ROSÂNGELA COSTA ALVES
A COMUNICAÇÃO ENTRE INTEGRADORA E INTEGRADOS: O CASO DA
AGROINDÚSTRIA SUINÍCOLA NO MEIO-OESTE CATARINENSE
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Curso de Extensão
Rural, para obtenção do título de
“Magister Scientiae”.
VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
DEZEMBRO - 1999
ROSÂNGELA COSTA ALVES
A COMUNICAÇÃO ENTRE INTEGRADORA E INTEGRADOS: O CASO DA
AGROINDÚSTRIA SUINÍCOLA NO MEIO-OESTE CATARINENSE
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Curso de Extensão
Rural, para obtenção do título de
“Magister Scientiae”.
APROVADA: 27 de maio de 1999.
Marília Fernandes Maciel Gomes
Antônio do Carmo Neves
Geraldo Magela Braga
(Conselheiro)
José Benedito Pinho
(Conselheiro)
José Geraldo Fernandes de Araújo
(Orientador)
A meu marido Sergio, pelo constante incentivo.
A meus filhos Marcel e Marina, pelo carinho e pela alegria.
A meus pais Acir e Neuza, pela vida.
A minha avó materna (in memoriam), pelo conforto e pelo amor.
A meus sogros Rubem Alves (in memoriam) e Thalita,
pelo aconchego.
A meus irmãos Rosi, Estela, Rosana e Eugênio,
pela amizade.
A meus sobrinhos.
ii
AGRADECIMENTO
A Deus, Força Cósmica e Criadora.
À Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a todos os professores e
funcionários do Departamento de Economia Rural.
Ao CNPq, que viabilizou a realização do curso de Mestrado.
A Hélder Machado, Diretor da Secretaria de Agricultura, e a Idair Piccinin,
Secretário Municipal de Agricultura da Prefeitura de Concórdia, pelo valioso
auxílio durante a coleta de dados.
Ao professor orientador José Geraldo Fernandes de Araújo, pela amizade
e pela orientação.
Ao Comitê de Orientação.
Em especial, a Antônio Lourenço Guidoni, pesquisador da EmbrapaSuínos e Aves, e à Marília Fernandes Maciel Gomes, professora da UFV.
A todos os colegas da turma de Mestrado em Extensão Rural.
Aos produtores rurais de Santa Catarina entrevistados.
Aos amigos Esmeralda Thomás Afonso, Dr. Evandro Oliveira e Cândida,
Antonio Freitas e Maria do Carmo, Luiz Albino e Vanja.
A Marcelo Silva de Freitas, estudante de graduação em Zootecnia.
A todos que me ajudaram anonimamente, para que chegasse ao término
de meu curso.
iii
BIOGRAFIA
ROSÂNGELA COSTA ALVES, filha de Acir Porciuncula Costa e Neuza
Morêda Costa, nasceu em 29 de julho de 1960, na cidade de Pelotas, Rio
Grande do Sul.
Em 1995, obteve o título de Bacharel e Licenciada em Economia
Doméstica, na Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa-MG.
Em 1995, iniciou o curso de Mestrado em Extensão Rural.
Atualmente, exerce a função de instrutora e consultora, prestando
serviços ao SENAR, SENAC e SEBRAE nas áreas de Comunicação,
Propaganda e Marketing e Desenvolvimento de Comunidades.
iv
CONTEÚDO
Página
EXTRATO .............................................................................................
vii
ABSTRACT ...........................................................................................
ix
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................
1
1.1. Da criação tradicional à suinocultura integrada .........................
7
1.2. O problema e sua importância ..................................................
17
1.3. Objetivos ....................................................................................
25
1.3.1. Objetivo geral ......................................................................
25
1.3.2. Objetivos específicos ...........................................................
25
2. METODOLOGIA ...............................................................................
26
2.1. Descrição da área de estudos ...................................................
26
2.2. Descrição da unidade de análise ...............................................
27
2.3. Coleta de dados .........................................................................
28
2.4. Modelo conceitual ......................................................................
31
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................
54
v
Página
3.1. Descrição dos suinocultores e do sistema produtivo .................
54
3.2. Perfil dos técnicos ......................................................................
85
3.3. A comunicação da integradora e a percepção dos produtores..
88
3.3.1. Mensagens sobre administração rural ................................
94
3.4. Os produtores e os meios de comunicação utilizados ..............
95
4. RESUMO E CONCLUSÕES .............................................................
115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................
128
APÊNDICES .........................................................................................
131
APÊNDICE A ........................................................................................
132
APÊNDICE B ........................................................................................
137
APÊNDICE C ........................................................................................
142
vi
EXTRATO
ALVES, Rosângela Costa, M.S., Universidade Federal de Viçosa, dezembro de
1999. A comunicação entre integradora e integrados: o caso da
agroindústria suinícola no meio-oeste catarinense. Orientador: José
Geraldo Fernandes de Araújo. Conselheiros: Geraldo Magela Braga e José
Benedito Pinho.
O estudo de caso fundamenta-se na análise do processo de
comunicação interpessoal a partir da Teoria de Aprendizagem, empregada por
Berlo, em 1963. As unidades de análise estudadas foram o universo de
produtores familiares do município de Concórdia (produtores de leitões),
integrados à agroindústria Sadia Concórdia S.A., e os técnicos que dão
assistência técnica. Os produtores foram classificados em cabeça, média e
cola, pelo método de Gestão Agrícola, que se baseia no levantamento de
dados físicos e econômicos das propriedades, com base na margem bruta de
produção. Conforme os objetivos propostos, caracterizaram-se os produtores
integrados, os técnicos, a organização interna da produção, assim como a
relação de comunicação interpessoal entre integradora-integrado. Este estudo
possibilitou compreender melhor o processo de construção da relação de
comunicação, das mensagens e de seus significados, e permitiu também
observar as expectativas de ambos os envolvidos no processo de
vii
comunicação, para que ocorra mudança de comportamento e seja efetivada a
aprendizagem.
viii
ABSTRACT
ALVES, Rosângela Costa, M.S., Universidade Federal de Viçosa, December
1999. The communication among integrator and integrant: the case of
the swine agroindustry in the middle-western Santa Catarina State.
Adviser: José Geraldo Fernandes de Araújo. Committee Members: Geraldo
Magela Braga and José Benedito Pinho.
The case study is based on the analysis of the
interpersonnal
communication process from the Learning Theory applied by Berlo in 1963. The
studied units of analysis were the universe of family producers in the Concord
county (pig producers), integrated to the Sadia Concórdia S.A. agroindustry and
the technicians who provide technical attendance. The producers were
classified as the highest, the average and the lowest indices of productivity by
the Agricultural Management method, which is based on the survey of the
property physical and economic data with the basis on production gross margin.
According to the proposed objectives, the integrated producers, the technicians,
the internal production organization, as well as the relationship o interpersonnal
communication among integrator-integrant were characterized. This study made
possible for a better understanding on the process of the communication
relationship construction, the messages and their meanings, and it also allowed
to observe the expectations of both involved in the communication process, so
that the behavior changes can happen and learning can be accomplished.
ix
1. INTRODUÇÃO
A globalização da economia e a abertura do mercado interno a
produtos estrangeiros impõem inúmeros desafios ao setor agroindustrial,
obrigando as empresas nacionais a aumentarem sua competitividade,
adequando seus produtos e serviços aos níveis de qualidade internacionais.
A Sadia Concórdia S.A. é uma empresa agroalimentar, de âmbito
nacional, considerada um dos maiores grupos agroindustriais brasileiros. Essa
posição privilegiada no panorama agroindustrial deve-se a sua excelente
penetração no mercado interno e externo.
A Sadia Concórdia S.A. vincula os produtores familiares (fornecedores
de suínos), via contrato oral, ao chamado “Sistema de Integração”, que pactua
normas zootécnicas, de sanidade, etc.
No setor agroindustrial, a qualidade exigida pelo consumidor influencia
todos os elementos da cadeia produtiva, assim como todas as etapas dessa
cadeia.
O enfoque da qualidade é utilizado por ela para antecipar as
necessidades e satisfazer às expectativas e exigências dos consumidores. A
qualidade do alimento industrializado depende, também, da qualidade da
matéria-prima agrícola. Para isso, ela busca incorporar ao seu sistema
produtivo
as
inovações
tecnológicas,
modificando
constantemente as
características quantificáveis dos produtos, como valor nutricional, higiene,
presença de resíduos, e os aspectos relacionados com produção, como efeitos
1
no meio ambiente e manejo dos animais, os quais desempenham papel cada
vez mais importante na decisão de compra dos consumidores.
A qualidade preconizada pela integradora tem relação não-somente
com elementos de ordem sanitária e tipo de composição molecular do produto,
mas também com a busca de produtividade, de qualidade e de quantidade.
Esses padrões são constantemente processados na interação que se
estabelece entre o técnico da empresa integradora e o integrado, criando certa
previsibilidade quanto às necessidades de matéria-prima de certa qualidade e
certa quantidade, a determinado preço, por parte da indústria. Por outro lado, o
produtor, estimulado por essas mensagens, apropria-se de tecnologias de
produção. Além disso, nesta relação contratual oral que se materializa pela
interação do técnico e do produtor, diminuem-se as incertezas destes a
respeito dos resultados da comercialização e, conseqüentemente, do resultado
final da atividade econômica.
O sistema de integração tem sido viabilizado
por essa relação de
comunicação que é resultante da expansão da articulação da agriculturaindústria (via contratualização oral), desde o final da década de 60, relação
esta que favoreceu a utilização de pequenas unidades produtivas, evitando, por
parte da indústria, grandes investimentos na produção da matéria-prima para
sua transformação.
Este estudo analisa a percepção dos produtores de suínos, integrados
à Sadia Concórdia S.A., diante da relação de comunicação interpessoal
(técnico-produtor), no Sistema Integrado. Essa relação de contrato entre os
atores (produtores rurais e integradoras) requer uma gama de serviços de
apoio (redes de distribuição, transportes, serviços logísticos diversos) e tem
gerado controvérsias, sobretudo porque envolve pequenos produtores rurais
(familiares) e grupos agroindustriais de grande porte.
A contratualização tem sido objeto de muitos questionamentos, pois
pode constituir instrumento de reprodução e ascensão social para a camada de
agricultores que têm dificuldades crescentes; ou, ao contrário, pode tratar-se de
uma nova forma de subordinação e empobrecimento; ou, ainda, de uma forma
de desenvolvimento da agricultura familiar. Com certeza, essa articulação da
agricultura contratualizada com a indústria, paralelamente à modernização,
2
favorece a transformação e a expansão da atividade suinícola, assim como o
crescente desenvolvimento do setor industrial.
No Brasil, a partir da década de 70, houve expressivo desenvolvimento
das agroindústrias, seguido de transformações e alterações estruturais de toda
a matriz da cadeia produtiva. Da chamada “era da agricultura tradicional”
(dentro da fazenda) passou-se à “era do agribusiness ou complexo
agroindustrial” ( fora da fazenda), marcada
por profundas mudanças das
relações tecnológicas, produtivas, comerciais e financeiras.
Segundo ALVES (1996),
essas mudanças foram e serão irreversíveis, principalmente com relação à
modernização da agricultura, que cada vez mais demandará e absorverá
tecnologias modernas. Portanto, não mudará a interdependência entre
insumos, produção agropecuária, processamento/distribuição e ecologia, ou
seja, o “dentro da fazenda” está sendo e continuará influenciado diretamente
pelo “fora da fazenda”.
A tecnologia desempenha papel cada vez mais importante na exp licação
das estruturas industriais e do comportamento competitivo das empresas.
GEPAI (1997) afirmou que, em empresas de sucesso, 40 a 60% do
faturamento é realizado por produtos que há cinco anos inexistiam no mercado.
Esse fato evidencia a importância de integrar as inovações tecnológicas ao
conjunto das ações de reflexão estratégica das empresas. Embora as
empresas de pesquisa e as agroindústrias tenham conseguido grandes
avanços na descoberta e na adaptação de
tecnologias que aumentem a
produção e a produtividade das atividades agropecuárias, os produtores nem
sempre adotam essas tecnologias, de forma eficiente.
Além das sinergias tecnológicas, de produção, de gestão e comerciais,
um enfoque da cadeia de produção pode revelar importantes sinergias no fluxo
de informação, outro fator importante da competitividade.
Tanto o avanço tecnológico como as exigências dos consumidores finais
induzem à mudança no sistema produtivo das cadeias agroalimentares.
Segundo a GEPAI (1997), cadeia da produção
é uma sucessão de operações de transformação dissociáveis, capazes
de ser separadas e ligadas entre s por um encadeamento técnico; o
pode ser um conjunto de relações comerciais e financeiras que
estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo d
troca, situado a montante e jusante, entre fornecedores e clientes; ou,
3
então, o conjunto de ações econômicas que presidem
valoração dos
meios de produção e asseguram a articulação das operações.
A produção agropecuária “dentro da porteira” passa a ter,
cada ve
mais, ligações com as atividades industriais, comerciais, financeiras, logísticas,
etc. Portanto, as agroindústrias fazem parte de uma matriz produtiva em que há
grandes interações de insumos e produtos ao longo das varias cadeias
produtivas específicas.
Nessa visão sistêmica, considera-se que todo o sistema evolua no
espaço e no tempo em função de mudanças internas e externas. Como
sistema, uma cadeia de produção agroalimentar também estará sujeita a
mudanças ao longo do tempo. Em razão disso, a produção está, lentamente,
se adequando a essa nova realidade, principalmente em relação à
produtividade
e
à
qualidade
do
produto
entregue
às agroindústrias
transformadoras.
As crescentes exigências dos mercados regionais (MERCOSUL,
NAFTA, CEE) e de outros mercados externos, além de mudanças nos
mercados internos, criam enormes pressões para que todos os participantes da
cadeia
produtiva
dos
agronegócios busquem,
mediante
aumento da
produtividade e competição tecnológica, manter, conquistar e ampliar
mercados. Tudo isso exige adequações nem sempre fáceis e isentas de efeitos
perversos, especialmente na agricultura familiar, reconhecidamente o elo mais
fraco das cadeias produtivas do agronegócio (GEHLEN, 1996).
Os novos padrões de concorrência induzem as empresas a obterem
ganhos e avanços na tecnologia de produção, na logística, na comercialização,
etc. Em dado momento, sob dadas condições, elas adotam uma série de
estratégias e práticas que visam assegurar sua sobrevivência e seu
crescimento nesses ambientes de intensa concorrência, dentre as quais se
destacam as combinações mais eficientes dos fatores de produção; a utilização
de insumos e processos que resultem em maior produtividade e redução de
custos; e a adoção de estratégias mercadológicas (segmentação de mercados,
diferenciação de produtos e outros).
A adoção do sistema de integração tem sido uma das estratégias
crescentemente utilizadas pelas agroindústrias brasileiras para obterem ganhos
econômicos, valendo-se das vantagens que esse arranjo institucional
apresenta para elas e, qualificadamente, para os produtores familiares.
4
KAGEYAMA (1990) afirmou que, no sistema de integração, pressupõese que haja o relacionamento e a dependência direta entre produção familiaragropecuária e empresa integradora. Assim, o sistema de integração pode ser
definido como um conjunto formado de elementos ou
subelementos em
interação, o qual se caracteriza pelas seguintes condições: estar localizado em
dado ambiente; cumprir uma função ou exercer uma atividade; ser dotado de
uma estrutura e evoluir no tempo; além de ter objetivos definidos.
Este trabalho analisa, especificamente, a relação de comunicação entre
técnicos da Sadia Concórdia S.A. e produtores especializados na produção de
leitões. Essa comunicação é um elemento fundamental da relação integradoraintegrado, visto que,
por meio dela, são transmitidas, processadas e
retroalimentadas as mensagens de conteúdo técnico e econômico que
constituem o núcleo cimentador dos interesses entre um e outro agente.
A empresa integradora, com vistas em garantir a qualidade do sistema
de produção, em especial na suinocultura, exige que os integrados executem
todos os procedimentos orientados pela assistência técnica, tais como
construção
de
instalações;
manejo
adequado;
cuidados sanitários;
melhoramento genético; e utilização de rações e, ou, de concentrados
recomendados, induzindo-os a adequarem seus produtos, serviços e
ambientes aos padrões preconizados.
Com o objetivo de levar aos suinocultores, produtores de leitões,
mensagens que possam permitir um progresso socioeconômico, utiliza-se o
Manual do Suinocultor Integrado, elaborado pela área agropecuária - setor de
fomento suinícola. Nesse documento, a integração de suínos implica
um acordo através do qual a empresa e o produtor fazem um esquema
de colaboração mútua, com a finalidade de produzir suínos, cabendo
cada uma das partes, diferentes fases da produção”. Com essa troca de
benefícios, a Sadia fornece a assistência técnica, insumos e o mercado,
enquanto o criador se responsabiliza pela criação propriamente dita, para
o bem comum. Iniciado há mais de quinze anos, o Sistema de Integração
de suínos da Sadia assumiu, no decorrer dos anos, posição de destaque
em função do grande trabalho desenvolvido pelos suinocultores da região
(MANUAL..., 1995).
A exigência da integradora em segmentar seus “integrados” e
diferentes fases do ciclo de produção, segundo ela, visa à especialização ou à
profissionalização desses integrados.
5
Os produtores de ciclo completo que detê m o controle de todo o
processo produtivo passam a produzir apenas leitões ou são encarregados da
terminação dos suínos. Essa segmentação da produção, segundo a Sadia
Concórdia S.A., visa à promoção do processo seletivo dos integrados, cuja
meta é modificar comportamentos, diminuir custos de produção e incorporar
procedimentos advindos dos métodos de gestão empresarial, com o fim de
promover um salto qualitativo no processo de produção e a melhoria da
qualidade da matéria-prima e, conseqüentemente, do produto final. Entretanto,
a produção familiar assume um caráter importante não só pelo grande
contingente de produtores envolvidos nesse sistema, mas pelo volume de
empregos diretos e indiretos gerados e pelo risco de estes sere
negligenciados.
Na
prática,
essa
especialização,
segundo
BRANDENBURG e
FERREIRA (1995), tem sido uma forma indireta de exclusão dos pequenos
produtores, de ciclo completo, que não têm meios para aumentar a sua escala
de produção e não querem se especializar na terminação. Isto vem
acontecendo com os antigos integrados e é praticamente uma regra para os
novos candidatos à integração.
Para a Sadia Concórdia S.A., o desempenho desses produtores estaria
dependendo quase que exclusivamente da melhoria do padrão sanitário e do
aumento da escala de produção com base na qualidade e na produtividade
adquirida através da comunicação interpessoal.
A comunicação interpessoal é, freqüentemente, utilizada e definida como
a troca de informações entre o técnico e o produtor. Embora não haja um
modelo único de comunicação humana que leve em consideração todos os
elementos que possam estar envolvidos, os esforços de comunicação são
intercâmbios tanto simbólicos como
interpessoal
é
comportamentos.
a
chave
para
o
comportamentais. A comunicação
entendimento
desses símbolos e
A exatidão da comunicação ocorre quando o receptor
consegue interpretar (perceber) os sinais de modo consistente e também a
intenção
do
transmissor.
Pressupõe-se
que
pessoas
diferentes,
freqüentemente, dêem significados diferentes a coisas e eventos, razão por
que as mensagens comunicadas nem sempre são percebidas da forma
pretendida.
6
Busca-se, neste estudo, analisar a percepção desses produtores
integrados suinícolas em relação à comunicação veiculada pela integradora,
visto que a percepção é a compreensão ou o ponto de vista que as pessoas
têm das coisas, do mundo ao seu redor. Esta percepção é de extrema
importância para a compreensão do comportamento, uma vez que as pessoas
agem com base no que pensam, no que vêem ou no que compreendem. Para
tanto, é necessário contextualizar sua história, ou seja, interrogar o passado.
1.1. Da criação tradicional à suinocultura integrada
Por várias décadas, a suinocultura brasileira permaneceu estável como
exploração tradicional e rudimentar, sem que qualquer inovação tecnológica ou
índice de produtividade fosse a ela incorporada, seja nas características dos
animais, seja nas instalações, no manejo e na alimentação do rebanho.
Até o final dos anos 50, os suínos serviram para a produção de gordura,
produto bastante apreciado na alimentação, utilizado no preparo da
alimentação humana. Na três últimas décadas, em razão do crescimento do
consumo de óleo de origem vegetal, que substituiu a gordura animal, passouse a direcionar a produção de animais para a industrialização, com
rendimentos cada vez maiores de carne em detrimento de gordura na carcaça.
No Brasil, os primeiros suínos foram introduzidos pelos colonizadores
portugueses e pertenciam às raças da Península Ibérica. Dentre as principais
raças portuguesas que tiveram influência na formação das raças nacionais,
encontravam-se Alentejana e Transtagana, Calega, Bizarra, Beiroa, Macau e
China. Essas raças cruzaram-se desordenamente e deram origem às raças
nacionais, que, de certa forma, sofreram alguma interferência do meio
ambiente. Dentre essas raças, destacam-se Piau, Tatu, Pereira, Nilo,
Pirapitinga, Canastra, Canastrão, Caruncho e Estrela. Além da influência das
do tipo ibéricas, célticas e asiáticas, essas raças também sofreram
interferências das raças americanas, tais como Duroc e Poland China. O
aprimoramento ocorreu a partir de fins do século XIX e início do século XX
(GOMES et al., 1992).
A suinocultura no Estado de Santa Catarina, segundo MIRANDA (1995),
foi introduzida na região oeste de Santa Catarina por produtores familiares, a
7
partir dos primeiros colonizadores oriundos do Rio Grande do Sul e
descendentes de europeus, entre as décadas de 20 e 30 deste século.
Em 1912, a subsidiária Brazil Development y Colonization Co.,
responsável pela venda das terras nessa região, denominadas colônias,
forneceu os reprodutores dessa espécie animal aos agricultores que chegavam
à região. A atividade desenvolveu-se com animais de raça comum (tipo banha)
não apenas para autoconsumo mas também para comercialização (herdaram
essa tradição comercial dos seus antepassados europeus), principalmente de
seus derivados - lingüiça e banha.
Em razão dos avanços alcançados principalmente pela suinocultura do
Sul do País, pode-se caracterizar o rebanho suíno brasileiro em dois estratos
bem definidos quanto a sua composição genética, ou seja, o estrato de raças
especializadas na produção de carne ( Duroc, Large White, Landrace e seus
cruzamentos) e aquele que utiliza animais das raças nativas ou nacionais
(Piau, Canastra, Nilo, etc.), destinados à produção de gordura.
Esses produtores familiares do Sul do Brasil foram os principais
responsáveis pela produção de suínos, visto que essa atividade necessitava de
algumas técnicas peculiares para desenvolver-se. A exigência de pouca área
de terra e o pequeno porte dos animais adaptavam-se, perfeitamente, às
exigências das pequenas propriedades, e a produção de matéria orgânica para
a lavoura permitia a transformação do suíno em subprodutos (a banha era um
dos subprodutos essenciais à dieta das famílias coloniais).
A evolução da suinocultura, conforme MIRANDA (1995), pode ser
evidenciada em quatro fases.
Na primeira fase (antes de 1935), houve a
comercialização de
excedentes da produção para subsistência, o que possibilitou a acumulação de
pequeno excedente no setor comercial, além da reprodução da família. Nessa
fase, o relacionamento entre a agroindústria e produtor não teve grande
interferência no processo de trabalho agrícola, visto que a agroindústria se
limitava a adquirir a matéria-prima - o porco tipo banha.
Na segunda fase, de 1935 a 1945, a
suinocultura ampliou-se
geograficamente e houve aumento da acumulação do capital comercial,
firmando-se como principal atividade comercial na região e integrando-se,
economicamente, ao cenário brasileiro.
8
Na terceira fase, de 1945 a 1965, iniciou-se a contratualização de
agricultores pelas indústrias
agroalimentares. As agroindústrias adotaram,
como critério de seleção, a condição familiar da exploração, em razão da
disponibilidade dos agricultores e da dedicação destes à terra e ao seu
patrimônio - uma diferença que consideram fundamental em relação às
explorações operadas só por assalariados. Nos EUA e em vários países
europeus, essa situação ocorreu na década seguinte. Em meados da década
de 60, raças exóticas foram introduzidas no Brasil, procedentes dos Estados
Unidos e da Europa.
No
Brasil,
surgiram
grandes frigoríficos,
o
que
consolidou,
definitivamente, a atividade suinícola como a principal atividade comercial. O
relacionamento entre indústrias agroalimentares e agricultores estreitou-se,
ocorrendo, nos frigoríficos, maior centralização no comércio de suínos via
intermediação.
Na quarta fase, após 1965, a suinocultura inseriu-se na política mais
ampla de modernização da atividade agropecuária nacional. Com o auxílio do
Estado, por meio de políticas integradas, assegurou-se a ampliação de
mercados para os ramos industriais que visavam à venda de máquinas, de
equipamentos e de outros insumos agrícolas ditos modernos. Nesse período,
houve a eliminação de impostos sobre os principais
(tratores, fertilizantes e outros),
insumos agrícolas
e o crédito rural tornou-se viável e com
menores taxas de juros. Nessa mesma época, o Ministério da Agricultura e o
USAID firmaram convênio com vistas na assistência à suinocultura.
Durante a primeira fase desse convênio, efetivou-se a capacitação dos
técnicos, com o objetivo de criar infra-estrutura humana e material necessária
para o treinamento desses suinocultores na produção de suínos tipo carne. As
unidades didáticas foram instaladas junto às Escolas
Agrotécnicas e aos
Centros de Treinamento da ACARESC.
Num segundo momento, o treinamento dos suinocultores foi viabilizado
nessa época, dado que o padrão tecnológico preconizado levava em conta as
especificidades das unidades familiares de produção, o que garantia maior
autonomia aos suinocultores.
A forte influência da colonização italiana e alemã, que fixou os colonos
em
pequenas
propriedades
no
Sul
9
do País,
possibilitou expressivo
desenvolvimento da suinocultura nessa região. Com o decorrer do tempo,
esforços contínuos foram despendidos na modernização da produção e do
parque industrial, sendo introduzidas raças mais especializadas na produção
de carne.
A introdução do porco tipo carne também estava relacionada com novas
exigências do mercado consumidor que demandava produtos menos
gordurosos, condição necessária para eventual exportação.
A história do desenvolvimento da suinocultura em Concórdia confundese com o surgimento da Sadia Concórdia S.A., em 1944. Essa indústria
agroalimentar tinha como principal objetivo a aquisição de animais (tipo banha),
para processamento e comercialização. Posteriormente, importou animais
puros diretamente dos maiores países produtores (EUA, Dinamarca e
Alemanha) para realizar o melhoramento genético da atividade suinícola,
dando passos decisivos rumo à modernização.
A partir de 1954, foi criado o Serviço de Fomento da Sadia S.A., que, por
meio da divulgação de inovações tecnológicas, buscava introduzir técnicas de
produção que visavam atender à demanda crescente de matéria-prima para o
frigorífico em expansão. O objetivo básico era melhorar e assegurar a
qualidade genética e sanitária dos rebanhos.
A preocupação com o “fomento” da atividade suinícola estava
intimamente ligada à necessidade de se obter carne suína em quantidade e
qualidade adequada à sua capacidade de abate, durante todo o ano, bem
como de garantir a melhoria da qualidade mediante introdução de reprodutores
de raças mais especializadas (mais carne e menos gordura), a qual
assegurasse melhor rendimento no processamento do produto.
O “fomento” da atividade era realizado com o auxílio dos assistentes
técnicos que, em reuniões nas comunidades rurais, distribuíam folhetos com
informações sobre a atividade suinícola.
O sistema de integração na Sadia Concórdia S.A. foi implantado nos
anos 60, por Atílio Fontana, proprietário da empresa. Esse modelo visava obter
produtos de qualidade, mediante vantagens competitivas e decisivas no
mercado de carne e derivados de suínos, estratégia esta posteriormente
seguida por outras empresas agroalimentares brasileiras.
10
Com base nesse modelo, a Sadia Concórdia S.A. passaria a fornecer
matrizes de raça mais especializadas, medicamentos, ração balanceada e
assistência técnica direta aos produtores e a exigir a introdução de pocilgas
mais sofisticadas e de rações balanceadas e adoção de uma série de medidas
direcionadas ao controle sanitário. Esse novo padrão de produção agrícola
dependeu de financiamento agrícola para ser implantado. Dessa forma,
lançava-se a base para uma futura relação contratual entre agroindústria e
produtor.
A ACARESC, nas décadas de 60 e 70, desempenhou papel decisivo na
modernização da atividade suinícola - integrada, contribuindo, em parceria com
diversas entidades e programas, para elevar a produtividade da suinocultura
catarinense, que passou de um índice de desfrute de 45%, nos anos 60, para
taxas superiores aos 150%, nos dias atuais.
Nessa época, a maior parte dos pr odutores assistidos pela extensão
rural oficial vinculava-se aos sistemas integrados, passando a receber
assistência técnica diretamente das empresas integradoras, o que acarretou o
esvaziamento do trabalho extensionista junto a esse segmento de produtores.
No entanto, a ACARESC continuou atuando junto aos produtores nãointegrados, aqueles menos modernizados e que não entraram na primeira
etapa
da
modernização.
As
agroindústrias
recrutaram
técnicos mais
experientes da ACARESC, para formarem seus quadros de assistência técnica
e fomentar os suinocultores.
A partir dos anos 50 até a década de 70, a orientação teórica que
norteou a pesquisa em comunicação agrícola enfatizou a transferência
tecnológica de países desenvolvidos para nações em desenvolvimento. As
premissas de comunicação para o desenvolvimento rural vão estar ligadas à
concepção sociológica de desenvolvimento, denominada difusionismo.
O difusionismo destaca-se por considerar a sociedade a partir de uma
visão dicotômica - um pólo valorado negativamente e outro positivamente. O
primeiro é denominado “atrasado”, e o segundo, “moderno”. Partindo dessa
concepção, os difusionistas defendem a existência de estágios diferenciados
entre as sociedades (subdesenvolvidas e desenvolvidas) e, ou, entre
subsistemas de uma mesma sociedade (meio rural e urbano). Para se alcançar
o desenvolvimento, devem-se superar tais diferenças mediante a introdução de
11
recursos oriundos do pólo valorado positivamente, os quais podem ser os mais
diversos possíveis - financeiros, tecnológicos, comportamentais, educacionais,
etc. A introdução de tais recursos permitia que as sociedades “atrasadas”
recuperassem o espaço histórico que as separava das sociedades “modernas”.
A Sadia Concórdia S.A. utilizou-se desse modelo de comuni cação da
extensão rural oficial como orientação teórico-metodológica para difundir e
transferir tecnologias.
A partir da década de 70, em razão do aumento das integrações
agroindustriais, as tecnologias difundidas passaram a não mais contemplar as
especificações individuais de cada estabelecimento agrícola, visto que
predominava a difusão de pacotes tecnológicos que impunham uma forma
preconizada de criar suínos. Com isso, houve ruptura na forma de produção de
suínos, pois os grupos agroindustriais necessitavam de matéria-prima em
maior quantidade e qualidade, enquanto os produtores não percebiam
vantagens imediatas nessa transformação tecnológica, pois a remuneração do
porco tipo banha era equivalente ao do tipo carne.
No Brasil, essa forma de articulação e intervenção via sistema integrado,
da indústria sobre a agricultura, teve seu grande surto de desenvolvimento no
início da década de 70 e início da de 80.
O contrato de produção, seja verbal ou escrito, foi o instrumento que
formalizou a relação suinocultor-agroindústria. Por meio dele, a agroindústria
controla a atividade do suinocultor, impondo índices de produtividade que
obedecem a padrões industriais da atividade, mediante a substituição
crescente de produtos in natura ou rústicos por produtos processados ou
produzidos industrialmente.
Segundo a Sadia Concórdia S.A., o sistema da integração oferece as
seguintes facilidades aos produtores:
•
Encaminha propostas para financiamentos bancários por intermédio dos
técnicos da Sadia, sem despesas para o criador;
•
Recebe plantas, efetiva contratos com construtores e obtém orientações
sobre as construções, por intermédio do técnico que os assiste;
•
Viabiliza toda a assistência técnica e veterinária para a criação de suínos;
•
Obtém reprodutores para os plantéis de suínos, a preços de custo e com
prazos de até um ano de pagamento;
12
•
Obtém rações necessárias para a criação, com pagamento na entrega dos
animais;
•
Adquire, a preços de custo, mudas de árvores frutíferas e para
reflorestamento; e
•
Adquire sementes certificadas de milho, a preços de custo, com pagamento
em suínos.
Ao mesmo tempo, a integradora estabelece um conjunto de critérios,
variáveis em função da conjuntura e da região, para seleção dos produtores
integrados.
Segundo PAULILO (1990), produtores in tegrados verticalmente são
aqueles que recebem insumos e orientação técnica de uma agroindústria
mediante contrato, cuja produção é controlada pelo integrador. De acordo com
essa autora, ao optar pela integração, o produtor busca segurança e
comodidade, ou seja, quer garantir o mercado para sua produção sem precisar
sair de casa para comprar insumos ou vender animais. Além disso, esta
integração valoriza a assistência técnica, que tende a abranger todas as
atividades da propriedade.
A desvantagem desse si stema de integração estaria na inexpressiva
participação dos produtores na determinação dos preços e na impossibilidade
de escolherem os compradores que pagam preços mais altos para venderem
sua produção nas épocas de escassez de suínos. De acordo com essa autora,
há, em geral, o reconhecimento de certa troca de benefícios na produção
integrada, os quais não são expressos somente nos preços. As empresas
fornecem capital de giro aos produtores (ração, medicamentos, etc.), que é
pago por ocasião da venda da produção.
Outro aspecto importante é a viabilidade de assistência técnica, razão
por que a integração é vista como o elo que permite ao produtor não ficar para
trás dos que se modernizaram, já que, mesmo quando criticam a empresa
integradora, são conscientes de que pior seria sem ela. Um ponto comum nos
estudos sobre integração, mesmo nos mais críticos, é a constatação de que o
produtor não quer deixar de ser integrado, embora queira melhorar seu poder
de barganha junto às empresas.
13
A produção de suínos, para FERREIRA (1995), é realizada por meio da
mão-de-obra familiar, visto que os integrados são zelosos; cuidam da criação,
já que esta é seu patrimônio; e os custos de produção tendem a ser
rebaixados, pois, além do cuidado com os suínos, realizam outras tarefas,
muito freqüentemente às despensas de horas livres ou de lazer, ao mesmo
tempo que as horas de pique são compartilhadas com outros membros da
família e não são contabilizadas como horas extras, como seria no caso da
utilização exclusiva de mão-de-obra externa à propriedade. Alguns insumos
produzidos no próprio estabelecimento e não-contabilizados como mercadorias
são utilizados como complementação da alimentação animal, o que rebaixa o
custo do produto final.
Durante a década de 70, segundo MIOR ( 1992), o padrão tecnológico
estava centrado no processo de substituição de insumos agrícolas por insumos
industriais. Esse processo diminuiu o ritmo e, em alguns casos, seguiu na
direção inversa, mudança associada à pressão advinda da segunda crise do
petróleo, de 1979, que resultou em políticas de diminuição do consumo e em
busca de substitutos para este produto.
Segundo AGUIAR (1993), para que a organização interna da produção,
baseada no caráter familiar da força de trabalho e no acesso à terra e aos
meios necessários à produção, seja mantida, é necessário que ela se
reproduza. Para sua reprodução, de acordo com esse autor, a unidade familiar
deve despender esforços para assegurar o necessário para a sobrevivência
dos membros da família, assim como para assegurar os meios de produção
que tornem possível a continuidade do processo produtivo. Essa necessidade
não se reduz a um “mínimo biológico”, mas a um produto social desejado.
De acordo com GOMES et al. (1992), a suinocultura em Santa Catarina
apresentou, na década de 80, baixa rentabilidade e estagnação nos níveis de
produtividade, o que levou os produtores a reclamarem dos baixos preços
pagos pelas indústrias; por sua vez, a integradora afirmou que a baixa
produtividade da atividade também era responsável pela situação. A baixa
rentabilidade e a estagnação da produtividade levaram esses produtores à
descapitalização; conseqüentemente, estes se viram
continuar no sistema integrado.
14
incapacitados de
Para MIRANDA (1995), aqueles que não se ajustam à s novas
exigências do mercado encontram muitas dificuldades em permanecer na
suinocultura. A integradora, ao considerar esse aspecto, privilegia a atuação
dos assistentes técnicos como principal veículo transmissor das informações,
com o objetivo de incrementar a produtividade e a qualidade do produto
gerado, agregando fatores que auxiliam a manutenção da posição competitiva
da integradora no mercado.
No sistema de integração vertical, segundo GOMES et al. (1992), o
suinocultor oferece terra, mão-de-obra, instalações e equipamentos e
concentra-se na produção de leitões e, ou, terminados e, na maior parte, de
grãos que fazem parte da ração. Cabe à integradora o fornecimento de parte
da alimentação (ração), da produção, do melhoramento genético, dos produtos
veterinários e da orientação técnica, assim como cabe a ela a responsabilidade
pela compra dos suínos terminados.
A dinâmica do setor industrial impõe,
por meio da vinculação do
sistema de integração, um crescente movimento de subordinação da produção
agrícola familiar que passa a comandar todo o processo. Esse vínculo existente
entre produtores e empresas não se dá por meio de um contrato formalizado,
mas por intermédio de um pacto firmado entre ambos.
Algumas condições são consideradas básicas para exp licar essa
vinculação:
a) A existência de uma estrutura agrária de produtores com experiência na
produção de suínos;
b) O espaço ainda restrito de organização desse segmento de agricultores e
sua atuação na configuração das condições dos contratos e na fixação dos
preços; e
c) O espaço significativo que têm as agroindústrias processadoras nesse
controle dos preços do produto e da parte mais importante dos insumos.
Esse relacionamento cria dependência direta entre produtores e
empresa.
Outras condições que geram diferenciais favoráveis à lucratividade
agroindustrial são:
15
a) A contratualização poupa investimentos fundiários maiores para as
agroindústrias. A produção de uma parcela do milho para alimentação
animal é fundamental para viabilizar economicamente a atividade;
b) Os dejetos de suínos devem ser alocados em área suficiente para controle
dos seus efeitos poluentes; e
c) Os contratos de produção exigem que as agroindústrias selecionem,
treinem e fiscalizem a mão-de-obra assalariada necessária à obtenção da
criação.
Os produtores, por meio da aquisição dos insumos, procuram adaptarse ao padrão tecnológico orientado pela assistência técnica da empresa, que
estabelece a garantia na aquisição do produto. O produtor deve ter lealdade
para com a empresa que lhe fornece as condições de produção,
comprometendo-se a entregar o seu produto unicamente àquela empresa,
mesmo que outra esteja classificando melhor seu produto.
Na década de 80, em razão do aumento expressivo de produtores que
participavam do sistema de integração, o serviço de extensão reduziu sua
participação no cenário da suinocultura catarinense. Na segunda metade dessa
década, houve retirada total do crédito rural, o que levou os suinocultores rurais
integrados a dependerem, basicamente, de financiamento feito diretamente
pela agroindústria. Com isso, o processo de integração consolidou-se e
aumentou-se o nível de exigência com as normas técnicas de produção.
Na década de 90, em razão da imposição da integradora, houve
tendência de transformação da suinocultura, de ciclo completo, em produtores
de leitões e de terminação.
Para WILKINSON (1997),
a agroindústria privada está se preparando para substituir o “ciclo completo” do
sistema produtivo com uma divisão mais especializada do trabalho, separando
a fase de criação da fase da engorda. Ao mesmo tempo, a ração está sendo
fornecida diretamente pela agroindústria (seguindo o modelo avícola) e não
mais produzida na fazenda. Neste processo, é possível que as economias de
escala empurrem a suinocultura para fora do setor da agricultura familiar
diversificada.
Faz–se necessário observar, do ponto de vista dos produtores
integrados, como ocorre o processo de comunicação e como se dão as
relações da integradora (via técnico) com esses produtores.
16
1.2. O problema e sua importância
A atividade suinícola tem sido considerada a mais importante do
complexo agropecuário brasileiro, por ser preponderantemente desenvolvida
em pequenas propriedades, visto que gera renda e alimento a mais de dois
milhões de proprietários rurais e constitui um excelente instrumento de
interiorização do desenvolvimento e de fixação da mão-de-obra no meio rural.
Além disso, fornece um produto de alta qualidade, rico em nutrientes e
produzido de forma higiênica e profissional pela maioria dos criadores
nacionais.
Em Santa Catarina, tem sido considerada uma atividade de extrema
importância socioeconômica, em razão, segundo GOMES et al. (1992), não
apenas do grande número de pequenos produtores envolvidos, mas também
da capacidade de se produzir grande quantidade de proteína de ótima
qualidade em pequeno espaço físico e em curto espaço de tempo. Essa
atividade está presente em 46,5% dos 5,8 milhões de propriedades do País,
empregando mão-de-obra tipicamente familiar e constituindo importante fonte
de renda e de estabilidade social.
Na década de 90, ocorreram profundas transformações não só na
base técnica da atividade produtiva, como também na relação das
agroindústrias com as unidades familiares de produção. Nesse período, houve
crescimento substancial no processo de integração vertical, principalmente pela
especialização dos produtores por fases do ciclo produtivo.
Segundo MIOR (1992), os grupos agroindustriais têm realizado ações
estratégicas que modificam a estrutura de produção da atividade suinícola, de
ciclo completo, para segmentos mais especializados. Essa especialização
facilita o controle do processo de produção por parte da agroindústria, que,
para alcançar seus objetivos, fornece material genético, alimentação e
prescrições do manejo e das instalações, mediante maior controle no
cronograma da produção.
A Sadia Concórdia S.A. tem incentivado seus integrados a se
especializarem na fase de produção de leitões ou de terminação, ajustando sua
matéria-prima, “carne suína”, às novas demandas do mercado consumidor.
Muitos dos produtores, de ciclo completo, são incentivados a segmentar a
17
atividade (separando a fase de criação da fase de engorda). Essa estratégia,
do ponto de vista da agroindústria, visa, basicamente, garantir o aumento da
produção, melhorar a qualidade do produto e manter um fluxo mais regular da
matéria-prima. Na segmentação incentivada, os produtores de leitões são
aqueles que possuem, geralmente, um plantel de fêmeas e machos de boa
qualidade genética e usam os cruzamentos raciais para aproveitamento do
“vigor híbrido”. Os leitões são vendidos aos terminadores por intermédio do
integrador, quando atingem peso de 20 a 30 quilos, enquanto os produtores de
terminados dependem, exclusivamente, dos produtores de leitões, recebem os
leitões com peso que varia de 20 e 30 quilos e os entregam à integradora com,
aproximadamente, 100 kg.
Muitos desses produtores familiares integrados não conseguem
acompanhar a evolução dos índices de produção e produtividade almejados
pelas integradoras, razão pela qual são excluídos do sistema integrado, já que
os investimentos requeridos elevam os custos de produção
e exigem
mudanças qualitativas principalmente na genética dos animais, na alimentação,
na sanidade e na forma de administrar a propriedade.
Em razão de crises cíclicas que atingiram a atividade por diversos
períodos, o setor suinícola está ficando descapitalizado e os suinocultores
integrados têm enfrentado inúmeras dificuldades para permanecer na
atividade, o que dificulta a relação entre eles e a integradora, principalmente
nas áreas técnica, comunicacional, técnico-metodológica, organizativa e no
controle no processo de trabalho. Aqueles que resistiram e, ou, optaram por
explorar sua parcela de terra buscaram a diversificação da atividade, embora
enfrentem ainda dificuldades, de ordem estrutural, para se manterem.
As modificações caracterizadas pela mudança de comportamento e por
inovações tecnológicas são devidas também à relação de comunicação, à
renda, ao risco e ao nível de instrução dos produtores.
Em síntese, tais
investimentos demandarão mudanças nos procedimentos e nas rotinas do
sistema produtivo.
Este processo de concentração e especialização segue a tendência
internacional que tem se configurado desde os anos 80 e que apresenta
vantagens da produção em escala para a indústria, levando à diminuição do
número de propriedades rurais, enquanto estas aumentam no seu número de
18
hectares. Portanto, essa elitização da atividade provoca uma concentração da
produção na mão de poucos e retira a possibilidade de um modelo de produção
associativo que permite o envolvimento de maior número de famílias.
SORJ et al. (1982), ao analisarem a questão da integração, em que o
conhecimento é subtraído do produtor e seu ritmo de trabalho passa a ser
determinado pelas prescrições técnicas da agroindústria, constataram que,
na medida em que a tecnificação se processa, os conhecimentos e práticas
tradicionais são desvalorizados, uma vez que o controle sobre o processo de
produção é ditado pelas normas dos capitais agroindustriais (SORJ et al.,
1982:68).
A escolha dos produtores para determinada modalidade não ocorre ao
acaso, dado que a integradora privilegia produtores que apresentem melhores
condições socioeconômicas, como padrões técnicos relacionados com
qualidade (tipificação da carcaça), produção e produtividade.
ALVES (1996) considerou que a qualidade do produto é caracterizada,
principalmente, pelo tipo de carcaça entregue à indústria e é expressa pela
menor deposição de gordura e pelo maior rendimento da carcaça, que
passaram a ser valorizados pela indústria muito recentemente, embora os
produtores ainda não estejam suficientemente conscientizados da sua
importância.
A tipificação da carcaça implica, necessariamente, o direcionamento do
setor de produção para a busca constante de melhor qualidade, que deverá
refletir nos demais segmentos da indústria suína.
A conceituação da qualidade da carcaça não pode ficar restrita à
apresentação da pequena espessura do toucinho e, conseqüentemente, da alta
percentagem da carne magra, mas, acima de tudo, à concepção de que esta
carne magra não apresenta problemas relacionados com PSE (pálida, macia e
exsudativa) ou DFD (escura, firme e seca). Por meio da deposição de gordura
e, ou, do rendimento de carne, a carcaça pode representar o ponto em que o
produtor começa a ser eficiente economicamente, pois, geralmente, as
agroindústrias processadoras de carcaças remuneram o produtor por meio da
bonificação ou da penalização, dependendo do rendimento de carne da
carcaça.
19
Mediante a intensificação do melhoramento genético, objetiva-se
aumentar a eficiência de produção dos animais e reduzir a quantidade de
alimento por kg de carne produzida e o custo do produto final. Os animais,
portanto, deverão apresentar:
a) Maior precocidade sexual e capacidade reprodutiva;
b) Maior taxa de crescimento ou menor idade de abate;
c) Maior eficiência de transformação do alimento consumido em carne de boa
qualidade; e
d) Maior rendimento de carne na carcaça.
Na suinocultura, obter produtividade implica produzir mais em menos
tempo, sem aumentar custos ou reduzir a qualidade dos produtos, enquanto a
melhoria da eficiência diz respeito à conversão alimentar e depende da
redução da taxa de mortalidade e do crescimento da taxa de desfrute. Essas
variáveis contribuem para a redução do custo total de produção de suínos.
A eficiência reprodutiva obtida em criações tecnificadas de pequeno e
médio porte, no Sul do Brasil, é da ordem de 9,5 leitões/leitegada e 1,9
parto/porca/ano. O potencial biológico da espécie suína é, consideravelmente,
mais elevado, visto que os valores estão estimados acima de 13
leitões/leitegada e até 2,6 partos/porca/ano. Os produtores que não atingem
esses índices têm prejuízos e correm o risco de serem excluídos do sistema
integrado, caso não aumentem a escala de produção.
Segundo o projeto do Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Sustentável da Suinocultura no Sul do Brasil, da EMBRAPA/CNPSA, de 1998,
as análises prospectivas da cadeia suína indicam, no curto prazo, um aumento
da eficiência produtiva dos sistemas mediante o emprego de novas tecnologias
(genética, nutrição e sanidade) e de técnicas gerenciais, capazes de reduzir a
idade do abate (160 para 145 dias) e de elevar a capacidade reprodutiva do
rebanho (14 a 20 suínos/porca/ano) e o volume das dejeções produzidas.
Quanto ao aumento do volume de dejetos, este poderá agravar a situação de
contaminação na região oeste catarinense.
A meta da Sadia Concórdia S.A. para os produtores de leitões, em
relação à produtividade, é de que estes consigam melhorar a conversão
alimentar, obtenham produtividade ideal de 18 a 20 leitões/porca/ano e
20
executem os padrões para cobertura, nutrição, atendimento ao parto, ambiente
na maternidade e desmame. De um lado, a produção especializada, que
concentra a produção de suínos e seleciona os produtores e, de outro, a
exclusão dos suinocultores com menor escala de produção. Essa exclusão dos
produtores familiares traz conseqüências regionais negativas, como êxodo
rural, subutilização dos investimentos rurais (escolas, estradas locais, serviços
de saúde e eletrificação), emergência de favelas urbanas e crescimento agudo
da taxa criminal, já que a rápida urbanização da região se baseia mais nos
impasses da produção familiar do que na atração do emprego industrial ou dos
serviços e na migração para fora da região.
O
desenvolvimento
da
atividade
suinícola
constitui,
portanto,
importante fator de crescimento econômico para os setores agroindustriais,
cujos efeitos se evidenciam na sua competitividade e na renda da produção
familiar integrada.
A competitividade no caso da suinocultura, seria um resultante das interrelações de uma ampla gama de fatores, onde estariam inseridos atores
agrícolas, industriais, comerciais e o governo interagindo de modo a criar u
sistema com relações dinâmicas interdependentes e mutuamente
influenciadoras denominado de cadeia produtiva (CANEVER, 1997).
A integradora espera que os integrados funcionem como empresas e
tenham disposição para investir, buscando, com isso, assegurar sua demanda
crescente de matéria-prima e sua estabilização. Acredita-se que qualquer
interferência nesse setor produtivo, relacionada com pequenos produtores
familiares, poderá resultar em graves conseqüências para a reprodução destes
como unidade familiar. Portanto, presume-se que a atividade suinícola seja
importante no aumento de renda e na melhoria da qualidade de vida da família
rural, razão por que se faz necessária a compreensão das mensagens, para
que os produtores consigam obter os padrões desejados.
O processo produtivo suinícola, em toda a sua extensão, tem sido
comandado pela integradora, que utiliza instrumentos de comunicação para
influenciar seus fornecedores a incorporar tecnologias, atingir eficiência nos
processos e aumentar a produção e a produtividade. Essa mudança do
suinocultor, de ciclo completo, para especializado demonstra a necessidade da
empresa em transformar o suinocultor a partir de uma perspectiva empresarial,
selecionando os melhores e induzindo a saída dos considerados menos
21
zelosos (não-adotantes de tecnologias e procedimentos) ou menos adeptos a
efetuar investimentos.
A agroindústria, mediante um enfoque dinâmico, aplica elementos que
visam estruturar o sistema integrado por meio de condutas preestabelecidas,
para se obter o desempenho almejado ressaltado pela importância dada à
tecnologia, agente indutor dessas mudanças pelo canal interpessoal.
Segundo MIRANDA (1995), essa diferença de racionalidade entre
suinocultor empresarial e produtor familiar acaba resultando em conflitos na
relação de comunicação entre produtores e técnicos. Ao analisar também o
processo de geração e difusão de tecnologias, em relação à tecnologia
agropecuária e aos produtores familiares da região oeste de Santa Catarina, à
luz da racionalidade formal e substantiva de Weber, esse autor constatou que,
muitas vezes, os integrados encontram resistência em adotar tecnologias,
pois, mesmo integrados ao mercado, agem segundo uma racionalidade
substantiva, valorizando, além da produtividade e eficiência, outros aspectos de
reprodução da família, como aversão ao risco, valores locais de solidariedade e
prestígio social. Segundo ainda esse autor, os produtores rurais da região
oeste perseguem um “modelo ideal” de exploração, o qual é resultante do
cruzamento dos objetivos individuais com os estabelecidos pela sociedade.
Assim, inestimável é o papel da comunicação humana nos destinos
tanto da empresa integradora quanto dos produtores integrados a ela. Em
decorrência disso, no plano organizacional, a utilização correta das técnicas de
comunicação, assim como dos auxílios
instrucionais, constitui relevante
estratégia para interação de ambos.
O homem tem sido mensurado em termos econômico, funcional e
administrativo, numa configuração empírica de mera “coisa”. Muitas vezes,
permanece como um “desconhecido” nessa dinâmica, razão pela qual é
importante conhecer os elementos básicos que influenciam o comportamento
individual dos produtores, para adoção, ou não, de tecnologias preconizadas
pela empresa. Sabe-se que, para adoção destas, os produtores devem “querer,
saber e poder”, já que o comportamento de qualquer indivíduo não é algo que
ocorra casualmente, mas sempre com vistas em um propósito.
Esse conjunto de reflexões abre uma perspectiva de análise em que o
vínculo de integração entre integrados e integradora, embora tendo maior
22
visibilidade no campo econômico, expressa, de fato, uma relação social, em
que as estratégias e projetos dos agentes se adaptam e entram em confronto e
representações sociais e as práticas interagem. Ao mesmo tempo, é uma
relação em que o poder da integradora se expressa pela capacidade de
imposição de padrões tecnológicos e condições de comercialização à atividade
dos integrados, o que, ao mesmo tempo, se torna viável e é encoberto pelos
laços de clientelismo entre integradora e integrados.
Em virtude das condições técnicas à disposição do capital e das
condições naturais da produção agropecuária, o capital integrador possui uma
gama
de
alternativas estratégicas
comunicacionais,
metodológicas e
instrucionais para que esses objetivos sejam atingidos. Entretanto, alguns
agentes/agroindústrias ainda atribuem o insucesso da atividade a muitos
produtores rurais, considerados apáticos, ignorantes, incapazes de gerenciar o
negócio e sem perspectivas de desenvolvimento.
No entanto, sem um adequado processo de comunicação não é
possível ocorrer forte ligação entre os propósitos organizacionais e o
comprometimento dos seus membros, visto que não se podem atribuir
responsabilidades a quem não recebe informações. As pessoas geram idéias e
manifestam sentimentos por meio da comunicação, o que permite a verdadeira
integração ao ambiente empresarial.
A capacidade da empresa para orientar suas ações, segundo a
evolução do ciclo de vida de seus produtos, e para controlar os segmentos
equivalentes da cadeia de produção, segundo as fases de evolução, constitui
uma estratégia de manutenção da posição dominante.
No sistema de integração, os elementos constituintes desse processo
são vistos como atores econômicos, já que irão posicionar-se para obter o
máximo de margens de lucro em suas atividades, ao mesmo tempo que tentam
se apropriar das margens dos outros atores presentes. Esse parece ser o
principal fundamento das estratégias industriais em face da concorrência e do
objetivo de posicionar-se na melhor situação possível para se defender contra
as forças da concorrência ou transformá-las ao seu favor. Muitas dessas
estratégias e operações partem da necessidade de criar ambiente para
mudanças, decorrentes, basicamente, do conjuntos de fatores políticos,
econômicos, financeiros, tecnológicos, socioculturais, legais ou jurídicos.
23
A Sadia Concórdia S.A. viabiliza suas estratégias graças ao sistema de
comunicação, que é vital para as funções administrativas internas e para o
relacionamento da empresa com o meio externo, já que permite a efetivação
dos seus objetivos. A eficiência ou não dessa comunicação dependerá da
percepção
dos
recebedores
em
graus
variados, num processo de
aprendizagem.
Observa-se que, no discurso da empresa integradora, há elementos
que objetivam a melhoria dos processos, da produção, da produtividade e do
padrão de vida dos produtores integrados, embora nem sempre os resultados
sejam os desejados, o que, muitas vezes, frustra as expectativas de ambos.
Para
melhor compreender
esse
problema,
faz-se necessário
relativisar1, buscando identificar os fatores que estariam dificultando ou
impedindo a eficiência comunicacional entre a integradora Sadia Concórdia
S.A. e os agricultores integrados, já que, nessa dinâmica, há interesses
comuns e divergentes.
A integradora, em sua trajetória, vem utilizando métodos extensionistas
baseados no modelo de difusão/adoção para transferência dessas tecnologias,
mediante a comunicação interpessoal. Essa comunicação aparece também
como instrumento retórico utilizado pela integradora na “promoção de
mudanças”, relacionadas com implantação de novas estratégias e filosofias
empresariais.
Segundo ROGERS (1969), a comunicação interpessoal é a mais
eficiente para convencer os indivíduos a adotarem novas idéias, embora nem
sempre produza os efeitos esperados.
Para BORDENAVE (1988), é próprio da comunicação contribuir para a
modificação dos significados que as pessoas atribuem às coisas, visto que é
por meio dessa modificação que a comunicação colabora na transformação
das crenças, dos valores e dos comportamentos, daí, o seu imenso poder e o
uso que o poder faz dela. Dessa forma, torna-se importante compreender as
variáveis que determinam
comportamentos e influenciam a modificação
desses comportamentos, desvendando as dificuldades e analisando as
1
Relativisar é compreender o outro no contexto dos seus próprios valores.
24
percepções acerca dos significados que os suinocultores familiares dão a essa
comunicação.
Neste estudo, pretendeu-se analisar como se processa a comunicação
entre integradora-integrado, já que a percepção ocorre por meio de estímulos
que vêm de fora e o homem “sente” a realidade que o rodeia por meio dos
sentidos, percebendo, assim, palavras, gestos e outros signos que lhe são
apresentados e para os quais tem um significado específico.
1.3. Objetivos
1.3.1. Objetivo geral
Analisar a percepção da relação de comunicação interpessoal técnicoprodutor pelos suinocultores integrados à Sadia Concórdia S.A.
1.3.2. Objetivos específicos
a) Caracterizar o perfil dos suinocultores e seu processo produtivo;
b) Analisar o processo de comunicação entre técnico e produtor rural; e
c) Identificar os principais obstáculos ao processo comunicativo.
25
2. METODOLOGIA
Realizou-se o estudo de caso mediante observação da trajetória social
do grupo de produtores familiares investigados - sua evolução em relação ao
mercado, sua caracterização e a relação de comunicação interpessoal com a
agroindústria e suas implicações.
Este estudo procurou evidenciar os aspectos da comunicação da Sadia
Concórdia S.A. com os produtores de leitões integrados, no município de
Concórdia, em Santa Catarina, Sul do Brasil.
Os dados foram coletados por meio de entrevistas com produtores
rurais e técnicos da área de fomento e assistência técnica da integradora.
2.1. Descrição da área de estudos
A delimitação deste estudo baseou-se na mesma área espacial
definida e utilizada pela empresa Sadia Concórdia S.A. para assistir aos
produtores de leitões integrados no município de Concórdia-SC.
O município de Concórdia situa-se na região oeste catarinense e na
microrregião colonial do rio do Peixe (classificação geopolítica oficialtradicional), limitando-se ao sul com o Rio Grande do Sul; ao norte, com Irani,
Ipumirim, Lindóia do Sul e Arabutã; ao oeste, com Itá, Seara e Arabutã; e ao
leste, com Piratuba, Ipira, Peritiba, Presidente Castello Branco e Jaborá. Para
efeito de planejamento estadual, Concórdia integra a microrregião do Alto
26
Uruguai Catarinense, região composta por 12 municípios, da qual é o centro
polarizador. Possui uma área de 885,4 km 2, situada na zona urbana, e de
876,85 km 2, na zona rural. Possui cinco distritos: Santo Antônio, Tamanduá,
Planalto, Presidente Kennedy e Engenho Velho.
A população de Concórdia é de, aproximadamente, 85.000 habitantes,
40% dos quais residentes no meio rural. O município é formado por pequenas
propriedades agrícolas (66% possuem até 20 ha). A condição dos produtores
(83%) é, predominantemente, de proprietários (PREFEITURA MUNICIPAL DE
CONCÓRDIA, 1994).
2.2. Descrição da unidade de análise
As unidades de análise desta pesquisa são o universo de 36
produtores de leitões da região, denominada pela integradora de Concórdia, e
de dois técnicos da assistência técnica da Sadia Concórdia S.A. Esses
integrados estão distribuídos nas seguintes localidades rurais: Barra Fria, Barra
Seca, Cedro, Marchesan, Saltinho, Santo Antonio, São Cristóvão, Santa Lúcia,
Suruvi, Oito de Maio, Kennedy, De Carli, Lajeado dos Pintos, São Geraldo,
Poletto, São José, Fragosos, Gasparini, Gomercindo, S. Brum e São Paulo.
Os integrados produtores de leitões são aqueles que estão vinculados
ao sistema de integração, dedicam-se apenas ao ciclo de criação, possuem
geralmente um plantel de fêmeas e machos de boa qualidade genética e usam
cruzamentos raciais para o aproveitamento do vigor híbrido. Optou-se por
estudar esse segmento por sugestão da empresa integradora, já que estes são
considerados os mais modernizados e mais qualificados tecnicamente (mais
exigentes por tecnologia), considerados pela agroindústria como capazes de
assegurar a reprodução da qualidade genética das matrizes. Esses integrados
dedicam-se à reprodução, à gestação e parto e ao desenvolvimento nutricional
dos leitões. Criam leitões até 60 dias, os quais, quando atingem peso de 20 a
30 quilos, são vendidos aos terminadores por intermédio da empresa
integradora.
27
2.3. Coleta de dados
A coleta de dados foi feita no município de Concórd ia, no período de
abril a maio de 1998, junto aos 36 suinocultores que representam o universo de
integrados desse município.
As informações foram obtidas diretamente das unidades produtivas
familiares e na sede da integradora.
A pesquisadora aplicou um pré-teste a 10 suinocultores, no Sindicato
de Produtores Rurais de Concórdia, para verificar a adequação do
questionário, no qual constavam perguntas abertas e fechadas.
Os produtores de leitões (Quadro 1) foram classificados, segundo a
Sadia Concórdia S.A., pelo método denominado gestão agrícola, introduzido
pela EMATER/ACARESC em 1982, a partir da consultoria do Sr. Boiteux, do
Institute de Gestion e Economie Rural (IGER), da França. Esse método,
segundo HOLZ (1992), é baseado no levantamento de dados físicos e
econômicos das propriedades, agrupando-as em três classes:
a) Cabeça: composta por 25% dos suinocultores com os melhores resultados
econômicos;
b) Cola: composta por 25% dos suinocultores com os piores resultados
econômicos; e
c) Média: composta
pelos 50% dos suinocultores restantes. O índice
comumente utilizado para ordenar os agricultores e classificá-los em
cabeça, média e cola é a margem bruta. Optou-se pela utilização da
margem bruta, por ser este o índice de eficiência mais utilizado na análise
da atividade ou do produto.
Para obtenção da Margem Bruta de Produção, segundo a integradora,
fez-se necessário realizar uma Análise Econômica junto às unidades
produtivas. Para obtenção desse índice, calculam-se, anteriormente, alguns
índices de eficiência que mais influenciam o resultado econômico da atividade,
tais como conversão alimentar, mortalidade, terminados/porca/ano, etc. Os
dados da suinocultura são obtidos, normalmente, via enquete técnico-produtor,
para realização da análise de custos.
28
Quadro 1 - Número total de produtores de leitões, por estrato, segundo a metodologia utilizada pela Sadia Concórdia S.A., no município de
Concórdia-SC, 1997
Estrato de produtores
N.o de produtores de leitões
Cabeça – 25%
Média – 50%
Cola – 25%
9
18
9
TOTAL
36
Fonte: SADIA S.A.
Para VALE e GOMES (1998), a análise do custo é usada para fins de
análise econômica - é a compensação que os donos dos fatores de produção,
utilizados por uma empresa para produzir determinado bem, devem receber
para que continuem fornecendo esses fatores à empresa.
O uso do termo compensação, e não do termo pagamento, é devido ao
fato de, em certos casos, não ocorrer pagamento formal ou desembolso aos
donos dos fatores de produção (ex.: Quando uma pessoa utiliza um capital
próprio no negócio, ela não paga a si próprio pelo uso desse capital, mas deve
considerar como custo o valor que poderia receber por este capital em outro
negócio).
A análise da Margem Bruta é importante porque serve de parâmetro
para o cálculo da rentabilidade dos produtores de leitões integrados.
A metodologia de gestão agrícola torna-se adequada aos agricultores
com baixo nível de educação formal e não-familiarizados com procedimentos
administrativos sistemáticos. Esses dados servem para comparar seus
resultados com o de seus vizinhos que tenham condições semelhantes de solo,
clima, mercado, etc.
A integradora treina seus técnicos mediante o curso de Administração
Rural, com base na metodologia de gestão agrícola, de HOLZ (1992). Durante
29
o curso, são veiculadas mensagens sobre adoção de tecnologias. Essa
metodologia segue os princípios básicos da educação de adultos, quais sejam:
1. Os adultos devem ter o desejo de aprender, o que pode ser estimulado por
influências externas, mas nunca imposto;
2. Os adultos aprenderão somente o que sentem necessidade de aprender, já
que as teorias só terão sentido quando puderem ser aplicadas;
3. Os adultos aprendem fazendo;
4. O aprendizado deve estar relacionado com situações reais;
5. Os adultos aprendem melhor em clima participativo e ausência de censura; e
6. Os adultos necessitam de feedback.
A técnica de gestão agrícola, vista como metodologia baseada nos
princípios acima, além da simplicidade, apresenta as vantagens de rapidez na
sua execução, além de elevado grau de receptividade por parte dos
produtores, uma vez que se propõem soluções simples e já experimentadas,
pois difunde o conceito de lucro e eficiência econômica como resultado dos
aumentos de produtividade e eficiência técnica das atividades agrícolas como
um todo. Facilita, ainda, o emprego de atividades pelos técnicos, visto que
permite a eles conhecer melhor a região agrícola em estudo e fornecer certos
valores de referência, além de responder à necessidade, fortemente sentida,
dos produtores de se situarem, em comparação com os outros. Sua limitação é
que ela não introduz nada de novo ao modo de produção da região. Além
disso, não se sabe se as “empresas” rurais melhores classificadas
desenvolvem realmente o melhor sistema de produção. Esse método mostrouse apropriado para produtores com baixo grau de instrução formal, mas que
participam do mercado e, portanto, manuseiam valores, números, notas fiscais,
contas bancárias, etc.
Segundo os técnicos,
os produtores mal informados sentem-se
inseguros e assumem posições cautelosas, de forte aversão ao risco.
O
método de gestão agrícola ajuda-os a entender a sua realidade e redimensiona
o risco pela sistematização das informações. Para tanto, faz-se necessário que
o produtor faça registros contábeis e entenda a razão pela qual a integradora
coleta os dados de todos os produtores. Além do mais, são necessários
critérios iguais para essa coleta de dados.
30
2.4. Modelo conceitual
Este estudo fundamenta-se, no contexto da comunicação, na Teoria de
Aprendizagem, utilizada por BERLO (1963), na elaboração do modelo de
comunicação interpessoal.
Segundo
Berlo,
qualquer
situação
de
comunicação humana
compreende a produção da mensagem por alguém, assim como a sua
recepção. A análise de qualquer situação de comunicação humana deve levar
em conta o ponto de vista de ambos os envolvidos na relação de
comunicação.
ROGERS (1969) sugeriu que os canais de comunicação de massa são
os mais importantes para difundir conhecimento sobre inovações, enquanto os
canais interpessoais são os mais importantes para convencer os indivíduos a
adotarem novas idéias.
Para BOWDITCH e BUONO (1992), a comunicação interpessoal é
essencialmente um processo interativo e diático (de pessoa a pessoa) e
também um processo transacional no qual as pessoas constroem o significado
e desenvolvem expectativas sobre suas experiências, sobre o que está
acontecendo e sobre o mundo que as cercam, e compartilham mutuamente
significados e expectativas através da troca de símbolos . Esses símbolos
poderão ser verbais ou não e são influenciados por fatores intencionais ou não
(tais como emoções e sentimentos).
Esses autores partiram do pressuposto que, para analisar a
comunicação, torna-se necessária a compreensão plena do comportamento
humano. Tendo em vista que a comunicação se destina a influenciar o
comportamento, precisa-se compreender as variáveis e os processos
1
que
determinam o comportamento e as mudanças desse comportamento.
O interesse pela comunicação tem produzido muitas tentativas de criar
modelos do processo - descrições, relações de ingredientes. Naturalmente,
esses modelos diferem um do outro; nenhum pode ser tido como “correto” ou
“verdadeiro”. Uns podem ser mais úteis que outros e alguns podem
1
Processo é aqui definido como qualquer fenômeno que apresente contínua mudança no tempo.
31
corresponder mais que os outros ao presente estado de conhecimento sobre
comunicação.
A maioria dos modelos contemporâneos de comunicação mais
utilizados foi elaborada a partir do modelo criado em 1947 por Claude Shannon
e pelo engenheiro eletricista Warren Weaver, os quais desenvolveram um
modelo de comunicação eletrônica.
Segundo os cientistas do comportamento, o modelo de ShannonWeaver, cujos componentes se encontram nas Figuras 1 e 2, é útil na
descrição da comunicação humana.
Fonte
Transmissor
Sinal
Receptor
Mensagem
Destinatário
Mensagem
Figura 1 - Componentes do modelo clássico de comunicação parcial.
Fonte
Codifica
Mensagem
a mensagem
Decodifica a
Destinatário
Mensagem
Interpreta a realidade
Assimila ou
Com a sua cultura
rejeita a mensagem
Retroalimentação
Figura 2 - Componentes do modelo clássico de comunicação completo.
32
Pode-se dizer que toda comunicação humana tem alguma fonte, uma
pessoa ou um grupo de pessoas com objetivos e razões para comunicar-se.
Estabelecida uma origem, com idéias, necessidades, intenções, informações e
um objetivo, torna-se necessário o segundo ingrediente. O objetivo da fonte
tem de ser expresso em forma de mensagem. Na comunicação humana, a
mensagem existe em forma física - a tradução de idéias, objetivos e intenções
num código, num conjunto sistemático de símbolos.
O codificador é responsável por apropriar-se das idéias da fonte e
colocá-las num código, exprimindo o objetivo da fonte em forma de
mensagens. Na comunicação de pessoa a pessoa, a função codificadora é
executada pelas habilidades motoras da fonte - seu mecanismo vocal (produz a
palavra oral), o sistema muscular da mão (produz a palavra escrita) e os
sistemas musculares de outras partes do corpo (produzem gestos da face e
dos braços, a postura, etc.).
A fonte de comunicação é tida como um objetivo, e o codificador que
traduz ou exprime este objetivo, como mensagem. O canal é o intermediário, o
condutor da mensagem, e a escolha do canal é, muitas vezes, fator importante
na efetividade da comunicação.
A pessoa, na outra extremidade do canal, pode ser chamada de
receptor da comunicação - alvo da comunicação. As fontes e os receptores de
comunicação devem ser similares; caso contrário, não poderá haver
comunicação. O receptor deve reagir ao estímulo, se houver comunicação; se
não reagir, é porque não houve.
Assim como a fonte precisa do codificador para traduzir seus objetivos
em forma de mensagem, para expressar seu objetivo num código, o receptor
precisa de decodificador para retraduzir, para decifrar a mensagem e colocá-la
de forma a ser usada.
Na comunicação de pessoa a pessoa, o decodificador seria o conjunto
de habilidades motoras da fonte. Pode-se considerar o decodificador como o
conjunto de habilidades sensoriais do receptor; e o decodificador, como os
sentidos.
Segundo Berlo, o objetivo da comunicação é mudar comportamentos,
razão pela qual se utilizam mensagens estimulativas. Podem-se levar
mensagens aos indivíduos por diferentes meios, para que eles percebam, com
33
facilidade, as vantagens dessas mensagens, modificando, assim, sua maneira
de realizar suas ações com um mínimo de esforço, ou seja, sendo capazes de
inovar e modernizar. Posteriormente, constatou-se que os destinatários não
adotaram, de forma automática, as mensagens emitidas e transmitidas pela
fonte, pois fatores intervenientes teriam afetado o processo de comunicação e,
conseqüentemente, a adoção.
O objetivo básico do homem na comunicação é influenciar o seu
ambiente social e físico. Uma resposta é considerada compensadora se suas
conseqüências são percebidas, pelo respondedor, como capazes de aumentar
a sua influência sobre o seu ambiente. Daí, a importância dos vários
tratamentos que o sistema propõe como instrumento para aguçar a
percepção/atenção dos indivíduos. Essa variedade de tratamentos funciona
como um “reforço” comunicacional estimulativo, cujo objetivo é estimular a
percepção dos indivíduos, criando-lhes um clima para a mudança. Para que
isso aconteça, o destinatário deve ter fácil acesso às mensagens, e estas
devem estar o mais disponível possível para diminuir-lhes a energia gasta
(tensão).
Com vistas em diminuir o esforço gasto pelos indivíduos, quando da
realização de um comportamento, Berlo propôs que mensagens devam lhe ser
enviadas por diferentes canais de comunicação, para que o indivíduo,
percebendo-as, se sinta estimulado a responder ao estímulo; ao mesmo tempo,
para que diminua o esforço despendido na implementação de resposta,
explicitando-lhe o tipo de recompensa que poderá obter se executar
determinada ação. Como pode-se perceber, para esse autor, a mensagem
pode ser entendida como aquilo que o indivíduo transmite a outro, com
determinada intenção.
Quando se tem um objetivo a comunicar e uma resposta a obter, o
comunicador espera que a sua comunicação seja a mais fiel possível. Por
fidelidade entende-se que ele obterá o que quer. O ruído e a fidelidade são
faces da mesma moeda. O ruído é um fator que distorce a qualidade do sinal.
A eliminação do ruído aumenta a fidelidade, enquanto a produção do ruído
reduz a fidelidade.
Os significados surgem a partir da interação social, e o significado
dentro de uma mensagem é influenciado tanto pela própria informação como
34
pelo contexto da mensagem. Diante desses fatos, torna-se necessário
considerar uma série de fatores, a saber:
1) Os papéis que essas pessoas desempenham - quem está comunicando;
2) A linguage
ou o(s) símbolo(s) usado(s) na comunicação e a respectiva
capacidade de levar a informação e esta ser entendida por ambas as partes;
3) O canal de comunicação ou o meio empregado, e como essas informações
são recebidas por meio dos diversos canais (tais como comunicação falada
ou escrita);
4) O conteúdo da comunicação (relevante ou irrelevante, familiar ou estranho);
5) As características interpessoais do transmissor e as relações interpessoais
entre o transmissor e o receptor (confiança e influência, etc.)
6) O contexto no qual a comunicação ocorre, em relação a estrutura, espaço
físico e ambiente social. Esses diversos fatores e o modelo básico de
comunicação proporcionam uma base para se analisar e compreender a
comunicação.
No modelo clássico de comunicação, tanto a fonte como o receptor são
concebidos como entes distintos, com considerável superioridade da fonte
sobre o receptor. Uma fonte de comunicação, depois de determinar o meio pelo
qual deseja influenciar o receptor, codifica a mensagem destinada a produzir a
resposta desejada. Há, pelo menos, quatro espécies de fatores dentro da fonte,
as quais podem aumentar a fidelidade, quais sejam:
1) Habilidades comunicativas - há cinco habilidades verbais de comunicação;
duas são codificadoras - a escrita e a palavra; duas são decodificadoras - a
leitura e a audição. A quinta é o pensamento, o raciocínio. A facilidade
lingüística de uma fonte de comunicação é fator importante no processo de
comunicação. As palavras das quais se dispõe e a maneira de reuni-las
influenciam o pensamento. Se não houver habilidades comunicadoras
capazes de codificar mensagens corretas, haverá limitação na capacidade
de expressão. Quando se fala em comunicação no contexto pessoal, fala-se
também na maneira como as pessoas aprendem;
35
2) Atitudes - a atitude de uma fonte de comunicação influencia os meios pelos
quais ela se comunica. Essas atitudes influenciam, pelo menos, de três
formas:
a) A atitude para consigo - tem a ver com a auto-avaliação que afeta tanto
positivamente como negativamente o tipo de mensagem;
b) A atitude para com o receptor - se essas atitudes forem positivas, este
estará mais propenso a aceitar o que ela diz e pode-se dizer que é
determinante para a sua efetividade. Quando os ouvintes percebem que o
autor ou o orador gosta realmente deles, mostram-se muito menos
críticos;
c) A atitude para com o assunto - a atitude da fonte para com o receptor,
tanto “positiva como negativa”, costuma aparecer, freqüentemente, nas
mensagens.
3) Nível de conhecimento da fonte sobre o assunto - influencia a mensagem,
pois ninguém é capaz de comunicar aquilo que não sabe; ninguém informa,
com a máxima efetividade, sobre algo que não conhece. Por outro lado, se a
fonte sabe “demais”, se for “ ultra-especializada”, poderá errar, pelo fato de
suas habilidades comunicadoras serem empregadas de maneira tão técnica
que o receptor acabe não entendendo as mensagens.
4) Posição dentro do sistema sociocultural - nenhuma fonte comunica sem ser
influenciada por sua posição no sistema sociocultural. É necessário levar em
conta suas habilidades comunicadoras, suas atitudes e seus conhecimentos;
é preciso saber mais, ou seja, conhecer o tipo de sistema social em que ela
opera, o papel que desempenha, as funções a que é chamada a executar, o
prestígio que ela própria e outras pessoas lhe atribuem. É imprescindível
conhecer o contexto cultural no qual se comunica, as crenças e os valores
culturais que lhe parecem dominantes, as formas de comportamento
aceitáveis ou
não-aceitáveis, exigidas ou não-exigidas em sua cultura.
Precisa-se conhecer tanto suas expectativas quanto às dos outros.
Pessoas de diferentes classes sociais e de passado cultural distinto
comunicam-se de forma diferente, e os sistemas social e cultural determinam,
em parte, as escolhas de palavras que as pessoas fazem, os objetivos que têm
36
para comunicar-se, os canais que usam para esta ou aquela espécie de
mensagem, etc.
A posição da fonte no contexto social e cultural influencia o seu
comportamento geral de comunicação, pois ela cumpre papéis e tem
percepções ou imagens variáveis sobre a posição social e cultural do receptor.
Fala-se, separadamente, da fonte e do receptor para fins analíticos,
mas não faz sentido supor que se trate de funções independentes, de tipos
independentes de comportamento. Quando se denomina “fonte”, paralisa-se a
dinâmica do processo em determinado ponto, quando se denomina “receptor”,
corta-se também o processo de comunicação, pois aquele que é fonte, num
instante, já foi receptor e vice-versa.
Se o receptor-decodificador não tiver a capacidade de ouvir, de ler, de
pensar, não será capaz de receber e decodificar as mensagens que o
codificador lhe transmitiu. Pode-se falar em receptor em relação às atitudes, e
o modo como decodifica a mensagem é determinado, em parte, por suas
atitudes para consigo mesmo, para com a fonte e para com o conteúdo da
mensagem. Tudo o que se aplica à fonte aplica-se também ao receptor.
Se o receptor, em termos de conhecimento, não conhecer o código,
não entenderá a mensagem. Se nada sabe sobre o conteúdo da mensagem,
provavelmente não poderá entendê-la. Se não compreender a natureza do
processo de comunicação em si, são grandes as perspectivas de que entenda
mal as mensagens, tire conclusões sobre os objetivos ou intenções da fonte e
falhe na consecução do que pode ser do seu próprio interesse.
A mensagem é o produto físico real do codificador - fonte, enqua nto o
discurso é a mensagem. Três fatores devem ser levados em conta na
mensagem: o código, o conteúdo e o tratamento.
O código pode ser definido como qualquer grupo de símbolos capaz de
ser estruturado de maneira a ter significação para alguém. Pode ser por meio
de sons, letras, palavras, idiomas, etc.
O conteúdo pode ser definido como o material da mensagem,
escolhido pela fonte para exprimir o seu objetivo.
O tratamento da mensagem pode ser definido como as decisões que a
fonte de comunicação toma para selecionar e dispor tanto o código como o
conteúdo.
37
O veículo que transporta a mensagem dependerá de para que
se
quer transmitir (nível de instrução, conhecimento, estilo de vida, etc.), o quê
será transmitido (conteúdo da mensagem), o quanto será transmitido (de
quantidade e de
recursos disponíveis para ser transmitido), preferência da
fonte, abrangência em termos de número de pessoas e localização, canais de
maior impacto e mais adaptáveis ao tipo de objetivo da fonte.
A comunicação, nesse contexto, faz parte do processo de mudança
comportamental individual que envolve uma modificação na relação estável
estímulo-resposta.
A partir do reconhecimento de que a aprendizagem é um processo,
pode-se falar dos seus ingredientes e das relações entre eles - conservando
todas as hesitações e qualificações necessárias a qualquer discussão.
Berlo preocupou-se em esclarecer melhor o que se passaria além
dessa relação simples de estímulo-resposta. Segundo ele, os componentes do
modelo clássico de comunicação, em vez de promover uma verdadeira
integração humana entre fonte e destinatário, visa apenas ao melhor ajuste das
mensagens, tornando-as mais adequadas aos objetivos da fonte. O principal
objetivo é o desejo de influenciar - de ter influência sobre si mesmo, sobre os
outros e sobre o ambiente físico. Para iniciar o processo de aprendizagem, é
necessário que as pessoas sejam estimuladas.
O estímulo pode ser definido como qualquer evento que o indivíduo
seja capaz de perceber ou qualquer coisa que uma pessoa pode receber
através de um dos sentidos, qualquer coisa que produza sensação no
organismo humano.
O organismo pode receber e recebe grande variedade de estímulos,
mas, como resultado da exposição a eles, produzirá uma variedade igualmente
grande de respostas.
Há diferentes tipos de respostas - as “descobertas e as encobertas”; as
“descobertas” são
observáveis, perceptíveis
e
públicas, enquanto as
“encobertas” são as que ocorrem dentro do organismo, não são prontamente
observáveis ou perceptíveis, são íntimas. Tanto as repostas “descobertas”
como as “encobertas” tampouco são fixas ou permanentes. É de grande
utilidade distinguir as duas classes de respostas, quando se discutem
aprendizagem e comunicação.
38
A aprendizagem pode ser definida como uma mudança na relação
estável entre: a) um estímulo que o organismo individual percebe; e b) uma
resposta que o organismo formula, “descoberta ou encobertamente”.
Se o estímulo se destina a influenciar o organismo, ele deve ser
realmente percebido. O segundo passo no processo de aprendizagem é a
percepção do estímulo pelo organismo. É preciso haver resposta para haver
aprendizagem, mas isso não é condição suficiente. O organismo é capaz de
produzir respostas a estímulos, sem que precise aprender (respostas
reflexivas); quando o organismo muda suas respostas a um estímulo
conhecido, ou dá uma velha resposta a um estímulo diferente, a permanência
não está ainda caracterizada. O organismo tem de decidir se continuará a dar
esta resposta nova ou atribuir uma resposta a este estímulo novo. O que o
organismo faz é observar as conseqüências da resposta. Ele confere, para ver
o que lhe acontece em resultado a este estímulo novo. A primeira resposta
dada pelo organismo é, geralmente, tentativa, hesitante, cautelosa. Podem-se
considerar as primeiras respostas como experimentais.
A resposta experimental é mantida se o organismo percebe que as
conseqüências são compensadoras; é abandonada se o organismo não
percebe as conseqüências como compensadoras. A aprendizagem não terá
ocorrido enquanto a resposta não se tornar habitual, enquanto não for repetida
quando ocorrer o estímulo. O que determina a aprendizagem, a criação do
hábito, é a recompensa. A repetição ocorre se as respostas forem
recompensadas. Em cada caso, observam-se as conseqüências das respostas
e decide-se se beneficiam ou prejudicam. Por vezes, deseja-se apenas utilizar
um padrão de hábito existente; outras vezes, deseja-se fortalecer um padrão
de hábito existente mas que não está fortemente desenvolvido. Toda a
comunicação está relacionada com os hábitos do receptor e com os modos
como ele responde a certos estímulos.
O hábito é uma relação estável entre um estímulo e a resposta que o
indivíduo dá a esse estimulo e pela qual foi recompensado. Cinco princípios
fortalecem as relações E-R, quais sejam:
1) Freqüência de repetição da relação E-R
- A freqüência em
comunicação pode ser representada pelas conexões estímulo-resposta, as
quais podem ser fortalecidas pelo emprego do princípio da repetição. Ao
39
recompensar uma resposta, estar-se-á fortalecendo o hábito. Se não houver a
recompensa, estar-se-á enfraquecendo o hábito, que poderá ser extinto.
2) Isolamento das relações E-R de outras conexões E-R concorrentes Se uma fonte de comunicação for capaz de isolar o receptor e de restringir as
mensagens à disposição do receptor, esta fonte pode aumentar as
possibilidades de que o receptor atenda a sua mensagem, em lugar de atender
a outras mensagens, pois a redução dos estímulos disponíveis aumenta a
efetividade dos estímulos que permanecem.
3) Quantidade de recompensa : nível de recompensa é capital em
matéria de comunicação - A recompensa determina, em grande parte, o
desenvolvimento e o fortalecimento de hábitos de comunicação, assim como o
ritmo e o volume da aprendizagem. Para que as respostas sejam mantidas, há
necessidade de que sejam recompensadas em quantidade e qualidade, pois o
conceito de recompensa deve ser visto como o resultado da combinação de
todas as possibilidades de influenciar o receptor, como conseqüência de
determinada resposta. Algumas dessas conseqüências são imediatas e
evidentes; outras, demoradas e menos aparentes. A necessidade de influenciar
resulta da necessidade do organismo de reduzir sua tensão interna pela
criação de uma estrutura consistente para o ambiente em que opera.
Deve-se lembrar que as pessoas e a sociedade diferem no volume de
aprendizagem e de modificação de comportamento que podem tolerar. Em
qualquer situação, todavia, a modificação de conduta é determinada pela
recompensa esperada
versus energia necessária. Os indivíduos não
respondem, se não esperam que suas respostas resultem em conseqüências
compensadoras.
A recompensa deve ser definida no contexto da pessoa que dá a
resposta. Pode ser definida como “alguma coisa dada em retribuição”. O que é
compensador para a fonte pode ser ou não compensador para o receptor. A
recompensa determina a força de hábitos, a rapidez e a extensão da
aprendizagem. A seleção e a interpretação de um estímulo têm relação com a
expectativa de recompensa. Os estímulos são percebidos e interpretados
quando se acredita que as respostas sejam compensadoras. Se não houver
expectativa de recompensa, com freqüência, há recusa em selecionar e
interpretar um estímulo. A ação só irá acontecer quando o indivíduo, após ter
40
sido estimulado pela mensagem, for capaz de interpretá-la como algo que lhe
traga, com pequeno esforço, algum retorno (recompensa), seja físico, social ou
econômico.
No ato de comunicação, a recompensa dá maior poder ao ato de
influenciar. Os comunicadores devem lembrar que a resposta que esperam do
receptor deve ser compensadora para ele, ou não haverá aprendizagem. Podese dizer que a recompensa é o resultado da soma de todos os fatores positivos
e negativos compreendidos na resposta que se espera. Na comunicação
eficiente, quando se aumentam os fatores considerados “mais”, em termos de
recompensa, e diminuem-se os fatores “menos”, a comunicação torna-se mais
eficiente.
4) A rapidez ou demora de recompensa é vital para a comunicação
efetiva, bem como para a sua quantidade - Quando um receptor de
comunicação obtém recompensa imediata por sua resposta, é provável que
mantenha essa resposta. Se as recompensas tardam, a força da resposta tem
menor probabilidade de aumentar. Sabe-se que as respostas precisam ser
mantidas;
quanto
mais
depressa
se
percebem
as
conseqüências
compensadoras da resposta, maior a probabilidade de que essa resposta seja
mantida. A recompensa deve ser dada o mais breve possível.
5) Quanto ao esforço exigido para a resposta; sendo iguais os demais
fatores, o organismo formula respostas que exigem pequeno esforço e evita as
que exigem muito esforço - Para que a mensagem seja efetivada ou
apreendida, deve-se reduzir o esforço do receptor na formulação da resposta
desejada, pois ele despende energia, trabalho e tempo. Quanto maior a
energia necessária para uma resposta, é menos provável que essa resposta
seja dada; nesse caso, a energia exigida atua como repressora da
aprendizagem. A redução do esforço aumenta as possibilidades de que seja
dada a resposta “certa” (esperada pela fonte).
Na relação de comunicação, a restrita capacidade de as pessoas
envolvidas
processarem
informações
poderá
causar certas limitações
perceptivas. As primeiras percepções do mundo pelo homem são vagas,
imprecisas, sem forma. Desde o começo, ele procura impor uma estrutura ao
que percebe; tenta formalizar suas percepções. Grande parte da teoria sobre o
comportamento humano baseia-se na suposição de que o homem, em
41
presença da ambigüidade, da ausência de forma, age sob tensões fisiológicas.
Aparentemente, o seu desejo de influir é o desejo de reduzir a própria tensão
pela redução da incerteza a respeito da natureza do meio ambiente.
A aprendizagem incita um paradoxo, já que, enquanto o receptor luta
para reduzir a tensão, a aprendizagem exige pequeno aumento de tensão
(redução da certeza). No entanto, a tensão deve ser criadora, para que o
receptor perceba a possibilidade de posterior redução dessa tensão pela
criação de um padrão de certeza mais consistente de uma estrutura mais útil
da realidade.
Scharamm definiu a fração de seleção de uma mensagem, do ponto de
vista do receptor, como
Fração de Seleção =
Recompensa Esperada
Energia Necessária Esperada
Este conceito pode ser ampliado para abranger mais que a seleção da
mensagem. É aplicado, igualmente, à interpretação e à aprendizagem. Decidese optar por certos comportamentos que, espera-se, “valham o esforço”.
Decide-se não optar por determinado comportamento quando se acredita que
“não valha esforço”. Pode-se definir a fração de decisão como:
Fração de Decisão =
Recompensa Esperada
Energia Necessária Esperada
Quanto maior a recompensa que o indivíduo percebe ao dar uma
resposta, mais energia despenderá, se a tiver disponível, para que possa dar
uma resposta. Quando se diminui a recompensa percebida, a energia exigida
deve também decrescer, para que seja dada a resposta.
A efetividade da aprendizagem pode ser aumentada de uma ou de
duas maneiras, quais sejam, pelo aumento da recompensa ou pela redução da
energia. A natureza da recompensa é complexa e não pode ser interpretada
simplesmente como o benefício físico ou material de curto alcance.
Para ALVES (1997), os sistemas de recompensas são mecanismos
pelos quais as pessoas são premiadas e estimuladas
por alcançarem
determinado resultado. Funcionam como importantes dispositivos para focalizar
a atenção, direcionar o comportamento desejado e sinalizar os interesses. As
42
retribuições dadas pela empresa em troca das contribuições aos seus
membros podem ser de natureza
associadas ao ambiente e ao
econômico-financeira ou podem estar
conteúdo da tarefa. Essas últimas são
denominadas recompensas intrínsecas e referem-se a um estado de ânimo
positivo que a pessoa experimenta por estar em certa empresa e por realizar
determinado trabalho, que, por si mesmo, é considerado gratificante e
proporciona sentimento de orgulho.
As recompensas extrínsecas, por outro lado, estão ligadas a incentivos
e estímulos concedidos pela empresa em forma de salários, gratificações,
abonos, distribuição de ganhos, participação nos lucros, promoções, benefícios
adicionais diversos (diretos ou indiretos).
A recompensa é de capital importância para
retroalimentar a
manutenção ou a modificação de hábitos. Em grande parte, é ela quem
determina o desenvolvimento e o fortalecimento dos hábitos de comunicação,
assim como o ritmo e o volume de aprendizagem.
Para BOWDITCH (1992), a comunicação eficaz
entendimento,
embora
existam
barreiras
à
pressupõe o
comunicação.
Entretanto,
considerando-se o modo complexo como se usam os meios verbais, os
simbólicos e os meios não-verbais para transmitir mensagens, nem sempre se
chega a esse entendimento, mesmo em interações relativamente simples, face
a face, por exemplo. Nesse processo, o ouvinte, em vez de estar formulando
uma resposta, deverá realmente ouvir o que a primeira diz. Assim, por não
ouvir nem prestar atenção em todas as facetas da mensagem, as pessoas
envolvidas não estão efetivamente se comunicando, mas cada uma está
falando para outra. Para esse autor, um bom sistema de comunicação distribui
informações que atuam nas orientações cognitivas e afetam o nível de
concordância sobre os procedimentos e condutas da empresa (comunicação
instrumental), ou cria, modifica e reforça atitudes, normas e valores
(comunicação
expressiva).
As
empresas
que
apresentam
um
bom
desempenho possuem vasta e intensa rede de comunicações, reforçada pela
atuação daqueles que procuram assegurar que as pessoas certas recebam as
informações certas, no momento certo. São muitos os problemas e obstáculos
da comunicação que precisam ser enfrentados para que se consolide uma
relação comunicacional.
43
A carência de alguns aspectos ou de partes relevantes da informação
dificulta a sua exata apreensão pelo receptor. Essa difícil apreensão ocorre
com mais freqüência nas comunicações verticais, em razão das filtragens que
se verificam, e pode ser minimizada pela redundância ou pela ratificação.
A distorção do sentido correto da informação ocorre quando o
transmissor e o receptor compartilham diferentes crenças e valores. Excesso
ou sobrecarga de informações, que acarreta efeitos cumulativos, pressupõe
adoção de critérios claros de prioridades que minimizem esses efeitos, para
que haja filtragem das informações.
A interpretação equivocada da essência da informação (ouvir o que se
espera ou o que se quer ouvir) e a avaliação prévia ( des)favorável que é feita
da fonte de informação, por parte do receptor, podem alterar a intenção básica
da comunicação. O uso de jargões e de certas expressões, próprios de certas
profissões e especialidades, pode alterar as percepções de verdadeiros
significados, visto que incoerências provocadas
por sinais não-verbais ou
gestuais antagonizam-se com a comunicação original.
Efeitos dos sentimentos afetivo-emocionais, favoráveis ou não, alteram
o processo de decodificação e modificam o sentido exato da comunicação.
As comunicações mais efetivas são as objetivas, simples e diretas,
uma vez que ajudam a estabelecer metas que todos compreendam e buscam
alcançar. Entretanto, o processo comunicativo precisa ter forma e conteúdo
adequados às circunstâncias ou à natureza do trabalho.
Para que a comunicação seja eficaz, devem-se evitar os diversos tipos
de falhas vistos anteriormente e utilizar duas habilidades básicas:
1) Habilidade de transmissão, que é a capacidade de se fazer compreender por
outras pessoas ( por exemplo, mediante o uso da linguagem e de outros
símbolos importantes da comunicação); e
2) Habilidade de escutar, que é a capacidade de entender os outros ( por
exemplo, ter empatia, prestar atenção e ler a linguagem corporal e os sinais
não-verbais). Essa habilidade de escutar não significa uma atividade
passiva, mas uma capacidade de escutar a mensagem inteira (verbal,
simbólica e não-verbal) e responder, apropriadamente, ao conteúdo e à
intenção (sentimentos, emoções, etc.) da mensagem.
44
A empatia significa colocar-se na posição ou na situação da outra
pessoa, num esforço para entendê-la. É o processo pelo qual se projetam os
estados internos ou as personalidades de outros, a fim de predizer o
comportamento destes. Esses estados internos são vislumbrados quando se
comparam atitudes próprias com predisposições. As expectativas da fonte e do
receptor são interdependentes; cada uma é, em parte, criada pela outra. Se
dois indivíduos tiram inferências sobre os próprios papéis e assumem o papel
um do outro ao mesmo tempo, e se a comunicação depende da adoção
recíproca de papéis, então eles estão em comunicação por interagirem um com
outro. A empatia também é uma forma útil de dar efetividade à comunicação.
Quando a empatia é recíproca, quando há interação, chega-se à situação ideal
de comunicação. A exatidão da empatia diminui quando o grupo aumenta,
quando a comunicação prévia é mínima, e quando não se está motivado numa
situação de comunicação.
A análise da comunicação envolve uma interdependência física, isto é,
fonte e receptor são conceitos diáticos, já que cada qual depende do outro para
a própria existência.
Num segundo nível de complexidade, a interdependência pode ser
analisada como uma seqüência de ação e reação.
A reação interdepende da ação e reação do feedback. O feedback
proporciona à fonte a informação sobre o sucesso na realização de um
objetivo; quando esse processo se realiza, há controle sobre futuras
mensagens que a fonte possa codificar, ou seja, cada um influencia o outro.
A mensagem inicial influencia a resposta subseqüente, porque é
utilizada pelos comunicadores como feedback - como informação que ajuda a
determinar se estão obtendo o efeito desejado. Num terceiro nível de
complexidade, a análise da comunicação preocupa-se com as habilidades de
empatia e com a interdependência produzida pelas expectativas de como os
outros responderão às mensagens.
A adoção de um papel ou a interação exige grande quantidade de
energia, é uma operação que consome muito tempo, é uma
contínua
interpretação do mundo conforme o ponto de vista da outra pessoa. Ao
deparar-se com situações sociais desconhecidas, o indivíduo sente-se
fisicamente cansado, em conseqüência dessa espécie de esforço. Mesmo
45
quando há condições ideais de comunicação, constata-se que alguns
destinatários não adotam, de forma automática, as mensagens emitidas pela
fonte. A compreensão de que deve ser valorizada a cultura dos destinatários
leva ao melhor ajuste dessas mensagens, por meio de melhor conhecimento
prévio destas.
ALVES (1997) considerou a cultura como um complexo de padrões de
comportamentos, hábitos sociais, significados, crenças, normas e valores
selecionados historicamente, os quais são transmitidos coletivamente e
constituem o modo de vida e as realizações de determinado grupo humano.
Por outro lado, a cultura da empresa, para ele, também agrega um conjunto
complexo de
crenças,
valores,
pressupostos,
símbolos,
artefatos,
conhecimentos e normas, freqüentemente personificados em heróis que são
difundidos na empresa pelos sistemas de comunicação e pela utilização de
mitos, estórias e rituais, além de processos de endoculturação. Essa coleção
de elementos culturais reflete as escolhas ou preferências da liderança
empresarial e é compartilhada pelos demais membros da empresa, com o
propósito de orientar o comportamento desejado, tanto quanto a integração
interna como a adaptação ao ambiente. Para ele, a cultura pode ser entendida
como uma espécie de lente, por meio da qual as pessoas ou as empresas
vêem o mundo e passam a considerar o modo de vida de cada um como o
mais natural. Ela atua como fator de diferenciação social, já que traz
informações sobre o que o grupo é, pensa e faz, para que ele possa melhor
lidar com o ambiente em que vive. A cultura humana orienta e constrói as
alternativas humanas de ser e de estar, proporcionando as categorias pelas
quais é visto o mundo e explicando as condições em que ele é percebido.
Cada realidade cultural tem a sua própria lógica interna que deve ser
conhecida para que façam sentido as práticas, as concepções e as
transformações pelas quais o mundo passa. O estudo dessa lógica focaliza as
maneiras pelas quais a realidade cultural é codificada, seja pela linguagem,
costumes, idéias e doutrinas, seja pelas crenças, valores, rituais, lendas e
tradições. Esses fenômenos, no entanto, pouco significam fora do universo
cultural do qual são integrantes. Dentro dessa ótica, a empresa pode ser
enfocada como um código de significados que são vivenciados por seus
participantes em sua experiência organizacional comum.
46
A
empresa
pode
ser
abordada
como
uma
estrutura de
responsabilidades e deveres, em que as tarefas são distribuídas entre os seus
participantes. Nela há relações de papéis e de poder que regulam os seus
diversos subsistemas constituintes que estão articulados entre si, tendo em
vista os seus objetivos.
Por meio da mobilização da energia humana e de recursos materiais,
financeiros e tecnológicos, a empresa devota-se à consecução de suas metas.
Para a coordenação de suas atividades, ela utiliza a divisão do trabalho, a
hierarquia e os processos de comunicação que definem as posições e as
interações entre as pessoas e os grupos no espaço organizacional. Esse autor
considera que a empresa seja formada por subsistemas ( subculturas) que
interagem sinergeticamente, executam tarefas de naturezas distintas e podem
exigir subtipos de gerenciamento, desde que se baseiem em uma filosofia
administrativa comum e fundamentada numa cultura empresarial integradora.
A cultura da empresa molda-se, com o passar do tempo, a partir dos
problemas, dos questionamentos e das demandas que ela enfrenta, os quais
resultam em respostas e soluções que são testadas, avaliadas, selecionadas,
assimiladas e memorizadas, coletivamente, pelos seus membros. Assim, ela é
difundida pelos sistemas de comunicação, numa relação estímulo-resposta.
Ao longo da história, o comportamento humano e as relações
interpessoais têm sido investigados e explicados sob muitas perspectivas, mas
o processo de comunicação é demais complexo para ser inteiramente
abordado de forma simplista e mecanicista.
Segundo CREMA (1984), o enfoque centrado na técnica é mecanicista
e reducionista, visto que leva à demasiada compartimentalização e rigidez.
Muitas vezes, dá-se
status de especialização ao processo de rigidez e
unilateralidade de visão, o que leva o homem a considerar-se demasiadamente
seguro, em vez de audacioso, repetitivo, em vez de criativo, numa ilusão de
objetividade e negação de valores, ou seja, leva as pessoas a ajustarem seus
problemas à técnica.
Para estimular a adoção de novas idéias e práticas, faz-se necessário
conhecer conceitos e elementos da difusão. A difusão é um tipo especial de
comunicação que se refere a idéias novas, enquanto a comunicação abarca
todos os tipos de mensagens. No caso da difusão, como as mensagens são
47
novas, há grande risco para o receptor. Por isso, quando se recebem
inovações, a conduta é diferente de quando se recebem mensagens com
idéias rotineiras, pois pode-se alterar a forma da fonte, da mensagem, dos
canais e dos receptores dentro do processo de comunicação.
Descobriu-se que os canais de massa são mais importantes para criar
a consciência do conhecimento de uma nova idéia, enquanto os canais
interpessoais servem melhor para promover a mudança de atitudes diante das
inovações. Com base nos princípios da “
homofilia” e da heterofilia, os
indivíduos comunicam-se de forma mais eficiente ou menos eficientes, assim
como modificam atitudes.
A “homofilia” é uma medida de semelhança a respeito de certos
atributos em interação, os quais podem ser crenças, valores, educação, status
social, etc. O princípio da “ homofilia” baseia-se em muitas causas; os
indivíduos semelhantes sentem-se atraídos por interesses comuns.
A comunicação mais efetiva ocorre quando a fonte e o receptor são
homofílicos e tende a ter maiores efeitos em termos de conhecimento obtido,
formação e mudança de atitude.
A heterofilia é o reflexo simétrico da “ homofilia”. Com base na
heterofilia, os indivíduos diferem em conhecimentos, valores, status sociais,
educação e crença; diferem em empatia, que é a capacidade individual de
projetar-se no papel do outro. É importante que a fonte e o receptor sejam
homofílicos, a menos que possam ter alto grau de empatia.
A boa comunicação entre fonte e receptor conduz ao aumento da
“homofilia” em conhecimento, crenças e condutas manifestas.
A difusão do conhecimento e de seus benefícios econômicos requer
muito tempo até este ser internalizado.
A inovação é comunicada por meio de canais, em determinado tempo,
aos membros do sistema social. Seus efeitos podem produzir mudanças de
conhecimento, de atitudes e de conduta manifesta (rejeita ou adota). A adoção
de inovações tecnológicas é um processo de tomada de decisão, por meio da
qual um indivíduo passa de um primeiro contato com a inovação até a decisão
final de um completo e contínuo uso desta.
De acordo com estudos de ROGERS e SHOEMAKER (1974), sobre
as etapas relativas ao processo decisório do indivíduo para adoção de
48
tecnologias, observa-se que a tomada de decisão dos produtores irá depender,
significativamente, das seguintes variáveis:
1. Vantagem relativa, que está relacionada com o grau de superioridade de
uma inovação em relação à idéia que se pretende superar, podendo estar
relacionada com vantagens econômicas ou com outros parâmetros, como
nível de custo inicial, facilitação do trabalho, economia do tempo e esforço,
prestígio social, conveniência e satisfação.
2. Compatibilidade, que é o grau percebido de consistência entre inovação e
valores existentes, experiências anteriores e necessidades dos receptores,
pois não se adota com rapidez uma idéia incompatível com os valores
predominantes em relação às normas sociais do sistema.
3. Complexidade, que se refere ao grau percebido de dificuldade relativa para
compreensão e utilização da inovação.
4. Experimentabilidade, que é o grau de experimentação, pois uma idéia já
experimentada apresenta menos riscos aos indivíduos.
5. Observabilidade, que é o grau de visibilidade observada pelos indivíduos;
quanto mais fácil for para o indivíduo ver os resultados de uma inovação,
tanto será maior a probabilidade de adotá-la.
A linha de comportamento racional consta de cinco atividades (fases,
funções básicas).
O processo de decisão sobre a inovação é um processo mental que
consiste na percepção inicial. Quando o indivíduo toma conhecimento, pela
primeira vez, da existência da inovação, ele tem interesse (sente-se persuadido
a buscar novos conhecimentos). O indivíduo, movido pelo interesse provocado
pela percepção inicial, busca novas informações; procura obter mais
informações sobre os princípios da inovação, funcionamento, utilidade, etc.
(conhecimento teórico); procura analisar e avaliar, conceitualmente ou
simbolicamente, a racionalidade, as vantagens relativas e a aplicabilidade da
inovação; busca habilitar-se através do conhecimento e toma decisão favorável
ou não, diante da inovação.
Os elementos da difusão de inovações são sucessivos para chegar-se
à mudança social, a saber:
1. Invenção - processo pelo qual as idéias novas são criadas e desenvolvidas;
49
2. Difusão - processo pelo qual as idéias novas são comunicadas aos
membros do sistema social; e
3. Conseqüências - trocas que ocorrem dentro do sistema social, em
conseqüência da adoção ou da resistência às novas idéias.
A mudança é um dos efeitos da comunicação. Antes da promoção ou
da divulgação da nova idéia, deve-se ajustá-la às necessidades do público, ou
seja, dos destinatários.
A mudança que se origina dentro do sistema social pode chamar-se de
mudança imanente, enquanto as idéias novas que chegam do exterior do
sistema social são chamadas de mudança por contato.
As mudanças podem ser:
Imanente - ocorre quando os membros do sistema social se propõem,
com pouca ou nenhuma influência externa, criar e desenvolver idéias novas;
Por contato - é o processo de modificação em que se introduz no
sistema social uma nova idéia originada de fontes externas.
A mudança por contato é realizada entre sistemas. Seu caráter seletivo
é dirigido para o reconhecimento da necessidade de mudança, que pode tanto
ser interna como externa aos indivíduos. Ocorre quando os membros de um
sistema social se vêem expostos às influências externas e podem adotá-las, ou
não, com base em suas necessidades.
A exposição às inovações podem ser espontâneas ou acidentais.
A mudança dirigida por contato é planejada, é conseqüência de
esforços deliberados de pessoas estranhas ao sistema, as quais atuam por
conta própria ou como representantes das agências de mudança, com a
intenção de introduzir novas idéias e alcançar metas definidas.
Os programas de mudança dirigidos são, em boa parte, resultado da
insatisfação com as taxas de mudança imanente e seletivo por contato.
Quando o agente adquire mais experiência técnica e sutileza no
diagnóstico das necessidades do seu público, a mudança far-se-á com maior
rapidez e de forma mais eficiente.
As organizações e agências de mudança despendem esforços para
centrar-se na mudança dirigida.
50
A mudança planejada nem sempre oferece resultados satisfatórios. O
desejo de produzir mudanças rápidas tem impedido a aplicação de
conhecimentos científicos na introdução de inovações.
Muitas mudanças são de nível individual; o indivíduo adota ou rejeita a
inovação, disseminada adoção, modernização, aculturação, aprendizagem e
socialização. Outras mudanças ocorrem no sistema social e recebem o nome
de mudança para o desenvolvimento.
A mudança social é um processo que modifica a estrutura do sistema
social; ao se analisarem as mudanças sociais, deve-se conferir atenção
especial à comunicação. Todas as explicações do comportamento humano
nascem
diretamente
do estudo
da
aquisição e
da
modificação do
comportamento dos indivíduos por intermédio da comunicação uns com outros.
Com facilidade, visualizam-se muitos aspectos dos processos de
decisão que se unem para dar a sustentação à mudança social.
A percepção seria então a porta de entrada do sistema, isso porque os
estímulos ao comportamento resultam, de alguma forma, deste mecanismo
interativo básico. A percepção recebe, de um lado, a inovação e, do outro, os
incentivos e obstáculos e, por retroalimentação, os conhecimentos conceituais
e instrumentais.
O
ingrediente
retroalimentação
em
comunicação
resulta da
possibilidade da fonte em conduzir o destinatário ao comportamento desejado;
longe de promover uma verdadeira integração humana entre a fonte e o
destinatário, visa apenas ao melhor ajuste das mensagens, tornando-as mais
adequadas aos objetivos da fonte.
Deve-se submeter o destinatário às mesmas mensagens, por meio de
diferentes métodos.
A ênfase desse modelo está concentrada na mensagem a ser
comunicada, que deve ser a mais atrativa possível. As campanhas para
adoção de tecnologias baseiam-se nesse método básico de atuação e
persuasão.
Segundo ARAÚJO (1981), para entender o processo de adoção de
novas tecnologias por parte dos agricultores, devem-se examinar suas
características pessoais, bem como suas estruturas socioeconômicas ligadas a
eles, considerando-se as várias situações em que se encontram. Ambas as
51
pressuposições estão integradas a uma idêntica visão
conceitual que as
consideram como partes complementares do mesmo processo de adoção
tecnológica. Para ele, a
mudança comportamental ou o processo de
aprendizagem individual são conceituados como uma modificação na relação
estável estímulo-resposta. Acredita que, à medida que os estímulos vão sendo
percebidos, ou seja, à medida que a atenção e o interesse vão sendo
aguçados, vai-se reagindo e modificando o comportamento e a maneira de ver,
de pensar e de agir.
Para BORDENAVE e PEREIRA (1977), pode-se atuar decisivamente
na formação da mentalidade do indivíduo mediante estimulação de sua
percepção e interpretação das mensagens. Devem-se utilizar metodologias
adequadas para estimular o indivíduo, de acordo com seu sistema de valores,
seu modo de viver e sua formação mental. Então, a metodologia utilizada
poderá contribuir para gerar uma consciência crítica ou uma memória fiel, uma
visão universalista ou uma visão estreita e unilateral, e para estimular a sede
de aprender pelo prazer de aprender a resolver problemas, ou pela angústia de
aprender apenas para receber um prêmio e evitar um castigo.
Para ALVES (1997), a correta utilização da comunicação possibilita o
esclarecimento das razões e da finalidade das mudanças; ajuda a divulgar os
resultados que indicam se os fins pretendidos estão sendo ou não alcançados;
serve para informar sobre os riscos e ameaças; corrige eventuais desvios e
interpretações equivocadas; reduz a ansiedade própria dos processos de
mudança; sustenta a motivação e o comprometimento; e ajuda a superar
momentos conflitantes do processo.
ROGERS e SHOEMAKER (1974) consideraram o agente de mudança
como o elo entre o indivíduo e os sistemas sociais que atuam na criação da
necessidade de mudança, na relação de troca entre seus clientes, devendo
diagnosticar problemas e catalisar suas necessidades, avaliá-las e criá-las por
meio de conselhos e trabalhos de motivação e persuasão, traduzindo suas
intenções para as ações, impedindo a descontinuidade. Para eles, o agente de
mudança é o indivíduo capaz de provocar essas transformações, uma vez que
deve ser um “expert” em saber articular e criar necessidades nos agricultores.
52
Esse modelo conceitual foi considerado o mais adequado para analisar
as relações de comunicação entre integradora, via técnico como agente de
mudanças, e produtores, como recebedores dessas mensagens.
53
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das entrevistas realizadas, caracterizou -se o perfil dos
produtores, dos técnicos e do sistema produtivo.
Analisou-se o processo de comunicação a partir da comunicação
interpessoal realizada pela Sadia Concórdia S.A. junto aos produtores
integrados, confrontando intenções, expectativas e percepções relacionadas
com seus conteúdos e práticas pedagógicas.
Este estudo permitiu constatar o controle
agroindustrial sobre a
produção agrícola, assim como os espaços de ação que ambos dispõem nessa
relação.
3.1. Descrição dos suinocultores e do sistema produtivo
Procedência
Do total dos produtores de leitões integrados entrevistados (36),
100% eram procedentes do meio rural.
Origem étnica
Havia preponderância da cultura italiana em todos os estratos (cabeça,
média e cola).
54
Ciclo anterior de produção
Em relação ao ciclo anterior de produção desenvolvida por esses
integrados, 100% do estrato cabeça, 90,0% do média e 100% do cola eram
criadores de ciclo completo; 5,0% do média eram criadores de reprodutores,
enquanto os outros 5% do média desenvolviam outras atividades (Quadro 3).
As variáveis etnia, procedência e ciclo anterior de produção (Quadros 2
e 3) indicam semelhanças culturais entre esses produtores.
Quadro 2 - Etnia dos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC,
1998 (em porcentagem)
Estrato
Italiana
Italiana e outras
Alemã
I – cabeça
II – média
III – cola
89,9
83,3
100,0
11,1
11,1
-
5,6
-
Média geral
91,06
11,1
5,6
Fonte: Dados da Pesquisa.
Quadro 3 - Ciclo anterior de produção, por estrato de produtores, no município
de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Ciclo completo
Criador de
reprodutores
Outras atividades
I – cabeça
II – média
III – cola
100,0
90,0
100,0
5,0
-
5,0
-
Média geral
96,66
5,0
5,0
Fonte: Dados da Pesquisa.
55
O percentual médio dos três estratos, no que se refere ao ciclo anterior
da atividade, mostra que a quase totalidade de produtores entrevistados
(96,66%) era de produtores de ciclo completo, o que comprova a tradição
agrícola herdada da colonização, principalmente na atividade
suinícola, e
acentuada semelhança entre eles.
Para AGUIAR (1993), desde o início da atividade suinícola, esses
colonos tinham o objetivo de produzir para subsistência e de comercializar os
excedentes.
A crescente demanda paulista de suínos vivos e de banha fez a
suinocultura assumir especial importância na unidade produtiva, sem, contudo,
provocar alterações na organização interna da unidade familiar como unidade
produtiva. Tal fato demonstra a inserção desses produtores na comercialização
de produtos coloniais para geração de riquezas.
Idade
A idade consiste na etapa da vida em que os produtores se encontram
declarados no ato da entrevista e está relacionada com “vivências” e
“experiências”. A idade é fator limitante para alguns produtores, quando
pensam na hipótese de mudar de atividade produtiva ou de continuar na
atividade como produtor independente. Observa-se uma distribuição variada de
idade entre os produtores entrevistados, já que um número maior de
produtores encontrava-se na faixa de 29 e 44 anos, idade mínima de 17 e
máxima de 67 anos. O Quadro 4 mostra que a idade média mais elevada era
do estrato cola.
Sexo
Dos produtores entrevistados, 100% eram do sexo masculino, razão
por que todos os questionários foram respondidos pelos homens, visto que, na
estrutura interna das unidades familiares entrevistadas, concentra a figura do
pai, autoridade e tomador de decisão, o que configura assim o espaço
masculino nas decisões e no mando da casa.
56
Quadro 4 - Idade média dos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998
Estrato
Idade média
I – cabeça
II – média
III – cola
40
41
46
Média geral
42,3
Fonte: Dados da Pesquisa.
Estado civil
Conforme Quadro 5, dos produtores entrevistados, 88,9% eram
casados. Quanto aos solteiros, observa-se que nessas unidades familiares
havia participação desse membro da família nas atividades da unidade
produtiva (pai, tio, mãe, etc.), o que não descaracteriza a propriedade como
familiar.
Quadro 5 - Estado civil dos produtores, por estrato, no município de ConcórdiaSC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
I – cabeça
II – média
III – cola
Média geral
Casado
Solteiros
100,0
77,8
88,9
0,00
22,20
11,10
88,9
16,65
Fonte: Dados da Pesquisa.
57
Número de filhos
Quanto ao número médio de filhos por estrato (Quadro 6), observa-se
que não havia muita diferença entre os estratos.
Quadro 6 - Número médio de filhos dos produtores, por estrato, no município
de Concórdia-SC, 1998
Estrato
Número de filhos
I – cabeça
II – média
III – cola
3
2
3
Média geral
2,6
Fonte: Dados da Pesquisa.
Plano de saúde
A preocupação com a saúde é constatada pelo interesse dos
produtores em adquirir plano privado de saúde. Os resultados indicam que os
produtores que tinham nível socioeconômico mais elevado apresentavam maior
interesse em adquiri-lo (Quadro 7). Constata-se que, em média, 44,43% dos
produtores entrevistados possuíam plano privado de saúde, variável que reflete
a preocupação constante com a saúde física, necessária e importante para o
desempenho do trabalho familiar, já que, nessa atividade, os produtores são
vulneráveis às intempéries.
Nível de escolaridade
Nota-se que a maioria dos produtores (79,6% era a média geral dos
três estratos) estava cursando ou havia cursado o 1. o grau.
58
Quadro 7 - Número de produtores que tinham, ou não, plano de saúde privado,
por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998
Estrato
Sim
I – cabeça
II – média
III – cola
Média geral
Não
66,7
44,4
22,2
33,3
55,6
77,8
44,43
55,56
Fonte: Dados da Pesquisa.
Quadro 8 - Nível de escolaridade dos produtores, por estrato, no município de
Concórdia-SC, 1998
1.o grau
2.o grau
3.o grau
Pós-graduação
I – cabeça
II – média
III – cola
88,9
72,2
77,7
11,1
22,3
11,1
16,7
-
1,0
-
Média geral
79,6
16,7
13,9
1,0
Estrato
Fonte: Dados da Pesquisa.
Observa-se que, do estrato cabeça, 88,9% possuíam 1.o grau, 55,6%
dos quais estudaram da 1. a a 4.a série, e 11,1% concluíram o 3.o grau, e 5,55%,
administração de empresas. Do média, 72,2% possuíam 1.o grau, 11,1%
freqüentavam o 2.o grau (dos que tem o 2. o grau, 5,6% fizeram curso técnico
em agropecuária, e 5,6%, curso técnico em contabilidade). Dos 16,7% que
estavam no 3.o grau, 5,6% possuíam curso superior incompleto, e 11,1%, curso
superior completo. Dos que concluíram o 3. o grau, 5,6% fizeram curso superior
59
em contabilidade, e 5,6%, mestrado. Do cola, 77,7% possuíam 1.o grau ou o
estavam cursando; e 22,3% estavam no 2. o grau ou o estavam cursando (dos
que já o cursaram, 11,1% fizeram curso técnico em agropecuária). Não havia
produtores com 3.o grau, nesse estrato.
Na média geral dos três estratos, 41,7% dos produtores possuíam até
a 4.a série do 1.o grau, ou seja, grande parte dos produtores entrevistados tinha
baixo nível de escolaridade. A média nos três estratos de produtores que
estavam cursando ou já cursaram o 1.o grau era de 79,6%.
No estrato cabeça, não havia produtores no 2. o grau, e 11,1% estavam
no curso superior. Dos que estavam cursando o 3.
o
grau, muitos faziam
administração de empresas, variável que pode revelar a tentativa de melhoria e
eficiência administrativa por parte desse estrato, em relação aos outros.
No estrato média encontrava-se o grupo de produtores que possuíam
nível de escolaridade mais diversificado.
Posse da terra
Quanto à posse da terra, verifica-se que 100% dos produtores, em
todos os estratos, eram proprietários de terra, 11,1% dos quais arrendavam
terras para cultivo do milho. O interesse pelo arrendamento da terra para
plantação do milho pode ser devido à tentativa de diminuir custos e evitar a
dependência de insumos externos à propriedade. Dentre os pré-requisitos
exigidos pela integradora, citam-se a propriedade da terra, a capacidade de
alojar lotes de 300 ou 450 suínos, a existência de esterqueiras para
armazenamento de dejetos e de silo para depósito de ração e a localização da
propriedade a uma distância inferior a 60 quilômetros da indústria.
Distância média das propriedades, em quilômetro
Quanto à distância média das propriedades até a sede do município,
verifica-se que a média, por estrato, de produtores entrevistados era de
14,18 km. A distância entre as propriedades até a sede do município não
variava muito, porque, como visto anteriormente, a exigência era de que os
integrados se situassem próximos a ela.
60
Quadro 9 - Distância média (km) das propriedades até a sede do município de
Concórdia-SC, por estrato, 1998
Estrato
km
I – cabeça
II – média
III – cola
16,00
12,00
14,55
Média geral
14,18
Fonte: Dados da Pesquisa.
Área média das propriedades
No Quadro 10, observa-se que há relação direta entre o nível do
estrato e o tamanho das propriedades. O estrato com maior área média (40 ha)
era o cabeça.
Quadro 10 - Área média (ha) das propriedades, no município de Concórdia-SC,
por estrato, 1998
Estrato
ha
I – cabeça
II – média
III – cola
40
27
25
Média geral
30,6
Fonte: Dados da Pesquisa.
61
A maioria das propriedades apresentava relevo com morros e muitas
áreas impróprias para o cultivo, o que não favorecia a mecanização. O plantio
era realizado em terrenos menos inclinados, o que fazia com que muitos
produtores arrendassem terras para expansão da cultura do milho, uma das
exigências da integradora.
Tipo de moradia
No estrato considerado cabeça não foram encontradas moradias feitas
de madeira, o que implica que, quanto mais alto o nível socioeconômico,
melhor o tipo de material de construção utilizado (Quadro 11).
Quadro 11 - Tipo de moradia dos produtores do município de Concórdia-SC,
por estrato, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Alvenaria
Madeira
Mista
I – cabeça
II – média
III – cola
67,7
61,1
44,0
11,1
33,3
33,3
27,8
22,2
Média geral
57,6
22,2
27,7
Fonte: Dados da Pesquisa.
Tipo das instalações suinícolas
Segundo GOMES et al. (1992),
a preocupação com melhorias das edificações para a criação de suínos teve
seu início na década de 60 e 70, com o estabelecimento de agroindústrias e a
demanda crescente de suínos para abate. Diante da escassez de animais para
abate, as indústrias motivaram os suinocultores a produzirem mais e,
consequentemente, a aumentarem os seus plantéis e a investirem em
construções rurais.
Na década de 70, em razão da política vigente, especificamente a de crédito
subsidiado, os produtores investiram nas instalações. Nessa ocasião, pela falta
de edificações para a realidade brasileira, as empresas buscaram na Europa e
62
Estados Unidos, plantas de construções para suínos juntamente com os
animais para a formação de plantéis geneticamente melhorados.
No Quadro 12, ao relacionar o tipo de moradia dos produtores (Quadro
11) com o tipo de instalações, observa-se que o material de primeira qualidade
(alvenaria) sempre era priorizado para a atividade suinícola, conforme padrão
exigido pela integradora, já que isso facilitava a manutenção de higiene e
saúde dos animais. Com isso, percebe-se que os produtores, em ambos os
estratos, empenhavam-se, principalmente, em promover melhorias nas
instalações suinícolas, do que em suas próprias moradias.
Quadro 12 - Tipo de instalações suinícolas na propriedade dos produtores entrevistados, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em
porcentagem)
Alvenaria
Madeira
Mista (alvenaria e
madeira)
I – cabeça
II – média
III – cola
77,8
88,9
88,9
-
22,2
11,1
11,1
Média geral
85,2
-
14,8
Estrato
Fonte: Dados da Pesquisa.
Pretensão de ampliar a suinocultura
Do total de produtores entrevistados, 52,77% pretendiam ampliar a
suinocultura; 33,34% não pretendiam fazê-lo; e 13,89% estavam em dúvida. A
ampliação e, ou, os investimentos em melhorias das instalações dependia da
capacidade econômica dos produtores, pois sempre estavam interessados na
modernização. Quando havia recursos disponíveis e percebiam as vantagens
(custo x benefício), alocavam, imediatamente, recursos para a atividade
63
produtiva, adequando-se às exigências da integradora. Os outros que não
pretendiam investir sentiam-se desmotivados, pois estavam descapitalizados.
Área exclusiva para a suinocultura
Observa-se que a área média dos estratos, destinada exclusivamente à
suinocultura, era de 10,33 ha (Quadro 13). Nessa área estavam incluídas tanto
as instalações suinícolas quanto as de cultivo do milho. A área para produção
de milho oscilava muito, o que não permitia a sua ampliação (sob pena de
sacrificar capoeirões e matas nativas), razão por que esses produtores
arrendavam outras terras. A produção de milho dependia da disponibilidade de
mão-de-obra e do número de criadeiras.
Quadro 13 - Área média das propriedades, destinadas exclusivamente à suinocultura, por estrato de produtores, no município de Concórdia-SC,
1998
Estrato
ha
I – cabeça
II – média
III – cola
9
12
10
Média geral
10,33
Fonte: Dados da Pesquisa.
Outras atividades desenvolvidas na propriedade
Com relação às atividades desenvolvidas na propriedade, por estrato,
no estrato cabeça, 11,1% criavam suínos exclusivamente; 66,6%, além da
suinocultura, possuíam mais de uma atividade agrícola; 11,1%, além da
atividade suinícola, possuíam mais duas atividades agrícolas; e 11,1% criavam
suínos e realizavam mais três atividades agrícolas. Desses 88,8% que
64
desempenhavam outras atividades agrícolas, 11,1% plantavam grãos, ervamate e frutas, e 88,9%, grãos, erva-mate, frutas e outros.
No estrato média, 5,6% criavam suínos, exclusivamente; 50,0%, além
da suinocultura, desenvolviam mais uma atividade agrícola; 11,0%, além da
atividade suinícola, desenvolviam outras atividades não-agrícolas; e 33,4%
criavam suínos e desenvolviam duas atividades agrícolas. Desses 94,4% que
desempenhavam outras atividades agrícolas, 13% plantavam grãos e frutas;
6,0%, grãos, erva-mate e outros; 6,0%, grãos, fumo e frutas; 75,0%, grãos,
erva-mate, frutas e outros; e 11,0% desempenhavam atividade não-agrícola.
No estrato cola, 22,2% criavam suínos e aves; 11,1%, além da
suinocultura, desempenhavam outra atividade não-agrícola (indústria); 66,7%
criavam suínos e desenvolviam outras atividades agrícolas (lavoura, avicultura,
bovinocultura de leite). Dos cola, 66,7% eram suinocultores e realizavam
outras atividades agrícolas (grãos, erva-mate, frutas e outros).
Embora as transformações capitalistas na agricultura tenham causado
modificações na pequena produção, em razão da vinculação crescente ao
mercado e da subordinação ao capital com ênfase em determinado produto, a
base econômica principal desses produtores era a suinocultura. Muitos destes
diversificavam suas atividades, utilizando-se desse recurso como forma de
prover as necessidades da família e garantir os itens básicos do regime
alimentar.
Dos produtores entrevistados, 16,66% atuavam, exclusivamente, na
atividade, enquanto os demais exploravam agricultura diversificada para
subsistência. Mediante esses produtos, muitos sazonais, havia entrada de
algum recurso ao longo do ano, o que permitia melhor equilíbrio financeiro da
família, principalmente quando o preço dos suínos estava instável.
Entre as atividades para exploração comercial encontravam-se o
plantio da erva-mate, a avicultura, a fumicultura e a bovinocultura de leite (que
estão sendo fomentadas na região). Além dessas, o sistema de produção
abrangia lavoura, piscicultura (também em fase de implantação) e explorações
consideradas atividades de subsistência 1.
1
Atividade de subsistência inclui animais de pequeno porte e produção de pomar (freqüentemente,
encontram-se atividades adicionais, como mel e vinho), juntamente com cereais e legumes básicos,
sobretudo lavoura de feijão, batata-doce, milho, aipim e batatinha e hortaliças.
65
Embora esses produtos citados representassem uma fonte importante
de renda, também eram utilizados sob a forma de autoconsumo e rações.
Vale destacar a importância dada à exploração do milho, como
fundamental na participação da composição da ração porcina. De modo geral,
as unidades de produção familiar estavam organizadas em seis tipos de
explorações, aproximadamente.
Principais razões da participação de produtores no sistema integrado
Todos os produtores, independente do estrato, participavam do
sistema integrado, em virtude da facilidade e garantia na comercialização e no
transporte dos produtos e da assistência técnica oferecida.
A produção contratual integrada suinícola, embora verbal, permitia às
agroindústrias um controle do processo produtivo, em que o “pacote
tecnológico” devia ser utilizado.
Tempo de vinculação comercial das famílias produtoras
Observa-se que, no estrato cabeça, 55,56% dos produtores tinham
maior tempo de vinculação comercial à integradora, em torno de 20 a 35 anos,
enquanto nos estratos cola e média a vinculação abrangia 44,44% e 38,89%,
respectivamente, dos produtores.
Dentre os produtores com menor tempo de vinculação comercial à
integradora, quatro a 10 anos, encontravam-se os do estrato média, com
27,78%.
O tempo de vinculação desses produtores familiares à integradora
possibilitava visualizar o grau de dependência destes.
O comprometimento dos produtores com a produção de suínos para a
integradora, mediante contrato verbal, induzia ao questionamento de como se
dava o desligamento do sistema integrado, caso uma das partes envolvidas
estivesse interessada.
No “Manual do Suinocultor” elaborado pela integradora, no item que se
refere ao desligamento, há a questão:
integração Sadia?
66
Como se faz para desligar-se da
Quadro 14 - Tempo de vinculação comercial da família produtora à integradora,
por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998
Tempo de vinculação, em anos
Estrato
4-10
10-20
20-35
I – cabeça
II – média
III – cola
11,11
27,78
11,11
33,33
33,33
44,44
55,56
38,89
44,44
Média geral
16,66
37,03
46,29
Fonte: Dados da Pesquisa.
Observa-se que cabia ao suinocultor, assim como à integradora,
suspender o vínculo verbal que existia entre as partes. Como o ingresso no
sistema era espontâneo, a saída ou o desligamento também devia sê-lo. Por
isso, uma vez decidido a desligar-se do sistema de integração, cabia ao
produtor a tarefa de procurar o técnico e prestar os devidos esclarecimentos,
assim como à empresa, caso decidisse fazê-lo. O produtor era orientado a
entregar os lotes integrados à integradora; após quitadas as despesas com
alimentação, estaria desvinculado do sistema. Se o desligamento fosse feito
em circunstâncias normais, ou seja, sem problemas para as partes, o retorno
seria permitido; caso contrário, se o desligamento fosse forçado, a reintegração
do produtor seria mais difícil.
Integração social dos produtores
Quanto à integração social dos produtores de leitões, pode-se dizer
que, além do profundo vínculo com o trabalho, a vida social em comunidade
era valorizada e estruturada a partir da participação em eventos, festividades
religiosas e missas.
Segundo AGUIAR (1993),
a vida em comunidade é parte da existência desse grupo social, extensão do
seu ser. A igreja é o símbolo da comunidade, assim como a comunidade e a
religiosidade são fatores determinantes na conduta desse grupo. O culto
67
dominical (católico) envolve praticamente todas as famílias assim como as
festas nos centros comunitários.
...os dias santos, os casamentos e batizados motivam as festas, os bailes e as
cantorias. O sentimento cristão justifica a união, o desenvolvimento de práticas
de ajuda mútua, e a colaboração ...
O convívio se dá também em outras esferas, nos momentos de descanso
“mateadas”, feriados e domingos, através de visitas aos vizinhos e parentes
para a troca de afeto e informações.
Na relação de integração, o jogo de futebol entre técnicos e produtores,
na comunidade, era também uma tentativa de interação de ambas as partes.
A Associação de Produtores de Leitões, criada em 1986, tem
viabilizado a organização desses produtores, pois proporciona espaço
necessário para que discutam as dificuldades encontradas e suas possíveis
soluções. A reunião (jantar da associação) ocorre mensalmente, ocasião em
que os associados discutem alguns assuntos de interesse da categoria.
Embora muitas questões pertinentes aos problemas que enfrentam ainda não
sejam discutidas, acredita-se que a pouca experiência na condução de
reuniões (há dois anos apenas) e a não-tradição em associativismo interfiram
na condução dessas reuniões.
Esse espaço é também utilizado, com certa freqüência, pelos técnicos
e pelos diretores da integradora, com vistas
na veiculação de mensagens
sobre a política da empresa e, ou, sobre novos procedimentos a serem
implantados. É usado, ainda, por vendedores de máquinas e insumos
agrícolas, para demonstração e venda.
Embora 100% dessa categoria de produtores estejam filiados ao
quadro de associados, o fato de pertencer à integradora não implica que a
totalidade participe, efetivamente, das reuniões.
Acredita-se que a constituição dessa Associação de Produtores de
Leitões possa representar o primeiro passo para a efetiva organização dessa
categoria e para o maior poder de reivindicação junto à integradora.
Horas dedicadas à atividade suinícola
A suinocultura constitui atividade que não exige elevado número de
mão-de-obra, embora exija esforço físico e dedicação intensiva. Em todos os
estratos, constata-se que a média de tempo trabalhado variava em torno de 15
horas/dia, sem feriados e finais de semana livres (os leitões requeriam
68
cuidados ininterruptos), razão por que havia sempre alguém de plantão. A
responsabilidade do manejo, geralmente, era dos homens, embora muitas
mulheres também o fizessem, trabalhando, excessivamente, nas lidas
domésticas e na atividade suinícola.
A introdução de novas técnicas e a substituição de animais por raça
mais especializada com maior volume de carcaça e menor espessura de
toucinho facilitava, expressivamente, o manejo dessa atividade.
Atuação familiar no planejamento e na execução das atividades suinícolas
A atuação da família na atividade suinícola é descrita no Quadro 15.
Quadro 15 - Atuação dos membros da família na atividade suinícola, por estrato de produtores, no município de Concórdia-SC, 1998 (em
porcentagem)
Estrato
Produtor
Casal
Família
I – cabeça
II – média
III – cola
6,0
22,0
12,0
100,00
94,00
66,00
Média geral
14,0
12,0
86,66
Fonte: Dados da Pesquisa.
No estrato cabeça, todos os membros da família atuavam na atividade,
ou seja, havia 100% de presença da mão-de-obra familiar (o casal e filhos). O
exercício exclusivo da mão-de-obra familiar resultava em maior eficiência na
atividade, principalmente pelo maior comprometimento dos envolvidos.
Nos estratos média e cola, havia alguns casos em que a atuação se
restringia à mão-de-obra somente do produtor ou do casal, razão pela qual era
necessário requisitar mão-de-obra permanente ou temporária.
69
A impossibilidade de mecanização, devido à topografia da propriedade,
intensificava a necessidade de mão-de-obra externa à propriedade.
Em uma das famílias entrevistadas, constatou-se a existência de três
gerações de produtores que exerciam as mesmas atividades.
A vida cotidiana desses produtores estava estruturada em torno da
família e do trabalho. A família era a principal unidade de produção e de
consumo, visto que ela fornecia a base da organização da produção e estava
entrelaçada num espaço privilegiado do cotidiano desses produtores e na sua
conformação de mundo.
Quadro 16 - Atuação da família no planejamento das atividades na propriedade, no período da entrevista, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
I – cabeça
II – média
III – cola
Média geral
Participa
Não participa
100,0
94,4
77,8
5,6
22,2
90,7
13,9
Fonte: Dados da Pesquisa.
Embora os entrevistados alegassem que havia um planejamento
conjunto entre os membros da família na execução das atividades, percebe-se
que existia divisão de tarefas entre homens e mulheres.
Cotidiano do produtor integrado
Os adultos acordavam às 5 ou às 6 horas e colocavam fogo no fogão a
lenha, enquanto preparavam o chimarrão, ao som do rádio.
70
O horário de estudo dos filhos era no período matutino, principalmente
os que estudavam da 1. a a 4.a série. As tarefas domésticas eram tipicamente
femininas, e as filhas que haviam concluído a 4. a série acompanhavam a mãe
nos afazeres domésticos, na lavoura, no pomar e no trato dos animais.
Os homens realizavam atividades “fora de casa”, faziam o manejo dos
animais, tratavam os porcos, limpavam as instalações (muitas vezes, as
mulheres também o faziam), vistoriavam os bebedouros e os comedouros e
resolviam assuntos bancários.
A agricultura familiar seguia um planejamento segundo o qual as
tarefas agrícolas, desde o preparo do solo até a colheita, eram reguladas de
forma a permitir a ocupação de todos os membros do grupo familiar também na
execução das atividades. A organização orientava-se pela produção de
produtos direcionados e contratados pela agroindústria, sustento financeiro da
propriedade, e pela necessidade cotidiana de prover os alimentos para a
subsistência familiar.
A divisão do trabalho atribuía aos elementos masculinos as atividades
consideradas como significantes economicamente, assim como aquelas que
requeriam esforço físico, alterando-se na lavoura, na criação, no manejo de
maquinários e implementos e na manutenção das instalações e benfeitorias. Às
mulheres cabiam as tarefas domésticas diárias, o trato e o cuidado dos animais
(lavoura, horta, gado leiteiro, aves, etc.), como também a ajuda na limpeza das
instalações e na fabricação artesanal de produtos caseiros. Ainda crianças, os
filhos começavam a participar das atividades, realizando capina e ajudando na
época da colheita.
No estrato cabeça, a participação da família no planejamento das
atividades era de 100%, o que comprova o elevado grau de comprometimento
e eficiência desses produtores.
Mão-de-obra externa à propriedade
Conforme Quadro 17, o estrato cola, comparado com os outros
estratos, é o que tinha maior porcentagem de empregados permanentes, razão
por que cabia ao técnico verificar se o custo da alocação da mão-de-obra
permanente da propriedade era condizente com a realidade desses produtores.
71
Quadro 17 - Alocação da mão-de-obra permanente na suinocultura, por estrato,
no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Sim
Não
I – cabeça
II – média
III – cola
44,4
44,4
77,8
55,6
55,6
22,2
Média geral
55,53
44,4
Fonte: Dados da Pesquisa.
Com relação ao emprego da força de trabalho, constata-se que apenas
a utilização da mão-de-obra familiar efetiva na condução da atividade agrícola,
muitas vezes, não era suficiente. Em muitas famílias, os filhos estudavam e
havia escassez da mão-de-obra familiar, o que implicava a contratação de
mão-de-obra externa à propriedade, já que a maioria desses produtores
diversificava sua produção e necessitava de maior emprego da mão-de-obra
permanente.
A demanda de mão-de-obra ocorria nos meses de agosto a dezembro,
época em que se concentrava uma série de atividades agrícolas, tais como
preparo do solo, semeadura, limpeza da lavoura de milho e, para alguns
produtores, colheita de feijão.
Observa-se que, dos estratos analisados, o cola era o que possuía
número reduzido de mão-de-obra temporária na suinocultura (Quadro 18). A
substituição da mão-de-obra permanente pela temporária representava uma
alternativa de diminuição dos custos, opção que deveria ser verificada pelos
produtores junto aos técnicos.
Interesse dos filhos em assumir a propriedade
Do total de produtores entrevistados, 61,13% acreditavam que os filhos
tinham interesse em assumir a propriedade no futuro (Quadro 19), enquanto
72
Quadro 18 - Alocação da mão-de-obra temporária na lavoura, por estrato de
produtores, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Sim
Não
I – cabeça
II – média
III – cola
25,0
29,4
22,2
75,0
70,6
77,8
Média geral
25,53
74,26
Fonte: Dados da Pesquisa.
Quadro 19 - Interesse dos filhos em assumir a propriedade no futuro, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Sim
Não
Não sabiam
I – cabeça
II – média
III – cola
66,7
61,1
55,6
22,2
5,6
22,2
11,1
33,3
22,2
Média geral
61,13
16,66
22,2
Fonte: Dados da Pesquisa.
16,66% acreditavam que os filhos não tinham interesse em assumi-la
por
causa das dificuldades encontradas na agricultura (políticas agrícolas
inadequadas), assim como por causa da pouca lucratividade da atividade,
razão de desestímulo. Muitos desses produtores incentivavam os filhos a
estudar ou a buscar novas alternativas.
73
Número de produtores que pretendiam continuar na atividade
Apesar das dificuldades encontradas na suinocultura, a maioria dos
produtores demonstrava interesse em continuar na atividade, já que o
abandono da atividade implicava assumir riscos e incertezas. Tendo em vista
que esses produtores tinham aversão ao risco, preferiam, então, caminhos
seguros, em razão da experiência, do passado e da tradição, além de terem
investido muito em instalações.
Quadro 20 - Produtores que pretendiam continuar na atividade, por estrato, no
município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Sim
Não
I – cabeça
II – média
III – cola
88,9
88,9
97,2
11,1
11,1
2,8
Média geral
91,66
8,34
Fonte: Dados da Pesquisa.
Utilização de crédito rural, por estrato
Conforme Quadro 21, a média do total de produtores que não tinham
utilizado crédito era de 52,73%. Dos produtores do estrato
cabeça,
considerados os melhores situados entre os três estratos, 66,7% não tinham
utilizado crédito agrícola. Embora estivessem preocupados com a melhoria das
condições técnicas de suas unidades produtivas, evitavam recorrer aos
financiamentos bancários disponíveis, uma vez que estes eram incompatíveis
com suas possibilidades de pagamento. Esse comportamento pode ser
explicado, parcialmente, pelas elevadas taxas de juros cobradas nos
empréstimos agrícolas.
74
Quadro 21 - Produtores que utilizavam crédito agrícola, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Não
Sim
I – cabeça
II – média
III – cola
66,7
47,1
44,4
33,3
52,9
55,6
Média geral
52,73
47,26
Fonte: Dados da Pesquisa.
Nível de satisfação dos produtores para com o sistema integrado
Quanto ao nível de satisfação dos produtores, independente do estrato,
52,76% do total de produtores estavam satisfeitos com o sistema integrado,
visto que 5,55% destes o consideravam excelente, se comparado com o de
outras integradoras da região, e consideravam razoáveis a comercialização, a
assistência técnica e a ração de menor custo. Dos 47,24% que estavam
insatisfeitos, observa-se que a percepção negativa advinha das dificuldades
encontradas e do pouco retorno financeiro que os produtores tinham tido na
atividade.
Quando questionados se estavam satisfeitos ou insatisfeitos, as razões
apontadas foram as mais diversas, conforme transcrito a seguir:
Os produtores dizem que a suinocultura é uma atividade que não está
recompensando, já que o preço do porco não compensa o esforço e o
investimento realizado.
A maioria dos produtores reclama dos preços pagos pela Integradora, mas não
conseguem arcar sozinho com o custo da produção, pois, segundo eles, falta
capital de giro.
Nesse sentido, a integração permitia a compra da ração com prazo
para pagamento, o que facilitava o financiamento para
a produção com
redução de riscos. Segundo eles, para que a propriedade tornasse viável
economicamente e houvesse maior satisfação,
75
seria necessário que a integradora elevasse o preço pago pelo produto, de
modo a permitir que a exploração apresente resultados econômicos positivos.
Sempre temos que aumentar a produtividade e diminuir custos.
Percepção dos integrados quanto à pessoa que deveria auxiliá-los na
resolução de problemas
No estrato cabeça, para 55,5% dos produtores, todos deveriam, em
conjunto, auxiliá-los (agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e
órgãos governamentais); para 22,2%, a cooperativa deveria fazê-lo; para
11,1%, agroindústria; e para 11,1%, órgãos governamentais.
No estrato média, para 27,7% dos produtores, todos deveriam, em
conjunto, auxiliá-los (agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e
órgãos governamentais); para 44,4%, órgãos governamentais; para 16,7%,
agroindústria; e para 5,6%, sindicato ou associação.
No estrato cola, para 55,6%, todos deveriam, em conjunto, auxiliá-los
(agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e órgãos governamentais);
para 22,2%, somente os órgãos governamentais; para 11,1%, cooperativa; e
para 11,1%, agroindústria.
No período de realização da pesquisa, os produtores, de maneira geral,
reclamavam do preço pago por kg de suíno. Apesar do descontentamento geral
com o pagamento realizado pela integradora, os produtores creditavam ao
conjunto (agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e órgãos
governamentais) a responsabilidade pela situação em que se encontravam, na
expectativa de que eles os auxiliassem na resolução de seus problemas.
Embora não se tenha proposto estudar a posição reivindicatória desses
produtores, faz-se necessário refletir sobre as estruturas
organizativas
presentes na região e sobre a postura dos produtores diante das dificuldades
encontradas.
As estruturas organizativas relacionadas com suinocultura, presentes
no Estado de Santa Catarina, são ACCS (Associação de Criadores de Suínos
do Estado de Santa Catarina); Associação dos Produtores de Leitões,
Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Estado de Santa Catarina; Sindicato
dos Produtores Rurais; Associação Estadual dos Condomínios Suinícolas;
APACO (Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Oeste Catarinense);
e Associação da Escola Familiar Rural Santo Agostinho.
76
Segundo MIRANDA (1995), as estruturas organizativas possuem
pouco ou nenhum espaço de negociação no âmbito da relação contratual. Essa
situação de fragilidade é devida ao tipo de atividade que é a criação de suínos
(ciclo biológico). O endividamento dos integrados junto à integradora é outra
dificuldade a ser contestada, assim como a estrutura oligopolizada da empresa
e a ausência de atuação do Estado mediante políticas agrícolas para a
pequena produção. O próprio sindicato de trabalhadores rurais, que reúne
apenas os pequenos produtores, reconhece que as reivindicações dos
suinocultores integrados são secundarizadas por eles, porque, de certa forma,
são vistos como elite entre os pequenos produtores, distantes das camadas
mais desprovidas de agricultores.
O sindicato reconhece que muitos integrados à suinocultura estão à
beira da exclusão, embora toda a mobilização seja destinada à pequena
produção.
O poder de reivindicação implica coesão, autoconfiança e habilidade
em expor-se, além do apoio para argumentar e persuadir a opinião pública.
Todas essas capacidades são baseadas em comunicação.
O descrédito às instituições resulta na falta de coesão ou de
participação dos produtores nessas entidades representativas. As experiências
negativas vivenciadas anteriormente fazem com que esses produtores
familiares demonstrem dificuldades em reivindicar os seus direitos.
Os produtores informaram
que participavam,
efetivamente,
da
associação de produtores de leitões, visto que os técnicos da integradora e os
técnicos das empresas vendedoras de insumos proferiam palestras.
A crise da agricultura familiar nos últimos anos, causada
por
obstáculos institucionais, tecnológicos, econômicos e políticos, tem sido
ressaltada, em muitos estudos, por vários autores. O reconhecimento desses
produtores em creditar ao conjunto de atores (agroindústria, cooperativa,
sindicato e, ou, associação e órgãos governamentais) o apoio desejado devese, principalmente, à crise atual do “movimento sindical”, que encontra
dificuldades para mobilizar os produtores em torno de suas reivindicações para
solução de seus problemas.
O sindicalismo rural, que representaria uma alternativa para a luta de
classes, segundo MIRANDA (1995), ... enfrenta uma conjuntura de profunda
77
crise, principalmente num contexto onde a ação mediadora do Estado não se
faz presente.
A pouca credibilidade das organizações associativas advém dos
resultados das negociações, muitas vezes manipuladas
pelos interesses da
integradora. O Estado, por sua vez, também não dispõe de políticas agrícolas
que beneficiem os pequenos produtores.
A média dos três estratos de produtores que creditavam à integradora
a responsabilidade por melhorias era de 13%, em relação ao conjunto de
atores. Isso demonstra que a maioria dos produtores esperava que a solução
para os seus problemas resultasse de medidas tomadas pelo conjunto de
atores, que deveriam se articular na busca de alternativas.
Interesse dos produtores por treinamentos
Conforme Quadro 22, em média, 81,76% dos produtores desejavam
receber treinamentos profissionalizantes, enquanto 18,23% não demonstraram
interesse em recebê-los.
Quadro 22 - Produtores que tinham interesse em participar de treinamentos,
por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Sim
Não
I – cabeça
II – média
III – cola
87,5
80,0
77,8
12,5
20,0
22,2
Média geral
81,76
18,23
Fonte: Dados da Pesquisa.
78
Constata-se que o estrato cabeça era o mais receptivo a treinamentos,
enquanto o cola era o menos receptivo em relação aos outros.
Dos produtores que pretendiam participar de treinamentos, no estrato
cabeça, 37,5% tinham interesse pela área de administração; 25,0%, pela área
tecnológica; 12,5%, tanto pela área de administração como pela tecnológica; e
12,5%, tanto pela área de administração quanto pela tecnológica e outras.
Esse interesse por treinamentos explica, parcialmente, a situação privilegiada
em que estes se encontravam em relação aos outros.
Do estrato média, 20,0% pretendiam participar de treinamentos em
administração; 40,0%, na área tecnológica; 13,3%, tanto na área de
administração como na tecnológica; e 6,7%, em outras.
Do estrato cola, 44,4% pretendiam participar de treinamentos em
administração; 11,1%, na área tecnológica; e 22,3%, tanto na área de
administração como na tecnológica.
Produtores que receberam treinamento da integradora
Conforme
Quadro
23, dos
entrevistados,
83,33%
receberam
treinamentos da integradora, sendo 77,8% do cabeça; 94,4% do média e
77,8% do cola.
Quadro 23 - Produtores que receberam treinamento da integradora, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Sim
Não
I – cabeça
II – média
III – cola
77,8
94,4
77,8
22,2
5,6
22,2
Média geral
83,33
16,66
Fonte: Dados da Pesquisa.
79
O treinamento da integradora (Quadro 23) deu-se por meio do curso
“Produção de Suínos”, ocorrido no município Faxinal dos Guedes-SC, em
1994, segundo os integrados entrevistados.
Observa-se que os estratos cola e cabeça apresentaram menor índice
de produtores com interesse em participar de treinamentos por meio da
integradora, atitude que pode ser explicada pela falta de “recompensa” e
motivação.
Produtores que receberam treinamento de outras instituições
O Quadro 24 descreve a porcentagem de produtores, por estrato, que
receberam algum curso promovido por outras instituições, na região de
Concórdia-SC.
Do
total
de
produtores,
50%
fizeram
cursos
promovidos por outras instituições, o que demonstra que esses produtores
buscavam alternativas externas às recebidas pela assistência técnica da
integradora, não aceitavam, passivamente, as prescrições da integradora e não
estavam isolados de outros estímulos, sendo esta outra maneira de obter
parâmetros para avaliar as informações que estavam sendo repassadas pela
assistência técnica.
Quadro 24 - Produtores que receberam algum curso promovido por outras instituições, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Sim
Não
I – cabeça
II – média
III – cola
33,3
50,0
66,7
66,7
50,0
33,3
Média geral
50,0
50,0
Fonte: Dados da Pesquisa.
80
Por outro lado, havia grande demanda de treinamentos que não tinha
sido suprida pela integradora, o que levava os produtores a buscar outras
instituições.
Mediante comparação dos três estratos no Quadro 24, pode-se
verificar que o estrato cola era o que havia recebido mais treinamentos de
outras instituições.
No estrato média, havia produtores com diferentes níveis de instrução.
No Quadro 24, observa-se que 50% desses produtores não apresentavam
interesse em realizar treinamentos, o que poderia dificultar a situação, já que
estavam numa faixa de “transição” entre o estrato cabeça e o cola. Nesse
estrato (média), os produtores tentavam combinar as informações tanto da
integradora quanto de outras instituições. No estrato cabeça, os produtores, na
sua maioria, não realizavam cursos em outras instituições e procuravam seguir,
fielmente, o que o técnico da integradora havia transmitido.
Instituições promotoras de treinamentos, palestras, dias-de-campo, etc.
ACCS (Associação de Produtores de Leitões), Copérdia (Cooperativa
de Consumo Concórdia), CIDASC, EMBRAPA/CNPSA (Empresa Brasileira de
Pesquisa/Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves), Epagri (Empresa de
Pesquisa Agropecuária), Prefeitura Municipal de Concórdia-SC, Prefeitura
Municipal de Peritiba, SINE (Serviço Nacional do Emprego/SC), FAT (Fundo de
Amparo ao Trabalhador/SC), SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural/SC), UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Fonte: Dados
da pesquisa de campo, 1998.
Essas instituições promoveram alguns cursos, como Administração
Rural, Produção em Suínos,
Sanidade e Manejo, Dejetos de Suínos e
Agroecologia e outros.
Variável econômica
A variável econômica observada, por estrato, é a margem bruta. Esses
dados foram obtidos a partir do resultado da análise das unidades de produção
de leitões fornecida pela integradora, na região de Concórdia (36 unidades de
produção
de
leitões
-
UPLs), calculados
a
partir
do
relatório de
acompanhamento técnico-econômico fornecido pela Sadia Concórdia S.A.
81
A avaliação econômica dos produtores integrados ( UPLs), em relação
à Margem Bruta de Produção, foi elaborada a partir do produto, conforme
apostila da Sadia Concórdia S.A. Essa apostila tem sido utilizada no
treinamento, em Administração Rural, dos técnicos da empresa, e em seu
conteúdo consta como medir resultados econômicos na propriedade.
A integradora oferecia treinamento aos técnicos por meio do curso de
administração rural com conteúdos relativos à Análise Econômica da Empresa
Rural. A margem bruta da produção (Quadro 25) era utilizada na classificação
desses produtores em cabeça, média e cola.
Quadro 25 - Margem bruta média (US$) porca/ano, por estrato de produtores
entrevistados, no município de Concórdia-SC, 1998
Margem bruta/porca/ano
Média* US$
Estrato
I – cabeça
II – média
III – cola
189,57
128,74
76,89
Média geral
131,73
Fonte: Sadia Concórdia.
* Valores em dólar (comercial/venda), 16/04/97.
** Fornecido pelo setor de Fomento da Sadia Concórdia S.A., período de 30/01/96 a 30/12/96,
data de emissão 16/04/97.
O intervalo de margem bruta, por estrato, apresentou-se da seguinte
forma: I - cabeça, de US$ 148,840 a 228,210; II - média, de US$ 112,320 a
142,860; III - cola, de US$ 18,610 a 110,650.
Para que o produtor efetuasse os cálculos da propriedade com
precisão, era indispensável que ele fizesse a manutenção do registro na
propriedade, de tal forma que esta permitisse a especificação do uso dos
82
dados aos recursos produtivos em cada exploração. A análise das atividades
desenvolvidas na propriedade rural era importante, pois, por meio delas, o
produtor poderia conhecer os fatores de produção (terra, capital e mão-deobra) e a utilizá-los racionalmente. A partir desta análise, o produtor poderia
localizar os pontos de estrangulamento (os problemas) da atividade e
concentrar seus esforços gerenciais para atingir os objetivos.
Avaliação dos produtores da própria atuação na atividade
Os produtores avaliaram a própria atuação na atividade suinícola com
base no empenho e não nos resultados econômicos. Do total de produtores
entrevistados, 75,93% consideravam-na boa, enquanto os estratos cabeça e
média atribuíram menor valor à
própria
atuação, 11,1%
e 16,7%,
respectivamente, o que reflete a busca constante de melhorias e revela a
exigência no desempenho (Quadro 26).
Quadro 26 - Auto-avaliação dos produtores entrevistados quanto a própria
atuação na atividade suinícola, por estrato, no município de
Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Excelente
Boa
Regular
Total de
produtores
I – cabeça
II – média
III – cola
11,1
16,7
22,2
77,8
72,2
77,8
11,1
11,1
-
100,0
100,0
100,0
Média geral
17,0
76,6
11,1
100,0
Estrato
Fonte: Dados da Pesquisa.
83
Situação percebida pelos produtores de leitões, integrados na época da
entrevista, em face às facilidades e dificuldades encontradas
Os suinocultores do estrato cola avaliaram a situação como regular a
péssima, quando comparados com os outros estratos, que não diferiram
substancialmente. Essa insatisfação generalizada advinha da bonificação que
recebiam na atividade e da falta de crédito rural a preços subsidiados para
investimento. Era comum ouvir esses produtores enfatizarem que estavam
pagando para criar porco.
Quando questionados sobre a bonificação dada pela integradora, os
produtores afirmaram que
são bonificados pela tabela da Integradora, ou seja, o preço do suíno vivo hoje
é R$ 1,00. Então, pelo leitão de 18 kg a 22 kg a Integradora paga 1.6 x o preço
do suíno vivo; pelo de 22 até 26 kg, paga o preço do suíno vivo; e acima de 26
kg até 28 kg, paga menos de 30% do preço do suíno vivo.
Exemplificando: Por um leitão de 30 kg, a integradora pagava, até
22 kg, cerca de 1,6, que implicava R$ 35,20 (trinta e cinco reais, vinte
centavos); pelos outros 4 kg, 1,0, que implicava R$ 4,00 (quatro reais); pelos
outros 4 kg, pagava 0,7, que implicava R$ 2,80; e o valor total a ser pago pelo
leitão ao produtor era de R$ 42,00 (quarenta e dois reais).
O pagamento, na maioria das vezes, era feito pelas agroindústrias por
ocasião da entrega da produção, para o acerto de contas. Nessa oportunidade,
o produtor recebia o que era considerado seu rendimento líquido, isto é, o
saldo, descontadas as despesas com fornecimento de ração, produtos
veterinários, frete da ração ou fornecimento de matrizes. O item mais dramático
e conflituoso e que mais chamava a atenção dos agricultores eram os
descontos da ração. Havia casos em que os preços da ração subiam mais que
o preço pago pelos suínos. O acerto de contas era o momento em que o
produtor percebia, com maior clareza, seu lucro ou prejuízo. Havia casos em
que o acerto zerava as contas dos produtores, conforme BRANDENBURG et
al. (1995).
No Quadro 27, constata-se a insatisfação de 70,4% dos produtores
com a bonificação (rendimento pago pela integradora). Mesmo descontentes,
nota-se que eles tinham interesse em se manter vinculados ao sistema
integrado, já que realizavam grandes investimentos na atividade, razão por que
84
Quadro 27 - Situação dos produtores de leitões na região oeste, por estrato, no
município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Excelente a boa
Regular a ruim
Total de produtores
I – cabeça
II – média
III – cola
33,3
33,3
22,2
66,7
66,7
77,8
100,0
100,0
100,0
Média geral
29,6
70,4
100,0
Fonte: Dados da Pesquisa.
buscavam apropriação das novas técnicas, aceitando-as, recusando-as ou
reelaborando-as de acordo com suas perspectivas e com seus interesses
econômicos, históricos e culturais.
A integradora esperava que seus produtores integrados tivessem
racionalidade empresarial, mas o objetivo central dessas famílias, segundo
MIRANDA (1995), “era a reprodução da unidade familiar de produção”.
3.2. Perfil dos técnicos
Eram dois os técnicos que assistiam aos 3 6 produtores de leitões ou
iniciadores de leitões. Ambos eram de origem italiana, procedentes do meio
rural e possuíam curso técnico em agropecuária (um deles tinha curso superior
em Biologia). Tanto a origem como a procedência dos técnicos eram
semelhantes à dos produtores rurais, o que favorecia a interação e a empatia
na relação de comunicação.
Os técnicos que forneciam assistência técnica trabalhavam na
integradora (de um a cinco anos e de cinco a 10 anos) no setor de fomento e
possuíam grande experiência no contato com produtores, recebendo
remuneração na faixa de cinco a 10 salários mínimos.
Para se atualizarem, esses técnicos buscavam informações nas
revistas especializadas, nos eventos promovidos pela empresa, nas teses, nos
85
artigos científicos e nos cursos em outras instituições, como EPAGRI,
EMATER, SENAR e EMBRAPA.
Os técnicos visitavam as propriedades com certa freqüência e
despendiam em torno de duas horas (com tempo previsto para o
deslocamento) por visita, que era planejada por eles próprios. Esse
planejamento era feito com base nas prioridades e nos objetivos da
integradora, com vistas na solução dos problemas encontrados na propriedade.
Para eles, a comunicação da integradora com os produtores integrados
objetivava informar, orientar, motivar, coletar e divulgar dados sobre tecnologia,
produção e produtividade, através da utilização de linguagem acessível
(palavras do dia-a-dia dos produtores).
A análise de comparação dos resultados econômicos é obtida por meio
dos resultados dos anos anteriores entre propriedades agrícolas semelhantes,
para entender os motivos pelos quais umas propriedades obtiveram resultados
econômicos melhores do que outras.
A Análise Comparativa vem sendo utilizada junto à integradora, por
vários anos, visando motivar os produtores. Segundo o Manual de Treinamento
usado pelas unidades, essa análise possibilita que
o produtor, ao ver a comparação de propriedades parecidas com a sua, situase rapidamente no grupo. Assim, ele encontra referência para sua posição em
relação aos seus vizinhos.
Quanto à imagem que os técnicos tinham da relação da integradora,
observa-se que, para eles, esta
é uma empresa que precisa garantir a matéria-prima, pois a sua missão é a
produção de alimentos.
Precisa sobreviver num mercado competitivo, tem custos administrativos altos.
Segundo os técnicos, a integradora tentava auxiliar os produtores
ineficientes a resolverem os problemas, visto que ela
tem mostrado aos
produtores qual a atividade mais afim da propriedade. Quanto ao que ela tem
feito para motivar os integrados, enfatizaram que
ela está melhorando a ração, procura melhorar a qualidade dos reprodutores,
capacita a equipe técnica, busca linhas de crédito e recompensa quem investe
em tecnologia.
86
Na percepção dos técnicos, os produtores integrados
... esperam ganhar em conhecimento e financeiramente.
Os produtores vem sofrendo constantemente ameaças pela oscilação do
mercado, dos preços dos insumos, do aumento do custo de produção e da
legislação ambiental.
Essas ameaças são percebidas quando relatam que
os produtores têm medo de não poder pagar dívidas, de falir.
Ao mesmo tempo, eles têm medo que a empresa também entre em falência e
que os exclua do sistema integrado.
Segundo os técnicos, a integradora procurava auxiliá-los mediante
práticas de motivação e treinamentos, assim como práticas de melhoria da
qualidade da ração fornecida, além de intermediar linhas de crédito. Quanto à
utilização dos recursos instrucionais, acreditavam que ela poderia diversificar
mais os recursos, tornando-os mais práticos. Em relação à utilização de
metodologias de trabalho em grupos de produtores, enfatizavam que estas
permitiriam que a informação chegasse a todos, da mesma forma e ao mesmo
tempo.
Segundo os técnicos, os produtores poderiam tornar-se mais eficientes
e eficazes, caso seguissem as suas orientações; admitiam que sua
capacitação se restringia às áreas técnica e de gestão, já que tinham
deficiência na área de desenvolvimento humano e comunicacional.
Quanto aos critérios utilizados na seleção da informação, afirmaram
que tentavam detectar a necessidade do produtor a partir do problema
diagnosticado na propriedade.
Quanto à metodologia empregada, os dois técnicos utilizavam o
modelo clássico de aprendizagem “ behaviorista“ ( estímulo-resposta), e um
deles acreditava ter também utilizado o “construtivismo”.
Os técnicos relataram que priorizavam as mensagens relacionadas
com gestão (administração e qualidade total) e com tecnologia. Para eles,
ao longo dos anos de assistência técnica, apesar do tremendo esforço que a
empresa tem feito, para a incorporação tecnológica, a evolução tecnológica,
ou seja, o resultado dessas propriedades deixam a desejar.
87
3.3. A comunicação da integradora e a percepção dos produtores
O modelo de comunicação utilizado foi o mesmo modelo clássico de
comunicação sugerido por Berlo.
A Sadia Concórdia S.A. (a fonte) tem sua cultura empresarial
constituída de necessidades, intenções, informações e objetivos, e o técnico (o
transmissor) tem sua cultura e possui habilidades comunicacionais. O canal
usado pelo técnico é o interpessoal (face a face).
As mensagens são veiculadas através da Metodologia da Qualidade
Total (Mensagens Tecnológicas e de Gestão - Administração Rural, Gestão
Agrícola, etc.).
O produtor rural (o receptor) tem sua cultura e um conjunto de
habilidades sensoriais.
O processo produtivo está baseado nos procedimentos da Qualidade
Total, que objetiva viabilizar a administração das propriedades rurais de forma
eficiente. Para isso, a integradora utiliza a comunicação para repassar a
metodologia da Qualidade Total, enviando mensagens tecnológicas e de
gestão (administração rural) e enfatizando o caráter gerencial em suas
mensagens - o grande desafio da Integradora.
A Total Qualit
Control (TQC) é uma metodologia que, segundo
BONILLA (1994), corresponde a um modelo gerencial aperfeiçoado no Japão,
no qual sobressai a figura de Ishikawa (1968), a partir de idéias norteamericanas, especialmente de
Deming e Juran, introduzidas durante a
ocupação aliada naquele país, depois de 1945.
A TQC é baseada em diferentes fontes que abrangem duas linhas
básicas - uma de natureza técnica, que nasce com Taylor, desenvolve-se com
os métodos de controle estatístico de Shewhart (1931) e consolida-se com todo
o conhecimento científico dos últimos 40 anos,
por meio do trabalho de
grandes mestres, como Feigenbaum (1983), Deming (1990) e Juran (1990), e
outra, de natureza humana, apoiada nos estudos sobre comportamento,
desenvolvidos por Mac Gregor (1960), Herzberg (1966) e Maslow (1970), e,
mais recentemente, na abordagem holística, representada, entre outros, por
Capra (1982) e Ferguson (1980). A montagem básica da TQC foi feita pela
JUSE (Japanese Union of Scientists and Engineers).
88
Um aspecto fundamental da TQC é o rompimento, que implica uma
mudança de forma de pensar, de estilo e de postura, que envolve todos os
ingredientes da empresa, desde o presidente até o último trabalhador.
A TQC é um programa de todos os envolvidos na empresa, desde o
presidente até o subalterno; portanto, ou rompe-se com o modo de pensar,
sentir e agir antigo, por meio da assunção e do comprometimento pessoal com
a implantação do programa, transformando-se, assim, num dinâmico agente de
mudanças, ou abandona-o a suas próprias forças, inviabilizando-o.
O conceito de Qualidade Total é amplo e dinâmico. Em princípio, ele
está ligado à satisfação do consumidor, tanto interna (eliminando os fatores
que não agradam ao consumidor, segundo pesquisas de mercado feitas), como
externas
(mediante
antecipação
das
necessidades
do
consumidor,
incorporando-se às características detectadas nos produtos e serviços). A
qualidade total é composta de cinco dimensões, como a seguir.
A qualidade intrínseca do produto (ou serviço), em sentido amplo,
refere-se, especificamente, às características inerentes ao produto (ou serviço),
daí o nome de intrínsecas, capazes de fornecer a satisfação ao consumidor.
Isto implica uma série de aspectos, como ausência de defeitos, adequação ao
uso, características agradáveis ao consumidor, confiabilidade, previsibilidade,
etc.
O custo do produto ou serviço tem relação com o fato de que, quanto
menor o preço
do produto ou do serviço, maior será a satisfação do
consumidor. Isso não implica uma relação linear perfeita. Acontece que um
elemento fundamental é o conceito de valor, ou seja, o que o consumidor
estaria disposto a pagar pelo produto (ou serviço). Portanto, seu preço deverá
levar em conta o valor que o produto tem para o usuário.
O atendimento ao cliente implica que ele deve receber o produto no
prazo certo, no local certo e na quantidade certa. Além disso, deve ser atendido
com boa vontade, cortesia e amabilidade, devendo haver uma boa organização
da assistência técnica.
A segurança é fundamental para que o produto não ameace a saúde
do consumidor, seja diretamente, pela sua ingestão, ou indiretamente, pelos
tratamentos feitos durante a implantação.
89
O aspecto moral refere-se à disposição e à motivação que os
empregados da empresa manifestam. Para que isto aconteça, “a empresa deve
esforçar-se para pagar-lhes bem, respeitando-os como ser humano e dandolhes a oportunidade de crescer como pessoa e no trabalho, vivendo uma vida
feliz”.
A visão ecossistêmica da qualidade total implica uma forma diferente
de a empresa relacionar-se com o resto da sociedade, ou seja, muda-se do
conceito de empresa “ilha” ou “fortaleza” para “ empresa-componente do
ecossistema social”, no qual, para que o equilíbrio se mantenha, é necessária
uma troca equilibrada
de contribuições e recompensas.
Essa visão
ecossistêmica tem um horizonte de logo prazo, dado que, em lugar de
maximizar os lucros, o enfoque é de “otimizar o bem-estar social”. Dessa
forma, por meio da ênfase na qualidade e na interação positiva com os outros
parceiros, o lucro acabará, conseqüentemente, sendo maximizado.
Os outros parceiros da empresa, que também são componentes do
ecossistema social, formam parte essencial do conceito de Qualidade Total,
pois é pela fecunda interação deles que os objetivos serão atingidos. Eles são,
fundamentalmente, os seguintes:
1) Os consumidores - a empresa deve despender esforços para
identificar as necessidades dos consumidores e atendê-los;
2) Os empregados - aqui, a ênfase é na gestão participativa, na
remuneração adequada e no crescimento do ser humano na empresa;
3)
A comunidade
-
precisa ser
atendida pelo exercício da
responsabilidade social, traduzida na forma de proteção ambiental, entre outras
alternativas;
4) Os fornecedores - devem ser muito bem selecionados e auxiliados
no processo de desenvolvimento - a confiança deve substituir a desconfiança.
Sem dúvida, nesse marco referencial devem ser incluídos os acionistas, que,
integrados harmonicamente a outros parceiros, terão mais a ganhar, porque o
sistema - tomado como conjunto - terá sido otimizado, assim como os setores
do subsistema representado pela empresa.
90
Os conceitos básicos da qualidade total
A palavra controle tem vários sentidos que, geralmente, estão
centrados na idéia de dominar, inspecionar ou supervisar e são, geralmente,
acompanhados de uma visão coercitiva. Qualidade total significa gerenciar ou
administrar. De acordo com Bonilla, o controle da qualidade total implica duas
ações fundamentais: “Rotina” e “Melhorias”.
“Rotina” implica a conservação do modo atual de fazer as coisas,
depois de estas passarem por um processo de padronização. Isso significa que
não é qualquer “modo atual” que será uma rotina, mas um processo estável;
portanto, se ele for de natureza instável, será necessário primeiramente colocálo sob controle estatístico e, só a partir daí, a Rotina poderá ser instalada.
Aqui, o processo é visto como algo que está em permanente
movimento, que está se transformando gradualmente de um estado a outro.
Isto indica uma sucessão de tarefas realizadas com certa finalidade .
Há um método geral de modelo gerencial em Qualidade Total, que é o
ciclo PDCA, cujas iniciais P, de “plan”, corresponde planejar; D, de “do”, fazer,
executar; C, de “check”, conferir; e A, de “action”, ação corretiva.
No caso em que o padrão não foi obedecido, a ação corretiva é o
treinamento. Se ele foi obedecido e não foi atingida a meta, tem-se um
problema, cuja causa fundamental tem de ser identificada.
A correção da falha é eliminar o problema.
Enquanto o TQC utiliza conceitos, o programa 5s (cinco sensos) não os
utiliza; ele é apenas uma questão de execução, já que não envolve teorias,
mas ferramentas práticas para revolucionar a gerência de rotinas diárias.
Na pesquisa, questionou-se sobre a utilização dos produtores com
relação aos cinco sensos divulgados pela Integradora: 1) Utilização; 2)
Ordenação; 3) Limpeza; 4) Saúde; e 5) Auto-disciplina.
Adoção dos cinco sensos (procedimentos e rotinas) da qualidade total na
propriedade
Do total de produtores entrevistados, conforme Quadro 28, observa-se
que aqueles que adotavam a qualidade total na propriedade eram em menores
proporções do que os que não a adotavam. O fato de adotarem, ou não, essas
91
Quadro 28 - Adoção ou não dos procedimentos e propostas de qualidade total
pelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC,
1998 (em porcentagem)
Estrato
Adota
Adota algumas
Não adota
I – cabeça
II – média
III – cola
33,33
33,33
33,33
11,11
22,22
44,44
55,56
44,44
22,22
Média geral
33,33
25,93
40,74
Fonte: Dados da Pesquisa.
propostas revela que esses produtores não internalizaram a necessidade de
mudança e não estavam correspondendo às expectativas da integradora. Para
esta, a adoção desses procedimentos estava aliada à capacidade de
organização e gerenciamento desses produtores na propriedade, podendo
determinar seu sucesso ou fracasso.
Avaliação dos procedimentos e rotinas de qualidade total
Conforme Quadro 29, a avaliação dos entrevistados era variada. Dos
produtores entrevistados, 31,49% consideravam esses procedimentos como
excelentes: 46,3%, bons; 13,90%, regulares; e 19,46% não deram opinião a
respeito. Desses, o estrato cola foi o que considerou os procedimentos e
rotinas como excelentes (55,56% desses produtores), o que demonstra que
esses procedimentos podiam facilitar suas atividades e auxiliá-los no
desempenho. Muitos desses produtores estavam ainda em fase de adaptação
aos procedimentos e às rotinas e em diferentes fases do processo de adoção.
A manutenção da “Rotina” é uma salvaguarda contra mudanças
negativas em qualidade intrínseca, custo, quantidade ou prazo de produção.
Desse modo, as principais vantagens que surgem da “ rotinização” dos
processos são que estes se tornam estáveis e previsíveis. Embora esta seja
92
Quadro 29 - Avaliação dos procedimentos e das rotinas de qualidade total pelos agricultores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998
Excelente
Boa
Regular
Não tem
opinião
I – cabeça
II – média
III – cola
11,11
27,80
55,56
67,00
38,90
33,3
16,70
11,11
22,22
16,70
-
Média geral
31,49
46,3
13,90
19,46
Estrato
Fonte: Dados da Pesquisa.
necessária, não é suficiente, pois vive-se num mundo dinâmico, ou seja, tanto
um concorrente pode desenvolver um processo mais adequado (“melhor”),
como o próprio cliente pode tornar-se mais exigente. Nesses casos, a “Rotina”
apresenta-se como insuficiente. Assim, um novo patamar deve ser erigido,
denominado “Melhorias , que envolvem níveis de desempenho nunca antes
atingidos na empresa.
A gama de ações que pode envolver o gerenciamento das “Melhorias
é quase infinito, quais sejam, criação de novos produtos, serviços e mercados;
aumento da produtividade e da lucratividade; redução de custos; aumento do
moral dos empregados para redução do absenteísmo, rotatividade, etc;
aumento da durabilidade e confiança dos produtos; e aumento do nível de
atendimento dos clientes, fazendo cair o número de reclamações e devoluções,
etc.
93
3.3.1. Mensagens sobre administração rural
ENFOQUE DA ADMINISTRAÇÃO RURAL
ANTECEDENTES
PROCESSO
RESULTADO
A tomada de decisão
Cultura
A mudança
Valores
Adoção de Novas Práticas
Objetivos
Aversão ao Risco
Motivação
Comunicação
FACILITADORES /TÉCNICOS
Estoque de Informações
Estoque de Administração (Qual o resultado?)
Estoque de Extensão (Como mostrar?)
(Eu posso fazer melhor do que estou fazendo?)
REALIDADE
No sistema integrado, quando o técnico envia mensagens sobre
inovações tanto tecnológicas como de gestão, o produtor passa pelo processo
de tomada de decisão de forma mais facilitada, pois a tecnologia ou inovação
já foi testada e validada anteriormente. No entanto, a decisão de adotá-las não
basta por si só, pois existem outros fatores que influem na adoção, tais como
vantagem
relativa, compatibilidade,
complexidade,
observabilidade e
experimentabilidade.
A relação de comunicação interpessoal, aliada aos métodos de
demonstração prática e padrões escritos, procura facilitar a compreensão,
diminuindo a complexidade e o esforço despendido, e a aprendizagem, pois a
demonstração reconstrói, simbolicamente, o ensaio, a experimentação e os
resultados.
94
Adoção de procedimentos e rotinas de administração rural pelos produtores
Comparando-se o Quadro 29 (Qualidade Total) com o Quadro 30
(Administração Rural), observa-se que não há diferença na adoção de ambos
os procedimentos.
Quadro 30 - Adoção ou não dos procedimentos e propostas de administração
rural pelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC,
1998 (em porcentagem)
Estrato
Adota todas
Adota algumas
Não adota
I – cabeça
II – média
III – cola
33,33
33,33
33,33
11,11
22,22
44,44
55,56
44,44
22,22
Média geral
33,33
25,92
44,74
Fonte: Dados da Pesquisa.
Avaliação dos procedimentos e das propostas de administração rural
produtores rurais
pelos
Nos três estratos, conforme Quadro 31, não houve avaliação negativa, o
que demonstra que os produtores, em ambos os estratos, poderão vir a adotálos.
3.4. Os produtores e os meios de comunicação utilizados
Meios de preferência na recepção das mensagens
Do total de produtores, 79,63% preferiam receber mensagens por meio
do técnico, e 20,37%, por outros meios (rádio, televisão, escrita, etc.). O estrato
que mais preferia receber mensagens do técnico era o cola (Quadro 32).
95
Quadro 31 - Avaliação dos procedimentos e das propostas de administração
rural pelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC,
1998 (em porcentagem)
Estrato
Excelente
Boa
I – cabeça
II – média
III – cola
50,0
44,44
66,67
50,0
55,56
33,33
Média geral
53,70
46,20
Fonte: Dados da Pesquisa.
Quadro 32 - Preferência dos produtores pelo recebimento das mensagens por
meio do técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998
(em porcentagem)
Estrato
Técnico
Outros (rádio, televisão,
escrita, telefone)
I – cabeça
II – média
III – cola
72,22
72,22
88,89
27,78
27,78
11,11
Média geral
79,63
20,37
Fonte: Dados da Pesquisa.
Preferência dos produtores na resolução de dúvidas sobre a atividade suinícola
Em média, 98,4% dos produtores preferiam tirar dúvidas com o técnico
(Quadro 33), enquanto 5,56% procuravam resolvê-las por outros meios. Essa
preferência se deve ao fato de que, na relação de comunicação entre técnicoprodutores, estes podiam contar, permanentemente, por meio de visita ou do
96
Quadro 33 - Número de produtores que esclarecem ou não dúvidas com o técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em
porcentagem)
Estrato
I – cabeça
II – média
III – cola
Média geral
Sim
Não
100,00
94,44
100,00
5,56
-
98,40
5,56
Fonte: Dados da Pesquisa.
sistema de plantão telefônico, com os técnicos do setor de fomento. Dessa
forma, havia maior possibilidade de que esses produtores conseguissem
resolver problemas relativos à atividade. Para os produtores, a relação
produtor-técnico ocorria de forma cordial, o que confirma o elevado grau de
empatia existente entre ambos.
O técnico era considerado não só como o canal preferido para o
recebimento de mensagens, mas importante fonte de resolução de dúvidas dos
produtores. Além desse método, a integradora não utilizava outros tratamentos
de que dispunha, tais como mídia eletrônica, impressa e alternativas.
O técnico utilizava o Relatório Individual do Produtor e alguns folhetos
escritos, com padrões a serem seguidos, conforme Apêndice A.
Percepção dos produtores em relação à freqüência da visita do técnico
De acordo com o Quadro 34, a freqüência da visita do técnico aos
produtores, por estrato, era feita mensal, quinzenal e semanalmente.
O planejamento da visita era feito pelo próprio técnico, com base nas
estratégias da direção da empresa. Muitas vezes, ele entrava na propriedade
até mesmo quando a família não se encontrava e realizava vistoria nas
instalações e no rebanho.
97
Quadro 34 - Número de produtores que receberam visita do técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Mensal
Semanal
Quinzenal
I – cabeça
II – média
III – cola
88,9
88,9
77,8
11,1
11,1
11,1
11,1
Média geral
85,2
11,1
11,1
Fonte: Dados da Pesquisa.
O estrato cola era o único em que se constataram as três modalidades
de visitas, já que os produtores dos estratos média e cabeça não recebiam
visitas semanais, o que demonstra, por parte do técnico, a preocupação em
prestar assistência técnica a esse estrato menos eficiente.
Modificação da visita
Conforme Quadro 35, o estrato média demonstrou interesse em
modificar a visita mensal para quinzenal e semanal, pois, assim, os produtores
teriam presença constante do técnico e maiores possibilidades de êxito na
compreensão das tecnologias e dos procedimentos. Os estratos cabeça e cola
demonstraram satisfação com a freqüência das visitas.
Auxílio instrucional
A principal forma de comunicação utilizada pelo técnico, segu ndo a
percepção dos produtores, era a fala. Todos os produtores afirmaram que a
linguagem utilizada por ele era bem acessível. Quanto ao material escrito, os
produtores recebiam, mensalmente, o Relatório ou Acompanhamento Técnico
Econômico de Suínos - produção de leitões, para situá-los e compará-los com
outros (Quadro 37).
98
Quadro 35 - Interesse dos produtores pela mudança de freqüência da visita
realizada pelo técnico, por estrato, no município de ConcórdiaSC, 1998
Estrato
Mensal
Semanal
Quinzenal
I – cabeça
II – média
III – cola
88,9
66,6
77,8
11,1
27,8
11,1
5,6
11,1
Média geral
77,6
16,66
8,35
Fonte: Dados da Pesquisa.
Quadro 36 - Número de produtores que avaliaram a freqüência da assistência
técnica recebida, por estrato, no município de Concórdia-SC,
1998 (em porcentagem)
Estrato
I – cabeça
II – média
III – cola
Média geral
Mensal
Semanal
Quinzenal
11,1
5,6
11,1
66,7
77,7
88,9
22,2
11,1
-
77,74
13,1
9,26
Fonte: Dados da Pesquisa.
99
Quadro 37 - Auxílio instrucional utilizado pelos técnicos na percepção dos produtores entrevistados, por estrato, no município de Concórdia-SC,
1998
Estrato
Fala
Fala e escrita
I – cabeça
II – média
III – cola
11,1
72,4
22,2
88,8
27,8
77,7
Média geral
35,3
64,7
Fonte: Dados da Pesquisa
A utilização de folders” ocorria raramente, com vistas na fixação dos
procedimentos a serem incorporados.
O rádio
O rádio foi considerado o segundo meio de informação preferido pelos
produtores, depois do técnico. Dos entrevistados, 100% ouviam a Rádio Rural
AM, que transmitia o “Informativo da Sadia”, às 11h40minutos, cuja
apresentação era da assessoria de comunicação da empresa, Gilmar
Monticelli, responsável pela locução, de 2. a a 6.a feira, com duração de 5 a 6
minutos. O público-alvo deste programa eram produtores rurais integrados de
suínos e aves e o objetivo era prestar serviço de informação sobre o dia e a
hora em que seria feito o transporte dos animais para o abate, assim como
para fornecer instruções sobre o manejo, antes do transporte.
A programação das duas rádios (Rural e Aliança) estava assim
distribuída: Rádio Aliança - AM: Programa Musical “Bom dia trabalhador“, com
músicas variadas (a maior ênfase é dada ao estilo tradicionalista gaúcho e
sertanejo), e algumas inserções de informações/recados. Embora não fosse
um programa agrícola, fornecia algumas informações sobre política e mercado.
100
Rádio Rural - AM: Programa Musical “Amanhecer cantando”, com o
locutor Alemão Gordo, das 5 às 6h30minutos, com notícias policiais e algumas
informações ao público rural e urbano.
Na época da entrevista, a rádio Rural ainda pertencia ao grupo da
integradora; poucos meses depois, foi vendida a um grupo de empresários da
cidade, e o programa continua sendo veiculado semanalmente.
Programas rurais de televisão
A televisão foi considerada o terceiro meio de informação mais
eficiente, apesar da não-adequação dos horários dos programas à realidade
dos produtores, principalmente nessa região, em que era tradição ir à missa
aos domingos. Segundo os produtores, o fato de não terem acesso ao canal
Rural via antena parabólica era outro problema, já que o canal estava
disponível só em TVs a cabo, embora anteriormente já tivesse sido transmitido
via antena parabólica. Atualmente, a população interessada em informações
agrícolas não estava tendo acesso a esse canal (Quadro 38).
Quadro 38 - Preferência dos produtores pela emissora de rádio, por estrato, no
município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Rádio Rural
Rádio Rural e Rádio Rural e
Aliança
outras
Rádio Rural
Aliança e
outras
I – cabeça
II – média
III – cola
88,9
61,0
88,9
11,1
27,8
11,1
5,6
-
5,6
-
Média geral
79,6
16,6
5,6
5,6
Fonte: Dados da pesquisa.
101
O “Globo Rural” era o programa de televisão mais assistido pelos
produtores, que, muitas vezes, tinham de optar pelo programa agrícola ou pela
missa (Quadro 39).
Quadro 39 - Preferência dos produtores pelos programas rurais de televisão,
no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Globo Rural
Manchete Rural e
Globo Rural
Outros Programas
I – cabeça
II – média
III – cola
88,9
87,5
85,7
11,1
6,3
14,3
6,2
-
Média geral
87,36
10,56
6,2
Fonte: Dados da Pesquisa.
Conteúdo das mensagens veiculadas pelo técnico, na percepção dos
produtores
Para os produtores do estrato cabeça, as mensagens veiculadas pelo
técnico
abordavam
conteúdos
tecnológicos;
para
o
estrato
média,
gerenciamento da propriedade; e para o estrato cola, gerenciamento e
tecnologia (Quadro 40).
Nota-se, no Quadro 40, que todos os produtores, independente de
estrato, recebiam o mesmo conteúdo de mensagens, embora a
prioridade
tenha sido dada para informações tecnológicas e, em segundo lugar, para
assuntos de gestão. Esses resultados confirmam que o técnico priorizava
assuntos tecnológicos, o que vinha de encontro ao objetivo da comunicação.
Nota-se que, na área de gestão, a administração da propriedade e outros
assuntos não foram veiculados, razão por que os produtores afirmaram que os
técnicos se preocupavam mais com o produto do que com os produtores.
102
Quadro 40 - Percepção dos produtores quanto aos conteúdos veiculados pelo
técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em
porcentagem)
Estrato
Área tecnológica
Área de gestão
I – cabeça
II – média
III – cola
77,8
77,8
77,8
22,2
22,2
22,2
Média geral
77,8
22,2
Fonte: Dados da pesquisa.
Adequação dos conteúdos
Quanto à adequação dos conteúdos das mensagens, segundo a
percepção dos produtores entrevistados, conforme Quadro 41, 79,7%
consideravam relevantes as mensagens veiculadas pela integradora; e 20,36%
consideravam-nas inadequadas, ou seja, precisavam ser reformuladas, pois,
segundo eles, o técnico não estava atualizado e não trazia novidades.
Quadro 41 - Percepção dos produtores quanto à adequação das mensagens
veiculadas pelo técnico, por estrato, no município de ConcórdiaSC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Sim
Não
I – cabeça
II – média
III – cola
88,9
72,2
77,8
11,1
27,8
22,2
Média geral
79,63
20,36
Fonte: Dados de Pesquisa.
103
Percepção dos produtores entrevistados quanto à ajuda do técnico
Segundo os produtores, os técnicos (...) não têm muito o que fazer,
pois trabalham para a empresa. “Puxa” para o lado dela”. No entanto, de
maneira geral, crêem que eles fazem o que podem, dentro da sua limitação.
Segundo os entrevistados, a integradora tinha feito pouco ou poderia
fazer mais para torná-los mais satisfeitos, conforme relatos:
Facilita na resolução dos problemas. Ex.: problema de desmame.
Desenvolveram uma ração para resolver o problema.
Não faz nada, ainda baixou o preço do porco.
Nada, abandona os produtores.
Nada só procuram o lado deles.
Nada, não se tem como se sair do chão, o custo da atividade é muito alto.
Atendem bem na assistência técnica.
Ela teria muita coisa para fazer mas ela não faz.
Proporcionou o curso para a produção de leitões.
Promessas que vai melhorar, vai ficar bom.
Nada, não tem feito nada, antigamente eles premiavam a gente.
Nessas falas, observa-se a insatisfação com as providências da
integradora para garantir a sobrevivência da unidade de produção, ao mesmo
tempo que não deixam de enfatizar que, em tempos passados, eram melhor
recompensados.
As velhas práticas de premiação por produtividade, praticadas pela
integradora (geladeiras, fogões, freezer, eletrodomésticos, móveis, automóveis,
máquinas, implementos agrícolas e tratores), foram substituídas por novas
exigências (rendimento da carcaça, conversão alimentar e produtividade) e por
pouco retorno financeiro. A comparação entre o passado e o presente gerava
certa nostalgia nos produtores.
Equipamentos disponíveis que facilitam a aprendizagem
Consideraram-se equipamentos completos e incompletos, disponíveis
por família, os quais pudessem viabilizar a busca de informações, favorecendo
a comunicação e as práticas pedagógicas tanto para o produtor, na busca por
conhecimento individual, como para o técnico, que poderia utilizar-se destes
para algum treinamento na propriedade. Consideraram-se como equipamentos
completos o rádio, a televisão, o vídeo-cassete, o telefone, a antena parabólica,
e o computador, enquanto a falta de algum desses itens acima relacionados foi
considerada equipamento incompleto.
104
Os equipamentos disponíveis, por estrato de produtores, que
auxiliavam na busca por informações, são apresentados no Quadro 42.
Quadro 42 - Equipamentos que os auxiliavam na busca de informações, por
estrato, no município de Concórdia-SC, 1998
Equipamentos completos
Equipamentos
incompletos
I – cabeça
II – média
III – cola
11,1
16,7
-
88,9
83,3
100,0
Média geral
13,9
90,73
Estrato
Fonte: Dados de Pesquisa.
Do total de produtores, nove possuíam computador, e 34, telefone.
Esses dados demonstram que esses produtores dispunham de equipamentos
que favoreciam a resolução de dúvidas, no caso do telefone, e facilitavam o
gerenciamento da propriedade, no caso do computador. No item “aspirações
desses produtores”, em relação ao interesse na aquisição de equipamentos,
seis responderam que pretendiam adquirir “computador”, aspiração devida
mais à exigência da empresa. A integradora, partindo da necessidade de
aumentar eficiência na Gestão da Qualidade na agricultura, estava implantando
o projeto Desenvolvimento de Fornecedores do Programa de Qualidade - TQS.
Este sistema foi avaliado e testado por produtores rurais, por especialistas e
por extensionistas, no Brasil e na Alemanha, e os resultados mostraram efeitos
positivos no aumento da eficácia e da eficiência da Gestão da Qualidade em
propriedades rurais. Este projeto deveria ser implantado em escritórios de
assistência técnica da Sadia, assim como em propriedades rurais.
105
Freqüência de leitura
Quanto ao hábito de leitura, o estrato cabeça era o que mais lia,
embora houvesse pouca diferença entre os estratos. Nos estratos cabeça,
média e cola, a leitura diária regular aparecia com pouca diferença entre eles.
O estrato cola tinha o maior índice dos produtores que nunca liam, razão por
que a atualização destes era dificultada.
Com relação à freqüência de leitura, 22,2% dos produtores do estrato
cabeça não liam nenhuma publicação; 44,4% liam jornais; 22,2%, revistas;
11,1%, jornais e folhetos. Do média; 5,6% não liam nenhuma publicação;
38,9% liam jornais; 11,1%, revistas; 11,1%, folhetos; 11,1%, jornais e revistas;
5,6%, revistas e livros; 5,6%, jornais, revistas e folhetos; 5,6%, jornais, revistas
e livros; 5,6%, jornais, folhetos, revistas e livros. Do cola; 22,2% não liam
nenhuma publicação; 44,4% liam jornais; 22,2%, revistas; 11,1%, jornais e
folhetos (Quadro 43).
Quadro 43 - Freqüência de leitura pelos produtores entrevistados, por estrato,
no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Liam todos os
Regularmente
dias
Raramente
Nunca
I – cabeça
II – média
III – cola
22,2
22,2
-
55,6
50,0
55,6
22,2
22,2
33,3
5,6
11,1
Média geral
22,2
53,73
25,9
8,35
Fonte: Dados de Pesquisa.
Leitura de outros jornais
Dos jornais lidos pelos produtores, destacam-se Correio Riograndense,
Jornal Fomento (jornal interno da integradora), Jornal da Copérdia, Manchete
106
Rural, Informativo da Embrapa, Diário Catarinense, O Jornal (jornal de
Concórdia) e Folha de S. Paulo.
Outros impressos
Os produtores preferiam Globo Rural, Avicultura da Sadia, Veja,
Imagem Rural e A Granja , além de folhetos do culto, folders e livros sobre
Administração e Gerenciamento.
Dificuldade encontrada nas mensagens transmitidas pelo Jornal Fomento
De acordo com o Quadro 44, dos produtores, 90,74% considera vam
fáceis as mensagens do Jornal Fomento.
Quadro 44 - Grau de dificuldade dos produtores no entendimento das mensagens veiculadas no Jornal Fomento, por estrato, no município de
Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem)
Estrato
Fácil
Difícil
Não o recebiam
I – cabeça
II – média
III – cola
88,89
94,44
88,89
5,56
-
11,11
11,11
Média geral
90,74
5,56
11,11
Fonte: Dados de Pesquisa.
Nos estratos cabeça e cola estavam os produtores que não recebiam
o Jornal; no estrato
média, 5,56% tiveram dificuldade em interpretar as
mensagens devido à linguagem técnica utilizada, enquanto o estrato média era
o mais crítico e exigente na avaliação dessa publicação.
107
Conteúdos veiculados pelo Jornal Fomento
O Jornal Fomento
é
uma publicação prod
uzida pela Parole
Comunicações Ltda., sob a coordenação da Assessoria de Comunicação
Social da Sadia Concórdia S.A. e colaboração dos técnicos da área
agropecuária.
A distribuição era gratuita aos produtores integrados da suinocultura e
avicultura. Sua edição tinha freqüência mensal, bimestral e trimestral e não
havia constância na freqüência de sua publicação. A equipe técnica da Sadia
colaborava com seu conteúdo, sendo composta por técnicos de Concórdia,
Chapecó, Três Passos e Frederico Westphalen. Sua tiragem era de 8.000
exemplares. Além de ser distribuído aos produtores de suínos e aves, era
encartado, em anexo, ao “O jornal” de Concórdia (jornal de circulação
semanal).
Observa-se, no Quadro 45, que os assuntos veiculados no Jornal
Fomento,
na
percepção dos
produtores,
estavam
relacionados com
informações sobre tecnologia, gestão empresarial (administração rural,
qualidade total e meio ambiente), marketing institucional e promoção social
(inclusive entretenimento).
Quadro 45 - Tipos de assuntos veiculados no Jornal Fomento, segundo a percepção dos produtores, por estrato, no município de ConcórdiaSC, 1998
Tipos de assuntos
Cabeça
Média
Cola
Gerenciamento
Tecnologia
Promoção social
Gerenciamento e tecnologia
Gerenciamento e promoção social
Gerenciamento, tecnologia e promoção social
22,23
33,33
11,11
22,22
11,11
-
35,29
17,65
19,65
23,53
5,88
37,50
12,50
37,50
12,50
-
100,00
100,00
100,00
Total
Fonte: Dados da Pesquisa.
108
Segundo os entrevistados, o Jornal Fomento deveria ser distribuído
com maior freqüência e utilizado para reforçar mensagens sobre administração
rural, tecnologia e promoção social, transmitidas pelo técnico.
Verifica-se que o conteúdo das mensagens do Jornal Fomento
privilegiava assuntos mais diversificados que os da relação interpessoal.
Na avaliação dos produtores, o conteúdo era considerado bom e
regular (Quadro 46).
Quadro 46 - Avaliação das informações veiculadas pelo Jornal Fomento, por
estrato (em porcentagem)
Estrato
I – cabeça
II – média
III – cola
Média geral
Excelente
Boa
Regular
Ruim
5,5
12,5
33,3
50,0
50,0
66,7
39,0
25,0
5,5
12,5
6,0
44,09
43,23
6,0
Fonte: Dados de Pesquisa.
Avaliação dos técnicos pelos produtores
Do total de produtores em ambos os estratos, 66,67% deram conceito
favorável (bom) aos técnicos, fator que facilitava o processo de aprendizagem,
conforme Quadro 47. Outra forma de comunicação utilizada pela integradora
era o plantão telefônico, atendimento direto do setor de assistência técnica
para tirar dúvidas dos produtores, em caso de emergências.
109
Quadro 47 - Avaliação da atuação dos técnicos pelos produtores, por estrato
(em porcentagem)
Estrato
Excelente
Boa
Regular
I – cabeça
II – média
III – cola
22,22
33,33
33,33
66,67
66,67
66,67
11,11
-
Média geral
44,44
66,67
11,11
Fonte: Dados da Pesquisa.
Mensagens sobre gestão ambiental
As organizações estão cada vez mais preocupadas em atingir um
desempenho ambiental correto, mediante o controle do impacto de suas
atividades, produtos ou serviços no meio ambiente, levando em consideração
sua política e seus objetivos ambientais que privilegiam a sua política de
comunicação.
Esse comportamento se insere no contexto de uma legislação mais
exigente, por meio do desenvolvimento de políticas econômicas e de outras
destinadas a estimular a proteção ao meio ambiente, em que há crescente
preocupação das partes interessadas com as questões ambientais e com o
desenvolvimento sustentável.
Muitas organizações
têm
efe tuado
“análises”
ou
“auditorias”
ambientais, a fim de avaliar seu desempenho ambiental. No entanto, por si só,
tais “análises” e “auditorias” podem não ser suficientes para garantir que o
desempenho da organização atenda a esses procedimentos conduzidos dentro
de um sistema de gestão estruturado e integrado ao conjunto das atividades de
gestão, pois a conscientização ambiental é um processo de educação.
As normas internacionais de gestão ambiental objetivam prover às
organizações os elementos necessários a um sistema de gestão ambiental
eficaz, passível de integração com outros requisitos de gestão, de forma a
auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos. Essas normas,
110
como outras normas internacionais, não foram concebidas para criar barreiras
comerciais não-tarifárias, nem para ampliar ou alterar as obrigações legais de
uma organização, mas objetivamequilibrar a proteção ambiental com as
necessidades
socioeconômicas.
Embora
haja
tendência
mundial de
conscientização em relação às questões ambientais, boa parte da população,
especificamente nessa região, não se conscientizou da necessidade da
preservação ambiental, principalmente com relação à grande quantidade de
dejetos de suínos que contaminam as águas potáveis, os riachos e os rios
(fonte de nutrientes para as plantas).
Apesar da urgente necessidade de conscientização desses produtores
sobre as questões do meio ambiente, constata-se que havia carência de
mensagens relacionadas com a área de gestão, no que diz respeito à
preservação ambiental.
De acordo com o livro do SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS - SEBRAE (1996), relativo a “ A questão
ambiental: o que todo empresário precisa saber ”, as atividades empresariais
são classificadas em três níveis de contaminação, quais sejam, alto, médio e
baixo.
A suinocultura e, em especial, a unidade de produção de leitões
(UPLs), independente do tamanho, pequeno, médio ou grande, são
consideradas altos agentes poluidores. Os índices de poluição na região são
alarmantes, principalmente no que diz respeito a água, ar, rios, etc. Na região,
ainda não há uma mobilização efetiva para a solução do problema, embora
instituições, como FATMA, EPAGRI e EMBRAPA, estejam imbuídas em
projetos e realizando pesquisas na área.
Muitas empr esas têm trilhado caminhos em direção a uma nova
perspectiva, em que os cuidados ambientais deixam de ser um obstáculo à
atividade da empresa e tornam-se a garantia de que ela se firmará no mercado,
com maiores oportunidades e credibilidade, aliadas às crescentes exigências
legais, à fiscalização e às pressões da sociedade organizada e incentivadas
pelos meios de comunicação.
Observa-se
que,
no
conteúdo
das mensagens
veiculadas, a
integradora não dava prioridade às mensagens sobre gestão ambiental.
111
Dentre as mensagens veiculadas pelo técnico, constata-se que a
maioria estava relacionada com
tecnologias voltadas para produção e
produtividade e com gestão empresarial na área econômico-financeira. Com
relação à preservação ambiental, verifica-se que apenas um, dentre os 36
produtores, respondeu que o técnico abordava o assunto, conforme Quadros
48, 49 e 50.
Quadro 48 - Destino dado aos suínos mortos no município de Concórdia-SC,
1998 (em porcentagem)
Estrato
Enterrados
Queimados
Sem padrão
I – cabeça
II – média
III – cola
44,4
38,9
38,9
11,1
11,1
8,3
44,4
50,0
52,8
Média geral
40,43
10,16
49,06
Fonte: Dados da Pesquisa.
Quadro 49 - Número de produtores que tinham problemas relativos à proliferação de moscas na propriedade, no município de Concórdia-SC,
1998
Estrato
I – cabeça
II – média
III – cola
Média geral
Sim
Não
88,9
94,4
88,9
11,1
5,6
11,1
90,73
9,26
Fonte: Dados da Pesquisa.
112
Quadro 50 - Número de produtores que tinham problemas relativos à proliferação de borrachudos, no município de Concórdia-SC, 1998
Estrato
I – cabeça
II – média
III – cola
Sim
Não
77,8
82,4
100,0
22,2
17,6
-
86,7
19,9
Média geral
Fonte: Dados da Pesquisa.
Todos os estratos apresentavam problemas relacio
nados com a
proliferação de insetos. Dos produtores do estrato cabeça, 88,9% enfrentavam
problemas de proliferação de moscas; do média, 94,4%; e do cola, 88,9%.
Quanto à proliferação de borrachudos, do estrato cabeça, 77,8%; do média,
82,4%; e do cola, 100%. Em todos os estratos, grande parte de produtores não
obedecia ao padrão para o descarte de suínos mortos. Do total de produtores,
62,8% possuíam esterqueiras havia menos de quatro anos.
Quanto ao destino dado ao lixo na propriedade, do total de produ tores
entrevistados, 61,1% não obedeciam a nenhum padrão; 13,9% enterravam-no;
e 25% queimavam-no. Estes dados refletem a pouca ênfase dada às questões
educativas de preservação ambiental.
O papel das integradoras na região, quanto à questão ambiental, t em
sido exigir que os integrados construam esterqueiras adequadas às normas da
FATMA, já que aqueles que não o fizerem, ou seja, que não providenciarem
sua construção ou a remoção destas para locais adequados (distante dos rios),
correrão o risco de serem excluídos do sistema de integração e serão
obrigados a pagar multas.
A proliferação de moscas e borrachudos era decorrente do destino
dado ao lixo, aos suínos mortos e aos dejetos e da carência de informação
sobre educação ambiental. Alguns produtores tinham informação e interesse
em realizar o manejo adequado, mas muitos não conseguiam o correto manejo
113
dos dejetos, em razão da grande quantidade produzida e do escasso capital
disponível para construção adequada de esterqueiras, como exige a legislação,
e da dificuldade de alocar mão-de-obra permanente ou temporária (recursos
escassos).
Nesse contexto em que as questões ambientais eram preocupantes, a
responsabilidade social e final era atribuída aos produtores rurais.
114
4. RESUMO E CONCLUSÕES
No estudo de caso, analisou-se o processo de comunicação
interpessoal a partir da Teoria de Aprendizagem, de Berlo (1963), tendo como
unidades de análise os 36 produtores de leitões integrados e os dois técnicos
da assistência técnica da Sadia Concórdia S.A. Classificaram-se esses
produtores pelo método denominado de Gestão Agrícola, baseado no
levantamento de dados físicos e econômicos das propriedades, a partir da
Margem Bruta de Produção, agrupando-os em três classes - cabeça, média e
cola. Conforme os objetivos propostos, caracterizou-se o universo desses
produtores, dos técnicos, da organização interna de produção, assim como a
relação de comunicação interpessoal entre integradora-integrado.
Este estudo, longe de apresentar u ma conclusão definitiva, permitiu
melhor compreensão do processo de construção da relação de comunicação,
das mensagens e de seus significados. Permitiu, também, constatar as
expectativas de ambos os envolvidos no processo de comunicação, para que
ocorresse a mudança de comportamento e se efetivasse a aprendizagem.
Dos produtores entrevistados, 100% eram do sexo masculino e
procedentes do meio rural; o ciclo de atividade anterior predominante era de
ciclo completo (96,6%); a idade média dos produtores era de 42 anos; o estado
civil da maioria deles (88,9%) era casado; a média de filhos, por estrato, era de
três; a origem da maioria (91,06%) era italiana; e a maioria havia realizado o 1.o
grau, tendo 41,7% concluído a 4.a série.
115
Dos
produtores
analisados,
46,29%
estavam
vinculados,
comercialmente, à integradora, num período de 20 a 35 anos (tempo contado
desde que a família de origem se vinculou à integradora).
Quanto às características internas de produção, observa-se que o
contrato existente entre integradora-integrado era oral, e a principal razão que
levou esses produtores a participarem do sistema integrado era a facilidade de
comercialização, de transporte dos produtos e de assistência técnica.
Com relação ao trabalho na atividade, os produtores tr abalhavam, em
média, cerca de 15 horas/dia. A média dos estratos de produtores que
possuíam plano de saúde era de 44,43%. Desses produtores, 100% eram
proprietários e 11,11% ainda arrendavam terra para o cultivo do milho, pois o
relevo acidentado e pedregoso não favorecia a mecanização dessas
propriedades.
As propriedades localizavam-se a uma distância média de 14 km tanto
da sede do município de Concórdia como da integradora. A área média das
propriedades era de 30,6 ha.
A posse da terra, a distância e a área estavam dentro do limite imposto
pela integradora para vinculação ao sistema de integração. A área média
exclusiva para a suinocultura, nos estratos, era de 10,33 ha.
Constata-se que 52,77% dos produtores pretendiam ampliar a
suinocultura, mediante crédito agrícola, enquanto 52,73% não o utilizavam. O
estrato cabeça era o que mais evitava utilizar crédito agrícola, enquanto os
média e cola eram os que mais o utilizavam, com vistas em melhorar suas
condições técnicas e produtivas e em adequar-se ao padrão tecnológico
exigido.
Comparando-se as moradias com as instalações suinícolas, observase que estas últimas tinham bom padrão, o que demonstra a preocupação
desses produtores com a manutenção do padrão estabelecido e com o
atendimento às exigências da integradora. Embora estivessem vinculados ao
sistema de produção suinícola integrado e subordinados ao capital, buscavam
diversificar a unidade produtiva por meio de explorações consideradas como
fundamentais para o auto-consumo da propriedade, além da exploração
comercial. Para isso, 90,7% era a média dos estratos de
116
produtores que
contavam com o apoio da família no planejamento geral das atividades na
propriedade.
Quanto à atuação exclusiva da mão-de-obra familiar, esta ocorria em
86,66% dos estratos. No estrato cabeça, a participação da família era de
100%, eficiência explicada, parcialmente, pelo comprometimento da produção
familiar. A alocação média de mão-de-obra, nos estratos, estava distribuída em
permanente (55,53%) e temporária (25,53%).
O “sobretrabalho” da produção familiar, em todos estratos, era feito
pela mão-de-obra familiar, enquanto inserida no sistema de integração para
sua reprodução. A confirmação dessa apropriação torna-se evidente quando se
verifica, na planilha de gestão agrícola da atividade, o item mão-de-obra
familiar, considerando-se como custo de produção somente a mão-de-obra
externa à propriedade, o que implica que o principal papel desses produtores
era o fornecimento de mão-de-obra para a integradora.
Dentre outras constatações, observa-se que, com a passagem da
forma tradicional de produção, ou seja, de ciclo completo para a especialização
do processo produtivo, novos atributos passaram a ser considerados, o que
dificultava a assimilação de tais conteúdos veiculados
pelos produtores,
sobretudo por não perceberem vantagens imediatas. Sendo assim, as ações
da integradora deveriam contemplar
estruturais
como
os pessoais,
tanto os elementos tecnológicos e
considerando-os
como sua
base de
funcionamento.
Os atributos desses produtores, considerados pela integradora, eram
inovação, maiores possibilidades de investimentos e maior qualificação.
Os produtores de leitões selecionados demonstraram capacidade de
assegurar a reprodução da qualidade genética das matrizes. Essa seleção, na
prática, era uma forma sutil de excluir os produtores de ciclo completo que não
possuíam meios para aumentar a sua escala de produção e não tinham
interesse em especializar-se na terminação. Essa especialização pressupunha
uma rotinização dos processos de produção na suinocultura, tornava a
atividade estável e previsível, além de salvaguardar a qualidade dos produtos e
serviços, assim como custos, quantidade ou prazo de produção. Mesmo assim,
40,74%
dos
produtores
não
adotavam todas as
recomendações e
procedimentos preconizados sobre qualidade total e administração rural.
117
A constante desmotivação desses produtores era motivo de entrave da
adoção desses procedimentos e rotinas. A motivação era uma tarefa de
responsabilidade única e total dos produtores. A integradora esperava que eles
se sentissem motivados; no entanto, o fenômeno motivação não era tão
simples, já que era um processo psicológico, cuja compreensão e abordagem
dependiam da concepção que se tem da complexidade da natureza humana e
das condições que a influenciam.
Os produtores, apesar do empenho na atividade, não percebiam a
relação vantajosa entre custo e benefício que os estimulasse, ou seja,
esperavam alguma recompensa financeira mais satisfatória. A participação dos
produtores em treinamentos era fundamental para a especialização destes.
Constata-se que o estrato cabeça era o mais receptivo a treinamentos (87,5%),
sendo o cola o menos receptivo (77,8%). Do total de produtores que
receberam treinamento pela integradora, verifica-se que a média dos estratos
era de 83,33%. As áreas de interesse, de acordo com a prioridade desses
produtores, eram de Administração Rural, Tecnologia e Promoção Social. Os
estratos cabeça e cola apresentaram maior interesse em treinamento nas área
de Administração Rural.
Quanto à participação em cursos por meio de outras instituições,
verifica-se que 50% dos produtores recebiam treinamentos, sendo o estrato
cola o que mais participava destes. Os produtores entrevistados não estavam
expostos a outros programas de assistência técnica concorrente nessa
atividade, o que aumentava as possibilidades de que dessem a resposta
esperada pela integradora, pois a redução dos estímulos disponíveis
aumentava a efetividade dos estímulos que permaneciam. A busca de
informações externas revela que esses produtores não estavam isolados de
outros estímulos.
Ao analisar-se o perfil dos dois técnicos, observa-se que eles tinham a
mesma etnia e procedência dos produtores, ou seja, eram do sexo masculino e
possuíam semelhanças culturais.
O tempo de vinculação profissional à integradora era de 5 e 10 anos, o
que demonstra certa experiência e conhecimento na atividade. Quanto ao nível
de instrução, os dois técnicos tinham formação média (técnico-agropecuário), e
um deles era formado em Biologia. Mediante a leitura de teses, artigos
118
científicos, revistas especializadas e participação em eventos, tentavam
manter-se informados.
A relação de comunicação efetiva era realizada pelos técnicos por meio
de visitas individuais aos produtores, ocasião em que transmitiam tecnologias,
procedimentos e padrões sobre qualidade total e administração rural.
O modelo de comunicação utilizado por eles era o estímulo-resposta.
Apesar de ser uma representação um tanto simplificada da realidade, era uma
ferramenta de trabalho utilizada pela integradora para transmitir procedimentos
e inovações. Entre os canais disponíveis para transmissão de mensagens, o
interpessoal era o mais utilizado pela assistência técnica. Para os técnicos, o
objetivo da comunicação era a mudança de comportamentos, ou seja, fazer
com que o indivíduo aprendesse. Servia também para informá-los, orientá-los,
motivá-los e para coletar e divulgar dados sobre tecnologias, produção e
produtividade.
As mensagens veiculadas durante
as visitas eram facilmente
compreendidas por 100% dos produtores, por meio de linguagem acessível
(palavras do dia-a-dia). Os produtores afirmaram que o técnico tinha habilidade
para comunicar-se. Essa “habilidade” era compatível com a similaridade
cultural que os produtores tinham com os técnicos, visto que pertenciam a
mesma origem étnica e procedência, o que, conseqüentemente, aumentava a
possibilidade de empatia na relação de comunicação. A posição exercida pelos
técnicos dentro do sistema social influenciava a comunicação, que, na maioria
das vezes, era “dirigida”.
A comunicação interpessoal, mediante visita individual na propriedade,
era o método mais utilizado pela assistência técnica, por ser o mais eficiente na
consecução de seu objetivo, que era convencer os suinocultores a modificarem
comportamentos. Esse método individual exercia influência direta, de caráter
pessoal, nesses produtores, facilitando a introdução de novas práticas e
conhecimentos e permitindo a realização do contato mais íntimo com o
indivíduo. Dessa forma, o produtor era convenientemente informado sobre os
benefícios dessa nova tecnologia.
Observa-se que os produtores, na sua maioria, recebiam expressiva
carga de estímulos, razão por que buscavam informações. Segundo os
técnicos, eles sofriam ameaças decorrentes da oscilação do mercado, dos
119
altos custos de produção, dos preços de
insumos e do rigor da legislação
ambiental.
Para os produtores, os técnicos eram tidos ora como representantes da
integradora, ora como aqueles que compartilhavam, mutuamente, os objetivos.
Segundo eles, a situação dos técnicos não era muito confortável e a empatia
estabelecida entre eles minimizava a situação de “conflito vivido”.
O êxito dos agentes de mudança tinha relação positiva com sua
empatia, embora estes tivessem, na maioria das vezes, tanta empatia com os
agricultores que acabavam assumindo o papel da clientela, perdendo o desejo
de transformá-los. A semelhança, muitas vezes, fazia com que os produtores
não percebessem a diferenciação de papéis nesse processo, assim como a
hierarquia e a intenção dos técnicos. Sugere-se que o técnico, como agente de
mudança, exerça mais influência nas decisões de inovar, esteja atento às
tecnologias de ponta, busque mais conhecimentos sobre as ciências do
comportamento para combinar ciência e pessoas, tecnologia e humanismo, e
conheça metodologias mais participativas.
Os técnicos reconheceram que não estavam habilitados em áreas de
desenvolvimento humano e de comunicação e não utilizavam recursos
instrucionais atrativos, ou seja, apenas usavam a fala para repassar as
informações aos produtores.
Os técnicos deveriam conscientizar os produtores da importância da
mudança, no sentido de levá-los a buscar o próprio desenvolvimento, pois eles
são o elo na relação de comunicação-mudança; auxiliá-los no diagnóstico de
problemas,
traduzindo
intenções
em
ações;
e
preveni-los contra a
descontinuação.
Os conteúdos (mensagens tecnológicas e de gestão empresarial) eram
predefinidos e veiculados por ocasião da visita, que ocorria com determinada
freqüência, ou seja, semanal, quinzenal ou mensalmente. Enfatizavam
mensagens tecnológicas e de gestão empresarial como um dos principais
elementos que afetam o funcionamento das economias da produção familiar.
Muitas vezes, eram responsáveis pelas transformações profundas da unidade
produtiva e eram determinantes na relação com a integradora. Esses
conteúdos estavam voltados para a importância da especialização e da
realização dos procedimentos, vistos como instrumentos que possibilitavam a
120
difusão de tecnologias, a melhoria da
eficiência produtiva e o maior
desempenho dessas unidades de produção, embora não estivessem
desvinculados da intenção ou do propósito para a qual ela é comunicada.
O discurso renovado da integradora, e mbora estivesse permeado de
conceitos de administração rural, gestão agrícola e qualidade total, baseava-se
na especialização de determinada fase produtiva, o que traduzia o nítido
interesse na seleção dos suinocultores.
Verifica-se que, no conteúdo das mensagens veiculadas por meio da
comunicação interpessoal, a integradora não privilegiava, efetivamente,
mensagens educativas sobre questão ambiental. Percebe-se, também, que
não havia incentivos também por parte de órgãos públicos competentes (via
políticas públicas), no que diz respeito à viabilização de incentivos para a
construção de esterqueiras e ao tratamento de dejetos de suínos. O ônus da
questão ambiental continuava sendo creditada à população circunvizinha e aos
produtores rurais. A exigência de construção de esterqueiras e a fiscalização
refletiam, necessariamente, o correto manejo desses dejetos.
Inicialmente, os produtores preferiam solicitar informações do técnico, e
o estrato que mais procurava essas mensagens era o cola. A segunda fonte de
informação preferida era o rádio (100% dos entrevistados ouviam rádio e o
informativo da Sadia). Não havia programas locais específicos a esse público,
com enfoque na área de promoção social, os quais atendessem à necessidade
de informação desses produtores. Dos produtores estudados, 53,73% liam
regularmente, o que facilitava a aprendizagem.
A integradora tentou minimizar o esforço de aprendizagem desses
produtores
por meio da
implementação de procedimentos e rotinas
padronizados por tarefas na atividade suinícola, com base nos padrões da
qualidade total. Esse método objetiva simplificar o processo de aprendizagem,
para que haja resposta rápida. Mesmo assim, muitos não se adequavam às
exigências da integradora, pois a seleção e a interpretação dos estímulos
relacionavam-se com suas expectativas de recompensa.
A integradora deixou a desejar no que diz respeito ao valor da
recompensa e ao tempo de entrega desta. De acordo com os produtores, a
recompensa oferecida pela integradora não era satisfatória, seja física, social
ou economicamente, ou seja, eles não tinham tido o retorno pelo investimento
121
que vinham realizando na atividade. A inexistência da “recompensa”
desestimulava o hábito de melhorar, ou seja, gerava o seu enfraquecimento.
Esses produtores afirmaram que não estavam recebendo nenhum tipo de
recompensa relacionadas com as que tinham no início da vinculação comercial
com a empresa.
As velhas práticas de premiação por produtividade, utilizadas pela
integradora
(geladeiras,
fogões,
freezers,
eletrodomésticos,
móveis,
automóveis, máquinas, implementos agrícolas e tratores), foram substituídas
por novas exigências (rendimento da carcaça, conversão alimentar e
produtividade) e por pouco retorno financeiro. A comparação entre o passado e
o presente gerava certa nostalgia aos produtores, que falavam, com certo
saudosismo, de tempos passados, em que o retorno econômico era maior e a
empresa proporcionava maiores recompensas.
Os produtores estavam conscientes de que possuíam tradição na
atividade, muita experiência e gostavam de desempenhá-la, além de já terem
investido
muito
em
instalações.
Por
ocasião
da
pesquisa, estavam
desestimulados, pois sentimentos de insegurança e medo estavam presentes,
concomitantemente com a aversão a riscos.
Os técnicos possuíam simbolismos assim como os produtores, embora
o nível de instrução e o papel desempenhado os diferenciassem. Como
representantes da integradora, os técnicos ocupavam posição privilegiada
(dominante) na relação de comunicação e cada qual, na sua relação de
comunicação, lutava continuamente, conforme suas reservas e instrumentos,
sem, no entanto, constituírem relação antagônica.
Quanto ao hábito de leitura, os produtores, em sua maioria, liam, mas
não tinham tempo para se dedicar à leitura e ao lazer e os poucos que liam
assinavam revistas e jornais. O Jornal Fomento, mesmo não tendo
periodicidade certa, transmitia, segundo 79,63% dos produtores, informações
adequadas, embora fosse importante que também transmitisse informações
sobre saúde, educação e mercado.
Segundo os produtores, as mensagens veiculadas no Jornal Fomento
eram relacionadas com tecnologias, administração da propriedade (gestão
agrícola e qualidade total) e promoção social (entretenimento e meio
ambiente), razão por que a maioria deles não tinha dificuldades de entendê-lo.
122
A integradora dispunha, por ocasião da pesquisa, de meios como rádio,
jornal, revistas e folhetos para veiculação de comunicação; no entanto, poderia
veicular a informação principalmente por meio de uma programação no rádio, a
qual enfocasse temas tecnológicos, de gestão e de promoção social, com
maior tempo de veiculação.
Os técnicos não estavam utilizando outros recursos instrucionais
atrativos, como vídeos, fotografias, cartazes, figuras, etc., embora estes
constituíssem um código de comunicação concreto e objetivo que poderia
receber atenção dos agricultores.
Os produtores apresentaram interesse em adquirir equipamentos que
facilitassem sua aprendizagem, com o objetivo de tornar a unidade produtiva
mais eficiente. Para isso, queriam adquirir computadores e vídeos. Dos
produtores
entrevistados,
nove
possuíam
computador,
enquanto seis
pretendiam adquiri-lo. Esse interesse em adquirir computador revela a
necessidade de se adequarem a mais uma exigência da integradora, já que
esta pretendia implantar o projeto “Desenvolvimento de Fornecedores do
Programa de Qualidade - TQS”, partindo da necessidade de aumentar a
eficiência de Gestão da Qualidade nas propriedades rurais.
A tentativa da integradora de profissionalizar es ses produtores
mediante treinamentos é constatada na promoção de curso sobre produção de
suínos (leitões).
Quanto aos treinamentos e à busca de informações, observa-se que a
grande maioria dos entrevistados recebia algum tipo de treinamento efetivado
pela integradora, enquanto a metade dos produtores realizava treinamento
também em outras instituições. A busca de informações em outras instituições
revela que esses produtores não aceitavam, passivamente, somente as
informações fornecidas pela integradora.
Constata-se, de forma análoga a outros estudos, que há um ponto
comum entre os integrados, ou seja, apesar das dificuldades, eles não queriam
deixar de ser integrados; o que desejavam era melhorar seu poder de
barganha junto à empresa integradora.
A integração social desses produtores era feita por meio do vínculo
com o trabalho, com a família e com a comunidade, e por meio de eventos
(festividades religiosas e missas).
123
A Associação dos Produtores de Leitões poderia oportunizar maior
espaço para interação, organização e fortalecimento dessa categoria (maior
poder de barganha junto à integradora). Do total de produtores entrevistados,
46,3% creditavam ao conjunto de estruturas
cooperativa, sindicato,
associações
e
organizativas (agroindústria,
instituições governamentais) a
responsabilidade de auxiliá-los na busca de alternativas para superação de
problemas.
Sugere-se que a integradora planeje, participativamente com técnicos e
produtores,
a
promoção de cursos
e
treinamentos nas áreas de
desenvolvimento humano, comunicação e gestão ambiental, e busque formas
alternativas de incentivar esses produtores a melhorar a auto-estima. Essa
programação poderia ser realizada mediante parcerias, pois, no modelo atual,
a participação ativa do produtor só é levada em consideração na fase final,
razão pela qual se sentem desmotivados e mesmo desobrigados a dar a
devida importância ao planejamento prescrito.
Neste
estudo,
a
comunicação
interpessoal
revelou que este
procedimento de comunicação é uma forma de tratar tecnicamente a atividade
de interesse da empresa e dar assessoria gerencial à propriedade.
A integradora exerce, por meio da assistência técnica, uma espécie de
controle (do produtor e das condições ambientais), fiscalizando-os e realizando
auditoria na unidade produtiva como meio de otimizar os resultados.
A comunicação interpessoal é considerada pela integradora, muitas
vezes, como um instrumento efetivo e suficiente, em si mesmo, para assegurar
a eficiência e a eficácia do sistema de integração e do próprio processo de
aprendizagem. A comunicação dos técnicos é percebida como parte integrante
de uma superestrutura ideológica destinada a reforçar atitudes necessárias à
perpetuação da produção capitalista e a legitimar sua dominação. Nesse
modelo, a comunicação, que é paternalista,
unilinear e vertical, objetiva
encurtar o tempo entre o lançamento das inovações tecnológicas mediante
procedimentos e das rotinas. Sua prática leva os produtores à dependência
cada vez maior da assistência técnica da empresa.
Do ponto de vista do integrado, embora a relação fosse amistosa, havia
certa desconfiança e até mesmo descrédito por parte destes, conforme se
124
percebe nesta fala: ... o técnico é mais um contador de leitões e vendedor de
ração.
A prioridade dada à veiculação de mensagens tecnológicas e de
gestão empresarial revela a lógica da integradora em construir mecanismos
que permitam respostas às expectativas da empresa, o que comprova a sua
grande preocupação com a lógica produtivista.
A “assistência técnica”, como o nome já diz, considerava os produtores
apenas nas fases finais do processo, razão pela qual estes sentiam
desmotivados e, ao mesmo tempo, desobrigados a dar a devida importância ao
planejamento executado. Esse enfoque voltado para o produtivismo tem
caráter imediatista e não toma o indivíduo como agente no processo, mas
como instrumento de persuasão, incapaz de agir e refletir sobre o mundo para
transformá-lo.
O estado de constante preocupação desses produtores servia de
bloqueio para que alguns atingissem determinadas exigências, o que,
conseqüentemente, dificultava a aprendizagem. Esses fatores precisam ser
considerados, pois, sob condições de tensão (de “ stress”), ocasionam um
“fechamento”,
já
que,
quando
os
produtores
verificavam que suas
necessidades não coincidiam com a disponibilidade da recompensa oferecida,
eles se fechavam e não adotavam, de forma eficiente, essas tecnologias e
esses métodos de gestão.
As recompensas econômicas, aliadas às de motivação, podem
satisfazer às necessidades reais e à efetivação das adoções das implantações
de rotinas e procedimentos.
Alguns autores, como BORDENAVE e PEREIRA (1977), consideraram
essa abordagem de comunicação verticalizada como “anti-educativa”, já que
era incapaz de desenvolver nos indivíduos a habilidade de identificar seus
próprios problemas, entendê-los e buscar soluções apropriadas. Isto torna
relevante os programas de educação e capacitação dos suinocultores, uma vez
que, sem a adequada preparação da mão-de-obra, não serão alcançadas as
metas de produtividade que tornam a empresa competitiva. Defenderam a
utilização de estratégias de ação em grupos cujos interesses são comuns, pois
essas categorias sociais têm diferentes interesses que podem mesmo ser
conflitantes, podem ter visões distintas, diferentes problemas, acesso
125
diferenciado aos benefícios institucionais da sociedade, diferentes níveis de
facilidades ou dificuldades e diferentes dimensões de poder.
Na empresa estudada, por meio dos questionamentos e dos
depoimentos informais dos produtores integrados aos técnicos, pôde-se
perceber a tensão vivida por ambos. Por um lado, os produtores eram
excessivamente cobrados pela integradora; por outro, os técnicos também o
eram. O técnico veiculava mensagens ao produtor com a intenção de que estes
aprendessem e melhorassem suas condições socioeconômicas, no entanto,
não compreendiam o motivo pelo qual os produtores não adotavam essas
tecnologias.
A introdução de novas tecnologias e
procedimentos, embora
considerada necessária, muitas vezes originava resistências. Esses técnicos
desconheciam a racionalidade que permeava as ações desses produtores, pois
não estavam familiarizados com teorias de comunicação, de aprendizagem e
de psicologia, em resumo, desconheciam a questão complexa que envolvia a
modificação de comportamentos.
Os produtores, embora percebessem que os técnicos impunham
procedimentos e rotinas, sentiam amizade por eles, visto que compreendiam a
situação desses técnicos, pois sabiam que eles não tinham autonomia e
condições de fazer mais do que faziam, já que estavam numa posição
intermediária na relação de comunicação.
Os conteúdos veiculados e os procedimentos da assistência técnica
revelavam uma ação de tutoria, fiscalização e auditoria, pois as mensagens
que visavam à produção, à produtividade via tecnologia e ao gerenciamento da
unidade produtiva eram exigentes e impositivas, dado que controlava e
perpetuava a relação de dependência.
Nesse sentido, o planejamento e a seleção de conteúdos a serem
trabalhados, bem como a forma de exploração metodológica desses
conteúdos, deveriam sofrer alterações, uma vez que a inovação não pode se
reduzir apenas a mudanças no que se ensina e no que se aprende, o ideal é
como se ensina e como se
aprende. Alguns produtores integrados
apresentaram, mediante atitudes, formas de resistência que se refletiam na
não-utilização da tecnologia prescrita pelo técnico.
126
Acredita-se que a integradora deveria usar modelos alternativos de
comunicação dialógica, cognitivos, morais e motivacionais, principalmente para
que os produtores pudessem ser capazes de, por meio do bem-estar físico,
promover o auto-desenvolvimento socioeconômico.
127
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Colonos e agroindústria: as múltiplas faces da
integração. Estudo de caso sobre pequenos produtores integrados de
suínos no município de Ouro - SC. Campina Grande: UFPB, 1993. 141 p.
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para adoção da tecnologia de inseminação artificial para suínos .
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130
APÊNDICES
131
APÊNDICE A
TAREFA
Desmamar leitões.
ATIVIDADE CRÍTICA
1) Preparar a baia para o desmame;
2) Tirar a porca da baia e levá-la até as baias da cobertura;
3) Colocar os leitões nas baias de desmame, separando os machinhos das
fêmeas; e
4) Oferecer ração como descrito na tabela.
RESULTADOS ESPERADOS
Leitão desmamado, sem diarréia ou outras doenças.
AÇÕES CORRETIVAS
Caso apareçam leitões com diarréia, edema ou outra doença, deve-se
avisar o técnico e rever o padrão.
Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico.
132
TAREFA
Proporcionar ambiente confortável para o leitão. Cuidados com o
escamoteador.
ATIVIDADE CRÍTICA
1) Inicialmente, colocar cama no escamoteador;
2) Ver se a temperatura dentro do escamoteador está boa, observando a
forma como os leitões estão deitados, comparando-os com as figuras;
3) Trocar a cama, quando estiver suja ou molhada;
4) Limpar, lavar e desinfetar a baia e o escamoteador, quando as porcas forem
retiradas e os leitões desmamados; e
5) Pintar a baia e o escamoteador.
RESULTADOS ESPERADOS
Contribuir para que o local onde
fica o leitão quando este não estiver
mamando tenha cama seca, limpa e
temperatura no ponto certo.
AÇÕES CORRETIVAS
Se os leitões não usarem o escamoteador, ou ficarem todos
amontoados dentro do escamoteador, verificar atividades críticas e avisar o
técnico.
Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico.
133
TAREFA
Adaptar reprodutores.
ATIVIDADE CRÍTICA
1) Preparar o local para colocar os reprodutores;
2) Colocar uma leitoa a cada um metro e meio da baia. Colocar, no máximo,
seis leitoas por baia;
3) Deixar o macho sozinho na baia, que deve ter de 8 a 10 m 2;
4) Oferecer aos reprodutores a mesma ração da porca em lactação, ou seja,
2 kg por dia, dado meio a meio;
5) Colocar medicamento na ração durante 30 dias;
6) Seguir o esquema de vacinação da propriedade, quando necessário;
7) Evitar que ocorram problemas de saúde com os reprodutores; e
8) Realizar o desafio sanitário, oito dias após o recebimento sanitário.
RESULTADOS ESPERADOS
Evitar que os reprodutores tenham problemas de adaptação na
propriedade e que não fiquem doentes.
AÇÕES CORRETIVAS
Quando os reprodutores não respondem ao tratamento, deve-se
chamar o técnico.
Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico.
134
TAREFA
Atender ao parto.
ATIVIDADE CRÍTICA
1) Ficar atento para os sinais de parto da porca;
2) Acompanhar o parto todo o tempo;
3) Realizar toque vaginal, quando a porca fizer força e os leitões não
nascerem. Desinfetar o local, lavar e desinfetar as mãos e os braços; usar
luva plástica; passar azeite na luva; colocar a luva na mão e introduzi-la na
porca;
4) Limpar a boca e o focinho do leitão recém-nascido;
5) Secar o leitão com pano seco;
6) Amarrar e cortar o umbigo dois dedos abaixo da barriga;
7) Cortar os dentes rente à gengiva e não machucá-la;
8) Cortar duas partes das três partes do rabo; e
9) Desinfetar o umbigo e o rabo cortados.
RESULTADOS ESPERADOS
Contribuir para que o leitão fique com os de ntes bem cortados; para
que a gengiva não fique machucada; para que o rabo fique bem cortado; e para
que o umbigo fique bem cortado e amarrado.
AÇÕES CORRETIVAS
Aplicar medicamento na porca sempre que for feito o toque com a mão;
Chamar o técnico, caso tenha dúvida a respeito do amarrio
do
umbigo; e
Requisitar o técnico, caso tenha dúvida a respeito do corte do rabo do
leitão.
Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico.
135
TAREFA
Alojar leitões na creche. Cuidados que se deve ter ao levar os leit ões
para a creche.
ATIVIDADE CRÍTICA
1) Limpar a baia;
2) Desinfetar a baia, após a limpeza desta;
3) Colocar a cama, após a baia ser seca;
4) Verificar se o bebedouro está funcionando;
5) Verificar se o comedouro funciona;
6) Tirar os leitões da maternidade e formar lotes com leitões de mesmo
tamanho; e
7) Colocar na creche três leitões por metro quadrado.
RESULTADOS ESPERADOS
Obtenção de três leitões por metro quadrado da creche.
AÇÕES CORRETIVAS
Toda vez que tiver mais de três leitões por metro quadrado na creche,
deve-se observar se há atividades críticas e contactar o técnico.
Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico.
136
APÊNDICE B
ANÁLISE DE CUSTOS UTILIZADA PELA INTEGRADORA
Os suinocultores rurais continuarão na atividade por algum tempo,
mesmo que pouco ou nada recebam, uma vez que eles não podem,
rapidamente, retirar
o
seu
capital
investido
em
bens
de
produção
especializados, com duração de vários anos. Contudo, desgastados os bens de
capital, o dinheiro não será reinvestido nesse negócio. Por este motivo, a
preocupação é dar condições aos donos dos fatores de produção para que eles
continuem a fornecê-los. Para isso, os custos deverão ser classificados em
explícitos ou contábeis e implícitos ou econômicos.
Custos explícitos ou contábeis são aqueles que englobam os gastos
monetários, ou seja, constam de todos os pagamentos efetuados pelo uso dos
recursos comprados ou alugados.
Custos implícitos ou econômicos são aqueles que não englobam
gastos monetários. Nessa abordagem, constam os fatores pertencentes à
empresa e utilizados no processo produtivo (ex.: custo de oportunidade,
depreciação, etc.).
Em geral, os custos explícitos e implícitos são divididos em fixos e
variáveis.
Os custos fixos são inalteráveis no curto prazo; o valor total independe
do nível de produção; ocorre mesmo que os recursos não sejam utilizados; não
137
se incorporam totalmente ao produto no curto prazo, fazendo-o em tantos
ciclos quanto permitir sua vida útil; seu conjunto determina a capacidade de
produção da atividade, ou seja, as escalas de produção.
Custo fixo total (CFT) é a soma de vários tipos de custos fixos e inclui,
usualmente, os componentes depreciação, seguro, impostos e juros.
Custo fixo médio ou unitário (CFMe) expressa o custo fixo por unidade
de produto. É determinado pela equação CFMe = CFT/Total Produzido em
Unidades Físicas (Y).
Como o CFT é um valor fixo ou constante, independente do nível de
produção (no curto prazo), o CFMe irá decrescer, continuamente, com o
aumento de produção.
Produtividade refere-se ao total produzido em unidades físicas (Y) por
unidade de produção. Ex: terminados/porca/ano.
O aumento da produtividade é a única maneira viável de se reduzir o
CFMe e, conseqüentemente, tornar o negócio mais rentável economicamente.
A análise do CFMe possibilita avaliar se o capital estável empregado
no negócio está sendo subutilizado ou não.
Os custos variáveis
são alteráveis no curto prazo; as alterações
provocam variações na quantidade do produto dentro do ciclo; só ocorrem
quando os recursos são utilizados; têm duração inferior ou igual no curto prazo,
sendo, portanto, sua recomposição feita a cada ciclo produtivo; incorporam-se
totalmente ao produto no curto prazo, não sendo aproveitados (ou claramente
aproveitados) para outro ciclo.
Itens como semente, ração, fertilizantes, produtos químicos, gastos
com sanidade do rebanho, alimentos adquiridos para animais, transporte,
Funrural, aluguel de máquinas, serviços com máquinas e com mão-de-obra,
em geral, são exemplos de custos variáveis.
Os alimentos produzidos na propriedade e fornecidos aos animais,
assim como semente para a lavoura, etc., são também custos variáveis e
devem ser computados no preço de mercado.
O custo variável total (CVT) pode ser obtido pela soma de cada custo
variável individual, que é igual à quantidade do recurso comprada,
multiplicando-se Custo variável médio ou unitário (
Produzido em Unidades Físicas (Y).
138
CVMe = CVT/Total
Da mesma forma, observa-se que o aumento da produtividade, ou seja,
o aumento mais que proporcional da quantidade produzida em relação ao
aumento do CVT, é que possibilita obter redução do CVMe.
A análise do CVMe permite avaliar qual o sistema de produção é mais
adequado.
A soma do CFT e CVT fornece o custo Total de produção (CT).
A soma do CFMe e CVMe fornece o custo total médio (CTMe).
Os recursos produtivos da empresa rural, utilizados na suinocultura,
segundo a integradora, são terra, capital estável (benfeitorias, máquinas,
equipamentos e animais) e circulante (insumos intermediários) e trabalho.
As metodologias que determinam os custos de produção devem ser
diferenciadas, já que são diferentes os recursos produtivos da empresa rural.
Quando a terra utilizada no processo produtivo de dado produto é
alugada ou arrendada, o seu custo é fixo e equivale ao desembolso feito para
pagar este arrendamento ou aluguel. Se a terra utilizada for própria, a
determinação do seu custo deve ser o custo de oportunidade desta, ou seja, o
valor que está deixando de ganhar com o uso deste recurso nesta atividade e
não em outro uso alternativo.
Dois critérios são utilizados, normalmente, para determinar este custo
de oportunidade terra: a) O valor do arrendamento pago na região (é um
critério muito utilizado); b) O valor de venda da terra vezes uma taxa de juros
alternativa recebida, aplicado no mercado financeiro (normalmente, utiliza-se
taxa de juros real de 6% ao ano, paga pela poupança).
O capital estável engloba os bens de produção duradouros que ajudam
na prestação de serviços em vários atos produtivos, como benfeitorias,
máquinas, animais de produção (matrizes) e de trabalho.
Sobre o capital estável incidem os seguintes custos:
a) Depreciação, que é o custo não-monetário que reflete a perda de valor do
bem com a idade, com o uso e com a obsolescência. É também um
procedimento contábil para gerar fundos necessários à substituição do
capital investido, após o término da vida útil.
b) Custo de conservação e manutenção do capital, normalmente, é considerado como um custo variável associado ao capital estável, por ter relação com
a intensidade de uso deste. Estabelece-se, normalmente, um percentual
139
anual sobre o valor do capital para calcular os custos referentes a
conservação e manutenção.
c) Custos do capital circulante, cujo uso implica a incidência de custos variáveis.
d) Custo de aquisição, dado pela quantidade adquirida do insumo e pelo preço
unitário de aquisição deste.
e) Juros sobre o capital empatado, que devem ser calculados pelo tempo ( número de meses) de uso do insumo, sendo, portanto, proporcional ao tempo
em que o capital ficou empatado para obtenção do produto.
f) Custo da mão-de-obra ocasional, que representa o salário pago pela mão-deobra ocasional, utilizando-se o preço de mercado pago pela mão-de-obra na
região.
A Renda Bruta Total na atividade representa o valor de tudo o que foi
produzido durante o ano, tanto para venda ou estoque como para consumo
familiar ou para alimentação animal no estabelecimento, expresso em valores
monetários.
RBT para criações = vendas - compras de animais + diferença de
inventário dos animais + autoconsumo.
Para converter as produções físicas em valores monetários, deve-se
atentar para o uso preços em moeda “forte”, ou seja, calculá-las em valores
reais, não-sujeitos a altas taxas de inflação.
A análise da Renda Bruta Total, isoladamente, é pouco conclusiva,
pois nem sempre uma maior RBT implica um melhor resultado econômico.
Torna-se importante comparar os custos associados à obtenção desta RBT.
Escolheu-se a variável Margem Bruta (MB), pois é o índice considerado
pela empresa como o mais eficiente na análise da atividade ou do produto,
visto que ela é dada pela diferença entre a Renda Bruta Total dessa atividade e
os custos variáveis totais desta, representada pela fórmula:
MB = RBT - CVT.
Esta variável serve para medir a eficiência da atividade ou do produto,
assim como para classificar os produtores em cabeça, média e cola, num
140
quadro geral de comparação; para analisar o grupo comparativamente; e para
comparar a eficiência entre atividades e produtos diferentes. Pode-se
determinar a MB por unidade de produção (por hectare, por porca, por aviário,
etc.), o que possibilita a comparação entre atividades semelhantes ou entre
produtores ou, ainda, entre regiões, etc. Pode-se, também, prever a MB futura,
para fazer a programação das atividades a serem desenvolvidas na
propriedade ou para fins de orçamentação.
A margem bruta não representa o lucro líquido da atividade.
As propriedades
rurais observadas
constituem-se de
recursos
escassos e procuram alcançar determinados objetivos. A forma de alocação
dos recursos escassos e todo o processo de tomada de decisão derivam dessa
administração rural.
A comparação de resultados, como técnica de gestão da propriedade,
é também uma das técnicas de gestão da propriedade utilizadas na
classificação dos produtores em cabeça, média e cola.
141
APÊNDICE C
GESTÃO DE SUINOCULTURA - UPL
Empresa: _____________________ Nome: ________________________________________
Região: _____________ Código: _______ Data: ___/___ Total de controle: _______________
Casos
Plante
Parições
Número de parições reais
Número de parições previstas
Total de leitões nascidos
Total de natimortos
Total de mortos ao nascer
Primíparas
Porcas
Leitoa
Cachaço
Valor total do plante
Total de controle
Desmamas
Número de desmamas
Total de leitões desmamados
Idade média de desmama
Total de eliminados
Total de esmagados
Total de mortos por doenças
Total de mortos outras causas
Intervalo desmama/cio
Casos
Total de controle
Coberturas
Coberturas realizadas
Número de leitoas cobertas
Número de retorno ao cio
Número de abortos
Casos
Encargos variáveis
Especificações
Un.
Milho
kg
Concentrado único
kg
Crescimento
kg
Pré-inicial
kg
Ração terminação
kg
Premix leitão
kg
Premix crescimento
kg
Premix terminação
kg
Premix reprodução
kg
Farelo de soja
kg
Silagem de milho
kg
Soja tostado
kg
Triticale
kg
Trigo
kg
Farelo de arroz
kg
Sorgo
kg
Girassol
kg
Soro em pó
kg
Farelo de trigo
kg
Sal
kg
Concentrado reprodutores
kg
Outros-1
kg
Outros-2
kg
Outos-3
kg
Total de controle
Peso
Valor
Total de controle
Compras
Reposição de machos
Reposição fêmeas compradas
Reposição fêmeas próprias
Quant.
Peso
Valor
Quant.
Peso
Valor
Total de controle
Vendas
Leitões vendidos
Descartes de machos
Descartes de fêmeas
Venda de refugos (Terminados)
Autoconsumo
Total de controle
142
Outros encargos
Mão-de-obra ocasiona
Medicamentos
Transportes
Luz e combustíve
Maravalha
Total de controle
Valor
Download

rosângela costa alves a comunicação entre integradora e integrados