A cultura da soja como fator de transformação e viabilização das PROPRIEDADES AGRÍCOLAS
produToRAS de grãos do RS: uso de tecnologia E OS EFEITOS na inclusão social e conservação
ambiental
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1. A PLANTA DE SOJA
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2. A ADAPTAÇÃO DA SOJA AO RIO GRANDE DO SUL
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3. O MODELO DE PROPRIEDADE AGRÍCOLA DA ÉPOCA DA INTRODUÇÃO DA SOJA
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4. A EXPANSÃO DA SOJA NA DÉCADA DE 1970
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5. O NOVO MODELO AGRÍCOLA DA DÉCADA DE 1970
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6. ESTRUTURA DA PROPRIEDADE AGRÍCOLA NA DÉCADA DE 1970
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7. A EXPANSÃO DESENFREADA DA SOJA NA DÉCADA DE 1970 E OS EFEITOS SOBRE AS
PROPRIEDADES AGRÍCOLAS
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8. A EXPANSÃO A PARTIR DA DÉCADA DE 1980: A REESTRUTURAÇÃO DAS PROPRIEDADES
AGRÍCOLAS E A ADOÇÃO DA TECNOLOGIA DE CULTIVO
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9. A SOJA NA MÉDIA E GRANDE PROPRIEDADE
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10. A SOJA COMO FONTE DE RIQUEZA E INCLUSÃO SOCIAL
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11. A CULTURA DA SOJA E OS IMPACTOS AMBIENTAIS
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12. A LUCRATIVIDADE DA LAVOURA DE SOJA E O USO DE TECNOLOGIA
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A CULTURA DA SOJA COMO FATOR DE TRANSFORMAÇÃO E VIABILIZAÇÃO DAS
PROPRIEDADES AGRÍCOLAS PRODUTORAS DE GRÃOS DO RS: USO DE TECNOLOGIA E
OS EFEITOS NA INCLUSÃO SOCIAL E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
CLAUDIO M. MUNDSTOCK.*
1. A PLANTA DE SOJA
A planta de soja é originária da Ásia (a China como provável centro de origem) de onde se expandiu para
o resto do mundo. Chegou a Europa no início do século XVIII e, logo após, aos Estados Unidos.
A introdução da soja no Brasil deu-se no início do século XX, no estado de São Paulo. No início do
século XX foi cultivada na zona das Missões de onde se difundiu, décadas após, para outras regiões do
Estado.
A soja é uma planta pertencente à família das leguminosas cujo nome científico é Glycine max L.
A planta é composta de uma haste principal (caule) de onde se originam flores, folhas e ramificações
laterais. As raízes compõem-se de uma estrutura principal (raiz pivotante) de onde saem as ramificações.
O ciclo da planta de soja varia de 100 a 160 dias (semeadura à colheita) e as condições ambientais
preferidas são:
a) Solos:
pH entre 5,5 a 6,5
Boa condição de estrutura física
Boa fertilidade (nutrientes minerais)
Bem drenados, sem excesso de água.
b) Fatores meteorológicos:
Alta radiação solar
Alta temperatura do ar
Regularidade de precipitações pluviais durante o ciclo
*
Engenheiro Agrônomo.PhD em Fisiologia e Manejo de Cultivos. Colaborador Convidado do Departamento de Plantas de
Lavoura.Faculdade de Agronomia.UFRGS. Email: [email protected]
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As preferências da planta (condições de solo e fatores meteorológicos) coincidem com as condições
encontradas na maioria das regiões fisiográficas do RS. As condições físicas dos solos do Estado são
apropriadas ao cultivo desta oleaginosa. As condições químicas são limitantes pois os solos, na sua
grande maioria, na sua condição original, possuem pH baixo e nutrientes minerais em pequenas
quantidades, insuficientes para sustentar o desenvolvimento da planta.
Quando as condições químicas dos solos são corrigidas, o ambiente aéreo (condições meteorológicas) e o
subterrâneo (condições de solo) são extremamente favoráveis ao cultivo desta espécie no Rio Grande do
Sul.
2. A ADAPTAÇÃO DA SOJA AO RIO GRANDE DO SUL
A comprovação da adaptação da soja ao RS veio com os testes iniciais com a cultura, os quais mostraram
que ela poderia ser cultivada no período de verão, sendo semeada no final da primavera, encerrando o
ciclo no início do outono.
As primeiras cultivares (variedades) foram, provavelmente, vindas dos Estados Unidos e, originalmente,
cultivadas para serem utilizadas como forragem verde para os animais e, logo após, para a obtenção de
grãos usados no arraçoamento de animais domésticos, como suínos.
A ampla adequação das exigências da planta às condições ambientais encontradas no Estado indicou que
o cultivo desta espécie poderia ser incrementado como o foi, devido aos fatores favoráveis de clima e
solo.
3. O MODELO DE PROPRIEDADE AGRÍCOLA DA ÉPOCA DA INTRODUÇÃO DA SOJA
A introdução da soja aconteceu nas regiões agrícolas que, na época, cultivavam grãos (milho, em
especial) que eram, na maioria direcionados a alimentação animal. As criações de suínos, gado leiteiro e
aves eram parte fundamental da produção das unidades agrícolas que comercializavam estes e diversos
outros produtos originados do sistema da chamada “agricultura de pequenas propriedades”.
Neste sistema, a soja adaptou-se muito bem, pois representou mais uma opção na cadeia alimentar dos
animais. O clima predominante na região era favorável à cultura e os solos das propriedades agrícolas nos
locais onde foi introduzida a soja, possuíam boa fertilidade natural, originada dos resíduos deixados após
a derrubada de matas nativas.
Neste contexto agrícola a soja ali permaneceu por algumas décadas, sem possibilidade de expansão à
maioria das outras regiões em razão de: 1) limitações de solo e 2) sistema de uso da planta (grãos) de soja,
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adequado ao modelo de produção das propriedades agrícolas da época que a utilizavam no trato de
animais. Este modelo era típico das regiões coloniais do Estado onde a soja esteve presente nas primeiras
épocas.
A cadeia de produção e comercialização de soja era precária, pois havia consumo (aproveitamento) local
e ela não aparecia como uma “commodity” importante. No entanto, se considerarmos a sua importância
na alimentação animal, ela já representava um fator considerável na geração de renda da propriedade e,
conseqüentemente, no bem estar do agricultor.
4. A EXPANSÃO DA SOJA NA DÉCADA DE 1970
A grande expansão da soja no RS, ocorrida na década de 1970, deu-se por uma conjugação de diversos
fatores que coincidentemente, se tornaram importantes na mesma época.
O fator de maior expressão foi, sem dúvida, a geração de tecnologia de cultivo.
No final da década de 1960 e início da década de 1970, as Instituições de pesquisa do Estado,
capitaneadas pela Faculdade de Agronomia da UFRGS, empreenderam a ação de pesquisa que,
provavelmente, deu um dos maiores impactos na agricultura do Rio Grande do Sul. Foram iniciados os
trabalhos de pesquisa voltados para a adequação da maioria dos solos do RS para o cultivo de espécies
que necessitavam condições de pH de solo e disponibilidade de nutrientes (fertilidade do solo) mais
adequadas às suas necessidades. Foi a denominada “Operação Tatu”, que contou com a participação da
EMATER, Secretaria da Agricultura do RS, IPEAS, Cooperativas Agrícolas, etc.
As repercussões desta ação de pesquisa e geração de tecnologia são observadas até os dias de hoje e, na
época, modificaram o panorama agrícola do Estado. A cultura que mais se beneficiou deste programa foi,
sem dúvida, a soja. Fechava-se, assim, um dos gargalos da expansão da soja, que era a inadequada
condição química do solo. A partir daí, a soja apresentou plena adaptação tanto climática como
edafológica.
Extensas áreas do RS, em particular as Missões e Planalto Médio, puderam entrar no sistema de cultivo
mecanizado com a cultura da soja.
5. O NOVO MODELO AGRÍCOLA DA DÉCADA DE 1970
A soja, na propriedade agrícola colonial, era cultivada no sistema de “consórcio”, o que significa que, na
mesma área, em linhas alternadas, eram colocadas as culturas de soja e milho. A colheita dos grãos das
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duas espécies, na época, era realizada manualmente, o que permitia o uso de duas culturas sobre a mesma
área.
A expansão da soja em áreas com mecanização agrícola, em que não era utilizado o consórcio, exigiu o
desenvolvimento de informações técnicas de grande complexidade para atender a este novo sistema de
cultivo.
Na tecnologia gerada na década de 1970, são incluídos os trabalhos de adaptação de novas cultivares de
soja e métodos de seu cultivo. Uma ampla rede de experimentação foi montada no Estado para gerar
informações sobre: 1) técnicas de semeadura; 2) controle de plantas invasoras; 3) pragas e moléstias; 4)
sistema de colheita mecanizada e 5) teste de novos materiais genéticos. Entre as mais significativas
transformações, pode-se citar a substituição de cultivares adaptadas ao sistema de consórcio para
cultivares que se adaptaram ao sistema de monocultivo.
6. ESTRUTURA DA PROPRIEDADE AGRÍCOLA NA DÉCADA DE 1970
A propriedade agrícola que adotou a soja e a cultivou de forma mecanizada estava no início de sua
estruturação como “unidade produtiva” de alta eficiência, cuja evolução resultou na eficiente “máquina de
produzir alimentos” dos dias de hoje.
As propriedades da década de 1970, em certo grau, evoluíram daquelas originadas quando da expansão da
cultura do trigo nas décadas de 1950 e 1960. Com o declínio da área de cultivo do trigo na década de
1970, a soja surgiu como a principal cultura que propiciou retorno econômico às propriedades que, então,
foram economicamente revitalizadas.
O novo modelo de estruturação e gerenciamento das propriedades contou com a participação dos
seguintes fatores: 1) agricultor com acesso às novas tecnologias; 2) agricultor experiente na gestão de
cultivos de grãos; 3) forte mecanização da propriedade; 4) acesso a insumos relativamente baratos.
Estes fatores, associados a preços adequados e com demanda de mercado por grãos de soja, deram um
vigoroso impulso às atividades agrícolas e deslocaram a economia agrícola para as áreas de produção de
grãos. A soja continuava sendo a cultura mais rentável, agora associada com o trigo, em sucessão, este
último cada vez com menor expressão econômica.
Os retornos econômicos gerados pela cultura da soja tiveram um forte impacto na região produtora que
via assim aumentar a riqueza regional não só na propriedade agrícola, mas principalmente, nas cidades
cuja atividade econômica foi impulsionada pela prestação de serviços, venda de insumos e máquinas e
toda o comércio e indústria decorrente.
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Em paralelo, as propriedades agrícolas de regiões tradicionais de agricultura familiar, baseadas nos
modelos de uso de baixa tecnologia e sem o cultivo de uma cultura de grãos de rápida comercialização,
enfrentavam um forte declínio econômico.
7. A
EXPANSÃO DESENFREADA DA SOJA NA DÉCADA DE
1970 E OS EFEITOS SOBRE AS
PROPRIEDADES AGRÍCOLAS
O sucesso do cultivo da soja em propriedades agrícolas estruturadas especificamente para o cultivo de
grãos de forma mecanizada fez com que em muitas regiões do Estado também se procurasse realizar o
cultivo no mesmo modelo.
Assim, a soja passou a ser cultivada na pequena propriedade, substituindo as culturas tradicionais cuja
rentabilidade estava comprometida. Outras regiões do Estado, como a Depressão Central e Serra do
Sudeste, viram surgir grandes lavouras de soja em áreas antes não dedicadas à agricultura,.
Coincidentemente, em alguns anos da década de 1970, os preços dos grãos da soja estavam extremamente
altos, permitindo a viabilização destas novas situações de lavouras com uso incipiente de tecnologias de
cultivo.
Passado o período de altos preços, que voltaram ao patamar histórico, as experiências de introdução da
soja em pequenas propriedades foram frustrantes, pois a rentabilidade da cultura, por si só, em pequena
extensão de terra, não era suficiente para sustentar a propriedade. Igualmente, nas regiões em que novas
áreas foram desbravadas com o uso de pouca tecnologia, as lavouras sucumbiram em razão de falta de
conservação de solo, altos custos de adubação e inexperiência de muitos agricultores.
Voltou, assim, a soja às regiões cujas propriedades estavam mais bem estruturadas.
8. A
EXPANSÃO A PARTIR DA DÉCADA DE
1980: A REESTRUTURAÇÃO DAS PROPRIEDADES
AGRÍCOLAS E A ADOÇÃO DA TECNOLOGIA DE CULTIVO
A articulação entre os elos da cadeia produtiva da soja começou a funcionar já a partir da década de 1970,
mas foi a partir de 1980 que ocorreu um novo impulso com bases sólidas e permanentes. O grão de soja
passou a ser uma “commodity” internacional e o Brasil entrou fortemente no seu comércio.
Em todos os momentos, após a estruturação da cadeia de produção, o fator “preço” foi fundamental para
manter a soja como a principal cultura de grãos do RS e a sua maior fonte de riqueza.
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Em paralelo, ocorria no RS outra grande revolução na tecnologia agrícola, similar àquela dos anos 60/70,
com a Operação Tatu. Foi o início da utilização do “Sistema de Semeadura Direta na Palha”.
A adoção do sistema permitiu que a erosão do solo fosse dramaticamente diminuída, os níveis de
fertilidade do solo e as condições físicas do mesmo fossem melhorados, dando, como conseqüência o
aumento do rendimento de grãos. Esta tecnologia foi baseada em longos programas de pesquisa em que se
envolveram as Universidades e Instituições Públicas e Privadas de Pesquisa Agrícola.
A adoção de tecnologia e a forma em que foram estruturadas as propriedades agrícolas, na sua gestão e no
manejo cultural, foram os pilares que deram e dão sustentação ao cultivo de grãos no Rio Grande do Sul.
Estas propriedades, ao produzirem grandes quantidades de grãos de soja, tornaram-se geradoras de
riqueza na agricultura.
Novamente, a partir da década de 1980, a soja começou a se expandir para regiões não tradicionais como
a Fronteira Oeste, Depressão Central e Vale do Uruguai, mas, desta vez, com maior sucesso. A razão
deste sucesso foi e é a transposição do modelo das propriedades agrícolas das regiões tradicionais de
cultivo de grãos de forma mecanizada, para as novas regiões. Isto significa: conhecimento técnico, uso
adequado do solo, manejo correto das lavouras e gestão de propriedade.
Este modelo de expansão da cultura da soja, dentro do RS, é o mesmo que ocorreu e ocorre em direção ao
Centro-Oeste do país, na zona de cerrados.
9. A SOJA NA MÉDIA E GRANDE PROPRIEDADE
A soja, como todos os grãos, tem progressivamente, ao longo do tempo, menor valor de mercado,
tornando-se um alimento mais barato e acessível à população de baixa renda. Isso ocasiona menor
rentabilidade do cultivo por unidade de área cultivada e, por decorrência, a exclusão de propriedades de
pequena extensão de lavoura, já que a rentabilidade total da propriedade não é suficiente para o sustento
do produtor.
Com isso, a soja passou a integrar o rol das espécies cultivadas em propriedades de 50 ha ou mais,
mecanizadas, que utilizam insumos e cujos agricultores têm conhecimento técnico de condução de
lavouras e capacidade de absorção de novas tecnologias.
A par disso, essas propriedades passaram a contar com logística própria ou de cooperativas, para o rápido
transporte, secagem e armazenamento de grãos.
Integrando esses dois enfoques, o agricultor pode gerar volumes expressivos de grãos que facilitam a
comercialização e amortização dos investimentos em máquinas e equipamentos.
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10. A SOJA COMO FONTE DE RIQUEZA E INCLUSÃO SOCIAL
A cultura da soja tem tido uma trajetória de sucesso como geradora de riquezas e inclusão social, mas às
vezes, por desconhecimento, lhe é atribuído o papel de vilã para justificar insucessos na agricultura.
Os insucessos na agricultura são decorrentes do mau planejamento, escolha de opções não adequadas e
falta de visão técnica do problema.
Em muitas ocasiões o cultivo da soja na pequena propriedade tem sido apontado como causa de sua
desestruturação agrícola. Este é um erro de avaliação, pois se o seu cultivo foi uma boa opção econômica
é por que o sistema tradicional então utilizado estava obsoleto e entrando em colapso financeiro. Com o
passar do tempo, mostrou-se que assim o foi e que o cultivo da soja deu uma sobrevida a um sistema
precário e antiquado.
O papel da soja como fonte de riqueza é incomensurável. Uma análise nesse sentido não pode ser feita
apenas no âmbito restrito das propriedades agrícolas, seja pelos insumos e máquinas que ela adquire ou
pela entrada de recursos que advém da venda dos produtos. Ele deve ser avaliado pela oportunidade de
geração de empregos e riqueza para todos os que orbitam de forma direta ou indireta na cadeia de
produção da soja. O resultado mais evidente é a riqueza e pujança das comunidades das regiões
produtoras.
11. A CULTURA DA SOJA E OS IMPACTOS AMBIENTAIS
Os impactos ambientais decorrentes da atividade agrícola podem ser tão brandos ou severos como os de
qualquer outra atividade humana. O fato de se utilizar uma ou outra espécie vegetal para a produção de
alimentos não é por si só o causador de maior ou menor impacto ambiental. O fator primordial é a
“gestão ambiental da propriedade agrícola”.
A conservação ambiental é perfeitamente compatível com a prática da agricultura, desde que sejam
utilizadas práticas racionais baseadas no “conhecimento científico”.
Uma das mais importantes práticas conservacionistas no Rio Grande do Sul é o uso do “sistema de
semeadura direta na palha”, que reduz substancialmente a erosão do solo, conserva nutrientes, aumenta
flora e fauna do solo e reduz as perdas de água. Este sistema também está sendo reconhecido como uma
das maiores fontes de retenção do carbono atmosférico. O sistema, pela eliminação da lavração, está
propiciando o aumento da matéria orgânica no solo, em cuja composição o carbono é preponderante. Este
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vem a ser um dos maiores avanços colocados em prática para realizar o “seqüestro de carbono” em
sistemas agrícolas altamente produtivos.
A par disso, o sistema de semeadura direta, associado ao sistema de rotação e sucessão de cultivos,
contribui para o efetivo aumento da diversidade da fauna e flora no solo agrícola e no ambiente externo.
Isto é devido ao grande aporte de carbono pelos resíduos de plantas e pela fonte de alimentos para
espécies maiores, que convivem no espaço agrícola.
Diferentemente do que é muitas vezes apregoado, a maior produtividade agrícola é fator essencial na
conservação dos recursos ambientais. Altas produtividades resultam de alta fixação de carbono e,
portanto, grandes quantidades de resíduos e alimentos são deixadas sobre o solo após a colheita dos grãos.
Por esta razão, a prática da agricultura, com uso racional de insumos, como adubos, resulta na mais rápida
recuperação da atividade biológica do solo. Também, a fauna, que coabita o nicho das lavouras, mostra
franca recuperação.
O uso de herbicidas, inseticidas e fungicidas, em todas as culturas de grãos, é uma prática essencial para a
viabilização da produção agrícola. Os impactos destes defensivos estão sendo progressivamente menores
em decorrência da especificidade da aplicação a organismos indesejáveis, do manejo correto e da baixa
toxicidade dos novos produtos ao homem e organismos não nocivos.
12. A LUCRATIVIDADE DA LAVOURA DE SOJA E O USO DE TECNOLOGIA
A geração de riqueza nos segmentos que compõem a cadeia de produção de soja é possível ser mantida
somente se o primeiro elo da mesma foi rentável e tiver continuidade de produção. Trata-se da
rentabilidade da propriedade agrícola, onde a soja é a principal cultura.
Como analisado anteriormente, a rentabilidade de pequenas propriedades, que dependem da soja como
cultura principal, está sendo progressivamente comprometida pelo baixo volume de produção (pequenas
áreas de lavoura). Quando o preço da soja é elevado, dando alta rentabilidade por hectare, a pequena
unidade produtora tem capacidade de manter-se por algum tempo. A situação é revertida em anos de
preços baixos ou por insucessos devidos a fatores meteorológicos adversos (seca, granizo, excesso de
chuvas, etc.) ou doenças (ferrugem asiática, etc.).
O sucesso de propriedades de tamanho médio a grande (acima de 100 ha) é devido aos seguintes fatores,
alguns já arrolados e discutidos anteriormente: 1) agricultor qualificado no uso da terra e das culturas; 2)
extensa mecanização; 3) rápida absorção de tecnologia; 4) logística adequada; 5) uso de insumos que
levam a altas produtividades.
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Este último aspecto merece uma discussão especial, pois é um fenômeno da conjuntura atual da produção
de diversos grãos (milho, trigo, soja e arroz).
De forma muito simplista, os custos de produção de uma lavoura de grãos são divididos em custos fixos e
custos variáveis.
Os custos fixos são aqueles inerentes ao funcionamento da propriedade tais como manutenção e
amortização de máquinas e equipamentos, remuneração de serviços e capital, etc. Poucos agricultores
estimam os custos fixos em razão de uma certa complexidade de sua estimativa e da dinâmica de
gerenciamento da propriedade.
Os custos variáveis são aqueles relacionados com os custos específicos com a lavoura em si,
principalmente os insumos como sementes, adubos, defensivos, combustíveis e lubrificantes, gastos com
pessoal, transporte, etc. Estes custos são os mais comumente utilizados pelos agricultores e que servem de
subsídios para sua decisão de optar por uma cultura ou outra.
Ao optar por custos variáveis, ao invés da soma dos fixos mais variáveis, o agricultor pode enganar-se da
rentabilidade da lavoura, caso sua remuneração seja inferior ao total desses custos.
Isso tem levado ao insucesso de propriedades que mantinham altos custos totais e baixos/médios custos
variáveis.
Uma das principais causas para isso foi o uso de baixa tecnologia de produção. As lavouras que produzem
1.500 kg/ha ou 3.000 kg/ha de soja têm custos de produção variável muito próximos. O custo do uso de
máquinas (combustível e manutenção) é pouco diferenciado entre estas duas lavouras, bem como os
custos de uso de herbicidas, fungicidas e inseticidas e de pessoal. Essas lavouras se diferenciam em maior
grau pelo uso mais intenso de fertilizantes, cuidados maiores com pragas e moléstias e o uso de cultivares
mais produtivas. O saber tecnológico permite que, com poucos investimentos a mais o agricultor pode
passar de uma condição de baixa tecnologia, muitas vezes com prejuízos, a alta tecnologia, com lucros.
Os custos de produção estimados são baseados em condições médias de lavouras, para o Estado. No
entanto, em cada propriedade, o custo de produção vai depender da gestão empresarial e da capacidade de
uso da tecnologia disponível. Os resultados mais palpáveis podem ser vistos nas propriedades agrícolas
que adotam o sistema exposto acima. Nelas observa-se sensível melhoria na qualidade de vida dos
agricultores, maiores investimentos nas propriedades (melhoria do parque de máquinas e instalações),
melhoria do manejo das culturas e, muitas vezes, ampliação da área de cultivo.
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