ROSÂNGELA COSTA ALVES A COMUNICAÇÃO ENTRE INTEGRADORA E INTEGRADOS: O CASO DA AGROINDÚSTRIA SUINÍCOLA NO MEIO-OESTE CATARINENSE Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Curso de Extensão Rural, para obtenção do título de “Magister Scientiae”. VIÇOSA MINAS GERAIS - BRASIL DEZEMBRO - 1999 ROSÂNGELA COSTA ALVES A COMUNICAÇÃO ENTRE INTEGRADORA E INTEGRADOS: O CASO DA AGROINDÚSTRIA SUINÍCOLA NO MEIO-OESTE CATARINENSE Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Curso de Extensão Rural, para obtenção do título de “Magister Scientiae”. APROVADA: 27 de maio de 1999. Marília Fernandes Maciel Gomes Antônio do Carmo Neves Geraldo Magela Braga (Conselheiro) José Benedito Pinho (Conselheiro) José Geraldo Fernandes de Araújo (Orientador) A meu marido Sergio, pelo constante incentivo. A meus filhos Marcel e Marina, pelo carinho e pela alegria. A meus pais Acir e Neuza, pela vida. A minha avó materna (in memoriam), pelo conforto e pelo amor. A meus sogros Rubem Alves (in memoriam) e Thalita, pelo aconchego. A meus irmãos Rosi, Estela, Rosana e Eugênio, pela amizade. A meus sobrinhos. ii AGRADECIMENTO A Deus, Força Cósmica e Criadora. À Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a todos os professores e funcionários do Departamento de Economia Rural. Ao CNPq, que viabilizou a realização do curso de Mestrado. A Hélder Machado, Diretor da Secretaria de Agricultura, e a Idair Piccinin, Secretário Municipal de Agricultura da Prefeitura de Concórdia, pelo valioso auxílio durante a coleta de dados. Ao professor orientador José Geraldo Fernandes de Araújo, pela amizade e pela orientação. Ao Comitê de Orientação. Em especial, a Antônio Lourenço Guidoni, pesquisador da EmbrapaSuínos e Aves, e à Marília Fernandes Maciel Gomes, professora da UFV. A todos os colegas da turma de Mestrado em Extensão Rural. Aos produtores rurais de Santa Catarina entrevistados. Aos amigos Esmeralda Thomás Afonso, Dr. Evandro Oliveira e Cândida, Antonio Freitas e Maria do Carmo, Luiz Albino e Vanja. A Marcelo Silva de Freitas, estudante de graduação em Zootecnia. A todos que me ajudaram anonimamente, para que chegasse ao término de meu curso. iii BIOGRAFIA ROSÂNGELA COSTA ALVES, filha de Acir Porciuncula Costa e Neuza Morêda Costa, nasceu em 29 de julho de 1960, na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. Em 1995, obteve o título de Bacharel e Licenciada em Economia Doméstica, na Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa-MG. Em 1995, iniciou o curso de Mestrado em Extensão Rural. Atualmente, exerce a função de instrutora e consultora, prestando serviços ao SENAR, SENAC e SEBRAE nas áreas de Comunicação, Propaganda e Marketing e Desenvolvimento de Comunidades. iv CONTEÚDO Página EXTRATO ............................................................................................. vii ABSTRACT ........................................................................................... ix 1. INTRODUÇÃO .................................................................................. 1 1.1. Da criação tradicional à suinocultura integrada ......................... 7 1.2. O problema e sua importância .................................................. 17 1.3. Objetivos .................................................................................... 25 1.3.1. Objetivo geral ...................................................................... 25 1.3.2. Objetivos específicos ........................................................... 25 2. METODOLOGIA ............................................................................... 26 2.1. Descrição da área de estudos ................................................... 26 2.2. Descrição da unidade de análise ............................................... 27 2.3. Coleta de dados ......................................................................... 28 2.4. Modelo conceitual ...................................................................... 31 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................ 54 v Página 3.1. Descrição dos suinocultores e do sistema produtivo ................. 54 3.2. Perfil dos técnicos ...................................................................... 85 3.3. A comunicação da integradora e a percepção dos produtores.. 88 3.3.1. Mensagens sobre administração rural ................................ 94 3.4. Os produtores e os meios de comunicação utilizados .............. 95 4. RESUMO E CONCLUSÕES ............................................................. 115 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 128 APÊNDICES ......................................................................................... 131 APÊNDICE A ........................................................................................ 132 APÊNDICE B ........................................................................................ 137 APÊNDICE C ........................................................................................ 142 vi EXTRATO ALVES, Rosângela Costa, M.S., Universidade Federal de Viçosa, dezembro de 1999. A comunicação entre integradora e integrados: o caso da agroindústria suinícola no meio-oeste catarinense. Orientador: José Geraldo Fernandes de Araújo. Conselheiros: Geraldo Magela Braga e José Benedito Pinho. O estudo de caso fundamenta-se na análise do processo de comunicação interpessoal a partir da Teoria de Aprendizagem, empregada por Berlo, em 1963. As unidades de análise estudadas foram o universo de produtores familiares do município de Concórdia (produtores de leitões), integrados à agroindústria Sadia Concórdia S.A., e os técnicos que dão assistência técnica. Os produtores foram classificados em cabeça, média e cola, pelo método de Gestão Agrícola, que se baseia no levantamento de dados físicos e econômicos das propriedades, com base na margem bruta de produção. Conforme os objetivos propostos, caracterizaram-se os produtores integrados, os técnicos, a organização interna da produção, assim como a relação de comunicação interpessoal entre integradora-integrado. Este estudo possibilitou compreender melhor o processo de construção da relação de comunicação, das mensagens e de seus significados, e permitiu também observar as expectativas de ambos os envolvidos no processo de vii comunicação, para que ocorra mudança de comportamento e seja efetivada a aprendizagem. viii ABSTRACT ALVES, Rosângela Costa, M.S., Universidade Federal de Viçosa, December 1999. The communication among integrator and integrant: the case of the swine agroindustry in the middle-western Santa Catarina State. Adviser: José Geraldo Fernandes de Araújo. Committee Members: Geraldo Magela Braga and José Benedito Pinho. The case study is based on the analysis of the interpersonnal communication process from the Learning Theory applied by Berlo in 1963. The studied units of analysis were the universe of family producers in the Concord county (pig producers), integrated to the Sadia Concórdia S.A. agroindustry and the technicians who provide technical attendance. The producers were classified as the highest, the average and the lowest indices of productivity by the Agricultural Management method, which is based on the survey of the property physical and economic data with the basis on production gross margin. According to the proposed objectives, the integrated producers, the technicians, the internal production organization, as well as the relationship o interpersonnal communication among integrator-integrant were characterized. This study made possible for a better understanding on the process of the communication relationship construction, the messages and their meanings, and it also allowed to observe the expectations of both involved in the communication process, so that the behavior changes can happen and learning can be accomplished. ix 1. INTRODUÇÃO A globalização da economia e a abertura do mercado interno a produtos estrangeiros impõem inúmeros desafios ao setor agroindustrial, obrigando as empresas nacionais a aumentarem sua competitividade, adequando seus produtos e serviços aos níveis de qualidade internacionais. A Sadia Concórdia S.A. é uma empresa agroalimentar, de âmbito nacional, considerada um dos maiores grupos agroindustriais brasileiros. Essa posição privilegiada no panorama agroindustrial deve-se a sua excelente penetração no mercado interno e externo. A Sadia Concórdia S.A. vincula os produtores familiares (fornecedores de suínos), via contrato oral, ao chamado “Sistema de Integração”, que pactua normas zootécnicas, de sanidade, etc. No setor agroindustrial, a qualidade exigida pelo consumidor influencia todos os elementos da cadeia produtiva, assim como todas as etapas dessa cadeia. O enfoque da qualidade é utilizado por ela para antecipar as necessidades e satisfazer às expectativas e exigências dos consumidores. A qualidade do alimento industrializado depende, também, da qualidade da matéria-prima agrícola. Para isso, ela busca incorporar ao seu sistema produtivo as inovações tecnológicas, modificando constantemente as características quantificáveis dos produtos, como valor nutricional, higiene, presença de resíduos, e os aspectos relacionados com produção, como efeitos 1 no meio ambiente e manejo dos animais, os quais desempenham papel cada vez mais importante na decisão de compra dos consumidores. A qualidade preconizada pela integradora tem relação não-somente com elementos de ordem sanitária e tipo de composição molecular do produto, mas também com a busca de produtividade, de qualidade e de quantidade. Esses padrões são constantemente processados na interação que se estabelece entre o técnico da empresa integradora e o integrado, criando certa previsibilidade quanto às necessidades de matéria-prima de certa qualidade e certa quantidade, a determinado preço, por parte da indústria. Por outro lado, o produtor, estimulado por essas mensagens, apropria-se de tecnologias de produção. Além disso, nesta relação contratual oral que se materializa pela interação do técnico e do produtor, diminuem-se as incertezas destes a respeito dos resultados da comercialização e, conseqüentemente, do resultado final da atividade econômica. O sistema de integração tem sido viabilizado por essa relação de comunicação que é resultante da expansão da articulação da agriculturaindústria (via contratualização oral), desde o final da década de 60, relação esta que favoreceu a utilização de pequenas unidades produtivas, evitando, por parte da indústria, grandes investimentos na produção da matéria-prima para sua transformação. Este estudo analisa a percepção dos produtores de suínos, integrados à Sadia Concórdia S.A., diante da relação de comunicação interpessoal (técnico-produtor), no Sistema Integrado. Essa relação de contrato entre os atores (produtores rurais e integradoras) requer uma gama de serviços de apoio (redes de distribuição, transportes, serviços logísticos diversos) e tem gerado controvérsias, sobretudo porque envolve pequenos produtores rurais (familiares) e grupos agroindustriais de grande porte. A contratualização tem sido objeto de muitos questionamentos, pois pode constituir instrumento de reprodução e ascensão social para a camada de agricultores que têm dificuldades crescentes; ou, ao contrário, pode tratar-se de uma nova forma de subordinação e empobrecimento; ou, ainda, de uma forma de desenvolvimento da agricultura familiar. Com certeza, essa articulação da agricultura contratualizada com a indústria, paralelamente à modernização, 2 favorece a transformação e a expansão da atividade suinícola, assim como o crescente desenvolvimento do setor industrial. No Brasil, a partir da década de 70, houve expressivo desenvolvimento das agroindústrias, seguido de transformações e alterações estruturais de toda a matriz da cadeia produtiva. Da chamada “era da agricultura tradicional” (dentro da fazenda) passou-se à “era do agribusiness ou complexo agroindustrial” ( fora da fazenda), marcada por profundas mudanças das relações tecnológicas, produtivas, comerciais e financeiras. Segundo ALVES (1996), essas mudanças foram e serão irreversíveis, principalmente com relação à modernização da agricultura, que cada vez mais demandará e absorverá tecnologias modernas. Portanto, não mudará a interdependência entre insumos, produção agropecuária, processamento/distribuição e ecologia, ou seja, o “dentro da fazenda” está sendo e continuará influenciado diretamente pelo “fora da fazenda”. A tecnologia desempenha papel cada vez mais importante na exp licação das estruturas industriais e do comportamento competitivo das empresas. GEPAI (1997) afirmou que, em empresas de sucesso, 40 a 60% do faturamento é realizado por produtos que há cinco anos inexistiam no mercado. Esse fato evidencia a importância de integrar as inovações tecnológicas ao conjunto das ações de reflexão estratégica das empresas. Embora as empresas de pesquisa e as agroindústrias tenham conseguido grandes avanços na descoberta e na adaptação de tecnologias que aumentem a produção e a produtividade das atividades agropecuárias, os produtores nem sempre adotam essas tecnologias, de forma eficiente. Além das sinergias tecnológicas, de produção, de gestão e comerciais, um enfoque da cadeia de produção pode revelar importantes sinergias no fluxo de informação, outro fator importante da competitividade. Tanto o avanço tecnológico como as exigências dos consumidores finais induzem à mudança no sistema produtivo das cadeias agroalimentares. Segundo a GEPAI (1997), cadeia da produção é uma sucessão de operações de transformação dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas entre s por um encadeamento técnico; o pode ser um conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo d troca, situado a montante e jusante, entre fornecedores e clientes; ou, 3 então, o conjunto de ações econômicas que presidem valoração dos meios de produção e asseguram a articulação das operações. A produção agropecuária “dentro da porteira” passa a ter, cada ve mais, ligações com as atividades industriais, comerciais, financeiras, logísticas, etc. Portanto, as agroindústrias fazem parte de uma matriz produtiva em que há grandes interações de insumos e produtos ao longo das varias cadeias produtivas específicas. Nessa visão sistêmica, considera-se que todo o sistema evolua no espaço e no tempo em função de mudanças internas e externas. Como sistema, uma cadeia de produção agroalimentar também estará sujeita a mudanças ao longo do tempo. Em razão disso, a produção está, lentamente, se adequando a essa nova realidade, principalmente em relação à produtividade e à qualidade do produto entregue às agroindústrias transformadoras. As crescentes exigências dos mercados regionais (MERCOSUL, NAFTA, CEE) e de outros mercados externos, além de mudanças nos mercados internos, criam enormes pressões para que todos os participantes da cadeia produtiva dos agronegócios busquem, mediante aumento da produtividade e competição tecnológica, manter, conquistar e ampliar mercados. Tudo isso exige adequações nem sempre fáceis e isentas de efeitos perversos, especialmente na agricultura familiar, reconhecidamente o elo mais fraco das cadeias produtivas do agronegócio (GEHLEN, 1996). Os novos padrões de concorrência induzem as empresas a obterem ganhos e avanços na tecnologia de produção, na logística, na comercialização, etc. Em dado momento, sob dadas condições, elas adotam uma série de estratégias e práticas que visam assegurar sua sobrevivência e seu crescimento nesses ambientes de intensa concorrência, dentre as quais se destacam as combinações mais eficientes dos fatores de produção; a utilização de insumos e processos que resultem em maior produtividade e redução de custos; e a adoção de estratégias mercadológicas (segmentação de mercados, diferenciação de produtos e outros). A adoção do sistema de integração tem sido uma das estratégias crescentemente utilizadas pelas agroindústrias brasileiras para obterem ganhos econômicos, valendo-se das vantagens que esse arranjo institucional apresenta para elas e, qualificadamente, para os produtores familiares. 4 KAGEYAMA (1990) afirmou que, no sistema de integração, pressupõese que haja o relacionamento e a dependência direta entre produção familiaragropecuária e empresa integradora. Assim, o sistema de integração pode ser definido como um conjunto formado de elementos ou subelementos em interação, o qual se caracteriza pelas seguintes condições: estar localizado em dado ambiente; cumprir uma função ou exercer uma atividade; ser dotado de uma estrutura e evoluir no tempo; além de ter objetivos definidos. Este trabalho analisa, especificamente, a relação de comunicação entre técnicos da Sadia Concórdia S.A. e produtores especializados na produção de leitões. Essa comunicação é um elemento fundamental da relação integradoraintegrado, visto que, por meio dela, são transmitidas, processadas e retroalimentadas as mensagens de conteúdo técnico e econômico que constituem o núcleo cimentador dos interesses entre um e outro agente. A empresa integradora, com vistas em garantir a qualidade do sistema de produção, em especial na suinocultura, exige que os integrados executem todos os procedimentos orientados pela assistência técnica, tais como construção de instalações; manejo adequado; cuidados sanitários; melhoramento genético; e utilização de rações e, ou, de concentrados recomendados, induzindo-os a adequarem seus produtos, serviços e ambientes aos padrões preconizados. Com o objetivo de levar aos suinocultores, produtores de leitões, mensagens que possam permitir um progresso socioeconômico, utiliza-se o Manual do Suinocultor Integrado, elaborado pela área agropecuária - setor de fomento suinícola. Nesse documento, a integração de suínos implica um acordo através do qual a empresa e o produtor fazem um esquema de colaboração mútua, com a finalidade de produzir suínos, cabendo cada uma das partes, diferentes fases da produção”. Com essa troca de benefícios, a Sadia fornece a assistência técnica, insumos e o mercado, enquanto o criador se responsabiliza pela criação propriamente dita, para o bem comum. Iniciado há mais de quinze anos, o Sistema de Integração de suínos da Sadia assumiu, no decorrer dos anos, posição de destaque em função do grande trabalho desenvolvido pelos suinocultores da região (MANUAL..., 1995). A exigência da integradora em segmentar seus “integrados” e diferentes fases do ciclo de produção, segundo ela, visa à especialização ou à profissionalização desses integrados. 5 Os produtores de ciclo completo que detê m o controle de todo o processo produtivo passam a produzir apenas leitões ou são encarregados da terminação dos suínos. Essa segmentação da produção, segundo a Sadia Concórdia S.A., visa à promoção do processo seletivo dos integrados, cuja meta é modificar comportamentos, diminuir custos de produção e incorporar procedimentos advindos dos métodos de gestão empresarial, com o fim de promover um salto qualitativo no processo de produção e a melhoria da qualidade da matéria-prima e, conseqüentemente, do produto final. Entretanto, a produção familiar assume um caráter importante não só pelo grande contingente de produtores envolvidos nesse sistema, mas pelo volume de empregos diretos e indiretos gerados e pelo risco de estes sere negligenciados. Na prática, essa especialização, segundo BRANDENBURG e FERREIRA (1995), tem sido uma forma indireta de exclusão dos pequenos produtores, de ciclo completo, que não têm meios para aumentar a sua escala de produção e não querem se especializar na terminação. Isto vem acontecendo com os antigos integrados e é praticamente uma regra para os novos candidatos à integração. Para a Sadia Concórdia S.A., o desempenho desses produtores estaria dependendo quase que exclusivamente da melhoria do padrão sanitário e do aumento da escala de produção com base na qualidade e na produtividade adquirida através da comunicação interpessoal. A comunicação interpessoal é, freqüentemente, utilizada e definida como a troca de informações entre o técnico e o produtor. Embora não haja um modelo único de comunicação humana que leve em consideração todos os elementos que possam estar envolvidos, os esforços de comunicação são intercâmbios tanto simbólicos como interpessoal é comportamentos. a chave para o comportamentais. A comunicação entendimento desses símbolos e A exatidão da comunicação ocorre quando o receptor consegue interpretar (perceber) os sinais de modo consistente e também a intenção do transmissor. Pressupõe-se que pessoas diferentes, freqüentemente, dêem significados diferentes a coisas e eventos, razão por que as mensagens comunicadas nem sempre são percebidas da forma pretendida. 6 Busca-se, neste estudo, analisar a percepção desses produtores integrados suinícolas em relação à comunicação veiculada pela integradora, visto que a percepção é a compreensão ou o ponto de vista que as pessoas têm das coisas, do mundo ao seu redor. Esta percepção é de extrema importância para a compreensão do comportamento, uma vez que as pessoas agem com base no que pensam, no que vêem ou no que compreendem. Para tanto, é necessário contextualizar sua história, ou seja, interrogar o passado. 1.1. Da criação tradicional à suinocultura integrada Por várias décadas, a suinocultura brasileira permaneceu estável como exploração tradicional e rudimentar, sem que qualquer inovação tecnológica ou índice de produtividade fosse a ela incorporada, seja nas características dos animais, seja nas instalações, no manejo e na alimentação do rebanho. Até o final dos anos 50, os suínos serviram para a produção de gordura, produto bastante apreciado na alimentação, utilizado no preparo da alimentação humana. Na três últimas décadas, em razão do crescimento do consumo de óleo de origem vegetal, que substituiu a gordura animal, passouse a direcionar a produção de animais para a industrialização, com rendimentos cada vez maiores de carne em detrimento de gordura na carcaça. No Brasil, os primeiros suínos foram introduzidos pelos colonizadores portugueses e pertenciam às raças da Península Ibérica. Dentre as principais raças portuguesas que tiveram influência na formação das raças nacionais, encontravam-se Alentejana e Transtagana, Calega, Bizarra, Beiroa, Macau e China. Essas raças cruzaram-se desordenamente e deram origem às raças nacionais, que, de certa forma, sofreram alguma interferência do meio ambiente. Dentre essas raças, destacam-se Piau, Tatu, Pereira, Nilo, Pirapitinga, Canastra, Canastrão, Caruncho e Estrela. Além da influência das do tipo ibéricas, célticas e asiáticas, essas raças também sofreram interferências das raças americanas, tais como Duroc e Poland China. O aprimoramento ocorreu a partir de fins do século XIX e início do século XX (GOMES et al., 1992). A suinocultura no Estado de Santa Catarina, segundo MIRANDA (1995), foi introduzida na região oeste de Santa Catarina por produtores familiares, a 7 partir dos primeiros colonizadores oriundos do Rio Grande do Sul e descendentes de europeus, entre as décadas de 20 e 30 deste século. Em 1912, a subsidiária Brazil Development y Colonization Co., responsável pela venda das terras nessa região, denominadas colônias, forneceu os reprodutores dessa espécie animal aos agricultores que chegavam à região. A atividade desenvolveu-se com animais de raça comum (tipo banha) não apenas para autoconsumo mas também para comercialização (herdaram essa tradição comercial dos seus antepassados europeus), principalmente de seus derivados - lingüiça e banha. Em razão dos avanços alcançados principalmente pela suinocultura do Sul do País, pode-se caracterizar o rebanho suíno brasileiro em dois estratos bem definidos quanto a sua composição genética, ou seja, o estrato de raças especializadas na produção de carne ( Duroc, Large White, Landrace e seus cruzamentos) e aquele que utiliza animais das raças nativas ou nacionais (Piau, Canastra, Nilo, etc.), destinados à produção de gordura. Esses produtores familiares do Sul do Brasil foram os principais responsáveis pela produção de suínos, visto que essa atividade necessitava de algumas técnicas peculiares para desenvolver-se. A exigência de pouca área de terra e o pequeno porte dos animais adaptavam-se, perfeitamente, às exigências das pequenas propriedades, e a produção de matéria orgânica para a lavoura permitia a transformação do suíno em subprodutos (a banha era um dos subprodutos essenciais à dieta das famílias coloniais). A evolução da suinocultura, conforme MIRANDA (1995), pode ser evidenciada em quatro fases. Na primeira fase (antes de 1935), houve a comercialização de excedentes da produção para subsistência, o que possibilitou a acumulação de pequeno excedente no setor comercial, além da reprodução da família. Nessa fase, o relacionamento entre a agroindústria e produtor não teve grande interferência no processo de trabalho agrícola, visto que a agroindústria se limitava a adquirir a matéria-prima - o porco tipo banha. Na segunda fase, de 1935 a 1945, a suinocultura ampliou-se geograficamente e houve aumento da acumulação do capital comercial, firmando-se como principal atividade comercial na região e integrando-se, economicamente, ao cenário brasileiro. 8 Na terceira fase, de 1945 a 1965, iniciou-se a contratualização de agricultores pelas indústrias agroalimentares. As agroindústrias adotaram, como critério de seleção, a condição familiar da exploração, em razão da disponibilidade dos agricultores e da dedicação destes à terra e ao seu patrimônio - uma diferença que consideram fundamental em relação às explorações operadas só por assalariados. Nos EUA e em vários países europeus, essa situação ocorreu na década seguinte. Em meados da década de 60, raças exóticas foram introduzidas no Brasil, procedentes dos Estados Unidos e da Europa. No Brasil, surgiram grandes frigoríficos, o que consolidou, definitivamente, a atividade suinícola como a principal atividade comercial. O relacionamento entre indústrias agroalimentares e agricultores estreitou-se, ocorrendo, nos frigoríficos, maior centralização no comércio de suínos via intermediação. Na quarta fase, após 1965, a suinocultura inseriu-se na política mais ampla de modernização da atividade agropecuária nacional. Com o auxílio do Estado, por meio de políticas integradas, assegurou-se a ampliação de mercados para os ramos industriais que visavam à venda de máquinas, de equipamentos e de outros insumos agrícolas ditos modernos. Nesse período, houve a eliminação de impostos sobre os principais (tratores, fertilizantes e outros), insumos agrícolas e o crédito rural tornou-se viável e com menores taxas de juros. Nessa mesma época, o Ministério da Agricultura e o USAID firmaram convênio com vistas na assistência à suinocultura. Durante a primeira fase desse convênio, efetivou-se a capacitação dos técnicos, com o objetivo de criar infra-estrutura humana e material necessária para o treinamento desses suinocultores na produção de suínos tipo carne. As unidades didáticas foram instaladas junto às Escolas Agrotécnicas e aos Centros de Treinamento da ACARESC. Num segundo momento, o treinamento dos suinocultores foi viabilizado nessa época, dado que o padrão tecnológico preconizado levava em conta as especificidades das unidades familiares de produção, o que garantia maior autonomia aos suinocultores. A forte influência da colonização italiana e alemã, que fixou os colonos em pequenas propriedades no Sul 9 do País, possibilitou expressivo desenvolvimento da suinocultura nessa região. Com o decorrer do tempo, esforços contínuos foram despendidos na modernização da produção e do parque industrial, sendo introduzidas raças mais especializadas na produção de carne. A introdução do porco tipo carne também estava relacionada com novas exigências do mercado consumidor que demandava produtos menos gordurosos, condição necessária para eventual exportação. A história do desenvolvimento da suinocultura em Concórdia confundese com o surgimento da Sadia Concórdia S.A., em 1944. Essa indústria agroalimentar tinha como principal objetivo a aquisição de animais (tipo banha), para processamento e comercialização. Posteriormente, importou animais puros diretamente dos maiores países produtores (EUA, Dinamarca e Alemanha) para realizar o melhoramento genético da atividade suinícola, dando passos decisivos rumo à modernização. A partir de 1954, foi criado o Serviço de Fomento da Sadia S.A., que, por meio da divulgação de inovações tecnológicas, buscava introduzir técnicas de produção que visavam atender à demanda crescente de matéria-prima para o frigorífico em expansão. O objetivo básico era melhorar e assegurar a qualidade genética e sanitária dos rebanhos. A preocupação com o “fomento” da atividade suinícola estava intimamente ligada à necessidade de se obter carne suína em quantidade e qualidade adequada à sua capacidade de abate, durante todo o ano, bem como de garantir a melhoria da qualidade mediante introdução de reprodutores de raças mais especializadas (mais carne e menos gordura), a qual assegurasse melhor rendimento no processamento do produto. O “fomento” da atividade era realizado com o auxílio dos assistentes técnicos que, em reuniões nas comunidades rurais, distribuíam folhetos com informações sobre a atividade suinícola. O sistema de integração na Sadia Concórdia S.A. foi implantado nos anos 60, por Atílio Fontana, proprietário da empresa. Esse modelo visava obter produtos de qualidade, mediante vantagens competitivas e decisivas no mercado de carne e derivados de suínos, estratégia esta posteriormente seguida por outras empresas agroalimentares brasileiras. 10 Com base nesse modelo, a Sadia Concórdia S.A. passaria a fornecer matrizes de raça mais especializadas, medicamentos, ração balanceada e assistência técnica direta aos produtores e a exigir a introdução de pocilgas mais sofisticadas e de rações balanceadas e adoção de uma série de medidas direcionadas ao controle sanitário. Esse novo padrão de produção agrícola dependeu de financiamento agrícola para ser implantado. Dessa forma, lançava-se a base para uma futura relação contratual entre agroindústria e produtor. A ACARESC, nas décadas de 60 e 70, desempenhou papel decisivo na modernização da atividade suinícola - integrada, contribuindo, em parceria com diversas entidades e programas, para elevar a produtividade da suinocultura catarinense, que passou de um índice de desfrute de 45%, nos anos 60, para taxas superiores aos 150%, nos dias atuais. Nessa época, a maior parte dos pr odutores assistidos pela extensão rural oficial vinculava-se aos sistemas integrados, passando a receber assistência técnica diretamente das empresas integradoras, o que acarretou o esvaziamento do trabalho extensionista junto a esse segmento de produtores. No entanto, a ACARESC continuou atuando junto aos produtores nãointegrados, aqueles menos modernizados e que não entraram na primeira etapa da modernização. As agroindústrias recrutaram técnicos mais experientes da ACARESC, para formarem seus quadros de assistência técnica e fomentar os suinocultores. A partir dos anos 50 até a década de 70, a orientação teórica que norteou a pesquisa em comunicação agrícola enfatizou a transferência tecnológica de países desenvolvidos para nações em desenvolvimento. As premissas de comunicação para o desenvolvimento rural vão estar ligadas à concepção sociológica de desenvolvimento, denominada difusionismo. O difusionismo destaca-se por considerar a sociedade a partir de uma visão dicotômica - um pólo valorado negativamente e outro positivamente. O primeiro é denominado “atrasado”, e o segundo, “moderno”. Partindo dessa concepção, os difusionistas defendem a existência de estágios diferenciados entre as sociedades (subdesenvolvidas e desenvolvidas) e, ou, entre subsistemas de uma mesma sociedade (meio rural e urbano). Para se alcançar o desenvolvimento, devem-se superar tais diferenças mediante a introdução de 11 recursos oriundos do pólo valorado positivamente, os quais podem ser os mais diversos possíveis - financeiros, tecnológicos, comportamentais, educacionais, etc. A introdução de tais recursos permitia que as sociedades “atrasadas” recuperassem o espaço histórico que as separava das sociedades “modernas”. A Sadia Concórdia S.A. utilizou-se desse modelo de comuni cação da extensão rural oficial como orientação teórico-metodológica para difundir e transferir tecnologias. A partir da década de 70, em razão do aumento das integrações agroindustriais, as tecnologias difundidas passaram a não mais contemplar as especificações individuais de cada estabelecimento agrícola, visto que predominava a difusão de pacotes tecnológicos que impunham uma forma preconizada de criar suínos. Com isso, houve ruptura na forma de produção de suínos, pois os grupos agroindustriais necessitavam de matéria-prima em maior quantidade e qualidade, enquanto os produtores não percebiam vantagens imediatas nessa transformação tecnológica, pois a remuneração do porco tipo banha era equivalente ao do tipo carne. No Brasil, essa forma de articulação e intervenção via sistema integrado, da indústria sobre a agricultura, teve seu grande surto de desenvolvimento no início da década de 70 e início da de 80. O contrato de produção, seja verbal ou escrito, foi o instrumento que formalizou a relação suinocultor-agroindústria. Por meio dele, a agroindústria controla a atividade do suinocultor, impondo índices de produtividade que obedecem a padrões industriais da atividade, mediante a substituição crescente de produtos in natura ou rústicos por produtos processados ou produzidos industrialmente. Segundo a Sadia Concórdia S.A., o sistema da integração oferece as seguintes facilidades aos produtores: • Encaminha propostas para financiamentos bancários por intermédio dos técnicos da Sadia, sem despesas para o criador; • Recebe plantas, efetiva contratos com construtores e obtém orientações sobre as construções, por intermédio do técnico que os assiste; • Viabiliza toda a assistência técnica e veterinária para a criação de suínos; • Obtém reprodutores para os plantéis de suínos, a preços de custo e com prazos de até um ano de pagamento; 12 • Obtém rações necessárias para a criação, com pagamento na entrega dos animais; • Adquire, a preços de custo, mudas de árvores frutíferas e para reflorestamento; e • Adquire sementes certificadas de milho, a preços de custo, com pagamento em suínos. Ao mesmo tempo, a integradora estabelece um conjunto de critérios, variáveis em função da conjuntura e da região, para seleção dos produtores integrados. Segundo PAULILO (1990), produtores in tegrados verticalmente são aqueles que recebem insumos e orientação técnica de uma agroindústria mediante contrato, cuja produção é controlada pelo integrador. De acordo com essa autora, ao optar pela integração, o produtor busca segurança e comodidade, ou seja, quer garantir o mercado para sua produção sem precisar sair de casa para comprar insumos ou vender animais. Além disso, esta integração valoriza a assistência técnica, que tende a abranger todas as atividades da propriedade. A desvantagem desse si stema de integração estaria na inexpressiva participação dos produtores na determinação dos preços e na impossibilidade de escolherem os compradores que pagam preços mais altos para venderem sua produção nas épocas de escassez de suínos. De acordo com essa autora, há, em geral, o reconhecimento de certa troca de benefícios na produção integrada, os quais não são expressos somente nos preços. As empresas fornecem capital de giro aos produtores (ração, medicamentos, etc.), que é pago por ocasião da venda da produção. Outro aspecto importante é a viabilidade de assistência técnica, razão por que a integração é vista como o elo que permite ao produtor não ficar para trás dos que se modernizaram, já que, mesmo quando criticam a empresa integradora, são conscientes de que pior seria sem ela. Um ponto comum nos estudos sobre integração, mesmo nos mais críticos, é a constatação de que o produtor não quer deixar de ser integrado, embora queira melhorar seu poder de barganha junto às empresas. 13 A produção de suínos, para FERREIRA (1995), é realizada por meio da mão-de-obra familiar, visto que os integrados são zelosos; cuidam da criação, já que esta é seu patrimônio; e os custos de produção tendem a ser rebaixados, pois, além do cuidado com os suínos, realizam outras tarefas, muito freqüentemente às despensas de horas livres ou de lazer, ao mesmo tempo que as horas de pique são compartilhadas com outros membros da família e não são contabilizadas como horas extras, como seria no caso da utilização exclusiva de mão-de-obra externa à propriedade. Alguns insumos produzidos no próprio estabelecimento e não-contabilizados como mercadorias são utilizados como complementação da alimentação animal, o que rebaixa o custo do produto final. Durante a década de 70, segundo MIOR ( 1992), o padrão tecnológico estava centrado no processo de substituição de insumos agrícolas por insumos industriais. Esse processo diminuiu o ritmo e, em alguns casos, seguiu na direção inversa, mudança associada à pressão advinda da segunda crise do petróleo, de 1979, que resultou em políticas de diminuição do consumo e em busca de substitutos para este produto. Segundo AGUIAR (1993), para que a organização interna da produção, baseada no caráter familiar da força de trabalho e no acesso à terra e aos meios necessários à produção, seja mantida, é necessário que ela se reproduza. Para sua reprodução, de acordo com esse autor, a unidade familiar deve despender esforços para assegurar o necessário para a sobrevivência dos membros da família, assim como para assegurar os meios de produção que tornem possível a continuidade do processo produtivo. Essa necessidade não se reduz a um “mínimo biológico”, mas a um produto social desejado. De acordo com GOMES et al. (1992), a suinocultura em Santa Catarina apresentou, na década de 80, baixa rentabilidade e estagnação nos níveis de produtividade, o que levou os produtores a reclamarem dos baixos preços pagos pelas indústrias; por sua vez, a integradora afirmou que a baixa produtividade da atividade também era responsável pela situação. A baixa rentabilidade e a estagnação da produtividade levaram esses produtores à descapitalização; conseqüentemente, estes se viram continuar no sistema integrado. 14 incapacitados de Para MIRANDA (1995), aqueles que não se ajustam à s novas exigências do mercado encontram muitas dificuldades em permanecer na suinocultura. A integradora, ao considerar esse aspecto, privilegia a atuação dos assistentes técnicos como principal veículo transmissor das informações, com o objetivo de incrementar a produtividade e a qualidade do produto gerado, agregando fatores que auxiliam a manutenção da posição competitiva da integradora no mercado. No sistema de integração vertical, segundo GOMES et al. (1992), o suinocultor oferece terra, mão-de-obra, instalações e equipamentos e concentra-se na produção de leitões e, ou, terminados e, na maior parte, de grãos que fazem parte da ração. Cabe à integradora o fornecimento de parte da alimentação (ração), da produção, do melhoramento genético, dos produtos veterinários e da orientação técnica, assim como cabe a ela a responsabilidade pela compra dos suínos terminados. A dinâmica do setor industrial impõe, por meio da vinculação do sistema de integração, um crescente movimento de subordinação da produção agrícola familiar que passa a comandar todo o processo. Esse vínculo existente entre produtores e empresas não se dá por meio de um contrato formalizado, mas por intermédio de um pacto firmado entre ambos. Algumas condições são consideradas básicas para exp licar essa vinculação: a) A existência de uma estrutura agrária de produtores com experiência na produção de suínos; b) O espaço ainda restrito de organização desse segmento de agricultores e sua atuação na configuração das condições dos contratos e na fixação dos preços; e c) O espaço significativo que têm as agroindústrias processadoras nesse controle dos preços do produto e da parte mais importante dos insumos. Esse relacionamento cria dependência direta entre produtores e empresa. Outras condições que geram diferenciais favoráveis à lucratividade agroindustrial são: 15 a) A contratualização poupa investimentos fundiários maiores para as agroindústrias. A produção de uma parcela do milho para alimentação animal é fundamental para viabilizar economicamente a atividade; b) Os dejetos de suínos devem ser alocados em área suficiente para controle dos seus efeitos poluentes; e c) Os contratos de produção exigem que as agroindústrias selecionem, treinem e fiscalizem a mão-de-obra assalariada necessária à obtenção da criação. Os produtores, por meio da aquisição dos insumos, procuram adaptarse ao padrão tecnológico orientado pela assistência técnica da empresa, que estabelece a garantia na aquisição do produto. O produtor deve ter lealdade para com a empresa que lhe fornece as condições de produção, comprometendo-se a entregar o seu produto unicamente àquela empresa, mesmo que outra esteja classificando melhor seu produto. Na década de 80, em razão do aumento expressivo de produtores que participavam do sistema de integração, o serviço de extensão reduziu sua participação no cenário da suinocultura catarinense. Na segunda metade dessa década, houve retirada total do crédito rural, o que levou os suinocultores rurais integrados a dependerem, basicamente, de financiamento feito diretamente pela agroindústria. Com isso, o processo de integração consolidou-se e aumentou-se o nível de exigência com as normas técnicas de produção. Na década de 90, em razão da imposição da integradora, houve tendência de transformação da suinocultura, de ciclo completo, em produtores de leitões e de terminação. Para WILKINSON (1997), a agroindústria privada está se preparando para substituir o “ciclo completo” do sistema produtivo com uma divisão mais especializada do trabalho, separando a fase de criação da fase da engorda. Ao mesmo tempo, a ração está sendo fornecida diretamente pela agroindústria (seguindo o modelo avícola) e não mais produzida na fazenda. Neste processo, é possível que as economias de escala empurrem a suinocultura para fora do setor da agricultura familiar diversificada. Faz–se necessário observar, do ponto de vista dos produtores integrados, como ocorre o processo de comunicação e como se dão as relações da integradora (via técnico) com esses produtores. 16 1.2. O problema e sua importância A atividade suinícola tem sido considerada a mais importante do complexo agropecuário brasileiro, por ser preponderantemente desenvolvida em pequenas propriedades, visto que gera renda e alimento a mais de dois milhões de proprietários rurais e constitui um excelente instrumento de interiorização do desenvolvimento e de fixação da mão-de-obra no meio rural. Além disso, fornece um produto de alta qualidade, rico em nutrientes e produzido de forma higiênica e profissional pela maioria dos criadores nacionais. Em Santa Catarina, tem sido considerada uma atividade de extrema importância socioeconômica, em razão, segundo GOMES et al. (1992), não apenas do grande número de pequenos produtores envolvidos, mas também da capacidade de se produzir grande quantidade de proteína de ótima qualidade em pequeno espaço físico e em curto espaço de tempo. Essa atividade está presente em 46,5% dos 5,8 milhões de propriedades do País, empregando mão-de-obra tipicamente familiar e constituindo importante fonte de renda e de estabilidade social. Na década de 90, ocorreram profundas transformações não só na base técnica da atividade produtiva, como também na relação das agroindústrias com as unidades familiares de produção. Nesse período, houve crescimento substancial no processo de integração vertical, principalmente pela especialização dos produtores por fases do ciclo produtivo. Segundo MIOR (1992), os grupos agroindustriais têm realizado ações estratégicas que modificam a estrutura de produção da atividade suinícola, de ciclo completo, para segmentos mais especializados. Essa especialização facilita o controle do processo de produção por parte da agroindústria, que, para alcançar seus objetivos, fornece material genético, alimentação e prescrições do manejo e das instalações, mediante maior controle no cronograma da produção. A Sadia Concórdia S.A. tem incentivado seus integrados a se especializarem na fase de produção de leitões ou de terminação, ajustando sua matéria-prima, “carne suína”, às novas demandas do mercado consumidor. Muitos dos produtores, de ciclo completo, são incentivados a segmentar a 17 atividade (separando a fase de criação da fase de engorda). Essa estratégia, do ponto de vista da agroindústria, visa, basicamente, garantir o aumento da produção, melhorar a qualidade do produto e manter um fluxo mais regular da matéria-prima. Na segmentação incentivada, os produtores de leitões são aqueles que possuem, geralmente, um plantel de fêmeas e machos de boa qualidade genética e usam os cruzamentos raciais para aproveitamento do “vigor híbrido”. Os leitões são vendidos aos terminadores por intermédio do integrador, quando atingem peso de 20 a 30 quilos, enquanto os produtores de terminados dependem, exclusivamente, dos produtores de leitões, recebem os leitões com peso que varia de 20 e 30 quilos e os entregam à integradora com, aproximadamente, 100 kg. Muitos desses produtores familiares integrados não conseguem acompanhar a evolução dos índices de produção e produtividade almejados pelas integradoras, razão pela qual são excluídos do sistema integrado, já que os investimentos requeridos elevam os custos de produção e exigem mudanças qualitativas principalmente na genética dos animais, na alimentação, na sanidade e na forma de administrar a propriedade. Em razão de crises cíclicas que atingiram a atividade por diversos períodos, o setor suinícola está ficando descapitalizado e os suinocultores integrados têm enfrentado inúmeras dificuldades para permanecer na atividade, o que dificulta a relação entre eles e a integradora, principalmente nas áreas técnica, comunicacional, técnico-metodológica, organizativa e no controle no processo de trabalho. Aqueles que resistiram e, ou, optaram por explorar sua parcela de terra buscaram a diversificação da atividade, embora enfrentem ainda dificuldades, de ordem estrutural, para se manterem. As modificações caracterizadas pela mudança de comportamento e por inovações tecnológicas são devidas também à relação de comunicação, à renda, ao risco e ao nível de instrução dos produtores. Em síntese, tais investimentos demandarão mudanças nos procedimentos e nas rotinas do sistema produtivo. Este processo de concentração e especialização segue a tendência internacional que tem se configurado desde os anos 80 e que apresenta vantagens da produção em escala para a indústria, levando à diminuição do número de propriedades rurais, enquanto estas aumentam no seu número de 18 hectares. Portanto, essa elitização da atividade provoca uma concentração da produção na mão de poucos e retira a possibilidade de um modelo de produção associativo que permite o envolvimento de maior número de famílias. SORJ et al. (1982), ao analisarem a questão da integração, em que o conhecimento é subtraído do produtor e seu ritmo de trabalho passa a ser determinado pelas prescrições técnicas da agroindústria, constataram que, na medida em que a tecnificação se processa, os conhecimentos e práticas tradicionais são desvalorizados, uma vez que o controle sobre o processo de produção é ditado pelas normas dos capitais agroindustriais (SORJ et al., 1982:68). A escolha dos produtores para determinada modalidade não ocorre ao acaso, dado que a integradora privilegia produtores que apresentem melhores condições socioeconômicas, como padrões técnicos relacionados com qualidade (tipificação da carcaça), produção e produtividade. ALVES (1996) considerou que a qualidade do produto é caracterizada, principalmente, pelo tipo de carcaça entregue à indústria e é expressa pela menor deposição de gordura e pelo maior rendimento da carcaça, que passaram a ser valorizados pela indústria muito recentemente, embora os produtores ainda não estejam suficientemente conscientizados da sua importância. A tipificação da carcaça implica, necessariamente, o direcionamento do setor de produção para a busca constante de melhor qualidade, que deverá refletir nos demais segmentos da indústria suína. A conceituação da qualidade da carcaça não pode ficar restrita à apresentação da pequena espessura do toucinho e, conseqüentemente, da alta percentagem da carne magra, mas, acima de tudo, à concepção de que esta carne magra não apresenta problemas relacionados com PSE (pálida, macia e exsudativa) ou DFD (escura, firme e seca). Por meio da deposição de gordura e, ou, do rendimento de carne, a carcaça pode representar o ponto em que o produtor começa a ser eficiente economicamente, pois, geralmente, as agroindústrias processadoras de carcaças remuneram o produtor por meio da bonificação ou da penalização, dependendo do rendimento de carne da carcaça. 19 Mediante a intensificação do melhoramento genético, objetiva-se aumentar a eficiência de produção dos animais e reduzir a quantidade de alimento por kg de carne produzida e o custo do produto final. Os animais, portanto, deverão apresentar: a) Maior precocidade sexual e capacidade reprodutiva; b) Maior taxa de crescimento ou menor idade de abate; c) Maior eficiência de transformação do alimento consumido em carne de boa qualidade; e d) Maior rendimento de carne na carcaça. Na suinocultura, obter produtividade implica produzir mais em menos tempo, sem aumentar custos ou reduzir a qualidade dos produtos, enquanto a melhoria da eficiência diz respeito à conversão alimentar e depende da redução da taxa de mortalidade e do crescimento da taxa de desfrute. Essas variáveis contribuem para a redução do custo total de produção de suínos. A eficiência reprodutiva obtida em criações tecnificadas de pequeno e médio porte, no Sul do Brasil, é da ordem de 9,5 leitões/leitegada e 1,9 parto/porca/ano. O potencial biológico da espécie suína é, consideravelmente, mais elevado, visto que os valores estão estimados acima de 13 leitões/leitegada e até 2,6 partos/porca/ano. Os produtores que não atingem esses índices têm prejuízos e correm o risco de serem excluídos do sistema integrado, caso não aumentem a escala de produção. Segundo o projeto do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Suinocultura no Sul do Brasil, da EMBRAPA/CNPSA, de 1998, as análises prospectivas da cadeia suína indicam, no curto prazo, um aumento da eficiência produtiva dos sistemas mediante o emprego de novas tecnologias (genética, nutrição e sanidade) e de técnicas gerenciais, capazes de reduzir a idade do abate (160 para 145 dias) e de elevar a capacidade reprodutiva do rebanho (14 a 20 suínos/porca/ano) e o volume das dejeções produzidas. Quanto ao aumento do volume de dejetos, este poderá agravar a situação de contaminação na região oeste catarinense. A meta da Sadia Concórdia S.A. para os produtores de leitões, em relação à produtividade, é de que estes consigam melhorar a conversão alimentar, obtenham produtividade ideal de 18 a 20 leitões/porca/ano e 20 executem os padrões para cobertura, nutrição, atendimento ao parto, ambiente na maternidade e desmame. De um lado, a produção especializada, que concentra a produção de suínos e seleciona os produtores e, de outro, a exclusão dos suinocultores com menor escala de produção. Essa exclusão dos produtores familiares traz conseqüências regionais negativas, como êxodo rural, subutilização dos investimentos rurais (escolas, estradas locais, serviços de saúde e eletrificação), emergência de favelas urbanas e crescimento agudo da taxa criminal, já que a rápida urbanização da região se baseia mais nos impasses da produção familiar do que na atração do emprego industrial ou dos serviços e na migração para fora da região. O desenvolvimento da atividade suinícola constitui, portanto, importante fator de crescimento econômico para os setores agroindustriais, cujos efeitos se evidenciam na sua competitividade e na renda da produção familiar integrada. A competitividade no caso da suinocultura, seria um resultante das interrelações de uma ampla gama de fatores, onde estariam inseridos atores agrícolas, industriais, comerciais e o governo interagindo de modo a criar u sistema com relações dinâmicas interdependentes e mutuamente influenciadoras denominado de cadeia produtiva (CANEVER, 1997). A integradora espera que os integrados funcionem como empresas e tenham disposição para investir, buscando, com isso, assegurar sua demanda crescente de matéria-prima e sua estabilização. Acredita-se que qualquer interferência nesse setor produtivo, relacionada com pequenos produtores familiares, poderá resultar em graves conseqüências para a reprodução destes como unidade familiar. Portanto, presume-se que a atividade suinícola seja importante no aumento de renda e na melhoria da qualidade de vida da família rural, razão por que se faz necessária a compreensão das mensagens, para que os produtores consigam obter os padrões desejados. O processo produtivo suinícola, em toda a sua extensão, tem sido comandado pela integradora, que utiliza instrumentos de comunicação para influenciar seus fornecedores a incorporar tecnologias, atingir eficiência nos processos e aumentar a produção e a produtividade. Essa mudança do suinocultor, de ciclo completo, para especializado demonstra a necessidade da empresa em transformar o suinocultor a partir de uma perspectiva empresarial, selecionando os melhores e induzindo a saída dos considerados menos 21 zelosos (não-adotantes de tecnologias e procedimentos) ou menos adeptos a efetuar investimentos. A agroindústria, mediante um enfoque dinâmico, aplica elementos que visam estruturar o sistema integrado por meio de condutas preestabelecidas, para se obter o desempenho almejado ressaltado pela importância dada à tecnologia, agente indutor dessas mudanças pelo canal interpessoal. Segundo MIRANDA (1995), essa diferença de racionalidade entre suinocultor empresarial e produtor familiar acaba resultando em conflitos na relação de comunicação entre produtores e técnicos. Ao analisar também o processo de geração e difusão de tecnologias, em relação à tecnologia agropecuária e aos produtores familiares da região oeste de Santa Catarina, à luz da racionalidade formal e substantiva de Weber, esse autor constatou que, muitas vezes, os integrados encontram resistência em adotar tecnologias, pois, mesmo integrados ao mercado, agem segundo uma racionalidade substantiva, valorizando, além da produtividade e eficiência, outros aspectos de reprodução da família, como aversão ao risco, valores locais de solidariedade e prestígio social. Segundo ainda esse autor, os produtores rurais da região oeste perseguem um “modelo ideal” de exploração, o qual é resultante do cruzamento dos objetivos individuais com os estabelecidos pela sociedade. Assim, inestimável é o papel da comunicação humana nos destinos tanto da empresa integradora quanto dos produtores integrados a ela. Em decorrência disso, no plano organizacional, a utilização correta das técnicas de comunicação, assim como dos auxílios instrucionais, constitui relevante estratégia para interação de ambos. O homem tem sido mensurado em termos econômico, funcional e administrativo, numa configuração empírica de mera “coisa”. Muitas vezes, permanece como um “desconhecido” nessa dinâmica, razão pela qual é importante conhecer os elementos básicos que influenciam o comportamento individual dos produtores, para adoção, ou não, de tecnologias preconizadas pela empresa. Sabe-se que, para adoção destas, os produtores devem “querer, saber e poder”, já que o comportamento de qualquer indivíduo não é algo que ocorra casualmente, mas sempre com vistas em um propósito. Esse conjunto de reflexões abre uma perspectiva de análise em que o vínculo de integração entre integrados e integradora, embora tendo maior 22 visibilidade no campo econômico, expressa, de fato, uma relação social, em que as estratégias e projetos dos agentes se adaptam e entram em confronto e representações sociais e as práticas interagem. Ao mesmo tempo, é uma relação em que o poder da integradora se expressa pela capacidade de imposição de padrões tecnológicos e condições de comercialização à atividade dos integrados, o que, ao mesmo tempo, se torna viável e é encoberto pelos laços de clientelismo entre integradora e integrados. Em virtude das condições técnicas à disposição do capital e das condições naturais da produção agropecuária, o capital integrador possui uma gama de alternativas estratégicas comunicacionais, metodológicas e instrucionais para que esses objetivos sejam atingidos. Entretanto, alguns agentes/agroindústrias ainda atribuem o insucesso da atividade a muitos produtores rurais, considerados apáticos, ignorantes, incapazes de gerenciar o negócio e sem perspectivas de desenvolvimento. No entanto, sem um adequado processo de comunicação não é possível ocorrer forte ligação entre os propósitos organizacionais e o comprometimento dos seus membros, visto que não se podem atribuir responsabilidades a quem não recebe informações. As pessoas geram idéias e manifestam sentimentos por meio da comunicação, o que permite a verdadeira integração ao ambiente empresarial. A capacidade da empresa para orientar suas ações, segundo a evolução do ciclo de vida de seus produtos, e para controlar os segmentos equivalentes da cadeia de produção, segundo as fases de evolução, constitui uma estratégia de manutenção da posição dominante. No sistema de integração, os elementos constituintes desse processo são vistos como atores econômicos, já que irão posicionar-se para obter o máximo de margens de lucro em suas atividades, ao mesmo tempo que tentam se apropriar das margens dos outros atores presentes. Esse parece ser o principal fundamento das estratégias industriais em face da concorrência e do objetivo de posicionar-se na melhor situação possível para se defender contra as forças da concorrência ou transformá-las ao seu favor. Muitas dessas estratégias e operações partem da necessidade de criar ambiente para mudanças, decorrentes, basicamente, do conjuntos de fatores políticos, econômicos, financeiros, tecnológicos, socioculturais, legais ou jurídicos. 23 A Sadia Concórdia S.A. viabiliza suas estratégias graças ao sistema de comunicação, que é vital para as funções administrativas internas e para o relacionamento da empresa com o meio externo, já que permite a efetivação dos seus objetivos. A eficiência ou não dessa comunicação dependerá da percepção dos recebedores em graus variados, num processo de aprendizagem. Observa-se que, no discurso da empresa integradora, há elementos que objetivam a melhoria dos processos, da produção, da produtividade e do padrão de vida dos produtores integrados, embora nem sempre os resultados sejam os desejados, o que, muitas vezes, frustra as expectativas de ambos. Para melhor compreender esse problema, faz-se necessário relativisar1, buscando identificar os fatores que estariam dificultando ou impedindo a eficiência comunicacional entre a integradora Sadia Concórdia S.A. e os agricultores integrados, já que, nessa dinâmica, há interesses comuns e divergentes. A integradora, em sua trajetória, vem utilizando métodos extensionistas baseados no modelo de difusão/adoção para transferência dessas tecnologias, mediante a comunicação interpessoal. Essa comunicação aparece também como instrumento retórico utilizado pela integradora na “promoção de mudanças”, relacionadas com implantação de novas estratégias e filosofias empresariais. Segundo ROGERS (1969), a comunicação interpessoal é a mais eficiente para convencer os indivíduos a adotarem novas idéias, embora nem sempre produza os efeitos esperados. Para BORDENAVE (1988), é próprio da comunicação contribuir para a modificação dos significados que as pessoas atribuem às coisas, visto que é por meio dessa modificação que a comunicação colabora na transformação das crenças, dos valores e dos comportamentos, daí, o seu imenso poder e o uso que o poder faz dela. Dessa forma, torna-se importante compreender as variáveis que determinam comportamentos e influenciam a modificação desses comportamentos, desvendando as dificuldades e analisando as 1 Relativisar é compreender o outro no contexto dos seus próprios valores. 24 percepções acerca dos significados que os suinocultores familiares dão a essa comunicação. Neste estudo, pretendeu-se analisar como se processa a comunicação entre integradora-integrado, já que a percepção ocorre por meio de estímulos que vêm de fora e o homem “sente” a realidade que o rodeia por meio dos sentidos, percebendo, assim, palavras, gestos e outros signos que lhe são apresentados e para os quais tem um significado específico. 1.3. Objetivos 1.3.1. Objetivo geral Analisar a percepção da relação de comunicação interpessoal técnicoprodutor pelos suinocultores integrados à Sadia Concórdia S.A. 1.3.2. Objetivos específicos a) Caracterizar o perfil dos suinocultores e seu processo produtivo; b) Analisar o processo de comunicação entre técnico e produtor rural; e c) Identificar os principais obstáculos ao processo comunicativo. 25 2. METODOLOGIA Realizou-se o estudo de caso mediante observação da trajetória social do grupo de produtores familiares investigados - sua evolução em relação ao mercado, sua caracterização e a relação de comunicação interpessoal com a agroindústria e suas implicações. Este estudo procurou evidenciar os aspectos da comunicação da Sadia Concórdia S.A. com os produtores de leitões integrados, no município de Concórdia, em Santa Catarina, Sul do Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevistas com produtores rurais e técnicos da área de fomento e assistência técnica da integradora. 2.1. Descrição da área de estudos A delimitação deste estudo baseou-se na mesma área espacial definida e utilizada pela empresa Sadia Concórdia S.A. para assistir aos produtores de leitões integrados no município de Concórdia-SC. O município de Concórdia situa-se na região oeste catarinense e na microrregião colonial do rio do Peixe (classificação geopolítica oficialtradicional), limitando-se ao sul com o Rio Grande do Sul; ao norte, com Irani, Ipumirim, Lindóia do Sul e Arabutã; ao oeste, com Itá, Seara e Arabutã; e ao leste, com Piratuba, Ipira, Peritiba, Presidente Castello Branco e Jaborá. Para efeito de planejamento estadual, Concórdia integra a microrregião do Alto 26 Uruguai Catarinense, região composta por 12 municípios, da qual é o centro polarizador. Possui uma área de 885,4 km 2, situada na zona urbana, e de 876,85 km 2, na zona rural. Possui cinco distritos: Santo Antônio, Tamanduá, Planalto, Presidente Kennedy e Engenho Velho. A população de Concórdia é de, aproximadamente, 85.000 habitantes, 40% dos quais residentes no meio rural. O município é formado por pequenas propriedades agrícolas (66% possuem até 20 ha). A condição dos produtores (83%) é, predominantemente, de proprietários (PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 1994). 2.2. Descrição da unidade de análise As unidades de análise desta pesquisa são o universo de 36 produtores de leitões da região, denominada pela integradora de Concórdia, e de dois técnicos da assistência técnica da Sadia Concórdia S.A. Esses integrados estão distribuídos nas seguintes localidades rurais: Barra Fria, Barra Seca, Cedro, Marchesan, Saltinho, Santo Antonio, São Cristóvão, Santa Lúcia, Suruvi, Oito de Maio, Kennedy, De Carli, Lajeado dos Pintos, São Geraldo, Poletto, São José, Fragosos, Gasparini, Gomercindo, S. Brum e São Paulo. Os integrados produtores de leitões são aqueles que estão vinculados ao sistema de integração, dedicam-se apenas ao ciclo de criação, possuem geralmente um plantel de fêmeas e machos de boa qualidade genética e usam cruzamentos raciais para o aproveitamento do vigor híbrido. Optou-se por estudar esse segmento por sugestão da empresa integradora, já que estes são considerados os mais modernizados e mais qualificados tecnicamente (mais exigentes por tecnologia), considerados pela agroindústria como capazes de assegurar a reprodução da qualidade genética das matrizes. Esses integrados dedicam-se à reprodução, à gestação e parto e ao desenvolvimento nutricional dos leitões. Criam leitões até 60 dias, os quais, quando atingem peso de 20 a 30 quilos, são vendidos aos terminadores por intermédio da empresa integradora. 27 2.3. Coleta de dados A coleta de dados foi feita no município de Concórd ia, no período de abril a maio de 1998, junto aos 36 suinocultores que representam o universo de integrados desse município. As informações foram obtidas diretamente das unidades produtivas familiares e na sede da integradora. A pesquisadora aplicou um pré-teste a 10 suinocultores, no Sindicato de Produtores Rurais de Concórdia, para verificar a adequação do questionário, no qual constavam perguntas abertas e fechadas. Os produtores de leitões (Quadro 1) foram classificados, segundo a Sadia Concórdia S.A., pelo método denominado gestão agrícola, introduzido pela EMATER/ACARESC em 1982, a partir da consultoria do Sr. Boiteux, do Institute de Gestion e Economie Rural (IGER), da França. Esse método, segundo HOLZ (1992), é baseado no levantamento de dados físicos e econômicos das propriedades, agrupando-as em três classes: a) Cabeça: composta por 25% dos suinocultores com os melhores resultados econômicos; b) Cola: composta por 25% dos suinocultores com os piores resultados econômicos; e c) Média: composta pelos 50% dos suinocultores restantes. O índice comumente utilizado para ordenar os agricultores e classificá-los em cabeça, média e cola é a margem bruta. Optou-se pela utilização da margem bruta, por ser este o índice de eficiência mais utilizado na análise da atividade ou do produto. Para obtenção da Margem Bruta de Produção, segundo a integradora, fez-se necessário realizar uma Análise Econômica junto às unidades produtivas. Para obtenção desse índice, calculam-se, anteriormente, alguns índices de eficiência que mais influenciam o resultado econômico da atividade, tais como conversão alimentar, mortalidade, terminados/porca/ano, etc. Os dados da suinocultura são obtidos, normalmente, via enquete técnico-produtor, para realização da análise de custos. 28 Quadro 1 - Número total de produtores de leitões, por estrato, segundo a metodologia utilizada pela Sadia Concórdia S.A., no município de Concórdia-SC, 1997 Estrato de produtores N.o de produtores de leitões Cabeça – 25% Média – 50% Cola – 25% 9 18 9 TOTAL 36 Fonte: SADIA S.A. Para VALE e GOMES (1998), a análise do custo é usada para fins de análise econômica - é a compensação que os donos dos fatores de produção, utilizados por uma empresa para produzir determinado bem, devem receber para que continuem fornecendo esses fatores à empresa. O uso do termo compensação, e não do termo pagamento, é devido ao fato de, em certos casos, não ocorrer pagamento formal ou desembolso aos donos dos fatores de produção (ex.: Quando uma pessoa utiliza um capital próprio no negócio, ela não paga a si próprio pelo uso desse capital, mas deve considerar como custo o valor que poderia receber por este capital em outro negócio). A análise da Margem Bruta é importante porque serve de parâmetro para o cálculo da rentabilidade dos produtores de leitões integrados. A metodologia de gestão agrícola torna-se adequada aos agricultores com baixo nível de educação formal e não-familiarizados com procedimentos administrativos sistemáticos. Esses dados servem para comparar seus resultados com o de seus vizinhos que tenham condições semelhantes de solo, clima, mercado, etc. A integradora treina seus técnicos mediante o curso de Administração Rural, com base na metodologia de gestão agrícola, de HOLZ (1992). Durante 29 o curso, são veiculadas mensagens sobre adoção de tecnologias. Essa metodologia segue os princípios básicos da educação de adultos, quais sejam: 1. Os adultos devem ter o desejo de aprender, o que pode ser estimulado por influências externas, mas nunca imposto; 2. Os adultos aprenderão somente o que sentem necessidade de aprender, já que as teorias só terão sentido quando puderem ser aplicadas; 3. Os adultos aprendem fazendo; 4. O aprendizado deve estar relacionado com situações reais; 5. Os adultos aprendem melhor em clima participativo e ausência de censura; e 6. Os adultos necessitam de feedback. A técnica de gestão agrícola, vista como metodologia baseada nos princípios acima, além da simplicidade, apresenta as vantagens de rapidez na sua execução, além de elevado grau de receptividade por parte dos produtores, uma vez que se propõem soluções simples e já experimentadas, pois difunde o conceito de lucro e eficiência econômica como resultado dos aumentos de produtividade e eficiência técnica das atividades agrícolas como um todo. Facilita, ainda, o emprego de atividades pelos técnicos, visto que permite a eles conhecer melhor a região agrícola em estudo e fornecer certos valores de referência, além de responder à necessidade, fortemente sentida, dos produtores de se situarem, em comparação com os outros. Sua limitação é que ela não introduz nada de novo ao modo de produção da região. Além disso, não se sabe se as “empresas” rurais melhores classificadas desenvolvem realmente o melhor sistema de produção. Esse método mostrouse apropriado para produtores com baixo grau de instrução formal, mas que participam do mercado e, portanto, manuseiam valores, números, notas fiscais, contas bancárias, etc. Segundo os técnicos, os produtores mal informados sentem-se inseguros e assumem posições cautelosas, de forte aversão ao risco. O método de gestão agrícola ajuda-os a entender a sua realidade e redimensiona o risco pela sistematização das informações. Para tanto, faz-se necessário que o produtor faça registros contábeis e entenda a razão pela qual a integradora coleta os dados de todos os produtores. Além do mais, são necessários critérios iguais para essa coleta de dados. 30 2.4. Modelo conceitual Este estudo fundamenta-se, no contexto da comunicação, na Teoria de Aprendizagem, utilizada por BERLO (1963), na elaboração do modelo de comunicação interpessoal. Segundo Berlo, qualquer situação de comunicação humana compreende a produção da mensagem por alguém, assim como a sua recepção. A análise de qualquer situação de comunicação humana deve levar em conta o ponto de vista de ambos os envolvidos na relação de comunicação. ROGERS (1969) sugeriu que os canais de comunicação de massa são os mais importantes para difundir conhecimento sobre inovações, enquanto os canais interpessoais são os mais importantes para convencer os indivíduos a adotarem novas idéias. Para BOWDITCH e BUONO (1992), a comunicação interpessoal é essencialmente um processo interativo e diático (de pessoa a pessoa) e também um processo transacional no qual as pessoas constroem o significado e desenvolvem expectativas sobre suas experiências, sobre o que está acontecendo e sobre o mundo que as cercam, e compartilham mutuamente significados e expectativas através da troca de símbolos . Esses símbolos poderão ser verbais ou não e são influenciados por fatores intencionais ou não (tais como emoções e sentimentos). Esses autores partiram do pressuposto que, para analisar a comunicação, torna-se necessária a compreensão plena do comportamento humano. Tendo em vista que a comunicação se destina a influenciar o comportamento, precisa-se compreender as variáveis e os processos 1 que determinam o comportamento e as mudanças desse comportamento. O interesse pela comunicação tem produzido muitas tentativas de criar modelos do processo - descrições, relações de ingredientes. Naturalmente, esses modelos diferem um do outro; nenhum pode ser tido como “correto” ou “verdadeiro”. Uns podem ser mais úteis que outros e alguns podem 1 Processo é aqui definido como qualquer fenômeno que apresente contínua mudança no tempo. 31 corresponder mais que os outros ao presente estado de conhecimento sobre comunicação. A maioria dos modelos contemporâneos de comunicação mais utilizados foi elaborada a partir do modelo criado em 1947 por Claude Shannon e pelo engenheiro eletricista Warren Weaver, os quais desenvolveram um modelo de comunicação eletrônica. Segundo os cientistas do comportamento, o modelo de ShannonWeaver, cujos componentes se encontram nas Figuras 1 e 2, é útil na descrição da comunicação humana. Fonte Transmissor Sinal Receptor Mensagem Destinatário Mensagem Figura 1 - Componentes do modelo clássico de comunicação parcial. Fonte Codifica Mensagem a mensagem Decodifica a Destinatário Mensagem Interpreta a realidade Assimila ou Com a sua cultura rejeita a mensagem Retroalimentação Figura 2 - Componentes do modelo clássico de comunicação completo. 32 Pode-se dizer que toda comunicação humana tem alguma fonte, uma pessoa ou um grupo de pessoas com objetivos e razões para comunicar-se. Estabelecida uma origem, com idéias, necessidades, intenções, informações e um objetivo, torna-se necessário o segundo ingrediente. O objetivo da fonte tem de ser expresso em forma de mensagem. Na comunicação humana, a mensagem existe em forma física - a tradução de idéias, objetivos e intenções num código, num conjunto sistemático de símbolos. O codificador é responsável por apropriar-se das idéias da fonte e colocá-las num código, exprimindo o objetivo da fonte em forma de mensagens. Na comunicação de pessoa a pessoa, a função codificadora é executada pelas habilidades motoras da fonte - seu mecanismo vocal (produz a palavra oral), o sistema muscular da mão (produz a palavra escrita) e os sistemas musculares de outras partes do corpo (produzem gestos da face e dos braços, a postura, etc.). A fonte de comunicação é tida como um objetivo, e o codificador que traduz ou exprime este objetivo, como mensagem. O canal é o intermediário, o condutor da mensagem, e a escolha do canal é, muitas vezes, fator importante na efetividade da comunicação. A pessoa, na outra extremidade do canal, pode ser chamada de receptor da comunicação - alvo da comunicação. As fontes e os receptores de comunicação devem ser similares; caso contrário, não poderá haver comunicação. O receptor deve reagir ao estímulo, se houver comunicação; se não reagir, é porque não houve. Assim como a fonte precisa do codificador para traduzir seus objetivos em forma de mensagem, para expressar seu objetivo num código, o receptor precisa de decodificador para retraduzir, para decifrar a mensagem e colocá-la de forma a ser usada. Na comunicação de pessoa a pessoa, o decodificador seria o conjunto de habilidades motoras da fonte. Pode-se considerar o decodificador como o conjunto de habilidades sensoriais do receptor; e o decodificador, como os sentidos. Segundo Berlo, o objetivo da comunicação é mudar comportamentos, razão pela qual se utilizam mensagens estimulativas. Podem-se levar mensagens aos indivíduos por diferentes meios, para que eles percebam, com 33 facilidade, as vantagens dessas mensagens, modificando, assim, sua maneira de realizar suas ações com um mínimo de esforço, ou seja, sendo capazes de inovar e modernizar. Posteriormente, constatou-se que os destinatários não adotaram, de forma automática, as mensagens emitidas e transmitidas pela fonte, pois fatores intervenientes teriam afetado o processo de comunicação e, conseqüentemente, a adoção. O objetivo básico do homem na comunicação é influenciar o seu ambiente social e físico. Uma resposta é considerada compensadora se suas conseqüências são percebidas, pelo respondedor, como capazes de aumentar a sua influência sobre o seu ambiente. Daí, a importância dos vários tratamentos que o sistema propõe como instrumento para aguçar a percepção/atenção dos indivíduos. Essa variedade de tratamentos funciona como um “reforço” comunicacional estimulativo, cujo objetivo é estimular a percepção dos indivíduos, criando-lhes um clima para a mudança. Para que isso aconteça, o destinatário deve ter fácil acesso às mensagens, e estas devem estar o mais disponível possível para diminuir-lhes a energia gasta (tensão). Com vistas em diminuir o esforço gasto pelos indivíduos, quando da realização de um comportamento, Berlo propôs que mensagens devam lhe ser enviadas por diferentes canais de comunicação, para que o indivíduo, percebendo-as, se sinta estimulado a responder ao estímulo; ao mesmo tempo, para que diminua o esforço despendido na implementação de resposta, explicitando-lhe o tipo de recompensa que poderá obter se executar determinada ação. Como pode-se perceber, para esse autor, a mensagem pode ser entendida como aquilo que o indivíduo transmite a outro, com determinada intenção. Quando se tem um objetivo a comunicar e uma resposta a obter, o comunicador espera que a sua comunicação seja a mais fiel possível. Por fidelidade entende-se que ele obterá o que quer. O ruído e a fidelidade são faces da mesma moeda. O ruído é um fator que distorce a qualidade do sinal. A eliminação do ruído aumenta a fidelidade, enquanto a produção do ruído reduz a fidelidade. Os significados surgem a partir da interação social, e o significado dentro de uma mensagem é influenciado tanto pela própria informação como 34 pelo contexto da mensagem. Diante desses fatos, torna-se necessário considerar uma série de fatores, a saber: 1) Os papéis que essas pessoas desempenham - quem está comunicando; 2) A linguage ou o(s) símbolo(s) usado(s) na comunicação e a respectiva capacidade de levar a informação e esta ser entendida por ambas as partes; 3) O canal de comunicação ou o meio empregado, e como essas informações são recebidas por meio dos diversos canais (tais como comunicação falada ou escrita); 4) O conteúdo da comunicação (relevante ou irrelevante, familiar ou estranho); 5) As características interpessoais do transmissor e as relações interpessoais entre o transmissor e o receptor (confiança e influência, etc.) 6) O contexto no qual a comunicação ocorre, em relação a estrutura, espaço físico e ambiente social. Esses diversos fatores e o modelo básico de comunicação proporcionam uma base para se analisar e compreender a comunicação. No modelo clássico de comunicação, tanto a fonte como o receptor são concebidos como entes distintos, com considerável superioridade da fonte sobre o receptor. Uma fonte de comunicação, depois de determinar o meio pelo qual deseja influenciar o receptor, codifica a mensagem destinada a produzir a resposta desejada. Há, pelo menos, quatro espécies de fatores dentro da fonte, as quais podem aumentar a fidelidade, quais sejam: 1) Habilidades comunicativas - há cinco habilidades verbais de comunicação; duas são codificadoras - a escrita e a palavra; duas são decodificadoras - a leitura e a audição. A quinta é o pensamento, o raciocínio. A facilidade lingüística de uma fonte de comunicação é fator importante no processo de comunicação. As palavras das quais se dispõe e a maneira de reuni-las influenciam o pensamento. Se não houver habilidades comunicadoras capazes de codificar mensagens corretas, haverá limitação na capacidade de expressão. Quando se fala em comunicação no contexto pessoal, fala-se também na maneira como as pessoas aprendem; 35 2) Atitudes - a atitude de uma fonte de comunicação influencia os meios pelos quais ela se comunica. Essas atitudes influenciam, pelo menos, de três formas: a) A atitude para consigo - tem a ver com a auto-avaliação que afeta tanto positivamente como negativamente o tipo de mensagem; b) A atitude para com o receptor - se essas atitudes forem positivas, este estará mais propenso a aceitar o que ela diz e pode-se dizer que é determinante para a sua efetividade. Quando os ouvintes percebem que o autor ou o orador gosta realmente deles, mostram-se muito menos críticos; c) A atitude para com o assunto - a atitude da fonte para com o receptor, tanto “positiva como negativa”, costuma aparecer, freqüentemente, nas mensagens. 3) Nível de conhecimento da fonte sobre o assunto - influencia a mensagem, pois ninguém é capaz de comunicar aquilo que não sabe; ninguém informa, com a máxima efetividade, sobre algo que não conhece. Por outro lado, se a fonte sabe “demais”, se for “ ultra-especializada”, poderá errar, pelo fato de suas habilidades comunicadoras serem empregadas de maneira tão técnica que o receptor acabe não entendendo as mensagens. 4) Posição dentro do sistema sociocultural - nenhuma fonte comunica sem ser influenciada por sua posição no sistema sociocultural. É necessário levar em conta suas habilidades comunicadoras, suas atitudes e seus conhecimentos; é preciso saber mais, ou seja, conhecer o tipo de sistema social em que ela opera, o papel que desempenha, as funções a que é chamada a executar, o prestígio que ela própria e outras pessoas lhe atribuem. É imprescindível conhecer o contexto cultural no qual se comunica, as crenças e os valores culturais que lhe parecem dominantes, as formas de comportamento aceitáveis ou não-aceitáveis, exigidas ou não-exigidas em sua cultura. Precisa-se conhecer tanto suas expectativas quanto às dos outros. Pessoas de diferentes classes sociais e de passado cultural distinto comunicam-se de forma diferente, e os sistemas social e cultural determinam, em parte, as escolhas de palavras que as pessoas fazem, os objetivos que têm 36 para comunicar-se, os canais que usam para esta ou aquela espécie de mensagem, etc. A posição da fonte no contexto social e cultural influencia o seu comportamento geral de comunicação, pois ela cumpre papéis e tem percepções ou imagens variáveis sobre a posição social e cultural do receptor. Fala-se, separadamente, da fonte e do receptor para fins analíticos, mas não faz sentido supor que se trate de funções independentes, de tipos independentes de comportamento. Quando se denomina “fonte”, paralisa-se a dinâmica do processo em determinado ponto, quando se denomina “receptor”, corta-se também o processo de comunicação, pois aquele que é fonte, num instante, já foi receptor e vice-versa. Se o receptor-decodificador não tiver a capacidade de ouvir, de ler, de pensar, não será capaz de receber e decodificar as mensagens que o codificador lhe transmitiu. Pode-se falar em receptor em relação às atitudes, e o modo como decodifica a mensagem é determinado, em parte, por suas atitudes para consigo mesmo, para com a fonte e para com o conteúdo da mensagem. Tudo o que se aplica à fonte aplica-se também ao receptor. Se o receptor, em termos de conhecimento, não conhecer o código, não entenderá a mensagem. Se nada sabe sobre o conteúdo da mensagem, provavelmente não poderá entendê-la. Se não compreender a natureza do processo de comunicação em si, são grandes as perspectivas de que entenda mal as mensagens, tire conclusões sobre os objetivos ou intenções da fonte e falhe na consecução do que pode ser do seu próprio interesse. A mensagem é o produto físico real do codificador - fonte, enqua nto o discurso é a mensagem. Três fatores devem ser levados em conta na mensagem: o código, o conteúdo e o tratamento. O código pode ser definido como qualquer grupo de símbolos capaz de ser estruturado de maneira a ter significação para alguém. Pode ser por meio de sons, letras, palavras, idiomas, etc. O conteúdo pode ser definido como o material da mensagem, escolhido pela fonte para exprimir o seu objetivo. O tratamento da mensagem pode ser definido como as decisões que a fonte de comunicação toma para selecionar e dispor tanto o código como o conteúdo. 37 O veículo que transporta a mensagem dependerá de para que se quer transmitir (nível de instrução, conhecimento, estilo de vida, etc.), o quê será transmitido (conteúdo da mensagem), o quanto será transmitido (de quantidade e de recursos disponíveis para ser transmitido), preferência da fonte, abrangência em termos de número de pessoas e localização, canais de maior impacto e mais adaptáveis ao tipo de objetivo da fonte. A comunicação, nesse contexto, faz parte do processo de mudança comportamental individual que envolve uma modificação na relação estável estímulo-resposta. A partir do reconhecimento de que a aprendizagem é um processo, pode-se falar dos seus ingredientes e das relações entre eles - conservando todas as hesitações e qualificações necessárias a qualquer discussão. Berlo preocupou-se em esclarecer melhor o que se passaria além dessa relação simples de estímulo-resposta. Segundo ele, os componentes do modelo clássico de comunicação, em vez de promover uma verdadeira integração humana entre fonte e destinatário, visa apenas ao melhor ajuste das mensagens, tornando-as mais adequadas aos objetivos da fonte. O principal objetivo é o desejo de influenciar - de ter influência sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o ambiente físico. Para iniciar o processo de aprendizagem, é necessário que as pessoas sejam estimuladas. O estímulo pode ser definido como qualquer evento que o indivíduo seja capaz de perceber ou qualquer coisa que uma pessoa pode receber através de um dos sentidos, qualquer coisa que produza sensação no organismo humano. O organismo pode receber e recebe grande variedade de estímulos, mas, como resultado da exposição a eles, produzirá uma variedade igualmente grande de respostas. Há diferentes tipos de respostas - as “descobertas e as encobertas”; as “descobertas” são observáveis, perceptíveis e públicas, enquanto as “encobertas” são as que ocorrem dentro do organismo, não são prontamente observáveis ou perceptíveis, são íntimas. Tanto as repostas “descobertas” como as “encobertas” tampouco são fixas ou permanentes. É de grande utilidade distinguir as duas classes de respostas, quando se discutem aprendizagem e comunicação. 38 A aprendizagem pode ser definida como uma mudança na relação estável entre: a) um estímulo que o organismo individual percebe; e b) uma resposta que o organismo formula, “descoberta ou encobertamente”. Se o estímulo se destina a influenciar o organismo, ele deve ser realmente percebido. O segundo passo no processo de aprendizagem é a percepção do estímulo pelo organismo. É preciso haver resposta para haver aprendizagem, mas isso não é condição suficiente. O organismo é capaz de produzir respostas a estímulos, sem que precise aprender (respostas reflexivas); quando o organismo muda suas respostas a um estímulo conhecido, ou dá uma velha resposta a um estímulo diferente, a permanência não está ainda caracterizada. O organismo tem de decidir se continuará a dar esta resposta nova ou atribuir uma resposta a este estímulo novo. O que o organismo faz é observar as conseqüências da resposta. Ele confere, para ver o que lhe acontece em resultado a este estímulo novo. A primeira resposta dada pelo organismo é, geralmente, tentativa, hesitante, cautelosa. Podem-se considerar as primeiras respostas como experimentais. A resposta experimental é mantida se o organismo percebe que as conseqüências são compensadoras; é abandonada se o organismo não percebe as conseqüências como compensadoras. A aprendizagem não terá ocorrido enquanto a resposta não se tornar habitual, enquanto não for repetida quando ocorrer o estímulo. O que determina a aprendizagem, a criação do hábito, é a recompensa. A repetição ocorre se as respostas forem recompensadas. Em cada caso, observam-se as conseqüências das respostas e decide-se se beneficiam ou prejudicam. Por vezes, deseja-se apenas utilizar um padrão de hábito existente; outras vezes, deseja-se fortalecer um padrão de hábito existente mas que não está fortemente desenvolvido. Toda a comunicação está relacionada com os hábitos do receptor e com os modos como ele responde a certos estímulos. O hábito é uma relação estável entre um estímulo e a resposta que o indivíduo dá a esse estimulo e pela qual foi recompensado. Cinco princípios fortalecem as relações E-R, quais sejam: 1) Freqüência de repetição da relação E-R - A freqüência em comunicação pode ser representada pelas conexões estímulo-resposta, as quais podem ser fortalecidas pelo emprego do princípio da repetição. Ao 39 recompensar uma resposta, estar-se-á fortalecendo o hábito. Se não houver a recompensa, estar-se-á enfraquecendo o hábito, que poderá ser extinto. 2) Isolamento das relações E-R de outras conexões E-R concorrentes Se uma fonte de comunicação for capaz de isolar o receptor e de restringir as mensagens à disposição do receptor, esta fonte pode aumentar as possibilidades de que o receptor atenda a sua mensagem, em lugar de atender a outras mensagens, pois a redução dos estímulos disponíveis aumenta a efetividade dos estímulos que permanecem. 3) Quantidade de recompensa : nível de recompensa é capital em matéria de comunicação - A recompensa determina, em grande parte, o desenvolvimento e o fortalecimento de hábitos de comunicação, assim como o ritmo e o volume da aprendizagem. Para que as respostas sejam mantidas, há necessidade de que sejam recompensadas em quantidade e qualidade, pois o conceito de recompensa deve ser visto como o resultado da combinação de todas as possibilidades de influenciar o receptor, como conseqüência de determinada resposta. Algumas dessas conseqüências são imediatas e evidentes; outras, demoradas e menos aparentes. A necessidade de influenciar resulta da necessidade do organismo de reduzir sua tensão interna pela criação de uma estrutura consistente para o ambiente em que opera. Deve-se lembrar que as pessoas e a sociedade diferem no volume de aprendizagem e de modificação de comportamento que podem tolerar. Em qualquer situação, todavia, a modificação de conduta é determinada pela recompensa esperada versus energia necessária. Os indivíduos não respondem, se não esperam que suas respostas resultem em conseqüências compensadoras. A recompensa deve ser definida no contexto da pessoa que dá a resposta. Pode ser definida como “alguma coisa dada em retribuição”. O que é compensador para a fonte pode ser ou não compensador para o receptor. A recompensa determina a força de hábitos, a rapidez e a extensão da aprendizagem. A seleção e a interpretação de um estímulo têm relação com a expectativa de recompensa. Os estímulos são percebidos e interpretados quando se acredita que as respostas sejam compensadoras. Se não houver expectativa de recompensa, com freqüência, há recusa em selecionar e interpretar um estímulo. A ação só irá acontecer quando o indivíduo, após ter 40 sido estimulado pela mensagem, for capaz de interpretá-la como algo que lhe traga, com pequeno esforço, algum retorno (recompensa), seja físico, social ou econômico. No ato de comunicação, a recompensa dá maior poder ao ato de influenciar. Os comunicadores devem lembrar que a resposta que esperam do receptor deve ser compensadora para ele, ou não haverá aprendizagem. Podese dizer que a recompensa é o resultado da soma de todos os fatores positivos e negativos compreendidos na resposta que se espera. Na comunicação eficiente, quando se aumentam os fatores considerados “mais”, em termos de recompensa, e diminuem-se os fatores “menos”, a comunicação torna-se mais eficiente. 4) A rapidez ou demora de recompensa é vital para a comunicação efetiva, bem como para a sua quantidade - Quando um receptor de comunicação obtém recompensa imediata por sua resposta, é provável que mantenha essa resposta. Se as recompensas tardam, a força da resposta tem menor probabilidade de aumentar. Sabe-se que as respostas precisam ser mantidas; quanto mais depressa se percebem as conseqüências compensadoras da resposta, maior a probabilidade de que essa resposta seja mantida. A recompensa deve ser dada o mais breve possível. 5) Quanto ao esforço exigido para a resposta; sendo iguais os demais fatores, o organismo formula respostas que exigem pequeno esforço e evita as que exigem muito esforço - Para que a mensagem seja efetivada ou apreendida, deve-se reduzir o esforço do receptor na formulação da resposta desejada, pois ele despende energia, trabalho e tempo. Quanto maior a energia necessária para uma resposta, é menos provável que essa resposta seja dada; nesse caso, a energia exigida atua como repressora da aprendizagem. A redução do esforço aumenta as possibilidades de que seja dada a resposta “certa” (esperada pela fonte). Na relação de comunicação, a restrita capacidade de as pessoas envolvidas processarem informações poderá causar certas limitações perceptivas. As primeiras percepções do mundo pelo homem são vagas, imprecisas, sem forma. Desde o começo, ele procura impor uma estrutura ao que percebe; tenta formalizar suas percepções. Grande parte da teoria sobre o comportamento humano baseia-se na suposição de que o homem, em 41 presença da ambigüidade, da ausência de forma, age sob tensões fisiológicas. Aparentemente, o seu desejo de influir é o desejo de reduzir a própria tensão pela redução da incerteza a respeito da natureza do meio ambiente. A aprendizagem incita um paradoxo, já que, enquanto o receptor luta para reduzir a tensão, a aprendizagem exige pequeno aumento de tensão (redução da certeza). No entanto, a tensão deve ser criadora, para que o receptor perceba a possibilidade de posterior redução dessa tensão pela criação de um padrão de certeza mais consistente de uma estrutura mais útil da realidade. Scharamm definiu a fração de seleção de uma mensagem, do ponto de vista do receptor, como Fração de Seleção = Recompensa Esperada Energia Necessária Esperada Este conceito pode ser ampliado para abranger mais que a seleção da mensagem. É aplicado, igualmente, à interpretação e à aprendizagem. Decidese optar por certos comportamentos que, espera-se, “valham o esforço”. Decide-se não optar por determinado comportamento quando se acredita que “não valha esforço”. Pode-se definir a fração de decisão como: Fração de Decisão = Recompensa Esperada Energia Necessária Esperada Quanto maior a recompensa que o indivíduo percebe ao dar uma resposta, mais energia despenderá, se a tiver disponível, para que possa dar uma resposta. Quando se diminui a recompensa percebida, a energia exigida deve também decrescer, para que seja dada a resposta. A efetividade da aprendizagem pode ser aumentada de uma ou de duas maneiras, quais sejam, pelo aumento da recompensa ou pela redução da energia. A natureza da recompensa é complexa e não pode ser interpretada simplesmente como o benefício físico ou material de curto alcance. Para ALVES (1997), os sistemas de recompensas são mecanismos pelos quais as pessoas são premiadas e estimuladas por alcançarem determinado resultado. Funcionam como importantes dispositivos para focalizar a atenção, direcionar o comportamento desejado e sinalizar os interesses. As 42 retribuições dadas pela empresa em troca das contribuições aos seus membros podem ser de natureza associadas ao ambiente e ao econômico-financeira ou podem estar conteúdo da tarefa. Essas últimas são denominadas recompensas intrínsecas e referem-se a um estado de ânimo positivo que a pessoa experimenta por estar em certa empresa e por realizar determinado trabalho, que, por si mesmo, é considerado gratificante e proporciona sentimento de orgulho. As recompensas extrínsecas, por outro lado, estão ligadas a incentivos e estímulos concedidos pela empresa em forma de salários, gratificações, abonos, distribuição de ganhos, participação nos lucros, promoções, benefícios adicionais diversos (diretos ou indiretos). A recompensa é de capital importância para retroalimentar a manutenção ou a modificação de hábitos. Em grande parte, é ela quem determina o desenvolvimento e o fortalecimento dos hábitos de comunicação, assim como o ritmo e o volume de aprendizagem. Para BOWDITCH (1992), a comunicação eficaz entendimento, embora existam barreiras à pressupõe o comunicação. Entretanto, considerando-se o modo complexo como se usam os meios verbais, os simbólicos e os meios não-verbais para transmitir mensagens, nem sempre se chega a esse entendimento, mesmo em interações relativamente simples, face a face, por exemplo. Nesse processo, o ouvinte, em vez de estar formulando uma resposta, deverá realmente ouvir o que a primeira diz. Assim, por não ouvir nem prestar atenção em todas as facetas da mensagem, as pessoas envolvidas não estão efetivamente se comunicando, mas cada uma está falando para outra. Para esse autor, um bom sistema de comunicação distribui informações que atuam nas orientações cognitivas e afetam o nível de concordância sobre os procedimentos e condutas da empresa (comunicação instrumental), ou cria, modifica e reforça atitudes, normas e valores (comunicação expressiva). As empresas que apresentam um bom desempenho possuem vasta e intensa rede de comunicações, reforçada pela atuação daqueles que procuram assegurar que as pessoas certas recebam as informações certas, no momento certo. São muitos os problemas e obstáculos da comunicação que precisam ser enfrentados para que se consolide uma relação comunicacional. 43 A carência de alguns aspectos ou de partes relevantes da informação dificulta a sua exata apreensão pelo receptor. Essa difícil apreensão ocorre com mais freqüência nas comunicações verticais, em razão das filtragens que se verificam, e pode ser minimizada pela redundância ou pela ratificação. A distorção do sentido correto da informação ocorre quando o transmissor e o receptor compartilham diferentes crenças e valores. Excesso ou sobrecarga de informações, que acarreta efeitos cumulativos, pressupõe adoção de critérios claros de prioridades que minimizem esses efeitos, para que haja filtragem das informações. A interpretação equivocada da essência da informação (ouvir o que se espera ou o que se quer ouvir) e a avaliação prévia ( des)favorável que é feita da fonte de informação, por parte do receptor, podem alterar a intenção básica da comunicação. O uso de jargões e de certas expressões, próprios de certas profissões e especialidades, pode alterar as percepções de verdadeiros significados, visto que incoerências provocadas por sinais não-verbais ou gestuais antagonizam-se com a comunicação original. Efeitos dos sentimentos afetivo-emocionais, favoráveis ou não, alteram o processo de decodificação e modificam o sentido exato da comunicação. As comunicações mais efetivas são as objetivas, simples e diretas, uma vez que ajudam a estabelecer metas que todos compreendam e buscam alcançar. Entretanto, o processo comunicativo precisa ter forma e conteúdo adequados às circunstâncias ou à natureza do trabalho. Para que a comunicação seja eficaz, devem-se evitar os diversos tipos de falhas vistos anteriormente e utilizar duas habilidades básicas: 1) Habilidade de transmissão, que é a capacidade de se fazer compreender por outras pessoas ( por exemplo, mediante o uso da linguagem e de outros símbolos importantes da comunicação); e 2) Habilidade de escutar, que é a capacidade de entender os outros ( por exemplo, ter empatia, prestar atenção e ler a linguagem corporal e os sinais não-verbais). Essa habilidade de escutar não significa uma atividade passiva, mas uma capacidade de escutar a mensagem inteira (verbal, simbólica e não-verbal) e responder, apropriadamente, ao conteúdo e à intenção (sentimentos, emoções, etc.) da mensagem. 44 A empatia significa colocar-se na posição ou na situação da outra pessoa, num esforço para entendê-la. É o processo pelo qual se projetam os estados internos ou as personalidades de outros, a fim de predizer o comportamento destes. Esses estados internos são vislumbrados quando se comparam atitudes próprias com predisposições. As expectativas da fonte e do receptor são interdependentes; cada uma é, em parte, criada pela outra. Se dois indivíduos tiram inferências sobre os próprios papéis e assumem o papel um do outro ao mesmo tempo, e se a comunicação depende da adoção recíproca de papéis, então eles estão em comunicação por interagirem um com outro. A empatia também é uma forma útil de dar efetividade à comunicação. Quando a empatia é recíproca, quando há interação, chega-se à situação ideal de comunicação. A exatidão da empatia diminui quando o grupo aumenta, quando a comunicação prévia é mínima, e quando não se está motivado numa situação de comunicação. A análise da comunicação envolve uma interdependência física, isto é, fonte e receptor são conceitos diáticos, já que cada qual depende do outro para a própria existência. Num segundo nível de complexidade, a interdependência pode ser analisada como uma seqüência de ação e reação. A reação interdepende da ação e reação do feedback. O feedback proporciona à fonte a informação sobre o sucesso na realização de um objetivo; quando esse processo se realiza, há controle sobre futuras mensagens que a fonte possa codificar, ou seja, cada um influencia o outro. A mensagem inicial influencia a resposta subseqüente, porque é utilizada pelos comunicadores como feedback - como informação que ajuda a determinar se estão obtendo o efeito desejado. Num terceiro nível de complexidade, a análise da comunicação preocupa-se com as habilidades de empatia e com a interdependência produzida pelas expectativas de como os outros responderão às mensagens. A adoção de um papel ou a interação exige grande quantidade de energia, é uma operação que consome muito tempo, é uma contínua interpretação do mundo conforme o ponto de vista da outra pessoa. Ao deparar-se com situações sociais desconhecidas, o indivíduo sente-se fisicamente cansado, em conseqüência dessa espécie de esforço. Mesmo 45 quando há condições ideais de comunicação, constata-se que alguns destinatários não adotam, de forma automática, as mensagens emitidas pela fonte. A compreensão de que deve ser valorizada a cultura dos destinatários leva ao melhor ajuste dessas mensagens, por meio de melhor conhecimento prévio destas. ALVES (1997) considerou a cultura como um complexo de padrões de comportamentos, hábitos sociais, significados, crenças, normas e valores selecionados historicamente, os quais são transmitidos coletivamente e constituem o modo de vida e as realizações de determinado grupo humano. Por outro lado, a cultura da empresa, para ele, também agrega um conjunto complexo de crenças, valores, pressupostos, símbolos, artefatos, conhecimentos e normas, freqüentemente personificados em heróis que são difundidos na empresa pelos sistemas de comunicação e pela utilização de mitos, estórias e rituais, além de processos de endoculturação. Essa coleção de elementos culturais reflete as escolhas ou preferências da liderança empresarial e é compartilhada pelos demais membros da empresa, com o propósito de orientar o comportamento desejado, tanto quanto a integração interna como a adaptação ao ambiente. Para ele, a cultura pode ser entendida como uma espécie de lente, por meio da qual as pessoas ou as empresas vêem o mundo e passam a considerar o modo de vida de cada um como o mais natural. Ela atua como fator de diferenciação social, já que traz informações sobre o que o grupo é, pensa e faz, para que ele possa melhor lidar com o ambiente em que vive. A cultura humana orienta e constrói as alternativas humanas de ser e de estar, proporcionando as categorias pelas quais é visto o mundo e explicando as condições em que ele é percebido. Cada realidade cultural tem a sua própria lógica interna que deve ser conhecida para que façam sentido as práticas, as concepções e as transformações pelas quais o mundo passa. O estudo dessa lógica focaliza as maneiras pelas quais a realidade cultural é codificada, seja pela linguagem, costumes, idéias e doutrinas, seja pelas crenças, valores, rituais, lendas e tradições. Esses fenômenos, no entanto, pouco significam fora do universo cultural do qual são integrantes. Dentro dessa ótica, a empresa pode ser enfocada como um código de significados que são vivenciados por seus participantes em sua experiência organizacional comum. 46 A empresa pode ser abordada como uma estrutura de responsabilidades e deveres, em que as tarefas são distribuídas entre os seus participantes. Nela há relações de papéis e de poder que regulam os seus diversos subsistemas constituintes que estão articulados entre si, tendo em vista os seus objetivos. Por meio da mobilização da energia humana e de recursos materiais, financeiros e tecnológicos, a empresa devota-se à consecução de suas metas. Para a coordenação de suas atividades, ela utiliza a divisão do trabalho, a hierarquia e os processos de comunicação que definem as posições e as interações entre as pessoas e os grupos no espaço organizacional. Esse autor considera que a empresa seja formada por subsistemas ( subculturas) que interagem sinergeticamente, executam tarefas de naturezas distintas e podem exigir subtipos de gerenciamento, desde que se baseiem em uma filosofia administrativa comum e fundamentada numa cultura empresarial integradora. A cultura da empresa molda-se, com o passar do tempo, a partir dos problemas, dos questionamentos e das demandas que ela enfrenta, os quais resultam em respostas e soluções que são testadas, avaliadas, selecionadas, assimiladas e memorizadas, coletivamente, pelos seus membros. Assim, ela é difundida pelos sistemas de comunicação, numa relação estímulo-resposta. Ao longo da história, o comportamento humano e as relações interpessoais têm sido investigados e explicados sob muitas perspectivas, mas o processo de comunicação é demais complexo para ser inteiramente abordado de forma simplista e mecanicista. Segundo CREMA (1984), o enfoque centrado na técnica é mecanicista e reducionista, visto que leva à demasiada compartimentalização e rigidez. Muitas vezes, dá-se status de especialização ao processo de rigidez e unilateralidade de visão, o que leva o homem a considerar-se demasiadamente seguro, em vez de audacioso, repetitivo, em vez de criativo, numa ilusão de objetividade e negação de valores, ou seja, leva as pessoas a ajustarem seus problemas à técnica. Para estimular a adoção de novas idéias e práticas, faz-se necessário conhecer conceitos e elementos da difusão. A difusão é um tipo especial de comunicação que se refere a idéias novas, enquanto a comunicação abarca todos os tipos de mensagens. No caso da difusão, como as mensagens são 47 novas, há grande risco para o receptor. Por isso, quando se recebem inovações, a conduta é diferente de quando se recebem mensagens com idéias rotineiras, pois pode-se alterar a forma da fonte, da mensagem, dos canais e dos receptores dentro do processo de comunicação. Descobriu-se que os canais de massa são mais importantes para criar a consciência do conhecimento de uma nova idéia, enquanto os canais interpessoais servem melhor para promover a mudança de atitudes diante das inovações. Com base nos princípios da “ homofilia” e da heterofilia, os indivíduos comunicam-se de forma mais eficiente ou menos eficientes, assim como modificam atitudes. A “homofilia” é uma medida de semelhança a respeito de certos atributos em interação, os quais podem ser crenças, valores, educação, status social, etc. O princípio da “ homofilia” baseia-se em muitas causas; os indivíduos semelhantes sentem-se atraídos por interesses comuns. A comunicação mais efetiva ocorre quando a fonte e o receptor são homofílicos e tende a ter maiores efeitos em termos de conhecimento obtido, formação e mudança de atitude. A heterofilia é o reflexo simétrico da “ homofilia”. Com base na heterofilia, os indivíduos diferem em conhecimentos, valores, status sociais, educação e crença; diferem em empatia, que é a capacidade individual de projetar-se no papel do outro. É importante que a fonte e o receptor sejam homofílicos, a menos que possam ter alto grau de empatia. A boa comunicação entre fonte e receptor conduz ao aumento da “homofilia” em conhecimento, crenças e condutas manifestas. A difusão do conhecimento e de seus benefícios econômicos requer muito tempo até este ser internalizado. A inovação é comunicada por meio de canais, em determinado tempo, aos membros do sistema social. Seus efeitos podem produzir mudanças de conhecimento, de atitudes e de conduta manifesta (rejeita ou adota). A adoção de inovações tecnológicas é um processo de tomada de decisão, por meio da qual um indivíduo passa de um primeiro contato com a inovação até a decisão final de um completo e contínuo uso desta. De acordo com estudos de ROGERS e SHOEMAKER (1974), sobre as etapas relativas ao processo decisório do indivíduo para adoção de 48 tecnologias, observa-se que a tomada de decisão dos produtores irá depender, significativamente, das seguintes variáveis: 1. Vantagem relativa, que está relacionada com o grau de superioridade de uma inovação em relação à idéia que se pretende superar, podendo estar relacionada com vantagens econômicas ou com outros parâmetros, como nível de custo inicial, facilitação do trabalho, economia do tempo e esforço, prestígio social, conveniência e satisfação. 2. Compatibilidade, que é o grau percebido de consistência entre inovação e valores existentes, experiências anteriores e necessidades dos receptores, pois não se adota com rapidez uma idéia incompatível com os valores predominantes em relação às normas sociais do sistema. 3. Complexidade, que se refere ao grau percebido de dificuldade relativa para compreensão e utilização da inovação. 4. Experimentabilidade, que é o grau de experimentação, pois uma idéia já experimentada apresenta menos riscos aos indivíduos. 5. Observabilidade, que é o grau de visibilidade observada pelos indivíduos; quanto mais fácil for para o indivíduo ver os resultados de uma inovação, tanto será maior a probabilidade de adotá-la. A linha de comportamento racional consta de cinco atividades (fases, funções básicas). O processo de decisão sobre a inovação é um processo mental que consiste na percepção inicial. Quando o indivíduo toma conhecimento, pela primeira vez, da existência da inovação, ele tem interesse (sente-se persuadido a buscar novos conhecimentos). O indivíduo, movido pelo interesse provocado pela percepção inicial, busca novas informações; procura obter mais informações sobre os princípios da inovação, funcionamento, utilidade, etc. (conhecimento teórico); procura analisar e avaliar, conceitualmente ou simbolicamente, a racionalidade, as vantagens relativas e a aplicabilidade da inovação; busca habilitar-se através do conhecimento e toma decisão favorável ou não, diante da inovação. Os elementos da difusão de inovações são sucessivos para chegar-se à mudança social, a saber: 1. Invenção - processo pelo qual as idéias novas são criadas e desenvolvidas; 49 2. Difusão - processo pelo qual as idéias novas são comunicadas aos membros do sistema social; e 3. Conseqüências - trocas que ocorrem dentro do sistema social, em conseqüência da adoção ou da resistência às novas idéias. A mudança é um dos efeitos da comunicação. Antes da promoção ou da divulgação da nova idéia, deve-se ajustá-la às necessidades do público, ou seja, dos destinatários. A mudança que se origina dentro do sistema social pode chamar-se de mudança imanente, enquanto as idéias novas que chegam do exterior do sistema social são chamadas de mudança por contato. As mudanças podem ser: Imanente - ocorre quando os membros do sistema social se propõem, com pouca ou nenhuma influência externa, criar e desenvolver idéias novas; Por contato - é o processo de modificação em que se introduz no sistema social uma nova idéia originada de fontes externas. A mudança por contato é realizada entre sistemas. Seu caráter seletivo é dirigido para o reconhecimento da necessidade de mudança, que pode tanto ser interna como externa aos indivíduos. Ocorre quando os membros de um sistema social se vêem expostos às influências externas e podem adotá-las, ou não, com base em suas necessidades. A exposição às inovações podem ser espontâneas ou acidentais. A mudança dirigida por contato é planejada, é conseqüência de esforços deliberados de pessoas estranhas ao sistema, as quais atuam por conta própria ou como representantes das agências de mudança, com a intenção de introduzir novas idéias e alcançar metas definidas. Os programas de mudança dirigidos são, em boa parte, resultado da insatisfação com as taxas de mudança imanente e seletivo por contato. Quando o agente adquire mais experiência técnica e sutileza no diagnóstico das necessidades do seu público, a mudança far-se-á com maior rapidez e de forma mais eficiente. As organizações e agências de mudança despendem esforços para centrar-se na mudança dirigida. 50 A mudança planejada nem sempre oferece resultados satisfatórios. O desejo de produzir mudanças rápidas tem impedido a aplicação de conhecimentos científicos na introdução de inovações. Muitas mudanças são de nível individual; o indivíduo adota ou rejeita a inovação, disseminada adoção, modernização, aculturação, aprendizagem e socialização. Outras mudanças ocorrem no sistema social e recebem o nome de mudança para o desenvolvimento. A mudança social é um processo que modifica a estrutura do sistema social; ao se analisarem as mudanças sociais, deve-se conferir atenção especial à comunicação. Todas as explicações do comportamento humano nascem diretamente do estudo da aquisição e da modificação do comportamento dos indivíduos por intermédio da comunicação uns com outros. Com facilidade, visualizam-se muitos aspectos dos processos de decisão que se unem para dar a sustentação à mudança social. A percepção seria então a porta de entrada do sistema, isso porque os estímulos ao comportamento resultam, de alguma forma, deste mecanismo interativo básico. A percepção recebe, de um lado, a inovação e, do outro, os incentivos e obstáculos e, por retroalimentação, os conhecimentos conceituais e instrumentais. O ingrediente retroalimentação em comunicação resulta da possibilidade da fonte em conduzir o destinatário ao comportamento desejado; longe de promover uma verdadeira integração humana entre a fonte e o destinatário, visa apenas ao melhor ajuste das mensagens, tornando-as mais adequadas aos objetivos da fonte. Deve-se submeter o destinatário às mesmas mensagens, por meio de diferentes métodos. A ênfase desse modelo está concentrada na mensagem a ser comunicada, que deve ser a mais atrativa possível. As campanhas para adoção de tecnologias baseiam-se nesse método básico de atuação e persuasão. Segundo ARAÚJO (1981), para entender o processo de adoção de novas tecnologias por parte dos agricultores, devem-se examinar suas características pessoais, bem como suas estruturas socioeconômicas ligadas a eles, considerando-se as várias situações em que se encontram. Ambas as 51 pressuposições estão integradas a uma idêntica visão conceitual que as consideram como partes complementares do mesmo processo de adoção tecnológica. Para ele, a mudança comportamental ou o processo de aprendizagem individual são conceituados como uma modificação na relação estável estímulo-resposta. Acredita que, à medida que os estímulos vão sendo percebidos, ou seja, à medida que a atenção e o interesse vão sendo aguçados, vai-se reagindo e modificando o comportamento e a maneira de ver, de pensar e de agir. Para BORDENAVE e PEREIRA (1977), pode-se atuar decisivamente na formação da mentalidade do indivíduo mediante estimulação de sua percepção e interpretação das mensagens. Devem-se utilizar metodologias adequadas para estimular o indivíduo, de acordo com seu sistema de valores, seu modo de viver e sua formação mental. Então, a metodologia utilizada poderá contribuir para gerar uma consciência crítica ou uma memória fiel, uma visão universalista ou uma visão estreita e unilateral, e para estimular a sede de aprender pelo prazer de aprender a resolver problemas, ou pela angústia de aprender apenas para receber um prêmio e evitar um castigo. Para ALVES (1997), a correta utilização da comunicação possibilita o esclarecimento das razões e da finalidade das mudanças; ajuda a divulgar os resultados que indicam se os fins pretendidos estão sendo ou não alcançados; serve para informar sobre os riscos e ameaças; corrige eventuais desvios e interpretações equivocadas; reduz a ansiedade própria dos processos de mudança; sustenta a motivação e o comprometimento; e ajuda a superar momentos conflitantes do processo. ROGERS e SHOEMAKER (1974) consideraram o agente de mudança como o elo entre o indivíduo e os sistemas sociais que atuam na criação da necessidade de mudança, na relação de troca entre seus clientes, devendo diagnosticar problemas e catalisar suas necessidades, avaliá-las e criá-las por meio de conselhos e trabalhos de motivação e persuasão, traduzindo suas intenções para as ações, impedindo a descontinuidade. Para eles, o agente de mudança é o indivíduo capaz de provocar essas transformações, uma vez que deve ser um “expert” em saber articular e criar necessidades nos agricultores. 52 Esse modelo conceitual foi considerado o mais adequado para analisar as relações de comunicação entre integradora, via técnico como agente de mudanças, e produtores, como recebedores dessas mensagens. 53 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir das entrevistas realizadas, caracterizou -se o perfil dos produtores, dos técnicos e do sistema produtivo. Analisou-se o processo de comunicação a partir da comunicação interpessoal realizada pela Sadia Concórdia S.A. junto aos produtores integrados, confrontando intenções, expectativas e percepções relacionadas com seus conteúdos e práticas pedagógicas. Este estudo permitiu constatar o controle agroindustrial sobre a produção agrícola, assim como os espaços de ação que ambos dispõem nessa relação. 3.1. Descrição dos suinocultores e do sistema produtivo Procedência Do total dos produtores de leitões integrados entrevistados (36), 100% eram procedentes do meio rural. Origem étnica Havia preponderância da cultura italiana em todos os estratos (cabeça, média e cola). 54 Ciclo anterior de produção Em relação ao ciclo anterior de produção desenvolvida por esses integrados, 100% do estrato cabeça, 90,0% do média e 100% do cola eram criadores de ciclo completo; 5,0% do média eram criadores de reprodutores, enquanto os outros 5% do média desenvolviam outras atividades (Quadro 3). As variáveis etnia, procedência e ciclo anterior de produção (Quadros 2 e 3) indicam semelhanças culturais entre esses produtores. Quadro 2 - Etnia dos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Italiana Italiana e outras Alemã I – cabeça II – média III – cola 89,9 83,3 100,0 11,1 11,1 - 5,6 - Média geral 91,06 11,1 5,6 Fonte: Dados da Pesquisa. Quadro 3 - Ciclo anterior de produção, por estrato de produtores, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Ciclo completo Criador de reprodutores Outras atividades I – cabeça II – média III – cola 100,0 90,0 100,0 5,0 - 5,0 - Média geral 96,66 5,0 5,0 Fonte: Dados da Pesquisa. 55 O percentual médio dos três estratos, no que se refere ao ciclo anterior da atividade, mostra que a quase totalidade de produtores entrevistados (96,66%) era de produtores de ciclo completo, o que comprova a tradição agrícola herdada da colonização, principalmente na atividade suinícola, e acentuada semelhança entre eles. Para AGUIAR (1993), desde o início da atividade suinícola, esses colonos tinham o objetivo de produzir para subsistência e de comercializar os excedentes. A crescente demanda paulista de suínos vivos e de banha fez a suinocultura assumir especial importância na unidade produtiva, sem, contudo, provocar alterações na organização interna da unidade familiar como unidade produtiva. Tal fato demonstra a inserção desses produtores na comercialização de produtos coloniais para geração de riquezas. Idade A idade consiste na etapa da vida em que os produtores se encontram declarados no ato da entrevista e está relacionada com “vivências” e “experiências”. A idade é fator limitante para alguns produtores, quando pensam na hipótese de mudar de atividade produtiva ou de continuar na atividade como produtor independente. Observa-se uma distribuição variada de idade entre os produtores entrevistados, já que um número maior de produtores encontrava-se na faixa de 29 e 44 anos, idade mínima de 17 e máxima de 67 anos. O Quadro 4 mostra que a idade média mais elevada era do estrato cola. Sexo Dos produtores entrevistados, 100% eram do sexo masculino, razão por que todos os questionários foram respondidos pelos homens, visto que, na estrutura interna das unidades familiares entrevistadas, concentra a figura do pai, autoridade e tomador de decisão, o que configura assim o espaço masculino nas decisões e no mando da casa. 56 Quadro 4 - Idade média dos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 Estrato Idade média I – cabeça II – média III – cola 40 41 46 Média geral 42,3 Fonte: Dados da Pesquisa. Estado civil Conforme Quadro 5, dos produtores entrevistados, 88,9% eram casados. Quanto aos solteiros, observa-se que nessas unidades familiares havia participação desse membro da família nas atividades da unidade produtiva (pai, tio, mãe, etc.), o que não descaracteriza a propriedade como familiar. Quadro 5 - Estado civil dos produtores, por estrato, no município de ConcórdiaSC, 1998 (em porcentagem) Estrato I – cabeça II – média III – cola Média geral Casado Solteiros 100,0 77,8 88,9 0,00 22,20 11,10 88,9 16,65 Fonte: Dados da Pesquisa. 57 Número de filhos Quanto ao número médio de filhos por estrato (Quadro 6), observa-se que não havia muita diferença entre os estratos. Quadro 6 - Número médio de filhos dos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 Estrato Número de filhos I – cabeça II – média III – cola 3 2 3 Média geral 2,6 Fonte: Dados da Pesquisa. Plano de saúde A preocupação com a saúde é constatada pelo interesse dos produtores em adquirir plano privado de saúde. Os resultados indicam que os produtores que tinham nível socioeconômico mais elevado apresentavam maior interesse em adquiri-lo (Quadro 7). Constata-se que, em média, 44,43% dos produtores entrevistados possuíam plano privado de saúde, variável que reflete a preocupação constante com a saúde física, necessária e importante para o desempenho do trabalho familiar, já que, nessa atividade, os produtores são vulneráveis às intempéries. Nível de escolaridade Nota-se que a maioria dos produtores (79,6% era a média geral dos três estratos) estava cursando ou havia cursado o 1. o grau. 58 Quadro 7 - Número de produtores que tinham, ou não, plano de saúde privado, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 Estrato Sim I – cabeça II – média III – cola Média geral Não 66,7 44,4 22,2 33,3 55,6 77,8 44,43 55,56 Fonte: Dados da Pesquisa. Quadro 8 - Nível de escolaridade dos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 1.o grau 2.o grau 3.o grau Pós-graduação I – cabeça II – média III – cola 88,9 72,2 77,7 11,1 22,3 11,1 16,7 - 1,0 - Média geral 79,6 16,7 13,9 1,0 Estrato Fonte: Dados da Pesquisa. Observa-se que, do estrato cabeça, 88,9% possuíam 1.o grau, 55,6% dos quais estudaram da 1. a a 4.a série, e 11,1% concluíram o 3.o grau, e 5,55%, administração de empresas. Do média, 72,2% possuíam 1.o grau, 11,1% freqüentavam o 2.o grau (dos que tem o 2. o grau, 5,6% fizeram curso técnico em agropecuária, e 5,6%, curso técnico em contabilidade). Dos 16,7% que estavam no 3.o grau, 5,6% possuíam curso superior incompleto, e 11,1%, curso superior completo. Dos que concluíram o 3. o grau, 5,6% fizeram curso superior 59 em contabilidade, e 5,6%, mestrado. Do cola, 77,7% possuíam 1.o grau ou o estavam cursando; e 22,3% estavam no 2. o grau ou o estavam cursando (dos que já o cursaram, 11,1% fizeram curso técnico em agropecuária). Não havia produtores com 3.o grau, nesse estrato. Na média geral dos três estratos, 41,7% dos produtores possuíam até a 4.a série do 1.o grau, ou seja, grande parte dos produtores entrevistados tinha baixo nível de escolaridade. A média nos três estratos de produtores que estavam cursando ou já cursaram o 1.o grau era de 79,6%. No estrato cabeça, não havia produtores no 2. o grau, e 11,1% estavam no curso superior. Dos que estavam cursando o 3. o grau, muitos faziam administração de empresas, variável que pode revelar a tentativa de melhoria e eficiência administrativa por parte desse estrato, em relação aos outros. No estrato média encontrava-se o grupo de produtores que possuíam nível de escolaridade mais diversificado. Posse da terra Quanto à posse da terra, verifica-se que 100% dos produtores, em todos os estratos, eram proprietários de terra, 11,1% dos quais arrendavam terras para cultivo do milho. O interesse pelo arrendamento da terra para plantação do milho pode ser devido à tentativa de diminuir custos e evitar a dependência de insumos externos à propriedade. Dentre os pré-requisitos exigidos pela integradora, citam-se a propriedade da terra, a capacidade de alojar lotes de 300 ou 450 suínos, a existência de esterqueiras para armazenamento de dejetos e de silo para depósito de ração e a localização da propriedade a uma distância inferior a 60 quilômetros da indústria. Distância média das propriedades, em quilômetro Quanto à distância média das propriedades até a sede do município, verifica-se que a média, por estrato, de produtores entrevistados era de 14,18 km. A distância entre as propriedades até a sede do município não variava muito, porque, como visto anteriormente, a exigência era de que os integrados se situassem próximos a ela. 60 Quadro 9 - Distância média (km) das propriedades até a sede do município de Concórdia-SC, por estrato, 1998 Estrato km I – cabeça II – média III – cola 16,00 12,00 14,55 Média geral 14,18 Fonte: Dados da Pesquisa. Área média das propriedades No Quadro 10, observa-se que há relação direta entre o nível do estrato e o tamanho das propriedades. O estrato com maior área média (40 ha) era o cabeça. Quadro 10 - Área média (ha) das propriedades, no município de Concórdia-SC, por estrato, 1998 Estrato ha I – cabeça II – média III – cola 40 27 25 Média geral 30,6 Fonte: Dados da Pesquisa. 61 A maioria das propriedades apresentava relevo com morros e muitas áreas impróprias para o cultivo, o que não favorecia a mecanização. O plantio era realizado em terrenos menos inclinados, o que fazia com que muitos produtores arrendassem terras para expansão da cultura do milho, uma das exigências da integradora. Tipo de moradia No estrato considerado cabeça não foram encontradas moradias feitas de madeira, o que implica que, quanto mais alto o nível socioeconômico, melhor o tipo de material de construção utilizado (Quadro 11). Quadro 11 - Tipo de moradia dos produtores do município de Concórdia-SC, por estrato, 1998 (em porcentagem) Estrato Alvenaria Madeira Mista I – cabeça II – média III – cola 67,7 61,1 44,0 11,1 33,3 33,3 27,8 22,2 Média geral 57,6 22,2 27,7 Fonte: Dados da Pesquisa. Tipo das instalações suinícolas Segundo GOMES et al. (1992), a preocupação com melhorias das edificações para a criação de suínos teve seu início na década de 60 e 70, com o estabelecimento de agroindústrias e a demanda crescente de suínos para abate. Diante da escassez de animais para abate, as indústrias motivaram os suinocultores a produzirem mais e, consequentemente, a aumentarem os seus plantéis e a investirem em construções rurais. Na década de 70, em razão da política vigente, especificamente a de crédito subsidiado, os produtores investiram nas instalações. Nessa ocasião, pela falta de edificações para a realidade brasileira, as empresas buscaram na Europa e 62 Estados Unidos, plantas de construções para suínos juntamente com os animais para a formação de plantéis geneticamente melhorados. No Quadro 12, ao relacionar o tipo de moradia dos produtores (Quadro 11) com o tipo de instalações, observa-se que o material de primeira qualidade (alvenaria) sempre era priorizado para a atividade suinícola, conforme padrão exigido pela integradora, já que isso facilitava a manutenção de higiene e saúde dos animais. Com isso, percebe-se que os produtores, em ambos os estratos, empenhavam-se, principalmente, em promover melhorias nas instalações suinícolas, do que em suas próprias moradias. Quadro 12 - Tipo de instalações suinícolas na propriedade dos produtores entrevistados, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Alvenaria Madeira Mista (alvenaria e madeira) I – cabeça II – média III – cola 77,8 88,9 88,9 - 22,2 11,1 11,1 Média geral 85,2 - 14,8 Estrato Fonte: Dados da Pesquisa. Pretensão de ampliar a suinocultura Do total de produtores entrevistados, 52,77% pretendiam ampliar a suinocultura; 33,34% não pretendiam fazê-lo; e 13,89% estavam em dúvida. A ampliação e, ou, os investimentos em melhorias das instalações dependia da capacidade econômica dos produtores, pois sempre estavam interessados na modernização. Quando havia recursos disponíveis e percebiam as vantagens (custo x benefício), alocavam, imediatamente, recursos para a atividade 63 produtiva, adequando-se às exigências da integradora. Os outros que não pretendiam investir sentiam-se desmotivados, pois estavam descapitalizados. Área exclusiva para a suinocultura Observa-se que a área média dos estratos, destinada exclusivamente à suinocultura, era de 10,33 ha (Quadro 13). Nessa área estavam incluídas tanto as instalações suinícolas quanto as de cultivo do milho. A área para produção de milho oscilava muito, o que não permitia a sua ampliação (sob pena de sacrificar capoeirões e matas nativas), razão por que esses produtores arrendavam outras terras. A produção de milho dependia da disponibilidade de mão-de-obra e do número de criadeiras. Quadro 13 - Área média das propriedades, destinadas exclusivamente à suinocultura, por estrato de produtores, no município de Concórdia-SC, 1998 Estrato ha I – cabeça II – média III – cola 9 12 10 Média geral 10,33 Fonte: Dados da Pesquisa. Outras atividades desenvolvidas na propriedade Com relação às atividades desenvolvidas na propriedade, por estrato, no estrato cabeça, 11,1% criavam suínos exclusivamente; 66,6%, além da suinocultura, possuíam mais de uma atividade agrícola; 11,1%, além da atividade suinícola, possuíam mais duas atividades agrícolas; e 11,1% criavam suínos e realizavam mais três atividades agrícolas. Desses 88,8% que 64 desempenhavam outras atividades agrícolas, 11,1% plantavam grãos, ervamate e frutas, e 88,9%, grãos, erva-mate, frutas e outros. No estrato média, 5,6% criavam suínos, exclusivamente; 50,0%, além da suinocultura, desenvolviam mais uma atividade agrícola; 11,0%, além da atividade suinícola, desenvolviam outras atividades não-agrícolas; e 33,4% criavam suínos e desenvolviam duas atividades agrícolas. Desses 94,4% que desempenhavam outras atividades agrícolas, 13% plantavam grãos e frutas; 6,0%, grãos, erva-mate e outros; 6,0%, grãos, fumo e frutas; 75,0%, grãos, erva-mate, frutas e outros; e 11,0% desempenhavam atividade não-agrícola. No estrato cola, 22,2% criavam suínos e aves; 11,1%, além da suinocultura, desempenhavam outra atividade não-agrícola (indústria); 66,7% criavam suínos e desenvolviam outras atividades agrícolas (lavoura, avicultura, bovinocultura de leite). Dos cola, 66,7% eram suinocultores e realizavam outras atividades agrícolas (grãos, erva-mate, frutas e outros). Embora as transformações capitalistas na agricultura tenham causado modificações na pequena produção, em razão da vinculação crescente ao mercado e da subordinação ao capital com ênfase em determinado produto, a base econômica principal desses produtores era a suinocultura. Muitos destes diversificavam suas atividades, utilizando-se desse recurso como forma de prover as necessidades da família e garantir os itens básicos do regime alimentar. Dos produtores entrevistados, 16,66% atuavam, exclusivamente, na atividade, enquanto os demais exploravam agricultura diversificada para subsistência. Mediante esses produtos, muitos sazonais, havia entrada de algum recurso ao longo do ano, o que permitia melhor equilíbrio financeiro da família, principalmente quando o preço dos suínos estava instável. Entre as atividades para exploração comercial encontravam-se o plantio da erva-mate, a avicultura, a fumicultura e a bovinocultura de leite (que estão sendo fomentadas na região). Além dessas, o sistema de produção abrangia lavoura, piscicultura (também em fase de implantação) e explorações consideradas atividades de subsistência 1. 1 Atividade de subsistência inclui animais de pequeno porte e produção de pomar (freqüentemente, encontram-se atividades adicionais, como mel e vinho), juntamente com cereais e legumes básicos, sobretudo lavoura de feijão, batata-doce, milho, aipim e batatinha e hortaliças. 65 Embora esses produtos citados representassem uma fonte importante de renda, também eram utilizados sob a forma de autoconsumo e rações. Vale destacar a importância dada à exploração do milho, como fundamental na participação da composição da ração porcina. De modo geral, as unidades de produção familiar estavam organizadas em seis tipos de explorações, aproximadamente. Principais razões da participação de produtores no sistema integrado Todos os produtores, independente do estrato, participavam do sistema integrado, em virtude da facilidade e garantia na comercialização e no transporte dos produtos e da assistência técnica oferecida. A produção contratual integrada suinícola, embora verbal, permitia às agroindústrias um controle do processo produtivo, em que o “pacote tecnológico” devia ser utilizado. Tempo de vinculação comercial das famílias produtoras Observa-se que, no estrato cabeça, 55,56% dos produtores tinham maior tempo de vinculação comercial à integradora, em torno de 20 a 35 anos, enquanto nos estratos cola e média a vinculação abrangia 44,44% e 38,89%, respectivamente, dos produtores. Dentre os produtores com menor tempo de vinculação comercial à integradora, quatro a 10 anos, encontravam-se os do estrato média, com 27,78%. O tempo de vinculação desses produtores familiares à integradora possibilitava visualizar o grau de dependência destes. O comprometimento dos produtores com a produção de suínos para a integradora, mediante contrato verbal, induzia ao questionamento de como se dava o desligamento do sistema integrado, caso uma das partes envolvidas estivesse interessada. No “Manual do Suinocultor” elaborado pela integradora, no item que se refere ao desligamento, há a questão: integração Sadia? 66 Como se faz para desligar-se da Quadro 14 - Tempo de vinculação comercial da família produtora à integradora, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 Tempo de vinculação, em anos Estrato 4-10 10-20 20-35 I – cabeça II – média III – cola 11,11 27,78 11,11 33,33 33,33 44,44 55,56 38,89 44,44 Média geral 16,66 37,03 46,29 Fonte: Dados da Pesquisa. Observa-se que cabia ao suinocultor, assim como à integradora, suspender o vínculo verbal que existia entre as partes. Como o ingresso no sistema era espontâneo, a saída ou o desligamento também devia sê-lo. Por isso, uma vez decidido a desligar-se do sistema de integração, cabia ao produtor a tarefa de procurar o técnico e prestar os devidos esclarecimentos, assim como à empresa, caso decidisse fazê-lo. O produtor era orientado a entregar os lotes integrados à integradora; após quitadas as despesas com alimentação, estaria desvinculado do sistema. Se o desligamento fosse feito em circunstâncias normais, ou seja, sem problemas para as partes, o retorno seria permitido; caso contrário, se o desligamento fosse forçado, a reintegração do produtor seria mais difícil. Integração social dos produtores Quanto à integração social dos produtores de leitões, pode-se dizer que, além do profundo vínculo com o trabalho, a vida social em comunidade era valorizada e estruturada a partir da participação em eventos, festividades religiosas e missas. Segundo AGUIAR (1993), a vida em comunidade é parte da existência desse grupo social, extensão do seu ser. A igreja é o símbolo da comunidade, assim como a comunidade e a religiosidade são fatores determinantes na conduta desse grupo. O culto 67 dominical (católico) envolve praticamente todas as famílias assim como as festas nos centros comunitários. ...os dias santos, os casamentos e batizados motivam as festas, os bailes e as cantorias. O sentimento cristão justifica a união, o desenvolvimento de práticas de ajuda mútua, e a colaboração ... O convívio se dá também em outras esferas, nos momentos de descanso “mateadas”, feriados e domingos, através de visitas aos vizinhos e parentes para a troca de afeto e informações. Na relação de integração, o jogo de futebol entre técnicos e produtores, na comunidade, era também uma tentativa de interação de ambas as partes. A Associação de Produtores de Leitões, criada em 1986, tem viabilizado a organização desses produtores, pois proporciona espaço necessário para que discutam as dificuldades encontradas e suas possíveis soluções. A reunião (jantar da associação) ocorre mensalmente, ocasião em que os associados discutem alguns assuntos de interesse da categoria. Embora muitas questões pertinentes aos problemas que enfrentam ainda não sejam discutidas, acredita-se que a pouca experiência na condução de reuniões (há dois anos apenas) e a não-tradição em associativismo interfiram na condução dessas reuniões. Esse espaço é também utilizado, com certa freqüência, pelos técnicos e pelos diretores da integradora, com vistas na veiculação de mensagens sobre a política da empresa e, ou, sobre novos procedimentos a serem implantados. É usado, ainda, por vendedores de máquinas e insumos agrícolas, para demonstração e venda. Embora 100% dessa categoria de produtores estejam filiados ao quadro de associados, o fato de pertencer à integradora não implica que a totalidade participe, efetivamente, das reuniões. Acredita-se que a constituição dessa Associação de Produtores de Leitões possa representar o primeiro passo para a efetiva organização dessa categoria e para o maior poder de reivindicação junto à integradora. Horas dedicadas à atividade suinícola A suinocultura constitui atividade que não exige elevado número de mão-de-obra, embora exija esforço físico e dedicação intensiva. Em todos os estratos, constata-se que a média de tempo trabalhado variava em torno de 15 horas/dia, sem feriados e finais de semana livres (os leitões requeriam 68 cuidados ininterruptos), razão por que havia sempre alguém de plantão. A responsabilidade do manejo, geralmente, era dos homens, embora muitas mulheres também o fizessem, trabalhando, excessivamente, nas lidas domésticas e na atividade suinícola. A introdução de novas técnicas e a substituição de animais por raça mais especializada com maior volume de carcaça e menor espessura de toucinho facilitava, expressivamente, o manejo dessa atividade. Atuação familiar no planejamento e na execução das atividades suinícolas A atuação da família na atividade suinícola é descrita no Quadro 15. Quadro 15 - Atuação dos membros da família na atividade suinícola, por estrato de produtores, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Produtor Casal Família I – cabeça II – média III – cola 6,0 22,0 12,0 100,00 94,00 66,00 Média geral 14,0 12,0 86,66 Fonte: Dados da Pesquisa. No estrato cabeça, todos os membros da família atuavam na atividade, ou seja, havia 100% de presença da mão-de-obra familiar (o casal e filhos). O exercício exclusivo da mão-de-obra familiar resultava em maior eficiência na atividade, principalmente pelo maior comprometimento dos envolvidos. Nos estratos média e cola, havia alguns casos em que a atuação se restringia à mão-de-obra somente do produtor ou do casal, razão pela qual era necessário requisitar mão-de-obra permanente ou temporária. 69 A impossibilidade de mecanização, devido à topografia da propriedade, intensificava a necessidade de mão-de-obra externa à propriedade. Em uma das famílias entrevistadas, constatou-se a existência de três gerações de produtores que exerciam as mesmas atividades. A vida cotidiana desses produtores estava estruturada em torno da família e do trabalho. A família era a principal unidade de produção e de consumo, visto que ela fornecia a base da organização da produção e estava entrelaçada num espaço privilegiado do cotidiano desses produtores e na sua conformação de mundo. Quadro 16 - Atuação da família no planejamento das atividades na propriedade, no período da entrevista, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato I – cabeça II – média III – cola Média geral Participa Não participa 100,0 94,4 77,8 5,6 22,2 90,7 13,9 Fonte: Dados da Pesquisa. Embora os entrevistados alegassem que havia um planejamento conjunto entre os membros da família na execução das atividades, percebe-se que existia divisão de tarefas entre homens e mulheres. Cotidiano do produtor integrado Os adultos acordavam às 5 ou às 6 horas e colocavam fogo no fogão a lenha, enquanto preparavam o chimarrão, ao som do rádio. 70 O horário de estudo dos filhos era no período matutino, principalmente os que estudavam da 1. a a 4.a série. As tarefas domésticas eram tipicamente femininas, e as filhas que haviam concluído a 4. a série acompanhavam a mãe nos afazeres domésticos, na lavoura, no pomar e no trato dos animais. Os homens realizavam atividades “fora de casa”, faziam o manejo dos animais, tratavam os porcos, limpavam as instalações (muitas vezes, as mulheres também o faziam), vistoriavam os bebedouros e os comedouros e resolviam assuntos bancários. A agricultura familiar seguia um planejamento segundo o qual as tarefas agrícolas, desde o preparo do solo até a colheita, eram reguladas de forma a permitir a ocupação de todos os membros do grupo familiar também na execução das atividades. A organização orientava-se pela produção de produtos direcionados e contratados pela agroindústria, sustento financeiro da propriedade, e pela necessidade cotidiana de prover os alimentos para a subsistência familiar. A divisão do trabalho atribuía aos elementos masculinos as atividades consideradas como significantes economicamente, assim como aquelas que requeriam esforço físico, alterando-se na lavoura, na criação, no manejo de maquinários e implementos e na manutenção das instalações e benfeitorias. Às mulheres cabiam as tarefas domésticas diárias, o trato e o cuidado dos animais (lavoura, horta, gado leiteiro, aves, etc.), como também a ajuda na limpeza das instalações e na fabricação artesanal de produtos caseiros. Ainda crianças, os filhos começavam a participar das atividades, realizando capina e ajudando na época da colheita. No estrato cabeça, a participação da família no planejamento das atividades era de 100%, o que comprova o elevado grau de comprometimento e eficiência desses produtores. Mão-de-obra externa à propriedade Conforme Quadro 17, o estrato cola, comparado com os outros estratos, é o que tinha maior porcentagem de empregados permanentes, razão por que cabia ao técnico verificar se o custo da alocação da mão-de-obra permanente da propriedade era condizente com a realidade desses produtores. 71 Quadro 17 - Alocação da mão-de-obra permanente na suinocultura, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Sim Não I – cabeça II – média III – cola 44,4 44,4 77,8 55,6 55,6 22,2 Média geral 55,53 44,4 Fonte: Dados da Pesquisa. Com relação ao emprego da força de trabalho, constata-se que apenas a utilização da mão-de-obra familiar efetiva na condução da atividade agrícola, muitas vezes, não era suficiente. Em muitas famílias, os filhos estudavam e havia escassez da mão-de-obra familiar, o que implicava a contratação de mão-de-obra externa à propriedade, já que a maioria desses produtores diversificava sua produção e necessitava de maior emprego da mão-de-obra permanente. A demanda de mão-de-obra ocorria nos meses de agosto a dezembro, época em que se concentrava uma série de atividades agrícolas, tais como preparo do solo, semeadura, limpeza da lavoura de milho e, para alguns produtores, colheita de feijão. Observa-se que, dos estratos analisados, o cola era o que possuía número reduzido de mão-de-obra temporária na suinocultura (Quadro 18). A substituição da mão-de-obra permanente pela temporária representava uma alternativa de diminuição dos custos, opção que deveria ser verificada pelos produtores junto aos técnicos. Interesse dos filhos em assumir a propriedade Do total de produtores entrevistados, 61,13% acreditavam que os filhos tinham interesse em assumir a propriedade no futuro (Quadro 19), enquanto 72 Quadro 18 - Alocação da mão-de-obra temporária na lavoura, por estrato de produtores, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Sim Não I – cabeça II – média III – cola 25,0 29,4 22,2 75,0 70,6 77,8 Média geral 25,53 74,26 Fonte: Dados da Pesquisa. Quadro 19 - Interesse dos filhos em assumir a propriedade no futuro, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Sim Não Não sabiam I – cabeça II – média III – cola 66,7 61,1 55,6 22,2 5,6 22,2 11,1 33,3 22,2 Média geral 61,13 16,66 22,2 Fonte: Dados da Pesquisa. 16,66% acreditavam que os filhos não tinham interesse em assumi-la por causa das dificuldades encontradas na agricultura (políticas agrícolas inadequadas), assim como por causa da pouca lucratividade da atividade, razão de desestímulo. Muitos desses produtores incentivavam os filhos a estudar ou a buscar novas alternativas. 73 Número de produtores que pretendiam continuar na atividade Apesar das dificuldades encontradas na suinocultura, a maioria dos produtores demonstrava interesse em continuar na atividade, já que o abandono da atividade implicava assumir riscos e incertezas. Tendo em vista que esses produtores tinham aversão ao risco, preferiam, então, caminhos seguros, em razão da experiência, do passado e da tradição, além de terem investido muito em instalações. Quadro 20 - Produtores que pretendiam continuar na atividade, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Sim Não I – cabeça II – média III – cola 88,9 88,9 97,2 11,1 11,1 2,8 Média geral 91,66 8,34 Fonte: Dados da Pesquisa. Utilização de crédito rural, por estrato Conforme Quadro 21, a média do total de produtores que não tinham utilizado crédito era de 52,73%. Dos produtores do estrato cabeça, considerados os melhores situados entre os três estratos, 66,7% não tinham utilizado crédito agrícola. Embora estivessem preocupados com a melhoria das condições técnicas de suas unidades produtivas, evitavam recorrer aos financiamentos bancários disponíveis, uma vez que estes eram incompatíveis com suas possibilidades de pagamento. Esse comportamento pode ser explicado, parcialmente, pelas elevadas taxas de juros cobradas nos empréstimos agrícolas. 74 Quadro 21 - Produtores que utilizavam crédito agrícola, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Não Sim I – cabeça II – média III – cola 66,7 47,1 44,4 33,3 52,9 55,6 Média geral 52,73 47,26 Fonte: Dados da Pesquisa. Nível de satisfação dos produtores para com o sistema integrado Quanto ao nível de satisfação dos produtores, independente do estrato, 52,76% do total de produtores estavam satisfeitos com o sistema integrado, visto que 5,55% destes o consideravam excelente, se comparado com o de outras integradoras da região, e consideravam razoáveis a comercialização, a assistência técnica e a ração de menor custo. Dos 47,24% que estavam insatisfeitos, observa-se que a percepção negativa advinha das dificuldades encontradas e do pouco retorno financeiro que os produtores tinham tido na atividade. Quando questionados se estavam satisfeitos ou insatisfeitos, as razões apontadas foram as mais diversas, conforme transcrito a seguir: Os produtores dizem que a suinocultura é uma atividade que não está recompensando, já que o preço do porco não compensa o esforço e o investimento realizado. A maioria dos produtores reclama dos preços pagos pela Integradora, mas não conseguem arcar sozinho com o custo da produção, pois, segundo eles, falta capital de giro. Nesse sentido, a integração permitia a compra da ração com prazo para pagamento, o que facilitava o financiamento para a produção com redução de riscos. Segundo eles, para que a propriedade tornasse viável economicamente e houvesse maior satisfação, 75 seria necessário que a integradora elevasse o preço pago pelo produto, de modo a permitir que a exploração apresente resultados econômicos positivos. Sempre temos que aumentar a produtividade e diminuir custos. Percepção dos integrados quanto à pessoa que deveria auxiliá-los na resolução de problemas No estrato cabeça, para 55,5% dos produtores, todos deveriam, em conjunto, auxiliá-los (agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e órgãos governamentais); para 22,2%, a cooperativa deveria fazê-lo; para 11,1%, agroindústria; e para 11,1%, órgãos governamentais. No estrato média, para 27,7% dos produtores, todos deveriam, em conjunto, auxiliá-los (agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e órgãos governamentais); para 44,4%, órgãos governamentais; para 16,7%, agroindústria; e para 5,6%, sindicato ou associação. No estrato cola, para 55,6%, todos deveriam, em conjunto, auxiliá-los (agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e órgãos governamentais); para 22,2%, somente os órgãos governamentais; para 11,1%, cooperativa; e para 11,1%, agroindústria. No período de realização da pesquisa, os produtores, de maneira geral, reclamavam do preço pago por kg de suíno. Apesar do descontentamento geral com o pagamento realizado pela integradora, os produtores creditavam ao conjunto (agroindústria, cooperativa, sindicato ou associação e órgãos governamentais) a responsabilidade pela situação em que se encontravam, na expectativa de que eles os auxiliassem na resolução de seus problemas. Embora não se tenha proposto estudar a posição reivindicatória desses produtores, faz-se necessário refletir sobre as estruturas organizativas presentes na região e sobre a postura dos produtores diante das dificuldades encontradas. As estruturas organizativas relacionadas com suinocultura, presentes no Estado de Santa Catarina, são ACCS (Associação de Criadores de Suínos do Estado de Santa Catarina); Associação dos Produtores de Leitões, Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Estado de Santa Catarina; Sindicato dos Produtores Rurais; Associação Estadual dos Condomínios Suinícolas; APACO (Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Oeste Catarinense); e Associação da Escola Familiar Rural Santo Agostinho. 76 Segundo MIRANDA (1995), as estruturas organizativas possuem pouco ou nenhum espaço de negociação no âmbito da relação contratual. Essa situação de fragilidade é devida ao tipo de atividade que é a criação de suínos (ciclo biológico). O endividamento dos integrados junto à integradora é outra dificuldade a ser contestada, assim como a estrutura oligopolizada da empresa e a ausência de atuação do Estado mediante políticas agrícolas para a pequena produção. O próprio sindicato de trabalhadores rurais, que reúne apenas os pequenos produtores, reconhece que as reivindicações dos suinocultores integrados são secundarizadas por eles, porque, de certa forma, são vistos como elite entre os pequenos produtores, distantes das camadas mais desprovidas de agricultores. O sindicato reconhece que muitos integrados à suinocultura estão à beira da exclusão, embora toda a mobilização seja destinada à pequena produção. O poder de reivindicação implica coesão, autoconfiança e habilidade em expor-se, além do apoio para argumentar e persuadir a opinião pública. Todas essas capacidades são baseadas em comunicação. O descrédito às instituições resulta na falta de coesão ou de participação dos produtores nessas entidades representativas. As experiências negativas vivenciadas anteriormente fazem com que esses produtores familiares demonstrem dificuldades em reivindicar os seus direitos. Os produtores informaram que participavam, efetivamente, da associação de produtores de leitões, visto que os técnicos da integradora e os técnicos das empresas vendedoras de insumos proferiam palestras. A crise da agricultura familiar nos últimos anos, causada por obstáculos institucionais, tecnológicos, econômicos e políticos, tem sido ressaltada, em muitos estudos, por vários autores. O reconhecimento desses produtores em creditar ao conjunto de atores (agroindústria, cooperativa, sindicato e, ou, associação e órgãos governamentais) o apoio desejado devese, principalmente, à crise atual do “movimento sindical”, que encontra dificuldades para mobilizar os produtores em torno de suas reivindicações para solução de seus problemas. O sindicalismo rural, que representaria uma alternativa para a luta de classes, segundo MIRANDA (1995), ... enfrenta uma conjuntura de profunda 77 crise, principalmente num contexto onde a ação mediadora do Estado não se faz presente. A pouca credibilidade das organizações associativas advém dos resultados das negociações, muitas vezes manipuladas pelos interesses da integradora. O Estado, por sua vez, também não dispõe de políticas agrícolas que beneficiem os pequenos produtores. A média dos três estratos de produtores que creditavam à integradora a responsabilidade por melhorias era de 13%, em relação ao conjunto de atores. Isso demonstra que a maioria dos produtores esperava que a solução para os seus problemas resultasse de medidas tomadas pelo conjunto de atores, que deveriam se articular na busca de alternativas. Interesse dos produtores por treinamentos Conforme Quadro 22, em média, 81,76% dos produtores desejavam receber treinamentos profissionalizantes, enquanto 18,23% não demonstraram interesse em recebê-los. Quadro 22 - Produtores que tinham interesse em participar de treinamentos, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Sim Não I – cabeça II – média III – cola 87,5 80,0 77,8 12,5 20,0 22,2 Média geral 81,76 18,23 Fonte: Dados da Pesquisa. 78 Constata-se que o estrato cabeça era o mais receptivo a treinamentos, enquanto o cola era o menos receptivo em relação aos outros. Dos produtores que pretendiam participar de treinamentos, no estrato cabeça, 37,5% tinham interesse pela área de administração; 25,0%, pela área tecnológica; 12,5%, tanto pela área de administração como pela tecnológica; e 12,5%, tanto pela área de administração quanto pela tecnológica e outras. Esse interesse por treinamentos explica, parcialmente, a situação privilegiada em que estes se encontravam em relação aos outros. Do estrato média, 20,0% pretendiam participar de treinamentos em administração; 40,0%, na área tecnológica; 13,3%, tanto na área de administração como na tecnológica; e 6,7%, em outras. Do estrato cola, 44,4% pretendiam participar de treinamentos em administração; 11,1%, na área tecnológica; e 22,3%, tanto na área de administração como na tecnológica. Produtores que receberam treinamento da integradora Conforme Quadro 23, dos entrevistados, 83,33% receberam treinamentos da integradora, sendo 77,8% do cabeça; 94,4% do média e 77,8% do cola. Quadro 23 - Produtores que receberam treinamento da integradora, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Sim Não I – cabeça II – média III – cola 77,8 94,4 77,8 22,2 5,6 22,2 Média geral 83,33 16,66 Fonte: Dados da Pesquisa. 79 O treinamento da integradora (Quadro 23) deu-se por meio do curso “Produção de Suínos”, ocorrido no município Faxinal dos Guedes-SC, em 1994, segundo os integrados entrevistados. Observa-se que os estratos cola e cabeça apresentaram menor índice de produtores com interesse em participar de treinamentos por meio da integradora, atitude que pode ser explicada pela falta de “recompensa” e motivação. Produtores que receberam treinamento de outras instituições O Quadro 24 descreve a porcentagem de produtores, por estrato, que receberam algum curso promovido por outras instituições, na região de Concórdia-SC. Do total de produtores, 50% fizeram cursos promovidos por outras instituições, o que demonstra que esses produtores buscavam alternativas externas às recebidas pela assistência técnica da integradora, não aceitavam, passivamente, as prescrições da integradora e não estavam isolados de outros estímulos, sendo esta outra maneira de obter parâmetros para avaliar as informações que estavam sendo repassadas pela assistência técnica. Quadro 24 - Produtores que receberam algum curso promovido por outras instituições, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Sim Não I – cabeça II – média III – cola 33,3 50,0 66,7 66,7 50,0 33,3 Média geral 50,0 50,0 Fonte: Dados da Pesquisa. 80 Por outro lado, havia grande demanda de treinamentos que não tinha sido suprida pela integradora, o que levava os produtores a buscar outras instituições. Mediante comparação dos três estratos no Quadro 24, pode-se verificar que o estrato cola era o que havia recebido mais treinamentos de outras instituições. No estrato média, havia produtores com diferentes níveis de instrução. No Quadro 24, observa-se que 50% desses produtores não apresentavam interesse em realizar treinamentos, o que poderia dificultar a situação, já que estavam numa faixa de “transição” entre o estrato cabeça e o cola. Nesse estrato (média), os produtores tentavam combinar as informações tanto da integradora quanto de outras instituições. No estrato cabeça, os produtores, na sua maioria, não realizavam cursos em outras instituições e procuravam seguir, fielmente, o que o técnico da integradora havia transmitido. Instituições promotoras de treinamentos, palestras, dias-de-campo, etc. ACCS (Associação de Produtores de Leitões), Copérdia (Cooperativa de Consumo Concórdia), CIDASC, EMBRAPA/CNPSA (Empresa Brasileira de Pesquisa/Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves), Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária), Prefeitura Municipal de Concórdia-SC, Prefeitura Municipal de Peritiba, SINE (Serviço Nacional do Emprego/SC), FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador/SC), SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural/SC), UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Fonte: Dados da pesquisa de campo, 1998. Essas instituições promoveram alguns cursos, como Administração Rural, Produção em Suínos, Sanidade e Manejo, Dejetos de Suínos e Agroecologia e outros. Variável econômica A variável econômica observada, por estrato, é a margem bruta. Esses dados foram obtidos a partir do resultado da análise das unidades de produção de leitões fornecida pela integradora, na região de Concórdia (36 unidades de produção de leitões - UPLs), calculados a partir do relatório de acompanhamento técnico-econômico fornecido pela Sadia Concórdia S.A. 81 A avaliação econômica dos produtores integrados ( UPLs), em relação à Margem Bruta de Produção, foi elaborada a partir do produto, conforme apostila da Sadia Concórdia S.A. Essa apostila tem sido utilizada no treinamento, em Administração Rural, dos técnicos da empresa, e em seu conteúdo consta como medir resultados econômicos na propriedade. A integradora oferecia treinamento aos técnicos por meio do curso de administração rural com conteúdos relativos à Análise Econômica da Empresa Rural. A margem bruta da produção (Quadro 25) era utilizada na classificação desses produtores em cabeça, média e cola. Quadro 25 - Margem bruta média (US$) porca/ano, por estrato de produtores entrevistados, no município de Concórdia-SC, 1998 Margem bruta/porca/ano Média* US$ Estrato I – cabeça II – média III – cola 189,57 128,74 76,89 Média geral 131,73 Fonte: Sadia Concórdia. * Valores em dólar (comercial/venda), 16/04/97. ** Fornecido pelo setor de Fomento da Sadia Concórdia S.A., período de 30/01/96 a 30/12/96, data de emissão 16/04/97. O intervalo de margem bruta, por estrato, apresentou-se da seguinte forma: I - cabeça, de US$ 148,840 a 228,210; II - média, de US$ 112,320 a 142,860; III - cola, de US$ 18,610 a 110,650. Para que o produtor efetuasse os cálculos da propriedade com precisão, era indispensável que ele fizesse a manutenção do registro na propriedade, de tal forma que esta permitisse a especificação do uso dos 82 dados aos recursos produtivos em cada exploração. A análise das atividades desenvolvidas na propriedade rural era importante, pois, por meio delas, o produtor poderia conhecer os fatores de produção (terra, capital e mão-deobra) e a utilizá-los racionalmente. A partir desta análise, o produtor poderia localizar os pontos de estrangulamento (os problemas) da atividade e concentrar seus esforços gerenciais para atingir os objetivos. Avaliação dos produtores da própria atuação na atividade Os produtores avaliaram a própria atuação na atividade suinícola com base no empenho e não nos resultados econômicos. Do total de produtores entrevistados, 75,93% consideravam-na boa, enquanto os estratos cabeça e média atribuíram menor valor à própria atuação, 11,1% e 16,7%, respectivamente, o que reflete a busca constante de melhorias e revela a exigência no desempenho (Quadro 26). Quadro 26 - Auto-avaliação dos produtores entrevistados quanto a própria atuação na atividade suinícola, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Excelente Boa Regular Total de produtores I – cabeça II – média III – cola 11,1 16,7 22,2 77,8 72,2 77,8 11,1 11,1 - 100,0 100,0 100,0 Média geral 17,0 76,6 11,1 100,0 Estrato Fonte: Dados da Pesquisa. 83 Situação percebida pelos produtores de leitões, integrados na época da entrevista, em face às facilidades e dificuldades encontradas Os suinocultores do estrato cola avaliaram a situação como regular a péssima, quando comparados com os outros estratos, que não diferiram substancialmente. Essa insatisfação generalizada advinha da bonificação que recebiam na atividade e da falta de crédito rural a preços subsidiados para investimento. Era comum ouvir esses produtores enfatizarem que estavam pagando para criar porco. Quando questionados sobre a bonificação dada pela integradora, os produtores afirmaram que são bonificados pela tabela da Integradora, ou seja, o preço do suíno vivo hoje é R$ 1,00. Então, pelo leitão de 18 kg a 22 kg a Integradora paga 1.6 x o preço do suíno vivo; pelo de 22 até 26 kg, paga o preço do suíno vivo; e acima de 26 kg até 28 kg, paga menos de 30% do preço do suíno vivo. Exemplificando: Por um leitão de 30 kg, a integradora pagava, até 22 kg, cerca de 1,6, que implicava R$ 35,20 (trinta e cinco reais, vinte centavos); pelos outros 4 kg, 1,0, que implicava R$ 4,00 (quatro reais); pelos outros 4 kg, pagava 0,7, que implicava R$ 2,80; e o valor total a ser pago pelo leitão ao produtor era de R$ 42,00 (quarenta e dois reais). O pagamento, na maioria das vezes, era feito pelas agroindústrias por ocasião da entrega da produção, para o acerto de contas. Nessa oportunidade, o produtor recebia o que era considerado seu rendimento líquido, isto é, o saldo, descontadas as despesas com fornecimento de ração, produtos veterinários, frete da ração ou fornecimento de matrizes. O item mais dramático e conflituoso e que mais chamava a atenção dos agricultores eram os descontos da ração. Havia casos em que os preços da ração subiam mais que o preço pago pelos suínos. O acerto de contas era o momento em que o produtor percebia, com maior clareza, seu lucro ou prejuízo. Havia casos em que o acerto zerava as contas dos produtores, conforme BRANDENBURG et al. (1995). No Quadro 27, constata-se a insatisfação de 70,4% dos produtores com a bonificação (rendimento pago pela integradora). Mesmo descontentes, nota-se que eles tinham interesse em se manter vinculados ao sistema integrado, já que realizavam grandes investimentos na atividade, razão por que 84 Quadro 27 - Situação dos produtores de leitões na região oeste, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Excelente a boa Regular a ruim Total de produtores I – cabeça II – média III – cola 33,3 33,3 22,2 66,7 66,7 77,8 100,0 100,0 100,0 Média geral 29,6 70,4 100,0 Fonte: Dados da Pesquisa. buscavam apropriação das novas técnicas, aceitando-as, recusando-as ou reelaborando-as de acordo com suas perspectivas e com seus interesses econômicos, históricos e culturais. A integradora esperava que seus produtores integrados tivessem racionalidade empresarial, mas o objetivo central dessas famílias, segundo MIRANDA (1995), “era a reprodução da unidade familiar de produção”. 3.2. Perfil dos técnicos Eram dois os técnicos que assistiam aos 3 6 produtores de leitões ou iniciadores de leitões. Ambos eram de origem italiana, procedentes do meio rural e possuíam curso técnico em agropecuária (um deles tinha curso superior em Biologia). Tanto a origem como a procedência dos técnicos eram semelhantes à dos produtores rurais, o que favorecia a interação e a empatia na relação de comunicação. Os técnicos que forneciam assistência técnica trabalhavam na integradora (de um a cinco anos e de cinco a 10 anos) no setor de fomento e possuíam grande experiência no contato com produtores, recebendo remuneração na faixa de cinco a 10 salários mínimos. Para se atualizarem, esses técnicos buscavam informações nas revistas especializadas, nos eventos promovidos pela empresa, nas teses, nos 85 artigos científicos e nos cursos em outras instituições, como EPAGRI, EMATER, SENAR e EMBRAPA. Os técnicos visitavam as propriedades com certa freqüência e despendiam em torno de duas horas (com tempo previsto para o deslocamento) por visita, que era planejada por eles próprios. Esse planejamento era feito com base nas prioridades e nos objetivos da integradora, com vistas na solução dos problemas encontrados na propriedade. Para eles, a comunicação da integradora com os produtores integrados objetivava informar, orientar, motivar, coletar e divulgar dados sobre tecnologia, produção e produtividade, através da utilização de linguagem acessível (palavras do dia-a-dia dos produtores). A análise de comparação dos resultados econômicos é obtida por meio dos resultados dos anos anteriores entre propriedades agrícolas semelhantes, para entender os motivos pelos quais umas propriedades obtiveram resultados econômicos melhores do que outras. A Análise Comparativa vem sendo utilizada junto à integradora, por vários anos, visando motivar os produtores. Segundo o Manual de Treinamento usado pelas unidades, essa análise possibilita que o produtor, ao ver a comparação de propriedades parecidas com a sua, situase rapidamente no grupo. Assim, ele encontra referência para sua posição em relação aos seus vizinhos. Quanto à imagem que os técnicos tinham da relação da integradora, observa-se que, para eles, esta é uma empresa que precisa garantir a matéria-prima, pois a sua missão é a produção de alimentos. Precisa sobreviver num mercado competitivo, tem custos administrativos altos. Segundo os técnicos, a integradora tentava auxiliar os produtores ineficientes a resolverem os problemas, visto que ela tem mostrado aos produtores qual a atividade mais afim da propriedade. Quanto ao que ela tem feito para motivar os integrados, enfatizaram que ela está melhorando a ração, procura melhorar a qualidade dos reprodutores, capacita a equipe técnica, busca linhas de crédito e recompensa quem investe em tecnologia. 86 Na percepção dos técnicos, os produtores integrados ... esperam ganhar em conhecimento e financeiramente. Os produtores vem sofrendo constantemente ameaças pela oscilação do mercado, dos preços dos insumos, do aumento do custo de produção e da legislação ambiental. Essas ameaças são percebidas quando relatam que os produtores têm medo de não poder pagar dívidas, de falir. Ao mesmo tempo, eles têm medo que a empresa também entre em falência e que os exclua do sistema integrado. Segundo os técnicos, a integradora procurava auxiliá-los mediante práticas de motivação e treinamentos, assim como práticas de melhoria da qualidade da ração fornecida, além de intermediar linhas de crédito. Quanto à utilização dos recursos instrucionais, acreditavam que ela poderia diversificar mais os recursos, tornando-os mais práticos. Em relação à utilização de metodologias de trabalho em grupos de produtores, enfatizavam que estas permitiriam que a informação chegasse a todos, da mesma forma e ao mesmo tempo. Segundo os técnicos, os produtores poderiam tornar-se mais eficientes e eficazes, caso seguissem as suas orientações; admitiam que sua capacitação se restringia às áreas técnica e de gestão, já que tinham deficiência na área de desenvolvimento humano e comunicacional. Quanto aos critérios utilizados na seleção da informação, afirmaram que tentavam detectar a necessidade do produtor a partir do problema diagnosticado na propriedade. Quanto à metodologia empregada, os dois técnicos utilizavam o modelo clássico de aprendizagem “ behaviorista“ ( estímulo-resposta), e um deles acreditava ter também utilizado o “construtivismo”. Os técnicos relataram que priorizavam as mensagens relacionadas com gestão (administração e qualidade total) e com tecnologia. Para eles, ao longo dos anos de assistência técnica, apesar do tremendo esforço que a empresa tem feito, para a incorporação tecnológica, a evolução tecnológica, ou seja, o resultado dessas propriedades deixam a desejar. 87 3.3. A comunicação da integradora e a percepção dos produtores O modelo de comunicação utilizado foi o mesmo modelo clássico de comunicação sugerido por Berlo. A Sadia Concórdia S.A. (a fonte) tem sua cultura empresarial constituída de necessidades, intenções, informações e objetivos, e o técnico (o transmissor) tem sua cultura e possui habilidades comunicacionais. O canal usado pelo técnico é o interpessoal (face a face). As mensagens são veiculadas através da Metodologia da Qualidade Total (Mensagens Tecnológicas e de Gestão - Administração Rural, Gestão Agrícola, etc.). O produtor rural (o receptor) tem sua cultura e um conjunto de habilidades sensoriais. O processo produtivo está baseado nos procedimentos da Qualidade Total, que objetiva viabilizar a administração das propriedades rurais de forma eficiente. Para isso, a integradora utiliza a comunicação para repassar a metodologia da Qualidade Total, enviando mensagens tecnológicas e de gestão (administração rural) e enfatizando o caráter gerencial em suas mensagens - o grande desafio da Integradora. A Total Qualit Control (TQC) é uma metodologia que, segundo BONILLA (1994), corresponde a um modelo gerencial aperfeiçoado no Japão, no qual sobressai a figura de Ishikawa (1968), a partir de idéias norteamericanas, especialmente de Deming e Juran, introduzidas durante a ocupação aliada naquele país, depois de 1945. A TQC é baseada em diferentes fontes que abrangem duas linhas básicas - uma de natureza técnica, que nasce com Taylor, desenvolve-se com os métodos de controle estatístico de Shewhart (1931) e consolida-se com todo o conhecimento científico dos últimos 40 anos, por meio do trabalho de grandes mestres, como Feigenbaum (1983), Deming (1990) e Juran (1990), e outra, de natureza humana, apoiada nos estudos sobre comportamento, desenvolvidos por Mac Gregor (1960), Herzberg (1966) e Maslow (1970), e, mais recentemente, na abordagem holística, representada, entre outros, por Capra (1982) e Ferguson (1980). A montagem básica da TQC foi feita pela JUSE (Japanese Union of Scientists and Engineers). 88 Um aspecto fundamental da TQC é o rompimento, que implica uma mudança de forma de pensar, de estilo e de postura, que envolve todos os ingredientes da empresa, desde o presidente até o último trabalhador. A TQC é um programa de todos os envolvidos na empresa, desde o presidente até o subalterno; portanto, ou rompe-se com o modo de pensar, sentir e agir antigo, por meio da assunção e do comprometimento pessoal com a implantação do programa, transformando-se, assim, num dinâmico agente de mudanças, ou abandona-o a suas próprias forças, inviabilizando-o. O conceito de Qualidade Total é amplo e dinâmico. Em princípio, ele está ligado à satisfação do consumidor, tanto interna (eliminando os fatores que não agradam ao consumidor, segundo pesquisas de mercado feitas), como externas (mediante antecipação das necessidades do consumidor, incorporando-se às características detectadas nos produtos e serviços). A qualidade total é composta de cinco dimensões, como a seguir. A qualidade intrínseca do produto (ou serviço), em sentido amplo, refere-se, especificamente, às características inerentes ao produto (ou serviço), daí o nome de intrínsecas, capazes de fornecer a satisfação ao consumidor. Isto implica uma série de aspectos, como ausência de defeitos, adequação ao uso, características agradáveis ao consumidor, confiabilidade, previsibilidade, etc. O custo do produto ou serviço tem relação com o fato de que, quanto menor o preço do produto ou do serviço, maior será a satisfação do consumidor. Isso não implica uma relação linear perfeita. Acontece que um elemento fundamental é o conceito de valor, ou seja, o que o consumidor estaria disposto a pagar pelo produto (ou serviço). Portanto, seu preço deverá levar em conta o valor que o produto tem para o usuário. O atendimento ao cliente implica que ele deve receber o produto no prazo certo, no local certo e na quantidade certa. Além disso, deve ser atendido com boa vontade, cortesia e amabilidade, devendo haver uma boa organização da assistência técnica. A segurança é fundamental para que o produto não ameace a saúde do consumidor, seja diretamente, pela sua ingestão, ou indiretamente, pelos tratamentos feitos durante a implantação. 89 O aspecto moral refere-se à disposição e à motivação que os empregados da empresa manifestam. Para que isto aconteça, “a empresa deve esforçar-se para pagar-lhes bem, respeitando-os como ser humano e dandolhes a oportunidade de crescer como pessoa e no trabalho, vivendo uma vida feliz”. A visão ecossistêmica da qualidade total implica uma forma diferente de a empresa relacionar-se com o resto da sociedade, ou seja, muda-se do conceito de empresa “ilha” ou “fortaleza” para “ empresa-componente do ecossistema social”, no qual, para que o equilíbrio se mantenha, é necessária uma troca equilibrada de contribuições e recompensas. Essa visão ecossistêmica tem um horizonte de logo prazo, dado que, em lugar de maximizar os lucros, o enfoque é de “otimizar o bem-estar social”. Dessa forma, por meio da ênfase na qualidade e na interação positiva com os outros parceiros, o lucro acabará, conseqüentemente, sendo maximizado. Os outros parceiros da empresa, que também são componentes do ecossistema social, formam parte essencial do conceito de Qualidade Total, pois é pela fecunda interação deles que os objetivos serão atingidos. Eles são, fundamentalmente, os seguintes: 1) Os consumidores - a empresa deve despender esforços para identificar as necessidades dos consumidores e atendê-los; 2) Os empregados - aqui, a ênfase é na gestão participativa, na remuneração adequada e no crescimento do ser humano na empresa; 3) A comunidade - precisa ser atendida pelo exercício da responsabilidade social, traduzida na forma de proteção ambiental, entre outras alternativas; 4) Os fornecedores - devem ser muito bem selecionados e auxiliados no processo de desenvolvimento - a confiança deve substituir a desconfiança. Sem dúvida, nesse marco referencial devem ser incluídos os acionistas, que, integrados harmonicamente a outros parceiros, terão mais a ganhar, porque o sistema - tomado como conjunto - terá sido otimizado, assim como os setores do subsistema representado pela empresa. 90 Os conceitos básicos da qualidade total A palavra controle tem vários sentidos que, geralmente, estão centrados na idéia de dominar, inspecionar ou supervisar e são, geralmente, acompanhados de uma visão coercitiva. Qualidade total significa gerenciar ou administrar. De acordo com Bonilla, o controle da qualidade total implica duas ações fundamentais: “Rotina” e “Melhorias”. “Rotina” implica a conservação do modo atual de fazer as coisas, depois de estas passarem por um processo de padronização. Isso significa que não é qualquer “modo atual” que será uma rotina, mas um processo estável; portanto, se ele for de natureza instável, será necessário primeiramente colocálo sob controle estatístico e, só a partir daí, a Rotina poderá ser instalada. Aqui, o processo é visto como algo que está em permanente movimento, que está se transformando gradualmente de um estado a outro. Isto indica uma sucessão de tarefas realizadas com certa finalidade . Há um método geral de modelo gerencial em Qualidade Total, que é o ciclo PDCA, cujas iniciais P, de “plan”, corresponde planejar; D, de “do”, fazer, executar; C, de “check”, conferir; e A, de “action”, ação corretiva. No caso em que o padrão não foi obedecido, a ação corretiva é o treinamento. Se ele foi obedecido e não foi atingida a meta, tem-se um problema, cuja causa fundamental tem de ser identificada. A correção da falha é eliminar o problema. Enquanto o TQC utiliza conceitos, o programa 5s (cinco sensos) não os utiliza; ele é apenas uma questão de execução, já que não envolve teorias, mas ferramentas práticas para revolucionar a gerência de rotinas diárias. Na pesquisa, questionou-se sobre a utilização dos produtores com relação aos cinco sensos divulgados pela Integradora: 1) Utilização; 2) Ordenação; 3) Limpeza; 4) Saúde; e 5) Auto-disciplina. Adoção dos cinco sensos (procedimentos e rotinas) da qualidade total na propriedade Do total de produtores entrevistados, conforme Quadro 28, observa-se que aqueles que adotavam a qualidade total na propriedade eram em menores proporções do que os que não a adotavam. O fato de adotarem, ou não, essas 91 Quadro 28 - Adoção ou não dos procedimentos e propostas de qualidade total pelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Adota Adota algumas Não adota I – cabeça II – média III – cola 33,33 33,33 33,33 11,11 22,22 44,44 55,56 44,44 22,22 Média geral 33,33 25,93 40,74 Fonte: Dados da Pesquisa. propostas revela que esses produtores não internalizaram a necessidade de mudança e não estavam correspondendo às expectativas da integradora. Para esta, a adoção desses procedimentos estava aliada à capacidade de organização e gerenciamento desses produtores na propriedade, podendo determinar seu sucesso ou fracasso. Avaliação dos procedimentos e rotinas de qualidade total Conforme Quadro 29, a avaliação dos entrevistados era variada. Dos produtores entrevistados, 31,49% consideravam esses procedimentos como excelentes: 46,3%, bons; 13,90%, regulares; e 19,46% não deram opinião a respeito. Desses, o estrato cola foi o que considerou os procedimentos e rotinas como excelentes (55,56% desses produtores), o que demonstra que esses procedimentos podiam facilitar suas atividades e auxiliá-los no desempenho. Muitos desses produtores estavam ainda em fase de adaptação aos procedimentos e às rotinas e em diferentes fases do processo de adoção. A manutenção da “Rotina” é uma salvaguarda contra mudanças negativas em qualidade intrínseca, custo, quantidade ou prazo de produção. Desse modo, as principais vantagens que surgem da “ rotinização” dos processos são que estes se tornam estáveis e previsíveis. Embora esta seja 92 Quadro 29 - Avaliação dos procedimentos e das rotinas de qualidade total pelos agricultores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 Excelente Boa Regular Não tem opinião I – cabeça II – média III – cola 11,11 27,80 55,56 67,00 38,90 33,3 16,70 11,11 22,22 16,70 - Média geral 31,49 46,3 13,90 19,46 Estrato Fonte: Dados da Pesquisa. necessária, não é suficiente, pois vive-se num mundo dinâmico, ou seja, tanto um concorrente pode desenvolver um processo mais adequado (“melhor”), como o próprio cliente pode tornar-se mais exigente. Nesses casos, a “Rotina” apresenta-se como insuficiente. Assim, um novo patamar deve ser erigido, denominado “Melhorias , que envolvem níveis de desempenho nunca antes atingidos na empresa. A gama de ações que pode envolver o gerenciamento das “Melhorias é quase infinito, quais sejam, criação de novos produtos, serviços e mercados; aumento da produtividade e da lucratividade; redução de custos; aumento do moral dos empregados para redução do absenteísmo, rotatividade, etc; aumento da durabilidade e confiança dos produtos; e aumento do nível de atendimento dos clientes, fazendo cair o número de reclamações e devoluções, etc. 93 3.3.1. Mensagens sobre administração rural ENFOQUE DA ADMINISTRAÇÃO RURAL ANTECEDENTES PROCESSO RESULTADO A tomada de decisão Cultura A mudança Valores Adoção de Novas Práticas Objetivos Aversão ao Risco Motivação Comunicação FACILITADORES /TÉCNICOS Estoque de Informações Estoque de Administração (Qual o resultado?) Estoque de Extensão (Como mostrar?) (Eu posso fazer melhor do que estou fazendo?) REALIDADE No sistema integrado, quando o técnico envia mensagens sobre inovações tanto tecnológicas como de gestão, o produtor passa pelo processo de tomada de decisão de forma mais facilitada, pois a tecnologia ou inovação já foi testada e validada anteriormente. No entanto, a decisão de adotá-las não basta por si só, pois existem outros fatores que influem na adoção, tais como vantagem relativa, compatibilidade, complexidade, observabilidade e experimentabilidade. A relação de comunicação interpessoal, aliada aos métodos de demonstração prática e padrões escritos, procura facilitar a compreensão, diminuindo a complexidade e o esforço despendido, e a aprendizagem, pois a demonstração reconstrói, simbolicamente, o ensaio, a experimentação e os resultados. 94 Adoção de procedimentos e rotinas de administração rural pelos produtores Comparando-se o Quadro 29 (Qualidade Total) com o Quadro 30 (Administração Rural), observa-se que não há diferença na adoção de ambos os procedimentos. Quadro 30 - Adoção ou não dos procedimentos e propostas de administração rural pelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Adota todas Adota algumas Não adota I – cabeça II – média III – cola 33,33 33,33 33,33 11,11 22,22 44,44 55,56 44,44 22,22 Média geral 33,33 25,92 44,74 Fonte: Dados da Pesquisa. Avaliação dos procedimentos e das propostas de administração rural produtores rurais pelos Nos três estratos, conforme Quadro 31, não houve avaliação negativa, o que demonstra que os produtores, em ambos os estratos, poderão vir a adotálos. 3.4. Os produtores e os meios de comunicação utilizados Meios de preferência na recepção das mensagens Do total de produtores, 79,63% preferiam receber mensagens por meio do técnico, e 20,37%, por outros meios (rádio, televisão, escrita, etc.). O estrato que mais preferia receber mensagens do técnico era o cola (Quadro 32). 95 Quadro 31 - Avaliação dos procedimentos e das propostas de administração rural pelos produtores, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Excelente Boa I – cabeça II – média III – cola 50,0 44,44 66,67 50,0 55,56 33,33 Média geral 53,70 46,20 Fonte: Dados da Pesquisa. Quadro 32 - Preferência dos produtores pelo recebimento das mensagens por meio do técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Técnico Outros (rádio, televisão, escrita, telefone) I – cabeça II – média III – cola 72,22 72,22 88,89 27,78 27,78 11,11 Média geral 79,63 20,37 Fonte: Dados da Pesquisa. Preferência dos produtores na resolução de dúvidas sobre a atividade suinícola Em média, 98,4% dos produtores preferiam tirar dúvidas com o técnico (Quadro 33), enquanto 5,56% procuravam resolvê-las por outros meios. Essa preferência se deve ao fato de que, na relação de comunicação entre técnicoprodutores, estes podiam contar, permanentemente, por meio de visita ou do 96 Quadro 33 - Número de produtores que esclarecem ou não dúvidas com o técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato I – cabeça II – média III – cola Média geral Sim Não 100,00 94,44 100,00 5,56 - 98,40 5,56 Fonte: Dados da Pesquisa. sistema de plantão telefônico, com os técnicos do setor de fomento. Dessa forma, havia maior possibilidade de que esses produtores conseguissem resolver problemas relativos à atividade. Para os produtores, a relação produtor-técnico ocorria de forma cordial, o que confirma o elevado grau de empatia existente entre ambos. O técnico era considerado não só como o canal preferido para o recebimento de mensagens, mas importante fonte de resolução de dúvidas dos produtores. Além desse método, a integradora não utilizava outros tratamentos de que dispunha, tais como mídia eletrônica, impressa e alternativas. O técnico utilizava o Relatório Individual do Produtor e alguns folhetos escritos, com padrões a serem seguidos, conforme Apêndice A. Percepção dos produtores em relação à freqüência da visita do técnico De acordo com o Quadro 34, a freqüência da visita do técnico aos produtores, por estrato, era feita mensal, quinzenal e semanalmente. O planejamento da visita era feito pelo próprio técnico, com base nas estratégias da direção da empresa. Muitas vezes, ele entrava na propriedade até mesmo quando a família não se encontrava e realizava vistoria nas instalações e no rebanho. 97 Quadro 34 - Número de produtores que receberam visita do técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Mensal Semanal Quinzenal I – cabeça II – média III – cola 88,9 88,9 77,8 11,1 11,1 11,1 11,1 Média geral 85,2 11,1 11,1 Fonte: Dados da Pesquisa. O estrato cola era o único em que se constataram as três modalidades de visitas, já que os produtores dos estratos média e cabeça não recebiam visitas semanais, o que demonstra, por parte do técnico, a preocupação em prestar assistência técnica a esse estrato menos eficiente. Modificação da visita Conforme Quadro 35, o estrato média demonstrou interesse em modificar a visita mensal para quinzenal e semanal, pois, assim, os produtores teriam presença constante do técnico e maiores possibilidades de êxito na compreensão das tecnologias e dos procedimentos. Os estratos cabeça e cola demonstraram satisfação com a freqüência das visitas. Auxílio instrucional A principal forma de comunicação utilizada pelo técnico, segu ndo a percepção dos produtores, era a fala. Todos os produtores afirmaram que a linguagem utilizada por ele era bem acessível. Quanto ao material escrito, os produtores recebiam, mensalmente, o Relatório ou Acompanhamento Técnico Econômico de Suínos - produção de leitões, para situá-los e compará-los com outros (Quadro 37). 98 Quadro 35 - Interesse dos produtores pela mudança de freqüência da visita realizada pelo técnico, por estrato, no município de ConcórdiaSC, 1998 Estrato Mensal Semanal Quinzenal I – cabeça II – média III – cola 88,9 66,6 77,8 11,1 27,8 11,1 5,6 11,1 Média geral 77,6 16,66 8,35 Fonte: Dados da Pesquisa. Quadro 36 - Número de produtores que avaliaram a freqüência da assistência técnica recebida, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato I – cabeça II – média III – cola Média geral Mensal Semanal Quinzenal 11,1 5,6 11,1 66,7 77,7 88,9 22,2 11,1 - 77,74 13,1 9,26 Fonte: Dados da Pesquisa. 99 Quadro 37 - Auxílio instrucional utilizado pelos técnicos na percepção dos produtores entrevistados, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 Estrato Fala Fala e escrita I – cabeça II – média III – cola 11,1 72,4 22,2 88,8 27,8 77,7 Média geral 35,3 64,7 Fonte: Dados da Pesquisa A utilização de folders” ocorria raramente, com vistas na fixação dos procedimentos a serem incorporados. O rádio O rádio foi considerado o segundo meio de informação preferido pelos produtores, depois do técnico. Dos entrevistados, 100% ouviam a Rádio Rural AM, que transmitia o “Informativo da Sadia”, às 11h40minutos, cuja apresentação era da assessoria de comunicação da empresa, Gilmar Monticelli, responsável pela locução, de 2. a a 6.a feira, com duração de 5 a 6 minutos. O público-alvo deste programa eram produtores rurais integrados de suínos e aves e o objetivo era prestar serviço de informação sobre o dia e a hora em que seria feito o transporte dos animais para o abate, assim como para fornecer instruções sobre o manejo, antes do transporte. A programação das duas rádios (Rural e Aliança) estava assim distribuída: Rádio Aliança - AM: Programa Musical “Bom dia trabalhador“, com músicas variadas (a maior ênfase é dada ao estilo tradicionalista gaúcho e sertanejo), e algumas inserções de informações/recados. Embora não fosse um programa agrícola, fornecia algumas informações sobre política e mercado. 100 Rádio Rural - AM: Programa Musical “Amanhecer cantando”, com o locutor Alemão Gordo, das 5 às 6h30minutos, com notícias policiais e algumas informações ao público rural e urbano. Na época da entrevista, a rádio Rural ainda pertencia ao grupo da integradora; poucos meses depois, foi vendida a um grupo de empresários da cidade, e o programa continua sendo veiculado semanalmente. Programas rurais de televisão A televisão foi considerada o terceiro meio de informação mais eficiente, apesar da não-adequação dos horários dos programas à realidade dos produtores, principalmente nessa região, em que era tradição ir à missa aos domingos. Segundo os produtores, o fato de não terem acesso ao canal Rural via antena parabólica era outro problema, já que o canal estava disponível só em TVs a cabo, embora anteriormente já tivesse sido transmitido via antena parabólica. Atualmente, a população interessada em informações agrícolas não estava tendo acesso a esse canal (Quadro 38). Quadro 38 - Preferência dos produtores pela emissora de rádio, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Rádio Rural Rádio Rural e Rádio Rural e Aliança outras Rádio Rural Aliança e outras I – cabeça II – média III – cola 88,9 61,0 88,9 11,1 27,8 11,1 5,6 - 5,6 - Média geral 79,6 16,6 5,6 5,6 Fonte: Dados da pesquisa. 101 O “Globo Rural” era o programa de televisão mais assistido pelos produtores, que, muitas vezes, tinham de optar pelo programa agrícola ou pela missa (Quadro 39). Quadro 39 - Preferência dos produtores pelos programas rurais de televisão, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Globo Rural Manchete Rural e Globo Rural Outros Programas I – cabeça II – média III – cola 88,9 87,5 85,7 11,1 6,3 14,3 6,2 - Média geral 87,36 10,56 6,2 Fonte: Dados da Pesquisa. Conteúdo das mensagens veiculadas pelo técnico, na percepção dos produtores Para os produtores do estrato cabeça, as mensagens veiculadas pelo técnico abordavam conteúdos tecnológicos; para o estrato média, gerenciamento da propriedade; e para o estrato cola, gerenciamento e tecnologia (Quadro 40). Nota-se, no Quadro 40, que todos os produtores, independente de estrato, recebiam o mesmo conteúdo de mensagens, embora a prioridade tenha sido dada para informações tecnológicas e, em segundo lugar, para assuntos de gestão. Esses resultados confirmam que o técnico priorizava assuntos tecnológicos, o que vinha de encontro ao objetivo da comunicação. Nota-se que, na área de gestão, a administração da propriedade e outros assuntos não foram veiculados, razão por que os produtores afirmaram que os técnicos se preocupavam mais com o produto do que com os produtores. 102 Quadro 40 - Percepção dos produtores quanto aos conteúdos veiculados pelo técnico, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Área tecnológica Área de gestão I – cabeça II – média III – cola 77,8 77,8 77,8 22,2 22,2 22,2 Média geral 77,8 22,2 Fonte: Dados da pesquisa. Adequação dos conteúdos Quanto à adequação dos conteúdos das mensagens, segundo a percepção dos produtores entrevistados, conforme Quadro 41, 79,7% consideravam relevantes as mensagens veiculadas pela integradora; e 20,36% consideravam-nas inadequadas, ou seja, precisavam ser reformuladas, pois, segundo eles, o técnico não estava atualizado e não trazia novidades. Quadro 41 - Percepção dos produtores quanto à adequação das mensagens veiculadas pelo técnico, por estrato, no município de ConcórdiaSC, 1998 (em porcentagem) Estrato Sim Não I – cabeça II – média III – cola 88,9 72,2 77,8 11,1 27,8 22,2 Média geral 79,63 20,36 Fonte: Dados de Pesquisa. 103 Percepção dos produtores entrevistados quanto à ajuda do técnico Segundo os produtores, os técnicos (...) não têm muito o que fazer, pois trabalham para a empresa. “Puxa” para o lado dela”. No entanto, de maneira geral, crêem que eles fazem o que podem, dentro da sua limitação. Segundo os entrevistados, a integradora tinha feito pouco ou poderia fazer mais para torná-los mais satisfeitos, conforme relatos: Facilita na resolução dos problemas. Ex.: problema de desmame. Desenvolveram uma ração para resolver o problema. Não faz nada, ainda baixou o preço do porco. Nada, abandona os produtores. Nada só procuram o lado deles. Nada, não se tem como se sair do chão, o custo da atividade é muito alto. Atendem bem na assistência técnica. Ela teria muita coisa para fazer mas ela não faz. Proporcionou o curso para a produção de leitões. Promessas que vai melhorar, vai ficar bom. Nada, não tem feito nada, antigamente eles premiavam a gente. Nessas falas, observa-se a insatisfação com as providências da integradora para garantir a sobrevivência da unidade de produção, ao mesmo tempo que não deixam de enfatizar que, em tempos passados, eram melhor recompensados. As velhas práticas de premiação por produtividade, praticadas pela integradora (geladeiras, fogões, freezer, eletrodomésticos, móveis, automóveis, máquinas, implementos agrícolas e tratores), foram substituídas por novas exigências (rendimento da carcaça, conversão alimentar e produtividade) e por pouco retorno financeiro. A comparação entre o passado e o presente gerava certa nostalgia nos produtores. Equipamentos disponíveis que facilitam a aprendizagem Consideraram-se equipamentos completos e incompletos, disponíveis por família, os quais pudessem viabilizar a busca de informações, favorecendo a comunicação e as práticas pedagógicas tanto para o produtor, na busca por conhecimento individual, como para o técnico, que poderia utilizar-se destes para algum treinamento na propriedade. Consideraram-se como equipamentos completos o rádio, a televisão, o vídeo-cassete, o telefone, a antena parabólica, e o computador, enquanto a falta de algum desses itens acima relacionados foi considerada equipamento incompleto. 104 Os equipamentos disponíveis, por estrato de produtores, que auxiliavam na busca por informações, são apresentados no Quadro 42. Quadro 42 - Equipamentos que os auxiliavam na busca de informações, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 Equipamentos completos Equipamentos incompletos I – cabeça II – média III – cola 11,1 16,7 - 88,9 83,3 100,0 Média geral 13,9 90,73 Estrato Fonte: Dados de Pesquisa. Do total de produtores, nove possuíam computador, e 34, telefone. Esses dados demonstram que esses produtores dispunham de equipamentos que favoreciam a resolução de dúvidas, no caso do telefone, e facilitavam o gerenciamento da propriedade, no caso do computador. No item “aspirações desses produtores”, em relação ao interesse na aquisição de equipamentos, seis responderam que pretendiam adquirir “computador”, aspiração devida mais à exigência da empresa. A integradora, partindo da necessidade de aumentar eficiência na Gestão da Qualidade na agricultura, estava implantando o projeto Desenvolvimento de Fornecedores do Programa de Qualidade - TQS. Este sistema foi avaliado e testado por produtores rurais, por especialistas e por extensionistas, no Brasil e na Alemanha, e os resultados mostraram efeitos positivos no aumento da eficácia e da eficiência da Gestão da Qualidade em propriedades rurais. Este projeto deveria ser implantado em escritórios de assistência técnica da Sadia, assim como em propriedades rurais. 105 Freqüência de leitura Quanto ao hábito de leitura, o estrato cabeça era o que mais lia, embora houvesse pouca diferença entre os estratos. Nos estratos cabeça, média e cola, a leitura diária regular aparecia com pouca diferença entre eles. O estrato cola tinha o maior índice dos produtores que nunca liam, razão por que a atualização destes era dificultada. Com relação à freqüência de leitura, 22,2% dos produtores do estrato cabeça não liam nenhuma publicação; 44,4% liam jornais; 22,2%, revistas; 11,1%, jornais e folhetos. Do média; 5,6% não liam nenhuma publicação; 38,9% liam jornais; 11,1%, revistas; 11,1%, folhetos; 11,1%, jornais e revistas; 5,6%, revistas e livros; 5,6%, jornais, revistas e folhetos; 5,6%, jornais, revistas e livros; 5,6%, jornais, folhetos, revistas e livros. Do cola; 22,2% não liam nenhuma publicação; 44,4% liam jornais; 22,2%, revistas; 11,1%, jornais e folhetos (Quadro 43). Quadro 43 - Freqüência de leitura pelos produtores entrevistados, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Liam todos os Regularmente dias Raramente Nunca I – cabeça II – média III – cola 22,2 22,2 - 55,6 50,0 55,6 22,2 22,2 33,3 5,6 11,1 Média geral 22,2 53,73 25,9 8,35 Fonte: Dados de Pesquisa. Leitura de outros jornais Dos jornais lidos pelos produtores, destacam-se Correio Riograndense, Jornal Fomento (jornal interno da integradora), Jornal da Copérdia, Manchete 106 Rural, Informativo da Embrapa, Diário Catarinense, O Jornal (jornal de Concórdia) e Folha de S. Paulo. Outros impressos Os produtores preferiam Globo Rural, Avicultura da Sadia, Veja, Imagem Rural e A Granja , além de folhetos do culto, folders e livros sobre Administração e Gerenciamento. Dificuldade encontrada nas mensagens transmitidas pelo Jornal Fomento De acordo com o Quadro 44, dos produtores, 90,74% considera vam fáceis as mensagens do Jornal Fomento. Quadro 44 - Grau de dificuldade dos produtores no entendimento das mensagens veiculadas no Jornal Fomento, por estrato, no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Fácil Difícil Não o recebiam I – cabeça II – média III – cola 88,89 94,44 88,89 5,56 - 11,11 11,11 Média geral 90,74 5,56 11,11 Fonte: Dados de Pesquisa. Nos estratos cabeça e cola estavam os produtores que não recebiam o Jornal; no estrato média, 5,56% tiveram dificuldade em interpretar as mensagens devido à linguagem técnica utilizada, enquanto o estrato média era o mais crítico e exigente na avaliação dessa publicação. 107 Conteúdos veiculados pelo Jornal Fomento O Jornal Fomento é uma publicação prod uzida pela Parole Comunicações Ltda., sob a coordenação da Assessoria de Comunicação Social da Sadia Concórdia S.A. e colaboração dos técnicos da área agropecuária. A distribuição era gratuita aos produtores integrados da suinocultura e avicultura. Sua edição tinha freqüência mensal, bimestral e trimestral e não havia constância na freqüência de sua publicação. A equipe técnica da Sadia colaborava com seu conteúdo, sendo composta por técnicos de Concórdia, Chapecó, Três Passos e Frederico Westphalen. Sua tiragem era de 8.000 exemplares. Além de ser distribuído aos produtores de suínos e aves, era encartado, em anexo, ao “O jornal” de Concórdia (jornal de circulação semanal). Observa-se, no Quadro 45, que os assuntos veiculados no Jornal Fomento, na percepção dos produtores, estavam relacionados com informações sobre tecnologia, gestão empresarial (administração rural, qualidade total e meio ambiente), marketing institucional e promoção social (inclusive entretenimento). Quadro 45 - Tipos de assuntos veiculados no Jornal Fomento, segundo a percepção dos produtores, por estrato, no município de ConcórdiaSC, 1998 Tipos de assuntos Cabeça Média Cola Gerenciamento Tecnologia Promoção social Gerenciamento e tecnologia Gerenciamento e promoção social Gerenciamento, tecnologia e promoção social 22,23 33,33 11,11 22,22 11,11 - 35,29 17,65 19,65 23,53 5,88 37,50 12,50 37,50 12,50 - 100,00 100,00 100,00 Total Fonte: Dados da Pesquisa. 108 Segundo os entrevistados, o Jornal Fomento deveria ser distribuído com maior freqüência e utilizado para reforçar mensagens sobre administração rural, tecnologia e promoção social, transmitidas pelo técnico. Verifica-se que o conteúdo das mensagens do Jornal Fomento privilegiava assuntos mais diversificados que os da relação interpessoal. Na avaliação dos produtores, o conteúdo era considerado bom e regular (Quadro 46). Quadro 46 - Avaliação das informações veiculadas pelo Jornal Fomento, por estrato (em porcentagem) Estrato I – cabeça II – média III – cola Média geral Excelente Boa Regular Ruim 5,5 12,5 33,3 50,0 50,0 66,7 39,0 25,0 5,5 12,5 6,0 44,09 43,23 6,0 Fonte: Dados de Pesquisa. Avaliação dos técnicos pelos produtores Do total de produtores em ambos os estratos, 66,67% deram conceito favorável (bom) aos técnicos, fator que facilitava o processo de aprendizagem, conforme Quadro 47. Outra forma de comunicação utilizada pela integradora era o plantão telefônico, atendimento direto do setor de assistência técnica para tirar dúvidas dos produtores, em caso de emergências. 109 Quadro 47 - Avaliação da atuação dos técnicos pelos produtores, por estrato (em porcentagem) Estrato Excelente Boa Regular I – cabeça II – média III – cola 22,22 33,33 33,33 66,67 66,67 66,67 11,11 - Média geral 44,44 66,67 11,11 Fonte: Dados da Pesquisa. Mensagens sobre gestão ambiental As organizações estão cada vez mais preocupadas em atingir um desempenho ambiental correto, mediante o controle do impacto de suas atividades, produtos ou serviços no meio ambiente, levando em consideração sua política e seus objetivos ambientais que privilegiam a sua política de comunicação. Esse comportamento se insere no contexto de uma legislação mais exigente, por meio do desenvolvimento de políticas econômicas e de outras destinadas a estimular a proteção ao meio ambiente, em que há crescente preocupação das partes interessadas com as questões ambientais e com o desenvolvimento sustentável. Muitas organizações têm efe tuado “análises” ou “auditorias” ambientais, a fim de avaliar seu desempenho ambiental. No entanto, por si só, tais “análises” e “auditorias” podem não ser suficientes para garantir que o desempenho da organização atenda a esses procedimentos conduzidos dentro de um sistema de gestão estruturado e integrado ao conjunto das atividades de gestão, pois a conscientização ambiental é um processo de educação. As normas internacionais de gestão ambiental objetivam prover às organizações os elementos necessários a um sistema de gestão ambiental eficaz, passível de integração com outros requisitos de gestão, de forma a auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos. Essas normas, 110 como outras normas internacionais, não foram concebidas para criar barreiras comerciais não-tarifárias, nem para ampliar ou alterar as obrigações legais de uma organização, mas objetivamequilibrar a proteção ambiental com as necessidades socioeconômicas. Embora haja tendência mundial de conscientização em relação às questões ambientais, boa parte da população, especificamente nessa região, não se conscientizou da necessidade da preservação ambiental, principalmente com relação à grande quantidade de dejetos de suínos que contaminam as águas potáveis, os riachos e os rios (fonte de nutrientes para as plantas). Apesar da urgente necessidade de conscientização desses produtores sobre as questões do meio ambiente, constata-se que havia carência de mensagens relacionadas com a área de gestão, no que diz respeito à preservação ambiental. De acordo com o livro do SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS - SEBRAE (1996), relativo a “ A questão ambiental: o que todo empresário precisa saber ”, as atividades empresariais são classificadas em três níveis de contaminação, quais sejam, alto, médio e baixo. A suinocultura e, em especial, a unidade de produção de leitões (UPLs), independente do tamanho, pequeno, médio ou grande, são consideradas altos agentes poluidores. Os índices de poluição na região são alarmantes, principalmente no que diz respeito a água, ar, rios, etc. Na região, ainda não há uma mobilização efetiva para a solução do problema, embora instituições, como FATMA, EPAGRI e EMBRAPA, estejam imbuídas em projetos e realizando pesquisas na área. Muitas empr esas têm trilhado caminhos em direção a uma nova perspectiva, em que os cuidados ambientais deixam de ser um obstáculo à atividade da empresa e tornam-se a garantia de que ela se firmará no mercado, com maiores oportunidades e credibilidade, aliadas às crescentes exigências legais, à fiscalização e às pressões da sociedade organizada e incentivadas pelos meios de comunicação. Observa-se que, no conteúdo das mensagens veiculadas, a integradora não dava prioridade às mensagens sobre gestão ambiental. 111 Dentre as mensagens veiculadas pelo técnico, constata-se que a maioria estava relacionada com tecnologias voltadas para produção e produtividade e com gestão empresarial na área econômico-financeira. Com relação à preservação ambiental, verifica-se que apenas um, dentre os 36 produtores, respondeu que o técnico abordava o assunto, conforme Quadros 48, 49 e 50. Quadro 48 - Destino dado aos suínos mortos no município de Concórdia-SC, 1998 (em porcentagem) Estrato Enterrados Queimados Sem padrão I – cabeça II – média III – cola 44,4 38,9 38,9 11,1 11,1 8,3 44,4 50,0 52,8 Média geral 40,43 10,16 49,06 Fonte: Dados da Pesquisa. Quadro 49 - Número de produtores que tinham problemas relativos à proliferação de moscas na propriedade, no município de Concórdia-SC, 1998 Estrato I – cabeça II – média III – cola Média geral Sim Não 88,9 94,4 88,9 11,1 5,6 11,1 90,73 9,26 Fonte: Dados da Pesquisa. 112 Quadro 50 - Número de produtores que tinham problemas relativos à proliferação de borrachudos, no município de Concórdia-SC, 1998 Estrato I – cabeça II – média III – cola Sim Não 77,8 82,4 100,0 22,2 17,6 - 86,7 19,9 Média geral Fonte: Dados da Pesquisa. Todos os estratos apresentavam problemas relacio nados com a proliferação de insetos. Dos produtores do estrato cabeça, 88,9% enfrentavam problemas de proliferação de moscas; do média, 94,4%; e do cola, 88,9%. Quanto à proliferação de borrachudos, do estrato cabeça, 77,8%; do média, 82,4%; e do cola, 100%. Em todos os estratos, grande parte de produtores não obedecia ao padrão para o descarte de suínos mortos. Do total de produtores, 62,8% possuíam esterqueiras havia menos de quatro anos. Quanto ao destino dado ao lixo na propriedade, do total de produ tores entrevistados, 61,1% não obedeciam a nenhum padrão; 13,9% enterravam-no; e 25% queimavam-no. Estes dados refletem a pouca ênfase dada às questões educativas de preservação ambiental. O papel das integradoras na região, quanto à questão ambiental, t em sido exigir que os integrados construam esterqueiras adequadas às normas da FATMA, já que aqueles que não o fizerem, ou seja, que não providenciarem sua construção ou a remoção destas para locais adequados (distante dos rios), correrão o risco de serem excluídos do sistema de integração e serão obrigados a pagar multas. A proliferação de moscas e borrachudos era decorrente do destino dado ao lixo, aos suínos mortos e aos dejetos e da carência de informação sobre educação ambiental. Alguns produtores tinham informação e interesse em realizar o manejo adequado, mas muitos não conseguiam o correto manejo 113 dos dejetos, em razão da grande quantidade produzida e do escasso capital disponível para construção adequada de esterqueiras, como exige a legislação, e da dificuldade de alocar mão-de-obra permanente ou temporária (recursos escassos). Nesse contexto em que as questões ambientais eram preocupantes, a responsabilidade social e final era atribuída aos produtores rurais. 114 4. RESUMO E CONCLUSÕES No estudo de caso, analisou-se o processo de comunicação interpessoal a partir da Teoria de Aprendizagem, de Berlo (1963), tendo como unidades de análise os 36 produtores de leitões integrados e os dois técnicos da assistência técnica da Sadia Concórdia S.A. Classificaram-se esses produtores pelo método denominado de Gestão Agrícola, baseado no levantamento de dados físicos e econômicos das propriedades, a partir da Margem Bruta de Produção, agrupando-os em três classes - cabeça, média e cola. Conforme os objetivos propostos, caracterizou-se o universo desses produtores, dos técnicos, da organização interna de produção, assim como a relação de comunicação interpessoal entre integradora-integrado. Este estudo, longe de apresentar u ma conclusão definitiva, permitiu melhor compreensão do processo de construção da relação de comunicação, das mensagens e de seus significados. Permitiu, também, constatar as expectativas de ambos os envolvidos no processo de comunicação, para que ocorresse a mudança de comportamento e se efetivasse a aprendizagem. Dos produtores entrevistados, 100% eram do sexo masculino e procedentes do meio rural; o ciclo de atividade anterior predominante era de ciclo completo (96,6%); a idade média dos produtores era de 42 anos; o estado civil da maioria deles (88,9%) era casado; a média de filhos, por estrato, era de três; a origem da maioria (91,06%) era italiana; e a maioria havia realizado o 1.o grau, tendo 41,7% concluído a 4.a série. 115 Dos produtores analisados, 46,29% estavam vinculados, comercialmente, à integradora, num período de 20 a 35 anos (tempo contado desde que a família de origem se vinculou à integradora). Quanto às características internas de produção, observa-se que o contrato existente entre integradora-integrado era oral, e a principal razão que levou esses produtores a participarem do sistema integrado era a facilidade de comercialização, de transporte dos produtos e de assistência técnica. Com relação ao trabalho na atividade, os produtores tr abalhavam, em média, cerca de 15 horas/dia. A média dos estratos de produtores que possuíam plano de saúde era de 44,43%. Desses produtores, 100% eram proprietários e 11,11% ainda arrendavam terra para o cultivo do milho, pois o relevo acidentado e pedregoso não favorecia a mecanização dessas propriedades. As propriedades localizavam-se a uma distância média de 14 km tanto da sede do município de Concórdia como da integradora. A área média das propriedades era de 30,6 ha. A posse da terra, a distância e a área estavam dentro do limite imposto pela integradora para vinculação ao sistema de integração. A área média exclusiva para a suinocultura, nos estratos, era de 10,33 ha. Constata-se que 52,77% dos produtores pretendiam ampliar a suinocultura, mediante crédito agrícola, enquanto 52,73% não o utilizavam. O estrato cabeça era o que mais evitava utilizar crédito agrícola, enquanto os média e cola eram os que mais o utilizavam, com vistas em melhorar suas condições técnicas e produtivas e em adequar-se ao padrão tecnológico exigido. Comparando-se as moradias com as instalações suinícolas, observase que estas últimas tinham bom padrão, o que demonstra a preocupação desses produtores com a manutenção do padrão estabelecido e com o atendimento às exigências da integradora. Embora estivessem vinculados ao sistema de produção suinícola integrado e subordinados ao capital, buscavam diversificar a unidade produtiva por meio de explorações consideradas como fundamentais para o auto-consumo da propriedade, além da exploração comercial. Para isso, 90,7% era a média dos estratos de 116 produtores que contavam com o apoio da família no planejamento geral das atividades na propriedade. Quanto à atuação exclusiva da mão-de-obra familiar, esta ocorria em 86,66% dos estratos. No estrato cabeça, a participação da família era de 100%, eficiência explicada, parcialmente, pelo comprometimento da produção familiar. A alocação média de mão-de-obra, nos estratos, estava distribuída em permanente (55,53%) e temporária (25,53%). O “sobretrabalho” da produção familiar, em todos estratos, era feito pela mão-de-obra familiar, enquanto inserida no sistema de integração para sua reprodução. A confirmação dessa apropriação torna-se evidente quando se verifica, na planilha de gestão agrícola da atividade, o item mão-de-obra familiar, considerando-se como custo de produção somente a mão-de-obra externa à propriedade, o que implica que o principal papel desses produtores era o fornecimento de mão-de-obra para a integradora. Dentre outras constatações, observa-se que, com a passagem da forma tradicional de produção, ou seja, de ciclo completo para a especialização do processo produtivo, novos atributos passaram a ser considerados, o que dificultava a assimilação de tais conteúdos veiculados pelos produtores, sobretudo por não perceberem vantagens imediatas. Sendo assim, as ações da integradora deveriam contemplar estruturais como os pessoais, tanto os elementos tecnológicos e considerando-os como sua base de funcionamento. Os atributos desses produtores, considerados pela integradora, eram inovação, maiores possibilidades de investimentos e maior qualificação. Os produtores de leitões selecionados demonstraram capacidade de assegurar a reprodução da qualidade genética das matrizes. Essa seleção, na prática, era uma forma sutil de excluir os produtores de ciclo completo que não possuíam meios para aumentar a sua escala de produção e não tinham interesse em especializar-se na terminação. Essa especialização pressupunha uma rotinização dos processos de produção na suinocultura, tornava a atividade estável e previsível, além de salvaguardar a qualidade dos produtos e serviços, assim como custos, quantidade ou prazo de produção. Mesmo assim, 40,74% dos produtores não adotavam todas as recomendações e procedimentos preconizados sobre qualidade total e administração rural. 117 A constante desmotivação desses produtores era motivo de entrave da adoção desses procedimentos e rotinas. A motivação era uma tarefa de responsabilidade única e total dos produtores. A integradora esperava que eles se sentissem motivados; no entanto, o fenômeno motivação não era tão simples, já que era um processo psicológico, cuja compreensão e abordagem dependiam da concepção que se tem da complexidade da natureza humana e das condições que a influenciam. Os produtores, apesar do empenho na atividade, não percebiam a relação vantajosa entre custo e benefício que os estimulasse, ou seja, esperavam alguma recompensa financeira mais satisfatória. A participação dos produtores em treinamentos era fundamental para a especialização destes. Constata-se que o estrato cabeça era o mais receptivo a treinamentos (87,5%), sendo o cola o menos receptivo (77,8%). Do total de produtores que receberam treinamento pela integradora, verifica-se que a média dos estratos era de 83,33%. As áreas de interesse, de acordo com a prioridade desses produtores, eram de Administração Rural, Tecnologia e Promoção Social. Os estratos cabeça e cola apresentaram maior interesse em treinamento nas área de Administração Rural. Quanto à participação em cursos por meio de outras instituições, verifica-se que 50% dos produtores recebiam treinamentos, sendo o estrato cola o que mais participava destes. Os produtores entrevistados não estavam expostos a outros programas de assistência técnica concorrente nessa atividade, o que aumentava as possibilidades de que dessem a resposta esperada pela integradora, pois a redução dos estímulos disponíveis aumentava a efetividade dos estímulos que permaneciam. A busca de informações externas revela que esses produtores não estavam isolados de outros estímulos. Ao analisar-se o perfil dos dois técnicos, observa-se que eles tinham a mesma etnia e procedência dos produtores, ou seja, eram do sexo masculino e possuíam semelhanças culturais. O tempo de vinculação profissional à integradora era de 5 e 10 anos, o que demonstra certa experiência e conhecimento na atividade. Quanto ao nível de instrução, os dois técnicos tinham formação média (técnico-agropecuário), e um deles era formado em Biologia. Mediante a leitura de teses, artigos 118 científicos, revistas especializadas e participação em eventos, tentavam manter-se informados. A relação de comunicação efetiva era realizada pelos técnicos por meio de visitas individuais aos produtores, ocasião em que transmitiam tecnologias, procedimentos e padrões sobre qualidade total e administração rural. O modelo de comunicação utilizado por eles era o estímulo-resposta. Apesar de ser uma representação um tanto simplificada da realidade, era uma ferramenta de trabalho utilizada pela integradora para transmitir procedimentos e inovações. Entre os canais disponíveis para transmissão de mensagens, o interpessoal era o mais utilizado pela assistência técnica. Para os técnicos, o objetivo da comunicação era a mudança de comportamentos, ou seja, fazer com que o indivíduo aprendesse. Servia também para informá-los, orientá-los, motivá-los e para coletar e divulgar dados sobre tecnologias, produção e produtividade. As mensagens veiculadas durante as visitas eram facilmente compreendidas por 100% dos produtores, por meio de linguagem acessível (palavras do dia-a-dia). Os produtores afirmaram que o técnico tinha habilidade para comunicar-se. Essa “habilidade” era compatível com a similaridade cultural que os produtores tinham com os técnicos, visto que pertenciam a mesma origem étnica e procedência, o que, conseqüentemente, aumentava a possibilidade de empatia na relação de comunicação. A posição exercida pelos técnicos dentro do sistema social influenciava a comunicação, que, na maioria das vezes, era “dirigida”. A comunicação interpessoal, mediante visita individual na propriedade, era o método mais utilizado pela assistência técnica, por ser o mais eficiente na consecução de seu objetivo, que era convencer os suinocultores a modificarem comportamentos. Esse método individual exercia influência direta, de caráter pessoal, nesses produtores, facilitando a introdução de novas práticas e conhecimentos e permitindo a realização do contato mais íntimo com o indivíduo. Dessa forma, o produtor era convenientemente informado sobre os benefícios dessa nova tecnologia. Observa-se que os produtores, na sua maioria, recebiam expressiva carga de estímulos, razão por que buscavam informações. Segundo os técnicos, eles sofriam ameaças decorrentes da oscilação do mercado, dos 119 altos custos de produção, dos preços de insumos e do rigor da legislação ambiental. Para os produtores, os técnicos eram tidos ora como representantes da integradora, ora como aqueles que compartilhavam, mutuamente, os objetivos. Segundo eles, a situação dos técnicos não era muito confortável e a empatia estabelecida entre eles minimizava a situação de “conflito vivido”. O êxito dos agentes de mudança tinha relação positiva com sua empatia, embora estes tivessem, na maioria das vezes, tanta empatia com os agricultores que acabavam assumindo o papel da clientela, perdendo o desejo de transformá-los. A semelhança, muitas vezes, fazia com que os produtores não percebessem a diferenciação de papéis nesse processo, assim como a hierarquia e a intenção dos técnicos. Sugere-se que o técnico, como agente de mudança, exerça mais influência nas decisões de inovar, esteja atento às tecnologias de ponta, busque mais conhecimentos sobre as ciências do comportamento para combinar ciência e pessoas, tecnologia e humanismo, e conheça metodologias mais participativas. Os técnicos reconheceram que não estavam habilitados em áreas de desenvolvimento humano e de comunicação e não utilizavam recursos instrucionais atrativos, ou seja, apenas usavam a fala para repassar as informações aos produtores. Os técnicos deveriam conscientizar os produtores da importância da mudança, no sentido de levá-los a buscar o próprio desenvolvimento, pois eles são o elo na relação de comunicação-mudança; auxiliá-los no diagnóstico de problemas, traduzindo intenções em ações; e preveni-los contra a descontinuação. Os conteúdos (mensagens tecnológicas e de gestão empresarial) eram predefinidos e veiculados por ocasião da visita, que ocorria com determinada freqüência, ou seja, semanal, quinzenal ou mensalmente. Enfatizavam mensagens tecnológicas e de gestão empresarial como um dos principais elementos que afetam o funcionamento das economias da produção familiar. Muitas vezes, eram responsáveis pelas transformações profundas da unidade produtiva e eram determinantes na relação com a integradora. Esses conteúdos estavam voltados para a importância da especialização e da realização dos procedimentos, vistos como instrumentos que possibilitavam a 120 difusão de tecnologias, a melhoria da eficiência produtiva e o maior desempenho dessas unidades de produção, embora não estivessem desvinculados da intenção ou do propósito para a qual ela é comunicada. O discurso renovado da integradora, e mbora estivesse permeado de conceitos de administração rural, gestão agrícola e qualidade total, baseava-se na especialização de determinada fase produtiva, o que traduzia o nítido interesse na seleção dos suinocultores. Verifica-se que, no conteúdo das mensagens veiculadas por meio da comunicação interpessoal, a integradora não privilegiava, efetivamente, mensagens educativas sobre questão ambiental. Percebe-se, também, que não havia incentivos também por parte de órgãos públicos competentes (via políticas públicas), no que diz respeito à viabilização de incentivos para a construção de esterqueiras e ao tratamento de dejetos de suínos. O ônus da questão ambiental continuava sendo creditada à população circunvizinha e aos produtores rurais. A exigência de construção de esterqueiras e a fiscalização refletiam, necessariamente, o correto manejo desses dejetos. Inicialmente, os produtores preferiam solicitar informações do técnico, e o estrato que mais procurava essas mensagens era o cola. A segunda fonte de informação preferida era o rádio (100% dos entrevistados ouviam rádio e o informativo da Sadia). Não havia programas locais específicos a esse público, com enfoque na área de promoção social, os quais atendessem à necessidade de informação desses produtores. Dos produtores estudados, 53,73% liam regularmente, o que facilitava a aprendizagem. A integradora tentou minimizar o esforço de aprendizagem desses produtores por meio da implementação de procedimentos e rotinas padronizados por tarefas na atividade suinícola, com base nos padrões da qualidade total. Esse método objetiva simplificar o processo de aprendizagem, para que haja resposta rápida. Mesmo assim, muitos não se adequavam às exigências da integradora, pois a seleção e a interpretação dos estímulos relacionavam-se com suas expectativas de recompensa. A integradora deixou a desejar no que diz respeito ao valor da recompensa e ao tempo de entrega desta. De acordo com os produtores, a recompensa oferecida pela integradora não era satisfatória, seja física, social ou economicamente, ou seja, eles não tinham tido o retorno pelo investimento 121 que vinham realizando na atividade. A inexistência da “recompensa” desestimulava o hábito de melhorar, ou seja, gerava o seu enfraquecimento. Esses produtores afirmaram que não estavam recebendo nenhum tipo de recompensa relacionadas com as que tinham no início da vinculação comercial com a empresa. As velhas práticas de premiação por produtividade, utilizadas pela integradora (geladeiras, fogões, freezers, eletrodomésticos, móveis, automóveis, máquinas, implementos agrícolas e tratores), foram substituídas por novas exigências (rendimento da carcaça, conversão alimentar e produtividade) e por pouco retorno financeiro. A comparação entre o passado e o presente gerava certa nostalgia aos produtores, que falavam, com certo saudosismo, de tempos passados, em que o retorno econômico era maior e a empresa proporcionava maiores recompensas. Os produtores estavam conscientes de que possuíam tradição na atividade, muita experiência e gostavam de desempenhá-la, além de já terem investido muito em instalações. Por ocasião da pesquisa, estavam desestimulados, pois sentimentos de insegurança e medo estavam presentes, concomitantemente com a aversão a riscos. Os técnicos possuíam simbolismos assim como os produtores, embora o nível de instrução e o papel desempenhado os diferenciassem. Como representantes da integradora, os técnicos ocupavam posição privilegiada (dominante) na relação de comunicação e cada qual, na sua relação de comunicação, lutava continuamente, conforme suas reservas e instrumentos, sem, no entanto, constituírem relação antagônica. Quanto ao hábito de leitura, os produtores, em sua maioria, liam, mas não tinham tempo para se dedicar à leitura e ao lazer e os poucos que liam assinavam revistas e jornais. O Jornal Fomento, mesmo não tendo periodicidade certa, transmitia, segundo 79,63% dos produtores, informações adequadas, embora fosse importante que também transmitisse informações sobre saúde, educação e mercado. Segundo os produtores, as mensagens veiculadas no Jornal Fomento eram relacionadas com tecnologias, administração da propriedade (gestão agrícola e qualidade total) e promoção social (entretenimento e meio ambiente), razão por que a maioria deles não tinha dificuldades de entendê-lo. 122 A integradora dispunha, por ocasião da pesquisa, de meios como rádio, jornal, revistas e folhetos para veiculação de comunicação; no entanto, poderia veicular a informação principalmente por meio de uma programação no rádio, a qual enfocasse temas tecnológicos, de gestão e de promoção social, com maior tempo de veiculação. Os técnicos não estavam utilizando outros recursos instrucionais atrativos, como vídeos, fotografias, cartazes, figuras, etc., embora estes constituíssem um código de comunicação concreto e objetivo que poderia receber atenção dos agricultores. Os produtores apresentaram interesse em adquirir equipamentos que facilitassem sua aprendizagem, com o objetivo de tornar a unidade produtiva mais eficiente. Para isso, queriam adquirir computadores e vídeos. Dos produtores entrevistados, nove possuíam computador, enquanto seis pretendiam adquiri-lo. Esse interesse em adquirir computador revela a necessidade de se adequarem a mais uma exigência da integradora, já que esta pretendia implantar o projeto “Desenvolvimento de Fornecedores do Programa de Qualidade - TQS”, partindo da necessidade de aumentar a eficiência de Gestão da Qualidade nas propriedades rurais. A tentativa da integradora de profissionalizar es ses produtores mediante treinamentos é constatada na promoção de curso sobre produção de suínos (leitões). Quanto aos treinamentos e à busca de informações, observa-se que a grande maioria dos entrevistados recebia algum tipo de treinamento efetivado pela integradora, enquanto a metade dos produtores realizava treinamento também em outras instituições. A busca de informações em outras instituições revela que esses produtores não aceitavam, passivamente, somente as informações fornecidas pela integradora. Constata-se, de forma análoga a outros estudos, que há um ponto comum entre os integrados, ou seja, apesar das dificuldades, eles não queriam deixar de ser integrados; o que desejavam era melhorar seu poder de barganha junto à empresa integradora. A integração social desses produtores era feita por meio do vínculo com o trabalho, com a família e com a comunidade, e por meio de eventos (festividades religiosas e missas). 123 A Associação dos Produtores de Leitões poderia oportunizar maior espaço para interação, organização e fortalecimento dessa categoria (maior poder de barganha junto à integradora). Do total de produtores entrevistados, 46,3% creditavam ao conjunto de estruturas cooperativa, sindicato, associações e organizativas (agroindústria, instituições governamentais) a responsabilidade de auxiliá-los na busca de alternativas para superação de problemas. Sugere-se que a integradora planeje, participativamente com técnicos e produtores, a promoção de cursos e treinamentos nas áreas de desenvolvimento humano, comunicação e gestão ambiental, e busque formas alternativas de incentivar esses produtores a melhorar a auto-estima. Essa programação poderia ser realizada mediante parcerias, pois, no modelo atual, a participação ativa do produtor só é levada em consideração na fase final, razão pela qual se sentem desmotivados e mesmo desobrigados a dar a devida importância ao planejamento prescrito. Neste estudo, a comunicação interpessoal revelou que este procedimento de comunicação é uma forma de tratar tecnicamente a atividade de interesse da empresa e dar assessoria gerencial à propriedade. A integradora exerce, por meio da assistência técnica, uma espécie de controle (do produtor e das condições ambientais), fiscalizando-os e realizando auditoria na unidade produtiva como meio de otimizar os resultados. A comunicação interpessoal é considerada pela integradora, muitas vezes, como um instrumento efetivo e suficiente, em si mesmo, para assegurar a eficiência e a eficácia do sistema de integração e do próprio processo de aprendizagem. A comunicação dos técnicos é percebida como parte integrante de uma superestrutura ideológica destinada a reforçar atitudes necessárias à perpetuação da produção capitalista e a legitimar sua dominação. Nesse modelo, a comunicação, que é paternalista, unilinear e vertical, objetiva encurtar o tempo entre o lançamento das inovações tecnológicas mediante procedimentos e das rotinas. Sua prática leva os produtores à dependência cada vez maior da assistência técnica da empresa. Do ponto de vista do integrado, embora a relação fosse amistosa, havia certa desconfiança e até mesmo descrédito por parte destes, conforme se 124 percebe nesta fala: ... o técnico é mais um contador de leitões e vendedor de ração. A prioridade dada à veiculação de mensagens tecnológicas e de gestão empresarial revela a lógica da integradora em construir mecanismos que permitam respostas às expectativas da empresa, o que comprova a sua grande preocupação com a lógica produtivista. A “assistência técnica”, como o nome já diz, considerava os produtores apenas nas fases finais do processo, razão pela qual estes sentiam desmotivados e, ao mesmo tempo, desobrigados a dar a devida importância ao planejamento executado. Esse enfoque voltado para o produtivismo tem caráter imediatista e não toma o indivíduo como agente no processo, mas como instrumento de persuasão, incapaz de agir e refletir sobre o mundo para transformá-lo. O estado de constante preocupação desses produtores servia de bloqueio para que alguns atingissem determinadas exigências, o que, conseqüentemente, dificultava a aprendizagem. Esses fatores precisam ser considerados, pois, sob condições de tensão (de “ stress”), ocasionam um “fechamento”, já que, quando os produtores verificavam que suas necessidades não coincidiam com a disponibilidade da recompensa oferecida, eles se fechavam e não adotavam, de forma eficiente, essas tecnologias e esses métodos de gestão. As recompensas econômicas, aliadas às de motivação, podem satisfazer às necessidades reais e à efetivação das adoções das implantações de rotinas e procedimentos. Alguns autores, como BORDENAVE e PEREIRA (1977), consideraram essa abordagem de comunicação verticalizada como “anti-educativa”, já que era incapaz de desenvolver nos indivíduos a habilidade de identificar seus próprios problemas, entendê-los e buscar soluções apropriadas. Isto torna relevante os programas de educação e capacitação dos suinocultores, uma vez que, sem a adequada preparação da mão-de-obra, não serão alcançadas as metas de produtividade que tornam a empresa competitiva. Defenderam a utilização de estratégias de ação em grupos cujos interesses são comuns, pois essas categorias sociais têm diferentes interesses que podem mesmo ser conflitantes, podem ter visões distintas, diferentes problemas, acesso 125 diferenciado aos benefícios institucionais da sociedade, diferentes níveis de facilidades ou dificuldades e diferentes dimensões de poder. Na empresa estudada, por meio dos questionamentos e dos depoimentos informais dos produtores integrados aos técnicos, pôde-se perceber a tensão vivida por ambos. Por um lado, os produtores eram excessivamente cobrados pela integradora; por outro, os técnicos também o eram. O técnico veiculava mensagens ao produtor com a intenção de que estes aprendessem e melhorassem suas condições socioeconômicas, no entanto, não compreendiam o motivo pelo qual os produtores não adotavam essas tecnologias. A introdução de novas tecnologias e procedimentos, embora considerada necessária, muitas vezes originava resistências. Esses técnicos desconheciam a racionalidade que permeava as ações desses produtores, pois não estavam familiarizados com teorias de comunicação, de aprendizagem e de psicologia, em resumo, desconheciam a questão complexa que envolvia a modificação de comportamentos. Os produtores, embora percebessem que os técnicos impunham procedimentos e rotinas, sentiam amizade por eles, visto que compreendiam a situação desses técnicos, pois sabiam que eles não tinham autonomia e condições de fazer mais do que faziam, já que estavam numa posição intermediária na relação de comunicação. Os conteúdos veiculados e os procedimentos da assistência técnica revelavam uma ação de tutoria, fiscalização e auditoria, pois as mensagens que visavam à produção, à produtividade via tecnologia e ao gerenciamento da unidade produtiva eram exigentes e impositivas, dado que controlava e perpetuava a relação de dependência. Nesse sentido, o planejamento e a seleção de conteúdos a serem trabalhados, bem como a forma de exploração metodológica desses conteúdos, deveriam sofrer alterações, uma vez que a inovação não pode se reduzir apenas a mudanças no que se ensina e no que se aprende, o ideal é como se ensina e como se aprende. Alguns produtores integrados apresentaram, mediante atitudes, formas de resistência que se refletiam na não-utilização da tecnologia prescrita pelo técnico. 126 Acredita-se que a integradora deveria usar modelos alternativos de comunicação dialógica, cognitivos, morais e motivacionais, principalmente para que os produtores pudessem ser capazes de, por meio do bem-estar físico, promover o auto-desenvolvimento socioeconômico. 127 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, V.V.P. Colonos e agroindústria: as múltiplas faces da integração. Estudo de caso sobre pequenos produtores integrados de suínos no município de Ouro - SC. Campina Grande: UFPB, 1993. 141 p. ALVES, S.R.S. Modelo bioeconômico e seu uso na tomada de decisão para adoção da tecnologia de inseminação artificial para suínos . Viçosa: UFV, 1996. 71 p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) Universidade Federal de Viçosa, 1996. ALVES, S. Revigorando a cultura da empresa: uma abordagem cultural da mudança nas organizações, na era da globalização. São Paulo: Makron, 1997. 151 p. ARAÚJO, J.G.F. Adoção de tecnologia e eficiência da exploração leiteira no município de Leopoldina-MG. Viçosa: UFV, 1981. 60 p. Dissertação (Mestrado em Economia Rural) - Universidade Federal de Viçosa, 1981. BERLO, D.K. O processo da comunicação: introdução à teoria e prática. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1963. 296 p. BONILLA, J.A. Qualidade total na agricultura: fundamentos e aplicações. Belo Horizonte: Centro de Estudos da Qualidade Total na Agricultura, 1994. 344 p. BONILLA, J.A. Padronização na agricultura: conceitos básicos sobre padronizaçã . Belo Horizonte: CEPEAD/FACE/UFMG, 1995. 32 p. BORDENAVE, J.E.D. Além dos meios e mensagens: introdução a comunicação como processo, tecnologia, sistema e ciência. Petrópolis: Vozes, 1987. 110 p. 128 BORDENAVE, J.E.D. O que é comunicação. São Paulo: Brasiliense, 1988. 105 p. BORDENAVE, J.E.D., PEREIRA, A.M. Estratégia de ensino: aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1977. 312 p. BOWDITCH, J.L., BUONO, A.F Elementos organizacional. São Paulo: Pioneira, 1992. 223 p. de comportamento BRANDENBURG, A., FERREIRA, A.D. Os agricultores e suas estratégias: a relação contratual com as agroindústrias. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, v. 33, n. 3, p. 63-82, 1995. CANEVER, M.D. Negócios suínos no Brasil: presente e futuro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE VETERINÁRIOS ESPECIALISTAS EM SUÍNOS, 8, 1997, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu: ABRAVES, 1997. p. 63-69. CREMA, R. Análise transacional. Porto Alegre: UNIPAZ, 1984. 243p. FERREIRA, A.D.D. Agricultores e agroindústrias: estratégias, adaptações e conflitos. Ensaios e Debates, 1995. GEHLEN, I. As representações sociais dos produtores, dos mediadores e dos agroindustriais sobre a sociedade e a construção do novo social . Porto Alegre: UFRGS, 1996. 147 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1996. GOMES, M.F.M., GIROTTO, A.F., TALAMINI, D.J.D., LIMA, G.J.M.M. Análise prospectiva do complexo agroindustrial. Concórdia: EMBRAPA/CNPSA, 1992. 108 p. (Documentos, 26). GOMES, M.F.M., ROSADO, P.L. O agronegócio de aves e suínos. In: CONGRESSO NACIONAL DOS ESTUDANTES DE ZOOTECNIA, 1998, Viçosa. Anais... Viçosa: UFV, 1998. p. 31-39. GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS AGROINDUSTRIAIS – GEPAI. Gestão agroindustrial. São Paulo: Atlas, 1997. 323p. HOLZ, E. Gestão agrícola. In: SEMANA DE ATUALIZAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO RURAL, Lages, 1991. Anais... Florianópolis: EPAGRI/ CTA do Planalto Serrano Catarinense, 1992. p. 113-132. MANUAL de administração rural. Concórdia: Sadia, 1998. não paginado. (Material interno). MANUAL do suinocultor integrado. (Material interno). Concórdia: Sadia, 1995. não paginado. 129 MIOR, L.C. Empresas agroalimentares, produção agrícola familiar e competitividade no complexo de carnes. Rio de Janeiro: UFRJ, 1992. 394 p. Dissertação (Mestrado em Sociologia Rural) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1992. MIRANDA, C. A tecnologia agropecuária e os produtores familiares de suínos do oeste catarinense. Porto Alegre: UFRGS, 1995. 218 p. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1995. PAULILO, M.I.S. Produtor e agroindústria: consensos e dissensos. Florianópolis: UFSC, 1990. 182 p. PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA. Plano diretor da propriedade rural - PDPR. Concórdia: 1994. 32 p. ROGERS, E.M. Elementos da difusão de inovações. In: WHITTING, G.E., GUIMARÃES, L. (Orgs.). Comunicação de novas idéias. Rio de Janeiro: Financeiras, 1969. p. 23-38. ROGERS, R.M., SHOEMAKER, F.F. La comunicaccion de innovaciones. México: Herrero Hermanos, 1974. 376 p. SAS user’s guide: statistics, version 6.10 edition. Cary, NC: SAS institute Inc., 1995. 956 p. SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS SEBRAE. A questão ambiental: o que todo empresário precisa saber. Florianópolis, 1996. 73 p. SORJ, B., POMPERMAYER, M.J., CORADINI, O.L. Camponeses e agroindústria. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. 119 p. TALAMINI, D.J.D., DALMAZO, N. A inserção da administração rural na atividade agrícola. In: SEMINÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL, 2, 1992, Concórdia. Anais... Concórdia: EMBRAPA, 1992. p. 57-74. VALE, S.M.L.R., GOMES, M.F.M. Análise econômica da empresa rural. ed. rev. e atualizada. Brasília-DF: ABEAS, 1998. 65 p. WILKINSON, J. O estado, a agroindústria e a pequena produção. São Paulo: Hucitec, 1997. 224 p. 130 APÊNDICES 131 APÊNDICE A TAREFA Desmamar leitões. ATIVIDADE CRÍTICA 1) Preparar a baia para o desmame; 2) Tirar a porca da baia e levá-la até as baias da cobertura; 3) Colocar os leitões nas baias de desmame, separando os machinhos das fêmeas; e 4) Oferecer ração como descrito na tabela. RESULTADOS ESPERADOS Leitão desmamado, sem diarréia ou outras doenças. AÇÕES CORRETIVAS Caso apareçam leitões com diarréia, edema ou outra doença, deve-se avisar o técnico e rever o padrão. Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico. 132 TAREFA Proporcionar ambiente confortável para o leitão. Cuidados com o escamoteador. ATIVIDADE CRÍTICA 1) Inicialmente, colocar cama no escamoteador; 2) Ver se a temperatura dentro do escamoteador está boa, observando a forma como os leitões estão deitados, comparando-os com as figuras; 3) Trocar a cama, quando estiver suja ou molhada; 4) Limpar, lavar e desinfetar a baia e o escamoteador, quando as porcas forem retiradas e os leitões desmamados; e 5) Pintar a baia e o escamoteador. RESULTADOS ESPERADOS Contribuir para que o local onde fica o leitão quando este não estiver mamando tenha cama seca, limpa e temperatura no ponto certo. AÇÕES CORRETIVAS Se os leitões não usarem o escamoteador, ou ficarem todos amontoados dentro do escamoteador, verificar atividades críticas e avisar o técnico. Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico. 133 TAREFA Adaptar reprodutores. ATIVIDADE CRÍTICA 1) Preparar o local para colocar os reprodutores; 2) Colocar uma leitoa a cada um metro e meio da baia. Colocar, no máximo, seis leitoas por baia; 3) Deixar o macho sozinho na baia, que deve ter de 8 a 10 m 2; 4) Oferecer aos reprodutores a mesma ração da porca em lactação, ou seja, 2 kg por dia, dado meio a meio; 5) Colocar medicamento na ração durante 30 dias; 6) Seguir o esquema de vacinação da propriedade, quando necessário; 7) Evitar que ocorram problemas de saúde com os reprodutores; e 8) Realizar o desafio sanitário, oito dias após o recebimento sanitário. RESULTADOS ESPERADOS Evitar que os reprodutores tenham problemas de adaptação na propriedade e que não fiquem doentes. AÇÕES CORRETIVAS Quando os reprodutores não respondem ao tratamento, deve-se chamar o técnico. Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico. 134 TAREFA Atender ao parto. ATIVIDADE CRÍTICA 1) Ficar atento para os sinais de parto da porca; 2) Acompanhar o parto todo o tempo; 3) Realizar toque vaginal, quando a porca fizer força e os leitões não nascerem. Desinfetar o local, lavar e desinfetar as mãos e os braços; usar luva plástica; passar azeite na luva; colocar a luva na mão e introduzi-la na porca; 4) Limpar a boca e o focinho do leitão recém-nascido; 5) Secar o leitão com pano seco; 6) Amarrar e cortar o umbigo dois dedos abaixo da barriga; 7) Cortar os dentes rente à gengiva e não machucá-la; 8) Cortar duas partes das três partes do rabo; e 9) Desinfetar o umbigo e o rabo cortados. RESULTADOS ESPERADOS Contribuir para que o leitão fique com os de ntes bem cortados; para que a gengiva não fique machucada; para que o rabo fique bem cortado; e para que o umbigo fique bem cortado e amarrado. AÇÕES CORRETIVAS Aplicar medicamento na porca sempre que for feito o toque com a mão; Chamar o técnico, caso tenha dúvida a respeito do amarrio do umbigo; e Requisitar o técnico, caso tenha dúvida a respeito do corte do rabo do leitão. Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico. 135 TAREFA Alojar leitões na creche. Cuidados que se deve ter ao levar os leit ões para a creche. ATIVIDADE CRÍTICA 1) Limpar a baia; 2) Desinfetar a baia, após a limpeza desta; 3) Colocar a cama, após a baia ser seca; 4) Verificar se o bebedouro está funcionando; 5) Verificar se o comedouro funciona; 6) Tirar os leitões da maternidade e formar lotes com leitões de mesmo tamanho; e 7) Colocar na creche três leitões por metro quadrado. RESULTADOS ESPERADOS Obtenção de três leitões por metro quadrado da creche. AÇÕES CORRETIVAS Toda vez que tiver mais de três leitões por metro quadrado na creche, deve-se observar se há atividades críticas e contactar o técnico. Observação: Se tiver dúvida, chame o técnico. 136 APÊNDICE B ANÁLISE DE CUSTOS UTILIZADA PELA INTEGRADORA Os suinocultores rurais continuarão na atividade por algum tempo, mesmo que pouco ou nada recebam, uma vez que eles não podem, rapidamente, retirar o seu capital investido em bens de produção especializados, com duração de vários anos. Contudo, desgastados os bens de capital, o dinheiro não será reinvestido nesse negócio. Por este motivo, a preocupação é dar condições aos donos dos fatores de produção para que eles continuem a fornecê-los. Para isso, os custos deverão ser classificados em explícitos ou contábeis e implícitos ou econômicos. Custos explícitos ou contábeis são aqueles que englobam os gastos monetários, ou seja, constam de todos os pagamentos efetuados pelo uso dos recursos comprados ou alugados. Custos implícitos ou econômicos são aqueles que não englobam gastos monetários. Nessa abordagem, constam os fatores pertencentes à empresa e utilizados no processo produtivo (ex.: custo de oportunidade, depreciação, etc.). Em geral, os custos explícitos e implícitos são divididos em fixos e variáveis. Os custos fixos são inalteráveis no curto prazo; o valor total independe do nível de produção; ocorre mesmo que os recursos não sejam utilizados; não 137 se incorporam totalmente ao produto no curto prazo, fazendo-o em tantos ciclos quanto permitir sua vida útil; seu conjunto determina a capacidade de produção da atividade, ou seja, as escalas de produção. Custo fixo total (CFT) é a soma de vários tipos de custos fixos e inclui, usualmente, os componentes depreciação, seguro, impostos e juros. Custo fixo médio ou unitário (CFMe) expressa o custo fixo por unidade de produto. É determinado pela equação CFMe = CFT/Total Produzido em Unidades Físicas (Y). Como o CFT é um valor fixo ou constante, independente do nível de produção (no curto prazo), o CFMe irá decrescer, continuamente, com o aumento de produção. Produtividade refere-se ao total produzido em unidades físicas (Y) por unidade de produção. Ex: terminados/porca/ano. O aumento da produtividade é a única maneira viável de se reduzir o CFMe e, conseqüentemente, tornar o negócio mais rentável economicamente. A análise do CFMe possibilita avaliar se o capital estável empregado no negócio está sendo subutilizado ou não. Os custos variáveis são alteráveis no curto prazo; as alterações provocam variações na quantidade do produto dentro do ciclo; só ocorrem quando os recursos são utilizados; têm duração inferior ou igual no curto prazo, sendo, portanto, sua recomposição feita a cada ciclo produtivo; incorporam-se totalmente ao produto no curto prazo, não sendo aproveitados (ou claramente aproveitados) para outro ciclo. Itens como semente, ração, fertilizantes, produtos químicos, gastos com sanidade do rebanho, alimentos adquiridos para animais, transporte, Funrural, aluguel de máquinas, serviços com máquinas e com mão-de-obra, em geral, são exemplos de custos variáveis. Os alimentos produzidos na propriedade e fornecidos aos animais, assim como semente para a lavoura, etc., são também custos variáveis e devem ser computados no preço de mercado. O custo variável total (CVT) pode ser obtido pela soma de cada custo variável individual, que é igual à quantidade do recurso comprada, multiplicando-se Custo variável médio ou unitário ( Produzido em Unidades Físicas (Y). 138 CVMe = CVT/Total Da mesma forma, observa-se que o aumento da produtividade, ou seja, o aumento mais que proporcional da quantidade produzida em relação ao aumento do CVT, é que possibilita obter redução do CVMe. A análise do CVMe permite avaliar qual o sistema de produção é mais adequado. A soma do CFT e CVT fornece o custo Total de produção (CT). A soma do CFMe e CVMe fornece o custo total médio (CTMe). Os recursos produtivos da empresa rural, utilizados na suinocultura, segundo a integradora, são terra, capital estável (benfeitorias, máquinas, equipamentos e animais) e circulante (insumos intermediários) e trabalho. As metodologias que determinam os custos de produção devem ser diferenciadas, já que são diferentes os recursos produtivos da empresa rural. Quando a terra utilizada no processo produtivo de dado produto é alugada ou arrendada, o seu custo é fixo e equivale ao desembolso feito para pagar este arrendamento ou aluguel. Se a terra utilizada for própria, a determinação do seu custo deve ser o custo de oportunidade desta, ou seja, o valor que está deixando de ganhar com o uso deste recurso nesta atividade e não em outro uso alternativo. Dois critérios são utilizados, normalmente, para determinar este custo de oportunidade terra: a) O valor do arrendamento pago na região (é um critério muito utilizado); b) O valor de venda da terra vezes uma taxa de juros alternativa recebida, aplicado no mercado financeiro (normalmente, utiliza-se taxa de juros real de 6% ao ano, paga pela poupança). O capital estável engloba os bens de produção duradouros que ajudam na prestação de serviços em vários atos produtivos, como benfeitorias, máquinas, animais de produção (matrizes) e de trabalho. Sobre o capital estável incidem os seguintes custos: a) Depreciação, que é o custo não-monetário que reflete a perda de valor do bem com a idade, com o uso e com a obsolescência. É também um procedimento contábil para gerar fundos necessários à substituição do capital investido, após o término da vida útil. b) Custo de conservação e manutenção do capital, normalmente, é considerado como um custo variável associado ao capital estável, por ter relação com a intensidade de uso deste. Estabelece-se, normalmente, um percentual 139 anual sobre o valor do capital para calcular os custos referentes a conservação e manutenção. c) Custos do capital circulante, cujo uso implica a incidência de custos variáveis. d) Custo de aquisição, dado pela quantidade adquirida do insumo e pelo preço unitário de aquisição deste. e) Juros sobre o capital empatado, que devem ser calculados pelo tempo ( número de meses) de uso do insumo, sendo, portanto, proporcional ao tempo em que o capital ficou empatado para obtenção do produto. f) Custo da mão-de-obra ocasional, que representa o salário pago pela mão-deobra ocasional, utilizando-se o preço de mercado pago pela mão-de-obra na região. A Renda Bruta Total na atividade representa o valor de tudo o que foi produzido durante o ano, tanto para venda ou estoque como para consumo familiar ou para alimentação animal no estabelecimento, expresso em valores monetários. RBT para criações = vendas - compras de animais + diferença de inventário dos animais + autoconsumo. Para converter as produções físicas em valores monetários, deve-se atentar para o uso preços em moeda “forte”, ou seja, calculá-las em valores reais, não-sujeitos a altas taxas de inflação. A análise da Renda Bruta Total, isoladamente, é pouco conclusiva, pois nem sempre uma maior RBT implica um melhor resultado econômico. Torna-se importante comparar os custos associados à obtenção desta RBT. Escolheu-se a variável Margem Bruta (MB), pois é o índice considerado pela empresa como o mais eficiente na análise da atividade ou do produto, visto que ela é dada pela diferença entre a Renda Bruta Total dessa atividade e os custos variáveis totais desta, representada pela fórmula: MB = RBT - CVT. Esta variável serve para medir a eficiência da atividade ou do produto, assim como para classificar os produtores em cabeça, média e cola, num 140 quadro geral de comparação; para analisar o grupo comparativamente; e para comparar a eficiência entre atividades e produtos diferentes. Pode-se determinar a MB por unidade de produção (por hectare, por porca, por aviário, etc.), o que possibilita a comparação entre atividades semelhantes ou entre produtores ou, ainda, entre regiões, etc. Pode-se, também, prever a MB futura, para fazer a programação das atividades a serem desenvolvidas na propriedade ou para fins de orçamentação. A margem bruta não representa o lucro líquido da atividade. As propriedades rurais observadas constituem-se de recursos escassos e procuram alcançar determinados objetivos. A forma de alocação dos recursos escassos e todo o processo de tomada de decisão derivam dessa administração rural. A comparação de resultados, como técnica de gestão da propriedade, é também uma das técnicas de gestão da propriedade utilizadas na classificação dos produtores em cabeça, média e cola. 141 APÊNDICE C GESTÃO DE SUINOCULTURA - UPL Empresa: _____________________ Nome: ________________________________________ Região: _____________ Código: _______ Data: ___/___ Total de controle: _______________ Casos Plante Parições Número de parições reais Número de parições previstas Total de leitões nascidos Total de natimortos Total de mortos ao nascer Primíparas Porcas Leitoa Cachaço Valor total do plante Total de controle Desmamas Número de desmamas Total de leitões desmamados Idade média de desmama Total de eliminados Total de esmagados Total de mortos por doenças Total de mortos outras causas Intervalo desmama/cio Casos Total de controle Coberturas Coberturas realizadas Número de leitoas cobertas Número de retorno ao cio Número de abortos Casos Encargos variáveis Especificações Un. Milho kg Concentrado único kg Crescimento kg Pré-inicial kg Ração terminação kg Premix leitão kg Premix crescimento kg Premix terminação kg Premix reprodução kg Farelo de soja kg Silagem de milho kg Soja tostado kg Triticale kg Trigo kg Farelo de arroz kg Sorgo kg Girassol kg Soro em pó kg Farelo de trigo kg Sal kg Concentrado reprodutores kg Outros-1 kg Outros-2 kg Outos-3 kg Total de controle Peso Valor Total de controle Compras Reposição de machos Reposição fêmeas compradas Reposição fêmeas próprias Quant. Peso Valor Quant. Peso Valor Total de controle Vendas Leitões vendidos Descartes de machos Descartes de fêmeas Venda de refugos (Terminados) Autoconsumo Total de controle 142 Outros encargos Mão-de-obra ocasiona Medicamentos Transportes Luz e combustíve Maravalha Total de controle Valor