, e se dirigia a quem tivesse poder aquisitivo para mandar
buscar no exterior os aparelhos receptores, então muito caros.
O novo veículo de comunicação era assim definido por Roquete Pinto:
16 O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não
pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o animador
de novas esperanças; o consolador dos enfermos; o guia dos
sãos, desde que o realizem com espírito altruísta e elevado
(TAVARES, 1997, p. 8 apud FERRARETO, 2001, p. 97).
Neste contexto histórico, o rádio lutava com dificuldades, sem estrutura
financeira, para se ter uma ideia, ouvia-se ópera com discos emprestados pelos
próprios ouvintes, recitais de poesia, concertos, palestras culturais, sempre com
uma programação muito seleta. Mas como conta Ortriwano (1985), Roquete Pinto
acreditava desde o início que o rádio se transformaria num meio de comunicação
de massa.
Segundo Calabre (2004), os primeiros anos de vida do rádio no país
estiveram repletos de dificuldades, com o surgimento e desaparecimento de
várias emissoras.
Ainda nos anos 20, o rádio já começa a espalhar-se pelo território
brasileiro. As primeiras emissoras tinham sempre em sua
denominação os termos ‘clubes’ ou ‘sociedade’, pois na verdade
nasciam como clubes ou associações formadas pelos idealistas
que acreditavam na potencialidade do novo meio (ORTRIWANO,
1985, p. 14).
Na análise de Calabre (2004), nessa fase predominava um sentimento de
descrédito quanto à eficácia do rádio como veículo capaz de estimular o mercado
consumidor ou até mesmo atrair novos clientes.
Nos anos seguintes, de 1923 até o início de 30, surgiram novas
emissoras em diversos estados brasileiros e Roquete Pinto estava certo em sua
análise do futuro do rádio por que:
Quando a publicidade é regulamentada em 1932, dando início a
uma nova fase na história da radiodifusão sonora do país, o
veículo está presente na Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais,
Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e São Paulo (FERRARETO, 2001, p. 101).
A introdução de mensagens comerciais começa a transfigurar o rádio,
transformando as mensagens eruditas, educativas e culturais em popular,
voltadas ao lazer e à diversão, conforme afirma Ortriwano (1985, p. 15):
17 O comércio e a indústria forçam os programadores a mudar de
linha: para atingir o público, os “reclames” não podiam interromper
concertos, mas passaram a pontilhar entre execuções de música
popular, horários humorísticos e outras atrações que foram
surgindo e passaram a dominar a programação.
As rádios começam assim a se estruturar como empresas rentáveis e
passam a contratar artistas e produtores. De olho na audiência, a rádio
preocupava-se agora com a audiência e começava a criar os seus ídolos
populares (ORTRIWANO, 1985).
Em 22 de julho de 1935, é criada a Hora do Brasil que transmitia
informações e pronunciamentos, além de música popular. Vindo a tornar-se
programa obrigatório durante a ditadura (FERRARETO, 2001). Em 6 de setembro
de 1946, a Hora do Brasil transforma-se em Voz do Brasil.
Registre-se que para Haussen (2004), um marco do rádio no Brasil foi à
criação da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em 1936, que se tornaria um
modelo e marcaria presença em todo o território nacional com a sua
programação.
O rádio brasileiro vai encontrando o seu caminho, definindo o seu papel
também na vida política e econômica brasileira, Getúlio Vargas foi o primeiro
governante a ver no rádio grande importância política e passou a utilizá-lo dentro
de um modelo autoritário (ORTRIWANO, 1985).
A partir de 1940, o Governo decidiu que a Rádio Nacional tinha que ser
um instrumento de afirmação do regime, e Getúlio Vargas decretou a
encampação da empresa A Noite, à qual pertencia à emissora (ORTRIWANO,
1985).
Concomitantemente o rádio entra na chamada “era de ouro”, conhecida,
assim, devido o espetáculo com uma programação voltada ao entretenimento.
Neste período, também, nasce à primeira radionovela: “Em Busca da Felicidade”,
o gênero, segundo Ortriwano (1985), proliferou rapidamente, e em 1945, a Rádio
Nacional chegou a transmitir 14 novelas diariamente. As radionovelas estavam
entre os programas de maior audiência radiofônica da época (CALEBRE, 2003).
18 Nesse contexto, segundo Calabre (2004, p. 7):
O rádio criou modas, inovou estilos, inventou práticas cotidianas,
estimulou novos tipos de sociabilidade. Ícone da modernidade até
a década de 1950, ele cumpriu um destacado papel social tanto
na vida privada como na vida pública, promovendo um processo
de integração que suplantava os limites físicos e os altos índices
de analfabetismo do país.
Ferrareto (2001) destaca os programas de auditório como momentos
marcantes do rádio porque criaram ídolos e reforçaram personalidades que
também estavam presentes nas chanchadas, principal produto brasileiro da
época, e por apresentações nas grandes casas de espetáculos, na maioria das
vezes cassinos.
A partir daí, algumas rádios passaram a se especializar em áreas ou
campos de atividades. A Rádio Panamericana, de São Paulo, por exemplo,
começa a ser conhecida, a partir de 1947, como a “Emissora dos Esportes”. De
acordo com Ortriwano (1985), foi com o destaque do esporte que a emissora
conseguiu liderança de audiência e introduziu muitas inovações nas transmissões
esportivas.
A tecnologia em franco desenvolvimento na área das telecomunicações
faz de 1946 um marco importante para o rádio, pois o surgem os primeiros
gravadores de fita magnética, da mesma forma que avançam as formas de
gravação. A tecnologia dos aparelhos também se remodela, pois tem início a
substituição de elementos mais duráveis e estáveis: os retificadores de selênio,
substituem as válvulas a vácuo.
A partir da Segunda Guerra Mundial, o radiojornalismo começa a ganhar
força à medida que o país se envolve com a Guerra.
Com seu slogan de ‘Testemunha ocular da história’, o Repórter
Esso, durante os 27 anos em que esteve no ar, deu em primeira
mão as principais notícias do Brasil e do mundo. A voz grave e
modulada de Heron Domingues, locutor exclusivo do Repórter
Esso durante 18 anos, tornou-se popular em todo o Brasil
(ORTRIWANO, 1985, p. 20).
19 Além do “Repórter Esso”, outro marco importante do radiojornalismo
brasileiro foi o “Grande Jornal Falado da Tupi”, estes apresentavam inovação.
Com linguagens próprias deixavam de ser apenas “leitura ao microfone” das
notícias dos jornais impressos.
Já Ortriwano (1985) destaca no radiojornalismo a forte influência de um
novo tipo de programação noticiosa lançada pela Rádio Bandeirantes, de São
Paulo, em 1954, mostrando-se revolucionária e influenciando a programação de
outras emissoras. A Bandeirantes fez-se pioneira no sistema intensivo de
noticiário “[...] em que as notícias com um minuto de duração entravam a cada
quinze minutos e, nas horas cheias, em boletins de três minutos.” (ORTRIWANO,
1985, p. 22).
Todavia, conforme aponta Ortriwano (1985), o marco do rádio surgiu com
a descoberta do transistor que começa a revolucionar o mercado. Este
componente acabou sendo aperfeiçoadp pór uma série de cientistas, foi
inicialmente
apresentado
em
1947,
mas
ainda
passou
por
inúmeros
aperfeiçoamentos.
Para Haussen (2004) esse período marca outro grande momento da
radiofonia porque permitiu a criação do rádio portátil e a libertação do “espaço
fixo” do veículo, em geral, na sala de jantar.
O historiador Eric Hobsbawm (apud CALABRE, 2004, p. 9) aponta o rádio
como poderosa ferramenta de comunicação e integração:
O rádio foi o primeiro meio de comunicação a falar individualmente
com as pessoas, cada ouvinte era tocado de forma articular por
mensagens que eram recebidas simultaneamente por milhões de
pessoas. O novo meio de comunicação revolucionou a relação
cotidiana do indivíduo com a notícia, imprimindo uma nova
velocidade e significação aos acontecimentos.
Quem nunca ouviu essa expressão: “falar ao pé do rádio?” Essa frase
reproduz muito bem a sensação de quem está à frente do microfone contando
histórias do cotidiano. Uma das características do rádio é essa proximidade com o
ouvinte, a conversa direta com o cidadão. “O público se identifica com a emissora
da cidade e com o radialista de plantão. Tem no âncora a figura que divide
20 emoções e faz companhia, seja pelo rádio sobre a pia, no painel do carro ou no
computador do escritório” (JUNG, 2007, p. 39).
Nesse processo, de aproximação da rádio com o grande público,
Fanucchi (2004) destaca o papel de Coripheu de Azevedo Marques, um dos
ícones do rádio porque explicava os assuntos de interesse local, estadual ou
nacional de maneira simples e fácil dos ouvintes traduzirem para o seu dia a dia.
Segundo o autor, o radiojornalismo da Tupi, por meio do “Grande jornal falado
Tupi” e do “Matutino Tupi”, implantou um jornalismo de prestação de serviço.
A tribuna representada pelos jornais da Tupi tinha grande alcance e o
público utilizava para protestar ou pedir ajuda:
E esse momento de realização para milhares de ouvintes chegava
quando o próprio Coripheu abria uma seção do radiojornal com
estas palavras: ‘Reclame! É um direito seu!’ ou, ainda, anunciava:
‘Pessoas desaparecidas que estão sendo procuradas’. A
execução dos jornais dependia inteiramente da ‘regência de
Coripheu’ (FANUCCHI, 2004, p. 91).
Tamanha era a vibração do âncora por meio de sua energia no processo
de comunicação que parecia, segundo Fanucchi (2004), utilizar o microfone na
condução de seu trabalho como um verdadeiro maestro.
O rádio veio a ter sua queda com o advento da televisão. O término da
“Época de Ouro” coincide com o surgimento de um novo meio de comunicação no
país, a televisão. É no rádio que a televisão vai buscar seus primeiros
profissionais.
Para enfrentar esta nova concorrente, bem como manter-se vivo, o rádio
precisava buscar uma nova linguagem, que fosse, sobretudo, mais econômica.
Assim, das produções caras, o rádio partiu para uma comunicação mais ágil
noticiosa e de serviços, quando as emissoras de maior porte passam a utilizar
cada vez mais as unidades móveis, agilizando a transmissão da informação
(ORTRIWANO, 1985).
Outro passo para que o rádio deixasse de perder tanto terreno para a
televisão foi dado, segundo Ortriwano (1985), em 1959. Ao analisar esse período
21 histórico, a autora, destaca o lançamento da rádio como prestador de serviços de
utilidade pública, configurada pela Rádio Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, que
depois de alguns anos veio a ser adotado por outras emissoras de todo o país. O
diálogo com os ouvintes começava com a divulgação de “achados e perdidos” e
depois os serviços vão se ampliando para condições das estradas, ofertas de
emprego, meteorologia, entre outros.
A partir do decênio de 60, as emissoras começam a operar as primeiras
FMs – frequência modulada, que permitiria a ampliação do número de canais, até
então de Amplitude Modulada e Ondas Curtas. Num primeiro momento as FMs
fornecerão “música ambiente” para assinantes, desde músicas com melodias
suaves para hospitais até música alegre para escritórios e indústrias
(ORTRIWANO, 1985).
Ferrareto (2001) destaca que desde o início, o rádio em FM tinha menor
radio de alcance, mas oferecia maior qualidade sonora, por isso as emissoras FM
ganham impulso significativo durante os anos 60.
Jung (2007) destaca que o rádio FM no Brasil foi influenciado pela
programação das emissoras americanas. E a partir de 1970 extrapolou os
consultórios e ganhou um tom menos formal e com locução espontânea. Tanto é
que ele ressalta: “poucos veículos colaboraram tanto para difundir a língua inglesa
por aqui como rádio FM” (JUNG, 2007, p. 46).
1.2. O rádio e a televisão: confrontos e contrastes
Para compreender como foi o nascimento da televisão, em pleno sucesso
do rádio, vários autores (BARBEIRO, 2004; CALABRE, 2004; FANUCCHI, 2004;
MEDITSCH, 2005; BARBOSA, 2010) se debruçam sobre o tema em torno de
confrontos e contrastes destes dois importantes veículos de comunicação de
massa, que no início, de ambos, começou elitizado.
Calabre (2004) afirma que ao longo da década de 1950 o rádio se
transformou em um objeto acessível à grande maioria da população,
concomitantemente ao lançamento da televisão no Brasil. Portanto, quando o
rádio começou realmente a fazer sucesso e a chegar aos lares dos brasileiros, a
22 televisão chega para ficar.
O rádio estava no auge, em sua Era de Ouro, quando a televisão nasceu.
O mundo parou para assistir ao espetáculo da imagem da imaginação - o rádio
com imagem - e enxergar os artistas que antes eram apenas imaginários. Com a
chegada da televisão as pessoas começaram a ver o rádio de outra maneira e
pela primeira vez o primeiro grande veículo de comunicação precisou se
reinventar.
Aqui entra o contraste entre rádio e televisão porque, segundo Calabre
(2004), com a chegada da televisão o rádio precisou criar novos modelos de
programação, cada vez mais distantes daquele que prevaleceu nos “anos
dourados” do rádio brasileiro.
Fanucchi (2004) aponta que na maioria dos países a televisão nasceu
entre empresas de rádio subvencionadas pelo governo ou mantidas com taxas
pagas pelos ouvintes; ou empresas que já exploravam o rádio comercialmente,
como nos Estados Unidos e como aconteceu também no Brasil.
Semelhantes às principais corporações de rádio e televisão norteamericanas, as Emissoras Associadas apresentavam, em 1950, o
perfil ideal para receber a tevê. Suas rádios se espalhavam por
quase todos os estados; os Diários Associados constituíam uma
força política e econômica considerável... (FANUCCHI, 2004, p.
87).
Os textos que se referem aos primórdios da televisão no país destacam o
gênio administrativo e empreendedor de Assis Chateaubriand que não mediu
esforços para ser o pioneiro na implantação desse veículo de comunicação que
se transformaria, anos mais tarde, no símbolo da força da imprensa mundial. Para
a ocasião, conta-se (BARBOSA, 2010) que Chateaubriand “contrabandeou”
duzentos aparelhos de televisão e espalhou pelas ruas de São Paulo para que
fosse feita a primeira transmissão.
A televisão no Brasil foi inaugurada no dia 18 de setembro de 1950, com
a TV Tupi Difusora de São Paulo. No discurso da cerimônia, Chateaubriand já
deixava clara a importância das empresas para tornar realidade a chegada da
televisão, ressaltando que foram os recursos publicitários, que tornaram possível
23 um investimento tão caro para o país. A análise de um pequeno trecho de seu
discurso mostra que tanto o rádio quanto a televisão precisaram de investimentos
para serem lançadas no Brasil.
Nesse pequeno trecho, duas indicações: em primeiro lugar, o
dono dos Associados remarca que as ações no sentido de
implantação da TV no país se iniciaram em 1946, ou seja, quatro
anos antes daquela data. Em segundo lugar, que ‘o
empreendimento’ televisão fora dispendioso, já que eram quatro
dos maiores anunciantes dos anos 1950 que subsidiaram a
iniciativa (BARBOSA, 2010, p. 18).
Uma constatação dos estudiosos do tema, é que tanto o rádio quanto a
televisão, nasceram com a marca da força de influenciar pessoas. Desta forma,
Barbosa (2010) defende que Chateaubriand, o maior magnata da imprensa
brasileira, já enxergava, naquela época, que a televisão era uma “máquina” capaz
de influenciar a opinião pública. Além disso, diminuía distâncias e possibilitava a
imaginação de um mundo provável e possível. “A televisão exacerbou a
imaginação em torno das possibilidades de reprodução em imagens do que era
captado pelo olhar humano” (BARBOSA, 2010, p. 16).
Como o rádio, a televisão também nasceu com a pecha de elitista.
Barbosa (2010) aponta que nesse primeiro momento, a televisão se caracterizava
pelo improviso e a pouca disponibilidade de aparelhos receptores porque eram
muito caros; as pessoas não tinham condições financeiras de adquiri-los na
década de 50. De acordo a autora, as primeiras emissoras tiveram dificuldades
com a falta de estrutura e até a ausência de estúdios adequados.
Aos poucos eram colocados no ar os primeiros programas musicais,
teleteatros, programas de entrevistas, no entanto, as transmissões eram limitadas
entre às cinco horas da tarde às dez da noite, sempre com grandes intervalos
entre os programas, porque eram todos ao vivo e precisavam de tempo para que
os estúdios fossem preparados para outras apresentações. A televisão era “um
híbrido entre o rádio e o cinema e sua instauração num lugar simbólico”
(BARBOSA, 2010, p. 16).
Apesar de tantas dificuldades, os anos de 1950, foram marco pela
expansão de algumas redes e inauguração de 21 emissoras. Na medida em a
24 televisão se espalha pelo mundo, e o mundo maravilhado vê a imagem, a
televisão ainda baseava-se na mesma linguagem radiofônica, pois são narrações
com imagens, estava ainda bem longe de a televisão desenvolver sua própria
linguagem.
Os visionários do início da televisão já tinham nítido um ponto: existia a
imagem-imaginação de que o mundo seria mostrado na casa das pessoas. A TV
é, segundo Barbosa (2010), o “brinquedo mais fascinante do século XX”, um
mundo da possibilidade de novas práticas, com hábitos sociais e mentais, que
geraria no futuro o mundo realmente dentro dos lares dos telespectadores.
Poucos anos depois da primeira emissão da televisão, os artistas que
antes tinham as suas vozes famosas no rádio e no teatro, já começaram a
realmente se popularizar porque ficaram com seus rostos conhecidos entre o
grande público (BARBOSA, 2010). Tanto é que, segundo Barbeiro (2004), não
demorou muito para que programas de rádio sofisticados que empregavam
muitos atores, cantores e orquestra cedessem lugar a audições de discos:
Essa fase, apelidada pejorativamente de ‘vitrolão’, perdurou por
algum tempo, enquanto o rádio, não só no âmbito das Emissoras
Associadas, mas de modo geral, procurava absorver os efeitos da
verdadeira revolução nos meios de comunicação de massa
desencadeada pelo surgimento da televisão (BARBEIRO, 2004, p.
103).
E tudo era ao vivo na televisão, assim como no nascimento do rádio. Nos
primórdios do rádio e da televisão tudo era em tempo real e em ambos os casos a
tecnologia chegou depois, como as gravações no rádio e como o videotape na
televisão.
Aliás, o videotape revolucionou a televisão ao vivo porque a partir daí
possibilitou a gravação, a edição e regravação de todas as cenas. Isso porque
quem fazia televisão na década de 60, começou a perceber que a televisão
brasileira já não era um veículo restrito a uma pequena camada da população e
feito de improviso. Os “telespectadores” começam a ser conhecidos, aos poucos,
a partir do “invento revolucionário da eletrônica” (BARBOSA, 2010, p. 21) e a
televisão começa a ocupar o lugar do rádio na sala de casa e se instala no lugar
25 mais importante do lar das pessoas – de onde nunca mais foi retirada.
Poucos gêneros dentro do rádio resistiram ao impacto que a televisão
teve, um deles foi o radiojornalismo e outro foi o dinamismo da programação
esportiva.
Barbeiro (2004) aponta um contraste entre rádio e a televisão, quando
ressalta a luta pela sobrevivência do radiojornalismo, possível desde que os
jornalistas e gestores empresariais entenderam que no âmbito da mídia em geral
se sobrepõe a televisão.
Para o autor “o rádio não pode e não deve competir com ela. São coisas
distintas e o público lança mão de um ou de outro de acordo com as suas
conveniências e interesses” (BARBEIRO, 2004, p. 141). Para exemplificar o autor
cita a audiência que o rádio recebe de motoristas de carros que ao se depararem
em engarrafamentos de trânsito, aproveita para ficar por dentro das informações
do dia e ouvir músicas.
Na atualidade, Barbeiro (2004) ressalta que estrategicamente é
necessário contrastar a programação do rádio e da televisão. “É preciso distinguir
as diferenças na programação entre o entretenimento e o jornalismo, o que é
cada vez mais difícil de perceber na televisão” (BARBEIRO, 2004, p. 144).
Segundo o autor, é exatamente por isso que o radiojornalismo se materializa em
credibilidade e audiência qualificadas. Nesse contexto, o contraste fica entre a
televisão que opta pela espetacularização e atrai grande parte da audiência. Isso
porque, para Barbeiro (2004), o show é o campo da televisão e a notícia o campo
do rádio:
Ela tem a tendência de espetacularizar, estetizar, recriar, dissolver
e transformar tudo o que entende ser importante, problemático e
aflitivo. Como o rádio do passado. O rádio atual precisa romper
com isso e entender que só a notícia de qualidade é capaz de
salvá-lo (BARBEIRO, 2004, p. 144).
Para Barbeiro (2004), a era do rádio acabou, mas é preciso reinventá-lo.
Já para Meditsch (2005) parece evidente que o rádio não terminou com o que
seria a “sua era”.
26 A melhor maneira de se explicar isto é compreender que não foi
nem o som nem a imagem que estabeleceram novas eras, mas
sim a tecnologia eletrônica: tanto o rádio como a TV pertencem à
era da informação, e o rádio foi a manifestação mais precoce da
era eletrônica na comunicação de massa (MEDITSCH, 2005, p.
15).
De acordo com Meditsch (2005), há um contraste importante entre o rádio
e a toda televisão. Conforme observa o autor, ao citar Schiffer (1991, p. 15), o
rádio foi o primeiro artefato eletrônico a penetrar no espaço doméstico. “Esta
condição eletrônica que está na sua origem muitas vezes é obscurecida quando
se contrapõe uma ‘era do rádio’ que pertenceria ao passado a uma outra ‘era da
imagem’ que definiria o presente e apontaria para o futuro”.
Deve-se considerar que, entre os meios de comunicação de massa, o
rádio ainda é o mais popular e o de maior alcance de público. Isso porque, por
vezes, é o único a levar informações para populações que não tem acesso a
outros meios. Ortriwano (1985, p. 81) considera o rádio um meio de comunicação
privilegiado por suas características, entre as quais destaca: linguagem oral;
penetração;
mobilidade;
baixo
custo;
imediatismo;
instantaneidade;
sensorialidade; e autonomia.
Já a televisão tornou-se uma ferramenta tão indispensável que, de acordo
com Lin (2005), hoje existem mais domicílios brasileiros como aparelhos
televisões do que com eletrodomésticos como a geladeira. Dados apontam que
98% da população das maiores regiões Metropolitanas Brasileiras com mais de
10 anos assistem à televisão, considerando quem vê TV pelo menos uma vez por
semana.
1.3. A emergência das rádios religiosas
A emergência das rádios religiosas no Brasil começa a partir do momento
que evocamos o sentido da palavra religião (do latim religare) que é um desejo
profundo no coração de cada ser humano. Afinal, a religião faz parte da cultura e
da história do rádio. São vários os desafios e propostas para a missão
evangelizadora do rádio porque vão além da responsabilidade social porque se
apresenta à sociedade com valores religiosos, como a ética e a moral, e o
27 humanismo social e cidadão.
Corazza (2004, p. 273-274) elenca alguns desses desafios para cumprir
sua função social, ente os quais:
[...] a comunicação que se coloque a serviço da vida; o serviço à
informação, cultura, entretenimento; a prática de um modelo de
comunicação que tenha em conta o público e respeite os
processos comunicacionais; a prática da ética e da coerência com
os valores que se prega; ética profissional, evitando manipulações
de todo tipo, sobretudo dos sentimentos dos fiéis; qualidade que
trabalhe todos os momentos do rádio de forma integrada; e o
cultivo de uma espiritualidade, que sustente toda a missão, e uma
proposta evangelizadora dos grupos.
Na análise de Corazza (2004, p. 275), “independente da religião que
professe, a presença da religião no rádio tem sentido se ela, de fato, despertar
nos ouvintes os valores da fraternidade e da solidariedade”. Como a religião está
presente no cotidiano da vida e da comunicação radiofônica, a autora ressalta que
é preciso discutir as formas de se fazer religião no rádio e de se usar no nome de
Deus.
A grande imprensa traz, continuamente, fatos a respeito dessa
questão e da falta de ética de muitos dos seus dirigentes, de
modo que é oportuno perguntar se ela é usada a serviço do
crescimento humano e espiritual das pessoas ou se está a serviço
de grupos privados que apenas mercantilizam a fé (CORAZZA,
2004, p. 275).
Trigo e Cipolla (2007) apontam o marketing religioso como ponto de
partida para a conversão de membros para a Igreja como um instrumento eficaz
no competitivo mercado religioso. Tanto é que ao longo da história, as igrejas têm
mais a ensinar do que a aprender com as empresas ditas modernas. Segundo
Periscinoto (1998) todos os conceitos de marketing foram criados pela Igreja.
Nesse sentido, Soares (1988) destaca a relevante presença dos diversos
setores das igrejas católicas e protestantes, que possuem poderosas redes de
comunicação com os mais diversos objetivos, que vão desde a comercialização
da fé até a difusão do Evangelho.
As Igrejas Radiofônicas, segundo Ferrareto (2000), ganharam destaque
28 nas últimas décadas do século 20 quando seitas e igrejas evangélicas buscaram
no rádio um instrumento de conversão religiosa.
De modo diferente das organizações católicas e protestantes
tradicionais transformam as emissoras em templos eletrônicos
com transmissão constante de cerimônias, entremeadas por
preces e, em alguns casos, notícias sobre suas atividades e
músicas com temática bíblica (FERRARETO, 2000, p. 182-183).
Em meados dos anos 80, de acordo com Ortriwano (1985), 10% das
rádios do país estavam nas mãos de religiosos. Outro dado apontado por
Ferrareto (2000, p.184) é que “uma em cada sete rádios existentes no país está
vinculada a uma igreja”. Em 1997, de acordo com levantamento feito pela Folha
de São Paulo, 394 rádios estavam ligadas a interesses de igrejas. Desse total,
aponta Corazza (2004), 161 emissoras pertenciam a Igreja Católica. Dados mais
recentes indicam que 200 emissoras estão nas mãos de grupos católicos, sendo
12% educativas e 88% comerciais.
Neotti (1994, p. 70) cita cinco fatores que fizeram a Igreja Católica entrar
no mundo da radiodifusão sonora: intenção de fazer do rádio o prolongamento do
púlpito; a importância do rádio como meio popular de comunicação; concorrência
com protestantes e espíritas, que cada vez mais faziam uso do rádio; relativa
facilidade
de
conseguir
concessão
junto
ao
Governo,
dada
a
ação
tradicionalmente educativa e cultural da Igreja; baixo custo relativo para
montagem de uma emissora.
Soares (1988) aponta a proliferação de seitas e novas religiões como
elemento motivador para a Igreja Católica a investir nos meios de comunicação.
Corrazza (2004) destaca a resistência, no início, da Igreja Católica à chegada das
novas tecnologias de comunicação, mas na década de 1940 cresceu o interesse
pela entrada da Igreja Católica na radiodifusão. Nessa época, destaca a autora,
acontece à primeira concessão de rádio à Igreja Católica no Brasil que se tem
registro: a Rádio Excelsior da Bahia.
Apesar das nítidas diferenças entre as emissoras católicas, Corazza
(2004) destaca que todas as rádios possuem uma identidade porque elas seguem
as orientações da Igreja. A autora admite, no entanto, a coexistência de duas
29 tendências distintas dentro do segmento de rádios católicas: “as que trabalham
comercialmente e entendem que a informação é uma forma de evangelizar e os
grupos mais recentes que norteiam sua programação com base na religião o dia
inteiro”.
Portanto, as diferenças entre as tendências estão na linguagem, na
relação com os ouvintes e nas relações comerciais. Para Corazza (2004), a
distinção é reflexo da situação da Igreja Católica, que apresenta, atualmente,
duas vertentes: o catolicismo tradicional e o pentecostalismo, representado pela
Renovação Carismática Católica (RCC) que começou a tomar forma na década
de 1990, organizada por lideranças e comunidades:
À semelhança dos grupos neopentecostais, esses grupos querem
fazer de sua emissora de rádio um templo. A preocupação central
é fazer religião o dia todo, como se a necessidade do ser humano
fosse apenas no âmbito religioso” (CORAZZA, 2004, p. 272).
Estudiosos
falam
ainda
em
neopentecostalismo,
um
ramo
do
pentecostalismo cuja principal característica é a evangelização pela mídia.
Moreira (1993) define o termo evangelização de diferentes maneiras. Ela pode ser
entendida como: anúncio da Boa Notícia de Jesus; realização da Boa Notícia de
Jesus e do seu projeto histórico; ação pela qual a Igreja anuncia a Boa Nova do
Evangelho.
Já outra vertente afirma que evangelização é o processo de converter a
mentalidade do ouvinte para o Evangelho, destacando os valores humanos,
chamando o ouvinte a aderir a uma comunidade de fé na qual se evangelize e se
faça evangelizar.
Os relatos históricos mostram o quanto o rádio foi utilizado pelas Igrejas.
Para Corazza (2004), as igrejas ditas históricas ou tradicionais, como as que se
referem às protestantes, como é o caso das Igrejas Anglicana, Luterana,
Metodista, Presbiteriana, Católica, tem um modo diferente de fazer rádio em
relação aos grupos pentecostais ou neopentecostais. Segundo a autora esses
grupos tiveram uma forte influência na mídia no século XX.
30 Há um embate interno das próprias instituições religiosas porque
alguns grupos, de fato, entendem que fazer rádio é fazer religião o
dia inteiro, e transmitem basicamente uma programação religiosa
confessional. Outros se pautam por princípios mais abrangentes
em que prevalece uma ‘filosofia’ identificada como missão e tem
em conta valores humanos, éticos, religiosos e de cidadania
(CORAZZA, 2004, p. 270).
No entanto, de acordo com a autora, quando se trata de uma rádio com
orientação católica há um modelo mais aberto no âmbito do campo da cidadania e
do serviço porque não é preciso falar de Deus o dia todo, mas tratar de maneira
cristã todas as coisas. Cada rádio trabalha a evangelização da sua maneira, de
acordo com a sua programação. Na defesa dessa tese a autora fala do anúncio
do Evangelho de modo explícito em algumas rádios e de modo implícito, quando
não se fala diretamente de religião. São emissoras de rádio populares ou
jornalísticas, ou até mesmo católicas que, embora veiculem programação
religiosa, seguem uma linha editorial.
No contexto das igrejas ditas evangélicas, tem que ser ressaltado,
segundo Patriota (2004), que antes os ditos “crentes” eram identificados com uma
visão pejorativa e preconceituosa. Estes homens e mulheres eram vistos em sua
maioria como homens de paletós e mulheres de saias compridas e cabelos
longos presos em um coque, sem nenhum tipo de maquiagem, sempre com uma
bíblia debaixo do braço.
Essa visão do evangélico mudou muito nos últimos anos desde que
artistas, empresários, políticos, atletas e até intelectuais começaram a declarar
abertamente, e também nos veículos de comunicação, que encontraram nessas
igrejas o caminho da fé. Mesmo denominando “supermercado da fé”, Patriota
(2004) ressalta que os protestantes assumiram seus lugares de destaque no
cenário nacional, sempre com a ajuda dos veículos de comunicação que
ajudaram a consolidar os evangélicos.
Na contemporaneidade, segundo Patriota (2004), as igrejas que se
utilizam da mídia, tanto a Igreja Católica quanto as igrejas protestantes, estimulam
demais os bens religiosos que privilegiam o individualismo, a vaidade, o consumo
31 material, o empreendimento financeiro, o sobrenatural e a abundância, negando
até mesmo o sofrimento e a qualquer sentimento que cause algum desconforto.
Para a autora, a comunicação religiosa assumiu novos contornos a partir do
momento que passou a apelar para os meios de comunicação através da
“incômoda” pluralidade religiosa.
Os veículos de comunicação acabam virando porta-vozes de Deus e
criam no consumidor em potencial um desejo inquietante de experimentar um
“algo novo” que ajude a resolver o seu problema. Por causa dessa mensagem
direta dos meios de comunicação, e o rádio se junta à televisão nesse caso, as
denominações que investem na mídia ficam com seus templos superlotados.
Registre-se a análise de Trigo e Cipolla (2007), para quem a relação aos
fiéis excluídos com o perfil dos evangélicos que com a estagnação econômica da
chamada “década perdida” (anos 80), a igreja foi uma maneira de encontrar a
ascensão social. Isso porque as igrejas emergentes começaram a cumprir um
papel fundamental como rede de proteção social nessa fase difícil que o país
atravessava. As igrejas passaram a substituir em parte o Estado, e por esses
serviços cobravam o dízimo.
No estudo de caso realizado, Trigo e Cipolla (2007) destacam o
crescimento da Igreja Renascer que através de uma Fundação tinha como meta
ser um agente do próprio Deus no resgate do ser humano. Seus fundadores e
mentores Estevam e Sônia Hernandes estiveram em destaque na imprensa por
causa de várias polêmicas, mas há de se ressaltar a conquista em torno da mídia
que foi a grande alavanca da popularidade da igreja e dos números
surpreendentes de fieis em mais de mil e quinhentos templos. O destaque aqui
vai para as emissoras de rádio, como a Gospel FM, e também uma rede de
televisão, a Rede Gospel.
Ferrareto (2000) destaca que na metade da década de 90, os cultos, os
exorcismos e as pretensas curas do bispo Edir Macedo e de seus seguidores
podiam ser ouvidos em três dezenas de emissoras de rádio de propriedade da
Igreja Universal do Reino de Deus. “A igreja possuía ainda quatro rádios em
Portugal e uma em Moçambique” (FERRARETO, 2000, p. 183). O império de Edir
32 Macedo cresceu muito nos últimos anos e culminou com a compra da Rede
Record de Televisão.
Corazza (2004) ressalta que nos últimos trinta anos um novo fenômeno
vem acontecendo no rádio brasileiro. É a chamada “igreja eletrônica” com os
teleevangelistas.
“São
novos
movimentos
religiosos
que
se
servem
preferencialmente, da mídia eletrônica, sobretudo do rádio, para difundir a fé e
fazer prosélitos” (CORAZZA, 2004, p. 261).
Para Patriota (2004) sempre haverá na comunicação midiática das igrejas
eletrônicas o oferecimento de um discurso que ajudará os fieis na resolução dos
problemas do dia a dia, além de ensiná-los a traçar metas ambiciosa o longo
prazo. E fica a pergunta do autor: qual é a estratégia para o rápido crescimento
das igrejas? A resposta é o andar de mãos dadas com os meios de comunicação
de massa com diversas igrejas que contam com redes de rádio e TV espalhadas
pelo país.
1.4. Das rádios livres e comunitárias às rádios “clandestinas”
Diversos autores debruçaram-se sobre o tema das rádios piratas,
comunitárias, livres ou até chamadas de “clandestinas”.
O termo rádio pirata surgiu nos anos 50, quando algumas emissoras
americanas de rádio queriam entrar no mercado da Grã Bretanha. Para isto,
segundo Perazoli (2004), instalaram estações de rádio em barcos que ficaram
fora da fronteira e conseguiam burlar a tutela estatal. Eram piratas porque
estavam em barcos e porque queriam roubar o “ouro” que os lucros publicitários
poderiam proporcionar naquela ocasião.
Segurado (1995) ressalta que na Inglaterra, em 1967, foi proibida a
atuação das emissoras piratas porque sabiam da possibilidade de perder
audiência e o controle dos meios de comunicação. Ficou autorizado, na época, o
funcionamento somente de rádios comerciais locais, mantendo assim o monopólio
para autorização de suas transmissões. No entanto, essas emissoras piratas,
apesar de sua atuação questionar o monopólio exercido pelo Estado, não
estavam preocupadas com a comunicação no sentido da garantia de liberdade de
33 expressão.
Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão. Esse
direito inclui a liberdade de receber e transmitir informações e
idéias
por
quaisquer
meios,
sem
interferência
e
independentemente de fronteiras (SEGURADO, 1995, p. 49).
De acordo com Segurado (1995), o movimento das rádios livres passou
pela Inglaterra, França, Itália, Espanha. Para a autora, o destino das rádios livres
européias foi selado com a sua legalização. Porém, algumas reflexões são
importantes em relação à história das rádios livres na Europa, principalmente
quando o Brasil passou a enfrentar a mesma problemática, que foi a legalização
desse tipo de emissora.
Apesar da necessidade de se elaborar um sistema próprio, que
respeitasse as características do país, Segurado (1995) garante que as
experiências de outros países podem ser significativas para a definição da
proposta brasileira. A autora relata que no Brasil, em 1971, na cidade de Vitória,
no Espírito Santo, dois irmãos criaram a Rádio Paranóia, num momento onde o
regime militar tinha os meios de comunicação sob forte controle e censura. Com
poucos recursos técnicos e transmissores de fabricação caseira, essa experiência
teve vida bastante curta, pois aqueles jovens foram descobertos pela Polícia
Federal e taxados como subversivos.
Apesar de sua existência efêmera, a Rádio Paranóia pode ser
considerada como um marco na história das rádios livres
brasileiras, que no início da década de 70 entram no cenário
nacional com suas transmissões desafiando o monopólio estatal
das concessões, confrontando-se diretamente com o Estado
(SEGURADO, 1995, p. 61).
Entretanto, foi apenas o início das manifestações da radiodifusão livre no
país. Outras experiências espalhadas por todo o Brasil vieram em seguida. Em
1976, Sorocaba serve como um boom para o surgimento de outras rádios livres,
que não apenas tocavam música, mas contestavam o regime do monopólio
estatal. Segurado conta que um jovem de 14 anos fabricou seu próprio
transmissor e colocou no ar a Rádio Spectro (SEGURADO, 1995). A autora
ressalta que dessa rádio abriu caminho para muitas outras e em 1981 somente na
34 cidade de Sorocaba existiam seis rádios. Já no verão de 1982, aproximadamente
42 rádios livres colocaram no ar suas transmissões e sofreram forte pressão do
jornal local e, de acordo com Segurado, ameaças da DENTEL (Departamento
Nacional de Telecomunicações – órgão responsável pela fiscalização do Sistema
de Comunicação do Brasil).
Segurado (1995) observa, a partir desse período, uma apropriação da
mídia rádio por vários outros grupos, que buscavam canais para manifestar seus
descontentamentos com a legislação e expressar suas opiniões de forma
diferenciada em detrimento da mesmice das rádios comerciais. Tanto é que as
rádios que surgiam queriam discutir as novas linguagens que pudessem refletir
sobre as questões ligadas às comunidades, desde a adversidade da produção
cultural passando pelas discussões sobre o coletivo até chegar à busca pela
criatividade no meio de comunicação.
Tanto é que a Rádio Xilik é considerada pelo movimento de rádios livres e
pelos setores do movimento de democratização dos veículos de comunicação
como a experiência que popularizou o uso da radiodifusão livre no Brasil.
Segurado (1995) conta que naquele momento, em que o país atravessava uma
fase de transição do regime autoritário para o regime democrático, a rádio
expressava a necessidade de terminar com o “silêncio”. O ano era 1985 e a rádio
entrou no ar simbolicamente no dia morte de Tancredo Neves dentro do campus
da PUC-SP, surgindo com a bandeira da desobediência civil, como uma forma de
rediscutir o cenário nacional.
Efetivamente, essas rádios tiveram um papel importante como
mola propulsora de uma discussão que possuía uma prática
descentralizadora, portanto não estavam somente empunhando
uma bandeira, mas constituindo novos agenciamentos coletivos
desvinculados das formas tradicionais de organização verificadas
nos movimentos sociais. A rádio livre pode ser considerada
enquanto instrumento técnico para se dar voz à subjetividade,
para engendrar uma nova possibilidade de subjetivação
(SEGURADO, 1995, p. 68).
Vários autores citam a formação do Coletivo Nacional de Rádios Livres,
em 1989, com a realização do 1º Encontro Nacional de Rádios Livres, em São
Paulo como um primeiro momento de discussão do assunto. Neste mesmo ano
35 acontece a Frente Nacional de Luta por Políticas Democráticas de Comunicação,
em Florianópolis (SC), que tinha como meta a participação na elaboração da
Constituição de 1988. Já em 1990 surge o Comitê pela Democratização da
Comunicação, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Juntas, realizam o
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, no ano de 1991. Em
pauta, a rádio livre. Nesta ocasião, salienta Perazoli (2004), começam as
discussões sobre rádio comunitária.
A radiodifusão comunitária é estabelecida pela Lei Federal 9.612, de
1998, e regulamentada pelo Decreto 2.615 do mesmo ano. Sua freqüência será
sempre em FM, com baixa potência – 25 watts – e, segundo a lei, deve cobrir o
raio de apenas um quilômetro a partir da antena de transmissão. A exploração
deste serviço está restrita a fundação ou associação comunitária, sem fins
lucrativos, com sede na localidade da rádio. Sua programação também traz uma
determinação: que seja pluralista, ou seja, sem qualquer tipo de censura e
atender a toda população da região em que está fixada.
Talvez o maior equívoco da Lei de Radiodifusão Comunitária, de acordo
com Perazoli (2004), seja a restrição do raio de um quilômetro a partir da antena
da área de cobertura, conforme está em seu artigo 1º: a radiodifusão sonora, em
frequência modulada, opera em baixa potência e cobertura restrita. Pelo que está
em lei, a definição de comunidade é restrita a um espaço geográfico e não a um
grupo de afrodescendentes ou de religiosos, que pode abranger vários bairros e
até mesmo uma cidade inteira.
Perazoli (2004) afirma que mesmo assim, ainda se entende comunidade
como espaço físico e não como aspecto cultural, econômico, social ou qualquer
outro meio. E a única justificativa que a lei traz é que com o raio de mil metros
será possível a instalação de mais de uma rádio comunitária na mesma
localidade, possibilitando um numero maior de informações e opiniões.
Entretanto, a Lei 9.612, no artigo 18, diz que as emissoras de radiodifusão
comunitária podem admitir patrocínio, sob a forma de apoio cultural, só que os
estabelecimentos comerciais devem estar na área da comunidade que o veículo
atende.
36 Segundo Peruzzo (1998), foi em 1995 que o país descobriu as rádios
comunitárias no formato de rádios livres. Na avaliação da autora, as rádios
comunitárias
trazem
aspectos
inovadores quanto ao conteúdo de sua
programação e processo de gestão. Para a autora, elas estão contribuindo para
acelerar a regulamentação no setor de radiodifusão de baixa potência e para
acirrar o debate sobre a democratização dos meios de comunicação de massa no
Brasil. Mas os números são muito controversos, como afirma a autora, que
destaca que para uns são cerca de 5.500, para outros 7.000, mas existem
estimativas que falam na existência de mais de 10.000 emissoras.
Perazoli (2004) contrapõe o papel da rádio livre, que se tornou
comunitária, afirmando que ela perde sua origem a partir do momento em que a
entidade ou fundação que tem o direito à concessão passa a copiar a
programação da rádio comercial, ao invés de buscar uma própria e até mesmo
sua linguagem específica. Tocar o que as outras rádios não tocavam: este era o
princípio das rádios livres.
No final do século XX há um novo marco estabelecido pelas rádios livres
e comunitárias nas relações entre emissor e receptor. Ambos tendem a uma
comunicação de massa precisa, como indica Manzano (1997, p. 12), ao defender
seu ponto de vista:
Uma emissora comunitária tem como característica principal o fato
de operar em via de duas mãos: ela não apenas fala como ouve,
principalmente, assegurando, assim, à comunidade o direito de se
fazer ouvir, em seus reclamos e em suas manifestações culturais
e artísticas de natureza local.
No entanto, uma polêmica se instalou com um grande debate nacional
quando reportagens em jornais de grande circulação nacional, revistas e até
mesmo as grandes emissoras de rádio do Brasil começaram a combater as
chamadas “rádios piratas” e até mesmo denominadas de “clandestinas”, como
afirma Peruzzo (1998). Para a autora, as vozes mais ferrenhas, contra as rádios
comunitárias, provêm de órgãos do Governo e dos donos das emissoras
convencionais, de forma isolada ou através de associações, como a ABERT
(Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão).
37 De acordo com Beraldo (1996, p. 32), o presidente da AMIRT (Associação
Mineira de Rádio e Televisão) Eurico Gode ressalta que as “rádios piratas causam
interferência no sinal das estações legalmente constituídas e perpetram uma
concorrência desleal com empresas idôneas, que recolhem impostos e cumprem
suas responsabilidades sociais”. É claro, salienta Peruzzo (1998), que um grande
número de emissoras irradiando em faixas de freqüência alheias vai causar
interferência.
Segundo Peruzzo (1998), as rádios convencionais têm receio da
pulverização da audiência e da consequente perda de anunciantes. Isso porque a
prática tem demonstrado que pequenas emissoras comunitárias tem conseguido
altos índices de audiência e de aceitação pelas comunidades locais. Entre os
fatores desta aceitação destacam-se: a programação mais voltada para a
comunidade propriamente dita; a inovação na linguagem e estilo de programas; e
os preços acessíveis para anúncios que atingem diretamente o público alvo local.
No entanto, dinheiro não é tudo que interessa e as rádios comunitárias acabam
tendo também força para dar voz aos políticos.
Na avaliação de Pires e Miceli (1996), a diferença entre rádio comunitária
e uma pirata está em seu objetivo, ou seja, a comunitária não visa lucro, e sim a
prestação de serviço. Já as piratas são emissoras que comercializam espaços em
sua programação sem a participação dos moradores, considerando, portanto, o
lado financeiro. De fato, muitas emissoras que se auto intitulam como
comunitárias se caracterizam como verdadeiras rádios comerciais.
Peruzzo (1998) cita que o combate às emissoras comunitárias chegou ao
ponto da grande mídia fazer campanha as acusando de serem culpadas pela
queda de um avião da TAM, em 31 de outubro de 1996, em São Paulo. A
explicação foi de que as transmissões de alguma rádio comunitária, dita pelos
jornais como clandestinas ou piratas, situada nas imediações do Aeroporto de
Congonhas, teria causado interferência no sistema de comunicação e navegação
da aeronave. E emissoras de rádio da grande mídia chegam a incluir em seus
intervalos comerciais spots com um minuto de duração avisando que “rádio pirata
é crime, denuncie”. A Rádio Bandeirantes de São Paulo, por exemplo, está há
anos com uma campanha publicitária no ar fazendo campanha contra as rádios
38 ditas “clandestinas”.
Peruzzo (1998) cita uma declaração de Lobo (1997) afirmando que é
estranho que pequenas emissoras, que funcionam com baixa potência (no
máximo 50 watts), venham a causa esse tipo de desarranjo nos aviões de
carreira. Ele afirma também que a somatória de toda a potência das mais de 500
emissoras existentes em São Paulo não chega à metade da potência de uma só
emissora convencional, que atinge frequentemente 100 mil watts. Peruzzo (1998)
defende que o movimento das rádios comunitárias tenha um caráter público e
como tal construa um significado político e cultural importante. Isso porque é um
forte indicativo de grandes mudanças que estão por acontecer nos meios de
comunicação de massa no Brasil que começa a perpassar também o sistema de
televisão, principalmente por causa da abertura dos canais comunitários
desencadeada pela Lei de TV a Cabo. A autora conclui que a experiência da
radiodifusão comunitária evidencia uma crescente demanda pela mídia local e por
programas locais nos grandes meios massivos. São canais que possibilitam a
expressão das diferenças e ao mesmo tempo das identidades culturais das
populações locais.
1.5. Rádio e Política: uma combinação que deu certo?
Vários autores já se debruçaram sobre o tema Rádio e Política para
analisar o fenômeno que existe entre a comunicação e a busca pelo poder. A
característica que diferencia o rádio dos outros meios de comunicação é o
aspecto de que as mensagens são transmitidas apenas oralmente, através do
som, e o receptor pode executar outras atividades, concomitantemente à sua
escuta. O rádio pode, portanto, estar presente em muitos lugares, possibilitando
várias ações simultâneas e conquistando espaços que a televisão e o jornal
impresso não podem preencher. Outra característica é a velocidade do veículo de
comunicação.
Os autores que discutem o tema destacam que este meio está sempre à
frente dos outros veículos, através de aspectos como seu dinamismo e sua
flexibilidade, que possibilitam intervenções, complementando notícias através de
novos dados e reportagens mais detalhados, durante a programação.
39 Considerando a importância do rádio na história política brasileira, é
relevante acompanhar o papel que o veículo vem representando no sistema
democrático, no fortalecimento do conceito de cidadania, assim como seu uso
meramente eleitoreiro. Na análise de Chaia (2001), a política deve se adequar às
regras da mídia e, com isso, transforma-se, de certa maneira, em prisioneira dos
meios de comunicação. E quando se discute sobre o papel da mídia, deve-se
compreender que o uso dos meios de comunicação pelas lideranças políticas
sempre esteve presente na história política contemporânea.
Nunes (2000) observa que o rádio foi usado como arma na Primeira
Guerra Mundial (de 1914 a 1918). O papel do rádio, desde a sua consolidação a
partir dos anos 30 e 40, afirma Hausen (2004), tem sido utilizado das mais
diversas formas. Contudo, de acordo com Nunes (2000), o rádio foi usado pela
primeira vez para fins políticos nos Estados Unidos. A presidência de Franklin
Delano Roosevelt, de 1933 a 1945, foi um “principado radiodifundido” (NUNES,
2000, p. 40). E foi graças ao rádio que o líder norte-americano projetou seu
carisma e afirmou sua ascendência diante da nação.
No entanto, segundo Nunes (2000), o rádio já vinha sendo utilizado para
transmitir mensagens políticas desde 1920, com o presidente Hardin, com
quatrocentos mil aparelhos de rádio em uso. Entretanto, quando Roosevelt se
tornou presidente dos Estados Unidos, em 1932, o número de lares providos de
aparelhos de rádio já havia dobrado. “Roosevelt reconhece nele, sem demora, um
poderoso instrumento para conquistar a opinião pública para sua causa, pela
possibilidade de estabelecer com ela uma comunicação direta [...]” (NUNES,
2000, p. 40).
Na década de 30, Nunes (2000) afirma que o rádio passa a constituir
também na França como um meio de comunicação política. Passini (2004)
ressalta que a iniciativa de usar o rádio com fins políticos também ocorreu com
Hitler e Mussolini que usavam o meio para controlar a opinião pública.
Segundo Rodrigues (2008), foi na Alemanha da primeira metade do
século XX que o rádio converteu-se no principal divulgador de ideias políticas e
valores ideológicos, o que para muitos autores teria destacado o caráter perigoso
40 da comunicação radiofônica, pois os discursos do Fürer transmitidos pelo rádio
tornaram possível dar forma à causa nazista. Durante o III Reich utilizaram o
veículo de comunicação tão intensamente, “a ponto de se afirmar que Hitler seria
inconcebível sem o rádio” (ORTRIWANO, 1985, p. 59-60).
Ortriwano (1985, p. 60) destaca que o meio de comunicação tinha tanto
poder de penetração entre as massas que acabou se unindo à política com
objetivos de doutrinação ideológica. “E o rádio conseguiu servir aos interesses
políticos com ‘maquiavélica’ eficiência”. Na visão da autora qualquer que seja o
regime político em vigor, a informação jamais se constitui em atividade totalmente
livre. A interferência política nos meios de comunicação é sempre muito
complexa.
De acordo com Rodrigues (2008), o rádio na América Latina chegou
juntamente com o populismo na década de 20. Haussen (2001) destaca que foi o
próprio Perón quem considerou o rádio como importante meio de governar ao
afirmar que:
Os políticos nunca haviam utilizado o rádio para a sua ação.
Utilizavam mais os comícios onde as pessoas os viam... A ação
da presença e a influência direta do condutor é importante, mas a
maior parte das massas já me havia visto e eu, então, lhes falei
pelo rádio, que era como se me seguissem vendo. De maneira
que eu falava a todos. Quando atuamos num único ato único, nos
basta falar a todo o país pelo rádio e não fica nenhum argentino
sem conhecer o que terminamos de dizer. Isto era impossível
antes, hoje o fazemos em um minuto (HAUSSEN, 2001, p. 70).
No Brasil, com a popularização do rádio nos anos 30, veio junto à
veiculação de campanhas políticas. Diante das novas possibilidades, o político
que utilizou o veículo para consolidar a imagem de estadista junto à população
nacional foi Getúlio Vargas, ampliou o número de rádios no país para quase
cinquenta.
Haussen (2004) salienta que o presidente da República, em 1º de maio de
1937, destacava o valor do veículo de comunicação em uma mensagem enviada
ao Congresso Nacional anunciando o aumento do número de emissoras no país.
Na mensagem, ele aconselhava os estados e municípios a instalarem “aparelhos
41 rádio-receptadores”, providos de alto-falantes, para facilitar o acesso aos
brasileiros.
O perfil do rádio mudou durante a ditadura militar, como analisa Nunes
(2000), com a ampliação das rádios FM. E por causa da censura daquele período,
as emissoras passaram a veicular programação musical. A informação acabou
dando lugar ao entretenimento. Nunes (2000) informa que as concessões na
época privilegiaram a legitimação do Governo, beneficiando grupos que tinham
boas relações com o regime.
Ao longo da ditadura, as concessões foram um importante
instrumento para consolidação dos governos militares. Por um
lado, podiam cassar o direito daquelas empresas de radiodifusão
que não se adequassem às normas emanadas da caserna
(FERRARETO, 2001, p. 179).
Segundo Ferrareto (2001) da ditadura até a Nova República, não houve
alteração significativa nesta prática. E exemplifica: Antonio Carlos Magalhães,
ocupando o Ministério das Comunicações, foi acusado de usar politicamente a
outorga de concessões no período presidencial de José Sarney para conseguir
apoio para chegar ao governo baiano. Nesse período, ACM distribuiu 56
emissoras de rádio e sete de televisão. Sendo assim, o político garantiu uma base
de sustentação que já contava com a TV Bahia, afiliada da Rede Globo e canal de
maior audiência no Estado.
No governo seguinte, aponta Ferrareto (2001), Pedro Collor, irmão do
presidente Fernando Collor de Melo, chegou a denunciar um esquema
envolvendo de 12 a 14 emissoras de rádio que beneficiariam o empresário Paulo
César Farias, o PC, pivô de uma série de irregularidades. A jornalista Elvira
Lobato, em uma reportagem na Folha de São Paulo, destacou um exemplo da
íntima relação entre política e radiodifusão que foi o resultado de uma pesquisa
realizada pelo jornal em 1995. Um em cada seis integrantes do Congresso
Nacional possuíam pelo menos uma concessão de rádio ou TV. De acordo com o
levantamento,
na
época,
83
deputados
federais,
13
senadores,
cinco
governadores e dois ministros estavam vinculados diretamente ou por parentes às
emissoras de rádio ou de televisão.
42 Reportagem semelhante publicada no jornal O Estado de São Paulo
apresentou dados de setembro de 1996. Conforme o levantamento realizado pelo
repórter Gustavo Paul, 104 deputados federais e 25 senadores eram sócios ou
proprietários de emissoras de rádio e TV. Além disso, 40% das emissoras de
rádio e 27% de televisão tinham políticos como participantes destas empresas.
A nova legislação para o setor, publicada no Diário Oficial, em 26
de dezembro de 1996, avança um pouco neste aspecto,
obrigando quem for exercer função pública a se licenciar de
cargos na diretoria das emissoras. A grande inovação, no entanto,
é o fim do critério político na distribuição dos canais de
radiodifusão. Até 1996, cabia ao ministro das Comunicações e ao
presidente da República a decisão sobre quem receberia a
concessão, o que sempre redundou em troca de favores entre
governantes e seus partidários. Desde o final de 96, o processo
de escolha do beneficiado pela concessão passa por licitação
pública (FERRARETO, 2001, p. 182).
Quanto às rádios AM, de acordo com Rodrigues (2008), só voltaram ao
cenário político nacional com a redemocratização do país a partir dos anos 80,
com a proposta de prestar serviços à comunidade. As concessões continuavam
ainda nas mãos das elites, tanto política quanto econômicas, que utilizavam as
concessões para o desenvolvimento dos seus projetos de poder. Portanto, afirma
Rodrigues (2008), a voz que deveria ser dada à população, permanece nas mãos
dos donos das emissoras, ou então dos profissionais que, a partir da visibilidade
que conseguiam com o rádio, levar adiante seus próprios projetos políticos.
No sistema comercial de exploração da radiodifusão os canais são
concessões do Estado a empresas privadas. “Uma das formas de pressão e de
controle é a própria organização do sistema de telecomunicações” (CAPARELLI,
1982, p. 6). Portanto, destaca Ortriwano (1985), é impossível a qualquer emissora
de radiodifusão desvincular-se da tutela estatal, já que sua existência depende,
além de consentimento prévio, de um “título precário”. Caparelli (1986) ressalta
ainda que o arsenal de controle do Estado vai da concessão de licença para
exploração a título precário à censura econômica:
Os governos em muitos países se transformaram em clientes
número um das emissoras comerciais, porque é através delas que
veiculam a propaganda política, buscando obter um consenso e
43 legitimidade, não só através da força, mas também da
manipulação da opinião (CAPARELLI, 1986, p. 78).
Nesse contexto, Ortriwano (1985) explica que o Estado pode estabelecer
diferentes níveis de censura aos veículos, procurando sua hegemonia
comportamental com relação à política adotada.
Para Passini (2004), as emissoras de audiência popular têm em comum o
tipo de linguagem empregada e o tipo de programação - em geral assistencialista
e com forte participação do ouvinte. Estas emissoras são, também, terreno fértil
para comunicadores que extrapolam os limites do comunicar e informar,
passando, através das ondas radiofônicas, a resolver os problemas da população.
Com isso é comum, segundo Passini (2004), o radialista adquirir este status,
tamanha é sua identificação com o grande público, que o enxerga como uma
ponte entre os necessitados e o poder público.
Costa (1992) ressalta que o papel que antes era exercido pelo Estado,
agora cabe ao conselheiro, amigo, defensor da justiça e dos pobres. O autor
atribui isso ao descrédito nas instituições governamentais, que ganhou força na
década de 80. No rádio, as palavras constroem diferentes apelos e dão mais
densidade para o discurso. Os apelos e a densidade do discurso justificam o fato
do rádio ser o meio de comunicação que melhor reflete a relação entre mídia e
política. A mensagem radiofônica é resultado de um conjunto de técnicas e
operações complexas que implicam o conhecimento da força das palavras e a
utilização de recursos técnicos.
Chaia (2001) salienta que um possível fator de perda da credibilidade do
rádio é a relação que este meio estabeleceu com a política nas últimas décadas.
Essa relação vem da participação de comunicadores em eleições e de políticos
que adquiriram emissoras, privilegiando seus interesses.
Nunes (2000) afirma que os radialistas preenchem os espaços que o
Estado e suas instituições não conseguem ocupar, principalmente em relação às
necessidades os ouvintes que são atendidas, em certa medida, por esses
radialistas que exercem grande força carismática sobre seu público, acumulando
o que o autor chama de “capital pessoal”.
44 Rodrigues (2008) exemplifica o tema analisando o fato do radialista que
passa a tomar para si a tarefa de denunciar o “buraco na rua” e esse “buraco” se
torna pretexto para que o radialista possa entrar em ação como defensor do
público que o investiu daquele poder. Portanto, esse comunicador encarna um
perfil heróico e passar a ser o político ideal para numerosos ouvintes, já que sabe
lidar com a emoção e, na maioria das vezes, alguém que desenvolve o discurso
da proximidade com os dramas da vida cotidiana, entrando todos os dias na casa,
no carro ou no trabalho do seu ouvinte – se transformando em um membro da
família.
O comunicador é um companheiro fiel que está presente no café da
manhã, no almoço ou no jantar da família. Segundo Rodrigues (2008, p. 5):
O radialista faz com que o indivíduo comum se sinta cidadão de
fato, já que medeia as relações deste com o poder público. Desta
maneira, o comunicador de rádio cria elos com a população. Se
em seu trabalho no rádio ele já se apresenta como porta-voz de
fato dos indivíduos, porque não fazê-lo de direito?
Enquanto Rodrigues (2008) chama o comunicador de “defensor do
público”, Nunes (2000) classifica como “delegado do ouvinte”. No caso da relação
entre política e comunicação radiofônica, trabalha-se com a hipótese de que o
grande desafio frequentemente ocorreria quando esse “delegado do ouvinte”
assumisse efetivamente um cargo político. Sendo assim, esse comunicador,
agora político, passaria a ter a imagem positiva de radialista, mas associada com
a imagem negativa do Estado do qual ele se tornou representante.
Mais do que nunca a proximidade com o público que o elegeu
seria essencial para que ele sentisse que o radialista, uma vez
político, continuasse sendo aquele ‘delegado’ que o povo respeita,
admira e confia... Poder-se-ia supor que aquele radialista político
que se transformasse em político e não atendesse às expectativas
populares perderia o mandato e a condição de ‘delegado do
ouvinte (NUNES, 2000, p. 44).
Nunes (2000) estuda o “fenômeno da delegação do poder" aos radialistas
que sensibilizam ouvintes com programas populares que atendem às suas
solicitações. A autora, em seu trabalho "Rádio e Política: do microfone ao
palanque - os radialistas políticos em Fortaleza (1982-1996)" procura demonstrar
45 a utilização política do rádio na "participação de radialistas na política, mais
precisamente à emergência de líderes políticos através do rádio AM com a
participação popular”.
Outro exemplo desta vinculação entre mídia e políticos, pode ser
encontrado na pesquisa de Silva (2000), que analisou quatro comunicadores
sociais de rádio que se elegeram para a Assembléia Legislativa de São Paulo
(1986-1990). Os deputados estaduais foram eleitos por sua participação em
programas de rádio: Afanázio Jazadji, Erci Ayala, Fernando Silveira e Oswaldo
Bettio. Segundo o autor:
[...] essas figuras públicas tornam-se a todo instante o alvo certo
para alguns partidos políticos e entidades que encontram neles
uma vantagem sobre os demais candidatos: são nomes
conhecidos porque o rádio favorece a formação do capital eleitoral
e, portanto, tem maior facilidade de serem trabalhados. “Por
'ancorarem' programas com determinada audiência, eles se
credenciam a participar das eleições sem muitas vezes terem
vínculos político-ideológico (SILVA, 2000, p. 11-12).
No decorrer da história política brasileira temos vários exemplos de como
o rádio foi utilizado como palanque eleitoral, ou durante os mandatos dos
governantes, desde Getúlio Vargas. Vários autores citam desde o caso de
Adhemar de Barros que quando era interventor do Estado de São Paulo, durante
o Estado Novo (1937-45), criou um programa (1938), com alcance estadual, e que
tinha o nome sugestivo de "Palestras ao Pé do Fogo". O presidente José Sarney
(1985-89) readaptou este título e implantou um programa denominado "Conversas
ao Pé do Rádio". Também os governadores Orestes Quércia e Antonio Fleury
Filho lançaram programas de rádio para o Estado de São Paulo.
Neste cenário, Perosa (1995) destaca “A Hora do Brasil”, criada pelo DIP
(Departamento de Imprensa e Propaganda), em 22 de julho de 1935, e tinha
como objetivo divulgar os programas governamentais e as palavras de Getúlio
Vargas. A transmissão do programa passou a ser obrigatória em 1937 e era
veiculado das 18h45 às 19h30. Em 06 de setembro de 1946 o presidente Eurico
Gaspar Dutra preocupado com a não aceitação do programa, altera o nome para
“Voz do Brasil”.
46 A resistência à obrigatoriedade da transmissão da “Voz do Brasil” sempre
foi grande, principalmente pelos proprietários das emissoras de rádio, que exigiam
a sua extinção. Mesmo durante o regime militar a ABERT (Associação Brasileira
das Emissoras de Rádio e Televisão) pressionava o governo para que não
fossem obrigados a transmitir este programa.
Chaia (2001) comenta que no caso brasileiro, a primeira característica
dos meios de comunicação refere-se ao fato de que estes continuamente
serviram como moeda de troca, isto é, utilizados politicamente, uma vez que a
concessão de estações de rádio e televisão é prerrogativa do Estado.
Particularmente nos meios de comunicação, observa-se a
tendência autoritária de monopolizar por parte do Estado,
representado pelo Poder Executivo Federal, através de
dispositivos contidos nas legislações - como no caso das
concessões de rádio e televisão que nascem com prerrogativas
circunscritas a esse poder (SEGURADO, 1996, p. 12).
Além disso, afirma Chaia (2001), a mídia brasileira sempre esteve nas
mãos de famílias: os Mesquita (Grupo Estado), os Frias (Grupo Folha), os Saad
(Rede Bandeirantes) e os Marinho (Rede Globo). Há também a presença das
Igrejas evangélicas que disputam e controlam os meios de comunicação, como
Edir Macedo - bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da rede Record
e de concessões de centenas de rádios e afiliadas de televisão espalhadas pelo
Brasil.
Entre os prós e contras dessa relação entre o radialista e o político,
Nunes (2000, p. 48) conclui que:
Quando o ouvinte se transforma em eleitor, e o radialista se
transforma de ‘delegado do ouvinte’ em ‘delegado do poder’, há
um distanciamento na relação entre ouvinte e radialista, agora
transformados em eleitor e político. A perda da intimidade, da
possibilidade de interlocução traz prejuízos graves à continuidade
da relação de troca e de cumplicidade que o rádio possibilitava
entre ouvinte e radialista.
1.6. A rádio atual e as novas mídias
O rádio nasceu, teve sua “Era de Ouro”, disseram que iria morrer, se
47 reinventou e continua sendo ainda o meio de comunicação com maior penetração
no mundo atual, pois a tecnologia veio fazendo com que se diminuíssem seus
componentes, sua penetração, é sem dúvida, maior do que a televisão, já que são
necessários poucos investimentos para se ter acesso a uma efetiva performance
dele, da mesma forma que o encolhimento dos aparelhos, permitiu que ele se
transformasse num meio bastante popular e de grande penetração.
Em pleno século XXI diversos autores (CASTELS, 2001; CUNHA, 2004,
2005; D’AQUINO, 2003; FERRARETO, 2010, KUHN, 2001; MEDITSCH, 2005;
MOREIRA, 2001; PERUZZO, 2003, 2006; REZENDE, 2002; TRIGO-DE-SOUZA,
2004; URIBE, 2006), estudam as perspectivas do veículo de comunicação que
continua procurando na tecnologia a possibilidade de fazer com que o homem
moderno tenha cada vez mais conforto, comodidade e acesso à informação de
maneira rápida e precisa.
Cunha (2004, p.1) afirma que: “os apaixonados pelo rádio, sejam
pesquisadores ou ouvintes, quanto à história defendem há muito tempo que esse
meio de comunicação nunca vai morrer.”
A autora ainda ressalta que diante deste universo em expansão das
telecomunicações o rádio persiste em manter seu lugar na difusão de informação,
ele, com certeza, não será descartado do lugar em que ocupa, foi,
apenas,adaptando-se a novos materiais, novas linguagens. Por isso mesmo,
segundo a autora ensina que quando se faz um panorama da história do rádio,
percebe-se que desde seu lugar primordial: a sala da casa, ele foi se apropriando
de outros lugares, diminuindo de tamanho, acompanhou o ouvinte nos meios de
transporte, principalmente no automóvel e na Internet; e do entretenimento ao
jornalismo inventa e se reinventa até os nossos dias.
Cunha (2005) destaca as mudanças e inovações tecnológicas que estão
levando o rádio a uma reacomodação e pode-se até dizer a uma redefinição de
todas as mídias. E na era da contemporaneidade, o rádio já chegou ao mundo
digital.
Conforme salienta Bianco (2003), a transformação do sinal do rádio de
48 analógico em bits (informação numérica) provoca talvez a mudança mais radical
experimentada pelo rádio desde a invenção do transistor e da freqüência
modulada. Tanto é que a qualidade do som AM melhor de forma fantástica
passando a ter qualidade de FM. O ganho maior, ressalta a autora, é que o FM
passa a ter som igual ao do CD. Isso quer dizer que favorece totalmente as
interferências na transmissão de sinais nas frequências AM e FM. A possibilidade
de transmissão simultânea de dados para os aparelhos receptores dos ouvintes é
outra vantagem para a distribuição de informação.
Bianco (2003) explica que organizadores pessoais, telefones móveis,
leitores eletrônicos e a internet tem as portas abertas com a digitalização que se
integra ao processo de convergência entre as telecomunicações, os meios de
comunicação em rede, interatividade e a integração entre os meios. De acordo
com a autora, o rádio digital é uma revolução técnica tão significativa que vai
alterar o modo de produção da programação, distribuição de sinais e recepção da
mensagem radiofônica. Por isso pesquisadores falam em “reinvenção” do rádio
mais uma vez para se adaptar à nova tecnologia.
Castells (2001) considera que o rádio está vivendo um renascimento e
experimentando um grande auge na internet. O novo rádio que vai se delineando
neste início do século XXI tende a não ser mais apenas um “meio de
comunicação que utiliza emissões de ondas eletromagnéticas para transmitir a
distância
mensagens
sonoras
destinadas
a
audiências
numerosas”
(FERRARETO, 2001, p. 23).
Bufarah Junior (2004) ressalta que nem todo áudio na rede pode e deve
ser considerado rádio. Verificando na Internet podemos encontrar alguns casos
possíveis: as emissoras de rádio de sinal aberto que utilizam a rede para
transmitirem suas programações para os usuários, as quais Trigo-de-Souza
(2004) denominou de rádios on-line.
Essa categoria on-line deve ser subdividida em dois grupos: os das
emissoras que usam seus sites como mais um canal de comunicação com seus
ouvintes, variando os níveis de interatividade, em que o usuário participa mais da
programação através de chat, e-mails, promoções; e as emissoras que produzem
49 e disponibilizam seus programas utilizando o suporte multimídia da Internet para
agregarem serviços especializados aos programas, inclusive possibilitando a
escolha de reportagens, entrevistas, debates, entre outras sonoras já veiculadas
anteriormente.
Podemos encontrar também na rede a emissora de rádio que está
presente no dial e utiliza o site apenas de forma institucional. Nesses casos,
Trigo-de-Souza (2004) classifica como off-line, já que não disponibiliza o áudio de
sua programação na Internet. E outra opção está em rádios que são feitas
exclusivamente para a Internet, não tendo seu final transmitido por ondas, as
chamadas, pela autora, de NetRadios.
Bufarah Junior (2004) destaca ainda os sites que disponibilizam arquivos
de áudio pela Internet possibilitando que os usuários possam criar listas de
arquivos para serem ouvidos em seus computadores. Nesse contexto, D’Aquino
(2003) avalia que algumas emissoras que estão na Internet deveriam produzir
conteúdo jornalístico direcionado para o internauta-ouvinte porque apenas uma
parcela das rádios que estão na rede oferece algum tipo de noticiário direcionado
a esse público. Isso porque um estudo do Ibope e Ratings, divulgado em fevereiro
de 2003, mostra que cerca de 33% dos internautas do Brasil ouvem rádio pela
Internet, percentual superior a países como França, Alemanha e Reino Unido.
Por outro lado, Kuhn (2001) acredita que o rádio na Internet autoriza o
resgate de algumas teorias do rádio, como o rádio interativo, o rádio alternativo e
o rádio educador. Para tanto, o autor indica algumas das implicações da
tecnologia do rádio na rede mundial de computadores como a remoção da
barreira da distância; a relação do custo/benefício para o investimento de uma
emissora transmitir pela net; a democratização da informação e do acesso à
cultura; horizontalização da relação emissora/ouvinte; convergência de mídias e o
impacto sobre as línguas com a possibilidade de formação de comunidades
virtuais para que, por exemplo, imigrantes afastados possam retomar contato com
as suas culturas.
Segundo Rezende (2002), ao acessar o rádio pela internet, o internauta a
ser chamado de internauta-ouvinte e a partir de então ele pode ouvir música, ver
50 imagens, ler textos e interagir com as mensagens que recebe. Nesse caso, a
autora defende que a rádio virtual começa a fazer parte da vida do jovem
brasileiro, nesse caso, interessado por músicas de sua geração, ele faz uma
seleção de rock, funk, axé, pagode, entre outros, e coloca em sua rádio com uma
série de links de vários estilos de músicas para serem acessados pelo internautaouvinte.
Para Rezende (2002), a radionet não pode ser a mesma rádio
convencional, mas um novo sistema de rádio que procura se estruturar com uma
linguagem plural e acessível a diferentes culturas através do rádio virtual. O
público da rádio virtual, analisa a autora, é bem menor se comparado ao das
emissoras convencionais, mas que também procura descontração ouvindo
música e tendo uma participação com a formação do cidadão do futuro porque
agora é o momento de pensarmos que o rádio não é mais um meio de
comunicação para o ouvinte que é passivo.
Ferrareto (2010) afirma que o ouvinte ganha importância ao constatarmos
a vigência da Internet e da telefonia celular que abrem possibilidades, por
exemplo, do emissor de conteúdo se transforme em um “repórter” enviando
mensagens de texto ou mesmo ligando para dar informações sobre o trânsito. O
rádio, concorda Cunha (2004), pode estar presente no telefone celular ou palm
tops e também através de tecnologias WI-FI e GPRS e possibilitar uma
programação em escala planetária. Saindo do computador e assumindo suportes
menores, voltando a uma das grandes vantagens do rádio, a minituarização
(CUNHA, 2005).
O item mobilidade, inaugurado pelo próprio rádio, está presente neste
momento da revolução digital. Para Cunha (2005), o tempo e o espaço deixam de
ser barreira, pois é possível ouvir uma emissora no momento em que mais
interessar. Contudo, muda a relação da audiência com o tempo e o rádio web
passa a estabelecer um tempo diferente. E Cunha (2005) constata que não é
mais possível pensar o rádio como antes.
Desta maneira, é possível que a rádio virtual cresça e se transforme em
mais uma alternativa de trabalho para o jornalista; afinal o homem atual é ponto
51 com (REZENDE, 2002). Por causa de tantas mudanças na vida dos profissionais
de rádio, tanto radialistas quanto jornalistas, é que Cunha (2005) considera que a
função do jornalista muda com o desenvolvimento tecnológico. Ao jornalista cabe
o aprofundamento do fato, a análise.
Registre-se que para Uribe (2006) o rádio é um dos meios com mais
tradição e prestígio social, com uma grande acessibilidade, flexibilidade,
penetração e proximidade à comunidade. Seu “matrimônio” com a internet
favorece a criação de alternativas que tenham como prioridade os processos em
desenvolvimento (URIBE, 2006).
Podemos entender o sucesso do casamento entre rádio e internet
como o resultado da somatória de uma variedade de fatores,
como o desenvolvimento tecnológico; a possibilidade de
ampliação das audiências com a agregação de públicos
segmentados em áreas geográficas diversas; o regionalismo,
característica do rádio em comparação com o globalismo da
internet; a democratização do acesso ao ‘fazer rádio’; a
interatividade como elo entre os dois meios; e a possibilidade de
captação sem interromper a execução de atividades paralelas,
inclusive o prosseguimento do processo navegacional, bem como
a possibilidade de programação da audição a partir da
conveniência do ouvinte (TRIGO-DE-SOUZA, 2004, p. 303-304).
Haussen (2004) conclui sem receio do chavão, que o rádio brasileiro tem
sido o “companheiro de todas as horas”, não só no âmbito individual, mas,
principalmente, no coletivo, e que deverá continuar desempenhando este papel
por um bom tempo, seja qual for o seu suporte técnico.
52 CAPÍTULO II
RÁDIO CIDADÃ: A EXPERIÊNCIA DA RÁDIO METROPOLITANA
O presente capítulo aborda as transformações ocorridas no rádio, visto que
este precisou se reinventar mais uma vez no final do século XX e início do XXI,
em virtude das grandes mudanças tecnológicas advindas das tecnologias de
informação e comunicação.
Mudanças ocorreram, sobretudo, com a chegada do Jornalismo Cívico, as
inovações do radiojornalismo e a trajetória do veículo de comunicação que tentou
e conseguiu chegar sempre mais próximo do cidadão. Afinal como o rádio
conseguiu superar tantas transformações nas últimas décadas e se manter firme
e forte com o ouvinte sempre ligado aos assuntos que realmente interessam para
o dia a dia da comunidade foi seu grande desafio, e que se pretende apresentar
na sequência.
A história da Rádio Metropolitana AM 1070, que comemorou 50 anos no ar
mantendo a sua proximidade com o ouvinte, demonstra que esta rádio tem
promovido um radiojornalismo de prestação de serviços à população. Nesse
sentido, busca-se responder se um dos seus principais programas de
radiojornalismo, o Radar Noticioso, com 49 anos de existência na emissora,
cumpre seu papel de informar ao mesmo tempo em que mantém características
do Jornalismo Público (JP).
O estudo mostra, ainda, a experiência de uma ação social denominada
Metropolitana na Comunidade que é realizada há três anos, às sextas-feiras,
levando aos bairros de Mogi das Cruzes atendimento gratuito à população mais
carente. Isto caracteriza realmente a marca do rádio mais perto do cidadão
cumprindo o seu papel na responsabilidade social? Acreditamos que sim, pois
esse resultado vem se consolidando no presente trabalho como uma forma de
demonstrar o quanto o rádio tem penetração e forma opinião entre os cidadãos.
53 2.1. A emergência da Rádio Cidadã
A interação entre o público e o veículo ou o sonho de Brecht (Quadros,
2005) é, sem dúvida nenhuma, o sonho de todos os comunicadores, pois a
interatividade que se busca nas comunicações é justamente a resposta que o
cidadão tem para dar ou complementar a informação. A autora afirma que estar
junto ao público é uma das premissas do jornalismo público.
No final dos anos 80 por causa da queda da leitura de diários impressos e
o descrédito dos meios de comunicação, como a TV e o rádio, começa a ganhar
adeptos a corrente do Jornalismo Público. O Jornalismo Público parece ter sido
uma reação de professores, editores e jornalistas que saíram a campo abrindo
mão da postura-padrão, para se lançarem em um novo relacionamento com o
público.
Para Barros (2009, p.1): “o jornalismo público não é nem um gênero nem
uma categoria jornalística.” O autor afirma, ainda, que este tipo de jornalismo,
mais detidamente nos Estados Unidos, pretendia retomar as questões éticas
estampadas nos princípios democráticos da liberdade de expressão, por isso
emerge como um movimento no processo de construção e formulação das
notícias. Para Costa Filho (2006), os jornalistas públicos partem da premissa de
que é necessário reanimar o debate público, é necessário interpelar o cidadão
para que ele participe.
Deste modo, propõe uma nova dinâmica da vida em sociedade,
tendo a imprensa um fundamental papel não só como mediadora,
mas como espaço de mediação. De simples observadores
isentos, os jornalistas passam a ser atores (COSTA FILHO, 2006,
p. 127).
Vários autores (ABREU, 2003; TRAQUINA, 2003; QUADROS, 2005;
COSTA FILHO, 2006; ARCE, 2007; BARCELOS, 2007) apontam como um dos
papéis do JP a construção da cidadania. Porém, se alega que o Jornalismo é na
essência um instrumento público, cívico, cidadão. E fica o questionamento de
Costa Filho (2006): será que os meios e os jornalistas conseguem manter este
compromisso, manter sua autonomia quando se dão conta que a imprensa hoje
54 se constitui como empresa ou está ligada a grandes grupos econômicos, pregado
às vontades e interesses?
Na análise de um dos estudiosos do JP, o professor Nelson Traquina, de
Portugal, esse é um dos mais importantes movimentos do jornalismo nos últimos
30 anos. Essa nova proposta é conhecida por diferentes nomes: “jornalismo
comunitário” (CRAIG, 1995, apud COSTA FILHO, 2006), “jornalismo de serviço
público” (SHEPARD, 1995, apud COSTA FILHO, 2006); “jornalismo cívico”
(LAMBETH e CRAIG, 1995, apud COSTA FILHO, 2006). Mas, para Traquina, a
centralidade do termo “cidadão” em sua proposta o leva a preferir a designação
“jornalismo cívico” (TRAQUINA, 2001, p. 171). Entretanto, seus principais teóricos
nos Estados Unidos utilizam Jornalismo Público (ROSEN, 1994; MERRIT, 1995,
apud COSTA FILHO, 2006).
Arce (2007, p. 616), citando Merritt (1995), afirma que:
o civic journalism assume a idéia de participante justo; concebe o
público como ator social na vida democrática; incentiva a
participação dos cidadãos nas discussões da sociedade. Dessa
forma, esse tipo de jornalismo se mostra mais comprometido com
a revitalização da vida pública e volta seu foco para a prestação
de serviços para a comunidade e para a divulgação de
informações que colaborem para a formação crítica dos sujeitos.
Barcellos (2007) aponta que no caos brasileiro, o termo Jornalismo
Cidadão é adequado, porque a palavra “cidadania” remete a iniciativas que tratam
da inclusão social, da busca pelos direitos dos cidadãos e está consagrado na
linguagem da própria imprensa.
Uma definição que poderia ser considerada sublime em relação ao
jornalismo cívico, citada por Traquina (2003) equipara uma harmonia de
opiniões entre o jornalista norte-americano Davis Merritt, profissional com mais
de 30 anos de atuação, e Jay Rosen, professor da Universidade de Nova York.
De acordo com o autor, o Jornalismo Cívico é a afirmação é a reconstrução do
jornalismo por meio de um papel mais ativo na construção
de um espaço
público mais vibrante e na resolução dos problemas da comunidade.
A partir desse conceito, Traquina (2003) estabeleceu uma gama de
55 adequações que possibilitam definir as peculiaridades do Jornalismo Cívico, tais
quais podemos dispor da seguinte maneira:
- Encorajar o envolvimento do cidadão na vida pública;
- Definir o cidadão como personagem participante na resolução dos
problemas da sociedade;
- Construção de uma pauta com foco nos problemas regionais coletados
diretamente do cidadão que age como fonte dessas informações;
- Discussão
nos órgãos
de Comunicação
Social os
problemas
identificados nas entrevistas com os cidadãos e identificar valores fundamentais
e posições de conflito;
- Desenvolver a “Agenda dos cidadãos” por meio de suas demandas;
- Direcionar recursos para as relações com as comunidades de maneira a
buscar a interação entre o jornalismo e o cidadão a fim de ir além da busca
pela solução de problemas, mas rumo à identificação desses conflitos;
- Retomar as obrigações do jornalismo para com a vida pública efetiva;
- Ir para além da missão de dar as notícias para uma missão ainda mais
ampla que é ajudar a melhorar a vida pública;
- Abandonar os princípios clássicos de “observação desprendida”
adotando um papel de “participante justo”, isto é, enfraquecendo os princípios
do afastamento rumo à participação equilibrada como agente interventor.
Assim sendo, e com base nessas definições, é possível estabelecer o
Jornalismo Cívico como um Novo Jornalismo, que enxerga na notícia, o poder
de opinar observando valores justos, éticos e morais para o bem da
comunidade na qual está inserido. Por meio de uma natureza cívica, aguça a
comunidade à participação nas questões públicas-políticas pertencente a esse
meio, com o objetivo de identificar, discutir, democratizar e solucionar problemas
como agente pensador, interventor e fiscalizador.
56 Abreu (2003) caracteriza o jornalismo público praticado no Brasil em duas
frentes: “jornalismo de utilidade social”,
em que identifica a ação jornalística como tendente a servir
os interesses concretos dos cidadãos e a responder às
preocupações dos leitores ou da audiência referentes a
emprego, habitação, educação, segurança, qualidade de
vida, etc. [...] A imprensa assumiria aí o papel de mediadora
e de interventora na sociedade (ABREU, 2003 p. 5-6).
Enquanto que a segunda é denominada de “jornalismo de utilidade
pública” a qual, segundo ela, se manifesta através de várias alternativas, entre
elas a de “prestador de serviços ao público”.
A imprensa escrita abriu espaço para as queixas e
reivindicações de seus leitores através das seções de
serviços. Hoje praticamente todos os jornais de grande
circulação [...] mantêm colunas ou seções abertas ao público
e procuram dar soluções a algumas das reclamações
recebidas (Idem, p. 6).
Além disso, Abreu destaca (idem, p.7)
É importante assinalar que esses espaços atendem
prioritariamente a reclamações do cidadão-consumidor de
nível médio, tanto de instrução quanto de renda. (...) os
leitores foram levados a buscar a ajuda dos jornais, por
estarem cansados de esperar soluções dos serviços de
atendimento ao consumidor das empresas sem conseguir
sequer ser ouvidos como iniciativas da imprensa referentes
à prestação de serviços, os espaços que atendem a
reclamações do cidadão-consumidor, que se concentram em
consumo e serviços; os canais abertos para reivindicações
ao poder público do atendimento às necessidades do
cidadão e o acesso à justiça; além do papel de fiscalizadora
do poder público, “voltada para a denúncia de corrupção,
para desvendar negócios ou ações ilícitas”
Abreu (2003) se refere à prática do Jornalismo Público no Brasil já na
década de 50, quando afirma que alguns jornais já faziam alguns atendimentos ao
público. Certos jornais populares mantinham canais abertos procurando dar
soluções a algumas reclamações recebidas. Mas, foi na década de 90 que houve
um grande salto deste tipo de iniciativa, o Brasil se abria francamente à
57 democracia, a liberdade de imprensa tinha sido devolvida aos meios de
comunicação de massa e houve um aumento considerável do número de jornais
que abriram espaço para reivindicações dos leitores, aumentando o número de
frequentadores dessas colunas.
Já Silva (2002, p. 136) constata uma “‘boa vontade’, por parte da mídia,
com relação a projetos sociais, mas, ao mesmo tempo, em vez de encontrar
políticas ancoradas no Jornalismo Público, é mais fácil encontrar retrancas que se
referem a Terceiro Setor e voluntariado”. De maneira geral, os veículos de
comunicação brasileiros não se declaram praticantes do Jornalismo Público. A
exceção mais clara é a da TV Cultura, que segundo Silva (2002), é o único meio
brasileiro que declaradamente adotou, em meados de 2000, o JP como política
editorial.
Segundo Arce (2007), no formato radiofônico, não temos conhecimento de
uma iniciativa autodeclarada de jornalismo público. Entretanto, na análise de
Quadros (2005), o rádio ainda pode ser considerado um grande meio de
comunicação para as práticas do Jornalismo Público.
A trajetória do rádio, um meio de comunicação mais acessível
para a população de todo o mundo, comprova que muitas de suas
características de vinculação social podem ser resgatadas durante
as transformações que exigem a nova era. Por exemplo, a
agilidade na cobertura e a sua fácil portabilidade são pontos
positivos para um cidadão que não têm mais paciência de esperar
com tanta informação disponível. O rádio também sai na frente
quando a rotina diária desse cidadão é atribulada. Afinal, pode-se
ouvi-lo em qualquer lugar, seja on-off ou online, sem deixar de
fazer alguma outra atividade (QUADROS, 2005, p. 50).
Ao considerar uma das premissas do Jornalismo Público, que é a de estar
em contato permanente com o cidadão, a comunicação de mão dupla proposta
por Brecht (2012) garante ao rádio renovação do meio. Barbeiro (2004, p.139),
afirma que “o radiojornalismo precisa interagir com o ouvinte-cidadão, precisa,
nas palavras do autor, “ser reinventado como tantas e tantas outras atividades
humanas são modificadas todos os dias”. Nesse aspecto, segundo Quadros
(2005), o radiojornalismo pode abrir mais espaço para o cidadão e colocar em
58 prática o JP. “É uma forma de reinventar-se, é um modo de prolongar seus dias”
(p. 50).
De acordo com Quadros (2005), no JP, inserido na nova era digital,
também existe uma interação entre mediador e ouvinte. Nessa interação está
estabelecido que jornalistas e cidadãos construam uma agenda de forma
conjunta, repercutindo as vozes de uma sociedade em benefício de uma causa
comum. No entanto, essa relação não pode ser apenas aparente, “pois se o
cidadão descobre manipulação na troca de informações ele definitivamente
deixará de ouvir o programa” (QUADROS, 2005, p. 51). Isso quer dizer que o
público das cidades reais e virtuais aprende a ser mais exigente a cada dia. Maria
Cristina Castilho Costa (2002), assim como Barbeiro (2004), acredita que o rádio
web passa agora a atender interesses individuais.
Barros (2009; p. 61) afirma que:
Em resumo, o que podemos constatar é que o Jornalismo Público pode e
deve ser uma ferramenta da Comunicação de Interesse Público e existe
para cumprir a função de envolver o cidadão nos assuntos que
determinam a sua vida, individual ou coletivamente. O Jornalismo
Público é um dos bons caminhos a ser trilhado pelo jornalismo e o
cidadão precisa saber disso.
2.2. A experiência da Rádio Metropolitana
O ano era 1961, no dia 9 de julho. O visionário Jayr Mariano Sanzone
chegou a Mogi das Cruzes para enfim, construir uma emissora de rádio, “seria a
primeira de uma série”, como ele disse na inauguração da Rádio Metropolitana
AM 1070. O então jovem Sanzone, proprietário de uma empresa de alto-falantes
no bairro da penha, na capital paulista, foi além. Com a frase “a rádio que trago
para Mogi faz parte de um consórcio de emissoras”, Jayr Mariano Sanzone deu o
pontapé inicial para testemunhar e contar os últimos cinquenta anos da história da
cidade. Como havia previsto o seu fundador esta foi apenas a primeira de uma
rede de 17 emissoras de rádio e TV.
Em nove de julho de 1961, dia da Revolução Constitucionalista, a
cidade de Mogi das Cruzes parou para assistir a um
acontecimento que ficou marcado na memória de seus
moradores. Exatamente às 8h00 da manhã uma multidão de
59 pessoas parou o trânsito na Praça Firmina Santana, esquina com
a Voluntário Fernando Pinheiro Franco, no centro. No prédio de
número 21, nos andares dois e três, era inaugurada a Rádio
Metropolitana, na frequência 1.350 KHz (hoje está em 1.070 KHz).
A bênção dos estúdios foi dada por D. Carlos Carmelo de
Vasconcelos Morta, então cardeal de São Paulo. O primeiro
discurso foi o de padre Roque Pinto de Barros (MARANGONI,
2005, p. 69).
Com uma programação jornalística, com informações dos assuntos de
Mogi das Cruzes, da região do Alto Tietê, do Estado de São Paulo, do Brasil e do
mundo – além de entretenimento, música, participação dos ouvintes e muitas
atrações, a Rádio Metropolitana tem algumas marcas da emissora. Jornalismo
com prestação de serviços à comunidade com a participação do ouvinte ao vivo.
O lado institucional da Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes é
um foco importante da emissora. Uma das maiores ações sociais é realizada a
cada sexta-feira em um bairro diferente de Mogi das Cruzes. Com o Metropolitana
na Comunidade, os ouvintes têm a oportunidade de encontrar serviços
importantes praticamente na porta de casa e de graça! São médicos, advogados,
psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, conselheiras tutelares e muitos
outros serviços, como corte de cabelo e atendimentos especializados para a
população. Além disso, o evento é um canal livre para o ouvinte que pode
reclamar de algum problema que atinge o seu bairro: as ondas da Metropolitana
são um elo direto entre o ouvinte e as autoridades da cidade.
É desta forma que a Rádio Metropolitana conquistou seu espaço e
pretende conquistar muito mais com seus profissionais e colaboradores. Há
cinquenta anos, conta a história de forma imparcial e aprofundada para os
ouvintes tirarem as conclusões dos principais fatos que construíram e continuarão
construindo Mogi das Cruzes e região.
No jornalismo da rádio, o Radar Noticioso, é o carro chefe da emissora e
está no ar desde 1962: os ouvintes se mantêm informados com entrevistas,
comentários, análises e debates. Durante os anos que se seguiram, muitas
pessoas passaram pela Rádio Metropolitana. Além da notícia em si, veiculada aos
ouvintes do AM 1070, há também os bastidores da notícia. Além do que
60 passaram pelo programa muitas pessoas importantes que foram testemunhas
oculares de fatos marcantes da história da cidade e do país.
Hoje a Rede Metropolitana possui 17 emissoras, em várias cidades do
estado de São Paulo, como Taubaté, Guaratinguetá, Campinas, São José dos
Campos, São José do Rio Preto, Bauru, Garça, Sorocaba, Sumaré, Ribeirão
Preto, entre outras. E uma delas fica em Minas Gerais, em Uberlândia. A direção
dessa grande rede é feita pelos filhos do fundador Jayr Mariano Sanzone, trata-se
de Silvio e Jayr Edson.
Com o passar dos anos, a Rádio Metropolitana mudou, passou por grandes
transformações e se tornou mais moderna, dinâmica, interativa e ainda mais
presente na vida da comunidade. Toda tecnologia aliada a uma equipe de
profissionais altamente treinados, garantem que a programação da Rádio
Metropolitana chegue a qualquer lugar com a melhor definição de qualidade
digital e, são estes fatores que firmam a Metropolitana a posição de 1º lugar na
região do Alto Tietê (IBOPE, 2001).
A Metropolitana mantém-se presente no cotidiano da população, em
qualquer hora do dia ou da noite há ouvintes sintonizados no AM 1070, atentos
para conferir as notícias da região, em busca também, de entretenimento e
diversão. A Rádio Metropolitana é a companheira diária de várias famílias que
encontram nela uma forma de se informarem sobre os acontecimentos de sua
cidade, do estado e de todo o Brasil. Desde a manhã, acompanhando as
principais notícias, os cidadãos sintonizam-na ainda na mesa do café, comércios,
no local de trabalho, veículos particulares e coletivos auxiliando na escolha dos
melhores trajetos para o trabalho, previsão do tempo e levando a todos, com
criatividade, o encanto e a magia da rádio. E há alguns anos ocupa também o seu
lugar garantido no site – é só clicar em Mogi das Cruzes – para ouvir ao vivo toda
a programação da emissora.
Este trabalho tem como objetivo principal analisar o efeito da Rádio
Metropolitana AM 1070 na sociedade dos municípios da região do Alto Tietê –
Mogi das Cruzes, Suzano, Poá, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Biritiba
Mirim, Guararema, Salesópolis, Arujá e Santa Isabel no que se refere à
61 visibilidade midiática proporcionada às comunidades do Programa Radar
Noticioso da Rádio Metropolitana AM 1070 quando da co-participação no quadro
jornalístico “Momento do Ouvinte”.
Dentro dessa perspectiva, a intenção é de observar, refletir e delinear
sobre o comportamento do jornalista/âncora do programa que atua no dia-a-dia
junto à comunidade, tão como analisar o perfil dos ouvintes de cada bairro, cuja
reclamação ao vivo dá a oportunidade de falar “de igual para igual” com o poder
público cobrando as principais reivindicações de suas localidades. Verificar de
que maneira esses profissionais são pautados pela comunidade na produção de
um radiojornalismo voltado à cidadania e a mobilização social em relação à
solução de problemas.
Na medida em que o Brasil avança na identificação de seus problemas
coletivos e se preocupa com o resgate da cidadania, nem sempre o Estado dá
conta de atender aos anseios da população, neste sentido, a mídia, mais
especificamente o rádio com seu poder de penetração e persuasão, pode cumprir
esse papel nesta árdua tarefa.
Partimos do pressuposto de que a Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi
das Cruzes amplifica a voz do cidadão na produção local da notícia fortalecendo
as comunidades justamente quando o quadro “Momento do Ouvinte” concede às
pessoas comuns os mesmos direitos das personalidades habituées da mídia.
Líder de audiência na região do Alto Tietê, a Rádio Metropolitana nasceu há 49
anos e testemunhou grandes transformações sociais, políticas e econômicas não
só da sociedade regional, mas também do Brasil e do mundo.
Por seu equilíbrio editorial e pluralidade na abordagem dos principais
acontecimentos, há muitos anos lidera o segmento jornalístico na região, segundo
as pesquisas. A credibilidade alcançada junto ao público a torna referência
obrigatória na vida do ouvinte que começa o dia cedo e precisa de informação.
Através de seu sinal, a Rádio Metropolitana cobre mais de 11 municípios, com
mais de 2,5 milhões habitantes.
A cobertura geográfica da Rádio Metropolitana AM 1070 cobre as
seguintes cidades da Região Metropolitana de São Paulo, que compõe o Alto
62 Tietê: Mogi das Cruzes (365.993 habitantes), Guarulhos (1.251.179 hab.),
Itaquaquecetuba (340.596 hab.), Suzano (272.452 hab.), Poá (108.017 hab.),
Ferraz de Vasconcelos (171.329 hab.), Arujá (72.694 hab.), Santa Isabel (47.352
hab.), Biritiba Mirim (28.926 hab.), Guararema (24.374 hab.) e Salesópolis (16.235
hab.). A audiência da emissora refere-se ainda à região do ABC Paulista, Baixada
Santista, Vale do Paraíba e grande parte da cidade de São Paulo, isso em função
do posicionamento geográfico da antena e à potência do transmissor, que opera
com 10.000 Watts.
Mas o grande diferencial da Rádio Metropolitana é ser a única emissora de
notícias voltada exclusivamente para o noticiário regional. Portanto, é a rádio que
representa a região há mais de quatro décadas através de um programa que
discute os assuntos dos municípios da região. A identificação do ouvinte com os
assuntos do seu município e/ou do seu bairro acabam criando um vínculo da
emissora com o público-alvo, que deixa de ouvir outras rádios de São Paulo com
notícias eminentemente nacionais e internacionais, para saber sobre os assuntos
mais importantes para o seu dia-a-dia, como Política, Cidadania, Polícia, Esporte,
entre outros.
No site da emissora e no material de divulgação da rádio são destaques:
- Jornalismo – durante o Radar Noticioso, a Metropolitana traz ao ouvinte,
informação em tempo real. Um plantão de informações com giros de repórteres
em toda a região durante toda a programação e no Cidade Agora, diariamente.
- Público diferenciado – com uma programação variada, atinge na parte
da manhã, classes A, B e C. Um público formador de opinião, que acompanha
nosso noticiário regional.
- Musicalidade – a Rádio Metropolitana toca uma diversidade musical,
com participação dos ouvintes, atingindo as classes B, C e D.
- Abrangência do sinal – a Metropolitana é a única Rádio do Alto Tietê,
que atinge um público com mais de 2,5 milhão de pessoas, em 11 municípios,
tendo 68 mil ouvintes rotativos por minuto.
63 - Marca Metropolitana – há 50 anos, a Rede Metropolitana é sinônimo de
jornalismo, música, interação, voz do ouvinte e muita prestação de serviços, por
isso a rádio é indispensável à cidadania.
2.3. O programa Radar Noticioso
Contar a história do rádio também faz parte deste trabalho, já que
precisamos conhecer a trajetória do importante veículo de comunicação que
nasceu como vedete, sentiu-se ameaçado com o crescimento da televisão, mas
que soube se superar a cada década. No século XXI, o rádio continua sendo o
grande e rápido meio que informa o cidadão a qualquer hora com a agilidade de
estar no momento da notícia. A pesquisa chega até a internet, que está sendo
utilizada pelos radialistas como peça-chave para disseminar ainda mais as ondas
do dial que agora se transformaram também na divulgação através da web.
O Programa Radar Noticioso está no ar desde 1962, um ano depois da
inauguração da emissora, e se transformou em décadas no carro-chefe da
programação jornalística da emissora, liderando a audiência na região todas as
manhãs, conforme aponta a pesquisa feita pelo Ibope em 2001. Vários âncoras,
apresentadores e locutores passaram pelos microfones do programa, sempre
fazendo do radiojornalismo um dos destaques da rádio.
O papel do âncora sempre foi o de chamar no próprio microfone a
responsabilidade da Prefeitura ou outros responsáveis para o problema do
ouvinte para resolver o questionamento. Isso ocorre até mesmo com problemas
relacionados à saúde, tanto os ligados às administrações municipais quanto dos
hospitais públicos ou até mesmo particulares da região. Aliás, a saúde é um dos
assuntos mais comentados no programa.
O ouvinte, por sua vez, acaba interagindo com a Rádio Metropolitana,
criando vínculos e até mesmo tendo como cúmplice os âncoras da programação
jornalística que procuram defender a população. As informações servem muitas
vezes de base para os comentários feitos nos programas, trazendo maior
agilidade a programação que conta com a audiência rotativa do rádio.
Portanto, abrir o microfone para a comunidade, prestar serviços para
64 resolver os problemas dos cidadãos, e cobrar as autoridades constituídas, tem
sido imprescindível para o jornalismo cidadão-ouvidor, que tem como mérito
articular o conceito e a técnica na elaboração da notícia e dirigi-la a um público
ainda em formação. A rádio tem, assim, como meta informar os ouvintes com um
radiojornalismo sério e que discuta os principais assuntos de Mogi, região, Brasil
e mundo. O principal foco de uma rádio regional é na produção local da notícia e
sua relação com a sociedade local.
Na
análise
de
Marangoni
(2005),
o
diretor-presidente
da
Rádio
Metropolitana Silvio Sanzone faz questão de afirmar que o jornalismo na rádio
mantém o alto índice de audiência e credibilidade, graças à sua independência
editoral.
A equipe de profissionais que atua no dia-a-dia recebe a ordem
expressa da direção: ‘vamos fazer rádio voltado para o povo.
Nosso compromisso é com a periferia e seus problemas. Vamos
cobrar soluções. Este também é o papel do rádio’ (MARANGONI,
2005, p. 75).
A contribuição da Rádio Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes visa
definir e expor o jornalismo comunitário por meio do Programa Radar Noticioso
que vai ao ar de segunda a sábado, das 5h30 às 10 horas. A meta da equipe de
jornalismo é estabelecer um parâmetro entre a pauta desta prestação de serviços
e a construção da notícia.
A programação do Radar Noticioso começa às 5h30 com o Radar Rural,
com notícias de interesse direto para o agricultor e os ouvintes que precisam de
informações sobre o cinturão verde de São Paulo, que fica na região de Mogi das
Cruzes e Alto Tietê. O programa é apresentado pelo locutor Dalton Capela. Às 6
horas, a âncora Marilei Schiavi entra no ar com os destaques dos principais
jornais do dia, em nível nacional e regional, e com matérias de interesse da
comunidade. Às 7 horas tem o comentário da âncora sobre o assunto do dia,
sempre utilizando sonoras dos acontecimentos, dando a sua opinião.
A emissora tem compromisso histórico com jornalismo comunitário,
principalmente no “Momento do Ouvinte”. O quadro, que vai ao ar de segunda a
sábado, das 7h30 às 8 horas dentro do Radar Noticioso, passou a priorizar ainda
65 mais o cidadão buscando “intermediar” com o poder público e os setores privados
a busca de soluções para as mazelas locais. Tudo é apresentado com uma
linguagem mais interativa, isto é, em que a âncora do programa fala “com o
ouvinte e não para o ouvinte”. O referido quadro tem a função de aproximar a
comunidade da esfera do poder público, “incentivando o exercício da cidadania”.
Os ouvintes entram no ar aleatoriamente porque são eles que escolhem qual dia,
qual hora e qual reclamação irão fazer no ar ao vivo. Não existe pré-pauta e o
microfone é aberto para todos os ouvintes, indiscriminadamente. A rádio funciona
como uma verdadeira Ouvidora da população há 50 anos.
Quanto à intermediação, o papel da emissora é abrir espaço para a
comunidade, atuar como prestadora de serviços a partir do contato com as
autoridades para cobrar uma resposta para os problemas dos ouvintes. Diante da
reivindicação, a Rádio Metropolitana intermedia do representante público e/ou
privado a solução do problema. A partir daí entra em ação a equipe de produção
do programa, contatando as autoridades para definir o que vai ser feito em
relação à reclamação. No dia seguinte, geralmente, a resposta das autoridades já
é lida durante o “Momento do Ouvinte” e a equipe acompanha o cumprimento da
reivindicação. Geralmente entram no ar por dia de quatro a cinco ouvintes com
suas reivindicações em meio a respostas das autoridades constituídas que são
lidas neste ínterim. Diante deste cenário abrem-se os microfones da Rádio
Metropolitana para todos os ouvintes da comunidade, verifica-se se, de fato,
existe uma comunicação despretensiosa com a comunidade ou se, ao contrário,
ocorre à manipulação das pessoas que residem em determinado bairro
selecionando com o uso da proposta jornalística centrada na comunidade uma
reclamação
direcionada
autoridade/poder
para
constituído.
prejudicar
Outra
indagação
ou
defender
pertinente
que
determinada
buscamos
responder é de que maneira o jornalismo da Rádio Metropolitana, mais
incisivamente se o quadro “Momento do Ouvinte” é utilizado como instrumento de
transformação social em prol da cidadania.
No entanto, a pergunta feita aos ouvintes é se o Radar cumpre realmente o
papel de bem informar, mas também superar as expectativas de formar cidadãos
obtendo várias visões dos acontecimentos, representando a população em
66 assuntos que o cidadão não consegue resolver nem mesmo através dos seus
representantes políticos ou governamentais.
A equipe de Jornalismo da Rádio Metropolitana é composta por dez
jornalistas formados com MTB e DRT que produzem notícias, reportagens e
entradas ao vivo dos repórteres dos assuntos importantes para os ouvintes de
Mogi das Cruzes, região, Brasil e mundo nos dois programas jornalísticos da
emissora: o Radar Noticioso e no Cidade Agora, este último vai ao ar de segunda
a sexta-feira, das 17h00 às 18h30. Durante o dia, de hora em hora, tem boletins
de notícias com giro de informações que incluem os principais fatos do dia com os
repórteres ao vivo durante os demais programas da rádio. A emissora conta ainda
com uma equipe de seis produtores dos programas jornalísticos.
Com o lançamento da Ouvidoria Geral de Mogi das Cruzes, a Prefeitura de
Mogi das Cruzes abriu mais um canal de comunicação com a população e
diretamente com a Rádio Metropolitana, já que a produção da emissora não
precisa mais direcionar cada reivindicação para um setor diferente da
administração municipal da cidade, mas diretamente ao Ouvidor Geral Romildo
Campelo, que passou a ser um parceiro da emissora na busca das soluções para
os problemas dos ouvintes, conforme abordaremos no Capítulo III. Nesse sentido,
o Radar Noticioso da Rádio Metropolitana acaba fazendo um Jornalismo Público
regionalizado que é comumente denominado de Jornalismo Comunitário.
2.4. Da Rádio à Ouvidoria Geral de Mogi das Cruzes
A Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes elaborou o Plano Diretor da
cidade em 2006 de forma participativa. Foram feitas diversas oficinas em toda a
cidade para ouvir a população e registrar suas expectativas. Ocorreram também
reuniões temáticas, com segmentos da sociedade para ampliar a participação e a
profundidade das análises.
Nesse processo, em diversos momentos surgiu a necessidade de criação
de novas estruturas administrativas, como a Secretaria Municipal de Meio
Ambiente e Agricultura, setores que até então eram apenas diretorias dentre da
estrutura administrativa da Prefeitura. Surgiu também nesse mesmo movimento a
demanda para a criação da Ouvidoria Municipal.
67 Vários setores da sociedade civil, como movimentos populares, segurança
e da saúde incluíram a Ouvidoria na pauta do Plano Diretor. Os argumentos
favoráveis à Ouvidoria eram a necessidade da criação de um canal direto de
comunicação entre a Prefeitura e a sociedade, canal inexistente na época. O
resultado foi a inclusão no Plano Diretor, que tornou-se a Lei Complementar
número 46 de 17 de novembro de 2006, que no seu penúltimo artigo apresenta a
seguinte redação:
Art. 319. O Poder Executivo criará a ouvidoria municipal,
garantindo um canal de comunicação entre este e os cidadãos de
Mogi das Cruzes, para intermediar o atendimento de solicitações,
encaminhamentos e respostas de reclamações e pedidos de
orientações dos munícipes a respeito de todos os serviços
institucionais de responsabilidade do Executivo Municipal, no
prazo de 18 (dezoito) meses a contar da publicação desta Lei
Complementar (PLANO DIRETOR MUNICIPAL, 2006).
Durante a eleição municipal de 2008 novamente reaparece na sociedade
mogiana o clamor pela criação da Ouvidoria Municipal. O então candidato Marco
Aurélio Bertaiolli, colocou no seu Plano de Governo o compromisso da criação da
Ouvidoria. No capítulo do Plano de Governo referente à Administração Municipal
a participação popular é destaca, conforme o texto abaixo:
A gestão democrática do Município de Mogi das Cruzes tem como
objetivo incorporar a participação da população e de associações
representativas dos vários segmentos da comunidade na
formulação, execução, acompanhamento e implementação de
planos, programas e projetos (BERTAIOLLI, 2008).
O Plano de Governo compromete-se com a criação da Ouvidoria Municipal.
O candidato foi eleito prefeito no pleito de 2008. No segundo semestre de 2009 e
principalmente no início do ano de 2010 começa um movimento na cidade para a
criação da Ouvidoria. Diversos artigos de jornal foram feitos com essa cobrança.
No programa Radar Noticioso há um debate semanal chamado “Meninos da
Marilei” vários debates acalorados ocorreram especificamente sobre esse tema,
cobrando o compromisso do governo com a criação da Ouvidoria.
Finalmente, em 5 de julho de 2010 a lei número 6.421 de iniciativa do
Prefeito Marco Bertaiolli, que cria a Ouvidoria Geral do Município é aprovada
68 (MOGI DAS CRUZES, 2010). O Ouvidor Geral do Município é um cargo nomeado
pelo Prefeito, com prerrogativas de Secretário Municipal.
O processo de construção da Ouvidoria Geral de Mogi das Cruzes, iniciouse com a aquisição de um sistema informatizado, que funciona através da internet
e integra todas as Secretarias na Ouvidoria Geral.
Deve-se ressaltar que a grande inspiração para a organização da Ouvidoria
Geral veio da Rádio Metropolitana, especificamente do programa “Radar
Noticioso” apresentado pela autora desta pesquisa. Com sua experiência no
quadro “Momento do Ouvinte”, ainda na fase de testes da Ouvidoria, passou a
receber diariamente as demandas do programa e gerenciá-las pela Ouvidoria. As
demandas da rádio tramitaram pelo sistema e passaram a ser administradas pela
Ouvidoria, que no final repassa a resposta para a rádio.
Outro momento fundamental na parceria entre a rádio e a Ouvidoria foi a
participação no programa Metropolitana na Comunidade. Programa que acontece
todas às sexta-feira em diferentes bairros da cidade. Oportunidade dupla, para
levar a Ouvidoria aos bairros da cidade, e ao mesmo tempo sentir in loco os
problemas e as percepções das pessoas sobre a cidade, a prefeitura e as
relações sociais.
A participação da Ouvidoria nos programas da Rádio Metropolitana foi
fundamental na estruturação técnica, conceitual e humana da Ouvidoria.
A continuidade da participação da Ouvidoria na Rádio Metropolitana parece
criar uma nova modalidade de Ouvidoria. Ao mesmo tempo em que divulga,
educa e assiste a população, faz um trabalho plural e mais abrangente que o
simples atendimento a um problema pontual. A Ouvidoria ampliada pelas ondas
do rádio leva à população informação e serviços.
O rádio, por sua vez, imprimiu na Ouvidoria um aspecto de amplitude, de
prestação de serviços que vai além do registro de reclamações e denúncias. O
jornalismo aliado à prestação de serviços, sua ligação com o poder público
municipal, aproxima a todos, encurta as distâncias. Cria-se, assim, com essa
interação uma nova figura: o ouvinte/cidadão.
69 2.5. Metropolitana na Comunidade
O projeto Metropolitana na Comunidade, a ação de responsabilidade social
promovida pela Rádio Metropolitana AM 1070 é realizada pela emissora há três
anos. Segundo a Revista Femme (2010), baseada nas informações da diretoria
da emissora - só em 2010 a ação alcançou 13.380 atendimentos a pessoas
carentes de vários bairros de Mogi das Cruzes. Através da mobilização de
parceiros estratégicos, o Metropolitana na Comunidade reúne serviços em
diversas áreas - médica, odontológica, psicológica, jurídica, entre outras –, além
de manter aberto um canal na mídia para pedidos e reivindicações da
comunidade, estimulando a cidadania e aproximando a população das instituições
públicas e sociais e da iniciativa privada.
Entre os serviços oferecidos pelos parceiros da Metropolitana na
Comunidade à população de Mogi das Cruzes estão a coleta de material para
exame de papanicolaou, dosagem de glicose, medição da pressão arterial,
tipagem sanguínea, exame de urina e orientações em diversas áreas como
posturais com atendimento fisioterápico; higiene bucal com distribuição de kitescovação; psicológica; jurídica; direito do consumidor; direito da criança e do
adolescente; Programa Bolsa-Família e benefícios do Banco do Povo.
Os participantes contam ainda com cortes de cabelo e sorteios de diversos
brindes a cada edição, realizada sempre às sextas-feiras em um bairro carente de
Mogi. Nos últimos doze meses de 2010 foram realizadas 41 edições em bairros
como Botujuru, Vila Natal, Jardim Planalto, Vila Estação e Conjunto Santo Ângelo,
entre outros, por onde passaram 5.400 pessoas que receberam, ao todo, 13.380
atendimentos.
A Metropolitana na Comunidade é o grande trabalho da rádio como
prestadora de serviços aos moradores que precisam de atendimento especial nos
bairros da cidade. Segundo a direção da emissora, esse é o grande papel de uma
emissora que comemorou 50 anos no ar e cumpre o seu papel na
responsabilidade social.
70 CAPÍTULO III
O RADAR NOTICIOSO: OUVIDORIA HÁ 50 ANOS
Neste capítulo serão apresentados, além dos resultados da investigação,
os
procedimentos
metodológicos
utilizados
na
realização
da
pesquisa,
identificando o tipo de pesquisa, a metodologia adotada e as técnicas de coleta
utilizadas no estudo.
O presente estudo caracteriza-se como uma investigação qualitativa, diante
da qual a realidade é fluente e contraditória, e os processos de investigação, por
sua vez, dependem também do pesquisador, seja sua concepção, seus valores e
seus objetivos (CHIZZOTTI, 2006). Por qualitativo, entendemos:
[...] uma partilha densa com pessoas, fatos, e locais que
constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os
significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a
uma atenção sensível. Após este tirocínio, o autor interpreta e
traduz em um texto, zelosamente escrito, com perspicácia e
competência científicas, os significados patentes ou ocultos do
seu objeto de pesquisa (CHIZZOTTI, 2006, p. 29).
Para a obtenção dos dados empíricos, aplicou-se como instrumento a
entrevista estruturada. Segundo Marconi e Lakatos (1994), a entrevista é um
encontro entre duas pessoas, para que mediante uma conversação, uma delas
obtenha informações sobre determinado assunto, em nosso caso buscou-se
verificar a importância da Rádio enquanto prestadora de serviço à comunidade.
Para Gil (1999, p. 117) a entrevista é uma técnica “em que o investigador
se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com objetivo de
obtenção dos dados que interessam a investigação”. Segundo o autor, muitos
autores consideram a entrevista como a técnica por excelência, sobretudo, na
investigação social.
71 3.1. Os sujeitos da pesquisa
Para alcançar o objetivo proposto, foram selecionados, por meio de banco
de dados que registra a frequência de participação dos ouvintes mais assíduos,
cinco entrevistados, isto é, os que por meio do telefone, mais ligam para o
Programa Radar Noticioso. O banco de dados acima referido é composto pelo
nome, endereço, telefone, profissão, escolaridade e a reclamação do ouvinte.
Este processo é realizado junto à equipe de programação da Rádio Metropolitana
durante o Programa Radar Noticioso.
Em seguida, elaboraram-se as entrevistas (ANEXOS I e II), de acordo com
o problema desta pesquisa, os objetivos e o referencial teórico apresentado nos
capítulos anteriores. O roteiro da entrevista apresenta, na primeira parte, dados
pessoais relativos ao nome do entrevistado, cidade em que reside, idade,
escolaridade, e profissão. Numa segunda parte, enfoca-se, entre outras questões
gerais, a rádio que mais sintoniza, o programa que mais ouve, a relação entre a
rádio e a comunidade.
Ao entrar em contato com os entrevistados, foi-lhes esclarecido o objetivo
da pesquisa, ressaltando a garantia no sigilo das informações colhidas, bem como
a preservação de suas identidades. Portanto, quando mencionados os sujeitos
serão identificados apenas com o seu primeiro nome.
As entrevistas foram realizadas no estúdio da Rádio Metropolitana AM
1070 por um interlocutor escolhido para conversar por telefone e gravar as
entrevistas com os ouvintes. Tradicionalmente, conforme aponta Gil (1999,
p.121), as entrevistas têm sido realizadas face a face. No entanto, “nas últimas
décadas vem sendo desenvolvida outro modalidade: a entrevista por telefone”.
Dentre as principais vantagens para o uso desta encontram-se:
a) custos muito baixos;
b) facilidade na seleção da amostra;
c) rapidez;
d) maior aceitação dos moradores das grandes cidades, que
temem abrir suas portas para estranhos;
e) possibilidade de agendar o momento mais apropriado para a
realização da entrevista;
72 f) facilidade de supervisão do trabalho dos entrevistadores (GIL,
1999, p. 122).
Em nosso estudo, optamos pela realização das entrevistas por meio do
telefone, sendo transcritas em seguida na íntegra obedecendo ao processo de
“seleção” dos dados, conforme Marconi e Lakatos (2003, p.166). Vale ressaltar,
ainda, que as entrevistas por telefone apresentam algumas limitações, entre as
quais:
Interrupção da entrevista pelo entrevistado; menor quantidade de
informações; impossibilidade de descrever as características do
entrevistado ou as circunstâncias em que se realizou a entrevista;
parcela significativa da população que não dispõe de telefone ou
não tem seu nome na lista (GIL, 1999, p. 122).
Das limitações acima apresentadas, nos deparamos, sobretudo, com duas
delas, a menor quantidade de informações e a impossibilidade de descrição das
características dos entrevistados.
Ressalta-se que, além dos cinco entrevistados selecionados, junta-se um
sexto sujeito. Trata-se de um antigo âncora do Programa Radar Noticioso, que
nos ajudará a entender as mudanças ocorridas no âmbito do programa. A sua
escolha considerou dentre outros fatores: seu tempo à frente do programa, e por
ser o único âncora do programa ainda vivo.
Foi um total de seis entrevistados, com idade média de 30 a 70 anos. Três
homens e três mulheres. Com escolaridade que varia da 4ª série primária ao
ensino superior (completo e incompleto). Grande parte dos entrevistados é
residentes na cidade de Mogi das Cruzes, cinco dos seis sujeitos. Um
entrevistado reside em Itaquaquecetuba. A tabela 1 a seguir caracteriza melhor os
referidos sujeitos:
73 Quadro 1 – Caracterização dos sujeitos da pesquisa
NOME
IDADE
Monica
ESCOLARIDADE
34
2º grau completo
PROFISSÃO
Dona de casa e
aposentada
Henrique
40
2º grau
Aposentado
José
49
4ª série completa
Pensionista
Marinete
49
Superior incompleto
Aposentado
David
66
2º grau completo
Locutor comercial
Terezinha
69
Superior completo
Professora
aposentada
Fonte: a autora (2012)
Outro dado a ser destacado é que a maioria dos entrevistados ouve a
Rádio Metropolitana AM por mais de seis anos. Monica ouve desde os 12 anos,
quase todos os dias, segundo ela, “é muito difícil o dia que não ouço”. Henrique
acompanha a rádio há mais ou menos 15 anos. José ouve praticamente todos os
dias, há mais de 30 anos. Marinete é a que menos tempo ouve em comparação
com os demais, faz apenas 6 anos, no entanto, também ouve a rádio todos os
dias. David trabalhou na rádio por mais de 40 anos. Terezinha acredita que faz
mais de 10 anos que ouve a rádio, e só não ouve a rádio quando não está em
Mogi das Cruzes.
3.2. Elaboração dos dados
Após coleta dos dados, realizada por meio dos procedimentos indicados
anteriormente, eles foram elaborados e classificados de forma sistemática,
conforme os passos apontados por Marconi e Lakatos (2003, p. 167): “Antes da
análise e interpretação, os dados devem seguir os seguintes passos: seleção,
codificação, tabulação”.
A seleção implica num exame minucioso dos dados coletados. Uma
seleção cuidadosa pode apontar tanto o excesso como a falta de informação
(MARCONI; LAKATOS, 2003). Nesse sentido, quando obtido o material coletado
74 por meio das entrevistas, submetemos a uma verificação que procurou detectar
possíveis falhas ou erros, a fim de evitar informações confusas, distorcidas e
incompletas.
Na fase da codificação, categorizamos os dados coletados a partir das
suas relações, procurando, assim, relacionar a frequência da citação de alguns
temas, palavras ou ideias em um texto, por meio da análise de conteúdo:
A análise de conteúdo construiu um conjunto de procedimentos e
técnicas de extrair o sentido de um texto por meio das unidades
elementares que compõem produtos documentários: palavraschave, léxicos, termos específicos, categorias, temas e
semantemas, procurando identificar a frequência ou constância
dessas unidades para fazer inferências e extrair os significados no
texto a partir de indicadores objetivos [...] (CHIZZOTTI, p. 115).
Na tabulação os dados são dispostos em tabelas e quadros, a fim de que
possibilitem maior facilidade na verificação das inter-relações entre eles. Nesta
fase, buscamos sintetizar os dados coletados nas entrevistas por meio de
quadros que caracterizam os sujeitos da pesquisa (Quadro 1) e as categorias
temáticas (Quadro 2).
A partir da análise de conteúdo foi possível identificar seis categorias
temáticas, conforme segue:
Quadro 1 – Principais categorias temáticas
Categoria
Descrição
A rádio mais ouvida
Essas categorias buscam responder a
questão se o Programa Radar Noticioso
realmente cumpre o papel de bem
Importância da Rádio Metropolitana
informar. Verificando se existe uma
comunicação despretensiosa ou se o que
A rádio como prestadora de serviço
ocorre é manipulação. E mais, se o
O programa mais ouvido da Rádio jornalismo da Rádio Metropolitana é
utilizado
como
instrumento
de
Metropolitana
transformação social.
Identificação com a radialista
Fonte: a autora (2012)
75 3.3. Análise e Interpretação dos dados
Segundo Gil (1999, p.168), esta fase de análise e interpretação, realiza-se
após a coleta de dados, e apesar de conceitualmente distintos, “aparecem
sempre estreitamente relacionados”:
A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de
forma tal que possibilitem o fornecimento de respostas ao
problema proposta na investigação. Já a interpretação tem como
objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que é
feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente
obtidos.
3.3.1. A rádio mais ouvida
Conforme apresentamos no Capítulo I, o rádio foi o primeiro meio de
comunicação a falar individualmente com as pessoas (CALEBRE, 2004). Sendo,
portanto, uma de suas principais características a proximidade com o ouvinte.
Ouvinte como o termo decreta é para ouvir. Ouvinte é aquele que ouve. Mas o
ouvinte também fala.
Em muitas rádios, como na Metropolitana, a relação ocorre da seguinte
forma: o ouvinte liga para a rádio e um profissional atende a solicitação chamada
normalmente de “reclamação do ouvinte”. A anotação é passada para ao (a)
âncora para fazer a veiculação e pedir providências.
Na Rádio Metropolitana, o ouvinte pode telefonar e pedir para anotar sua
reclamação, participar ao vivo no ar, enviar e-mail, carta e até mesmo fax. Nesse
sentido, de acordo com Deus (2002), os ouvintes estabelecem uma relação de
dependência com os programas de rádio, especialmente em emissoras como a
Metropolitana, que se volta para os problemas da comunidade.
O rádio acaba tendo, assim, a função da reciprocidade em relação ao
ouvinte. E vai além porque significa compreender o ouvinte que tem um problema
na sua casa, na sua rua ou na sua comunidade. Essa característica de
proximidade com o ouvinte foi apresentada na fala dos entrevistados da pesquisa,
na medida em que mencionam sintonizar a Rádio Metropolitana por estar de
76 algum modo vinculado a sua realidade local, tal como se expressa nas seguintes
falas:
[...] é uma maneira de nós poder ter acesso direto a nossa cidade de Mogi das
Cruzes, que é mais a cidade que nós atua cobrando, para que possam os órgãos
públicos, possam levar as melhorias, até nossa comunidade (HENRIQUE).
[...] nós temos que valorizar a Rádio da nossa cidade e a Metropolitana é a Rádio
da minha cidade, a cidade onde eu nasci então é pra ela que eu tenho que ligar
(MONICA).
Tal como apontado no Capítulo II, uma das marcas da Rádio Metropolitana
é, sobretudo, o jornalismo com prestação de serviço à comunidade. Isso acaba
por aproximar ainda mais o ouvinte com os problemas de sua cidade e região,
que buscam na referida rádio, e não nas outras, lugar para denunciar ou mesmo
fazer pedidos.
Outros entrevistados demonstram certa relação de afeto com a Rádio
Metropolitana. É o caso da ouvinte Terezinha, para quem “a Rádio que nos dá
essa oportunidade de abrirmos o coração”. É o caso também de José que bem
sintetiza essa relação na sua fala:
Eu me apeguei mais nessa Rádio, fico sempre sintonizado neles, só neles, só
neles, eu gosto mais deles, agora isso é uma questão de gostar também né?
(JOSÉ)
Já a ouvinte Marinete até ouve outras rádios, no entanto, acaba optando
pela Rádio Metropolitana com muito mais frequência:
Olha, eu entro na Metropolitana e entro em outras Rádios também de vez em
quando, mas a Metropolitana é muito mais frequência (MARINETE).
A fala dos sujeitos entrevistados apontam de alguma maneira para a Rádio
Metropolitana AM 1070 de Mogi das Cruzes como a que eles procuram para se
manifestarem. Entende-se, portanto, segundo Haussen (1997), que o rádio
contribui com a organização dos relatos da identidade e do sentido de cidadania
possibilitando que as populações mais distantes inclusive entrem em contato com
o mundo.
77 O ouvinte/cidadão quer opinar, denunciar o que aconteceu e ressaltar
providências que deveriam ter sido atendidas por órgãos públicos, autarquias,
empresas privadas, lojas, entre outras reivindicações. O ouvinte reclama e o rádio
descobriu que abrir os microfones para estes ouvintes é um grande negócio.
De acordo com Deus (2002), essa relação rádio/ouvinte pode ser vista por
dois lados: da perspectiva do ouvinte que diante da impotência do poder público
procura o rádio onde busca auxílio, quem sabe uma mediação diante deste poder
público. E também da perspectiva da rádio que transforma a angústia, o problema
individual em acontecimento, notícia, espetáculo e retorno econômico. Esta
mensagem é fruto dos diferentes papéis que o rádio cumpre na sua função de ser
companheiro, noticiador e mensageiro. O testemunho dos ouvintes solicitando
para a rádio providências é a compreensão destes diferentes papéis.
3.3.2. A importância da Rádio Metropolitana
No Capítulo II destacamos a história da Rádio Metropolitana AM 1070.
Segundo Marangoni (2005, p.74), entre os momentos mais marcantes da rádio
está sua ligação com a comunidade através da regionalização da programação e
da prestação de serviços.
Segundo Marangoni (2005, p.74), “nas lembranças de Sanzone estão
momentos marcantes da Metropolitana e há até hoje um grande vínculo da cidade
com a emissora. Foi abrindo espaço para as manifestações da comunidade que o
conceito da rádio cresceu junto à população”.
Essa proximidade que a Rádio Metropolitana oferece aos seus ouvintes
aparece revelada na importância que a referida rádio tem na vida dos sujeitos
entrevistados nesta pesquisa, conforme segue:
Meu querido, muito importante, a Metropolitana pra mim que sou um cidadão,
como liderança de bairro a Metropolitana pra gente aqui no Alto Tietê é tudo na
vida da gente através dos programas, né, que abre espaço pra gente cobrar,
acompanhar o trabalho que a Marilei Schiavi faz pra todos nós mogianos, sabe? E
todo Alto Tietê (HENRIQUE)
78 Pra mim é muito importante, pois, a Rádio passa informação sobre a cidade,
sobre o que está acontecendo, eu fico sempre atualizada com tudo o que
acontece na minha cidade e nos municípios ao redor (MONICA).
Ela divulga tudo sobre a cidade, ela ajuda a população no sentido que nós temos
um canal aberto no Radar Noticioso para solicitar as coisas, exigir até melhorias
na comunidade e alegra também a população com a sua programação
(TEREZINHA).
A Rádio Metropolitana Mogi das Cruzes AM 1070, não só na minha vida, como em
todo Alto Tietê, ai de nós se não fosse a Metropolitana (JOSÉ).
Nossa, ela é importante em todos os âmbitos, na saúde, no transporte, em estar
falando algo que ninguém tem coragem de falar, então acho que ela é importante
em todos os âmbitos em minha vida (MARINETE).
Nossa, ela é importante em todos os âmbitos, na saúde, no transporte, em estar
falando algo que ninguém tem coragem de falar, então acho que ela é importante
em todos os âmbitos em minha vida (MARINETE).
Para se ter uma ideia da efetiva atuação da Metropolitana, Marangoni
(2005, p. 74-75), menciona pesquisa realizada no final dos anos 60, a pedido de
candidatos a prefeito que encomendaram uma pesquisa que comprova a audiência
da rádio, “a Metropolitana tinha 79% de audiência no horário da manhã, enquanto a
Marabá, principal concorrente, tinha 21%”.
De acordo com o autor (MARANGONI, 2005), em outra pesquisa, em 1968,
os números foram impressionantes e o diretor-presidente Sanzone, acredita que
tenha sido o maior prêmio que a Metrô (apelido carinhoso da emissora tenha
recebido naquela época). A então pesquisa apontou que a Metropolitana tinha a
segunda maior audiência da Grande São Paulo, só perdendo para a Rádio
Nacional, atual Globo.
A regionalização das notícias sempre aproximou a Rádio Metropolitana dos
mogianos e da região do Alto Tietê. Desde coberturas memoráveis feitas pela
emissora,
conforme
aponta
Marangoni
(2005),
como
a
liberação
dos
investimentos para o início das obras da estrada Mogi-Bertioga, ou ainda, a
cobertura da visita do presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, em 1965,
que ganhou elogios por parte dos ouvintes que acompanharam ao vivo todos os
detalhes daquela visita.
79 Marangoni (2005) destaca que para Sanzone as coberturas das eleições e
apurações durante décadas de trabalho transparente e com credibilidade, sempre
acompanhada pelos ouvintes, também marcam o trabalho desenvolvido pela
rádio.
Para Silvio Sanzone, seu maior prazer, enquanto diretor da
Metropolitana, era saber que estava em julgamento o papel que a
emissora representou e representa para a cidade. Alega ter a
certeza de que o reconhecimento público é evidente e isto é
percebido a todo instante. A manifestação do ouvinte, para Silvio,
representa tudo (MARANGONI, 2005, p. 76).
3.3.3. A Rádio como prestadora de serviços
A trajetória do rádio mostra que o veículo de comunicação cumpriu e
cumpre o seu papel de informar, formar opinião, além de entreter, veicular
música, show e muito mais, conforma apresentado no Capítulo I.
Nunes (2000) salienta que é a partir dos anos 80, com a redemocratização
do país, que o rádio AM voltaria ao cenário a política com toda a força, verificando
a emergência a partir do crescimento dos radialistas populares que embora
tivessem obtido muito sucesso no rádio, surgiam, agora, como uma proposta
diferente: “prestar serviços à comunidade” (NUNES, 2000, p. 63). Essa seria a
tônica do rádio AM nos anos 80: a prestação de serviços.
Mais o que motiva o ouvinte a procurar a rádio para solicitar, denunciar,
reivindicar direitos? E outro questionamento: o rádio disputa espaços com o poder
público? Afinal, como o ouvinte aparece no discurso radiofônico?
Muitos dos ouvintes entrevistados acabam procurando a rádio a fim de
buscar respostas para questões com aspectos gerais, que atingem o interesse de
toda a comunidade, como apresenta as falas que seguem:
O mais importante, o Jardim Margarida, nós não tinha rede de água, era um
sofrimento, e quando eu entrei na Associação em 2002 eu comecei a fazer um
trabalho, a primeira coisa que eu fiz foi chamar a Rádio Metropolitana e começou
aquela batalha travada para levar água para o bairro da divisa, a Marilei Schiavi,
no ar, começou a rodar a fita, ai mexeu até com o gabinete do governo do estado
e foi aonde nós conseguimos em 2002 em parceria com a prefeitura com apoio da
80 Marilei Schiavi cobrando dos órgãos competentes, conseguimos trazer o
governador no Jardim Margarida e assinou o convênio em 2002 e hoje, meu
querido, todos nós temos rede de água no bairro da divisa. Então eu agradeço
muito a Marilei Schiavi que abriu espaço pra nós, pra nós fala, pra nós cobra, tem
outras coisas importantes que eu consegui através da Rádio (HENRIQUE).
[...] Assim que começou circular o Expresso Leste aqui em Mogi das Cruzes,
embora num horário reduzido, os moradores do nosso bairro tinha dificuldades de
embarcar as 5 da manhã e ai através da Rádio Metropolitana nós fizemos uma
reivindicação e a Secretaria de Transportes nos atendeu mudando o horário para
que os moradores embarcassem no Expresso Leste (JOSÉ)
Outros entrevistados mencionam questões de cunho mais pessoal, mas
que de algum modo acabam por revelar problemas sociais maiores, conforme
presente nas seguintes falas:
Me lembro, foi duma, eu precisei ligar, pois aqui na escola onde minha filha estuda
não tem calçada e as crianças vão tudo pelo meio da rua e isso é um perigo e era
tudo cheio de mato e a Rádio denunciou, eles vieram, limpar, não fizeram
calçada, mas limparam pelo menos já ajudou um pouco as crianças (MONICA).
Sim, esse dias mesmo, eu reclamei, porque queria levar minha filha pra São Paulo
com o SAMU, porque ela estava passando mal e chegou a ser internada em São
Paulo no hospital do Servidor Público, lá ficando nove dias e eu estou até...a
Marilei está em contato com o SAMU pra saber porque que eles me falaram que
pra São Paulo não podiam levar um paciente, só se fosse pro SUS e como a
minha filha já havia estado no SUS em não havia resolvido o problema, precisava
urgentemente pra salvar a vida dela ir para São Paulo, então eu reclamei disso
daí (TEREZINHA).
Olha, foi essas vezes do telefone, viu? Foi muito assim... E também nas vezes
que eu tava precisando asfalto na minha rua e que a gente foi ferrenho, sabe,
quase todo dia eu ligava, ai as autoridades foram tomando conta que, depois
algumas pessoas também ligavam, falavam sobre a escola, que a escola estava
em mal estado, sabe, muitas outras coisas (MARINETE).
De acordo com Deus (2002), as respostas podem ser procuradas na
análise do discurso do rádio por ser um canal competente de encaminhamento
das angústias do ouvinte. Enquanto o ouvinte/cidadão se conforta buscando
auxílio da rádio, o veículo de comunicação nem sempre é capaz de representá-lo
ou dar sentido à cidadania em muitos casos. Nesse sentido, Canclini (1996)
destaca:
81 desiludidos com as burocracias estatais, partidárias e sindicais, o
público recorre à rádio e à televisão para conseguir o que as
instituições cidadãs não proporcionam serviços, justiça,
reparações ou simples atenção. Não é possível afirmar que os
meios de comunicação de massa, com ligação direta via
telefone... sejam mais eficazes que os órgãos públicos, mas
fascinam porque escutam (CANCLINI, 1996, p. 26).
Na análise de Deus (2002), mesmo atendendo os ouvintes, a rádio não
está em condições de ter mais eficiência que os órgãos públicos. No entanto, ao
dar atenção ao ouvinte, o meio de comunicação amplia os espaços do cidadão.
Isso porque ao ser veiculado o interesse privado, se torna coletivo e fica ampliado
para toda a cidade e região em que a emissora tem audiência.
3.3.4. O Programa mais ouvido da Rádio Metropolitana
Quando perguntados acerca do programa que mais escutam na Rádio
Metropolitana, uma vez que esta acabou sendo mencionada como a rádio mais
ouvida pelos entrevistados, além de mencionarem outros programas veiculados
pela referida rádio, o Programa Radar Noticioso acabou aparecendo na fala de
todos os pesquisados, conforme se constata a seguir:
O Radar Noticioso, Manhã Show e esporadicamente como eu saio à tarde,
quando estou em casa também ouço outros programas a tarde, mais na parte da
manhã eu estou ligadíssima na Metropolitana (TEREZINHA).
Eu gosto demais do jornal Radar Noticioso, eu gosto demais do jornal Cidade
Agora, eu to sempre ligadinho lá no programa da Leona, Baiano do jegue, enfim,
tem o pessoal do esporte, Ayl Marques, Ivan Carvalho (JOSÉ).
O Radar Noticioso, eu escuto também o Marlon de sábado, a Leona também eu
escuto (MARINETE).
Dois
dos
entrevistados
relacionam
o
Programa
Radar
Noticioso
diretamente à figura de sua âncora. Fato este já apontado no Capítulo II, quando
se destacou a proximidade do rádio com o ouvinte, assim como expresso nas
respostas dos ouvintes acerca da identificação destes com a apresentadora do
programa em questão.
O mais importante que eu acompanho é o da Marilei Schiavi, que não perco um
dia (HENRIQUE).
82 Eu escuto a Marilei de manhã e depois escuto o Donizete e dia de sábado eu
gosto de ouvir a Leona (MONICA).
O Radar Noticioso cumpre o seu papel no sentido de ser um programa
informativo. Por “um programa informativo” Meditsch (2001, p. 30) define aquele
que tem “maior profundidade em relação à programação tradicional de notícias”
tanto é que “aprofunda e contrapõe ideias e opiniões com facilidade e orienta as
massas urbanas como o cão de um cego”. Para o autor, o rádio informativo é
uma:
Instituição social com características próprias que a distinguem no
campo da mídia e no próprio campo do rádio. Este é
contemporaneamente mais plural e diferenciado em alguns
aspectos, embora mantenha outros em comum com o rádio da
primeira metade do século, onde se localiza a sua origem histórica
e também a de sua identidade enquanto instituição (MEDITSCH,
2001, p. 30-31).
Não se trata apenas do ouvinte que busca assistência da rádio ou que
deseja ouvir música. Para Deus (2002), trata-se do ouvinte que participa da
programação da rádio não para buscar assistência ou por fascinação com o que
está sendo veiculado. Mas é aquele que expressa uma necessidade de ser
escutado e de exercer o direito de participar, esperando assim uma resposta ou
uma solução. No que se refere às soluções buscadas por meio da participação
dos entrevistados no Programa Radar Noticioso, é possível verificar que este tem
ajudado a “dar voz” à comunidade:
O Radar Noticioso, filho, ajuda muito, muito, muito mesmo, quando a Marilei
Schiavi ela abre o espaço pra gente falar, nós que mora aqui na periferia, tem
uma voz, a voz, então a Metropolitana hoje é a voz do povo na periferia
(HENRIQUE).
Outros mencionam a ajuda pessoal que o Programa acaba por resolver no
âmbito individual de diferentes problemas, como apontado por Marinete no âmbito
das telecomunicações:
O Radar Noticioso ajuda muito, pois eu mesmo já fiz denúncias, já precisei de
ajuda e eles me ajudaram muito (MONICA).
Com certeza, comigo eu nunca tive nenhum problema, que nem, por exemplo,
agora nesse momento eu não poderia estar falando com o senhor se não fosse
83 hoje de manhã eu estar falando que o meu telefone estava mudo, no mesmo...
não demorou nem meia hora a telefônica apareceu aqui na minha casa e já
resolveu o meu problema (MARINETE).
Alguns entrevistados relacionam o papel do Programa com o trabalho
desenvolvido pela Ouvidoria da cidade, principalmente na parceria entre ambos,
conforme apresentamos no Capítulo II. Neste cenário destaca-se a parceria entre
a Rádio Metropolitana, especificamente o Programa Radar Noticioso, e a
Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes para a criação da Ouvidoria Geral do
Município.
Nossa, ajuda muito, nós temos na cidade agora a ouvidoria da prefeitura, mas a
primeira ouvidoria que nós tivemos na cidade e temos é do Radar com a nossa
querida Marilei, onde nós podemos, como disse, abrir o coração, botar a boca no
trombone e pedir, solicitar e ela auxilia mesmo, ela e seus ajudantes
(TEREZINHA).
Ajuda, ajuda muito, aqui no nosso bairro a Metropolitana é um exemplo, tudo que
nós tem revindicado por intermédio da emissora, ainda mais agora com a parceria
junto a ouvidoria (JOSÉ).
3.3.5. Identificação com a radialista
Nunes (2000) questiona se os ouvintes acabariam projetando no
comunicador de rádio o elemento capaz não só de fazer a mediação entre os
poderes constituídos e o povo – transformando o radialista nessa ponte – em seu
“delegado” junto ao Estado para resolver seus problemas?
Na articulação de seu discurso, o radialista precisa ser estudado
numa perspectiva mais profunda, que inclui a utilização da voz,
dos elementos que compõem a linguagem radiofônica, dos
gêneros radiofônicos, para que se possa compreender como se
desenvolve o processo de construção coletiva do ‘delegado do
ouvinte’ com a participação do ouvinte (NUNES, 2000, p. 73).
De acordo com Nunes (2000), para se compreender como o radialista vai
se transformando, aos poucos, em “delegado do ouvinte” é essencial o
entendimento do sentido da voz e da escuta, além das formas de envolvimento
que o rádio vai estabelecendo com o ouvinte e da relação que vai construindo
entre o radialista e o ouvinte.
84 No contato cotidiano com os ouvintes, os radialistas têm na voz
seu principal instrumento de trabalho. Através da voz se
estabelece um contato mais íntimo entre locutor e ouvinte e, em
certos casos, vai-se estabelecendo certa cumplicidade. Há uma
vivência intensa de emoções de ambas as partes, ainda que a
percepção do retorno dessa dimensão emocional só possa se dar
através de feedback que o ouvinte estabelece com o apresentador
do programa [...] (NUNES, 2000, p. 77).
Nesse caso, segundo a autora, é o manejo correto da linguagem
radiofônica um dos elementos essenciais na transformação do radialista em
“delegado do ouvinte”. Já que Nunes (2000) acredita que não existe ouvinte
passivo porque toda escuta é ativa e, no rádio, o ouvinte faz sempre valer o seu
livre arbítrio, girando o dial do receptor se a mensagem transmitida não é do seu
agrado. É, portanto, a liberdade de escolha que faz o ouvinte do Radar Noticioso
deixar o seu rádio no AM 1070 desde as primeiras horas do dia.
O público acaba tendo no âncora a “figura que divide emoções e faz
companhia” (JUNG, 2007, p. 39). O ouvinte cria vínculos com aqueles que, de
alguma maneira, buscam defender os interesses da população. Nas entrevistas,
os ouvintes afirmam que ouvem e preferem a Rádio Metropolitana porque
também se identificam com a âncora:
[...] Marilei Schiavi ela abre o espaço pra gente falar [...] a Marilei Schiavi que é
uma bela jornalista, que faz um trabalho brilhante [...] Marilei Schiavi falando, os
órgão competentes começam a cobrar, os caras começa a se movimentar [...]
Então eu agradeço muito a Marilei Schiavi que abriu espaço pra nós, pra nós fala,
pra nós cobra [...] (HENRIQUE).
[...] Marilei é uma pessoa (que pode) que podia me ajudar na época e ela me
ajudou [...] (MONICA).
[...] nossa querida Marilei, [...], ela auxilia mesmo, ela e seus ajudantes. [...] sou
amiga já, me considero amiga da Marilei que dirige o Radar Noticioso e porque
sempre sou bem atendida. (TEREZINHA).
Nunes (2000) ressalta que o rádio, como veículo de comunicação de
massa e ser da cultura, não exerce apenas a função de informar com rapidez e
instantaneidade. Segundo a autora, no rádio AM, a familiaridade com o ouvinte é
o que conta. E a voz que atinge o ouvinte é a do apresentador, do locutor que
comanda o programa, o chamado âncora.
85 Moreira (1991) afirma que o público brasileiro que ouve rádio AM
acostumou-se a conviver com a figura do apresentador e que chega a assumir até
mesmo o papel de protetor dos ouvintes mais necessitados. Portanto, a postura
do locutor em relação ao ouvinte deve ser de identificação. César (1990, p. 84)
complementa que o locutor deve ser intensamente agradável no ar, pois são
milhares de ouvintes que o escutam, com necessidade de se agrupar, de se
identificar com todas as coisas que o rodeiam. O ouvinte gosta de entender o que
o locutor está falando. O locutor deve respeitar a inteligência do ouvinte, falandolhe com cortesia e consideração.
De acordo com Prado (1989, p. 18), por ser um veículo instantâneo,
simultâneo e rápido, o rádio se torna o meio mais adequado à transmissão de
fatos atuais, transformando-se num veículo com uma enorme capacidade de
transmitir mensagens e informações. Além disso, é extraordinária a capacidade
do rádio ser entendido por um público muito diversificado, por não exigir um
conhecimento especializado para a decodificação e a recepção nas condições
mais diversas, todas elas favorecidas pela autonomia concedida ao aparelho
receptor a partir do invento do transistor.
Nunes (2000) acrescenta que uma das características do rádio, que ajuda
a compreender seu enorme poder de sugestão desenvolvendo a imaginação do
ouvinte é a ausência da percepção visual entre o emissor e o receptor.
O ouvinte é obrigado a criar mentalmente a imagem visual
transmitida pela imagem acústica, transformando sons e imagens.
O ouvinte se deixa conduzir por vozes que lhe remetem a fatos e
situações e isso faz com que a percepção e o imaginário criado de
cada um seja uma experiência única e participativa, assim como
ocorre durante a leitura. A percepção de cada ouvinte que escuta
um programa de rádio é única, enriquecida por sua experiência
pessoal, valorizada nos aspectos que lhe provocam maior
identificação. O ouvinte tem uma relação flexível e ativa com a
mensagem que recebe através do rádio, imprimindo-lhe o
contorno final, a forma definitiva, interagindo com ela (NUNES,
2000, p. 89-90).
86 3.4. O Radar Noticioso na visão de um antigo âncora
A pergunta que fizeram para um dos mais famosos âncoras do rádio
brasileiro, Heródoto Barbeiro (2006), é a seguinte: “todo radialista é jornalista?”
segundo ele, jornalista é quem segue as regras do jornalismo. Um âncora de
rádio pode não ser jornalista. Se for um cara preparado, sem problemas. O sujeito
tem que ser um autodidata, tem que ler, entender o que é jornalismo. No
momento que ele entende as regras básicas do ofício e tem boa cultura geral,
está aprovado. O resto ele aprende no dia-a-dia.
No caso de David de Lima, um antigo âncora da Rádio Metropolitana AM
1070, ele é um radialista que se transformou em jornalista e ancorou durante anos
o Radar Noticioso. Sua primeira função na referida rádio foi como locutor
comercial, posteriormente veio a fazer parte do jornalismo da emissora. Ingressou
na rádio em 1967 e ficou por mais de 40 anos. Como âncora do Radar Noticioso
David ficou 23 anos.
Na época em que David esteve à frente do Programa Radar Noticioso
enquanto âncora, o programa sofreu diversas alterações de horários, que variou
de 7h30 as 8h30, em seguida de 6h30 às 7h30, até ampliar para o horário em que
é veiculado hoje, das 5h30 às 10h00.
No que se refere à programação do Programa Radar Noticioso na época
em que o entrevistado foi âncora, ele não vê tanta diferença com a atual
programação, conforme segue em sua fala:
Olha, não difere muito dos dias atuais não. Era entrevista que nós fazíamos ao
vivo, os carros reportagem que dava flash do trânsito, acho que por ai mesmo,
jornalismo não mudou muito não, lógico que hoje tá muito mais versátil, mais
dinâmico, entendeu, mas não mudou muito não (DAVID).
A seleção do material, isto é, das notícias, veiculadas eram feitas, segundo
David, “na famosa gilete press”:
Nós recortávamos as noticiamos dos grandes jornais de São Paulo e de Mogi, nós
tínhamos um redator excelente por sinal, ele fazia às notícias, de Mogi as noticias
eram assim, não tinha esse negócio de Suzano, Guarujá, essas coisas, era tudo
87 noticia local, quer dizer ampliou bastante, hoje em dia ampliou muito, mas era
através da gilete press, isto há uns 30 anos atrás, 25-30 anos atrás (DAVID).
O entrevistado ressalta ainda que o Radar Noticioso sempre foi um
programa de prestação de serviços à comunidade, e em sua época enquanto
âncora do programa essa prestação acontecia do seguinte modo:
Na minha época era o seguinte, nós tínhamos um carro, eu fazia no início, o Povo
Reclama, quer dizer, nós íamos nos bairros, onde a população reclamava e nós
íamos até os bairros, então eu comecei na realidade fazendo parte do jornalismo
através do Povo Reclama (DAVID).
As fontes para a elaboração das notícias veiculadas eram assim
selecionadas:
A reclamação dos nossos ouvintes eu anotava tudo. Daí, quando era relativo ao
executivo eu levava para o prefeito, e ai obtinha resposta do prefeito, na época
era o Waldemar Costa Filho, na primeira administração dele, então eu levava para
o Waldemar e ele dava a resposta para os ouvintes (DAVID).
As respostas das autoridades ou do poder público diante dos problemas
apresentados eram, segundo David, sempre respondidas. A partir das demandas
apresentadas eram procuradas as instâncias responsáveis:
[...] era a prefeitura no caso o prefeito, a câmara, no caso o seria presidente da
câmara, o SEMAE, no caso o diretor geral do SEMAE e assim, tinha várias
reclamações com relação ao governo do estado, a gente ia procurar os órgãos
estaduais, os órgãos municipais, enfim, a resposta era sempre positiva (DAVID).
Ainda no que diz respeito às fontes para elaboração de noticiais, David ressalta
que hoje a internet mudou muito a vida dos jornalistas. A tecnologia facilitou
muito, principalmente para o repórter de rua, “uma maravilha” (DAVID):
Internet é um negócio sensacional, facilitou demais os jornalistas, como também o
próprio celular, hoje você pode fazer... antigamente não, nós fazíamos através do
orelhão, quando tinha orelhão funcionando, hoje tem o celular (DAVID).
Deve-se salientar que por muito tempo, sobretudo, no período em que a
internet não era uma ferramenta de fácil acesso, a participação da comunidade
era realizada por meio de cartas e telefonemas. Mais cartas do que telefonemas,
uma vez que muitas pessoas não tinham acesso ao telefone.
88 As falas do entrevistado, anteriormente apresentadas, nos permitem
constatar a relação do Programa Radar Noticioso com os problemas da
comunidade atendida, bem como sua credibilidade e atenção que recebe da
população:
[...] O Radar Noticioso sempre foi um jornal de muita credibilidade e ele tem esse
respaldo das autoridades e também da população porque ele merece o respeito
porque, como eu já disse, essa credibilidade já vem de há muitos anos, entendeu,
e isso faz com que a população tenha esse respaldo por parte do jornal de vocês
e as autoridades respondem prontamente porque esse jornal já tem mais de 40
anos, então ele tem todo esse respaldo (DAVID).
Os quase 50 anos de existência do Programa Radar Noticioso nos
apontam uma história que vem se construindo. Por isso é também possível
identificarmos alterações e/ou diferenças. Para tanto buscamos verificar essas
mudanças diretamente com quem pôde visualizá-las internamente e hoje se
encontra afastado do veículo, e mais precisamente do programa do qual fez parte
como âncora. Para David de Lima:
Tem muita diferença, o jornal me parece, tem mais assim... É diferente da nossa
época, ele tem assim mais liberdade, como é que poderia se chamar...Bom, a
família Sanzone sempre deu essa liberdade, pra mim, para o pessoal que
participa, nunca interferiu...Nunca eu vi a família Sanzone falando você não pode
falar isso, não pode falar aquilo, como atualmente é, continua até agora, eu acho,
não sei, eu acho que o jornal de agora, o Radar Noticioso, ele tem a amplitude
dele é muito maior, eu acho agora o Radar Noticioso atualmente, ela abriu um
leque muito grande junto a população, é muito melhor agora do que
anteriormente, exatamente porque agora tem muito mais facilidade, a Internet, é o
celular, uma série de coisas (DAVID).
Outra mudança apontada pelo entrevistado foi a escolha de uma mulher
para assumir a ancoragem do Radar Noticioso. Trata-se da jornalista Marilei
Schiavi, que trabalhava na Rádio Metropolitana há 15 anos e assumiu desde 2007
o programa, com objetivo de dar um tom ainda mais personalizado e feminino no
embate de “defender” o ouvinte que telefona para a emissora no “Momento do Ouvinte”.
Nas palavras de David o Programa mudou muito, conforme segue:
Mudou muito viu? Puxa vida, no início, não existia assim por parte dos ouvintes,
tanto de televisão como também de rádio, a notícia transmitida pela mulher, e
principalmente sendo uma mulher, sendo âncora, eu acho que foi uma mudança
extraordinária por parte da família Sanzone, se vê que hoje nós temos várias
89 âncoras mulheres na televisão, no rádio, mas isso ai modificou bastante, a mulher
ela está merecendo agora a credibilidade que ela não tinha, a notícia transmitida
pelos homens era uma coisa, pelos locutores e as notícias transmitidas pelas
mulheres não tinham assim por parte da população uma confiança, os chamados
machões da vida não acreditavam muito nas mulheres dando a notícia, você vê
que mudou muito, maravilhoso isso (DAVID).
Nesse sentido, é inegável que a personalidade dos âncoras imprime uma
marca pessoal notável na condução dos programas, como a de um maestro
regendo uma orquestra – o que, aliás, garante um sabor único à cada programa.
O próprio Jornal da Manhã, ancorado por Barbeiro, traz como marcas o lastro em
história, a consciência cidadã, ironia na justa medida e o olho vivo nos
campeonatos de futebol, com as lúdicas intervenções com os demais membros
da equipe (Barbeiro é declarada e apaixonadamente corintiano). O programa
seguinte, local, é chamado CBN São Paulo e vai ao ar em dias úteis das 9h30 às
12h00 e aos sábados, das 10h00 às 12h00. Desde 2000, ele tem como âncora o
jornalista gaúcho Milton Jung, aliás Milton Ferreti Jung Júnior.
90 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente dissertação procurou destacar a importância do veículo de
comunicação de massa rádio, no dia-a-dia da comunidade, ao interferir, muitas
vezes de maneira direta na vida do ouvinte, que precisa de um interlocutor para
solucionar alguns problemas que não estão sendo devidamente atendidos pelas
autoridades competentes ou até mesmo por empresas e órgãos.
Iniciamos este trabalho contextualizando historicamente o rádio no Brasil,
por meio de revisão bibliográfica, demonstrando como a rádio mudou a história da
comunicação mundial, da sua primeira transmissão via telégrafo com fio ate à
atualidade. Ressaltou-se também como essa trajetória marcou, no Brasil, um
novo estilo de falar uma sociedade ainda analfabeta.
O Rio de Janeiro é considerado a primeira cidade brasileira a instalar uma
emissora de rádio. Oficialmente o rádio é inaugurado no país em 7 de setembro
de 1922. Contudo, é em 20 de abril de 1923 que começa a funcionar a Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Roquete Pinto e Henry Morize
(ORTRIWANO, 1985). Deve-se ressaltar que neste período o rádio era reservado
a elite, e não a massa, pois quem detinha poder aquisitivo podia mandar buscar
aparelhos receptores no exterior. No entanto, segundo Ortriwano (1985), Roquete
Pinto acreditava desde o início que o rádio se transformaria num meio de
comunicação de massa.
E, de fato, o rádio veio a tornar-se um dos principais e mais populares
meios de comunicação de massa, considerando o seu alcance de público, bem
como por ser o único a levar informações para os que não têm acesso a outros
meios. No entanto, deve-se ressaltar que os meios de comunicação de massa no
Brasil acabaram se tornando gigantescos empreendimentos comerciais, políticos
e econômicos que facilmente servem de mecanismos ideológicos à sustentação
do pensamento único das classes dominantes. Por isso, a comunicação popular
parte da necessidade do próprio povo de expressar-se livremente a partir de sua
realidade.
91 Assumir a comunicação como um direito humano significa reconhecer o
direito de todos de ter voz. É o direito de ter acesso aos meios de produção e
veiculação de informação, de possuir condições técnicas e materiais para ouvir e
ser ouvido, de ter o conhecimento necessário para estabelecer uma relação
autônoma e independente frente aos meios de comunicação. É exigir do Estado
seu papel na promoção da pluralidade, da diversidade e da luta constante pela
superação das desigualdades (INTERVOZES, [s.d.]).
E por falar em voz e vez, o Radar Noticioso tem como codinome o
jornalismo cidadão para a comunidade. Os ouvintes, as autoridades e até mesmo
os empresários da região do Alto Tietê destacam sempre que o trabalho da Rádio
Metropolitana AM 1070 concede credibilidade ao Programa como uma RádioOuvidoria-Cidadã. Mas a pergunta que fica é: até onde uma emissora de rádio
pode trabalhar em benefício da população como uma Ouvidoria?
Na Rádio Metropolitana durante o “Momento do Ouvinte” no Radar
Noticioso ainda que as autoridades competentes “expliquem o porquê” de não
resolverem as reivindicações, a emissora traz a resposta – mesmo que negativa –
para o ouvinte. Compreender o papel da rádio e sua atuação na área da
prestação de serviços à comunidade, especificamente na defesa dos interesses
dos cidadãos consumidores, à luz da literatura científica e da opinião dos
ouvintes, radialistas e jornalistas; focando, entre outros aspectos: a) os motivos
pelos quais os cidadãos procuram a rádio para solucionar seus problemas de
carências de serviços públicos, b) o real poder de interferência da rádio na
execução das políticas públicas e na solução dos problemas e demandas dos
cidadãos e c) a percepção das autoridades públicas e das empresas prestadoras
de serviços públicos a respeito do papel da rádio.
Para responder ao questionamento do porque os cidadãos procuram a
rádio para solucionar seus problemas, a resposta geralmente gira em torno da
falta de interesse do poder público e até mesmo das empresas de ouvir o
cidadão-consumidor. As reclamações da rádio vão desde os problemas
enfrentados pelos ouvintes para marcarem seus exames em postos de saúde e
92 hospitais, passando pelos problemas de serviços públicos até chegarem às
críticas de falta de iluminação em determinado bairro de sua cidade.
Quanto ao real poder de interferência da rádio na execução das políticas
públicas e na solução dos problemas e demandas dos cidadãos, a resposta está
nos
elevados
índices
de
resolução
dos
problemas
dos
ouvintes.
As
administrações municipais ou até mesmo o Governo Estadual encontram no rádio
um parceiro para apontar as principais falhas em alguns setores da comunidade.
A falta d’água em um determinado bairro, por exemplo, muitas vezes é avisada
para a Prefeitura através da emissora. Sem contar que o ouvinte nunca fica sem
uma resposta, mesmo que negativa, com a devida explicação do que realmente
ocorreu em determinado setor da sociedade.
O terceiro ponto é a importância da percepção das autoridades públicas e
das empresas prestadoras de serviços que respeitam e fazem questão de
responder aos questionamentos e críticas dos ouvintes. A resposta é clara porque
as empresas e as autoridades, sendo qualquer setor das Prefeituras, fazem
questão de responder rapidamente e com o máximo de zelo aos anseios da
população principalmente através de e-mail. Quando são denúncias, por exemplo,
muitas autoridades preferem responder ao vivo durante o programa para dar
maior veracidade e importância em atender aos questionamentos do ouvinte.
O trabalho aqui realizado demonstrou ainda como um programa de rádio,
especificamente o Radar Noticioso da Rádio Metropolitana AM 1070, pôde
através de debates e cobrança junto ao governo local, inspirar a criação da
Ouvidoria Geral do Município de Mogi das Cruzes, concretizada com a aprovação
da lei nº 6.421 de 5 de julho de 2010. Assim, a continuidade da participação da
Ouvidoria na rádio Metropolitana parece criar uma nova modalidade de Ouvidoria,
onde ao mesmo tempo em que divulga, educa, e assiste a população, faz um
trabalho plural e mais abrangente que o simples atendimento a um problema
pontual.
A análise empreendida no terceiro capítulo deste estudo nos permitiu
constatar que o jornalismo da Rádio Metropolitana fica muito próximo daquilo que
se pretende que seja utilizado como instrumento de transformação social. Embora
93 entende-se que a construção da cidadania e o despertar da população deva ser
um resultado conjunto do Estado, da mídia em geral e da soceidade civil,
entende-se aqui que o Programa Radar Noticioso vem cumprindo um duplo papel,
além de bem informar, age como uma rádio-ouvidoria-cidadã.
Não se tem a pretensão de substituir os papéis na conscientização do
cidadão, nem mesmo o papel do Estado, mas as lacunas existentes entre o que
se pode ter no Brasil e o que ainda precisamos alcançar é que acabam por
auxiliar o enfrentamento das diferentes questões que afligem o cidadão, e
auxiliário a buscar seus direitos e garantias individuais, no atual estágio da
democracia brasileira, tem sido um dos focos do programa Radar Noticioo.
No Radar Noticioso da Rádio Metropolitana a meta é viajar pelas asas da
igualdade, da liberdade, do civismo que a sociedade almeja inclusive m sua plena
liberdade de expressão. Alguns tópicos são interessantes saborear como a
soberania nacional e os direitos do homem e a sua liberdade enquanto cidadão.
Liberdade do ouvinte se expressar e ter os microfones abertos para fazer suas
críticas ao Poder Público e até mesmo à iniciativa privada, aos políticos e também
à Política.
Este trabalho não se encerra aqui, seus ecos devem se efetivar em novas
pesquisas. Novos desdobramentos são possíveis a partir dos resultados que aqui
se apresentaram, uma vez que assim como os ouvintes da região pesquisada,
outros há pelo Brasil, que necessitam das ondas do rádio para expressar seu
desejo de ver sua cidadania ser construída com mais dignidade. 94 REFERÊNCIAS
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101 ANEXOS
- ENTREVISTAS -
102 ANEXO I
ENTREVISTA COM OS OUVINTES
103 OUVINTE HENRIQUE SOARES
Entrevistador - Muito bom dia senhor Henrique Soares
Henrique Soares – Bom dia
Entrevistador - O senhor vai participar de uma pesquisa de Mestrado da PUC-SP
para falar da importância ou não da Rádio na prestação de serviço a comunidade.
Entrevistador - Qual seu nome completo?
Henrique Soares – Henrique Soares
Entrevistador - Qual bairro e cidade o senhor reside?
Henrique Soares – Bairro Jardim Margarida, cidade de Mogi das Cruzes
Entrevistador - Qual sua idade?
Henrique Soares – 40 anos
Entrevistador - E a sua escolaridade?
Henrique Soares – 2º Grau
Entrevistador - E a sua profissão?
Henrique Soares – Aposentado por invalidez
Entrevistador - Desde quando o senhor ouve a Rádio Metropolitana AM 1070?
Henrique Soares – Tem mais ou menos 15 anos que eu acompanho a Rádio
direto
Entrevistador - O senhor ouve a emissora todos os dias?
Henrique Soares – Todos os dias, quando dá 5h30 da manhã eu já ligo o rádio e
ai é, enquanto eu estou em casa e o dia todo acompanhando a rádio.
Entrevistador - E qual a importância da Rádio Metropolitana em sua vida?
Henrique Soares – Meu querido, muito importante, a Metropolitana pra mim que
sou um cidadão, como liderança de bairro a Metropolitana pra gente aqui no Alto
Tietê é tudo na vida da gente através dos programas , né, que abre espaço pra
gente cobrar, acompanhar o trabalho que a Marilei Schiavi faz pra todos nós
Mogianos, sabe? E todo Alto Tietê
Entrevistador - E o senhor acredita que a programação da Rádio está próxima
da sua realidade e da comunidade e de que forma?
104 Henrique Soares – Com certeza, a Metropolitana, meu querido, tem ajudado
muita gente, porque a gente faz um trabalho com essa parceria com a Rádio, quer
dizer, cobra dos órgãos públicos, nós reclama, vocês cobre, e ajuda muito, a
Metropolitana, eu to falando como cidadão, oito anos atrás a Metropolitana fez a
diferença na minha vida e na vida de todos nós, moradores do Jardim Margarida,
Novo Horizonte, Piatã um e dois.
Entrevistador - E qual o programa o senhora mais escuta na Rádio?
Henrique Soares – O mais importante que eu acompanho é o da Marilei Schiavi,
que não perco um dia.
Entrevistador - O senhor acredita que o Radar Noticioso, ajuda ou não a resolver
os problemas da comunidade?
Henrique Soares – O Radar Noticioso, filho, ajuda muito, muito, muito mesmo,
quando a Marilei Schiavi ela abre o espaço pra gente falar, nós que mora aqui na
periferia, tem uma voz, a voz, então a Metropolitana hoje é a voz do povo na
periferia.
Entrevistador - E por que o senhor entra no ar na Rádio e porque escolheu a
Metropolitana e não outras Rádios?
Henrique Soares – A Metropolitana filho, a audiência é bom, tem pessoas super
competentes, a Marilei Schiavi que é uma bela jornalista, que faz um trabalho
brilhante e é uma maneira de nós poder ter acesso direto a nossa cidade de Mogi
das Cruzes, que é mais a cidade que nós atua cobrando, para que possam os
órgãos públicos, possam levar as melhorias, até nossa comunidade.
Entrevistador - A sua participação nos assuntos da comunidade, a Rádio
estimula ou não?
Henrique Soares – Estimula, sabe porque filho, porque é assim, o que acontece,
a Rádio, quando nós muitas das vezes levamos os problemas até as autoridades
e muitas das vez fica parado, quando joga a consciência ao vivo no ar, que
começa a falar, Marilei Schiavi falando, os órgão competentes começam a cobrar,
os caras começa a se movimentar, então meu querido, muita das vezes a
Metropolitana faz a diferença e muito., muito e muito aqui nos nossos bairros, na
nossa periferia.
Entrevistador – O senhor se lembra de alguma situação que o fez entrar em
contato com a Rádio?
Henrique Soares – O mais importante, o Jardim Margarida, nós não tinha rede
de água, era um sofrimento, e quando eu entrei na Associação em 2002 eu
comecei a fazer um trabalho, a primeira coisa que eu fiz foi chamar a Rádio
Metropolitana e começou aquela batalha travada para levar água para o bairro da
105 divisa, a Marilei Schiavi, no ar, começou a rodar a fita, ai mexeu até com o
gabinete do governo do estado e foi aonde nós conseguimos em 2002 em
parceria com a prefeitura com apoio da Marilei Schiavi cobrando dos órgãos
competentes, conseguimos trazer o governador no Jardim Margarida e assinou o
convênio em 2002 e hoje, meu querido, todos nós temos rede de água no bairro
da divisa. Então eu agradeço muito a Marilei Schiavi que abriu espaço pra nós,
pra nós fala, pra nós cobra, tem outras coisas importantes que eu consegui
através da Rádio.
Entrevistador – O senhor acredita que o Radar Noticioso tenha ajudado a
comunidade a resolver os problemas através dos órgãos públicos?
Henrique Soares – Com certeza
106 OUVINTE MONICA
Entrevistador - O seu nome completo?
Henrique Soares – Monica Aparecida Pacífico do Espírito Santo
Entrevistador - E qual bairro a senhora mora e qual cidade?
Monica - Eu moro no Botujuru, Mogi das Cruzes
Entrevistador - Qual a sua idade?
Monica - 34 anos
Entrevistador - Qual a sua escolaridade?
Monica - 2º grau completo
Entrevistador - E a sua profissão?
Monica - Eu sou dona de casa e aposentada?
Entrevistador - Desde quando a senhora ouve a Rádio Metropolitana AM 1070?
Monica - Desde os 12 anos
Entrevistador - Ouve a emissora todos os dias ou com qual frequência?
Monica - Não, quase todos os dias. É muito difícil o dia que eu não ouço
Entrevistador - E qual a importância da Rádio Metropolitana na sua vida?
Monica - Pra mim é muito importante, pois, a Rádio passa informação sobre a
cidade, sobre o que está acontecendo, eu fico sempre atualizada com tudo o que
acontece na minha cidade e nos municípios ao redor.
Entrevistador - A senhora acredita que a programação da Rádio está próxima da
sua realidade e da comunidade e de que forma?
Monica - Eu acredito que está sim, pois a Rádio informa tudo o que a gente
precisa saber.
Entrevistador - Qual o programa que a senhora escuta mais na Rádio?
Monica - Eu escuto a Marilei de manhã e depois escuto o Donizete e dia de
sábado eu gosto de ouvir a Leona.
Entrevistador - A senhora acredita que o radar noticioso ajuda ou não a resolver
os problemas da comunidade?
Monica - O Radar Noticioso ajuda muito, pois eu mesmo já fiz denuncias, já
precisei de ajuda e eles me ajudaram muito.
107 Entrevistador - E a senhora participa do Radar Noticioso com qual frequência?
Monica - Sempre quando eu preciso se ha alguma coisa no meu bairro que
precisa ser falada para pessoas poder tomar uma atitude eu ligo e falo mesmo.
Entrevistador - E porque a senhora liga para a Rádio Metropolitana e não outras
Rádios quando quer fazer uma denuncia ou um pedido?
Monica - Por que nós temos que valorizar a Rádio da nossa cidade e a
Metropolitana é a Rádio da minha cidade, a cidade onde eu nasci então é pra ela
que eu tenho que ligar.
Entrevistador - E a senhora escolheu entrar no programa Radar Noticioso por
qual motivo?
Monica - Porque eu tava precisando de ajuda e a Marilei é uma pessoa (que
pode) que podia me ajudar na época e ela me ajudou
Entrevistador - E como é que a Rádio estimula, ou não estimula a sua
participação nos assuntos da comunidade?
Monica - Porque a Rádio sempre trás assunto que está precisando ser divulgado,
então a gente tem que participar e valorizar.
Entrevistador - A senhora se lembra de alguma situação que a fez entrar em
contato com a Rádio?
Monica - Me lembro, foi duma, eu precisei ligar, pois aqui na escola onde minha
filha estuda não tem calçada e as crianças vão tudo pelo meio da rua e isso é um
perigo e era tudo cheio de mato e a Rádio denunciou, eles vieram, limpar, não
fizeram calçada, mas limparam pelo menos já ajudou um pouco as crianças
Entrevistador - E a senhora acredita que o Radar Noticioso tem ajudado a
comunidade a resolver os problemas através dos órgãos públicos?
Monica - Eu acredito que sim, pois a Rádio, a gente liga e eles correm atrás, eles
não ficam só escutando o que a gente fala e deixa por isso mesmo não, eles
correm atrás, porque até ligar pra gente pra dar uma resposta eles ligam.
Entrevistador - Bom dia
Monica - Bom dia
108 OUVINTE TEREZINHA DE JESUS
Entrevistador - Bom dia Dona Terezinha de Jesus
Terezinha - Bom dia, tudo bem?
Entrevistador - Tudo bem. A senhora pode por gentileza dizer o seu nome
completo?
Terezinha - Meu nome é Terezinha de Jesus Silva Too
Entrevistador - Qual o bairro, qual cidade a senhora reside?
Terezinha - Eu moro na cidade de Mogi das Cruzes, no distrito de Braz Cubas.
Entrevistador - Qual a idade da senhora?
Terezinha - Eu tenho 69 anos
Entrevistador - Escolaridade da senhora?
Terezinha - Superior, curso superior
Entrevistador - E qual é a profissão?
Terezinha - Professora aposentada
Entrevistador - Desde quando a senhora ouve a Rádio Metropolitana AM 1070?
Terezinha - Ouço a Rádio há muitos anos, eu já perdi a conta, mas acho que há
mais de 10 anos, muito mais.
Entrevistador - A senhora ouve a emissora todos os dias ou qual a frequência de
audiência?
Terezinha - Olha, eu só não ouço a Rádio quando eu vou a São Paulo para
algum tratamento médico, mas eu ouço diariamente quando estou aqui.
Entrevistador - E qual a importância da Rádio Metropolitana na sua vida?
Terezinha - Ela divulga tudo sobre a cidade, ela ajuda a população no sentido
que nós temos um canal aberto no Radar Noticioso para solicitar as coisas, exigir
até melhorias na comunidade e alegra também a população com a sua
programação.
Entrevistador - A senhora acredita que a programação da Rádio está próxima da
sua realidade e da comunidade e de que forma?
Terezinha - Não resta duvida que tudo na vida nós podemos melhorar, mas eu
acho que está próxima da realidade do que o povo gosta, senão ela não teria a
audiência que tem.
109 Entrevistador - Qual o programa que a senhora mais escuta mais na Rádio?
Terezinha - O Radar Noticioso, Manhã Show e esporadicamente como eu saio a
tarde, quando estou em casa também ouço outros programas a tarde, mais na
parte da manhã eu estou ligadíssima na Metropolitana.
Entrevistador - A senhora acredita que o radar noticioso ajuda ou não a resolver
os problemas da comunidade?
Terezinha - Nossa, ajuda muito, nós temos na cidade agora a ouvidoria da
prefeitura, mas a primeira ouvidoria que nós tivemos na cidade e temos é do
Radar com a nossa querida Marilei, onde nós podemos, como disse, abrir o
coração, botar a boca no trombone e pedir, solicitar e ela auxilia mesmo, ela e
seus ajudantes.
Entrevistador - E a senhora participa do programa na Rádio com qual
frequência?
Terezinha - Eu acho assim, quando há uma necessidade no bairro onde eu moro,
uma solicitação pra melhorar a situação do povo aqui eu entro no ar.
Entrevistador - E por que a senhora entra no ar na Rádio, porque a
Metropolitana e não outras Rádios?
Terezinha - Porque é a Rádio que nos dá essa oportunidade de abrirmos o
coração.
Entrevistador - Porque a senhora escolheu entrar no ar no programa Radar
Noticioso?
Terezinha - Porque uma que, sou amiga já, me considero amiga da Marilei que
dirige o Radar Noticioso e porque sempre sou bem atendida.
Entrevistador - E como é que a Rádio estimula ou não a sua participação nos
assuntos da comunidade?
Terezinha - Bom, eu já por mim mesma, sou uma pessoa participativa dentro da
comunidade e porque sempre quando a Marilei abre o programa de manhã ela
fala, tal horário teremos aqui o horário do ouvinte, participem!
Entrevistador - A senhora pode se lembra de alguma situação que a fez entrar
em contato com a Rádio?
Terezinha - Sim, esse dias mesmo, eu reclamei, porque queria levar minha filha
pra São Paulo com o SAMU, porque ela estava passando mal e chegou a ser
internada em São Paulo no hospital do Servidor Público, lá ficando nove dias e eu
estou até...a Marilei está em contato com o SAMU pra saber porque que eles me
falaram que pra São Paulo não podiam levar um paciente, só se fosse pro SUS e
110 como a minha filha já havia estado no SUS em não havia resolvido o problema,
precisava urgentemente pra salvar a vida dela ir para São Paulo, então eu
reclamei disso dai.
Entrevistador - A senhora acredita que o Radar Noticioso tem ajudado a
comunidade a resolver os problemas através dos órgãos públicos?
Terezinha - Muito, ajudado muito mesmo, não só a mim, mas a toda a
comunidade de Mogi das Cruzes.
Entrevistador - Bom dia
111 OUVINTE JOSÉ APARECIDO
Entrevistador - Bom dia senhor José Aparecido
José Aparecido - Muito bom dia, é um prazer imenso falando com vocês
Entrevistador - Qual o nome completo do senhor?
José Aparecido - José Aparecido da Silva
Entrevistador - Qual cidade e bairro o senhor reside
José Aparecido - Eu moro no conjunto residencial São João no Jardim Camila
Entrevistador - A sua idade?
José Aparecido - 49
Entrevistador - A sua escolaridade?
José Aparecido - 4ª série primaria
Entrevistador - E qual a sua profissão?
José Aparecido - Hoje eu sou pensionista
Entrevistador - Desde quando o senhor houve a Rádio Metropolitana AM 1070?
José Aparecido - Nossa Senhora. Faz muito tempo, a mais de 30 anos .
Entrevistador - O senhor ouve a emissora todos os dias ou qual a frequência da
sua audiência?
José Aparecido - Praticamente desde das 5h30min da manhã nós estamos
ligadinho no Radar Noticioso
Entrevistador - E qual a importância da Rádio Metropolitana na sua vida?
José Aparecido - A Rádio Metropolitana Mogi das Cruzes AM 1070, não só na
minha vida, como em todo Alto Tietê, ai de nós se não fosse a Metropolitana
Entrevistador - E o senhor acredita que a programação da Rádio está próxima
da sua realidade e da comunidade de que forma?
José Aparecido - Com certeza, principalmente com o Metropolitana na
Comunidade, a tendência é só ir pra frente
Entrevistador - E qual programa que o senhor escuta mais na Rádio?
José Aparecido - Eu gosto demais do jornal Radar Noticioso, eu gosto demais do
jornal Cidade Agora, eu to sempre ligadinho lá no programa da Leona, Baiano do
jegue, enfim, tem o pessoal do esporte, Ayl Marques, Ivan Carvalho
112 Entrevistador - O senhor acredita que o radar noticioso ajuda ou não a resolver
os problemas da comunidade?
José Aparecido - Ajuda, ajuda muito, aqui no nosso bairro a Metropolitana é um
exemplo, tudo que nós tem revindicado por intermédio da emissora, ainda mais
agora com a parceria junto a ouvidoria
Entrevistador - E o senhor participa da programação da Rádio com qual
frequência?
José Aparecido - Constantemente a gente está fazendo um link com a rapaziada
de todo o bairro de Poá, de Ferraz, onde a gente encontra um problema a gente
tá lincando direto eles abrem espaço, começa por ai a credibilidade.
Entrevistador - E por que o senhor entra no ar na Rádio, porque a Metropolitana
e não outras Rádios?
José Aparecido - Eu me apeguei mais nessa Rádio, fico sempre sintonizado
neles, só neles, só neles, eu gosto mais deles, agora isso é uma questão de
gostar também né?
Entrevistador - E por que o senhor escolheu entrar no ar no programa Radar
Noticioso?
José Aparecido - Por causa do horário do pico de audiência no horário de
7h30min, é um horário que tem a audiência o pico bomba ali, é sempre um
horário pra gente tá reclamando dos bairros, reivindicando.
Entrevistador - E como é que a Rádio estimula ou não a sua participação nos
assuntos da comunidade?
José Aparecido - A Rádio Metropolitana estimula acho pela credibilidade do
trabalho que a gente faz. Primeiro que a gente faz um trabalho sem nenhum
interesse, começa por ai, acho quem gosta do que faz e gosta da cidade onde
vive, acho que solicita, reivindica independente de qualquer coisa.
Entrevistador - E o senhor se lembra de alguma situação que o fez entrar em
contato com a Rádio?
José Aparecido - Lembro perfeitamente
Entrevistador - Pode contar pra gente?
José Aparecido - Posso. Assim que começou circular o Expresso Leste aqui em
Mogi das Cruzes, embora num horário reduzido, os moradores do nosso bairro
tinha dificuldades de embarcar as 5 da manhã e ai através da Rádio Metropolitana
nós fizemos uma reivindicação e a Secretaria de Transportes nos atendeu
mudando o horário para que os moradores embarcassem no Expresso Leste.
113 Entrevistador - O senhor acredita que o Radar Noticioso tem ajudado a
comunidade a resolver os problemas através dos órgãos públicos?
José Aparecido - Tem com certeza, principalmente a administração atual tem
atendido muito rápido, tanto a Secretaria de Serviços Urbanos, quanto
Transporte, a Secretaria da Saúde tem atendido muito bem
Entrevistador - Senhor José Aparecido, muito obrigado pela sua atenção, tenha
um bom dia.
114 OUVINTE MARINETE
Entrevistador - Bom dia Dona Marinete
Marinete - Bom dia
Entrevistador - Qual o nome completo da senhora?
Marinete - Meu nome é Marinete Sanvy de Almeida Bruno
Entrevistador - Qual bairro e cidade a senhora mora?
Marinete - Eu moro na Estância Guatambú, Itaquaquecetuba, São Paulo
Entrevistador - Qual a sua idade?
Marinete - Eu tenho 49 anos
Entrevistador - A sua escolaridade?
Marinete - 3º Grau incompleto
Entrevistador - A senhora tem qual profissão?
Marinete - Eu sou aposentada atualmente
Entrevistador - Desde quando a senhora ouve a Rádio Metropolitana AM 1070?
Marinete - Fazem seis anos, mais de seis anos
Entrevistador - E a senhora ouve a emissora todos os dias ou com qual
frequência à senhora ouve?
Marinete - Todos os dias
Entrevistador - A senhora pode me dizer qual a importância da Rádio
Metropolitana na sua vida?
Marinete - Nossa, ela é importante em todos os âmbitos, na saúde, no
transporte, em estar falando algo que ninguém tem coragem de falar, então acho
que ela é importante em todos os âmbitos em minha vida.
Entrevistador - E a senhora acredita que a programação da Rádio está próxima
da realidade e da comunidade e de que forma?
Marinete - Com certeza, principalmente o Radar Noticioso, porque, eu acho que
mostra todos os problemas da nossa cidade e eles arranjam uma forma de tá
resolvendo todos os nossos problemas.
Entrevistador - Qual o programa que a senhora escuta mais na Rádio?
115 Marinete - O Radar Noticioso, eu escuto também o Marlon de sábado, a Leona
também eu escuto.
Entrevistador - E a senhora acredita que o Radar Noticioso ajuda ou não a
resolver os problemas da comunidade?
Marinete - Com certeza, comigo eu nunca tive nenhum problema, que nem, por
exemplo, agora nesse momento eu não poderia estar falando com o senhor se
não fosse hoje de manhã eu estar falando que o meu telefone estava mudo, no
mesmo...não demorou nem meia hora a telefônica apareceu aqui na minha casa e
já resolveu o meu problema.
Entrevistador - E a senhora participa do programa na Rádio com qual
frequência?
Marinete - Olha é assim, quando aparece algum problema, quando eu vejo que
está uma discussão gostosa que eu me sinto a vontade.
Entrevistador - Porque a senhora entra no ar na Rádio, porque a Metropolitana e
não outras Rádios?
Marinete - Olha, eu entro na Metropolitana e entre em outras Rádios também de
vez em quando, mas a Metropolitana é muito mais frequência.
Entrevistador - E porque a senhora escolheu entrar no ar no programa Radar
Noticioso?
Marinete - Eu escolho porque eu acredito, eu tenho confiança na Rádio.
Entrevistador - E como a Rádio estimula ou não a sua participação nos assuntos
da comunidade?
Marinete - Bom, ela me estimula a partir do momento que ela me dá ouvidos,
porque se ela não me desse ouvidos eu nem ligaria mais, né?
Entrevistador - A senhora pode se lembrar agora de alguma situação que a fez
entrar em contato com a Rádio?
Marinete - Olha, foi essas vezes do telefone, viu? Foi muito assim... E também
nas vezes que eu tava precisando asfalto na minha rua e que a gente foi ferrenho,
sabe, quase todo dia eu ligava, ai as autoridades foram tomando conta que,
depois algumas pessoas também ligavam, falavam sobre a escola, que a escola
estava em mal estado, sabe, muitas outras coisas.
Entrevistador - E a senhora acredita que o Radar Noticioso tem ajudado a
comunidade a resolver os problemas através dos órgãos públicos?
Marinete - Com certeza, com certeza, eu acho que tinha que ser mais divulgado
até, Metropolitana deveria também ter uma Rádio aqui em Itaquaquecetuba.
116 ANEXO II
ENTREVISTA COM O ANTIGO ÂNCORA DO PROGRAMA
117 ENTREVISTA DAVID LIMA BOZ
Marilei - Qual seu nome completo?
David - David Lima Boz
Marilei - Qual bairro que você mora?
David - Mogilar
Marilei - A cidade?
/David - Mogi das Cruzes
Marilei - Qual a sua idade David?
David - 66
Marilei - Sexo?
David - Masculino, né?
Marilei - Escolaridade, o que você fez na escola?
David - Médio, ensino médio, antigamente era, eu não me lembro bem agora, eu
fiz o ginásio depois o clássico.
Marilei - Qual que foi a sua função dentro da Rádio Metropolitana?
David - Eu fui locutor comercial, posteriormente fiz parte do jornalismo
Marilei - Quando que você entrou na Rádio efetivamente e quanto tempo você
ficou lá?
David - Em 68, 67 ou 68 uma coisa assim. Quanto tempo? Mais de 40 anos, por
ai
Marilei - E como âncora do Radar Noticioso, quanto tempo você ficou?
David - Alí eu fiquei acho que uns 22 ou 23 anos, e u não me lembro bem o
tempo exato, acho que uns 22-23 anos mais ou menos
Marilei - Qual que era a programação do Radar Noticioso na época em que você
foi o âncora do programa?
David - Olha, não difere muito dos dias atuais não. Era entrevista que nós
fazíamos ao vivo, os carros reportagem que dava flash do trânsito, acho que por
ai mesmo, jornalismo não mudou muito não, lógico que hoje tá muito mais
versátil, mais dinâmico, entendeu, mas não mudou muito não
Marilei - E qual horário era o Radar naquela época?
118 David - Eu comecei das 7h30 as 8h30, você acredita? Vinha uma hora de Radar,
depois mudou pra 7 as 9, aliás, das 6h30 as 7h30, depois mudou pra 7h as 9h e
ai foi, foi ampliando como você vê, hoje nos temos o Radar começando as
5h30min praticamente.
Marilei - Você chegou a pegar esse horário das 5h30 às 10h?
David - Cheguei pegar sim
Marilei - Durante alguns anos foi esse horário?
David - Foi esse horário
Marilei - O Radar foi ampliando nos últimos anos?
David - Exatamente
Marilei - Sempre foi um programa de rádio jornalismo com prestação de serviços
à comunidade?
David - Sempre foi
Marilei - Como que era essa prestação de serviço à comunidade na sua época?
David - Na minha época era o seguinte, nós tínhamos um carro, eu fazia no
início, o Povo Reclama, quer dizer, nós íamos nos bairros, onde a população
reclamava e nós íamos até os bairros, então eu comecei na realidade fazendo
parte do jornalismo através do Povo Reclama.
Marilei - E de lá, como você buscava as fontes para elaboração desse tipo de
notícia?
David - A reclamação dos nossos ouvintes eu anotava tudo. Daí, quando era
relativo ao executivo eu levava para o prefeito, e ai obtinha resposta do prefeito,
na época era o Waldemar Costa Filho, na primeira administração dele, então eu
levava para o Waldemar e ele dava a resposta para os ouvintes.
Marilei - Tinha outros tipos de reclamação também?
David - Tinha, reclamação do SEMAE, reclamação, enfim, vários tipos de
reclamações.
Marilei - Qual que era o critério da seleção de veiculação de notícias, onde que
vocês buscavam as notícias?
David - Bom, na realidade, as Rádios do interior, era na famosa gilete press, nós
recortávamos as noticiamos dos grandes jornais de São Paulo e de Mogi, nós
tínhamos um redator excelente por sinal, ele fazia às notícias, de Mogi as noticias
eram assim, não tinha esse negócio de Suzano, Guarujá, essas coisas, era tudo
119 noticia local, quer dizer ampliou bastante, hoje em dia ampliou muito, mas era
através da gilete press, isto há uns 30 anos atrás, 25-30 anos atrás.
Marilei - O que mudou muito que você percebe hoje é que a Internet também
mudou também mudou a vida dos jornalistas?
David - Internet é um negócio sensacional, facilitou demais os jornalistas, como
também o próprio celular, hoje você pode fazer...antigamente não, nós fazíamos
através do orelhão, quando tinha orelhão funcionando, hoje tem o celular
Marilei - Isso facilitou muito, a tecnologia?
David - Para o reporte, principalmente de rua, uma maravilha
Marilei - Então, naquela época a comunidade já participava bastante e eram
cartas ou telefonemas que eles traziam para a Rádio?
David - Cartas e telefonemas. Eram mais cartas, mais cartas.
Marilei - As pessoas não tinham acesso ao telefone ainda?
David - Não, não tinham, exatamente
Marilei - E como era a resposta das autoridades ou do poder público diante dos
problemas apontados, eles respondiam sempre?
David - Respondia, foi o que eu disse ai anteriormente, era a prefeitura no caso o
prefeito, a câmara, no caso o seria presidente da câmara, o SEMAE, no caso o
diretor geral do SEMAE e assim, tinha várias reclamações com relação ao
governo do estado, a gente ia procurar os órgãos estaduais, os órgãos
municipais, enfim, a resposta era sempre positiva.
Marilei - Será que o programa Radar Noticioso pode interferir na execução das
políticas públicas acelerando a solução dos problemas?
David - Lógico que pode. O Radar Noticioso sempre foi um jornal de muita
credibilidade e ele tem esse respaldo das autoridades e também da população
porque ele merece o respeito porque, como eu já disse, essa credibilidade já vem
de há muitos anos, entendeu, e isso faz com que a população tenha esse
respaldo por parte do jornal de vocês e as autoridades respondem prontamente
porque esse jornal já tem mais de 40 anos, então ele tem todo esse respaldo.
Marilei - Foi construindo uma história a partir de então?
David - Foi construindo essa história, verdade.
Marilei - Quais são as principais alterações ou as diferenças que você enxerga,
identificadas depois que você deixou de ser âncora do jornal?
120 David - Tem muita diferença, o jornal me parece, tem mais assim... É diferente
da nossa época, ele tem assim mais liberdade, como é que poderia se
chamar...Bom, a família Sanzone sempre deu essa liberdade, pra mim, para o
pessoal que participa, nunca interferiou...Nunca eu vi a família Sanzone falando
você não pode falar isso, não pode falar aquilo, como atualmente é, continua até
agora, eu acho, não sei, eu acho que o jornal de agora, o Radar Noticioso, ele
tem a amplitude dele é muito maior, eu acho agora o Radar Noticioso atualmente,
ela abriu um leque muito grande junto a população, é muito melhor agora do que
anteriormente, exatamente porque agora tem muito mais facilidade, a Internet, é o
celular, uma série de coisas.
Marilei - O que mudou ter uma âncora mulher no Radar, na sua visão?
David - Mudou muito viu? Puxa vida, no início, não existia assim por parte dos
ouvintes, tanto de televisão como também de rádio, a notícia transmitida pela
mulher, e principalmente sendo uma mulher, sendo âncora, eu acho que foi uma
mudança extraordinária por parte da família Sanzone, se vê que hoje nós temos
várias âncoras mulheres na televisão, no rádio, mas isso ai modificou bastante, a
mulher ela está merecendo agora a credibilidade que ela não tinha, a notícia
transmitida pelos homens era uma coisa, pelos locutores e as notícias
transmitidas pelas mulheres não tinham assim por parte da população uma
confiança, os chamados machões da vida não acreditavam muito nas mulheres
dando a notícia, você vê que mudou muito, maravilhoso isso.
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o caso do programa radar noticioso da rádio metropolitana am 1070