1 Fonte: SEARS E ZEMANSKY – Física I – Mecânica – 10a edição. São Paulo: Addison Wesley, 2003. Capítulo 4: As Leis de Newton do Movimento 4.1 Introdução Neste capítulo estudaremos a Dinâmica que é a parte da Física que relaciona a movimento e a força que a produz. Os princípios da Dinâmica podem ser sintetizados em um conjunto de três afirmações conhecidas como as Leis do Movimento de Newton que foram publicadas em 1687 em sua obra Philosophia Naturalis Principia Mathematica (Princípios Matemáticos da Filosofia Natural). A primeira afirma que, quando a força resultante que atua sobre um corpo é igual a zero o movimento de um corpo não se altera. A segunda lei de Newton relaciona a força com a aceleração quando a força que atua sobre um corpo não é igual a zero. A terceira lei é uma relação entre as forças de interação que um corpo exerce sobre o outro. Estas leis fundamentais são baseadas em estudos experimentais. As leis de Newton não são universais; elas precisam de modificações para velocidades muito elevadas (próximas da velocidade da luz) e para dimensões muito pequenas (tal como no interior de um átomo). 4.2 Força e Interações Na linguagem cotidiana, exercer uma força significa puxar ou empurrar. A força pode ser definida como a grandeza física que altera o estado de movimento de uma partícula. Ela nos fornece uma descrição quantitativa da interação entre dois corpos ou entre o corpo e seu ambiente. As forças podem ser classificadas em forças de contato, como por exemplo , a força de puxar ou empurrar um objeto e em forças de longo alcance, que atuam mesmo quando os corpos estão muito afastados entre si, como por exemplo, a atração gravitacional que a Terra exerce sobre você, que é denominado peso. A força é uma grandeza vetorial pois podemos puxar e empurrar em diferentes direções e sentidos. Logo, para descrever uma força precisamos de seu módulo (intensidade), direção e sentido. A unidade de força no Sistema Internacional é o newton, abreviado por N. Um instrumento comum para a medida de força é o dinamômetro que funciona como uma balança de molas. O efeito sobre o movimento de um corpo produzido por um número qualquer de forças é o mesmo efeito produzido por uma força única (Força Resultante) que é igual à soma vetorial de todas as forças. Esse resultado importante denomina-se princípio da superposição das forças. Figura 1 – Princípio da superposição de forças A força pode ser substituída pelos seus vetores componentes como fizemos com a velocidade. Os vetores componentes de F nas direções Ox e Oy são Fx e Fy e as componentes são os valores numéricos encontrados. O efeito produzido pelas componentes é igual ao produzido pela força original conforme mostra a figura 2. 2 Figura 2 – A força F formando um ângulo vetores componentes retangulares Fx e Fy. com o Ox pode ser substituída pelos seus Os componentes x e y de F são: Fx = F. cos Fy= F. sen Normalmente precisaremos determinar o vetor soma (resultante) de todas as forças que atuam sobre um corpo. Chamaremos essa soma de força resultante, abreviada por R. R = F1 + F2 + F3 + ... (soma vetorial) Quando estivermos trabalhando com as componentes, encontraremos uma força resultante no eixo Ox e outra no eixo Oy. Lembre-se que dependendo do ângulo formado com o eixo Ox, as componentes da força podem ser positivas ou negativas. Rx = F1x + F2x + F3x + ... Ry = F1y + F2y + F3y + ... Uma vez determinados Rx e Ry, podemos achar o módulo,a direção e o sentido da força resultante R que atua sobre o corpo. O módulo é: R = Rx2 + Ru2 O ângulo entre R e o eixo +Ox pode ser determinado pela relação tan = Ry/Rx. Exercício 1: Três forças horizontais atuam sobre um mesmo ponto situado na origem, conforme indicado na abaixo. Acha as componentes x e y da força resultante. Determine o módulo, a o direção e o sentido da força resultante.Respostas: Rx = -132 N, Ry = 188N, R = 230 N, = 125 3 4.3 Primeira Lei de Newton Experiências mostram que, quando a força resultante que atua sobre um corpo é igual a zero, o corpo ou está em repouso ou se move em linha reta com velocidade constante. Isto é, uma vez iniciado o movimento, não seria necessário nenhuma força para mantê-lo. Em outras palavras: “ Quando a força resultante sobre um corpo é igual a zero ele se move com velocidade constante (que pode ser nula) e aceleração nula.” (Enunciado da primeira lei de Newton) Exemplos: livro em repouso sobre uma mesa, objeto deslizando sobre uma mesa sem atrito. A tendência de um corpo em manter seu estado de movimento é resultado de um propriedade denominada inércia. Exemplos: retirar mel de uma garrafa, corpo parado, louça que é apoiada numa toalha que é retirada repentinamente. Quando não existe nenhuma força atuando sobre um corpo, ou quando existem diversas forças com uma soma vetorial (resultante) igual a zero, dizemos que o corpo está em equilíbrio. No equilíbrio, o corpo ou está em repouso ou está em movimento com velocidade constante. Para um corpo em equilíbrio, a força resultante é igual a zero (R = 0). Para isso ser verdade, cada um dos componentes da força resultante deve ser igual a zero, logo, Rx = 0 e Ry = 0. Exercício 2: Em um filme de ficção científica, uma espaçonave se move no vácuo do espaço sideral, longe de qualquer planeta, quando sua máquina pára de funcionar. Em virtude disso, a espaçonave diminui de velocidade e fica em repouso. Como você aplica a primeira lei de Newton nesse evento? Sistemas de Referência Inercial: Um sistema de referência é um sistema de coordenadas acrescido de uma escala de tempo. Os movimentos ocorrem sempre em relação a um sistema de referência. Quando o nosso sistema de referência está parado ou se movendo com velocidade constante, dizemos que ele é um sistema de referência inercial. As leis de Newton são válidas somente para esse sistema de referência. A Terra não é exatamente um sistema de referência inercial porque ela possui uma aceleração devido à rotação da Terra e por causa de seu movimento em torno do Sol, contudo esses efeitos são muito pequenos. 4.4 Segunda Lei de Newton A presença de uma força resultante que atua sobre um corpo produz uma aceleração no corpo. A força resultante e a aceleração possuem a mesma direção e o mesmo sentido, isto também é válido para movimentos circulares. Se o módulo da força resultante é constante, como na figura 3b e 3c, então o módulo da aceleração também é constante. 4 Figura 3 – (a) Se a força resultante é nula, o disco está em equilíbrio; a aceleração é nula e a velocidade é constante. (b) Se a força resultante está orientada para a direita, a aceleração é para a direita. (c) Se a força resultante está orientada para a esquerda, a aceleração é para a esquerda. Diversas experiências mostram que a aceleração é diretamente proporcional ao módulo da força resultante que atua sobre um corpo. A razão entre o módulo da força resultante (R) e o módulo da aceleração (a) é sempre constante e denomina-se massa inercial do corpo, ou simplesmente massa e será representada pela letra m. R = m.a Massa e força: A massa mede quantitativamente a inércia de um corpo, ou seja, quanto maior a massa, mais um corpo “resiste” a ser acelerado. O conceito de massa também fornece a maneira mais fundamental para se caracterizar a quantidade de matéria contida em um corpo. A unidade de massa no sistema internacional é o quilograma (kg). Utilizando a definição de massa e a equação anterior podemos definir newton (N): “Um newton é o valor de uma força que imprime em um corpo de um quilograma de massa uma aceleração de um metro por segundo ao quadrado”. Podemos utilizar essa relação para calibrar um dinamômetro e outros instrumentos destinados a medir força. A relação deve sempre ser observada: 1 newton = (1 quilograma). (1 metro por segundo ao quadrado) Enunciado da Segunda Lei de Newton: “ Quando uma força resultante externa atua sobre um corpo, ele se acelera. A aceleração possui a mesma direção e o mesmo sentido da força resultante. O vetor força resultante é igual ao produto da massa do corpo pelo vetor aceleração do corpo. “ Em símbolos: R = m.a (Segunda Lei de Newton) Observações: 1) a equação acima é uma equação vetorial e pode ser utilizada na forma de suas componentes nos respectivos eixos (Rx = m. ax, Ry = m. ay, Rz= m. az). 2) a segunda lei de Newton refere-se a forças externas. 3) A massa deve ser constante. 4) É válida somente para um sistema de referência inercial. Exercício 3 : Um trabalhador aplica uma força horizontal constante de módulo igual a 20N sobre uma caixa de massa igual a 40 kg que está em repouso sobre uma superfície horizontal com atrito desprezível. Qual é a aceleração da caixa? 5 Exercício 4: Uma garçonete empurra uma garrafa de ketchup de massa igual a 0,45 kg ao longo de um balcão liso e horizontal. Quando a garrafa deixa a sua mão, ela possui velocidade de 2,8 m/s. Quando ela desliza, sua velocidade diminui por causa do atrito horizontal constante exercido pela superfície superior do balcão sobre a garrafa. Ela percorre uma distância de 1,0 m até parar. Determine o módulo, a direção e o sentido da força de atrito que atua na garrafa. 4.5 Massa e Peso O peso de um corpo é uma força familiar. É a força de atração gravitacional exercida pela Terra sobre um corpo. O peso não deve ser confundido com massa que caracteriza a propriedade de inércia de um corpo. Um corpo em queda livre possui uma aceleração da gravidade g, e por causa da segunda lei de Newton uma força deve produzir essa aceleração. Essa força é a força peso que iremos representar pela letra w. w = m.g (módulo do peso de um corpo de massa m) É importante assinalar que o peso de um corpo atua externamente sobre o corpo independente de ele estar ou não em queda livre. Um vaso de flores de 10kg está em equilíbrio, suspenso por uma corrente, sua aceleração é igual a zero. Porém, seu peso, continua puxando-o para baixo. Nesse caso, a corrente exerce uma força que puxa o vaso de baixo para cima. A soma vetorial das forças é igual a zero, e o vaso está em equilíbrio. Exercício 5: Supondo queda livre, e desprezando a resistência do ar, como varia a força resultante sobre uma moeda durante a sua queda? Observações: 1) O peso varia de acordo com a aceleração da gravidade que está sujeito, mas a massa é sempre constante. 4 Exercício 6: Um carro de 1,96.10 N em movimento ao longo do eixo +Ox pára repentinamente; o 4 componente x da força resultante que atua sobre o carro é – 1,50.10 N. Qual a sua aceleração? 2 Resposta: - 7,5 m/s 4.6 Terceira Lei de Newton Um força atuando sobre um corpo é sempre resultado de uma interação com outro corpo, de modo que as forças sempre ocorrem aos pares. O enunciado que terceira lei de Newton diz que: “ Quando um corpo A exerce uma força sobre um corpo B ( uma “ação”), então o corpo B exerce uma força sobre o corpo A (uma “reação”). Essas duas forças têm o mesmo módulo e a mesma direção, mas possuem sentidos contrários. Essas duas forças atuam em corpos diferentes. “ A terceira lei de Newton se aplica para forças de contato e forças de longo alcance, como por exemplo a atração gravitacional. O enunciado matemático é: FA/B = - FB/A Exercício 7: Uma maçã está em repouso sobre uma mesa. Quais são as forças que atuam sobre ela? Quais são as forças de reação a cada uma das forças que atuam sobre ela? Quais são os pares de ação e reação? Exercício 8: Uma ou duas forças atuam sobre um disco que se move sobre o gelo sem atrito ao longo do eixo x, em um movimento unidimensional. A massa do disco é m = 0,20 kg. As forças F1 e F2 estão dirigidas ao longo do eixo e têm módulos F1= 4,0N e F2= 2,0N. A força F3 está dirigida o segundo um ângulo = 30 e tem módulo F3 = 1,0N. Em cada situação, qual é a aceleração do disco?