doi:10.3900/fpj.2.1.23.p
EISSN 1676-5133
A flexibilidade na autonomia funcional
de idosas independentes
Artigo Original
Rodrigo Gomes de Souza Vale
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da
Universidade Castelo Branco/RJ
Laboratório de Biociências da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco/RJ
[email protected]
Estélio Henrique Martin Dantas
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da
Universidade Castelo Branco/RJ
Laboratório de Biociências da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco/RJ
Bolsista 2 A de Produtividade de Pesquisa do CNPq
[email protected]
Jani Cléria Bezerra de Aragão
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da
Universidade Castelo Branco/RJ
Laboratório de Biociências da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco/RJ
[email protected]
VALE, R.G.S., ARAGÃO, J.C.B., DANTAS, E.H.M. A flexibilidade na autonomia funcional de idosas independentes. Fitness & Performance Journal, v.2, n.1, p. 23-29, 2003.
RESUMO: Este estudo tem como objetivo investigar a evolução da flexibilidade através do método de flexionamento dinâmico e
sua influência na autonomia funcional de 14 idosas (60-87 anos/=66,47,3), participantes por um período de 16 semanas, com
frequência de dois dias/semana, durante 30 minutos por sessão, de um programa de treinamento de flexibilidade da Academia
Capacidade Vital, no município de Araruama/RJ. Foram aplicados, nas fases inicial e final, testes de flexibilidade de goniometria
pelo protocolo LABIFIE (DANTAS, 1997), com um goniômetro de aço 360º (Cardiomed, Brasil), nos movimentos de abdução de
ombro, flexão e extensão de quadril, flexão de joelho, flexão dorsal e plantar do tornozelo, flexão da coluna lombar, e testes de autonomia (ARAGÃO, 2002), C10m, LPS, LPDV e TUG, onde o tempo de realização foi aferido em segundos por um cronômetro (Cásio, Malaysia). O tratamento estatístico usado foi de forma descritiva, com média, desvio padrão, mínimo e máximo, e inferencial,
com teste “t” de student. Os sujeitos apresentaram melhora significativa (p<0,01) para todos os movimentos articulares avaliados.
Nos testes de autonomia, houve redução de todos os tempos marcados, mas de forma expressiva apenas o C10m e LPS (p<0,01).
Palavras-chave: Flexibilidade, flexionamento dinâmico, qualidade de vida, autonomia funcional, envelhecimento.
Endereço para correspondência:
Rua Oscar Clark, 805 – Parque Mataruna – Araruama – RJ – CEP 28970-000
Data de Recebimento: novembro / 2002
Data de Aprovação: dezembro / 2002
Copyright© 2003 por Colégio Brasileiro de Atividade Física, Saúde e Esporte.
Fit Perf J
Rio de Janeiro
2
1
23-29
jan/fev 2003
ABSTRACT
RESUMEN
Flexibility on the Functional Autonomy of Independent Elderly Women
La flexibilidad en la autonomía funcional de las mayores independientes
The study aimed at investigating the evolution of flexibility through a dynamic
flexibility method and its influence over the functional autonomy of 14 elderly
women (aged 60-87 years/´C=66.4±7.3). A flexibility training program from
the Academia Capacidade Vital (Vital Capacity fitness center, in English), in Araruama, Rio de Janeiro State was applied during 16 weeks, frequency of 2 days/
week, during 30 minutes for each session. In the initial and final phases, tests
of goniometric flexibility were conducted according to LABIFE protocol (Dantas,
1997), using a 360o. steel goniometer (trademark Cardiomed, Brazil), and
movements of shoulder abduction, hip flexion and extension, knee flexion, ankle
extension and flexion, lumbar spine flexion, and C10m, USP, UVDP and TUG tests
of autonomy (Aragão, 2002), where the timing of gauged in seconds, timed by a
chronometer (trademark Casio, Malaysia). A descriptive statistical treatment was
used, with mean and standard deviation, minimum and maximum values, and
a T test. The individuals presented a significant improvement (p<0.01) of all the
articulated movements considered. On the autonomy tests, there was a reduction
in all the times that were marked, but only the C10m and USP (p<0.01) were
seen in an expressive way.
Keywords: Flexibility, dynamic flexibility; life quality; functional autonomy; aging.
Este estudio tuvo como objetivo investigar la evolución de la flexibilidad por medio
del método “flexionamiento” dinámico y su influencia en la autonomía funcional
de catorce mayores (60-70 años/´C= 66,4 ±7,3), participantes de un periodo
de dieciséis semanas, con frecuencia de dos días/ semana durante treinta minutos
por sesión, de un programa de entrenamiento de la flexibilidad en el Gimnasio
“Capacidad Vital”, en el ayuntamiento de Araruama/ RJ. Se aplicaron, en las
fases inicial y final, testes de flexibilidad de goniometría por el protocolo LABIFIE
(DANTAS, 1997), con un goniómetro de acero 360º (Cardiomed, Brasil), en los
movimientos de abducción de hombros, flexión y extensión de la cadera, flexión
de rodilla, flexión dorsal y plantar de tobillo, flexión de la columna lumbar, y
testes de la autonomía (ARAGÃO, 2002), C10m, LPS, LPDV y TUG, donde el
tiempo de realización fuera cotejar en segundos por un cronómetro (Casio,
Malaysia). El tratamiento estadístico usado fue de la manera descriptiva, con
media, desviación típica, mínimo y máximo, y inferencia, con test t de student. Los
sujetos presentaran mejoras significativas (p< 0,01) para todos los movimientos
articulares evaluados. Los testes de la autonomía, hubo reducción de todos los
tiempos marcados, sin embargo la forma expresiva sólo el C10m y LPS (p<0,01).
Palabras clave: flexibilidad, “flexionamiento”, dinámico, calidad de vida,
autonomía funcional, envejecimiento.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento não é simplesmente o passar do tempo, mas
as manifestações dos eventos biológicos que ocorrem ao longo
da vida (ROBERGS & ROBERTS, 2002).
Tem sido definido como uma perda progressiva das capacidades
fisiológicas, culminando fatalmente com a morte (ROBERGS &
ROBERTS, 2002).
Como a expectativa de vida média no Brasil está aumentando,
conforme o último censo verificou-se que seu valor meio atual
está em 68,6 anos, sendo 72,6 anos para as mulheres e 64,8
anos para os homens (IBGE, 2000), torna-se evidente para a
sociedade a preocupação da saúde e bem-estar dos idosos.
A qualidade física, flexibilidade, está intimamente relacionada
com a mobilidade articular e a elasticidade muscular, e, portanto, com a autonomia do idoso e sua qualidade de vida, pois a
sua estimulação é fundamental para a saúde do ser humano de
uma forma geral, principalmente sobre o aspecto da motricidade
humana.
Sua definição clássica, segundo Hollman & Hettinger, citado
em Dantas (1999, p. 57) é a “qualidade física responsável pela
execução voluntária de um movimento de amplitude angular
máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações dentro
de limites morfológicos, sem risco de provocar lesão”.
Logo, esta qualidade deve ser estimulada na infância, na adolescência e ao longo da vida adulta, colaborando assim, com
a elevação da autonomia nas atividades diárias das pessoas,
sobretudo na idade avançada, portanto a redução nas amplitudes articulares.
24
Não se encontra na literatura uma idade limitada para começar um tratamento de flexibilidade, mas esta qualidade física
pode ser melhorada em qualquer idade através de exercícios
que promovam a elasticidade dos tecidos moles (ROBERGS &
ROBERTS, 2002).
O objetivo não é atingir os componentes plásticos para aumentar a flexibilidade, mas sim os elementos elásticos (ACHOUR
JÚNIOR, 1999), o que demonstra coerência com apontamentos
de Dantas (1999), que dizem dever-se a perda desta qualidade
física durante o processo de envelhecimento mais a diminuição
da elasticidade muscular que à mobilidade articular.
Não se pode esquecer que o processo de envelhecimento está
quase sempre associado a doenças e incapacidade funcional,
proporcionadas pelo próprio desgaste dos tecidos com o passar
dos anos.
O tecido conjuntivo torna-se mais rígido e as articulações menos
móveis. Há a formação de ligações cruzadas entre as fibrilas do
colágeno adjacente, reduzindo a elasticidade e favorecendo a
lesão mecânica do tecido afetado. Os vasos sanguíneos tornamse progressivamente afetados pela aterosclerose e arteriosclerose,
diminuindo desta maneira, o suprimento de oxigênio a todos os
órgãos do corpo. A massa óssea diminui aproximadamente em
10% do pico de massa óssea até os 65 anos, e cerca de 20% em
torno dos 80 anos (ACHOUR JÚNIOR, 1999; NIEMAN, 1999;
ROBERGS, 2002).
A perda da flexibilidade com a idade pode também ser o resultado de processos de doença degenerativa subjacente, tal como
artrite, pois a redução da amplitude dos movimentos articulares
Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 1, 24, jan/fev 2003
resulta numa contração dos tendões, músculos e outros tecidos
circundantes (NIEMAN, 1999; ROBERGS, 2002).
Estes levantamentos justificam as grandes possibilidades de queda
e suas graves consequências nesta população, podendo levar a
danos irreparáveis.
Com o processo de envelhecimento, a perda da flexibilidade vai
aumentando progressivamente, e isto é inevitável. Ao alcance de
todos está o treinamento físico, com o objetivo de atenuar esta
perda de forma acentuada, pois os indivíduos que realizaram
atividade física quando jovens ou ainda praticam exercícios com
regularidade conseguem retardar este acontecimento.
Relatos de Knapik et al. (2001) reforçam esta realidade, pois
níveis baixos da flexibilidade também são considerados fatores
de risco, possibilitando, então, prejuízos à qualidade da vida dos
indivíduos em questão.
Evitar esta perda é o senso comum dos profissionais que atuam
nesta área. Tornar o idoso o mais independente nas suas tarefas
diárias é a meta de fundamental relevância para a sociedade.
Embora a densidade mineral óssea nesta faixa etária seja reduzida, é possível que a flexibilidade ativa possa ser melhor para as
articulações que precisam mover-se com facilidade em amplitudes
médias, bem como a flexibilidade estática, para uma faixa ampla
dos movimentos (MAGLISCHO, ACHOUR JÚNIOR, 1999).
Este objetivo tem se mostrado promissor, pois o adulto na idade
avançada pode ser motivado a praticar exercícios regulares que
promovam o desenvolvimento da força, resistência e flexibilidade, pois a aceitabilidade do programa de exercícios evolui
consideravelmente em população de adultos mais velhos (CHIN
A PAW, 2001).
Para Matveev (1986), citado por Achour Júnior (1999), o exercício
de alongamento estático não garante índices ótimos da flexibilidade ativa, deve constituir-se apenas em uma parte do treino,
portanto, esta colocação sugere a necessidade de desenvolver os
dois tipos da flexibilidade um programa de treinamento.
Um alerta é feito sobre este tipo de treinamento da flexibilidade
ativa na população idosa, sendo ressaltado que, durante o trabalho do flexionamento, as tensões sobre os ossos aumentam
muito e este tipo de atividade só poderá ser executado com muita
cautela e preparação prévia (DANTAS, 1999).
O mesmo autor diferencia claramente o trabalho da flexibilidade
em: alongamento, que proporciona a manutenção da flexibilidade, pois está a nível submáximo do limite articular; flexionamento
passivo, que tem ênfase na mobilidade articular, atuando na
articulação e nos componentes plásticos; e flexionamento ativo,
que atua principalmente na elasticidade muscular, ou seja, nos
miofilamentos, no componente elástico paralelo e em série, onde
se encontra a maior causa de redução desta qualidade física
neste grupo etário.
Kell (2001) considera que um aspecto da saúde física é o sistema
músculoesquelético, que consiste de três componentes: força
muscular, resistência e flexibilidade, o que evidência a importância
desta qualidade física em questão.
Ainda os mesmos autores afirmam que se a força, resistência e
flexibilidade não são mantidas a adaptação músculoesquelética
está comprometida e pode causar impacto significativo na saúde
física e bem-estar. Portanto, praticar programas dos exercícios
que incluam estas qualidades é de grande valor para a manutenção da saúde.
A comprovação de uma pesquisa, entre tantas, aponta mais
claramente que benefícios na flexibilidade são retidos por pelo
menos três semanas após um programa de alongamento (RUBLEY, 2001). Os mesmos autores mostraram que duas séries de
três repetições para o teste de sentar e alcançar são estímulos
suficientes para induzir benefícios de flexibilidade por longo prazo,
logo, não há necessidade de sessões extenuantes de trabalho.
Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 1, 25, jan/fev 2003
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é investigar a evolução da flexibilidade
através do método de flexionamento dinâmico, e sua influência na
autonomia de um grupo de idosas aposentadas, aparentemente
saudáveis, participantes de um programa de treinamento de
flexibilidade na Academia Capacidade Vital, situada na cidade
de Araruama, estado do Rio de Janeiro.
METODOLOGIA
Características da Amostra
A população pesquisada se encontra na faixa de 60 a 87 anos de
idade, do sexo feminino, com pessoas fisicamente independentes,
segundo Spirduso, residentes no município citado anteriormente.
Deste grupo, foram selecionados, randomicamente, 14 sujeitos
com média de idade ´C = 66,4 ± 7,3 anos para integrar o
grupo amostral da pesquisa.
Procedimentos
Foram aplicados o teste angular de avaliação da flexibilidade
pelo protocolo Labifie (DANTAS, 1997) de goniométrica, nos
seguintes movimentos: abdução do ombro, flexão e extensão de
quadril, flexão de joelho, flexão dorsal e plantar do tornozelo e
flexão da coluna lombar, e testes de autonomia (ARAGÃO, 2002),
de caminhar 10 m (C10m), levantar da posição sentada cinco
vezes consecutivas (LPS), levantar da posição decúbito ventral
(LPDV) e levantar da posição sentada, caminhar 3m e sentar
novamente (TUG), onde o tempo de realização foi aferido em
segundos. Foram feitos o pré-teste e o pós-teste após 16 semanas
de treinamento de flexibilidade, sob o método de flexionamento
dinâmico, com frequência de dois dias/semana, durante 30
minutos por sessão.
O tratamento estatístico usado para a análise dos resultados obtidos foi de forma descritiva, com média, desvio padrão, mínimo
e máximo, e inferencial, com o teste “t” de student pareado.
25
O grupo selecionado assinou o termo de participação consentida, conforme Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do
Conselho Nacional da Saúde para as normas éticas de pesquisa
envolvendo seres humanos.
Figura 1 - Gráfico da Avaliação da Flexibilidade
Instrumentos
Como instrumentos de avaliação dos testes para este estudo,
foram adotados um goniômetro de aço 360º (Cardiomed, o
Brasil), um cronômetro (Casio, Malaysia), uma trena (Sanny,
Brasil), um colchonete e uma cadeira com 50cm de altura do
assento ao solo, e para o tratamento estatístico, foi utilizado o
programa SPSS 10.0 for Windows .
RESULTADOS E DISCUSSÃO
melhora nas médias não reduziram os seus respectivos desvios
padrão, conforme pode-se observar em Tabela 1 e na Figura 1.
Os resultados da presente pesquisa são apresentados em quatro
grupos distintos: avaliação goniométrica (pré e pós-testes), avaliação da autonomia (pré e pós-testes), comparação da avaliação de
goniométria com os padrões de referência da American Academy
of Orthopaedic Surgeons (AAOS) citada por Dantas (1999), e
comparação da avaliação da autonomia com os padrões de
referência (ARAGÃO, 2002).
Este método de alongamento proposto neste estudo proporcionou resultados positivos na amplitude de movimentos da mostra,
gerando assim uma divergência quanto sua aplicação na faixa
etária em questão, visto que a recomendação do ACSM (2003)
para o desenvolvimento da flexibilidade em gerontes seja para
a utilização do método estático, devido à fragilidade dos tecidos
e tendões.
Avaliação Goniométrica (pré e pós-testes)
As médias encontradas nos sujeitos da pesquisa demonstram
melhora crônica em todos os movimentos avaliados, com obtenção do aumento das amplitudes articulares, e ainda com
uma redução importante dos desvios padrões, caracterizando
uma tendência à aproximação dos limites individuais e a uma
homogeneidade da amostra. Somente os movimentos de flexão
lombar e flexão dorsal do tornozelo, que embora tenham tido
Avaliação da Autonomia
Após decorridas dezesseis semanas de treinamento, os indivíduos
deste estudo apresentaram melhora crônica da mobilidade e
agilidade para as realizações de atividade da vida diária (AVDs),
pois houve diminuição das médias dos tempos marcados de
todos os testes, e ainda redução dos desvios padrão, também
Tabela 1 - Avaliação de Goniométria da Amostra
Movimentos
AO
FP
FD
FL
FQ
EQ
FJ
Média Pré
Média Pós
SD Pré
SD Pós
Mínimo Pré
Máximo Pós
Maximo Pré
Máximo Pós
Test t
183,1
191,8
6,99
5,80
172
182
194
202
4,881
71,8
85,8
10,45
8,25
58
72
94
100
5,504
20,4
26,5
6,32
7,01
16
18
37
39
4,310
22,7
33,3
7,05
8,14
12
22
36
46
6,453
96,7
106,9
12,82
12,49
77
92
122
128
4,556
20,3
30,2
8,40
7,55
6
18
28
46
5,315
143,6
147,4
8,01
7,20
132
139
156
158
3,304
p<0,01 tcritic= 3,106
Tabela 2 - Testes de Autonomia
TESTES
Média
SD
Mínimo
Máximo
Test t
C10M
pré
6,52
1,27
4,91
8,38
USP
pós
5,44
0,82
4,39
7,89
4,091
pré
10,69
1,53
7,81
14,75
UVDP
pos
7,70
0,79
6,34
8,40
4,696
pré
3,63
2,12
2,03
9,97
TUG
pós
2,90
1,19
1,98
6,59
1,424
pré
6.53
1.94
4.89
12.72
pós
5.22
0.80
4.39
7.28
1.646
p<0,01 tcritic= 3,012 tempo em segundos
26
Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 1, 26, jan/fev 2003
O ACSM (2003) indica que os movimentos específicos da região
lombosacra e do quadril são mais difíceis de serem realizados
pelos indivíduos situados na senescência, o que justifica estes
resultados abaixo do padrão.
Figura 2 - Gráfico da Avaliação da Autonomia
Dantas (2002) aponta que o movimento de flexão de quadril é o
sexto movimento a sofrer limitações com o aumento do número
de anos vividos por um indivíduo, reforçando a dificuldade dos
movimentos que envolvem essa articulação.
caracterizando uma tendência à homogeneidade e à aproximação aos limites individuais do grupo amostral, que podem ser
melhor analisado na Tabela 2 e na Figura 2.
Conforme era esperado, este tipo de treinamento, por ser ativo,
fez progredir a flexibilidade dinâmica, portanto, desenvolve a
Enquanto isso Marom-Klibasky & Drory (2002) sugerem que a
participação regular em um programa de treinamento de flexibilidade reduz o declínio funcional associado com o envelhecimento
e incrementa a qualidade da vida, pois melhora os níveis de
amplitude articular dos movimentos dos idosos.
Em decorrência destes aumentos encontrados, as probabilidades
de quedas e lesões ficam bem minimizadas, pois a estabilidade
desses movimentos é restabelecida em decorrência do treinamento (FLECK & FIGUEIRA JÚNIOR, 2003).
especificidade dos movimentos diários (ALTER, 1999), logo,
Avaliação da Autonomia x Padrões de Referência
Aragão (2002)
melhora o desempenho das atividades da vida diária (AVDs).
Avaliação Goniométrica x Padrões de Referência
da AAOS
Comparando a amplitude dos ângulos dos movimentos avaliados
nas idosas participantes deste estudo, após a realização do programa de treinamento de flexibilidade, com as médias sugeridas
pelos padrões de referência da American Academy of Orthopaedic
Surgeons adaptado de Norkin & White, 1995) extraído de Dantas
(1999), observou-se que os resultados foram positivos para os
movimentos de abdução do ombro, flexão plantar e dorsal do
tornozelo, flexão de joelho e extensão de quadril, pois estão acima
das médias sugeridas. Os movimentos de flexão lombar e flexão
de quadril estão abaixo destas referidas médias, demonstrando a
grande dificuldade do idoso de ter mobilidade nestas articulações
(Tabela 3 e Figura 1).
O tempo apresentado pela amostra foi considerado positivo
em todos os testes, dentro da classificação “muito bom”, segundo padrões de referência de Aragão (2002), pois as médias
encontradas foram em menor tempo de execução em relação
dos padrões, considerando que o grupo amostral é fisicamente
independente, e mesmo assim houve progressão dos resultados,
isto é, redução dos tempos de execução dos testes de autonomia,
que estão dispostos na tabela 4 e na Figura 2.
Estes resultados sugerem que a autonomia funcional deste grupo
sofreu alterações positivas que podem refletir nos aspectos físicos
com o melhor desempenho das AVDs e redução dos riscos de quedas e doença associadas com o envelhecimento, e nos aspectos
psicológicos com a melhora da auto-imagem e da auto-estima,
tornando o idoso útil e independente no contexto social em que
vive (SILVA & MATSUURA, 2002).
Tabela 3 - Médias da Amostra x Médias de AAOS
Movimentos
AO
FP
FD
FL
FQ
EQ
FJ
Média Pré
SD Pré
Média Pós
SD Pós
Media AAOS
183,1º
6,99
191,8º
5,80
0 – 180º
71,8º
10,45
85,8º
8,25
0 – 50º
20,4º
6,32
26,5º
7,01
0 – 20º
22,7º
7,05
33,3º
8,14
0 – 80º
96,7º
12,82
106,9º
12,49
0 – 120º
20,3º
8,40
30,2º
7,55
0 – 30º
143,6º
8,01
147,4º
7,20
0 – 135º
Tabela 4 - Médias da Amostra x Médias Padrões da Autonomia
TESTES
Média Pré
SD Pré
Média Pós
SD Pós
Ref. Padrão
Classificação
C10M
6,52
1,27
5,44
0,82
< 6,8
Muito Bom
USP
10,69
1,53
7,70
0,79
< 10,9
Muito Bom
UVDP
3,63
2,12
2,90
1,19
< 4,1
Muito Bom
TUG
6,53
1,94
5,22
0,80
< 7,3
Muito Bom
Tempo em segundos
Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 1, 27, jan/fev 2003
27
Tabela 5 - Correlação da Goniômetria x Testes de Autonomia
Goniometry Tests
C10m
USP
TUG
UVDP
AO
FP
FD
FL
FQ
EQ
FJ
-0,092
0,444
-0,162
0,029
-0,342
-0,245
0,348
-0,538
-0,398
-0,304
-0,530
-0,655
-0,341
-0,508
-0,481
-0,527
-0,002
-0,012
-0,262
-0,240
-0,343
-0,108
-0,277
-0,477
0,504
-0,082
-0,285
-0,468
p < 0,05
Conforme a observação da Tabela 5, verificou-se que não houve
correlação significativa das avaliações das amplitudes do movimento, realizadas pelo protocolo de goniometria, com os testes
de autonomia. Portanto, este presente estudo sugere maiores
investigações sobre a temática abordada, pois se esperava encontrar relações estre essas variáveis que não ocorreu.
Todavia, a amostra reportou modificações positivas na condição
de vida e nos afazeres cotidianos, melhorando os níveis de autonomia funcional e de qualidade de vida, e também os aspectos
relacionados com a convivência social.
CONCLUSÃO
Inicialmente, observou-se uma redução da amplitude de alguns
movimentos articulares através das avaliações coletadas no préteste. Sendo justificada assim, a prática de exercícios regulares
de flexibilidade, que neste estudo, restringiu-se ao método de
flexionamento dinâmico, por ser este capaz de interferir mais
na elasticidade muscular da qual na mobilidade articular, onde
se encontra a maior causa de perda da qualidade física com
o envelhecimento (ACHOUR JÚNIOR, 1999; DANTAS, 1999;
ROBERGS, 2002).
Após a realização deste programa de treinamento de flexibilidade
para esta amostra, notou-se, conforme os testes e feito o tratamento estatístico inferencial para p < 0,01, que houve aumento
significativo dos ângulos dos movimentos analisados, contribuindo desta forma para uma maior facilitação das tarefas da vida
diária, atenuando e retardando o processo de envelhecimento,
e ainda aumentando a expectativa de vida com qualidade na
terceira idade.
O grupo pesquisado tendeu a aproximar-se do seu limite e da
homogeneidade com a redução dos desvios padrões e melhora
das médias angulares. Todavia, o movimento de flexão lombar
não conseguiu redução significativa do desvio padrão, embora
tenha melhorado a média de ângulo de movimento, justificando
os elevados índices de incidência de osteopenia e osteoporose
na coluna lombar, sobretudo em L2 – L4 (ACSM, 2003).
Em relação aos testes de autonomia, o programa foi eficiente
pois, também realizado o tratamento estatístico inferencial para
p < 0,01, verificou-se uma significativa redução do tempo dos
testes C10m e LPS, corroborando para uma acentuada melhora
da capacidade funcional e para a realização das AVDs.
Entretanto, os testes de autonomia LPDV e TUG não obtiveram
aumentos relevantes devido à grande proximidade aos limites
28
individuais da amostra, porém também foram classificados como
“muito bom”, conforme a classificação de Aragão (2002).
Portanto, a presente pesquisa sugere investigações sobre o assunto, sobretudo no que diz respeito às limitações dos movimentos da
região lombossacra e do quadril, visto a relevância do tema em
questão e que não foram encontradas correlações significativas
entre as amplitudes de movimentos e os testes de autonomia.
Todavia um programa de treinamento que vise desenvolver a
qualidade física, citada neste estudo, certamente vem dar esperança a uma vida melhor e com mais qualidade aos indivíduos
idosos, pois a autonomia e a auto-estima são restabelecidas, e,
portanto, a qualidade de vida é significativamente alcançada.
REFERÊNCIAS
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o desempenho atlético. 2ª edição. Londrina: Phorte editora, 1999.
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